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INTRODUGAO UrcfNcia SEM EMERGENCIA? Gloria Maron! Nada hé de eriado que nao apareca na urgéncia, ¢ nada na urgéncia que nao gere sua superagao na fala PSICANALISE E SAUDE MENTAL “Ungéncia sem emergéncia?” é uma questo que in~ teressa nao s6 & comunidade de analistas como a todos 0s profissionais do campo da saiide mental que direta ou indiretamente lidam com situagdes de urgéncia. ‘Uma das caracteristicas das situagdes de urgéncia € no ter hora ou lugar para acontecer, podendo se precipitar de modo bastante imprevisivel. £ por incidir sobre 0 espaco tempo, tanto pela vertente das conseqiiéncias do rompi- ‘mento dessa articulagao significante quanto pela vertente dos dispositivos para acolher as chamadas situagoes de ur- géncia, que a questéo da urgéncia tem merecido destaque fos Foruns de discussio da rede pablica de satide” e na co- ‘munidade de analistas do Campo Freudiano. 4. Psicanalista membro da Escola Brasileira de Psicansli “Associag3o Mundial de Psicanalise (AMP); docente do Ins pea Psicanalitica do Rio de Janeiro (ICP-R)). 8) “Fungio e campo da fala e da linguagem”. In: Es- Jorge Zahar Ed, 1998, p. 242, $3. Em junho de 2004, no I Congresso Nacional dos CAPS realizado em Sho Paulo, a urgéncia fot foco de um debate intenso, Em dezembro de Hoje, no Rio de Janeiro, estamos envolvidos com a implantagao de projetos que pretendem transformar 0 ‘enquadre oferecido a0 acolhimento e tratamento da ur- géncia, Neste contexto, surgi a idéia de um evento e de uma publicago que promovessem um encontro da satide ‘mental com a psicandlise. Assim, em 20 de maio de 2005 realizamos 0 I Coloquio do Nuicleo de Pesquisa em Psicose ¢ Saiide Mental do Instituto de Clinica Psicanalitica do Rio de Janeiro (ICP-R)), no Instituto Philippe Pinel, sob o titu- lo Urgéncia sem Emergéncia?. A presente publicagio con- densa grande parte da viva discussio nele empreendida. ‘Além do Coléquio, apresentamos também contri- buigdes que remetem 0 leitor ao estatuto da questio da urgéncia no Campo Freudiano. Com esta publicagao pro- curamos verificar o estatuto atual da urgéncia em sua re- ago com os efeitos da contemporaneidade e, portanto, investigada como um dos sintomas a ela articulados, Embora consideremos de grande relevancia, nio pretendemos aprofundar questdes sobre politicas cas para as urgéncias psiquiatricas nem sobre a gesto dos dispositivos dos setores de emergéncia. Trata-se também de uma oportunidade de estabelecer um diflogo entre pr- ticas caladas em principios universais e a politica de tra- tamento orientada pela psicanilise, que visa o particular do sujeito. ‘Como manejar a urgéncia em articulagao a sua pré- pria temporalidade, ou seja, uma intervengao que nao pode ser adiada? Como, a partir das intervencdes do analista, produzir efeitos terapéuticos répidos? Questdes como essas € outras sio debatidas e desenvolvidas nos textos aqui publicados. indrio Anual dos CAPS da Secretaria Municipal de Satie neiro tomou como tema da crise a questio de trabalho, 1a este debate experiéncias e discusses sobré o mane- jo da urgéncia nos CAPS. A URGENCIA NA CIDADE ‘As urgéncias nao tém hora nem lugar pré-determi- nado para seu aparecimento. Podemos admitir que elas caracterizam um rol de manifestagdes do que nomeamos ‘como um dos indices do “real sem leis, que incide tanto sobre 0 sujeito quanto sobre o social. Muitas vezes, é preciso colocar a pergunta sobre de quem é a urgéncia. Do ponto de vista da saiide mental, ndo raro a urgéncia é de ordem piblica. Lidamos também ‘com o sofrimento sul ‘como resposta a um mundo transformado pela pela globalizacdo econémica’ Um conjunto de autores* chama atengéo para os efeitos ‘de mudanca no regime de crenga no Outro € modificagdes nas referéncias culturais que antes orientavam e situavam 6 sujeito em identificagdes sociais estaveis. Verificamos ainda que a nogo de urgéncia amplia-se ‘em certa sintonia com a extensao do conceito de trauma na contemporaneidade: tudo que ndo é programavel ou que escapa a uma programacio pretendida pela ciéncia pode ser rapidamente assimilado como trauma, apontan- do para uma época que recusa a contingéncia’ Quando abordamos a urgénci mudaneas