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GIOVANNI BARACHETTA
CARMELA
ANDREONE
JOSÉ
GENNARINO
MARIA
RIBEIRO
LUCCHINA BUONAGAMBA
CAMPONÊS 1
CAMPONÊS 2
CAMPONESES
PAZZO
GIUSEPPE
PAI
MÃE
HOMENS
MULHERES
PIETRO
DOMENICO
AGENCIADOR
VENDEDOR 1
VENDEDOR 2
PONTO
PRIMEIRO ENCARREGADO
SEGUNDO ENCARREGADO
TERCEIRO ENCARREGADO
GREVISTA 1
GREVISTA 2
GREVISTA 3
CONFERENCISTA
AUXILIAR
AUTORIDADE
INTERROGADOR
DONA JOSEFA
__________________________________________________________
PRIMEIRO ATO
Cena 1 – Abertura
Palco às escuras. Sobe foco em Carmela, que começa a cantar
BELLA CIAO. Logo todos os atores do espetáculo vão entrando no
foco e também começam a cantar BELLA CIAO. A atriz que fará
Lucchina Bounagamba fica num plano mais afastado. Quando
terminam de cantar, ouve-se um sino tocando.
PAI – Ma figlio...
GIOVANNI – No, Papá, per piacere, non parlar di morte, lo ritorneró
presto. Il signore é piú forte.
MÃE – Figlio mio...
GIOVANNI (Emocionado) – Mamma! Mamma! Per piacere, non
piangere piú. Torneró presto. E ricco, eh?
PAI – Tutti i giovani pártono. L’Italia restara un paese di vecchi.
ANDREONE (Aparecendo) – É, vecchio, tu devi fare altri figli.
PAI – Io? (Olha pra o sexo). Ma, Andreone, questo albero non dá piú
frutti. (Riem. Apito de partida do navio).
GIOVANNI (Para Carmela que se aproxima com alguma coisa) – Ehi,
Carmela, dov’é Gennarino? Chiama Gennarino che il
nono vuole baciare questo bambino.
CARMELA (Saindo) – Gennarino! Preto che la nave parte.
GIOVANNI (Abraçado a Mãe) – Si, Mamma, io scriveró.
PAI (Quando Giovanni abraça) – Ritornarete tutti ricci? Ma che:
l’America non ha tutti questi soldi.
CARMELA (Fora chamando) – Gennarino! La nave parte! (Apito do
navio. Todos os atores vão se juntando, e todos
ficam no convés do navio que parte. O bloco de
emigrantes se despede).
GIOVANNI – Addio papá. Addio, Mamma. Si, Mamma, ho molte cose da
mangiare. Un bacio. Addio Mamma.
CARMELA – Addio Italia. Addio. (Lenços são agitados).
GIOVANNI (Baixo, emocionado) – Addio, Italia. (Os emigrantes
começam a arrumar suas coisas. Sentam).
CARMELA (Canta) – Addio, bela Itália, partimos / Com o dia de voltar /
Marcado no coração. / Não verei o sol dando cor / Aos
seus campos na primavera / Nem a sua lua branca /
Indicando o caminho ao pastor.
CORO – Addio, bela Itália, partimos...
CARMELA – Mas também per Dio, não vamos sentir mais / O frio da
neve em seu inverno / Nem soldados arrasando
nossos campos / E comendo nossa colheita.
OUTRA MULHER – Meu coração já sente saudades / Do ar de suas
montanhas / Do cheiro de sua terra / E da aldeia ao pé
do monte.
CORO – Addio, bela Itália, partimos...
CARMELA – Mas também, per la Madonna, lá teremos / Nossas vacas
e nossa terra / E o soro do leite que aqui comemos /
Com polenta, lá vai servir pra / Engordar os nossos
porcos.
CORO – Addio, bela Itália, partimos / Com o dia de voltar / Marcado no
coração.
VOZ (Gravada, vinda de um alto-falante) – Attenzione! Attenzione!
Todos os emigrantes saiam do convés. Todos os
emigrantes pra o porão do navio.
Cena 8 – Pé Atrás
Cena 1 – Reabertura
...
Cena 9 – Múltiplos Acontecimentos para Desnudar as
Pessoas
MARIA – Eu digo essas coisas pra você... Coisas que nunca disse pra
ninguém. Até hoje, pra mim, é difícil entender aquela
época. O José era... Eu me dividia. Eu era filha de um
homem que exigia da família quase que uma herança
de rebeldia. De dia isso me atormentava. Eu não
sabia onde andava o meu irmão, nem Ribeiro.
