Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
com/lacanempdf
Os destinos da pulsão:
sintoma e sublimação
KALIMEROS
Escola Brasileira de Psicanálise
Rio de Janeiro
Apresentarão:
Maria Anita Carneiro Ribeiro
Copyright © 1997, Kalimeros
Organização Geral
Maria Anita Carneiro Ribeiro
Manoel Barros da Motta
Conselho Editorial
Antonio Quine!
Eliane Schermann
Maria Elisa Monteiro
ISBN 85-86011-07-X
1997
Todos os direitos desta edição reservados à
Contra Capa Livraria Ltda.
<ccapa@easynet.com.br>
Rua Barata Ribeiro, 370 - Loja 208
22040-000 - Rio de Janeiro - RJ
Tel (55 21) 236-1999
Fax (55 21) 256-0526
SUMÁRIO
Apresentação 09
Maria Anita Carneiro Ribeiro
10
Maria Anita Carneiro Ribeiro
11
Os Destinos da Pulsão
/ ---t S1
a f- S2
impotência
12
Maria Anita Carneiro Ribeiro
13
Os Destinos da Pulsão
14
Maria Anita Carneiro Ribeiro
Referências bibliográficas
parte um
A TRANSMISSÃO NA PSICANÁLISE E O
SABER NA PRÁTICA DO TRATAMENT0 1
François Leguil
Membro da École de la Cause Freudienne. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise.
.
Deste modo, consideremos bricoladores aqueles que se
apoderam dos conceitos fabricados "para" e "pela" justificação
dos riscos incorridos na ação psicanalítica, e deles se apoderam para
outros fins: o comentário literário, a análise política, a crítica de arte,
a avaliação dos modos e costumes etc. Ao evocarmos a bricolagem
de Lévi-Strauss estamos apenas homenageando estes bricoladores
por sua liberdade e por sua inventividade. Se utilizassem os concei-
tos analíticos como nós temos o dever de deles fazermos uso (dever
20
François Leguil
21
O.r Desti11os da Pulsão
22
François Leg11il
uma vez que ele não autoriza nenhuma articulação da vida concreta
do sujeito a uma ordem que permitisse acreditar que um sentido é
possível. A letra mata a vida em Schreber e seu espírito é assustado-
ramente mortificado pois, em sua relação com a divindade, ele não
encontra nenhuma maneira de recobrar as forças a não ser decre-
tando-se como origem de uma nova raça. Esta é a dedução, a "ele-
gante solução" (Lacan, 1996, p. 572) que o Presidente Schreber enun-
cia a propósito de sua relação tragicamente irônica com a
transcendência, que Freud, lendo aí um dos efeitos da palavra sobre
o sujeito do inconsciente, isola, dá forma, e que Lacan explora,
mostrando o quanto aí se demultiplicam as questões do ser e do
vir-a-ser. Ao preço de seu corpo o mártir de Denkwiirdigkeite11 eines
.Neme11kra11kl11it (Schreber, 1975[1903]) demonstra que nosso tem-
po não é mais o de São Paulo e que a relação entre a letra e o
espírito se estabelece em um outro front.
Distante, bem distante de São Paulo, Lacan não afirma c.1ue
o espírito seja a verdade oposta à letra, pois ele pensa que a verdade
só pode ser tomada literalmente. Neste sentido, ele intervém cm
uma longa tradição na c.1ual podemos observar que, da frase aos
Coríntios até o século XIII, foi necessário esperar um bom tempo
antes c.1ue se soubesse transmitir um estatuto da letra, funcionando
praticamente do mesmo modo que hoje opera.
Utilizada por um dos grandes padres da Igreja do Ociden-
te, Gregório o Grande, uma fórmula se coloca no centro da ques-
tão: "Script11ra c11m le~P,entib11s cresci!' (a escrita progride com aqueles
que a lêem)". Na tradição exegética, a afirmação necessita que seja
implicitamente admitida uma circularidade entre escrita e leitura
porque uma e outra compõem um conjunto, incluído em um pro-
cesso de comentário infinito supostamente relacionado com as vir-
tudes transcendentes da linguagem, virtudes confirmadas pela coisa
escrita. São Gregório é herdeiro da tradição agostiniana que, conti-
nuando a tradição de Orígenes, imagina a escrita como uma tenda
23
Os Destinos da Pulsão
24
mia positiva, confrontando-se, entretanto, com uma certa dificulda-
de em manejar o lugar da polissemia no comentário, já que a
multiplicidade de interpretações possíveis não pode mais ser credi-
tada ao poder da letra. A ruptura da circularidade entre o leitor e o
texto, efetuada pelos escolásticos, permitiu, é verdade, tornar a no-
ção de letra mais estrita e unívoca, às custas, entretanto, de uma
relativa diminuição da riqueza da leitura. A filologia humanista bus-
cará reencontrar a dignidade desta letra, dignidade esta que era ante-
riormente equivalente à história (todos conhecem a importância
decisiva destes debates sobre a letra e a escrita na época da Reforma).
Uma tradição tão longa e decisiva quanto esta pode ser
lembrada quando nos debruçamos, graças a Lacan, sobre a "instân-
cia da letra"; sobre o lugar da coisa escrita na relação ao saber que a
prática inventada por Freud exige. Nesta tradição inscreve-se tam-
bém a afirmação de Sartre no célebre artigo intitulado "O que é a
literatura?" (1975). Um livro, afirma Sartre, só se "conclui" com sua
leitura. Isto corresponde a fazer do livro uma mensagem cujo esta-
tuto implica que ele só se complete através do ato realizado pelo
leitor. Esta não é a posição de Lacan. O posfácio (que é certamente
<le difícil compreensão) do Seminário, livro XI: os quatro conceitosfunda-
mentas da psicanálise intervém nesta questão de uma maneira singular
e até mesmo surpreendente: "um escrito, em meu entender, é feito
para nào ser lido" (1973, p. 251). Atribuindo a Joyce a criação de
um "escrito como algo a não ser lido", distingue formalmente a
escrita da leitura. ''A função do escrito - defende Lacan - é um
outro modo do falante na linguagem", um modo no qual o psica-
nalista tem a experiência da letra, ou seja, a experiência do que não
responde, diferentemente da fala em cujo campo o analista tem o
dever de interpretar. É no campo da fala que se deve ler o que a
letra diz, interpretá-la, mas é pela função do escrito que as relações
do sujeito com o gozo serão exploradas. Estas relações não se pres-
tam à interpretação, mas sim à construção de um andaime
fantasmático concebido, no final das contas, como uma moldura
25
Os Destinos da P11/são
que o sujeito pode atravessar para fazer a experiência do que lhe era
dissimulado.
26
François Leguil
27
Os Destinos da Pulsão
28
François Legui/
a ciência atua: quem quer que você seja, Pedro, Paulo ou Jacqueline,
tJUe você seja poderoso ou miserável, a medicina moderna cura
melhor seus doentes quando nada sabe de sua história ou de suas
particularidades subjetivas. Deste modo, "o real da ciência que des-
1itui o sujeito de maneira bem diversa em nossa época" (Lacan,
29
Os Destinos da P11isão
30
François Legu;/
31
Os Destinos da Pulsão
32
François Leguil
33
Os Destinos da Pulsão
34
François Leguil
35
Os Destinos da Pulsão
36
François Leguil
37
Os Destinos da Pulsão
38
François Leg11il
39
Os Destinos da Pulsão
40
François Legui/
NOTi\S
41
Os Destinos da Pulsão
Referências bibliográficas
42
A PULSÃO E SEUS DESTINOS 1
Mitologia e doutrina
44
Maria Anita Carneiro Ribeiro
45
Os Destinos da Pulsão
No desvio: Balint
46
Maria Anita Carneiro Ribeiro
para uma nova vida; que chegou ao fim de um túnel escuro; que vê
outra vez a luz após uma longa jornada; que lhe foi dada uma nova
vida" (idem, p. 197). Mais adiante acrescenta: "Normalmente o
paciente parte, após as últimas sessões, feliz mas com lágrimas nos
olhos e - creio poder admitir - o analista se encontra em um
estado de espírito muito semelhante" (ibid., p. 197). É este o final
de análise hipomaníaco criticado por Lacan na "Proposição de 9 de
outubro de 1967", denunciando-o como um exemplo da recusa
dos analistas a encarar "a destituição subjetiva inscrita no tíquete de
entrada" (Lacan, 1968, p. 25). Cinco anos depois no "L'Étourdit",
Lacan esclarece que o que Balint descreve é um momento de osci-
lação maníaco-depressiva que acompanha um final de análise. As-
sim sendo, o que diz Balint não é exatamente o final da experiência
analítica, mas momentos que antecedem este final, momentos em
que se detêm "algumas terapias ditas bem sucedidas" (1973, p. 44).
As razões que levam Balint a tomar o estado de exaltação
hipomaníaco como o próprio final de análise estão expressas na sua
teorização. Adepto de uma leitura que separa as questões do sujeito
em genitais (edipianas - passíveis de interpretação) e pré-._~enitais (pré-
edipianas -indizíveis), Balint concebe a pulsão como fora do campo
da linguagem. Tomando o conceito de pulsão por instinto, Balint
divide o campo teórico da psicanálise em uma tendência fisiológica 011
psicológica (a de Freud) à qual opõe a tendência mais moderna da relafàO
de objeto, na qual se inclui (Balint, 1950, p. 120). Assim, argumenta que
nos primórdios da psicanálise muita importância foi dada à fonte da
pulsão e a seu objetivo, fixando-a biologicamente. A tendência da relafàO
de oqeto viria ressaltar a importância do objeto da pulsão, "passível às
influências do meio ambiente" (idem, p. 121). Vangloria-se então de
que nos artigos psicanalíticos da época (década de 1950) os termos
técnicos freudianos relativos à pulsão (fonte, objetivo, impulso) es-
tavam em pleno desuso, restando apenas o objeto como elemento
fundamental da pulsão. Curiosamente é do objeto que no seu texto
de 1915 Freud dirá que é o mais variável na pulsão.
