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ALIMENTAÇÃO NÃO CONVENCIONAL

FONTE: SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA


http://intranet.sbp.com.br/show_item2.cfm?
id_categoria=24&id_detalhe=986&tipo_detalhe=s

INTRODUÇÃO

Dietas constituídas basicamente por alimentos vegetais, frutas, cereais em grãos


integrais, leguminosas, nozes, etc., condicionam benefícios clínicos, tais como,
menor incidência de obesidade, de hipertensão, de doenças coronarianas, de
certos tipos de câncer e de diabetes com início na idade adulta. Ao que tudo indica,
esses benefícios são devidos ao fato de que essas dietas contêm baixo teor de
gorduras saturadas e colesterol e maior conteúdo de fibras, antioxidantes e
fitoquímicos. Estudos em população afro-americana, constituída por adventistas do
sétimo dia que utilizam dietas vegetarianas, foram conclusivos em apresentar
níveis menores de pressão arterial, de colesterol e de lipoproteínas tipo LDL (low
density lypoprotein). Por opção religiosa ou fisiológica, a maioria das famílias que
praticam vegetarianismo ou macrobiotismo induzem, desde cedo, seus filhos a se
alimentar com essas dietas. Quanto mais cedo a criança se iniciar nesses tipos de
dietas não convencionais e restritas, maiores as probabilidades de ocorrerem
deficiências nutricionais.

No entanto, muitos defensores dessa alimentação sustentam que tais dietas podem
ser saudáveis e nutricionalmente adequadas desde que orientadas por
nutricionistas e nutrólogos. Nesse sentido, os pediatras podem ser consultados
para orientar a alimentação não habitual de crianças e adolescentes, necessitando
de atualização em conhecimentos básicos de nutrição que envolvam a utilização
dessas dietas.

Alimentos convencionais, tradicionais, ou habituais são aqueles produzidos,


processados e utilizados em uma determinada região geográfica e que,
consagrados por razões econômicas, ecológicas, sociais e culturais, promovem
boa saúde da população.

Alimentação não convencional ou alternativa é aquela composta por alimentos


ou partes de alimentos não habituais que, utilizados por razões fisiológicas,
religiosas (ou crendices populares), sociais e econômicas, são capazes de manter
a saúde de quem os utiliza.

DIETAS ALTERNATIVAS

As dietas alternativas ou não convencionais são classificadas segundo os


diferentes tipos de alimentos ingeridos. Assim, tem-se:
1. Vegetarianismo Tradicional

Seus adeptos são classificados de acordo com a ingestão de alimentos de origem


animal. Exemplos:

Lacto-ovovegetarianos: os indivíduos não comem carne, mas aceitam leite,


queijos e ovos. São os chamados “vegetaristas”.

Lacto-vegetarianos: além da carne, os seguidores desta dieta não comem ovos.

Puros vegetarianos: só admitem a ingestão de alimentos de origem vegetal.


Neste grupo, há os seguidores de uma corrente filosófica que rejeita o uso de
qualquer produto animal, como lã, seda, couro, etc.: são os “veganistas”.

2. Vegetarianismo Parcial:

Alguns indivíduos comem peixes (pescivegetarianos) ou aves (polovegetarianos).

2. Vegetarianismo Atípico ou Semi-Vegetarianismo:

A este grupo pertencem os indivíduos que abraçam as dietas de seitas filosóficas,


como Zen Macrobiótica, Yoga, Fructarianos e outras.

3. Outras Dietas Alternativas:

Neste grupo poderíamos incluir os “health foods”, que compreendem os alimentos


naturais e/ou alimentos orgânicos. Além desses, pode-se citar os lanches rápidos
(“fast foods”) e as guloseimas (“junk foods”), bem como partes de alimentos não
usuais, que compreendem a mistura de subprodutos de alimentos.

No Brasil, órgãos não governamentais e o Ministério da Saúde estão


recomendando uma alimentação alternativa (MULTIMISTURA) para combater a
desnutrição, que será comentada ao final do texto.

