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J Endrew. VIII CIH.

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HISTORIOGRAFIA E PÓS-MODERNISMO: DIÁLOGOS


POSSÍVEIS
Doi: 10.4025/8cih.pphuem.3798

John Endrew, UEPG

Resumo

A produção do conhecimento histórico tem sido repensada por


diversos autores desde seu estabelecimento como ciência no século XIX. A
historiografia como uma das etapas deste processo, despertou o interesse de
muitos pesquisadores na segunda metade do século XX, sendo objeto de
pesquisa das mais diversas áreas das Humanidades. Os problemas oriundos
da linguagem apontados por Ludwig Wittgenstein no começo do século
passado, ganharam impulso com o Giro Linguístico e os estudos afluentes
deste, podendo observar-se a partir da década de 1970, uma vasta produção
acadêmica disposta a pensar a filosofia da linguagem, o discurso literário e
o discurso historiográfico. As discussões da contemporaneidade que
Palavras Chave:
permeiam a Teoria e a Filosofia da História e a produção do conhecimento
historiografia; história da
histórico, de maneira geral, manifestadas por muitos autores pelo interesse
historiografia; pós-
com relação a narrativa histórica, encontram-se dentro desta perspectiva.
modernismo; narrativa.
Somado a isso, presencia-se a emergência de uma nova e difusa corrente de
pensamento, o pós-modernismo, como uma resposta ao modelo de
pensamento Iluminista e às categorias da racionalidade e do progresso.
Ainda que um movimento díspar, os autores pós-modernos compartilham
das preocupações em repensar o papel da linguagem no texto, assim como
o do próprio conhecimento científico estabelecido. Nesse sentido, as atuais
discussões a respeito da narrativa encontram-se num cenário prolífero e
privilegiado, sob os olhos da História, da Literatura e da Filosofia. Através
de uma análise bibliográfica, o presente estudo objetiva investigar as
possíveis relações entre os estudos da historiografia e o pós-modernismo
nesse contexto.
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século XX.
Introdução
Peter Burke também nos ajuda a
Em 1979 Lawrence Stone pensar questões como a narrativa e o
chamou a atenção de vários pesquisadores acontecimento, em capítulo dedicado ao
do campo historiográfico, ao publicar um assunto no livro, A escrita da história (1992).
texto no qual transcorria a respeito de um O autor destaca que mesmo a história
“ressurgimento da narrativa”1. O modelo estrutural predominante durante o século
narrativista de se fazer história, o qual XX, não pode ser concebida como isenta
muitos defendiam ser uma característica de uma narrativa, visto que a narrativa é
do Historicismo que havia sido deixada responsável pela coerência e significação
para trás pelos Annales, retorna sob os do texto histórico. Ele confronta também
holofotes do debate histórico, a narrativa tradicional com a moderna,
principalmente no campo da teoria e da com o intuito de indicar alguns problemas
filosofia da História. na escrita da história e sugerir soluções,
A ideia de Stone sobre um como é o caso da crescente tomada de
retorno da narrativa na produção do consciência dos historiadores sobre a
conhecimento histórico, ainda que particularidade que representa seu
colocada pelo autor como um trabalho e a necessidade destes em tornar
“mapeamento das tendências na pesquisa claro ao leitor que sua obra é apenas um
histórica e não como um juízo de valor”, dos inúmeros pontos de vista que
levou muitos autores a pronunciarem-se, determinado evento histórico pode ter,
manifestando duplamente suas sem perder a homogeneidade de sua
percepções do processo por qual passava narrativa. Burke salienta a importância de
a História e suas próprias noções do que é se pensar um novo modelo narrativo que
a narrativa. Eric Hobsbawm, em ensaio congregue as preocupações dos analíticos
resposta publicado em seu livro, Sobre e dos narrativistas e aponta a
história (1997), levanta algumas hipóteses micronarrativa e a narrativa de frente para
que possam explicar essa moda histórica, trás, assim como algumas contribuições
como por exemplo, a ascensão da história oferecidas pela história da ficção
social e a notável expansão do campo (principalmente o cinema), como
histórico, que consequentemente respostas a estas novas demandas.
implicaram novas dificuldades ao Este modelo de história
historiador e a produção de uma síntese estrutural do qual nos fala Burke,
histórica, e o próprio êxito que estes amplamente difundido pelos Annales e
historiadores narrativistas tiveram no com forte influência também das Ciências
período pós-guerra. Ainda que, em maior Sociais (seja o estruturalismo que nasce
ou menor caso, Hobsbawm busque com os estudos linguísticos de Saussure ou
dialogar com seu antigo companheiro de o do próprio Lévi-Strauss), passa a ter
revista, ele salienta a dificuldade em modelos de análise concorrentes,
determinar uma volta da narrativa como principalmente a partir da década de 1960,
colocada por Stone, uma vez que não há como é o caso dos estudos de Derrida e
evidências de que a maioria dos Foucault, posteriormente classificados
historiadores tenha aberto mão do esforço como pós-estruturalistas, ainda que
em explicar o passado e que as atuais Foucault negue todos os “pós” designados
tendências historiográficas não são a sua pessoa. Em torno do mesmo período
suficientes para caracterizar uma rejeição a se dá a emergência das discussões acerca
historiografia da primeira metade do da Virada Linguística, principalmente nos

