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Editorial

A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho Regio-


nal de Medicina Veterinária (CRMV-MG) têm a satisfação
de entregar à comunidade de leitores o Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia, em sua nova versão, que o torna con-
temporâneo, tanto pela temática de forma mais ampla, apro-
fundada e objetiva, quanto pela apresentação gráfica mais
atrativa e, portanto, mais agradável de ser lido, facilitando a
apreciação dos artigos.
No lançamento desta nova versão editorial do Cadernos
Técnicos de Veterinária e Zootecnia, os editores e a Diretoria da
Escola de Veterinária da UFMG agradecem a todos aqueles
que contribuíram, de alguma forma, para que esta publicação
se realizasse, e ao CRMV-MG, pela parceria com a Escola de
Veterinária da UFMG.
A parceria entre as duas instituições é uma iniciativa inte-
ligente e construtiva, que disponibiliza o Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia aos médicos veterinários e zootecnistas
inscritos no CRMV-MG, aos acadêmicos, professores e técni-
cos de áreas afins uma fonte de consulta técnica de qualidade
Universidade Federal
de Minas Gerais para a educação continuada na medicina veterinária e zootec-
Escola de Veterinária nia. Ainda, de forma especial, os editores agradecem aos auto-
Fundação de Estudo e Pesquisa em res pela cuidadosa preparação dos artigos deste número.
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora
Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
Conselho Regional de Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
Medicina Veterinária do Prof. Marcos Bryan Heinemann
Estado de Minas Gerais Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
- CRMV-MG
Prof. Nivaldo da Silva
Correspondência: CRMV-MG nº 0747 - Presidente do CRMV-MG
FEPMVZ Editora
Caixa postal 5671
30123-970- Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042
e-mail: journal@vet.ufmg.br

1
Conselho Regional de Medicina Prefácio
Veterinária do Estado de Minas
Gerais - CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
Retroviroses Animais
E-mail: Jenner K. P. Reis
crmvmg@crmvmg.org.br
Doenças provocadas por retrovírus animais têm
CADERNOS TÉCNICOS DE sido descritas desde o século XIX. A anemia infec-
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
ciosa equina foi a primeira doença animal atribuí-
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e da aos vírus em 1904, denominados naquela épo-
Zootecnia - FEPMVZ ca como agentes filtráveis. Os retrovírus possuem
Editor da FEPMVZ Editora: uma estrutura complexa e são os únicos vírus reco-
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
nhecidos como diplóides por possuírem duas fitas
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Marcos Bryan Heinemann
de RNA não complementares tornando-os mais
permissíveis à recombinação gênica. A estes vírus
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno Moreira têm sido atribuídas doenças extremamente rele-
Tiragem desta edição: vantes na medicina veterinária mundial, levando a
9.000 exemplares alterações hematológicas, tumorais, imunológicas
Layout e editoração: e neurológicas, afetando, assim, de forma direta e
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
indireta, a produção animal, com enormes prejuí-
Fotos da capa:
bigstochphoto.com e Prof. Pinho/UFMG zos econômicos, incluindo barreiras à importação
Impressão: de animais vivos e produtos de origem animal. O
Nome da gráfica grande desafio hoje na retrovirologia veterinária é o
desenvolvimento de vacinas eficazes para o contro-
le destas enfermidades. O desenvolvimento deste
imunobiológico trará grandes benefícios ao campo
Permite-se a reprodução total ou parcial,
sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte. da veterinária e também à medicina humana por ter
no vírus da imunodeficiência humana (HIV) o seu
primo mais ilustre. Esta obra traz informações rele-
vantes sobre as principais retroviroses dos animais
Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG) domésticos e, sobretudo, como identificar as do-
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998. enças que, na maioria das vezes, apresentam-se de
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP forma silenciosa. Como característica comum está
MVZ Editora, 1998-1999 a capacidade de os animais acometidos por retroví-
v. ilustr. 23cm rus se tornarem persistentemente infectados. Deste
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP MVZ modo, dependendo da espécie envolvida e do tipo
Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
de criação, diferentes formas de controle deverão
1.Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem Animal, Tecnologia
e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
ser consideradas. Todas estas particularidades tor-
I. FEP MVZ Editora, ed.
nam o estudo das retroviroses animais um fascinan-
te campo de investigação clínica e científica.
2 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012
SUMÁRIO
Retrovírus
Lentiviroses de pequenos ruminan-
Página 7
tes
Família de vírus, com representantes Página 46
importantes, causando patologias A artrite-encefalite caprina (CAE) e
dos animais de produção e de a Maedi-Visna impactam de forma
companhia. significativa a produção. O manejo
Imunodeficiência viral felina sanitário correto é essencial para o
Página 10 controle.
Revisão dos principais aspectos
Leucose enzoótica bovina
quanto a patogenia, o diagnóstico e Página 60
o tratamento da imunodeficiência Doença com alta prevalência nos
felina, uma das principais doenças de rebanhos leiteiros. Descubra como
felinos causada por vírus. fazer o diagnóstico e controle dessa
Leucemia viral felina importante enfermidade.
Página 23 Anemia infecciosa equina
Vírus que causa diversas Página 73
síndromes, como supressão A anemia infecciosa equina (AIE)
medular, imunossupressão, doenças é uma doença transmissível e
imunomediadas, impactando de incurável, sendo considerada umas
forma significativa na qualidade de das principais doenças dos equídeos,
vida dos felinos. incluindo equinos, muares e asininos.
Leucose aviária
Página 35

O complexo leucose sarcoma aviário


pode causar tumores benignos
e malignos nas aves. Revise a
patogenia, sinais e controle desta
enfermidade.
Retrovírus
Jenner Karlisson Pimenta dos Reis1

A família Retroviridae é caracteri- O nome da família está associado a este


zada por causar infecção persistente em processo de “retro” transcrição ou trans-
várias espécies animais. Membros des- crição reversa [3,4,5].
ta família provocam doenças crônicas Todos os membros desta família
como: tumores, imunossupressão e do- contêm três principais genes estrutu-
ença de imunocomplexos rais / funcionais denomi-
[1,2]. A família nados: gag, pol e env, os
A partícula vírica pos- Retroviridae é quais codificam proteínas
sui estrutura complexa caracterizada por da estrutura viral e enzi-
com um nucleocapsídeo causar infecção mas, além de sequências
helicoidal, circundado persistente em gênicas que codificam
por um capsídeo icosaé- várias espécies proteínas regulatórias que
drico e revestido por um animais: tumores, variam em número depen-
envelope lipoproteico. imunossupressão dendo do vírus [6,7,8,9].
O genoma é constituído e doença de A variabilidade genética e
por duas fitas simples de imunocomplexos. antigênica também é uma
RNA idênticas não com- característica desta famí-
plementares. Estes vírus possuem a en- lia e está relacionada principalmente a
zima transcriptase reversa, responsável mutações nas glicoproteínas de superfí-
pela conversão do RNA viral em DNA
que irá integrar-se ao genoma do hos- 1Professor Associado, Farmacêutico-Bioquímico,
Mestre e Doutor em Ciência Animal, DMVP, Esco-
pedeiro na forma denominada provírus. la de Veterinária/UFMG. jenner@ufmg.br
Retrovírus 7
cie denominadas gps. As gps estão asso- vírus de pequenos ruminantes, incluin- p.665-674, 1971.
ciadas à ligação ao receptor celular e são do os vírus da artrite-encefalite caprina 8. SCHÄFER, W.; LANGE, J.; FISCHINGER,
também alvos da resposta imune [10], (CAEV) e o vírus da pneumonia pro- P.J. et al. Properties of mouse leukemia vi-
ruses. II. Isolation of viral components. Vi-
por isso estão relacionadas ao escape do gressiva dos ovinos (Maedi-Visna), o
rology, v.47, p.210-228, 1972.
sistema imune e representam um obs- vírus da imunodeficiência felina (FIV),
9. AUGUST, J.T.; BOLOGNESI, D.P.; FLEIS-
táculo ao desenvolvimento de vacinas o vírus da leucemia felina (FeLV) e o ví- SNER, E. et al. A proposed nomenclature
para os retrovírus. rus da leucose aviária. for the virion proteins of oncogenic RNA
A replicação dos retrovírus compre- viruses. Virology, v.60, p.595-601, 1974.
ende um estágio de ligação dos vírions Agradecimentos 10. HUNTER, E.; SWANSTROM, R. Retrovi-
ao receptor celular seguido da penetra- À Fundação de Amparo à Pesqui- rus envelope glycoproteins. Curr. Top. Mi-
crobiol. Immunol., v.157, p.187-253, 1990.
ção, permitindo a transcrição reversa sa do Estado de Minas Gerais (FAPE-
do RNA vírico em DNA ainda no cito- MIG). 11. SWANSTROM, R.; VOGT, P.K. (Ed).
Retroviruses: Strategies of Replication.
plasma e migração deste para o núcleo
da célula. O DNA é, então, integrado
Referências Bibliográficas Current Topics in Microbiology and Im-
munology. New York: Springer-Verlag,
1. DUESBERG, P. H. Retroviruses as Carci-
ao genoma da célula hospedeira e pode nogens and Pathogens: Expectations and
Heidelberg, 1990. v.157.
ser propagado a células filhas por meio Reality. Cancer Res., v.47, p.1199-1220, 12. LUCIW, P.A.; LEUNG, N.J. Mechanisms of
da mitose. Durante um processo de re- 1987. retrovirus replication. In: LEVY, J.A. (Ed).
The retroviridae. New York: Plenum Press,
ativação da replicação, o provírus pode 2. LAZO, P.A.; TSICHLIS, P.N. Biology and pa- 1992. p. 159–298.
dar origem a proteínas estruturais e ao thogenesis of retroviruses. Semin. Oncol.,
v.17, p.269-294, 1990.
genoma RNA do vírus, resultando na
montagem e liberação por brotamento 3. COFFIN, J.M. Genetic diversity and evolu-
tion of retroviruses. Curr. Top. Microbiol.
de novas partículas virais [5,11,12]. Immunol., v.176, p.143-164, 1992a.
Os membros desta família são sensí-
4. COFFIN, J.M. Structure and classification
veis ao tratamento por calor (inativados of retroviruses. In: LEVY, J.A. (Ed). The
a 56º C por 30 mim), detergentes e de- retroviridae. New York: Plenum Press,
sinfetantes comuns, mas são resistentes 1992b. p. 19–49.
à radiação. 5. GOFF, S. P. Retroviridae: The Retroviruses
and Their Replication. In: KNIPE, D. M.;
Os retrovírus têm recebido um des-
HOWLEY, P. M. Fields Virology. 5. ed.
taque especial nos últimos anos por pos- Philadelphia: Lippincott Williams and Wi-
suírem membros ilustres, como o HIV lkins, 2007. v. 2, p. 1999-2069.
e o HTLV, de importância na medicina 6. FLEISSNER, E. Chromatographic separation
humana. Na veterinária, são também and antigenic analysis of proteins of the
relevantes as doenças que causam. Os oncornaviruses. I. Avian leukemia-sarcoma
viruses. J. Virol., v.8, p.778-785, 1971.
principais representantes desta família
de importância veterinária são: o vírus 7. OROSZLAN, S.; FOREMAN, C.; KELLO-
FF, G. et al. The group-specific antigen
da anemia infecciosa equina (EIAV), o and other structural proteins of hamster
vírus da leucose bovina (BLV), os lenti- and mouse C-type viruses. Virology, v.43,
8 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Retrovírus 9
em todo o mundo, e sua prevalência va- lentamente, e dificilmente são associá-
ria de acordo com a região geográfica e veis a uma etiologia única na ausência
o tipo de criação. de testes de diagnóstico específicos [3].
A infecção resulta em uma enfermi- O FIV pode ser classificado em cin-
dade nos gatos semelhante àquela ob- co subtipos: A, B, C, D e E [4]. Esta
servada em humanos com AIDS. Como classificação se baseia em diferenças na
na infecção pelo vírus humano, a queda sequência de aminoácidos em uma re-
da função imunológica do portador feli- gião hipervariável (V3-V5) do gene do
no gera manifestações clínicas variáveis, envelope viral (env) [5]. No Brasil, ape-
e a infecção pelo vírus da imunodefici- nas o subtipo B foi identificado [6,7].
ência felina (FIV) pode levar seus hos- Lentivírus espécie-específicos foram
pedeiros a atuarem como eventuais fon- identificados em outras espécies de felí-
tes de infecção de uma série de agentes deos, como puma (Puma concolor), gato
infecciosos para outros animais e para de Pallas (Otocolobus manul), leão (Pan-
o homem, em função da grave imuno- thera leo), leopardo (Panthera pardus) e
deficiência que promove, incluindo to- guepardo (Acinonyx jubatus) [8,9,10].
xoplasma, bartonela e o vírus da gripe
Figura 1. Gatos positivos para FIV em abrigos.

