Вы находитесь на странице: 1из 6

DIABETES MELITO

Artigo de Revisão

Aspectos imunológicos do diabetes melito tipo 1


C. A. BALDA, A. PACHECO-SILVA
Disciplina de Nefrologia da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP.

UNITERMOS: Diabetes. Imunologia. Antígenos. Prevenção. em estudo recente, abrangendo três cidades do
interior paulista, constatou-se uma incidência de
KEYWORDS: Diabetes. Immunology. Antigens. Prevention. 7,6/100.000 habitantes nesta população 6.
Aspectos genéticos
Genes de diversos locus vêm sendo estudados
quanto a sua participação no desenvolvimento do
INTRODUÇÃO
diabetes tipo 1, entre os quais podemos citar genes
O diabetes melito tipo 1 (classificação publicada do locus MHC classe I (HLA locus A, B e C), classe
em 1997 1) é uma doença metabólica crônica carac- II (HLA locus DR, DQ e DP) e classe III, além de
terizada por uma deficiência de insulina, a qual é genes não-MHC. O conjunto de genes presentes no
determinada pela destruição das células produto- locus MHC (complexo principal de histocompati-
bilidade) vem sendo estudado através de métodos
ras de insulina do pâncreas. Este processo, media-
moleculares, por exemplo, com a utilização da
do pelo sistema imunológico, ocasiona um quadro
reação em cadeia da polimerase (PCR), permitindo
permanente de hiperglicemia o qual é característi-
com isto a determinação das seqüências de amino-
co da patologia. Invariavelmente há necessidade
ácidos de seus constituintes. Alguns alelos suspei-
de reposição insulínica exógena.
tos de participação no desenvolvimento do diabetes
Nesta doença existem alterações no metabolis-
tipo 1 estão sendo encontrados. Como exemplo, pode-
mo de hidratos de carbono, lipídios e proteínas, mos citar HLA-DQA1*0301 e HLA-DQB1*0302 na
assim como alterações estruturais em diversos população Caucasóide. Outros alelos dos locus
sistemas orgânicos incluindo microangiopatia (re- DR3 e DR4 também podem estar envolvidos 7.
tinopatia, nefropatia e neuropatia) e macroangio- Genes não-MHC também podem ter participação
patia (doença coronariana, insuficiência arterial como por exemplo, o polimorfismo no gene da insu-
periférica, etc.). lina situado no cromossomo 11 8 , e mais recente-
Epidemiologia mente a relação entre a suscetibilidade genética
para diabetes tipo 1 e os genes para o TAP (trans-
O diabetes tipo 1 apresenta uma distribuição portador envolvido na apresentação de antígenos) 9.
racial pouco uniforme com uma freqüência menor O envolvimento de algumas dezenas de locus gené-
em indivíduos negros e asiáticos e uma freqüência ticos no desenvolvimento do diabetes tipo 1 estão em
maior na população européia, principalmente nas processo de estudo e o projeto de mapeamento do
populações provenientes de regiões do norte da genoma humano deve auxiliar em tais investigações.
Europa 2. A incidência do diabetes tipo 1 é bastante As informações disponíveis sugerem que o dia-
variável, de 1 a 2 casos por 100.000 ao ano no Japão betes tipo 1 é uma doença com característica
até 40 por 100.000 ao ano na Finlândia 3. Nos multifatorial, com grande importância dos fatores
Estados Unidos a prevalência do diabetes tipo 1 na ambientais, além dos genéticos. Sabemos que 90%
população geral é em torno de 0,4% 4. dos indivíduos com diabetes tipo 1 diagnosticado
A incidência do diabetes tipo 1 vem aumentando não têm parentes de primeiro grau que apresen-
nas últimas décadas em alguns países como Fin- tem a doença e a chance de gêmeos idênticos terem
lândia, Suécia, Noruega, Áustria e Polônia, e em diabetes tipo 1 é de somente 33%2.
trabalho publicado em 1993, Michaelis et al. 5 des-
crevem o mesmo fenômeno na população da antiga Patogênese
Alemanha Oriental, porém apenas nas populações Ao contrário do que se imaginava, a evolução da
mais jovens. As explicações para estas diferenças doença não é aguda e sim um processo de auto
regionais e étnicas baseiam-se em diferenças ge- agressão de evolução lenta que provavelmente se
néticas e ambientais. No Brasil temos poucos estu- desenvolve durante anos numa fase pré clínica.
dos epidemiológicos sobre o diabetes tipo 1, porém No período de manifestação da doença, com a

Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80 175


BALDA, CA et al.