47
Os Destinos da Pulsão
48
Maria Anita Carneiro Ribeiro
49
Os Destinos da Pulsão
Demanda e desejo
51
Os Destinos da Pulsão
D d
ao
se10 olhar
Outro
do
fezes voz
Outro
52
Maria Anita Carneiro Ribeiro
Histeria e obsessão
53
Os Destinos da Pulsão
O circuito da pulsão
54
Maria Anita Carneiro FJbeiro
.,, Objekt
a
Drang
Quelle
goal
Ziel
55
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
56
Referências bibliográficas
60
Manoel Barros da Moita
61
Os Destinos da Pulsão
62
Manoel BamJs da Motta
63
Os Destinos da Pulsão
64
Manoel Barros da Moita
65
Os Destinos da PH/são
NOTAS
66
ZWANG UND TRIEB
SINTOMA OBSESSIVO, COM-PULSÃO À REPETIÇÃO
Antonio Quinet
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise
Zwang-L
68
Antonio Quinei
69
Os Destinos da Pulsão
70
Antonio Quinei
71
Os Destinos da Pulsão
72
Antonio Quinei
73
Os Destinos da P11/são
O Zwang do Inconsciente
74
Antonio Quine!
75
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
76
Antonio Quine!
20- LACAN,J. "Le séminaire sur 'La lettre volée'". Em: Ecrits. Op. cit., p. 11.
21- Idem, p. 25.
22- Idem, p. 29.
23- LACAN, J. "... Ou pire". Em: Scilicet 5. Paris, Seuil, 1975, p. 10.
24- LACAN, J. "Radiophonie". Em: Scilicet 2/ 3. Paris, Seuil, 1970, p. 71- 72.
25- LACAN, J. Le Séminaire, Uvre XI- Les q11atre concepts fondamentaux de la
p.rychajyse. Op. cit., p. 79.
26- LACAN, J. "Conference à Géneve sur !e symptôme". Em: Le bloc-note de
la prychallafyse, nº 5, 1985.
27- LAC.\.N, J. Télévisio11. Paris, Seuil, 1974, p. 17.
O POETA DO ATO
Eliane Schermann
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise
80
Eliane S chermann
81
Os Deslino1 da Pulsão
82
Eliane Schermann
83
Os Destinos da Pulsão
84
Eliane Schennann
85
Os Destinos da P11/sào
86
Eliane S che,mann
Referências bibliográficas
87
Os Destinos da Pulsão
Elisa Monteiro
Membro aderente da Escola Brasileira de Psicanálise
90
Elisa Monteiro
I(A)
nota 5
91
Os Destinos da Pulsão
92
Elisa Monteiro
93
Os Destinos da Pulsão
94
Elisa Monteiro
95
Os Destinos da Pulsão
96
Elisa Monteiro
97
Os Destinos da Pulsão
98
E/ira Monteiro
NOTAS
99
Os Destinos da Pulsão
100
ANÁLISE - UM PERCURSO
102
Elizabeth da &icha Miranda
103
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
104
DO SINTOMA AO TRAÇO
Daniela Scheinkman
Do sintoma
\
\
nas fantasmáticas. Entretanto, Freud modificará sua escuta à luz de
sua prática clínica, menos interessada pdo5- fatos da realidade exte-
rior que por aqueles da realidade psíquica: O sintoma é o efeito dos
/ encontros traumáticos com a realidade sexual que, com Lacan, po-
deríamos doravante chamar de troumatismt.
O sintoma é assim sobredeterminado por sua fixação em
ficção num tempo que fica por ser historicizado no dispositivo
analítico: escansões, pontuações, jogos de palavras, homofonias se-
rão necessários para dar um outro tom, um outro modo sincrônico
à diacronia narrativa do sujeito. É exatamente esse outro tom que, a
partir do sintoma, poderá tornar-se seu traço. Em outros termos,
trata-se de transformar o primeiro tempo do sintoma seguindo e
respeitando o tempo lógico de cada sujeito, este tempo em que o
analista está incluído,~an_g.9_.as.~~!~l!-..Q.~_P-1J:ta.quei-
xa num sintoma analítico, do qual o sujeito devt!_i;á)gualmente de-
serrilJaraçár~sêi ·Segúri'dô 'P"ieud," ~ .primcirÔ-;~po d~-s1rifomá foi
sôld-;dô;r~ndido à fantasia: vindo, de fato, como resposta ao
traumatismo sexual e aos primeiros roteiros fantasmáticos, o sinto-
ma se estabelece como uma coalescência às cenas primitivas e
fantasmáticas segundo as quais o sujeito modelou e fixou seu modo
de gozo e enquadrou sua fantasia 5• É o resultado que vai do
traumatismo sexual à fantasia que veste o sujeito, lhe dá seu estofo e
se metamorfoseia em sintoma. Seguindo essa linha de raciocínio, é a
partir do caso Emma, analisado em 1895, que Freud descreve o
que está em questão na primeira mentira histérica, expressão que
106
Daniela S cheinkman
Da posição subjetiva
107
Os Destinos da Pulsão
Do traço
108
Daniela Scheinkman
NOTAS
109
Os Destinos da Pulsão
112
Si/via E/ena Tendlorz.
113
Os Destinos da Pulsão
114
Si/via E/ena Tendlarz.
115
Os Destinos da Pulsão
116
Si/via E/ena Tendlarz.
117
ÜJ DCJtú10J da P11/Jão
118
Si/via E/ena Tend!arz
119
Os Destinos da Pulsão
120
Si/via E/ena Tendlarz.
proibidos durante a sua dieta, e à noite sonha com eles. Mas este
deslizamento metonímico dos objetos de desejo tem como ponto
de partida seu próprio nome. A nominação produz o efeito de
"transferência de significação". No Seminário 11 Lacan acrescenta
que neste banquete está incluído o nome de seu próprio pai, Freud,
o que indica um ponto de identificação.
Em ''A metáfora do sujeito" (1961) Lacan pega um exem-
plo de metáfora no caso de outra criança. O Homem dos ratos, em
certa ocasião durante sua infância, interpela enfurecido seu pai e lhe
diz: "Seu lâmpada, guardanapo, prato... ". Nesta "metáfora radical"
(as palavras funcionam como insulto), o paciente atua estabelecen-
do uma série metonímica de objetos em sua intenção de significa-
ção agressiva. Diferentemente do exemplo anterior, estes objetos
funcionam como substituição não do sujeito (como no caso de
Booz), mas do insulto, e dão como resultado um efeito de criação
pela produção de uma nova significação.
Neste artigo retoma a estrutura que havia utilizado para es-
tabelecer a metáfora paterna como fórmula da metáfora em geral:
121
Os Destinos da P11l.rão
122
Si/via E/ena Tendlarz
Herlgovina Bo,snia
sexualidade e morte
~pensamentos recalcados
123
Os Destinos da Pulsão
124
Si/via E/ena Tendlarz
125
Os Destinos da Pulsão
126
Si/via E/ena Tendlarz
127
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
128
Si/via E/ena Tendlarz.
129
Os Destinos da Pulsão
132
Marcus André Vieira
133
Os Destinos da Pulsão
134
Mam,s André Vieira
135
Os Destinos da Pulsão
136
Marcus André Vieira
O amor e o pecado
137
Os Destinos da P11/.rão
-
~-~
• • 'IHJt•o,•'l'"'I' .. • .....l""l'!l""'., ... ~,.,e,.·"<~~~..~ - - ...... ~:1,iT. • ,. ·•.. .. . . . •.. - ~ - - - - · -
138
Marc11s André Vieira
139
Os Destinos da Pulsão
que vem ao corpo afetado pelo significante, podemos dizer que a partir de
I encontra-se S e oculta-se R na agitação de um corpo afetado.
Esta distinção fundamental aparece de maneira conclusiva
com relação ao objeto a. O amor e o ódio estão no ponto inaugu-
ral, imediatamente após a angústia, no qual o objeto se materializa.
Amoródio é o nome do ponto no qual o objeto se constitui como
-dcs.uc.iiª2.Pª€§rêuillt~i:~~\k~!~~ªl;e;;-10s u~ª snurca- -·>::>
0,o ue cinde a vida sexual, de um lado, e a vida a~~w~,.ge.":'ó1i.b:o.
Por um lado, o . e'6'nsisi:ír·erri"" frâ~i:';;s do corpo do
Outro que se unificarão, por vezes, na miragem do Um. Um outro
corpo, um outro sexo, uma cara metade. Por outro lado, o objeto
vai se descorporificar e se simbolizar progressivamente, fazendo
surgir os demais afetos na dependência da relação do sujeito com
este Outro do sentido. O mito do Um destaca-se neste nível, ao
menos parcialmente, da satisfação pulsional e toma as formas afetivas
disponíveis no imaginário de uma cultura 16•
Na angústia o objeto aparece como real. Nas paixões do
ser, temos a como imaginário, miragem de Um, sendo que este Um
pode aparecer como 'Um (outro) corpo' (imaginarização do real),
onde a posse ou a falta vão inscrever-se como amor ou ódio ou,
como no caso dos afetos, como 'Um sentido', onde a posse ou a
falta vão aparecer de modo dessexualizado como alegria ('a vida
faz sentido') ou tristeza ('a vida não tem sentido') 17 •
Para concluir, podemos nos perguntar se não poderíamos
tentar situar a sublimação a partir destas colocações. Na via da pai-
xão e do afeto dilui-se o objeto seja no corpo do Outro, seja nos
sentidos que ele assume, afastando-se da (in)satisfação pulsional
objetalizada. Com a sublimação, descolamo-nos também do obje-
to como objeto de satisfação, mas seguimos uma outra via, pois ele
é tomado, de saída, pelo seu viés não especular. Enquanto a paixão
pode ser situada a partir da cobertura de a por uma roupagem
imaginária, i(a), a sublimação passa por sua materialização através
140
Marcus André Vieira
NOTAS
1- cf. L\CAN,J. Le Séminaire, Livre XXI: Les noms dupes errent (1973-4). Inédi-
to, aula de 12 de março del 974.
