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Bacia do Ceará

Valéria Cerqueira Condé1, Cecília Cunha Lana2, Otaviano da Cruz Pessoa Neto1,

Eduardo Henrique Roesner3, João Marinho de Morais Neto1, Daniel Cardoso Dutra1

Palavras-chave: Bacia do Ceará l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Ceará Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução Camocim, Acaraú, Icaraí e Mundaú, de oeste para


leste, que apresentam histórias deposicionais e de-
formacionais ligeiramente distintas, em função da
A Bacia do Ceará se localiza na plataforma sua posição geográfica regional (Costa et al. 1989
continental da margem equatorial brasileira, abran- apud Morais Neto et al. 2003). As atividades explo-
gendo uma área de aproximadamente 34.000 km2. ratórias sempre foram concentradas na Sub-bacia de
Seu limite a sudeste com a Bacia Potiguar é definido Mundaú, onde recentes estudos estratigráficos inte-
pelo Alto de Fortaleza, e a oeste limita-se com a Ba- grados, aliados à interpretação de novos dados sís-
cia de Barreirinhas pelo Alto de Tutóia. O limite sul é micos permitiram um melhor entendimento do seu
dado pela faixa de afloramento do embasamento cris- preenchimento sedimentar.
talino, junto à linha de costa, enquanto ao norte limi- O preenchimento tectono-sedimentar da
ta-se pelo ramo sul da Zona de Fratura Romanche Sub-bacia de Mundaú pode ser dividido em três
(Costa et al. 1989 apud Beltrami et al.1994). principais superseqüências que representam as su-
Devido às características tectônicas e feições cessivas fases evolutivas da bacia: Rifte, Pós-Rifte
estruturais distintas, a Bacia do Ceará foi e Drifte, caracterizadas por distintas arquiteturas
compartimentada em quatro sub-bacias: Piauí- e padrões de falhamentos.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: valeria.conde@petrobras.com.br
2
Centro de Pesquisas da Petrobras/P&D de Exploração/Bioestratigrafia e Paleoecologia
3
Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará/Exploração/Sedimentologia e Estratigrafia

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 347


Superseqüência Rifte Superseqüência Pós-rifte
Seqüência Continental K40 Seqüência Transicional K50
O primeiro registro sedimentar na Bacia do A Seqüência Transicional é representada na
Ceará é datado como Aptiano e corresponde aos Bacia do Ceará pela Formação Paracuru, original-
sedimentos da Formação Mundaú, originalmente mente definida por Costa et al. (1984) apud Beltrami
definida por Costa et al. (1989) apud Beltrami et et al. (1994) e representa a transição da sedimenta-
al. (1994). Até o momento não foram amostra- ção tipicamente continental para condições marinhas
dos sedimentos mais antigos que o Eoaptiano, da- marginais, que passam a prevalecer no final da sedi-
tados através de palinomorfos continentais. No mentação do Andar Alagoas (Regali, 1980, 1989),
entanto, acredita-se que depósitos mais antigos analogamente ao verificado na Bacia Potiguar.
possam estar presentes nas porções mais profun- Conforme já referido por Morais Neto et al.
das da bacia, como indicado pelo espesso pacote (2003), esta seqüência tem sido tradicionalmente
imageado por dados sísmicos, que sugere a pos- posicionada como representante do estágio sag da
sibilidade de seção sinrifte de idade barremiana, evolução tectônica da bacia; no entanto, análises
correlacionável à Formação Pendência na Bacia recentes de dados sísmicos indicam crescimento de
Potiguar, ou de um substrato sedimentar pré-rifte seção sedimentar junto às falhas normais, princi-
Jurássico/Paleozóico (Morais Neto et al. 2003). Os palmente nas áreas mais distais, atestando a in-
sedimentos da Formação Mundaú foram deposi- fluência de subsidência tectônica ativa durante a
tados numa grande fossa tectônica, caracteriza- sua deposição, no Neoaptiano. Restaurações estru-
dos por conglomerados, arenitos, siltitos e folhe- turais e simulações tridimensionais de sistemas pe-
lhos intercalados por depósitos de fluxo gravita- trolíferos também levam a considerar que a deposi-
cionais. Ambientes tipicamente continentais são ção desta seção estaria associada ao evento de rif-
reconhecidos: leques aluviais, rios entrelaçados e teamento. Assim, no atual estágio de conhecimen-
lagos provenientes tanto da margem flexural norte to da bacia, considera-se que a deposição dessa
quanto da borda falhada a sul (Beltrami et al. seqüência, nas áreas mais distais da bacia, foi con-
1994). Em poços, esta seqüência possui espessu- dicionada pelas fases finais da tectônica de riftea-
ra de até 2.400 m e reflete uma paleogeografia mento, ora denominada Pós-Rifte.
complexa cuja deposição foi controlada pela ati- A Formação Paracuru apresenta fácies sísmi-
vidade tectônica sinrifte. ca plano-paralela e é constituída por três unidades
Esta seqüência é caracterizada por descon- litológicas distintas, onde predominam arenitos de
tinuidades bem marcadas em perfis elétricos, de- granulação variável, separados por níveis de folhe-
nominados, informalmente, marcos 700, 800 e lhos que representam afogamentos regionais de boa
1.000, consagrados pelo uso ao longo de mais de continuidade lateral (Beltrami et al. 1994; Morais
30 anos de exploração na bacia, principalmente Neto et al. 2003). Na porção inferior, dominam are-
devido ao precário controle bioestratigráfico des- nitos e folhelhos bioturbados de origem fluvial, del-
te intervalo. Os marcos 700 e 800 delimitam, res- táica e lacustre. Na porção mediana da Formação
pectivamente, eventos de transgressão e regres- Paracuru, distingue-se uma camada carbonática rica
são durante o Aptiano. A superfície de em calcilutito, ostracodes e folhelhos carbonosos
condensação no topo da seqüência (Marco (Membro Trairi), cronocorrelata às “Camadas Ponta
1.000), reconhecida regionalmente, corresponde do Tubarão” da Bacia Potiguar, aos folhelhos betu-
litologicamente a hardgrounds e representa o topo minosos das “Camadas Batateira” da Bacia do Ara-
da Formação Mundaú (Costa et al. 1984 apud ripe e aos folhelhos betuminosos da Formação Codó
Beltrami et al. 1994). no Maranhão (Hashimoto et al. 1987). Foram depo-
sitados em ambientes de natureza continental (fluvio-
deltaico a lacustre), passando para marinho restrito
ou sabkha marginal (quando localmente associados
à precipitação de evaporitos).

