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Sobre o autor
TP PT GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1999.
GOFFMAN, E. Os momentos e seus homens. Lisboa: Relógio d’Água, 1999.
GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1999.
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Conceitos
“... Os gregos criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os
quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o
status moral de quem os apresentava ... mais tarde, na Era Cristã dois níveis de
metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais
corporais da graça divina ... o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa,
referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente
usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais
aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal” (p.11).
2. Estigma
“... Enquanto um estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele
tem um atributo que o torna diferente dos outros que se encontram numa categoria
em que pudesse ser incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável ...
Assim, deixamos de considerá-lo uma criatura comum e total, reduzindo-a a uma
pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma ... e constitui uma
discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real”
(p.12).
3. Tipos de Estigma
4. Identidade Social
pessoa pobre seja pouco inteligente por não ter acesso à informação; que um
homossexual seja promíscuo; que uma pessoa deficiente seja improdutiva. A
identidade social real denota o que o indivíduo realmente é, o que pode ou não
corresponder às nossas expectativas.
6. O Igual e o “Informado”
O grupo dos iguais é formado por pessoas que compartilham um estigma particular
“... algumas delas podem instruí-lo [o estigmatizado] quanto aos artifícios da relação
e fornecer-lhe um círculo de lamentação no qual ele possa refugiar-se em busca de
apoio moral e do conforto de sentir-se em sua casa, seu ambiente, ser aceito como
uma criatura que realmente é igual a qualquer outra normal” (p.29).
“Os “informados” são os homens marginais diante dos quais o indivíduo que tem
um defeito não precisa se envergonhar nem se auto controlar, porque sabe que
será considerado como uma pessoa normal” (p.37). “Um tipo de pessoa “informada”
é aquela cuja informação vem do seu trabalho ...” (p.39) como, por exemplo, os
professores e os médicos. “Um segundo tipo de pessoa “informada” é o indivíduo
que se relaciona com um indivíduo estigmatizado através da estrutura social ...”
(p.39) como é o caso dos amigos “normais” e familiares que convivem e fazem
parte do mesmo círculo social do estigmatizado.
7. Carreira Moral
Tanto as pessoas que possuem um estigma congênito como aquelas que adquirem-
no após ter organizado a vida como pessoas “normais”, aprendem de maneira
semelhante quem são e como devem se comportar diante das exigências da
sociedade. As primeiras, desde cedo têm que aprender e incorporar os padrões
determinados pelo grupo social frente aos quais não se enquadram. As segundas
passam pelo mesmo processo em uma fase mais tardia, tendo que reorganizar
seus hábitos e atitudes para se adequar aos padrões que até então lhes eram
comuns. Este processo também ocorre de maneira similar quando a socialização é
realizada numa comunidade diferente ou fora das fronteiras geográficas da
sociedade “normal”, tendo os indivíduos que “... aprender uma segunda maneira de
ser, ou melhor, aquela que as pessoas à sua volta consideram real e válida” (p.45).
8. Desacreditado e o Desacreditável
9. Informação Social
10. Visibilidade
12. Biografia
“... Entende-se que tudo o que alguém fez e pode, realmente, fazer, é passível de
ser incluído em sua biografia ... por mais patife que seja um homem, por mais falsa
clandestina ou desarticulada que seja sua existência ... os verdadeiros fatos de sua
atividade não podem se contraditórios ou desarticulados” (p. 73).
13. Encobrimento
“... uma das estratégias é esconder ou eliminar signos que se tornaram símbolos de
estigma. A mudança de nome é um exemplo conhecido ...” (p.103) “... O
ocultamento de símbolos de estigma algumas vezes ocorre ao mesmo tempo que
um processo relacionado, o uso de desidentificadores ...” (p.104) “... Uma outra
estratégia de encobrimento é apresentar os signos de seu estigma como signos de
um outro atributo que seja um estigma menos significativo ... Uma estratégia
amplamente empregada pelo sujeito desacreditável é manusear os riscos, dividindo
o mundo em um grande grupo ao qual ele não diz nada e um pequeno grupo ao
qual ele diz tudo e sobre o qual, então, ele se apoia” (p.106). “... Ele pode,
voluntariamente revelar-se, transformando a situação de uma pessoa
desacreditável na de uma pessoa desacreditada” (p.111).
15. Acobertamento
16. Identidade do Eu
“... As identidades social e pessoal são parte, antes de mais nada, dos interesses e
definições de outras pessoas em relação ao indivíduo cuja identidade está em
questão ... por outro lado, a identidade do eu é, sobretudo, uma questão subjetiva e
reflexiva que deve necessariamente ser experimentada pelo indivíduo cuja
identidade está em jogo” (p.116).