141
Os Destinos da Pulsão
142
Sintoma e sublimação
parte dois
SUBLIMAÇÃO - S1NTOMA? 1
Joseph Attié
Membro da École de la Cause Freudienne. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise
i,/'
146
Joseph Attié
147
Os Destinos da Pulsão
148
Joseph Attié
Nevralgia
Afronta
As coordenadas do sintoma
149
Os Destinos da Pulsão
mente, ele renunciará a essa primeira teoria para decidir-se pela dire-
ção da fantasia própria da criança. É a criança quem fantasia que a
seduziram.
Seja como for, tendo partido de uma nevralgia que eventual-
mente dependia de uma simples aspirina, deparamo-nos aqui com
coisas tão complexas como a transferência, a repetição e a fantasia, as
quais constituem, diremos, o sintoma como sintoma analítico. i\ palavra
falada na transferência visa a verdade do sintoma. É isso o que está cm jogo
e que se constitui de elementos muito complexos entrdaçados.
150
Joseph Attié
151
Os Destinos da Pulsão
s S'
S' X
Nevralgia Afronta
Afronta X
152
Joseph Attié
153
Os Destinos da Pulsão
R.epetição
Pulsão = Demanda
Stg'eito suposto saber
Fantasia
Recalcamento e fantasia
154
Joseph Attié
155
Os Destinos da Pulsão
Um grafo de Lacan
Rp
Rp
156
Joseph Attiê
Rp
Rp
~
Sublimação
Eis porque retomo esse grafo: por que ele coloca face a
face - e não se poderia fazê-lo de modo mais claro - a fantasia e
a sublimação. O que a sublimação vem fazer aqui?
Ao lado da repetição alguma coisa fundamental se repete,
na qual Lacan articula o cogito cartesiano: "Eu penso, logo eu sou".
Trata-se do pensamento de um ser humano e de seu ser. Lacan -
é uma outra demonstração - retira o logo e coloca:
Eu penso
Eu sou
157
Os Destinos da Pulsão
Eu penso
Eu sou
Eu penso Pensamento
Eu sou Ser
Eu não penso
Rp
Eu não sou
Sublimação
158
Joseph Attié
Eu não penso
Rp
Passagem
ao ato
Eu não sou
Sublimação
159
Os Destinos da Pulsão
@ Aliena ão
Rp
Passagem
ao ato Verdade
Eu não sou
Sublimação
@ Aliena ão
Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
out
Eu não sou
Sublimação
160
Joseph Attié
@ Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
OU[
Eu não sou@
Sublimação
161
Os Destinos da Pulsão
@ Aliena ão
Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
out
Ics
Eu não sou®
Sublimação
De fato, uma denegação, por mais que se esforce para ser uma
denegação, nos interessa no que ela pode apelar para uma interpre-
tação. Vemos que da passagem ao ato e do acting-out partem dois
vetores que conduzem à essa conjunção final de a com -<p. Conjun-
ção que o final de análise visa desunir. É por excelência a figura de
um final de análise.
Eu não
penso
@ Aliena ão
Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
out
Ics
Eu não sou®
Sublimação
162
Joseph Attié
p E
Eu não
@
penso
Aliena ão
CID Rp
e,'-4
Passagem ,..,...'c5'
ao ato <;>~ Verdade
~'1.4
acting
out
~
Ics
Eu não sou®
Sublimação
163
Os Destinos da Pr,/são
out
lcs
Eu não s o u ~
Sublimação
É nesse momento, sobre esse novo vetor que vai da passa-
gem ao ato até o acting-out, que Lacan inscreve a transferência. O que
isso guer dizer? Eis uma questão que não se deve nunca deixar de se
colocar. Quando o sujeito passa ao ato, é o momento em que ele
não pensa, e quando quer se afirmar. Quando é que alguém se
afirma melhor do que quando passa ao ato?
Tentem dar um soco em alguém e vocês verão o quanto
vocês existem no espaço de um segundo. "Eu sou" nessa passagem
ao ato. E eu sou o quê? Eu sou um absolutamente nada, um ser de
puro sintoma: é o que isso pode querer dizer. Desse lugar da passa-
gem ao ato no segundo grafo pode haver invocação, apelo ao sujei-
to suposto saber, ou seja, ao inconsciente. De fato, é dos impasses
do "eu não penso" que um endereçamento, uma demanda de aná-
lise pode produzir-se (o fato de alguém não querer pensar, no sen-
tido de nada querer saber do inconsciente, pode levá-lo a impasses
por toda sua existência).
Daí a nova posição da transferência, que vai da passagem
ao ato, do "eu não penso", para o "eu não sou". O sujeito o !ê no
164
Joseph Attié
@ < Alienaç,~o __
CID
Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
out
Ics
Eu não sou@
s ~ão
165
Os Destinos da Pulsão
p E
Eu não
penso
@ Aliena ão
CID Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
OU!
lcs
Eu não sou@
s
Essa precisão basta para remover toda dificuldade: o apa-
rente paradoxo que havia ao se colocar a sublimação como aquilo
que emerge no final da análise, o que o esquema precedente tendia
a deduzir. Ora, uma análise não é uma sublimação. E um final de
análise, tampouco. Esse segundo grafo construído por Lacan mos-
tra uma via diferente: a sublimação inscrevendo-se sobre um vetor
é alguma coisa diferente, que nada tem a ver com transferência.
Nesse ponto, que nomeio S - S como Sujeito, e no mais S como
sublimação - , Lacan situa o que ele chama de nibil do sujeito. Essa
nada (nibil, em latim) do ponto de partida é o sujeito mais puro,
sempre a advir como significante. No caso de Cecília M., era a
palavra (mo-!) afronta que a puncionara como sujeito.
Pois bem, diz Lacan, esse nibi/torna-se o bi/e do sujeito. Hzle
é um termo bastante interessante. Basta tomarmos o dicionário
para vermos mais claro. Em botânica, bi/e quer dizer cicatriz: cicatriz
que resulta da ruptura de um grão. Diz-se o bife da fava. Mas em
anatomia (os médicos o conhecem bem) bi/e é um ponto de inser-
ção dos vasos e condutos excretores de um órgão: diz-se o bi/e do
fígado, o bife do rim. Portanto, bife é, por um lado, cicatriz e, por
outro, um ponto de inserção. Nem em sonho se encontraria um
termo mais preciso para o lugar do sujeito. É desse ponto S que
parte o vetor de sublimação e que nos dará este segundo grafo:
166
Joseph Attié
p E
Eu não
penso
@ Aliena ão
CID Rp
Passagem
ao ato Verdade
acting
Nihil out
~
lcs
Eu não sou®
p E
Eu não
penso
@ Aliena ão
CID JYp
Passagem
ao ato Verdade
RP
acting
Nihi/ out
~
lcs
Eu não sou®
s
Uma tal configuração merece uma longa interrogação. Li-
mitar-me-ei a algumas observações.
167
Os Destinos da Pulsão
Três observações
168
Joseph Attié
169
Os Destinos da Pulsão
170
Jos,ph Attié
171
Os Destinos da Pl{lrão
NOTAS
172
PERCURSO FREUDIANO DA SUBLIMAÇÃO
Joseph Attié
Membro da École de la Cause Freudiemze. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise
174
Joseph Attié
175
Os Destinos da P11/sào
Parece-me indiscutível que a idéia do belo tem suas raízes 11a excitafão
sexual e que, originariamente, ele (o belo) não designe outra coisa senão o
que excita sexualmente. O fato de que os órgãos genitais, c,ga visão
determina a mais fane excilafão sexual, não possamjamais ser considera-
dos como belos, está relacionado com isso.
176
Joseph Attié
177
Os Destinos da Pnlsão
178
Joseph Attié
179
Os Destinos da Pulsão
180
Joseph Attié
181
Os Desti11os da Pt1lsão
182
Joseph Attié
NOTAS
1- FREUD, S. Trois essais mr la théorie de la sex11a/ité. Paris, Gallimard, 1987, p. 42
2- cf. Omicar?, n. 19.
3- No original: Rie11/ N't111ra eu liett/ q1te !e lieu/ infériettr clapotis q11elconq11e
comme po1tr dispcrser/ l'acte vide.
4- FREUD, S. "Le refoulement''. Em: Métap!]chologie. Paris, Gallimard, 1985,
p. 54
5- FREUD, S. Essais de P!]chanafyse. Paris, Payot, 1981, p. 185.
6- cf. Lettre de L 'École, n. 18.
183
SUBLIMAÇÃO E SINTOMA
Stella Jimenez
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise
Sublimação
186
Stella Jimenez
Sinthoma
s
figura 1
187
Os Destinos da P11Jsão
figura 2 figura 3
Sublimação e sinthoma
188
Stello Jimenez
189
Os Destinos da P11/são
Aquele que produz uma obra, seja esta uma obra de arte ou
não, articula os três registros. Na neurose e na perversão a obra
tende a opacificar aquilo que do sinthoma se faz escutar como verda-
de, como demonstrei num trabalho sobre Gidé, talvez por uma
consolidação do .rinthoma (voltas a mais num .rinthoma que existia
previamente), que o faz mais eficaz e ao mesmo tempo menos
transparente. Já na psicose a obra pode funcionar como quarto elo
e produzir uma estabilização da estrutura.
NOT,\S
1- FREUD, S. "El yo y el ello". Em: Obras completas, tomo II. Madrid, Bibli-
oteca Nucva, 1968, p. 17.