Killer”, ou célula NK, que não apresenta marca-


dores de linfócitos T ou B e que é capaz de lisar
células tumorais ou infectadas por vírus sem que
haja estímulo antigênico específico.
Os linfócitos T CD8+ (citotóxicos) são as células
linfocitárias predominantes no processo de insu-
lite, mas pode-se detectar também a presença de
linfócitos T CD4+ (“helper”) e linfócitos B. O pro-
cesso de insulite parece ocorrer com maior inten-
sidade em ilhotas onde existam células beta meta-
bolicamente ativas, ou seja, que secretam insu-
lina. Ao longo do tempo as células beta vão dimi-
nuindo em número, assim como a intensidade do
processo inflamatório 10 .
Fig. 1 – Início do processo de insulite com infiltrado Pesquisadores têm demonstrado, em tecido pan-
inflamatório mononuclear acometendo uma ilhota pan- creático de animais diabéticos, o aumento da ex-
creática de camundongo NOD. Este processo inflamató- pressão de moléculas apresentadoras de antígeno
rio promoverá a destruição das células beta secretoras
de insulina. (MHC) tanto da classe I, que apresentam antí-
genos preferencialmente aos linfócitos CD8+ cito-
presença de hiperglicemia e cetose, as células tóxicos, quanto da classe II, que apresentam
secretoras de insulina já estão em número muito antígenos preferencialmente aos linfócitos CD4+.
diminuído ou praticamente ausentes. As células onde as moléculas do MHC se expres-
A presença de infiltrado inflamatório do tipo sam de maneira mais intensa ainda é motivo de
linfomononuclear e a ausência de células secreto- pesquisas; aparentemente o MHC classe I está
ras de insulina, as células beta, caracteriza o expresso nas células beta das ilhotas de maneira
quadro histológico do diabetes tipo 1. As células mais evidente, enquanto que a expressão do MHC
secretoras de outros hormônios, como glucagon, classe II é mais evidente em endotélio vascular e
somatostatina e polipeptídeo pancreático, também macrófagos infiltrantes, sendo sua presença tam-
presentes nas ilhotas pancreáticas são poupadas, bém detectada nas células beta 11, 12 .
porém como as células que secretam insulina são Na migração das células inflamatórias para o
em maior número as ilhotas pancreáticas acabam local afetado ocorre a importante participação das
se tornando atrofiadas. moléculas de adesão. Estas podem ter sua expres-
O processo de destruição das células β pancreá- são aumentada nas células endoteliais e linfoci-
ticas, denominado insulite, ocorre pela agressão tárias o que facilita o processo de marginação nos
imunológica mediada por células linfocitárias, capilares sangüíneos e posterior migração, para o
macrófagos e células “natural killer”, sendo por- tecido, de células linfocitárias e outras células
tanto um processo dependente da imunidade celu- constituintes do mecanismo de inflamação. As
lar (Figura 1). selectinas e as integrinas formam os dois grandes
Os linfócitos são as células responsáveis pela grupos de moléculas de adesão. As integrinas LFA-
resposta imune específica; são as únicas células do 1 (“lymphocyte function-associated antigen-1”)
corpo capazes de reconhecer e distinguir determi- presentes na superfície dos linfócitos e as ICAMs
nantes antigênicos específicos. Os linfócitos se (“intercellular adesion molecule”) presentes na
dividem em duas classes ou subtipos principais; superfície das células endoteliais são exemplos de
linfócitos B (responsáveis pela produção de anti- moléculas de adesão envolvidas. Em estudo recen-
corpos) e linfócitos T (medeiam e participam da te, demonstrou-se duas moléculas de adesão, apa-
resposta celular específica). Os linfócitos T são rentemente mais importantes no processo de mar-
divididos em duas populações distintas, os linfó- ginação e migração de células inflamatórias na
citos T auxiliares (CD-4 ou “Helper”) e os linfócitos insulite, que são a integrina α4β7 encontrada na
T citotóxicos (CD-8). superfície de linfócitos e a MadCAM-1 (“mucosal
Os linfócitos T só reconhecem, como antígenos, addressin”) expressa na superfície dos vasos 13 .
peptídios associados à proteínas de seu MHC (com- O linfócito T CD-4 ou “helper”, após sua ativação
plexo principal de histocompatibilidade). Desta produz várias citocinas cuja principal ação é promo-
forma, os linfócitos T se comportam como células ver a proliferação e diferenciação de linfócitos T e
cuja ativação é antígeno específica e MHC restrita. outras células, incluindo linfócitos B e macrófagos.
Uma terceira classe de linfócitos é o “Natural Citocinas são mediadores protéicos de baixo