Fonte das figuras 1, 2 e 3 - fotos: Dr Bruno Teixeira


aviária (H5N1). 3. Epidemiologia
2. Etiologia

Imunodeficiência A doença é causada


3.1.
O FIV apresenta Distribuição
pelo vírus da imunodefi- características

viral felina
ciência felina (FIV), um estruturais, morfológicas, A distribuição
lentivírus da família Re- bioquímicas e genéticas da infecção pelo FIV
troviridae. Por pertencer semelhantes ao vírus varia de acordo com
ao mesmo gênero, o FIV da imunodeficiência alguns fatores da po-
apresenta características humana (HIV) pulação felina, e a
Daniela de Souza Rajão1 imunológica devido à redução no nú- estruturais, morfológicas, transmissão é influen-
Gissandra Farias Braz1 mero de linfócitos T auxiliares, aumen- bioquímicas e genéticas ciada por característi-
Fabiana Alves2
Nadia Rossi de Almeida3 tando a susceptibilidade a infecções semelhantes ao vírus da imunodeficiên- cas comportamentais dos animais, por
Carlos Mazur4 oportunistas. Apresenta-se disseminada cia humana (HIV) [1]. isso animais errantes ou que vivem em
Desde a primeira descrição do vírus ambientes com alta densidade popula-
1
Médica Veterinária, Mestre, Doutoranda, Escola de
1. Introdução Veterinária/UFMG. em 1986 [2], foi observado seu grande cional de gatos apresentam maior risco
2
Bióloga, Mestre em Ciência Animal, Escola de Vete- potencial como modelo para o HIV/ de infecção [11]. Idade e sexo do animal
A imunodeficiência viral felina é rinária/UFMG. AIDS. Como na infecção pelo HIV, são variáveis importantes para a preva-
uma doença crônica e progressiva que
3
Médica Veterinária, Mestre em Microbiologia Vete- ocorre uma queda progressiva na função lência da infecção. Animais mais velhos
rinária, Instituto de Veterinária/UFRRJ.
acomete gatos domésticos e selvagens. 4Professor Associado, Médico Veterinário, Universi- imune do hospedeiro, as manifestações são mais acometidos, o que pode estar
Caracteriza-se por queda na função dade Federal Rural do Rio de Janeiro. clínicas são diversas e se desenvolvem relacionado ao maior tempo de exposi-
10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Imunodeficiência viral felina 11
ção ao vírus na natureza, mundo, mas a sua preva- felídeas silvestres deter- A transmissão ver-
É em gatos machos Lentivírus de felídeos
à resposta imune reduzi- lência varia em diferen- minaram que um grande tical, da fêmea para sua
adultos, com livre acesso silvestres já foram
da ou ao longo período tes regiões, com taxas número destes animais prole, pode ocorrer pela
às ruas e que apresentam detectados em leões
de incubação da doença. que vão de 2,5% até taxas apresentam resultados via intrauterina durante a
comportamento em cativeiro e em
A ocorrência da infecção acima de 40% [13,14]. positivos para sorologias gestação, durante o parto
agressivo, que são espécimes nativos,
em machos é duas vezes Acredita-se que atual- anti-FIV [17]. No Brasil,
encontradas mais como onça pintada e e pela ingestão de colostro
maior do que em fêmeas. mente cerca de 11% da lentivírus de felídeos sil- ou leite [22,23]. Animais
infecções. jaguatirica.
Portanto, as ocorrências população de gatos na vestres já foram detecta- infectados no útero ou no
mais altas de infecção América do Norte, Ásia, dos em leões em cativeiro nascimento apresentam
têm sido encontradas em gatos machos Europa e Oceania apresentam sorologia [18] e espécimes nativos, como onça progressão acelerada da doença e viabi-
adultos com livre acesso às ruas, que positiva para o FIV [15]. pintada (Panthera onca), jaguatirica (Le- lidade pós-natal diminuída, e a ocorrên-
frequentemente apresentam comporta- No Brasil, a ocorrência já foi relata- opardus pardalis) e outros [19]. A trans- cia de abortos, natimortos e baixo peso
mento agressivo. Outra variável impor- da em São Paulo, no Rio de Janeiro, no missão interespécie, do gato doméstico ao nascimento é comum [23].
tante é o estado de saúde do animal, já Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, e para o felídeo selvagem e do selvagem A transmissão por meio do contato
que a soroprevalência é mais elevada em a frequência da infecção varia de 2,66% para o doméstico, já foi documentada sexual é possível, uma vez que a fêmea
gatos doentes que nos sadios [11,12]. a 37,5% [16]. [20]. pode se infectar pela mucosa vaginal,
A doença é enzoótica em todo o Pesquisas sorológicas em espécies além de que o vírus é eliminado no sê-
3.2. Cadeia epidemiológica men de machos infectados [24,25].
4. Patogenia
3.2.1. Espécies susceptíveis
O FIV infecta principalmente linfó-
A infecção natural pelo FIV pode citos T CD4 e CD8 [2], mas também
ocorrer em gatos domésticos e resulta pode replicar em linfócitos B, macrófa-
na progressão da doença, gos, astrócitos e micró-
e em felídeos selvagens, Animais infectados glia. A replicação nestas
nos quais geralmente não no útero ou no diferentes células resulta
é observada a doença clí- nascimento em diferentes manifesta-
nica [3,17]. apresentam ções da doença [26,27].
progressão acelerada Após a inoculação,
3.2.2. Transmissão
da doença e ocorre um período quies-
A transmissão natural viabilidade pós-natal cente de duas semanas,
do FIV ocorre predomi- diminuída. É comum em que o vírus circulan-
nantemente por meio de a corrência de abortos, te e anticorpos anti-FIV
mordidas, pela saliva [12]. natimortos e baixo não são detectados. Na
Além da saliva, o FIV já foi peso ao nascimento. terceira semana de infec-
isolado de outros fluidos ção, o vírus dissemina-se
corporais, como sangue, soro, plasma, pelos tecidos linfoides do
Figura 2. Gengivite e estomatite em gato positivo para FIV líquido cerebroespinhal e leite [21]. organismo, replicando no timo, linfono-
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Imunodeficiência viral felina 13
dos regionais e tecidos sentar-se inaparente, ca- esta fase nos gatos raramente é distin- dos por FIV, devem-se principalmente a
À medida que ocorrem
linfoides associados à racteriza-se comumente guida do complexo relacionado à AIDS infecções oportunistas [34,35].
picos de viremia e
mucosa [26]. por sintomatologia pas- (CRA) [27]. Metade dos animais infec-
replicação viral, os
Após a infecção, a sageira, como linfoade- tados é diagnosticada nesta quarta fase, 6. Resposta imune
linfócitos T CD4
viremia aumenta rapida- nopatia, hipertermia, conhecida como CRA. Este estágio é Gatos infectados pelo FIV desenvol-
diminuem.
mente até 21 dias, apre- anorexia, icterícia, de- caracterizado por sinais inespecíficos, vem uma forte resposta imune humoral
senta picos entre sete e pressão e neutropenia. sem infecções oportunistas aparentes, contra antígenos gag e env, e geralmente
oito semanas após a infecção e, então, Diarreia, dermatite, conjuntivite e afec- com afecções respiratórias, gastrointes- a soroconversão ocorre dentro de três a
decresce. À medida que ocorrem picos ções respiratórias podem estar presentes tinais, oculares (conjuntivite, glaucoma seis semanas após a infecção. A resposta
de viremia e replicação viral, os linfócitos em animais mais severamente afetados e uveíte), dermatológicas (dermatites, imune celular ocorre de duas a sete se-
[21]. Os sinais nesta fase variam com abscessos e pústulas), perda de apetite manas após a infecção, com aumento de
T CD4 diminuem, o que está associado
a idade, e gatos mais velhos geralmen-
ao favorecimento de infecções oportu- e peso, linfadenopatias e alterações he- linfócitos citotóxicos [28].
te apresentam sintomatologia mínima
nistas. Ao mesmo tempo, os linfócitos T matológicas, além de lesões na cavidade Anticorpos específicos contra o FIV
[32].
CD8 aumentam gradativamente, resul- oral, como gengivites, es- tendem a permanecer al-
Seguida a fase inicial, os animais Geralmente, a
tando na inversão na taxa de linfócitos tomatites e periodontites tos por toda expectativa de
passam por períodos prolongados de soroconversão ocorre
TCD4+ / TCD8+, comprometendo [29]. Pode durar de seis vida do animal, e os níveis
infecção inaparente após desapareci-
meses a vários anos [27]. dentro de três a seis de anticorpos são seme-
toda a resposta T dependente do animal
mento dos sinais iniciais (fase assinto-
Animais na fase de semanas após a lhantes em gatos infecta-
infectado [28].
mática), podendo durar até cinco anos. AIDS (FAIDS) apresen- infecção. dos com sintomatologia ou
5. Manifestações clínicas Essa fase não implica latência do vírus, tam uma imunodeficiên- assintomáticos [36].
uma vez que ele pode ser isolado de cé- cia severa, com infecções secundárias Anticorpos presentes no colostro
As manifestações observadas são
numerosas e extremamente variáveis, lulas mononucleares (PBMC), plasma e generalizadas. Os gatos desenvolvem de gatas infectadas são rapidamente
podendo ser esporádicas ou persisten- saliva [33]. Animais infectados com ida- depleção linfoide, perda de peso, diar- absorvidos pelos filhotes, e tais anticor-
tes. O efeito principal da doença é a de- de igual ou superior a 10 anos de idade reia, hipertermia, desidratação, depres- pos adquiridos passivamente resultam
ficiência imune, levando permanecem nesta fase são e anorexia, e também alterações ne- no diagnóstico falso-positivo desses
às demais alterações clí- O efeito principal da por seis a 12 meses, en- oplásicas e neurológicas [27]. animais [22]. Os níveis de anticorpos
nicas [29]. Anormalida- doença é a deficiência quanto animais infecta- Geralmente, ao atingir o estágio de passivos declinam em dois a três meses
des hematológicas são imune, levando às dos ainda filhotes levam CRA e FAIDS, a expectativa de vida após o parto, a menos que o filhote tor-
comuns como: anemia, demais alterações muito mais tempo [32]. do animal é de menos de um ano [29]. ne-se infectado [23].
leucopenia, neutrope- clínicas. Alguns animais po- Gatos infectados pelo vírus da leucemia O FIV produz uma alteração signi-
nia, trombocitopenia e dem apresentar uma felina (FeLV) apresentam sinais seme- ficativa na produção de citocinas, a qual
linfopenia [30]. terceira fase de linfade- lhantes, no entanto a imunodeficiência pode contribuir para a disfunção imune
Como na infecção por HIV, as ma- nopatia generalizada persistente, com é mais complexa e grave quando compa- da infecção. As células mononucleares
nifestações clínicas da FIV podem ser aumento generalizado e duradouro de rada à imunodeficiência gerada pela in- dos animais infectados apresentam pro-
divididas em fases distintas [31]. linfonodos, hipertermia recorrente, fecção pelo FIV. Os sinais clínicos apre- dução de interleucina 2 (IL-2) deprimi-
O primeiro estágio da doença (fase anorexia e perda de peso [21]. Diferen- sentados por animais infectados pelo da, o que é acompanhado pelo aumento
aguda), que em alguns casos pode apre- te da infecção pelo HIV em humanos, FeLV, assim como em animais infecta- na produção de IL-1, IL-6 e fator de ne-
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Imunodeficiência viral felina 15
crose tumoral (TNFα) mais utilizados são os pode ser detectado após cinco dias da to nos domicílios como nos criatórios.
Gatos infectados pelo
[37]. ensaios imunoenzimáti- infecção [44]. No entanto, a PCR pode Identificação e segregação de animais
FIV são 1,5 a 4 vezes
Gatos infectados cos (ELISA), que geral- apresentar falhas na detecção de vírus infectados são considerados os méto-
mais susceptíveis à
pelo FIV são 1,5 a 4 ve- mente utilizam proteí- com variações genômicas dos mais efetivos para pre-
infecção pelo FeLV que
zes mais susceptíveis à nas virais p24 e p15 para [34,45,46], e a quantidade venir novas infecções. A
gatos FIV-negativo. Identificação e
infecção pelo FeLV que detectar anticorpos no de vírus no sangue é peque- castração é uma forma de
segregação de
gatos FIV-negativos, sangue, plasma ou soro na durante a fase assinto-
animais infectados reduzir a saída dos animais
assim como são mais acometidos pela [40]. Testes de imunofluorescência in- mática da doença, quando à rua e as brigas, evitando
são considerados
peritonite infecciosa felina (PIF), toxo- direta (IFI) também podem ser utiliza- grande parte dos exames é contato com animais er-
os métodos mais
plasmose e hemobartonelose [38]. dos, porém são menos específicos, além realizada [12]. rantes, principalmente em
efetivos para
de western blot (WB), que detectam machos [16].
7. Diagnóstico 8. Prevenção e prevenir novas
anticorpos contra proteínas virais indi- A utilização da vaci-
tratamento infecções
Várias anormalidades clínico-pato- viduais [41]. Existem kits baseados na nação tem como objetivo
lógicas podem ser observadas nos gatos cromatografia para detecção de anticor- Medidas de controle prevenir a infecção. Atu-
infectados, mas nenhuma é específica pos virais. da infecção devem ser empregadas tan- almente são produzidos diversos tipos
ou patognomônica da infecção. Portan- Soros de animais infectados pelo
to, o diagnóstico definitivo pode ser rea- FIV apresentam reação com o antíge- Quadro 1. Interpretação dos resultados obtidos na sorologia (ELISA ou IFI)
lizado por meio de diversos métodos de no p26 do vírus da anemia infecciosa para o diagnóstico do vírus da imunodeficiência felina.
diagnóstico como: isolamento do vírus, equina (AIE), indicando reação cruza- Idade Resultado Características Interpretação
testes imunológicos diretos e indiretos e da entre estas duas infecções nos testes Retestar após 4 a 6 sema-
testes moleculares. nas.
sorológicos [42]. A especificidade e a Manteve contato com outros
A viremia ocorre Se resultado permanecer
sensibilidade dos testes animais ou animal doente
negativo, animal não é
durante os primeiros O diagnóstico da doença sorológicos são satisfató- infectado
Negativo
dois meses de infecção, geralmente se baseia na rias, mas há relatos de re- Não manteve contato com
seguida por uma respos- detecção de anticorpos sultados falso-positivos
Menos de
outros animais e não ingeriu
12 semanas Animal não infectado
ta forte de anticorpos. no sangue periférico. e falso-negativos [41]. colostro de gata positiva,
Na fase crônica, a con- Como o vírus produz A detecção do vírus
animal saudável

centração de antígenos uma infecção persistente, em cultura de células e Nascido de mãe positiva ou Retestar após 6 semanas
felinos soropositivos são isolamento viral de lin- ingeriu colostro positivo de idade
virais não é suficiente Positivo
considerados infectados. fócitos é possível a partir Não ingeriu colostro de gata
para ser detectada [39]. positiva
Animal infectado
Desta forma, o diagnós- de 10 a 14 dias pós-in- Animal doente Animal infectado
tico da doença geralmente se baseia na fecção, porém não é prática para rotina Positivo Retestar após 6 a 8 sema-
Animal saudável
detecção de anticorpos no sangue pe- em diagnóstico [43]. Testes molecula- Mais de 12 nas
riférico. Como o vírus produz uma in- res, como a reação em cadeia da polime- semanas Animal doente ou exposto a Retestar após 6 a 8 sema-
fecção persistente, felinos soropositivos rase (PCR), podem ser utilizados para Negativo animais doentes nas
são considerados infectados [12,21]. detecção de ácidos nucleicos virais em Animal sem manifestações Animal não infectado
Os testes sorológicos (Quadro 1) células sanguíneas infectadas, e o vírus Fonte: Adaptado [47].
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Imunodeficiência viral felina 17
de vacinas, incluindo vacinas com vírus cação viral, pode trazer melhoras ao es- 2. PEDERSEN, N. C.; HO, E. W.; BROWN, 10. PECON-SLATTERY, J.; TROYER, J. L.;
inativado, proteínas recombinantes e de tado imunológico e clínico dos animais, M. L. et al. Isolation of a T-lymphotropic JOHNSON, W. E.; O’BRIEN, S. J. Evolu-
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18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Imunodeficiência viral felina 19
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Leucemia viral felina


Gissandra Farias Braz1 Desde então, felinos passaram a ser um
Daniela de Souza Rajão1
Helen Lima Del Puerto2
importante modelo animal para o estu-
Nadia Rossi de Almeida3 do da carcinogênese em humanos. Des-
Carlos Mazur3 ta forma, estudos sobre a doença são
importantes para elucidar mecanismos
1. Introdução envolvidos no desenvolvimento de tu-
A leucemia viral felina é uma doen- mores e síndromes imunossupressoras,
ça crônica, de caráter proliferativo ou tanto na medicina veterinária quanto na
degenerativo, também associada à ane- medicina humana.
mia e à imunossupressão, resultando na
maior susceptibilidade do hospedeiro a 1
Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal, Es-
infecções oportunistas. cola de Veterinária/UFMG.
Sua descoberta em 1964, por 2
Bióloga, Mestre, Doutora, ICB/UFMG.
Willian Jarrett e colaboradores, em um
3
Médica Veterinária, Mestre em Microbiologia Vete-
rinária, Instituto de Veterinária/UFRRJ
grupo de gatos com linfoma, foi um 4
Professor Associado, Médico Veterinário, Universi-
ponto decisivo para a oncologia viral. dade Federal Rural do Rio de Janeiro.
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucemia viral felina 23
2. Etiologia dos podem apresentar FeLV-A isolada- a infecção. Geralmente os machos são mucosas epiteliais da bexiga e do intes-
A doença é causada pelo vírus da mente ou em associações com um ou mais afetados que as fêmeas em virtude tino, porém sua infectividade é pouco
leucemia felina (FeLV), um gammare- mais subgrupos, cuja patogenicidade é de seu comportamento errante. Machos preservada na urina e nas fezes [3].
trovirus que acomete gatos domésticos e maior [3]. castrados são menos acometidos que A transmissão iatrogênica pode
selvagens [1]. gatos não castrados, devido ao com- ocorrer por meio de agulhas, fômites
3. Epidemiologia portamento menos agressivo e a menor ou transfusão sanguínea. Mas o vírus
O FeLV é um vírus exógeno e pos-
sui quatro subgrupos, denominados A, procura por fêmeas. A faixa etária mais é rapidamente inativado no ambiente,
B, C e T, que são diferenciados geneti- 3.1. Distribuição acometida é entre um e cinco anos, e a portanto a transmissão indireta é menos
camente pela variação das sequências resistência à infecção é adquirida com frequente, sendo necessário o contato
A doença está distribuída mundial- aumento da idade e maturidade do sis-
de aminoácidos das glicoproteínas de mente e a prevalência varia de acordo íntimo entre os animais [17].
tema imune do animal [13].
superfície e funcionalmente pela inte- com diversos fatores, como a distribui- A transmissão vertical pode ocorrer
ração com receptores celulares distintos ção geográfica, o acesso à rua, a densida- de mães virêmicas para seus filhotes,
do hospedeiro [2,3]. As
3.2. Cadeia epidemiológica
de elevada de gatos e o status por via transplacentária, ou após o nas-
variações nas proteínas Gatos infectados sanitário destes. As taxas de cimento, por lambedura ou aleitamento,
3.2.1. Espécies susceptíveis
de superfície resultam em podem apresentar infecção variam de cerca de já que o vírus pode infectar a glândula
diferenças de tropismo, FeLV-A 1% em gatos domésticos O vírus da leucemia felina infecta mamária. Quando a infecção ocorre du-
incluindo medula óssea, isoladamente ou em criados isoladamente, até principalmente gatos domésticos [1], rante a gestação, pode ocorrer reabsor-
glândulas salivares e epi- associações com um índices superiores a 30% em havendo alguns relatos em felinos selva- ção fetal, aborto ou morte neonatal, em-
télio respiratório, e dife- ou mais subgrupos, animais mantidos em gatis gens [14,15]. bora cerca de 25% dos neonatos possam
renças na patogenia entre cuja patogenicidade [8,9]. sobreviver e tornar-se persistentemente
é maior . 3.2.2. Transmissão
isolados de campo [4,5]. No Brasil, em estudos infectados [1].
O subgrupo FeLV-A realizados nos estados do A principal via de infecção é a oro- Os fatores que conferem resistência
é encontrado em todos os gatos infec- Rio de Janeiro e São Paulo, as taxas de nasal, por meio de secre- ou suscetibilidade à infec-
tados e é altamente contagioso, porém infecção foram de 17,46% e 12,6%, res- ções nasais e saliva conten- A principal via ção não são totalmente co-
possui baixa patogenicidade e está as- pectivamente [10,11]. Em Minas Ge- do altas concentrações do de infecção é a nhecidos, apesar de alguns
sociado à indução de linfoma mediastí- rais, foi observada uma ocorrência de vírus [16]. Embora a saliva oronasal, por meio autores considerarem que
nico [6,7]. Os subgrupos 32,5% [12]. de gatos virêmicos conte- de secreções nasais animais jovens são mais
FeLV-B, C e T, associados Geralmente os A prevalência é maior em nha grande quantidade de e saliva contendo susceptíveis [19].
à ocorrência de linfoma, machos são mais locais com alta densidade vírus, é necessário contato altas concentrações
anemia e imunodeficiên- afetados que populacional, como os abri- frequente e prolongado en- do vírus . 4. Patogenia
cia, respectivamente, não as fêmeas em gos, gatis e residências com tre os animais para ocorrer Após a infecção oro-
são transmissíveis, mas se virtude de seu muitos gatos onde ocorre transmissão, como pelo uso comum de nasal, o vírus se replica em linfócitos e
originam em animais in- comportamento um contato prolongado e recipientes. O vírus também pode ser monócitos nas tonsilas e nos linfonodos
fectados pelo FeLV-A, por errante. íntimo entre os animais, o transmitido por secreções lacrimais, regionais, fase chamada de infecção agu-
meio de mutação, inserção que facilita a disseminação leite, placenta, urina, fezes e pela in- da. Dois a 12 dias após a infecção, o ví-
ou recombinação com genes celulares do vírus. O acesso dos animais à rua é gestão de água e comida contaminadas rus infecta linfócitos e monócitos circu-
ou FeLV-endógenos [6]. Gatos infecta- o fator de risco mais importante para [17,18]. O vírus pode se replicar nas lantes, que atingem órgãos linfoides. Em
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucemia viral felina 25
Fonte das figuras 1 a 7 fotos: Dra Nadia Rossi de Almeida e Prof Dr Carlos Mazur

Figura 1. Gato FeLV positivo coinfectado Figura 5. Felino FeLV positivo apresentando


com herpervirus felino, apresentando con- desidratação e perda de peso (soroterapia).
juntivite com secreção ocular.