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Em associação lateral aos carbonatos Trairi, fo- evento erosivo que esculpe o paleorelevo no topo da
ram recuperados níveis de sal, predominantemente halita, seção Alagoas. Esta discordância é uma superfície
em dois poços na Bacia do Ceará (1-CES-42A e 1-CES- bem conhecida e de uso consagrado na exploração
46). Ocorrem como cristais de granulação grossa, com da bacia, e individualiza a sedimentação de idade
matéria orgânica e argilominerais incorporados e inter- Alagoas, compartimentada por falha da sedimenta-
calação de folhelhos ricos em matéria orgânica. ção marinha plataformal de idade eo-mesoalbiana.
Recentes análises de dados sísmicos na parte mais Trata-se de uma seqüência essencialmente siliciclás-
distal da bacia indicam uma provável presença de eva- tica, composta por arenitos, com intercalações de
poritos na área de águas profundas-ultraprofundas da folhelhos e arenitos. As maiores espessuras (até 375 m)
bacia, sugeridas pela presença de feições dômicas. encontram-se preservadas nos blocos baixos de im-
O ambiente restrito é atestado pela ocorrência portantes falhamentos da bacia, como a Falha de
da ecozona de dinoflagelados Subtilisphaera spp (Regali, Atum, indicando o dominante controle tectônico na
1989; Lana e Roesner, 2002) e pela elevada concentra- sedimentação, interpretado como reativações das
ção do biomarcador gamacerano, caracterizando, as- estruturas pretéritas durante o Albiano.
sim, condições hipersalinas no ambiente deposicional.
Seqüência K70

