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Universidade Federal do Rio Grande - FURG

17ª Mostra da Produção Universitária - MPU


Rio Grande/RS, Brasil, 01 a 03 de outubro de 2018
ISSN: 2317-4420

“COMO SE NADA FOSSE”, O CAVALO: ANIMOT E ÉTICA NO CONTO “O


SANGUE NO CAVALO”, DE ONDJAKI

FERREIRA, Guilherme Marques.

FORNOS, José Luís Giovanoni.

guilhermemarquesmf@gmail.com
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Palavras-chave: Ondjaki; Jacques Derrida; animalidade; ética; animot

1 INTRODUÇÃO
Em 1997, Jacques Derrida proferia uma aula no colóquio de Cerisy, na
França. Em torno do que poderíamos chamar, com reservas, de uma questão
do “animal”, Derrida remonta à discussão teológico-filosófica acerca da
animalidade, havida, entre outros, por Descartes, Heidegger e Lacan. Afinal,
questiona-se o filósofo argelino: pode algo como o animal ter um ponto de vista
sobre mim, humano? Pode ele responder, tendo assim a palavra e
convertendo-se em animot (neologismo criado por Derrida, fazendo uso do
francês mot para significar “palavra”, isto é, “animal” + “palavra”)? Seria ele, o
animal, em sua singularidade, “o outro absoluto” (DERRIDA, 2011, p. 28)?
Tais possibilidades, levantadas acima, nos parece serem relançadas
pela escrita contística de Ondjaki, em especial por “Sangue no cavalo”,
publicado em E se amanhã o medo (2010). A narrativa em questão dá conta de
uma pessoa baleada, à beira da morte, e seu cavalo, cavalgando à noite. O
narrador cai da sela e seu cavalo “humano, amigo, terno, tímido, caloroso,
despido, desimpedido” (ONDJAKI, 2010, p. 68) acaba por pisoteá-lo, matando-
o. Enfim o narrador compreende que o cavalo não era sua propriedade, mas
um ser independente, e aquele animal galopante encontrava assim a liberdade.
Dessa forma, nosso trabalho consistirá em analisar brevemente este
conto à luz da contribuição teórico-filosófica de Derrida sobre o animal e o
animot, interrogando se este poderia ser um exemplo literário do animot e de
uma ética da animalidade fundada no encontro com o outro absoluto, com a
alteridade.

2 METODOLOGIA
A metodologia consiste na revisão bibliográfica de um corte da obra
derridiana, no tocante à animalidade, em especial O animal que logo sou, e na
leitura desconstrucionista do conto “O sangue no cavalo”, de Ondjaki.
Universidade Federal do Rio Grande - FURG
17ª Mostra da Produção Universitária - MPU
Rio Grande/RS, Brasil, 01 a 03 de outubro de 2018
ISSN: 2317-4420

3 RESULTADOS e DISCUSSÃO
Em um primeiro momento, tendo em vista que a análise deste conto
integrará futura dissertação, podemos realizar apenas alguns apontamentos
parciais. A partir de O animal que logo sou, o pensamento derridiano sofre uma
guinada em direção ao animal e à animalidade (não por acaso, o título de seu
último seminário remeteria justamente à contraposição entre o soberano e a
besta). Sua reflexão ética, que desde pelo menos “Violência e metafísica”
(DERRIDA, 2014) possuía, talvez em razão de seu fundo levinasiano, uma
maior preocupação com o humano, passa a incluir decididamente, a partir do
colóquio de Cerisy de 1997, o animal. A ética do “último Derrida” (sem
pretendermos aqui realizar qualquer corte epistemológico) é, portanto, uma
ética da animalidade.
Na tradição judaico-cristã-islâmica, a partir de onde fala Derrida, em
princípio os homens seriam “esses viventes que se deram a palavra para falar
de uma só vez do animal e para designar nele o único que teria ficado sem
resposta, sem palavra para responder” (DERRIDA, 2011, p. 62). Fundou-se
com isso um limite único e intransponível no qual, de um lado, estariam o
humano, e de outro, todos os animais, genéricos e indiscerníveis entre si.
“Todo o reino animal”, portanto, diz o filósofo, “com exceção do homem”
(DERRIDA, 2011, p. 76). Nessa concepção, não seria reconhecida qualquer
singularidade a um animal, ainda que individualmente considerado. Um gato,
por exemplo, seria substituível por qualquer outro, sem prejuízo.
A ética da animalidade derridiana, do animot, de um animal que pode
efetivamente responder, consistiria justamente no reconhecimento do
quimérico ecce animot, isto é, de “uma irredutível multiplicidade vivente de
mortais” (DERRIDA, 2011, p. 77). Longe de homogeneizar todos os viventes
sob uma única e total categoria, tratar-se-ia, ao contrário, de multiplicar as
fronteiras heterogêneas entre os humanos e os não-humanos. Seria o caso,
quanto a estes últimos, “de aceder a um pensamento, mesmo que seja
quimérico ou fabuloso, que pense de outra maneira a ausência do nome ou da
palavra, e de outra maneira que uma privação” (DERRIDA, 2011, p. 89),
privação esta que uma certa e majoritária tradição filosófica, mesmo antes de
Descartes, impõe ao animal, ao retirar-lhe o direito à palavra e à resposta.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No violento (re)encontro com “seu” cavalo, no conto analisado, o homem
participa desta ética da animalidade exatamente no momento em que é
pisoteado por aquele animal e reconhece neste uma absoluta singularidade,
um ser, ou melhor, um vivente absolutamente outro sobre o qual não possuía
ele, humano, qualquer direito de propriedade (direito que funda, nos lembra
Derrida, toda a dominação do humano em relação ao não-humano). No
momento de sua morte, diz o personagem, “quis compreender que o cavalo
não era meu, que eu nunca fora seu ascendente” (ONDJAKI, 2010, p. 68).
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5 REFERÊNCIAS

DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou: (a seguir). 2. ed. São Paulo:
Editora Unesp, 2011.
______. Violência e metafísica: ensaio sobre o pensamento de Emmanuel
Lévinas. In: ______. A escritura e a diferença. 4. ed. São Paulo: Perspectiva,
2014. p. 111-223.
ONDJAKI. E se amanhã o medo. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010.

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