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Sobrepeso e Obesidade Infantil: Influências dos

Hábitos Alimentares e da Prática de Atividade


Física
08
Edmar Espírito Santo Gilmar Mercês

Resumo/ Abstract/ Resumen


Graduado em Educação Física na UEFS
Graduado em Educação Física na Universidade Estadual de Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício - UNEB.
Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e
Feira de Santana
Professor da Faculdade Social da Bahia - FSBA

RESUMO
Este é um estudo de revisão acerca do sobrepeso e obesidade infantil e sua relação com
os hábitos alimentares e a prática de atividade física. O sobrepeso e obesidade são doenças
com elevadas prevalências nos países em desenvolvimento, assim como nos desenvolvidos.
Esse quadro, em especial nas populações mais jovens, tem se tornado um sério problema
de Saúde Pública, podendo ser determinante de sua permanência e desenvolvimento na
vida adulta e por serem fortes fatores de risco de desenvolvimento de várias doenças,
como diabetes, hipertensão arterial, afecções respiratórias e dermatológicas e alguns
tipos de câncer. Suas causas estão relacionadas a uma série de fatores, dos quais os
hábitos alimentares e a inatividade física são exemplos.
Palavras-chave: sobrepeso, obesidade, hábitos alimentares, atividade física.

ABSTRACT
This article is a review study about overweight and obesity and their relationship with the
feeding habit and physical activity practice. The overweight and obesity are high prevalence
deseases nowadays in developing countries, as well as in the developed ones. This case,
specialy in young people, had been change the overweight and obesity in a Public Health
problem, that can determinate permanence and development in adult life and be risk
factors to many illness, as diabetes, hipertension, respiratory and dermatological deseases
and some types of cancer. The causes of the problem are related to many factors, like
feedings habits and physical activity practice.
Key words: overweight, obesity, feeding habits, physical activity.

RESUMEN
Este es un estudio de revisión acerca del sobrepeso y obesidad infantil y su relación con
los costumbres alimentares y la práctica de actividad física. El sobrepeso y la obesidad son
enfermidades con elevada prevalencia en los países en desarollo, así como en los desarollados.
Ese cuadro, en especial en las populaciones más jóvenes, tiene se volvido un grave problema
de salud pública, pudiendo ser determinante de su permanencia y desarollo en la vida
adulta y por seren fuertes factores de riesgo de desarollo de muchas enfermidades, como
diabete, hipertensión arterial, infecciones respiratorias y dermatologicas y alguns tipos
de cáncer. Sus causas estón relacionadas a una serie de factores, de los cuales, los
costumbres alimentares y la actividad física son ejemplos.
Palabras-clave: sobrepeso, obesidad, costumbres alimentares, actividad física.
Devido às mudanças no estilo de vida da população em geral, no decorrer da história,
as doenças crônico-degenerativas passaram a predominar como as principais causas de
óbitos e internações no mundo inteiro (ROUQUAYROL, 1998). Estas mudanças afetaram
principalmente os hábitos alimentares e o padrão de atividade física dos povos do oci-
dente, os quais, atualmente, se caracterizam pelo alto consumo de carne vermelha, de
alimentos ricos em gorduras saturadas, açúcares simples e processados industrialmen-
te, além de se mostrarem cada vez mais sedentários, conseqüentemente aumentando o
número de casos de obesidade e doenças relacionadas (POLLOCK; WILMORE, 1993;
MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000).
Dessa forma, temos os hábitos alimentares e a falta de atividade física como os
principais fatores para o aumento do sobrepeso e obesidade em todas as idades, ressal-
tando que estes já alcançam proporções epidêmicas nos países desenvolvidos (GUEDES;
GUEDES, 1998; DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000). A Organização Mundial de Saúde
(OMS) define sobrepeso como o peso corporal que excede do peso normal dos indivíduos
da mesma raça, sexo, idade e constituição física. Enquanto a obesidade é a doença na
qual o excesso de gordura corporal acumulada no organismo aumentou o peso corporal
de tal forma que pode prejudicar a saúde. Ambos, sobrepeso e obesidade, podem ser
provocados pelo desequilíbrio entre a quantidade e a qualidade das calorias consumidas
e gastas (principalmente, via atividade física) (LEÃO, et al, 2003). Contudo, outros
autores entendem que suas causas vão além desse desequilíbrio, podendo ser resultan-
tes de fatores genéticos, metabólicos, neuroendócrinos, comportamentais, sociais e
psicológicos (DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000; OLIVEIRA, 2002), o que contribui
para o rápido aumento de suas prevalências, principalmente nas populações mais jo-
vens. Este fato é o que mais chama a atenção das autoridades médicas no mundo inteiro
(MONTEIRO; CONDE, 2000).
Esse aumento também é evidente em todas as regiões do Brasil. Na Bahia, em espe-
cial, estudos realizados com escolares das redes pública e da privada, Freire (2002)
detectou que 75,7% destas escolas não apresentam estratégias de prevenção da obesi-
dade e, ainda, Oliveira (2002) detectou que 9,3% e 4,4% das crianças apresentavam
sobrepeso e obesidade, respectivamente, sendo que, para a população da rede privada,
os números foram de 13,4% e 7,0%, e, para a rede pública, 6,5% e 2,7%, respectivamen-
te.
Estudos como os acima citados, realizados principalmente com escolares, têm sido
prática constante no meio acadêmico e sua importância reside no fato de buscarem um
maior entendimento sobre suas causas e sua prevalência, pois a obesidade está relaci-
onada, direta e indiretamente, com várias doenças, sendo fator de risco para o desen-

