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A Revista Católica Arautos do Evangelho!

Sumário
Majestade e sofrimento

Edição Nº 204 - 12/2018

Matérias desta Edição:


• Crescer na confiança
• Escrevem os leitores
• Natal, garantia de luz em meio às sombras
• O mais eficaz meio de trabalhar pela paz
• A verdadeira procura da felicidade
• Dureza de coração ante o Messias esperado
• Memórias de uma carmelita em tempos de guerra
• Majestade e sofrimento
• Os homens procuram a paz e não a encontram
• Alma contemplativa e séria, encanto do Deus Altíss
• Ser escravo: um privilégio!
• Portugal: Arcebispo Primaz preside cerimônia no Sa
• Novo Oratório, nova vitória de Maria!
• Aconteceu na igreja e no Mundo
• O órfãozinho e a marquesinha
• Os santos de cada dia
• Saltitantes como cervos
• Vitoriosa sobre os demônios

Crescer na confiança
Eis uma linda cena da vida de São Francisco Xavier:
Era noite. Dentro de um barquinho em mar revolto, todos estavam aflitos e São
Francisco rezando. Enquanto a nau era sacudida de todos os lados, o Santo ia
percorrendo em espírito os nove coros de Anjos, reverenciando os Patriarcas,
recomendando-se aos Profetas, numa visita serena, calma, pedindo ajuda a
cada um. As pessoas atônitas, olhando para aquela tranquilidade, encontravam
nela os meios de resistência.

É a atitude de um grande Santo que, por ter em abundância o espírito da Igreja,


enfrenta os perigos da existência como um cavaleiro medieval enfrentava os
riscos da guerra. O cavaleiro era ávido de perigos e de aventuras, porque sabia
defender assim a causa para a qual fora suscitado.

Esta é a posição do varão católico quando se encontra em perigo: não é


apavorar-se, mas crescer na confiança.

Plinio Corrêa de Oliveira

ESCREVEM OS LEITORES

Juntos formamos a Igreja de Cristo


No artigo publicado na edição de agosto passado, Anúncio da realidade futura,
escrito por Mons. João, fiquei admirada quando ele disse que Deus não olha
tanto nossos defeitos, mas sim o ponto final para o qual nos criou.

Assim como na Transfiguração Jesus escolheu somente três de seus discípulos


para revelar-lhes o que aconteceria, da mesma forma Deus chama a muitos,
porém escolhe apenas alguns, para que estes passem e transfiram o amor de
Deus aos outros.

Como diz Santa Teresinha do Menino Jesus, cada flor tem sua beleza própria e
nenhuma ofusca o brilho da outra, senão que, juntas, formam um lindo jardim.
Assim também somos nós, cada um tem seu dom e juntos formamos a Igreja de
Cristo, ajudando uns aos outros com um único propósito: sermos verdadeiros
Santos, na instauração do Reino de Maria.

Joice Priscila de Araújo

Osasco – SP

“Luzes da intercessão de Dona Lucilia”


Acabo de receber o exemplar da revista Arautos do Evangelho de outubro deste
ano, que muito agradeço.

Francamente, gostei de todo o seu conteúdo, mas muito especialmente o que se


refere às Luzes da intercessão de Dona Lucilia. É maravilhoso! Em tudo! Que
pessoa tão especial ela deve ser para Deus! Louvado seja o nosso Deus, que
faz pessoas tão perfeitas interiormente! Nem tenho palavras… Tal senhora só
podia gerar um filho como o seu filho, o nosso querido Dr. Plinio Corrêa de
Oliveira.

Cesaltina da Silva Nogueira Santos

Queluz – Portugal

Pessoas de todas as partes congregadas para o mesmo fim


O que mais me encanta na revista Arautos do Evangelho é a clareza e pureza
de doutrina com que os assuntos, de modo geral, são abordados; assuntos
sérios e atuais.

A atuação e crescimento dos Arautos no mundo inteiro é um espetáculo! Onde


mais se encontra no mundo em que vivemos uma atuação como esta?

É impressionante como Mons. João, o fundador, consegue congregar pessoas


de todas as partes do orbe para o mesmo fim!

Maria de Fátima de Mattos Lopes

Natividade – RJ

Forma delicada e pedagógica de explicar o Evangelho


Em minha opinião, todas as seções da revista Arautos do Evangelho são muito
boas, pois cada uma delas nos proporciona inúmeros ensinamentos.

A seção que mais gosto de ler é o Comentário ao Evangelho, de Mons. João


Scognamiglio Clá Dias. Com sua forma tão delicada e pedagógica de se exprimir,
ele nos ilustra e nos ensina cada detalhe do Evangelho, e nos dá a oportunidade
de que, também nós, expliquemos aos nossos esta Palavra que é vida.

É muito bonita também a seção na qual se plasmam experiências de muitas


pessoas ao redor do mundo, acerca do Oratório ou da congregação da família
de almas dos Arautos do Evangelho.

Gladys Beatriz Araujo Astudillo

Cuenca – Equador

É na serenidade que se adquire a força


A leitura da revista Arautos do Evangelho é sempre proveitosa em vários
aspectos, seja cultural, artístico e, principalmente, espiritual.
O artigo Serenidade e combatividade, publicado na edição de agosto último,
mostra que é na serenidade que se adquire a força para enfrentar as situações
difíceis.

Ricardo Borges

Rio de Janeiro – RJ

Pela Igreja, com a Igreja e na Igreja


Os Arautos “escolheram a melhor parte”. Convencidos de que a solução para o
mal está na Igreja Católica, Corpo de Cristo, do qual Ele mesmo é Cabeça,
promovem o caminho da catolicidade e da nova evangelização: a devoção à
Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja.

Pela Igreja, com a Igreja e na Igreja, como membros vivos desta sagrada
instituição, pela divina graça, levam a doutrina da Fé acompanhada das devidas
obras de caridade, pelas mãos de Nossa Senhora, a todos os âmbitos nas
dioceses onde atuam.

Levam-na aos lares, hospitais, presídios, orfanatos, asilos, empresas e


instituições públicas, por meio de doações, missões marianas, objetos de
oração, de sua Revista e meios de comunicação diversos em redes sociais e
internet. Levam assim esperança, piedade e redenção às almas.

Davi Barbosa Lima

Fortaleza – Ceará

Natal, garantia de luz em meio às


sombras
Deus atrai constantemente para Si tudo o que criou. Esta atração, entretanto, se
exerce de formas tão variadas quanto são diversos os objetos aos quais Ele atrai.

Disto encontramos reflexos na própria natureza: uma é a atração exercida pelo


Sol sobre todos os vegetais, que se esgueiram à busca da luz da qual lhes vem
a vida; outra a exercida pela lua sobre as águas, regendo as marés em longos
ciclos; outra, enfim, a do ímã, cuja força pode chegar a ser imensa, embora
somente consiga agir sobre os metais…
Ora, Deus sobretudo atrai a Si os homens, aos quais ama incomparavelmente
mais que aos seres materiais. Faze-o, com razão, de modo mais intenso e de
maneiras diversas, pois as almas apresentam uma variedade muito maior que
os demais habitantes da terra. Contudo, se analisarmos o proceder de Deus,
veremos que Ele assim age mediante duas formas principais, aparentemente
contraditórias, mas na realidade complementares.

Em certas ocasiões, Ele nos faz sentir a efusividade de seu amor, sua compaixão
e sua ternura, manifestando toda a sua generosidade, seu perdão e sua
paternalidade. O homem, então, se admira por ver o Criador descer de sua
grande glória para tratá-lo como filho, e como filho muito amado, e brota dali uma
confiança de fundo de alma que o torna capaz de praticar qualquer virtude, e de
realizar por Ele qualquer sacrifício.

Uma vez conquistada esta etapa, Deus passa a agir de modo diferente: Ele Se
esconde, Se faz de ausente e de surdo, um pouco como a mãe que, para provar
o filho, se esconde na casa, deixando-o procurá-la. Nesses momentos, Ele
nunca está distante; apenas nos retira a confortadora sensibilidade de sua
presença. Chegou a hora de a criatura demonstrar com um amor desinteressado
a sua gratidão por tantos benefícios recebidos.

Ao longo de nossa vida, as duas atitudes de Deus se sucedem muitas vezes:


enquanto a experiência de seu amor nos estimula e transforma, a prova do
abandono nos purifica e robustece. Portanto, ambas – cada uma a seu modo –
são igualmente indispensáveis para o verdadeiro progresso espiritual.

Isto que verificamos na vida de cada homem, individualmente, dá-se também


com os povos e com o conjunto da humanidade. Assim, quando as trevas
pareciam dominar para sempre a terra, na aparência abandonada por Deus, os
Anjos anunciaram aos pastores o nascimento d’Aquele que, dividindo a História
ao meio, vinha redimir os homens e estabelecer com eles um convívio destinado
a durar até o fim do mundo.

Para Deus, nada é impossível, senão esquecer-Se daqueles a quem resgatou


ao preço de seu Unigênito. Neste mundo, onde cada vez há menos lugar para a
esperança, o Natal nos lembra que Deus nunca abandona seu povo, mas
escolhe a hora de maior provação para suas intervenções mais fulgurantes.
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O mais eficaz meio de trabalhar
pela paz
Não haverá verdadeira paz – a tão almejada paz de
Cristo – enquanto os homens não seguirem
fielmente os ensinamentos, os preceitos e os
exemplos de Cristo, tanto na vida pública, quanto na
privada.
É fato evidente para todos que, após a catástrofe da guerra,1 nem os homens,
nem a sociedade, nem os povos encontraram ainda a verdadeira paz; e também
não se restabeleceu até agora a tranquilidade operosa e fecunda que o mundo
almeja.

Analisar cuidadosamente a extensão e gravidade de tal crise e investigar suas


causas e origem é a primeira coisa que deve fazer quem, como nós, queira
aplicar o remédio apropriado. É isso o que, em virtude do nosso encargo
apostólico, pretendemos realizar nesta carta encíclica, e dar continuidade ao
longo do nosso pontificado. […]

“Aqueles que abandonam o Senhor perecerão”


Bem antes de a guerra ter incendiado a Europa, a principal causa de tão grandes
males já atuava com crescente força, por culpa dos indivíduos e das nações,
causa que o próprio horror da guerra não poderia deixar de afastar e suprimir,
se todos tivessem compreendido o alcance desses formidáveis acontecimentos.

“Aqueles que abandonam o Senhor perecerão” (Is 1, 28). Quem ignora esta
previsão das Escrituras? Não menos conhecida é a tão grave advertência de
Jesus, nosso Redentor e Mestre: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5); e esta
outra: “Quem não recolhe comigo, espalha” (Lc 11, 23).

Em todos os tempos esses divinos oráculos se confirmaram; porém, nunca como


em nossos dias a verdade brilhou com tal evidência aos olhos de todos. É por
terem se separado miseravelmente de Deus e de Jesus Cristo que os homens
caíram de sua felicidade de outrora nesse abismo de males; pela mesma razão,
padecem de uma esterilidade quase completa todos os programas que eles
acalentam com vistas a reparar os danos e a salvar o que resta de tantas ruínas.

Até as próprias bases da autoridade foram subvertidas


Como Deus e Jesus Cristo foram excluídos da legislação e dos assuntos
públicos, e a autoridade passou a provir não mais de Deus, mas dos homens, as
leis perderam a garantia de sanções reais e eficazes, bem como os princípios
soberanos do direito, os quais, mesmo aos olhos de filósofos pagãos como
Cícero, só podem derivar da eterna Lei divina.

Mais ainda, as próprias bases da autoridade foram subvertidas, uma vez que se
suprimiu a razão fundamental do direito de comandar, para uns, e do dever de
obedecer, para outros. Daí decorreu, incontestavelmente, um abalo da
sociedade inteira, doravante privada de sólidos sustentáculos, à mercê das
facções que disputavam o poder para garantir seus interesses pessoais, e não
os da pátria.

Decidiu-se inclusive que nem Deus nem o Senhor Jesus presidiriam mais à
fundação da família, reduzindo à categoria de mero contrato civil o matrimônio,
do qual Cristo havia feito um grande Sacramento (cf. Ef 5, 32) para ser o símbolo
santo e santificador do vínculo indissolúvel pelo qual Ele próprio Se une à sua
Igreja. Assim se obscurecem nas massas populares as ideias e os sentimentos
religiosos que a Igreja havia infundido na célula mater da sociedade, a família;
desaparecem a hierarquia e a paz do lar; a união e a estabilidade da família ficam
cada vez mais comprometidas; as baixas paixões e o mortal apego a interesses
mesquinhos violam tão frequentemente a santidade do casamento, que chegam
a infectar as fontes da vida das famílias e dos povos.

Por fim, parece que Deus e Cristo foram excluídos da educação da juventude;
chegou-se, e isto era inevitável, não tanto a suprimir a Religião nas escolas, mas
a atacá-la velada ou mesmo abertamente. Daí os alunos concluíram que, para
bem conduzir sua vida, eles nada tinham, ou pelo menos tinham muito pouco, a
esperar dessa ordem de coisas que era absolutamente silenciada ou da qual não
se falava senão em termos de desprezo.

De fato, se Deus e sua Lei são proscritos do ensino, não se vê mais como se
pode solicitar aos jovens que fujam do mal e levem uma vida honesta e santa,
nem como formar para a família e a sociedade homens de bons costumes,
defensores da ordem e da paz, capazes de contribuir para a prosperidade
pública. […]

Cristo reina nos homens, nas famílias e na sociedade


Quando os estados e os governos tomarem como um dever sagrado regular sua
vida política, tanto interna quanto externa, pelos ensinamentos e preceitos de
Jesus Cristo, então – só então – eles desfrutarão de profícua paz no interior,
manterão relações de mútua confiança e resolverão de modo pacífico os
conflitos que possam surgir.

Portanto, não haverá verdadeira paz – a tão almejada paz de Cristo – enquanto
os homens não seguirem fielmente os ensinamentos, os preceitos e os exemplos
de Cristo, tanto na vida pública quanto na privada; é necessário que,
regularmente organizada a família humana, a Igreja possa enfim, no
cumprimento de sua divina missão, manter face aos indivíduos e à sociedade
todos e cada um dos direitos de Deus.

É este o sentido de nossa breve fórmula: o Reino de Cristo. Com efeito, Ele reina
antes de tudo sobre todos os homens individualmente considerados; reina nas
mentes por seus ensinamentos, nos corações pela caridade, em toda a vida, por
fim, quando cada qual se conforma à sua Lei e imita seus exemplos.

Jesus Cristo reina também na família quando esta, firmada no Sacramento do


Matrimônio cristão, conserva inviolavelmente seu caráter de instituição sagrada,
na qual a autoridade paternal reflete a paternalidade divina, que é a sua fonte e
lhe dá o seu nome (cf. Ef 3, 15); na qual os filhos imitam a obediência de Jesus
adolescente e toda a vida respira a santidade da família de Nazaré.

Jesus Cristo reina na sociedade quando esta, prestando suprema homenagem


a Deus, reconhece que d’Ele derivam a autoridade e seus direitos, o que dá ao
poder suas regras, à obediência seu caráter imperativo e sua grandeza; quando
reconhece o privilégio da Igreja, recebido de seu Fundador, de sociedade
perfeita, mestra e guia das demais sociedades. A Igreja não diminui a autoridade
dessas sociedades, legítimas cada uma na própria esfera; ela as completa muito
acertadamente, como faz a graça com a natureza. Ademais, o concurso da Igreja
possibilita a essas sociedades oferecer aos homens uma possante ajuda para
atingir seu fim último, que é a felicidade eterna, e as coloca em melhores
condições de assegurar até mesmo a felicidade temporal de seus membros.
É, pois, evidente que não pode haver paz de Cristo a não ser pelo Reino de
Cristo, e que o mais eficiente meio de trabalhar pelo restabelecimento da paz é
restaurar o Reino de Cristo.

Pio XI. Excertos da Encíclica

Ubi arcano Dei consilio, 23/12/1922

Comentário ao Evangelho – II Domingo do Advento

A verdadeira procura da felicidade


Em busca da felicidade, muitos se arriscam por vias
equivocadas que terminam na frustração. A
mensagem de São João Batista surge na História
como um farol seguro a iluminar o caminho para
encontrá-la.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Evangelho

1No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as
regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; 2quando Anás e Caifás
eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o
filho de Zacarias, no deserto.

3E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão


para o perdão dos pecados, 4como está escrito no Livro das palavras do profeta
Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do
Senhor, endireitai suas veredas. 5Todo vale será aterrado, toda montanha e
colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos
acidentados serão aplainados. 6E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”
(Lc 3, 1-6).
I – A procura da felicidade
Quem se detivesse a fazer uma breve análise das pessoas do próprio meio ou
até de outras menos próximas – incluindo antepassados, personagens
históricos, figuras destacadas no contexto mundial hodierno ou de outrora –,
perceberia que, apesar da diferença de mentalidade, aptidões ou estilo de vida,
é possível nelas distinguir um traço comum, norteador de seus atos: o desejo de
ser feliz. Entretanto, apesar de todos, sem exceção, procurarem a felicidade com
infatigável ardor, muitos chegam ao fim de seus dias sem a terem encontrado…
Qual será a causa desses esforços frustrados? O problema é que “todos querem
ser felizes e nem todos desejam viver do único modo como se pode ser feliz”,1
observa Santo Agostinho. Ao invés de orientar sua existência para Deus, Bem
supremo e fim último do homem, único Ser que sacia por completo esta
aspiração, muitos são ludibriados pelo mundo e acabam trilhando vias paralelas
ao verdadeiro caminho. Nunca serão felizes, pelo simples fato de seguirem um
itinerário que não conduz a Deus.

lguns, por exemplo, enredam-se nas ilusões do dinheiro. Veem o equilíbrio


financeiro como sinônimo de prestígio, poder e influência na sociedade, bem
como garantia de um futuro despreocupado. Não é raro, porém, que a existência
de quem muito possui tenha características bem diversas de uma estável
tranquilidade, sobretudo quando entesouram para si mesmos e não são ricos
para Deus (cf. Lc 12, 21). Vivem na insaciável ambição de acumular cada vez
mais – pois quem “ama a riqueza nunca se fartará” (Ecl 5, 9) – e, quanto maior
for a opulência, tanto maiores serão suas aflições para administrá-la e conservá-
la. Já para outros, a ilusão será a ciência. Aspirando a dominar assuntos de difícil
compreensão para o geral das pessoas e obstinados pela ideia de serem
laureados pela erudição, consomem o tempo em estudos, pesquisas e escritos.
Fazem do saber a finalidade última da existência, esquecendo-se de que ele é
apenas um meio dado por Deus ao homem para conhecê-Lo melhor e remontar
a considerações mais elevadas. Por ser limitado, o conhecimento humano
jamais satisfará a sede de felicidade da alma, que anseia pelo Infinito. Por isso,
muitos intelectuais, mesmo sendo aplaudidos pelo mundo, terminam seus dias
na amargura. E, às vezes, esses falsos caminhos levam não só à frustração,
como também ao absurdo. É o que se verifica em nossos dias, por exemplo, com
pessoas que se submetem a dietas rigorosas para se adequarem aos padrões
de beleza física impostos pela moda. Julgando que se sentirão plenamente
satisfeitas com os elogios e a admiração provocada por uma exagerada
magreza, prescindem não só do nobre prazer do paladar temperante, mas
inclusive da saúde. Em casos extremos, essa enganosa via da felicidade torna-
se um atalho para abreviar a própria vida…

Nessa perspectiva, nossa consideração recai sobre uma figura ímpar na História,
contemplada neste 2º Domingo do Advento: o Precursor de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Que relação podemos encontrar entre sua mensagem e a busca da
felicidade?