Superseqüência Drifte Esta Seqüência (Albiano superior) é limitada


na base pela discordância interna do Albiano (DAB),
bem imageada na área proximal da bacia e repre-
A Superseqüência Drifte compreende toda a sentada por uma conformidade correlativa na por-
sedimentação marinha na bacia, representada pelas ção mais distal. Trata-se de uma seqüência marinha,
formações Ubarana, Tibau e Guamaré. Estas forma- caracterizada por uma sedimentação essencialmen-
ções foram originalmente definidas para a Bacia Poti- te pelítica (folhelhos e siltitos), e localmente com se-
guar (Souza, 1982) e, posteriormente, estendidas para dimentação carbonática rasa, correlacionável à For-
a Bacia do Ceará devido às semelhanças litoestratigrá- mação Ponta do Mel, na Bacia Potiguar. Eventuais
ficas (Beltrami, 1985 apud Beltrami et al. 1994). conglomerados presentes na base da seqüência re-
Litoestratigraficamente, a Formação Ubarana presentam depósitos do trato de sistemas de mar
está subdividida em Membros Uruburetama (Cretáceo baixo, preservados nos blocos baixos de sistemas de
Inferior/Superior) e Itapagé (Cretáceo Superior/Eoceno falhas da bacia. A distribuição areal mais ampla do
Inferior), que representam, respectivamente, um ciclo que a seção sotoposta sugere que os limites da bacia
transgressivo e um ciclo regressivo durante o Cretáceo foram estendidos para além das calhas tectônicas que
(Mayer, 1974 apud Beltrami et al. 1994). condicionaram a sedimentação durante o Eo-
Recentes análises de poços, perfis elétricos e mesoalbiano. As maiores espessuras desta seção são
o rastreamento sísmico das principais superfícies encontradas nos baixos estruturais associados às gran-
identificadas na seção cretácea pós-Alagoas permi- des falhas NW/SE, podendo atingir até 230 m nas
tiram a individualização do intervalo cretáceo pós- proximidades da Falha de Mundaú.
Alagoas em oito seqüências deposicionais, K60, K70,
K82, K84, K86, K88-K90, K100-K120 e K136. As Se-
qüências do Paleógeno e Neógeno (K138-E30, E40-
Seqüência K82
E70, E80-N30) representam um grande ciclo de se-
qüências regressivas, limitadas por três discordân- O limite desta seqüência do Cenomaniano infe-
cias erosivas conspícuas na bacia. rior é dado pela discordância do Albo-cenomaniano
(DAC). A sedimentação do Cenomaniano inferior foi
preservada nas áreas mais distais da bacia, bem como
Seqüência K60 nos grábens situados em área proximal. Apesar de sua
restrita expressão espacial, pode-se inferir para esta se-
A Seqüência K60 (Albiano inferior/médio) ção uma variação ambiental significativa. Foram obser-
marca o início de um ciclo transgressivo que se es- vados em poços proximais carbonatos e pelitos de pla-
tende por todo o Albiano. Seu limite inferior é repre- taforma carbonática rasa, ricos em ostracodes marinhos
sentado pela discordância da base do Albiano (DBA), e foraminíferos bentônicos. Nas áreas mais distais, os

