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O maestro esteve entre nós
Não é sempre que podemos conversar com pessoas desse nível de conhecimento.
Sinto-me, portanto, na obrigação de dividir com os leitores ao menos parte dos
valiosos insights passados no evento. Evidentemente, não tenho pretensão aqui de
transmitir a vivacidade da presença in loco. O objetivo é transmitir as ideias mais
ricas, preparando o assinante, seja sob a ótica da poupança, do investimento ou
mesmo de seu trabalho ou de suas decisões empresariais, para o difícil ambiente de
2015.
[1]
Agora, há bolhas de ativos espalhadas por diversos lugares - com juro zero e muito
dinheiro disponível, investidor é empurrado para excesso de risco - e a recuperação
das economias é muito dependente de estímulos monetários.
O mundo sob bolhas de ativos e uma liquidez nunca dantes vista me parece muito
mais relevante do que nuances sobre o ajuste fiscal brasileiro, por exemplo. A
questão, porém, tem sido negligenciada pela imprensa e mesmo pela comunidade
investidora, por uma razão muito simples: como as coisas caminharam bem até aqui
(a economia global encontra alguma recuperação, mesmo que não brilhante, e as
bolsas não param de subir lá fora), assume-se que continuarão sem problemas à
frente.
Foi com essa mistura de Hume e Kahneman que abri o encontro, num introdução do
que estaria por vir, salientando o quão perto podemos estar do acerto de contas.
Como e exatamente quando dar-se-á essa reconciliação, infelizmente não se sabe.
Aqui há um ponto nevrálgico, outra falácia lógica. O que a literatura econômica sabe?
Quando há uma crise de crédito abrangente e os Bancos Centrais não atuam como
emprestadores de última instância, as consequências econômicas e financeiras
negativas são grandes. Agora, isso não quer dizer que quando há uma crise de crédito
abrangente e os Bancos Centrais atuam como emprestadores de última instância, as
consequências econômicas e financeiras são totalmente limitadas.
Alan Greenspan foi preciso ao resumir: “não sabemos o que fazer agora,
simplesmente porque nunca estivemos aqui antes.”
Marc Faber
Isso posto, o que seria apenas moderadamente caro hoje poderia se tornar bastante
caro amanhã.
Alan Greenspan
O ser humano prefere o hoje ao amanhã. Então, para trocar uma coisa para consumo
num tempo à frente, exige uma recompensa, cuja representação material é uma taxa
de juro positiva. A natureza humana trocaria, tradicionalmente, o futuro pelo presente
a uma taxa de 5% ao ano - e é por isso que parece haver um certo magnetismo para
algo em torno desse nível em horizontes temporais mais dilatados.
Ao manter juros muito baixos por bastante tempo, o Fed estimularia uma tomada
exagerada de riscos, evidenciada pelos altos níveis de Preço sobre Lucro, sobretudo
no mercado de bons, alerta Greenspan.
De acordo com ele, este é o começo de algo realmente significativo que está por vir
(no sentido de que não temos como enfrentar a estratégia de saída das políticas
implementadas pelos Bancos Centrais desde 2009 sem impactar fortemente os
mercados). “Nós não sabemos direito o que fazer, simplesmente porque nunca
estivemos aqui antes”, resumiu, caracterizando o caráter extraordinário do momento.
O maestro encerrou com uma recomendação para o investidor que está vendo
ativos muito caros e está com dificuldade de, com as suas horas de trabalho, acumular
um patrimônio que lhe permita aquisição relevante de ações e títulos: “lembre-se que
há ciclos de expansão e contração no sistema capitalista, de forma que, em longos
períodos, oportunidades de comprar barato serão criadas; e sempre que decidir
comprar ações, não esqueça da máxima de Warren Buffett ‘buy and hold’(compre e
segure)... forever (para sempre).”
Henrique Meirelles
Henrique Meirelles fez uma exposição bastante comedida, cuja mensagem final - ao
menos na minha interpretação - parece ter sido: o curto prazo pode não ser muito
fácil, mas, de uma forma ou de outra, o Brasil vai. Ele espera um crescimento médio
na próxima década de 2,6% ao ano - esse é seu cenário-base e contempla a
aprovação do ajuste fiscal, embora não conte com reformas estruturais.
Caso haja reformas de base, o crescimento poderia ser acelerado para 4% ao ano.
Isso envolveria uma série de questões estruturais, que envolveriam redução da carga
tributária, uma agenda de reformas microeconômicas, flexibilização do mercado de
trabalho, investimentos em infraestrutura, avanços em educação e saúde e avanços
institucionais nas políticas monetária e fiscal, como independência do Banco Central,
câmbio flutuante e conversível (com diminuição das intervenções).
Neste ponto nevrálgico, há uma agenda muito mais complexa do que aquela micro
supracitada. Não se trata apenas de muito trabalho, mas de como conciliar a
dicotomia entre curto e longo prazo e mexer em questões estruturais, muitas delas
inerentes à Constituição de 88.
O curto prazo exige claramente aumento de carga tributária. Isso vale tanto para que
possamos crescer mais rápido à frente quanto, principalmente, para que evitemos a
tragédia de perder o selo de grau de investimento.
Esse potencial episódio de saída do Brasil do investment grade, que batizei de BRexit,
teria consequências desastrosas e, em que pesem os esforços elogiáveis do excelente
ministro Joaquim Levy, ainda está, sim, no radar. Em sua coluna semana no jornal Valor,
o jornalista Cristiano Romero afirmou: “esta coluna apurou que, de fato, pelo menos
uma agência de classificação de risco está bastante preocupada com o impacto da
recessão nas contas públicas e, portanto, com a capacidade do setor público de
estabilizar e reduzir a dívida pública como proporção do PIB. Na próxima avaliação
que fará do país, algo previsto para o próximo mês, essa agência deve rebaixar a nota
soberana do Brasil. Há, inclusive, a possibilidade de aplicar um viés negativo à nova
nota, o que, pelo menos do ponto de vista dessa agência, levará o país a perder
virtualmente o grau de investimento.”
