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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 1

CAPÍTULO I
CÁLCULO DE FLUXO DE POTÊNCIA EM SISTEMAS DE ENERGIA

1.1 INTRODUÇÃO

O fluxo de potência é uma ferramenta extremamente importante para o planejamento e


operação de sistemas de energia e tem sido a base para vários estudos envolvendo tais
sistemas. O cálculo de Fluxo de Potência (FP) em sistemas de energia consiste basicamente
na determinação do estado da rede, da distribuição dos fluxos de potências nas linhas e
transformadores, e de algumas outras grandezas de interesse. Neste tipo de problema a
modelagem é feita de forma estática. Assim, considera-se que as variações com o tempo
são suficientemente lentas, de modo que seja possível ignorar os efeitos transitórios.

Para estudos de fluxo de potência, os componentes de sistemas de energia podem ser


classificados como pertencentes a dois tipos básicos: componentes de barra e componentes
de ramo. Os componentes de barra são ligados entre um barramento (nó) qualquer e a terra.
Como exemplos, podem-se citar: os geradores, os bancos de capacitores/reatores, os
compensadores shunt, as cargas, etc. Os componentes de ramo estão ligados entre dois
ramos quaisquer. Como exemplos, podem-se citar as linhas de transmissão, os
transformadores, os transformadores defasadores, etc.

A formulação do fluxo de carga é construída com base nas leis de Kirchhoff.


Primeiramente, escrevem-se as equações de conservação de potências ativa e reativa em
cada nó, o que corresponde ao atendimento da primeira lei de Kirchhoff. A segunda lei é
atendida em um segundo conjunto de equações que expressam os fluxos de potência nos
componentes de ramo como função do estado calculado pela imposição da primeira lei de
Kirchhoff.

1.2 FORMULAÇÃO BÁSICA DO PROBLEMA

Na formulação básica do Fluxo de Potência (FP), são associadas a cada barra k 4


variáveis, quais sejam:

• Vk : magnitude da tensão na barra k .


• θ k : fase da tensão na barra k .
• Pk : injeção de potência ativa líquida na barra k .
• Qk : injeção de potência reativa líquida na barra k .

As injeções de potência ativa e reativa líquida em cada barra são definidas por (1) e (2)
e representadas na Figura 1.

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Pk = Pkger − Pkcar (1)


Qk = Qkger − Qkcar (2)

Onde:

Pkger : potência ativa gerada na barra k .


Pkcar : potência ativa consumida na barra k .
Qkger : potência reativa gerada na barra k .
Qkcar : potência reativa consumida na barra k .

No fluxo de carga, as gerações e as cargas são representadas por um modelo de potência


ativa/reativa constante. Convenciona-se que as potências ativas/reativas geradas na barra
correspondem a valores positivos de injeções e que os consumos de potência ativa/reativa
são valores negativos, resultando em (1) e (2).

k k

Pkger Qkger
Pkcar Qkcar

Figura 1. Convenção de sinais para as injeções de potência ativa e reativa.

As informações envolvendo Pkger , Pkcar , Qkger e Qkcar não são as mesmas em todas as
barras. Em algumas barras estes valores são dados do problema de FP e em outras estas
informações devem ser calculadas.

Os montantes consumidos em cada barra são, em geral, conhecidos através de medição,


ou através de modelos de previsão de carga. Assim, Pkcar e Qkcar são valores conhecidos
(dados) em todas as barras do sistema. Para uma barra de geração, em geral, se conhece o
montante de potência ativa gerada Pkger , visto que este montante é estabelecido (fixado)
através de estudos de despacho de geração. Entretanto, os valores de reativos gerados
Qkger não são valores pré-fixados nas barras de geração. O mesmo ocorre para uma barra
com compensação síncrona. Para uma barra de carga, em geral as gerações Pkger e Qkger são
nulas, sendo os consumos ativo e reativo ( Pkcar e Qkcar ) conhecidos.

Nas barras de carga, os valores de Pkger , Pkcar , Qkger e Qkcar são completamente
conhecidos, de modo que as injeções líquidas dadas pelas equações (1) e (2) são dados do

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problema. Nas barras de geração e com compensadores síncronos os valores de Qkger não
são conhecidos e precisam ser calculados pelo FP, de modo que a injeções líquidas de
potência reativa, dadas por (2), não são conhecidas nas barras de geração/compensação
síncrona.

Assim, considerando apenas as injeções conhecidas (dados do FP), podemos resumir a


discussão acima através da tabela 1.

Tabela 1. Disponibilidade de informações a respeito das injeções de potência nas


barras do sistema.
Tipo da Barra Pkger Pkcar Qkger Qkcar Pk Qk

Geração/compensador dado dado ? dado dado ?


síncrono

Carga dado dado dado dado dado dado

As barras de carga, onde os valores de injeções líquidas Pk e Qk são dados, são


denominadas de barras PQ no contexto do problema de FP.

O problema de FP é formulado, inicialmente, impondo-se a primeira lei de Kirchhoff


em cada barramento do sistema para as injeções de potência ativa e reativa, conforme as
equações (3) e (4), denominadas de equações de mismatches de potência ativa e reativa
respectivamente.
Pk = Pkger − Pkcar = ∑ Pkm (Vk , Vm ,θ k ,θ m ) (3)
m∈Ω k

Qk + Qksh (Vk ) = Qkger − Qkcar + Qksh (Vk ) = ∑ Qkm (Vk ,Vm ,θ k ,θ m ) (4)
m∈Ω k

Onde:

Pkm : potência ativa fluindo da barra k para a barra m .


Qkm : potência reativa fluindo da barra k para a barra m .
Ωk : conjunto das barras que compõem a primeira vizinhança da barra k .
Qksh : potência reativa injetada na barra k por um elemento shunt conectado à barra. Os
elementos shunts mais comuns são os bancos de capacitores/reatores de barra. Qksh
é calculado por Qksh = bkshVk2 , onde bksh é a susceptância shunt do elemento ligado à
barra k .

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Os balanços de potência ativa e reativa são representados na figura 2. As expressões


para Pkm e Qkm , como funções das magnitudes e dos ângulos das tensões nas barras k e
m , serão deduzidas a seguir. Antes, porém, é importante mostrar algumas questões
importantes relacionadas à aplicação das leis de Kirchhoff em cada barra.
m1
m1
Qkm3
Pkm1
k
k Qkm2
Pkm2 m2
m2

Qk
Pk
Qkm3
Pkm3 m3
m3 Qksh

Pk = ∑ Pkm Qk + Qksh = ∑ Qkm


m∈Ω k m∈Ω k

Figura 2. Atendimento da primeira lei de Kirchhoff para as potências ativas e reativas


em uma barra k genérica do sistema.

A aplicação da lei de Kirchhoff em cada barra poderia ser feita de forma simples
escrevendo-se duas equações como (3) e (4) em cada barra. Neste caso, para um sistema
com um número de barras igual a nb , teríamos 2* nb equações e 2* nb incógnitas
(magnitude e fase da tensão em cada barra). Entretanto, esta construção do problema não é
física nem matematicamente possível. Vejamos algumas razões para tal fato.

A primeira razão está associada ao quadro mostrado na Tabela 1. Conforme se vê na


tabela, a injeção de potência reativa Qk não é conhecida para as barras de
geração/compensação síncrona do sistema. Na verdade, teoricamente esta geração também
poderia ser fixada, entretanto, é mais eficiente fixar a tensão nestas barras, deixando a
potência reativa Qkger liberada; na verdade, esta escolha é arbitrária, mas tem sido
tradicionalmente adotada em estudos de FP. Como Qk não é conhecida, não é possível
escrever a equação (4) para este tipo de barra. Como, neste caso, as tensões Vk são fixadas,
e apenas as equações de potência ativa (3), envolvendo Pk , podem ser escritas, este tipo de
barra é denominado de barra PV, no contexto dos estudos de FP. Repare-se que a equação
associada à potência reativa líquida foi retirada do conjunto de equações, mas retirou-se
também uma incógnita, já que a tensão Vk é conhecida.

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A segunda razão está associada à conservação de energia no sistema. Se equações de


potência ativa como (3) são escritas para todas as barras, tem-se que as gerações e
demandas são conhecidas em todas as barras do sistema. Assim, se no balanço total de
total total
energia do sistema dado por (5), conhecermos previamente Pger e Pcar , as perdas
Pperdas seriam também previamente conhecidas, o que não tem sentido físico, já que as
perdas são escritas como função do estado do sistema.

total
Pger = Pcar
total
+ Pperdas (5)

Assim, é necessário que em uma determinada barra do sistema a equação (3) não seja
escrita. Esta barra é denominada de barra de referência ou slack. A barra de referência é
escolhida como uma barra de geração, e tem como objetivo básico gerar as perdas do
sistema. Assim, para esta barra não são escritas nem (3) nem (4). Duas equações são
retiradas para estas barras, portanto duas incógnitas também devem ser eliminadas. Como a
barra é de geração, a tensão Vk é fixada. Além disso, fixa-se o valor de θ k em um valor
qualquer, denominado de ângulo de referência. Em geral adota-se θ = 0 como referência,
mas qualquer valor pode ser adotado. Assim, a barra de referência é também conhecida
como barra Vθ. A tabela 2 resume os valores calculados e fornecidos (dados) em cada tipo
de barra:

Tabela 2. Disponibilidade de informações a respeito das injeções de potência nas


barras do sistema.
Tipo da Barra Pk Qk Vk θk
PQ dado dado calculado calculado
PV dado calculado dado calculado
Vθ calculado calculado dado dado

Assim, para um sistema contendo nPQ barras PQ, nPV barras PV e uma barra Vθ, tem-
se a seguinte quantidade de equações e incógnitas, na aplicação da lei de Kirchhoff:

nPQ + nPV incógnitas do tipo θ k nPQ + nPV equações do tipo (3);


+ nPQ incógnitas do tipo Vk + nPQ equações do tipo (4);

2nPQ + nPV incógnitas 2nPQ + nPV equações

O problema inicial é, portanto, formulado de modo que o número de equações e de


incógnitas seja compatível. Após a solução deste problema, as tensões fasoriais em todas as
barras serão conhecidas. A partir destas tensões fasoriais, podem-se calcular os demais
valores, quais sejam: Qk nas barras PV e Vθ, e Pk na barra Vθ.

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Os 3 tipos de barras que aparecem na formulação básica são os mais freqüentes e


também os mais importantes. Entretanto, existem algumas situações particulares, como por
exemplo, o controle de intercâmbio entre áreas de sistemas de energia, o controle da
magnitude de tensão de uma barra remota, nas quais aparecem outros tipos de barras (PQV,
P e V). Esses tipos de controle não serão estudados nesta disciplina (para maiores
informações ver capítulo 6 do livro Monticelli et all).

Além das equações de mismatches de potência ativa e reativa, fazem parte do problema
de FP algumas inequações, associadas às restrições nas magnitudes de tensão nas barras PQ
e às restrições nos limites de injeção de potência reativa nas barras de geração e de
referência, conforme (6) e (7) respectivamente.

Vkmin ≤ Vk ≤ Vkmax ; k ∈ ΩPQ (6)


Qkmin ≤ Qk ≤ Qkmax ; k ∈ {ΩPV ∪ ΩVθ } (7)
Onde:

Vkmin , Vkmax : valores mínimo e máximo da magnitude da tensão na barra k ;


Qkmin , Qkmax : valores mínimo e máximo de injeção de reativo na barra k ;
ΩPQ : conjunto formado pelas barras PQ;
ΩPV : conjunto formado pelas barras PV;
ΩVθ : conjunto formado pelas barras Vθ.

O tratamento destes limites não será discutido nesta disciplina (detalhes sobre a
implementação destes limites em métodos de fluxo de potência ver capítulo 6 do livro
Monticelli et all).

Os elementos básicos que compõem um sistema de energia serão discutidos a seguir,


onde são desenvolvidos os modelos utilizados na formulação do FP. Conforme descrito, os
geradores e cargas são modelados através de injeções de potência constantes. Os bancos de
capacitores/reatores são modelados através de admitâncias shunt constantes. Resta
considerar modelos para os elementos de ramos do sistema, quais sejam: as linhas de
transmissão, os transformadores em fase e os transformadores defasadores.

Exemplo 1.1

Calcular a potência ativa consumida pela carga Z 2 do circuito descrito na Figura 3.

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Z1 = 4 90o

+ +
E =V α ~ V 100V
_ _ Z 2 = 3 0o

Figura 3. Circuito elétrico para o exemplo 1.

Exemplo 1.2

Dado o sistema exemplo da Figura 4, estabelecer os tipos de barra e estipular os valores que
devem ser calculados e especificados em cada barra. Escreva as equações de fluxo de carga
relacionadas ao sistema.

1 2 3 4 5

~ ~

~
Figura 4. Sistema de potência utilizado no exemplo 2.

1.3 MODELAGEM DE ELEMENTOS DE RAMO – CÁLCULO DE


CORRENTES

1.3.1 Linhas de Transmissão

Em estudos de FP, as linhas de transmissão são modeladas através do modelo


equivalente π representado na figura 3. O modelo é composto por uma resistência série rkm ,

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sh
uma reatância série xkm e as susceptância shunt bkm . A impedância total do elemento série
é, portanto zkm = rkm + jxkm .

k m
zkm = rkm + jxkm

I km I mk
sh sh
jbkm jbkm

Figura 5. Modelo equivalente π da linha de transmissão para estudos de FP.

A admitância série da linha é dada por:

−1 rkm x
ykm = g m + jbkm = ( zkm ) = 2 2
− j 2 km 2 (8)
rkm + xkm rkm + xkm

De onde se tem que a condutância g km e a susceptância bkm são dadas por:

rkm xkm
gm = 2 2
bkm = − 2 2
(9)
rkm + xkm rkm + xkm

Quando o modelo π representa uma linha de transmissão têm-se rkm e xkm positivos
(linha indutiva), o que implica em valores positivos para g km e negativos para bkm . O
sh
elemento shunt bkm é positivo, pois representa uma reatância capacitiva.

A corrente série I km , fluindo da barra k para a barra m, é formada por uma componente
série e um componente shunt, e pode ser calculada a partir das tensões terminais fasoriais
Ek e Em , utilizando o método das tensões de nó, de circuitos elétricos, conforme (10).

I km = ykm ( Ek − Em ) + jbkm
sh
Ek (10)

Reescrevendo as tensões em termos de sua magnitude e ângulo tem-se (11).

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Ek = Vk θ k
(11)
Em = Vm θ m

Analogamente, a corrente I mk é dada por (12).

I mk = ykm ( Em − Ek ) + jbkm
sh
Em (12)

1.3.2 Transformadores Reguladores em Fase

Um transformador em fase é representado através de uma admitância série e um


autotransformador ideal com relação de transformação 1: t . A admitância série está
associada ao modelo equivalente do transformador e representa, dentre outros aspectos, a
dispersão nos enrolamentos primário e secundário, a resistência dos enrolamentos e, em
modelos mais precisos, as perdas por correntes de Foucault e histerese no transformador.
Em geral, nos bancos de dados utilizados pelas concessionárias, a admitância é puramente
indutiva, de modo que a maioria dos efeitos citados acima é desprezada nos
transformadores reais em estudos de FP.

Ek = Vk θ k Em = Vm θ m
k
m
E p = Vp θ p

I km p ykm I mk
1: t
Figura 6. Modelo de transformadores.

Para um transformador em fase t é um número real t = a . Para transformadores


defasadores puros, t é um número complexo do tipo t = 1 ϕ , e para transformadores
defasadores generalizados, t é um número complexo t = a ϕ .

Para transformadores em fase, temos que a relação entre as magnitudes das tensões dos
nós terminais k e p do transformador ideal é dada por (13).

Vp
=a (13)
Vk

Que é a própria relação entre E p e Ek , já que a relação entre os ângulos é θ k = θ p ,


conforme mostrado em (14).

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Ep Vp θ p
= =a (14)
Ek Vk θ k

O transformador em fase é representado na Figura 7.


Ek = Vk θ k Em = Vm θ m
k
m
E p = aVk θ k

I km p ykm I mk
1: a

Figura 7. Modelo de transformadores em fase.

Como o transformador k − p que aparece no modelo da Figura 7 é um transformador


ideal, as potências aparentes de entrada e saída devem ser iguais, de modo que não há
dissipação de potência ativa ou reativa no ramo k − p . Assim vale a equação (15)

* *
Ek I km + E p I mk =0 (15)

Dividindo (15) por Ek e utilizando (14), obtém-se:

I km
= − a = a 180o (16)
I mk

Ou seja, as correntes I km e I mk estão defasadas de 180o e suas magnitudes estão na


razão a :1 .

Um transformador regulador também pode ter um modelo de representação π como


acontece com a linha de transmissão. Para construirmos este modelo, suponhamos um
modelo π genérico, conforme mostrado na Figura e tentemos calcular, para o transformador
regulador em fase, os valores de A, B e C .

k m
A
I km I mk
B C

Figura 8. Modelo π genérico de um transformador em fase.

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Da figura 7, sabemos que as correntes I km e I mk são dadas por (17) e (18).

I km = −aI mk
(
= − aykm Em − E p )
= − aykm ( Em − aEk )
I km = a 2 ykm Ek + ( − aykm ) Em (17)

(
I mk = ykm Em − E p )
= ykm ( Em − aEk )
I mk = ( −aykm ) Ek + ykm Em (18)

Para o modelo π da figura 8, podem-se escrever as equações (19) e (20).

I km = A ( Ek − Em ) + Ek B
I km = ( A + B ) Ek + ( − A ) Em (19)

I mk = A ( Em − Ek ) + EmC
I mk = ( − A ) Ek + ( A + C ) Em (20)

Comparando-se (17) e (18), com (19) e (20) respectivamente, temos:

A = aykm
B = a ( a − 1) ykm (21)
C = (1 − a ) ykm

Repare que para a = 1 as admitâncias A e B são nulas e o circuito equivalente se reduz a


uma admitância série ykm . Para valores de a < 1 , a admitância B terá sinal contrário à
admitância ykm e, portanto, terá um efeito capacitivo, enquanto que C será do tipo. Para
valores de a > 1 os efeitos capacitivo e indutivo se invertem.

1.3.3 Transformadores Reguladores Defasadores

Os transformadores defasadores permitem que o fluxo de potência ativa no ramo em que


ele esteja instalado possa ser controlado. Veremos em seções seguintes que o fluxo de
potência em um determinado ramo k − m pode ser calculado (de forma aproximada) em
função da abertura angular θ k − θ m , conforme (22).

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θk −θm
Pkm ≈ (22)
xkm

Onde xkm é a reatância do ramo conectando as barras k − m .

Seja o modelo do transformador defasador puro, mostrado na Figura 9, onde a relação de


transformação é complexa t = 1 ϕ .

Ek = Vk θ k Em = Vm θ m
k
m
E p = Vk θ k + ϕ

I km 1: t p ykm I mk

(1:1 ϕ )
Figura 9. Modelo de um transformador defasador puro.

Para um defasador puro que E p = t Ek temos a relação (23).

Ep Vk θ k + ϕ
=1 ϕ = (23)
Ek Vk θ k

* *
Dividindo a relação Ek I km + E p I mk = 0 (no transformador ideal) por Ek , e utilizando a
relação (23) obtém-se:
* Ep *
I km + I mk = 0
Ek
*
I km = −1 ϕ I mk
*

*
I km
*
= −1 ϕ
I mk
I km
= −1 −ϕ = −t * (24)
I mk

De forma análoga ao transformador em fase podemos escrever as correntes da seguinte


forma:
I km = −t * I mk

( (
= −t * ykm Em − E p ))
= −t * ykm ( Em − tEk )

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(
I km = ykm Ek + −t * ykm Em ) (25)
Tem-se ainda que:
(
I mk = ykm Em − E p )
= ykm ( Em − t Ek )
I mk = ( −tykm ) Ek + ykm E p (26)

De (19) e (20) observa-se que a existência de um modelo π do transformador está


condicionada ao aparecimento de multiplicadores de Em e Ek iguais (valor de A nas
equações). De (25) e (26), percebe-se que estes multiplicadores não são iguais; assim não
existe um modelo π associado a um transformador defasador.

1.3.4 Expressões Gerais para as Correntes

Viu-se na seção anterior que a expressão das correntes I km e I mk no ramo depende do


componente localizado neste ramo.

As correntes I km em linhas, transformadores em fase, defasadores são dadas


respectivamente (10), (17) e (25) e reescritas, de forma rearranjada, conforme (27) a seguir:

(
I km = ykm + jbkm
sh
)
Ek + ( − ykm ) Em (linhas de transmissão)

I km = (a
2
km ykm ) E + ( −a y
k km km ) Em (transformador em fase) (27)

I km = ykm Ek + ( −t y ) E
*
km m (transformador defasador)

Examinando as expressões para os diferentes tipos de ramos acima se pode identificar


uma expressão geral para a corrente I km dada por (28).

2
(
I km = akm ykm + jbkm
sh
)
Ek + −t * ykm Em ( ) (28)

Onde: t = akm ϕ km .

Repare que a expressão geral (28) se reduz às expressões específicas (27) para cada
elemento de ramo, desde que os valores de akm , ϕ km , e bkm
sh
, descritos na Figura 10, sejam
adotados.

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Linha de transmissão Defasador Puro

akm = 1 akm = 1

ϕ km = 0 sh
bkm =0

Transformador em fase Defasador Generalizado

sh
bkm =0
sh
bkm =0
ϕ km = 0

Figura 10. Valores a serem atribuídos para akm , ϕ km , e bkm


sh
para utilização das equações
generalizadas de correntes (28).

Por outro lado, as correntes I mk em linhas, transformadores em fase, defasadores são


dadas respectivamente (12), (18) e (26) e reescritas, de forma rearranjada, conforme (29) a
seguir:

(
I mk = − ykm Ek + ykm + jbkm
sh
Em ) (linhas de transmissão)

I mk = ( −aykm ) Ek + ykm Em (transformador em fase) (29)

I mk = ( −tykm ) Ek + ykm E p (transformador defasador)

De forma análoga ao que foi feito para a corrente I km , tem-se a seguinte expressão geral
para a corrente I mk :

( )
I mk = ( −tykm ) Ek + ykm + jbkm
sh
Em (30)

Onde: t = akm ϕ km .

Novamente, adotando-se os mesmos valores para akm , ϕ km , e bkm


sh
descritos na Figura
(10) na expressão geral (30), chegamos às expressões particulares (29) para cada ramo
específico.

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Repare que as equações (28) não são obtidas se invertermos os índices k e m nas
equações (30). Assim, não há uma expressão geral para expressar as correntes em um ramo
k-m genérico do sistema. É necessário, portanto, que se trabalhe com os dois conjuntos de
equações, notando que a barra k das expressões (28) e (30) é a barra inicial na Figura 6 e
que a barra m é necessariamente a barra final naquela figura.

Tomando-se o cuidado de verificar a posição das barras no ramo k-m do sistema (barra
inicial ou final), as expressões (28) e (30) sintetizam as correntes em qualquer ramo do
sistema, desde que valores específicos sejam atribuídos a ϕ km , akm e bkm sh
, conforme
mostrado na Figura (10).