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volvimento de diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias, infarto do miocárdio, aci-
dente vascular cerebral e alguns tipos de câncer. Além disso, seu desenvolvimento du-
rante a infância pode persistir na vida adulta (DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000;
ESCRIVÃO et al., 2001; OLIVEIRA, 2002; LEÃO, et al., 2003; GIUGLIANO; CARNEIRO,
2004).
Neste contexto, o presente estudo objetivou revisar a influência dos hábitos alimen-
tares e da prática de atividades físicas na prevalência de sobrepeso e obesidade em
escolares.

Sobrepeso e obesidade infantil

As mudanças demográficas e econômicas, associadas ao desenvolvimento científico


de nossa época, propiciaram o aumento da expectativa de vida da população, controle
das doenças infecto-contagiosas e contribuíram para a mudança no perfil alimentar e de
morbimortalidade dos países do ocidente (MINAYO, 1995). Neste contexto, as doenças
crônico-degenerativas e o alto consumo de alimentos processados industrialmente - ri-
cos em gorduras saturadas e açúcares simples e altamente calóricos - passaram a predo-
minar no interior das famílias, levando a um percentual significativo dos óbitos nos
países desenvolvidos (WILMORE; COSTIL, 2001). Estes processos são denominados de
Transição Epidemiológica e Transição Nutricional (MINAYO, 1995; MONTEIRO; CONDE,
2000; MARCHIONI, 2001).
As mudanças seculares ocorridas no estilo de vida da população - impulsionadas pelos
avanços técnico-científicos, pelo crescimento das áreas urbanas e aumento da renda
familiar - (MARCHIONI, 2001) – levam-nos a assumirmos hábitos cada vez mais sedentá-
rios e a adotarmos uma alimentação pouco saudável, e isto tem contribuído para o
aumento do número de pessoas com sobrepeso e obesidade em todas as idades
(MONTEIRO, CONDE, 2000).
O sobrepeso e a obesidade são distúrbios crônicos complexos, relacionados a vários
fatores que desequilibram o balanço energético na direção do ganho de peso. Ambos os
termos – sobrepeso e obesidade - são comumente usados sem distinção, como se fos-
sem sinônimos. Porém, do ponto de vista técnico, possuem significados diferentes.
Sobrepeso é o peso corporal que excede do peso normal ou padrão dos indivíduos da
mesma raça e sexo baseado na altura, idade e constituição física (POLLOCK; WILMORE,
1993; WILMORE; COSTIL, 2001). Já a obesidade é definida pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) como a “doença na qual a gordura se acumulou no organismo a tal ponto
que a saúde pode ser afetada” (LEÃO, 2003). Essa gordura excessiva acumula-se em