176 Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80


DIABETES MELITO

peso molecular que servem para a comunicação O melhor modelo animal para estudos dos meca-
entre duas ou mais células da resposta imune ou nismos patogênicos do diabetes tipo 1 é uma linha-
inflamatória. As citocinas são divididas em vários gem de camundongos que se torna espontanea-
grupos, como a família dos interferons (IFN α, β e mente diabética, denominada NOD (“non-obese
γ), fator de necrose tumoral (TNF), hematopoe- diabetic”). Estudos utilizando estes animais têm
tinas (IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-12, IL-13, IL-15, demonstrado que o perfil de secreção de citocinas
GM-CSF),2 do TGF-beta e outras. Os efeitos das durante o desenvolvimento do diabetes tipo 1 é de
citocinas podem ser sinérgicos ou antagônicos en- padrão Th1 onde temos como principais consti-
tre si. Um exemplo deste antagonismo é a dicoto- tuintes a interleucina 2, o fator de necrose tumoral
mia no padrão de produção de citocinas, T helper (TNF) e os interferons. Estudos tentando alterar o
do tipo 1 (Th1) e T helper do tipo 2 (Th2). Quando perfil para Th2 (T “helper” do tipo 2), com a secreção
os linfócitos T produzem citocinas de padrão T predominante de IL-4 e IL-10, tentam bloquear a
helper 1, isto é, IL-2 e γ-IFN é induzida uma evolução do diabetes nestes animais 14,15.
resposta predominante do tipo celular; ao contrá- A participação dos radicais livres na lesão do
rio quando há predomínio de padrão T helper 2, pâncreas e desencadeamento do diabetes tipo 1
isto é, IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10 a resposta induzida também é um aspecto importante sendo o principal
é preferencialmente humoral. exemplo o óxido nítrico (NO), molécula sintetizada
Antes da resposta ser desviada para um padrão por dois grupos de enzima a partir do amino-ácido
Th1 ou Th2 os linfócitos passam por uma fase L-arginina, um de forma constitutiva e outro na
inicial na qual produzem citocinas Th1 e Th2, forma induzida. A forma induzida da sintase do
denominado Th0 (T helper zero); durante esta óxido nítrico (iNOS) está presente em diversos
fase, dependendo do tipo de interação com a célula tipos de células, entre elas os macrófagos, já foi
apresentadora do antígeno, e do micro ambiente encontrada em tecido pancreático de camundon-
local (predomínio de IL-4 induz resposta Th2 e IL- gos NOD e parece ser estimulada por citocinas de
12 induz resposta Th1) um ou outro padrão irá perfil Th1 como o interferon-gama 16.
predominar. É importante ressaltar que os dois A correlação entre os setores celular e humoral