Perseguidos. Mas à noite, quando José me segurava
pela cintura e me apertava... Eu abandonava as
preocupações... É verdade, José?
JOSÉ – Seu pai está seguindo meu rastro?
MARIA – É verdade?
JOSÉ – É. O que tem demais? Seu pai também já foi do Sindicato.
MARIA – O Sindicato está com interventor.
JOSÉ – E eu sou o interventor? Sou o diretor daquela bosta? Sou o
quarto ou quinto secretário, nem sei. Uma porcaria
assim. Eu não apito nada, nem quero.
MARIA – E por que aceitou?
JOSÉ – Porque me indicaram. O gerente. E por que essa cara? Eu
devia mandar o gerente à merda? Isso o seu pai fazia
e no outro dia estava no olho da rua.
MARIA – Quem é o Silveira?
JOSÉ – Seu pai mandou perguntar, né? O Silveira é da polícia.
MARIA – E o que é que você tem com ele?
JOSÉ – Como o que eu tenho com ele? E que diabo de ficar
perguntando é esse? Toda reunião do Sindicato tem
que ter um agente da polícia. A ata da assembleia tem
que ser levada na polícia, política, você sabe disso!
MARIA – E por que o meu pai mandou perguntar?
JOSÉ – Vai perguntar pra ele, o porquê! Com certeza ele deve achar
que eu estou delatando colegas. Velho intrigante!
MARIA – José!
JOSÉ – Eu já estou cheio! Na firma tem colega que me olha torto.
Agora, teu pai!
MARIA – Meu pai não disse nada.
JOSÉ – Mas pensou!
MARIA – Sai dessa coisa então já que tá dando problema.
JOSÉ – Como sai? Estou com a consciência tranquila. Não vou dar trela
pra quem anda falando demais. Não sou interventor,
não sou da polícia política, não sou delator e quando
nasci o mundo já estava feito! E não me venha mais
com essa conversa! Não me meto em política. Eu
quero paz. Seu irmão e seu pai quiseram abraçar o
mundo com as pernas. Tai o resultado. Eu só quero
uma vida decente! E vou dormir. Pensei que aqui em
casa estava livre dessa falação. (Sai).
MARIA – Diabo! (Luz cai sobre Maria e sobe em Giovanni e
Carmela).
CARMELA – Estava lembrando a Itália.
GIOVANNI – Eu já nem lembro mais.
CARMELA – Ninguém escreve mais de lá.
GIOVANNI – Ma, em compensaçon nós também não escrevemo, eh?
(Ri amarelo). Lá é verão, agora.
CARMELA – É. Lá é verão, agora. Nós nunca mais vamos voltar?
GIOVANNI – Não, cara.
CARMELA – A gente pensava ficar cinco ou seis anos. Estamos há
mais de trinta. (Pausa). E Gennarino?
GIOVANNI – Deve estar bem.
CARMELA – Às vezes tenho um pressentimento.
GIOVANNI – Ma vira essa boca! Ele é adulto. Ele sabe se cuidar.
(Pausa. Preocupado). Cáspita!
CARMELA – Essa casa era pequena. Sempre cheia. Agora é grande.
Sobramos só nós os dois.
GIOVANNI – Como sobramos? Gennarino volta qualquer dia. E Maria,
embora casada com um imbecille, ainda é nossa filha.
CARMELA – Mas estão grandes. Já tem a vida deles. Estamos
envelhecendo.
GIOVANNI – Ma vá, cara. Ainda fazemo coisa que muito jovenzinho não
faz. (Com malícia). Não é verdade?
CARMELA – Mas não vem com essa conversa!
GIOVANNI – É o sangue. Meu nono com setenta e cinco anos estava
ali, ó, cumprindo! (Saudoso). Eh, Itália! Hoje é só um
pedaço de mapa. (Carmela começa a cantar uma
música qualquer, italiana). Dai bella, senta aqui. (No
colo de Giovanni, Carmela senta. Os dois cantam.
Luz cai e sobe sobre Maria).
MARIA (Para Ponto) – Estou contando tudo aos pedaços. Conto o que
se prendeu mais forte na memória.
PONTO – Ele continuava no Sindicato?
