Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
SITUAÇÕES
DE ARGUMENTAÇÃO
IDA LUCIA MACHADO, GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA & WANDER EMEDIATO
ANÁLISE DO DISCURSO:
SITUAÇÕES
DE ARGUMENTAÇÃO
IDA LUCIA MACHADO, GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA & WANDER EMEDIATO
Ficha técnica
Título:
Análise do Discurso: situações de argumentação
Organização:
Ida Lucia Machado
Glaucia Muniz Proença Lara
Wander Emediato
Capa:
Frederico Pompeu
Coordenação editorial:
Mafalda Lalanda
Design gráfico:
Grácio Editor
ISBN: 978-989-99960-0-7
© Grácio Editor
Travessa da Vila União, 16, 7.º drt
3030-217 COIMBRA
Telef.: 239 084 370
e-mail: editor@ruigracio.com
sítio: www.ruigracio.com
Prefácio ..........................................................................................................7
Jacyntho Lins Brandão
6
pReFÁCIO
7
JACyNTHO LINS BRANDãO
8
PREFÁCIO
9
JACyNTHO LINS BRANDãO
10
MeDIATIZAÇÃO e DIMeNSÃO ARGUMeNTATIVA eM
NARRATIVAS De VIDA eM UM JORNAL eLeTRÔNICO
Introdução
Neste artigo, analiso a dimensão argumentativa em narrativas de
vida publicadas no jornaldocomércio online, de Pernambuco, acessado
a partir do site do UOL1. As narrativas são reunidas sob o título A His-
tória de mim, site idealizado por um projeto da jornalista Fabiana Mo-
raes2. Vejamos uma reprodução da página inicial:
11
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
12
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
13
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
14
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
15
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
16
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
17
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
18
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
19
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
21
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
21
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
22
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
23
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
24
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
25
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
26
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
27
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
28
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
29
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
30
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
31
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
+7
+4
32
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
Considerações finais
Segundo Czarnianska (2006), a narrativa pode exercer várias fun-
ções: de entretenimento, de ensino e de aprendizagem. Neste artigo, bus-
quei mostrar como elas podem implicitar uma dimensão argumentativa,
cf. Amossy (2005) a partir do desdobramento do sujeito enunciador no
qual um eu-aqui-agora projeta um eu-lá-antigamente, termos de Miraux
(2009), um outro de si mesmo, processo de auto-objetificação pelo qual
e no qual o sujeito busca organizar experiências e ações vividas, atri-
buir-lhes sentidos, projetando, ao mesmo tempo, imagens de si, de ou-
trem e do mundo. Processo narrativo que, como Bruner (2004) nos
ensina, constitui-se de gestos interpretativos contínuos, inerentes à con-
dição e à cognição humana. E, nesses gestos interpretativos, o eu-aqui-
agora realiza um ato, ao mesmo tempo, ético e estético, cf. Bakhtin
(1997): constrói uma trama, um enredo para discursivizar suas expe-
riências, a partir da referenciação de objetos de discurso, do agencia-
mento de marcas temporais, espaciais, realizando avaliações axiológicas
a partir dos referenciais éticos que constituem o sujeito no presente, que
projeta a si mesmo como um personagem, efetua, como pontua Arfuch
(2010), um deslizamento da pessoa à personagem.
Como mostra Sibilia (2004), nesse processo de narrar-se, na contem-
poraneidade, observa-se um incremento das formas de auto-estetização
e de ficcionalização de si, pontencializadas pelas novas tecnologias digi-
tais, a partir das quais, os sujeitos buscam singularizar-se, valendo-se de
recursos plurissemióticos e plásticos, típicos do mundo virtual. O site re-
sultante do projeto da jornalista Fabiana Moraes, A História de Mim, pa-
rece sinalizar esses processos de que nos fala Sibilia. O cidadão
pernambucano, José Pires de Souza Filho, ao narrar sua trajetória de vida
em terceira pessoa ilustra, de forma interessante, esse processo de desli-
zamento da pessoa à personagem, buscou usar uma linguagem poética,
33
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
34
MEDIATIZAÇãO E DIMENSãO ARGUMENTATIVA EM NARRATIVAS DE VIDA EM UM JORNAL ELETRÔNICO
Referências bibliográficas
ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea.Trad.
Paloma Vidal. Rio de Janeiro: eduerj, 2010.
ARFUCH, Leonor. Memoria y autobiografia: exploraciones em los limites. Buenos Aires:
Fondo de Cultura Económica, 2013.
BENVENISTE, E. Da subjetividade na linguagem. In: Benveniste, E. problemas de lin-
güística geral I. Trad. Novak, M. G.; Neri, M.L. 4 ed. Campinas, SP: Pontos, 1995.
p. 284-293.
BRAGA, J. L. Sociedade Midiatizada. In: Animus: revista interamericana de comunica-
ção midiática. Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Sociais e
Humanas. vol. V, n. 2 (julho/dez 2006). p. 9-35.
AMOSSy, Ruth. ethos. In: Maingueneau D.; Charaudeau, P. (Orgs). Dicionário de análise
do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
AMOSSy, Ruth. Rhétorique et analyse du discours. Pour une approche sócio-discursive
des textes. In: Adam, J-M.; Heidmann, Ute.(Orgs). Sciences du texte et analyse de
discours. Études des Lettres, 1-2, 2005.
BAKHTIN, Mikhail. estética da Criação Verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pe-
reira, 1997.
BERTAUX, Daniel. Les récits de vie. Paris: Nathan, 1997.
BROCKMEIER, Jens; HARRÉ, Rom. Narrativa: Problemas e Promessas de um Para-
digma Alternativo. In: psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(3), pp. 525-535.
BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: Ferreira, M. de Moraes; Amado, Janaína. (Orgs).
Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 183-191.
BRUNER, Jerome. Life as narrative. Social Research Vol 71 : No 3 : Fall 2004.
CZARNIANSKA, B. e narrative turn in Social Sciences. In: CZARNIANSKA, B. Nar-
ratives in Social Science Research. 1. London: SAGE Publications, 2006, p. 1-16.
DOSSE, François. O desafio biográfico: escrever uma vida. Trad. Gilson César Cardoso
de Souza. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
DUCROT, O Dizer e o dito. Tradução de Eduardo Guimarães. Campinas, SP: Pontes,
1984.
DOURy, M. Argumentation et stratégie narrative. In: Le roman d’aprrentissage au 19e
siècle. Paris: Hatier, 1995.
LEJEUNE, Phillipe. Le pacte autobiographique. Paris: Éditions du Seuil, 1975.
SIBILIA, Paula. O “eu” dos blogs e das webcams: autor, narrador ou personagem. In: Anais
do IV encontro dos Núcleos de pesquisa da Intercom (NP 08 — Tecnologias da
Informação e da Comunicação), Porto Alegre, 2004.
MACHADO, Ida, L. Storytelling, uma nova “moda” de comunicação/persuasão? In:
EMEDIATO, Wander; LARA, Gláucia (Orgs.) Análise do discurso hoje. Rio de Ja-
neiro: E. Nova Fronteira, 2011, p. 166-167.
MACHADO, Ida, L. Reflexões sobre uma corrente de análise do discurso e sua aplica-
ção em narrativas de vida . Portugal: Grácio Editor, 2016.
MAINGUENEAU, D. Modalização. In. Maingueneau D.; Charaudeau, P. (Orgs). Dicio-
nário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
35
CLÁUDIO HUMBERTO LESSA
36
O MeSSIANISMO COMO UM pRObLeMA De
ARGUMeNTAÇÃO: UM eSTUDO DA ObRA
pROFéTICO-MeSSIâNICA De pADRe VIeIRA1
Introdução
Falar em messianismo, como explica Cazelles (1984, p. 1312), é falar
da figura do messias, que significa originalmente “ungido do senhor”,
em referência ao rito de unção por óleo de oliva que, na época primitiva,
dava legitimidade a um novo rei como aquele destinado pela divindade
a levar proteção a seu povo. Em momentos de instabilidade social, a as-
censão de um novo rei era aguardada e vista como uma forma de reaver
a prosperidade, a paz, a harmonia social, envolvendo, pois, uma espera
messiânica que se voltava para uma correção no curso da história.
Desse sentido primeiro de messianismo, porém, deriva um sentido
mais amplo e mais disseminado que pode ser entendido como uma
crença mítico-religiosa. Ela se expressa, sobretudo, quando um dado
grupo espera um messias que seja operador não (mais) de uma correção
no curso da história, mas de sua interrupção em favor do que seria o re-
torno a um mítico passado de plenitude perdida, a um mítico paraíso
perdido ou a uma Idade de Ouro de um passado longínquo. Trata-se,
assim, em última análise, de uma forma de compreender a realidade e a
história, buscando integrar um presente negativo a um projeto trans-
cendente que resgata, no futuro, uma condição que se crê perdida no
passado.
Quando essa crença se manifesta em produções discursivas, pode-
mos falar de um quadro retórico específico, que é o que procuraremos
examinar e explicitar neste trabalho. Para subsidiar a reflexão proposta,
analisaremos o texto História do futuro, de Padre Vieira, obra que atualiza
1
Este trabalho deriva de uma reflexão sobre o discurso messiânico que, transformada em tese
de doutorado, foi defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos
Linguísticos/UFMG (ver BRITO, 2015). Contou, para tanto, com bolsa da FAPEMIG e do
PDSE/CAPES.
37
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
38
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
39
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
devem prevalecer no futuro, tal como se dava num passado mítico vi-
sado. Por isso mesmo, o discurso-enunciado é o lugar da realização de
um ato preditivo do enunciador, que promete (diz antes) ao destinatário
(enunciatário) uma iminente ordem de plenitude, entendida como a
hegemonia dos valores do nós em relação a valores outros.
Postulando isso, podemos delinear o que seria o quadro retórico es-
pecífico para as produções ligadas ao messianismo. Do ponto de vista
das imagens dos partícipes da enunciação, esse quadro retórico implica,
além da vulnerabilidade atribuída ao destinatário da previsão, um éthos
de conhecimento para o enunciador, que deve se marcar, de algum
modo, pela excepcionalidade. Trata-se de uma imagem capaz de legiti-
mar o discurso preditivo do enunciador, que se coloca, então, como fia-
dor (MAINGUENEAU, 2005, p. 64 e 72) de um discurso que antevê o
que virá, o que parece ainda lhe conferir um certo dever fazer saber.