1STONE, Lawrence. O ressurgimento da


narrativa: reflexões sobre uma nova velha história.
Revista de História, v. 2, n. 3, p. 13-37, 1991.

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Estados Unidos e na França, que já e pós-modernismo.


apontava grande potencial no início do
Pós-modernidade podemos
século com a filosofia de Ludwig
traduzir como o atual estágio em que se
Wittgenstein e passa a ter mais estudiosos
encontra a sociedade, assim estamos nos
dedicados ao tema a partir da década de
referindo a um conjunto de
1970. Observa-se então, ainda que a
transformações, do campo do trabalho ao
interdisciplinaridade já tivesse sido
cultural, do pensar ao agir social. David
apontada como um passo essencial pelos
Harvey e Zygmunt Bauman são exemplos
Annales, uma confluência dos variados
de pesquisadores que se debruçaram sobre
campos das Humanidades em se
o tema e pensaram as transformações do
ocuparem dos estudos da linguagem. A
século XX através das variadas faces dessa
narrativa passa a ser objeto de análise
sociedade: a transformação de indivíduos
tanto da história, como da filosofia e da
produtores em consumidores (BAUMAN,
teoria literária. 2000, p.98), dos costumes e das práticas
Torna-se mais difícil públicas e privadas, as mudanças nas
averiguarmos qual papel o pós- categorias de tempo e espaço, nas relações
modernismo assume neste debate. interpessoais e as transições dentro do
Primeiro porque o pós-modernismo não é próprio desenvolvimento do sistema
um movimento, nem uma escola ou capitalista. Outros autores também irão
tradição de pensamento que possui pensar o período, na busca de averiguar a
fronteiras bem definidas. Em seguida, existência ou não de uma pós-
existe uma vasta e dicotômica produção modernidade, apontando para o perigo da
intelectual sobre o assunto, desde autores “autorreferenciação” e em alguns casos
que o elegem como o novo paradigma das apresentando novas maneiras de enxergar
Humanidades a outros que alegam sua e conceitualizar esse fenômeno3. Vale
ilegitimidade e inexistência.2 E por fim, ressaltar que nem todos os autores que
dentre os autores que discorrem sobre o estudam a pós-modernidade se
tema, temos alguns que apontam identificam como pós-modernos4.
Nietzsche como o propulsor deste Por outro lado, ao falar sobre
paradigma e outros que direcionam seu pós-modernismo, denominamos uma
olhar para segunda metade do século XX. corrente de pensamento, heterogênea, que
expõe-se aos poucos durante grande parte
O que é pós-modernismo?
do século XX e início do XXI e se faz
Diante de um movimento tão presente dentro dos debates
plural, traçarei um breve panorama do que epistemológicos que a História se insere
se entende por pós-modernismo ou pelo ainda nos dias de hoje. Muito embora seja
adjetivo pós-moderno no presente estudo. praticamente impossível traçar um perfil
Nesse sentido, julgo válido começarmos uno do paradigma pós-moderno, visto a
por uma distinção entre pós-modernidade pluralidade de ideias que ele representa e
até mesmo o caráter pejorativo que o

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia.


