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GRAFIA DE TEXTOS E FONOLOGIA DO PORTUGUES NOS SECULOS XV E XVI Célia Marques Telles* RESUMO: A grafia dos textos manuscritos permite que se percebam varias marcas da realizacéo fonética da lingua portuguesa dos quatrocentos e dos quinhentos. Com exemplos de grafias do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria e dos Roteiros de navegacao da Carreira das Indias cle Diogo Afonso, examinam-se as vogais mediais em posicio pretonica e postonica. Verifica-se que a situacdo documentada nos textos antigos tem reflexos no atual sistema dessas vogais no portugues do Brasil ‘PALAVRAS-CHAVE: vogais mediais. -studo grafemdtico-fonético; portugués arcaico: 1. Escrita e fala A que nao seja imprescindivel ao lingitista, a filologia textual € cada vez mais, comprovadamente, um instrumento de grande importancia para 0 estudo lingtiistico. Nesse momento € o texto que nos leva aos dados da lingua. Desde os primérdios dos estudos da linguagem até finais do século XIX, tem sido o texto o documento dos fatos de lingua. Desse modo, o método filolégico apdia a andlise lingtiistica, ao fornecer com critérios um texto fidedigno. Por outro lado, elementos lingtiisticos do texto estabelecido permitem — e tém sempre permitido — estudar a lingua ai documentada. Universidade Federal da Bahia - UFBA/CNPq. Teuxs, Célia M. Grafia de textos e fonologia do portugués nos séculos XV e XVI A partir da scripta do documento tanto se podem mostrar os erros Obvios (ou lapsus calami) - repeticdes, transposiges, erros devidos ao contexto lingjiistico ou extralingitistico, os erros de con- cordancia, as auto-correcoes, as adicées, as omissoes, as confusdes de palavras (Martinez Ortega, 1999: 23-42.) - como, o que é mais importante, as variantes textuais decorrentes do desempenho do que escreve, do responsavel pela scripta. Mas, em primeiro lugar é preciso que se pense a scripta como documento de lingua. Em lingiiistica histérica, desde os trabalhos de D. Ramon Menéndez Pidal, se tem como certo que um fato de lingua documentado “por escrito” deve estar existindo no uso ha pelo menos trés geracdes. Nessa perspectiva, em filologia textual - quer debrucgando-se sobre textos antigos, quer sobre textos moder- nos ou contemporaneos, literarios ou nao literarios — busca-se pre- servar as caracteristicas da scripta, na expectativa da comprovacao desses fatos lingUisticos. Assim, os estudos das mudangas lingtiisti- cas encontram apoio inconteste nos textos de edicao cuidada, em especial seguindo os critérios de uma licao conservadora. Essas consideragées nos levam ao nivel do estudo da escrita, a que N. S. Troubetzkoy, em 1935, em Anleitung zu phonologischen Beschreibungen, chamou “uma ciéncia pura da escritura” (Troubetzkoy, 1935, 1969, 1972). A partir desse momento, aos pou- cos, desenvolve-se na lingitistica uma vertente de estudos da escri- tura, isto é, que tem se encarregado do estudo do sistema grafico das linguas escritas (Contreras, 1994: 123-43, 161-6). Em um artigo publicado na Acta Linguistica, em 1945, Josef Vachek (1966) diz que o estudo concreto das escritas, assim como o estudo concreto das linguas escritas, tanto quanto a pesquisa so- bre a teoria da escritura e da lingua escrita ainda se achava “na infancia” e que poucas conclusées definitivas podem ser apresenta- das no estagio em que se encontrava a pesquisa. Lembra, entao, que “writing is a system in its own right, adapted to fulfil its own specific 44 Rev. ANPOLL, n° 18, p. 43-58, jan. /jun. 2005. functions, which are quite different from the functions proper to a phonetic transcription” (Vachek, 1966: 157)'. E oportuno lembrar que a Segunda Partida de Alfonso X resu- me certeiramente, diz Hans-J. Niederehe (1987), “Escriptura es cosa que aduce todos los fechos 4 remembranza” (Niederehe, 1987: 65)?. Nada mais completo e mais atual para o conceito de escritura. E, como assinala Geoffrey Sampson, os sistemas de escrita sao claros instrumentos idealizados para a execucao de uma tarefa, que podem desempenhar mais ou menos bem (Sampson, 1996: 15). Sao, a bem dizer, “um conjunto de simbolos escritos com um deter- minado conjunto de convengées para seu emprego” (Sampson, 1996: 16). Ivan Illich, no artigo Um Apelo & pesquisa em cultura escrita leiga, lembra que 0 alfabeto é a técnica empregada para que se re- gistrem os sons da fala sob forma visivel, sendo, por isso mesmo, 0 mais vantajoso tipo de notagao (Illich, 1995: 43). Nessa mesma dire- cao, afirma que somente a técnica do alfabeto permite que se regis- ire o discurso e que se conceba 0 mesmo como a “lingua” usada na fala (Illich, 1995: 52). Jeffrey Kittay, em Pensando em termos da cultura escrita, adverte que um dos maiores problemas da compre- ensao da cultura escrita € a incapacidade de especificar quais de suas propriedades sao independentes da escrita (Kittay, 1995: 179). Adverte, entretanto, que qualquer tipo de cultura escrita é inicial- mente dependente de um determinado cédigo ou conjunto de cédi- gos graficos. Pergunta, entao, o que a cultura escrita codifica sob a forma de escrita, respondendo simplesmente que “é a oralidade”, compreendida como tudo aquilo que é revisto pela cultura escrita, tudo que é comunicado, de viva voz ou nao, desde que nao seja Traduzindo: “a escritura é um sistema com suas pr6prias caracteristicas, adaptado as suas proprias fungSes especificas que s4o bastante diferentes daquelas préprias A transcricao fonética”. > Traduzindo: “Escritura é coisa que traz todos os fatos & lembranca”. 45

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