II – A pregação de João Batista


1No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as
regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene…

Para situar cronologicamente o início da missão do Precursor e delinear a


conjuntura histórica em que se encontrava o povo judeu naquela época, São
Lucas abre seu terceiro capítulo nomeando as autoridades políticas da Palestina.
O poder supremo do Império Romano era então exercido por Tibério, “um dos
mais mal-afamados tiranos da História Universal”2 devido à duplicidade de
caráter e irrefreável espírito vingativo que marcou sua conduta no governo.
Pôncio Pilatos foi por ele constituído procurador da Judeia3 e, sob todos os
aspectos, mostrou-se um autêntico representante do arbitrário césar. Os relatos
evangélicos da condenação de Jesus retratam o procurador como homem
covarde e egoísta, capaz de derramar sangue inocente para salvaguardar os
próprios interesses, e seus contemporâneos Fílon e Flávio Josefo são ainda mais
categóricos ao descrever sua má índole, dizendo ter-se destacado “por seu
desdém à Lei judaica, não obstante estivesse reconhecida pelos romanos, e por
sua pérfida crueldade”.4 Aproveitava ele qualquer pretexto para infringir os
preceitos mosaicos e assim ferir a religiosidade e o nacionalismo israelita, pois
“não somente odiava seus súditos, como também tinha uma prepotente
necessidade de mostrar-lhes seu ódio”.5

Os tetrarcas Herodes Antipas e Filipe, mencionados logo em seguida, eram filhos


de Herodes, o Grande. Seu governo, portanto, significava para os judeus a
humilhante condição de dupla sujeição aos gentios: os romanos e os idumeus.
A respeito de Antipas, basta lembrar a alcunha de raposa que lhe foi dada pelo
Divino Mestre (cf. Lc 13, 32) para se ter uma acertada noção de sua
personalidade. À maneira desse astuto animal, o comportamento do tetrarca era
regido conforme a prudência carnal, vício caracterizado por “uma hábil
sagacidade em encontrar os meios mais oportunos para entregar-se a toda
espécie de concupiscências desordenadas”.6 Seu irmão Filipe, pelo contrário,
foi honrado em sua vida particular e exerceu de modo correto as funções
administrativas, a ponto de ser considerado uma exceção à regra dos
herodianos.7 Quanto à Abilene, província limítrofe da Judeia governada por
Lisânias,8 tetrarca de origem grega, o Evangelista a inclui nesta relação porque
tal território fazia parte dos “limites assinalados por Deus a Abraão […] e é
provável que estivesse habitada em sua maior parte por judeus, embora sob o
domínio de um estrangeiro”,9 comenta Maldonado.

Reavivamento das expectativas messiânicas


2a …quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes…

Desde a época de Herodes, o Grande, os pontífices eram instituídos e depostos


conforme os interesses dos imperadores ou das autoridades políticas locais,
existindo, com frequência, negociações corruptas por detrás de cada nomeação.
Tal decadência moral do judaísmo se agravou com Anás, o qual constituiu uma
organização familiar cúmplice do poder romano e herodiano, à custa de
subornos, passando a controlar todo o establishment israelita. No momento
histórico descrito pelo Evangelista, o cargo, que era individual, estava ocupado
por Caifás, genro de Anás. São Lucas nomeia ambos pelo fato de Anás, deposto
havia anos, ainda exercer tamanha influência que sua palavra era equivalente à
voz do sumo sacerdote oficial.10

Essa deplorável situação religiosa somada à opressão política refletia-se no


povo e resultava num estado geral de depauperamento. Pesavam-lhe os
impostos e os próprios costumes judaicos se dessoravam sob o influxo do
paganismo romano. Em nenhum momento, contudo, os israelitas perderam as
esperanças a respeito do Messias prometido por Deus aos patriarcas e
anunciado pelos profetas. Ele viria “para curar os corações doloridos, anunciar
aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade” (Is 61, 1), e apareceria
num período de extrema desolação para a nação judaica. Por isso, à medida que
a situação piorava, a realização da promessa messiânica parecia mais iminente.
No entanto, a errônea interpretação das profecias levava os judeus a imaginar o
Salvador como um herói nacional que os libertaria do jugo romano – considerado
o grande mal do qual decorriam todos os outros infortúnios de Israel – e dar-lhes-
ia uma insuperável projeção política, social e financeira, bem como a supremacia
em relação a todos os outros povos da terra.
Em meio a tão singular atmosfera, na qual se confundiam o desalento e a
expectativa, um novo profeta manifestou-se à nação eleita.

Um Precursor à altura?
2b …foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias…

Devido aos diversos fatos extraordinários relacionados com o nascimento de


São João Batista (cf. Lc 1, 5-25.57-66), as notícias a seu respeito se propagaram
“por todas as montanhas da Judeia” (Lc 1, 65), despertando a admiração
popular. A esse início cheio de celebridade, porém, sucederam-se anos de
completo apagamento aos olhos do mundo. Apartando-se do convívio social,
João “viveu no deserto até o dia em que se apresentou diante de Israel”
(Lc 1, 80). Tal deserto corresponde a uma região agreste, quase toda
desabitada, compreendida entre o Lago de Genesaré e o Mar Morto, e que se
estendia a partir da margem ocidental deste último até os limites das terras férteis
da Judeia. Ali o menino cresceu e fortificou-se em espírito (cf. Lc 1, 80) pela
prática de um rigoroso ascetismo, vestindo-se de pele de camelo e alimentando-
se de mel silvestre e gafanhotos (cf. Mc 1, 6; Mt 3, 4), até à idade de mais ou
menos trinta anos,11 quando começou a exercer seu ministério. Esse estilo de
vida permite-nos imaginá-lo como “um homem profundamente recolhido, de uma
grande delicadeza de alma e extrema modéstia, tão absorto em Deus que se
tem a impressão de que só com esforço ele consegue sair de sua
contemplação”.12

À primeira vista, tão misteriosa austeridade pode parecer o extremo oposto da


glória infinita do Verbo Encarnado, de quem João era Precursor. Da mesma
forma como a entrada do Menino Deus no mundo havia sido anunciada aos
pastores por um Anjo refulgente de luz (cf. Lc 2, 9) e aos Reis Magos pela estrela
que os conduziu a Belém (cf. Mt 2, 1-12), seria de se esperar que o começo de
sua vida pública também fosse precedido por aparições semelhantes ou por
extraordinários fenômenos da natureza. Bem diferente, entretanto, foi o anúncio
feito por João Batista, pois sua grandeza não era aparatosa. “Sua autoridade lhe
vinha desta pureza mais que terrestre e da majestade da graça que o destacava
aos olhos do povo como um homem superior ao resto da humanidade,
encarregado de censurar e repreender, é verdade, como também investido de
uma missão de inefável misericórdia”.13
A essência da verdadeira grandeza
Entre outras razões, Deus procedeu desta forma para não tirar aos judeus a
possibilidade de adquirir o mérito da fé, crendo na divindade de Jesus quando O
vissem pessoalmente. Com efeito, se as exterioridades do arauto de Cristo
correspondessem às pompas do cerimonial prestado à Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade pela corte celeste, ter-se-ia extinguido o estado de prova
dos contemporâneos de Nosso Senhor em relação ao mistério da Encarnação.
Pela força da evidência, o aspecto esplendoroso de João Batista seria suficiente
para concluir que o Mestre por ele anunciado era o próprio Deus.

Por outro lado, quis a Providência nos ensinar que o verdadeiro valor do homem
está em seu interior, embora muitas vezes o mundo não o reconheça. Não foi
entre os líderes da política ou da religião em Israel, cujos nomes abrem o
Evangelho de hoje, que Deus escolheu o seu Precursor. O eleito para esta
missão de importância ímpar na História foi um homem sui generis para os
costumes da época, sem qualquer prestígio social. Não obstante, sua excelência
sobrenatural fê-lo ultrapassar em grandeza a todos os homens, conforme Jesus
revelou: “Em verdade vos digo, não surgiu entre os nascidos de mulher alguém
maior que João Batista” (Mt 11, 11). Portanto, como é próprio à ação divina,
também neste caso a Providência escolheu o que havia de melhor. O anunciador
de Cristo possuía a mais nobre das qualificações: fora santificado ainda no
ventre materno, tornando-se cheio do Espírito Santo e, por isso, era “grande
diante do Senhor” (Lc 1, 15).

Daí decorre também ser São João Batista um exemplo do quanto, para Deus,
mais vale o homem pelo que é do que por aquilo que faz. Nossos atos exteriores
nos obtêm mérito sobrenatural mais pela disposição interior que nos anima, do
que pelo esforço empregado ao realizá-los. Modelo supremo, nesse sentido, é
Maria Santíssima, cujo amor a Deus e fervor de intenção fê-la dar “mais glória a
Deus pela menor de suas ações – por exemplo, fiando na roca, dando pontos de
agulha –, que São Lourenço sobre a grelha, no seu cruel martírio, e o mesmo
em relação às mais heroicas ações de todos os Santos”,14 ensina São Luís
Grignion de Montfort.

Simbolismo do deserto
2c …no deserto.

Além de referir-se ao local onde São João viveu e recebeu a revelação, o deserto
pode ser interpretado em sentido simbólico. Assim como aquela região era
desabitada, também o Precursor estava livre de apegos materiais e pretensões
mundanas, vazio de si mesmo. O deserto é uma bela imagem da alma
dignamente preparada para receber Jesus e participar do Reino de Deus:
despojada das manias e dos caprichos egoístas, afastada do materialismo
reinante no mundo, deserta de vaidades e ambições.

Um batismo de penitência
3 E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão
para o perdão dos pecados…

De modo diferente dos antigos profetas, João Batista não se dirigiu às cidades,
nem aos locais públicos onde era comum haver aglomerações. Percorrendo as
agrestes cercanias do Rio Jordão, começou ali mesmo a pregar àqueles que
encontrava – bem poucos, certamente. O impacto causado por sua pessoa e
pelo vigor de sua mensagem teve rápida repercussão, e logo “saíam para ir ter
com ele toda a Judeia, toda Jerusalém” (Mc 1, 5). Naquela região, outrora
solitária, tornou-se intensa a circulação de judeus que procuravam encontrar no
profeta o despontar da ansiada regeneração moral e religiosa de Israel. Inclusive
muitos carregavam em seu interior uma dúvida cheia de esperança: não seria
João o próprio Messias? Por isso, ora discernindo os pensamentos dos
corações, ora respondendo a perguntas explícitas, o Precursor entremeava as
exortações à penitência com afirmações que dirimiam os equívocos a respeito
de sua pessoa: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso
do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias” (Lc 3, 16).
Se Aquele que deveria vir superava ainda mais o admirável e arrebatador
Batista, fazia-se mister preparar-se para recebê-Lo.

Com vistas a esse grande acontecimento, numerosos judeus receberam o


“batismo de conversão”. Este, contudo, não conferia a graça à alma15 como o
Batismo sacramental instituído depois por Cristo, pois era apenas um símbolo
que consolidava a mudança de mentalidade à qual João conclamava, ratificando
de forma sensível o desejo de, através da penitência, purificar-se espiritualmente
a fim de poder participar no iminente Reino de Deus.

Pregação de alto sentido simbólico


4 …como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz
daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas
veredas’”.

Essas palavras de Isaías, que prenunciaram o fim do exílio do povo judeu na


Babilônia e o retorno à Palestina, haviam atravessado os séculos como sinal de
consolo e perdão. Nos lábios do Precursor, todavia, a mesma mensagem
revestiu-se de caráter penitencial, penetrando a fundo nas consciências e
movendo-as à conversão.

Importante é lembrarmo-nos de que a pregação de João Batista não foi dirigida


somente aos que tiveram a ventura de viver no tempo de Jesus. Conforme
ensina São Bernardo,16 a vinda de Nosso Senhor ao mundo pode ser dividida
em três etapas, das quais a primeira corresponde à sua vida mortal e a última ao
Juízo após o fim do mundo, quando Ele vier em Corpo glorioso. A segunda vinda,
por sua vez, é cotidiana, quando Ele vem a cada um de nós, pela sua graça.
Jesus nos chama a cada momento, nas mais diversas circunstâncias da vida,
sendo necessário estarmos sempre prontos para recebê-Lo.

Como outrora aqueles judeus que acorriam às margens do Jordão, também nós
devemos produzir “frutos de verdadeira penitência” (Mt 3, 8), colocando em
prática as admoestações do Precursor. Em primeiro lugar, ele exorta a endireitar
as veredas do caminho pelo qual o Senhor passará em breve. Não se trata,
evidentemente, de promover uma obra de retificação das estradas palestinas.
Toda a sua pregação tem alto sentido simbólico e deve ser interpretada pelo
prisma sobrenatural. Esta advertência é um apelo para eliminar os desvios que
se estabelecem na alma quando se quer conjugar a adoração a Deus com o
egoísmo. Quem não se empenha em combater os defeitos pessoais nem em
progredir na perfeição acaba entrando pelas tortuosas sendas dos vícios à
margem do bem, sem, todavia, querer abandoná-lo por inteiro. Cedo ou tarde, o
dinamismo do mal termina sufocando uma frágil adesão à virtude e cai-se por
inteiro na via do pecado.

Oportuno é, no Advento, determo-nos um pouco em nossa caminhada espiritual


e, abstraindo da febricitação do mundo, examinar nossa consciência a fim de
verificar se não estamos, em algum ponto, construindo trajetos sinuosos em
nossa vida. Façamos então o firme propósito de endireitá-los, buscando a inteira
coerência entre nossa conduta e a Fé, o que se cifra no perfeito cumprimento
dos Mandamentos da Lei de Deus.

Eliminar a mediocridade e o orgulho


5a “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas…”
Chamado a viver em função de sua dignidade de filho de Deus e a ter os olhos
sempre postos nos elevados panoramas da Fé, muitas vezes o homem dá as
costas a esse plano superior e concentra toda a atenção nas coisas concretas,
preocupando-se excessivamente com os bens materiais e com banalidades
próprias à existência terrena. Tal mesquinhez leva-o a se esquecer da
efemeridade desta vida e, menosprezando a eternidade, a viver como se o
Criador não existisse. Formam-se na alma, então, os vales da ausência de Deus.
A par disso, há também montanhas e colinas na vida espiritual. São as elevações
do amor-próprio desregrado, o qual se manifesta das mais diversas maneiras.
Por exemplo, no desejo de chamar a atenção alheia sobre as qualidades
pessoais, reais ou supostas, procurando sobressair em relação aos demais.
Além de aterrar os vales da mediocridade materialista, é preciso nivelar essas
proeminências do orgulho.

É interessante aqui observarmos um pormenor do texto evangélico, pois, neste


versículo, o Precursor não dá uma ordem, como no anterior, mas faz uma
afirmação: os vales serão aterrados; as montanhas e colinas serão rebaixadas.
Com a vinda de Nosso Senhor ao mundo foram deixados à disposição da
humanidade os Sacramentos, meios eficazes para essa reforma interior.
Conferindo a graça à alma, eles corrigem os desníveis que se interpõem no
caminho da perfeição e dificultam o progresso espiritual. Como comenta São
Cirilo, “quando Deus feito Homem destruiu o pecado em sua carne, tudo foi
aplainado e se tornou fácil o caminho, não havendo montes nem vales que
fossem obstáculo para quem quisesse caminhar”.17 Resta ao homem unir a
esse auxílio divino o próprio esforço, sempre consciente de que cada avanço,
mesmo quando pequeno, se deve à graça obtida por Cristo e não a seu mero
empenho.

As racionalizações, passagens tortuosas da consciência


5b “…as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão
aplainados”.

As racionalizações – ou seja, os falsos raciocínios elaborados pelo homem para


justificar suas próprias faltas – são desvios muito sutis na vida espiritual, pois
encobrem a inconsistência do erro com a aparência sólida da verdade. As
passagens tortuosas são uma imagem adequada desses desonestos
subterfúgios do pecador, que foge ao se deparar com o aguilhão da consciência
que o importuna, advertindo-o a respeito do mal que pretende fazer ou
repreendendo-o pelas faltas já praticadas. Só com tais evasivas o homem
consegue permanecer nos acidentados caminhos do pecado. Para eliminar
essas ardilosas irregularidades do terreno é preciso a virtude da retidão, a qual
faz a pessoa ver por inteiro sua própria fraqueza e maldade, reconhecendo-se
pecadora e necessitada do amparo sobrenatural para não soçobrar nas
tentações. Porém, o fator decisivo é, mais uma vez, a ação divina, ressaltando
aos olhos do homem o horror do pecado e a noção de que Deus conhece todas
as coisas, inclusive os mais íntimos pensamentos e as intenções do coração.

Deus deve estar no centro da vida do homem


6 “E todas as pessoas verão a salvação de Deus”.

Estas palavras finais são muito exatas, não só para significar a universalidade
da missão de Nosso Senhor, como também a atitude dos homens em relação a
Ele, livres que são para aceitá-Lo ou rejeitá-Lo e, em vista disso, obter a salvação
ou a perdição eterna. Daí a razão de São João não dizer que todos se salvarão,
mas sim que todos verão a salvação, como comenta o Pe. Duquesne: “O
Salvador, enviado de Deus, veio para todos os homens e foi anunciado a todos
os homens; nem todos, entretanto, O reconheceram e O seguiram. Mas dia virá
em que todos O verão como seu Juiz”.18

Finalmente, voltando ao problema da felicidade, ao qual nos referíamos no início,


podemos ver a conversão pregada pelo Precursor como um farol seguro a
iluminar o percurso para lograr o êxito na busca desse tesouro desejado por
todos nós, pois o objetivo de cada um de seus ensinamentos se reduz a um só:
fazer o homem viver em função de Deus e não de si mesmo.

