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12/11/2018
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/ Imprensa
“Vitória de Ronaldo Caiado para governador tem sabor de RMTC Aparecida. Linha 974
redenção para sua família”
11/11/2018 00:01 Por Redação Edição 2261
Doutora em História pela USP analisa a trajetória da família Caiado e diz que, na história
de Goiás, as mudanças são mais epidérmicas do que reais
Lena Castello Branco, doutora pela USP, diz que a história dos Caiado precisa ser mais nuançada |
Foto: reprodução
Todas famílias possuem suas histórias, mas pouquíssimas têm o privilégio de serem estudadas Jornal Opção
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por uma historiadora como Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, uma das mais destacadas
intelectuais que atuam em Goiás. Autora de livros como “Saúde e Doença em Goiás”, “Arraial e
Coronel” e do volume de contos “Novilha de Raça”, Lena Castello Branco produziu um amplo
estudo sobre a família Caiado na obra em dois volumes “Poder e Paixão — A Saga dos Caiado”, Like Page Contact Us
pleito de 2018, a doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP) e professora
aposentada da Universidade Federal de Goiás (UFG) Lena Castello Branco é a pessoa mais
indicada para analisar o signi cado dessa vitória nas urnas. É o tema principal desta entrevista,
na qual a historiadora fala sobre sua atividade de cronista, preconceito na universidade e a
catástrofe do Museu Nacional.
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O que signi ca historicamente o retorno de um Caiado ao cargo de governador de Goiás?
A eleição de um Caiado para governador de Goiás representa a permanência de um grupo Preencha seu email abaixo para receber
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familiar, que se tem mantido na política estadual e nacional desde a segunda metade do
século 19. Com exceção do consulado de Vargas-Ludovico (1930-1945) — quando foi relegada Nome
no ostracismo —a família Caiado esteve no primeiro plano da política em Goiás desde o
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patriarca Antônio José Caiado, seguindo-se seu lho Torquato, o neto Tóto Caiado, bisnetos e
agora o trineto, Ronaldo Caiado. Essa presença ininterrupta não é fato isolado no país: os Assinar!
Andrada remontam aos irmãos José Bonifácio e Antônio Carlos, proeminentes no Império. E
continuam na política em Minas Gerais — assim como os Melo Franco e os Maciel; os
Cavalcanti e os Arraes, em Pernambuco; os Collor de Mello e os Calheiros, em Alagoas; os
Cunha Lima e os Pessoa, na Paraíba; os Luz e os Bornhausen, em Santa Catarina; os Portela e
os Paranaguá, no Piauí. Em Goiás temos os Alves de Castro, os Fleury, os Bueno, os Almeida, os
Velasco, os Vilela. Nos Estados Unidos, paradigma da democracia liberal, os Roosevelt, os Bush,
os Kennedy integram o cenário eleitoral por décadas. Será um mal? Talvez não, se levarmos
em conta a complexidade da política, os rituais e laços que a vinculam à comunidade, o
compromisso que se estabelece entre o eleitorado, seus representantes e o bem comum.
Embora abonadas e economicamente poderosas, essas famílias não estão entre as mais ricas
do Brasil, entre as quais se destacam banqueiros e empresários (comunicações e bebidas).
No aspecto familiar, qual o signi cado dessa vitória para a família Caiado?