2 Isto fica claro no debate entre autores como
Entrevista com Zigmunt Bauman. Tempo soc.,
Ankersmit e Zagorin. Ver: ZAGORIN, Perez.
São Paulo, v. 16, n. 1, p. 301-325, June 2004.
Historiografia e pós-modernismo:
Available from:
reconsiderações. Topoi (Rio de Janeiro), v. 2, n.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
2, p. 137-152, 2001.
ext&pid=S0103-
3 Fredric Jameson em seu livro, Pós-modernismo: a 20702004000100015&lng=en&nrm=iso>. Access
lógica cultural do capitalismo tardio (1996). on 09 Aug. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-
4Em entrevista a Maria Lúcia Garcia Pallares- 20702004000100015.
Burke, Bauman afirma ser um sociólogo da pós-
modernidade e não um pós-modernista.

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termo ganhou (alguns autores Por fim, destaco a tendência em


simpatizantes das ideias pós-modernas, produzir um conhecimento mais
acabam por evitar o termo que dentro da específico, dito por alguns, fragmentado.
academia tornou-se comumente sinônimo Principalmente dentro da pesquisa
de irresponsabilidade intelectual e extremo histórica, podemos observar esse
relativismo), podemos apontar algumas movimento através do surgimento da
características que são marcantes na Micro-História5. Divergindo da tradição
maioria das vezes que esse pensamento se histórica que defendia a realização de uma
manifesta. história universal, a Micro-História tem
com centro de sua análise eventos de
O pensamento pós-moderno
recorte temporal mais específico e, em
comumente evidencia a crise das
alguns casos, foca-se em indivíduos
metanarrativas da qual fala Lyotard em seu
particulares. Algumas críticas destinadas a
livro, A Condição Pós-Moderna (1979). As
Micro-História alegam que o abandono de
metanarrativas são os discursos filosóficos
uma história universal abala o próprio
que floresceram na modernidade,
significado de se realizar uma pesquisa
portadores de um telos (muito presente nas
histórica. Embora este seja um
filosofias da História de Hegel e Marx, por
interessante debate dentro do campo
exemplo) e que estabeleciam um projeto
histórico, deixo-o para outros visto que
para a modernidade. Estes projetos
podem ser observados, por exemplo, no este não é o foco do trabalho que segue.
movimento histórico dialético do
Diálogos entre a história e a
pensamento de Marx que culminaria em
uma sociedade comunista ou na busca literatura
pelo esclarecimento de Kant e o ideal
Feitas estas breves distinções,
iluminista da razão.
encontramo-nos melhor situados entre
Trata também com frequência da alguns conceitos que permeiam esta
crise da ideia de progresso e de identidade. discussão e podemos dar mais atenção a
Estas crises estariam diretamente ligadas narrativa histórica. Hayden White, uma
ao ceticismo com relação aos metarrelatos das principais figuras para pensar este
e a ascensão que os jogos de linguagem e debate, é autor de uma obra complexa e de
a relativização da verdade passam a declarações, muitas vezes, controversas6,
assumir principalmente a partir das as quais devem ser analisadas com cautela
décadas de 1960/70. Com o aumento da evitando posições muito relativistas ou
produção de uma “história vista de baixo”, deterministas, todavia, nos cabe fazer jus
ou antes, marginalizados, objetos novos às suas contribuições para os atuais
passam a chamar a atenção dos estudos epistemológicos da História.
pesquisadores, além do próprio
Durante a década de 1970, White
deslocamento (ainda que lento) do
publicou dois livros que desestabilizaram
pensamento Ocidental como eixo
e por outro lado, fomentaram diversas
dominante e hegemônico. Nesse processo
reflexões dentro dos estudos
novos campos passam a ser explorados
historiográficos. São estes,
pela historiografia, assim como há um
respectivamente: Meta-história: a imaginação
ganho de visibilidade e representatividade
histórica do século XIX (1973) e Trópicos do
por indivíduos e grupos sociais outrora
discurso: ensaios sobre a crítica da cultura (1978).
opacos.
Ambos, com destaque para Meta-história,