III – Deus nos levará até o fim


O Evangelho deste 2º Domingo do Advento, ao mostrar-nos a estreita relação
entre a conversão e a felicidade, propõe a cada um de nós um desafio. De um
lado, compreendemos a necessidade de pôr em prática as admoestações de
São João Batista, reformando-nos espiritualmente. De outro, pesam-nos as
consequências do pecado original e de nossos pecados atuais, e vemos quão
incapazes somos de levar a cabo uma reforma interior sem a força da graça de
Deus. Não conseguimos sequer fazer digna penitência por nossas faltas! É o
desafio da santidade, diante do qual se encontra todo cristão. Cabe a nós nunca
desanimar a meio caminho, mas crer com fé robusta que Ele, tendo começado
em nós essa boa obra, a levará à perfeição, conforme escreve São Paulo aos
filipenses no trecho escolhido para a leitura deste domingo (cf. Fl 1, 6). Tal obra
se inicia com o Batismo, quando Deus introduz na alma a graça, fazendo-a
participar da vida divina. Conferida como uma semente, deve ela se desenvolver
durante toda a existência, “até alcançar em cada um de nós a plenitude que
corresponda ao grau de nossa predestinação em Cristo”.19 Existem obstáculos,
entretanto, que impedem seu desenvolvimento… São os montes, vales e demais
sinuosidades colocadas pelo próprio homem no terreno de sua alma, onde a
graça deveria crescer. O desejo de remover tais empecilhos, o emprego de todos
os meios a nosso alcance para eliminá-los e, sobretudo, a confiança na
onipotência divina são a contribuição que a Providência espera de nós nessa
obra de perfeição, cujo Autor e Consumador é o próprio Deus.

Como alento de nossa esperança, voltemos nosso olhar a Nossa Senhora,


Auxílio dos Cristãos, que a cada instante intercede por nós junto a seu Divino
Filho. Todos os dons por nós recebidos nos foram alcançados por sua mediação.
Ora, “Ela não pode ser a Senhora das obras inacabadas. Ela é a Senhora das
construções terminadas, das grandes obras levadas a termo”,20 afirma com
unção o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Resta-nos, portanto, abandonarmo-nos
aos maternais cuidados de Maria Santíssima, certos de que Ela mesma Se
encarregará de conduzir à plenitude este ousado empreendimento de nos fazer
perfeitos assim como o Pai Celeste é perfeito (cf. Mt 5, 48).

1 SANTO AGOSTINHO. De Trinitate. L.XIII, c.4, n.7. In: Obras. Madrid: BAC, 1956, v.V, p.712.

2 WEISS, Juan Bautista. Historia Universal. Barcelona: La Educación, 1927, v.III, p.661.

3 Segundo os historiadores, Herodes, o Grande, deixara consignado em testamento que após sua morte

a Palestina fosse dividida entre seus três filhos. E assim se fez: a Judeia, a Samaria e a Idumeia foram

dadas a Arquelau; Herodes Antipas recebeu a Galileia e a Pereia; e as terras situadas ao norte da

Transjordânia foram a parte de Filipe. Acusado de tirania, Arquelau foi deposto por César Augusto e seu

território tornou-se subjugado ao governo da Síria. A partir de então, os imperadores nomeavam

procuradores que se estabeleciam na Judeia e exerciam sua autoridade em toda a província (cf.

RICCIOTTI, José. Historia de Israel. Buenos Aires: Excelsa, [s.d.], t.II, p.412-413; SCHUSTER, Ignacio;

HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Barcelona: Litúrgica Española, 1935, t.II, p.76).

4 SCHUSTER; HOLZAMMER, op. cit., p.132, nota 1.

5 RICCIOTTI, op. cit., p.430.

6 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología Moral para seglares. Madrid: BAC, 1996, v.I, p.421.

7 Cf. RICCIOTTI, op. cit., p.414.

8 Este dado do Evangelho de São Lucas foi causa de inúmeras controvérsias durante longo período,
devido à falta de provas de sua historicidade. Julgava-se ter sido um equívoco do Evangelista a menção a

Lisânias como contemporâneo de Tibério (14-37), pois o Rei Lisânias do qual se tinha notícia fora morto
antes da constituição do Império Romano, vítima de uma instigação de Cleópatra junto a Antônio (cf.

FLÁVIO JOSEFO. Antiguidades judaicas. L.XV, c.4). As polêmicas cessaram, porém, diante da evidência

trazida a lume quando escavações na região descobriram inscrições da época que coincidem com o

Evangelho. Com base nestes registros, concluiu-se que São Lucas se refere a outro Lisânias, governante

do antigo reino de Cálcide, então transformado em tetrarquia, recebendo o nome de Abilene.

9 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San

Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.445.

10 Cf. SCHUSTER; HOLZAMMER, op. cit., p.132; FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro

Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.621-622.

11 Cf. MALDONADO, op. cit., p.442.

12 COLERIDGE, SJ, Henry James. La prédication de St. Jean Baptiste. Paris: P. Lethielleux, 1890, p.14-

15.

13 Idem, p.15.

14 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n.222.

In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p.638.

15 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.38, a.3.

16 Cf. SÃO BERNARDO. Sermones de Tiempo. En el Adviento del Señor. Sermón V. In: Obras

Completas. Madrid: BAC, 1953, v.I, p.177.

17 SÃO CIRILO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.III, v.3-6.

18 DUQUESNE. L’Évangile médité. Paris: Victor Lecoffre, 1904, v.I, p.115.

19 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Somos hijos de Dios. Madrid: BAC, 1977, p.91.

20 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 14 jun. 1995.

Dureza de coração ante o Messias


esperado
Inúmeras profecias indicavam ao povo eleito que
Jesus era o Salvador. Eles, porém, rejeitaram-No.
Também em nossos dias a voz profética se faz ouvir
chamando-nos à conversão. Fecharemos nós os
nossos corações?
Giuliana D’Amaro

Ao longo de séculos, Deus preparou a humanidade das mais diversas formas


para receber seu Filho Unigênito, que haveria de lhe trazer a salvação.

Uma nova e eterna aliança estava por chegar. Era preciso que os homens
compreendessem a importância desse acontecimento, centro e pináculo da
História, e procurassem orientar em função dele todos os aspectos de sua
existência.

Deus escolhe um povo como depositário da promessa


Os primeiros episódios dessa preparação remontam aos primórdios da criação,
quando da queda de Adão e Eva com o pecado original.

Já nos capítulos iniciais do Gênesis deparamo-nos com a célebre passagem do


protoevangelho (cf. Gn 3, 15), que a Igreja aplica à Virgem Maria e sua
descendência, e considera como germe do anúncio messiânico. Não muito
depois, o mesmo livro sagrado descreve como, após o dilúvio universal, Deus
renovou por meio de Noé sua aliança com todos os seres criados (cf. Gn 9, 16).
Mesmo tendo os homens novamente prevaricado, Ele não os abandonou nem
revogou sua palavra.

A fim de congregar a humanidade decaída, o Altíssimo elegeu Abraão para ser


pai de uma multidão de nações: “Todas as famílias da terra serão benditas em
ti” (Gn 12, 3). Da descendência do santo patriarca constituiu o seu povo, Israel,
tornando-o depositário da aliança estabelecida com o gênero humano.

No meio desse povo surgiram os profetas, homens e mulheres escolhidos para


formá-lo na expectativa da vinda do Redentor: “Eis o que o Senhor proclama até
os confins da terra: Dizei a Sião: eis, aí vem teu Salvador; eis com ele o preço
de sua vitória” (Is 62, 11); “Dias hão de vir – oráculo do Senhor – em que firmarei
nova aliança com as casas de Israel e de Judá” (Jr 31, 31); “Concluirei com eles
uma aliança de paz, um tratado eterno” (Ez 37, 26).

Deus os incitava assim a confiar, pois para eles era mister ter fé e esperar nas
promessas feitas aos patriarcas. Sua vocação consistia em receber a Boa-nova
e proclamá-la a todas as gentes.
“As Escrituras dão testemunho de Mim”
Segundo antigos escritos rabínicos, existem cerca de 456 referências explícitas
ao Messias no Antigo Testamento. Elas aparecem no Pentateuco, nos Livros
Históricos, Proféticos e também nos Sapienciais, e correspondem a anúncios
feitos ao longo de onze séculos, em lugares e circunstâncias muito diversas.1

Não é de se estranhar, portanto, que Nosso Senhor Jesus Cristo tenha afirmado
aos fariseus: “Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida
eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim” (Jo 5, 39).

Se o Divino Mestre foi rejeitado pelos líderes religiosos da época e por boa parte
de seu povo, não foi por desconhecimento, mas por maldade. Daí se entende
que o doce Jesus, que “a todos curava” (Mt 4, 24), os qualificasse de “sepulcros
caiados” (Mt 23, 27) ou “raça de víboras” (Mt 23, 33).

Não façamos como eles. Consideremos os mais significativos episódios do


Antigo Testamento prenunciadores do advento do Salvador e das circunstâncias
em que ele se daria, para assim conhecer e amar mais o Menino cujo nascimento
em breve celebraremos.

Local e circunstâncias do nascimento de Cristo


A ascendência davídica de Jesus, tão claramente testemunhada pelos
Evangelistas (cf. Mt 1, 1-14; Lc 1, 27), foi já anunciada por Isaías numa
referência a Jessé, pai do rei-profeta: “Um renovo sairá do tronco de Jessé, e
um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor,
Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem,
Espírito de ciência e de temor do Senhor” (11, 1-2).

O mesmo Isaías, profeta messiânico por excelência, predisse a miraculosa


concepção do Salvador, Filho de Maria Santíssima e do Espírito Santo: “O
próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho,
e o chamará ‘Deus conosco’” (7, 14).

Até o local em que haveria de nascer o Homem-Deus foi indicado com precisão
por Miqueias: “Mas tu, Belém de Éfrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de
ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens
remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado” (5, 1).

E a tradição católica viu em outro oráculo de Isaías um prognóstico do rechaço


dos habitantes de Belém a seu Senhor: “O boi conhece o seu possuidor, e o
asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não
tem entendimento” (1, 3). Por terem se fechado a Maria e José as portas de
todas as casas da cidade, Jesus nasceu numa gruta e foi deitado numa
manjedoura (cf. Lc 2, 7).

Adoração dos Magos e fuga para o Egito


No Livro do Salmos, por sua vez, encontramos uma previsão sobre a adoração
dos Reis Magos e suas oferendas ao Divino Infante: “Os reis de Társis e das
ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá lhe oferecerão seus dons”
(71, 10). E ela se harmoniza com outra célebre profecia de Isaías: “Serás
invadida por uma multidão de camelos, pelos dromedários de Madiã e de Efá;
virão todos de Sabá, trazendo ouro e incenso, e publicando os louvores do
Senhor” (60, 6).

Também a fuga para o Egito e permanência do Menino Jesus na terra dos faraós
estão presentes nesses vaticínios: “Do Egito chamei meu filho” (Os 11, 1). E nem
mesmo a matança dos Santos Inocentes foi omitida: “Ouve-se em Ramá uma
voz, lamentos e amargos soluços. É Raquel que chora os filhos, recusando ser
consolada, porque já não existem” (Jr 31, 15). Neste versículo Raquel, esposa
do patriarca Jacó sepultada próximo a Belém, representa a nação israelita.2

Há inúmeras outras profecias sobre o advento do Messias, seu ministério público


e morte. Em todas elas impressiona constatar a riqueza de detalhes e como cada
um se cumpriu inteiramente na Pessoa de Nosso Senhor.

Muitos se recusavam a crer…


Mas, ó grande mistério! Esperado ao longo de milênios, o Messias veio para os
seus, e estes não O quiseram reconhecer (cf. Jo 1, 11).

Por ocasião da chegada dos Magos a Jerusalém, os príncipes dos sacerdotes e


escribas, reputados como autoridades no conhecimento e interpretação das
Escrituras, “podem dizer imediatamente onde nasce o Messias: em Belém! Mas
não se sentem convidados a ir”.3

Já nos albores da existência terrena do Redentor verificou-se um triste contraste:


“Reis pagãos acreditaram na mensagem que lhes fora transmitida por Deus
através de uma estrela, e os judeus, com a Revelação e todas as profecias, não
quiseram abrir a alma para o seu Rei, o Messias”.4

Os Evangelhos nos mostram que também o povo estava muito familiarizado com
as principais profecias a respeito do Salvador. A tal ponto que, quando surgiu a
austera figura do Batista, todos indagavam se João não era o Messias
(cf. Lc 3, 15). E, com mais razão, ao constatar os sinais realizados por Nosso
Senhor perguntavam-se: “Quando vier o Cristo, fará mais milagres do que este
faz?” (Jo 7, 31). Entretanto, muitos se recusavam a crer…

“Armemos ciladas ao justo”


Em Nazaré, depois de ter lido uma passagem do Livro do profeta Isaías que
prevê a vinda e missão do Messias, o próprio Jesus anunciou a seus
conterrâneos que naquele dia se cumpria o oráculo que acabavam de ouvir.
Após um primeiro movimento de admiração, os nazarenos “encheram-se todos
de cólera na sinagoga. Levantaram-se e lançaram-No fora da cidade; e
conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade,
e queriam precipitá-lo dali abaixo” (Lc 4, 8-29).

Em outra ocasião, Jesus revelou na sinagoga de Cafarnaum o Sacramento da


Eucaristia, prefigurado no maná que alimentara os judeus no deserto: “Eu Sou o
Pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o
Pão, que Eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 51).
Resultado: grande parte de seus discípulos O abandonou e Ele já não podia
permanecer na Judeia, pois “os judeus procuravam tirar-Lhe a vida” (Jo 7, 1).

Quanto aos fariseus, a quem Jesus repreendia abertamente, desde o início


maquinavam planos para livrarem-se d’Ele, tal como foi descrito no Livro da
Sabedoria: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda: ele
se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei e nos
reprova as faltas contra a nossa disciplina. […] Vejamos, pois, se é verdade o
que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com ele. Se, de fato, o justo é
‘filho de Deus’, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos”
(2, 12.17-18).

Tal infidelidade causa espanto e confusão. Como puderam rejeitar Aquele que
tão claramente lhes fora predito?

Visão errada a respeito do Messias


A resposta nos é dada por Mons. João: “A errônea interpretação das profecias
levava os judeus a imaginar o Salvador como um herói nacional que os libertaria
do jugo romano – considerado o grande mal do qual decorriam todos os outros
infortúnios de Israel – e dar-lhes-ia uma insuperável projeção política, social e
financeira, bem como a supremacia em relação a todos os outros povos da
terra”.5
No princípio da vida pública de Nosso Senhor, as multidões procuravam-No com
avidez, maravilhadas com suas palavras e com os inúmeros milagres que Ele
realizava. Buscavam a cura de seus males e desejavam ouvi-Lo falar a respeito
do Reino. Entretanto, boa parte daqueles que O proclamavam como Messias
partilhavam da visualização mundana acima descrita e começaram a sentir-se
incomodados com as censuras e exigências morais que lhes fazia o Homem-
Deus…

“Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!
Hosana no mais alto dos Céus!” (Mt 21, 9), aclamaram a Nosso Senhor Jesus
Cristo por ocasião de sua entrada em Jerusalém. Essas palavras, tiradas do
Salmo 117, eram tidas pelo povo como uma referência ao Messias prometido.
Todavia, tais louvores mostraram-se vazios quando alguns dias depois foram
substituídos pelo infame “Crucifica-O!” (Jo 19, 15).

Ora, também sobre isso escreveu Isaías: “O Senhor disse: ‘Esse povo vem a
Mim apenas com palavras e Me honra só com os lábios, enquanto seu coração
está longe de Mim’” (29, 13). E mais tarde São Paulo declararia que os
habitantes de Jerusalém e seus chefes não reconheceram o Salvador e, ao
condená-Lo, cumpriram as profecias que se liam todos os sábados (cf. At 13, 27-
28).

Cegueira espiritual e dureza de coração


Muito elucidativa a esse respeito é a narração da cura do cego de nascença feita
por São João em seu Evangelho. Negando-se a admitir que aquele homem
houvesse sido miraculado, os fariseus interrogaram seus pais a fim de verificar
a autenticidade da cegueira. Estes tentaram esquivar-se das indagações,
remetendo-as ao filho, pois “os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga
todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo” (Jo 9, 22). O ex-cego, por
sua vez, quando perguntado sobre o que pensava d’Aquele que o curara, havia
respondido: “É um profeta” (Jo 9, 17). Pouco depois, abraçou a fé em Nosso
Senhor e deu testemunho de sua divindade.

A propósito desse fato, afirmou Jesus: “Vim a este mundo para fazer uma
discriminação: os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos”
(Jo 9, 39). Que cegueira é esta, senão a cegueira para as realidades
sobrenaturais? Por abraçarem uma visão materialista da vida e da própria
salvação, aqueles homens tornaram-se incapazes de elevar os olhos para os
horizontes da Fé e contemplar o Filho de Deus presente no meio deles.
Certo é que Nosso Senhor concedia graças superabundantes a todos com os
quais tratava, a fim de O reconhecerem e seguirem. Contudo, com muitos se
passou o que descreve o profeta: “Obceca o coração desse povo, ensurdece-lhe
os ouvidos, fecha-lhe os olhos, de modo que não veja nada com seus olhos, não
ouça com seus ouvidos, não compreenda nada com seu espírito” (Is 6, 10). A
dureza de seus corações tornou-os cegos e surdos para Deus.

A voz da Igreja e da Santíssima Virgem


Corre-se o risco de julgar erroneamente que nada disso tem relação com o
mundo atual. A realidade, porém, nos mostra o contrário: mais uma vez, a
humanidade fez-se insensível à voz do Senhor. Ele, que tanto deseja derramar
sobre nós seu amor infinito e dar-Se inteiramente a cada um de seus filhos e
filhas, é rejeitado, desprezado e odiado.

Ao povo eleito foram enviados os patriarcas e profetas para lhe indicar a verdade
e preparar o advento do Redentor. E a recusa a tão grande dádiva culminou no
maior crime da História, o deicídio, como atestam os autores sagrados.

Quanto a nós, temos a graça de ouvir a voz da Santa Igreja, que há dois mil anos
fala à humanidade através de seus Santos e de varões providenciais. Também
nos foi dada como Mãe a Santíssima Virgem, que no último século fez insistentes
e amorosos apelos à conversão na Rue du Bac, em Lourdes, em La Salette, em
Fátima e tantos outros lugares… Se soubermos abrir os nossos corações a essa
voz, seremos capazes de contemplar as maravilhas reservadas por Deus aos
seus eleitos.

1 Cf. EDERSHEIM, Alfred. The Life and Times of Jesus the Messiah. Grand Rapids (MI): Eerdmans, 1953,

v.I, p.710; LABURU, SJ, José Antonio de. Jesus Cristo é Deus? São Paulo: Loyola, 1966, p.29.

2 Cf. LEAL, SJ, Juan; DEL PÁRAMO, SJ, Severiano; ALONSO, SJ, José. La Sagrada Escritura. Texto y

comentario por los profesores de la Compañía de Jesús. Nuevo Testamento. Madrid: BAC, 1961, v.I,

p.32.

3 BENTO XVI. Homilia na Santa Missa com os membros da Comissão Teológica Internacional, 1/12/2009.

4 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. A docilidade ao Espírito Santo ensinada por pagãos. In: O inédito

sobre os Evangelhos. Città del Vaticano-São Paulo: LEV; Lumen Sapientiæ, 2014, v.III, p.144.