1.4 MODELAGEM DE ELEMENTOS DE RAMO – CÁLCULO DE FLUXOS DE


POTÊNCIA ATIVA E REATIVA

1.4.1 Linhas de Transmissão

Reescrevendo a equação (10) para a corrente I km em uma linha de transmissão, tem-se:

I km = ykm ( Ek − Em ) + jbkm
sh
Ek (31)

A potência aparente correspondente é dada por:

*
S km = Pkm + jQkm = Ek I km
Ou ainda:
*
Skm = Pkm − jQkm = Ek* I km (32)

Substituindo a corrente (31) em (32) tem-se:

*
Skm (
= Pkm − jQkm = Ek* ykm ( Ek − Em ) + jbkm
sh
Ek )
*
Skm = ykm Ek* Ek − ykm Ek* Em + jbkm
sh *
Ek Ek
*
Skm = ykmVk2 − ykmVkVm θ m − θ k + jbkm
sh 2
Vk
*
Skm = ykmVk2 − ykmVkVm cos (θ m − θ k ) − jykmVkVmsen (θ m − θ k ) + jbkm
sh 2
Vk

Separando-se as partes real e imaginária da expressão acima, tem-se (33)

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*
Skm = g kmVk2 − g kmVkVm cos (θ m − θ k ) + bkmVkVmsen (θ m − θ k ) +
jbkmVk2 − jbkmVkVm cos (θ m − θ k ) − jg kmVkVmsen (θ m − θ k ) + jbkm
sh 2
Vk

De onde temos:

Pkm = Vk2 g km − VkVm g km cos (θ k − θ m ) − bkmVkVmsen (θ k − θ m )

(
Qkm = −Vk2 bkm + bkm
sh
)
+ VkVmbkm cos (θ k − θ m ) − VkVm g kmsen (θ k − θ m )

Ou finalmente, temos os fluxos de potência ativa e reativa em uma linha dados por (30).

Pkm = Vk2 g km − VkVm g km cos (θ km ) − VkVmbkmsen (θ km )


(33)
Qkm = −Vk2 ( bkm + bkm
sh
) +V V b k m km cos (θ km ) − VkVm g kmsen (θ km )

Os fluxos Pmk e Qmk são obtidos de forma análoga, e dados por (34).

Pmk = Vm2 g km − VkVm g km cos (θ km ) + VkVmbkmsen (θ km )


(34)
(
Qmk = −Vm2 bkm + bkm
sh
)
+ VkVmbkm cos (θ km ) + VkVm g kmsen (θ km )

As perdas na linha são dadas por:

Perdas MW = Pkm + Pmk


(35)
Perdas Mvar = Qkm + Qmk

Substituindo-se (33) e (34) em (35), chega-se a expressão das perdas em uma linha de
transmissão, dada por (36).

(
Perdas MW = g km Vk2 + Vm2 − 2VkVm cos (θ km ) ) (36)
Perdas Mvar = −bkm
sh
( ) (
Vk2 + Vm2 − bkm Vk2 + Vm2 − 2VkVm cos (θ km ) )
As expressões (36) podem ser melhor interpretadas se utilizarmos a lei dos senos e
cossenos em um triângulo abc qualquer, que está descrita na figura 11.

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 17

β a b c
c = =
senα senβ senγ
a
α

c 2 = a 2 + b 2 − 2ab cos γ
b γ

Figura 11. Lei dos senos e cossenos em um triângulo qualquer.

Aplicando a lei dos senos e cossenos aos fasores Ek e Em quaisquer, conforme


mostrado na Figura (12), chega-se a (37).

Ek − Em
a c 2 = a 2 + b 2 − 2ab cos γ
Ek
θ km
2
c Ek − Em = Vk2 + Vm2 − 2VkVm cos θ km
b
(37)
θ km
− Em
Em

Figura 12. Relações de perdas na linha envolvendo os fasores de tensão.

Assim, as expressões para as perdas dadas em (36) podem ser reescritas, com o auxílio
da expressão (37) conforme (38).

2
Perdas MW = g km Ek − Em
(38)
Perdas Mvar = −bkm
sh
( )
Vk2 + Vm2 − bkm Ek − Em
2

Como em sistemas de energia a linha possui reatância indutiva bkm < 0 e susceptância
sh
shunt capacitiva bkm > 0 , os valores de na expressão das “perdas” reativas possuem sinais
diferentes. Assim, temos:

2
• g km Ek − Em : perdas ôhmicas
• −bkm
sh
( )
Vk2 + Vm2 : geração de reativos nos elementos shunt.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 18

2
• −bkm Ek − Em : perdas reativas.

1.4.2 Transformadores em Fase

Já vimos que para um transformador em fase a corrente é dada por (17) e reescrita em
(39) a seguir.

2
I km = akm ykm Ek + ( −akm ykm ) Em (39)

A potência aparente correspondente é dada por:

*
S km = Pkm − jQkm = Ek* I km (40)

Substituindo a corrente (39) em (40) tem-se (41).

* 2
Skm = Pkm − jQkm = akm ykm Ek Ek* − akm ykm Em Ek* (41)

Procedendo o produto e identificando as partes real e imaginária, de forma análoga ao


que foi feito para o cálculo dos fluxos na linha de transmissão, teremos os fluxos de
potência ativa e reativa no transformador em fase, dados por (42)

Pkm = ( akmVk ) g km − ( akmVk ) Vm g km cos (θ km ) − ( akmVk ) Vmbkmsen (θ km )


2

(42)
Qkm = − ( akmVk ) ( bkm ) + ( akmVk ) Vm bkm cos (θ km ) − ( akmVk ) Vm g km sen (θ km )
2

Assim, as expressões dos fluxos de potência ativa e reativa são muito parecidas com as
expressões já calculadas para as linhas de transmissão; basta substituir Vk nas expressões
das linhas por akmVk e eliminarmos o termo shunt.

1.4.3 Transformadores Defasadores Puros

Para um transformador defasador puro a corrente I km é dada por (17) e reescrita em


(43).

( )
I km = ykm Ek + −t * ykm Em (43)

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 19

A potência aparente correspondente é dada por:

*
Skm = Pkm − jQkm = Ek* I km (44)

Substituindo a corrente (43) em (44) tem-se (45).

*
Skm (
= Pkm − jQkm = ykm Ek Ek* − ykm Em Ek* 1 −ϕ km ) (45)

Identificando as partes real e imaginária de (45), de forma análoga ao que foi feito para o
cálculo dos fluxos na linha de transmissão, teremos os fluxos de potência ativa e reativa no
transformador defasador puro, dados por:

Pkm = Vk2 g km − VkVm g km cos (θ km + ϕ km ) − VkVmbkmsen (θ km + ϕ km )


(46)
Qkm = −Vk bkm + VkVmbkm cos (θ km + ϕ km ) − VkVm g kmsen (θ km + ϕ km )

Assim, as expressões dos fluxos de potência ativa e reativa são muito parecidas com as
expressões já calculadas para as linhas de transmissão; basta substituir θ k nas expressões
das linhas por θ k + ϕ km e eliminarmos o termo shunt.

1.4.4 Expressões Gerais Para os Fluxos de Potência

Expressões gerais para os fluxos de potência ativa e reativa podem ser obtidas no caso
em que se tem um transformador com defasamento ϕ km e relação de transformação akm
diferente da unidade. Esta construção pode ser obtida, colocando-se um transformador em
fase em série com um transformador defasador. Neste caso mais geral, as expressões para
os fluxos de potência ativa e reativa ficam conforme dado em (47) e (48).

Pkm = ( akmVk ) g km − ( akmVk ) Vm g km cos (θ km + ϕ km ) − ( akmVk ) Vmbkmsen (θ km + ϕ km )


2

(
Qkm = − ( akmVk ) bkm + bkm
sh
)
+ ( akmVk ) Vmbkm cos (θ km + ϕ km ) − ( akmVk )Vm g kmsen (θ km + ϕ km )
(47)

Pmk = g kmVm2 − ( akmVk ) Vm g km cos (θ km + ϕ km ) + ( akmVk ) Vm bkm sen (θ km + ϕ km )

(
Qmk = − bkm + bkm
sh
)
Vm2 + ( akmVk ) Vm bkm cos (θ km + ϕ km ) + ( akmVk ) Vm g km sen (θ km + ϕ km )
(48)

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 20

Repare que as equações (47) não são obtidas se invertermos os índices k e m nas
equações (48). Assim, não há uma expressão geral que dê conta de expressar os fluxos de
potência ativa e reativa em um ramo genérico k-m do sistema. É necessário, portanto que se
trabalhe com os dois conjuntos de equações, notando que a barra k das expressões (47) e
(48) é a barra inicial na Figura 6 e que a barra m é necessariamente a barra final naquela
figura.

Tomando-se o cuidado de verificar a posição das barras no ramo k-m (barra inicial ou
final) do sistema, as expressões (47) e (48) sintetizam os fluxos de potência em qualquer
ramo do sistema, desde que alguns valores sejam atribuídos ϕ km , akm e bkm sh
, conforme
Figura (10).

Exemplo 1.3

Seja o sistema de potência mostrado na Figura

E2 = 1.05 −20o E3 = 0.98 −46.56o


y3 = 0.0192 − j 0.0962
E1 = 1 0o

y1 = − j1 y2 = − j 0.5
~ 1: t1 1: t2 ~
t1 = 0.95 t2 = 115o

transformador em fase transformador defasador

Figura 13. Sistema utilizado no exemplo 3.

a) Calcular os fluxos de potência ativa e reativa nos ramos do sistema


b) Calcular as injeções líquidas de potência ativa e reativa nas barras do sistema

1.5 FORMULAÇÃO MATRICIAL

Para facilitar o cálculo dos fluxos de potência através de um programa computacional, é


essencial que as equações de mismatches sejam escritas na forma matricial. Nesta seção
serão deduzidas as equações para as injeções de potência ativa e reativa em sua forma
matricial. Seja o balanço de corrente em uma determinada barra k conforme mostrado na
Figura (14).

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 21

m
I km
k
Ik
jbmsh I msh

I ksh jbksh

Figura 14. Balanço de correntes na barra k .

Do balanço de correntes, pode-se escrever (49).

I k + I ksh = ∑ I km (49)
m∈Ωk

A expressão geral para a corrente I km é dada em (28 ) e reescrita em ( 50)

( 2
I km = akm ykm + jbkm
sh
) (
Ek + −t * ykm Em ) onde: t = akm ϕ km ( 50)

Substituindo (50) em (49), obtém-se (51):

I k − jbksh Ek = ∑ ( akm2 ykm + jbkmsh ) Ek + ( −t * ykm ) Em


m∈Ωk

⎛ ⎞
I k = ⎜ jbksh + ∑ akm

2
(ykm + jbkm
sh
) ⎟⎟ E + ∑ ( −t y ) E
k
*
km m (51)
⎝ m∈Ωk ⎠ m∈Ωk

Por outro lado, para uma barra genérica barra m ligada à barra k pode-se escrever o
balanço de corrente dado por (52).

I m + I msh = ∑ I mk (52)
k∈Ωm

Substituindo a expressão geral da corrente I mk dada em (30), podemos reescrever a


equação da forma:

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 22

I m − jbmsh Em = ∑ ( −tykm ) Ek + ( ykm + jbkmsh ) Em


k∈Ωm

⎛ ⎞
Im = ∑ ( −t ykm )Ek + ⎜⎜ jbmsh + ∑ ( ykm + jbkmsh ) ⎟⎟ Em (53)
k∈Ωm ⎝ k∈Ωm ⎠

Comparando-se as expressões (51) e (53) verifica-se que não existe uma expressão
genérica que possa exprimir a injeção de corrente em uma barra l qualquer do sistema. Se a
barra l é inicial (Figura 6), então a expressão para a injeção de corrente I l deve ser
calculada utilizando-se a expressão (51), fazendo-se k = l , e obtendo (54).

⎛ ⎞
I l = ⎜ jblsh + ∑ alm

2
(ylm + jblm
sh
) ⎟⎟ E + ∑ ( −t y ) E
l
*
lm m (54)
⎝ m∈Ωl ⎠ m∈Ωl

Entretanto, se l é final (Figura 6), então a expressão para a injeção de corrente I l deve
ser calculada utilizando-se a expressão (53), fazendo-se m = l , e obtendo:

⎛ ⎞
Il = ∑ ( −t ykl )Ek + ⎜⎜ jblsh + ∑ ( ykl + jbklsh ) ⎟⎟ El (55)
k∈Ωl ⎝ k∈Ωl ⎠

E adotando k = m e invertendo os termos da direita em (55), tem-se (56).

⎛ ⎞
⎜ (
I l = ⎜ jblsh + ∑ ylm + jblm
sh
) ⎟⎟ E + ∑ ( −t y
l lm )Em (56)
⎝ m∈Ωl ⎠ m∈Ωl

Veja que as expressões (54) e (56) não são idênticas, isto é, o cálculo da injeção de
corrente em uma barra depende do tipo do ramo (linha, transformador em fase ou
defasador). Entretanto, se o ramo é uma linha de transmissão ( akm = 1 e ϕ km = 0 ), as
expressões são idênticas. Para transformadores em fase e defasadores, é preciso saber como
é o modelo do transformador, e de que lado da relação de transformação a barra se
encontra, sendo possíveis duas expressões para a injeção de corrente, quais sejam (54) e
(56).

Pode-se entretanto escrever (54) e (56), pela equação geral da injeção de corrente (57),
que é aplicável a cada uma das nb barras do sistema.

⎛ ⎞
⎜ (
I l = ⎜ jblsh + ∑ α lm ylm + jblm
sh
) ⎟⎟ E + ∑ ( β
l lm ylm )Em l = 1" nb (57)
⎝ m∈Ωl ⎠ m∈Ωl

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 23

Onde:

⎧⎪alm
2
: se l é uma barra inicial.
α lm = ⎨
⎪⎩1 : se l é uma barra final.

⎪⎧−t : se l é uma barra inicial.


*
β lm = ⎨
⎪⎩−t : se l é uma barra final.

Os valores de α km e β km estão relacionados às admitâncias “enxergadas” por cada um


dos lados do transformador. Aplicando (57) a cada uma das nb barras do sistema, tem-se
um sistema linear de equações dados por (58):

⎛ ⎞
( )
I1 = ⎜ jb1sh + ∑ α1m y1m + jb1shm ⎟ E1 + ∑ ( β1m y1m ) Em
⎜ ⎟
⎝ m∈Ω 1 ⎠ m∈Ω 1

⎛ ⎞
( )
I 2 = ⎜ jb2sh + ∑ α 2 m y2 m + jb2shm ⎟ E2 + ∑ ( β 2 m y2 m ) Em
⎜ ⎟
⎝ m∈Ω 2 ⎠ m∈Ω 2

#
(58)
⎛ ⎞

(
I k = ⎜ jbksh + ∑ α km ykm + jbkm
sh
) ⎟ Ek + ∑ ( β km ykm ) Em

⎝ m∈Ω k ⎠ m∈Ω k

#
⎛ ⎞
I nb = ⎜ jbnb

sh
(
+ ∑ α nb m ynb m + jbnb
sh
m ) ⎟⎟ E
nb + ∑ ( β nb m ynb m ) Em
⎝ m∈Ω nb ⎠ m∈Ω nb

Estas expressões podem ser postas na forma matricial, conforme (59):

I = Y*E (59)
Onde:

I : vetor dos fasores de corrente injetada na barra;


E : vetor dos fasores de tensão na barra;
Y : matriz admitância de barra, que pode ser decomposta nas matrizes condutância G e
susceptância de barra B , ou seja: Y = G + jB .

A partir de (58), os elementos genéricos da matriz Y são dados por (60).

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 24

Ykm = ( β km ykm )

∑ (α km ykm + jbkmsh )
(60)
Ykk = jbksh +
m∈Ω k

Onde:

⎧⎪ akm
2
: se k é uma barra inicial.
α km = ⎨
⎪⎩1 : se k é uma barra final
⎪⎧−t * : se k é uma barra inicial.
β km = ⎨
⎪⎩−t : se k é uma barra final.
t = akm ϕ km

Para as posições k − m em que não existe uma ligação física (ramo), temos ykm = 0 e o
elemento da matriz Ykm também se anula. Como uma barra se conecta com poucas outras
barras do sistema, a matriz possui uma grande quantidade de elementos nulos e, por isso, é
altamente esparsa. Note-se que, se o elemento existente entre as barras k − m for uma linha
de transmissão, teremos akm = 1 e ϕ km = 0 . Assim, as mesmas atribuições de valores
discutidas na Figura (10) são válidas para os elementos de ramo. Note-se ainda que a matriz
admitância obtida em estudos de faltas em sistemas de energia (na disciplina de SEP I) é
um caso particular desta matriz. De fato, se fizermos akm = 1 e ϕ km = 0 (linha de
transmissão) teremos a matriz com a qual trabalhávamos na disciplina de SEP I.

É importante ressaltar ainda que se o sistema possui um transformador defasador em um


determinada ramos k − m , a matriz admitância deixará de ser simétrica, já que para o
( ) (
modelo da figura (9) teremos Ykm = −akm 1 −ϕ km ykm e Ymk = −akm 1 ϕ km ykm .)
A injeção de corrente I k , que é a k-ésima componente do vetor I , pode ser colocada na
forma:

I k = Ykk Ek + ∑ Ykm Em
m∈Ω k

Ik = ∑ Ykm Em (61)
m∈K

Sendo que K é o conjunto de todas as barras vizinhas à barra k, incluindo a própria


barra k. Considerando-se Ykm = Gkm + jBkm e Em = Vm θ m , a expressão (61) pode ser
reescrita conforme a seguir:

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 25

Ik = ∑ ( Gkm + jBkm ) (Vm θ m ) (62)


m∈K

A injeção de potência complexa S k é dada por:

S k* = Pk − jQk = Ek* I k (63)

Substituindo (62) em (63), temos (64).

⎛ ⎞
( )
S k* = Pk − jQk = Vk −θ k ⎜ ∑ ( Gkm + jBkm ) Vm θ m
⎜ m∈K ( ) ⎟⎟ (64)
⎝ ⎠

Separando nas partes real e imaginária, tem-se:

Pk = Vk ∑ Vm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km )


m∈K
(65)
Qk = Vk ∑ Vm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
m∈K

As expressões (65) são fundamentais para a solução do problema de fluxo de carga. É


através destas equações que escrevemos as equações de mismatches de um sistema de
potência da forma:

Pkesp − Pk = 0 onde : Pkesp = Pkger − Pkcar


(66)
Qkesp − Qk = 0 onde : Qkesp = Qkger − Qkcar

Conforme já discutimos em seções anteriores a imposição destas equações nas barras do


sistema leva a um sistema não linear correspondente ao problema de fluxo de potência que
deve ser resolvido.

Exemplo 1. 4

Dado o sistema de potência, mostrado na Figura 13, construir a matriz admitância de barra
e escrever as equações de mismatches associadas ao sistema.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 26

1.6 FLUXO DE CARGA LINEARIZADO

Antes de partirmos para a solução do problema não-linear do fluxo de carga, descrito


pelas equações de mismatches, é importante iniciarmos o estudo da solução do problema
utilizando um modelo simplificado. Neste modelo, as expressões não lineares para os
fluxos de potência ativa dadas em (65-66) são linearizadas com base em aproximações
plausíveis em sistemas de energia. Este modelo linearizado mais simples é conhecido como
fluxo de carga linearizado, ou ainda de fluxo de carga CC e permite estimar, com baixo
custo computacional e precisão aceitável, a distribuição dos fluxos de potência em uma
rede de transmissão. A denominação fluxo de carga CC obviamente não decorre da
utilização de correntes contínuas, mas da similaridade que o modelo linearizado apresenta,
quando comparado com um modelo de circuito elétrico CC.

A idéia básica do modelo linearizado é o princípio de desacoplamento P − θ e Q − V


presente na física dos sistemas de energia. Este princípio identifica que a potência ativa é
muito sensível às variações no ângulo das tensões, e pouco sensível às variações em suas
magnitudes; já a potência reativa tem grande sensibilidade às variações na magnitude da
tensão, sendo pouco sensível às variações nos ângulos. Este princípio é tanto mais
verdadeiro, quanto maiores forem os níveis de tensão envolvidos. Assim, o modelo
linearizado não é útil para estudos de sistemas de distribuição em baixa tensão, nos quais a
potência ativa depende de maneira significativa das quedas de tensão. Nos sistemas de
distribuição são utilizadas outras características físicas para a formulação de um modelo
linearizado.

Os modelos linearizados desprezam as variáveis associadas aos reativos-tensões, tais


como taps de transformadores, magnitude de tensões, injeções reativas, etc. Por esta razão,
os modelos CC não podem substituir o fluxo de carga não linear. Entretanto, os modelos
CC têm grande aplicabilidade em situações em que uma solução completa de fluxo de carga
é computacionalmente difícil, tal como em estudos de planejamento e expansão da
transmissão, em que parte da rede ainda não é conhecida integralmente. Nestes casos, após
os estudos preliminares com o fluxo de potência CC, e resolvidos os problemas de
estabilidade numérica associados ao sistema de transmissão, seguem-se estudos mais
detalhados com ferramentas de fluxo de potência não linear.

1.6.1 Linearização

Sejam os fluxos de potência ativa Pkm e Pmk em uma linha de transmissão, conforme
descritos pelas equações (33) e (34) e reescritos em (67).

Pkm = Vk2 g km − VkVm g km cos (θ km ) − VkVmbkmsen (θ km )


(67)
Pmk = Vm2 g km − VkVm g km cos (θ km ) + VkVmbkmsen (θ km )

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Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 27

Verificou-se ainda que as perdas em uma linha de transmissão são dadas por (36),
sendo reescritas em (68).

(
Perdas MW = g km Vk2 + Vm2 − 2VkVm cos (θ km ) ) (68)

Se desprezarmos os termos de perdas, fazendo g km = 0 , tem-se (69).

Pkm = − Pmk = −VkVmbkmsen (θ km ) (69)

Além da aproximação associada à desconsideração das perdas, podem ser feitas as


aproximações (70) em sistemas de transmissão em alta tensão.

. V ≅V ≅1
k m

. senθ ≅ θkm km
(70)

. b ≅ − x1
km
km

As aproximações são razoáveis em alta tensão, pois neste caso: as tensões estão sempre
muito próximas de 1 pu; as diferenças angulares estão sempre muito próximas de zero
radiano, de forma que os valores dos ângulos e seus senos se confundem; para justificar a
terceira aproximação, é conveniente lembrar que a susceptância é dada por (71).

xkm
bkm ≅ − (71)
2
rkm + xkm
2

Se for adotado em (71) que xkm  rkm , obtém-se o valor de bkm aproximado, dado em
(70). Esta aproximação é tanto mais verdadeira quanto maior for o nível de tensão, sendo
que para sistemas de distribuição em baixa tensão a aproximação se torna grosseira e não
pode ser utilizada.

Adotando-se as aproximações (70) na equação de fluxo de potência ativa na linha dada


em (69), tem-se (72).

θ km θk −θm
Pkm = = (72)
xkm xkm

Esta equação tem a mesma forma da lei de Ohm aplicada a um resistor percorrido por
corrente contínua, onde se adotam a analogias mostradas na Figura 14.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 28

rkm xkm

ikm Pkm
Vk Vm θk θm

Lei de Ohm Fluxo de potência linearizado

Vk − Vm θ km θk −θm
ikm = Pkm = =
rkm xkm xkm

Figura 15. Analogia entre o modelo de fluxo de carga linearizado e a lei de Ohm
aplicada a um resistor percorrido por corrente contínua.

Por esta analogia com um circuito CC, o modelo linearizado é também conhecido como
modelo de fluxo de potência CC.

Seja agora um o fluxo de potência ativa em um transformador em fase dado pela


equação (42) e reescrito em (73).

Pkm = ( akmVk ) g km − ( akmVk ) Vm g km cos (θ km ) − ( akmVk ) Vmbkmsen (θ km )


2
(73)

Fazendo as mesmas simplificações descritas em (70), chega-se a (74).

θ km θk −θm
Pkm = akm = akm (74)
xkm xkm

Como os taps de transformadores possuem valores muito próximos de 1 pu, pode-se


adotar ainda a aproximação akm ≅ 1 em (74). Neste caso, a expressão de fluxo de potência
em um transformador em fase se reduz à expressão para o fluxo na linha dada em (72).

Para um defasador puro, a expressão do fluxo é dada em (46) e rescrita em (75).