É preciso supor ainda que o discurso preditivo que caracteriza a ex-
pressão do quadro do messianismo apresente uma coerência interna.
Por isso, em termos de logos, postulamos uma lógica preditiva que pode
ser formalmente representada pelo encadeamento implicativo: se A,
então B, sendo B o previsto (fato futuro) e A aquilo que, em sentido
amplo, sustenta o previsto. Um discurso assim construído se baseia em
crenças partilhadas sobre o que seria uma eleição transcendente, isto é,
uma crença na existência de um grupo de eleitos (grupo a que os coe-
nunciadores se sentem ou devem se sentir pertencentes) e sobre inter-
venções do sagrado na história. No quadro retórico que se desenha, isso
pode ser entendido como uma doxa mítico-religiosa que une os parcei-
ros da comunicação no discurso messiânico.
É possível ainda acrescentar ao quadro retórico descrito o que Main-
gueneau (2008, p. 89) compreende como dêixis enunciativa. Com essa
noção, o autor designa um aqui/agora não de surgimento efetivo do
enunciado; trata-se, antes, de coordenadas espaço-temporais que o dis-
curso faz emergir como forma de validar a sua própria enunciação. No
caso em análise, a enunciação é legitimada pela emergência de um
aqui/agora de véspera de plenitude, sendo o tempo, preponderante nesse
caso, um tenso ainda não que precede a plenitude anunciada (o já)
(BRITO, 2015, p. 225).
40
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
esquema 1
Quadro retórico de produções discursivas ligadas à crença messiânica
Doxa mítico-religiosa
Crença em intervenção divina na história/crença na eleição
Sustentação implicativa
do anúncio:
Se A, então b
Modalização deôntica: Aqui/Agora
[B é o previsto / A aquilo que o sus-
Dever fazer saber de véspera
tenta]
de Plenitude
DISCURSO DE PODER
41
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
Para satisfazer, pois, à maior ânsia deste apetite [de saber o futuro]
e para correr a cortina aos maiores e mais ocultos segredos deste
mistério, pomos hoje no teatro do Mundo esta nossa História,
por isso chamada do Futuro. (VIEIRA, s. d.: 02 e 04, vol. I).
[...]
42
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
43
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
sentimento dos membros, que estão fora de seu lugar. Alguns ge-
midos se hão-de ouvir entre vossos aplausos, mas também estes
fazem harmonia. Se são dos inimigos, para os inimigos será a dor,
para os êmulos a inveja, para os amigos e companheiros o gosto
e para vós então a glória, e, entretanto, as esperanças (VIEIRA,
s.d.: 8-9, vol. I)
44
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
de uma experiência mística, que faz do profeta alguém que sabe porque
viu ou vê3.
Essa dualidade se expressa, em particular, nas relações — diríamos
mesmo, tensões — que o nível da enunciação mantém com o nível do
enunciado. Na realidade, podemos dizer que, enquanto no nível do
enunciado, busca-se, predominantemente, construir o éthos de raciona-
lidade capaz de sustentar a previsão, afastando-se, dessa forma, do éthos
de profeta, este pode ser recuperado no nível da enunciação.
Nessa perspectiva, para além da referência que o texto faz ao seu
próprio projeto discursivo como revelação, o que remeteria ao discurso
profético, há um “tom” que permeia várias passagens, permitindo ao
enunciatário (re)construir o éthos de profeta. Essas passagens apresen-
tam uma carga emocional, um estilo assertivo e, ao mesmo tempo, dra-
mático num relato voltado para o futuro, à maneira de alguém que
experimenta uma visão:
Hão-se de ler nesta História, para exaltação da Fé, para triunfo
da Igreja, para glória de Cristo, para felicidade e paz universal do
Mundo, altos conselhos, animosas resoluções, religiosas empre-
sas, heróicas façanhas, maravilhosas vitórias, portentosas con-
quistas, estranhas e espantosas mudanças de estados, de tempos,
de gentes, de costumes, de governos, de leis; mas leis novas, go-
vernos novos, costumes novos, gentes novas, tempos novos, es-
tados novos, conselhos e resoluções novas, empresas e façanhas
novas, conquistas, vitórias, paz, triunfos e felicidades novas; e não
só novas, porque são futuras, mas porque não terão semelhança
com elas nenhumas das passadas. Ouvirá o Mundo o que nunca
viu, lerá o que nunca ouviu, admirará o que nunca leu, e pasmará
assombrado do que nunca imaginou (VIEIRA, s.d.: 4-5, vol. I)
45
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
46
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
47
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
48
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
49
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
50
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
em uma e outra teologia, de que o nosso século tem sido mais fe-
cundo e abundante que todos até hoje. (VIEIRA, s.d., vol. I, p. 76).
51
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
52
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
53
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
54
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
[...] tudo o que leio de ti são grandezas, tudo que descubro me-
lhoras, tudo o que alcanço felicidades. Isto é o que deves esperar,
e isto o que te espera; por isso em nome segundo e mais declarado
chamo a esta mesma escritura Esperanças de Portugal, e este é o
comento breve de toda a História do Futuro.
[...] a melhor parte dos venturosos futuros que se esperam, e a
mais gloriosa deles, será não só própria da Nação portuguesa,
senão única e singularmente sua. Portugal será o assunto, Portu-
gal o centro, Portugal o teatro, Portugal o princípio e fim destas
maravilhas; e os instrumentos prodigiosos delas os Portugueses
(VIEIRA, s.d.: 06 e 08, vol. I)
55
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
Considerações finais
O exame do quadro retórico ligado ao messianismo implica, como
procuramos demonstrar, a produção de um discurso prospectivo sus-
tentado, para além de uma coerência interna, por um éthos de conheci-
mento ligado a uma fonte legitimadora transcendente e por uma dêixis
enunciativa de véspera de plenitude, num claro apelo ao páthos. O enun-
ciador do discurso messiânico, por isso, é aquele que faz uma espécie
de exegese de uma trama histórica da qual o fim desejado torna-se sa-
bido e iminente, mas necessária e constitutivamente por vir, já que a
enunciação do discurso messiânico é aquela que ocorre no sempre rea-
tualizado aqui/agora de véspera de plenitude, no tenso ainda não que
precede à plenitude anunciada (o já).
As particularidades das produções discursivas identificadas com o
messianismo parecem demarcar para elas, assim, um lugar específico
no interior do domínio religioso. Trata-se, porém, de um lugar marginal,
na medida em que essas produções, não raramente, são rejeitadas nesse
domínio. O caso de Vieira parece confirmar isso: ele foi condenado pelo
Santo Ofício por defender a iminência do reino do Cristo, previsão que,
segundo os acusadores, não cabia ao padre jesuíta (EMERy & PEREIRA,
2015, p. 17). O discurso messiânico é, assim, aquele que anuncia não
necessariamente um o quê, que parece ser, em geral, algo da que une os
parceiros da comunicação, mas um quando.
No ato preditivo do discurso messiânico, por isso, anuncia-se mais
precisamente a chegada iminente da instância redentora e da conse-
quente plenitude. A lógica preditiva desse tipo de discurso, ao que tudo
indica, fundamenta-se numa relação em que o presente compreendido
56
O MESSIANISMO COMO UM PROBLEMA DE ARGUMENTAÇãO:
UM ESTUDO DA OBRA PROFÉTICO-MESSIâNICA DE PADRE VIEIRA
Referências bibliográficas
AMOSSy, Ruth. L’argumentation dans le discours. Paris: Armand Colin, 2006.
BRITO, Clebson Luiz de. A configuração do discurso messiânico em uma perspectiva
semiótica e argumentativa. 2015. 234f. Tese (Doutorado em Linguística do Texto
e do Discurso) — Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Belo
Horizonte, 2015.
CALAFATE, Pedro. Introdução geral à obra profética e Introdução ao volume I da obra
profética. In: VIEIRA, António. Obra completa (tomo III, volume 1): História do
futuro e Voz de Deus ao mundo, a portugal e à baía. Direção de José Eduardo
Franco e Pedro Calafate. São Paulo: Loyola, 2015. p. 11-47.
CAZELLES, Henri. Messianisme. In: POUPARD, Paul (org.). Dictionnaire des religions.
Paris: PUF, 1984. p. 1312-1313.
CORRARELLO, Ana María. Fidel Castro. Fundação de la memória revolucionaria:
Una aproximación rétorico-discursiva de los comienzos (1959-1962). Buenos Aires:
Aditorial Académica Española, 2012.
EMERy, Bernard; PEREIRA, Brigitte. L’aura messianique d’un petit peuple intrépide
(texto de introdução). In: VIEyRA, Antoine. Histoire du futur. Grenoble:
Ellug/Université Stendhal, 2015. p. 18-26.
GRIZE, Jean-Blaise. Le point de vue de la logique naturelle: démontrer, prouver, argu-
menter. In: DOURy, Marianne; MOIRAND Sophie (dir.). L’Argumentation au-
jourd’hui. Positions théoriques en confrontation. Paris: Presses de la Sorbonne
Nouvelle, 2004. p. 35-44.
57
CLEBSON LUIZ DE BRITO & GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA
58
ARGUMeNTATION, (pSeUDO-) DISCOURS RAppORTéS
eT FIGURe De pRéTéRITION.
Le CAS DU DébAT De L’eNTRe-DeUX-TOURS De
MAI 2017
Françoise Sullet-Nylander
1. Introduction
Le débat de l’entre-deux-tours des présidentielles françaises du 3 mai
2017 entre Emmanuel Macron et Marine Le Pen a été décrit par de nom-
breux observateurs, français et étrangers, comme le « plus violent de la
Vème République », comme un débat qui « a rarement atteint la hauteur
et la qualité rhétorique qui caractérise d’habitude en France la parole
politique » (Libération du 4 mai 2017)1. Le chercheur Damon Mayaffre2,
quant à lui, considère que la candidate du Front National a appliqué tout
au long du débat une « rhétorique ad hominem ». Dans une étude anté-
rieure (Sullet-Nylander & Roitman, 2011), nous avions comparé les em-
plois du discours rapporté (DR) du débat de 1995 (Chirac/Jospin) avec
celui de 2007 (Sarkozy/Royal). On a ainsi pu constater de nettes diver-
gences avec, d’un côté, un DR neutre et argumentatif (débat de 1995) et,
de l’autre, un DR de disqualification et de réfutation (débat de 2007).