5 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. A verdadeira procura da felicidade. In: O inédito sobre os

Evangelhos. Città del Vaticano-São Paulo: LEV; Lumen Sapientiæ, 2012, v.V, p.42.
Memórias de uma carmelita em
tempos de guerra
Ingressar no convento como noviça e levar vida
comunitária durante a sangrenta Guerra Civil
Espanhola: eis uma tarefa aparentemente
impossível… Mas não para almas da têmpera de
Santa Maravilhas de Jesus e de suas filhas
espirituais. Ouçamos o testemunho de uma delas.
Madre Dolores de Jesús, OCD

Em 29 de maio de 1935 ingressei no Carmelo do Cerro de los Ángeles, fundado


por Madre Maravilhas de Jesus em 1924, e tudo quanto narrarei a seguir foi por
mim visto e vivido em primeira pessoa, pois desde essa data até o dia da morte
dela nunca nos separamos.

Pouco depois de minha entrada, disse-me ela com enorme humildade: “Minha
filha, a confiança que tivemos até agora, não a perderemos”.

Noites de vigília junto ao Sagrado Coração


O ambiente na Espanha era muito carregado; sentia-se que algo estava por
acontecer, e todo mundo julgava ser uma loucura fazer-me religiosa nessas
circunstâncias. Nossa madre, porém, animava-me a dar esse passo o quanto
antes, pois era melhor estar já consagrada ao Senhor quando se
desencadeassem os acontecimentos, quaisquer que fossem. Não duvidei e, uma
vez dentro do Carmelo, pude apreciar sua grande fortaleza e o ânimo que
transmitia à comunidade. Éramos todas jovens. Todas as noites eram escaladas
duas monjas para velar o monumento do Sagrado Coração de Jesus,1 metade
da noite cada uma. Fazíamos isso numa cela de onde se vê perfeitamente o
monumento e o farol que o ilumina. Mas nossa madre velava todas as noites,
não sei ao certo durante quanto tempo.

Exortava-nos continuamente à penitência e, a julgar pelo que nos deixava fazer,


ela própria devia fazer muitíssima. A seu lado vivíamos num ambiente
completamente sobrenatural.
Madre Maravilhas tinha obtido do Papa autorização para sairmos da clausura a
fim de rodear e defender o monumento, caso os milicianos anticatólicos o
atacassem. Assim, junto com as blasfêmias da impiedade, subiriam também
nossos pobres hinos de amor. Como a situação se agravara muito numa das
últimas noites que passamos no Carmelo do Cerro, nossa madre nos mandou
tomar uma xícara de chá de tília para estarmos “tranquilas” caso fosse
necessário sair. Como ela era humana e, ao mesmo tempo, sobrenatural!

“Irmãs, levam-nos presas”


Tinha ela a firme decisão de jamais abandonar por livre vontade o convento, não
para guardá-lo, mas para fazer companhia ao Sagrado Coração de Jesus, que
para isto a chamara ao seu lado com muita insistência.

Mas o Senhor dispôs de forma diferente, e assim, no dia 22 de julho, por volta
das dez horas da manhã, apresentou-se um magote de guardas de assalto em
dois ou três caminhões, instando-nos a abandonar o convento, pois iam
dinamitá-lo. Nossa madre resistiu, declarando que não nos importavam os
explosivos, pois iríamos para os porões. Depois de muita insistência, eles
confessaram seu verdadeiro objetivo: vinham com ordem do prefeito para levar-
nos presas e, portanto, devíamos sair logo.

Nossa madre tocou o sino para reunir a comunidade e nos disse: “Irmãs, levam-
nos presas”. Houve uma explosão de alegria: aproximava-se o martírio. Fomos
para a capela, onde nós, as oito noviças, fizemos em conjunto a profissão solene
dos votos in articulo mortis. Madre Maravilhas nos falou calorosamente,
estimulando-nos e animando-nos ao martírio. Depois nos abençoou.

Com grande fortaleza e serenidade, nossa madre se dirigiu ao chefe dos guardas
e lhe pediu permissão para irmos nos despedir do monumento do Sagrado
Coração de Jesus. Ele respondeu que sim, mas que nos apressássemos. Ela
começou a rezar o Te Deum e todas nós a acompanhamos, seguindo em duas
filas.

Não faltava nem uma freira


Subimos depois num caminhão cujos “bancos” eram várias tábuas em cada qual
cabiam duas pessoas. Nossa madre sentou-se na tábua da frente, junto ao
motorista. Ela começou a se preocupar pelo guarda de assalto que ia ao seu
lado, de pé. Disse-lhe que deveria estar cansado e se afastou para ele poder
sentar-se.
No final da ladeira do Cerro, nosso caminhão cruzou-se com outro caminhão de
milicianos. Estes, ao ver que éramos monjas, queriam nos matar ali mesmo. Os
que iam conosco saltaram e reagiram porque, pelo visto, eles tinham ordem de
nos levar presas, mas sãs e salvas, ao lugar de Getafe por nós escolhido. Nossa
madre lhes havia dito para conduzir-nos ao convento das ursulinas que, por
serem francesas, tinham proteção do governo de seu país. Elas nos acolheram
com imensa caridade.

Chegou em seguida o prefeito, cognominado o Russo, o qual disse a nossa


madre que receava não poder nos defender, e que estaríamos melhor em Madri.
Ela lhe respondeu que preferíamos ficar ali, por estar mais perto do monumento
do Coração de Jesus; portanto, não nos moveríamos enquanto não nos
expulsassem. Suas palavras tinham tal força que desarmaram o alcaide.

Cena idêntica se repetia todos os dias, e o Russo lhe perguntava


constantemente se faltava alguma monja, desejando que fôssemos desertando
uma a uma. Com muita satisfação e fortaleza de ânimo, nossa madre respondia
que continuavam todas ali, que, inclusive, nossas famílias tinham vindo buscar-
nos, mas nenhuma quis sair. A comunidade estava completa: vinte e uma
monjas.

O monumento é explodido com dinamite


No convento das ursulinas, Madre Maravilhas organizou imediatamente a vida
comunitária. Nesse tempo de “calvário”, ela soube suavizá-lo com suas virtudes
e seu exemplo, conduzindo-nos mais para Deus.

Todos os dias, às três horas da tarde, depois de rezar Vésperas, subíamos ao


sótão para fazer companhia ao Senhor. Estava-se em pleno verão, a
temperatura era asfixiante. Ali cantávamos, rezávamos, inventávamos ladainhas
de desagravo, etc. Enquanto isso, ela observava com binóculos o monumento.
Viam-se perfeitamente os intentos de destruí-lo com explosões de dinamite.
Durante muitos dias, não conseguiram tirar a imagem sagrada. Animada, dizia-
nos ela: “Continua de pé, irmãs!” Redobrávamos, então, nossas orações.
Passávamos quase todo o tempo com os braços em cruz. Ao cair da tarde,
quando víamos que os milicianos se retiravam, descíamos para jantar, tranquilas
por esse dia.

Em 7 de agosto, primeira sexta-feira do mês, comungamos. Como sempre,


subimos ao sótão às três horas da tarde. Via-se um grande rebuliço, maior que
o habitual; muitos caminhões e até mesmo um guindaste. Os milicianos
trabalharam intensamente durante toda a tarde. O calor era infernal. Tivemos de
descer na hora do jantar, para não causar transtornos às ursulinas.

Nossa madre deixou duas irmãs vigiando com os binóculos, pois os homens
ainda lá estavam. Ela subiu logo após a refeição e pôde ouvir as três detonações
que derrubaram a imagem sagrada, embora não tenha visto, pois já escurecera.
Nesse momento lhe transmitiram o aviso da telefonista de Getafe, de que
acabara de cair a imagem do Coração de Jesus entre horríveis blasfêmias. Os
milicianos haviam-lhe amarrado uma corda ao pescoço e a arrastaram com o
guindaste.

Ficamos meio mortas. Nossa madre, com a fisionomia alterada, mas cheia de
fortaleza, nos disse: “Vamos subir, filhas, e fazer-Lhe companhia neste
momento”. Interrompemos o jantar e subimos. Permanecemos longo tempo no
sótão. Disse-nos ela que, como haviam deposto de seu trono o Senhor, cada
uma de nós fizesse para Ele um trono em seu coração. Rezamos também por
aqueles infelizes, e ela repetia muitas vezes: “Perdoai-os, Senhor, porque não
sabem o que fazem”.

A madre se mantinha sereníssima, mas nós estávamos “explodindo” de tal modo


que, ao descer, nos sentamos na escada para desafogar nossa dor. Ela nos
animava. Como nada mais tínhamos a fazer ali, disse-nos: “Partiremos amanhã
mesmo para Madri”.

Na mira da pistola de um anarquista


Um dos maiores perigos pelos quais tivemos de passar, e no qual ela mais
demonstrou sua fortaleza e bondade, foi o interrogatório feito por Avelino
Cabrejas, chefe de uma das checas2 mais famosas e temidas da cidade, a do
palácio do Duque de Tovar, na Rua Gênova.

Em 6 de setembro ele apareceu em nosso alojamento na Rua Cláudio Coelho,


com dois caminhões, vários carros e, pelo menos, dez homens e duas mulheres,
para nos levarem presas. Interditaram toda a rua, ocuparam as duas escadas e
nos esperavam na checa.

Nossa madre abriu a porta aos milicianos. Trajava um vestido negro com gola
branca e ostentava seu grande crucifixo. Quando Cabrejas lhe perguntou pelas
carmelitas do Cerro de los Ángeles, ela respondeu com impressionante
serenidade: “Sim, somos nós, e eu sou a superiora”.
Ele quis conversar a sós com Madre Maravilhas, no salãozinho; como este tinha
duas portas de cristal, algumas de nós se postaram junto a elas, prontas a entrar
em qualquer momento. Ouvíamos tudo.

Cabrejas escarranchou-se numa cadeira em frente a ela, apontando-lhe durante


todo o tempo uma pistola, e começou a interrogá-la sobre o dinheiro que
tínhamos e onde estava. Nossa madre respondia com uma pasmosa
tranquilidade, como se estivesse falando com uma de nós. Depois de algum
tempo, ele guardou a pistola e lhe disse, dando-lhe uma ligeira batida no ombro:
“Você e eu nunca poderemos brigar”.

Encerrado o interrogatório, Cabrejas telefonou para a checa, informando que não


prenderia nenhuma porque “são umas infelizes!” Depois que se retiraram, fomos
todas agradecer a Deus, rezando Matinas, e não houve mais comentários.

Nova visita, desta vez “como amigo”


No dia seguinte, 7 de setembro, celebramos o Santo padroeiro de nossa madre.
A Ir. Ângeles entoou a lição do Martirológio, acompanhada pela Ir. Isabel com
um violino improvisado, feito de um pente e papel de seda. Ficou lindo!

Nós nos revezávamos para vigiar pelo olho mágico da porta de entrada. Certo
dia, em fins de outubro, estava de guarda a Ir. Visitação, uma basca que quase
não sabia falar espanhol. Veio correndo chamar nossa madre: “¡Ené, el
Cabrejas!” – disse. Era mesmo o Cabrejas, desta vez com outro miliciano, seu
carrasco, conforme nos disse. Hoje vinha visitar-nos “como amigo”, para que o
outro visse como estávamos contentes e como éramos tão felizes, sem nada
possuir.

A madre nos chamou. Estivemos todas com ele no salãozinho – nós sentadas
no chão –, como se fosse uma “visita rotineira”. Cabrejas nos perguntou,
assombrado: “Não tendes medo de nós, que somos autênticos anarquistas?”
Muito sorridente, Madre Maravilhas respondeu-lhe com toda a tranquilidade:
“Realmente, era para ter medo. Mas o máximo que podem nos fazer é tirar-nos
a vida, e esta, nós desejamos dá-la por Cristo…”

Ato contínuo, voltando-se para nós, disse: “Irmãs, cantem aquele hino do
martírio”. Cantamos então com toda a alma a seguinte estrofe, que tínhamos
composto: “Se conseguirmos o martírio, que grande felicidade! Beber com Jesus
o cálice, e depois com Ele no Céu morar! Se Deus quiser que eu morra no -
cárcere, dir-Lhe-ei que estou presa só, só por amor a Ele”.
Muito impressionado, Cabrejas disse à nossa madre que ia enviar-nos camas e
cobertores, pois estávamos muito mal alojadas. “Não precisamos de nada,
estamos muito bem e rezamos muito pelo senhor”, replicou ela. Desde então
Cabrejas dispôs que ninguém nos incomodasse, e não tivemos nenhum outro
interrogatório.

Intercedendo pelo criminoso


Depois da guerra, muitas pessoas que haviam tratado com nossa madre durante
esse tempo, lembraram-se dela e lhe pediram ajuda. Uma destas foi Cabrejas,
detido quando fugia para Alicante.

Estando no cárcere, enviou ao Cerro sua mulher e sua mãe, as quais pediram à
nossa madre que intercedesse por ele. Esta as atendeu com extremo carinho, e
enviou a Cabrejas a História de uma alma, marcando a página em que Santa
Teresinha fala de Pranzini, o criminoso. Encarregou-as de lhe dizer o quanto no
Carmelo rezavam por ele.

Fez tudo quanto humanamente podia para salvá-lo – e podia muito –, por meio
de um alto magistrado da Justiça Militar espanhola, irmão da Ir. Maria Cruz, e de
vários generais seus conhecidos. Eles nos enviaram a ficha criminal do pobre
homem, que era estarrecedora: tinha matado pessoalmente mais de duas mil
pessoas.

Embora investigasse bastante, Madre Maravilhas nunca conseguiu descobrir


que fim teve Cabrejas; sabendo, porém, como Deus não deixa sem recompensa
sequer um copo d’água dado por amor a Ele, continuou sempre confiando que
aquele criminoso se salvou.

As virtudes que vi tão de perto Madre Maravilhas praticar nessa época são
extraordinárias. Ela sofria muito, por diversos motivos: por não ter convento nem
o suficiente para alimentar suas monjas; pela contínua ameaça de suas filhas
serem encarceradas ou dispersas; por presenciar a destruição de sua pátria e,
sobretudo, pelas ofensas feitas a Deus. Entretanto, sempre a vimos esquecida
de si mesma e dedicando-se aos outros de modo excepcional; não só a nós,
suas filhas, mas também a quantos o Senhor punha em seu caminho.

Naquele pequeno apartamento da Rua Cláudio Coelho, apesar dos sofrimentos


desses meses e das terríveis notícias que nos chegavam, nunca nos faltou a
alegria.
Transcrito, com pequenas adaptações, de:

“Mis recuerdos de la Madre Maravillas”.

Madrid: Edibesa, 2006, p.199-219

1 O Carmelo do Cerro de los Ángeles, cenário desta narração, fica bem junto à monumental imagem do

Sagrado Coração de Jesus diante da qual o Rei Afonso XIII Lhe consagrou o país, em 30 de maio de

1919.

2 Cárcere informal onde comitês e organizações do bando republicano retinham, torturavam e julgavam

de forma sumaríssima os suspeitos de pertencer ao bando oposto.

Majestade e sofrimento
Com a alma pervadida de enlevo, Dr. Plinio
descreveu numa de suas conferências como ele
imaginava o convívio diário na Sagrada Família e
compôs uma pungente oração glorificando a
majestade do Menino Deus unida ao sofrimento.
Plinio Corrêa de Oliveira

É frequente nos depararmos com estampas pitorescas, respeitáveis, decorosas


e dignas, representando a Santa Casa de Nazaré, onde residiu a Sagrada
Família. Elas se empenham, em geral, em mostrá-la com uma pureza diáfana,
penetrada pela luz de um dia lindamente luminoso. Mas não é só isso: percebe-
se ali uma claridade que, sendo matinal na maturidade do dia, põe em realce a
conjugação de uma simplicidade absoluta com uma limpeza absoluta.

Limpeza exímia e simplicidade sublime


O que dizer da limpeza dessa casa?

É difícil imaginar, porque talvez nem sequer os Anjos tivessem o privilégio de


limpá-la. Eram Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, e São José, castíssimo
esposo d’Ela, os incumbidos dessa tarefa. E às vezes, quando estavam
cansados, o próprio Menino, diante de todos os coros angélicos extasiados,
limpava a casa para que seus pais pudessem descansar.

Num canto da sala, vemos um jarro simples do qual se ergue uma açucena. Do
seu talo perpendicular e muito ereto, como o são a virgindade e a pureza, brota
o cálice de uma flor maravilhosa. É o único elemento que fala de arte, de bom
gosto em todo o ambiente.

Mas olhando para o ponto em que um pé de cadeira encosta no chão, ou para


uma prateleira de madeira tosca que suporta três ou quatro pequenos objetos
indispensáveis para a vida diária, fica-se extasiado, sem saber o que dizer.
Essas sublimes bagatelas, tão comuns na existência cotidiana, por estarem
postas sob aquela luz tomam um caráter maravilhoso!

E para muito adequadamente realçar a humildade de personagens tão puros,


apresenta-se dentro deste décor a Sagrada Família. São José, sentado, está
torneando um móvel; Nossa Senhora faz uma costura; e o Menino, em pé, é
ainda tão pequeno que se apoia numa cadeira vazia para brincar com dois ou
três objetos, usando-a como se fosse uma mesa.

Atentos aos gestos, à voz, ao olhar do Menino Jesus


Paira o silêncio. Nenhum dos três pronuncia palavra alguma, mas todos se
entendem superlativamente. Coadunam-se nesse lugar o dia a dia simples de
uma família operária e o encanto das considerações metafísicas feitas por Nossa
Senhora e São José, que viviam inundados pela presença do Menino, com tudo
quanto isso significava.

Nascido da Virgem-Mãe, Ele era da raça de Davi e, portanto, da mesma estirpe


de São José. Este possuía sobre seu Filho, fruto das entranhas de sua esposa,
um autêntico direito de pai. Mas Jesus havia sido gerado pelo Espírito Santo no
seio virginal de Maria, a flor do gênero humano!

O que dizer disso? Não há palavras que bastem para descrevê-lo!

A Santíssima Trindade “movia-Se”, por assim dizer, acompanhando o menor


movimento do Menino. Até quando Ele brincava com algumas pedrinhas ou
mexia com uma coisa qualquer, era contemplado por todos os Anjos do Céu.
Sua infância, entretanto, ia se desenvolvendo de acordo com a ordenação posta
por Deus na natureza humana, mesmo sendo tão elevada e distante do pecado
original como era a do Menino-Deus, Filho de Maria Virgem, concebida sem
pecado original desde o primeiro instante de seu ser.

Poderíamos, portanto, imaginá-Lo nas cenas mais comuns na vida de uma


criança, como, por exemplo, procurando algum objeto. Em certo momento,
hesitava sobre onde estaria e, antes de conseguir achá-lo, percorreria sem êxito
outros lugares, seja porque Nossa Senhora ou São José o tinham mudado de
posição, seja porque o paninho que procurava havia sido empurrado para longe
pelo vento sem Ele perceber.

Que repercussão teriam episódios aparentemente tão simples no


relacionamento entre as três Pessoas da Santíssima Trindade?

De outro lado, São José e Maria Santíssima deviam cuidar dos afazeres
domésticos procurando, tanto quanto possível, não perder nem um gesto d’Ele,
estando sempre atentos à mínima emissão de sua voz, bela como uma música
inefável.

O mais fugaz dos olhares do Menino Jesus era um tesouro sem conta; o menor
dos seus movimentos possuía uma majestade e uma graça inexprimíveis! Eles
sabiam ser o Homem-Deus quem hesitava, movia-Se, falava… Podemos
imaginar o enlevo sem fim que os inundava!