VEGETARIANISMO NA CRIANÇA

- Ingestão de Macro e Micronutrientes

A alimentação vegetariana é compatível com boa saúde, mas na criança existem


riscos de deficiências nutricionais. Como os alimentos vegetais possuem baixa
densidade energética (alto conteúdo de fibras e baixo teor de gorduras) e são
inadequados em vitaminas D e B12, pequenas ingestões (características de
crianças) podem acarretar problemas.
A tabela 1 apresenta as causas principais de deficiências nutricionais em crianças
recebendo dieta vegetariana.

TABELA 1. Riscos nutricionais de crianças vegetarianas


Carência de Causas
Nutrientes
Energia Baixo teor de macronutrientes
Distúrbios digestivos e absortivos
Proteína Desequilíbrio dos aminoácidos essenciais
Vitamina B12 Ausente nos vegetais
Vitamina D Só produção endógena
Cálcio, zinco Má absorção pela presença de fibras, fitatos e oxalatos
Ferro Baixas ingestão e biodisponibilidade
Riboflavina, carnitina, Ingestão deficiente
taurina

Quanto mais jovem a criança, maiores suas necessidades de nutrientes para cobrir
funções fisiológicas e manter o crescimento. Desta forma, como os alimentos
vegetais são pouco calóricos e de menor digestibilidade, e tendo em vista a
reduzida capacidade gástrica da criança, cria-se uma dificuldade para fornecer
quantidades de energia adequadas somente através da ingestão oral diária.

Pais vegetarianos costumam colocar precocemente seus filhos neste tipo de dieta
e, quanto maior a restrição, maior a possibilidade de ocorrência de distúrbios
nutricionais. Essas crianças costumam ser amamentadas ao seio, período em que
geralmente se apresentam bem do ponto de vista nutricional (embora a mãe
vegetariana pura, de longa data, possa acarretar riscos para o filho lactente [1]).
Após o desmame, no entanto, a introdução de alimentos de baixa densidade
calórica pode acarretar problemas nutricionais.

Em relação à oferta protéica, não é difícil de se conseguir aportes


quantitativamente adequados através da alimentação vegetariana. No entanto, a
falta de ingestão de proteínas de alta qualidade (proteína animal, por exemplo), que
contêm todos os aminoácidos essenciais necessários ao crescimento, costuma se
constituir num problema. Desta forma, a utilização isolada de determinado tipo de
alimento pode acarretar deficiência relativa de pelo menos um aminoácido, como
por exemplo: cereais são deficientes em lisina, porém, são boas fontes de
metionina; já os legumes contêm, quantitativamente, bom teor de proteínas, mas
são deficientes em metionina.Assim, cereais e legumes, quando ingeridos em
quantidades proporcionais e adequadas, se completam, equilibrando o balanço de
aminoácidos. Do mesmo modo, frutas, legumes e cereais integrais são boas
fontes de vitaminas, com exceção da vitamina B12 e vitamina D; fermento de
cerveja, por outro lado, é fonte de vitamina B12.

- Deficiência de vitamina B12 é rara, mas deve ser lembrada quando a criança
tem estoques prévios reduzidos e está em dieta vegetariana por anos.

Deficiência de vitamina D pode ocorrer em crianças de zona temperada e


naquelas com pele escura, principalmente se moram em centros urbanos,
independentemente da dieta - evidências bioquímicas de raquitismo foram
detectadas em 15% de crianças não vegetarianas quando examinadas na
primavera e inverno. Por isso, é prudente suplementar os lactentes de pais
vegetarianos pois, entre eles, o risco de tal deficiência é ainda maior.
Nas dietas vegetarianas restritas, existem preocupações quanto à ingestão
de minerais como cálcio e ferro. As fontes vegetais mais importantes de cálcio
são: couve, espinafre, nabo, algas e sementes de girassol, gergelim, soja,
amêndoas, etc. (tabela 2).

