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ITAUÇU-GO
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ITAUÇU-GO
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1heitoramaral.pereira@hotmail.com
RESUMO- O presente estudo apresenta breve análise sobre a decretação de prisão como medida cautelar
justificada pela necessidade de “garantia da ordem pública”, conforme disposição do art. 312 do Código de
Processo Penal. A decretação de prisão para que se garanta a ordem pública pauta-se, única e exclusivamente, pela
compreensão do julgador acerca do que lhe é exposto, e gera ao indivíduo que teve sua liberdade cerceada, de
pronto, aquilo que se pode considerar como uma antecipação de pena que, na maioria dos casos, sequer condiz
com o delito pelo qual se espera julgamento. Para que se possa falar em reversão deste quadro autoritário, apenas
a aplicação da norma à luz dos princípios de direito, aliada à interpretação constitucional da norma processual
penal é que se abrirá, ao acusado, a porta das garantias de um Estado Democrático.
ABSTRACT- The present study presents a brief analysis of the decree of arrest as a precautionary measure
justified by the need for "public order guarantee", according to the provision of art. 312 of the Code of Criminal
Procedure. The decree of imprisonment to ensure public order is governed solely and exclusively by the judge's
understanding of what is exposed to him, and generates to the individual who has had his freedom restricted, all
of a sudden, what can be considered as a anticipation of punishment which, in most cases, does not even correspond
to the offense for which judgment is expected. In order to reverse this authoritarian framework, only the application
of the rule in the light of the principles of law, together with the constitutional interpretation of the criminal
procedural rule, will open the door to the guarantees of a Democratic State.
INTRODUÇÃO
O Processo Penal não admite, como o Processo Civil, um processo cautelar autônomo.
Assim, sendo necessário, a tutela cautelar na esfera processual penal se dá por meio da aplicação
de medidas específicas, trazidas pelo Código de Processo Penal, e também por legislação
especial. Em matéria ritualística penal, a medida cautelar preza, de modo especial, pela
celeridade, e também pela efetiva aplicação da lei. “A razão de ser desses provimentos
cautelares é a possível demora na prestação jurisdicional, funcionando como instrumentos
adequados para se evitar a incidência dos efeitos avassaladores do tempo sobre a pretensão que
se visa a obter” (LIMA, 2013, p. 770).
Podem, as medidas cautelares, visar à proteção da instrução processual por meio da
tentativa de resguardo às provas, de resguardo ao próprio procedimento ou, ainda, ter o
indivíduo como ente processual passível de sujeição à tutela cautelar. Neste último caso, a
tutela, chamada de medida cautelar de natureza pessoal, pode ser fundamentada pelas hipóteses
trazidas pelo art. 312 do Código de Processo Penal. São estas as hipóteses trazidas: garantia da
ordem pública; garantia da ordem econômica; conveniência da instrução criminal; e para que
se assegure a aplicação da lei penal. O próprio artigo apresentado assevera que a aplicação da
medida acautelatória desta espécie é cabível desde que haja prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria.
A adoção de medidas cautelares de natureza pessoal restringe ou priva a liberdade do
imputado ao longo do período de investigação/instrução processual. Em tese, teria como
objetivo a eficácia processual (LIMA, 2013, p. 771), sacrificando a liberdade do imputado em
detrimento da efetividade da investigação e da instrução processual, que haja elementos
suficientes para que a medida seja aplicada.
Trataremos aqui, com especificidade, da aplicação da prisão como medida acautelatória,
e de modo ainda mais objetivo, do argumento de “manutenção da ordem pública”, previsto no
caput do art. 312 do CPP como justificativa possível à determinação de prisões de caráter
cautelar. De início, apresentamos como hipótese da pesquisa bibliográfica realizada para a
consolidação do estudo presente a ideia de que tal motivação “acaba por ensejar uma
interpretação por demais extensiva quanto às situações fáticas que poderiam ser incluídas na
sua hipótese de incidência, malferindo, por conseguinte, o princípio da legalidade estrita”
(ROCHA, 2014, p. 10).
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2- MATERIAL E MÉTODOS
3-RESULTADOS E DISCUSSÃO
qual remonta aos idos de 1941, época em que o nazifascismo ainda estava em
alta e a Segunda Grande Guerra no auge de seus acontecimentos. (ROCHA,
2014, p. 10)
Inegável manobra que permita a burla à legalidade em seu sentido estrito, violando, da
lei, sua “condição taxativa [n]a criação de crimes [e normas processuais], (...) proibindo-se a
analogia ou outros mecanismos que venham a converter o juiz em legislador” (SEMER, 2014,
p. 33). Fato é que abrir a possibilidade de ação dos juízes de forma a permitir que sua
justificativa inclua quais atos ou fundamentos no bojo dos “atentados à ordem pública” os torna
suscetíveis à grande exposição midiática, ao apelo público momentâneo, às próprias crenças, às
crenças de determinado grupo, etc. Não é razoável ou imaginável ao regime democrático que
um dispositivo legal se queira de tal forma: abrindo tamanha margem à arbitrariedade estatal
escancarada pelo seu representante que ali decide.
Até que se alcance o momento de decisão em sentença, o juiz deve se pautar pelo
princípio da inércia. Não deve protagonizar qualquer dos atos instrutórios, ainda que seja em
nome da própria instrução. Antes disso, deve assumir sua condição de mediador, de mero
espectador.
Desta forma, a atuação do juiz passa a ser viciada, marcada pela ruptura com seu próprio
papel. Contradição exclusiva e escancaradamente autoritária, ignorando a função dos princípios
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“(...) en función de su cargo y jerarquía y constituye una identidad asentada sobre estas bases. Rechaza los
relámpagos de consciencia acerca de las limitaciones de su poder (...), no le resta outro recurso que evitar conflictos
con las otras agencias para preservar su identidad falsa o artificial (...) y también para conservar su función”.
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falar em processo penal enquanto instrumento de segurança pública. Este mito se pauta pela
sempre presente e inflamada manifestação popular, que ignora o caráter humano daquele que
terá sua liberdade confiscada pelo Estado. “O clamor social, em razão da efemeridade que lhe
é ínsita, não pode ser arrimo de prisões cautelares, já que a construção desse clamor (...) do fato
pode esconder interesses outros na segregação de determinada pessoa, algo que nunca poderá
ser avaliado de maneira isenta” (ROCHA, 2014, p. 11).
A interpretação constitucional das normas em combate à interpretação da Constituição
a partir da ótica do ordenamento que a antecedia, especialmente na esfera criminal/processual
penal, por sua vez, é a forma que garantirá o respeito, de modo inafastável, ao princípio da não
culpabilidade.
4- CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Trad. Paulo M. Oliveira. 1ª Edição. São
Paulo: EDIPRO, 2013.
CASARA, Rubens R. R.. Mitologia Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2015.
LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói: Ímpetus, 2013.
SEMER, Marcelo. Princípios Penais no Estado Democrático. 1ª Edição. São Paulo: Estúdio
Editores.com, 2014.