Como seria o convívio diário na Sagrada Família?


Algumas vezes devia acontecer também que, pelas contingências da vida
concreta, pela necessidade de prestar atenção nos afazeres cotidianos, eles
desviavam a atenção do Menino e, ao voltar novamente os olhos para Ele, se
deparavam com uma atitude inesperada. Certamente a comentariam entre si,
cochichando baixinho, e se um dos esposos estivesse fora da casa nesse
momento receberia encantado ao chegar o “jornal falado” dado pelo outro.

Em outras ocasiões era o Menino Jesus quem saía para brincar no jardim com
alguma criança, enquanto São José e Nossa Senhora ficavam dentro de casa,
confabulando: “O que estará fazendo nosso Filho?” Sabiam que Ele não estava
apenas satisfazendo o desejo infantil de entreter-se com um companheiro, pois
tudo quanto fazia tinha um significado muito profundo.

Como seria, em suma, o relacionamento concreto entre os três, na Casa de


Nazaré? Teriam entre si um gênero de interlocução que a todo momento fizesse
referência à natureza divina de Jesus? E, o Menino, à virgindade fecunda de sua
Mãe e à virgindade milagrosa de São José florindo num casamento casto? Ou
seriam esses temas por eles conhecidos e venerados, mas pouco comentados,
deixando-os habitualmente implícitos e conversando sobre eles apenas nas
grandes ocasiões, quando baixavam do Céu luzes extraordinárias?

Com exceção dos momentos em que, contemplando o Menino, o Santo Casal


tivesse êxtases místicos, talvez o resto do tempo transcorresse em uma vida
comum, marcada pelos assuntos cotidianos:
— José, meu esposo, fostes vós que abristes aquela porta? Quereis porventura
sair levando um banco que acabastes de fazer, ou quereis ainda ficar aqui?

— Senhora, eu ainda preciso ficar aqui, exceto se vossa vontade for outra…

Algum tempo depois, diria São José:

— Senhora, Vós vos distraístes – ele bem sabia que Ela tinha estado
conversando com os Anjos! – e o almoço já vai longe no nosso pequeno
fogareiro; vede um pouco como está…

Enfim, poder-se-ia imaginar tudo…

Refulgindo como no Tabor


Eu seria propenso a achar que, na maravilha desse convívio familiar, se dessem
concomitantemente as situações mais contrapostas. Tudo, entretanto, se
harmonizava de acordo com uma fórmula maravilhosa que não sabemos qual é,
mas podemos intuir.

Devia haver momentos de uma seriedade extraordinária, de uma gravidade


sublime, em que a Santíssima Trindade Se manifestava ao Santo Casal. Devia
haver também momentos em que aquele Menino, que reluziria de modo tão
esplendoroso entre Moisés e Elias quando adulto, se apresentava diante deles
com um brilho inopinadamente intenso pedindo-lhes licença para brincar no
jardim. Passar-se-ia um certo tempo sem que conseguissem responder-Lhe e
Jesus, enquanto isso, aguardaria reluzente a autorização paterna. Haviam sido
completamente transportados para outra esfera, pois estavam diante de Deus!

Poderia acontecer também que, depois de terem contemplado tanto esplendor,


nada comentassem entre si, e Maria dissesse a José:

— Está ficando tarde, não é? Vou recolher a roupa que está do lado de fora.

E ele responderia:

— Senhora, preciso finalizar o objeto que me encomendaram para hoje à tarde.

Enquanto ela saía para pegar a roupa, o pedaço de madeira que estava sendo
trabalhado por José tomava rapidamente a forma que ele queria dar-lhe. Ao
retornar, Nossa Senhora via o objeto finalizado e dizia:

— Senhor, já está pronta a encomenda? – manifestando sua suspeita de ter sido


concluída pelos Anjos.
E ele, discreto, responderia:

— Senhora, às vezes as coisas correm depressa…

Momentos prefigurativos da Paixão e do Reino


Há um matiz nesse convívio da Sagrada Família que eu não vejo refletido na
iconografia, e compreendo que assim aconteça, porque não é fácil reproduzi-lo.

Na Santa Casa de Nazaré tudo estava impregnado de uma respeitabilidade, de


uma majestade, de uma seriedade augusta, de uma determinação forte. Em
suma: de uma seriedade e de uma dor desconcertantes.

Algumas vezes o Menino devia aparecer subitamente diante do Santo Casal


chagado dos pés à cabeça, esmagado de dor, e carregando dois pauzinhos às
costas. Era uma pré-figura da Cruz. Eles ficavam com o coração partido vendo-
O andar assim de um lado para outro com determinação, ou fazendo gestos ao
Padre Eterno em lances anunciadores da Agonia no Horto. Que dor, que
nobreza, que majestade!

Em outros momentos, Ele Se apresentava como Rei, manifestando em Si uma


grandeza em comparação com a qual os césares romanos assemelhavam-se a
moleques de rua. E poderíamos imaginar, assim, manifestações de
venerabilidade as mais augustas.

Vós sois todas as grandezas e magnificências!


Pouco numerosas são as almas que conseguem habitar na dor. Mais raros ainda
são aqueles que não se cansam de admirar a majestade. Contudo, quem tivesse
uma alma inteiramente reta, diante da grandeza de cenas como essas, se
ajoelharia e diria:

“Ó Majestade divina, quanto Vos procurei sem saber que era a Vós que eu
procurava! Quanto Vos desejei! Quanto me empenhei em recolher até os
menores fiapos de majestade que encontrava pelo meu caminho e me deter para
contemplar neles a grandeza que ainda não conhecia!

“Mas afinal, ó Majestade, eu Vos encontro! Majestade, eu Vos compreendo! Vós


tendes o império sobre os Anjos! Em Vós habita toda grandeza!

“Quando apareceis perante mim, penso no estrondo das cataratas mais


caudalosas que, entretanto, são minúsculas torneiras abertas diante de Vós. O
oceano parece um dedal de água em vossa presença, e todas as magnificências
da terra não são nada em comparação convosco.
“Ó Majestade, quanto eu Vos procurei! Ó pátria de minha alma, afinal Vos
encontro!

“Quando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de fé, não sabia que
um dos nomes dela era ‘Majestade’.

Agora o compreendo. A Santa Igreja Católica Apostólica Romana é o receptáculo


da vossa majestade, o vaso de vossa honorificência!

“Se eu visse Maria, que majestade! Se eu visse José, o modesto carpinteiro, que
majestade! Se eu visse o Menino, minha alma procuraria rimas para celebrar-
Vos, ó Majestade!

“Meus braços ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender!
Meu corpo inteiro se retesaria diante da possibilidade de Vos proclamar aos
homens, ó Majestade!

“E precisamente porque Vos compreendo, ó Majestade, compreendo também


que na vossa imensidade cabem todas as outras coisas. Não há amor paterno
nem materno, nem carinho fraterno, nem amizade, nem socorro, nem proteção,
nem nada do que o coração humano possa produzir de mais suave e terno, que
não more em Vós, ó Majestade! Vós sois todas as grandezas, todas as
magnificências, até mesmo das coisas pequenas.

“Vós sois o meu repouso quando estou cansado; a tranquilidade e a harmonia


do meu sono; a alegria do meu despertar”.

No santuário da majestade, aos pés da Cruz


Quem compreende assim a majestade? Quem percebe que bem no centro do
seu santuário incomensurável há um altar destinado a oferecer o próprio
sofrimento?

É ali que devemos oferecer essa forma de dor de espírito que é a ascese, pela
qual o homem abandona o que é frívolo, superficial, fútil, e se volta para o sério
e profundo. A mente esforça-se em alcançar a verdade; procura-se em corpo e
alma o bom e o belo, num holocausto mil vezes repetido em prol da verdade, do
bem, e da beleza.

Sem essa dor, para nós, concebidos no pecado original, não teria sentido o
santuário infinito da majestade. Esta é a verdade: na nossa vida há sempre a
dor, há sempre a cruz, a Cruz sacrossanta de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quem ama a dor? Quem ama a cruz? Entretanto, a ligação entre a majestade e
a cruz é tal que, a partir de certo momento da História cristã, nenhuma coroa foi
concebida sem estar encimada por uma cruz. Esta representa o píncaro da
majestade, e o fato de ser relativamente pequena em relação à coroa dá ideia
de uma tal superioridade que torna difícil contemplá-la. Tal é a majestade da
cruz!

Quem amará esses pensamentos? Quem se habituará a conviver com eles?


Quem quererá morar no santuário da majestade, ajoelhado aos pés da Cruz?

Extraído, com adaptações,

da revista “Dr. Plinio”. São Paulo.

Ano XVII. N.201

(Dez., 2014); p.18-21

Os homens procuram a paz e não


a encontram
Volvamos nossos pensamentos à noite de Natal.
Que nossos ouvidos se extasiem com este tão
conhecido cântico: “Noite de paz, noite de amor,
tudo dorme em derredor”.
Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP

É impossível meditar sobre o Natal sem vir-nos à mente – e, quase diríamos, aos
ouvidos – as luminosas e harmoniosas palavras com as quais “uma multidão do
exército celeste”, aparecendo de súbito junto ao Anjo que anunciava aos
pastores o nascimento do Redentor, louvava a Deus, proclamando: “Glória a
Deus no mais alto dos Céus e na terra paz aos homens de boa vontade” (Lc 2,
13-14). Este anúncio, tão cheio de simplicidade que até uma criança o pode
compreender, encerra verdades muito profundas.

Afinal, o que é a paz?


Quantas vezes ouvimos falar de paz durante este convulsionado ano prestes a
findar-se! Entretanto, pouco temos ouvido da “glória a Deus no mais alto dos
Céus”; e vemos cada dia menos homens “de boa vontade”, cheios de amor ao
próximo, bem-dispostos em relação uns aos outros.
À vista disto, perguntamos: Por que os homens querem tanto a paz e não a
encontram? O que é, concretamente, a paz?

fazer em ininterruptos deleites todo o percurso da vida terrena. Para esses, a


glória de Deus nada tem a ver com a paz na terra. São homens e mulheres
plasmados pela mentalidade de que essa glória é algo totalmente insignificante.

Ora, não se pode dissociar da glória de Deus a paz na terra. Se os homens não
derem a Deus a glória devida, a consequência evidente é que não haverá paz
no mundo. Quando a adoração ao dinheiro, a divinização das massas, a
desenfreada procura dos prazeres, o domínio despótico da força bruta, enfim,
quando o paganismo em todos os seus aspectos vai invadindo a face da terra, a
consequência é a falta de paz na qual vivemos. Buscamos a paz e não a
encontramos, ela se recusa a habitar conosco.

Conforme nos ensina Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade da ordem, não


uma tranquilidade qualquer. Portanto, só há verdadeira paz onde reina a ordem.
Em meio à desordem, pode haver muita tranquilidade, como na estagnação dos
pântanos… paz não haverá.

Volvamos os olhos para o Menino Deus


À vista de tudo isso, acabamos sentindo em torno de nós um abismo entre o
ideal e a realidade do que vivemos. Na nossa mente confrontam-se a justiça e a
injustiça, o bem e o mal, a virtude e o pecado.

Aparentemente, hoje chegamos a conquistar o mundo inteiro. A ciência e a


técnica nos pervadem, prestando numerosos serviços práticos. Máquinas e mais
máquinas exercem funções que surpreendem. Contudo… não temos
tranquilidade, a moralidade escasseia, a honradez tornou-se uma raridade e,
sobretudo, falta-nos a fé.

Um velho psiquiatra comentava-me que até os enfermos, perdendo a


religiosidade, não têm paz de alma. A inquietação corrói os corações de nossos
contemporâneos. Esforçamo-nos em excogitar como obter uma correta
disposição de todas as coisas da vida terrena e, para isso, nada melhor do que
volver nossos pensamentos à noite de Natal.

Deixemos nossos ouvidos se extasiarem com este cântico, de todos conhecido


e tantas vezes recitado: “Noite de paz, noite de amor, tudo dorme em derredor”.
É o Stille Nacht, que nos eleva, cada ano, em sua manifestação de compaixão
para com o Menino Deus recém-nascido, como a nos dizer: é tão pequeno este
Deus infinito, é tão infinito este Deus pequeno. Quando a ouvimos ou cantamos,
essa bela canção de Natal nos inspira movimentos interiores de ternura e de
respeito.

Volvamos os olhos para o Divino Infante. Disse um grande católico do século


passado: “Vós, Senhor Jesus, Deus humanado, sois entre os homens o Príncipe
da Paz. Sem Vós a paz é uma mentira e, afinal, tudo se converte em guerra”.1
Nós O veremos nos presépios, durante o tempo de Natal, na augusta pobreza
de uma gruta, junto da Virgem Maria, sua Santíssima Mãe, e de São José.
Poderemos contemplá-Lo na debilidade de um bebê posto numa manjedoura,
quão tosca e pobre!

Aí está quem nos convida a transformar o curso da História dos homens, a sair
do impasse que nos enche de tristeza. Convidando-nos às vias da austeridade,
do amor à cruz, da justiça ante todo tipo de iniquidades, de desapego dos
prazeres ilícitos, à pureza de vida num mundo cheio de depravações.

A paz deve ser construída nos corações


Se a humanidade caminhasse no cumprimento da Lei de Deus, logo cessaria
esta crise moral, esta crise de fé, esta crise religiosa. A responsabilidade está
em nós mesmos. Que se produza em cada um de nós uma metanoia, uma
mudança de mentalidade. Sem isso, resultará vão tudo quanto se intente.

E quando nos inclinarmos diante do presépio, olhando com encanto as pequenas


imagens da Sagrada Família, e sentirmos como Deus quis pôr-Se a nosso
alcance, peçamos com confiança por nossa reforma pessoal e pela do próximo.
Então, sim, estaremos certos de que haverá solução para a crise
contemporânea.

“Em primeiro lugar” – afirmou Bento XVI –, “a paz deve ser construída nos
corações. De fato, é neles que se desenvolvem sentimentos que podem
alimentá-la ou, ao contrário, ameaçá-la, enfraquecê-la, sufocá-la”. E acrescentou
sabiamente: “Aliás, o coração do homem é o lugar das intervenções de Deus”.2

Na Santa Missa, os fiéis rezam em coro ao aproximar-se o momento da


Comunhão: “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz”.
Que o Menino Jesus, a Virgem Maria e São José derramem sobre todos nós
suas bênçãos, encham nossos corações das santas e puras alegrias do Natal,
dando-nos a paz verdadeira: a paz de Cristo.
1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A glória de Deus no alto dos Céus, aspecto secundário do Natal? In:

Catolicismo. Campos dos Goytacazes. Ano XIII. N.156 (Dez., 1963); p.2.

2 BENTO XVI. Mensagem ao Bispo de Assis, 2/9/2006.

Santa Virgínia Centurione Bracelli

Alma contemplativa e séria,


encanto do Deus Altíssimo
Se obteve êxitos em sua vida apostólica, se atingiu
alto grau de santidade, isto se deveu à sua íntima
união com o Cordeiro Imolado. A crucificada fez seu
o espírito do Crucificado, e Ele Se tornou o seu
trono, a sua luz, a sua alegria, a sua felicidade.
Ir. Emelly Tainara Schnorr, EP

Estamos no fim do século XVI. A conjuntura histórica é marcada pela impiedade


e ateísmo, pelo apego ao luxo e às riquezas, pelo pecado e imoralidade. A Igreja
necessita de almas de fogo, que com incansável zelo renovem a face da terra.
E entre o batalhão de escol que a Providência suscitou nesse período, encontra-
se Virgínia Centurione Bracelli.

Foi ela principalmente a fundadora de uma congregação religiosa? Uma vítima


expiatória? Uma exemplar e caritativa dama da sociedade? Até os nossos dias
ainda não se definiu com precisão a missão desta singular Bem-aventurada,
comparada por muitos dos seus contemporâneos com outra grande Santa que
vivera décadas antes na mesma cidade: Catarina de Gênova.

“Será ela um Anjo?”


Virgínia nasceu a 2 de abril de 1587. Poucos dias depois foi conduzida à fonte
batismal, onde o ministro sagrado parece ter discernido em sua cândida fronte o
sinete dos predestinados. “Será ela um Anjo?”, perguntou-se ao vê-la. E, embora
não o fizesse, excogitou impor-lhe o nome de algum dos espíritos celestes, em
vez de Virgínia.

Lélia Spinola, a mãe de tão abençoada criança, era uma piedosa senhora.
Esmerou-se em educar a filha nas vias da virtude e do relacionamento com o
sobrenatural, e teve tanto êxito nos seus intentos que a pequena “aos quatro
anos já rezava admiravelmente e, ainda ocupada em estudar o alfabeto, já sabia
meditar em Jesus crucificado”.1

Sendo ela muito menina, Francisco, o irmão mais velho, recebia lições de latim,
mas era por demais caprichoso. Isso obrigava a mãe a ficar vigiando durante as
aulas, enquanto Virgínia permanecia junto a eles, costurando na mesma sala.
Tendo adquirido bastante habilidade no manejo da linha e agulha, procurava ela
prestar atenção nas lições, o que lhe permitiu aprender muito cedo a língua da
Santa Igreja. Mesmo antes de cumprir os dez anos de idade, ela estudava,
meditava e aprendia longos trechos das Escrituras, especialmente dos
Evangelhos, com os quais tanto se familiarizou que podia citá-los de cor e até
fazer pregações sobre eles.

Tal fato, entre muitos outros, confirma quanto aquela criança possuía uma alma
séria e contemplativa, e a alta vocação para a qual era chamada. Sentia em si
um ardente desejo de se tornar religiosa, mas só à piedosa mãe confidenciava
seus infantis anelos. Esta a compreendia e estimulava, prometendo-lhe,
chegada a hora, conduzi-la pessoalmente ao convento. Contudo, logo veio a
falecer, deixando a pequena nas mãos do pai e de uma madrasta. Eles
continuariam sua educação de modo bem diferente…

Por vias opostas aos desejos de Deus


Virgínia pertencia a uma nobre família de Gênova. Giorgio Centurione, seu pai,
ocupava um alto cargo da República e, estando acostumado a em tudo se guiar
por critérios financeiros e políticos, custava-lhe compreender a vocação religiosa
de sua filha, à qual pretendia unir em matrimônio com um dos partidos mais ricos
da cidade.

A jovem era dócil, generosa e tendente à timidez. Aos quinze anos de idade não
possuía ainda firmeza de alma suficiente para enfrentar a vontade do progenitor,
nem contra-arrestar as artimanhas a que ele recorria para impô-la. Assim,
quando este lhe comunicou estar já com o candidato e a data assentes para o
casamento, Virgínia não pôde senão acatar a determinação paterna envolta num
doloroso pranto.