Pkm = Vk2 g km − VkVm g km cos (θ km + ϕ km ) − VkVmbkmsen (θ km + ϕ km ) (75)

Adotando novamente as mesmas aproximações dadas em (70) chega-se a (76).

sen(θ km + ϕ km )
Pkm = (76)
xkm

Os ângulos θ km e ϕ km podem ter, individualmente, valores elevados. O mesmo não


acontece, entretanto, com a abertura angular efetiva, θ km + ϕ km , sobre a admitância ykm ,

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 29

que é da mesma ordem de magnitude das aberturas existentes em linhas de transmissão e


transformadores em fase. Isto permite que seja feita a aproximação (77).

θ km + ϕ km
Pkm = (77)
xkm

Repara-se que o fluxo de potência em um transformador defasador possui duas


componentes: uma que depende do estado dos nós terminais e uma independente do estado,
e dependente apenas do ângulo defasador. Para ϕ km = constante (para valores variáveis
automaticamente pode-se adotar o valor básico), a expressão (77) pode ser representada
através do circuito dado na Figura 16, onde os termos constantes são interpretados como
injeções equivalentes nas barras k e m. Na barra inicial k, as injeções de correntes são
interpretadas como uma carga e na barra final m, como uma geração. (ou vice-versa, caso o
ângulo ϕ km seja negativo).

k θk θm
θ p = θ k + ϕ km m
p

ϕ km θ km + ϕ km
Pkm =
xkm

k θk θm
m
xkm
ϕ
− km ϕ km
xkm
θ km xkm
xkm

Figura 16. Modelo linearizado de um transformador defasador puro.

1.6.2 Formulação Matricial

Seja um sistema de potência simplificado em que só se consideram linhas de


transmissão, deixando os transformadores para análises posteriores. Neste caso, os fluxos
de potência nas linhas são dados por (72). Pela lei de conservação de potência ativa na
barra k, a injeção de potência ativa é dada por (78).

θ km
Pk = ∑ xkm
( k = 1" nb ) (78)
m∈Ω k

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 30

A expressão (78) pode ser posta ainda na forma (79).

θk θm
Pk = ∑ xkm
− ∑ xkm
( k = 1" nb ) (79)
m∈Ω k m∈Ω k

A equação (79) pode ser escrita para cada uma das nb barras do sistema, ou seja, pode-
se escrever o sistema de equações lineares (80).

θ1 θm
P1 = ∑ x1m
− ∑ x1m
m∈Ω1 m∈Ω1

θ2 θm
P2 = ∑ x2 m
− ∑ x2 m
m∈Ω 2 m∈Ω 2

#
(80)
θk θm
Pk = ∑ xkm
− ∑ xkm
m∈Ω k m∈Ω k

#
θ nb θm
Pnb = ∑ xnb m
− ∑ xnb m
m∈Ω nb m∈Ω nb

Escrito de forma matricial o sistema fica da forma mostrada em (81)

P = B′θ (81)

em que:
θ : vetor de ângulos das tensões;
P : vetor de injeções líquidas de potência ativa;
B′ : matriz do tipo admitância nodal, cujos elementos são dados por (82).

1
B′km = −
xkm
(82)
1
B′kk = ∑ xkm
m∈Ωk

Se tivermos os vetores θ ∈ℜnb e P ∈ ℜnb associados ao sistema linear dado em (81),


teremos a matriz B′ ∈ ℜnb,nb . Nesta situação as injeções líquidas de potência ativa ficam
impostas em todas as barras do sistema. Conforme já discutido em seções anteriores, a
imposição das injeções líquidas de potência ativa em todas as barras implica também na
imposição de perdas fixas no sistema, o que gera uma inconsistência física para o problema
(81), já que as perdas são, obviamente, função do estado do sistema. Matematicamente essa

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 31

inconsistência se reflete na singularidade da matriz B′ ∈ ℜnb,nb , implicando que o sistema


possui infinitas soluções possíveis.

Para resolver esta inconsistência físico-matemática, adota-se a mesma conduta já


discutida na formulação do problema de fluxo de carga (ver seção 1.2), qual seja: a adoção
de uma barra k de referência angular para o sistema (em geral adota-se θ k = 0 ). Desta
forma o sistema linear dado em (81) passa a ter as seguintes dimensões: θ ∈ ℜnb−1 ,
P ∈ ℜnb−1 e B′ ∈ ℜnb −1,nb −1 . Neste caso, a matriz B′ é inversível e possui posto completo,
de modo que o sistema linear passa a ter uma solução única.

Considere-se agora um sistema no qual possam aparecer transformadores defasadores e


transformadores em fase. Ambos os transformadores podem ser modelados utilizando a
matriz B′ . Conforme discutido em seções anteriores, para o transformador em fase, em
geral considera-se que o tap possui valor unitário, de modo que akm = 1 em (74), e o
modelo se torna idêntico ao da linha de transmissão. Para o transformador defasador a
matriz B′ , também permanece a mesma se pensarmos no modelo linearizado mostrado na
Figura 14. Para utilizarmos este modelo, é necessária a representação das injeções de
potência equivalentes também mostradas na figura (14). Isso é feito alterando-se os valores
de injeção no vetor P ∈ ℜnb−1 em (81), de modo a representar o defasamento do
transformador, adicionando à barra inicial o valor − ϕ km xkm e à barra final o valor
ϕ km xkm .

Exemplo 1.5

Seja o sistema do exemplo 1.3. Montar a matriz B′ associada ao sistema. Desconsiderando


o estado fornecido e utilizando as injeções de líquidas de potência ativa calculadas no
exemplo 1.3, recalcular o estado do sistema, adotando a barra de referência como sendo a
barra 1 e utilizando θ1 = 0o . Calcular os fluxos de potência ativa no sistema e comparar
com a solução obtida em 1.3.

A relação P = B′θ pode ser interpretada como o modelo de uma rede de resistores
alimentada por fontes de corrente contínua, em que P é o vetor das injeções de corrente e
θ é o vetor das tensões nodais, e B′ é a matriz admitância (condutância) nodal. Assim,
todas as propriedades válidas para circuitos CC podem ser utilizadas para facilitar o
entendimento do modelo linearizado da rede de transmissão.

A figura 17 representa o modelo CC associado ao sistema de transmissão mostrado na


Figura 13 para o exemplo 1.3. As injeções de corrente em cada barra possuem valores
iguais às injeções de potência líquida em cada barra. As injeções de corrente adicionais que
aparecem nas barras 2 e 3 estão associadas às injeções equivalentes relacionadas aos
modelos dos transformadores defasadores. As resistências possuem valores em pu iguais às
reatâncias das linhas de transmissão.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 32

′′
x23
x12


x23
P1
P2 ϕ 23 ϕ 23
− P3

x23 ′
x23

Figura 17. Modelo CC associado à Figura 13 do exemplo 1.3.

Uma característica importante do modelo linearizado é o fato de ele fornecer uma


solução mesmo em situações em que os modelos de fluxo de carga não lineares não
conseguem, por alguma razão, atingir a convergência. Em geral estes problemas de
convergência estão relacionados à falta de suporte reativo, ou à falta de capacidade de
transmissão. Estas situações ocorrem de modo muito freqüente em estudos de planejamento
(da geração ou da expansão do sistema de transmissão). Em ambos os casos, os modelos
linearizados fornecem uma solução que pode servir como indicativo do que está ocorrendo
com a rede. Mesmo sendo aproximada, a solução do modelo CC é mais útil que a
informação dada por um programa convencional de fluxo de potência não linear. A única
condição exigida para que o modelo CC tenha uma solução, é a matriz B′ ser não singular,
o que equivale a exigir que a rede seja conexa.

A fim de se elaborar melhor a interpretação do modelo linearizado, seja o sistema


exemplo mostrado na figura 18, no qual ambas as tensões são fixadas em 1 pu e a
resistência da linha é nula.

k Vk = 1 Vm = 1
m
zkm = jxkm

~
Pkm

Figura 18. Sistema exemplo com duas barras.

A expressão do fluxo de potência ativa é dada por (83) e expressa na Figura 19. Este
modelo é também denominado de CA.

sen (θ km )
Pkm = (83)
xkm

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 33

A expressão do fluxo linearizado é dada por (72) e também é fornecida na Figura 19.

Pkm Modelo CC

P2

Modelo CA

P1

θ km

Figura 19. Curvas P × θ para os modelos CC e CA

Para um nível de carregamento da linha correspondente a P1 ambos os modelos


fornecem uma solução e estas soluções são próximas. Para um nível de carregamento mais
elevado, tal como P 2 , o modelo CA não apresenta solução. A solução fornecida pelo
modelo CC apesar de incorreta, pode ser útil, pois dá uma idéia de quanto está sendo
excedida a capacidade de transmissão, enquanto que o modelo não linear não apresenta
solução alguma.

1.6.3 Representação das Perdas no Modelo CC

Em redes de transmissão de grandes dimensões, o montante das perdas no sistema de


transmissão pode ser muito elevado se comparado ao nível de geração da barra de
referência. Nestas situações, os fluxos Pkm estimados pelo modelo CC nas linhas que estão
diretamente conectadas à barra de referência k podem apresentar erros muito elevados.

Pkm
k
restante do
barra slack sistema

Pkliq

Figura 20. Barra slack e vizinhança em que os fluxos Pkm podem apresentar erros.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 34

As razões para o aumento destes erros são consideradas a seguir. Sabemos que o
balanço de potência ativa total é dado pela equação (83).

ger
Ptotal − Ptotal
car
= Pperdas
nb nb
∑ Pi ger − ∑ Picar = Pperdas (83)
i =1 i =1

Pode-se reescrever (83) conforme (84);

∑ ( Pi ger − Picar ) = Pperdas


nb

i =1
nb
∑ Piliq = Pperdas (84)
i =1

Isolando-se a barra de referência k em (84), chega-se a (85).

nb
Pkliq + ∑ Piliq = Pperdas
i =1
i≠k
nb
Pkliq = Pperdas − ∑ Piliq (85)
i =1
i≠k

Prestante

Assim, a barra k de referência é responsável por gerar as perdas totais do sistema menos
a somatória dos balanços líquidos de potência ativa nas barras restantes do sistema
( Prestante ). Para os modelos linearizados as perdas totais do sistema Pperdas são desprezadas,
conforme estudado nas seções anteriores. Se essas perdas representarem um valor muito
elevado, se comparado com os termos restantes ( Prestante ), a injeção líquida de potência
ativa Pkliq terá um erro muito significativo. Da expressão (86) obtida do balanço de
potência na barra de referência da figura 20, conclui-se que esse erro também será muito
grande para os fluxos de potência Pkm que saem da barra de referência.

Pkliq = ∑ Pkm (86)


m∈Ωk

Nesta seção será apresentada uma maneira aproximada, e com custo computacional
baixo, de se incluir o efeito das perdas de transmissão no modelo CC. Seja mais uma vez a
expressão da injeção de potência ativa reescrita em (87), onde agora a barra k passa a ser
uma barra genérica do sistema (não necessariamente a barra de referência).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 35

Pk = Vk ∑ Vm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km ) (87)


m∈K

Aproximando-se as magnitudes das tensões nodais por 1 pu e rearranjando o somatório,


obtém-se (88).

Pk = Gkk + ∑ ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km ) (88)


m ∈ Ωk

Se as aproximações (89), nas parcelas real e imaginária da matriz admitância dada em


(60), são adotadas, ter-se-á a expressão (88) escrita conforme (90).

.G km = − g km

.G kk = ∑ g km (89)
m∈Ωk

.B km =
1
xkm

1
Pk = ∑ (1 − cosθ km ) gkm + ∑ xkm
senθ km (90)
m ∈Ωk m ∈ Ωk

Se as série dos senos e cossenos, conhecidas do cálculo diferencial, forem truncadas até
os seu termos de segunda ordem, chega-se a (91).

x 2 x 4 x6
cos ( x ) = 1 − + − +" x2
2! 4! 6! cos ( x ) ≅ 1 −
2! (91)
x3 x5 x 7 sen ( x ) = x
sen ( x ) = x − + − + "
3! 5! 7!

Utilizando-se (91) para representar os termos em senos e cossenos, na expressão (90),


obtém-se finalmente (92)

⎛ ⎛ θ km 2 ⎞⎞
θ km
Pk = ∑ ⎜ 1 − ⎜⎜ 1 − ⎟⎟ ⎟⎟ g km + ∑
⎜ 2 ⎠⎠ m ∈Ωk xkm
m ∈Ωk ⎝ ⎝

1 θ
Pk − ∑
2 m ∈ Ωk
g kmθ km
2
= ∑ km (92)
m ∈ Ωk xkm

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 36

O significado do termo g kmθ km


2
pode ser obtido analiticamente a partir das perdas em
uma linha de transmissão, dadas em (36) e reescritas em (93) a seguir.

(
Pkmperdas = g km Vk2 + Vm2 − 2VkVm cos (θ km ) ) (93)

Se forem adotas as mesmas aproximações discutidas acima em (93), pode-se escrever


(94).

Pkmperdas = g kmθ km
2
(94)

Portanto, o lado esquerdo de (92) é dado pela injeção líquida de potência ativa na barra
k menos a metade das perdas ativas de todas as linhas adjacentes a esta barra. Ou seja, o
efeito das perdas pode ser representado aproximadamente como cargas adicionais obtidas
dividindo-se as perdas de cada linha do sistema entre suas barras terminais (metade para
cada lado). Assim, o modelo CC passa a assumir a forma dada em (95).

P − P perdas = B′θ (95)

O modelo dado em (95) é obtido do modelo original, mas são introduzidas injeções de
potência líquidas negativas adicionais (cargas), que representam as perdas em cada ramo do
sistema.

O procedimento para a resolução de (95) pode ser sintetizado no algoritmo mostrado na


Figura 21.

1) Resolver o sistema sem perdas P = B′θˆ , calculando θ̂ .

2) Utilizando os valores de θ̂ , calcular as perdas em cada ramo k-m do sistema,


utilizando a expressão Pkmperdas = g kmθˆkm
2
.

3) Calcular o vetor P perdas , introduzindo, de forma cumulativa, as perdas


Pkmperdas = g kmθˆkm
2
nas posições k-m deste sistema, conforme mostrado na
Figura 22. Dessa forma as perdas são distribuídas como cargas adicionais por
todo o sistema.

4) Resolver o sistema sem perdas P − P perdas = B′θ , calculando θ .

5) Utilizando θ calcular os fluxos de potência no sistema.

Figura 21. Algoritmo descrevendo a introdução das perdas no modelo CC

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo I Cálculo de Fluxo de Potência em Sistemas de Energia 37

P perdas

g kmθˆkm
2

k ∑ 2
m∈Ωk

g mlθˆml
2
m ∑ 2
l∈Ωm

Figura 22. Calculando os termos do vetor de perdas P perdas

Exemplo 1.6

Seja o sistema mostrado na Figura 23 onde todos os dados aparecem em pu. Resolver o
fluxo de carga CC do sistema, utilizando a barra 1 como referência e a representação
aproximada das perdas, conforme discutido no algoritmo da Figura 21.

P1 = 1.5 P2 = −0.5

z12 = 1/ 3 + j1 3

z23 = 0.5 + j 0.5


z13 = 0.5 + j 0.5

P3 = −1.0

Figura 23. Sistema de potência para o exemplo 1.6.

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 1

CAPÍTULO II
CÁLCULO DE FLUXO DE POTÊNCIA - ALGORITMOS BÁSICOS DE
SOLUÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

No capítulo 1 apresentou-se a formulação básica para o fluxo de carga e os métodos


utilizados para construir o problema de forma a respeitar seus aspectos físicos relevantes.
Mostrou-se que o problema pode ser formulado como um conjunto básico de equações não
lineares, que representam o balanço de potência ativa e reativa nas barras do sistema.
Discutiu-se ainda um conjunto adicional de equações/inequações que representam algumas
restrições operativas do sistema.

Como primeiro enfoque de resolução do problema, buscou-se utilizar uma formulação


mais simples e linearizada (denominada modelo CC) para simplificar a solução do
problema. Apesar de menos representativo, mostrou-se que o modelo CC é muito útil em
situações nas quais os modelos CA são mal condicionados e têm soluções numéricas
difíceis de serem obtidas.

Neste capítulo, o problema original não linear será novamente abordado e técnicas de
solução destes problemas serão discutidas, onde se destacam o método de Newton e os
métodos desacoplados.

2.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA BÁSICO

As equações básicas do problema, dadas em (65), foram deduzidas no capítulo 1 pela


aplicação das leis de Kichhoff em cada uma das nb barras do problema, e são reescritas em
(1) a seguir.

Pk = Vk ∑ Vm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km )


m∈K
(1)
Qk = Vk ∑ Vm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
m∈K k =1, ,nb

Mostrou-se no capítulo 1 que o sistema não-linear escrito conforme (2), para todas as
nb barras do sistema, não tem representação física coerente.

Pkesp − Pk = 0 ou ∆Pk ( x ) = 0
(2)
Qkesp − Qk = 0 ou ∆Qk ( x ) = 0
k =1, ,nb

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 2

onde : Pkesp = Pkger − Pkcar


Qkesp = Qkger − Qkcar
⎡θ⎤
x=⎢ ⎥
⎣V ⎦

Foram descritas duas alterações no conjunto de equações (2) de forma a contornar tais
problemas, quais sejam:

a) Mostrou-se que em barras de geração é mais conveniente fixar a tensão ao invés de


se escrever uma equação explícita para o reativo. O balanço de energia corresponde
ao reativo nesta barra pode ser resolvido a posteriori, ou seja, após o cálculo do
estado da rede.

b) Mostrou-se que é necessário estabelecer uma barra de referência (slack) de modo


que as perdas possam ser computadas de forma correta no problema. Concluiu-se
que para as barras de referência não se escrevem nem equações de balanço de
potência ativa nem de potência reativa. Para essas barras, os balanços de potência
ativa e reativa também devem ser calculados a posteriori.

Mostrou-se ainda que, escrito desta forma, o sistema de equações que determina o
estado do sistema de potência possui a mesmo número de equações e incógnitas, tornando-
se possível a sua solução. Com esta formulação, o problema de determinação dos fluxos e
injeções de potências nas barras pode ser dividido em duas etapas, conforme descrito na
seção a seguir.

2.2.1 Primeira Etapa – Determinação do Estado da Rede

Nesta etapa são especificados os valores de Pkesp e Qkesp , nas barras PQ, Pkesp e Vkesp
nas barras PV e Vkesp e θ kesp , na barra de referência. São incógnitas do problema, portanto,
as tensões Vk nas barras PQ e os ângulos das barras PQ e PV. Temos, portanto o conjunto
de equações mostrado em (3).

∆Pk ( x ) = 0
para as barras PQ e PV
(3)
∆Qk ( x ) = 0
para as barras PQ

Escrito desta forma, o problema possui a mesma quantidade de incógnitas e de


equações, conforme destacado para o sistema exemplo da figura 1. A solução deste
problema implica em descobrir qual o conjunto de magnitudes/ângulos de tensões, ou seja,
o vetor (x) que substituído em todas as equações de mismatches, satisfaz estas equações
com uma precisão pré-determinada. Esta solução é obtida através de algum método de
solução de sistemas não lineares; em geral o método de Newton é o mais utilizado para a

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 3

solução do problema. Além do método de Newton, outros métodos tais como os


desacoplados, serão estudados.

Incógnitas Equações

PQ
i V2 ∆P2 ( x ) = 0
i θ2 ∆Q2 ( x ) = 0
2
i θ3 PV ∆P3 ( x ) = 0
i V4 slack
i θ4 ∆P4 ( x ) = 0
+ 3
1 PQ ∆Q4 ( x ) = 0
5 incógnitas
5 equações
4

Figura 1. Sistema exemplo destacando as equações e incógnitas para a primeira etapa de


solução do problema de fluxo de potência.

2.2.2 Segunda Etapa – Cálculo das Injeções de Potência à Posteriori

Com o estado do sistema de energia determinado na primeira etapa, a segunda etapa


consiste basicamente em calcular as injeções de potência ativa e reativa nas barras onde os
balanços de potência correspondentes não foram considerados.

Assim, nas barras de referência são calculados as injeções de potência ativa Pk e reativa
Qk , de modo que os balanços de potência ativa e reativa sejam também respeitados; nas
barras de geração são calculadas as injeções Qk , de modo a respeitar o balanço reativo.
Tem-se então o conjunto de equações mostrado em (4).

Pk = Vk ∑ Vm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km )


m∈K para a barra slack
(4)
Qk = Vk ∑ Vm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
m∈K para barras PV e slack

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 4

A solução de (4) é simples já que todas as variáveis x já estão calculadas. Portanto,


basta substituir o estado calculado na primeira etapa nas equações (4) para obter as injeções
Pk e Qk desejadas.

A introdução de controles e limites relacionados aos sistemas de transmissão do sistema


não serão discutidos aqui e podem ser melhor estudados no livro do autor Alcir Monticelli
(ver referências da disciplina).

2.3 RESOLUÇÃO DE SISTEMAS NÃO-LINEARES – MÉTODO DE NEWTON

A solução do sistema linear descrito na primeira etapa é feita, em geral, utilizando os


métodos tipo Newton. Nesta seção estes métodos serão descritos de forma breve a fim de
que possam ser aplicados ao problema de fluxo de potência nas seções seguintes. O método
de Newton pode ser utilizado para determinação do zero de uma função de uma variável
não linear (caso unidimensional) ou ainda para a obtenção de um conjunto de funções não
lineares (sistema não linear).

2.3.1 Método de Newton - Caso Unidimensional

Seja uma função de uma única variável g ( x ) derivável até a primeira ordem,
onde x ∈ ℜ1 e g : ℜ1 → ℜ1 . No caso unidimensional busca-se o valor x* para o qual se tem
g ( x ) = 0 . Graficamente este ponto corresponde ao valor de x em que a função cruza o eixo
x. O método de Newton consiste basicamente em fazer aproximações sucessivas da função
g ( x ) no entorno de pontos xk , que vão sendo gerados a partir de um ponto inicial x0
estabelecido. As aproximações são feitas utilizando-se a série de Taylor desta função, no
entorno dos pontos xk , conforme (5).

g ′′ ( xk )( x − xk ) g n ( xk )( x − xk )
2 n
g ( xk ) + g ′ ( xk )( x − xk ) + + + (5)
2! n!

No método de Newton as aproximações são consideradas até o elemento de primeira


ordem, o que corresponde a linearizar a equação no entorno dos pontos xk , utilizando (6).

g ( xk ) + g ′ ( xk )( x − xk ) (6)

A reta (6), que corresponde à linearização no ponto xk , é mostrada na Figura 2. O


próximo ponto xk +1 da seqüência é obtido encontrando-se a raiz da função aproximada (6),
ao invés da função original g ( x ) , ou seja, utilizando (7).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 5

g ( xk ) + g ′ ( xk )( xk +1 − xk ) = 0 (7)
De onde:
g ( xk )
( xk +1 − xk ) = −
g ′ ( xk )
Ou ainda, tem-se (8).

g ( xk )
xk +1 = xk − (8)
g ′ ( xk )

A expressão (6) nos fornece uma expressão para calcular, de forma sucessiva, a
seqüência de pontos { xk } que deverá conduzir à solução x* , conforme mostrado na Figura
2.
linearização

g ( x) g ( xk ) + g ′ ( xk )( x − xk )

g ( xk )
linearização

g ( xk +1 )

x*
xk + 2 xk +1 xk

Figura 2. Método de Newton para cálculo de zeros de uma função de uma variável.

Utilizando a expressão dada em (8), os pontos { xk } são sucessivamente calculados até


que o valor da função g ( xk ) seja tão pequeno quanto desejável. Assim, o algoritmo geral
do método de Newton fica conforme mostrado na Figura 3.

Exemplo 2.1

Dada a função g ( x ) = x3 − 9 x + 3 . Calcular o zero desta função no intervalo [0, 1],


utilizando o método de Newton.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 6

1) Fazer k = 0 e escolher um ponto inicial x = xk = x0

2) Calcular a função g ( x ) no ponto x = xk

3) Se g ( xk ) ≤ ε então xk é a solução do problema dentro da faixa de tolerância


±ε . Caso contrário prossegue o algoritmo.