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siltitos e folhelhos do Cenomaniano inferior foram de- evento pode ser rastreado como uma forte escava-
positados em ambiente batial superior a médio. ção que erode grande parte do intervalo do Albiano-
Uma importante feição paleogeográfica da Cenomaniano nas imediações do poço 1-CES-112.
bacia, denominada Cânion de Curimã, é resultante Esta seqüência é constituída, essencialmen-
de escavações recorrentes durante o Cretáceo, sen- te, por folhelhos, margas e, subordinadamente, are-
do bem marcadas pela discordância do Albo-ceno- nitos. A análise paleoambiental através de forami-
maniano (DAC). Situado a oeste dos campos de Es- níferos e dinoflagelados aponta para uma sedimen-
pada e Curimã, este cânion apresenta seu eixo prin- tação em ambientes marinhos profundos, de batial
cipal na direção aproximada norte-sul, ramificando- superior a médio com condições de fundo desfavo-
se para nordeste onde torna a escavar a plataforma ráveis, anóxicas a disóxicas.
a leste do Campo de Espada. Valores relativamente altos de carbono orgâ-
nico total em folhelhos da Seqüência K86 refletem
boas condições de preservação da matéria orgânica
Seqüência K84 nesta seção, provavelmente relacionadas a eventos
anóxicos da passagem Cenomaniano-Turoniano. Es-
Sobre a seção do Cenomaniano inferior (K82) tes eventos anóxicos, aliados à ausência ou presen-
ocorre uma seqüência (até 205 m), geograficamente ça subordinada de sedimentação terrígena na bacia,
bem representada, de pelitos de idade mesocenoma- refletem, provavelmente, um período de máxima
niana. A Seqüência K84 é limitada na base por uma transgressão da bacia durante o Cretáceo Superior.
discordância de idade mesocenomaniana (DCM), su- A expressão em área dessa seqüência, na
perfície dificilmente individualizada nas seções sísmi- Bacia do Ceará, é restrita aos baixos estruturais dos
cas. Apesar dos poucos dados paleoambientais dispo- blocos basculados ou grábens localizados, tendo sido
níveis, em áreas proximais foram amostradas fácies mais erodida pelos vários eventos que escavaram a bacia,
arenosas e provavelmente mais rasas. Na porção mais preservando-se apenas nas regiões de cânions, como
distal, onde esta seção está mais preservada, são regis- o Cânion de Curimã.
trados paleoambientes profundos, como nerítico infe-
rior a batial superior até a batial médio, no poço mais
distal (CES-112). Seqüência K88-K90
Litologicamente, trata-se de uma seção essen-
cialmente pelítica, composta por folhelhos, siltitos e Esta seqüência (Turoniano superior a Campania-
margas. Na área mais distal, amostrada pelo poço 1- no inferior) é limitada na base por uma importante dis-
CES-112, a seção mesocenomaniana é composta por cordância de idade neoturoniana (DTU). Na porção
uma intercalação de arenitos, margas e folhelhos, proximal da bacia, onde foi melhor preservada, a Se-
nos quais foi observado importante retrabalhamento qüência K88-K90 caracteriza-se por paleobatimetrias de
de palinomorfos de idade aptiana e neo-albiana, su- batial superior a médio. Nas raras situações de preserva-
gerindo a ocorrência de um trato de sistemas de mar ção da seqüência, em áreas mais distais, são registradas
baixo de uma seqüência cenomaniana. paleobatimetrias mais profundas (batial médio).
Litologicamente caracteriza-se pelo largo pre-
domínio de fácies pelíticas, eventualmente com delga-
Seqüência K86 das intercalações de carbonatos. Uma característica
marcante dessa unidade em perfis elétricos é o padrão
O limite inferior da Seqüência K86 (Cenoma- cíclico registrado em praticamente todas as curvas.
niano superior/Turoniano inferior-médio) é dado pela A ausência de sedimentação clástica grossa
discordância do Cenomaniano Médio/Superior nesta seção, aliada à geometria deposicional dessa
(DCMS), um horizonte identificado sismicamente e seqüência (essencialmente tabular e com espessu-
em perfis, mas que no entanto não é marcado por ras reduzidas), sugere tratar-se de outro período de
significativa descontinuidade bioestratigráfica. O topo máximo transgressivo ocorrido na bacia. A boa re-
dessa unidade é claramente discordante, relaciona- presentatividade dessa seqüência na porção mais
do a um importante evento erosivo do Turoniano. proximal da bacia reflete o posicionamento mais
Mesmo nas áreas de sedimentação mais distal este costa-adentro dos depocentros àquela época.