Figura 6. Felino FeLV positivo anêmico


recebendo transfusão de sangue.

Figura 2. Gato FIV e FeLV positivo apresen-


tando emagrecimento progressivo.
infectados), a viremia termina dentro de
três a seis semanas (máximo 16 sema-
nas) e ocorre eliminação viral, resultado
da imunidade protetora do animal; iv)
infecção atípica (cerca de 5 a 10% dos
animais infectados), quando a replica-
ção viral é local (ex.: glândula mamária,
Figura 3. Gato FeLV positivo coinfectado Figura 7. FeLV positivo apresentando feri- bexiga e olhos) [3,20].
com Mycoplasma haemofelis, apresentan- das e abcessos que não cicatrizavam A infecção pelo FeLV pode resultar
do icterícia.
em morte rápida ou em uma doença
seguida, ocorre a infecção da medula de 30% dos animais infectados), ocor- breve após a viremia (quatro a oito se-
óssea e a replicação em leucócitos, que Figura 4. Felino FeLV positivo anêmico re quando a integração do provírus manas). Entretanto, em muitos gatos, o
irão disseminar o vírus para todo o orga- apresentando prostração em células da medula óssea resulta em aparecimento de manifestações clínicas
nismo. No último estágio, o vírus atin- infecção latente sem replicação viral e requer meses, e comumente anos, de re-
ge tecidos epiteliais sistêmicos, como infecção progressiva (cerca de 30% dos quando animais imunocompetentes são plicação viral [3].
glândulas lacrimais e salivares, bexiga, animais infectados), ocorre com a re- capazes de debelar a infecção pela ação O FeLV é um oncovírus que causa
tornando o animal capaz de disseminar plicação do vírus em gatos não imuni- de anticorpos neutralizantes. O vírus la- diferentes tumores em gatos, como lin-
o FeLV [13,16]. zados, resultando em viremia, excreção tente pode ser reativado em situações de foma e leucemia. O mecanismo pelo
A dinâmica da relação do FeLV com viral e doença proliferativa ou degenera- estresse e queda da capacidade imuno- qual o vírus pode levar à malignidade
o hospedeiro pode ser dividida em qua- tiva FeLV-relacionadas; ii) infecção au- lógica do hospedeiro; iii) viremia tran- é explicado pela inserção de seu geno-
tro categorias: i) viremia persistente / tolimitante / infecção regressiva (cerca sitória (cerca de 30 a 40% dos animais ma no genoma da célula hospedeira,
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucemia viral felina 27
próximo a um oncogene celular (ge- tes de efeitos do próprio vírus ou de in- pela ação do vírus, como neuropatia periférica,
A imunodeficiência é
ralmente myc), levando à ativação des- fecções oportunistas. Dentre as doenças levando à mielos- anisocória, midríases, sín-
a forma mais comum
se gene, o que resulta na proliferação relacionadas ao FeLV estão as prolife- supressão com con- drome de Horner, inconti-
de apresentação clínica
descontrolada daquela célula. A célula rativas (linfoma), desordens miolopro- sequente anemia, nência urinária, vocalização
nos animais infectados
transformada passa a apresentar em sua liferativas (leucemia), fibrossarcoma, neutropenia, trom- anormal, hiperestesia e para-
e é resultante de uma
superfície o antígeno de imunodeficiência, mie- bocitopenia com lisia [23].
O FeLV é um oncovírus disfunção imunológica e
membrana oncovírus lossupressão (anemia e disfunção plaque-
que causa diferentes depleção linfoide. 6. Resposta imune
felino (FOCMA), que síndromes leucopêni- tária e anemia aplá-
pode estar associado à tumores em gatos, como cas), enteropatias, sín- sica (pancitopenia) O curso da doença no
imunodeficiência, devi- linfoma e leucemia. dromes neurológicas e [16]. gato exposto ao FeLV depende da res-
do à depleção das células infertilidade (reabsorção A imunodeficiência é a forma mais posta imune ao vírus e aos antígenos
linfoides infectadas, provavelmente pela fetal) [13,16]. comum de apresentação clínica nos ani- virais [24]. A maioria dos animais in-
ação citotóxica mediada por anticorpos Síndromes mieloproliferativas são mais infectados e é resultante de uma fectados desenvolve anticorpos neu-
(ADCC) [5]. caracterizadas pela proliferação e dife- disfunção imunológica e depleção lin- tralizantes contra as glicoproteínas do
A patogenia da infecção pelo vírus é renciação de células hematopoiéticas foide. O animal se torna, então, mais envelope viral, capazes de prevenir ou
dependente da dinâmica entre fatores vi- na medula óssea, resultando em mielofi- susceptível a infecções secundárias, po- limitar a viremia. No entanto, alguns
rais e relacionados ao hospedeiro, como, brose, leucemia mielogênica e eritroleu- dendo apresentar sinais como estomati- gatos montam uma resposta insuficien-
por exemplo, a quantidade de vírus ino- cemia. A leucemia (mieloide, eritroide te, gengivite, lesões de pele e abcessos, te e se tornam cronicamente virêmicos,
culada, o subgrupo do vírus envolvido, ou megacariocítica) é uma manifestação enterite, afecções respiratórias, perda de susceptíveis ao desenvolvimento da do-
a idade do animal acometido, doenças incomum na infecção pelo FeLV e está peso e diarreia persistente, leucopenia e ença [25].
concomitantes, a imunidade do animal relacionada com letargia, anemia, sinais variáveis graus de anemia, que podem A presença de altos títulos de anti-
e as condições ambientais. de sepse com granulocitopenia, hemor- ser agravadas pela infecção concomitan- corpos contra o antígeno de superfície
ragia com trombocitopenia, hepato e te com poxvirus, Mycoplasma haemofe- FOCMA é capaz de pro-
5. Manifestações clínicas esplenomegalia [3]. O desenvolvimen- lis ou Cryptococcus spp. teger contra o desenvolvi-
Os aspectos clínicos são variáveis e to de linfomas (tímicos mediastínicos, [5,16,19]. Atrofias tími- O curso da doença mento de tumores causa-
estão associados a tumores, síndromes multicêntricos, digestivos alimentares cas resultantes da infec- no gato exposto ao dos pelo FeLV [13,24].
de supressão medular, imunossupres- ou linfáticos extra-nodais) é comum ção em filhotes podem FeLV depende da Os animais imuno-
são, doenças imunomediadas e outras após longo período de infecção, e pode causar imunodeficiência resposta imune ao competentes desenvol-
síndromes. Anemia é comum nos gatos provocar alterações que dependem do [22]. vírus e aos antígenos vem respostas imuno-
infectados, geralmente órgão afetado, como Enterite crônica com virais. A maioria dos lógicas variadas contra
do tipo não regenerati- Os aspectos clínicos são efusões corpóreas, degeneração do epitélio animais infectados os antígenos do FeLV.
va severa [13]. variáveis e estão associados anemia, anorexia, dis- intestinal e necrose das desenvolve anticorpos Alguns gatos podem
A doença é resul- a tumores, síndromes função renal ou intes- criptas tem sido corre- neutralizantes contra apresentar resposta imu-
tante de diversas sín- de supressão medular, tinal [20,21]. lacionada com a infec- as glicoproteínas do ne efetiva e são capazes
dromes neoplásicas e imunossupressão, doenças O sistema hema- ção de FeLV. Também envelope viral, capazes de eliminar totalmente
não neoplásicas, que imunomediadas e outras topoiético também podem ser observadas de prevenir ou limitar a o vírus, mas alguns an-
podem ser decorren- síndromes. pode ser suprimido doenças neurológicas, viremia. ticorpos podem não ser
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucemia viral felina 29
neutralizantes e levar à deposição de Existem kits comerciais de testes Quadro 1. Interpretação dos resultados obtidos na sorologia (ELISA ou IFA)
imunocomplexos nos glomérulos re- imunocromatográficos que fornecem o para o diagnóstico do vírus da leucemia felina.
nais, resultando em outras doenças liga- resultado em poucos minutos, porém
das à infecção de FeLV, como glomeru- estes testes sorológicos apresentam cus- Resulta- Características Interpretação
Idade
lonefrites e poliartrites [13,23]. to elevado. O isolamento viral é pouco do
A infecção pelo FeLV potencializa a utilizado por ser trabalhoso e demo- Manteve contato com Retestar após 4 a 6 semanas
infecção pelo vírus da imunodeficiência rado, embora possa atuar como teste outros animais ou animal Caso resultado permanecer nega-
confirmatório por meio da detecção de doente tivo, animal não é infectado
felina (FIV), levando ao rápido declínio Negativo
Não manteve contato
do sistema imune e a sinais precoces da antígenos virais em células do sangue
com outros animais, ani- Animal não infectado
doença [26]. periférico [5]. Testes moleculares para
Menos de mal saudável
detecção do DNA proviral nos animais 12 sema-
7. Diagnóstico infectados, como a reação em cadeia da nas
O diagnóstico da infecção baseia- polimerase (PCR), vêm sendo adapta- Mesmo que tenha in-
se no histórico clínico e na detecção da dos para o diagnóstico, mas ainda não Positivo gerido colostro de gata Animal infectado
proteína do nucleocapsídeo do FeLV estão padronizados [29]. A PCR positi- positiva
(p27) nos leucócitos, plasma, soro, sa- va para o FeLV indica presença do DNA
liva ou lágrima dos animais suspeitos, proviral exógeno, porém não necessa-
Animal doente Animal infectado
sendo que os dois últimos possuem riamente pode ser utilizada como diag- Positivo
Animal saudável Retestar após 6 a 8 semanas
menor sensibilidade e es- nóstico para a viremia.
Mais de 12 Animal doente ou exposto
pecificidade [27]. Como O diagnóstico da Entretanto, a RT-PCR semanas a animais doentes
Retestar após 6 a 8 semanas
estas técnicas não de- infecção baseia-se no detecta a presença do Negativo
Animal sem manifesta-
tectam anticorpos, não histórico clínico e na RNA viral e informa o ções
Animal não infectado

existe interferência dos detecção da proteína do desenvolvimento de vi- Fonte: Adaptado [1].
anticorpos maternos ou nucleocapsídeo do FeLV remia nos animais infec-
vacinais. Os métodos de nos leucócitos, plasma, tados [28].
é sensível à maioria dos desinfetantes, poníveis comercialmente, assim como
diagnósticos mais uti- soro, saliva ou lágrima Testes de diagnósti- a lavagem e desinfecção do ambiente, as vacinas recombinantes contendo pro-
lizados para a detecção dos animais suspeitos co devem ser realizados dos acessórios e recipientes de micção teínas virais expressas em sistemas hete-
do vírus são o teste de em animais doentes, ani- e defecação são medidas que ajudam no rólogos. A imunização dos animais com
imunofluorescência indireta (IFA) em mais que serão introduzidos em criató- controle. Além disso, sempre proporcio- vacinas inativadas pode reduzir em 70%
rios, gatos com diagnóstico desconheci- nar bem-estar ao animal, a incidência da doença,
esfregaços sanguíneos, utilizando anti-
do e animais expostos ou sob alto risco
corpos específicos para as proteínas do evitando situações de O diagnóstico de principalmente em gru-
de infecção [1].
capsídeo; e o ensaio imunoenzimático estresse, pode prolongar animais infectados, pos de risco em que não
(ELISA) [22]. O IFA tem a capacidade 8. Prevenção e tratamento sua vida média [30]. isolando-os e impedindo é possível isolar animais
de detectar antígenos estruturais como O diagnóstico de animais infecta-
Vacinas preparadas seu contato com infectados de sadios ou
a p27 e a p55 que estão presentes nos dos, isolando-os e impedindo seu con-
com vírus completo inati- animais susceptíveis é impedir o acesso à rua
vados obtidos a partir de a forma mais efetiva de [5].
leucócitos infectados, o que só é possí- tato com animais susceptíveis é a forma
vel após a viremia (Quadro 1) [4,28]. mais efetiva de controle. Como o vírus
cultivos celulares são dis- controle. O tratamento sinto-
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucemia viral felina 31
mático e contra as infecções secundárias exemplos de inibidores da RT são sura- Vet. Immunol. Immunopathol., v.123, p.14- 124, 1999.
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Nelson Rodrigo da Silva Martins2*
nas internas e comuns ao gênero [1, 2,
Med. Assoc., v.199, p.1470-1473, 1991.
3, 4].
1. Introdução O retrovírus mais comum identi-
O complexo leucose/sarcoma das ficado em doenças neoplásicas de gali-
aves é um termo genérico utilizado para nhas é o vírus da leucoselinfoide aviária
designar uma grande variedade de tu- (ALV). Além de ser responsável pelo
mores benignos e malignos em espécies desenvolvimento de tumores nos ová-
de aves, causados por diversos vírus da rios, rins, testículos, fígado, pâncreas e
Família Retroviridae, capazes de induzir sistema nervoso, pode causar impacto
neoplasias em células das séries eritroi- negativo sobre a produção, eclosão e
de, linfoide e mieloide. Alguns Alphare- peso de ovos, ganho genético e morta-
trovírus aviários também podem causar lidade aviária. Este vírus pode estar pre-
transformação em outros tecidos (sar- sente em diferentes populações de aves
coma, fibrossarcoma, nefroblastoma, 1
Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal, ,
osteossarcoma, hemangioma, etc.). Em- DMVP, Escola de Veterinária/UFMG. amandaso-
rianovet@yahoo.com.br
bora com grande diversidade nas prote- 2
Professor Associado, Médico Veterinário, Mestre e
ínas associadas ao envelope, que resulta Doutor, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG.
em grande número de subtipos do vírus, *autor para correspondência: nrsmart@gmail.com
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 35
que apresentem ou não sinais da doen- dicados da genética industrial. ao genoma de células responsável pela transcri-
Evidências sugerem
ça, com plantéis apresentando redução germinativas de aves nor- ção reversa do RNA viral
que o subgrupo
no desempenho ou tumores, com inter- 2. Etiologia mais, sendo transmitidos em DNA;
J surgiu como
ferência negativa em sua produtividade. Os vírus do complexo leucose/ geneticamente para am- • Gag: gene que codifica
resultado de uma
Fatores relacionados ao manejo e doen- sarcoma das aves (ALV) estão clas- bos os sexos. para proteínas do nucleo-
recombinação
ças concomitantes podem influenciar sificados no gênero Alpharetrovirus, Evidências sugerem capsídeo viral. A proteína
gênica entre outro
nas características de produção de lotes na família Retroviridae [2, 3, 4, 5, que o subgrupo J surgiu p27 é comum a todos os
subgrupo exógeno e
infectados [1, 2, 3]. 6]. Estão descritos dez subgrupos, A, como resultado de uma sequências genéticas subgrupos de retrovírus
O primeiro relato da doença foi B, C, D, E, F, G, H, I e J, com base recombinação gênica aviário, sendo antígeno
do subgrupo E
descrito em 1868 por Roloff, porém foi em diferenças nas glicoproteínas entre outro subgrupo grupo específico. Alguns
endógeno
em 1910 Francis Peyton Rous (1879- do envelope viral. O envelope viral exógeno e sequências
kits comerciais de diagnós-
1970), em trabalho agraciado com prê- contém alto conteúdo lipídico, sen- tico (ELISA de captura)
genéticas do subgrupo E
mio Nobel em fisiologia e do que o vírus perde sua detectam a p27, permitindo o diag-
Francis Peyton endógeno [4,5]. O subgrupo J apre-
medicina, demonstrou sua infectividadequando ex- nóstico de leucose aviária,embora sem
Rous (1879- senta frequentes mutações, resultan- a caracterização do subtipo viral.
etiologia viral [2,3, 4]. Vá- posto ao éter, clorofórmio
1970), em do em variações antigênicas associa-
rios subgrupos do vírus fo- e detergentes. Os vírions
trabalho das com mudanças no envelope viral,
ram descritos ao longo des-
agraciado com são estáveis à temperatura que faz com que o vírus usualmente 3. Epidemiologia
tes cem anos, mas foram os ambiente (22°C) quando
prêmio Nobel escape da neutralização por anticor-
subgrupos A e B os respon- submetidos ao intervalo
em fisiologia pos. O protótipo do grupo é a estirpe 3.1. Hospedeiros naturais
sáveis por grandes perdas de pHentre cinco e nove,
e medicina, HPRS-103 [4].
por leucose linfoide nas dé- embora nesta faixa sejam As galinhas são hospedeiros natu-
demonstrou sua Os subgrupos exógenos do ALV
cadas de 70 e 80, em linha- rais dos vírus, mas estes já foram iso-
etiologia viral em inativados em algumas ho- possuem os três genes característicos
gens de postura. Programas lados de faisões, perdizes e codornas.
1910. ras a 37ºC. dos retrovírus:
de erradicação implantados Segundo os mecanis- Algumas linhagens de galinhas são mais
• Env: gene que codifica para proteínas
contra esses dois subgrupos mos naturais de transmis- susceptíveis aos subgrupos A a E que
do envelope viral. A glicoproteína
foram bem-sucedidos, diminuindo o são, os vírus relacionados à leucemia gp85 é distinta antigenicamente entre outras, porém não há diferença na sus-
impacto da leucose na avicultura indus- aviária podem ser assim classifica- os vários subgrupos virais. Também ceptibilidade ao subgrupo J. Linhagens
trial naquelas décadas. dos: codifica a proteína integrase, responsá- de corte são mais susceptíveis a tumores
Em 1989, Payne e colaboradores • Vírus exógenos: subgrupos A, B, vel pela ligação do vírus aos recepto- que poedeiras comerciais.Imunossu-
[4] identificaram um novo subgrupo de C, D, F, G, H, I e J. Induzem uma res da célula hospedeira. As proteínas pressão e/ou estresse podem aumentar
retrovírus associado a tumores em aves. variedade de tumores, sendo trans- codificadas por este gene induzem à a susceptibilidade das aves aos tumores.
Diferente dos subtipos A, B, C, D e Eaté mitidos como partículas virais in- produção de anticorpos neutralizan- Seres humanos não são susceptíveis à
então isolados, o novo subgrupo, deno- fecciosas, de ave para ave ou con- tes em aves imunocompetentes.Os infecção pelos vírus relacionados à leu-
minado J, foi isolado de um tumor mie- genitamente, da galinha para sua ALVendógenos (subgrupo E) são de- cose aviária nem às frações genômicas e
loide, e não linfoide, em reprodutoras progênie por meio do ovo. fectivos no gene Env; proteicas encontradas em vacinas vivas
pesadas.Hoje, tanto os subgrupos A, B, • Vírus endógenos: subgrupo E. Rara- • Pol: gene que codifica para produção produzidas em ovos e células de gali-
C, D e E como o subgrupo J estãoerra- mente oncogênicos, estão integrados de transcriptase reversa, que é a enzima nhas [7, 8].
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 37
3.2. Transmissão pos contra o ALV. Estas aves são virêmi-
Vírus exógeno Vírus
cas vitalíciase transmitem o vírus para
A transmissão dos ví- sua progênie e para aves em
horizontal endógeno
rus exógenos (Figura1) se convívio [2, 7]. Elas também
dá via vertical, congenita- Francis Peyton ou Vírus
Rous (1879- são mais susceptíveis ao de-
mente, do reprodutor ma- senvolvimento de tumores
infectante Viremia transiente;
cho e fêmea infectados, ou 1970), em desenvolve imunidade
trabalho que as aves infectadas via para ALV exógeno; Genética
horizontal,por ambiente, Vírus exógeno
agraciado com horizontal, considerando-se vertical (congênito)
leucose infóide rara
fômites e contato com ave que a doença tumoral está
infectada. Na transmissão prêmio Nobel DNA viral integrado
ao DNA dos
em fisiologia principalmente associada à ou
horizontal, as vias de eli- infecção embrionária. Galos
Vírus ovo semen gametas