padrões distintos Th1 e Th2 tendem a uma inibição na resposta imune ainda é motivo de especulações.
mútua, isto é, quando a resposta é desviada para o A apresentação de determinados antígenos, a ati-
tipo Th1, as citocinas produzidas inibem a respos- vação de células produtoras de citocinas e a ativa-
ta do tipo Th2, e vice-versa. Um exemplo da impor- ção de moléculas de adesão facilitando a adesão e
tância deste tipo de desvio no padrão de secreção migração celular e a posterior produção de radi-
de citocinas é o que ocorre na Leishmaniose expe- cais livres e novas citocinas, as quais promovem a
rimental em camundongos, na qual animais infec- amplificação da resposta imunológica pode ter al-
tados que desenvolvem resposta do padrão Th1 guma correlação com a produção de anticorpos e
tendem a se curar da infecção, enquanto que os portanto com o setor humoral da imunidade. Em
que desenvolvem um padrão Th2 evoluem para trabalho recente, utilizando modelo de glomeru-
óbito. O tipo de resposta, Th1 ou Th2, tende a lonefrite lúpica, descreveu-se que os receptores
ocorrer de maneira uniforme em cepas isogênicas, Fcγ presentes em células linfocitárias, macrofá-
por exemplo, camundongos Balb/c são mais susce- gicas e apresentadoras de antígenos, são capazes
tíveis à infecção pela leishmania por apresenta- de ativar o setor celular a partir da ligação com a
rem um padrão de secreção preferencial do tipo porção Fc das imunoglobulinas. A ausência dos
Th2, enquanto que animais C57BL/6 são resisten- receptores Fcγ inibe a atividade inflamatória nos
tes por apresentarem preferencialmente resposta glomérulos, mesmo quando há deposição evidente
Th1 frente a leishmania. Animais suscetíveis po- de imunoglobulinas e de fatores do complemento 17 .
dem tornar-se resistentes se tratados com anti- Talvez este seja mais um caminho a ser tentado
corpos anti-IL-4, enquanto que animais resisten- com o intuito de se conseguir evitar processos de
tes podem tornar-se suscetíveis se tratados com auto imunidade através da inibição de constituin-
IL-4 na fase inicial da infecção. Em humanos, um tes da cascata imunológica.
exemplo claro desta dicotomia Th1/Th2 é o que
ocorre em pacientes com hanseníase, onde os indi- Antígenos das ilhotas pancreáticas
víduos com formas pauci bacilares têm uma res- Uma variedade de antígenos presentes nas ilho-
posta predominante Th1, enquanto os indivíduos tas pancreáticas foram identificados e a presença
com formas mais graves tem seu padrão de produ- de anticorpos contra tais antígenos são pesquisa-
ção de citocinas pelos linfócitos desviado para o dos para esclarecimento do mecanismo fisiopato-
padrão Th2. gênico e como possíveis marcadores precoces da

Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80 177


BALDA, CA et al.

doença diabetes tipo 1. Alguns exemplos destes tipo 1 é desproporcional entre machos e fêmeas,
antígenos são a insulina, a descarboxilase do ácido com incidência evidentemente maior no sexo femi-
glutâmico (GAD), a carboxipeptidase H, os peptí- nino, o que nos sugere uma participação de hormô-
deos de 37, 38, 40, 52 e 69-kd, além do ICA-512 e nios sexuais na tendência ao desenvolvimento do
IA-2 ( o ICA512 é uma fração do IA2) 2, 18, 19. diabetes tipo 1. Tal fato não é observado no ser
Um aspecto interessante da participação destes humano onde tendências a um predomínio em
antígenos na fisiopatogenia do diabetes tipo 1 é relação a um sexo não ocorrem. Nos modelos ani-
que a expressão mais tardia de determinados mais temos a possibilidade de interferir na evolu-
antígenos das ilhotas pancreáticas coincide com o ção da doença em períodos variáveis, uma vez que
desencadeamento da resposta agressora auto imu- o processo de insulite e desenvolvimento da doen-
ne. Em trabalho recente utilizando modelo animal ça diabetes ocorrem em idades pré determinadas,
de rato diabético (BB- bio-breeding rat), observou-se o que não acontece nos seres humanos.
que a expressão do antígeno de 37 kd ocorreu tardia- Estudos recentes, descreveram a possibilidade
mente (aproximadamente 30 dias de vida), sugerin- de se detectar uma população de risco para o
do que a sua expressão possa ser responsável pelo desenvolvimento do diabetes tipo 1 utilizando
desencadeamento do diabetes neste modelo 20. para isto a presença de auto anticorpos contra
Outro aspecto importante no mecanismo de de- múltiplos antígenos pancreáticos. Estes estudos
senvolvimento do diabetes tipo 1 em estudo é a encontraram correlação significativa entre a pre-
existência de reações cruzadas entre respostas sença de dois ou mais auto anticorpos e o desenvol-
contra antígenos exógenos e antígenos das ilhotas, vimento de diabetes em indivíduos com parentes
uma teoria interessante é a de possível reação diabéticos previamente diagnosticados 24, e mesmo
cruzada entre proteína do leite de vaca e um em indivíduos onde não havia nenhum caso fami-
antígeno protéico de 69 kd presente nas ilhotas 21. liar de diabetes tipo 125. Devemos lembrar que o
Estudos que comprovem a validade de tais teorias último caso corresponde a 90% dos casos de diag-
no mecanismo de destruição das ilhotas pancreáti- nóstico de diabetes tipo 1. Tais trabalhos permitem,
cas no diabetes tipo 1 ainda são necessários. portanto, que possamos tentar realizar intervenções
A pesquisa de anticorpos contra antígenos pan- terapêuticas antes da doença se manifestar.
creáticos, em indivíduos sadios, tem sido realizada Considerando o diabetes tipo 1 uma doença auto
com o objetivo de detectar indivíduos predispostos imune, e portanto passível de tratamento imuno-
ao desenvolvimento do diabetes tipo 1. A presença supressor, foram utilizadas drogas com efetivida-
de dois auto anticorpos tem despertado maior inte- de imunosupressora comprovada em outras pato-
resse; anticorpos contra antígenos citoplasmáticos logias e em transplantes como a azatioprina, os
da célula da ilhota pancreática e anticorpos contra corticoesteróides e a ciclosporina. Os resultados
a insulina. O risco de desenvolvimento do diabetes destes estudos são inconclusivos; alguns estudos
tipo 1 na presença de tais anticorpos parece variar esporádicos demonstram efeitos benéficos em paci-
na dependência do título de anticorpos e da idade entes com início recente do diabetes tipo 1, com a
do indivíduo pesquisado, havendo maior risco em diminuição da dose necessária de reposição insulí-
indivíduos de faixa etária mais baixa e com títulos nica e, em alguns casos, períodos nos quais o pacien-
altos de anticorpos 22. te não necessitou de reposição insulínica 26,27. Os
Estudos demonstram que em indivíduos nos principais problemas observados na tentativa de
quais se quer avaliar o risco de desenvolvimento tratamento do diabetes tipo 1 com a utilização de
do diabetes tipo 1, a detecção de mais de um tipo de imunosupressores são devidos a pouca efetividade a
anticorpo pode levar a uma melhora no valor longo prazo deste tratamento e a recidiva freqüente
preditivo destes testes 23 . do quadro após a suspensão do imunosupressor.
Acredita-se que o diabetes tipo 1 é uma doença
A prevenção do diabetes tipo 1 humano crônica e que a melhor fase para tentarmos qual-
Um dos problemas no desenvolvimento de tera- quer tipo de intervenção seja no período que ante-
pias para o diabetes tipo 1 é a diferença entre os cede o quadro clínico. Isto nos leva a um problema
modelos animais e o diabetes humano. As princi- ético importante em relação à utilização de imuno-
pais diferenças entre o diabetes tipo 1 no homem e supressores, devido aos seus efeitos colaterais em
no camundongo NOD são a incidência de diabetes indivíduos teoricamente sadios. Assim métodos
tipo 1 dependente do sexo no animal e a possibili- alternativos de intervenção foram elaborados a
dade de tratamento prévio ao desenvolvimento da partir de estudos nos animais diabéticos.
doença no mesmo. A observação de que a terapia profilática previ-
No camundongo NOD a ocorrência de diabetes ne a ocorrência do diabetes tipo 1 em modelos