4) Calcular o próximo ponto xk +1 , utilizando a expressão:

g ( xk )
xk +1 = xk −
g ′ ( xk )

5) Fazer k = k + 1 e retornar ao passo (2).

Figura 3. Algoritmo do método de Newton para cálculo de zeros de uma função de


uma variável.

2.3.2 Método de Newton – Solução de Sistemas Lineares

Seja agora um conjunto de n funções gi ( x ) , cada uma dela sendo função de n variáveis
xi i =1 n ,. Este conjunto de funções pode ser escrito vetorialmente por g ( x ) . Assim,
x ∈ ℜ e g : ℜn → ℜn . Supõe-se que g ( x ) é derivável até a primeira ordem, o que implica
n

em que cada uma das gi ( x ) funções é derivável até a primeira ordem.

Neste caso busca-se um vetor x* que anula cada um das funções gi ( x ) , ou seja, busca-
se g ( x ) = 0 . O método de Newton para sistemas lineares consiste basicamente em fazer
aproximações sucessivas das funções gi ( x ) no entorno de pontos x k , que vão sendo
gerados a partir de um ponto inicial x0 estabelecido. As aproximações são feitas utilizando-
se a série de Taylor para funções de várias variáveis, no entorno dos pontos x k , conforme
(9).

g ( x k ) + J ( x k )( x − x k ) (9)

Onde J ( x k ) é denominada de matriz Jacobiana, sendo calculada conforme (10).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 7

⎡ ∂g1 ∂g1 ∂g1 ⎤


⎢ ∂x ∂x2 ∂xn ⎥
⎢ 1 ⎥
⎢ ∂g 2 ∂g 2 ∂g 2 ⎥
J ( x k ) = ⎢⎢ ∂x1 ∂x2 ∂xn ⎥
⎥ (10)
⎢ ⎥
⎢ ⎥
⎢ ∂g n ∂g n ∂g n ⎥
⎢⎣ ∂x1 ∂x2 ∂xn ⎥⎦

Também neste caso a série de Taylor (9) é truncada no termo de primeira ordem, o que
corresponde a linearizar cada uma das funções gi ( x ) no entorno do ponto x k . De forma
análoga ao método de Newton para o caso unidimensional, o novo ponto x k +1 , é obtido
fazendo (9) passar pelo ponto x = 0 , conforme mostrado em (10).

g ( x k ) + J ( x k )( x k +1 − x k ) = 0 (10)

A expressão (10) corresponde a um sistema de equações lineares, já que os valores da


Jacobiana são conhecidos. A partir de (10) pode-se obter o valor de x k +1 , conforme
mostrado em (12).

J ( x k )( x k +1 − x k ) = −g ( x k )

( xk +1 − xk ) = − ( J ( xk ) )
−1
g ( xk )

x k +1 = x k − ( J ( x k ) ) g ( x k )
−1
(12)

A expressão (12) nos fornece uma expressão para calcular, de forma sucessiva, a
seqüência de pontos {x k } que deverá conduzir à solução x* . Utilizando (12), os pontos
{xk } são sucessivamente calculados até que o valor de cada uma das funções
gi ( x k ) i = 1 n seja tão pequeno quanto desejável. Assim, o algoritmo geral do método
de Newton para sistemas não lineares fica conforme mostrado na Figura 4.

Exemplo 2.2

Resolver o sistema de equações não lineares utilizando o método de Newton.

⎧ x12 + x2 − x3 = 0
⎪⎪
⎨ x1 + x22 − x3 = 0
⎪x + x2 − x3 = 0
⎪⎩ 1

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 8

1) Fazer k = 0 e escolher um ponto inicial x = x k = x0

2) Calcular a função g ( x ) no ponto x = x k

3) Se gi ( x k ) ≤ ε i = 1, , n , então x k é a solução do problema dentro da


faixa de tolerância ±ε . Caso contrário o algoritmo prossegue.

4) Calcular o próximo ponto x k +1 , utilizando a expressão:

∆x = − ( J ( x k ) ) g ( x k )
−1

x k +1 = x k + ∆x

5) Fazer k = k + 1 e retornar ao passo (2).

Figura 4. Algoritmo do método de Newton para a solução de sistemas não lineares.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 9

2.4 ALGORITMO DE SOLUÇÃO DO FLUXO DE POTÊNCIA PELO MÉTODO


DE NEWTON

Conforme descrito na seção 2.2.1, as equações correspondentes à solução da primeira


etapa do problema de fluxo de carga são dadas conforme (3), e reescritas em (13).

⎡ ∆Pk ( x ) = 0 ⎤
⎢ para as barras PQ e PV
⎥ (13)
⎢ ∆Q ( x ) = 0 ⎥
⎣⎢ k para as barras PQ ⎦⎥

Em que, as incógnitas x do problema podem ser subdivididas nos vetores de ângulo ( θ )


e magnitude ( V ) das tensões, conforme (14).

⎡θ para as barras PQ e PV ⎤
x=⎢ ⎥ (14)
⎢ V para as barras PQ ⎥
⎣ ⎦

Pode-se reescrever as equações (13) na forma g ( x ) = 0 , onde o vetor g é definido


conforme (15).

⎡ ∆Pk ( x ) ⎤
g (x) = ⎢ para as barras PQ e PV
⎥=0 (15)
⎢ ∆Q ( x ) ⎥
⎢⎣ k para as barras PQ ⎥⎦

Para se aplicar o método de Newton para solução de sistemas não lineares descrito na
seção 2.3.2, é necessário calcular a matriz Jacobiana conforme (16).

⎡ ∂ ( ∆P ) ∂ ( ∆P ) ⎤
⎢ para barras PQ e PV para barras PQ e PV

⎢ ∂θ para barras PQ e PV ∂V para barras PQ ⎥
J ( θ, V ) = ⎢ ⎥ (16)
⎢ ∂ ( ∆Q ) ∂ ( ∆Q ) ⎥
⎢ para barras PQ para barras PQ

⎢ ∂θ para barras PQ e PV ∂V para barras PQ ⎥
⎣ ⎦

Considerando as expressões de ∆P e ∆Q dadas em (2), lembrando-se que Pkesp e Qkesp


são constantes, e suprimindo (por simplicidade de notação) a informação das barras em que
serão feitas as derivadas, a matriz Jacobiana pode ser rescrita conforme (17).

⎡ ∂P ∂P ⎤
⎢ ∂θ ∂V ⎥
J ( θ, V ) = ⎢ ⎥ (17)
⎢ ∂Q ∂Q ⎥
⎢⎣ ∂θ ∂V ⎥⎦

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 10

Assim, a primeira etapa do problema de fluxo de carga consiste basicamente em


resolver a cada iteração v (conforme descrito na Figura 4) o seguinte sistema linear:

v
⎡ ∂P ∂P ⎤
⎡ ∆P v ⎤ ⎢ ∂θ ∂V ⎥ ⎡ ∆θ ⎤
v
⎢ v⎥ = ⎢ ⎥ *⎢ v⎥ (18)
⎢⎣ ∆Q ⎥⎦ ⎢ ∂Q ∂Q ⎥ ⎢⎣ ∆V ⎥⎦
⎢⎣ ∂θ ∂V ⎥⎦

As submatrizes que compõem a matriz Jacobiana podem ser calculadas derivando-se as


expressões das injeções de potência ativa e reativa dadas em (1). Feitas as derivadas, as
expressões ficam conforme (19)-(22), onde, por facilidade de notações futuras, são
definidas as submatrizes H, N, M e L.

⎧ ∂Pk
⎪ H km = ∂θ = VkVm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
⎪ m
H ⎨ (19)
⎪ H = ∂Pk = −V 2 B − V ∑ V ( G senθ − B cosθ )
⎪⎩ kk ∂θ k k kk k
m∈K
m km km km km

⎧ ∂Pk
⎪ N km = ∂V = Vk ( Gkm cos θ km + Bkmsenθ km )
⎪ m
N ⎨ (20)
⎪ N = ∂Pk = V G + ∑ V ( G cosθ + B senθ )
⎪⎩ kk ∂Vk k kk
m∈K
m km km km km

⎧ ∂Q k
⎪ M km = ∂θ = −VkVm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km )
⎪ m
M ⎨ (21)
∂ Q
⎪M = k
= −Vk2Gkk + Vk ∑ Vm ( Gkm cosθ km + Bkmsenθ km )
⎪⎩ kk ∂θk m∈K

⎧ ∂Q k
⎪ Lkm = ∂V = Vk ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
⎪ m
L ⎨ (22)
∂Q
⎪L = k
= −Vk Bkk + ∑ Vm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )
⎪⎩ kk ∂Vk m∈K

Repara-se que os elementos da diagonal necessitam de um somatório sobre o conjunto


K , que envolve a vizinhança da barra k e ela própria. Utilizando-se as expressões (1), esses
elementos podem ser reescritos conforme a expressões dadas em (23).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 11

H kk = −Vk2 Bkk − Qk
(
N kk = Vk−1 Pk + Vk2Gkk )
(23)
M kk = −Vk2Gkk + Pk
(
Lkk = Vk−1 Qk − Vk2 Bkk )
Através das expressões (19)-(22) pode-se perceber que se Ykm = Gkm + Bkm for nulo
então os elementos H km , M km , N km , Lkm também serão nulos. Isso implica que as matrizes
H, N, M e L possuem as mesmas características de esparsidade da matriz Y.

Assim, o algoritmo de solução da primeira etapa do problema de fluxo de carga é dado


na Figura 5.

1) Fazer v = 0 e escolher um ponto inicial dos ângulos das tensões das barras
PQ e PV ( θ = θ0 ), e as magnitudes das tensões das barras PQ ( V = V 0 ).

( ) ( )
2) Calcular P v V v , θv para as barras PQ e PV e Qv V v , θv para as barras PQ

( )
e determinar os mismatches ∆P v V v , θv e ∆Qv V v , θv . ( )
{ } {
3) Testar a convergência. Se max ∆Pkv ≤ ε P e max ∆Qvk ≤ ε Q o processo }
convergiu para a solução V v , θv ; caso contrário, passar para (4).

( )
4) Calcular a matriz Jacobiana J v θv , V v através das expressões (19)-(22).

5) Resolver o sistema linear, calculando ∆θv e ∆V v .

⎡ ∆P v ⎤ ⎡ ∆θ v ⎤
v v v
(
⎢ v ⎥ = J θ ,V *⎢ v ⎥ )
⎣⎢ ∆Q ⎦⎥ ⎢⎣ ∆V ⎦⎥

6) Determinar a nova solução utilizando:

θv +1 = θv + ∆θv
V v +1 = V v + ∆V v
7) Fazer v = v + 1 e retornar ao passo (2).

Figura 5. Algoritmo de solução da primeira etapa do problema de fluxo de carga.

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 12

Exemplo 2.3

Seja o sistema de duas barras representado na Figura 6 e cujos dados de barra e ramo (todos
em pu) estão fornecidos nas tabelas 1 e 2 respectivamente. Utilizando o método de Newton,
resolver o problema de fluxo de potência do sistema, com tolerância de ε = 0.003 .

1 slack 2 PV
r + jx

jbsh jbsh

Figura 6. Sistema utilizado no exemplo 2.3.

Tabela 1. Dados de barra do sistema do exemplo 2.3.


Barra Tipo P Q V θ
1 V θ - - 1.0 0.0
2 PV -0.40 - 1.0 -

Tabela 2. Dados de ramo do sistema do exemplo 2.3.


Linha r x bsh
1-2 0.2 1.0 0.02

Exemplo 2.4

Seja o sistema de duas barras representado na Figura 7 e cujos dados de barra e ramo (todos
em pu) estão fornecidos nas tabelas 3 e 4 respectivamente. Utilizando o método de Newton,
resolver o problema de fluxo de potência do sistema, com tolerância de ε = 0.003 .

1 slack 2 PQ
r + jx

jbsh jbsh

Figura 7. Sistema utilizado no exemplo 2.4.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 13

Tabela 3. Dados de barra do sistema do exemplo 2.4.


Barra Tipo P Q V θ
1 Vθ - - 1.0 0.0
2 PV -0.30 0.07 - -

Tabela 4. Dados de ramo do sistema do exemplo 2.4.


Linha r x bsh
1-2 0.2 1.0 0.02

2.5 MÉTODOS DESACOPLADOS

Os métodos desacoplados são baseados no conceito de desacoplamento P − θ e Q − V .


Conforme já destacado, este tipo de desacoplamento é mais notável em redes transmissão
em extra-alta-tensão (EAT; > 230 kV) e ultra-alta-tensão (UAT; > 750 kV).

O desacoplamento possibilita a adoção de um esquema de resolução do fluxo de


potência em que subproblemas P − θ e Q − V são resolvidos alternadamente, sendo que na
resolução do subproblema P − θ são utilizados os valores atualizados de V e na resolução
do subproblema Q − V são utilizados os valores atualizados de θ .

2.5.1 Método de Newton Desacoplado

O algoritmo do método de Newton pode ser expresso de forma simplificada, conforme


mostrado em (24), em que são destacados o cálculo dos mismatches ativo e reativo e as
atualizações nas variáveis, em cada iteração v do processo iterativo.

( ) ( )
∆P v = H v θv , V v ∆θv + N v θv , V v ∆V v

∆Q v = M ( θ , V ) ∆θ
v v v v
+ L ( θ , V ) ∆V
v v v v
(24)
v +1
θ = θ + ∆θ
v v

V v +1 = V v + ∆V v

O desacoplamento P − θ e Q − V é feito estabelecendo valores nulos para as matrizes


N e M em (24). Estas matrizes expressam as sensibilidades cruzadas ∂P ∂V e ∂Q ∂θ ,
consideradas desprezíveis no método de Newton desacoplado. O método introduz ainda um
esquema alternado de atualização das variáveis, conforme mostrado nas equações (25) e
(26), que estabelecem os subproblemas ativo ( P − θ ) e reativo ( Q − V ), os quais são
resolvidos de forma independente, mas observando os valores atualizados em V e θ ,
respectivamente.

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 14

(
∆P v = H v θv , V v ∆θv ) (25)
v +1
θ = θ + ∆θ
v v

(
∆Qv = Lv θv , V v ∆V v ) (26)
v +1
V = V + ∆V
v v

É importante notar que no esquema de atualização alternado das variáveis as


aproximações adotadas pelo método de Newton desacoplado são parcialmente
compensadas pelo de fato de as variáveis V e θ serem atualizadas a cada “meia” iteração.

Existem situações em que os subproblemas (25) e (26) têm velocidades de convergência


distintas. Em geral, espera-se que o subproblema ativo convirja antes que o reativo. Nessa
situação, podem-se obter algumas vantagens computacionais iterando-se apenas com o
subproblema não resolvido. Para tal, adota-se o algoritmo descrito pelo fluxograma da
Figura 8.

Exemplo 2.5

Seja o sistema de duas barras do exemplo 2.4 representado na Figura 7 e cujos dados de
barra e ramo (todos em pu) estão fornecidos nas tabelas 3 e 4 respectivamente. Utilizando o
método desacoplado, resolver o problema de fluxo de potência do sistema, com tolerância
de ε = 0.003 .

O método desacoplado pode ser ainda aplicado em uma versão ligeiramente diferente, a
qual pode apresentar, para determinados sistemas, uma convergência ligeiramente mais
rápida que a versão anterior. Suponha uma matriz diagonal Vd , conforme (27), onde a
diagonal é representada pelas tensões das barras PQ.

⎡V1 ⎤
⎢ V2 ⎥
Vd = ⎢ ⎥ (27)
⎢ % ⎥
⎢ ⎥
⎣⎢ Vn ⎥⎦

Utilizando Vd , podemos reescrever as matrizes H e L conforme (28):

H = VH′
(28)
L = VL′

Onde as matrizes H ′ e L′ são dadas conforme (29).

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 15

KP = KQ = 1;
p=q=0

Calcular: ∆P p V q , θ p ( )

{ (
max ∆P p V q , θ p )} ≤ ε P ?
sim KP = 0

não

( )
Resolver: ∆P p V q , θ p = H V q , θ p ∆θ p ( )
sim
KQ = 0?
θ p +1 = θ p + ∆θ p
não

KQ = 1

Calcular: ∆Q q V q , θ p ( ) SOLUÇÃO

{
max ∆Q p V q , θ p ( )} ≤ ε Q ?
sim KQ = 0

não

( ) (
Resolver: ∆Q q V q , θ p = L V q , θ p ∆V q )
KP = 0?
p +1
sim
V = V + ∆Vp p

não

KP = 1

Figura 8. Fluxograma para o Método de Newton Desacoplado.

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Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 16

′ = Vm ( Gkmsenθ km − Bkm cosθ km )


⎧⎪ H km
H′ ⎨
′ = −Vk Bkk − Qk Vk
⎪⎩ H kk
(29)
⎧⎪ Lkm ′ = Gkmsenθ km − Bkm cosθ km
L′ ⎨
⎪⎩ Lkk′ = Qk Vk2 − Bkk

As equações do método de Newton passam a ser dadas por (30).

∆P V = H′∆θ
(30)
∆Q V = L′∆V

A formulação acima será utilizada para a dedução das equações do método desacoplado
rápido.

2.5.1 Método Desacoplado Rápido

No método desacoplado rápido são utilizadas as equações dadas em (31), em que


aparecem as matrizes B′ e B′′ . Com será visto, a matriz B′ é a mesma do fluxo de carga
linearizado.

Nas expressões (29), podem ser introduzidas ainda algumas aproximações, conforme a
seguir:

1) cos (θ km ) = 1 ;
2) Bkm é, em magnitude, muito maior que Gkmsenθ km .
3) BkkVk2 é, em magnitude, muito maior que Qk

As aproximações (1) e (2) são válidas para sistemas de transmissão, em particular para
sistemas de EAT e UAT. Para linhas acima de 230kV a relação Bkm Gkm tem magnitude
maior que 5, podendo chegar à ordem de 20 vezes em linhas cima de 500 kV. A
aproximação (3) se baseia no fato de as reatâncias shunt (cargas, reatores, capacitores,
shunts de linha, etc.) de uma rede de transmissão serem muito maiores que as reatâncias
série (linhas e transformadores). Introduzindo as aproximações teremos as equações (31).

′ = −Vm Bkm
⎧⎪ H km
H′ ⎨
′ = −Vk Bkk
⎪⎩ H kk
(31)
⎧ Lkm′ = − Bkm
L′ ⎨
⎩ Lkk′ = − Bkk

Finalmente considerando as tensões unitárias, teremos simplesmente (32).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo II Cálculo de Fluxo de Potência - Algoritmos Básicos de Solução 17

H′ = B′
(32)
L′ = B′′

Em que a matrizes B′ e B′′ só dependem dos parâmetros da rede. Estas duas matrizes
são semelhantes à matriz B obtida de Y = G + jB , com a exceção de que em B′ não
aparecem as linhas e colunas referentes às barras slack e em não aparecem as linhas e
colunas relacionadas às barras PV e slack. Substituindo (32) em (30) temos (33)

∆P V = B′∆θ
(33)
∆Q V = B′′∆V

Estas duas equações são utilizadas em um algoritmo análogo ao descrito na Figura 8,


substituindo respectivamente as equações ∆P p ( V q , θ p ) = H ( V q , θ p ) ∆θ p e
( ) ( )
∆Q q V q , θ p = L V q , θ p ∆V q . Melhorias adicionais foram ainda obtidas quando se considera
a matriz B′ igual à matriz obtida do fluxo de carga CC. Assim, finalmente, podemos
escrever as matrizes que compõem o modelo desacoplado rápido conforme (34).

1
B′km = −
xkm
1
B′kk = ∑ xkm
(34)
m∈Ωk

B′′km = −B km
B′′kk = −B kk

Exemplo 2.6

Seja o sistema de duas barras do exemplo 2.4 representado na Figura 7 e cujos dados de
barra e ramo (todos em pu) estão fornecidos nas tabelas 3 e 4 respectivamente. Utilizando o
método desacoplado rápido, resolver o problema de fluxo de potência do sistema, com
tolerância de ε = 0.003 .

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Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 1

CAPÍTULO III
MÁQUINAS SÍNCRONAS EM SISTEMAS DE POTÊNCIA

2.1 INTRODUÇÃO

O gerador síncrono é responsável por grande parte da geração de energia elétrica


utilizada hoje no mundo. O gerador é acionado por uma turbina cuja energia em geral é
proveniente da energia potencial (em usinas hidráulicas) ou da queima de combustíveis
(usinas térmicas).

Os enrolamentos de uma máquina síncrona polifásica constituem um grupo de circuitos


elétricos magneticamente acoplados, alguns dos quais giram (localizados no rotor) em
relação a outros (localizados no estator).

2.2 DESCRIÇÃO DAS MÁQUINAS SÍNCRONAS

Os enrolamentos localizados no rotor são denominados enrolamentos de campo. Estes


enrolamentos são supridos com corrente contínua, fornecida por uma excitação. Os
enrolamentos localizados no estator são denominados enrolamentos de armadura. A
força magnetomotriz produzida pelo enrolamento de campo se combina com a força
magnetomotriz produzida pelas correntes do enrolamento de armadura. O fluxo resultante
no entreferro gera tensões nas bobinas de armadura e fornece torque eletromagnético entre
o estator e rotor.

A Figura 9 mostra um gerador síncrono bastante elementar. O enrolamento de campo dá


origem a dois pólos magnéticos. O eixo do campo destes pólos é denominado eixo direto
ou eixo d. A 90° atrasado localiza-se o eixo em quadratura ou eixo q. O gerador da figura é
chamado gerador de pólos lisos ou não salientes, pois possui um rotor cilíndrico, sem
saliências. Em uma máquina real, os enrolamentos estão distribuídos por ranhuras em
torno da circunferência do rotor. Também é mostrado um corte do estator na Figura 9. Os
lados opostos de uma bobina estão nas ranhuras a e a’. Bobinas semelhantes estão nas
ranhuras b e b’ e ainda c e c’. As bobinas correspondentes às fases a, b e c estão defasadas
de 120°.
A Figura 10 mostra uma máquina de pólos salientes com quatro pólos. Os lados opostos
de uma mesma bobina estão defasados de 90°. Portanto existem duas bobinas para cada
fase. Os lados a, b e c de bobinas adjacentes estão defasados de 60°. As duas bobinas de
uma fase podem ser conectadas em série ou paralelo.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 2

eixo d θd
estator

eixo q
c’ b

N
a a’ força
S magnetomotriz
do enrolamento
de campo
b’ c

enrolamento
de campo
rotor
Figura 9. Gerador síncrono de pólos lisos.

eixo d

a’
b
c eixo q

N c’
b’
S

a a
S
N
b’
c’ estator
c
rotor
b a’

enrolamento de campo

Figura 10. Gerador síncrono de pólos salientes.

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Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 3

As máquinas de pólos salientes possuem um enrolamento adicional denominado de


enrolamento de amortecimento (não está mostrado na figura 10), que é constituído de
barras de cobre curto-circuitadas, de forma similar a um enrolamento em gaiola de esquilo
de um motor de indução. Este enrolamento tem por objetivo reduzir as oscilações
mecânicas no eixo do gerador no entorno da velocidade síncrona. A velocidade síncrona é
determinada pelo número de pólos da máquina e a freqüência do sistema ao qual a máquina
está conectada. Em uma máquina de dois pólos um ciclo de tensão é gerado para cada
rotação completa do rotor de dois pólos. Em uma máquina de quatro pólos dois ciclos de
tensão são gerados por revolução. Como o número de ciclos por revolução iguala o número
de pares de pólos, a freqüência da tensão gerada é dada pela equação 1 a seguir.

P N P
f = = fm (1)
2 60 2

f = freqüência elétrica em Hz
P = numero de pólos
N = velocidade do rotor em revoluções por minuto (rpm)
f m = N 60 = freqüência mecânica em revoluções por segundo (rps)

Graus elétricos são utilizados para exprimir tensão e corrente e graus mecânicos são
utilizados para expressar a posição do rotor. Em uma máquina de dois pólos os graus
elétricos e mecânicos coincidem. Em qualquer outra máquina o número de graus elétricos é
igual a P 2 vezes o número de graus mecânicos.