Dans cette étude, on analysera en premier lieu les cas de reprise du
discours de l’opposant pendant le débat, que l’on pourrait qualifier de
« canoniques », pour ensuite se pencher sur ce que Rosier (2008)
nomme les « pseudo-discours rapportés » (PDR) et qui peuvent véhi-
culer, en fonction du contexte, la « déconsidération du discours d’au-
trui » (ROSIER, 2008, p. 27). En effet, compte tenu du caractère belliqueux
1
http://www.liberation.fr/politiques/2017/05/04/le-debat-le-pen-macron-vu-par-la-presse-
etrangere-le-plus-violent-de-la-ve-republique_1567224
2
Ce chercheur s’exprime ainsi au lendemain du débat dans le journal Nice Matin : « La première
erreur de la candidate a été d'appliquer une rhétorique "ad hominem". « Elle a enchaîné les at-
taques personnelles à l'encontre d'Emmanuel Macron au lieu de présenter son programme.
Elle a commencé cette stratégie dès les trois premières secondes et n'a pas lâché cette ligne jus-
qu'à la conclusion ». Voir le lien : http://www.nicematin.com/politique/desarconnant-ce-ni-
cois-specialiste-du-discours-politique-livre-son-analyse-du-debat-macron-le-pen-134340
59
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
60
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
61
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
c. Je ne vous ferai pas l’affront de vous rappeler que vous n’êtes pas
invité à cette soirée. (http://bdl.oqlf.gouv.qc.ca)
7
Voir la version électronique de Snoeck Henkemans (2009) :
http://journals.openedition.org/aad/217 sous « Effets potentiels de la prétérition »
8
Les exemples a et b sont empruntés à Snoeck-Henkemans (2009).
62
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
63
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
64
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
3.1. Assertion vs réfutation : « Vous avez dit » vs « Je n’ai pas dit »
La plupart des reprises du discours de l’interlocuteur, avant ou pen-
dant le débat, du type « vous avez dit », sont l’affaire de Marine Le Pen et
apparaissent dans un contexte hautement polémique, où la candidate
tente, sur divers sujets, d’attribuer à Emmanuel Macron des propos qui
viennent appuyer sa propre vision de la politique à mener dans le cas où
elle serait élue. Cette stratégie oblige Emmanuel Macron à réfuter par des
formules du type « je n’ai pas dit » et à se justifier par des constructions
11
On a enlevé les occurrences de la forme « dire » appartenant à des expressions figées et/ou
impersonnelles comme « c’est-à-dire » ou comme « ça veut dire ». Nous avons également
relevé 19 occurrences de « demander » et 26 occurrences de « répondre ».
12
Ces quatre occurrences impératives de « ne dites pas » reviennent à Emmanuel Macron qui
demande à trois reprises à Marine Le Pen de ne pas dire de « bêtises » et une fois de ne pas
dire de « mensonges ». (voir section 3.2)
13
Dont quatre occurrences qui reviennent à Macron lorsqu’il corrige ce qu’a dit son interlocu-
trice sur ses propos à lui. Ex. « Madame Le Pen, je sais ce que j’ai dit, je n’ai pas dit ça. »
65
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
pseudo-clivées, comme « ce que j’ai dit, c’est que », selon le modèle des
échanges suivants14 :
(1) MLP : D’accord moi j’ai une question quand même Monsieur
Macron. Vous avez dit la France a une part de responsabilité
dans le terreau du djihadisme. Vous pouvez expliquer votre
pensée.
EM. Non, je vais d'abord démanteler les bêtises que vous avez
dites tout à l'heure.
(2) MLP : Et vous avez dit dans une émission j’accepte le soutien
de l’UOIF.
EM : Je suis désolé de vous le dire, mais Madame Le Pen, pas
plus que ça n’est chez moi qu’il y a des cadres qui font des trans-
actions avec Daech, ce que Mediapart a encore révélé au-
jourd’hui. Monsieur Veillard qui a fait une transaction entre
Lafarge et Daech. Mais c'est vous. Ce sont vos responsabilités.
MLP : Vous avez dit : la France a une part de responsabilité
dans le terreau du jihadisme. Qu’est-ce que ça veut dire ?
(3) MLP : Vous avez l’air mal à l’aise.
EM : Je ne suis pas mal à l’aise du tout. Ce que je dis, c’est que.
Pourquoi des jeunes Français se radicalisent. C’est la question
qu’on doit collectivement se poser. Vous avez raison de la
poser.
MLP : Vous avez dit, c’est à cause de la France.
EM : Madame Le Pen, je sais ce que j’ai dit, je n’ai pas dit ça.
Ne mentez pas, une fois encore. J’ai dit, on doit s’interroger
quand des jeunes Français ou des jeunes Françaises qui sont
nés en France, qui ont grandi en France, qui ont été élevés
dans notre pays, suivent des fanatiques et détruisent nos pro-
pres enfants.
(4) MLP : C’est si vrai que quand on vous a demandé comment
vous alliez faire face à Madame Merkel, vous avez dit, je ne
serai pas face à elle, je serai avec elle.
EM : Mais bien sûr que je veux une France qui se bat avec l’Al-
lemagne, Madame Le Pen.
MLP : Non, je vais vous dire ce qui va se passer, Monsieur Ma-
cron. De toute façon, la France sera dirigée par une femme, ce
14
Dans les exemples, les noms des candidats seront abrégés en MLP et EM.
66
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
Dans les séquences (1)-(4), Marine Le Pen attribue des propos à Em-
manuel Macron que celui-ci nie dans un premier temps, pour les refor-
muler et les expliciter par la suite. Il s’agit, dans la plupart des cas, de
propos qu’Emmanuel Macron auraient tenus avant le débat. La candi-
date saisit ici l’occasion de le mettre devant le « dit accompli » et, dans
de nombreux cas, de propos compromettant l’image du président res-
pectable que veut dégager Emmanuel Macron. Elle oblige ainsi son ad-
versaire à utiliser une bonne partie de son temps de parole à se défendre
et à se justifier d’avoir déclaré telle ou telle chose en public. Cette straté-
gie permet également à Marine Le Pen de ne pas développer son propre
programme, ce qu’Emmanuel Macron souligne, en particulier, en fin de
débat : « Madame Le Pen a utilisé sa conclusion toute entière pour dire
des mensonges sur mon projet sans jamais dire ce qu’elle voulait pour le
pays. »
En (1) d’abord, sur le thème de la sécurité et du terrorisme15, la can-
didate somme son interlocuteur de s’expliquer sur des propos qu’il aurait
tenus : « Vous avez dit la France a une part de responsabilité dans le ter-
reau du djihadisme. » Elle cherche ainsi à décrédibiliser Emmanuel Ma-
cron devant les Français en ce qui concerne la lutte contre le terrorisme,
en l’accusant en même temps de faire porter la faute sur les Français. Il
en va de même dans l’exemple (2) touchant au même thème. Emmanuel
Macron répond, plus loin dans le débat, alors que Marine Le Pen a réitéré
la même requête :
(5) EM : On doit s’interroger et j’ai dit : nous avons notre part de
responsabilité. C’est pas la première cause. La cause première,
ce sont les djihadistes, les terroristes. C’est pour ça d’ailleurs
que je veux mener une guerre intraitable hors de nos fron-
tières [MLP : c’est quoi la part de responsabilité de la France ?]
contre l’Irak et la Syrie [MLP : c’est quoi la part de responsa-
bilité de la France ?]
15
Après environ 1 heure ½ de débat.
67
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
68
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
69
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
(9) EM : Madame Le Pen, SFR était la propriété d’un groupe privé
qui s’appelle Vivendi. Nous sommes dans un état où la pro-
priété privée est respectée. C’est le groupe Vivendi qui l’a
vendu, ne dites pas de bêtises. Vous en dites beaucoup. Ce n’est
qu’une des bêtises que vous avez proférées depuis tout à
l’heure, mais surtout, ça ne fait pas avancer le pays.
(10) EM : Je ne suis pas du tout énervé Madame Le Pen
MLP : Laissez-moi parler. Regardez, j'ai du retard sur vous.
EM : Mais vous allez le rattraper. Mais parlez de votre projet.
Ne dites pas de bêtises sur le mien. J'ai un projet, mais sim-
plement je ne réagis pas aux événements comme vous.
Dans chacune de ces séquences en (6)-(10), aussi bien sur les thèmes
de l’économie et du chômage (ex. 6 et 9), ceux de la sécurité et du terro-
risme (ex. 7 et 10), que sur la politique étrangère et l’Union Européenne
(ex. 8), Emmanuel Macron rejette en bloc les propos tenus par Marine
Le Pen, les qualifiant soit de « bêtises », soit de « mensonges ». Ce type
de disqualification porte sur l’énonciation de l’interlocuteur, comme
dans l’exemple (4) discuté plus haut (« Mais arrêtez, ce sont des formules
qui sont ridicules »).