minação do vírus podem e medicina, infectante


demonstrou sua virêmicos(ALV exógenos) e
ser secreções e excreções não virêmicos (ALV endó-
de aves infectadas, embora etiologia viral em genos) podem infectar gali- Viremia crônica; imunotolerância para Vírus completo ou algumas proteínas expressas;
a infecção indireta não seja 1910. ALV exógeno; leucose linfóide comum imonotolerância para ALV endógeno; leucose
nhas por meio do sêmen.A linfóide muito rara
relevante, já que a partícula transmissão genética de
viral não é estável por muito tempo no ALV endógenos ocorre em reproduto- Figura 1. Transmissão vertical e horizontal dos vírus exógenos e genética dos vírus endóge-
ambiente. Uma importante via de trans- res com provírus integrado aos gametas nos da leucose linfóide aviária (ALV). (Fadly e Payne, 2003).
missão é o mecônio de pintos de um dia (Figura1). Em aves adultas

Fonte das figuras 1 a 2 fotos: Prof Dr Nelson Rodrigo Martins


que foram infectados con- infectadas via horizontal, há
genitamente [2, 7]. A trans- A doença viremia transiente e geração
missão inicia-se na câmara tumoral está de resposta imune, com a
de eclosão (nascedouro), principalmente formação de anticorpos neu-
pois nele há altas concentra- associada tralizantes. A leucose linfoi-
ções do vírus. Na transmis- à infecção de tem sido mais descrita em
são vertical, há passagem embrionária. fêmeas (poedeiras) que em
de uma grande quantidade machos, tendo em vista os
de vírus do oviduto da ga- grandes plantéis de fêmeas para a pro- Figura 2. Tumores em galinha com leucose linfóide. A. Tumor na bursa de Fabricius (seta).
B. Tumores arredondados na face serosa do intestino delgado
linha para o albúmen do ovo, e deste, dução de ovos, e, geralmente, não ocor-
finalmente, para o embrião em desen- re antes da maturidade sexual [2, 7].
volvimento. Na infecção embrionária, infectados por vírus exógenos, prin- cubação da doença,com a formação de
os antígenos do ALV são apresentados 4. Patogenia cipalmente dos subgrupos A e B, que, tumores de impacto clínico, pode ser de
ao sistema imune em desenvolvimen- em infecções embrionárias ou desafio 14 a 30 semanas, efeitosque geralmente
to, gerando uma condição de tolerância logo após a eclosão, podem ser transfor- não emergemantes de quatro meses de
Leucose linfoide
imunológica, em que o vírus é reconhe- mados e resultar em tumores linfoides. idade. As infiltraçõesdos linfoblastos B
cido como próprio. Não há, nas aves in- Na leucose linfoide, também de- Na bursa embrionária há replicação em tumorais provocam aumento de volume
fectadas verticalmente, resposta imune, nominada linfomatose visceral, os lin- linfoblastosB, e a distinção entre córtex do órgão, o que ocorreprincipalmente
representada, por exemplo, poranticor- foblastos B da bursa de Fabricius são e medula é perdida. O período de in- no fígado. A doença se torna generali-
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 39
zada, e outros órgãos, como baço, rins, ralmente acometidas. O período de visíveis ou palpáveis na cabeça, tórax e guido de caracterização microscópica
ováriose intestinos (Figura2),são aco- incubação e o curso da leucosemieloi- membros. Outros tumores sólidos po- (histopatológica). As lesões devem
metidos. O curso da doença é de quatro de são variáveis. Pode ocorrer osteo- dem ser evidenciados ou não, depen- ser compatíveis com a doença, mas a
meses ou mais [1, 2, 3, 7]. petrose em ossos longos e da pelve. dendo da sua localização [1, 2, 7]. confirmação do diagnóstico deve ser
feita por meio da identificação viral
Leucose mieloide 5. Manifestações clínicas 6. Diagnóstico [1, 2, 13].
Não há sinais clínicos específicos Nos plantéis reprodutores, é indis- • Leucose linfoide. No exame macroscó-
As células de origem mieloide nas leucoses aviárias, embora estejam pensável que o diagnóstico da leuco- pico, observa-se aumento hepático,
(medula óssea),monócitos, heteró- geralmente descritass ina- se aviária seja feito com metodologia podendo apresentar tumores nodula-
filos, basófilos e eosinó- petência, caquexia, letargia, de alta sensibilidade e es- res de cerca de 5cm de di-
filos são alvo do vírus As células
fraqueza geral, desidratação pecificidade, para que as Para a geração âmetro, de coloração bran-
exógeno do subgrupo J, de origem
e diarreia. A crista pode es- aves infectadas possam ser de plantéis co-amarelada. Tumorações
produzindo tumores mie- mieloide(medula
reprodutores
loides. As leucosesmie- óssea),monócitos, tar pálida e murcha, muitas identificadas e removidas, na bursa de Fabricius são
vezes apresentando-se cia- durante a implantação de livres, cada ave comuns. Outros órgãos
loides podem ser assim heterófilos,
nótica [1,2]. um programa de controle e reprodutora macho como baço, rins, pulmões,
classificadas [1,2, 9]: basófilos e
O desempenho das re- erradicação dessa doença. e fêmea deve ser timo, medula óssea e me-
• mieloblastose. Há trans- eosinófilos são alvo produtoras pesadas pode Entretanto, há poucos labo- testada por swab
formação e proliferação do vírus exógeno sentérios podem também
estar comprometido devido ratórios capacitados para o cloacal. Das aves
de células mieloides ima- do subgrupo apresentar tumorações.
à imunodepressão e conse- diagnóstico molecular. Para negativas, cada
turas na medula óssea, J, produzindo Na microscopia (histo-
ovo produzido
tornando-se rapidamente tumores mieloides. quentes infecções secundá- a geração de plantéis repro-
patologia), encontram-se
rias. Infecções subclínicas dutores livres, cada ave re- deve ser testado
uma leucemia grave. Há por amostragem infiltração difusa ou miliar
em poedeiras podem ser produtora macho e fêmea
acúmulo de células tumorais no fíga- deve ser testada por swab da albumina de linfoblastos e grandes
causa de atraso na maturidade sexual, re-
do, baço e outros órgãos. Este tipo de cloacal. Das aves negativas, (clara), e somente linfócitos com citoplasma
leucose é raro e acomete aves adultas; dução da espessura da casca, produção,
cada ovo produzido deve ser os negativos abundante e basofílico, nú-
• mielocitomatose. Há transformação peso corporal, fertilidade e eclodibilida- testado por amostragem da incubados. cleo grande apresentando
e proliferação de células-tronco da de dos ovos [10]. Na leucose linfoide, o albumina (clara), e somente cromatina característica e
linhagem macrofágica- fígado está geralmente mui- um ou dois nucléolos pro-
os negativos incubados [11, 12].
na medula óssea,com Na leucose linfoide, to aumentado e a bursa de É difícil a realização do diagnóstico eminentes.
extensão da lesão para o o fígado está Fabrícius está persistente,
clínico, tendo em vista a ausência de sin- • Leucose mieloide. No exame macros-
osso e periósteo, dissemi- geralmente muito além da idade fisiológica, cópico, há tumores de cor branco-
tomatologia específica. Em casos avan-
nando-se pela superfície, aumentado e a em consequência do pro- amarelada, de aspecto cremoso na
çados da doença, os tumores podem ser
particularmente de jun- bursa de Fabrícius cesso tumoral [Fig. 2]. Na superfície de ossos do tórax e pelve,
visíveis ou palpáveis.
ções osteocondrais, cos- está persistente, mieloblastose, alterações no principalmente. Podem ser encon-
telas, esterno, vértebras além da idade hemograma, como anemia tradas infiltrações em outros órgãos.
fisiológica, em Histopatologia
e pélvis, podendo causar e trombocitopenia, são fre- Àmicroscopia, observam-se mielóci-
metástases em vísceras. consequência do quentes. Na mielocitoma- Deve ser feita a caracterização do tos imaturos com grânulos citoplas-
Aves jovens são mais ge- processo tumoral. tose, tumores nos ossos são tumor, com exame macroscópico se- máticos eosinofílicos esféricos.
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 41
Há a necessidade de em todos os subgrupos, não [15, 16]. lidade e à diversidade do
Há a necessidade Desde que se
diagnóstico diferencial en- fazendo subtipagem [2]. Atualmente, em plan- ALV, a melhor estratégia
de diagnóstico implantou a
tre a leucose linfoide ea do- téis elite, na produção de tem sido a erradicação do
diferencial entre vacinação de
ença de Marek, por serem Isolamento viral bisavós e avós e em pro- vírus dos reprodutores,
a leucose linfoide pintos de um dia
ambasdoenças tumoraislin- gramas de erradicação, os plantéis de elite, bisavós,
ea doença de Para o diagnóstico es- contra a doença
foides. Os órgãos recomen- embriões que serão repro- avós e matrizes. O manejo
Marek, por serem pecífico de vírus exógenos de Marek, houve
dados para a histopatologia dutores são testados por de planteis reprodutores
ambasdoenças de amostras de tumores, um importante
que permitem diferenciação RT-PCR. Uma amostra de deve assegurar a manu-
tumoraislinfoides. soro, swabs cloacais e vagi- redução nos casos
são a bolsa cloacal, proven- albumina de todos os ovos tenção do status de livre,
nais utilizando para isto o de leucose. Isto se
trículo, nervos periféricos incubáveisé submetida à com medidas preventivas
explica porque, ao
e fragmentos de tumores, colhidos em cultivo de fibroblastos do fenótipo C/E, RT-PCR para o gene que e boas práticas de mane-
se prevenir contra
formol 10% em PBS. O diagnóstico de- que é uma cultura de células de embri- codifica a p27, método uni- jo, para minimizar o risco
esta enfermidade
finitivo deve permitir a detecção do ge- ões resistentes ao subgrupo E do ALV. versal, e/ou gp85,um mé- de infecção e impacto da
(doença de
noma viral ou proviral (PCR, RT-PCR Como não há efeito citopático, exceto todo para cada subtipo, e os doença na produção [1, 2,
Marek), o timo
ou hibridização in situ) ou revelação das para o sarcoma de Rous, é necessária positivos são eliminados. 9]. Sendo importante:
é protegido,
proteínas virais por imunoistoquímica. a detecção dos antígenos virais, por • Separar as aves de dife-
7. Controle e mantendo a
Há possibilidade da diferenciação his- imunofluorescência, imunoperoxidase, rentes origens;
profilaxia imunidade celular
tológica entre alguns tumores, sendo na ELISA dos sobrenadantes para p27, ou • Separar asaves de dife-
protetora contra
leucose linfoide linfoblastos B, com IgM hibridização de DNA in situ [2]. Não há vacinas ou rentes idades;
ALV regida por
de superfície e linfoblastos T em doen- tratamento empregáveis • Reduzir o estresse e
Sorologia este órgão.
ça de Marek. Nas leucoses eritroides, as contra a leucose aviária assegurar conforto ambien-
células transformadas são eritroblastos, Um teste comercial (kit) de ELISA na indústria avícola. Des- tal;
nas leucoses mieloides, mieloblastos,
para detecção da glicoproteína gp85 de que se implantou a vacinação de • Proporcionar adequado programa de
na mielocitomatose, mielócitos, nos pintos de um dia contra a doença de vacinação contra a doença de Marek;
do envelope (detecção de antígeno) foi
hemangiomas, vasos sanguíneos, de ori- Marek, houve um importante redução • Diminuir os desafios de campo e man-
desenvolvido para detectar aves infecta-
gem renal, nefroblastomas e carcinomas nos casos de leucose. Isto se explica ter altos os níveis de anticorpos mater-
epiteliais, hepatocarcinomas de origem das, como o subgrupo J. Entretanto, o porque, ao se prevenir contra esta en- nos;
renal e de origem óssea, osteoblastos [1, diagnóstico sorológico, baseado em an- fermidade (doença de Marek), o timo • Manter o peso corporal adequado
2, 14]. ticorpos, pode ser dificil, por não detec- é protegido, mantendo a imunidade com suprimento de ração balanceada;
tar aves imunotolerantes, que não pro- celular protetora contra ALV regida • Manter adequada densidade de aves/
ELISA antígeno grupo duzem anticorpos contra o vírus [2]. por este órgão. Ao mesmo tempo, m2; etc.
específico foram desenvolvidas e empregadas O programa de erradicação das
RT-PCR metodologias rápidas, sensíveis e es- leucoses aviárias deve ser baseado
Realizado em amostras de albumina
pecíficas para o diagnóstico e a erra- na prevenção da transmissão vertical
do ovo, mecônio de pintos de um dia e Pode ser utilizada para a detecçãodo
dicação de ALV [14, 15]. do vírus e geração de aves livres, por
swabs cloacais ou vaginais, para a detec- RNA viral em amostras de albúmen do
Como uma vacinação eficaz é di- meio da eliminação de aves positi-
ção da proteína p27 do nucleocapsíde- ovo, soro, sangue ou tumores e permite
fícil de ser realizada devido à variabi- vas. Além disso, deve mantê-las em
ode ALV, antigenicamente conservada a determinação do subgrupo envolvido
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 43
biosseguridade, com higiene e desin- S.M. et al. Development and application tion and quantitation of avian leukosis vi-
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44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose aviária 45
finalidade era aumentar o
O vírus maedi-visna 2. Etiologia
rendimento dos animais
(MVV) ovino e o vírus da Os LVPR
por meio dos cruzamen-
artrite encefalite caprina (CAEV, MVV) são
tos. As importações oca-
(CAEV), que receberam membros da família
sionaram a introdução de
a terminologia genérica Retroviridae, gênero
agentes infecciosos, dentre
de lentivírus de pequenos Lentivirus, ao qual
eles, o vírus maedi-visna
ruminantes (LVPR), pertencem também
(MVV) ovino e o vírus da
pelo fato de estes vírus já os vírus da anemia
artrite encefalite caprina
terem sido isolados tanto infecciosa equina
(CAEV), que receberam
em caprinos quanto em (AIEV) e das imuno-
a terminologia genérica
ovinos.. deficiências bovina
de lentivírus de pequenos (BIV), felina (FIV),
ruminantes (LVPR), pelo símia (SIV) e huma-
fato de estes vírus já terem sido isolados na (HIV). Replicam-se em monócitos
tanto em caprinos quanto em ovinos. no sangue e macrófagos nos demais
Sendo indicado o abate dos animais tecidos, e a medula óssea é o principal
infectados, as lentiviroses de pequenos reservatório de células infectadas, cau-
ruminantes têm impacto econômico sando infecção persistente e multissis-
direto decorrente da perda de material têmica. Os LVPR não são oncogênicos
Figura 1. Colostro termizado administrado em mamadeira. genético. As perdas provêm da morte e apresentam alta taxa de mutação com