No dia marcado, antes de se dirigir à igreja, foi se despedir do Crucificado diante


do qual tanto rezara parecendo-lhe ouvir que a queria toda para Si. Desta vez,
entretanto, escutou claramente dos seus lábios uma severa repreensão:
“Virgínia, tu Me deixas por um homem!”
Foi o início de um doloroso calvário. Deus queria transformar sua débil índole de
pomba na de um destemido leão, disposto a lutar pela glória de sua causa. A
angústia e a aflição por ter traído o chamado divino, para percorrer vias a ele tão
opostas, não se afastavam do seu espírito. Somou-se a isto o aparente
abandono que o Céu lhe fazia experimentar…

Cinco anos de matrimônio


Gaspar Bracelli, seu marido, passava o tempo em festas e jogatinas. Nos longos
dias em que a deixava sozinha em casa, Virgínia encontrava conforto diante de
seu Bom Jesus. Suplicava-Lhe que perdoasse suas misérias, a tornasse uma
filha sem mancha e a fizesse, por fim, cumprir sua missão.

Ora, transcorridos cinco anos de matrimônio, fruto do qual nasceram duas filhas
– Lélia e Isabel –, Gaspar contraiu uma tuberculose que o levou à morte em
poucos dias. Virgínia obteve-lhe a graça dos derradeiros Sacramentos e ele
rendeu sua alma em paz com Deus.

Giorgio Centurione quis aproveitar a situação para obter mais um casamento


brilhante para sua filha. Entretanto, ao apresentar-lhe a proposta recebeu a mais
categórica das negativas. E, como continuasse insistindo com ameaças e
lisonjas, Virgínia cortou sua linda cabeleira em sinal de rotura definitiva com o
mundo e entrega perpétua nas mãos de Deus.

Naquele período, Nosso Senhor tinha forjado a alma da jovem com o fogo do
sofrimento, dando-lhe, ao mesmo tempo, graças de seriedade e fortaleza de
espírito que a fariam carregar as pesadas cruzes e enfrentar os obstáculos que
dali em diante haveria de lhe mandar. Deus amava a missão de Virgínia e a
levaria a pleno cumprimento.

As comunicações celestes, então, regressaram. Passava horas em colóquios e


êxtases com seu Senhor Jesus e com Maria Santíssima. As amigas que iam
visitá-la viam-se com frequência obrigadas a aguardar longo tempo enquanto ela
permanecia rezando no seu oratório, mas amenizavam a espera observando-a
secretamente pelas frestas, edificadas com seu profundo recolhimento.

À espera de um sinal da Providência


Naquela época, Virgínia vivia com a sogra, sem o auxílio de criadas, e seguindo
regras, costumes e horários mais próprios a um convento. Estava à espera de
um sinal claro da Providência, que lhe mostrasse as vias a seguir. Em certo
momento, porém, o ambiente mudou radicalmente em Gênova. A rica e
despreocupada cidade passava por terrível aflição: franceses e piemonteses
haviam-se coligado para conquistá-la!

Enquanto na capital se multiplicavam os jejuns, Confissões e procissões com o


Santo Sudário e a relíquia de São João Batista, trinta mil soldados inimigos se
aproximavam dela. Aldeias e povoados eram devastados, obrigando milhares de
crianças e anciãos a procurar refúgio em Gênova.

Com a ajuda de outros nobres, Santa Virgínia empenha-se em socorrer os


fugitivos que se aglomeravam nas praças. Urge naquele terrível momento o
auxílio material, e urge mais ainda fazer cessar as graves e imorais
consequências a que tal calamidade expunha a cidade. “Ei-la atenta em cortar
abusos, em reorganizar famílias, em legitimar uniões, em impedir as profanações
das igrejas, em reconduzir à observância os santos asilos”.

Afastado o perigo da invasão, Virgínia passou em revista a cidade inteira,


ordenando tudo, preocupada pela formação espiritual daquelas almas
abandonadas, especialmente pela das crianças. Com diligência buscava as
ovelhas: fortificava a boa, curava a machucada, orientava a transviada. A
despeito do empenho com o qual realizava esse labor caritativo, sabia não ser
este o caminho que a Providência lhe havia traçado…

O Refúgio do Monte Calvário


Por anos inteiros Santa Virgínia rezou a jaculatória “emitte lumen tuum – enviai
a vossa luz”, para que lhe fosse revelada sua vocação. Havendo falecido a sogra
e tendo-se casado as filhas, numa tarde de inverno estava recolhida em oração,
quando ouviu sob sua janela o pranto de uma menina.

Ao ser avisada pela criada que se tratava de uma criança abandonada em


consequência da guerra, decidiu acolhê-la. Movida pela voz de Deus que ouvira
claramente no seu interior, abraça com emoção a pobrezinha, veste-a, aquece-
a e lhe diz: “Ficarás comigo e serás minha filha”. Tinha início assim a primeira
família espiritual de Santa Virgínia.

Pouco tempo depois, acolhe outra menina; mais tarde, uma terceira. Em breve
chegam a quinze, e não demora muito em ter de deixar a casa familiar para
transladar-se ao Mosteiro do Monte Calvário, que havia sido construído trinta
anos antes pelos franciscanos reformados.
A ele chegou em solene procissão, acompanhada de quarenta filhas. Dirigiram-
se em primeiro lugar à igreja onde, bem junto ao tabernáculo, consagrou a nova
obra ao Rei dos reis. Pediu-lhe que não a deixasse inacabada, assistindo-a com
profusão de graças, para que dali saíssem almas que verdadeiramente O
amassem.

“De cada filha formai uma flor e uma gema”, suplicou. “Quanto a mim, eis-me:
aceitai o sacrifício que Vos faço de mim mesma, e sabei que eu não terei mais
nem pensamentos nem vida, senão para estas filhas que me coroam, e para
quantas vierem”.

Estava fundada a obra de Virgínia Centurione Bracelli: um refúgio para as almas


que buscavam a Deus e precisavam de proteção. Havia sido dado o primeiro
passo para as futuras congregações das Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no
Monte Calvário, e das Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário.

Inicia-se a vida religiosa em Carignano


No Refúgio do Monte Calvário aquelas meninas deviam encontrar, além de uma
solução para suas carências materiais, amparo para sua santificação e salvação,
pois muitas delas eram chamadas pela Providência a dedicar suas vidas a Cristo.
Foi visando essa finalidade que Virgínia delineou os horários e as regras,
idealizou os uniformes e hábitos.

Logo a obra deitou raízes fecundas e fez-se necessário abrir mais casas. Em
Monte Calvário e outros lugares ficaram as jovens que não sentiam em si a
vocação religiosa; para Carignano foram apenas aquelas que desejavam levar
uma vida austera e regrada. Estas, por recomendação de Frei Matias Boroni,
sacerdote capuchinho que se tornou diretor do Refúgio, seguiam a regra dos
terciários franciscanos, sem votos, mas prometendo obediência aos seus
superiores. Adotaram como vestimenta o hábito das clarissas e, assim, “de
‘virgens seculares’ passariam a ser religiosas, e consagradas a Deus”.

Tudo em Carignano fluía dentro de uma disciplina envolta em piedade e trabalho.


Para as almas se abrasarem no amor a Deus, desejava Virgínia que as
cerimônias litúrgicas fossem ornadas com ricas alfaias e paramentos, e
revestidas de perfeição e esplendor. Frequentar o Refúgio levava a saborear as
doçuras do Céu, ser convidado a mudar de conduta ou se afervorar ainda mais.

Mas, além de fomentar a vida espiritual de suas filhas com Adorações ao


Santíssimo Sacramento, orações em conjunto, preferencialmente o Rosário,
cerimônias em honra a Nossa Senhora e reuniões sobre temas espirituais, Santa
Virgínia também as educava no trabalho.

Tinha bem presente a máxima beneditina ora et labora e o benefício para a vida
espiritual de manter-se ocupada. Enquanto a oração revigora o interior, o
trabalho ordena o exterior. Este forma a pessoa na seriedade e no domínio de
suas paixões; quem cede ao ócio está entregue às tentações do demônio e às
solicitações da concupiscência.

Piedade profunda e exemplar


A vida espiritual da fundadora servia de meta, modelo e exemplo para suas
filhas. Acostumaram-se a vê-la em diários e profundos êxtases, e a perceber
como, no momento de receber a Comunhão, o seu rosto tornava-se
resplandecente e suas faces se abrasavam.

Recorria com assiduidade ao Sacramento da Reconciliação, até duas vezes ao


dia, o que levava seu confessor dizer-lhe apenas: “Vá comungar para a maior
glória de Deus”. Ele era mais propenso a dar-lhe bênçãos a absolvições, pois
julgava não haver matéria para tal.

De contínuo conversava com Nossa Senhora e Lhe pedia luzes, conselhos e


direção para tudo quanto fazia. D’Ela recebia instruções e até revelações, pois
possuía um forte vínculo com a Rainha dos Céus, que procurava transmitir e
estender a todos os que com ela conviviam. Nem no leito de morte deixou de
incentivar a devoção a Ela.

Vítima da fúria dos infernos


Ora, se Santa Virgínia obteve êxitos em sua vida apostólica, se atingiu alto grau
de santidade, isto se deveu à sua íntima união com Jesus, Cordeiro Imolado. “A
crucificada fez seu o espírito do Crucificado, e nada, atualmente, lhe é mais caro
que a Cruz. Esta se tornou o seu trono, a sua luz, a sua alegria, a sua felicidade”.

Chegado o fim da sua existência, Nosso Senhor reservou, para quem assim se
oferecia como vítima, uma cruel imolação. Prostrada num leito de dores por uma
terrível moléstia, com febre alta, sofria acessos tão violentos, que os
circunstantes foram obrigados a amarrá-la na cama com fitas de couro, as quais
muitas vezes ela rompia…
Assaltava-a a fúria dos infernos, os demônios martirizavam-na sem cessar. Nas
horas de tranquilidade era acometida por abatimentos e angústias, sentindo-se
totalmente abandonada pela Providência, inutilizada, liquidada.

Além das investidas diabólicas, teve de padecer as penas do Purgatório e foi


conduzida até as portas do inferno. Sofreu o calor das chamas eternas e chegou
a encontrar ali certos conhecidos, mortos ou ainda vivos… Visões pavorosas a
oprimiam e amedrontavam tanto que, ao voltar a si, o único brado que lhe saía
dos lábios era: “Senhor, misericórdia!”

Durante tais visões, pronunciava frases das quais os presentes não conseguiam
compreender o alcance, fazendo-os concluir que era algo relacionado com o
futuro da Igreja e do mundo. Infelizmente essas revelações não ficaram
registradas nas páginas da História, apenas no livro da vida…

A consumação do sacrifício
Em dezembro de 1651, Virgínia enfrentava a dor com o ânimo dos mártires, com
a fortaleza dos cruzados e, sobretudo, com a calma e a serenidade de seu
Senhor crucificado. Nunca deixava escapar uma queixa e sempre procurava,
pelo contrário, fazer o bem aos que a circundavam. Rogava por cada um e pedia
perdão a todos.

Sua doença foi consumindo-a paulatinamente. Prevendo que morreria antes do


Natal, dizia a suas filhas espirituais: “Que júbilo experimentaria se fosse assistir
lá em cima aos preparativos que os Anjos e os Santos fazem para o nascimento
do Redentor!” E na festa da Imaculada Conceição perguntou a uma delas: “Que
direis se dentro de oito dias nos achássemos no Céu?”

Não se enganara a santa fundadora em seus prognósticos. No dia 15 de


dezembro, oitava da Imaculada Conceição, enquanto suas filhas rezavam as
orações dos agonizantes, seus lábios balbuciaram estas palavras: “Está pronto
o meu coração, ó Deus!… Senhor, eis a minha alma!” E exalou o último suspiro.
Tinha sessenta e quatro anos de idade.

Como o novo mosteiro ainda estava em construção, foi sepultada na Igreja de


Santa Clara. No dia do enterro, seus membros não tinham ficado rígidos, o rosto
permanecia róseo e os lábios esboçavam um sorriso. E, transcorridos cinquenta
anos, o corpo foi exumado ainda flexível e sem deterioração alguma.

Sendo muito numerosas as pessoas que acorriam para venerá-lo, as


autoridades civis mandaram sepultá-lo novamente, desta vez num túmulo muito
úmido, situado em outra igreja. E ao exumar o cadáver tempos depois para
entregá-lo às irmãs do Refúgio, ele estava totalmente mofado. Foi preciso retirar-
lhe o hábito e limpá-lo com cuidado.

Hoje, apesar de deteriorado, o corpo de Santa Virgínia permanece flexível,


revestido com o traje azul que substitui o antigo hábito franciscano. Dele emana
uma singular aura da santidade própria a esta alma de escol, encanto do Deus
Altíssimo!

1 Todas as citações entre aspas foram tiradas da obra: TRAVAERSO, Luigi. Vida e apostolado da Santa

Virgínia Centurione Bracelli. Belo Horizonte: Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Monte

Calvário, 1960.

Testemunhos

Ser escravo: um privilégio!


Testemunhos de variadas partes do Brasil
expressam a gratidão de inúmeras pessoas pelos
benefícios recebidos após a consagração como
escravo de amor a Jesus Cristo, pelas mãos de
Maria.
Adilson Costa da Costa

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos e n’Ele alegremo-nos” (cf. Sl


125, 3). As palavras do salmista bem poderiam expressar o júbilo e a gratidão
de inúmeras pessoas que, por meio de cursos ministrados pelos Arautos do
Evangelho, fazem a sua consagração como escravos de amor a Jesus Cristo,
pelas mãos de Maria.

Quais são, porém, as razões da alegria manifestada por tantos consagrados?


Quais as vantagens de uma tão radical entrega, seguindo o método ensinado
por São Luís Maria Grignion de Montfort no seu Tratado da verdadeira devoção
à Santíssima Virgem?

O mais alto e sublime motivo para fazer tão radical entrega é, sem dúvida, o fato
de Maria dar em troca o que Ela tem de melhor: seu próprio Divino Filho. Não
em vão indica São Luís ser esta devoção “um caminho fácil, curto, perfeito e
seguro para chegar à união com Nosso Senhor, e nisto consiste a perfeição do
cristão”.1

Ora, não satisfeita em revelar essa privilegiada via para se tornar um outro Cristo,
Nossa Senhora ajuda poderosamente a percorrê-la, concedendo aos seus
escravos numerosas prerrogativas, algumas tão excelentes que excedem a
compreensão humana. Em consequência, esta consagração constitui “um meio
admirável para perseverar na virtude e ser fiel”.2

Testemunhos recebidos de variadas partes do Brasil ajudar-nos-ão a conhecer


de forma viva e convincente alguns dos abundantes benefícios espirituais, e até
mesmo materiais, obtidos por aqueles que se entregam como escravos de amor
a Jesus, pelas mãos de Maria.

Ela vai ensinando o que mais agrada a seu Filho


“Meus hábitos de oração foram os primeiros a mudar, pois aprendi que uma vida
sem oração é uma vida vazia”, afirma a capixaba Cleidinéia Vieira Calixto ao
relatar sua experiência após a consagração a Nossa Senhora.

A seguir, acrescenta: “Meu estilo de roupa também mudou, pois antes achava
que o modo de nos vestir não influenciava em nada na nossa vida cristã, mas
aprendi que a modéstia é muito importante e que não é verdade o que o mundo
nos ensina, ‘que tudo é permitido’”.

E, manifestando sua confiança na bondade materna de Maria, conclui: “Depois


da consagração, Nossa Senhora vai falando em nossos corações e ensinando
aquilo que mais agrada a seu Filho Jesus. Devemos entregar nas mãos d’Ela
todas as preocupações cotidianas, pois Ela nunca deixa sem resposta o pedido
de um filho consagrado ao seu Imaculado Coração”.

Força e coragem para enfrentar as dificuldades


Com efeito, sendo a melhor de todas as mães, Maria cuida e alivia as dores de
seus filhos, comunicando-lhes força e coragem para enfrentar a tribulação. E
quantos são os sofrimentos pelos quais passam os degredados filhos de Eva
nesta terra!

Laninha Pelisson Siqueira, depois de um ano de consagrada, declara: “Aprendi


que as provações são para o nosso crescimento e, com o auxílio da nossa Mãe
nas dificuldades, tudo fica mais fácil. Muitas provações surgem em minha vida,
mas graças ao colo acolhedor de Nossa Senhora de Fátima, consigo superá-las.
Já amava Maria antes, mas após a consagração, além de amá-La mais, tenho-
A presente em meu dia a dia através do Santo Terço”.
Esta experiência expressa o que explica São Luís Grignion3 no Tratado: os
servidores de Maria levam suas cruzes com mais facilidade, mérito e glória, pois
Ela as torna doces, como se fossem nozes verdes saturadas de açúcar.

Por isso, Rejane Machado, de Campo Grande, ao testemunhar as graças que a


Mãe de Deus foi derramando na sua família, quando fez a consagração junto
com seu esposo, comenta jubilosa: “Nossa Senhora é maravilhosa, nos coloca
nos braços do seu Filho; temos a imensa vontade de que todas as pessoas
possam conhecer e se consagrar a Nosso Senhor pelas mãos de Maria e aí
sentirem a verdadeira alegria”.

Auxílio nas necessidades materiais


Da mesma forma que Rebeca, com seus cuidados e habilidade, livrou Jacó dos
perigos que o ameaçavam (cf. Gn 27), esta bondosa Mãe jamais cessa de
defender e proteger os seus servos.4 A Santíssima Virgem tem para com eles
um amor cheio de afeição e dispõe-Se a auxiliá-los também em suas
necessidades terrenas.

Estando Joicy de Souza Silva Santana em situação financeira difícil e com o


esposo doente há mais de dez meses, sem um diagnóstico preciso, resolveu
atender ao convite que recebera para participar de um curso preparatório para
consagração a Nossa Senhora, em Vitória (ES). Conta-nos que nas reuniões
aprendeu “a ser mais paciente, ouvir mais e falar menos”, e tornou-se “uma
pessoa mais orante”.

“Sempre acreditei na intercessão da nossa Mãe Maria, mas foi durante o curso
que aprendi a verdadeira devoção a Ela. Isso fez uma diferença enorme em
minha vida”.

Consagrou-se solenemente no mesmo dia em que celebrava o aniversário de


seu matrimônio, e assim relata o primeiro presente recebido da Santíssima
Virgem depois de se tornar sua escrava de amor: “Com as graças de Deus,
poucos dias depois, sob a intercessão de Nossa Senhora de Fátima, meu esposo
obteve o diagnóstico de sua doença. Ele ficou internado durante sete dias e hoje
se encontra totalmente curado”.

Também Nádia Maria Manhães Guimarães Freire, de Campos dos Goytacazes


(RJ), experimentou a especial proteção de Nossa Senhora, desta vez durante o
período em que realizava o curso preparatório para a consagração na
comunidade dos Arautos do Evangelho dessa cidade.
Ela, sua filha e duas amigas estavam retornando do Rio de Janeiro, quando seu
automóvel derrapou devido a forte chuva na estrada, com risco de se chocar com
outros veículos. Inspirada, fez internamente uma oração pedindo que nada
ocorresse, e o carro se estabilizou, sem que houvesse nenhuma colisão.

Agradecida pelo amparo celeste, comenta: “Eu senti fortemente a presença de


Nossa Senhora e isto me confirmou que estava no caminho certo. É Ela quem
me daria o livramento também em todas as outras situações difíceis que estava
passando”.