2.3 GERADORES TRIFÁSICOS

Os enrolamentos de armadura de uma máquina síncrona estão distribuídos no entorno do


estator. Mostra-se (ver apêndice A.1 do livro Grainger) que estes enrolamentos distribuídos
podem ser substituídos por um único enrolamento concentrado ao longo de seu eixo, com
auto-indutância e indutâncias mútuas específicas. A Figura 1 mostra três bobinas
concentradas estacionárias representando os enrolamentos de armadura das fases a, b e c e
uma bobina concentrada f representando o enrolamento de campo. As três bobinas
concentradas são idênticas e são conectadas no ponto o.

Mostra-se para a máquina de pólos lisos que (ver apêndice A.1 do livro Grainger) que:

• cada bobina concentrada possui auto-indutância Ls igual às auto-indutâncias das


bobinas distribuídas da armadura.

Ls = Laa = Lbb = Lcc (2)

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Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 4

ia
eixo fase a
+
va
eixo d R, Laa
_ eixo q

θd

Lab = Lba
Lac = Lca
if
o
+
f
_
v ff '
R, Lbb f´ R, Lcc
_
eixo fase b vb eixo fase c
+ vc +
ib
ic
Lbc = Lcb

Figura 1. Gerador trifásico idealizado mostrando enrolamentos de armadura e campo.

• as indutâncias mútuas entre cada par de bobinas concentradas adjacentes são valores
negativos dados por − M s , sendo que:

− M s = Lab = Lbc = Lca (3)

• as indutâncias mútuas entre a bobina f e cada bobina da armadura variam de acordo


com a posição do rotor e de acordo com a indutância máxima M f .

Laf = M f cosθ d
(
Lbf = M f cos θ d − 120 o ) (4)
Lcf = M f cos(θ d − 240 )
o

O enrolamento de campo possui uma indutância mútua L ff constante.

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Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 5

A partir das considerações acima, pode-se escrever os fluxos de enlace de cada bobina,
conforme a seguir:

Na Armadura

λ a = Laa ia + Lab ib + Lac ic + Laf i f = Ls ia − M s (ib + ic ) + Laf i f


λb = Lba ia + Lbb ib + Lbc ic + Lbf i f = Ls ib − M s (ia + ic ) + Lbf i f (5)
λc = Lca ia + Lcb ib + Lcc ic + Lcf i f = Ls ic − M s (ia + ib ) + Lcf i f

No Campo

λ f = Laf ia + Lbf ib + Lcf ic + L ff i f (6)

Se as correntes de armadura são balanceadas teremos: ia + ib + ic = 0 Fazendo


ia = −(ib + ic ) , ib = −(ia + ic ) e ic = −(ia + ib ) na equação (18) teremos:

λa = (Ls + M s )ia + Laf i f


λb = (Ls + M s )ib + Lbf i f (7)
λc = (Ls + M s )ic + Lcf i f

Em condições de regime permanente assume-se que a corrente de campo i f possui um


valor constante I f e que o campo gira a uma velocidade angular constante ω , de modo
que a para a máquina de dois pólos temos:

dθ d
ω= e θd = ω t +θd0 (8)
dt

onde θ d 0 é uma posição inicial do rotor. Substituindo as equações (17) e (21) em (20),
temos:

λ a = (Ls + M s )ia + M f I f cos(ω t + θ d 0 )


(
λb = (Ls + M s )ib + M f I f cos ω t + θ d 0 − 120 o ) (9)
λc = (Ls + M s )ic + M f I f cos(ω t + θ d0 − 240 )
o

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Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 6

A expressão acima nos mostra que o fluxo enlaçando a bobina a possui duas
componentes: uma devido à própria corrente da fase a da armadura e outra devido ao
campo. Se a bobina possui uma certa resistência R, podemos escrever:

dλ a di
v a = − R ia − = − R ia − (Ls + M s ) a + ω M f I f sen (ω t + θ d 0 ) (10)
dt dt

O último termo é denominado de força eletromotriz interna, que chamaremos ea ' .

ea ' = 2 Ei sen (ω t + θ d 0 ) (11)

A magnitude desta força eletromotriz é proporcional à corrente de campo, e dada por:

ω MfIf
Ei = (12)
2

Veja que a força eletromotriz acima aparece mesmo quando não há corrente na fase a
da armadura. Por isso ea ' também é chamada de tensão a vazio, tensão de circuito aberto,
tensão interna da máquina ou ainda força eletromotriz gerada.

O ângulo θ d 0 indica a posição do enrolamento de campo em relação à fase a, tomada


como referência na Figura 1. Podemos definir o ângulo δ = θ d 0 − 90 o , como o ângulo do
eixo de quadratura. Reescrevendo a equação da força eletromotriz gerada teremos:

(
ea ' = 2 Ei sen ω t + δ + 90 o ) (13)

Assim a tensão terminal da fase a é dada por:

dia
v a = − R i a − ( Ls + M s ) + 2 Ei cos(ω t + δ ) (14)
dt 

e
a'

Esta equação corresponde ao circuito mostrado na Figura 2 a seguir.

Como as forças eletromotrizes produzidas possuem o mesmo módulo e estão defasadas


de 120º, temos um sistema equilibrado que, ao alimentar uma carga equilibrada, irá
produzir correntes equilibradas conforme mostrado na equação 15.

ia = 2 I a cos(ω t + δ − θ a )
(
ib = 2 I b cos ω t + δ − θ a − 120 o ) (15)
ic = 2 I c cos(ω t + δ − θ a − 240 )
o

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 7

ia

+ a
R

Ls + M s
va
a’
+
ea' 0 = 2 Ei cos (ω t + δ )
_
_
0
_ _
eb' 0 +
Ls + M s + eb' 0 +
c’ Ls + M s
b’
R
R ib
vc
b

ic _
c
Figura 2. Circuito equivalente da armadura do gerador trifásico idealizado

onde θ a é o ângulo de defasamento angular entre a corrente e a força eletromotriz


gerada ea ' .

As expressões dadas em (4) podem ser substituídas em (6) de modo que teremos:

( ( ) (
λ f = L ff I f + M f ia cosθ d + ib cos θ d − 120 o + ic cos θ d − 240 o )) (16)

O primeiro termo entre parênteses pode ser expandido da forma:

ia cosθ d = 2 I a cos(ω t + δ − θ a ) cos(ω t + δ + θ a ) (17)

Aplicando relações trigonométricas teremos:

Ia
ia cosθ d = {− sen (θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a )} (18)
2

Analogamente para as demais fases teremos

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 8

(
ib cos θ d − 120 o = ) Ib
{− sen(θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a − 120 o )}
2
(19)
(
ic cos θ d − 240 o = ) Ic
{− sen(θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a − 240 o )}
2

Os termos envolvendo 2ω t são componentes equilibradas e a sua soma é portanto nula.


Somando os demais termos teremos:

( ) (
ia cos θ d + ib cos θ d − 120 o + ic cos θ d − 240 o = − ) 3 Ia
sen (θ a ) (20)
2

Retornando o valor (20) na expressão (16) teremos:

3M f I a
sen (θ a ) = L ff I f +
3
λ f = L ff I f − M f id (21)
2 2

onde:
id = − 3 I a sen (θ a ) (22)

Repare-se que a corrente id é contínua. A equação (21) também nos mostra que o fluxo
combinado das bobinas a, b e c enlaçando o campo é independente do tempo. Pode-se
interpretar este fluxo como sendo produzido por uma bobina fictícia cujo eixo é coincidente
com o eixo direto. As duas bobinas giram juntas em sincronismo e possuem uma indutância
mútua dada por 3 2 M f . Esta interpretação é mostrada na Figura 3 a seguir:

Se o enrolamento de campo possuir uma resistência R f , teremos a seguinte equação


para os terminais do enrolamento de campo:
dλ f
v ff ' = R f i f + (23)
dt
Como λ f não varia com o tempo temos:

v ff ' = R f I f (24)

logo, a corrente de campo pode ser suprida por uma fonte de corrente contínua.

A equação (22) nos mostra que a corrente id só depende da magnitude da corrente de


armadura e do ângulo de defasamento desta corrente em relação à força eletromotriz
interna gerada.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 9

eixo fase a

eixo d eixo q

id
θd

indutância mútua 3 2 M f

if

+
f
_
v ff '
eixo fase c
eixo fase b f´

Figura 3. Representação da armadura através de um enrolamento de eixo direito com


impedância mútua de 3 2 M f .

2.4 REATÂNCIA SÍNCRONA E CIRCUITO EQUIVALENTE

Podemos escrever o circuito equivalente por fase da Figura 12 tomando-se a força


eletromotriz ea ' como referência, conforme mostrado na Figura 4 a seguir.

Repare que o ângulo da corrente foi alterado uma vez que, na prática é difícil
estabelecermos o defasamento angular com respeito a força eletromotriz ea ' interna da
máquina. Fasorialmente teríamos:

Va = Va ∠0 ; E a ' = E a ' ∠δ ; Ia = Ia ∠θ (25)

Repare que o ângulo da corrente foi alterado uma vez que, na prática é difícil
estabelecermos o defasamento angular com respeito a força eletromotriz ea ' interna da
máquina. Fasorialmente teríamos:

Va = Va ∠0 ; E a ' = E a ' ∠δ ; Ia = Ia ∠θ (25)

Teremos o circuito elétrico mostrado a seguir na Figura 5.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 10

ia = 2 I a cos(ω t − θ )
a
+
R

Ls + M s
v a = 2 Va cos(ω t )
a’
+
ea ' 0 = 2 Ei cos(ω t + δ )
_
_
0

Figura 4. Circuito equivalente por fase da máquina síncrona.

Ia = Ia ∠θ
jω ( L s + M s ) R
+

+
E i = E i ∠δ v a = Va = Va ∠0

_
0
Figura 5 Circuito equivalente da máquina síncrona em termos fasoriais

Assim, a tensão nos terminais na máquina será dada pela equação:

Va = E − RI − jωLs Ia − jωM s Ia (26)


Ni Na 



tensão gerada resistência da armadura auto−reatância reatância mutua


a vazio da armadura da armadura

O termo X d = ω (Ls + M s ) é denominado de reatância síncrona. E a impedância síncrona


deve incluir também a resistência. Assim, finalmente temos o circuito equivalente mostrado
na Figura 6 a seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 11

Ia = Ia ∠θ
jX d R
+

+
E i = E i ∠δ v a = Va = Va ∠0

_
0

Figura 6 Circuito equivalente para o gerador síncrono

Exercício 2.1

Um gerador síncrono de 60 Hz descrito com resistência de armadura desprezível possui as


seguintes indutâncias:

Laa = Ls = 2.7656mH ; M f = 31.6950mH ;


Lab = M s = 1.3828mH ; L ff = 433.6569mH
Os dados nominais da máquina são 635MVA, fator de potência de 0.9 indutivo, 3600 rpm,
24KV. Quando opera sob condições nominais a tensão fase-neutro terminal e a corrente da
fase a valem:

v a = 19596 cos(ω t ) V ; ia = 21603 cos(ω t − 25.8419) A

Sabendo-se que este gerador está suprindo sua carga nominal sob condições de regime
permanente, e escolhendo a base da armadura igual aos valores nominais da máquina
determine o valor da reatância síncrona e as expressões fasoriais para Va , Ia , e E i em pu.
Se a corrente de campo que produz a tensão terminal nominal sob condições de circuito
aberto vale 1640 A, determine a corrente sob as condições de operação especificadas.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 12

2.5 CONTROLE DE POTÊNCIA ATIVA E REATIVA

Quando uma máquina síncrona é conectada em um barramento infinito, sua velocidade


e sua tensão terminal são fixas. Entretanto, duas variáveis podem ser controladas: a corrente
de campo, e o torque mecânico no eixo. A variação da corrente de campo I f , denominada
sistema de controle de excitação, é aplicada tanto para o gerador quanto para o motor para
fornecer ou absorver uma determinada quantidade de potência reativa. Como a máquina
gira à velocidade síncrona, a única forma de variar a potência ativa é através do controle do
torque imposto ao eixo da máquina.

É conveniente desprezar a resistência ao considerarmos o controle de potência reativa


de geradores de pólos lisos. Assuma que um gerador esteja suprindo potência de modo que
certo ângulo δ exista entre a tensão terminal Vt e a tensão interna E i . A potência
complexa entregue pelo gerador será:

S = P + jQ = Vt I a* = Vt Ia (cosθ + jsenθ ) (27)

Para as partes ativa e reativa temos:

P = Vt Ia cosθ Q = Vt Ia senθ (28)

Nota-se que Q é positivo para fatores de potência indutivos (pois θ é numericamente


positivo nestes casos). Se decidirmos manter uma determinada potência ativa P entregue ao
sistema (que possui tensão constante), é claro pela expressão (28) que devemos manter
Ia cosθ constante. Ao variarmos a corrente de campo I f sob tais condições, a tensão
gerada E i varia de forma proporcional, mas sempre de modo a manter Ia cosθ constante,
conforme se mostra nos lugares geométricos mostrados na Figura 7.

Uma excitação normal é definida quando:

E cos δ = Vt (29)


Uma máquina opera sub-excitada quando:
E cos δ < Vt

Uma máquina opera sobre-excitada quando:


E cos δ > Vt

Repara-se que quando sobre-excitada a máquina está fornecendo potência reativa ao


sistema, já que o termo senθ em (28) é positivo. Assim, neste caso, do ponto de vista do
sistema a máquina está agindo como um capacitor. Quando sub-excitada a máquina está
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 13

recebendo potência reativa, já que o termo senθ em (28) é negativo. Neste caso, do ponto
de vista do sistema a máquina tem um comportamento indutivo.

lugar geométrico da potência


constante para Ia .

E i
lugar geométrico de
potência constante
para Ei
jIa X d Ia X d cos θ

δ (a)

θ Ia X d senθ
Vt

Ia

Ia cos θ

Ia X d senθ
E i

jIa X d (b)
Ia X d cos θ
δ Ia
θ
Vt

Figura 7. Diagrama fasorial mostrando os lugares geométricos onde a potência ativa é


constante para os casos: (a) um gerador sobre-excitado entregando potência reativa ao
sistema (b) um gerador sub-excitado recebendo potência reativa do sistema. A potência
entregue pelo gerador é a mesma nos dois casos.

Para um motor síncrono, o circuito equivalente é dado na Figura 8, onde o sentido da


corrente é invertido, já que neste caso a corrente de armadura deve alimentar o campo da
armadura.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 14

Ia = Ia ∠θ
jX d R
+

+
E i = E i ∠δ v a = Va = Va ∠0

0 _

Figura 8 Circuito equivalente para o motor síncrono

Para o motor, a equação do circuito equivalente é dada por:

Va = E i + Z d Ia (30)

Em que o sinal positivo para o segundo termo do lado direito da equação é dado pelo
sentido da corrente (que para o motor é invertido). Para o motor a potência absorvida é
dada por:

S = P + jQ = Vt I a* = Vt Ia (cosθ + jsenθ ) (31)

Com as seguintes partes ativa e reativa:

P = Vt Ia cosθ Q = Vt Ia senθ (32)

A Figura 9 mostra um motor síncrono nas situações sobre-excitado e sub-excitado. Em


ambas as situações o motor está absorvendo a mesma potência ativa nos terminais da
máquina. O motor sobre-excitado solicita uma corrente capacitiva e age como um capacitor
( senθ em (32) é negativo), do ponto de vista do circuito. Neste caso o motor está
fornecendo potência reativa ao sistema. O motor sub-excitado solicita uma corrente
indutiva e age como um circuito indutivo ( senθ em (32) é positivo) do ponto de vista do
sistema. Neste caso o motor está absorvendo potência reativa ao sistema.

Conclusão

Geradores ou motores sobre-excitados fornecem potência reativa ao sistema e geradores


e motores sub-excitados absorvem potência reativa do sistema.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 15

lugar geométrico da potência


constante para Ia .

Ia X d senθ
Ia
θ (a)
lugar geométrico de δ Vt
potência constante jIa X d Ia X d cos θ
para Ei
E i

Ia cos θ

Vt
θ
δ jIa X d
Ia Ia X d cos θ
E i (b)

Ia X d senθ

Figura 9. Diagrama fasorial mostrando os lugares geométricos onde a potência ativa é


constante para os casos: (a) um motor sobre-excitado entregando potência reativa ao
sistema (b) um motor sub-excitado recebendo potência reativa do sistema. A potência
entregue pelo gerador é a mesma nos dois casos.

Voltando a atenção agora para a potência ativa, que é controlada através da


abertura/fechamento de válvulas através das quais a água (ou calor em máquinas térmicas)
entra na turbina. Se a potência mecânica de entrada no gerador é aumentada, a velocidade
do rotor tenderá a aumentar e, caso a corrente de campo I f (e portanto E i ) permanecer
constante, o ângulo δ aumentará, conforme se pode ver na Figura 7 ao girarmos o vetor E i
no sentido contrário ao relógio. O aumento de δ resultará em um maior Ia cosθ ,
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 16

aumentando a potência ativa entregue ao sistema e consequentemente aumentando o


contra-torque no eixo da máquina; desta forma a potência mecânica de entrada é
restabelecida à velocidade correspondente à freqüência do barramento infinito ao qual o
gerador está conectado.

A dependência de P em relação ao ângulo δ pode ser melhor entendida conforme


discutido a seguir. Para um gerador em que se desprezem as resistências internas e
considerando o fasor Vt como referência angular, tem-se:

E i ∠δ − Vt E i ∠ − δ − Vt
Ia = ou Ia* = (33)
jX d − jX d

Portanto a potência complexa entregue pelo gerador em seus terminais é dada em (34).

 V ∠ − δ − V 2
E i t t
S = P + jQ = Vt Ia* =
− jX d
(34)
E i Vt (cos δ + jsenδ ) − Vt
2
=
− jX d
Para as partes real e imaginária tem-se:

E i Vt senδ Vt


P=
Xd
Q=
Xd
( E i cos δ − Vt ) (35)

Quando trabalharmos com valores em volt para Vt e E i na equação (35) é importante
tomar cuidado pois se os valores para Vt e E i são dados por fase, é preciso considerar as
potências ativa e reativa por fase. Se trabalharmos em pu nas respectivas bases, não há
maiores problemas.

A expressão (35) mostra de forma muito clara a dependência de P com relação ao


ângulo δ se os valores de Vt e E i são mantidos constantes. Se desejarmos manter P e
Vt constantes, a expressão mostra ainda que δ deve diminuir se houver um aumento em
E i através do aumento da corrente de campo. Com P mantido constante a expressão para
o reativo em (35) mostra que um aumento em E i ou uma diminuição em δ tendem a
aumentar a potência reativa Q, se esta já for positiva, ou tendem a diminuí-la em magnitude
(ou talvez torna-la positiva) no caso em que Q for negativa.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 17

Exercício 2.2

O gerador do exercício anterior possui uma reatância síncrona X d = 1.7241 pu e está


conectado a um sistema de potência muito grande. A tensão terminal é de 1.0∠0 pu e o
gerador está suprindo ao sistema uma corrente de 0.8 pu a um fator de potência de 0.9
capacitivo. Todos os valores pu são dados em relação aos dados de placa do gerador.
Desprezando a resistência encontre a magnitude e o ângulo da tensão interna da máquina
E i e P e Q que são entregues ao barramento infinito. Se a potência ativa do gerador
permanece constante mas a excitação do gerador é (a) aumentada em 20% e (b) diminuída
em 20%, encontre o ângulo δ entre E i e a tensão terminal Vt e a potência reativa Q
entregue ao sistema.

2.6 DIAGRAMA DE CAPACIDADE (“CAPABILITY”) DE CARREGAMENTO

Todas as condições operativas de um gerador de pólos lisos conectado a uma


barramento infinito podem ser mostradas em um único diagrama, chamado de diagrama de
capacidade de carregamento ou carta de operação da máquina. O diagrama é importante
para os operadores do sistema de energia que são responsáveis pelo carregamento e
operação apropriados do sistema.

O diagrama é construído assumindo-se que o gerador possui tensão terminal constante e


resistência de armadura desprezível. A construção inicia-se com o diagrama fasorial da
máquina com a tensão terminal Vt como referência, conforme mostrado na Figura 7a. Uma
imagem especular da Figura 7a pode ser girada para obter o diagrama da Figura 10, que
mostra 5 lugares geométricos que passam através do ponto m. Os cinco lugares geométricos
são descritos a seguir.

Excitação Constante

O círculo de excitação constante possui centro em n e raio dado por n-m igual ao valor da
tensão interna E i , que pode ser mantida constante mantendo a corrente de campo constante
conforme mostra a equação (12).

Ia Constante

O círculo de corrente de armadura constante possui centro em o e raio dado por o-m
proporcional ao valor da corrente Ia . Como Vt é constante os pontos operativos deste
( )
lugar geométrico correspondem também à potência aparente fornecida Vt Ia constante do
gerador.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 18

(a) P constante

Q r

(e) fator de potência


Ia X d cos θ constante
m
(b) Q constante

jIa X d
Ia X d senθ (c) Ei constante

E i
θ
(d) Ia constante indutivo
o
p
Vt P capacitivo

θ
δ
Ia

Figura 10. Diagrama fasorial criado a partir da figura 7a mostrando os lugares geométricos
através do ponto m correspondentes a: (a) potência ativa P constante; (b) potência reativa Q
constante; (c) tensão interna E i constante; (d) corrente de armadura Ia constante; (e)
ângulo θ do fator de potência constante.

Potência Ativa Constante

A potência ativa de saída do gerador é dada por P = Vt Ia cos θ em pu. Como Vt é
constante a linha vertical m-p, a uma distância fixa de Ia X d cosθ do eixo o-n representa
o lugar geométrico de operação quando a potência P é mantida constante. Os valores em
MW gerados são sempre positivos independentemente do fator de potência.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 19

Potência Reativa Constante

A potência reativa de saída do gerador é dada por Q = Vt Ia senθ em pu quando o ângulo
é definido positivo para fatores de potência indutivos. Quando Vt é constante a linha
horizontal q-m, a uma distância fixa de I X senθ do eixo o-p representa o lugar
a d
geométrico de operação quando a potência Q é mantida constante. Para fatores de potência
indutivos Q é positivo (sistema sobre-excitado - fornecendo potência reativa) e para fatores
de potência capacitivos Q é negativo (sistema sub-excitado - recebendo potência reativa).

Fator de Potência Constante

A linha o-m corresponde a um ângulo de fator de potência constante entre a corrente de


armadura Ia e a tensão terminal Vt . Na Figura 10 o ângulo θ mostrado é para um fator de
potência indutivo. As regiões onde os ângulos do fator de potência são indutivos e
capacitivos estão também mostradas na figura.

A Figura 10 se torna mais útil quando os eixos estão em uma escala que indica os
carregamento P e Q dos geradores. Rearranjando as equações (35) teremos:

2
E i Vt senδ Vt E i Vt cos δ
P= Q+ = (36)
Xd Xd Xd

Como sen 2δ + cos 2 δ = 1 , elevando cada lado das equações (36) ao quadrado e
somando os termos, tem-se:

2
⎛ Vt ⎞⎟
2
⎛ E i Vt ⎞
2
⎜ ⎜ ⎟
P + ⎜Q + ⎟ =⎜ (37)
⎜ X d ⎟ X ⎟
⎝ ⎠ ⎝ d ⎠

A equação tem a forma ( x − a )2 + ( y − b )2 =r 2 de um círculo de centro em x = a ;


y = b e raio r. O lugar geométrico de P e Q é portanto um círculo de raio E i Vt / X d e

centro em ⎛⎜ 0,− Vt / X d ⎞⎟ . Este círculo pode ser obtido multiplicando-se o comprimento
2
⎝ ⎠
de cada fasor da Figura 10 por Vt / X d , ou de forma equivalente, refazendo a escala do
diagrama de modo a representarmos o valor de P no eixo horizontal e Q no eixo vertical,
conforme mostrado na Figura 11.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 20

(a) P constante

(e) fator de potência


Vt Ia cosθ constante
m
(b) Q constante

IaVt
Vt Ia senθ EiVt
(c) constante
Xd
E iVt
θ Xd (d) Vt Ia constante indutivo
o
p
capacitivo
Potência Ativa P
2
Vt
Xd δ

Figura 11. Diagrama fasorial obtido multiplicando-se todas as distâncias do diagrama da


Figura 10 por Vt / X d .