17. Ambivalência
“... Quer mantenha uma aliança íntima com seus iguais ou não, o indivíduo
estigmatizado pode mostrar uma ambivalência de identidade quando vê de perto
que eles comportam-se de modo estereotipado, exibindo de maneira extravagante
ou desprezível os atributos negativos que lhes são imputados. Essa visão pode
afastá-lo, já que, apesar de tudo, ele apoia as normas da sociedade mais ampla,
mas a sua identificação social e psicológica com esses transgressores o mantém
unido ao que repele, transformando a repulsa em vergonha e, posteriormente,
convertendo a própria vergonha em algo de que se sente envergonhado. Em
resumo, ele não pode nem aceitar o seu grupo nem abandoná-lo” (p.118).
“ ... o que o indivíduo é ou poderia ser, deriva do lugar que ocupam os seus iguais
na estrutura social ... Um desses grupos é o agregado formado pelos companheiros
de sofrimento do indivíduo. Os arautos desse grupo sustentam que o grupo real do
indivíduo, o grupo a que ele pertence naturalmente é esse. Todas as outras
categorias e grupos aos quais o indivíduo também pertence necessariamente são,
de modo implícito, considerados como não verdadeiros; ele, na realidade, não é um
deles. O seu grupo real, então, é o agregado de pessoas que provavelmente terão
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que sofrer as mesmas privações que ele sofreu porque têm o mesmo estigma; seu
grupo real, na verdade, é a categoria que pode servir para o seu descrédito” (p.123-
124).
“... O grupo de iguais do indivíduo pode, então, informar o código de conduta que os
profissionais defendem em seu nome. Pede-se, também, que o indivíduo
estigmatizado se veja da perspectiva de um segundo grupo: os normais e a
sociedade mais ampla que eles constituem ... O indivíduo que adere à linha
defendida é considerado como pessoa madura e bem ajustada; quem não adere é
considerado uma pessoa fraca, rígida, defensiva, com recursos internos
inadequados” (p.126).
“... as normas com que lida este trabalho referem-se à identidade ou ao ser, e são,
portanto, de um tipo especial. O fracasso ou o sucesso em manter tais normas têm
um efeito muito direto sobre a integridade psicológica do indivíduo. Ao mesmo
tempo, o simples desejo de permanecer fiel à norma – a simples boa vontade – não
é o bastante, porque em muitos casos, o indivíduo não tem controle imediato sobre
o nível em que apoia a norma. Essa é uma questão de condição do indivíduo, e não
de sua vontade; é uma questão de conformidade e não de aquiescência” (p.138-
139).
“... Como conclusão, posso repetir que o estigma envolve não tanto um conjunto de
indivíduos divididos em duas pilhas, a de estigmatizados e a de normais, quanto um
processo social de dois papéis no qual cada indivíduo participa de ambos, pelo
menos em algumas conexões e em algumas fases da vida. O normal e o
estigmatizado não são pessoas e sim perspectivas que são geradas em situações
sociais durante os contatos mistos. Em virtude de normas não cumpridas que
provavelmente atuam sobre o encontro” (p.149).
Obra rica em termos conceituais, o livro trata de temas de extrema importância sobre as
relações humanas. O autor aborda de forma clara e precisa a questão do estigma
utilizando exemplos reais, o que torna a leitura estimulante. Mostra que o estigma é fruto
das relações entre o eu e o outro, sendo o desvelar reflexivo destas relações
imprescindível para tornar mais humana a convivência entre as pessoas diferentes. A
discussão sobre as implicações do estigma no processo de intercâmbio social pode ser
considerada um dos nós críticos no campo da educação. Ao entrar em contato com os
exemplos apresentados pelo autor é possível olhar sob um outro ângulo para o indivíduo
que não satisfaz as normas preestabelecidas pelo grupo social. O conjunto de valores
que infunde a ideologia calcada em modelos considerados ideais e o conseqüente
processo de despersonalização do diferente na tentativa de moldá-lo a um sistema moral
dominante podem ser questionados. Enquanto professora, considero essencial o
conhecimento deste conceito por todos atores responsáveis pela dinâmica do processo
educativo – profissionais, alunos e familiares – e a análise das relações de poder
existentes entre os indivíduos e grupos. É importante ressaltar que a estigmatização no
interior da escola delimita espaços e determina papéis sociais, podendo tornar
inexpugnável o exercício pleno da cidadania.