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subcutâneos e em outros tecidos e pode ser quantificada através dos métodos de estu-
dos da composição corporal em que o peso da massa magra (músculos, ossos, órgãos e
líquidos corporais) é fracionado do peso da massa gorda (tecido adiposo) (HEYWARD;
STOLARCZYK, 2000; DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000; FERNANDES FILHO, 2002).
Estudos demonstram que valores de quantidades de gordura corporal superiores a 20%
em homens e 30% entre as mulheres aumentam os riscos do surgimento e desenvolvi-
mento de problemas de saúde (GUEDES; GUEDES, 1998).
Além de ser conceituada como doença, a obesidade está relacionada, direta ou indi-
retamente, com o aumento do risco de desenvolvimento da hipertensão arterial, diabe-
tes, hiperlipidemias, distúrbios nas articulações que sustentam o corpo, doenças
cardiovasculares, alguns tipos de câncer, afecções respiratórias, renais e dermatológicas
e problemas psicológicos e sociais (MONTEIRO et al., 2000; NAVARRO et al., 2001;
CORONELLI; MOURA, 2003).
As implicações do sobrepeso e obesidade sobre a saúde da população e sua ligação
com várias doenças ficaram conhecidas através de estudos e correlações do índice de
massa corporal, o qual é utilizado tanto para a determinação do risco de doenças
cardiovasculares quanto para a definição do sobrepeso e obesidade (PITANGA, 2001;
FERNANDES FILHO, 2002).
O Índice de Massa Corporal (IMC) é muito utilizado para determinar os níveis de
obesidade e sobrepeso, sendo expresso pela relação do peso corporal (kg) com o quadra-
do da altura (m). O IMC é muito utilizado no mundo inteiro pela sua simplicidade nos
cálculos e por ser utilizado em todas as idades (POLLOCK; WILMORE, 1993; GUEDES;
GUEDES, 1998; DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000; PITANGA, 2001; FERNANDES FI-
LHO, 2002).
Para Davies e Preece (1995 apud GIUGLIANO; MELO, 2004), o número de técnicas
disponíveis para estudo da composição corporal de crianças e adolescentes quando com-
parados com adultos são insatisfatórios; mesmo assim, o IMC é o mais utilizado. O IMC
é ainda utilizado como indicador de sobrepeso e obesidade, por ser considerado muito
representativo em estudos epidemiológicos, pois reflete com certa exatidão a composi-
ção corporal, tendo moderada correlação com o percentual de gordura corporal predito
pela pesagem hidrostática (GUEDES; GUEDES, 1998; HEYWARD; STOLARCZYK, 2000;
MOLINARI, 2000; PITANGA, 2001; FERNANDES FILHO, 2002; FISBERG, 1995 apud
GIUGLIANO; MELO, 2004). Assim, em crianças e adolescentes, o sobrepeso e a obesida-
de são dados pelo IMC / idade acima do percentil 85 e 95, respectivamente, os quais são
baseados em padrões internacionais e são propostos para a faixa etária de 2 a 20 anos
(GIUGLIANO; MELO, 2004).

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Também através do IMC, o National Center for Health Statistics definiu a obesidade
como valores superiores a 27,8 Kg/m², para homens e 27,3 Kg/m², para mulheres. Bray
(1992) sugeriu o limite de coorte segundo o qual IMC < 20 Kg/m² corresponde a baixo
peso; entre 20 e 25 Kg/m², peso normal; entre 26 e 30 Kg/m², sobrepeso e IMC > 30 Kg/
m², obesidade (POLLOCK, WILMORE, 1993). A OMS sugeriu o valor de IMC = 25 Kg/m²
como limite máximo considerado normal (PITANGA, 2001).