Dans notre étude de 2011, comparant le débat de 1995 entre
Jacques Chirac et Lionel Jospin avec celui de 2007, entre Nicolas Sar-
kozy et Ségolène Royal, on avait pu constater que dans le premier débat,
le discours de l'autre était repris à des fins argumentatives neutres plus
qu’à des fins disqualificatives : il s’agissait là de mettre en valeur son
propre discours en le « tissant » avec celui de l’autre. Les commentaires
concernant les dits et dires de l'autre étaient peu polémiques et les for-
mules concessives, du type « c'est vrai », relativement nombreuses. Dans
le débat de 2007, en revanche, les stratégies de disqualification de l’autre
y étaient plus marquées et plus fréquentes avec des encadrements du
discours rapporté dévalorisants, ainsi que des disqualifications du
dire, comme dans « Ne jouez pas sur les mots ni sur la misère des
gens. » de la part de Ségolène Royal, ou des énoncés concessifs iro-
niques, de la part de Nicolas Sarkozy en particulier, introduisant une
argumentation sur leurs visions politiques différentes et menant au rejet
des propos de l’autre: « Elle nous dit que personne ne travaille plus de
35 heures, ainsi, cela obligera les autres à embaucher. Nulle part ailleurs
70
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
dans le monde, on ne fait cela. Il n’y a pas un seul pays, madame, socia-
liste ou pas, qui a retenu la logique du partage du temps de travail, qui
est une erreur monumentale. » Les débats de 2007 et 2017 ont certes
des caractéristiques discursives et énonciatives communes, en particu-
lier les nombreux cas de disqualification du dit mises en scène à travers
des reformulations et des introducteurs du DR négatifs, mais la dimen-
sion « concessive » et ironique est plus marquante en 2007, sans doute
liée aux préférences individuelles de Nicolas Sarkozy pour ce mode dis-
cursif. Les exemples (6) à (10) ci-dessus indiquent cependant que les
disqualifications portent, de manière plus systématique et plus fré-
quente dans le débat de 2017, sur les dires mêmes de l’adversaire, et se
font sur le mode de l’injonction.
71
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
NETTE 2002, p. 7-8). La frontière est donc ténue entre ce que nous avons
qualifié plus haut de DR « canoniques » (section 3.1) et ce que nous
abordons à présent sous le terme « pseudo-discours rapportés » (ROSIER
2008). En effet, dans le genre interactif et polémique, chaque énoncé at-
tribué à l’allocutaire est proféré à des fins argumentatives et peut ainsi
ne pas relever d’un discours antérieur, mais plutôt d’un discours mani-
pulé, voire inventé.
Nous soutenons, à l’instar de Charaudeau et Maingueneau (2002),
que les modes de représentation des discours autres sont « une des di-
mensions du positionnement ou du genre de discours » et la « manière
dont une parole est attribuée à une autre source énonciative est solidaire
des caractéristiques de l’ensemble du discours citant » (CHARAUDEAU ET
MAINGUENEAU, 2002, p. 194-195). Or, on a affaire ici un sous-genre de
discours politique bien défini : il s’agit d’oral en interaction produit en
contexte médiatique et relevant d’un registre confrontationnel (KERBRAT-
ORECCHIONI 2017, p. 9). Compte tenu de ces trois caractéristiques (et
particulièrement de celles de la dernière édition), il paraît fort probable
que les protagonistes feront usage de formules résumantes, voire « pré-
sumantes » des discours adverses.
Après environ deux heures de débat, alors que le thème vient de pas-
ser à la question européenne, les journalistes demandent aux deux can-
didats - à Marine Le Pen d’abord - de donner leur définition de l’Europe
à venir (« On va parler d’Europe… Nous donner votre définition de l’Eu-
rope de demain, vous présidente, Marine Le Pen. »). La candidate
construit alors son argumentaire en mettant en avant sa vision d’une Eu-
rope comme une « alliance des nations européennes libres et souve-
raines », par opposition à une union européenne, celle d’Emmanuel
Macron selon elle, ouverte à toutes les concurrences extérieures. Elle an-
nonce alors sa volonté de consulter les Français par référendum, qu’elle
envisageait d’organiser en septembre 2017. L’échange entre les deux can-
didats se déroule ainsi :
(12) MLP : C’est un délai indicatif. Mais, il faut. Moi, je ne veux
pas créer le chaos, je ne veux pas précipiter. Si c’est dix mois,
ben ce sera dix mois. L’important c’est encore une fois d’ob-
tenir cette négociation. Pardon et juste, j’en termine. J’en ai
pour quelques secondes. Monsieur Macron, vous avez donné
72
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
73
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
74
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
75
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
76
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
77
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
78
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
Parce que oui, ce sont bien des policiers français qui sont
alors allés chercher des Juifs. C’est la réalité et ça c’est un
crime contre l’humanité.
MLP : Monsieur Macron, on va pas avoir un débat juridique
honnêtement sur la rafle du Vel d’Hiv en l’occurrence.
4. Remarques finales
Après nous être intéressée à l’emploi des discours rapportés et
pseudo-discours rapportés, en tant qu’outils d’argumentation durant le
débat de l’entre-deux entre Emmanuel Macron et Marine Le Pen (2017),
nous sommes penchée sur la figure de prétérition. Les mêmes formes
dominantes de discours rapporté relevées dans les débats précédents, en
particulier ceux de 1995 et 2007, se retrouvent dans le débat Macron-Le
Pen. Cependant, la stratégie de disqualification de l'autre et de son dis-
cours s'y avère plus acerbe, en particulier de la part de Marine Le Pen
qui cherche systématiquement à confondre son adversaire en lui oppo-
sant ses propres paroles avant ou pendant le débat. Les dires de l’autre
sont également rejetés sans concession et qualifiés de « mensonges » ou
de « bêtises » à plusieurs reprises, en particulier de la part d’Emmanuel
Macron.
79
FRANÇOISE SULLET-NyLANDER
Références bibliographiques
AMOSSy, R. L’argumentation dans le discours. Paris : Nathan Université, 2000.
AMOSSy, R. Argumentation et Analyse du discours : perspectives théoriques et décou-
pages disciplinaires. In : Argumentation et Analyse du Discours.
https://journals.openedition.org/aad/200, 2008.
BONHOMME, M. De l’argumentativité des figures de rhétorique. In : Argumentation et
Analyse du Discours. URL : http://aad.revues.org/495?lang=en, 2009.
CAILLAT, D. Le discours rapporté dans les débats politiques télévisés : formes et fonc-
tions des recours au discours autre. Le cas des débats de l’entre-deux-tours des
présidentielles françaises (1974-2012). èse de doctorat soutenue le 8 déc. 2016,
Université Lumière Lyon 2, 2016.
CHARAUDEAU, P. Entre populisme et peopolisme : Comment Sarkozy a gagné ! Paris :Vui-
bert, 2008.
CHARAUDEAU, P. & MAINGUENEAU, D. (dir.) Dictionnaire d’analyse du discours. Paris: Seuil,
2002.
CHARAUDEAU, P. Le débat présidentiel Un combat de mots. Une victoire aux points. Lan-
gage & Société, n°151. URL: http://www.patrick-charaudeau.com/Le-debat-presi-
dentiel-Un-combat-de.html, 2015.
FONTANIER, P. Les figures du discours. Paris : Flammarion, 1977.
FONTANILLE, F. La dimension rhétorique du discours: les valeurs en jeu. In : BADIR &
KLINKENBERG (eds) Figures de la figure: sémiotique et rhétorique générale. Paris:
Pulim 2008.
GRIZE, J.-B. Le point de vue de la logique naturelle : démontrer, prouver, argumenter. In :
Doury M. et Moirand S. (éds) L’argumentation aujourd’hui. Positions théoriques en
confrontation. Paris : Presses Sorbonne Nouvelle, 2004, p. 35-44.
KERBRAT-ORECCHIONI, C. Les débats de l’entre-deux-tours des élections présidentielles fran-
çaises. Constances et évolutions d’un genre. Paris : L’Harmattan. 2017.
MARNETTE, S. Aux frontières du discours rapporté. Revue Romane 37 .1, p. 3-31, 2002.
80
ARGUMENTATION, (PSEUDO-) DISCOURS RAPPORTÉS ET FIGURE DE PRÉTÉRITION.
LE CAS DU DÉBAT DE L’ENTRE-DEUX-TOURS DE MAI 2017
RICHARD, Arnaud & SANDRÉ, Marion. Le discours rapporté dans les débats politiques té-
lévisés femme/homme : le cas Aubry-Hollande ». In : Sullet-Nylander & al (eds)
Discours rapporté, genre(s) et médias. Stockholm : Département d’Études Romanes
et Classiques, 2014, p. 209-225.
ROITMAN, M. & SULLET-NyLANDER, F. Voix de campagne présidentielle : quelques obser-
vations sur la question et la réfutation dans le débat télévisé Royal-Sarkozy (2 mai
2007). In : G. LEDEGEN & M. ABECASSIS. Les voix du français. Volume 1 à travers l’his-
toire, l’école et la presse : usages et représentations. Peter Lang : Bern, 2010, p. 303-317.
ROSIER, L. Le discours rapporté en français. Paris : Ophrys, 2008.
SANDRÉ, Marion. Discours rapportés et stratégies argumentatives : Royal et Sarkozy lors
du débat de l’entre-deux tours. In : Langage et Société, n. 140, p. 71-87, 2012.
SNOECK HENKEMANS, Francisca. La prétérition comme outil de stratégie rhétorique.
In : Argumentation et Analyse du Discours. URL : http://aad.revues.org/217, 2009.
STEUCKARDT, A. Le discours rapporté dans Les Liaisons dangereuses.
http://www.persee.fr/doc/igram_0222-9838_1998_num_79_1_2846, 1998.
SULLET-NyLANDER, F & ROITMAN, M. De la confrontation politico-journalistique dans
les grands duels politiques télévisés : questions et préconstruits. In: Actes du IIIe col-
loque Le Français parlé des médias. Les médias et le politique, 2010.
https://www.unil.ch/clsl/fr/home/menuinst/publications/actes-fpm-2009.html
SULLET-NyLANDER, F & ROITMAN, M. Discours rapportés et débats télévisés. Étude com-
parative : Chirac/Jospin (1995) vs Sarkozy/Royal (2007). In: LOPEZ MUNOZ, J.-M.,
MARNETTE, S., ROSIER, L. & STOLZ, C. (dir.). Citations II. Citer pour quoi faire? Prag-
matique de la citation. Louvain-la-Neuve: Academia Bruylant, 2011, p. 113-128.
SULLET-NyLANDER, F & ROITMAN, M. Mais vous avez tout à fait raison M. le Premier mi-
nistre. Termes d’adresse et débats politiques télévisés de l’entre-deux-tours (1974),
2012. In : Pragmática Sociocultural / Sociocultural Pragmatics. Volume 4, Issue 1, p.
1–24, ISSN (Online) 2194-8313, ISSN (Print) 2194-8305, DOI: 10.1515/soprag-
2016-0004, 2016.