2- L:\CAN, J. O Seminário, livro 4: a relação de oijeto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar
Editor, 1995, p. 178.
3- LACAN, J. Le Séminaire, Livre XI: Les q11atre concepts fa11damenta11x de la
p.rychcma!Jse. Paris, Seuil, 1973, p. 165.
4- PEQUENO, A. & JIMENEZ, S. "Joyce, o sinthoma ", Boletim da EBP
Sepio-Rio, julho 1995.
5- L.\C.AN, J. O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, 1988, p. 17 8.
6- JIMENEZ, S. "Ci-gide: efeitos subjetivos da obra literária". Em: Quinet, A.
(org), Jacques Lacan: a psica11álise e 111as co11exões. Rio de Janeiro, Imago, 1993, p.
107.
190
O FILHO NECESSÁRI0 1
Colette Soler
Membro da École de la Cause Freudienne. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise
192
Co/ette S o/er
193
Os Destinos da Pulsão
194
Co/ette S o/er
195
Os Destinos da P11/são
196
Colette S oler
ção com o corpo próprio e de maneira mais geral com o eu (yo). Ele
próprio, então, evoca uma deficiência do registro passional, do que
Kant chamaria o registro do patológico. É preciso ser Lacan para
extrair isto, já que as diferentes passagens em que podemos ler a evo-
cação destes sentimentos não somam mais do que vinte linhas num
grosso volume. Lacan apoia-se decididamente neste traço, e o diz
assim: "O abandono do corpo próprio é suspeitoso de psicose".
Em Joyce este fato não deixa de ter relação com seu tipo de
escrita. Assim, em Lacan há dois acessos à psicose de Joyce: o sinto-
ma literário e o abandono do corpo próprio. Qual é a razão, a lógica
desta equiparação? Que têm a ver uma escrita que rechaça o sentido
e a indiferença narcisista para com o corpo? Ambas convergem
por uma simples razão: têm a ver com a função do Imaginário e
são indícios da falta de nó entre Imaginário, por um lado, e Sim-
bólico e Real, por outro. Não há que perder de vista que o sen-
tido se produz na incidência do Simbólico sobre o Imaginário
(figura 1).
O sentido está sempre ligado ao imaginário do corpo. É
necessário não esquece-lo para poder ligar as duas portas de entra-
da na psicose em Joyce. Dito de outro modo, a expulsão do senti-
do em Joyce nos faz supor que não há enlace do Imaginário com o
Simbólico, o que se pode representar separando os dois círculos ou
superpondo-os sem enlace (figura 2).
figura 1 figura 2
197
Os Destinos da Pulsão
198
Colette Soler
199
Os Destinos da Pulsão
200
Colei/e S oler
do corpo. Por isso algo deve se agregar a seu gozo da letra para que
Joyce se torne LOM, três letras para designar o nó necessário.
Então, cm que ponto podemos encontrar a suplência? Mi-
nha idéia é que a suplência não é a escrita de Joyce em si própria, e
(1ue a escrita de Joyce está muito mais próxima de seu sintoma
psicótico. O que produz a suplência é que Joyce publica. Lacan
estabelece esta distinção. Sente-se que Joyce em sua escrita goza da
letra, com um gozo que não é dividido, que não é contagioso. O
sentido é muito mais contagioso que o gozo de Joyce. Se nos per-
guntamos por que Joyce publicou, encontraremos o que Lacan vai
escrever como "sinthoma", isto é, uma função que desempenha o
mesmo que o Nome-do-Pai. Quando a publicação se agrega ao
sintoma, à escrita, então temos o sinthoma, e isso é o que, para Lacan,
fará de Joyce um LOM1 1• Lacan escreve l'homme (o homem) com
essas três letras, LOM, que quando lemos como palavra se pronun-
cia do mesmo modo. Por um lado LOM faz Um, mas também,
colocando-se pontos após cada uma das letras, faz três e isso nos
remete aos três do nó borromeano, R.5.1. Para a promoção de
LOM faz falta o que Lacan escreve assim: l'hessecabeau, jogando com
a palavra escabeau - escabelo - de tal modo que nela encontramos
201
Os Destinos da Pulsão
202
Cole/te S oler
203
Os Destinos da Pulsão
204
Co/ette So/er
NOTi\.S
205
Os Destinos da Pulsão
MirtaZbrun
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise. Membro de la Escuela de
Orientación Lacaniana.
208
Mirta Zbnm
209
Os Destinos da P11/são
210
Mirta Zbmn
T ralalá trala/adona
Tra/alá lalá
Tralalá /alá
Traia/a /alá'~º.
211
Os Destinos da Pulsão
212
Mirta Zbrun
NOTAS
Refer2ncias bibliográficas
213
Os Destinos da P11lsão
Sonia Alberti
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise
216
Sonia A/berti
217
Os Destinos da Pulsão
218
S onia Alberti
219
Os Destinos da Pnlsão
220
Sonia Alberti
221
Os Destinos da Pulsão
222
Sonia Aiberti
(...) dar-se conta de uma grande máxima, o que sempre é uma operação
genial do espírito; chegamos a isso através do olhar, não foi pensando, nem
aprendendo, nem por transmissão. Trata-se aqui de dar-se conta da força
moral que ancora na aposta/ crença permitindo uma certeza. (...)
223
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
1- Dichtung und Wahrheit. Parte 4, livro 20, p. 297. Todas as traduções dos
trechos de Goethe e de Freud são da autora, razão das notas - para Goethe
- que trazem o texto no original.
2- FREUD, S. "Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci" (1910).
Em: St11diena11sgabe, vol. X Frankfurt a.M., S. Fischer, 1969.
3- GOETHE, J.W Dichtung und Wahrheit. Em: GoetheJ IPerke, vol. XI. Basi-
léia, Birkhauser, 1944, p. 286.
4- r'REUD, S. "Eine Kindheitserinnerung aus Dichtrmg 1111d Wahrheit' (1917).
Em: Studienattsgabe, vol. X Op. cit.
5- HANNS, L.A "Retornando a Freud- a teoria pulsional no texto alemão".
Opção lacania11a, n. 19, agosto 1997.
6- cf. LACAN, J. "O mito individual do neurótico", Falo -Revista Brasileira do
Ca111po Freudiano, n. 1, 1988n. 1, 1988.
7- cf. ALBERT!, S. "Texto e contexto". Em: E11e s1geito adoluce11te. Rio de Janei-
ro, Relume Dumará, 1996, p. 49.
8- "Mich konnte dies und das betrüben,/ Hiâtt ich's nicht schon in Versen
geschrieben". Em: "Zahme Xenien III". Goethes Werke, vol. 2. Op. cit., p. 188.
9- "So tauml'ich von Begierde zum Genuss/ Und im Genuss verschmacht ich
nach Begierde".
10- FREUD, S. "Zur Einführung des Narzissmus" (1914) Em: Studienausgabe,
vol. III, cap. 3. Op. Cit. p. 61.
11- LACAN, J. I..e Séminaire, Livre VII: L'éthique de la psychana/yse (1959-60)
Paris, Seuil, 1987.
12- "(...)wie uns die alten Ritterromane dergleichen zwar auf eine dunkle,
aber kriâftige Weise zu überliefern verstehen". Em: Dichtung tmd Wah,·heit.
Op. Cit., v. 11, parte 4, livro 17, p. 234.
13- "Wenn ich nun vorm Spiegel stehe/ Im stillen Witwerhaus,/Gleich guckt,
eh ich mich versehe,/Das Liebchen mit heraus./Schnell kehr ich mich um,
und wieder/ Verschwand sie, die ich sah;/Dann blick ich in meine Lieder,/
Gleich ist sie wieder da". Em: "Westostlicher Diwan". Goethes Werke, vol. 2,
poema 46 ''.Abglanz". Op. cit., p. 364.
224
S onia Albetti
225
J.Zenith
PESSOA, A ESFINGE
Colette Soler
Membro da École de la Cause Freudienne. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise.
O ego explodido
228
Colcttc S o/ar
A obra rousseliana
229
Os Destinos da Pulsão
230
Colette Sofer
231
O.r Dc.rtino.r da Pulsão
23 2
Colette Sofe1·
233
Os Destinos da Pulsão
234
Colette Soler
235
Os Destinos da P11/são
236
Co/ette Sole,
237
Os Destinos da P11IHio
falte o traço que totaliza. Parece que por não poder assinar Pes soa
em seus textos, trata-s e ele como se faz com uma mulher, uma cliv a'
.
Os Pessoas
23 8
Colette So/er
23 9
O_r Destinos da P11!são
240
Colette Soier
brincava com uma dúzia de cadeiras e s obre cad a uma das quais
tornava-s e outro.
Pessoa des creveu o trans e ins p irado durante o qual o trio
dos heterônimos consagrados com eçou a se im p or a ele no mesmo
momento que acabava de fracassar numa tentativa de inventar um
poeta bucólico p ara "fazer uma bla gue" 'com s eu amig o Sá-Carnei
ro. Ele diz:
241
Os Desti11os da PJJ!são
Vi_nha-me à idéia um dJ1ste, totalmente estranho, por uma mzão 011 por
outra, aquele q11e sou oú acredito se,: E11 o dizia, Jogo, espo11tanecmm1te,
cotno se elefosse um de 111e11s a111igos, para o qual et1 inventava o nome, t!O
s
q11al e11 acrescentava a hi tóna e do q11al eu via imediatamente dia11te de
mim a imagem - tvs(o, estatura, vestimentas, gestos. 33
242
Colette Solcr
Não sei quem sou, nem que alma tenhu( . . . ) So11 diversamente otltro de um
só eu: de c11ja 11xistênàa não esto11 aliás seguro (e Je 11ao fossem eJtes ou
/Jm) . ( . . .) Eu me sinto múltip lo. So11 como ;11n quarto com i1111merâveis
eJpelhosfantá�licos que destorcem em falsos reflexos uma única realidade
anletior q11c não está em nenhum deles e está em todos. Como o panteísta
se sente árvore e mesmo flor, e11 me Jinto vários seres. Eu sinto que uivo
vidas de outros em mim, ÍllCOJJJjJ Íe!Cl'l'1Je!lÍe, COt/10 Se V Jett serjizesse par/e rfe
todos os homens, incomp letamente de mda um, através de uma soma de
11ão-eus sintetizados num único eu postiço. 35
243
Os Destinos da PHlrão
Para Pess oa, o caso guarda uma p rioridade. Não p orque dê a obra
o ess encial de sua temá tica, não porque daria conta do g ênio - este
p ermanece em todos os casos não dedutível ---, e tamp ouco por
que eclip se a obra. Não é o caso. É porq ue, condicionando a p ró,
pria raridade das formas nas c1 uais ela se realiz a, ele a eleva, esta
obra, ao nível de cas o. O q ue p essoa alguma contes ta.