Depois de afastados do poder pela força das armas (1930), os Caiado foram duramente
relegados à condição de “carcomidos” e “decaídos”, assim como outros políticos em diferentes
Estados. O ex-senador Antônio (Totó) Caiado foi levado preso (de trem) para o Rio de Janeiro, / Twitter
onde permaneceu detido “sob palavra” durante 17 meses. Retornou à Cidade de Goiás em
abril de 1932, mas continuou sob vigilância, a despeito de não ser condenado em qualquer
instância revolucionária. De outra parte, di culdades se antepunham ao exercício de Tweets por @jornalopcao
pro ssões liberais, pelo que os Caiado voltaram às lides agropastoris, como meio de
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sobrevivência. No interregno liberal de 1945 a 1964, uma nova geração da família projetou-se
@jornalopcao
com a eleição para o Legislativo estadual e federal, com forte atuação no processo de
Nas redes sociais, Ciro Gomes ainda se apresenta
mudança da capital federal para o Planalto Central — sendo o deputado federal Emival Caiado,
como candidato a presidente
líder do Bloco Parlamentar Mudancista no Congresso, autor da lei (que leva seu nome) na qual jornalopcao.com.br/ultimas-notici…
é xada a data da inauguração de Brasília. Durante o regime militar e de acordo com as regras
vigentes, o engenheiro Leonino Caiado foi eleito governador de Goiás (1971-1975) pela
Assembleia Legislativa. Nos dias de hoje e em contexto histórico diverso, a eleição de Ronaldo
Caiado dá-se pelo voto direto de expressiva maioria do eleitorado goiano — o que tem o sabor
de uma redenção. De algum modo, é o per l de líder rural que aproxima o novo governador
de Goiás do seu eleitorado, com o qual se identi ca pelos valores que per lham juntos.
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Caiado está entre os apoiadores de Jair Bolsonaro, eleito presidente da República. Como
postula que será constituída a relação entre a Presidência e o governo de Goiás?
Não será difícil a aproximação entre os governos de Caiado e Bolsonaro. Eles foram
contemporâneos na Câmara dos Deputados, mas desconheço se mantinham relações
amistosas. Os governos federal e estadual deverão aproximar-se. Até porque estão
ideologicamente a nados e a situação de um e de outro parece similar, em termos de
di culdades econômico- nanceiras.
Fora Totó Caiado e Pedro Ludovico, os dois maiores nomes da história da política goiana
são Iris Rezende e Marconi Perillo. Iris tem sido bastante criticado por sua atual
administração em Goiânia. Marconi enfrenta problemas na justiça e cou em quinto
lugar na eleição para o Senado. A senhora admire que há um vácuo político que pode ser
preenchido por Ronaldo Caiado?
Pela personalidade, pela compleição física e até pela voz, Ronaldo Caiado parece destinado a
ocupar espaços — sobretudo na política, onde não há vazios. No tsunami eleitoral que assolou
o Brasil, o Estado de Goiás viu-se engolfado de forma irreversível, conforme o demonstram os
resultados do último pleito. De outra parte, cresce a importância econômica e política dos
Estados centrais, na medida em que o eixo econômico se desloca e o interior do país se revela.
Talvez seja a hora de se projetarem no plano nacional lideranças oriundas desse novo mundo
em ebulição.
A imagem pública de Caiado sempre foi relacionada basicamente com sua formação
médica, raízes rurais e atuação como parlamentar da bancada ruralista. Recentemente,
ertou com questões ligadas à segurança pública. Como será o seu comportamento
diante de questões complexas como a educação básica e fundamental, o ensino
universitário, a cultura e os problemas sociais — temas até então fora de seu discurso?
Caiado viveu em grandes centros da cultura nacional e mundial, como Rio de Janeiro e Paris.
Como estudante e pós-graduando, teve oportunidade de frequentar as melhores bibliotecas,
os grandes museus e teatros, usufruindo da vida cultural dessas metrópoles. Em
pronunciamentos e entrevistas, tem-se mostrado preocupado em melhorar o nível da
educação em Goiás. Um dado interessante deve ser lembrado: os Caiado foram e são
acusados de serem avessos a preocupações educacionais e culturais. Não é o que a história
registra no período conhecido como do caiadismo. No governo do desembargador Alves de
Castro, cunhado de Totó Caiado, inaugurou-se o primeiro grupo escolar do Estado, no bojo de
ampla reforma educacional; as matrículas escolares cresceram exponencialmente. No governo
de Brasil Caiado, foi instalado o primeiro jardim de infância e construída a sede própria da
Escola Normal, de formação de professores. O governo de Alfredo Lopes de Morais (último do
Partido Democrata) celebrou convênio para a vinda da Missão Pedagógica Paulista, com vistas
a modernizar e aperfeiçoar a instrução pública em Goiás, que foi objeto de nova
regulamentação. A Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goiás, fundada por um grupo de
pro ssionais da saúde, teve como primeiro diretor o médico Brasil Caiado.