Fonte das figuras 1, 2 e 3 fotos: Prof Dr Aurora Gouveia


de animais jovens, diminuição da pro- consequente diversidade genotípica, fe-

Lentiviroses de dução láctea e do período de lactação, notípica e antigênica. Esta variabilidade


perda de peso em função da dificuldade está relacionada a mecanismos de esca-
de locomoção, diminuição do peso ao pe do vírus ao sistema imune e repre-

pequenos ruminantes nascer e da taxa de crescimento, incapa- senta um obstáculo ao desenvolvimento


cidade de monta ou mesmo de resposta de vacinas [1,2].
à coleta de sêmen em machos reprodu- A partícula viral pode ser dividida
Aurora M. G. Gouveia1 animais puros ou por meio de seus cru- tores com graves problemas articulares, em duas porções: a externa e a interna.
zamentos com mestiços de raças nativas bem como da restrição do comércio e Na parte externa, encontra-se um en-
1. Introdução brasileiras. A partir de 2000, o mercado do trânsito de pequenos ruminantes en- velope fosfolipídico constituído pelas
A partir de 1978, importações de de carne caprina e ovina mostrou-se em tre países livres e países onde a infecção glicoproteínas de superfície gp135 e
caprinos de raças leiteiras exóticas, pro- expansão, face ao aumento gradativo da é endêmica devido à vigência de regu- transmembrânica gp47, responsáveis
cedentes de vários países da Europa demanda, com a importação de animais lamentações sanitárias internacionais. pela interação com os receptores da
(França, Suíça, Alemanha, Holanda, In- provenientes dos Estados Unidos, África Vale considerar, ainda, a desvalorização célula-alvo e eventos de penetração do
glaterra) e América do Norte (Estados do Sul, Austrália e Nova Zelândia, cuja de animais de criatórios positivos, des- vírus na célula.
Unidos e Canadá), buscaram a intro- 1 pesas com programas de controle e ou- A parte interna é constituída pelas
Professora Adjunta, Médica Veterinária, Mestre e
dução de material genético leiteiro em Doutora, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG. tras [1]. proteínas do capsídeo p28, nucleocapsí-
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Lentiviroses de pequenos ruminantes 47
deo e matriz e proteínas com função en- e no Paraná, em 1997, em um rebanho Tabela 1 - Presença de caprinos soropositivos para o vírus
zimática: protease, transcriptase rever- importado (Tabela 2). da artrite-encefalite caprina no Brasil.
sa, integrase e dUTPase, além do RNA Estado Caprinos Ano Fonte
genômico. As proteínas gp135, gp47 e 3.2. Cadeia epidemiológica soropositivos (%)
p28 são consideradas os principais an- Bahia -1 1988 [4]
tígenos imunodominantes na infecção 3.2.1. Espécies susceptíveis 12,8 1994 [5]
pelos LVPR. 9,2 1998 [6]
Já foi descrita a transmissão natural
Ceará -1 1989 [7]
3. Epidemiologia interespecífica de LVPR (subtipo A4)
27,5 1994 [5]
em rebanhos de criação mista (caprinos
40,7 1978 [8]
3.1. Distribuição e ovinos) [33]. É fundamental conside-
Espírito Santo 47,5 1998 [6]
rar que as práticas preconizadas para o
Goiás 10 1998 [6]
Os LVPR apresentam distribuição controle dos LVPR, baseadas no aleita-
Maranhão 50,6 1997 [9]
cosmopolita, sendo descritos em dife- mento artificial e na separação precoce
Minas Gerais 33,3 1994 [5]
rentes países de todos os continentes. A entre mãe e cria, são pouco compatíveis
23,6 1998 [6]
maior prevalência ocorre com o sistema de produ-
15 2001 [10]
em países onde a explo- Estudos em rebanhos ção de ovinos tipo corte.
Pará 40 1996 [11]
ração é tecnificada. Na leiteiros relatam a A infecção interespécie
Paraíba 9 1999 [12]
Europa e em países como prevalência da CAE pelos LVPR pode se tor-
Paraná 6,6 1995 [13]
Estados Unidos e Cana- entre 30 e 80%, índices nar significativa em fun-
28,2 1997 [14]
dá, estudos em rebanhos considerados altos. ção da prática que vem se
Pernambuco 17,6 1995 [15]
leiteiros relatam a preva- tornando relativamente
17,7 1994 [16]
lência da CAE entre 30 e comum de aleitar cordeiros órfãos ou
Piauí 4,4 1996 [17]
80%, índices considerados altos em rela- procedentes de parto triplo, utilizando
Rio Grande do Sul 6 1986 [18]
ção aos encontrados na África e América leite de cabras de raças leiteiras. Portan-
Rio de Janeiro 29,7 1994 [5]
do Sul (0 e 20%). O MVV encontra-se to, em rebanhos onde caprinos e ovinos
21 1995 [19]
difundido em vários países, porém Aus- são criados juntos, o controle e o moni-
10,6 1998 [6]
trália e Nova Zelândia são considerados toramento das lentiviroses em ambas as
São Paulo 49 1992 [20]
livres do vírus [3]. espécies devem ser considerados simul-
29,8 1997 [21]
No Brasil, a presença do CAEV foi taneamente [34].
1 Relato de caso clínico soropositivo.
detectada inicialmente no Rio Grande
3.2.2. Transmissão
do Sul em 1986. Desde então, sua pre-
sença tem sido confirmada em diversos Os caprinos ou ovinos infectados de cipal via de transmissão é a digestiva, A transmissão também pode ocorrer
estados brasileiros (Tabela 1). forma persistente funcionam como re- geralmente no período neonatal, por por contato direto entre animais (urina,
Já o lentivírus MVV tem descrição servatório e fonte de infecção. A trans- ingestão de leite e ou colostro de fêmeas saliva, secreções respiratórias e fezes),
restrita no Brasil. A presença da doença missão dos LVPR ocorre por meio de infectadas, onde o vírus pode se encon- com maior relevância em rebanhos com
foi registrada, e seu agente isolado pela secreções ou excreções de células do trar tanto livre como nas células somáti- densidade elevada. Se manejado de for-
primeira vez em ovinos no RS, em 1989, sistema monocítico-fagocitário. A prin- cas [35]. ma inadequada, o equipamento de or-
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Lentiviroses de pequenos ruminantes 49
Tabela 2 - Presença de animais positivos para o sistemas de criação que propiciam maior severidade das lesões parecem estar as-
lentivírus maedi-visna por estado do Brasil, 2006 contato entre os animais, aumentando sociadas ao genoma do hospedeiro [42]
Ovinos as probabilidades de disseminação. Ca- e à amostra viral [43].
Estado Ano Autor
soropositivos (%) prinos ou ovinos com um ano de idade
Ceará 0,0 1996 [17] ou maiores apresentam frequência au- 5. Manifestações clínicas
Ceará 50,9 2002 [22] mentada de sororreatividade aos LVPR, As lentiviroses (CAE, MV) têm
Ceará 31,7 2003 [23] possivelmente devido à transmissão ho- evolução crônica e são multissistêmi-
Ceará 1,0 2006 [24] rizontal e soroconversão tardia. cas, apresentando-se clinicamente nas
Minas Gerais 0,0 (Norte de MG) 2001 [10] formas nervosa, artrítica, respiratória e
7,9 2006 [25] 4. Patogenia mamária, sendo persistentes e assinto-
Paraíba 0,0 2003 [26] O leite e o colostro de fêmeas infec- máticas em 70% dos casos de soroposi-
Paraná Foco por importação 1997 [27] tadas, por serem ricos em células mono- tivos [44].
Pernambuco 0,7 2003 [28] cítico-fagocitárias, são os principais veí- Em caprinos, as formas clínicas das
Pernambuco 3,9 2003 [29] culos de transmissão do vírus, por meio lentiviroses mais comumente encontra-
Rio Grande do Norte 30,2 2002 [30]
de macrófagos infectados absorvidos das são a artrite em adultos e a nervosa
Rio Grande do Sul 10,5 1989 [31]
pelas vilosidades intestinais de filhotes em animais jovens. Os animais infecta-
Sergipe 0,0 2003 [32]
ou pela infecção das células intestinais dos desenvolvem artrite crônica, per-
pelos vírus liberados de macrófagos pre- sistente, causando aumento gradual do
denha mecânica contaminado pelo leite nócitos e macrófagos) infectados podem viamente digeridos por enzimas proteo- volume articular, deformidade e lami-
de fêmeas infectadas pode ser um vetor desencadear a transmissão iatrogênica. líticas [41]. nite, observada em animais com dois a
eficiente de disseminação do vírus. A presença dos LVPR já foi constatada No caso de infecção por LVPR, há nove anos de idade. Geralmente, quan-
Filhotes nascidos de matrizes soro- em sêmen e no trato genital de bodes produção limitada de anticorpos neu- to maior a duração da doença, maiores
positivas podem apresentar sorocon- ou carneiros infectados, com risco de tralizantes; o tropismo por monócitos são os danos aos tecidos. As articulações
versão com até seis meses de idade a transmissão venérea [36,37,38,39,40]. e macrófagos é o prin- mais afetadas são as car-
despeito dos métodos de pasteurização Destaca-se a relevância do papel epide- cipal fator responsável po-metacarpianas (uni
e termização do colostro (56oC duran- miológico de reprodutores caprinos so- As lentiviroses
pela habilidade do vírus ou bilateralmente).
te 60 minutos). A infecção da mãe para ropositivos para CAE na disseminação (CAE, MV) têm
em causar infecções crô- Na forma pulmonar,
a cria pode ocorrer possivelmente por da doença em rebanhos nativos, visto evolução crônica e
nicas, que persistem por os animais apresentam
quatro vias: intrauterina, contato va- que, com freqüência, observa-se a intro- são multissistêmicas,
toda a vida do animal. As tosse, dispneia e secre-
ginal com a cria no canal do parto, in- dução de reprodutores leiteiros de ra- apresentando-se
células onde o vírus se ção nasal após exercí-
gestão acidental de colostro de fêmeas ças exóticas em rebanhos nativos livres clinicamente nas
replica são: as células das cios físicos, taquipneia,
infectadas ou transmissão pela saliva da CAE, sem o prévio monitoramento formas nervosa,
membranas sinoviais, cé- hepatização pulmonar
ou por secreções respiratórias durante a do estado sanitário destes reprodutores artrítica, respiratória
lulas do sistema nervoso e comprometimento do
limpeza da cria. quanto à presença do CAEV [7]. e mamária, sendo
central, células do epité- estado geral. À necrop-
Devido ao estado permanente de vi- A infecção acomete caprinos e ovi- persistentes e
lio intestinal, dos túbu- sia, podem-se observar
remia dos animais, agulhas, tatuadores nos, independentemente de sexo, raça assintomáticas em
los renais, das glândulas aderências pleurais, teci-
e equipamento de descorna que podem e idade. A prevalência é maior em raças 70% dos casos de
paratireoide, adrenais e do pulmonar firme à pal-
conter sangue com restos celulares (mo- leiteiras e em rebanhos que adotam os soropositivos.
tireoide. A frequência e a
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Lentiviroses de pequenos ruminantes 51
pação e coloração róseo-acinzentada. e a hibridização in situ são os principais lentiviroses. Para isto, as técnicas mais A associação entre os testes sorológicos
A forma mamária ocorre, em maio- métodos utilizados para a detecção dire- utilizadas são a imunofluorescência in- e a PCR pode potencializar a detecção
ria, nos animais voltados à produção ta de LVPR [47]. direta (RIFI), testes imunoenzimáticos do CAEV em animais infectados [39].
leiteira. As fêmeas apresentam mastite Após a infecção, os animais produ- (ELISA, immunoblotting) e, principal- Como exemplo, na erradicação em todo
aguda ou crônica, caracterizadas pelo zem anticorpos frente aos LVPR, e a mente, o IDGA (imunodifusão em gel o rebanho, a PCR poderia ser utilizada
endurecimento do úbere, geralmente soroconversão pode ocorrer no inter- de ágar), que é a técnica mais utilizada e para testar amostras de animais sorone-
valo de semanas a vários meses. Assim, a recomendada pela OIE (Organização gativos. Em programas de reprodução, o
assimétrico e com presença de nódu-
em decorrência das características da Internacional de Epizootias), em função teste de amostras de sangue e sêmen de
los que, em casos crônicos, tornam-se
de seu baixo custo e alta especificidade animais soronegativos ao IDGA ou ELI-
nódulos linfoides com aumento da sen- enfermidade (infecção persistente e fre-
[3,48]. SA pode diminuir o risco
sibilidade dolorosa e do tamanho dos quentemente assintomática), os testes
Existem reações No monitoramento dos da utilização de reprodu-
linfonodos retromamários. Na forma sorológicos são uma forma funcional
aguda, é observada a redução ou não de diagnóstico, evidenciando indireta-
cruzadas entre os vírus programas de controle tores falso-negativos.
CAEV e MVV, entretanto de LVPR, por razões Não existe tratamen-
ocorrência da produção de leite no iní- mente a infecção, sendo a ferramenta a utilização do antígeno to para a enfermidade;
cio da lactogênese, e na forma crônica, mais utilizada na triagem inicial e para técnicas econômicas,
produzido com o vírus recomenda-se, nos uma vez que o animal
o leite apresenta características normais monitoramento da eficácia das medidas
[45,46]. adotadas para controle e erradicação das
homólogo (CAEV para o primeiros dois anos, o encontra-se infectado,
diagnóstico da CAE) au- diagnóstico por IDGA. torna-se portador para
Em animais mais jovens, de menta em 30% a eficiên- o resto da vida. Deve-se
um a seis meses, os quadros de cia do diagnóstico [49]. verificar diagnóstico di-
encefalite são mais comuns. Os No monitoramento dos programas ferencial com a micoplasmose, na qual
animais apresentam ataxia, pare-
de controle de LVPR, por razões téc- os animais apresentam-se febris, com
sia uni ou bilateral dos membros
nicas econômicas, recomenda-se, nos pleuropneumonia ou ceratoconjun-
pélvicos, que pode evoluir para
primeiros dois anos, o diagnóstico por tivite, e o fluido sinovial com aspecto
tetraparesia; microscopicamen-
te se observam meningoencefa- IDGA (de menor custo, não requer fibrinopurulento. A confirmação des-
lomielite e desmielinização. equipamentos e possui alta especificida- te diagnóstico é realizada por cultura,
de, com maior habilidade para detecção com utilização de meio apropriado para
6. Diagnóstico dos verdadeiramente positivos), e, a par- Mycoplasma.
O diagnóstico fundamenta- tir daí, os testes ELISA ou western blot,
se no quadro clínico (presente que apresentam maior habilidade de 7. Prevenção e controle
em apenas 30% das infecções) detecção dos animais verdadeiramente As medidas a serem adotadas va-
consolidado por provas labora- negativos (alta sensibilidade). riam de acordo com o status sanitário
toriais para detecção direta ou Rebanhos fechados podem ser con- do plantel [50,51].
indireta da infecção, somando- siderados negativos para LVPR, após Em plantéis indenes:
se ao histórico do animal e do o teste semestral de todo o plantel du-
rebanho. O isolamento viral, a rante dois anos (quatro testes consecu- • é recomendável somente adquirir ca-
microscopia eletrônica, a reação tivos), sempre com todos os resultados prinos ou ovinos de plantéis livres, ou,
em cadeia de polimerase (PCR) Figura 2. Poliartrite em reprodutor caprino por CAEV. negativos nos testes sorológicos [50]. ainda que com certo risco, efetuar no
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Lentiviroses de pequenos ruminantes 53
mínimo dois testes cos negativos, sendo estes testes rea- doadoras positivas, cujos embriões
sorológicos inter- lizados antes e durante a quarentena, devidamente lavados com tripsina,
valados de 60 dias, só introduzindo no rebanho animais conforme normas da IETS, são trans-
com resultados ne- soronegativos em dois testes interca- feridos para receptoras soronegativas.
gativos; lados de 60 dias, período no qual os O monitoramento das medidas sa-
• manter em isola- animais devem permanecer isolados; nitárias e de manejo é fundamental para
mento por 90 dias • Em plantéis voltados à produção lei- o sucesso dos programas de controle. A
qualquer animal que teira, estabelecer uma linha de orde- periodicidade dos exames e o tipo de
esteja retornando de nha, ordenhando fêmeas soronega- técnicas de diagnóstico são variáveis
exposições, repro- tivas anteriormente às soropositivas, segundo a modalidade epidemiológica,
dutores empresta- assim como as mais jovens antes das determinada com base na prevalência
dos, ou qualquer ou- sorológica inicial dos rebanhos e, ain-
mais velhas e, em casos de ordenha
tra forma de possível da, com o estágio do desenvolvimento
mecânica, desinfecção rigorosa do
infecção, e somente do programa sanitário implantado. Nas
equipamento para uso entre animais e
retornar ao plantel Figura 3. Poliartrite em reprodutor caprino por CAEV. Em detalhe. etapas mais avançadas, é recomendável
entre ordenhas;
após dois testes so- a utilização de técnicas mais sensíveis
entre cria e matriz; • os reprodutores e rufiões deverão ser
rológicos negativos, (ELISA, western blot) e menor periodi-
• fornecimento de colostro artificial ou testados no máximo 30 dias antes e 30
intervalados de 60 dias; cidade (exames bi ou quadrimestrais).
termizado a 56oC durante 60 minu- dias depois da estação de monta, em
• somente utilizar reprodutores soro-
negativos. No caso de inseminação tos; função da possibilidade de transmis- Agradecimentos
• aleitamento artificial dos filhotes com são venérea ou por contato direto; À Fundação de Amparo à Pesqui-
artificial, somente adquirir lotes de sê-
leite fervido durante cinco minutos, • as matrizes deverão ser testadas no sa do Estado de Minas Gerais (FAPE-
men testados por PCR para pesquisa
procedente de fêmeas soronegativas, máximo 30 dias antes da cobrição e 60 MIG).
de LVPR.
ou, preferencialmente, leite de vaca in dias após o parto, devido à ocorrência
Em plantéis infectados: natura ou em pó; de soroconversão ligada a fatores hor- Referências Bibliográficas
monais;
Após o diagnóstico sorológico da • testes sorológicos semestrais, quando 1. PETERHANS, E.; GREENLAND, T.;
possível em todos os animais; se não • esterilizar materiais cirúrgicos, agu- BADIOLA, J. et al. Routes of transmission
infecção no plantel, se a prevalência for lhas, e dígitos de tatuadores para uso and consequences of small ruminant lenti-
for possível, testar uma amostragem
baixa (até 5%), é economicamente mais em diferentes animais;
viruses (SRLVs) infection and eradication
estratificada significativa (30% de ma- schemes. Vet. Res. v.35, p. 257-274, 2004.
viável o sacrifício dos soropositivos, se- • para o trânsito de animais em feiras,
trizes mais velhas ou com sintomas, 2. PINHEIRO, RR. Vírus da Artrite-Encefalite
guido de sorologias semestrais. exposições e comercialização, exigên-
30% de jovens e todos os reproduto- Caprina: Desenvolvimento e padronização
No caso de animais de alto valor ou res); cia de atestados negativos para LVPR, de ensaios imunoenzimáticos (ELISA e Dot-
de rebanhos com média ou alta preva- • separação de animais soropositivos feitos no período máximo de dois me- Blot) e estudo epidemiológico no Estado do
lência sorológica inicial, as medidas a ses; Ceará. 2001. 115f. Tese (Doutorado em
dos soronegativos; Medicina Veterinária) - Escola de Veteriná-
seguir são recomendadas: • separação dos animais jovens de adul- • a transferência de embriões vem se ria, Universidade Federal de Minas Gerais,
• parto assistido ou induzido e assistido, tos; apresentando como excelente ferra- Belo Horizonte.
seguido da separação das crias logo • importação de animais de áreas inde- menta na obtenção mais rápida de 3. OFFICE INTERNATIONAL DES EPI-
após o nascimento, para evitar contato nes, com exigência de testes sorológi- crias negativas procedentes de cabras ZOOTIES. Manual of standarts for diagnos-
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Lentiviroses de pequenos ruminantes 55
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aparecendo casos agudos com morte de risco, como veterinários, vaqueiros,
em animais acima de seis anos de idade. técnicos de laboratório e funcionários
Sua importância econômica está asso- de matadouros, já foram testados sem
ciada à forma clínica da doença, mas há que nenhum anticorpo específico con-
indícios de que a forma subclínica tam- tra o VLB fosse encontrado [3].
bém afeta a produtividade dos animais.
Apesar disso, a maioria dos produtores 3. Epidemiologia
e técnicos desconhece sua importância
como fonte significativa de prejuízos, o 3.1. Distribuição
que torna seu controle ainda mais difí-
cil. Desde a primeira descrição de for-
mações nodulares associadas à leucose
2. Etiologia enzoótica bovina (LEB), ocorrida na
Europa [4], a doença se disseminou e
A doença é causada por um Delta-
atualmente está presente em diversos
retrovirus exógeno, o vírus da leucose
países do mundo. Por ser uma enfer-
bovina (VLB), que infecta preferencial-
midade de alta morbidade, os rebanhos
Figura 1. Estado geral de uma vaca positiva para leucose bovina mente linfócitos B, podendo também infectados alcançam altas taxas de infec-