5Associada
cederam posteriormente em alguns casos. Ver
com frequência a figura de Ginzburg e
entrevista de Ankersmit integrante do livro
seu clássico, O queijo e os vermes (1976).
publicado pela Eduel, A escrita da história: a
6 Ambos já reconheceram que podem ter natureza da representação histórica (2012).
relativizado demasiadamente em alguns escritos e

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foram objeto de debate e reflexão por próprias escolhas deste historiador na


muitos historiadores. construção discursiva de seu texto
Através da publicação destes tornam-se objetos de análise. Assim como
livros, White embasou discussões que o historiador seleciona e recorta durante o
preocuparam-se com o papel processo de pesquisa, ao transpor esta
desempenhado pela escrita na produção pesquisa em conhecimento histórico, em
texto, as suas escolhas para organização e
do conhecimento histórico. Uma de suas
principais contribuições e reflexões foi a significação do discurso estarão presentes
seguinte, pode o texto histórico ser novamente. A forma e o conteúdo não
considerado um artefato literário? podem mais ser dissociados sem o risco da
Reflexão não inédita para a História, mas perda de sentido.
que foi fortemente difundida e explorada, Ainda sobre a relação entre
gerando novos questionamentos: o conteúdo e forma, cito White (1991, p. 3):
conhecimento histórico da conta de
apreender a realidade, segundo o que Hoje é possível reconhecer que no
ocorreu de fato? Quais contribuições a discurso realista, tanto quanto no
discurso imaginário, a linguagem é
moderna teoria literária pode dar a teoria ao mesmo tempo forma e
da História? conteúdo, e que esse conteúdo
As ideias de White somadas ao lingüístico tem de ser computado
impulso que a Virada Linguística entre os outros tipos de conteúdos
significou, trouxeram para o centro da (factual, conceitual e genérico) que
formam o conteúdo geral do
discussão teórica a relação entre forma e
discurso como um todo. Esse
conteúdo do texto histórico, deixada há reconhecimento libera a crítica
algum tempo de lado e tida como pouco historiográfica da fidelidade a um
relevante para alguns. A História científica literalismo impossível e permite ao
do século XIX, dita de outra forma pelos analista do discurso histórico
Annales como “cientificamente perceber em que medida esse
conduzida”, nas últimas décadas do século discurso constrói seu assunto no
passado reside sobre bases muito menos próprio processo de falar sobre ele.
sólidas, e está a todo o momento sendo A noção do conteúdo da forma
colocada em xeque com sua capacidade de lingüística esbate a distinção entre
produzir um conhecimento objetivo discursos literais e figurativos e
autoriza a busca e a análise da
questionada.
função dos elementos figurativos na
Os estudos linguísticos e prosa historiográfica tanto quanto
narrativistas que florescem, tem por na prosa ficcional.
característica uma nova concepção da Ao mencionar a distinção entre
relação entre o passado, a realidade e a discursos literais e figurativos, White toca
escrita da História, a historiografia. Não se em mais uma questão que é cara aos atuais
olha mais através do texto, buscando
estudos sobre a narrativa. Até onde vai a
encontrar um passado que esteja para além barreira que separa história e literatura?
dele. Olhar para o texto é estar olhando Como distinguimos uma de outra?
diretamente para esse passado que se
busca compreender. Isto torna-se evidente Com uma crescente produção
na história da própria historiografia, ou intelectual que pretende relativizar as
seja, na produção histórica que se ocupa pretensões a um conhecimento histórico
em investigar o conhecimento histórico já objetivo e a própria inteligibilidade do real,
produzido. Quando um historiador analisa somado ao esmorecimento do caráter
a obra de outro que o antecede, ele não científico das Humanidades como a única
está apenas em busca de dados e vestígios maneira legítima de se produzir
passados relatados por este último, mas as conhecimento verificável, observa-se a