“Totó Caiado foi demonizado, mas era moderno, tanto que uma lha, Consuelo, foi líder feminista
em Goiás” | Imagem: arquivo
“Leolídio Caiado inovou como um dos primeiros ambientalista de Goiás. E também era escritor” |
Foto: arquivo
A historiogra a do século 20, nas versões marxista e da Escola dos Annales, valorizou o
estudo das estruturas sociais e econômicas, em detrimento da atuação individual.
Diferentemente dessas posições, em suas obras mais conhecidas, como “Arraial e
Coronel” (1978) e “Poder e Paixão” (2009), a sra. destacou a atuação dos indivíduos da
elite política e econômica. Quais suas motivações pessoais para o estudo dessas
temáticas de viés mais biográ co?
Nas décadas de 1970 e 1980 quando escrevi “Arraial e Coronel — Dois Estudos de História
Social” e, mais tarde, “Poder e Paixão — A Saga dos Caiado” — o gênero biográ co emergia de
relativo ostracismo e voltava a ser cultivado, sobretudo nos países europeus. Grandes nomes
da literatura — Stefan Zweig, André Gide, André Maurois, Lytton Strachey e Antonia Fraser —
dedicaram-se a escrever biogra as e recuperar “o drama da vida”. Com o advento da história
cultural, o objeto da biogra a passou a ser capturar “a unidade pelo singular”. Nas palavras de
Mary del Priore, o indivíduo e suas ações são vistos “em sua relação com o ambiente social e
psicológico, sua educação e experiência pro ssional”, com o que se abandona “a biogra a
positivista de antanho”. A rmo em “Poder e Paixão” que tentei elaborar “uma renovada
história regional, refugir ao determinismo e ao economicismo predominantes em boa parte da
historiogra a goiana”, pelo que “per lho o ressurgimento da narrativa, com a valorização do
interesse pelos eventos”. “A história dos acontecimentos é a superfície da História; tenho-os,
todavia, como espelhos que re etem as estruturas e, ao mesmo tempo, modi cam-nas.”
A mim mesma, aos entrevistadores e leitores reitero a pergunta: poderá este livro ser visto
como uma coletânea de biogra as? E respondo: “Talvez, mas não exclusivamente, até porque
ele deixa claro que há um nexo maior na longa duração de determinadas características da
sociedade goiana: a violência estrutural imanente, a predominância de grupos aparentados no
poder, a dicotomia irreconciliável entre oposição e situação, com a consequente purgação dos
derrotados, em momentos de aparente ruptura. E aí está a permanência mais expressiva: na
História de Goiás, as mudanças são mais epidérmicas do que reais, ao menos até a década de
1960, data limite do estudo”. Permito-me lembrar Lucien Febvre quando a rma que a obra
histórica “é aquela que, além do local e nacional, visa o humano”. Espero ter alcançado essa
dimensão.
Ademir Luiz da Silva e Eliézer Cardoso de Oliveira são professores da Universidade Estadual
de Goiás (UEG).
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NILSON JAIME
Uma entrevista antológica, de dois gabaritados professores com a maior dos historiadores
goianos, entre os vivos. Entrevista que vale por um seminário sobre a história goiana.
Sempre equilibrada e precisa, as respostas da historiadora Lena Castello Branco valorizam
ao máximo as consistentes perguntas de Ademir Luiz da Silva e Eliézer Cardoso de Oliveira.
Uma entrevista que vai para os meus arquivos. Parabéns à historiadora, aos
Votoentrevistadores
Positivo e ao Jornal Opção. Gol de placa!
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