2
No eixo vertical da Figura o comprimento o-n é igual a Vt / X d . Em geral adota-se
que Vt = 1 pu , e neste caso o comprimento o-n passa a valer 1 / X d pu . Portanto o
comprimento o-n é chave para estabelecermos a escala de potência ativa e reativa.

A carta de operação da máquina pode ser mais prática se limites operativos importantes
forem levados em consideração, tais como: aquecimento máximo nos enrolamentos de
campo e de armadura, limites de potência ativa do acionamento e aquecimento no núcleo
da armadura. Utilizando-se um exemplo de um turbogerador de rotor cilíndrico, com
valores nominais dados por 635MVA, 24 KV, fator de potência de 0.9 indutivo e
X d = 172.41% , será demonstrado o procedimento para a construção de um diagrama de
capacidade da Figura 12 a seguir.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 21

I. Tome Vt = 1 pu na base dos dados de placa da máquina.

II. Utilizando a escala volt-ampere conveniente marque o ponto n no eixo vertical


de modo que o comprimento o-n seja igual a 1 / X d pu na base da placa da
máquina.

III. No exemplo temos X d = 1.72.41 , logo o-n será de 0.58 pu. A mesma escala
também se aplica ao eixo horizontal para a potência ativa.

IV. Ao longo do eixo P, marque a distância correspondente ao máximo saída de


potência do acionador mecânico da máquina. No exemplo estudado este limite é
dado por 1 pu (na base dos dados de placa da máquina).

V. Marque a distância o-m correspondente a 1 pu na linha que interliga a origem e


que faz um ângulo correspondente ao ângulo do fator de potência nominal da
máquina, que no nosso exemplo é de θ = arccos(0.9) . Com o ponto o como
centro e raio igual a o-m, desenhe o arco circular correspondente ao limite de
corrente de armadura.

VI. Construa o arco m-r de máxima excitação permissível utilizando o ponto n como
centro e a distância n-m como raio. Este arco circular corresponde à máxima
corrente de campo permissível. O círculo de excitação constante com raio o-n
em geral define 100% ou 1 pu de excitação, e portanto a figura 12 mostra o
limite de corrente de campo ocorrendo em 2.340 pu de excitação, ou seja,
(comprimento r-n/comprimento o-n) no eixo Q.

VII. Um limite de sub-excitação também ocorre em níveis mais baixos de excitação


quando a potência reativa está sendo suprida ao sistema. Este limite é definido
pelo projeto da máquina conforme se discutirá a seguir.

Na Figura 12 o ponto m corresponde aos MVA nominais do gerador para o fator de


potência nominal. O projetista da máquina deve estipular uma corrente de campo suficiente
para suportar a operação sobre-excitada do gerador no ponto de operação nominal m. O
nível de corrente de campo é limitado ao seu valor máximo ao longo do arco circular m-r, e
a capacidade do gerador para entregar potência fica então limitada. Na prática, a saturação
da máquina diminui o valor da reatância síncrona X d e, por isso, a maioria das curvas dos
projetistas difere dos limites de aquecimento do enrolamento de campo teóricos descritos
na figura 12.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 22

0.8
r
limite de aquecimento do
campo
0.6

cos θ = 0.9
m
0.4

limite de aquecimento
0.2 da armadura

+
θ
0.0
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
_
Potência P em pu

0.2
limite de acionamento
mecânico

0.4 m’
δ
cos θ = 0.9
0.58
n
limite de sub-excitação

Figura 12. Curva de capacidade de carregamento para um turbogerador com valores


nominais dados por 635MVA, 24 KV, fator de potência de 0.9 indutivo e X d = 172.41% ,
e máxima potência de saída da turbina de 635MW.

O ponto m’ corresponde ao fator de potência 0.9 capacitivo na região de sub-excitação


da máquina. Os operadores de sistemas de potência tentam evitar as situações de operação
na região de sub-excitação por duas razões diferentes. A primeira está relacionada ao limite
de estabilidade de regime permanente do sistema e a segunda se relaciona ao sobre-
aquecimento da máquina em si.

Teoricamente o ponto de operação chamado de limite de estabilidade de regime ocorre


quando o ângulo δ entre E i e a tensão terminal Vt atinge 90o. Na prática, entretanto, a
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 23

dinâmica do sistema torna a definição deste limite de estabilidade muito complicado de ser
calculado. Por esta razão os operadores preferem evitar a operação sub-excitada da
máquina sempre que possível.

Quando a máquina entre em regime de operação sub-excitado as correntes parasitas


induzidas pelo sistema nas partes de ferro da armadura começam a aumentar
consideravelmente, o que produz aumento nas perdas por aquecimento na região da
armadura. Para limitar tal aquecimento, os projetistas das máquinas preparam curvas de
capacidade específicas aos seus próprios projetos, e recomendam limites dentro dos quais
se deve operar a máquina. Portanto, na figura 12 a linha m’-n é desenhado com objetivos
ilustrativos apenas.

Para se obter os valores em MW e MVAR para um determinado ponto de operação na


Figura 12, os valores em pu de P e Q lidos do diagrama devem ser multiplicados pelo valor
de potência aparente nominal da máquina, que no caso do exemplo é de 635 MVA. Além
disso, a distância n-m da Figura corresponde ao valor em pu da quantidade de potência
aparente E iVt / X d no ponto operacional m, conforme mostrado na Figura 11. Portanto,
ppode-se calcular o valor de E em pu na base de tensão nominal (24 KV no exemplo)
i
multiplicando-se o comprimento n-m por (expresso em pu volt-amperes) pela relação
X d / Vt ou simplesmente X d , já que a tensão terminal é de 1 pu. A conversão para KV
requer a multiplicação pela tensão nominal da máquina em KV.

Se a tensão terminal Vt não for 1 pu, então o valor 1 / X d dever ser substituído por
2
Vt / X d em pu conforme mostrado na Figura 11. Esta mudança altera a escala da Figura
2
12 por Vt , e portanto os valores lidos do diagrama em pu de P e Q devem ser
2
primeiramente multiplicados por Vt em pu e a seguir pela base em MVA (¨635MVA no
exemplo). Por exemplo, se a tensão terminal vale 1.05 pu então o ponto n no eixo Q da
Figura 12 corresponde ao valor 0.58 × (1.05) 2 = 0.63945 pu ou 406 MVAR.

Para se calcular a tensão de excitação correta correspondente ao ponto m quando a


tensão terminal Vt é diferente da tensão nominal pode-se primeiramente multiplicar o
2
comprimento n-m obtido diretamente do gráfico por Vt em pu, para fazer a correção da
escala e então multiplicar pelo fator X d / Vt em pu para converter E i , conforme discutido
anteriormente. Ou seja,basta multiplicar por X × V . O resultado deve ser multiplicado
d t
pela tensão base se desejarmos os valores em KV.
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 24

2.7 MODELO DE DOIS EIXOS DE UMA MÁQUINA SÍNCRONA

A teoria desenvolvida para máquinas de rotores lisos, utilizada na seção anterior para
descrever o modelo equivalente por fase da máquina síncrona, tem bons resultados em
regime permanente. Entretanto para análises transitórias é necessário considerar o modelo
de dois eixos. Nesta seção é apresentado o modelo de dois eixos através das equações de
máquinas de pólos salientes, nas quais o entreferro é muito menor ao longo do eixo direto
do que ao longo do eixo em quadratura.

A máquina de pólos salientes, assim como a de pólos lisos, possui três enrolamentos
simetricamente distribuídos e um enrolamento de campo no rotor, que produz uma
distribuição senoidal de fluxo em torno do entreferro. Em ambos os tipos de máquina o
campo “enxerga”, por assim dizer, os mesmo entreferros e caminhos de magnetização no
estator, independentemente da posição do rotor. Consequentemente a auto-indutância do
enrolamento de campo L ff é constante. Além disso, ambas as máquinas possuem as
mesmas indutâncias mútuas cossenoidais Laf , Lbf e Lcf , conforme dado na equação (4).
Entretanto, durante cada revolução do rotor as auto-indutâncias dos enrolamentos estator
Laa , Lbb , Lcc e as indutâncias mútuas entre os enrolamentos do estator Lab , Lbc , Lca , não
são constantes na máquina de pólos salientes, mas dependem da posição do rotor. Os
enlaces de fluxo das fases a, b e c estão relacionados às correntes pelas indutâncias
conforme mostrado em (38).

λa = Laa ia + Lab ib + Lac ic + Laf i f


λb = Lba ia + Lbb ib + Lbc ic + Lbf i f (38)
λc = Lca ia + Lcb ib + Lcc ic + Lcf i f

Estas equações se parecem com as equações dadas em (5), mas em (38) todos os
coeficientes são variáveis conforme mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Indutâncias mútuas e auto-indutâncias de um gerador síncrono de pólos salientes


⎧ Laa = Ls + Lm cos 2θ d
Auto-indutâncias ( Ls > Lm > 0) ⎪⎨ Lbb = Ls + Lm cos 2(θ d − 2π / 3)
⎪ L = L + L cos 2(θ + 2π / 3)
⎩ cc s m d
Estator
⎧ Lab = Lba = − M s − Lm cos 2(θ d + π / 6 )

Indutâncias Mútuas ( M s > Lm > 0) ⎨ Lbc = Lcb = − M s − Lm cos 2(θ d − π / 2 )
⎪ L = L = − M − L cos 2(θ + 5π / 6 )
⎩ ca ac s m d
Auto-indutância constante L ff
⎧ Laf = L fa = M f cos θ d
Rotor ⎪
Indutância Mútua ⎪⎨ Lbf = L fb = M f cos(θ d − 2π / 3)

⎩⎪ Lcf = L fc = M f cos(θ d − 4π / 3)
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 25

Com estes valores variáveis as equações (38) para os enlaces de fluxo são mais difíceis
de serem usadas do que as equações para as máquinas de pólos lisos. Felizmente as
equações podem ser escritas de forma mais simples se transformarmos as variáveis do
estator em conjuntos de variáveis correspondentes relacionadas aos eixos direto,
quadratura e seqüência zero, identificadas com os subscritos d, q e 0 respectivamente. Por
exemplo as correntes do estator i a , ib , ic podem ser transformadas em três correntes
equivalentes chamadas de corrente de eixo direto i d , corrente de eixo de quadratura i q e
corrente de seqüência zero i0 . A transformação é feita pela matriz de transformação P,
chamada de matriz de transformação de Park, dada em (39).

a b c

a ⎢cos θ d (
cos θ d − 120 o ) ( ⎤
cos θ d − 240 o ⎥ )
P=
2
3

b ⎢ senθ d (
sen θ d − 120 o ) ( ⎥
sen θ d − 240 o ⎥ ) (39)
⎢ 1 1 1 ⎥
c ⎢ ⎥
⎣ 2 2 2 ⎦

A matriz P possui a propriedade de ortogonalidade em que sua inversa é igual a sua


transposta, ou seja P −1 = PT . Esta propriedade é muito importante pois garante que a
potência não é alterada pela transformação de coordenadas. As correntes, as tensões e os
enlaces de fluxo podem ser transformados para variáveis d, q e 0 conforme mostrado em
(40).

⎡i d ⎤ ⎡i a ⎤ ⎡v d ⎤ ⎡v a ⎤ ⎡λ d ⎤ ⎡λ a ⎤
⎢ i ⎥ = P ⎢ i ⎥; ⎢ v ⎥ = P ⎢ v ⎥; ⎢ λ ⎥ = P ⎢λ ⎥ (40)
⎢ q⎥ ⎢ b⎥ ⎢ q⎥ ⎢ b⎥ ⎢ q⎥ ⎢ b⎥
⎢⎣ i0 ⎥⎦ ⎢⎣ic ⎥⎦ ⎢⎣ v 0 ⎥⎦ ⎢⎣ v c ⎥⎦ ⎢⎣ λ0 ⎥⎦ ⎢⎣ λc ⎥⎦

A transformação P define um conjunto de correntes, tensões e enlaces de fluxo para três


bobinas fictícias, umas das quais é a bobina 0, estacionária. As outras duas as bobinas d e q,
giram em sincronismo com o rotor. As bobinas d e q possuem enlaces de fluxo constante
com o campo e quaisquer outros enrolamentos que possam existir no rotor. A partir de
manipulações algébricas nas equações (40), mostra-se que:

3
λ d = Ld i d + M f if
2
λ q = Lq i q (41)
λ0 = L0 i0

Em que i f é a corrente de campo e as indutâncias são definidas por (42).


Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 26

3
Ld = L s + M s + Lm
2
3
Lq = L s + M s − Lm (42)
2
L0 = Ls − 2 M s

Os parâmetros Ls e M s têm a mesma interpretação dada para a máquina de pólos lisos


e Lm é um número positivo. A indutância Ld é chamada de indutância de eixo direto, Lq é
chamada de indutância de eixo em quadratura e L0 é chamada de indutância de seqüência
zero.

Repara-se em (41) que os enlaces de fluxo do campo ainda são dados pela equação (21),
repetida aqui em (43).

3
λf = M f i d + L ff I f (43)
2

eixo fase a

eixo d eixo q

id iq
θd

R, Ld 3 R, Lq
Mf
2

if
R, L ff
+
f
_
v ff '
eixo fase c
eixo fase b f´

Figura 13. Representação de um gerador síncrono de pólos salientes através de


enrolamentos equivalentes de armadura relacionados aos eixos direto e em quadratura.
Todos os enrolamentos giram à mesma velocidade.

As equações (41) e (43) são simples de usar, uma vez que todos os seus coeficientes são
constantes. As equações de enlace de fluxo nestas equações mostram que Ld é a auto-
indutância de um enrolamento de armadura equivalente, localizado no eixo d, que gira em
sincronismo, à mesma velocidade que o enrolamento de campo, e que carrega uma corrente
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 27

i d que produz a mesma força magnetomotriz no eixo d que as correntes de estator i a , ib e


ic . A mesma interpretação física é aplicável a Lq e i q para o eixo em quadratura. Ainda,
i q e i d produzem uma força magnetomotriz que equivalente estacionária em relação ao
rotor. Os enrolamentos fictícios do eixo direto e o enrolamento de campo agem como duas
bobinas acopladas que são estacionárias entre si, enquanto giram juntas partilhando uma
indutância mútua de kM f (k = 3 / 2 ) , conforme mostra as equações (41) e (43).

Além disso, os enrolamentos fictícios dos eixos d e q não se acoplam magneticamente,


já que estão defasados de 90o entre si. A indutância de seqüência zero L0 está associada
com um enrolamento de armadura fictício com nenhum tipo de acoplamento com os outros
enrolamentos. Mostra-se que sob condições equilibradas esta bobina não conduz corrente.
A representação de um gerador síncrono de pólos salientes através de enrolamentos
equivalentes de armadura relacionados aos eixos direto e quadratura é mostrada na figura
13.

Exercício 2.3

Sob condições de regime permanente a armadura de um gerador síncrono de pólos salientes


carrega correntes trifásicas equilibradas, conforme abaixo, onde θ d = ωt + δ + 90o .
Utilizando a matriz de transformação P encontre a expressão para as correntes de armadura
d , q, 0.
ia = 2 I a sen(θ d − θ a )
(
ib = 2 I b sen θ d − θ a − 120 o )
ic = 2 I c sen(θ d −θa − 240 )
o

2.8 EQUAÇÕES DE TENSÃO: MÁQUINAS DE PÓLOS SALIENTES

As tensões terminais dos enrolamentos de armadura para uma máquina de pólos


salientes podem ser escritas conforme (44).

dλ a d λb dλc
v a = − R ia − ; vb = − R ib − ; v c = − R ic − (44)
dt dt dt

Sendo que v a , vb , vc são as tensões terminais fase-neutro da armadura. Os sinais


negativos aparecem pois as correntes estão saindo do gerador. Conforme vimos, os enlaces
de fluxo λa , λb , λc são difíceis de ser tratados, sendo necessária uma mudança de
coordenadas para d, q, 0. A obtenção das equações de v d , v q , v0 é direta, bastando
substituir as grandezas envolvidas em (44) pelos valores transformados pela matriz de
transformação P. Esta dedução, mostrada no apêndice do livro Grainger/Stevenson, resulta
na equação (45).
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 28

dλd
v d = − R id − − ωλ q
dt
dλ q
v q = − R iq − + ωλ d (45)
dt

v 0 = − R i0 − 0
dt

Onde ω = dθ / dt é a velocidade angular. A equação (23) não está sujeita à


transformação de P. Assim, rearranjando as equações de enlace fluxos e as equações de
tensão de acordo com os eixos d, q, 0, tem-se:

Para o eixo d
λd = Ld id + kM f i f
λ f = kM f id + L ff i f
dλ d
v d = − R id − − ωλq (46)
dt
dλ f
v ff ' = R f i f +
dt

Para o eixo q
λ q = Lq i q
dλ q (47)
v q = − R iq − + ωλ d
dt

Onde k = 3 / 2 . As equações envolvendo i0 e λ0 são dadas separadamente e não


possuem interesse se estamos trabalhando em condições equilibradas. As equações (46) e
(47) são muito mais simples de se resolver, se comparadas às equações análogas para as
fases a, b e c. Além disso, um conjunto de circuitos equivalentes pode ser descrito,
conforme mostrado na Figura 14, para satisfazer estas equações.

O circuito de f representa o próprio circuito de campo, já que a transformação P afeta


apenas as fases da armadura, que são substituídas pelos enrolamentos d e q. Nota-se na
figura que a bobina de campo está mutuamente acoplada à bobina de eixo direto d e
portanto as equações de tensão podem ser escritas de acordo com (46) e (47). O
enrolamento fictício q é mostrado de forma magneticamente desacoplada dos demais
enrolamentos (uma vez que os enrolamentos d e q estão em quadratura). Entretanto, há uma
interação entre os dois enrolamentos representada pelas fontes de tensão ω λ d e − ω λ q as
quais são denominadas forças magnetomotrizes rotacionais ou tensões de velocidade,
internas à máquina e devidas a sua rotação. Percebemos que a tensão de velocidade no eixo
d depende de λq e que a tensão de velocidade no eixo q depende de λd . Nenhuma destas
Capítulo III Máquinas Síncronas em Sistemas de Potência 29

tensões aparece se o rotor está parado ω = 0 . Neste caso os circuitos do campo e do eixo d
atuariam como um transformador (estacionário); e o circuito do eixo q atuaria como uma
bobina comum.

O circuito elétrico da Figura 14 é mais útil quando é necessário analisar o desempenho


da máquina síncrona sob condições de curto-circuito, o que será feito na seção seguinte.

if id
R
Rf +
+ +
kM vd
L ff ' f _
v ff ' Ld vd
_ +
ω λq _
S − vd
_ _
+
iq

+
+
v
vq _ q
Lq
+
ω λd _
S −v
_ q
_
+
(a) (b)

Figura 14. Circuito equivalente para um gerador síncrono de pólos salientes (a) com
tensões terminais v d e v q ; (b) com armadura curto-circuitada.

Exercício 2.4

Uma corrente de campo I f é fornecida ao enrolamento de campo de um gerador síncrono


de pólos salientes que gira a uma velocidade angular constante ω . Determine a forma das
tensões de armadura de circuito aberto e suas componentes d, q, 0.
Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 1

CAPÍTULO IV
ESTABILIDADE EM SISTEMAS DE POTÊNCIA

3.1 INTRODUÇÃO

No passado, quando geradores AC eram acionados por determinados dispositivos um


dos maiores problemas na operação de máquinas elétricas era causado por oscilações
sustentadas na velocidade ou variações periódicas no torque aplicado aos geradores (efeito
denominado de hunting). As variações periódicas resultantes na tensão e na freqüência
eram transmitidas aos motores conectados ao sistema. As oscilações dos motores
causavam, algumas vezes, até mesmo a perda de sincronismo, se a freqüência natural dos
motores coincidia com a freqüência de oscilação causada pelos dispositivos de acionamento
do gerador.

Enrolamentos de amortecimento foram utilizados a fim de minimizar o hunting através


da ação de amortecimento das perdas resultantes das correntes induzidas nos enrolamentos
de amortecimento pelo movimento relativo entre o rotor e o campo girante gerado pela
corrente de armadura. A utilização de turbinas reduziu o problema de hunting apesar de
este problema ainda estar presente quando a máquina primária é um dispositivo a diesel.
Manter o sincronismo entre as várias partes do sistema é um problema que cresce em
dificuldade à medida que o sistema cresce de dimensão.

3.2 O PROBLEMA DE ESTABILIDADE

Os estudos de estabilidade, que avaliam o impacto de distúrbios no comportamento


eletromecânico dinâmico de sistemas de potência, podem ser divididos em dois tipos:
estabilidade transitória e estabilidade de regime permanente. Estudos de estabilidade
transitória são comumente realizados em departamentos de planejamento de
concessionárias de energia elétrica, a fim de garantir o desempenho dinâmico do sistema.
Os modelos do sistema utilizados pelas concessionárias são bastante pesados, uma vez que
os sistemas de energia modernos são, em geral, grandes e altamente interconectados, com
centenas de máquinas que interagem entre si através da rede de transmissão. Estas
máquinas possuem sistemas de excitação e sistemas de controle turbina-gerador que, às
vezes, são representados de modo a refletir de forma apropriada o desempenho dinâmico do
sistema. A solução das equações diferenciais não-lineares resultantes pode ser feita através
de métodos diretos ou métodos iterativos indiretos (métodos passo-a-passo). Alguns
conceitos importantes ao se estudar o problema de estabilidade são definidos a seguir.

Regime Permanente de Operação

Um sistema de potência está em um regime permanente de operação se todas as


grandezas físicas medidas que descrevem a operação podem ser consideradas constantes
para propósitos de análise do sistema.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 2

Distúrbio

Quando o sistema está operando em regime permanente e ocorre alguma alteração


súbita em um ou mais parâmetros do sistema, ou em uma ou mais grandezas operativas,
diz-se que o sistema sofreu um distúrbio. Um grande distúrbio é aquele para o qual as
equações não lineares que descrevem a dinâmica do sistema não podem ser linearizadas de
forma válida com objetivos de análise. Exemplos de grandes distúrbios são: faltas em
sistemas de transmissão, alterações súbitas de carga, perda de unidade geradora,
chaveamentos de linha, etc. Um pequeno distúrbio é aquele para o qual as análises podem
ser feitas utilizando modelos linearizados. Exemplos de pequenos distúrbios são: a
mudança no ganho de um regulador de tensão automático, mudanças na excitação de um
gerador, mudança automática de um tap de transformador, etc.

Estabilidade de Regime

Diz- se que um sistema de potência possui estabilidade de regime se, a partir de um


pequeno distúrbio, o sistema retorna para essencialmente à mesma situação de operação em
regime permanente anterior ao distúrbio.

Estabilidade Transitória

Diz-se que um sistema de potência possui estabilidade transitória se, a partir de um


grande distúrbio, o sistema atinge uma condição de operação diferente da situação original,
mas aceitável do ponto de vista operacional.

Estudos de estabilidade de regime em geral são menos extensos em escopo que os


estudos de estabilidade transitória e em geral envolvem uma única máquina operando sobre
um sistema infinito, ou poucas máquinas operando sob condições de distúrbios pequenos.
Portanto, os estudos de estabilidade de regime envolvem situações em que variações
incrementais (no entorto no ponto de operação) em parâmetros ou em condições operativas
são analisadas. As equações diferenciais não lineares do sistema são substituídas por um
conjunto de equações lineares que são resolvidas por métodos de análise linear para
determinar se o sistema possui estabilidade de regime.