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tentativa de alguns autores em atenuar a cópia do que foi o passado. Recorrendo a


barreira entre história e literatura historiadora Natalie Davies (1989), a
(realidade x ficção) e tornar mais clara a autora busca apresentar uma noção de
relação entre ambas. ficção fugindo das conceituações
De acordo com o teórico genéricas, percebendo a ficção como algo
literário Terry Eagleton (1994), citado por que é construído a partir de traços já
existentes, estabelecendo assim uma
Vieira (2009, p. 18), a literatura não é
definida pelo aspecto ficcional que seu relação muito próxima ao trabalho do
conteúdo traz e sim pela ausência de historiador. Pesavento utiliza de autores
objetivos científicos na produção da obra. gregos a contemporâneos para pensar os
O autor também salienta que a recepção limites da ficção, além de valer-se do
da obra pode ser de suma importância historiador brasileiro Capistrano de Abreu
para determinar esta como literatura ou e do grande romancista José de Alencar,
texto pragmático, podendo ser para demonstrar “como textos históricos
compreendida de outra forma com o comportam recursos ficcionais e textos
passar do tempo. Quando passamos a literários cercam-se de estratégias
considerar o contexto de produção e documentais de veracidade”
principalmente, o de recepção da obra nos (PESAVENTO, 2000, p. 56). Como bem
é aberta mais uma porta através da colocado pela autora, a História se vista
historicização desse texto. Deparamos- como ficção, deve ser concebida como
uma ficção controlada.
nos com as nuances e com as diversas
interpretações que esse possa vir a ter, Outra maneira de analisar a
tornando-se impossível qualificá-lo de relação entre a narrativa e a ficção não
uma única maneira durante toda sua menos importante, está presente no ensaio
trajetória de existência. de François Hartog, que se ocupa em fazer
Vieira também apresenta seus um paralelo entre os estudos de Hayden
próprios argumentos de diferenciação White e Carlo Ginzburg, passando
também por Paul Ricoeur, mas ancorado
entre história e literatura:
principalmente na Poética e na Retórica de
[...] a diferença entre história e Aristóteles. O autor tenta demonstrar que
literatura não está no caráter “mais White pode ter executado uma
real” da primeira, mas, sobretudo, simplificação conceitual, englobando a
em três pontos-chave que poética como parte da retórica, fugindo do
condicionam a produção do que falava o filósofo grego, para o qual a
discurso histórico: o uso obrigatório retórica tinha ligação direta com a “prova”
de vestígios do passado (fontes e não com a poética.
escritas, arqueológicas, orais); as
regras disciplinares e institucionais
(que engendram a legitimidade do
Considerações Finais
discurso); e as maneiras pelas quais
é construído o discurso histórico: a Muitos autores têm estudado a
elaboração do argumento, as notas narrativa, a relação entre a realidade e a
de referência e a manipulação das ficção no texto e de maneira geral, os
fontes com vistas à apresentação de possíveis rumos que a História pode
um trabalho coerente, que forneça tomar. Seleciono algumas reflexões que,
às suas conclusões a chancela do de modo algum possuem a pretensão de
real (VIEIRA, 2009, p. 30). indicar um norte para a pesquisa histórica,
Sandra Pesavento por sua vez, ao mas elucidam alguns questionamentos e
falar sobre as “fronteiras da ficção” podem vir a servir como base para novas
(2000), argumenta que o fato da história reflexões.
ser uma narrativa verdadeira não significa O teórico da História Jörn Rüsen
consequentemente que ela deva ser uma é um dos principais exemplos da