178 Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80


DIABETES MELITO

animais, levou pesquisadores a iniciarem protoco- periférica, diferente da chamada tolerância cen-
los com a utilização profilática de insulina em tral induzida no timo. É postulado que tal tipo de
indivíduos com alto risco de desenvolverem diabe- tolerância se deva a ativação de dois mecanismos
tes tipo 1 (parentes próximos de indivíduos diabé- imunológicos principais: a geração de supressão
ticos, nos quais são acompanhados os níveis de ativa, através da secreção de citocinas inibitórias
anticorpos contra insulina e ilhota pancreática). como a IL-4 e o TGF-β, e a anergia clonal (não
Em estudo piloto, utilizando a insulina profilática, responsividade mediada por linfócitos). Estudos
os autores tiveram boa resposta terapêutica sendo levam a crer que o principal mecanismo envolvido
que no grupo de cinco pacientes tratados, somente depende da quantidade de antígeno administrada,
um desenvolveu diabetes tipo 1, enquanto que no onde doses baixas favorecem supressão ativa de
grupo controle os sete indivíduos não tratados células auto-agressoras e altas doses favorecem a
desenvolveram diabetes tipo 1. Apesar destes re- indução de anergia em tais células 32. O principal
sultados iniciais animadores, não está claro o me- local envolvido no desenvolvimento da tolerância
canismo pelo qual os pacientes foram protegidos e oral é a mucosa intestinal, sendo que o estudo de
um estudo randomizado com a insulina profilática seus aspectos imunológicos é motivo de pesquisas
está em andamento 28 . recentes 33.Tentativas de indução de tolerância
A observação da evolução de alguns experimen- oral em camundongos NOD administrando-se in-
tos realizados com animais diabéticos levou a estu- sulina como antígeno demonstraram resultados
dos piloto com outros tipos de fármacos, como por significativos 34 .
exemplo a administração, em indivíduos com dia- Outro antígeno utilizado, na tentativa de indu-
betes tipo 1 de início recente, de uma vitamina ção de tolerância oral no camundongo NOD, foi o
hidrossolúvel a nicotinamida, um inibidor da ati- GAD. Tal antígeno foi administrado através da
vação da enzima poli-ADP-ribose sintetase que oferta de plantas transgênicas (tabaco e batata)
evita uma queda na concentração de nicotinamida para a proteína GAD. O resultado foi bastante
adenina difosfato (NAD) no ambiente intra- celu- animador, com redução na incidência de diabetes
lar e, além disto, a nicotinamida atua como um tipo 1 nos animais tratados 35. Em nosso laboratório
realizamos um estudo piloto na tentativa de indu-
protetor contra a ação de radicais livres, entre os
zir tolerância oral em animais NOD administran-
quais o óxido nítrico. Entretanto, estudos utili-
do, por gavagem, pâncreas murino macerado, po-
zando a nicotinamida em pacientes com diabetes
rém não obtivemos sucesso no sentido de diminuir
tipo 1 de início recente não mostraram resultados
a taxa de incidência de diabetes tipo 1 (dados não
significativos 29.
publicados).

PERSPECTIVAS
CONCLUSÕES
O achado de alguns antígenos das ilhotas pan-
A importância da doença diabetes tipo 1 do
creáticas, possivelmente responsáveis pela inicia-
ponto de vista social e econômico é inegável devido
ção do processo de auto agressão, levou pesquisa-
às altas taxas de morbidade, mortalidade e de
dores a tentar induzir tolerância imunológica a
incapacitação para o trabalho. Desta forma, fica
tais antígenos e bloquear o aparecimento do diabe-
evidente que tal doença merece especial cuidado
tes em modelos animais, como é o caso do camun-
no sentido de uma detecção precoce dos indivíduos
dongo NOD.
susceptíveis para que haja possibilidade de inter-
O antígeno GAD (descarboxilase do ácido glutâ-
venção profilática nos mesmos. O entendimento
mico) é um dos principais antígenos pesquisados
dos aspectos imunológicos constitui assim a base
até o presente momento. A reação contra este
para a detecção e prevenção do diabetes tipo 1.
antígeno, mediada por linfócitos T e também pela
imunidade humoral, já foi detectada em animais
ao redor da quarta semana de vida 30. A tentativa REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de induzir-se tolerância através de injeções intra- 1. The Expert Commitee on the Diagnosis and Classification of
tímicas do GAD foi realizada com boa resposta, isto Diabetes Mellitus. Report of the Expert Commitee on the
é, animais tratados desta forma demonstraram Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes
menor incidência de insulite e de diabetes 31 . Care 1997; 20: 1.183-95.
2. Atkinson MA, MacLaren NK. The pathogenesis of insulin-
Outra forma de administração de antígenos,
dependent diabetes melitus (review article). N Engl J Med
utilizada na tentativa de indução de tolerância, é 1994; 331: 1.428-36.
a via oral. A chamada indução de tolerância por via 3. Green A, Gale EAM, Patterson CC. Incidence of chidhood-
oral é assim uma forma de induzirmos tolerância onset insulin-dependent diabetes mellitus: the EURODIAB

Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80 179


BALDA, CA et al.

ACE study. Lancet 1992; 339: 905-9. search for the Holy Grail. Diabetes 1996; 45: 1.147-56.
4. LaPorte RE, Cruickshanks KJ. Incidence and risk factors for 19. Rabin DU, Pleasic SM, Shapiro JA, Yoo-Warren H et al. Islet cell
insulin-dependent diabetes. National Diabetes Data Group. antigen 512 is a diabetes-specific islet autoantigen related to
Diabetes in America: diabetes data compiled 1984. NIH protein tyrosine phosphatases. J Immunol 1994; 152: 3.183- 8.
publication 85-1468. 20. Jun HS, Yoon JW. Initiation of autoimmune type I diabetes
5. Michaelis D, Jutzi E, Vogt L. Epidemiology pf insulin-treated and molecular cloning of a gene encoding for islet cell-specific
diabetes mellitus in East-German population: diferences in 37 kd autoantigen. Adv Exp Med Biol 1994; 347: 207-20.
long-term trends between incidence and prevalence rates. 21. Karjalainen J, Martin JM, Knip M, et al. A bovine albumin
Diabete & Metabolisme 1993; 19:110-15. peptide as a possible trigger of insulin-dependent diabetes
6. Ferreira SRG, Franco LJ, Vivolo MA, et al. Population-based mellitus. N Engl J Med 1992; 327: 302-7.
incidence of IDDM in the state of São Paulo, Brazil. Diabetes 22. Krischer JP, Schatz D, Riley WJ, et al. Insulin and islet cell
Care 1993; 16: 701-704. autoantibodies as time-dependent covariates in the develo-
7. Auwera BVD, Schuit F, Lyaruu I, et al and The Belgian pment of insulin-dependent diabetes: a prospective study in
Diabetes Registry. Genetic susceptibility for insulin-depen- relatives. J Clin Endoc Metab 1993; 77: 743-49.
dent diabetes mellitus in Caucasians revisited: the impor- 23. Bonifacio E, Genovese S, Bragui S, et al. Islet autoantibody
tance of diabetes registries in disclosing interactions between markers in IDDM: risk assessment strategies yielding high
HLA-DQ and insulin gene-linked risk. J Clin Endocrinol sensitivity. Diabetologia 1995; 38: 816-22.
Metab 1995; 80: 2.567-73. 24. Verge CF, Gianani R, Kawasaki E, et al. Prediction of type 1
8. Julier C, Hyer RN, Davies J, et al. Insulin-IGF2 region on diabetes in first-degree relatives using a combination of
cromossome 11p encodes a gene implicated in HLA-DR4 insulin, GAD, and ICA512bdc/IA-2 autoantibodies. Diabetes
dependent diabetes susceptibility. Nature 1991; 354: 155-9. 1996; 45: 926- 32.
9. Faustman D, Li X, Lin HY, et al. Linkage of faulty major 25. Bingley PJ, Bonifacio E, Williams AJK, et al. Prediction of
histocompatibility complex class I to autoimmune diabetes. IDDM in the general population. Strategies based on combi-
Science 1991; 254: 1.756-61. nations of autoantibody markers. Diabetes 1997; 46: 1.701- 10.
10. Foulis AK, Liddle CN, Farquharson MA, Richmond JÁ, Weir 26. Silverstein J, MacLaren N, Riley W, et al. Immunosuppression
RS. The histopathology of pancreas in type 1 (insulin-depen- with azathioprine and prednisone in recent-onset insulin-
dent) diabetes mellitus: a 25-year review of deaths in pacients dependent diabetes mellitus. N Engl J Med 1988; 319: 599-604.
