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Introdução
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processos de mudança e o desafio dos gestores na administração pública
contemporânea.
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Burns e Stalker, por exemplo, publicaram já em 1962 o livro The Management of Innovation, no qual
diferenciaram organizações orgânicas e mecânicas, destacando que o ambiente externo acarreta
importantes mudanças no interior das organizações.
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quase sempre esquecida da mudança organizacional, que é o seu caráter não-
intencional. Neste caso, a mudança organizacional origina-se independente de um
processo racional de planejamento, sendo considerada como qualquer transformação
capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da organização. A mudança é
entendida como algo que ocorre a todo tempo numa organização, resultante do
aperfeiçoamento contínuo dos indivíduos envolvidos em seus processos de trabalho.
Portanto, na definição apresentada, as autoras compreendem a mudança organizacional
independente do grau de intencionalidade e de deliberação presentes em um processo de
mudança. Devido à importância da questão da intencionalidade nos processos de
mudança, retomaremos esta discussão posteriormente neste estudo.
A segunda característica importante da definição apresentada pelas autoras diz
respeito à transformação dos componentes organizacionais. Neste sentido, uma
mudança organizacional é o conjunto de alterações que afetam os processos de trabalho,
os indivíduos que compõe a organização, as estruturas organizacionais (dimensão
formal) e a cultura organizacional (dimensão informal).
A relevância e o impacto da mudança são também fatores importantes presentes
na definição das autoras. Mudanças organizacionais não são, necessariamente,
alterações positivas, mas sim alterações capazes de causar impacto nos resultados
organizacionais. Assim, alterações que afetam negativamente os resultados e as relações
entre os indivíduos no trabalho são também consideradas mudanças organizacionais,
assim como as alterações positivas. O que importa, no conceito de mudança, não é seu
aspecto valorativo, mas sim seu aspecto significativo: a influência das alterações sobre o
conjunto da organização e suas conseqüências.
A relação com o ambiente é a quarta característica presente na definição de Lima
e Bressan (2003). A mudança organizacional envolve alterações na dimensão interna da
organização (pessoas, trabalho, estrutura formal e informal) que se processam em
paralelo à dimensão externa (ambiente). O alinhamento entre componentes
organizacionais e o ambiente externo é um dos principais desencadeadores de mudanças
organizacionais. “Sustentabilidade organizacional” é o termo empregado pelas autoras
para capturar exatamente este sentido da mudança, de adaptação da organização ao seu
ambiente externo.
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As diferentes dimensões sobre a definição e os conceitos de mudança são
fundamentais para a compreensão do próprio processo de mudança organizacional. De
uma forma geral, os principais tipos de mudança podem ser classificados em duas
categorias. A primeira é a chamada “mudança transformacional” ou “institucional”, ou
ainda “macro-mudança” que envolve a ruptura de padrões estabelecidos, além de atingir
a organização como um todo e redireciona-la em função de grandes alterações em seu
ambiente. O segundo tipo de mudança denomina-se “mudança incremental” ou
“organizacional”, ou ainda “micro-mudança”. Neste caso, alteram-se apenas alguns
aspectos na organização, predominando pequenos ajustes de forma contínua, geralmente
voltados às questões de eficiência e de utilização dos recursos internos, em um ambiente
mais estável. O quadro 1 sintetiza as principais tipologias de mudança organizacional.
QUADRO 1
Tipologia de mudança organizacional
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chave para a organização. organizacionais.
Ajuste fino da orientação Ruptura com a orientação Greenwood,R. e Hinings, C.R.
organizacional existente. existente e transformação da “Undestanding radical organizational
change”. Academy of Management
organização. Review 21(4): 1022-1054, 1996.
2. Macro-estratégias de mudança
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Para uma análise sobre as idéias presentes nas reformas administrativas baseadas na “nova administração pública”,
ver Hood, C. (1991). “A Public Management for All Seasons?” Public Administration, 69 (1), pp. 3-19; Pollitt, C. e
Bouckaert, G. (2001). Public Management Reform: a comparative analysis. Oxford, Oxford University Press.
Abrucio, Fernando Luiz. “Os avanços e os dilemas do modelo pós-burocrático: a reforma da administração pública à
luz da experiência internacional recente”. In Pereira, Luiz Carlos Bresser e Spink, Peter (orgs.). Reforma do Estado e
Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 1998 (p. 173-199).
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organizações híbridas; (f) mudança de prioridades, deixando em segundo plano valores
como o universalismo e equidade, em direção à eficiência e individualismo.
Assim, observa-se nas últimas décadas uma onda global de reformas do Estado e
da administração pública pautada na estratégia de macro-mudança organizacional. No
Brasil, podemos destacar o projeto de reforma do Estado proposto pelo governo
Cardoso, como um exemplo deste tipo de estratégia de mudança.
