Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
1 Introdução
Na literatura são comuns as narrativas que abordam a temática da
pobreza de forma a expor as condições sociais dos sujeitos segregados
socialmente, denunciando aspectos referentes às desigualdades sociais e
econômicas de determinados grupos. Muitas vezes essas narrativas
apresentam uma perpectiva colonialista, classificando esses sujeitos como
“destituídos de cultura”.
Em oposição aos discursos dos grupos hegemônicos culturais, que
promovem uma fala unilateral dos sujeitos marginalizados, a escrita
performática desestabiliza essa tendência dos discursos dominantes, ao lançar
um novo olhar sobre as vozes pertencentes às camadas mais pobres da
pirâmide social.
Uma escrita que não apenas conta a história dos “sem voz”, mas “dá
ouvidos” àqueles que têm sua voz abafada, sufocada sob o peso da realidade
degradante, mas que dessa circunstância emerge e se enuncia a partir dos
próprios sujeitos, apresentando seus pontos de vista, contra a soberania dos
discursos dominantes.
Marcelino Freire é conhecido por suas obras tratarem sobre as
comunidades marginais brasileiras, principalmente das grandes áreas urbanas.
Seus contos geralmente dão espaço para as vozes à margem da sociedade,
realizando retratos sobre negros, homossexuais, pobres e prostitutas, sujeitos
que muitas vezes não são percebidos/ouvidos pelas classes sociais e políticas
dominantes. Em seus textos, o autor destaca problemas como educação,
violência, preconceito e racismo.
2 Performance
O termo performance encontra-se cercado de um emaranhado de
definições, teorias e conceitos. A palavra invoca abordagens interdisciplinares,
pois possui relevância teórica nos mais diversos campos de atuação e
conhecimento, muitas vezes relacionada à significação de desempenho. O fato
de ser um termo tão abrangente pode gerar controvérsias conceituais, visto sua
multifuncionalidade nos diversos contextos.
1
Entrevista realizada com Marcelino Freire. Disponível em: < http://www.vacatussa.com/entrevista-
marcelino-freire/ > Acesso em 19 de agosto de 2016.
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
3 Escrita Performática
A escrita performática atenta para a quebra da dicotomia entre a
efemeridade da performance e a permanência da impressão, busca explorar a
materialidade do texto e perseguir os potenciais performativos da página.
Trata-se da escrita realizada por uma nova abordagem, repensando o locus do
texto como performativo, trazendo o texto para um contexto corpóreo, parte da
matéria, a textualidade impressa e performática.
Analisada dessa maneira, a escrita torna-se um fazer de deslocamento,
um devir do sentido, torna-se a materialização do significado e significante, a
escrita como seu próprio meio e fim, considerada em si mesma por sua força
de ação. A partir do texto que transforma sentidos, escrever torna-se um lugar
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
4 A voz de Totonha
Totonha é o conto de número 11, dos 16 publicados no Livro Contos
Negreiros. A voz que narra é da própria Totonha, que é chamada e conhecida
assim pelos moradores da região onde ela mora. Totonha reúne um conjunto
de atributos que a colocam numa condição discriminatória e excludente:
mulher, pobre, negra, velha e analfabeta.
5 Considerações finais
Na escrita performática, as narrativas se proliferam e se misturam,
quebrando fronteira e hierarquias. A performance conduz a uma ação
democrática, dialógica e interdiscursiva, promovendo encontros entre todas as
artes. Ao que parece, a força produzida pelo verbo, pela mão que escreve, pela
impressão na página, pelo “corpo escrito” também possui um caráter
performativo. O autor, assim como o leitor, se encontra em uma dimensão
cultural, social e artística, promovendo um diálogo que resulta em novas
percepções. Nesse sentido, considerar a leitura e a escrita performática a partir
do vasto campo aberto das características da performance pode também
resultar em novas práticas no campo literário, artístico e poético.
A voz insubordinada e performática de Totonha produz imagens que
tencionam velhas crenças do leitor, que estremecem e deslocam o leitor do seu
“conforto cotidiano”, através de uma dimensão verbal que expande as imagens
inscritas nas páginas, fazendo o leitor se perder e se reencontrar em uma
lógica própria, configurada a partir da fala ritmada da protagonista. Ela irrompe
experiências vividas como um jogo onde as regras podem ser apropriadas,
modificadas e reconfiguradas. A escrita performática possui a qualidade de
dominar o leitor de maneira que ele encarna e é encarnado pelo texto, ele
Referências