no plano da ci idade contemporanea. Para tematiza- la, tais remanejamentos do Outro exigem do psicanalista uma torgio da nogao de sintoma, Como assinala Romildo do Rego Barros, a nocao da urgéncia, correlata & da com- ‘Opgie Lacaniana ~ Revista brasi- ‘34, Sdo Paulo: Edigoes Eslia, 2002. jurent, Guillermo Belaga, entre outros, tm abor~ mntos produzidos no Outro social. Ambos os volu- ‘generalizada I, Buenos Aires: Grama, 2004, p. 24. pulsio, impulso a agi, destaca 0 que podemos isolar como avertente de repetigio do sintoma, fora do sentido, ‘Supomos que a novidade apresentada e desenvolvida nesta publicagio reside no proprio estatuto atual da ur- géncia abordada sob o angulo da mudanca na experiéncia do tempo, na maneira de viver o passado, presente ¢ futu- ro, assim como na relagio do sujeito com 0 Outro, modifi- cages essas que tornam o lugar do sujeito no mundo mais instavel e precario. ‘A cidade, a polis, que se constituiu como lugar da so- ciabilidade piblica, da civilizagdo, abriga © seu avesso, a desregulagao, que se manifesta sob diversas modalidades.* HA um vasto leque de situagdes unificadas como urgen- cias, que se manifestam pela via do ato ou do afeto. Agita- es, irrupgio de atos de violencia que culminam em auto G/ou hetero-agressividade, alteragoes sibitas de humor que se expressam pela exaltacio ou estupor, atos derivados do consumo excessivo de drogas licitas ou ilicitas e crises de pinico sio algumas das manifestagies clinicas assimiladas como urgéncias. Desse conjunto de ‘mento comum é a irrupea0 do imprevisto, incontrolavel, fora dos recursos com os quais cada sujeito responde aos acontecimentos da vida. Estas manifestac6 tos desdobrados tanto na perspectiva do sujeito quanto do ponto de vista das conseqiiéncias da irrupgao macica destes fendmenos no campo social. A CLINICA COMO FIO CONDUTOR DA PRATICA INSTITUCIONAL ‘No campo da clinica, nossa época ¢ marcada por uma espécie de justaposigéo. Convivemos com a clinica psiqui- ftrica e seus remanejamentos produzidos pelas novas ge ragdes de neurolépticos; a grande difuséo do medicamento psicotrépico para além das categorias da psicose; a extensio dda prescrigio dos antidepressivos e a extensdo do uso dos ansioliticos, suscitando questdes quanto & medicalizacdo 8, BELAGA, loc. cit. As urgéncias no cam, ts ipo da satide i tratadas dentro do enquadre aeaeann pou Pa Predominantemente destinadas a setores especializa ‘ociados dos servicos terapéuticos. A especializa- 9. No Rio de Janeiro, ao dif chamac serio de tengo die nes Centro de Atencao Psicossocial (cars). aie ea re fo e fragmentagio das acdes instauram um paradoxo a0 separar as urgéncias subjetivas de outras, mas nem por isso recolhem sua especificidade. Soma-se 4 complexidade que envolve essa discussio o fato de muitas vezes trans- formar-se em urgéncia um contingente de atendimentos no absorvidos na rede basica de saiide. Nesse campo contemporaneo ¢ multifacetado da satide mental, os leitores encontrarao psicanalistas e psi- ‘quiatras situando na clinica o fio condutor a ser conside~ rado na abordagem da urgéncia. ‘A crise e a irrupgao do imprevisto organizam a pré- pria nocio de clinica, pois é exatamente no que rompe uma seqiiéncia que algo do singular tem a chance de se introduzir de forma mais marcante.® A clinica fundamen- talmente é um trabalho sobre o singular, convocando sua extragao, De certo modo, esse fio condutor converge para uma dimensio assinalada por J-A. Miller: o sujeito emerge quando se disjunta de uma classe.’* Quanto ao argumento de que na urgéncia no ha propriamente uma demanda, no marco da psicanilise de orientagéo lacaniana, quando falamos em urgéncia sub- jetiva, supomos de saida o sofrimento que se tornou in- suportavel para o sujeito, impossivel de ser colocado em palavras e imagens e isto, por si s6, como assinala Seldes, ¢ suficiente para tomarmos a urgéncia como demanda."* PSICANALISE E URGENCIA Hé uma rede de dispositivos especializados na rede piiblica para acolher as urgéncias. Ao mesmo tempo, a psi- canilise é cada vez mais convocada a intervir em situagdes petiva, um nuevo tiempo" i: BELAGA, 1 Buenos Aires: Grama, 2004, p. 40

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