Fonte das figuras 1 a 6 fotos: Prof Dr Marcos Bryan Heinemann


infectar linfócitos T, monócitos e gra- ção.

Leucose enzoótica nulócitos [5]. O VLB pertence ao mes- Acredita-se que a Europa tenha sido
mo gênero que os vírus linfotrópicos T a origem da infecção, introduzindo o

bovina humanos (HTLV) e, dessa forma, eles vírus na América do Norte pela impor-
apresentam semelhanças estruturais, tação de animais. Alguns países da Eu-
genéticas e de patogenicidade [1]. A ropa conseguiram sua erradicação após
Daniela de Souza Rajão1 tribuição em rebanhos bovinos, encon- partícula vírica é complexa e o genoma longos períodos de controle. Após a Se-
Marcos Bryan Heinemann2*
Rômulo Cerqueira Leite3 trando-se disseminada tanto no Brasil contém os genes comuns aos outros re- gunda Guerra Mundial, a exportação de
Jenner Karlisson Pimenta dos Reis4 como no mundo, principalmente na- trovírus, além dos genes Tax e Rex, cuja animais pelos países norte-americanos
queles rebanhos submetidos a condi- função está relacionada à expressão ge- levou a disseminação do VLB para o
1. Introdução ções estressantes, como confinamento e nética do vírus [2]. Comparativamente restante do mundo [5].
A leucose enzoótica bovina (LEB) animais de alta produção. A enfermida- com outros retrovírus, o VLB apresenta A prevalência da infecção no mundo
é uma doença infecciosa de ampla dis- de possui período de incubação longo, menor variabilidade genética, devido à varia, com índices de 3,3% no Japão [6],
Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG.
1 menor taxa de mutação da transcriptase atingindo níveis elevados, com cerca de
Professor Adjunto, Médico Veterinário, Doutor em Epidemiologia, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG.
2 reversa [1]. 86% dos rebanhos no Canadá [7].
Professor Titular, Médico Veterinário, Doutor em Ciência Animal, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG.
3 O vírus já foi detectado no leite de No Brasil, a leucose enzoótica bo-
Professor Associado, Farmaceutico-Bioquimico, Doutor em Ciencia Animal, DMVP, Escola de Veterinaria/
4 vacas infectadas, levantando suspeitas vina foi descrita pela primeira vez por
UFMG. sobre a possibilidade de transmissão Rangel e Machado, em 1943 [8], e a
*Autor para Correspondência: Laboratório de Retroviroses, Departamento de Medicina Veterinária Preventi-
va, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627, Caixa Postal 567,
para humanos por meio do consumo de ocorrência tem uma variação muito
Campus da UFMG, CEP 30123-970. Belo Horizonte, MG. Email: mabryan@ufmg.br produtos de origem animal. Populações grande entre os estados, como demons-
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 61
trado na Tabela 1. Tabela 1. Prevalências de bovinos soropositivos aos nejo nesse tipo de criação favorecem a instrumental médico-veterinário (fômi-
O estudo epide- antígenos do VLB pelo teste de IDGA, distribuídas disseminação do agente e a ocorrência tes) sem adequada desinfecção, em situ-
miológico da LEB segundo regiões e estados do Brasil. de sinais clínicos [11]. ações como aplicação de medicamen-
deve basear-se em ANO ESTADOS PREVALÊNCIA (%) tos, castração, descorna, palpação retal,
Região Sudeste
características da po- 3.2. Cadeia epidemiológica tatuagem, marcação e procedimentos
1994 São Paulo 4,1
pulação, do rebanho e 1997 São Paulo 29,8
cirúrgicos em geral [12].
da propriedade, como 1998ª São Paulo 54,0 3.2.1. Espécies susceptíveis O contato íntimo entre animais per-
o tipo de produção, a 2000 São Paulo 19,78 – 21,11 mite a transmissão por insetos (tabaní-
A infecção natural com VLB foi de- deos) em regiões tropicais, desde que a
idade dos animais, o 2003 São Paulo 52,0
1981 Rio de Janeiro 53,3 tectada somente em bovinos, capivaras, infestação destes seja alta [11].
tamanho do rebanho 1982 Rio de Janeiro 27,0 bubalinos e ovinos [3,5]. Cerca de 10% dos animais podem se
e o sistema de manejo. 1984 Minas Gerais 1,7
As medidas de manejo 1988 Minas Gerais 23,0 3.2.2. Transmissão infectar pela forma vertical, sendo que a
estão intimamente liga- 2002 Minas Gerais 38,7 transmissão transplacentária geralmen-
Região Sul A transmissão do VLB ocorre quan- te ocorre a partir de fêmeas com linfo-
das à disseminação da
1994 Paraná 7,0 do linfócitos infectados são transferidos citose persistente ou linfoma [10]. Em
doença, uma vez que 1996 Paraná 18,4 de um animal para outro susceptível, já estudo sobre a transmissão intrauterina,
o maior contato entre 1996 Rio Grande do Sul 9,2
que a viremia ocorre de forma rápida e demonstrou-se que bezerros infectados
os animais, o estresse 2004 Rio Grande do Sul 23,5
por um curto período após a infecção. ao nascimento nasceram
causado pelo mane- 2001 Santa Catarina 7,6
O sangue é a principal
Região Nordeste de vacas com linfocitose
jo intensivo e a maior 1991 Bahia 16,1 fonte de infecção, mas A transmissão
persistente, indicando
manipulação pelo 2005 Bahia 41,0 outras secreções, como horizontal é a via
que este estado pode
homem aumentam a 1991 Pernambuco 15,1
saliva, secreção nasal e de maior relevância
representar um fator as-
taxa de transmissão. 1994 Ceará 10,5 uterina, podem conter o para a infecção,
sociado com a infecção
A idade dos animais é 1997 Sergipe 8,8
vírus [12]. Em infecção principalmente por
do VLB no útero [14].
experimental, a dose in- meio da reutilização de A transmissão por trans-
outro fator importan- 1998 Paraíba 8,3
1999 Alagoas 10,6
te relacionado à maior 2001 fectante mínima determi- instrumental médico-
Rio Grande do 5,1 ferência de embriões não
ocorrência da doença, Norte nada foi de 103 linfócitos, veterinário (fômites)
foi observada [15].
uma vez que o período 2001 Piauí 16,9 equivalente ao número sem adequada
Já a ingestão de leite
de incubação da LEB 2003 Pernambuco 16,0 de células presentes em desinfecção.
Região Norte
ou colostro de vacas in-
é longo e a sintomato- aproximadamente 0, µL fectadas pode transmitir
1990 Acre 9,7
logia manifesta-se, ge- 1990 Rondônia 23,0 de sangue [13]; deste modo ,qualquer o LBV, embora em menor frequência
ralmente, em animais 1999 Pará 26,0 procedimento que envolva transferên- que pelo contato direto. No entanto, an-
acima de cinco anos 2003 Amazonas 9,6 cia sanguínea, mesmo que em pequenos ticorpos presentes no colostro podem
de idade [10]. Portan- 2007 Tocantins 37,0 volumes, tem grande risco de transmitir bloquear a infectividade viral e reduzir a
Região Centro-Oeste
to, rebanhos leiteiros 1991 Goiás 13,2 – 36,5
o vírus. possibilidade de transmissão [16].
apresentam maior in- 2000 Mato Grosso do 22,0 A transmissão horizontal é a via de Apenas sêmen contendo leucócitos
cidência da doença, já Sul maior relevância para a infecção, prin- e com alta carga viral pode transmitir o
que as medidas de ma- Fonte: Adaptada [9]. cipalmente por meio da reutilização de vírus, quadro geralmente resultante de
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 63
traumas, inflamação ou coleta inade- animais podem evoluir para o quadro ocorrer no abomaso, útero, pulmões, progressão da doença, ocorre a redução
quada [17]. de linfocitose persistente, resultante coração, baço, rins, trato urinário e di- nos níveis de citocinas, além de redução
do aumento no número de linfócitos B versos linfonodos. As alterações clínicas da atividade fagocítica de leucócitos,
4. Patogenia circulantes por períodos prolongados mais comuns são inapetência, indiges- causando debilidade do sistema imuno-
A viremia é detectada somente nas [20]. O quadro de linfocitose persis- tão, timpanismo persistente, perda de lógico [24,25].
duas primeiras semanas após a infecção, tente é definido como o aumento no peso, diarreia, exoftalmia, paralisia de
e a detecção de partículas virais no san- número de linfócitos circulantes em membros e alterações neurológicas por
7. Importância econômica
gue periférico é difícil. O provírus inte- três ou mais desvios padrões acima da compressão de nervos. Outras formas A LEB pode causar perdas diretas,
grado é capaz de expandir por meio da média, de acordo com padrões raciais menos graves de comprometimento cujos custos estão associados à manifes-
divisão celular da célula infectada, pos- e etários, mantendo esse aumento por têm sido constatadas em rebanhos bovi- tação clínica, como queda na produção
sibilitando a manutenção do VLB no pelo menos 90 dias [21]. Essas altera- nos, gerando grandes prejuízos. Dentre dos animais infectados, morte ou descar-
organismo [4]. ções hematológicas são resultantes de essas manifestações, pode-se relacionar te de animais, condenação de carcaças
Os mecanismos celulares envolvi- um desequilíbrio entre a proliferação e a infertilidade pela formação de tumo- em matadouros, custos com tratamen-
dos na transformação de linfócitos B in- a morte celular, seja pela capacidade do res no útero, partos distócicos e a dimi- tos e gastos com reposição de animais
fectados e que resultariam na formação vírus em aumentar a proliferação celular nuição da produção leiteira [5]. mortos ou descartados precocemente
de linfomas ainda não são totalmente [22] ou reduzir a apoptose [23] dos lin- [26,27]. Além disso, a doença pode ge-
esclarecidos. As proteínas codificadas fócitos infectados. 6. Resposta imune rar perdas indiretas, geralmente associa-
Tax e G4 são apontadas como impor- Como a infecção permanece por A resposta humoral contra o VLB é das às barreiras à exportação de animais
tantes para a tumorogênese da leucose, toda a vida do hospedeiro, ocorre uma forte e os anticorpos específicos contra e produtos de origem animal, como
pois estão envolvidas na transformação redução na resposta imunológica após os antígenos virais podem ser detecta- sêmen e embriões. Embora a transmis-
celular, levando à imortalização das cé- longo período de infecção, o que pode dos de quatro a 16 semanas são do vírus não ocorra por
lulas infectadas [18,19]. resultar na manifestação clínica tardia meio da transferência de
após a infecção. Anticorpos A LEB pode
da doença e aumentar a susceptibilida- embriões ou pela utilização
5. Manifestações clínicas maternos desaparecem en- causar perdas
de a outras infecções, como mamites e de sêmen de boa qualidade
tre seis e sete meses após a diretas, cujos
A LEB apresenta uma alteração lin- pododermatites [4]. e coletado adequadamente,
administração do colostro. custos estão
foide crônica persistente, cuja patoge- Massas tumorais (linfomas) podem muitos países impõem bar-
Deve-se ressaltar que não associados à
nicidade depende de fatores do hospe- se desenvolver em até 5% dos animais reiras à importação desse
existe possibilidade de dife- manifestação
deiro, e as manifestações infectados, geralmente material. Tais exigências dos
renciar anticorpos transfe- clínica, como
clínicas podem ser diver- acometendo animais países importadores podem
A maioria dos animais ridos por meio da ingestão queda na
sas. A maioria dos animais acima de cinco anos de gerar prejuízos não apenas
infectados apresenta-se do colostro com aqueles
produção
infectados apresenta-se idade [5]. para as centrais de insemi-
clinicamente saudável, dos animais
clinicamente saudável, As manifestações clí- oriundos de uma infecção
com apenas 1% de infectados, morte nação, mas também para as
com apenas 1% de célu- nicas são resultantes da ativa.
células infectadas, ou descarte indústrias do leite e da car-
las infectadas, sendo o formação de tumores, e A infecção pelo VLB
sendo o animal de animais, ne, já que derivados lácteos e
animal assintomático um a gravidade do quadro parece ser imunossupres-
assintomático um condenação de cárneos também estão sujei-
importante transmissor clínico depende dos ór- sora, apesar da ausência de
importante transmissor carcaças em tos a estas restrições [28].
do vírus [5]. gãos afetados, podendo doença debilitante por lon-
do vírus . matadouros. Além de animais clini-
Cerca de 30% destes gos períodos [4]. Com a
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 65
camente afetados, os gicos baseados em chaves Tabela 2. Interpretação dos resultados obtidos na sorologia (IGDA ou ELISA)
A IDGA apresenta
animais assintomáticos leucocitárias podem ser para o diagnóstico do vírus da leucose bovina
alta especificidade e é
podem gerar prejuízos utilizados para detectar Idade Resultado Características Interpretação
amplamente utilizada,
ao produtor. Animais in- a linfocitose persistente, Retestar 3 meses após o
pois é uma técnica de Contato com animal infecta-
contato com o bovino infec-
fectados assintomáticos por meio da contagem
fácil realização e baixo Negativo
do há menos de 3 meses
tado
apresentam maior taxa de do número de linfócitos
custo Contato com animal infecta-
descarte que animais não circulantes [21]. Entre- Animal não infectado
do há mais de 3 meses
infectados em rebanhos tanto, com o advento dos
Menos de Nascido de vaca soronega-
leiteiros [29], o que pode estar relacio- exames sorológicos para detecção de 7 meses tiva ou não ingeriu colostro Animal infectado
nado a um efeito negativo da infecção anticorpos específicos contra o VLB, o de vaca soropositiva
pelo VLB na produção de leite, já que diagnóstico hematológico utilizado no Positivo Nascido de vaca infectada:
Retestar após 7 meses de
nesse tipo de criação a permanência do passado caiu em desuso, visto que exis- impossível distinguir anticor-
idade ou usar outra técnica,
animal no rebanho depende da sua pro- tem diversos fatores que podem inter- pos resultantes de infecção
como o PCR
dutividade. Alguns autores observaram ferir nos constituintes sanguíneos dos ou maternais
uma redução significativa na produção animais. Os testes sorológicos baseiam- Positivo Animal infectado