Durante a reorganização ministerial, em janeiro de 1995 é criado o MARE –
Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – e entre suas atribuições são
incluídas a formulação de políticas para a reforma do Estado, desenvolvimento
institucional e capacitação do servidor, reforma administrativa, modernização da gestão
e promoção da qualidade no setor público 3. À frente do Ministério, Luiz Carlos Bresser
Pereira comanda a elaboração do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado
(Brasil, 1995), documento publicado em setembro do mesmo ano, no qual o governo
define as diretrizes da reforma. Neste documento, as reformas propostas são apoiadas
em um diagnóstico preciso de crise do Estado, resultado de três componentes: o
agravamento da crise fiscal, a crise da forma de intervenção estatal, e a crise do modelo
burocrático de administração (Brasil: 1995, 15).
3
Medida Provisória 813/95, de 1 de janeiro de 1995, posteriormente Medida Provisória n.º 1.651-43, de 5
de maio de 1998, artigo 14, item I.
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“(1) descentralização do ponto de vista político, transferindo recursos e atribuições
para os níveis políticos e regionais locais; (2) descentralização administrativa,
através de delegação de autoridade para os administradores públicos transformados
em gerentes crescentemente autônomos; (3) organizações com poucos níveis
hierárquicos ao invés de piramidal, (4) pressuposto da confiança limitada e não da
desconfiança total; (5) controle por resultados, a posteriori, ao invés do controle
rígido, passo a passo, dos processos administrativos; e (6) administração voltada
para o atendimento ao cidadão, ao invés de auto-referida”
Bresser Pereira (1996: 11-12).
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3. Micro-estratégias de mudança
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Vinculando-se aos objetivos de melhoria do desempenho e elevação da eficiência
organizacional, os processos de mudança seriam sempre altamente desejáveis. No
entanto, contrariando o pressuposto da eficiência como objetivo fundamental das
organizações e da mudança organizacional, um estudo importante desenvolvido por
Meyer e Zucker (1989), analisa organizações com baixo desempenho e que, apesar
disso, continuam a existir, seja no setor público, ou no setor privado. Segundo os
autores, a busca de maximização da eficiência não é geralmente alcançada e, por vezes,
sequer perseguida porque as organizações são avaliadas na medida em que promovem
benefícios para seus integrantes – e esses benefícios nem sempre coincidem com ações
que promovem o aumento da eficiência organizacional.
Esta observação é fundamental para o entendimento dos processos de mudança
organizacional. Os gestores precisam considerar, quando envolvidos em processos de
mudança, que muitos planos de mudança não buscam necessariamente melhorar o
desempenho organizacional. É preciso lembrar que a fonte da estrutura formal de uma
organização - portanto de suas técnicas, processos, estrutura de cargos, programas - é a
legitimidade, e não somente a eficiência:
5. Mecanismos de mudança
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atitudes incrustados em uma estrutura de outras crenças e aspirações, e que esta
estrutura de valores e intenções é modelada, interpretada e criada durante o curso da
mudança na organização”.
March e Olsen (1989, 65-66).
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envolvidos na mudança organizacional, e mesmo que as intenções adquiram novos
significados à medida que a mudança se processa, alguns objetivos são definidos como
metas a serem perseguidas. Conseqüências não intencionais são resultados que
divergem das metas inicialmente estabelecidas para a mudança. Em ambientes
complexos, esta relação de causa e efeito entre metas e resultados é freqüentemente
ambígua e muitas vezes podemos observar que muitas mudanças não buscam resolver
problemas, mas introduzir soluções prontas, potencializando a possibilidade de
resultados diferentes dos inicialmente antecipados.
Um segundo tipo de anomalia adaptativa são as transformações do próprio
processo de mudança durante a implementação. Em que medida podemos dizer que, de
fato, uma organização conseguiu atingir os objetivos de mudança? Quando a
implementação pode ser considerada efetiva?
Quando um governo (...) adota uma nova política (…) especificar o que a mudança
significa pode ser difícil, não por causa da ausência de informações, ou de uma
análise adequada, mas por causa das formas pelas quais a mudança se modifica
durante o próprio processo de mudança.
March e Olsen (1989, 62-63).
Considerações finais
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Para lidar com a complexidade das organizações públicas contemporâneas, são
necessárias não apenas mudanças nas organizações, mas também um novo tipo de
gestor público. Este novo gestor, capaz de conduzir mudanças com a complexidade que
este processo requer, deve buscar o desenvolvimento das quatro qualidades
mencionadas por Nogueira (2005, 232): perspectiva crítica construída por meio dos
saberes e conhecimentos; ética pública ancorada na democracia como valor
fundamental; capacidade de compreender as organizações e agir de modo cooperativo;
orientação para a ação integrada, ampliando os canais de comunicação e compartilhando
decisões.
Quaisquer que sejam as estratégias de transformação organizacional adotadas
por um gestor, a complexidade da mudança sempre se apresentará como elemento
desafiador. Quanto mais o gestor se aproximar das características citadas acima, e
quanto maior a clareza e consciência sobre as dificuldades do processo de mudança,
maiores as chances de sucesso.
Referências Bibliográficas
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