MARIA – Continuava, continuava. Ele me falava sempre que tinha saído
de Minas para não voltar, pra fazer a vida aqui.
Falavam muita coisa dele. Eu não acreditava. E eu
digo, ele não delatou ninguém. Ele só defendia o seu
lugar na vida. É crime? No final de trinta de sete,
Gennarino foi preso. (Sonoplastia de Getúlio Vargas
instalando o Estado Novo. José surge e abraça
Maria por trás).
JOSÉ – Adivinha.
MARIA – José dos Passos, mineiro de Corinto.
JOSÉ – Que está fazendo de bom?
MARIA – Nada. Estava pensando.
JOSÉ – Em que?
MARIA – Em coisas, em coisas.
JOSÉ – Viu seus pais?
MARIA – Hu-hum. (Pausa). Eles envelheceram e eu não tinha
percebido. A mamma está com reumatismo. O papá
com falta de ar.
JOSÉ – Na idade deles é natural.
MARIA – A mamma está morrendo de medo com essa onda de prisões.
JOSÉ – É. A situação não está nada boa.
MARIA – É o teu Getúlio.
JOSÉ – Não começa Maria.
MARIA – Você não defendia o homem?
JOSÉ – Não defendia coisa nenhuma! Não sou a favor, mas também
não posso ser contra um homem que tem um guarda
em cada esquina, que tem na mão polícia, Sindicato,
força, tudo!
MARIA (Desesperada) – Diabo!
JOSÉ – Você criticava seu pai porque ele saía pra fazer política e
largava vocês em casa. Eu não saio. Eu cuido da
minha casa e da minha família!
MARIA – Está bem, José.
JOSÉ – Você não me comprou enganada. Sabia como eu era. (Toca
uma campainha. Os dois se olham. Maria sai para
atender).
MARIA (Fora) – Ribeiro! (Pausa. Reação de José. Maria entrando
com Ribeiro). Onde você estava? E Gennarino?
Onde é que está? Ele está bem? (Emocionada e
com raiva). Puxa vida! Conhece José, meu marido?
RIBEIRO – Como vai? (José responde friamente). Maria: estou só de
passagem.
MARIA – Você já viu o papá e a mamma?
RIBEIRO – Já.
MARIA – E Gennarino?
RIBEIRO – Já falei com seu pai. Ele não quer que sua mãe saiba. Ele
está muito nervoso. Gennarino foi preso.
MARIA – Preso?
RIBEIRO – Aqui em São Paulo. Não sabemos onde está. Presta
atenção. Eu não posso ficar andando por aí.
Precisamos saber onde ele está.
MARIA – José, você pode!
JOSÉ (Espantado) – Eu posso o que?
MARIA – Tentar saber onde está o Gennarino. Com o Silveira.
JOSÉ – Eu sabia que algum dia ia dar nisso! Vocês também sabiam!
Vocês procuraram. Tai. Depois o estúpido, o idiota
sou eu!
MARIA – Agora não é hora disso, José.
JOSÉ – Saíram para a aventura, não saíram? E agora?
MARIA – E agora a gente precisa saber onde está Gennarino. Fala com
Silveira.
JOSÉ – Eu não tenho nada com o Silveira. Não conheço a mãe e nem a
família dele e não como na casa dele!
RIBEIRO – Eu já vou, Maria.
JOSÉ – Vai, vai fazer a revolução. Vocês saem e não se importam com
os que ficam. Quando as coisas não dão certo, vocês
voltam para pedir ajuda.
RIBEIRO – Se você quer ajudar, ajude, mas eu e Gennarino
dispensamos seu sermão! Maria...
MARIA – Espera. Não custa falar com o Silveira, José.
JOSÉ – Não tenho nada com o Silveira, já disse!
MARIA (Exaltada) – Não é o que se ouve dizer por aí!
JOSÉ (Vai explodir com a mulher, mas se contém. Fala amargo) –
Você também?
MARIA – Desculpa. Não sei o que falo. Por favor...
JOSÉ (Após pausa) – Está bem.
MARIA – Eu vou na casa do papá. Você vem?
JOSÉ – É melhor eu ficar.
RIBEIRO – Eu vou com você até a metade do caminho. (José fica
pensativo alguns instantes. A luz cai e sobe sobre
Giovanni e Ponto).
Cena 11 – Despedida
FIM