SULLET-NyLANDER, F. Vous n’avez pas le monopole du cœur pour les chiens et les chats:
jeux de langage et “stratégies de disqualification” dans quatre débats des présiden-
tielles françaises (1974-1995). Cadernos de Linguagem e Sociedade, v. 18, n.1. pp.
95– 114. Brasília: UNB, 2017.
81
UMA ReFLeXÃO SObRe A VIOLêNCIA VeRbAL
COMO ReCURSO à CULpAbILIZAÇÃO NA
INTeRNeT
Helcira Lima
Introdução
Ao refletir a respeito da violência, Žižek (2014) menciona os cho-
ques entre culturas diferentes, os quais colaboraram para intensificar —
ou foram detonadores — de uma onda de ataques terroristas ao Oci-
dente nos últimos anos. O autor destaca em sua reflexão um evento
ocorrido na Dinamarca, em 2005, quando um jornal de pequena circu-
lação publicou uma caricatura de Maomé, suscitando uma polêmica pú-
blica e provocando uma enorme agitação no Oriente. Žižek ressalta que
a maior parte das pessoas que se sentiu ofendida e direcionou suas crí-
ticas ao jornal nem tinha visto as imagens. Elas se manifestaram se-
guindo uma onda de posicionamentos divergentes que acompanharam,
sem se aterem às imagens em si.
Por meio da leitura das notícias veiculadas sobre o evento, percebe-
mos que os ataques, inicialmente circunscritos ao ambiente virtual, to-
maram as ruas de diversas cidades espalhadas pelo mundo de modo a
colocar em cena emoções como repulsa, indignação, rancor e, sobre-
tudo, um ódio antes contido e, com isso, também o temor, o medo da
diferença. É importante pensar que essa onda de ódio, violência e medo
assola não somente os europeus e os muçulmanos, mas se trata de algo
que cada vez mais se espalha pelo mundo, sustentado pela mesma ques-
tão: a aversão e o medo da diferença. O medo gera uma resposta, em
geral, negativa. Ele pode nos conduzir à violência física, inclusive.
Mia Couto, em um texto proferido na Conferência do Estoril,
em 2011, afirma que, com todo o medo suscitado pela mídia e pelos
83
HELCIRA LIMA
84
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
85
HELCIRA LIMA
86
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
87
HELCIRA LIMA
88
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
Injúria
Substantivo feminino.
1. Ato ou efeito de injuriar.
2. Injustiça, aquilo que é injusto; tudo o que é contrário ao direito.
3. Dito ou ato insultuoso, ofensivo.
4. Ato ou efeito de danificar; dano.
5. Traumatismo, ger. provocado por agente externo; lesão [...]
6. Jur. ilícito penal praticado por quem ofende a honra e dignidade de outrem.
Insulto
Substantivo masculino.
1. Palavra, atitude ou gesto que tem o poder de atingir a dignidade ou a honra
de alguém.
2. Falta de respeito, desprezo, por outro ou por suas crenças.
3. Ação ou resultado dela que deixa transparecer aversão ou menosprezo pelos
valores, pela capacidade, inteligência ou direito dos demais.
4. Med. ataque, acometimento súbito.
89
HELCIRA LIMA
90
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
91
HELCIRA LIMA
92
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
93
HELCIRA LIMA
94
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
95
HELCIRA LIMA
96
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
97
HELCIRA LIMA
à guisa de conclusão
Na voz dos avatares, os conhecidos estereótipos mulher-vítima e
mulher-culpada são reativados de modo a marcar as duas posições em
choque: apoiadores das políticas públicas que visam à proteção e à er-
radicação da violência de gênero e os críticos a tais mudanças. A des-
construção da imagem dos idealizadores da lei está assentada no ataque
às mulheres, reveladora de uma posição sexista. No lugar de vítima da
violência, a mulher é apresentada como culpada. A lei, no lugar de con-
sistir em uma forma de combate à violência de gênero no Brasil, é apre-
sentada como um privilégio.
98
UMA REFLEXãO SOBRE A VIOLêNCIA VERBAL COMO RECURSO À CULPABILIZAÇãO NA INTERNET
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Suely Souza de. (1998) Femicídio. Algemas (in) visíveis do público privado.
Rio de Janeiro: Revinter.
ANGENOT, Marc (2008). Dialogues de sourds : traité de rhétorique antilogique. Paris:
Mille et Une Nuits.
AMOSSy, Ruth. Apologie de la polémique. Paris: PUF, 2014.
COUTO, Mia. Murar o medo. Conferência de Estoril, 2011.
HOUAISS. Dicionário eletrônico. https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-
3/html/index.php#1. Acesso em 20 de maio de 2018.
LIMA, Helcira Maria Rodrigues de. “Vozes em confronto: a polêmica em torno da Lei
do feminicídio”. Rétor 8 (1), pp. 84-105, 2018.
MENDONÇA, Ricardo Fabrino, PEREIRA, Marcus Abílio e FILGUEIRAS, Fernando.
Democracia digital. Publicidade, instituições e confronto político. Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 2016.
MEyER, Michel. A retórica. Tradução de Marly N. Peres. São Paulo: Ática, 2007.
MEyER, Michel. Principia rhetorica. une théorie générale de l’argumentation. Paris: PUF,
2008.
ORLANDI, E. As formas do silêncio. No movimento dos sentidos. Campinas: Unicamp,
2010.
99
HELCIRA LIMA
101
IDA LUCIA MACHADO
102
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
103
IDA LUCIA MACHADO
104
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
105
IDA LUCIA MACHADO
Hugo reconhece o público para quem dirige a palavra como seus in-
terlocutores. Logo, propõe uma troca interativa entre eles. No entanto,
como a forma de seu discurso é monologal (e não dialogal), deve-se notar
que a interação aí ocorre porque o orador se coloca como parceiro de
seus ouvintes. Tanto ele como os que o elegeram ambicionam uma repú-
blica digna. O discurso tem como tema a república e seus valores, no caso,
os maus e bons valores: é uma fala pertinente para aquele momento de
satisfação pela vitória do futuro deputado em face de seus eleitores. O
discurso de Hugo é um documento formado por enunciados que visam
estabelecer uma comunicação com seu público e, mais que isso, confirmar
a influência da ideologia do orador sobre seus ouvintes. É um discurso
cuidadoso, que passa em revista o que poderia acontecer em um mau go-
verno e o que poderá acontecer no governo do qual Hugo fará agora
parte. Assim, os princípios de regulação e influência estão ali inseridos.
Expliquemos a legitimidade e a credibilidade da palavra política hu-
goliana, sempre segundo Charaudeau (op.cit., p. 22): a primeira [legiti-
midade] “é externa ao sujeito falante, ela vem do estatuto mais ou menos
institucional previsto pelo contrato. É este que lhe dá o poder de dizer”.
Ora, Hugo foi eleito pelo sufrágio universal para o cargo de deputado
da república francesa: ele possui pois a legitimidade dessa instituição
que lhe dá agora, mais que nunca, o direito de representá-la pela fala.
Já a credibilidade está sujeita a avaliações. Para garantir seu bom
funcionamento, ela apela para estratégias discursivas que comprovem
que aquele que fala ou escreve domina um certo saber dizer, que vai
levar seu público a acreditar em si. Em suma, é o que Hugo buscou ao
compor o discurso que agora nos interessa: nele partilhou seus conhe-
cimentos — forneceu informações — e, ao mesmo tempo, procurou
confirmar que as crenças por ele professadas tinham seus adeptos: aque-
les que o elegeram e que ali foram escutá-lo com admiração, queremos
crer.
Hugo elabora a argumentação presente nesse discurso por meio de
um hábil jogo de contrastes, ao declarar que duas repúblicas são possí-
veis e que o povo é livre para escolher qual é a melhor. Afinal, como ele
mesmo diz, ele se submete à “livre escolha” desse povo.
O princípio de influência que citamos há pouco revela-se, em todo
o seu esplendor, na descrição que é feita do primeiro tipo de república:
106
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
2. O inferno na Terra
O ato de argumentar pode ser visto — e denominado — de modo
diferenciado, conforme seja feito oralmente ou por escrito (Grácio, 2016,
p. 36). Para o primeiro caso, utilizaremos o termo argumentação; para
o segundo, discurso argumentado.
Mas que termo usar no caso do discurso político de Hugo aqui apre-
sentado? Mesmo que tenha sido feito, pela primeira vez, para ser enun-
ciado oralmente, ele traz em si características de um discurso escrito,
coerente e bem organizado. Para agravar mais a situação, tal discurso
foi depois recolhido, juntamente com outros, e publicado em livro. Es-
tamos, pois, diante de um discurso oral ou escrito? Deveríamos consi-
derar que o discurso em tela pertence a um gênero escrito, mesmo se
tivesse sido escrito para ser falado diante de um público, na época de
sua redação? Busquemos algumas luzes em Bakhtin:
Importa, nesse ponto, levar em consideração a diferença essencial
existente entre o gênero do discurso primário (simples) e o gênero
do discurso secundário (complexo). Os gêneros secundários do
discurso — o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso
ideológico, etc. — aparecem em circunstâncias de uma comunica-
ção cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, princi-
palmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Durante o
processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e
transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies
que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal
espontânea. (BAKHTIN, 1984, p. 267, tradução e grifos nossos.)
107
IDA LUCIA MACHADO
108
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
109
IDA LUCIA MACHADO
110
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
3. Um paraíso na terra
Se, no parágrafo anterior, foram habilmente destacados pelo orador
os horrores de uma má escolha republicana, o segundo o contradiz do
começo ao fim.
De acordo com Grácio (2016, p. 32-33) “a argumentação está ligada
à confrontação de posições que mutuamente se avaliam e onde se veri-
fica a crítica do discurso de um pelo discurso de outro”. Seriam, então,
necessários dois sujeitos de linguagem a discutir e aqui, em uma visão
rápida, só temos um.
111
IDA LUCIA MACHADO
112
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
O orgulho de ser francês e de levar as luzes desse país aos povos menos
civilizados parece ser algo por demais encravado no espírito dos políticos
franceses, em geral, mas podemos também notar isso seja de forma ex-
plícita, seja em filigrana, em diversas produções artísticas desse povo.