de leite de vacas infectadas em relação se principalmente na detecção de anti- Retestar 3 meses após o
Contato com animal infecta-
Mais de contato com o bovino infec-
às não infectadas [30,31]. No entanto, a corpos para a glicoproteína do envelope do há menos de 3 meses
7 meses Negativo tado
eficiência reprodutiva de vacas infecta- viral gp51 e são frequentemente utili-
Contato com animal infecta-
das parece não estar afetada, no que diz zados, já que o animal infectado com o Animal não infectado
do há mais de 3 meses
respeito a intervalo entre partos, taxa de
VLB permanece portador durante toda
parição e dias em aberto [29,32]. Fonte: Adaptado [39].
a vida, mantendo-se soropositivo [36].
O vírus já foi detectado tanto em
A soroconversão geralmente pode ser vos ou positivos) em situações em que conclusivos, e o teste deve ser repetido
linfócitos [33] quanto nas células epite-
observada após 50 dias da infecção [2].
liais da glândula mamária [34], e é capaz os níveis de anticorpos são insuficientes [37]. Nesses casos, passa a ser necessá-
Tanto a imunodifusão em gel de ágar
de iniciar a transformação dessas células para serem detectados, como durante ria a utilização de técnicas para detecção
(IDGA) como os testes imunoenzimá-
mamárias e levar à redução na produção o periparto e em infecções recentes, ou direta do agente, como o isolamento vi-
ticos (ELISA) são provas de referência
de caseína in vitro [35], o que pode estar em situações em que há interferência de ral, realizado a partir do cultivo in vitro
da Organização Mundial de Saúde Ani-
relacionado ao efeito negativo da infec- anticorpos passivos. Durante o período de células mononucleares sanguíneas;
mal para o diagnóstico do LBV [37]. A
ção na produção de leite. do pré e pós-parto, as vacas positivas ou testes moleculares, como a reação em
IDGA (Tabela 2) apresenta alta especi-
ficidade e é amplamente utilizada, pois podem ser consideradas negativas, pois cadeia de polimerase (PCR), utilizados
8. Diagnóstico o teste sorológico pode não conseguir para detectar DNA proviral em amostras
é uma técnica de fácil realização e baixo
O diagnóstico da LEB é fundamen- custo [38]. O ELISA apresenta maior detectar os anticorpos, já que neste pe- sanguíneas dos animais infectados [38].
tal para o controle e a erradicação da do- sensibilidade frente ao IDGA e ainda ríodo grande quantidade de anticorpos A PCR tem se mostrado mais sensível
ença. Mesmo na presença de sinais com- pode ser utilizado em amostras de leite séricos da mãe é deslocada para o colos- que os testes sorológicos, e que é quase
patíveis com a infecção, o diagnóstico da [36]. tro. Então, testes sorológicos negativos impossível prevenir a disseminação do
leucose deve ser sempre confirmado por As técnicas sorológicas, entretanto, neste período (duas a quatro semanas VLB de um país para outro utilizando-
exames laboratoriais. Exames hematoló- podem gerar resultados falsos (negati- pré e duas semanas pós-parto) não são se apenas testes sorológicos [40].
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 67
Figura 2. Aumento Figura 3. Exoftalmia de Figura 4. Exoftalmia de uma vaca Figura 5. Massa tumoral (intestino) de uma Figura 6. Massa tumoral (reprodutor) de
de volume da re- uma vaca positiva para positiva para leucose bovina, vaca positiva para leucose bovina uma vaca positiva para leucose bovina
gião genital de uma leucose bovina, vista vista lateral
vaca positiva para frontal abate de animais positivos, deve ser pre- siderado livre do VLB, ele deve seguir
leucose bovina
informação dos criadores; controle da conizada em rebanhos cuja prevalência os seguintes requisitos: i) não ter tido
9. Prevenção e tratamento introdução de novos animais no reba- é baixa ou em rebanhos de alta genética, evidências da infecção pelo VLB num
nho; controle de insetos; higiene e de- pois apresenta custo muito elevado, po- período de pelo menos dois anos, ou
Não existe tratamento efetivo para a sinfecção adequadas do instrumental dendo inviabilizar a atividade econômi- seja, sem sinais clínicos tanto no exame
leucose, além de não existir vacina dis- médico-veterinário, evitando a reutiliza- ca. Em rebanhos com alta prevalência, ante como no pós-mortem; ii) todos os
ponível. O controle da doença é difícil ção de material perfurocortante; uso de pode-se utilizar o sistema de segregação, animais acima de 24 meses de idade de-
devido à sua grande dispersão, evolução luvas obstétricas descartáveis; descarte em que se faz a identificação e a sepa- vem ter sido submetidos a pelo menos
lenta, presença de número elevado de de animais velhos; redução do estresse, ração de animais positivos, porém este dois testes sorológicos (IDGA ou ELI-
animais assintomáticos, falta de infor- proporcionando conforto animal [5]. tipo de esquema requer maior espaço, SA), com resultado negativo com inter-
mação dos produtores, além da ausência Em rebanhos positivos, é importante se- pois resulta em dois rebanhos em uma valos não menores que quatro meses e
de um programa de controle oficial no parar bezerros nascidos de vacas infec- única propriedade. O esquema de im- durante um período de 12 meses; iii) só
Brasil. A identificação de animais positi- tadas, além de fornecer colostro e leite plantação de medidas corretivas, com introduzir animais no rebanho, se forem
vos é fundamental para o levantamento de vacas não infectadas. identificação de positivos e mudanças no oriundos de outro rebanho livre ou se
da situação epidemioló- A leucose pode ser erra- manejo da propriedade, apresenta baixo forem testados por pelo menos duas ve-
gica do rebanho e para Não existe dicada do rebanho por meio custo, mas é necessário o cumprimento zes com testes negativos com intervalo
controlar a disseminação, tratamento efetivo de três medidas: eliminação das medidas de controle citadas ante- de quatro meses entre eles e segregados
sendo importante realizar para a leucose, dos animais soropositivos; riormente, o que requer longo tempo do rebanho original; iv) adquirir sêmen
exames sorológicos peri- além de não existir segregação dos animais so- para gerar resultados [41]. Ressalta-se apenas de touros de rebanhos livres ou
ódicos. A forma mais efe- vacina disponível. ropositivos; manejo misto, que, em qualquer esquema de controle, ,se o touro tiver menos de dois anos,
tiva de controle baseia-se com adoção de medidas de devem ser realizadas medidas corretivas somente se a mãe for negativa, ou usar
na atuação direta sobre controle para evitar a trans- de manejo que impeçam a transmissão. o sêmen de touros testados duas vezes
as fontes de transmissão. Sendo assim, missão do vírus. A eliminação dos ani- Pela Organização Mundial de Saú- com resultados negativos, sendo que o
são necessários educação sanitária e mais do rebanho, com identificação e de Animal, para um rebanho ser con- primeiro teste deve ser 30 dias antes e
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 69
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Jenner Karlisson Pimenta dos Reis3*
for the detection of bovine leukaemia vi- também conhecida como febre dos pân-
rus in cattle. N. Z. Vet. J., v. 46, p. 140-146, tanos, é uma doença crônica de equíde- 1Bióloga, Doutora em Ciência Animal, DMVP, Escola
1998.
os que são persistentemente infecta- de Veterinária/UFMG.
37. MANUAL of Diagnostic Tests and Vac- dos pelo equine infectious anemia virus
2
Professor Titular, Médico Veterinário, Doutor em
cines for Terrestrial Animals. The World Ciência Animal, DMVP, Escola de Veterinária/
Organisation for Animal Health (OIE),
(EIAV). A AIE foi descrita como uma UFMG.
2004. Disponível em: <http://www.oie. doença infecciosa dos equídeos por ve- 3Professor Associado, Farmacêutico-Bioquímico,
int/eng/normes/mmanual/A_00055. terinários na França, em 1843. Em 1904 Doutor em Ciência Animal, DMVP, Escola de Ve-
htm>. Acesso em: 28 mai. 2008. terinária/UFMG.
a doença foi associada a organismos
*Autor para Correspondência: La-
38. CAMARGOS, M. F.; OLIVEIRA JU- infecciosos denominados boratório de Retroviroses, Depar-
NIOR, A. C.; CRUZ, J. C. M. et al. Testes
de diagnóstico para o vírus da leucemia bo-
“agentes filtráveis”, sendo A AIE representa tamento de Medicina Veterinária
Preventiva, Escola de Veterinária,
vina. R. Bras. Ci. Vet., v. 12, n. 1/3, p. 149- a primeira doença animal um grande Universidade Federal de Minas Ge-
150, 2005. descrita causada por vírus. obstáculo ao rais, Av. Antônio Carlos, 6627, Caixa