TABELA 2 - Conteúdo de cálcio e ferro em alguns vegetais (mg/100g)


Vegetais Cálcio Ferro

Couve 250 1,5


Nabo 246 1,8
Repolho 249 2,7
Espinafre 93 3,1
Sementes
Girassol 120 7,1
Gergelim 1160 10,5
Soja 199 8,4
Algas 1093

As baixas disponibilidade e absorção de cálcio devem-se às formas complexas e


insolúveis com fibras, fitatos e oxalatos vegetais. O teor de ferro é mais ou menos
homogêneo e proporcional à ingestão energética.

Dietas vegetarianas do tipo veganista oferecem vantagens à saúde nos indivíduos


adultos, mas são inadequadas para crianças. Deficiências complexas podem ser
instaladas, prejudicando o crescimento. Os distúrbios mais freqüentes
compreendem a desnutrição energética-protéica, a anemia ferropriva e deficiências
específicas de cálcio, vitamina D e vitamina B12

As dietas lacto-vegetarianas são mais adequadas nutricionalmente, mas mesmo


assim, são pobres em iodo, vitamina B12, taurina, vitamina D e ácidos graxos
polinsaturados, tipo eicosapentanóico (EPA) e docosahexanóico (DHA), essenciais
para a integridade das membranas celulares e sistema nervoso central.

As dietas vegetarianas puras são ricas em ácido linolêico (C18:2), mas


possuem alta relação linolêico/linolênico (18:2/18:3). Nesses casos, a conversão
metabólica do 18:3 a DHA se encontra inibida. Como os óleos de canola e de soja
possuem baixa relação 18:2/18:3, seu emprego está indicado nessas crianças.

VEGETARIANISMO ATÍPICO

Dieta Zen Macrobiótica


As dietas Zen Macrobiótica estão baseadas nos princípios dos regimes dietéticos
seguidos pelos monges budistas. Existem dez tipos de dietas classificadas de
acordo com o grau de diversificação da ingesta, desde a mais restrita (somente
cereais) até a que inclui produtos animais, frutas, saladas, sobremesas, etc.
Procura-se atingir um balanço ideal entre os produtos “yin”(potássio) e “yang”
(sódio), que é de 5:1. A escolha dos alimentos é feita baseando-se em tabelas
disponíveis para esse fim.

O aleitamento materno nas mães que adotam a dieta Zen Macrobiótica não é
prolongado. Lactentes com menos de seis meses de idade são desmamados
precocemente, sendo o leite materno substituído por “leites de soja e de outros
grãos” preparados em casa.

Os grãos são moídos e colocados de molho em água por muitas horas. A seguir,
utiliza-se o sobrenadante leitoso (parecido com leite), mas que tem um valor
nutritivo muito pobre. Em conseqüência, são relatados casos de graves deficiências
nutricionais, como marasmo, kwashiorkor, hipoproteinemias, hiponatremias,
anemias megaloblásticas e raquitismo.

Lactentes de mães macrobióticas em período de lactação possuem baixa ingestão


de vitamina D e cálcio, mas esse problema não é tão freqüente e sério se
comparado com a carência de vitamina B12. Esta deficiência, associada com
quadro neurológico, pode ser confirmada pelas elevadas taxas plasmáticas de
ácido metilmalônico e homocisteína (estes testes possuem boa sensibilidade e
especificidade para o diagnóstico da carência da cobalamina)

Em estudo populacional de avaliação nutricional de crianças recebendo dietas


macrobióticas, efetuado na Holanda, foi verificado que a dieta consistia de cereais
integrais (principalmente arroz integral), vegetais, algas, alimentos fermentados,
sementes, nozes e frutas sazonais. Esta dieta causou inúmeras deficiências, tais
como:de vitamina B12, de proteína, de cálcio e de riboflavina. Estas carências
condicionaram retardo de crescimento e de desenvolvimento, bem como o
emagrecimento por perda de massa muscular e de gordura. O leite dessas mães
era muito pobre em cálcio, magnésio e vitamina B12. O crescimento de crianças
após seis meses de idade sofreu um decréscimo, aos 18-24 meses, de cerca de
dez por cento.