under 20 years of age in the United Kingdom. Diabetologia 27. Bougneres PF, Carel JC, Castano L, et al. Factors associated
1986; 29: 267-74. with early remission of type I diabetes in children treated with
11. Bottazzo GF, Dean BM, McNally JM, et al. In situ characteri- cyclosporine. N Engl J Med 1988; 318: 663-70.
zation of autoimmune phenomena and expression of HLA 28. Keller R, Eisenbarth GS, Jackson RA. Insulin prophylaxis in
molecules in the pancreas in the diabetic insulitis. N Engl J individuals at high risk of type I diabetes. Lancet 1993; 341:
Med 1985; 313: 353-60. 927-28.
12. Hänninem A, Jalkanen S, Salmi M. Macrophages, T cell receptor 29. Chase HP, Butler-Simon N, Garg S, et al. A trial of nicotina-
usage, and endotelial cell activation in the pancreas at the onset mide in newly diagnosed patients with type I (insulin-depen-
of insulin-dependent diabetes mellitus. 1992; 90: 1.901-10. dent) diabetes mellitus. Diabetologia 1990; 33: 444-46.
13. Yang Xiao-Dong, Michie AS, Mebius RE, et al. The role of cell 30. Kaufman DL, Clare-Salzier M, Tian J, et al. Spontaneous loss
adhesion molecules in the development of IDDM. Implications of T-cell tolerance to glutamic acid descarboxilase in murine
for pathogenesis and therapy. Diabetes 1996; 45: 705-10. insulin-dependent diabetes. Nature 1993; 366: 69-72.
14. Rabinovitch A. Immunoregulatory and cytokine imbalances in 31. Tisch R, Yang X, Singer SM et al. Immune response to
the pathogenesis of IDDM. Therapeutic intervention by glutamic acid descarboxylase correlates with insulitis in non-
immunostimulation? Diabetes 1994; 43: 613-21. obese diabetic mice. Nature 1993; 366: 72- 75.
15. Pennline KJ, Roque-Gaffney E, Monahan M. Recombinant 32. Weiner HL, Friedman A, Miller A et al. Oral tolerance: Immu-
human IL-10 prevents the onset of diabetes in the nonobese nologic mechanisms and treatment of animal and human
diabetic mouse. Clin Immunol Immunopathol 1994; 71:169-75. organ- specific autoimmune diseases by oral administration of
16. Rabinovitch A, Suarez-Pinzon WL, Sorensen O, Bleackley RC. autoantigens. Annu Ver Immunol 1994; 12: 809-37.
Inducible nitric oxide synthase (iNOS) in pancreatic islets of 33. Kagnoff MF. Mucosal immunology: new frontiers. Immunol
nonobese diabetic mice: identification of iNOS-expressing Today 1996; 17: 57- 59.
cells and relationships to cytokines expressed in the islets. 34. Zhang ZJ, Davidson L, Eisenbarth G, Weiner HL. Suppression
Endocrinology 1996; 137: 2.093-99. of diabetes NOD mice by oral administration of porcine
17. Clynes R, Dumitru C, Ravetch JV. Uncoupling of immune insulin. Proc Natl Acad Sci 1991; 88: 1.0252-56.
complex formation and kidney damage in autoimmune glome- 35. Ma S.-W, Zhao D-L, Yin Z.-Q, et al. Transgenic plants expres-
rulonephritis. Science 1998; 279: 1.052- 4. sing autoantigens fed to mice to induce oral immune tole-
18. Roep BO. T-cell responses to autoantigens in IDDM. The rance. Nature 1997; 3: 793-6.

180 Rev Ass Med Brasil 1999; 45(2): 175-80

Вам также может понравиться