39. TOMA, B.; ELOIT, M.; SAVEY, M. Las A AIE representa um gran- desenvolvimento da Postal 567, Campus da UFMG, CEP
30123-970. Belo Horizonte, MG.
enfermidades animales por retrovirus: leu- de obstáculo ao desenvol- equideocultura. Email: jenner@ufmg.br
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 73
vimento da equideocultura, por ser uma as geográficas de clima quente e úmido, de 1,54%, para o Vale do Mucuri e Je- 3.2.2. Transmissão
doença transmissível e incurável. refletindo a importância da transmissão quitinhonha 3,03% e para o Campo das
O sangue de cavalos contaminados
por insetos tabanídeos hematófagos da Vertentes e Zona da Mata é de 1%; para
2. Etiologia ordem Diptera, e apresenta distribuição as outras regiões a prevalência foi zero.
é a principal forma de infecção para ani-
mais susceptíveis, e a transmissão da
O vírus da anemia infecciosa equina cosmopolita [3]. A prevalência por animais de haras no
doença envolve a transferência desse
(EIAV) é membro do gênero Lentivirus Os dados oficiais da AIE em todo estado foi de 0,07% [5].
material biológico [7].
e da família Retroviridae, sendo consi- o mundo não apresentam a verdadeira Não existe nenhuma associação
A importância do proprietário, de
derado um dos menores e mais simples prevalência da enfermidade, uma vez entre transmissão da AIE com idade,
pessoas que lidam diariamente com os
vírus pertencentes a este gênero. Como que se referem, exclusivamente, aos exa- raça e sexo dos animais. No entanto,
animais ou de veterinários
todos os membros dessa família, o EIAV mes laboratoriais realizados para o trân- os asininos (Equus asinus)
As condições na indução da infecção
contém três principais genes estruturais: sito intermunicipal ou interestadual e/ demonstraram maior re-
ecológicas, a por meio de agulhas con-
gag, pol e env [1]. O gene gag codifica as ou participação em eventos agropecuá- sistência à replicação viral
população de taminadas e instrumentos
proteínas p26, p15, p11 e p9 presentes rios controlados pelos serviços oficiais em infecções experimentais
cirúrgicos deve ser enfa-
no capsídio viral; o gene pol codifica as de defesa sanitária animal em cada país. com cepas patogênicas do insetos hematófagos
e a densidade tizada, pois o uso desses
enzimas transcriptase reversa, integra- Estima-se que menos de 10% da popu- EIAV e, consequentemente,
demográfica de materiais contaminados,
se e protease; e o gene env codifica as lação tem sido testada para AIE, sendo o aparecimento de sinais clí-
sem desinfecção de um
glicoproteínas estruturais de superfície que a maior parte do efetivo equídeo nicos. As condições ecológi- equídeos são fatores
gp90 (superfície externa) e gp45 (trans- cas, a população de insetos que determinam a animal para outro, tem
testado pertence a rebanhos de alto va-
membrana), sendo estas responsáveis hematófagos e a densidade difusão da doença sido responsável por vá-
lor zootécnico nos quais a doença está rios surtos da doença. Re-
pela interação com os receptores da demográfica de equídeos na natureza
controlada, e, em muitos casos, o mes- sultados de estudos sobre
célula-alvo e eventos de penetração ce- são fatores que determinam
mo animal é testado mais de uma vez a sobrevivência do EIAV
lular. Durante o curso da doença, a gli- a difusão da doença na natureza [6].
durante um curto período de tempo. O em agulhas indicam que este vírus per-
coproteína de superfície gp90 apresenta
grande número de animais no campo manece infectivo por até 96 horas [8].
rápida evolução genética e antigênica 3.2. Cadeia epidemiológica
que não são submetidos ao diagnóstico Os artrópodes vetores do EIAV per-
decorrente de mutações em algumas re-
representa um risco real para a manuten- tencem à ordem Díptera (Stomoxys cal-
giões do genoma denominadas variáveis 3.2.1. Hospedeiros naturais
ção e a disseminação da doença, princi- citrans, Chrysops spp, Hybomitra spp),
[2]. Além dos principais genes estrutu-
rais, o vírus possui os genes tat, S2 e rev palmente nos rebanhos não tecnificados A AIE acomete apenas os membros sendo os tabanídeos (Tabanus sp) os
que codificam proteínas não estruturais ou de menor valor zootécnico. da família Equidae, incluindo os equinos maiores responsáveis pela difusão da do-
responsáveis por vários aspectos da re- Atualmente a AIE é considerada (cavalos e pôneis), asininos (jumentos) ença. Como a transmissão é puramente
plicação viral com influência sobre sua uma enfermidade endêmica em Minas e os muares (mulas e burros). As zebras mecânica, nos vetores, o EIAV permane-
patogenicidade. Gerais, com uma prevalência de 5,29% também são susceptíveis, apesar de não ce vivo por um período limitado de 30
para rebanhos e de 3,08% para animais existir nenhum registro oficial de infec- minutos a 4 horas, de modo que o inse-
3. Epidemiologia de serviço, e as áreas Norte, Noroeste, ção nessa espécie. Não existe nenhu- to deve completar rapidamente o repas-
Vale do Mucuri e Jequitinhonha são as ma evidência da existência de infecção to sanguíneo infectado em um animal
3.1. Distribuição de maior prevalência no estado [4]. A natural ou experimental de humanos susceptível para que haja transmissão da
prevalência para haras é 0,44%, sendo ou outras espécies de mamíferos pelo doença [9]. Embora a transmissão da
A doença é mais prevalente em áre- que para as regiões Norte / Nordeste é EIAV. AIE por insetos hematófagos seja con-
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 75
siderada relativamente eficiente em ani- macrovasculares nos tecidos renais de
mais em períodos de viremia, o homem cavalos portadores inaparentes [11]. A
representa um potencial de transmissão infecção dos monócitos do sangue pelo
superior pela quantidade de sangue que EIAV resulta em uma infecção não pro-
consegue veicular. O volume de sangue dutiva, e a diferenciação de monócitos
residual em agulhas hipodérmicas é de infectados em macrófagos é necessária
aproximadamente 1.000 a para ativar a replicação vi-
10.000 vezes maior do que Embora a ral [12,13]. Este padrão
o volume transferido pelas transmissão da de infecção sugere que os
moscas hematófagas. AIE por insetos monócitos infectados com
Embora a transmissão hematófagos o vírus podem servir como
via sangue contaminado seja considerada “Cavalo de Troia”, dissemi-
tenha uma relevância des- relativamente nando a infecção do EIAV
tacada na epidemiologia eficiente em para os tecidos sem a de-
da AIE, todos os tecidos e animais em tecção do sistema imune
fluidos biológicos devem períodos de [1].
ser considerados potencial- viremia, o homem Os altos títulos de vire-
mente infectantes, especial-
representa um mia observados durante a
potencial de fase aguda estão associados
mente durante os episódios Figura 2. Animal
transmissão com altos níveis de repli- positivo para anemia
clínicos em que a carga viral
superior pela cação do vírus em tecidos infecciosa eqüina
é alta. A transmissão da AIE quantidade
pode também ocorrer pela ricos em macrófagos, in-
de sangue que
placenta, em éguas com vi- cluindo fígado, baço, rins, A trombocitopenia é o achado mais são subsequentemente destruídas jun-
consegue veicular.
remia, as quais infectam o pulmão, linfonodos e glân- comum durante os episódios febris, tamente com os eritrócitos por macró-
feto ao nascer. Além desta dula adrenal. Os outros contribuindo para as hemorragias pete- fagos hepáticos.
forma de transmissão, foi detectado o tecidos parecem conter baixos níveis de quiais observadas durante as fases aguda Alguns animais podem apresentar
EIAV no leite/colostro e também no infecção viral, apesar dos altos níveis no e crônica. A trombocitopenia também leucopenia com discreta linfocitose e
sêmen de garanhões com sinais agudos sangue [14]. é induzida pela produção das citocinas um aumento do número de monócitos
da doença, sendo possível a transmissão A anemia decorre de uma hemólise TNFα e TGFβ que suprimem o cresci- circulantes.
venérea, porém sem importância epide- de natureza imunológica, destacando a mento de colônias de megacariócitos na As lesões patológicas mais mar-
miológica [10]. eritrofagocitose associada com a fração medula óssea. cantes observadas são linfadenopatia,
C3 do complemento, e também de uma A hepatoesplenomegalia na necrop- esplenomegalia, arquitetura lobular he-
4. Patogenia inibição da eritropoiese por citocinas sia também é um achado consistente pática acentuada resultante de uma infil-
O alvo primário do EIAV in vivo são liberadas por macrófagos infectados, es- com processo inflamatório desencadea- tração de linfócitos e macrófagos na re-
células da linhagem monócito / macró- pecialmente o fator de necrose tumoral do pela deposição de imunocomplexos, gião periportal e nos lóbulos hepáticos,
fago, contudo tem sido relatada uma li- α (TNF α) e o fator β de transformação formados por plaquetas recobertas por levando a uma hepatite não supurativa,
mitada infecção em células endoteliais do crescimento (TGFβ). anticorpos das classes IgG e IgM, que principalmente nas fases aguda e crôni-
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 77
ca da doença, com edema e hemorragias cos que aparecem geralmente por volta vos encontrados na natureza está na fase parente.
decorrentes do infiltrado de células in- do 10º ao 14º dia pós-infecção [17]. inaparente da AIE. Estes animais não Vários estudos sugerem que, duran-
flamatórias em áreas intersticiais e corti- Uma das características mais mar- apresentam sinais clínicos da doença, e te o curso da infecção pelo EIAV, o hos-
cais dos órgãos alvos da replicação viral. cantes deste estágio da doença é a trom- os níveis de vírus no plasma são insig- pedeiro desenvolve uma resposta imune
Lesões neurológicas decorrentes de bocitopenia associada à febre que prece- nificantes. Apesar disso, eles continuam robusta, efetiva e duradoura, capaz de
meningite e encefalomielite não supu- de o aparecimento dos anticorpos. Estes sendo portadores do EIAV e manter a replicação viral
são considerados principais A maioria abaixo do limiar de indu-
rativas também podem ser encontradas sintomas iniciais da doença geralmente
fontes de infecção para os dos equídeos ção da doença [21].
levando a uma ataxia. Estas lesões são desaparecem dentro de poucos dias,
animais susceptíveis [19]. EIAV-positivos O desaparecimento da
resultantes de uma infiltração de células contudo uma pequena porcentagem
Dados da literatura indicam encontrados na viremia inicial plasmática
inflamatórias em algumas regiões do sis- dos animais infectados pode desenvol-
que a replicação viral e a do- natureza está na coincide com a emergên-
tema nervoso central (SNC) e da medu- ver forma grave e fatal da AIE. Poucos
ença nesta fase da infecção fase inaparente da cia de linfócitos T citotó-
la espinhal. animais desenvolvem um quadro ina-
pelo EIAV estão sob contro- AIE. Mesmo não xicos (CD8+) específicos
As alterações microscópicas consis- parente da doença após essa fase inicial, apresentando sinais
tem em uma infiltração de células linfói- e a maioria progride para a fase crônica le do sistema imunológico para o EIAV e anticorpos
do hospedeiro equídeo ape- clínicos da doença específicos não neutrali-
des no fígado e no baço, por exemplo, [18]. e insignificantes
assim como em um acúmulo de sidero- A fase crônica da AIE é caracterizada sar dos mecanismos de es- zantes [22,23].
cape empregados pelo vírus níveis de vírus Animais infectados
leucócitos. por ciclos recorrentes de viremia, que é no plasma, eles
para manter a persistência. pelo EIAV desenvolvem
associada aos sintomas clínicos, incluin- são considerados
5. Manifestações clínicas do febre, anorexia, edema, leucopenia,
Em alguns portadores assin- forte resposta imune
tomáticos, a fase de viremia principais fontes de contra as glicoproteínas
O curso clínico da AIE é variável, anemia, trombocitopenia, hemorra- infecção.
e, consequentemente, o rea- de superfície (gp90) e
pois é dependente da dose e virulência gias, diarreia, glomerulonefrite e letar-
parecimento dos sinais clíni- transmembrana (gp45),
do estrato viral infectante e da suscepti- gia. Cada episódio clínico tem duração
cos podem ser induzidos por estresse ou e a principal proteína do core viral p26.
bilidade individual do hospedeiro [15]. média de três a cinco dias, e o intervalo
administração de drogas imunossupres- Apesar de a p26 ser a proteína mais
Apesar disso, a resposta clínica dos entre os ciclos da doença é irregular, po-
soras mesmo após anos de quiescência abundante do vírion, a resposta humo-
equídeos seguida por infecção natural dendo ser de semanas a meses.
[19, 20]. ral anti-p26 é de 10 a 100 vezes menor
ou experimental com o EIAV pode ser A frequência e a gravidade dos epi- do que para gp90 e gp45 [19].
dividida em três fases: aguda, crônica e sódios da doença usualmente diminuem 6. Resposta imune Anticorpos neutralizantes que são
inaparente. com o tempo, e, após uma média de seis
As infecções pelo EIAV resultam em capazes de bloquear o estrato infectan-
A fase aguda é caracterizada por a oito episódios clínicos, o estágio crô-
altos títulos de viremia dentro de três te usualmente emergem somente de-
febre, anorexia e pronunciada viremia nico da AIE termina dentro de um ano
semanas pós-infecção. Várias linhas de pois de dois a três meses pós-infecção,
resultante de uma extensiva replicação pós-infecção (podendo ser mais de um
evidência sugerem que respostas celu- sugerindo que não são os responsáveis
viral nos macrófagos teciduais ou perifé- ano em alguns casos). A maioria dos
lares e humorais específicas são neces- pelo término do episódio agudo inicial.
ricos e possui duração de cinco a 30 dias equídeos infectados que sobrevivem às
sárias para o término da viremia inicial, O papel dos anticorpos neutralizantes
pós-infecção [16]. Nesta fase da doença, fases aguda e crônica tornam-se porta-
o diagnóstico sorológico pode gerar re- dores inaparentes do vírus por toda a e a replicação viral é reduzida a níveis ainda está incerto nas pesquisas sobre
sultados negativos, devido à ausência ou vida [19]. subclínicos em animais que evoluem do EIAV. Apesar disso, a recrudescência da
aos baixos títulos de anticorpos específi- A maioria dos equídeos EIAV-positi- estágio crônico para o de portador ina- doença está associada com a emergência
78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 79
de variantes que escapam aos anticorpos uso em técnicas sorológicas e o desen- Quadro 1. Interpretação dos resultados obtidos na sorologia (IGDA ou
neutralizantes, sugerindo que a resposta volvimento de vários testes, como fixa- ELISA) para o diagnóstico da anemia infecciosa equina.
neutralizante é eficiente no controle da ção de complemento direto e indireto, Idade Descrição Resultado Interpretação
replicação viral [2,24]. soroneutralização, imunofluorescência, Positivo Animal infectado
inibição da hemaglutinação, hemagluti- Negativo, doente
7. Diagnóstico nação indireta [26]. há mais de 10 Realizar diagnóstico diferencial
Febre, anemia,
Os sinais clínicos da AIE Porém um grande dias
prostração
não são específicos e, como Os sinais clínicos avanço no diagnóstico Adulto Negativo, doente
a maioria dos animais infec- da AIE ocorreu em 1970 há menos de 10 Retestar após 15 dias
da AIE não são dias
tados não apresenta sinais específicos e, como quando Coggins e Nor-
clínicos, o diagnóstico la- Positivo Animal infectado latente
a maioria dos cross descreveram um con- Saudável
Negativo Animal não infectado
boratorial se torna uma fer- animais infectados fiável teste sorológico de- Positivo Animal infectado
ramenta fundamental para não apresenta nominado imunodifusão
Negativo, doente
a identificação de animais sinais clínicos, em gel de ágar (IDGA).
há mais de 10 Realizar diagnóstico diferencial
AIE positivos. Os testes de o diagnóstico O teste IDGA baseia-se na Filho de mãe
dias
laboratório normalmente migração do antígeno e do negativa ou
laboratorial mamou colos-
Negativo, doente
são realizados apenas em se torna uma anticorpo presente no soro há menos de 10 Retestar após 15 dias
tro negativo
situações em que são exigi- ferramenta animal, em um meio semi- dias
dos, como transporte e par- fundamental para sólido (ágar-gel), com a Jovem Negativo sem
Animal não infectado
ticipação em eventos. formação de uma linha de sintomas
a identificação
Até a década de 60, o precipitação visível a olho Retestar dois meses após a desmama
de animais AIE Positivo Resultado positivo = animal infectado
diagnóstico laboratorial nu. Conhecido como “teste Filho de mãe
positivos. positiva, ma- Resultado negativo = animal não infectado
era feito por meio de testes de Coggins”, é a prova qua-
mou colostro Retestar dois meses após a desmama
hematológicos que pesqui- litativa reconhecida como positivo Negativo Resultado positivo = animal infectado
savam a presença de sideroleucócitos o método oficial em vários países onde Resultado negativo = animal não infectado
circulantes (macrófagos contendo he- a doença é reconhecida, sendo também
mosiderina) e pela inoculação do san- recomendado pela OIE [27]. Testes
e gp90), é uma boa opção em casos de pela replicação ativa do vírus estão pre-
gue de animal suspeito em equino sa- mais sensíveis, como o enzyme linked resultados discrepantes entre o IDGA e sentes apenas nas fases aguda e crônica
dio. Este animal era, então, monitorado immunosorbent assay (ELISA), têm sido o ELISA, porém possui a desvantagem da doença e são descritas predominan-
até o aparecimento dos sinais clínicos descritos e utilizados como método de de ainda não estar disponível comer- temente em infecções experimentais.
característicos da AIE, sendo conside- triagem da AIE, especialmente nos Es- cialmente. Testes moleculares, como a Como destacado anteriormente, a
rado um dos testes mais sensíveis até tados Unidos, onde quatro kits foram li- reação em cadeia da polimerase (PCR), maioria dos animais no campo está em
hoje, porém impossível de ser praticado cenciados pelo USDA e são atualmente também têm sido descritos, porém seu fase assintomática e nenhum sinal clí-
rotineiramente [25]. Após a década de comercializados [28]. O imunobloting, uso está restrito, pelo menos até o mo- nico aparente poderá ser encontrado,
60, com a introdução das técnicas de que é baseado na detecção simultâ- mento, a laboratórios de pesquisa [26]. exceto em casos de reagudização da do-
cultura de células equinas, tornou-se nea de anticorpos específicos contra as As lesões e as alterações hematoló- ença provocada por estresse ou drogas
possível a preparação de antígenos para principais proteínas víricas (p26, gp45 gicas compatíveis com AIE provocadas imunossupresoras, como os corticoes-
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 64 - janeiro de 2012 Leucose enzoótica bovina 81
teróides. Contudo, deverá são medidas fundamentais 4. ALMEIDA, V.M.A. Prevalência da anemia vírus. J. Virol., v.68, p.6270-6279, 1994.
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ser feito o diagnóstico dife- para que a transmissão seja 13. SELLON, D.C.; WALKER, K.M.; RUS-
controle da AIE de serviço, em Minas Gerais. 2005. Dis-
rencial com hepatite, babe- evitada. O controle dos ta- SELL, K.E. et al. Equine infectious ane-
será bem-sucedido sertação (Mestrado em Medicina Veteri-
mia virus replication is upregulated during
siose, helmintoses e proble- banídeos, especialmente nária)- Escola de Veterinária, Universidade
se acompanhado de differentiation of blood monocytes from
mas nutricionais. em países tropicais, é prati- Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
educação sanitária acutely infected horses. J. Virol., v.70, p.590-
camente impossível de ser 5. FIORILLO, K.S. Prevalência de Anemia 594, 1996.
8. Prevenção e de toda a cadeia
realizado, porém uma dis- Infecciosa Equina em haras de Minas Ge-
tratamento produtiva da AIE, rais. 2011. Dissertação (Mestrado em Saú-
14. SELLON, D.C.; PERRY, S.T.; COGGINS,
tância de 183 metros entre L. et al. Wild-type equine infectious ane-
com destaque de Animal) – Faculdade de Agronomia
Como a AIE não tem os animais portadores ou mia virus replicates in vivo predominantly
para veterinários e e Medicina Veterinária, Universidade de
in tissue macrophages, not in peripheral
tratamento nem vacina efi- suspeitos e negativos pode Brasília, Brasília.
criadores. blood monocytes. J. Virol., v.66, p. 5906-
caz, o controle por meio do evitar a transmissão pelo 6. ISSEL, C.J., RUSHLOW, K.E., FOIL, L.D. 5913, 1992.
diagnóstico laboratorial é vetor. Outra importante et al. A perspective on equine infectious
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