OUTRAS DIETAS ALTERNATIVAS

- Alimentação Orgânica e/ou Natural (Health foods):

Alimentos orgânicos e/ou naturais são aqueles cultivados em solos ricos em


húmus, sem adição de pesticidas, herbicidas ou fertilizantes sintéticos. Carnes e
produtos lácteos são considerados naturais quando os animais são criados com
alimentos naturais, sem hormônios ou outros medicamentos. O termo também
abrangealimentos que tiveram pouco ou nenhum processamento
industrial (farinhas de grão integral) e alimentos não usuais como sementes de
abóbora, germe de trigo, chás de ervas, etc.
Seguidores deste tipo de alimentação sustentam que os alimentos naturais são
mais saudáveis, mais baratos, nutritivos e menos indutores de doenças crônicas
por não sofrerem adições de ingredientes artificiais. Esta afirmação não se baseia
em evidências científicas.

- Lanches rápidos (Fast foods)

O valor nutritivo dos lanches e sanduíches depende da seleção, da variedade e da


quantidade dos alimentos ingeridos. Sua popularidade vem aumentando, pela
rapidez do preparo, facilidade e custo menor.

Estudos norte-americanos mostram que os lanches que incluem uma bebida


refrigerante, uma porção de batatas fritas e um sanduíche de hamburguer
fornecem ao redor de 650kcal, 15g de proteínas e 23g de gordura. Se o
refrigerante é substituído por uma batida de leite com sorvete (“milk shake”), a
quantidade de energia sobe para 870kcal, a proteína para 25g e a gordura para
33g.

- Para escolares, embora este tipo de lanche cubra 90% da necessidade diária de
proteína recomendada pelo RDA , fornece apenas 40% da necessidade
energética.

- Lanches típicos foram avaliados e se concluiu pela deficiência de vitamina A,


ferro, cobre, biotina, folatos e fibras. Estes nutrientes podem ser compensados pela
adição de vegetais de folhas verdes, feijão, cereais e pão integral

É importante assinalar ainda que algumas crianças e/ou adolescentes podem


apresentarriscos de dislipidemia (por exemplo, taxa elevada de colesterol); o
pediatra deve estar atento a esse aspecto quando analisa a dieta de seu cliente,
pois muitas das “fast foods” podem apresentar-se ricas em colesterol

O pediatra precisa, portanto, conhecer bem os hábitos alimentares das crianças em


idade escolar para intervenção nutricional. Adolescentes americanos costumam
comer duas a quatro refeições fora de casa por semana. Muitas vezes, há
necessidade de completar certos alimentos em casa ou na escola para se ter uma
ingestão adequada de nutrientes.

- Alimentos informais ou guloseimas (Junk foods)

Não deve ser considerada uma dieta como tal. Constitui-se de alimentos que
normalmente são utilizados como “aperitivos”, como por exemplo: salgadinhos,
batatas fritas, biscoitos salgados e doces, amendoim, tira-gostos, etc. É quase
impossível manter o indivíduo em boas condições de saúde comendo
exclusivamente estas guloseimas. Somente através da ingestão de uma grande
variedade e quantidade destes alimentos é que o indivíduo consegue, por curtos
períodos, manter-se bem nutrido.
ALIMENTAÇÃO ALTERNATIVA OU MULTIMISTURA

A Pastoral da Criança está divulgando uma “Alimentação Alternativa ou


Multimistura”, proposta pelo Ministério da Saúde brasileiro em 1993, com o objetivo
de se contornar o problema da fome, complementando-se a dieta da criança
brasileira com um concentrado de minerais e vitaminas obtido a partir de pós de
farelos (de arroz ou de trigo), folhas secas de vegetais não usuais (mandioca,
batata-doce, abóbora, chuchu, etc.), sementes(de gergelim, girassol, abóbora,
etc.) e cascas de ovos.

Deve-se
esclarecer que a multimistura não é uma dieta alternativa mas, tão
somente, uma mistura de subprodutos de alimentos não convencionais e regionais,
que deverá ser acrescida à alimentação usual.