Prevalência de sobrepeso e obesidade infantil

Recentemente, estudos procuram abranger levantamentos populacionais, na tentati-


va de fornecer subsídios na análise da prevalência do sobrepeso e da obesidade em
todas as idades e camadas sociais. Esses estudos, além de descrever o fenômeno, po-
dem contribuir para a monitoração do nível de saúde e qualidade de vida da população
(GUEDES; GUEDES, 1998).
O National Health and Nutrition Examination Survey – NHANES – realiza estudos peri-
ódicos nos EUA desde 1971 e seus resultados servem de indicadores do comportamento
da prevalência do sobrepeso e obesidade nos países desenvolvidos. No NHANES III (1991)
foi constatado que 33% da população adulta norte-americana apresentava sobrepeso e
22% obesidade, o que levou o excesso de peso a ser considerado epidemia neste país
(POLLOCK; WILMORE, 1993; GUEDES; GUEDES, 1998; DAMIANI; OLIVEIRA; CARVALHO,
2000). Na Espanha, por exemplo, cerca de 10% a 20% dos adolescentes são obesos (ANTA
et al., 1996 apud CARVALHO et al., 2001), fato comum nos países desenvolvidos.
Nos países em desenvolvimento já existe um evidente aumento na prevalência do
sobrepeso e obesidade (OLIVEIRA, 2002). Dados produzidos pelo Instituto Nacional de
Alimentação e Nutrição – INAN – (1991 apud GUEDES; GUEDES, 1998) indicam que 32% da
população adulta brasileira apresentam algum tipo de sobrepeso e, destes, 8 % estão
obesos. Entre os homens, a prevalência é de 27% e de 38% entre as mulheres. Neste
mesmo estudo, comparou-se a prevalência entre as regiões Nordeste e Sudeste e encon-
traram os seguintes dados: NE – 18,5% homens e 29,5% mulheres; SE – 29,8% homens e
41% mulheres.
Monteiro e Conde (in: MONTEIRO (Org.), 2000) analisaram dados obtidos em três
inquéritos nutricionais realizados no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística – IBGE –, o Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF – 1975), a Pesquisa
Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN – 1989) e a Pesquisa sobre Padrão de Vida (PPV –
1997) e concluíram que, entre 1975 e 1997, houve um aumento de 70 e 90 % na incidên-
cia de homens e mulheres obesos, respectivamente, dos quais cerca de um milhão e

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meio eram crianças e adolescentes.
O Brasil já é apontado entre os países com rápida elevação do sobrepeso e obesidade
- quando avaliada a partir do IMC - principalmente em crianças e adolescentes, mesmo
em populações mais carentes (LEÃO et al., 2003). Quadro que já tem preocupado as
autoridades médicas, pois este aumento é evidente em todas as regiões do país
(MONTEIRO; CONDE, 2000).
Em Brasília, entre os anos de 2000 e 2001, foi realizado um estudo com a participa-
ção de 528 escolares (de 6 a 10 anos), os quais foram avaliados utilizando as medidas de
peso, estatura, pregas cutâneas (tricipital e subescapular) e perímetros de cintura e
quadril. Foi encontrada a prevalência de sobrepeso e obesidade de 21,2% nas meninas e
18,8% nos meninos, 20,1% do total da amostra estudada (GIUGLIANO; MELO, 2004).
Em uma escola particular de Teresina – PI, 334 crianças foram avaliadas e encontrou-
se um risco de sobrepeso e obesidade em 20% da amostra (CARVALHO et al., 2001). Já
Balaban e Silva (2001) encontraram, no Colégio Marista São Luiz, que atende a clientela
de classe média e média alta do Recife - PE, no ano de 1999, de um total de 762 alunos
estudados (332 crianças de 6 a 9 anos e 430 adolescentes) um percentual, entre as
crianças, de 34,3% e 14,2% de sobrepeso e obesidade e entre os adolescentes, 20% e
4,2%, respectivamente.
Utilizando o IMC no percentil 50, Silva et al. (s.d.) realizaram um estudo com escola-
res da rede estadual de ensino na cidade de Aracaju – SE, com idades entre 10 e 18 anos,
e encontraram um percentual de 9% e 11% para obesidade e sobrepeso, respectivamen-
te, para um universo de 1012 alunos pesquisado. Leão et al. (2003), em um estudo de
delineamento transversal com alunos entre 5 e 10 anos de idade, matriculados na rede
pública e privada de Salvador – BA, concluíram que a prevalência da obesidade global da
amostra estudada (387 crianças) foi de 15,8%, sendo maior nos alunos das escolas par-
ticulares.
Em outro estudo, realizado na Bahia, visando determinar a influência de fatores
biológicos, psicológicos, sócio-econômicos e sócio-comportamentais na gênese do
sobrepeso e obesidade em crianças das redes de ensino público e privado da zona urba-
na, Oliveira (2002) constatou que 9,3 % das crianças apresentavam sobrepeso e 4,4%
obesidade. Nas escolas públicas, de um total de 382 crianças pesquisadas, o diagnóstico
de sobrepeso foi de 6,5% (27) e de obesidade 2,7% (11) e, nas escolas privadas, 13,4%
(38) diagnosticadas com sobrepeso e 7,0% (20) com obesidade, de um total de 284
crianças.
Estudos transversais com escolares em todo país têm se tornado uma prática co-
mum, na tentativa de identificar e descrever a prevalência do sobrepeso e obesidade