Como os estudos de estabilidade transitória envolvem grandes distúrbios, a linearização


das equações do sistema não é permitida. A estabilidade transitória é estudada com base
nas formulações first-swing ou multiswing. Estudos de estabilidade transitória com
formulação first-swing usam um modelo de gerador relativamente simples consistindo de
uma tensão interna E i em série com uma reatância transitória X d′ . Neste tipo de
formulação os sistemas de excitação e o sistema de controle turbina-gerador não são
representados. Em geral, o período de tempo considerado é de um segundo após a
ocorrência de um distúrbio grande. Se com os estudos se concluir que as máquinas
permanecerão em sincronismo após o distúrbio, diz-se que o sistema possui estabilidade
transitória. A formulação multiswing é utilizada para estudos com intervalos de tempo mais
longos, e portanto o efeito dos controles das unidades de geração deve ser levado em

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 3

consideração, uma vez que estes controles afetam o desempenho dinâmico das unidades
durante o período estendido considerado. Modelos de máquinas mais sofisticados são
necessários para analisar o comportamento dinâmico do sistema nestes casos.

Em todos os estudos de estabilidade o objetivo é determinar se os rotores das máquinas


perturbadas por um distúrbio retornarão ou não à sua velocidade de operação. Obviamente
isso significa que a velocidade do rotor desviou, ao menos temporariamente, da velocidade
síncrona. Três simplificações são feitas em todos os estudos de estabilidade, quais sejam:

i. Apenas freqüências síncronas das correntes e tensões são consideradas nos


enrolamentos do estator e no sistema de potência. Harmônicas e correntes de
“off-set” DC não são consideradas.
ii. Componentes simétricas são utilizadas para faltas desequilibradas
iii. Considera-se que a tensão gerada não é afetada pelas variações de
velocidade da máquina

Estas aproximações permitem que a álgebra fasorial seja aplicada para a solução de
redes de transmissão através de técnicas de fluxo de carga. Além disso, redes de seqüência
zero e negativa podem ser incorporadas para representar as correntes de falta. Em geral,
consideram-se faltas trifásicas equilibradas, entretanto, em certas situações, tais como
operações de disjuntores, a representação de faltas desequilibradas se faz necessária.

3.3 DINÂMICA DO ROTOR E A EQUAÇÃO “SWING”

A equação que governa o movimento do rotor de uma máquina síncrona é baseada em


princípios elementares de dinâmica, conforme mostrado na equação (1).

d 2θ m
J = Ta = Tm − Te N−m (1)
dt 2

Onde temos os seguintes símbolos:

J momento de inércia das massas do rotor, em Kg-m2


θm defasamento angular do rotor com relação a um eixo estacionário, em radianos
mecânicos
t tempo, em s
Tm torque mecânico, ou torque no eixo suprido pela máquina primária menos o
torque devido às perdas rotacionais, em N-m
Te torque elétrico, ou eletromagnético, em N-m
Ta torque de aceleração, em N-m

Os torques mecânico Tm e elétrico Te , são considerados positivos para os geradores


síncronos. Isto significa que Tm é o torque resultante que busca acelerar o rotor na direção

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 4

positiva de rotação θ m , conforme mostrado na Figura 1(a). Sob condições de operação em


regime permanente tem-se Tm = Te , sendo Ta igual a zero, e portanto não há aceleração
ou desaceleração nas massas do rotor, que portanto, permanece com velocidade constante
igual à velocidade síncrona.

Tm ω Tm ω
Te Te
(b)
(a)

Figura 1. Representação do rotor de uma máquina comparando a direção de rotação e os


torques elétrico e mecânico, para um gerador (a) e um motor (b).

As massas girantes, que incluem o rotor e a máquina primária, estão em sincronismo


com as demais máquinas que operam à velocidade síncrona no sistema de potência. A
máquina primária pode ser uma turbina hidráulica ou a vapor, para as quais existem
modelos de diferentes níveis de complexidades na representação de Tm . Nesta disciplina
considera-se que Tm é constante em qualquer condição de operação dada. Esta
aproximação é bastante apropriada para os geradores, mesmo quando a entrada da máquina
primária é controlada por um sistema de acionamento. O controle de acionamento só age
quando são sentidas variações de velocidade e, portanto, não tem participação efetiva
durante o período de tempo no qual a dinâmica do rotor possui interesse nos estudos de
estabilidade descritos neste capítulo. O torque elétrico Te corresponde à potência no
entreferro da máquina e portanto leva em conta a saída total de potência do gerador mais as
perdas nos enrolamentos de armadura

Como o ângulo θ m é medido com relação a uma referência estacionária no eixo do


estator, ele é uma medida absoluta do ângulo do rotor. Conseqüentemente, θ m aumenta
continuamente com o tempo, mesmo para velocidades constantes. Como a velocidade do
rotor relativamente à velocidade síncrona possui grande interesse, é mais conveniente medir
a posição angular do rotor relativamente a um eixo de referência que gira à velocidade
síncrona. Daí define-se:

θ m = ω sm t + δ m (2)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 5

onde ω sm é a velocidade síncrona da máquina em radianos mecânicos por segundo; e δ m é


a defasagem angular do rotor em radianos mecânicos do eixo que gira à velocidade
síncrona. Derivando-se a equação (2) com relação ao tempo, tem-se (3).

dθ m dδ
= ω sm + m (3)
dt dt

Derivando novamente tem-se (4)

d 2θ m d 2δ m
= (4)
dt 2 dt 2

A equação (3) mostra que somente quando dδ m dt é zero, a velocidade angular do


rotor é constante e iguala a velocidade síncrona. Portanto dδ m dt representa o desvio da
velocidade do rotor em relação ao sincronismo, e sua unidade é dada por radianos
mecânicos por segundo. A equação (4) representa a aceleração do rotor medida em radianos
mecânicos por segundo ao quadrado. Substituindo (4) em (1), tem-se:

d 2δ m
J = Ta = Tm − Te [ N − m] (5)
dt 2

Por razões de notação, é conveniente introduzir o termo de velocidade angular do rotor


( ω m ), conforme mostrado em (6).

dθ m
ωm = (6)
dt

Da dinâmica elementar sabe-se que a potência é dada por torque vezes a velocidade
angular, portanto multiplicando-se (5) por ω m tem-se

d 2δ m
Jωm = Pa = Pm − P [W ] (7)
dt 2
Onde:

Pm Potência de entrada no eixo da máquina menos as perdas rotacionais


Pe Potência elétrica que atravessa o entreferro da máquina
Pa Potência de aceleração que leva em conta o desequilíbrio entre Pm e Pe .

Em geral desprezamos as perdas rotacionais e as perdas na armadura e tratamos Pm como a


potência fornecida pela máquina primária e Pe como a potência elétrica de saída.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 6

O coeficiente Jω m é denominado de momento angular do rotor; à velocidade síncrona


ω sm o produto J ω sm é denotado por M e chamado de constante de inércia da máquina.
Uma análise dimensional nos mostra que a unidade de M é: joules-segundos por radiano
mecânico, e escrevemos portanto:

d 2δ m
M = Pa = Pm − Pe [W] (8)
dt 2

Apesar de utilizarmos M na equação acima, este coeficiente nem sempre é constante, já


que a velocidade do rotor ω m à vezes se desvia da velocidade síncrona. Entretanto, na
prática ω m não difere significativamente da velocidade síncrona quando a máquina é
estável, e como a potência é sempre preferível ao torque, a equação (8) é mais útil do que a
expressão (7).

Outro dado fornecido para estudos de análises de estabilidade é a chamada constante H,


definida pela expressão (9).

energia cinética armazenada em megajoules à velocidade síncrona


H=
valor de MVA nominal da máquina
1 1
J ω sm
2
M ω sm
H= 2 =2 [ MJ MVA ]
Smach Smach
(9)

Onde S mach é a potência aparente nominal trifásica da máquina em MVA. Isolando-se


o valor de M em (9) obtém-se:

2H
M= S [ MJ radianos mecânicos ] (10)
ω sm
mach

Substituindo-se (10) em (8) encontra-se:

2H d δ m
2
Pa P − Pe
= = m (11)
ω sm dt 2
S mach S mach

Note que δ m é expresso em radianos mecânicos, enquanto que ω sm é expresso em


radianos mecânicos por segundo em (11). Portanto, podemos escrever

2 H d 2δ
= Pa = Pm − Pe [ pu ] (12)
ω s dt 2

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 7

Note que em (12) δ m e ω s possuem unidades consistentes, que podem ser graus
elétricos ou mecânicos ou ainda radianos elétricos ou mecânicos. H e t possuem unidades
consistentes já que MJ MVA está em unidades de tempo em segundos e Pa , Pe , Pm estão
em pu na mesma base de H. Para um sistema com uma freqüência elétrica f dada em hertz,
temos:

H d 2δ
= Pa = Pm − Pe pu (13)
πf dt 2

Quando δ está em graus elétricos tem-se:

H d 2δ
= Pa = Pm − Pe pu (14)
180 f dt 2

A equação (12) é chamada de equação swing da máquina, e é a equação fundamental


que governa a dinâmica rotacional da máquina síncrona em estudos de estabilidade. Nota-
se que ela é uma equação diferencial de segunda ordem, que pode ser decomposta ainda na
forma de duas equações de primeira ordem, conforme mostrado em (15) e (16).

2 H dω
= Pm − Pe pu (15)
ω s dt


= ω −ωs (16)
dt

Em que os ângulos envolvidos podem ser expressos em radianos elétricos ou graus


elétricos. Quando as equações swing são resolvidas é obtida uma expressão de δ em
função do tempo t. A gráfico da solução é chamado de curva swing da máquina e a
inspeção das curvas swing de todas as máquinas irá revelar se estas mantêm o sincronismo
após o distúrbio.

3.4 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS SOBRE A EQUAÇÃO SWING

O MVA base utilizado na equação (11) é a potência nominal S mach da máquina que é
introduzida na definição de H. Em geral, estudos de estabilidade envolvem mais de uma
máquina, e conseqüentemente é necessário adotar-se uma base do sistema, ao invés de
valores base individuais de cada máquina. Como cada elemento no lado direito da equação
de swing deve ser expresso na mesma base, é claro que os valores de H das máquinas
devem também ser convertidos para a mesma base. Isto é feito a partir da expressão (17) a
seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 8

S maquina
H sistema = H maquina (17)
S sistema

Em geral, as concessionárias utilizam uma base de S sistema = 100 MVA.

A constante de inércia M é raramente utilizada na prática e, portanto, as formas da


equação swing envolvendo H são encontradas mais frequentemente. Isto decorre do fato de
que o valor de M varia em uma larga faixa de valores, dependendo do tamanho e tipo da
máquina, enquanto que o valor de H varia em uma faixa mais estreita (ver tabela 16.1 do
livro Grainger/Stevenson). Os fabricantes de máquinas também utilizam o símbolo WR 2
para especificar as partes girantes de uma máquina síncrona (incluindo a máquina
primária), o peso em libras (lb) (do inglês pounds) multiplicado pelo quadrado do raio de
giro dados em pés (feet). A libra massa (slug) é a unidade gravitacional da massa no
sistema inglês (pé (ft), libra (lb), segundo (s)), sendo que 1 libra massa é equivalente ao
peso de um objeto de 32.2 libras. Assim, WR 2 32.2 é o momento de inércia da máquina
dado em libra massa-pé quadrado.

Mostra-se que a constante H a partir de WR 2 (dado no sistema inglês em lb − ft 2 ) é dada


pela expressão (18).

2.31×10−10WR 2 ( r / min )
2
H= (18)
Smaquina

Exercício 3.1

Avalie a constante H para um gerador nuclear com valores nominais 1333 MVA, 1800
r/min com WR 2 = 5820000 lb − ft 2 .

Em um estudo de estabilidade envolvendo sistemas de maiores dimensões (com muitas


máquinas geograficamente dispersas sobre uma determinada área) é desejável que o
número de equações de balanço a ser resolvido seja reduzido. Isto pode ser feito se o
distúrbio afeta as máquinas do sistema de potência de modo que os rotores “oscilam”
juntos. Nestes casos as máquinas podem ser combinadas em uma máquina equivalente,
como se os seus rotores estivessem mecanicamente acoplados e apenas uma equação de
balanço pudesse ser escrita. Seja um sistema com dois geradores conectados ao mesmo
barramento localizado eletricamente distante dos distúrbios da rede. As equações swing na
base comum do sistema são dadas em (19). Somando as duas equações e fazendo
δ 1 = δ 2 = δ , já que os rotores giram oscilam juntos, obtém-se (20).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 9

2 H1 d 2δ 1
= Pm1 − Pe1 pu
ω s dt 2
(19)
2 H 2 d 2δ 2
= Pm 2 − Pe 2 pu
ω s dt 2

2 H d 2δ
= Pm − Pe pu (20)
ω s dt 2

Onde H = H1 + H 2 ; Pm = Pm1 + Pm 2 e Pe = Pe1 + Pe 2 . A equação (18) pode ser


utilizada para a representação da dinâmica do conjunto de geradores.

Exercício 3.2

Dois geradores de 60 Hz operam em paralelo no mesmo sistema de energia e possuem os


seguintes valores de placa:

G1: 500 MVA, fator de potência de 0.85, 20 KV, 3600 r/min, H 1 = 4.8 MJ/MVA
G2: 1333 MVA, fator de potência de 0.90, 22 KV, 1800 r/min, H 2 = 3.27 MJ/MVA

Calcule a constante H equivalente para as duas unidades.

Máquinas que oscilam juntas são chamadas de máquinas coerentes. Nota-se que quando
ω s e δ são expressos em graus elétricos ou radianos, as equações de swing para máquinas
coerentes podem ser combinadas mesmo que as máquinas possuam velocidades nominais
diferentes.

Para cada par de máquinas não-coerentes em um sistema, equações swing similares às


equações (19) podem ser escritas. Dividindo cada equação por seu coeficiente do lado
direito e subtraindo as equações resultantes, obtém-se (21).

d 2δ 1 d 2δ 2 ω s ⎛ Pm1 − Pe1 Pm 2 − Pe 2 ⎞
− = ⎜ − ⎟⎟ (21)
dt 2 dt 2 2 ⎜⎝ H 1 H2 ⎠

Multiplicando-se cada lado por H1 H 2 (H1 + H 2 ) e rearranjando, tem-se (22).

2 ⎛ H1 H 2 ⎞ d 2 (δ 1 −δ 2 ) Pm1 H 2 − Pm 2 H 1 Pe1 H 2 − Pe 2 H 1
⎜ ⎟ = − (22)
ω s ⎜⎝ H1 + H 2 ⎟⎠ dt 2 H1 + H 2 H1 + H 2

Que pode ser posta na forma (23):

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 10

2 d 2δ 12
H12 = Pm12 − Pe12 (23)
ωs dt 2

A expressão (23) tem a forma de uma equação swing básica (mesma forma da
expressão (15)), sendo que:
H1H 2
H 12 =
H1 + H 2
P H − Pm 2 H1
Pm12 = m1 2 (24)
H1 + H 2
P H − Pe 2 H1
Pe12 = e1 2
H1 + H 2

Uma aplicação importante desta expressão concerne um sistema de duas máquinas: um


gerador síncrono (máquina 1) e um motor síncrono (máquina 2) conectados por uma rede
de reatâncias puras. Qualquer mudança que ocorra na saída do gerador é absorvida pelo
motor e pode-se escrever:

Pm1 = − Pm 2 = Pm
(25)
Pe1 = − Pe 2 = Pe

Sob estas condições, tem-se que Pm12 = Pm e Pe12 = Pe e a equação (21) se reduz a
(26), que possui o mesmo formato da expressão (15) para uma única máquina.

2 d 2δ 12
H12 = Pm − Pe (26)
ωs dt 2

A expressão (21) demonstra que a estabilidade de uma máquina dentro de um sistema é


uma propriedade relativa que associa o seu próprio comportamento dinâmico, com o
comportamento de outras máquinas do sistema. O ângulo de rotação de uma máquina, δ 1 ,
pode ser escolhido para comparação com outro ângulo de outra máquina δ 2 . Para que o
sistema seja estável, é necessário que as diferenças angulares entre todas as máquinas
decresçam após um determinado distúrbio. Resumindo, é a diferença angular entre as
máquinas que importa para a análise de estabilidade de um sistema. Assim, as
características fundamentais de estudos de estabilidade são reveladas quando são avaliados
problemas envolvendo apenas duas máquinas, tais como: a) uma máquina de inércia finita
oscilando com relação a um barramento infinito; b) duas máquinas de inércia finita,
oscilando uma em relação à outra. Para propósitos de estabilidade um barramento infinito é
aquele no qual está localizada uma máquina com tensão interna constante, impedância
nula, e inércia infinita.

A descrição da equação de Pe na equação de balanço é essencial para a solução da


equação swing. Na seção seguinte esta equação é descrita.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 11

3.5 EQUAÇÃO POTÊNCIA-ÂNGULO

Na equação swing do gerador, a potência mecânica de entrada Pm fornecida pela


máquina primária será sempre considerada constante. Esta é uma aproximação razoável, já
que se espera que as condições da rede elétrica se alterem muito antes que o acionamento
mecânico possa causar alguma reação na turbina. Como Pm é constante, a saída de
potência elétrica Pe irá determinar se o rotor acelera, desacelera ou permanece na
velocidade síncrona. Quando Pe se iguala a Pm , a máquina opera em regime, à velocidade
síncrona; quando Pe se desvia deste valor a máquina sai da velocidade síncrona. As
alterações em Pe são determinadas por alterações nas condições das redes de distribuição e
transmissão e nas cargas do sistema às quais o gerador esteja fornecendo potência.

Assume-se nos estudos de estabilidade que as alterações de velocidade não provocam


alterações significativas na tensão de gerada. Deste modo o modelo de uma máquina
síncrona pode ser dado conforme mostrado na Figura 2.
jX d′
+
I
+ Vt
E i ′
_
_

Figura 2. Circuito equivalente de um gerador síncrono para estudos de estabilidade

Como cada máquina deve ser considerada relativamente às outras máquinas do sistema,
os ângulos dos fasores de cada máquina devem ser medidos em relação a um sistema de
referência comum.

A figura 3 representa de forma esquemática um gerador fornecendo potência através de


um sistema de transmissão para um terminal receptor 2.
I1 I2
1 2

+ sistema +
E1′ de E 2′
_ _
transmissão

Figura 3. Diagrama esquemático para estudos de estabilidade. As reatâncias transitórias


dos geradores estão incluídas no sistema de transmissão.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 12

O retângulo na figura representa o sistema de transmissão com seus componentes


passivos, tais como transformadores, linhas de transmissão, capacitores e também inclui as
reatâncias transitórias associadas aos geradores. A tensão E1′ representa a tensão interna da
máquina conectada à barra 1 e a tensão E 2′ representa a tensão interna de um motor
síncrono cuja reatância transitória está incluída na rede. Em seções seguintes será
considerada a situação em que um gerador suprindo uma carga do tipo impedância
constante. A matriz admitância da rede, reduzida aos nós 1 e 2 é dada por (27).

⎡Y Y ⎤
Ybus = ⎢ 11 12 ⎥ (27)
⎣Y21 Y22 ⎦

Das equações de fluxo de carga sabe-se que:

∑ (YknVn )
N
*
Pk + jQk = Vk (28)
n =1

Fazendo k e N iguais a 1 e 2 respectivamente, e substituindo-se V por E ′ chega-se a


(29).

P1 + jQ1 = E1 (Y11 E1 ) + E1 (Y12 E 2 )


* *
(29)

Se definirmos

E1′ = E1′ ∠δ 1 E 2′ = E 2′ ∠δ 2
Y11 = G11 + jB11 Y12 = G12 + jB12 = Y12 ∠θ12

A equação (29) se torna

2
P1 = E1′ G11 + E1′ E 2′ Y12 cos(δ 1 − δ 2 − θ12 ) (30)
2
Q1 = − E1′ B11 + E1′ E 2′ Y12 sen (δ 1 − δ 2 − θ12 ) (31)

Equações similares são aplicadas à barra 2, simplesmente invertendo-se os índices 1 e 2


na equação acima. Fazendo-se:

δ = δ1 − δ 2 (32)

π
e definindo-se o ângulo γ = θ12 − , obtém-se as equações (33) e (34).
2
2
P1 = E1′ G11 + E1′ E 2′ Y12 sen (δ − γ ) (33)

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 13

2
Q1 = − E1′ B11 + E1′ E 2′ Y12 cos(δ − γ ) (34)

A equação (33) pode ser escrita de forma mais simplificada, conforme (35).

Pe = Pc + Pmax sen (δ − γ ) (35)

onde
2
Pc = E1′ G11 Pmax = E1′ E 2′ Y12 (36)

Como P1 representa a potência elétrica de saída do gerador (desprezando-se as perdas


na armadura) substitui-se P1 por Pe , em (35). Esta equação é chamada de equação
potência-ângulo. O gráfico desta equação é chamado de curva potência-ângulo. Os
parâmetros Pc , Pmax e γ são constantes para uma determinada configuração de rede e
tensões constantes E ′ e E ′ . Quando a rede é representada sem resistências, todos os
1 2
elementos da matriz admitância Ybus são nulos e, logo, G11 e γ são ambos nulos. A
equação potência-ângulo é dada neste caso por:

Pe = Pmax senδ (37)

onde Pmax = E1′ E 2′ / X , e X é a reatância de transferência entre E1′ e E 2′ .

Exercício 3.3

O diagrama unifilar da Figura 4 mostra um gerador conectado, através de linhas de


transmissão paralelas, ao sistema de um grande centro metropolitano considerado como
uma barra infinita. A máquina entrega 1 pu de potência e, ambas, a tensão terminal da
máquina e a tensão da barra infinita, valem 1 pu. A reatância transitória da máquina é de
0.20 pu na base do sistema, conforme indicado na Figura. Determine a equação potência-
ângulo para o sistema.

j 0.4
j 0.1
1 ∞
X d′ = 0.20 j 0.4
P

Figura 4. Diagrama unifilar para o exercício 3.3. O ponto P se encontra no meio da


linha.

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 14

Exercício 3.4

O sistema do exercício 3.3 está operando sob as condições descritas naquele exercício,
quando uma falta trifásica ocorre no ponto P na Figura 4. Determine a equação potência-
ângulo para o sistema com a falta e a correspondente equação swing. Considere H = 5
MJ/MVA.

Exercício 3.5

A falta no sistema do exercício 3.4 é eliminada pela ação simultânea dos dois disjuntores
conectados às extremidades da linha. Determine a equação potência-ângulo para o sistema
com a falta e a correspondente equação swing para o período pós-falta.

3.6 COEFICIENTES DE SINCRONIZAÇÃO DE POTÊNCIA

No exemplo 3.3 anterior, vimos que o ponto operacional, sobre a curva senoidal Pe é
dado por δ = 28.44 o , no qual a potência mecânica Pm se iguala à saída de potência elétrica
Pe . Na mesma figura mostra-se que no ponto δ = 151.56 o também temos que Pe = Pm e
este ponto pode também parecer um ponto aceitável; entretanto isto não é verdade.

Um ponto operacional aceitável é aquele em que o gerador não perde o sincronismo no


caso de ocorrerem pequenas alterações temporárias na saída de potência elétrica da
máquina. Para examinar este critério de aceitabilidade de um ponto operacional, sejam
pequenas alterações em um ponto de operação, conforme (38)

δ = δ0 + δ∆; Pe = Pe0 + Pe∆ (38)

Onde o subscrito 0 descreve o ponto de operação de regime permanente e o subscrito ∆


identifica as variações incrementais a partir deste ponto. Substituindo (38) em (37) temos:

Pe0 + Pe∆ = Pmax sen (δ 0 + δ ∆ )


= Pmax (senδ 0 cos δ ∆ + cos δ 0 senδ ∆ )

Supondo δ ∆ bastante pequeno, temos:

sen (δ ∆ ) ≅ δ ∆ e cos (δ ∆ ) ≅ 1 (39)

Adotando as aproximações (39) pode-se reescrever (40).