“Tenho a honra de ser toda de Nossa Senhora”


Encantada pelos temas apresentados por São Luís no Tratado, Rosilene
Quadros Souza Amorim iniciou um novo capítulo de sua existência e devoção a
Maria após o curso de consagração feito em Salvador (BA): “Passei por uma
transformação espiritual na minha vida pessoal, familiar e cristã. Tudo mudou!
Comecei a rezar o Terço todos os dias e a frequentar as Missas. Faço parte da
equipe litúrgica e da Pia União de Santo Antônio na minha comunidade, estando
sempre presente em obras sociais. Hoje, como cristã praticante, eu tenho a
honra de ser toda de Nossa Senhora”.

E, como nota distintiva de sua entrega, ressalta uma das práticas particulares
dos verdadeiros consagrados à Mãe Celeste: “Ó Rosário bendito de Maria, doce
cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, salve
Maria”.

Ainda da capital baiana chegam as expressivas palavras de Carlos Augusto dos


Reis a respeito do aprendizado no curso preparatório: “Foram-me passados
muitos conhecimentos sobre a Igreja Católica, e isto só veio acrescentar e
aumentar mais a minha fé. Já consagrado, estou consolidando e aprofundando-
os, crescendo cada vez mais no meu amor à Igreja Católica, a Nossa Senhora e
a Nosso Senhor Jesus Cristo. Agradeço aos Arautos pelos conhecimentos
adquiridos e pela minha consagração a Jesus pelas mãos de Maria”.

Carregados no colo por Maria Santíssima


Atirar-se até esconder-se e se perder de um modo admirável no regaço maternal
da Santíssima Virgem, para aí ficarem abrasados de amor, se purificarem das
menores manchas e encontrarem plenamente a Jesus, eis ao que a graça move
os consagrados a Nossa Senhora, como nos afirma o casal Everton Luiz e Liliane
Perucci, ao narrar as mudanças operadas por Maria em suas vidas.
Sofrendo por ver seu filho doente e sem sucesso no tratamento médico, pediram
com muita fé o auxílio d’Ela, sendo prontamente atendidos: “Fomos a uma Missa
nos Arautos do Evangelho em São Carlos (SP) por uma insistência de nossa
filha – mas sem conhecer a totalidade desta obra – e desde então nosso filho,
sem precisar de nenhum remédio, tornou-se uma criança mais calma,
disciplinada e empenhada nos estudos apesar de todas as dificuldades”.

O casal Perucci também admite: “No entanto, o estopim de nossas vidas se deu
após a concretização de nossa consagração a Jesus Cristo através de Maria, no
dia de Nossa Senhora das Dores, com a consciência de que queremos carregar
nossas cruzes e sofrer para, com mérito, alcançarmos a nossa salvação!” E
reconhecem que só conseguirão progredir na virtude com o auxílio da Mãe
Santíssima, que sempre os levou pela mão, mas após a consagração os carrega
no colo.

Sinal de estar seguindo o caminho certo


Da capital paranaense, Rogério Peixoto narra seu encontro com os Arautos, a
partir das primeiras vezes em que sua esposa e ele foram assistir à Missa na
casa da instituição, até a consagração a Nossa Senhora: “Hoje posso dizer que
tudo na nossa vida melhorou muito. Nosso matrimônio chegou à maturidade e
meus filhos pequenos rezam conosco diariamente o Terço. Tornamo-nos
esquisitos para o mundo aí fora – o que nos deixa de certa forma bastante felizes,
pois é o sinal mais pungente de que estamos no caminho certo”.

De fato, ensina São Luís no Tratado que “os réprobos, finalmente, em segredo
ou às claras, odeiam e perseguem diariamente os predestinados. Prejudicam-
nos quanto podem, desprezam-nos, roubam-nos, enganam-nos, reduzem-nos a
pó; enquanto eles mesmos fazem fortuna, gozam de seus prazeres, vivem em
situação esplêndida, enriquecem, se engrandecem e levam vida folgada”.5

Ciente dessa realidade, Rogério conclui: “Temos muito que crescer


espiritualmente, mas agora sabemos que existe a graça de Deus e que a
santidade depende da atuação dela. Maria Santíssima nos trouxe até aqui e Ela
não deixará o trabalho incompleto, rumo à união com Nosso Senhor Jesus
Cristo”.

Verdadeiro modelo a ser seguido


Todo avanço na vida espiritual é obra do Espírito Santo. É Ele quem conduz à
perfeição as almas, fazendo-as progredir de virtude em virtude, de graça em
graça e de luz em luz, para que cheguem a transformar-se em Jesus Cristo.6
Mas para Ele nos obter essa tão anelada união é preciso recorrermos à
misericordiosa intercessão da Mãe de Deus.

É o que relata Lidiane Cristina Rocha, de Recife (PE): “Fiz o curso de


consagração a Nossa Senhora na Sede dos Arautos do Evangelho e foi por
intermédio dele que descobri cada vez mais a beleza da Santa Igreja. O amor a
Nosso Senhor foi crescendo em mim. Passei a ir às Missas dominicais, mas
depois comecei a assistir à Missa diariamente. Aumentei a frequência às
Confissões e passei a rezar mais”.

E complementa: “Também comecei a ver Nossa Senhora como verdadeiro


modelo a ser seguido. Em muitos momentos procuro pensar: ‘Será que Nossa
Senhora frequentaria determinado lugar?’ Se a resposta for positiva, tudo bem,
mas senão, procuro evitar. Assim também procedo no que diz respeito aos
hábitos, conversas, amizades, tipos de lazer, roupas… Fui buscando usar
roupas mais modestas e procuro passar esse modo de ser e agir para minhas
filhas. Peço a Nossa Senhora a graça de ser uma santa mãe e que minhas filhas
sigam meus exemplos muito mais que minhas palavras”.

Maria não Se deixa vencer em generosidade


Estes testemunhos, dentre muitos que poderiam ser citados, vindos de outros
países e estados do Brasil, ilustram quanto a consagração a Jesus Cristo por
meio de Maria Santíssima faz crescer espiritualmente as almas e as coloca sob
sua especial proteção.

É bem verdade que esta devoção exige nos abandonarmos completamente nas
mãos de Maria, e assim o realça a própria fórmula composta por São Luís:
“Entrego-Vos e consagro-Vos, na qualidade de escravo, meu corpo e minha
alma, meus bens interiores e exteriores, e até o valor de minhas obras boas
passadas, presentes e futuras, deixando-Vos direito pleno e inteiro de dispor de
mim e de tudo o que me pertence, sem exceção, a vosso gosto, para a maior
glória de Deus, no tempo e na eternidade”.7

Mas, oh maravilha! Como afirma o Tratado, “Maria Santíssima, porque é a mais


honesta e a mais generosa de todas as puras criaturas, não Se deixa vencer
jamais em amor e liberalidade. E por um ovo, diz um santo homem Ela dá um
boi, isto é, por pouco que Lhe demos Ela dá mais do que recebeu de Deus”.8
Que venha o Reino de Maria!
Nestes dias em que a humanidade se encontra num extremo de
degenerescência, Nossa Senhora deseja ser mais generosa do que nunca para
com os seus filhos e, sobre aqueles que assim se entregam a Ela, derrama
graças abundantíssimas, prenunciadoras do momento em que seu Imaculado
Coração triunfe em toda a terra, conforme Ela mesma predisse em Fátima.

Por intercessão de Maria realizou-se o milagre das bodas de Caná. De forma


análoga, “pelas onipotentes súplicas da Virgem Santíssima, haverá uma
transmutação, uma imensa volta das almas arrependidas para os valores
eternos da Fé Católica”, na qual “a água se transformará em vinho excelente, o
melhor vinho da História”.9 E o nosso mundo, tão pecador, transformar-se-á
naquele Reino de Maria cuja grandeza São Luís Grignion de Montfort descreveu
profeticamente, em ardorosas palavras. Que venha o Reino de Maria nos
corações e que ele seja estabelecido sobre a face da terra!

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem,

n.152. 28.ed. Petrópolis: Vozes, 2000, p.145.

2 Idem, n.173, p.168.

3 Cf. Idem, n.154, p.148.

4 Cf. Idem, n.210, p.201-202.

5 Idem, n.190, p.182-183.

6 Cf. Idem, n.119, p.118.

7 Idem, p.282.

8 Idem, n.181, p.175-176.

9 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 29 jan. 1967.

Peru – Por ocasião do dia 13 de outubro o Núncio Apostólico no Peru, Dom


Nicola Girasoli, presidiu a Eucaristia celebrada em honra a Nossa Senhora de
Fátima. Concelebraram o pároco e diversos sacerdotes Arautos. Após a homilia,
todos se ajoelharam e fizeram um breve ato de consagração a Nossa Senhora.

Estados Unidos – Cento e quinze fiéis se consagraram solenemente à Virgem


Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, na Paróquia
de São Justino Mártir, em Houston. O curso preparatório foi ministrado por
Cooperadores dos Arautos do Estado do Texas.

Equador – Centenas de fiéis acorreram à Catedral de Guayaquil para participar


da Missa pelo 101º aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima,
presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Luis Cabrera, OFM. Terminada a
Eucaristia, os participantes percorreram em procissão as ruas do centro da
cidade.

Portugal: Arcebispo Primaz preside


cerimônia no Sameiro

Mais de dois mil e quinhentos fiéis de diferentes dioceses de Portugal reuniram-


se na cripta do Santuário do Sameiro, nos arredores de Braga, para renovarem
de maneira solene a Consagração à Virgem Maria, no 101º Aniversário da última
aparição de Nossa Senhora em Fátima.

A cerimônia foi marcada pela entronização e coroação da Imagem Peregrina do


Imaculado Coração de Maria, e culminou na Eucaristia presidida por Dom Jorge
Ortiga, Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, e concelebrada por
sacerdotes dos Arautos do Evangelho.

México – Na Catedral Metropolitana da Cidade do México, centenas de fiéis se


reuniram para uma solene Eucaristia celebrada por Mons. Luis Manuel Pérez,
Cônego da Catedral, e concelebrada pelo Pe. Álvaro Mejía, EP. A seguir, foi
rezado um terço processional pelas principais ruas da cidade.

Novo Oratório, nova vitória de


Maria!
O ão vos enganeis, meus caríssimos irmãos. Todo dom precioso e toda dádiva
perfeita vêm do alto, e desce do Pai das luzes” (Tg 1, 16-17). Com estas palavras
São Tiago Apóstolo deixa consignado em sua epístola um princípio sobrenatural
que bem ilustrou, norteou e tornou plena a alegria dos que acorreram à solene
cerimônia de dedicação do altar de mais um Oratório dos Arautos do Evangelho,
desta vez em Nova Friburgo (RJ).

Com a bênção do pastor


No último dia 13 de outubro, Dom Edney Gouvêa Mattoso, Bispo Diocesano de
Nova Friburgo, presidiu a solene dedicação do altar e bênção do Oratório Nossa
Senhora de Fátima.

A celebração contou ainda com a participação do Vigário Geral da Diocese, Pe.


Marcus Vinicius Macedo, e diversos presbíteros diocesanos, além de alguns
sacerdotes dos Arautos do Evangelho, entre os quais o Pe. Walmir Bortoletto,
EP, Vigário Geral da Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli,
e o Pe. Lourenço Ferronatto, EP, diretor dos Arautos em Nova Friburgo e
cerimoniário-mor da cúria diocesana. Desta forma, com a bênção do pastor, para
a maior glória de Deus, este verdadeiro estandarte da vitória de Maria ficou
cravado para todo o sempre nas montanhas friburguenses.

Ritual cheio de beleza e significado


Mais de quinhentas pessoas participaram da cerimônia litúrgica e
acompanharam passo a passo o belíssimo Ritual da Dedicação.

Coube a Dom Edney, abençoar o altar derramando óleo sobre ele (foto 1) e
presidir a Solene Concelebração (foto 2). No fim, ele felicitou com um forte
abraço o Pe. Lourenço Ferronatto, EP (foto 3). Jovens do setor feminino, muito
florescente na cidade, fizeram o cortejo das oferendas (fotos 4 e 5). E um telão
teve de ser instalado num recinto anexo para que pudessem acompanhar a
cerimônia aqueles que não tinham lugar no interior do local (foto 6).

Aconteceu na igreja e no Mundo


Diocese de Paracatu inaugura Adoração Eucarística na
catedral
A Diocese de Paracatu tem sido particularmente abençoada por Deus pela
assinalada piedade eucarística de muitos dos seus fiéis. Desde o dia 13 de maio
de 2016, um fervoroso grupo deles vem realizando diariamente uma Adoração
ao Santíssimo Sacramento na Capela São Pedro Julião Eymard, pelo período
de doze horas.

A Adoração se inicia às 6:30h com uma Missa presidida pelo Bispo, Dom Jorge
Alves Bezerra, SSS – qualificado por uma das adoradoras de “profundo
incentivador e promotor da vida orante, fraterna e servidora” –, e se encerra no
fim da tarde.

Tendo ficado pequena a antiga capela para acolher todos os fiéis, desde o dia 2
de outubro a Adoração está sendo feita na Capela do Santíssimo da Catedral de
Santo Antônio, bem maior que o local anterior.

Relíquia de São Pio de Pietrelcina nas Filipinas


De acordo com os dados publicados pela imprensa local, cinco milhões de
filipinos veneraram o coração incorrupto de São Pio de Pietrelcina durante as
três semanas de peregrinação pelas cidades de Manila, Cebu, Davao e Lipa,
entre os dias 6 e 26 de outubro. Trata-se de uma afluência de pessoas sem
precedentes na história da Igreja Católica nas Filipinas, país que, entretanto,
brilha pelas suas multitudinárias manifestações de fé.

Inglaterra redescobre o Rosário


Para comemorar o mês de outubro, tradicionalmente dedicado ao Santo Rosário,
os sacerdotes da Diocese de Liverpool, Inglaterra, foram incentivados por seu
Arcebispo, Dom Malcolm McMahon, OP, a estimular entre os fiéis a recitação
diária do Terço. Para isso, deveriam explicar nas homilias os benefícios dessa
devoção e o modo de praticá-la, lembrando ser possível rezar o Rosário em
qualquer momento do dia, até mesmo durante uma caminhada ou enquanto se
espera num ponto de ônibus.

Cabe destacar também outras iniciativas em prol do Terço promovidas


recentemente na Inglaterra, como a Cruzada do Rosário em Londres, ocorrida
no dia 13 de outubro, durante a qual duas mil pessoas o rezaram
processionalmente nas ruas adjacentes à Catedral de Westminster, e o Rosário
de Costa a Costa, que reuniu mais de dez mil católicos no mês de abril.

O incentivo à recitação do Santo Rosário se insere também nos preparativos


para se renovar a consagração da Inglaterra como “Dote de Maria”, a ser
realizada em 2020 no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Walsingham.
Essa consagração é conhecida no Reino Unido desde o século XI.

Simpósio sobre canonização da Rainha Isabel de Castela


Entre os dias 15 e 19 de outubro, foi realizado na cidade de Valladolid, Espanha,
o simpósio internacional Isabel, a Católica, e a Evangelização da América.
Organizado pela comissão que promove a canonização dessa piedosa rainha
espanhola, o congresso teve como ponto central a consideração das suas
virtudes e sua exemplaridade na Fé.
Valladolid foi escolhida como sede por ser o local onde Isabel faleceu. Nessa
arquidiocese teve início, em 1958, o processo de beatificação, cuja fase
diocesana se concluiu em 1972.

Escolas católicas se destacam pela qualidade nos Estados


Unidos
Em cerimônias realizadas nos dias 7 e 8 de novembro, a Secretária de Educação
dos Estados Unidos, Betsy DeVos, outorgou o prêmio de excelência na
educação aos melhores estabelecimentos de ensino do país, sendo galardoadas
trezentas escolas públicas e quarenta e nove privadas. Destas últimas, quarenta
e quatro são escolas católicas.

Os colégios católicos escolhidos se encontram em dezessete dioceses de treze


estados americanos. O presidente da National Catholic Educational Association,
Thomas W. Burnford, comentou: “Como as escolas católicas trabalham juntas
na missão comum de integrar conhecimento e fé na vida dos jovens, a honra de
ter recebido o National Blue Ribbon Schools confirma a excelência desse
trabalho e distingue essas escolas como comunidades notáveis”.

O reconhecimento National Blue Ribbon Schools se baseia no desempenho


acadêmico e progresso contínuo na qualidade de ensino. Este é o 36º ano que
o evento ocorre.

Site promove e explica a consagração a Maria


Um novo site dedicado a promover a consagração a Nosso Senhor Jesus Cristo
pelas mãos de Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort,
acaba de ser lançado na internet. Seu endereço é: https://www.matercoeli.com/.

Nele são apresentadas informações básicas sobre o Tratado da verdadeira


devoção à Santíssima Virgem, escrito pelo santo francês no século XVIII, e sobre
os motivos que levam a realizar essa consagração. Fornece também, após ter
se escolhido a data para realizá-la, um curso de trinta e três dias, durante os
quais são enviados diariamente orações e textos preparatórios por e-mail. Por
enquanto, só está disponível em espanhol.

Círio de Nazaré reúne milhões de brasileiros


Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social
do Pará, mais de dois milhões e meio de fiéis participaram neste ano das duas
principais procissões do Círio de Nazaré. Na procissão da noite de sábado, dia
13 de outubro, 1,3 milhão de pessoas acompanharam a passagem da berlinda
que conduz a imagem de Maria Santíssima; no domingo, verificou-se a presença
de 1,16 milhão de fiéis.

Instituído no ano de 1793 em Belém do Pará, o Círio de Nossa Senhora de


Nazaré é uma das maiores manifestações de devoção mariana de todo o mundo.
Costuma congregar mais de dois milhões de participantes. Durante os dias
prévios, são celebradas vigílias e diversas romarias rodoviárias e fluviais.

Mais uma capela de Adoração


Perpétua em Valência
No dia 21 de outubro, foi inaugurada mais uma capela de Adoração Eucarística
Perpétua no Mosteiro do Santo Sepulcro, na cidade de Alcoi, Espanha. É a sexta
do gênero erigida na Arquidiocese de Valência.

A Missa inaugural foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Cardeal Antonio


Cañizares Llovera, na vizinha Igreja de São Mauro e São Francisco. Ato
contínuo, o Santíssimo Sacramento seguiu em procissão até o mosteiro, sendo
acompanhado por autoridades civis e militares, e saudado ao longo do caminho
pelo repicar dos sinos das igrejas. Na chegada à nova capela, foi dada a bênção
eucarística e iniciou-se a Adoração Perpétua.

Os turnos de Adoração estão sendo organizados e supervisionados pelas


Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, instituto pertencente à Família
Religiosa do Verbo Encarnado, que desde janeiro deste ano assumiu o histórico
mosteiro de freiras agostinianas.