O não-identificado
"Os poetas não têm bio grafia", dizia O ctavio Paz. Se, no
en tanto, nos voltamos p ara a vida de Pessoa p ara aí encontrar os
. trnços do que ele foi, p odemos descreve-lo como líder van guardis ta
e como crí tico literário: na origem de alguns "ismos" - paulismo,
interseccionismo, sensacionismo - teria fundado duas Revis tas,
Orpheu, em março de 1 9 1 5, q ue causou ·escândalo, e Athena, em
outubro de 1 924; como j ornalis ta amador: bastaram-lhe poucas
crônicas para p rovocar uma insurreição dos . . . taxistas da cidade de
Lisboa e fazer-se agradecer; como p olemi s ta sardônico; como teó-
�t
. ri,c � J? Olítip e da civilização; um p ouco como teósofo, como
médium, e talvez mesmo como iniciado em alguma ordem oculta
- a qui são as cartas q ue tes temunham. Tu do is to não o impede,
além diss o, de ser vers ado nos p roblemas comerciais; tentou criar
primeiro uma li p ografia, Íbis - a f alência não se fez espcrnr �
depois uma firma polivalente 0/isipo - edição, livraria, publicidade,
criação de novas indústrias etc. Em 1 926 cria uma Revista de comérào
e contabilidade e redi g e um lon go texto com orientações sobre os
problemas comerciais. Mas Pes soa tem mais veleidades do que gê
nio p rático. É um org anizador "no p apel". Planos e idéias teve
muitos, mas p ara de, aparentemente, nada dura e nada se conclui.
Na realidade, o t1:aj eto de seus dias vai do q uarto à "Rua dos
D ouradores", onde é em p regado, e retorna via . . . o café. E quando
lhe p ropõem um trabalho de tradução e de edi ç ão que o faça ir à
In glat<:fP, malgrado sua situação fin anceira s em p re p recária, recusa.
244
Co!ette Soler
245
Os Desti11os da Pulsão
246
Colctte Sofer
247
Os Destinos da Pulsão
A experiência fundamental
248
Colctte So/ar
tir?"48 Porque sua angús tia chama uma segunda morte: "não cessar
de exis tir( . . . ), mas uma coisa bem mais horrível e p rofunda: cessar
de ter m � smo existido" 49 . É daí q ue a obra centrífuga se irradia em
. . . "extratos do inexis tente" 50 .
Esta dor de estar "só face ao n1is tério da inexis tência, entre
gue ao deses p ero de se sentir viver" 5 1 , nutre a obra . . Ela não é sua
asserção p rimeira e única, mas a Exp eriência p rimeira, a qui p edindo
em p res tado a Pessoa sua mania das Maiúsculas. Ela é húmus melan
cólico da extraordinária plas ticidade criadora q ue foi a sua, e q ue lhe
p ennitiu jus tamente não ser um caso de melancolia. "O sentirnento
a p ocalíp tico da vida" 52 , todo o p eso, toda a dor des te "univers o real
e im p ossível" es tão em toda p arte na p oesia de Pessoa. Existe nesta
o bra alg o d o grito, d a n áuse a a n t e s da hora, da derrelição
heideggeriana p ré-datada e uma an gús tia metafísica submerg ente. A
o p resS"ão de exis tir, o sentimento de irrealidade, de "não-ser", de
caos e de vazio, declinam-s e aí em modos vatiados, en q uanto o bos
quej o da contingência irredutível, do n ão-sentido e da vacuidade,
armados como enigma, elevados ao .l'vlistfaio - ainda uma maiús
cula - dão consistência a uma in q uietante iminência como se, st:m
p re, "o q uase-revelado hesitasse em fazer sua ap ariç ão" 5 3.
Ficções
249
Os Destinos da P11/são
250
Colette Soler
insone, es (1 uadrinha sua aus ência do mundo, sua nulidade, seu de
sencantamento, sua angústia.
O s três heterônimos maiores, Alberto Caeiro, Ricardo Reis
e Álvaro de Cam p os, também eles divergem a p artir des ta exp eri
ência fundamental, mas não se contentam em decliná-la, eles a tra
tam como ou tros tantos eus fictícios. Se p or vezes Fernando Pessoa
os designa como uma ... Escola 60 é sem dúvida p orq ue .eles são os
n1ensa geiros de uma vida p os sível, cuj o visão de conj unto lhe p are
ce ter vindo p ela leitura de Walt Whitman. Do trio, Caeiro é o m.es
tre; os dois outros são s eus dis cíp ulos.
Alberto Caeiro é o sup osto p agão, "o único p oeta da natu
reza", o "argonauta das sensações verdadeirns" 6 1 , q ue são tudo o
q ue res ta da natureza q uando esvaziada de sentido. Neste bom selva
gem q ue se tornou p oeta, Octavio Paz vê a única afirmação de toda
a obra de Pessoa . De fato, ele é a ne g a ç ão encarnada da exp eriência
trágica. Pós-simbolista, feliz ne g ador do mis tério, inimig o dos liris
mos e da metáfora, não q uer conhe,cer s en ã o uma n a tureza
desabitada, onde "uma p edra é uma p edra e nada mais", "o único
•
1
sen tido íntimo das coisas" dado p elo fato de " g ue elas não tem
sen tido ín timo alg um"r·2 . A p oiando-se inteiramente na certeza tran
qüila da ade q uação à nat1.ueza, ele exorciza o mis tério, o não-senti
do e a morte. É _ a uto p ia viva de uma relação imediata com o
mundo que não seria trabalhado p ela negatividade da lin g ua gem, o
sonho de um olhar virg em a quém "das men tiras dos homen s " .
Para realizar este p aradoxo d e uma p oesia q ue se desejaria p ré
reflexiva, como q ue anterior à lin gua gem, Pessoa reanima o gênero
bucólico, e inventa um estilo cho q ue q ue procede p ela nega ç ão, p ela
tautolo gia, p ela "denotação_ p ura" 63 , p ara reunir num dizer sem fic
ção a crônica edificante de uma contemp lação de um mundo vazio,
na qual a visão não (] Uer "ver serião o visível", encantando-s e consi
go p ró p ria nas bordas únicas do es p a ç o s ensív el. É a imagem inver
tida da in tran qüilidade metafísica ele Pessoa.
251
Os Destinos da PHlsão
252
Colette Soler
«A mentalidade"
Que faltou dizer àquele que desej av,1 "Tudo dizer, sobre tudo,
sem falha, s em defeito ou fra q ueza"7 1 ? Ele não p ode dizer aq uilo de
que foi exilado, encerrado que es tava na bolha el a mentalidade
253
Os Destinos d(/ P11isão
254
Colette Soler
255
Os Destinos da Pulsão
A ironia
256
Colette So ler
257
Os Desti11os da Pulsão
toda coesão social repousa em fic ções, é a consistência das ficç ões
que ele ataca, p ois:
25 8
Co/ette So/er
259
Os Destinos da Pulsão
..
Esta p resença da sombra, a an gústia cons tante do entrevis-
to (de l'entr'aperç'I{) dá à p oesia de Pessoa uma tonalidade única e dele
faz, como notou um de s eus críticos, um homem "ébrio de senti
do" es crutando a "es fin ge" q ue é p ara si p ró p rid, tanto como p ara
o logogrifo que vê em cada coisa, semp re à es p reita da iluminação
resolutiva.
260
Colette S oler
261
Os Desti11os da Pulsão
1
· Uma báscula idênti ca s e observa no curso do ano de 1 9 1 6,
ano terrível, durarite o c1 ual ele se inicia na teosofia, descobre-se
ri1édium e p erde seu amig o Sá-Carneiro, que se s uicida em Paris em
26 de abril. Em dezembro de 1 9 1 5, ele lhe escrevia: "Psíquicamente
eu estou assediado( . . . ) Estou num estado de desarvoramento e de
angústia intelec tual q ue você não p ode ima ginar". É que ele se in
formou sobre os ritos e mis térios dos rosa-cruzes e da teosofia q ue
o fascina. "É o horror e a atração do abismo coexis tindo no além
da alma" 105 . Ele diz ainda: "Vocês comp reendem c1ue esta tragédia
irre p resentável é bem real, cheia de aqui e a gora, e q ue minha alma
e s tá im p regnada como de verde as folhas" 1 º6 •
262
Cole/te Soler
tão bem "que as únicas novas que posso da1· de mim é que não,
porém melhor ag ora (A frase é esta mesmo, pois meu p rivilégio é de
não me exprimir)" 107 .