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Seqüência K100-K120 mente regressiva que se instala na bacia após o
Neocampaniano. A Seqüência K136 recobre pra-
ticamente toda a bacia em forma de cunhas
O limite inferior desta Seqüência (Campania-
progradantes, preenchendo e colmatando todos
no superior-Maastrichtiano inferior) é dado pela dis-
os cânions existentes e alcançando espessuras má-
cordância do Campaniano (DCP), correlacionável a
ximas de 500 m. Escavações mais recentes só
mais conspícua e importante discordância do Cretá-
voltam a ocorrer no Mesoeoceno, erodindo inten-
ceo Superior na Bacia Potiguar. Esta seção represen-
samente essa seqüência.
ta as maiores paleobatimetrias verificadas na seção
do Cretáceo Superior da bacia (até batial inferior).
Litologicamente é dominada por sedimentos silici- Seqüência K138-E30
clásticos, representados por siltitos e folhelhos de
paleobatimetrias nerítico profundo a batial superior,
com arenitos subordinados. O limite inferior desta Seqüência (Maastrichtia-
As altas paleobatimetrias observadas na seção no Superior/Paleoceno) é dado pela discordância inter-
são compatíveis com a interpretação de uma época na do Maastrichtiano superior (DIMS), superfície erosiva
de mar alto generalizado e, conseqüentemente, com facilmente identificada nas seções sísmicas, principal-
a de uma elevação da profundidade de compensa- mente nas áreas dos campos de Espada e Xaréu.
ção do carbonato de cálcio na coluna de água, con- Litologicamente, a Seqüência K138-E30 ca-
forme evidenciado pela dissolução das carapaças dos racteriza-se por folhelhos e siltitos (até 300 m de es-
nanofósseis e foraminíferos planctônicos e pelas con- pessura), depositados em paleobatimetrias de neríti-
dições desfavoráveis aos organismos bentônicos. co inferior a batial superior.
O aprofundamento progressivo das fácies A porção correspondente à passagem Cretá-
deposicionais da Seqüência K100-K120 culminou ceo-Paleoceno freqüentemente está ausente, erodida
com uma superfície de inundação máxima de ida- pela discordância do Eoceno médio (DEO), que foi
de neocampaniana. Esta superfície, bem assinala- muito efetiva na bacia, principalmente em áreas mais
da pelas biotas planctônicas e bentônicas, marca distais. Quando presente, esta passagem parece ter
uma significativa mudança na geometria deposi- sido contínua, não discordante. Nos poços onde se
cional das seqüências cretáceas. Inicia-se, então, encontra preservado, o limite Cretáceo/Paleógeno é
a importante fase regressiva da bacia, que se es- caracterizado pela sucessão de folhelhos
tende por todo o Maastrichtiano e persiste nas maastrichtianos que gradam para folhelhos eopaleo-
seqüências do Paleógeno e Neógeno. cênicos, sem aparentes quebras em perfil ou con-
As maiores espessuras dessa seqüência (até trastes litológicos. É freqüente a ocorrência, na pas-
510 m) estão preservadas na porção proximal da sagem, de um nível cimentado, ora descrito como
bacia, em poços situados dentro de calhas deposi- calcilutitos ou calcarenitos, ora como arenitos cimen-
cionais ou em cânions escavados e preenchidos tados. Por este motivo, uma única seqüência é indi-
durante o Cretáceo. vidualizada, englobando as seções do Maastrichtia-
no superior ao Paleoceno. Contudo, é possível que
ocorra uma seqüência paleocênica, raramente pre-
Seqüência K136 servada pela erosão do Eoceno.
O topo da Seqüência K138-E30, de idade
Durante o Maastrichtiano acentua-se a fase eocênica, corresponde litoestratigraficamente às
regressiva na bacia, com a sedimentação da Se- formações Tibau e Guamaré, definidas original-
qüência K136 (seqüência do Maastrichtiano), que mente para a Bacia Potiguar (Souza, 1982; Silva,
atinge a máxima expressão horizontal e vertical 1966) e estendidas para a Bacia do Ceará por
de todo o Cretáceo. Corresponde, juntamente Beltrami (1985) apud Beltrami et al. (1994) devi-
com a seqüência sobreposta (K138-E30) ao Mem- do às características semelhantes. A Formação
bro Itapagé da Formação Ubarana. O limite infe- Guamaré caracteriza-se por calcarenitos deposi-
rior da Seqüência K136 é dado pela discordância tados em plataforma e talude e a Formação Tibau
de idade eomaastrichtiana (DBMA). Esta seqüên- é representada por arenitos depositados em um
cia caracteriza-se por uma sedimentação clara- ambiente de leques costeiros.