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em crianças e adolescentes, já que a obesidade infanto-juvenil tem estreita ligação com
a obesidade do adulto (CARVALHO, et al., 2001).
O aumento da obesidade e suas seqüelas como problema clínico e social é que tem
estimulado esses estudos, os quais nos levam à percepção do quanto o sobrepeso e a
obesidade estão cada vez mais presentes em todas as comunidades, atingindo todas as
idades.

Causas do sobrepeso e obesidade

Junto à comunidade científica já existe um consenso quanto ao entendimento das


causas da obesidade, pois admite-se que esta é uma doença multifatorial e seu desen-
volvimento pode ser determinado por um ou pela soma de fatores, como genético,
ambiental, comportamental e sócio-cultural (POLLOCK; WILMORE, 1993; KATCH;
MCARDLE, 1998; GUEDES; GUEDES, 1998; DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000; ESCRI-
VÃO et al., 2001).
Várias hipóteses tentam explicar a natureza e as causas do sobrepeso e da obesida-
de, mas é fato que nenhuma teoria única pode explicar completamente todas as suas
manifestações. Tratando-se do sobrepeso e obesidade na infância e adolescência, o
fator de risco mais importante no seu desenvolvimento, na idade adulta, é a freqüência
de obesidade entre os familiares, pela sua soma genética e pelos fatores ambientais; os
hábitos alimentares, determinados pelos níveis de ingestão de energia; e, o sedentarismo,
caracterizado pelo estilo de vida geral da família (ESCRIVÃO et al., 2001).

Influência dos hábitos alimentares

As mudanças sofridas em nossa alimentação durante os últimos trinta anos, tanto na


qualidade quanto na quantidade de alimentos consumidos, foram decorrentes do proces-
so de Transição Nutricional, que se deu com o crescimento das áreas urbanas e aumento
da renda geral da população (MARCHIONI, 2001). Nos EUA e alguns países da Europa
(bloco desenvolvido), esta transição foi um processo lento e gradativo. Já nos países em
desenvolvimento, inclusive o Brasil, o processo foi tardio e acelerado, com uma altera-
ção drástica na estrutura da dieta, com uma tendência para o uso da dieta dos países
desenvolvidos, a dita “dieta ocidental” (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000).
A atual dieta é caracterizada pelo alto consumo de gorduras saturadas, proteína ani-
mal, açúcares simples, alimentos industrializados e pelo baixo consumo de carboidratos
complexos e de fibras, o que tem contribuído para o desenvolvimento de doenças crôni-