Argumenta-se que a multimistura conferiria qualidade alimentar pela variedade de


partes de alimentos utilizados, carreando bons teores de fibra, proteína, gordura,
minerais e vitaminas, embora com baixa concentração de energia. Recomenda-se
adicionar farinhas (fubá) para aumento do aporte calórico, e ainda torrar a referida
mistura para inativar certos tóxicos. Assim, à custa dessa adição, cálculos
preliminares apontam para uma possível ingestão diária de 100g da multimistura,
fornecendo até 300 kcal de energia e 5g de fibra.

Os farelos são obtidos pela moagem dos grãos integrais de cereais. Assim, são
ricos em fibras, proteínas (10% a mais), minerais (30 a 50% a mais) e
oligoelementos, vitaminas do complexo B (40 a 70% a mais), etc. No entanto, como
o farelo é considerado resíduo e utilizado para ração animal, seu armazenamento é
precário, acarretando muita contaminação. As folhas secas de vegetais são
abundantes em fibras, minerais (cálcio, ferro, magnésio, zinco, etc.) e algumas
vitaminas. As sementes são boas fontes de proteínas, fibras, minerais,
gorduras (ácidos graxos insaturados), vitaminas, etc. A casca do
ovo contém minerais, proteínas, etc. Embora os pós dessas partes de alimentos
sejam boas fontes de nutrientes, o preparo da multimistura não evita a perda de
certa quantidade dos mesmos, como também não elimina os fitatos, glucídeos
cianogênicos e outros fatores antinutricionais. As fibras e fitatos interferem com a
absorção intestinal de ferro, zinco e vitaminas do complexo B no organismo. As
biodisponibilidades do cálcio, magnésio, ferro, zinco, etc. nessa mistura ainda não
foram estudadas.

O uso do farelo de arroz em pesquisa animal e em crianças de creche não


acarretou melhora nutricional. Crianças anêmicas e desnutridas também não foram
recuperadas quando alimentadas com a referida mistura. A desnutrição enérgico-
protéica primária no Brasil é conseqüente, principalmente, à deficiência de energia,
enquanto a multimistura, quando não enriquecida com farinhas, fornece
exclusivamente minerais e vitaminas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade de Pediatria de São Paulo já se
manifestaram contrárias à recomendação da utilização da multimistura para o
combate à fome e à desnutrição infantil. Não crêem que a utilização de partes de
alimentos, normalmente descartados como alimentos usuais face à cultura
brasileira, poderá se transformar em um programa adequado para matar a fome e
combater a desnutrição no país. A melhora nutricional, relatada com o uso da
multimistura, provavelmente ocorre pela ação de outros fatores, como melhora do
vínculo mãe/filho, maior atuação de agentes de saúde, estimulação psicossocial,
afetiva, etc.

MANEJO DA CRIANÇA EM DIETAS ALTERNATIVAS

As crianças que utilizam dietas alternativas devem ser acompanhadas pelo sistema
de saúde tradicional: consultas clássicas, esquema de imunização, prescrição de
medicamentos etc. Se houver distúrbios de crescimento, torna-se necessária a
intervenção.

O pediatra deve aceitar a decisão dos pais de adotar a alimentação não


convencional para os filhos. No entanto, não deve esquecer que, quando a dieta é
restritiva e praticada por longo período, a probabilidade de ocorrência de distúrbios
nutricionais é grande. Dessa forma, para um acompanhamento mais efetivo dessas
crianças, precisa conhecer com detalhes a ingestão qualitativa e quantitativa dos
alimentos, assim como a duração dessa alimentação alternativa; a anamnese deve
conter um recordatório minucioso sobre a ingesta e os hábitos alimentares.

O peso corporal deve ser tomado em todas as visitas, com precisão e do mesmo
modo, uma vez que os alimentos vegetais são pobres em energia e o consumo
calórico deficiente condiciona também baixa ingestão de micronutrientes.

Nas crianças com alimentação vegetariana restrita, a carência de vitamina


B12 pode ser um distúrbio de difícil diagnóstico. O quadro clínico pode não estar
completo, dificultando o diagnóstico. Crianças com baixas concentrações séricas
de vitamina B12 apresentam sinais de parestesias, fraqueza, distúrbios
neurológicos e mentais, perda de memória e anemia macrocítica.