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Seqüência E40-E70 magmatismo
A Seqüência E40-E70 é limitada na base pela
As principais atividades vulcânicas conhecidas
discordância do Eoceno (DEO) e caracteriza-se pela
na Bacia do Ceará ocorreram entre o Mesoeoceno e
deposição de calcarenitos da Formação Guamaré e
Eooligoceno. Tais manifestações vulcânicas são asso-
arenitos da Formação Tibau, em um padrão de de-
ciadas a um evento de natureza alcalina representa-
posição progradacional. A discordância do Eoceno
do por corpos intrusivos de basalto e diabásio, alguns
(DEO) foi muito efetiva nas bacias marginais brasilei-
dos quais amostrados em poços exploratórios. Na por-
ras e na Bacia do Ceará erodiu parte da seqüência
ção de águas profundas e ultraprofundas, expressivos
sotoposta, incluindo a porção correspondente à pas-
edifícios vulcânicos e feições associadas indicam uma
sagem Cretáceo-Paleoceno.
intensa atividade vulcânica durante o desenvolvimen-
to da Superseqüência Drifte da Margem Equatorial.
Seqüência E80-N30 Datações K-Ar e Rb-Sr (Mizusaki et al. 2001)
indicam que as rochas vulcânicas variam do Eoceno
A Seqüência E80-N30 tem seu limite inferior (44 Ma, na área do “Alto do Ceará”) ao Oligoceno
definido pela discordância do Oligoceno superior (DOS), (32 Ma, na área do “Alto de Fortaleza”). Na área
um importante evento erosivo presente em toda a emersa do Alto de Fortaleza, intrusões fonolíticas
bacia. Representa a continuação da sedimentação dos referidas na literatura como “Magmatismo
sistemas deposicionais progradantes carbonáticos e Mecejana” são datadas entre 26 e 34 Ma (Mizusaki
siliciclásticos das formações Tibau e Guamaré (Seqüên- et al. 2001). Entretanto, análises recentes pelo mé-
cia E40-E70), bem como a deposição de grandes vo- todo 40Ar/39Ar indicam idades mais novas, entre 30 e
lumes de areia na parte de águas profundas da bacia. 34 Ma, para as mesmas rochas (Souza et al. 2004).
Este magmatismo é contemporâneo a um importan-
Seqüência N40-N50 te pulso do “Magmatismo Macau” da Bacia Poti-
guar, no Neo-oligoceno (Almeida et al. 1988;
Mizusaki et al. 2001). Localmente, próximo ao Cam-
A Seqüência N40-N50 é limitada na base por po de Xaréu, um diabásio forneceu idade K-Ar em
uma importante discordância erosiva regional de idade torno de 83 Ma, podendo estar relacionado ao “Mag-
eomiocênica (discordância do Mioceno – DMI), forte- matismo Cuó”, restrito à Bacia Potiguar e ativo no
mente atuante na bacia, reconhecida ao longo de toda intervalo Santoniano-Turoniano.
a Bacia do Ceará, bem como na vizinha Bacia Potiguar
(Pessoa Neto, 1999). A partir do Mioceno superior ob-
serva-se uma notável mudança na geometria deposicio-
nal da bacia, de progradacional para eminentemente
agradacional. Litologicamente, a Seqüência N40-N50
caracteriza-se pela implantação de uma plataforma mista
agradecimentos
dominada por sedimentação litorânea, dominantemen-
te siliciclástica na porção interna, passando lateralmente Os autores agradecem a valiosa colaboração
para carbonatos de alta energia na porção externa e de Marta Claudia Viviers, Enio Rossetti, Simone Cos-
pelitos de talude e bacia (Morais Neto et al. 2003). A ta, Rogério Antunes, Claudia Queiroz e Pedro Zalán,
Seqüência N40-N50 também compreende os sedimen- pelas contribuições técnicas, e a Leila Pezzin pela
tos clásticos da Formação Barreiras, que repousa sobre o colaboração na edição da carta. Agradecemos tam-
embasamento cristalino e interdigita-se com os sedimen- bém aos diversos exploracionistas que trabalharam na
tos da Formação Tibau nas porções proximais da bacia. bacia ao longo dos últimos 30 anos, cujas interpreta-
ções e idéias estão, de algum modo, incorporadas ao
atual estágio de conhecimento da Bacia do Ceará.
Seqüencia N60
É representada por coberturas aluvionares e sedi-
mentos eólicos costeiros sotopostos à Formação Barreiros,
correlatos à Formação Potengi na Bacia Potiguar.

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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 353


BACIA DO CEARÁ VALÉRIA CERQUEIRA CONDÉ et al.

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

1550
EO ZAN C LE AN O
NEÓGENO

M E S S I N I AN O
NEO
10 T O R T O N IA N O

S E R R AVAL IA N O MIOCENO
MESO
LAN G H I AN O

820
B U R D I GAL IA N O
20 EO
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O


MARINHO REGRESSIVO

30 OLIGOC. SUP
EO R U P E L IA N O

NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó GE N O

800
BAR T O N I AN O
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O

50 EOCENO MED.
EO Y P R E S I AN O
PALEOCENO

300
T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O
INTERNA MAAST. SUP

70 BASE MAASTRICHTIANO
( SE NO NIAN O)

510
MARINHO TRANGRESSIVO

CAM PA N IAN O

80
NEO

CAMPANIANO

295
SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R O N I AN O
TURONIANO
250
C E N O MA N IA N O
CENOMANIANO MÉDIO
199
CRETÁCEO

100 ALBO-CENOMANIANO 230


AL B I AN O MARINHO INTERNA DO ALBIANO

PLATAFORMA 375
(G ÁLI CO )

110
FLUVIO BASE DO ALBIANO
PARACURU TRAIRI 1018
DELTAICO
CONT.

ALAGOAS
APTIANO FLUVIO-LACUSTRE
120 LEQUES ALUVIAIS MUNDAÚ 2423
EO

JIQUIÁ
BARRE- BURACICA
MIANO
130
ARAT U
( NE OC O MIANO )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RIO
140 DA
SERRA
BERRIA-
SIANO

DOM
TITHO- JOÃO
NIANO
150
542
EM BASAME NTO

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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 347-355, maio/nov. 2007 | 355

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