Ou seja, a tese de que parte importante do ajuste será feita via câmbio ganha cada
vez mais força, exigindo do investidor exposição elevada ao dólar - seja porque
estamos abaixo do câmbio de equilíbrio, o que enseja potencial de valorização para a
moeda norte-americana, ou pela necessidade de se ter seguro em meio a ambiente
bastante complicado.
A esta altura, parece claro que o Copom deve elevar em mais 50 pontos-base a taxa
Selic em sua próxima reunião, a 14,25% ao ano, e pode dar consecução com
incrementos adicionais a partir daí.
Muito embora, em linhas gerais, Joaquim Levy venha sendo bastante bem sucedido e
todas as medidas em prol do ajuste tenham sido aprovadas, elas passaram cheia de
remendos, comprometendo fortemente as estimativas iniciais de arrecadação e/ou
corte de gastos - note que matéria do Valor da última segunda-feira (15) já fala da
possibilidade de o governo revisar para baixo a meta fiscal de 2015, diante de
frustração arrecadatória em maio; a decepção estaria em torno de R$ 4 bilhões
frente às estimativas do próprio governo.
Veja ainda que, mesmo na hipótese otimista de que cumpriremos a meta fiscal de
2015 e 2016 (o que não me parece factível), caminharíamos para superávit primário
de 2% do PIB no próximo ano, ainda insuficiente para estabilizar a relação dívida/PIB -
somente um primário da ordem de 3% poderia estancar a elevação da razão de
endividamento sobre o produto.
Post script
Há outras três questões que gostaria de dividir com os leitores - ambas, obviamente,
guardam relação com o tema estrito deste relatório. Entretanto, não foram
explicitamente abordadas até aqui.
O modelo foi recentemente atualizado, com estimativa passando de 0,8% para 1,9%,
basicamente por conta do comportamento das exportações líquidas e do
desempenho mais forte das vendas ao varejo. Embora não seja crescimento
formidável, é alguma coisa já razoável e coloca, definitivamente, um aumento do juro
básico nos EUA sobre a mesa ainda em 2015.
Apesar de a revisão não trazer grande alteração pragmática para nossas sugestões,
achei importante passar essa leitura aos assinantes, pois eu havia previamente
chamado a atenção para a assertividade do modelo do Fed de Atlanta e
recomendado seu acompanhamento.
O Relatório de Emprego dos EUA relativo a maio, divulgado no dia 5 de junho,
também aponta na mesma direção, a partir da criação de 280 mil postos de trabalho,
o maior número desde dezembro, contra projeções de 210 mil.
A segunda questão altamente relevante e ainda sem ter recebido a devida atenção de
imprensa e comunidade investidora se refere à formação de bolha de ações na China.
Em meu entendimento, não se trata mais de elucubração ou mera possibilidade, mas
de um fato.
Há fatos anedóticos na bolsa chinesa. Em 2015, 144 companhias abriram seu capital
no país. Na média, a valorização dessas estreantes desde seu primeiro pregão é de
539%, incluindo aqui uma apreciação de 44% no debute - essa é o maior percentual
permitido pela regulação local.
Apenas no primeiro trimestre de 2015, quase oito milhões de contas foram abertas
em corretoras de valores, mostrando a tendência das pessoas físicas em inflar um
pouco mais as bolhas e, posteriormente, arcar com a maior parte do prejuízo quando
de seu estouro.
A terceira questão tratada neste post script não tem qualquer relação com o
abordado até aqui. Entretanto, faço questão de atualizar o leitor quanto a uma das
primeiras recomendações do relatório Palavra do Estrategista, implementada
originalmente ainda no auge das discussões sobre O Fim do Brasil, em setembro do
ano passado. Falo das ações de BrasilAgro, que acaba de entregar uma excelente
novidade a seus investidores.
À época, salientei que BrasilAgro entraria numa nova fase, oferecendo maior ritmo
para completar o ciclo de investimentos, ou seja, vendendo as terras já devidamente
valorizadas. E como suas ações negociavam (e ainda negociam) em Bolsa por valor
muito inferior ao valor real de suas propriedades, o subapreçamento ficaria mais
claro e os papéis passariam a subir.
Note que somente o valor desta fazenda representa 41,5% do total do valor de
mercado de AGRO3 (R$ 650 MM). Já retirando a área da Fazenda Cremaq, ainda há
outros 161.357 hectares agricultáveis, conforme descrito no quadro abaixo, extraído
do release de resultados divulgados no dia 31 de março:
Se considerarmos o múltiplo pago pela Fazenda Cremaq, de R$ 9,5 mil por hectare, e
o colocarmos para todo o portfólio, o valor justo para Brasil Agro seria de R$ 1,532
bilhão. Extraindo daí dívida líquida em torno de R$ 100 MM, chegaríamos a um valor
do ativo líquido de R$ 1,432 bilhão, contra os R$ 650 MM do atual valor de mercado.
Ou seja, falaríamos de um potencial de valorização de 120%. Poderíamos ser um
pouco mais criteriosos e retirar 15% de desconto sobre o valor do ativo líquido para
determinar o valor justo de AGRO3, a título de “desconto de liquidez”. Ainda assim,
teríamos potencial de valorização da ordem de 100%, justificando assim nossa
recomendação de compra.
Analistas responsáveis
Beatriz Nantes, CNPI Renato Breia
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*O analista Rodolfo Amstalden é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo cumprimento do
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