Nessas crianças, o aleitamento materno prolongado deve ser considerado. O


desmame pode ser começado a partir de, no mínimo, seis e, no máximo, doze
meses de idade. Leite de soja pode ser fornecido, porém, deve-se desencorajar as
mães em relação ao preparo doméstico. Se houver necessidade
de complementação protéica, os produtos integrais(cereais, grãos e sementes)
costumam ser recomendados, embora se saiba que os refinados são melhor
absorvidos. Para a melhor complementação energética, as margarinas, azeites,
pães, bolachas e doces em geral são indicados.

Nas crianças veganistas, não é rara a ocorrência de outros distúrbios nutricionais


além da deficiência de vitamina B12, como raquitismo, anemia, etc. Assim, várias
recomendações devem ser feitas, com o objetivo de se adequar a dieta:

• tentar convencer os pais veganistas de que a criança com problemas nutricionais


pode se beneficiar, na sua saúde, se receber uma dieta lacto-ovovegetariana.
• o leite, se possível, deve ser enriquecido com a vitamina D, recomendando-se
exposição ao sol em horários adequados.
• o cálcio do leite pode ser insuficiente. Nesses casos, orientar os pais quanto à
necessidade de oferecer à criança vegetais ricos em cálcio, como por exemplo
brócolis, couve, repolho, nabo, etc., e ainda sucos de frutas com adição de cálcio.
• lembrar que o cálcio, o ferro, o zinco podem ter menor absorção intestinal quando
na presença de fitatos e oxalatos das fibras; o ferro apresenta ainda uma
biodisponibilidade bastante diminuída na sua forma não-heme. O zinco e o ferro
são encontrados em vegetais folhosos, grãos, legumes, nozes, etc. A vitamina C
aumenta a absorção intestinal de ferro.
Para a prevenção e recuperação nutricional de crianças que pertencem a famílias
que utilizam a dieta macrobiótica, sem alterar a filosofia macrobiótica, Dagnnelie e
Staveren (1994) sugerem:

• melhorar a ingestão diária de energia em 25 a 30% pela adição de 25 a 30 ml


de óleos vegetais;
• recomendar a administração semanal de 100 a 150 ml de óleo de
peixe (bacalhau) como fonte de 2 a 3 ug de vitamina D/dia;
• limitar a ingestão de algas marinhas (inibem o metabolismo da vitamina B12);
• incluir pelo menos uma porção de produtos lácteos ao dia, como fonte de cálcio,
proteína e riboflavina;
• reduzir a ingestão de fibras, adicionando produtos com baixo teor destes
elementos.

Com estas recomendações, uma população de crianças maiores de quatro anos,


recebendo dieta macrobiótica, apresentou adequado crescimento linear.

Nos escolares e adolescentes que comem, exclusivamente, lanches rápidos,


aconselhar uma seleção mais adequada e variada de alimentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAGNNELIE, P.C. et al. Do children on macrobiotic diets show catch-up growth? A


population-based cross-sectional study in children aged 0-8 years. Eur. J. Clin.
Nutr., 42 : 1007-16, 1988.

DAGNNELIE, P.C. et al. Effects of microbiotic diets on linear growth in infants and
children until 10 years of age. Eur. J. Clin. Nutr., 48 (Suppl): 5103-112, 1994.

DUSSELDORP, M; DAGNNELIE, P.C., STAVEREN, W. Diet and growth in young


vegetarians / IN BALLABRIGA A (ed.) “Feeding from toddlers to adolescence. New
York, Lippincott – Raven, 1996, p. 209-20.

DWYER, J.T.; DIETZ JR., W.H.; SUSKIND, R.M. Nutritional status of vegetarian
children. Am. J. Clin. Nutr., 35 : 204-16, 1982.
HADDAD, E.H. Development of a vegetarian food guide. Am. J. Clin. Nutr., 59
(Suppl): 1248S - 54S, 1994.

MACLEAN J.R., W.C.; GRAHAM, G. Pediatric Nutrition in Clinical Practice. Menlo


Park, Addison-Wesley Publishing Co., 1982 : p. 132-150.

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