Messianismo
263
Os Destinos da P11lrão
A pena intensa qtte experúnento por minha páttia, meu desejo intenso dé
melhorar a condição de Portu,ga!, me inspiram - como dizer com qtie
ardo,; com que intensidade, com que sinccn'dade! -- milhares de p lanos,
que sópode1iam serpostos em ação por 11111 home111 dotado de uma qualidade
da qual eu sou totalmente desprovido - o poder de quem: 1vlas eu sofro
até a beira da loucura, eu ojuro... O s�frimento é atro Z: Ele me mantém
constantemente, digo, à beira da loucura. 1 1 1
Meu destino diz respeito a uma outra L.,ei, de que você ignora mesmo a
existência, e ele çstá cada vez mais mbmetido a Senhores que não consen
tem nem perdoam. T/océ não tem necessidade de com/) reender i.rso. 1 1 2
264
Coletie Soler
265
Os Desti11os da P11ísào
Um só poeta
266
Cole/te So ler
Dizer é sobreviver. Não há nada de real JJa vida que não o seja pela única
razão de que o descrevamos bem. 1 20
267
Os Desti110J da Pulsão
N OTAS
268
Colette Soler
que não são nada como os tios, é o fluxo g ue deve ser a vida. Mas para os que
pensam e que sentem, todos os que são vigilantes, estes, a horrível histeria dos
tre ns, dos carros e dos bat:cos não os deixa nem dormir hem ficar desp eJ:tos" etc.
8- A expressão dá título a uma p equena coletânea de fragmentos p ublicados
em francês p elas edi ç ões Rivages.
9- Ibid ., p . 202.
1 0- Ibid., p . 203
1 1 - Ver os tomos a V das Omvres de Fernando Pessoa p ublicados p or
Chris tian Bourgois.
1 2- Oeuvres completes, Prose 1 . Paris, La Difféxence, 1 988, p. 263.
1 3- Cifra fornecida por J osé Blanco no seu p refácio ao volume I das Oeuvres
completes de Fernando Pessoa, op. cit. , e que agrupa os textos em p rosa pu bli
cados durante a vida de Pessoa.
1 4- Cf. a carta de 28 de j unho de 1 932 a J oão Gas p ar Simões, j á citada
1 5- PESSOA, F. Livre de l'intrc111q11illité, vol. I. Op. cit., p . 240.
1 6- PESSOA, F. "A o pinião p ública". Em: Omvre.r completes. Op. cit., p. 209
1 7- IdS!m.
18- Ibid . , p . 219.
1 9- Idem.
20- C f. notadamente RIVA.S, P. "Ideologia s re,icionarias e sedu ç ões fascis tas
no futuris mo p ortugu ê s " . E m : Cahiers rles .avant-.�arrle.r. Lausanne , L'Age
d'homme, 1 978, e do mesmo au tor, "Frontieres et limites des futurismes au
Portugal et au Brésil", Emvpe, n. 55 1 , março de 1 975.
2 1 - Antonio Tabuccbi o qualifica de "malfadado".
22- COELHO, E. "Pessoa ou le voyage à rebours". Em: Cancioneiro. Paris,
Cb.ris tian Bourg ois, 1 988, p . 250.
23- PESSOA , F "Nota autobiográfica". Em: Pessoa en Jm,on11e. Op. cit., p. 68.
24- Não foi o caso, por exemp lo, de seu amig o J oão Gas p ar Simões, que
tinha sem dúvida se aproximado p or demais das facécias e misti ficações de
Pessoa para não ver aí mais do que uma simula ç ão lúdica.
25- É o que sustenta notadamente Robert Bréchon cm sua introdu ç ão geral
ao Cancio11eiro.
26- Carta a Armando Côrtes-Rodrigues de 4 de setembro de 1916. Op. cit., p. 1 83 .
2 7 - Retirei esta anota ç ão do ensaio d e Octavio Paz, j á citado
28- A expressão enconrra-se no texto: LACAN, J. "D'une question préliminaire à
tout u-a.itement possible de la psychose''.. Em: ÉCJit.r. Paris, Seui� 1966.
29- Carta de 30 de j aneiro de 1 935, O p . cit., p. 297-307 .
269
Os Destinos da Pulsão
30- Idem.
3 1 - L-\Ci\N, J. "D'une question prélimina.u:e à tout traitement possible de la
psychose". Op. cit., p. 533.
32- Carta citada, p. 301 .
33- Idem.
34- Ibid.
35- Fernando Pess oa. Em: LANCASTRE, M. ]. Pessoa, 11ne photobiographie,
Paris, Christian Bourgois, 1 990, p. 1 1 2.
36- PESSOA , F Uvre de l'intnmq11if!ité II. Op. cit., p. 64.
37- Carta a Alvaro Pinto de 30 de novembro de 1 9 1 2 . Op. cit., p. 85.
38- "Fragmentos autobiográficos". Op. cit. , p. 78.
39- Idem, p. 76.
40- Carta a Jaime Cortesão de 3f de janeiro de 1 9 1 3 . Op. cit., p. 94.
4 1 -· Sobre este assunto nos reportaremos a PESSOA, F. Oe11vres completes, vol. I.
Paris, La Différence, 1 988.
42- Idem, nota 24.
43- Ibid., p. 243.
44- Ibid., p. 247, carta a João Gaspar Simões de 28 de j unho de 1 930.
45- Ibid., "Fragmentos autobiográficos", p. 76.
46- ROUSSEAU, J-J. "Les rêveries du promeneur solitaire" . Em: Oeuvres
t'Ol1tp!etes I. Paris, Gallimard, 1 9 59, p. 995.
47- Idem, p. 1 20.
48- Ibid., voL I, p. 92.
49- Ibid., vol. I, p. 1 1 2.
50- Ibid., vol. II, p. 253.
5 1 - Ibid., p. 1 1 9.
52- Ibid., p . 1 02.
53- Ibid., p. 64.
54- l bid , p. 57.
55- PESSOA, F. Fausto. Paris, Chris tian Bourgois, 1 990, p. 47 .
56- Idem, p. 53.
57- Carta a Armando Côrtes-·Rod.cigues de 2 de setembro de 1914. Op. cit., p. 119.
58- Idem, p. 1 28.
59- PESSOA, F. Uvre de f'intm11q11il!ité I. Op. cit., p. 1 25.
60- Carta de 28 de junho de 1 932 a João Gaspar Simões. Op. cit., p. 287.
61- PESSOA, F PoMm pai'ens. Paris, Christian Bourgois, 1 989, p. 65.
62- Idem, p. 35.
63- . Ibid., p 1 7 .
6 4 - Citado por SEABRA , J. A . "Ricardo Reis ou l a double feinte". Em:
Poemes paiens. Op. cit., p. 1 1 2.
270
Colette Soler
65- A título de exemplo; "( . . .) Nada é saber! Tudo é ficção/ Viva cercado de
ro sas, ame, beba/ E cala-te. O resto não é nada ( . . .)"; e "Quem quer pouco,
tem tudo; quem quer náda/ É livre. Quem não tem e não deseja,/ Homem, é
igual aos deuses ( .. .)"; "Teu destino intrínseco involuntário, realiza-o/ Com
grandeza. Torna- te teu. próprio filho".
66- A título de exemplo: "Deitei com todos os sentimentos,/ Fui o protetor
de todas as emoções,/ Todos os azares das s ensações pagaram-me para
beber,/ Fiz cândidos olhos para todas as razões de agir,/ Dei a mão a todas
as veleidades da partida,/ Febre intensa das horas!/ Angústia da forja das
emoções!/ Raiva, espuma, imensidade que não cabe em meu lenço/ Cadela
da quinta que assombra minha insônia/ Bosque onde passeamos esta tarde,
cabelos ao vento,/ Minha rosa, o musgo, os pinheiros,/ Toda a raiva de não
conter tudo is to, de nada disso reter/ Ó fome abstra-ta das coisas/ cio impo
tente dos ins tantes,/ Intelectual orgia de sentir a vida!".
67- PESSOA, F. Livre de l'i11traNq11illtté II. Op. cit., p. 222.
68- Citado em "Fragments d'un voyage immobile", p. 9 1 .
69- PESSf)A, F. Livre de l'intra11quillité II. Op. cit., p. 1 25 .
7 0 - Idem, p . 201 .
7 1 - Carta a Jaime Cortesão. Op� cit., p. 94.
72- PESSOA, F. Livre de l'intra11q11i/lité 1. Op. cit., p. 57.
73- PESSOA, F. Livre de l'i11tn111q11i/lité II. Op. cit., ,p. 245.
74- PESSOA, F. Livre de /'intra11q11illité 1 . Op. cit., p. 69.
75- Idem, p. 1 21 .
76- PESSOA, F. Poemes paiens. Op. cit., p. 56.
77- PESSOA, F Livre de /'intranquillité I . Op. cit., p. 1 23.
78- Idem, p. 1 45 .
7 9 - Ibid., p. 1 2 1 .
80- PESSOA, F "Chroniques décorat:ives I". Em: Ouevm rompletes. Op. cit., p. 1 57.
8 1 - PESSOA, F. Livre de l'i11tmnqHil/ité II. Op. cit., p. 1 75 .
82- Idem, p . 1 7 7 .
8 3 - Ibid. , p . 1 88.
84- Ibid., p. 13 8-9 .
85- Ibid., p. 1 66.
86- Ibid . , p. 1 57-7.
87- Ibid., p. 1 58.
88- C f. nota 1 .
89- Fernando Pessoa, fragmento não datado. Em: LAN CASTRE, M . J. Pes
soa, une pbotobiogmphie. Op. cit., p. 269.
90- PESSOA , F. "Chronique de la vie qui passe, 5 avril 1 9 1 5" . Em: Ouevres
completes. Op. cit., p. 1 65 .
271
Os Destinos da Prtlsão
91- L\CAN, J. "' Radiophonie". Em: Sei/icei 2/ 3. Paris, Seuil, 1970, p. 67.
92- Carta a Francisco Fernandes Lopes. Op. cit., p. 191.