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co-degenerativas, assim como para o sobrepeso e obesidade (MONTEIRO; MONDINI;
COSTA, 2000; MARCHIONI, 2001).
Muitas evidências, que associam as características da dieta ao estado de saúde dos
indivíduos, levaram a OMS a estabelecer limites máximos para o consumo de nutrien-
tes, como gorduras (30% do consumo calórico total), ácidos graxos saturados (10% do
consumo de gordura), açúcar (10% do consumo calórico total), colesterol (300mg /dia ou
100mg / 1000Kcal) e sal (6g / dia) e a estimular o consumo de carboidratos complexos
(mínimo de 50% do consumo calórico total), legumes, verdura e frutas (400g / dia ou 7%
do consumo calórico total) (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000).
Tais mudanças nos hábitos alimentares são muito percebidas nas populações mais
jovens, principalmente os adolescentes, que têm o costume de realizar várias refeições
durante o dia e consumir lanches altamente calóricos, compostos por alimentos ricos em
gordura e açúcares simples (DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2000; KAZAPI et al., 2001;
FREIRE, 2002). Isto é reforçado pelos achados de Imperato (1990 apud OLIVEIRA, 2002),
que encontrou relação direta entre o consumo de lanches e a prevalência da obesidade
em criança e adolescentes, e Carvalho et al. (2001), que constataram que, nos hábitos
alimentares dos jovens, embora diversificados, percebe-se realmente a presença
marcante desses alimentos ou preparações gordurosas, ricas em açúcares e com poucas
fibras. Além das mudanças no padrão alimentar dos adolescentes, Gambardela et al.
(1999 apud CARVALHO et al., 2001) ressaltam que essa alimentação é pobre em cálcio e
ferro, devido ao baixo consumo de frutas, legumes, verduras, cereais, peixe, leite e
derivados, agravada pela má elaboração dos cardápios escolares, principalmente nas
cantinas, e até em casa, o que pode transformar-se em hábitos inalteráveis (OLIVEIRA,
2002).
Segundo Michaud e Baudier (1991 apud KAZAPI et al., 2001), os adolescentes france-
ses têm um elevado consumo de gordura, da ordem de 36,9% a 40,5% entre os meninos
e de 34,2% a 41% entre as meninas. Crawley (1993 apud KAZAPI et al., 2001) verificou
que, na Grã-Bretanha, 41,4% e 40,6% eram os percentuais da energia proveniente dos
lipídios entre adolescentes do sexo masculino e feminino, respectivamente. Barroto et
al. (1993 apud CARVALHO et al., 2001) estudaram 80 adolescentes obesos e não obesos
e chamou atenção a dieta dos obesos, a qual é mais rica em gorduras e proteínas com
uma maior proporção diária de energia.
No Brasil, dentre os desvios nutricionais, a desnutrição ainda é o mais freqüente em
todas idades e estratos econômicos, mas existe uma elevação significativa no aumento
do peso em crianças e adolescentes em todo país, devido aos maus hábitos alimentares
e a sua associação com a inatividade física (MONTEIRO; CONDE, 2000; OLIVEIRA, 2002).

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Em um estudo através de recordatório alimentar de 24 horas, realizado com o obje-
tivo de avaliar a adequação do consumo de energia e macronutrientes em adolescentes
de escolas públicas e privadas do município de Florianópolis- SC, 32,1% dos adolescentes
da rede pública e 21,8% da rede privada apresentavam um consumo energético acima do
adequado e 33,9% e 39% dos estudantes das respectivas redes apresentavam alto consu-
mo de lipídios (KAZAPI, 2001).
Com tais semelhanças nos resultados de estudos diferentes, em períodos diferentes
e em países diferentes, podemos perceber que a tendência para uma má alimentação é
fato, que o tipo de alimentação adotada atualmente em todas as idades é fator de risco
para uma série de complicações para a saúde e, no tocante ao sobrepeso e à obesidade,
o seu controle e prevenção depende prioritariamente de uma mudança de comportamen-
to que se baseia, inicialmente, em uma reeducação alimentar.