Vejamos, a seguir, mais virtudes dessa segunda forma de república:
7. [essa república] fundará uma liberdade sem usurpações e sem
violências, uma igualdade que não admitirá o crescimento na-
tural de cada uma, uma fraternidade, não a dos monges em um
convento, mas a dos homens livres...
113
IDA LUCIA MACHADO
114
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
115
IDA LUCIA MACHADO
116
A MISE EN SCÈNE ARGUMENTATIVA DE UM DISCURSO DE VICTOR HUGO: ESTUDO DE CASO
Referências
BAKHTINE, Mikhaïl. esthétique de la création verbale. Paris: Gallimard, 1984.
BRAUD, Philippe. petit traité des émotions, sentiments et passions politiques. Paris:
Armand Colin, 2007.
CHARAUDEAU, Patrick. Ce que communiquer veut dire. Sciences Humaines, Paris,
n. 51, p. 20-24, juin 1995.
CHARAUDEAU, Patrick. petit traité de politique à l’usage du citoyen. Paris: Vuibert,
2006.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Argumentação e interação. Coimbra: Grácio Editor, 2016.
HUGO, Victor. Œuvres complètes. politique: Paris. Mes fils. Actes et Paroles (I, II, III,
IV). Paris: Robert Laffont- Bouquins, 1985.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís bonaparte. Trad. Karina Jannini. São Paulo:
Edipro, 2016.
117
O RACISMO VeLADO NO pROCeSSO DISCURSIVO-
-ARGUMeNTATIVO
Introdução
Historicamente, o Brasil é reconhecido como país de diversidade
cultural, étnica e social. Entretanto, apesar de a escravidão ter sido abo-
lida em 19881, o ideal de branqueamento, raça pura, trabalho, beleza e
inteligência versus mestiçagem, raça impura, vadiagem, feiura e falta de
inteligência, sempre permeou as diversas esferas sociais, por meio de di-
versas práticas discriminatórias. Ao lado dessas práticas, circulava o mito
de que o Brasil não era racista, fazendo prevalecer a ideia de democracia
racial. Segundo Nascimento (1978, p. 93), essa expressão é “a metáfora
perfeita para designar o racismo brasileiro: não tão óbvio [...], mas efi-
cazmente institucionalizado nos níveis oficiais de governo, assim como
difuso no tecido social, psicológico, econômico e cultural da sociedade
do país”.
O fato de haver miscigenação entre brancos e não brancos foi argu-
mento suficiente para difundir o ideário de um país único, formado pela
mistura de povos que conviviam em “paz e harmonia”. De acordo com
Schwarcz (1999, p. 309), “[...] a oportunidade do mito se mantém para
além de sua desconstrução racional, o que faz com que, mesmo reco-
nhecendo a existência do preconceito, no Brasil, a ideia de harmonia ra-
cial se imponha aos dados e à própria consciência da discriminação”.
Esse mito começou a ser questionado no fim do século XX. Silva e
Rosemberg (2008, p. 79) afirmam que, desde a segunda metade do sé-
culo XIX, ativistas e pesquisadores brancos e não brancos contestaram
a existência de um país “harmonioso” e se dedicaram a pesquisas sobre
as desigualdades raciais no acesso aos bens materiais e simbólicos, pro-
pondo políticas para combatê-las. Os autores ressaltam, ainda, que o
1
Antes disso, porém, destacam-se a lei Eusébio de Queirós, de 1850, a Lei do Ventre Livre, de
1871, e a Lei dos Sexagenários, de 1885, além de várias rebeliões que já haviam diminuído e
onerado essa prática.
119
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
120
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
121
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
É nítido que Barthes advoga uma visão bem negativa da opinião do-
minante, associando-a sempre à noção de ideologia que, mistificando,
se fortalece até mesmo quando permite a contestação, já que, ajustados
aos limites do status quo vigente, os debates se predestinam à manuten-
ção da dominação alienante das consciências.
No ensaio de Étienne de La Boétie (2009) a respeito da servidão vo-
luntária, somos alertados para o fato de que o esquecimento da perda
do que nos é natural, como a liberdade (e, diremos, igualdade), pode ser
tão profundo que a servidão passa a ser vivida sem relutância. Ainda
3
Como afirma Barthes: “[...] diremos que é a doxa a mediação cultural (ou discursiva) através
da qual o poder (ou o não poder) fala: o discurso encrático é um discurso conforme com a
doxa [...]; e o discurso acrático enuncia-se sempre, em graus diversos, contra a doxa (seja ele
qual for, é um discurso para-doxal)", (1984, p. 97, grifos do autor).
4
Relevante é a explicação de Barthes do que seja discurso de poder: “[...] O discurso encrático –
posto que submetemos sua definição à mediação da doxa – não é apenas o discurso da classe no
poder; classes fora do poder ou que tentam conquistá-lo por vias reformistas ou promocionais
podem servir-se dele – ou pelo menos recebê-lo com consentimento" (BARTHES, 1984, p. 97).
A relação que Barthes faz, portanto, entre linguagem e poder se dá por mediação cultural.
122
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
que possa causar alguma reação opositora, ela passa a ser naturalizada,
de normal à norma (a Voz do Natural de que fala Barthes) sob a qual se
vive sem questionamentos. A força do hábito consolida o imobilismo
dóxico; o costume obriga o homem a julgar, a crer e a agir como se os
juízos, as crenças e as ações fossem verdades necessárias e imutáveis:
O hábito, que exerce em todas as coisas um poder irresistível
sobre nós, não tem em lugar nenhuma força tão grande quanto a
de nos ensinar a servir. E como dizem de Mitrídates, que foi se
acostumando aos poucos ao veneno, aprendemos a engolir sem
achar amargo o veneno da servidão. Não se pode negar que a na-
tureza nos dirige para onde quer, bem-nascidos ou malnascidos,
mas é preciso confessar que ela tem menos poder sobre nós que
o hábito (LA BOÉTIE, 2009, p. 45).
123
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
124
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
125
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
126
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
127
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
2. Análise do corpus
Ao gênero publicitário subjaz o discurso estratégico de natureza per-
suasiva, ou seja, visa à adesão de seu público-alvo. Em razão de sua fi-
nalidade, constitui-se em forte apelo que quer não só alcançar o interesse
de alguns, mas esvaziar, o quanto possível, o lugar do público indiferente.
Para isso, como a adesão a uma ideia se dá com intensidades variáveis,
serve-se ele de crenças comumente admitidas (ainda que implícitas, não
formuladas, o que é mais comum), que lhe assegurem certo sucesso no
empreendimento discursivo. Fairclough (2008, p. 259) sustenta que a
publicidade possui um caráter identitário, porque se constrói a partir de
imagens reconhecidas, aceitas e desejadas pelo outro, o consumidor.
Essa identidade é construída num processo que envolve produto, pro-
dutor e consumidor, num estilo de vida simulado e também construído.
Quando a publicidade utiliza recursos visuais, evoca, no imaginário cole-
tivo (ensinado, reproduzido e cristalizado, que incide no pensamento e
no comportamento sociais), estilos e lugares de vida que podem ser ocu-
pados por potenciais consumidores, motivados por efeitos particulares
128
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
que a propaganda lhes causa. Pistas verbais e sinais não verbais levam a
sentidos que são expressos indiretamente ou sub-repticiamente sugeridos.
É o que se percebe no efeito de sentido causado pela peça publicitária do
metrô do Rio de Janeiro, desencadeador de grande manifestação nas redes
sociais, que provocou a sua retirada de circulação.
A peça foi instalada na estação Antero de Quental. No lado es-
querdo do leitor, há uma mulher e um homem não brancos, jovens, ves-
tidos casualmente. Do outro lado, um homem e mulher brancos, jovens
que também vestem roupas casuais. No meio das imagens há os seguin-
tes dizeres:
129
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
130
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
131
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
É PELO CORPO
QUE SE RECONHECE
A VERDADEIRA NEGRA.
7
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
https://www.priberam.pt/dlpo/devassa, consultado em 22/04/2018.
132
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
133
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
134
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
135
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
aos tempos do colonialismo em que a ela era a fonte de prazer dos se-
nhores das fazendas, como pode ser lido no “Manifesto das Mulheres
Negras”, de 1975 (apud NASCIMENTO, 1978, p. 61): “[...] as mulheres
negras brasileiras receberam uma herança cruel: ser objeto de prazer
dos colonizadores”. O autor esclarece que estamos diante da mais fami-
gerada “democracia racial, em cujo contexto o homem negro e a mulher
negra só podem penetrar sub-repticiamente pela porta dos fundos,
como criminoso ou como prostituta” (Ibid., p. 63). Há um reconheci-
mento geral, prossegue o autor, de que a posição da mulher negra na so-
ciedade era a de uma raça para dar prazer, pois fora prostituída no
passado e a baixo preço; do “intercasamento” resultou a mulata.
Essa associação fica evidente em pleno século XXI, por meio das re-
clamações dos consumidores ao CONAR: “A maioria das queixas de-
nuncia racismo, machismo e sexismo na peça, onde a mulher seria
tratada como ‘um objeto sexual, tal como se fazia na época da escravi-
dão’”. Destaca-se ainda, nesse processo jurídico, o entendimento da re-
latora do recurso que concordou com os consumidores, afirmando que
não conseguia “chegar a nenhuma conclusão diferente de que a mulher
negra está sendo retratada como objeto sexual”.
Considerações finais
As amostras em análise são consideradas textos (eventos situados),
mediados pelas práticas sociais que envolvem, segundo Fairclough
(2003, p. 24), outros elementos complexos da vida social e, por isso, é
preciso relacioná-los a instâncias da vida econômica, política, histórica
e cultural, como sugere Schwarcz (2012, p. 34):
Raça é, pois, uma categoria classificatória que deve ser compreen-
dida como uma construção local, histórica e cultural, que tanto
pertence à ordem das representações sociais — assim como são
as fantasias, mitos e ideologias — como exerce influência real no
mundo, por meio da produção e reprodução de identidades co-
letivas e de hierarquias sociais politicamente poderosas.
136
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
Referências bibliográficas
AMOSSy, Ruth. L'argumentation dans le discours. 3. ed. Paris: Armand Colin, 2010.