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 15

Pe0 + Pe∆ = Pmax senδ 0 + (Pmax cos δ 0 )δ ∆ (40)

No ponto inicial δ 0 tem-se que:

Pm = Pe0 = Pmax senδ 0 (41)

E segue da equação (40) que:

Pm − (Pe0 + Pe∆ ) = −(Pmax cos δ 0 )δ ∆ (42)

Substituindo as variáveis incrementais de (38) na equação swing tem-se:

2 H d 2 (δ 0 −δ ∆ )
= Pm − (Pe0 − Pe∆ ) (43)
ωs dt 2

Substituindo (42) em (43) tem-se:

2 H d 2 (δ 0 −δ ∆ )
+ (Pmax cos δ 0 )δ ∆ = 0 (44)
ωs dt 2

O termo Pmax cos δ 0 é a inclinação da curva potência-ângulo no ponto δ 0 . Este termo é


denominado de coeficiente de sincronização de potência S p , e definido por:

dPe
Sp = = Pmax cos δ 0 (45)
dδ δ = δ
0

Utilizando-se o S p , a equação swing pode ser escrita da seguinte forma:

d 2 (δ 0 −δ ∆ ) ω s
+ S pδ ∆ = 0 (46)
dt 2 2H

A equação (46) é uma equação diferencial de segunda ordem, cuja solução depende do
sinal de S p . Quando S p é positivo, a solução de δ ∆ (t ) corresponde àquela do movimento
harmônico simples. Tal movimento é representado pela oscilação de um pêndulo, cuja
equação é dada em (47)
d 2x +ω 2x = 0 (47)
n
dt 2

Cuja solução geral é dada em (48).

A cos ω n t + B senω n t (48)

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 16

Sendo que as constantes A e B são determinadas pelas condições iniciais. A solução (48) é
portanto do tipo não amortecida. Quando S p é negativo a solução δ ∆ (t ) aumenta
exponencialmente sem limites. Portanto, no exemplo 3.3 o ponto δ 0 = 28.44 o é um ponto
de equilíbrio estável, enquanto que o ponto δ 0 = 151.56 o é um ponto de equilíbrio instável,
já que S p é negativo neste ponto.

Da discussão acima se conclui que, quando S p é positivo, a solução da equação (46)


representa oscilações senoidais (como em 48). A freqüência angular das oscilações é dada
por:

ωs
ωn = Sp (49)
2H

Que corresponde a uma freqüência dada por:

1 ωs
fn = Sp (50)
2π 2H

Exercício 3.6

A máquina do exercício 3.3 está operando em δ 0 = 28.44 o quando ela é submetida a um


pequeno distúrbio elétrico temporário. Determine a freqüência e o período de oscilação da
máquina se o distúrbio é removido antes da resposta do atuador da máquina primária.

O exercício 3.6 acima é muito importante do ponto de vista prático, já que indica a
ordem de grandeza das freqüências que podem ser superpostas à freqüência nominal de 60
Hz em grandes sistemas de potência. Quando as cargas do sistema oscilam de forma
aleatória, oscilações envolvendo freqüências da ordem de 1 HZ tendem a aparecer no
sistema, mas tais oscilações são rapidamente amortecidas pelas várias influências de
amortecimento causadas pela máquina primária, as cargas do sistema, e a máquina em si. É
interessante notar que mesmo que o sistema de transmissão nos exercícios estudados
contenha resistência, ainda assim a oscilação do rotor é harmônica e não amortecida.

Na seção seguinte será discutido um método que determina a estabilidade de sistemas


quando da ocorrência de grandes distúrbios.

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 17

3.7 CRITÉRIO DE ESTABILIDADE BASEADO NA IGUALDADE DE ÁREAS

Já vimos que a equação swing é intrinsecamente não linear. Soluções formais para esta
equação não podem ser obtidas de forma explícita. Mesmo em casos simples, como uma
máquina oscilando com relação a uma barramento infinito, é complicado obter soluções
literais, e assim, métodos computacionais são utilizados. Entretanto, examinar a
estabilidade de um sistema composto por duas máquinas sem que se resolva a equação
swing é possível, conforme descrito a seguir.

O sistema mostrado na Figura 5 é o mesmo mostrado na Figura 4, com a exceção de


uma linha de transmissão que foi introduzida. Inicialmente o disjuntor A está fechado,
enquanto o disjuntor B está aberto, portanto a condição de operação inicial do exercício 3.3
pode ser considerada inalterada.

1 ∞

P
A B aberto

Figura 5. Diagrama unifilar da figura 4 adicionando-se uma pequena linha de


transmissão

Suponha que no ponto P, próximo ao barramento, ocorre uma falta trifásica, que é
eliminada pelo disjuntor A após um curto período de tempo. Portanto o sistema de potência
não é efetivamente alterado, exceto durante o período de ocorrência da falta. O curto-
circuito causado pela falta está efetivamente na barra, e portanto a saída de potência elétrica
do gerador é nula até que a falta é eliminada. As condições físicas antes, durante e após a
falta podem ser compreendidas pela análise da curva potência ângulo da Figura 6.

O gerador está operando inicialmente à velocidade síncrona com um ângulo do rotor


dado por δ 0 e a entrada de potência mecânica Pm é igual à saída de potência elétrica Pe ,
conforme mostrado no ponto a da Figura 6 (a). Quando a falta ocorre, no instante t = 0 , a
saída de potência elétrica do gerador é subitamente feita igual a zero, enquanto que a
potência mecânica fica inalterada, conforme mostrado na Figura 6 (b). A potência líquida
Pa deixa de ser nula e passa a ter um valor positivo. Se adotarmos um tempo t c para que a
falta seja eliminada, então podemos medir a aceleração para um instante t ≤ t c , conforme
(51), já que a potência elétrica é nula neste intervalo.

d 2δ ω s
= Pm (51)
dt 2 2 H

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 18

Pmax senδ

Pm a

A4
δ0 δ max
(a)

f
d e
Pmax senδ

Pm a A2

A1
b c
δ0 δc δx δ max
(b)

d e
Pmax senδ

Pm a A3

A4
b c
δy δ0 δc δx δ max

f
(c)
Figura 6. Curvas potência-ângulo para o gerador mostrado na Figura 5. As áreas A1 e
A2 são iguais assim como as áreas A3 e A4 .

Solucionando a equação (51) pode-se encontrar o aumento da velocidade em relação à


velocidade síncrona de acordo com a expressão dada em (52).

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 19

t ω
dδ ⎛ ⎞ ω
= ∫ ⎜ s Pm ⎟ dt = 2 Hs Pmt (52)
dt 0 ⎜⎝ 2 H ⎟

Integrando novamente (52) em relação ao tempo tem-se:

ωs
δ= Pmt 2 + δ 0 (53)
4H

As expressões (52) e (53) mostram que a velocidade do rotor aumenta de modo linear
em relação à velocidade síncrona, à medida que o ângulo passa de δ 0 a δ c em que a falta é
eliminada (o ângulo vai de b para c na Figura 6). No instante em que a falta é eliminada o
aumento na velocidade do rotor e o ângulo de separação entre o gerador e o barramento
infinito são dados respectivamente por (54) e (55).

dδ ωs
= Pmtc (54)
dt t = tc
2H
ωs
δ (t ) t =t = Pmtc2 + δ 0 (55)
c 4H

Quando a falta é eliminada com ângulo δ c , a saída de potência elétrica muda


abruptamente para um valor correspondente ao ponto d na curva potência-ângulo. Em d a
saída de potência elétrica excede a entrada de potência mecânica e, portanto, a potência de
aceleração é negativa. Como conseqüência o rotor diminui a velocidade à medida que Pe
vai de d a e. No ponto e a velocidade do rotor é novamente igual à velocidade síncrona,
apesar de o ângulo do rotor ter avançado para o ângulo δ x . O ângulo δ x é determinado
pelo fato de as áreas A1 e A2 serem iguais, conforme será demonstrado posteriormente. A
potência de aceleração em e ainda é negativa, já que Pe > Pm e então o rotor não pode
permanecer à velocidade síncrona e continua a diminuir sua velocidade. A velocidade
relativa é negativa (rotor com velocidade inferior à síncrona) e o rotor vai do ângulo δ x , no
ponto e, até o ponto a no qual a velocidade do rotor é menor que a velocidade síncrona. De
a até f a potência mecânica excede a potência elétrica e o rotor aumenta a sua velocidade
novamente até atingir o sincronismo em f. O ponto f é determinado pelo fato de que as áreas
A3 e A4 serem iguais, conforme será demonstrado a seguir. Na falta de amortecimento, o
rotor irá continuar esta oscilação de f-a-e para e-a-f indefinidamente.

Em um sistema uma máquina está oscilando em relação a um barramento infinito pode-


se utilizar o princípio de igualdade de áreas chamado de critério das áreas iguais, para se
determinar a estabilidade do sistema sob condições transitórias sem que seja necessário
resolver o sistema. Apesar de o critério não poder ser aplicado a um sistema multi-

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 20

máquinas, pode-se utilizá-lo para compreender certos fatores que influenciam a estabilidade
transitória de um sistema.
A equação swing para a máquina é dada por:

2 H d 2δ
= Pm − Pe (56)
ω s dt 2

Definindo a velocidade angular do rotor relativamente à velocidade síncrona tem-se:


ωr = = ω − ωs (57)
dt

Derivando-se (57) com relação ao tempo e substituindo em (56) tem-se;

2 H dω r
= Pm − Pe (58)
ω s dt

Quando a velocidade do rotor é a síncrona, é claro que ω iguala a ω s , e portanto a


velocidade relativa do rotor é nula em relação à síncrona. Multiplicando ambos os lados da
equação (58) por ω r = dδ dt tem-se:

dω r dδ
= (Pm − Pe )
H
2ω r (59)
ωs dt dt

O lado esquerdo desta equação pode ser reescrito conforme (60)

H d (ω r2 ) dδ
= (Pm − Pe ) (60)
ω s dt dt

Multiplicando por dt e integrando, tem-se:

δ2
H
ωs
(
ω r22 − ω r21 ) = ∫ (Pm − Pe )dδ (61)
δ1

Onde ω r1 e ω r 2 correspondem respectivamente às velocidades relativas do rotor


correspondentes aos ângulos δ 1 e δ 2 . Como ω r representa o desvio do rotor
relativamente à velocidade síncrona, conclui-se que se a velocidade do rotor é igual à
síncrona em δ 1 e δ 2 , teremos que ω r1 = ω r 2 = 0 . Sob tais condições, tem-se:

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 21

δ2
∫ (Pm − Pe )dδ =0 (62)
δ1

A equação (62) é aplicável a quaisquer dois pontos no diagrama potência-ângulo, desde


que nestes pontos a máquina esteja à velocidade síncrona. Na Figura 6(b) dois pontos com
tais características são os pontos a e e, correspondentes a δ 0 e δ x respectivamente. Se a
integração dada em (62) for aplicada em dois passos, pode-se escrever:

δc δx
∫ (Pm − Pe )dδ + ∫ (Pm − Pe )dδ + = 0 (63)
δ0 δc
Ou ainda:

δc δx
∫ (Pm − Pe )dδ = ∫ (Pe − Pm )dδ (64)
δ0 δc

A integral da esquerda se aplica ao período durante a falta e a integral da direita se


aplica ao período imediatamente após a falta. A integral da esquerda corresponde à área
A1 , enquanto que a integral da direita representa a área A2 . Assim, de (64) temos A1 = A2 .

Como a velocidade também é síncrona nos pontos δ x e δ y na Figura 6 (c), o mesmo


raciocínio pode ser aplicado para mostrar que A3 = A4 . As áreas A1 e A4 são diretamente
proporcionais ao aumento de energia cinética do rotor enquanto este está acelerando. As
áreas A2 e A3 são proporcionais ao decréscimo da energia cinética do rotor durante a sua
desaceleração. Portanto, o critério de igualdade das áreas estabelece que a energia cinética
adicionada ao rotor pela falta deve ser removida após a falta, de modo a restaurar o rotor à
velocidade síncrona.

A área A1 na figura 7 depende do tempo que o disjuntor leva para eliminar a falta. Se o
ângulo δ c aumentar acima de certo ângulo crítico δ cr , conforme mostrado na figura, a
máquina oscilará além do ponto δ max , além do qual a velocidade é superior à síncrona e a
aceleração é positiva (tendendo a aumentar a velocidade); Assim, se a máquina oscilar além
de δ max o ângulo δ aumentará de forma indefinida, tornando a máquina instável. O tempo
associado ao ângulo crítico δ cr é chamado de tempo crítico t cr . Logo, t cr é o intervalo de
tempo até que o disjuntor elimine a falta.

No caso particular da figura 7, δ cr e t cr podem ser calculados conforme a seguir. A


área retangular da Figura é dada por:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 22

δ cr
A1 = ∫ Pm dδ = Pm (δ cr − δ 0 ) (65)
δ0

A2
Pm

A1

δ0 δ cr δ max

Figura 7. Curva potência ângulo mostrando o ponto crítico δ cr . As


áreas A 1 e A 2 são iguais

Já a área A2 é dada por:

δ max δ max
A2 = ∫ (Pe − Pm )dδ = ∫ (Pmax sin δ − Pm )dδ (66)
δ cr δ cr

= Pmax (cos δ cr − cos δ max ) − Pm (δ cr − δ max )

Igualando as equações das áreas chega-se a:

cos δ cr = (Pm Pmax )(δ max − δ 0 ) + cos δ max (67)

Vemos na curva potência ângulo que

δ max = π − δ 0 (em graus elétricos) (68)

E no ponto δ max temos Pm = Pmax sen (δ 0 ) . Substituindo (67) e (68) em (66) tem-se:

δ cr = cos −1 [(π − 2δ 0 )senδ 0 − cos δ 0 ] (69)

Substituindo (69) em (53) resulta:

ωs
δ cr = Pm t cr2 + δ 0 (70)
4H

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 23

E tem-se a equação para o tempo crítico dada em (71)

4 H (δ cr − δ 0 )
tcr = (71)
ω s Pm

Exercício 3.7

Calcule o ângulo crítico para a eliminação da falta e o seu corresponde tempo crítico para o
sistema da Figura 5 quando o sistema é sujeito a um curto-circuito trifásico no ponto P na
linha de transmissão. As condições iniciais são as mesmas do exercício 3.3 e
H = 5MJ / MVA .

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 24

3.8 OUTRAS APLICAÇÕES DO CRITÉRIO DE ÁREAS IGUAIS

Quando um gerador está fornecendo potência a um barramento infinito através de linhas


de transmissão paralelas, a abertura de uma das linhas pode causar a perda de sincronismo
do gerador mesmo que a carga possa ser alimentada (em regime permanente) pela linha que
ainda resta no circuito. Se um curto-circuito trifásico ocorrer na barra em que os circuitos
estão conectados, nenhuma potência pode ser transmitida nas linhas. Entretanto, se a falta
ocorrer no final de alguma das linhas, os disjuntores em ambas as extremidades da linha
deverão atuar eliminando a falta, e permitindo o fluxo de potência através da outra linha
paralela. Quando uma falta trifásica ocorre em algum ponto de um circuito duplicado que
não seja na barra ou nos extremos das linhas, existe certa impedância de transferência entre
a barra e a falta. Portanto, alguma potência é transmitida enquanto a falta ainda persiste no
sistema (ver exercício 3.4).

Quando a potência é transmitida durante uma falta, o critério de igualdade de áreas é


aplicado conforme mostrado na Figura 8.

r2 Pmax senδ

r2 Pmax senδ
A2
Pm
A1
r1Pmax senδ

δ0 δ cr δ max
Figura 8. Critério da igualdade de áreas aplicado à eliminação de falta quando a potência é
transmitida durante a falta. As áreas A1 e A2 são iguais.

Antes da falta a potência elétrica transmitida é de Pe = Pmax senδ . Durante a falta temos
uma curva geral dada por Pe = r1 Pmax senδ , e após a eliminação da falta pelo disjuntor no
instante correspondente ao ângulo δ = δ cr temos a curva Pe = r2 Pmax senδ . As áreas A1 e
A2 podem ser avaliadas da mesma forma que os passos realizados anteriormente, e
chegando à expressão:

(Pm Pmax )(δ max − δ 0 ) + r2 cos δ max − r1 cos δ 0


cos δ cr = (72)
r2 − r1

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência II ®LN(ceno)


Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 25

Uma solução literal para o tempo crítico não pode ser obtida neste caso. Para o caso
particular do sistema da Figura 5, temos r1 = 0 , e r2 = 1 , e a equação (72) se reduz à
equação (67).

Faltas que não sejam trifásicas envolvem alguma potência a ser transmitida para as
fases não afetadas. Tais faltas são representadas pela conexão de uma impedância (ao invés
de um curto-circuito) entre a falta e o nó de referência no diagrama de impedância de
seqüência positiva. Quanto maior a impedância utilizada (na representação da falta), maior
será a potência transmitida durante a falta. A quantidade de potência transmitida durante a
falta afeta o valor da área A1 . Assim, valores menores de r1 resultam em distúrbios maiores
para o sistema, e em menores quantidades de potência transmitidos durante a falta. Em
ordem crescente de severidade, (ou seja decrescente de r1 Pmax ), temos as seguintes faltas:

1. fase-terra
2. fase-fase
3. fase-fase-terra
4. trifásica

A falta fase-terra ocorre de forma mais freqüente, e as faltas trifásicas são as menos
freqüentes. Para ser completamente confiável, um sistema deve ser projetado, para
estabilidade transitória envolvendo faltas trifásicas nos piores locais, e esta em geral é a
prática das concessionárias.

Exercício 3.8

Determine o ângulo crítico de eliminação da falta trifásica descrita nos exercícios 3.4 e 3.5
quando a configuração inicial do sistema e as condições pré-faltas são descritas no exemplo
3.3.

3.9 ESTUDOS DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA MULTI-MÁQUINAS:


REPRESENTAÇÃO CLÁSICA

O critério de igualdade de áreas não pode utilizado nos casos em que 3 ou mais
máquinas são representadas. Apesar de os fenômenos transitórios observados em dois
problemas serem os mesmos nos casos envolvendo muitas máquinas, a complexidade
computacional aumenta com o número de máquinas. Quando rotores de muitas máquinas
estão oscilando simultaneamente, as curvas swing refletem a presença combinada de muitas
oscilações.

Para facilitar a complexidade da modelagem do sistema, as seguintes considerações


adicionais são feitas em estudos de estabilidade:

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 26

1) A potência mecânica de entrada de cada máquina permanece constante


2) A potência de amortecimento é desprezível
3) Cada máquina pode ser representada por uma reatância transitória em série com
uma tensão transitória interna constante
4) O ângulo mecânico do rotor de cada máquina coincide com δ , o ângulo elétrico
de fase da tensão transitória interna
5) Todas as cargas podem ser consideradas com impedância constante para terra
com valores determinados pelas condições imediatamente antes do transitório

O modelo baseado nestas simplificações é denominado de modelo de estabilidade


clássico. Representações mais detalhadas, com modelos mais sofisticados para a carga e a
geração podem também estar disponíveis, de modo a melhorar a representação de alguma
das simplificações citadas acima.

As condições do sistema antes da falta, e a configuração da rede durante e após a


ocorrência da falta devem ser conhecidas em qualquer estudo de estabilidade.
Consequentemente, no caso multi-máquinas, dois passos preliminares são necessários:

1) As condições pré-falta são calculadas utilizando um programa de fluxo de carga


2) A representação pré-falta é determinada e então modificada para levar em
consideração as condições durante e após a falta.

Com o primeiro passo, são conhecidos os valores de potências ativas e reativas, tensões
nos terminais de cada gerador e nos barramentos de carga com todos os ângulos medidos
em, relação à barra slack. A tensão transitória interna de cada gerador é calculada por:

E = Vt + jX d′ I (73)

Cada carga é convertida em admitância constante para a terra em sua barra utilizando a
equação

PL − jQ L
YL = 2
(74)
VL

Onde PL + jQ L é potência consumida pela carga e VL é a magnitude da tensão da


barra na qual a carga está conectada. A matriz admitância que é utilizada para condições
pré-falta deve ser agora aumentada pela inclusão das reatâncias subtransitórias de todas as
máquinas e as admitâncias associadas a cada carga. Note que as correntes injetadas são
nulas em todas as barras, a menos das “barras” internas dos geradores.

No segundo passo preliminar, a matriz admitância é modificada para representar as


condições durante e após a falta. Como apenas as tensões internas dos geradores possuem
injeções, todas as outras barras podem ser eliminadas pela eliminação de Kron. A dimensão
da matriz reduzida corresponde ao número de geradores Durante e após a falta, o fluxo de

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 27

potência de cada gerador para a rede é calculado pela equação de potência ângulo. Por
exemplo, na Figura 3.9 a saída de potência do gerador 1 é dada por (75).

Fronteira da rede aumentada

1 X d′ 1
5

2 X d′ 2 YL 5
4
E1′ 3 X d′ 3
Rede de
E 2′ YL 4
transmissão

E 3′

Figura 9. Rede aumentada de um sistema de potência.

Pe1 = E1′ G11 + E1′ E 2′ Y12 cos (δ12 − θ12 ) +


2

(75)
+ E1′ E3′ Y13 cos (δ13 − θ13 )

Onde δ 12 = δ 1 − δ 2 e os ângulos θ12 e θ 13 são os ângulos das respectivas admitâncias


de transferência entre as barras. Equações similares a (75) se aplicam as demais potências
elétricas Pe 2 e Pe3 , usando matrizes admitâncias apropriadas para as condições durante e
após a falta.

A expressão Pe1 forma parte das equações swing:

2 H i d 2δ i
= Pmi − Pei i = 1, 2,3 (76)
ω s dt 2

Que representa o movimento do rotor de cada máquina durante a falta e os períodos


pós-falta. As soluções dependem do local e duração da falta e da matriz admitância
resultante quando a falta é removida.

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Capítulo IV Estabilidade em Sistemas de Potência 28

Exercício 3.9

Um sistema de transmissão mostrado na Figura 10 possui dois geradores de inércia finita e


um barramento infinito. Os dados dos transformadores e das linhas são dados na tabela 1.
Uma falta trifásica ocorre na linha 4-5 próxima à barra 4. Utilizando a solução pré-falta de
fluxo de carga dada na tabela 2, determine a equação swing de cada máquina durante o
período de falta. Os geradores possuem reatâncias e valores H expressos em uma base de
100 MVA conforme a seguir:

G1: 400 MVA, 20 KV, X d′ 1 = 0.067 pu , H=11.2 MJ/MVA


G2: 250 MVA, 18 KV, X d′ 1 = 0.10 pu , H=8.00 MJ/MVA

4
3

1

~
Gerador 1

L4

L5
2

~ Gerador 2

Figura 10. Diagrama unifilar do exercício 3.9

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Tabela 1. Dados de Linha para o exercício 3.9


Impedância
Ram B
série
os (shunt)
R X
Trafo 0.02
-
1-4 2
Trafo 0.04
-
2-5 0
Linha 0.00 0.04
0.082
3-4 7 0
Linha 0.00 0.04
0.098
3-5 8 7
Linha 0.00 0.04
0.098
3-5 8 7
Linha 0.01 0.11
0.226
4-5 8 0

Tabela 2. Dados de Barra para o exercício 3.9


Geração
Barra Tensão Demanda
P Q P Q
1 1.030∠8.88o 3.500 0.712
2 1.020∠6.38 o 1.850 0.298
3 1.000∠0 o - -
4 1.018∠4.68 o - - 1.00 0.44
5 1.011∠2.27 o - - 0.50 0.16

Exercício 3.10

A falta trifásica do exemplo anterior é eliminada pela ação simultânea dos disjuntores
localizados nos terminais da linha sob falta. Determine a equação swing para o período pós-
falta.

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