93- PESSOA., F. "Dom Sébastien, roi du Portugal". Em: ]e ne mis perso1111e,
A11tbologie. Paris, Christian Bourgois, 1994, p. 128.
94- PESSOA, F. fausto. Op. cit., p. 49.
95- PESSOA., F Uvre de l'intra11quilfité I. Op. cit., p. 174.
96- L.-\CAN, J. "D'une question préliminaire à tout traitement possible de la
psychose". Op. cit., p. 538.
97- Carta de 1 de fevereiro de 1913. Op. cit., p. 102.
98- Ver Omvres co11Jpletes, Proses I. Op. cit.
99- PESSOA, F. Pessoa en perso11ne. Op. cit., p. 115.
100- Idem, p. 132.
101- Ibid., p. 135.
102- lbid., p. 122.
103- Ibid., p. 136.
104- Ibid., p. 144-6.
105- Ibid., p. 168-170.
106- Ihid., p. 172.
107- lbid., p. 183.
108- Citado por José Blanco. Op. cit., p. 511.
109- Grifo meu.
110- PESS01\, F. Pessoa e11 personne. Op. cit., p. 270-1.
111- "Fragments autobiographiques". Op. cit., p. 76.
112- Carta de 21 de novembro de 1920. Op. cit., p. 218.
113- Carta de 26 de outubro de 1930. Op. cit., p. 254.
114 -Carta de 13 de janeiro de 1935. Op. cit., p. 299.
115- PESSOA, F. L'i11terrigne. Op. cit., p. 364.
116- Prose I. op. cit, p. 525
117 - Le livre de f'i11tra11q11iflité, vol. 1. Op. cit. p. 101.
118- Ibid., p. 124
119- lbid., p. 102
120- lbid., p. 261
121- Ibid., p. 260
122- PESSOA, F. ]e ne suis personne. Op. cit., p. 233.
272
PULSÃO: AMOR E ÓDIO
Heloisa Caldas
Membro da Escola Brasileirà de Psicanálise
274
Heloisa Caldas
275
Os Destinos da Pulsão
276
Reloira Caldas
... foi sempre na mira dos olhos dela que comecei a comer tomate, salgando
pouco apouco o que ia me restando na mão.fazendo um empenho simulado
na mordida pra mostrar meus dentes fartes como os dentu de um cavalo,
sabendo que seus olhos não desgrudavam da minha boca, e sabendo que por
baixo do seu silêncio ela se contorcia de impaciência, e sabendo acima de
tudo que mais eu lhe apetecia quanto mais indiferente eu lhe parecesse, ... 7
277
Os Destinos da Pulsão
278
Heloisa Caldas
279
Os Destinos da Pulsão
280
Heloisa Caldas
281
01 De1tinoJ da P11/.rão
282
Heloisa Caldas
283
Os Destinos da Pulsão
NOTAS
1- FREUD, S. " Os instintos e suas vicissitudes". Em: Obras completas, vol. XIV:
Rio de Janeiro, Imago, 1974, p.137, nossos grifos.
2- L'\.CAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise
(1964). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1988, p. 155.
3- FREUD, S. "Os instintos e suas vicissitudes". Op. cit, p. 147.
4- FREUD, S. "Sobre o narcisismo: uma introdução". Em: Obras completas,
vol. XIV: Op. cit., p. 111.
5- NASSAR, R. Um copo de cólera (1978). São Paulo, Companhia das Letras,
1997.
6- Idem, p. 10.
7- Ibid.
8-Ibid,p.15,p.15,p.14ep.17,respectivamente.
9- lbid, p. 20.
10- LACAN, J. O seminário, livro 8: a tranferência (1960-61). Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor, 1992, p. 201.i
11- NASSAR, R. Um copo de cólera. Op. cit., p. 30.
12- Idem, p. 31-2.
13- Ibid., p. 36.
14- LACAN, J. O seminário, livro 20: mais, ainda (1972-3). Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, 1985, p. 75.
15- LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.
Op. cit, p. 70.
16- Idem, p. 158-9.
17- NASSAR, R. Um copo de cólera. Op. cit., p. 37.
18- Idem, p. 43.
19- FREUD, S. "Repressão". Em: Obras completas, vol. XIV. Op. cit., p. 176.
20-NASSA.R, R. Um copo de cólera. p. 43.
21- Idem, p. 69.
22- Ibid., p. 74-5.
23- LACAN, J. O seminário, livro 20: mais, ainda. Op. cít., p. 99.
24- NASSAR, R. Um copo de cólera. Op. cit., p. 80.
25- FREUD, S. ''.A negativa". Em: Obras completas, vol. XIX. Op. cit.
26- NASSAR, R., Um copo de cólera. Op. cít., p. 85.
284
SUBLIMAÇÃO E A POESIA DE
MANOEL BANDEIRA
DESENCANTO
286
Lucia Cipriano Baima
287
Os Destinos da P11/são
288
Lucia Cipriano Baima
289
Os Destinos da Pulsão
290
Lucia Cipriano Baima
291
Os Destinos da Pfllsão
NOT,\S
292
O olhar e a voz
parte três
LEMBRA-SE DO OBJETO QUE VIMOS,
MINHA ALMA... 1
François Leguil
Membro da École de la Cause Freudienne. Membro da Escola Brasileira de
Psicanálise.
296
François Leguil
297
Os Destinos da Pulsão
298
François LBguil
299
Os Destinos da P11/são
300
Franfois Leg1til
301
Os Destinos da Pulsão
302
François Leguil
303
Os Destinos da Pulsão
304
François Leguil
305
Os Destinos da P11/são
306
François Leguil
307
Os Destinos da Pulsão
308
François Leguii
309
Os Destinos da Pulsão
310
François Legui/
do mesmo modo pensa que o objeto nos olha, "que somos sem-
pre observados" e que "o objeto julga aquele que não o olha". Eis
aí um temor, sem dúvida, um tanto excessivo; ele não deixa de
lembrar a confissão que o antigo leiloeiro Maurice Rheims fez um
dia ao seu amigo, o escritor Paul Morand: Maurice não podia con-
templar um quadro sem tentar adivinhar qual poderia ser o seu
preço numa venda! Pois bem, se o objeto o olha, ele não é, no
entanto, o mesmo que Lacan descobriu na pintura: o objeto a, "seu"
objeto, aquele que o pintor lhe revela, não tem preço, não é negoci-
ável como tal, ele é não cifrável no comércio usual dos homens. Ele
não se presta à troca de bens e à consumação dos que querem
negociar; ele não se entrega a qualquer preço. É preciso muito tra-
balho para cingi-lo, e também um pouco de genialidade. O objeto
olhar não se presta ao comércio da arte, exceto para dar conta das
loucuras, do arbitrário e da desordem desse comércio.
Antes mesmo que soubesse ensinar como o objeto a se
articula cm sua teorização da divisão do sujeito, da ligação ao obje-
to e da lógica da fantasia, Lacan sempre abordou a questão do
olhar com uma preocupação muito demarcada, acentuando-a às
vezes de forma quase dramática e demonstrando o que de crucial
na condição humana era preciso nela ver. Uma nota do "Discurso
de Roma" em 1953, que inaugura seu "retorno a Freud", o com-
prova: "basta ter visto, na recente epidemia, um coelho cego no
meio de uma estrada, elevando em direção ao sol poente o vazio
de sua visão modificada em olhar: ele é humano até o limite do
trágico" 20 •
Assim como a voz é esse objeto quase incorpóreo, que não
pertence ao registro sonoro, o objeto olhar "desespera o olho",
indica-lhe que não vê tudo - em 1964, Lacan fala de "castração
escópica" - pois esse objeto olhar é mascarado nas condições
usuais. Ele é dissimulado na visão pela relação especular, aquela em
que o sujeito faz a experiência do ver-se vendo-se (cf. nota 5).
311
Os Destinos da Pulsão
312
François Leguil
NOTAS
313
Os Destinos da Pulsão
314
SUBLIMAÇÃO E VOZ
Vera Pollo
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise
O olhar e a voz
Fabíola e a voz
316
Vera Pollo
317
Os Destinos da Pulsão
A sublimação da voz
318
Vera Pollo
319
Os Destinos da Pulsão
320
Vera PoUo
321
Os Destinos da Pulsão
Referêndas bibliográficas
APULÉE. L'â11e d'or. Paris, Gallimard, 1958.
ftREUD, S. "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905). Em: Obras
completas, vol. VII. Rio de Janeiro, Imago, 1969.
_ _ _ _ . "Sobre o narcisismo: uma introdução" (1914). Em: Obras comple-
tas, vol. XIV. Op. cit.
_ _ _. "O mal-estar na civilização" (1929). Em: Obras completas, vol. XXI. Op. cit.
K.IERKEGAARD, S. La reprise. Paris, Flammarion, 1990.
LACAN, J. "De nos antécédents". Em: Écrits. Paris, Seuil, 1966.
_ _ _ _ . O seminário, livro 7: a ética da psicanálise (1959-60). Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor, 1988.
_ _ _ _ . O seminário, livro 8: a transferência (1960-1). Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, 1992.
_ _ _ _ . "Os nomes do pai". Inédito, aula de 6 de dezembro de 1963,
nossa tradução
_ _ _ _ . Le séminaire, Livre XIV: La logique dr, fantasme (1966-7). Inédito,
aulas de 22 de fevereiro e 1 de março de 1967.
MILLER, J-A. "Reflexiones sobre la envoltura formal dei sintoma". Em: La
envoltura formal dei sintoma. Buenos Aires, Manancial, 1989.
ZIZEK, S. "La voix dans la différence sexuelle". La Cause freudie1111e, n. 31.
Paris, 1995, p. 82-92.