AZEVEDO, Melissa Carolina Herrera de; OLIVEIRA, Esther Gomes de. Mecanismos
intensificadores no discurso publicitário. Revista do programa de pós-Gradua-
ção em estudos da Linguagem — entretextos, Londrina, UEL, v.5, p. 09-20,
jan./dez, 2005.
BARTHES, Roland. O rumor da língua. Tradução Antônio Gonçalves. Lisboa: Edições
70, 1984.
______. Roland barthes par Roland barthes. Paris: Le Seuil, 1975.
BRASIL. Constituição Federativa do brasil de 1988. Disponível em: <https://presrepu-
blica.jusbrasil.com.br/legislacao/112175738/constituicao-federal-constituicao-da-
republica-federativa-do-brasil-1988>. Acesso em: 26 nov. 2017.
CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. Discourse in late modernity. Edin-
burgh: Edinburgh University Press, 1999.
CONAR. é pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra. Representação nº 373/10.
Disponível em: http://www.conar.org.br/processos/detcaso.php?id=194. Acesso em:
03 mar. 2018.
COQUET, Jean-Claude. La quête du sens. Le langage en question. Paris: Presses Uni-
versitaires de France, 1997.
137
KELLy CRISTINA DE OLIVEIRA & MOISÉS OLÍMPIO-FERREIRA
COSTA, Mariana. Rio: em bairros mais pobres, mais de 60% se declaram pretos ou par-
dos, revela Censo 2010. In: R7 Rio de Janeiro Digital. Disponível em:
http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/rio-em-bairros-mais-pobres-mais-
de-60-se-declaram-pretos-ou-pardos-revela-censo-2010-20111120.html. Acesso
em: 31 jan. 2018.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UNB, 2008.
______. Analysing Discourse: textual analysis for social research. London: Routledge, 2003.
______. Critical discourse analysis in trans-disciplinary research on social change:
transition, re-scaling, poverty and social inclusion. Disponível em:
http://www.ling.lancs.ac.uk/staff/norman/Critical - Retrieved on 2004 -
ling.lancs.ac.uk. Acesso em: 30 jan. 2018.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro no Brasil: ausências, emergências e a produ-
ção dos saberes. política e Sociedade, v. 10, n. 18, p. 133-154, 2011. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/viewFile/19037/17537>.
Acesso em: 30 nov. 2017.
GRAMSCI, Antonio. Selections from the prison Notebooks. Edição e tradução Q.
Hoore e G. Nowell Smith. Londres: Lawrence and Wishart, 1971.
HOUAISS, Antonio. Inglês/português Dicionário. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.
JESUS, Jaqueline Gomes. Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextua-
lizada. Revista psicologia e Saber Social, v. 1, n. 2, p. 163-186, 2012. Disponível em:
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/download/4897/3620. Acesso
em: 25 jun. de 2016.
LA BOÉTIE, Étienne de. Discurso da servidão voluntária. 2. ed., tradução e notas Ca-
semiro Linarth. São Paulo: Martin Claret, 2009 [1574-1576].
LÉVy, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MANIFESTANTES fazem protesto contra a corrupção em São Paulo. Folha de S. paulo.
1º. jul. 2013. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1304559-manifestantes-fazem-
protesto-contra-a-corrupcao-em-sao-paulo.shtml>. Acesso em: 08 abr. 2015.
MONNERAT, Rosane Mauro. A publicidade pelo avesso: propaganda e publicidade,
ideologias e mitos e a expressão de ideias — o processo de críticas da palavra pu-
blicitária. Niterói: EDUFF, 2003.
MORAES, Tisa. 25 mil pessoas compartilham corrente solidária. JCNET, 1º. junho de
2016. Disponível em: http://www.jcnet.com.br/Geral/2016/06/25-mil-pessoas-com-
partilham-corrente-solidaria.html. Acesso em: 28 jun. 2016
NASCIMENTO, Abadias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo
mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
O VERDADEIRO crime da propaganda racista da cerveja Devassa Negra. In: Diário do
Centro do Mundo. Disponível em:
<https://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-verdadeiro-crime-da-propa-
ganda-racista-da-cerveja-devassa/>. Acesso em: 08 mar. 2018.
PERELMAN, Chaïm. La philosophie du pluralisme et la Nouvelle Rhétorique. Revue
Internationale de philosophie, Belgique: Fondation Universitaire de Belgique, n.
127-128, p. 5-17, 1979.
______. De la méthode analytique en philosophie. Revue philosophique de la France
et de l’étranger. T. 137, France : Presses Universitaires de France, p. 34-64, 1947.
138
O RACISMO VELADO NO PROCESSO DISCURSIVO-ARGUMENTATIVO
139
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA
ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe
FÁbIO De MeLO e LeANDRO KARNAL, NO
LIVRO CRER OU NÃO CRER.
1
O presente trabalho foi realizado com o apoio do CNPq.
141
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
142
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
143
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
144
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
A relação entre religião e poder foi estudada por autores como Fou-
cault e Bourdieu, no âmbito da Filosofia e da Sociologia, respectivamente.
Uma das discussões mais consistentes em torno da relação entre re-
ligião e poder foi empreendida por Foucault (2004). O tema da religião
é abordado em trabalhos nos quais esse autor estuda a chamada “genea-
logia do sujeito moderno” e se encontra em estudos que tratam de temas
como a sexualidade e a loucura. O autor considera que a religião — es-
pecificamente o Cristianismo — interfere decisivamente na constituição
do sujeito. Aborda o chamado poder pastoral, que apresenta algumas
características, dentre as quais, a possibilidade de proporcionar a salva-
ção àquele que nele crê.
O poder que a religião exerce na sociedade é também objeto de re-
flexão de Bourdieu. Para Bourdieu (1974), a religião é vista como veículo
de um poder simbólico. No seu entender, as práticas religiosas interfe-
rem nas relações de classe, uma vez que contribuem para a reprodução
e a permanência da ordem estabelecida. Assim,
Em uma sociedade dividida em classes, a estrutura dos sistemas
de representações e práticas religiosas próprias aos diferentes gru-
pos ou classes, contribui para a perpetuação e para a reprodução
da ordem social (no sentido de estrutura das relações estabeleci-
das entre os grupos e as classes) ao contribuir para consagrá-la,
ou seja, sancioná-la e santificá-la. (BOURDIEU, 1974, p. 52)
145
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
146
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
147
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
148
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
I. Convergência
Uma das características principais do debate entre Karnal e Padre
Fábio é o que Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) denominam “intera-
ção por convergência”. Para os autores:
A própria convergência é, todavia, uma afirmação que sempre
pode, num sistema não-formal, ser contestada, pois depende da in-
terpretação dada aos argumentos: a identidade das conclusões des-
tes jamais é absoluta, porquanto estas formam um todo com os
argumentos e adquirem seu significado da maneira pela qual se
chega a elas. (PERELMAN; OLBRECHTS-TyTECA, 1996, p. 535).
149
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
150
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
II. Divergência
A divergência total é a ordem menos frequente no diálogo em ques-
tão. Nessa forma de organização, um dos participantes do diálogo se
opõe explicitamente e radicalmente à tese e aos argumentos defendidos
pelo outro participante. Alguns exemplos são:
Karnal: O mundo é inviável. A espécie humana é inviável. (p. 100)
151
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
Contra-argumentação
Tese de Karnal
de Fábio de Melo
Parte 1: Parte 2:
Teses Asserções de base Concordância Refutação
parcial de Fábio
As religiões se [...] para o cristia- E é por isso que o reco- Esse é o meu empenho-
se corromperam nismo conquistar o nhecimentoque Cons- diário. Resgatar essa
em alianças ImpérioRomano, ele tantino deu ao raiz, voltar às intenções
com o Estado teve que se associar cristianismo,oficiali- de Jesus, ao desejo que
paraobterem su- ao Estado Romano. zando-ocomo religião Ele tinha de que Seus
cesso. (p. 89) do Estado, continua discípulosfossem pro-
sendo umdesafio para motores de uma nova
nós, cristãos. (p. 89) sociedade. (p. 91)
Eu sei que a Igreja só É a elas que eu me
tem retas intenções prendo. (p.91)
emsua origem. (p.91)
Apesar de ter à Sem dúvida que é Também reconheço que Mas ela venceu mais do
sua frente uma muito simpático um em muitas situações his- que perdeu. Ela conti-
figura carismá- papa como o Cardeal tóricas a Igreja perdeu a nua sendo a instituição
tica, a Igreja Bergoglio, (...). Só que oportunidade de ajudar que mais faz caridade
continua sendo ele continuasendo o na internalização de va- no mundo. (p.95)
conservadora. dirigente de uma ins- lores, limitando-se a ser
tituição pesada, an- uma instância de medo
tiga, tradicional, que e julgamento. (p.95)
na essência continua,
por exemplo, não or-
denando mulheres,
apesar de falar da
igualdade.(p. 93-94)
A Igreja é é, his- Antigamente, em co- Sim, Deus costuma ser Eu acredito que os va-
toricamente, re- légios, amarrava-se a vítima da inteligência lores cristãos, quan-
pressora. mão da criança ca- humana. Movidas por dointernalizados, nos
nhota para que ela- sentimentos e regras re- salvamdo absurdo. (p.
não escrevesse com a ligiosas, muitas pessoas 95)
mão “errada”. (p.95) fomentaram o absurdo
em nome
Dele.(p.96)Muitas peda-
gogias que que nasce-
ram à sombra do
cristianismo são peda-
gogias absolutamente
cruéis. (p. 95)
As religiões se Aliás, os estádiosde Justamente. (p.100) Mas as caterses dos es-
aproximam de futebol têm umaraiz tádios diferem das ca-
espetáculos. muito próxima à ca- tarses religiosas, pois
tarse religiosa...(p. delas nós não espera-
100) mos mudança de vida,
comprometimento com
as questões humanas,
amor, respeito, solida-
riedade.(p.100)
152
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
pe. Fábio: Você diz que somos inviáveis. Esse pessimimsmo não
combina com você. (p. 101)
Karnal: Então, aparentemente, esse céu é um lugar onde só tem
a Madre Teresa. Esse céu só permite pessoas como Madre Teresa,
tão elevadas de espírito. (...) (p. 96)
pe. Fábio: Mas há muitos que alcançaram essa elevação espiritual.