Vaticano publica documentário


sobre milagres eucarísticos
Sob os auspícios do Dicastério para a Comunicação, foi apresentado no dia 30
de outubro, na Filmoteca Vaticana, um documentário intitulado Sinais. Nele são
narrados alguns milagres eucarísticos aprovados pela Igreja e bem estudados
do ponto de vista médico, entre os quais os ocorridos recentemente em Buenos
Aires e nas cidades polonesas de Sokolka e Legnica, bem como o acontecido
no século VIII em Lanciano, na Itália.
O trabalho chama a atenção para a diversidade de lugares onde os milagres se
deram, e recolhe declarações de habitantes desses locais, tanto sacerdotes
quanto leigos, ressaltando o fato de eles terem se tornado centros de
peregrinação e o aumento da fé propiciado por esses prodígios.

No filme são apresentadas análises médicas que revelam dados tão


significativos quanto tratar-se de sangue humano do tipo AB, ou corresponder a
células de miocárdio humano o fragmento de tecido entregue ao laboratório sem
revelar sua origem.

O documentário foi inspirado pela devoção eucarística de Carlos Acutis, jovem


falecido em 2 de outubro de 2006, que se dedicou a recolher e publicar notícias
sobre milagres ocorridos com o Santíssimo Sacramento.

História para crianças... ou adultos cheios de fé?

O órfãozinho e a marquesinha
Ao vê-lo a menina pensou: “Pobrezinho! Certamente
está com fome… Mas, o que terá acontecido? Será
que ele fugiu de casa e veio se esconder aqui?! Será
talvez um órfãozinho? Em qualquer caso, é preciso
ajudá-lo!”
Ir. Teresinha Karina Lorayne Herdy Cobiceiro Zebendo, EP

Ao contemplar as colinas cobertas por um manto branco, tudo na natureza


parecia cantar o solene dia que ia começar: 25 de dezembro! Mas, o que estava
acontecendo? Era já quase meia-noite e não se ouvia tocar os sinos da matriz
convocando os fiéis para a Missa do Galo…

Naquele ano, muitas igrejas foram fechadas, saqueadas ou até queimadas em


toda a França. Reinava a tristeza no país, e o suave júbilo emanado da paisagem
não parecia harmonizar-se com a soturna atmosfera daquele povoado, cujos
habitantes estavam impedidos de comemorar o nascimento do Homem-Deus. O
Natal só podia ser celebrado às escondidas, sem Missa e sem cânticos, pois
muitos sacerdotes zelosos haviam sido martirizados…
Entretanto, bem longe de Paris, às margens do Rio Loire, a situação era um
pouco diferente. No castelo da família La Roche, o marquês e sua esposa
dispunham-se a festejar o nascimento do Menino Deus, bem como o de Thérèse,
sua herdeira. Ela viera ao mundo três anos antes, exatamente no dia de Natal.
Logo foi consagrada a Jesus Menino por sua mãe e recebeu como presente uma
imagenzinha do Divino Infante.

Passou-se algum tempo sem que o nobre casal fosse incomodado por praticar
sua Fé, mas certo dia um ruidoso bando de malfeitores começou a se fazer ouvir
nas proximidades… Tomando rapidamente Thérèse nos braços, a marquesa se
dirigiu ao salão junto com seus familiares, pronta a enfrentar os invasores. E
prevendo o destino que a esperava, encomendou a uma de suas criadas o
cuidado de sua filha.

Em poucos minutos a confusão tomou conta do castelo. Quebrando tudo o que


havia pelo caminho, os agitadores chegaram até o lugar onde todos se reuniram.
Em prantos e apertando fortemente contra o peito a imagem do Menino Jesus,
Thérèse jogou-se no colo de sua mãe.

Inseguros e furiosos diante da dignidade daquela família, os bandidos


arrancaram a pequena dos braços da marquesa e a lançaram nas mãos de uma
das domésticas, dando-lhe ordem de levá-la embora. Para a menina era a
despedida: seus pais dali seriam conduzidos à guilhotina.

Marie, a criada incumbida de cuidar da criança, não resistiu. Temendo sofrer a


mesma sorte, optou por se acomodar aos ditames da Revolução. Casou-se com
um ateu e mudou o nome de Thérèse para Jane, a fim de apagar qualquer indício
de sua ancestralidade.

Corriam os anos e a menina, criada por seus pais adotivos num ambiente alheio
a qualquer prática religiosa, sentia na alma um vazio que a impelia a procurar
avidamente uma realidade superior…

Havia no sótão da casa um misterioso baú, no qual Jane estava proibida de


mexer. Certo dia em que se encontrava sozinha, ela decidiu abri-lo… E qual não
foi sua surpresa ao encontrar no seu interior um Menino vestido com roupas
belíssimas! Era a imagem que seus pais lhe deram por ocasião do Batismo, da
qual havia perdido toda lembrança. Marie ali a ocultara receosa de que alguém
a profanasse e mais receosa ainda de que seu marido a descobrisse.
Ao vê-la, a marquesinha pensou: “Pobrezinho! Certamente está com fome…
Mas, o que terá acontecido? Será que ele fugiu de casa e veio se esconder aqui?!
Será talvez um órfãozinho? Em qualquer caso, é preciso ajudá-lo!”

Retirou-o do baú, sentou-o numa mísera cadeira, ofereceu-lhe um pouco de leite


quente, perguntando:

— Qual é o seu nome?

Tomando vida, a imagem lhe respondeu:

— Meu nome é Jesus. E o seu?

— Jane. Mas, por favor, conte-me como você foi parar neste baú…

— A história é muito longa. Fui dado como presente de Batismo à filha de uma
família de marqueses, mas ela ficou órfã e nós dois fomos entregues aos
cuidados de uma criada. Já faz quatro anos que isso aconteceu…

Quando ia indagar mais sobre a tal menina, Jane ouviu a voz de Marie entrando
na casa e guardou rapidamente o Menino no móvel.

No dia seguinte, sem saber muito bem por que, Jane teve a ideia de oferecer-
Lhe um bom jantar. Era um 24 de dezembro.

À meia-noite, quando todos na casa dormiam, ela dirigiu-se pé ante pé até o


sótão, abriu o baú e disse baixinho:

— Jesus, venha! Hoje você terá um jantar especial!

O Menino saltou ao pescoço dela e contemplou encantado as singelas iguarias


que Jane tinha conseguido reunir para homenageá-Lo. E, enquanto comia,
desvendou os mistérios do seu passado. Contou-lhe quem haviam sido seus
pais, revelou-lhe seu verdadeiro nome, explicou-lhe que ela também viera ao
mundo num 25 de dezembro, e, para finalizar, entoou a melodia de uma
conhecida música natalina que fez surgir no coração de Thérèse vivas
lembranças da sua primeira infância.

Ao amanhecer, Marie percebeu que Jane estava muito pensativa, mas não deu
maior importância e saiu para fazer algumas encomendas. A pequena aproveitou
para subir ao sótão e se encontrar com o Menino Jesus, que lhe perguntou:
— Quereis ir para o Céu comigo?

— Claro que sim! – respondeu – O que preciso fazer?

Conversaram brevemente e, a seguir, Thérèse saiu pelas ruas da cidade


levando-O em seus braços enquanto cantava músicas natalinas. Vendo-a,
muitos habitantes do povoado choraram, pois nem os mais valentes tinham
coragem para proclamar sua Fé em tempos tão conturbados. Porém, poucos se
converteram…

Tamanha ousadia não podia ser tolerada por quem havia se libertado da “tirania”
e “superstição” cristãs. Cruéis revolucionários se precipitaram sobre a menina,
arrancaram a imagem de suas mãos e mataram-na a pauladas e golpes de faca.

O oferecimento da pequena tinha sido aceito; o sangue de Thérèse juntara-se


ao do seu amado Jesus. As sublimes conversas que iniciaram na terra haviam
de continuar no Céu, onde, unida ao coro dos Bem-aventurados, ela recebeu por
missão defender e alimentar a inocência das crianças de todos os tempos.

Os santos de cada dia


1. Santa Florência, virgem (†séc. IV). Convertida por Santo Hilário, seguiu-o em
seu exílio na Ásia Menor, retornou com ele à França e viveu como eremita em
Comblé.

2. I Domingo do Advento.
Beata Maria Ângela Astorch, abadessa (†1665). Fundou conventos de Clarissas
Capuchinhas nas cidades de Saragoça e Múrcia, na Espanha.

3. São Francisco Xavier, presbítero (†1552 Sanchoão - China).


São Birino, Bispo (†650). Enviado como missionário junto aos anglos pelo Papa
Honório I, logrou a conversão do Rei Cinegilso e fixou sua sede episcopal em
Dorchester.

4. São João Damasceno, presbítero e Doutor da Igreja (†c. 749 Mar Saba -
Israel).
Beato Simão Yempo, mártir (†1623). Na juventude ingressou num mosteiro
budista, mas depois abraçou a Fé Católica. Foi preso e condenado à fogueira
durante as perseguições no Japão.
5. Beato Narciso Putz, presbítero e mártir (†1942). Sacerdote polonês
encarcerado no campo de concentração de Dachau, Alemanha, onde morreu
após atrozes suplícios.

6. São Nicolau, Bispo (†séc. IV Mira - Turquia).


São Pedro Pascual, Bispo e mártir (†1300). Religioso mercedário eleito Bispo de
Jaén, Espanha. Foi capturado pelos mouros e decapitado após quatro anos de
cárcere em Granada.

7. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja (†397 Milão - Itália).


São João, o Silencioso, Bispo (†558). Por ter grande amor ao silêncio e ao
recolhimento, renunciou ao Episcopado de Colônia da Armênia e foi viver na
Laura de São Sabas, na Palestina.

8. Imaculada Conceição de Nossa Senhora.


Santa Narcisa de Jesus Martillo Morán, virgem (†1869). Jovem costureira
equatoriana que, após uma vida de intensa oração e penitência, foi admitida na
vida comunitária no Convento dominicano do Patrocínio, em Lima, Peru.

9. II Domingo do Advento.
São João Diego Cuauhtlatoatzin (†1548 Cidade do México).
São Pedro Fourier, presbítero (†1640). Escolheu para exercer seu ministério a
paupérrima paróquia de Mattaincourt, França, e fundou o Instituto das Cônegas
Regulares de Santo Agostinho.

10. São Gregório III, Papa (†741). Incentivou a pregação do Evangelho aos
germanos, lutou contra os iconoclastas, socorreu os pobres e favoreceu a vida
religiosa.

11. São Dâmaso I, Papa (†384 Roma).


Beato Davi, monge (†1179). Admitido por São Bernardo na Abadia de Claraval,
foi enviado com outros monges para fundar um mosteiro na Alemanha, onde
dedicou-se à oração e às boas obras.

12. Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina.


São Simão Phan Dac Hoa, mártir (†1840). Órfão pagão adotado no Vietnã por
uma família cristã. Tornou-se médico afamado, pai de numerosa família e,
sobretudo, cristão fervoroso. Preso por ter dado hospedagem aos missionários,
foi barbaramente torturado e, por fim, decapitado.

13. Santa Luzia, virgem e mártir (†c. 304/305 Siracusa - Itália).


Beato João Marinoni, presbítero (†1562). Sacerdote da Ordem dos Teatinos,
dedicou-se junto a São Caetano à reforma do clero e assistência aos
necessitados.

14. São João da Cruz, presbítero e Doutor da Igreja (†1591 Úbeda - Espanha).
Beata Francisca Schervier, virgem (†1876). Dedicou-se ao cuidado dos
necessitados, doentes e aflitos, ficando conhecida como a “Mãe dos pobres”.
Fundou a Congregação das Irmãs dos Pobres de São Francisco.

15. Santa Maria Crucifixa de Rosa, virgem (†1855). Fundou em Bréscia, Itália, o
Instituto das Servas da Caridade.

16. III Domingo do Advento.


Santa Adelaide, imperatriz (†999). Esposa do imperador do Sacro Império Oto I,
mostrou-se cheia de caridade para com os indigentes e construiu várias igrejas
e mosteiros.

17. Santa Vivina, abadessa (†1170). Primeira superiora do Mosteiro de Santa


Maria de Grand-Bigard, na Bélgica.

18. São Graciano de Tours, Bispo (†séc. III). Pregou o Evangelho na Gália e foi
o primeiro Bispo de Tours.

19. Beato Guilherme de Fenoglio, religioso (†c. 1200). Um dos primeiros monges
da Cartuxa de Casotto, Itália, onde viveu como irmão leigo.

20. São Domingos de Silos, abade (†1073). Após ter sido eremita, restaurou o
mosteiro beneditino de Silos, Espanha, que se encontrava quase em ruínas,
restabelecendo nele a observância e prática do louvor divino.

21. São Pedro Canísio, presbítero e Doutor da Igreja (†1597 Friburgo - Suíça).
Beato Pedro Friedhofen, religioso (†1860). Trabalhador manual em Koblenz,
Alemanha, que, cheio de amor a Deus, dedicou-se ao serviço dos doentes.
Posteriormente, fundou a Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria
Auxiliadora.

22. Santo Hungero, Bispo (†866). Destacou-se por seu grande zelo pastoral na
Diocese de Utrecht, Holanda, transtornada pela invasão dos normandos.

23. IV Domingo do Advento.


São João Câncio, presbítero (†1473 Cracóvia - Polônia). São Sérvulo, o
Paralítico (†c. 590). Paralítico desde a infância, pedia esmolas no pórtico de uma
igreja de Roma e compartilhava com outros pobres o que recolhia.
24. Santa Tarsila, virgem (†séc. VI). Tia de São Gregório Magno, o qual elogiou
sua exemplar vida de oração, recolhimento e penitência.

25. Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Beata Maria dos Apóstolos, virgem (†1907). De origem alemã, fundou em Tivoli,
Itália, o Instituto das Irmãs do Divino Salvador.

26. Santo Estêvão, diácono e protomártir.


Beatas Inês Phila, Lúcia Khambang e companheiras, mártires (†1940). Por se
recusarem a negar a Fé Católica, foram fuziladas no cemitério de Song-Khon,
Tailândia.

27. São João, Apóstolo e Evangelista.


Santa Fabíola, viúva (†400). De família nobre romana, aplicou suas riquezas em
favor dos pobres, fundou um hospital e dedicou-se a uma vida de orações e
penitência.

28. Santos Inocentes, mártires.


Beato Gregório Khomysyn, Bispo e mártir (†1945). Bispo de Ivano-Frankivsk,
morto no cárcere em Kiev, Ucrânia.

29. São Tomás Becket, Bispo e mártir (†1170 Cantuária - Inglaterra).


São Davi, rei e profeta. Filho de Jessé de Belém, trasladou a Arca da Aliança do
Senhor para a cidade de Jerusalém. De sua estirpe nasceu o Salvador.

30. Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.


São Perpétuo de Tours, Bispo (†491). Lutou durante trinta anos para propagar a
Fé, impor disciplina e determinar dias de jejum e festas em sua diocese.

31. São Silvestre I, Papa (†335 Roma).


Santa Catarina Labouré, virgem (†1876). Religiosa das Filhas da Caridade, em
Paris, recebeu as revelações de Nossa Senhora das Graças. Foi modelo de
caridade e paciência.

Saltitantes como cervos


Assim como o cervo percorre saltitante vales e
montes em busca da fonte de água viva, certas
almas procuram a Deus fazendo reluzir em si a
alegria inocente, humilde e vigilante própria ao
Espírito Santo.
Ir. Letícia Gonçalves de Sousa, EP

Ao folhearmos as Escrituras encontramos Jesus sendo comparado com o bom


pastor, com a galinha que reúne os pintainhos sob suas asas, com um forte leão,
com um cordeiro imaculado e obediente até a morte… Visa assim o autor
sagrado servir-se de exemplos muito ao nosso alcance para espelhar as
inefáveis perfeições divinas.

Nessa esteira de imagens terrenas que nos reportam às realidades


sobrenaturais, nos deparamos com um simpático animalzinho que reflete
aquelas almas chamadas a procurar a Deus com entusiasmo e alegria: o cervo.

Olhando um conjunto de cervos enquanto se alimentam da ramagem tenra das


árvores, ou passeiam num viçoso gramado, sente-se pairar sobre eles uma
inocência cheia de perspicácia. Aparentemente despreocupados, basta um notar
alguma ameaça para, levantando o rabinho com gesto característico e dando um
breve bramido, fazer com que todos fujam saltitantes.

O cervo não pula de modo descompassado como o cabrito, mas parece


acompanhar nobremente o ritmo de uma música grandiosa. Seu salto transborda
distinção e elegância, convidando quem o contempla a se desapegar da terra
em busca de panoramas mais elevados. Por isso, é deste nobre animal que a
casta esposa do Cântico dos Cânticos se serve para nos descrever seus
anseios: “É a voz do meu amado! Eis que ele vem saltando pelos montes,
pulando sobre as colinas. O meu amado parece uma gazela, ou um cervo ainda
novo!” (2, 8-9).

“Vem saltando pelos montes, pulando sobre as colinas”… O que será que ele
procura?

A resposta, a encontramos nas palavras do salmista: “Sicut cervus desiderat ad


fontes aquarum, ita desiderat anima mea ad te, Deus”1 (Sl 41, 2). O cervo é, no
reino animal, a imagem do desejo que a alma tem de Deus, única Fonte da água
viva capaz de saciar nossa sede. Embora irracionais, eles parecem viver em pós
daquela fonte que Nosso Senhor ofereceu à samaritana, da qual jorra água para
a vida eterna (cf. Jo 4, 14).
Há um designío do Altíssimo para todos os seres. À semelhança desses
encantadores animaizinhos, certas almas são chamadas a fazer reluzir em si a
alegria própria ao Espírito Santo, inocente, humilde, vigilante, séria,
transbordante de entusiasmo… A essas almas compete possuir, de modo todo
especial, a sede de Deus e do sobrenatural, e isso as torna cheias de
contentamento, dispostas a carregar o sagrado e suave fardo da virtude com
ufania, e a trilhar com saltitante regozijo o caminho que leva à bem-aventurança.

Quantas coisas podem nos ensinar as criaturas quando consideradas como


reflexo das realidades celestes. Aprendamos a nos alegrar no Espírito Santo,
tendo esse desejo entusiasmado do Reino dos Céus!

1 “Como o cervo anseia pelas fontes das águas, assim minha alma anseia por Vós, ó meu Deus”.

Vitoriosa sobre os demônios

O demônio foi vencido por Maria uma primeira vez quando Deus anunciou que
esta mulher esmagaria sua cabeça. Foi vencido quando Ela foi concebida
imaculada. Foi vencido quando esta santíssima e augustíssima Virgem deu à luz
o Filho de Deus feito homem, Aquele que vinha sobre a terra para destruir, por
sua própria morte, o império da morte de satanás.

Ele foi vencido durante séculos, e o será até o fim dos tempos, por Maria, que
não cessa de lhe arrebatar suas vítimas, desfazer suas ciladas, e de pôr freio às
suas violências. Somente o nome de Maria basta para fazê-lo tremer; uma
invocação a esta Rainha toda poderosa, a esta Mãe misericordiosa, basta para
obrigá-lo a fugir.

Vitoriosa sobre os demônios, Maria o é, pela mesma razão, sobre todos os


inimigos de Deus, porque destes é chefe o demônio, cuja vontade eles
executam.

Pe. Zéphyr-Clément Jourdain

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