322
ARTE: DA PSICANÁLISE A
WALTER BENJAMIN
Introdução
Arte e psicanálise
324
Oswaldo França Neto
325
Os Destinos da Prt!são
Arte e Benjamin
326
Oswaldo França Neto
A aura
327
Os Destinos da Pulsão
328
Oswaldo França Neto
329
Os Destinos da Pulsão
Últimos comentários
330
Oswaldo França Neto
NOTAS
331
ÜJ' Dcsti11os da Pulsão
Referências bibliográficas
334
Gleuza Maria Salomon
335
Os Destinos da Pulsão
336
Gleuz.a Maria Salomon
337
Os Destinos da Pulsão
338
Glmza Maria Salomon
339
Os Destinos da Pulsão
340
Glmza Maria Salomon
Referências bibliográficas
cada vez ligeiramente diferentes. Mas para mim é sempre uma his-
tória de recuperação: nada se descobre na vida ... " (Chipp, 1988,
p.436). Lendo essa entrevista, não pude deixar de lembrar dos olhos
que Mirá insistentemente pintou numa fase em que dizia buscar
uma mudança na forma de composição de suas telas. Mirá pintou
olhos pequenos, grandes, engraçados, deformados, muitos olhos
que me fazem indagar sobre que relação eles têm com o olhar
como objeto inapreensível, evanescente, o objeto a lacaniano.
A fenomenologia da percepção de Maurice Merleau-Ponty
é uma referência de Lacan (1985(1973]) ao abordar a estrutura da
pulsão e do olhar como um dos objetos da pulsão. Merleau-Ponty
coloca o olhar como uma forma de acesso ao objeto, dizendo que
"a visão é um ato em duas faces" (1994(1945], p.104). Quando fixo
o olhar num objeto do campo visual, eu o seleciono como aquele
objeto que quero explorar em seu interior, transformando-o em
figura enquanto os demais objetos se tornam fundo. Nesse sentido,
longe de perturbar o olhar, a perspectiva o favorece pois é o meio
que os objetos possuem de se dissimular e se revelar. Os objetos se
espelham mutuamente e cada um é um espectador dentro desse
sistema que constituem. O corpo é um dos objetos que habitam o
mundo e é o meio que nos permite perceber o que está ao nosso
redor, é o nosso meio de comunicação com o mundo, o "hábito
primordial" (Idem, p. 108), o que comanda o espetáculo visível.
Em sua obra inacabada sobre o visível e o invisível Merleau-Ponty
retoma essa concepção de corpo, dizendo que a percepção nasce
no corpo e que o corpo é uma coisa visível contida no espetáculo
do mundo. É neste ponto que Lacan nos chama a atenção, porque
essa visibilidade do corpo supõe um narcisismo fundamental em
toda visão: há um olhar preexistente, portanto sou um ser olhado.
Vidente e visível se mutuam reciprocamente de modo que "não
mais se saiba quem vê e quem é visto" (1992(1964], p. 135). Merleau-
Ponty percebe que existe uma diferença entre o olhar e a visão,
...
sugere que pesquisemos essas palavras em diversas línguas, mas não
344
Ana Martha Wilson Maia
345
Os Destinos da Pulsão
346
Ana Martha Wilson Maia
348
Ana Marlha Wilson Maia
' 349
Os Destinos da Pulsão
350
Ana Marlha Wilson Maia
NOTAS
Referências bibliográficas
351
Os Destinos da Pulsão
,
Os Destinos da P11/são
354
Maria Udia A"aes Alencar
355
Os Destinos da Pulsão
que canta, esse espaço muito preciso em que uma língua encontra
uma voz e faz ouvir, a quem sabe escutar, o que se pode chamar seu
'grão' :a voz não é a expiração, é essa materialidade do corpo, ema-
nada da garganta, espaço onde o metal fônico adquire consistência
e se recorta" 6• E ainda com Barthes,
a voz situa-se na articulação entre o corpo e o discurso, e é nesse intervalo
de vaivém que a escuta pode realiZflr-se. Escutar alguém, ouvir sua VOZJ
exige porparte de quem escuta uma atenção aberta a esse intervalo entre o
corpo e o discurso, e que não se limita nem à impressão exercida pela VOZJ
nem à expressão do discurso. O que é oferecido para ser ouvido por essa
escuta é exatamente aquilo que o indivíduo que fala não diz: a trama
inconsciente que associa seu corpo como espaço de seu discurso. 1
Ao tentar definir a fruição do "grão" da voz pelo que na
língua não quer dizer nada, pelo que é pura volúpia de suas letras,
Barthes aponta para a dimensão de gozo, porque é com ele que se
canta e que se frui o canto na dimensão do corpo e não da alma. E
não implica essa fonética em "ouvir vozes"? - o autor se pergunta,
não seria a verdade da voz o ser alucinado?
O segundo episódio que recolhemos é a narração de um com-
positor de um momento particular de sua criação musical. Diz ele:
Pediram-me, outro dia, de uma hora prá outra, que compusesse uma peça
para um quarteto de cordas. Per:?,untei quanto tempo eu tinha para isso e
a respostafoi: não tem tempo. É prájá, éprá ontem. Isolei-me no silêncio/
escuro do meu quarto à espera, premido pela Ur:?,ência do pedido, visto que a
única condição era a pressa, e a liberdade de escolha, de resto, era total -
'Faça como quiser, queremos apeça'. Como eu quiser?Qual nada. Não fiz
nada. R.ecolhi-me ao nada, ao silêncio. Ative-me a não pensar em nada. E,
curioso, me dei conta de repente que duas linhas melódicas distintas, não-
sonoras (pois tudo era silêncio no escuro do meu quarto), na forma de dois
sons diferentes de trompetes se impuseram à minha escuta, em súbita
expansão no espaço-tempo. Surpreso, urgia me incluir nesse processo, o
quefiZ: Procurei rapidamente registrar as duas linhas, e tratei de ''esgarçar"
sua harmonia, abusar o que pudesse de seus limites (tonais) interpondo-
lhes súbitas texturas (de cordas,já que me pediram), pois que expandindo
356
Maria Udia A,raes Alencar
Referêndas bibliográficas
357
SINTOMA E SUBLIMAÇÃO
Rainer Mello
Membro aderente da Escola Brasileira de Psicanálise.
Sublimação e recalque
360
Rmner Mel/o
Sublimação e perversão
361
Os Destinos da Pulsão
Referêndas Bibliográficas
362
Rainer Mel/o
363
Embora considerasse inconclusa sua nome de pai. Visando responder aos
teoria das pulsões, Freud não se efeitos de criação, l ,acan nos lq~ou a
absteve de enunciá-las como mitos seguinte questào: e como vive a pulsão
indispensáveis ao analista, pbis aquele lJUe k:You sua análise até o fim?
somente a ação mutuamente oposta
Os trabalhos que compiiem o presente
pprém conjunta das pulsões poderia·
lino foram reunidos cm três grandes
explicar os paradoxos da clínica ou da
partes. A primeira,.- 1p11/.rdn e St'IIS
cultura. Os lacaios da Morte, pôde
destinos, como indica o trabalho de
dizer Freud, não são outros que'.ps
François J,eguil, privilegia a
.~diães da Vida.
transmissão da psicanálise e o saber na
A Trieb, conceito-limite na teoria prática do tratamento. Os textos da
freudiana, vem responder pela captura segunda parte indagam e esclarecem as
do ser humano numa verdadeira rclaçiies entre si11to111r1 e s11hli111t1{áo,
gramática das substituições. Nela verificando que do lugar do analista
deslizam o sujeito, o verbo e o objeto. "não há, na experiência, o retorno de
Sem jamais alcançar a satisfação total, um sublime verdadeiro". Finalmente,
a pulsão não cede de sua exigência. os trabalhos reunidos cm O olhar e r1
Diante dela nenhuma fuga se mostra l'OZ circunscrevem mais
eficaz, ela que, no entanto, abandona detalhadamente o que a psicanálise
prbntamente o objeto. Metamorfoseia- tem a dizer acerca destes objetos e
se no sintoma, e padece do destino da exploram o que faz função de criação
sublimação. na arte. Retorna-se à \'ercladc da
conclusão de Freud: a criação 11crmitt:
No testemunho de Lacan foi o
obter através da fantasia a satisfação
envelope formal do sintoma o
ou gozo aprisionada na neurose.
verdadeiro rastro clínico que o
conduziu a Freud, ao vê-lo invertido
na poesia involuntária de sua Aimée;
esclareceu que a pulsão se transforma
r í·ra />o/lo
em demanda no sujeito da neurose, e
acrescentou à série freudiana o que
Kalimeros - do grego kalós, belo, e·
hoje chamamos de "os objetos
lacanianos da pulsão": o olhar, a voz, e hlÍmerns, desejo apaixonado, desejo de
o nada. amor.
"Todos os dit1s 11t1sce _. !fi·odi/1', <' para
O percurso do sintoma ao sinthoma se
rdo111ar 110 p1ríp1io J>/{!/ár111111 eq11írocn q11i /,
estende do curável ao incurável. Há
rtff('(li!n, 1111111 l'l'lrladám l'lilllolr{l!,Ítl, ro1t"
sempre o resto de um gozo singular, o
rn11d11ir esse disl'm:ro m11111.r pt1lal'ms -
modo de gozar do inconsciente que é
kalcmera, holll-dia, kalimeros, ho///-dit1 r'
próprio a cada um. Numa de suas
helo deHjo - da l'('//1•:ü)o .mhre o q11f lhes
últimas conferências, Lacan observou
//"011.w t1q11i q11t111/n ú rel,1ráo do c1111or m111
que o sintoma é o que muitos sujeitos
nl,l!,IIIIJa cnisa qm, desde Sl'lllj>re, ch,1111011-se
têm de mais real, que ele vem do real
efl'J"l/() t/ll///1'". ' . '
amarrar o .nó do sujeito, como um
quarto elo fazendo.as vezes de um JacquesLacan, O Se//li11ári(1, Íit'l'n 8.