Influência da inatividade física

A falta de atividade física se constitui em uma das principais causas para o desenvol-
vimento do sobrepeso e obesidade em todas as faixas etárias. Para Pollock e Wilmore
(1993), “a inatividade física tem papel potencializador no aumento da gordura corporal
e a atividade física é um dos meios de controlar e manipular este aumento” (p.60).
Oliveira (2002) considera o baixo nível de atividade física não só a causa, mas também
a conseqüência deste aumento de gordura.
A prática regular da atividade física traz benefícios para a saúde física e mental do
praticante e contribui no processo de promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção
de doenças. Contudo, seu papel no caso dos obesos não deve ser superestimado, pois a
obesidade é um mal causado por uma série de fatores e a sua prevenção e controle
utiliza vários métodos e estratégias no tratamento (OLIVEIRA, 2002; LEÃO et al., 2003).
Estudos comprovam que, no tratamento da obesidade, a atividade física em combi-
nação com a dieta é o mais indicado e eficiente método para a redução e manutenção do
peso pois, além de aumentar o gasto energético total, a atividade física auxilia na
preservação e manutenção da massa magra durante a dieta e pode minimizar a diminui-
ção da taxa metabólica causada pela redução do peso corporal total (POLLOCK; WILMORE,
1993; MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998; POWERS; HOWLEY, 2000, DAMIANI; CARVALHO;
OLIVEIRA, 2000; OLIVEIRA, 2002).
Na população de crianças e adolescentes, estudos demonstram estreita relação entre
a inatividade física e o aumento gradual do peso corporal. Numa revisão de literatura,
Guedes e Guedes (2000) verificaram que a demanda energética por Kg de peso de um

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grupo de jovens obesos era menor que seus pares não obesos. Pollock e Wilmore (1993)
apresentam estudo de Bruch (1989), o qual foi realizado com um grupo de 160 crianças
obesas e detectou-se que 76% dos meninos e 68% das meninas eram anormalmente
inativos e apenas 8% dos meninos e 22% das meninas eram considerados ativos.
Com o objetivo de analisar a relação entre a prática de atividade física habitual e
indicadores da aptidão física relacionados à saúde, Guedes et al. (2002) realizaram um
estudo com escolares do ensino médio do Colégio Aplicação, em Londrina – PR e verifica-
ram que os adolescentes de ambos os sexos permaneciam em média 20 horas por dia
inativos fisicamente e os homens dedicavam quatro vezes mais de seu livre tempo em
atividades com intensidades de moderada a intensa.
Em Brasília, um estudo realizado com escolares de 6 a 10 anos de idade buscou inves-
tigar a relação da atividade física e horas de sono com o sobrepeso e obesidade. Foi
encontrada a prevalência de sobrepeso e obesidade de 21,1% e 22,9% entre meninos e
meninas, respectivamente, e estes apresentaram 75% da rotina diária distribuída entre
horas de sono e a permanência na posição sentada (GIUGLIANO; CARNEIRO, 2004).
Em outro estudo, na tentativa de levantar a prevalência da obesidade em escolares
de Salvador – BA, Leão et al. (2003), avaliando o nível de atividade de 398 alunos de 37
escolas, 25 públicas e 12 privadas, encontraram 57,3% e 55,3% de jovens sedentários
em tais escolas, respectivamente. Oliveira (2002), num estudo com escolares da cidade
de Feira de Santana – BA, encontrou uma relação inversa entre a prática sistematizada
de exercícios físicos e a prevalência do sobrepeso e obesidade na dada amostra.
Estas pesquisas nos alertam para a importância da prática de atividade física nas
populações de todas as idades, em especial nas populações mais jovens, que podem
adotar estilos de vida mais ativos precocemente e manterem na vida adulta, uma vez
que esta pode contribuir no combate, controle e prevenção de uma série de doenças,
inclusive o sobrepeso e a obesidade.

CONCLUSÃO

Diante do quadro exposto, é possível compreender o aumento do sobrepeso e da


obesidade em todas as idades e extratos sociais como um sério problema de saúde
pública, foco de muitos estudos no mundo inteiro. Além disso, explicita-se a necessida-
de da criação de estratégias de prevenção, controle e tratamento do sobrepeso e obesi-
dade, principalmente entre os mais jovens.
Assim, a partir dos dados apresentados, podemos concluir que o percentual da
prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil é bastante representativo. Desse modo,

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chamamos a atenção para a necessidade de maiores esclarecimentos sobre os riscos do
sobrepeso e obesidade na infância, além da necessidade de incremento de programas
para sua prevenção, controle e tratamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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