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atualidade que tem dedicado esforços no livro, A Arqueologia do saber (1969), ajudam
sentido de pensar uma teoria da História a pensar a história da historiografia. Nesta
“conciliadora”. Ele deixa clara sua posição obra em específico, o filósofo francês
em defesa de uma História científica e propõe um método de análise que
defende a existência de uma razão investigue nas Ciências Humanas o
histórica que não deve ser negligenciada7. estabelecimento de um modelo dominante
Por outro lado, posta-se de maneira crítica de conhecimento através do tempo. O
diante do pós-modernismo e alega ser grande insight de Foucault é voltar-se não
crucial que as atuais teoria e filosofia da para o problema quase insolúvel entre
História deem atenção às reivindicações veracidade ou falsidade do discurso, mas
desse pensamento, reconhecendo as suas sim para os meios e condições que
críticas como um maneira de aperfeiçoar a permitiram o estabelecimento deste
ciência histórica. Como Diogo Roiz modelo dominante de conhecimento e
salienta ao analisar seu livro, Razão histórica para as análises internas e externas do
(1983), o autor tenta dar algumas respostas discurso, não necessariamente linguísticas.
e solucionar alguns problemas referentes à
teoria da História, apresentando a História Referências
como um tipo específico de ciência e a
teoria como uma categoria indissociável ANKERSMIT, Franklin Rudolf; MENEZES,
Jonathan. A escrita da história: a natureza da
da prática de produção do conhecimento representação histórica. Eduel, 2012.
histórico. Rüsen mostra-se como uma boa
saída ao diálogo entre surdos travado por ANKERSMIT, Frank R. Historiografia e pós-
modernismo. Topoi (Rio de Janeiro), v. 2, n. 2, p.
alguns e ao encastelamento que propõe 113-136, 2001.
outros autores mais ortodoxos.
BARROS, José D.’Assunção. A historiografia
Frank Ankersmit (2001, p. 131), pós-moderna. Ler História, n. 61, p. 147-167,
simpatizante de muitos postulados de 2011.
Hayden White e menos sensibilizado pela BAUMAN, Zygmunt; Modernidade Líquida.
corda bamba em que a História-ciência se Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge
encontra, aponta para outro vértice. Zahar, 2001.
Diante da vasta produção historiográfica BURKE, Peter. A história dos acontecimentos e o
dos últimos anos e do incontável número renascimento da narrativa. In: BURKE, Peter. A
de historiadores, faríamos melhor se escrita da história. Unesp, 1992. p. 327-348.
olhássemos com mais atenção para essa GARCHET, Helena Maria Bomeny. Teoria
produção, ao invés de nos ocuparmos em literária e escrita da história de Hayden White.
produzir mais. Ankersmit desloca sua Revista Estudos Históricos, v. 7, n. 13, p. 21-48,
1991.
atenção para o fator hermenêutico
presente na História (principalmente HARTOG, François. Aristóteles e a história, mais
uma vez. História da Historiografia, n. 13, p. 14-
filosofia da História) e sugere que frente
23, 2013.
aos relativos pontos de vista que surgiram
nos últimos anos, foquemo-nos em refletir HOBSBAWM, Eric. A volta da narrativa. E.
HOBSBAWM, Sobre história. São Paulo, Cia.
melhor sobre as distintas interpretações das Letras, p. 201-206, 1998.
existentes sobre o passado, antes de
produzirmos novas interpretações. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-
moderna. J. Olympio, 1998.
Ainda que não contribua PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da
diretamente a narrativa, os estudos ficção: diálogos da história com a literatura.
genealógicos de Michel Foucault já na Revista de História das Ideias, v. 21, p. 33-57,
década de 1960, principalmente em seu 2000.

intransparência”. Revista História, questões e


7RÜSEN, Jörn. Conscientização histórica frente à
debates, p. 20-21, 1989.
pós-modernidade: a história na era da “nova

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ROIZ, Diogo da Silva. A 'crise de paradigmas' nas STONE, Lawrence. O ressurgimento da


Ciências Sociais, uma questão relativa à teoria da narrativa: reflexões sobre uma nova velha história.
história? Topoi (Rio de Janeiro), v. 7, n. 12, p. Revista de História, v. 2, n. 3, p. 13-37, 1991.
261-266, 2006.
VIEIRA, Fernando Gil Portela. A ficção como
RÜSEN, Jörn. Conscientização histórica frente à limite: reflexões sobre o diálogo entre história e
pós-modernidade: a história na era da “nova literatura. Fronteiras: Revista Catarinense de
intransparência”. Revista História, questões e História, Florianópolis, n. 17, p. 13-31, 2009.
debates, p. 20-21, 1989.

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