(p. 97)
153
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
154
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
155
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
156
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
157
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
158
A ReLIGIÃO AJUDA OU ATRApALHA? UMA ANÁLISe ARGUMeNTATIVA DO DebATe eNTRe FÁbIO De MeLO e
LeANDRO KARNAL, NO LIVRO CRER OU NÃO CRER.
Considerações finais
O diálogo entre Leandro Karnal e Fábio de Melo compõe uma obra
que exerce, entre outras funções, a finalidade de dar visibilidade às questões
relacionadas ao papel da religião na nossa sociedade. O diálogo exemplifica
um embate dialético e argumentativo em que uma série de procedimentos
são usados para pautar as teses defendidas pelos participantes. Destaca-se
que essas teses não são resultados de uma apreensão individual do tema,
mas representam posições às quais os envolvidos se vinculam.
Não se pode dizer que, nesse embate, há um vencedor, uma vez que
se trata de um diálogo aberto. Ganha, contudo, sem dúvida, o leitor, que,
ao acompanhar a discussão entre duas pessoas extremamente inteligen-
tes e conhecedoras do assunto, é levado a avaliar o real papel da religião
nos nossos dias. Por fim, o debate reforça o caráter pragmático e dialó-
gico da argumentação, que tem sido, atualmente, tão ressaltado no âm-
bito dos estudos discursivos.
159
MÔNICA SANTOS DE SOUZA MELO
Referências bibliográficas
AMOSSy, Ruth. Argumentation et Analyse du discours : perspectives théoriques et dé-
coupages disciplinaires. Argumentation et analyse du discours, n. 1, 2008.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
CHARAUDEAU, Patrick. Uma teoria dos sujeitos da linguagem. In: MARI, Hugo et al.
(org.) Análise do discurso: fundamentos e práticas. Belo Horizonte: Núcleo de Aná-
lise do Discurso- FALE/UFMG, 2001. p.23-37.
________. Linguagem em discurso: os modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008.
FOUCAULT, Michel. ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
LEMOS, Carolina Teles. Religião, gênero e sexualidade. O lugar da mulher na família
camponesa. Goiânia: Editora da UCG, 2005.
MELO, Fábio de. Crer ou não crer: uma conversa sem rodeios entre um historiador ateu
e um padre católico. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2017.
OROFIAMMA, Roselyne. Les figures du sujet dans le récit de vie. Sociologie et en for-
mation, Informations sociales, n. 145, p. 68-81, 2008/1. Disponível em:
https://www.cairn.info/revue-informations-sociales-2008-1-page-68.htm. Acesso
em 18 fev. 2018.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de argumentação: a nova retórica.
São Paulo: Martins Fontes, 1996.
160
AS eMOÇÕeS NO DISCURSO SOb A peRSpeCTIVA
SeMIOLINGUÍSTICA
Introdução
A discussão acerca do papel das emoções no comportamento hu-
mano ainda é motivo de polêmica no âmbito de diversas áreas do co-
nhecimento. Constatamos que, no atual panorama das discussões, as
emoções não podem e não devem ser tratadas, debatidas a partir de um
único campo de pesquisa, de uma única disciplina, qualquer que seja
ela (Medicina, Filosofia, Psicologia, Artes, Ciências da Linguagem, etc.).
Desconsiderando, a princípio, as nuanças significativas existentes entre
essas áreas de conhecimento que tratam das paixões, poderíamos afir-
mar que elas se agrupam em dois grandes conjuntos que correspondem,
de um lado, à perspectiva imanentista, segundo a qual os sentimentos
seriam produtos da condição biológica do ser humano e, por outro lado,
à perspectiva social (a que adotamos), que postula uma concepção sim-
bólica das emoções, percebidas como estados subjetivos, determinados
pelas condições sociais e culturais e perpassadas na/pela linguagem.
Embora ainda seja um campo de investigação relativamente recente
para as Ciências da Linguagem, os estudos das emoções se configuram
como um tema de grande interesse para o desenvolvimento integral de
suas proposições teórico-metodológicas, já que contemplam uma di-
mensão constituinte de todo processo de interação social e se manifes-
tam, primordialmente, por meio dos discursos produzidos.
Preconiza-se, ainda assim, que não compete à Análise do Discurso (do-
ravante AD) e à Semiolinguística garantir a equivalência entre o efeito
pathêmico pretendido, a emoção manifestada no discurso e a emoção efe-
tivamente sentida pelos sujeitos. Para tratar das emoções em um deter-
minado corpus sob o viés da Semiolinguística, também chamada de
Teoria dos sujeitos em situação de comunicação, é preciso levar também
em consideração algumas premissas advindas de outras áreas do conhe-
cimento, como afirma Machado:
161
RENATA AIALA DE MELLO
162
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
163
RENATA AIALA DE MELLO
tamos ser mais significativo e pertinente aos nossos fins e que possa efe-
tivamente ajudar a apresentar as contribuições da Semiolinguística para
os estudos discursivos sobre emoções. 4
164
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
165
RENATA AIALA DE MELLO
166
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
167
RENATA AIALA DE MELLO
168
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
169
RENATA AIALA DE MELLO
170
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
ódio... e impulsos, instintos e sensações físicas tais como frio, fome, sede.
Tem-se, por um lado, que as emoções estão muito mais ligadas ao campo
cognitivo e, por outro, que os impulsos se apresentam, ou melhor, se
ligam a algo externo a eles. Por essa razão, alguns dos teóricos ligam
emoções à racionalidade. Ainda que o teórico se negue a entrar no debate
“cognitivista” das emoções, ele, retomando os dizeres de Elster (1995),
e de maneira resumida, afirma que
[...] a racionalidade está a serviço de um agir para alcançar um objetivo
(não necessariamente atingido), cujo agente seria, de uma maneira ou
de outra, o primeiro beneficiário: ela [a racionalidade] compreende,
assim, uma visada acional. (CHARAUDEAU, 2010, p. 27)
171
RENATA AIALA DE MELLO
172
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
173
RENATA AIALA DE MELLO
174
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
175
RENATA AIALA DE MELLO
176
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
Considerações finais
Buscamos, com este artigo, alcançar, ao menos em parte, a comple-
xidade que envolve a questão do pathos sob o viés da Semiolinguística.
O conceito de pathos divide seu entendimento e suas fronteiras com vá-
rias áreas de conhecimento, possibilitando um grande leque de aborda-
gens, o que nos traz benefícios, mas também riscos de aplicação nas
análises de corpus. Ainda assim, trabalhar com a noção de pathos nos
leva a conhecer as fronteiras da AD e da Semiolinguística, dos gêneros,
da ética, da moral e da estética. Vimos que o território do pathos é vasto,
complexo, movediço. Com este trabalho, (re)afirmamos a importância
do conceito de pathos nos estudos sobre a linguagem, sobre o discurso.
Por uma questão de economia (tempo e espaço) limitamo-nos a al-
gumas contribuições da Semiolinguística para o entendimento das emo-
ções no discurso, mesmo (cons)cientes de que há importantes pesquisas
177
RENATA AIALA DE MELLO
Referências bibliográficas
AMOSSy, R. Dimension rationnelle et dimension affective de l’ethos. In: RINN, M. (org.)
émotions et Discours: l’usage des passions dans la langue. Rennes: Presses Univer-
sitaires de Rennes. 2008, p. 113-125.
ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: Martins Fontes. 2012.
BARTHES, R. L’ancienne rhétorique. In: Communications, No 16. 1970, p. 172-223.
CAYLA, F. La nature des contenus émotionnels. In: PAPERMAN, P. & OGIEN, R. (orgs.)
La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris: École des Hautes Étu-
des en Sciences Sociales. 1995, p. 83-98.
CHARAUDEAU, P. Langage et Discours: éléments de sémiolinguistique. Paris: Hachette. 1983.
________. La pathémisation à la télévision comme stratégie d'authenticité. In: PLANTIN,
C., DOURY, M. & TRAVERSO, V. (orgs.) Les émotions dans les interactions. Lyon:
Presses Universitaires de Lyon. 2000. (CD-Room)
________. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto. 2006a.
________. Discurso político. São Paulo: Contexto. 2006b.
178
AS EMOÇÕES NO DISCURSO SOB A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA
________. Pathos e discurso politico. In: MACHADO, I. L.; MENEZES, W. & MENDES,
E. (orgs.) As emoções no discurso. Vol. 1. Rio de Janeiro: Lucerna. 2007a, p. 240-251.
________. Les stéréotypes, c’est bien. Les imaginaires, c’est mieux. In: BOyER, H. Sté-
réotypage, stéréotypes: fonctionnements ordinaires et mises en scène. Paris: L’Har-
mattan. 2007b, p. 49-63.
________. Pathos et discours politique. In: RINN, M. (org.) Émotions et Discours: l'usage
des passions dans la langue. Rennes: Presses Universitaires de Rennes. 2008, p. 49-58.
________. A patemização na televisão como estratégia de autenticidade. In: MACHADO,
I. L. & MENDES, E. (orgs.) As emoções no discurso. Vol. 2. 2010, p. 23-56.
CHURCH, J. L’émotion et l’intériorisation des actions. In PAPERMAN, P. & OGIEN, R.
(orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris: École des
Hautes Études en Sciences Sociales. 1995, p. 219-236.
CICERO. Tusculanes. Paris: Les Belles Lettres. 1964.
COUDREUSE, A. Le refus du pathos au XVIIIe siècle. Paris: Honoré Champion. 2001.
COUDREUSE, A. Le Goût des larmes au XVIIIe siècle. Paris: Éditions Desjonquères. 2013.
ELSTER, J. Rationalité, émotions et normes sociales. In: PAPERMAN, P. & OGIEN, R.
(orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris: École des
Hautes Études en Sciences Sociales. 1995, p. 33-64.
FIORIN, J. L. Figuras de retórica. São Paulo: Contexto. 2014.
GREIMAS, A. Du sens II: Essais Sémiotiques. Paris: Seuil. 1983.
GREIMAS, A. & FONTANILLE, J. Semiótica das paixões. São Paulo: Ática. 1993.
LIVET, P. Evaluation et apprentissage des emotions. In: PAPERMAN, P. & OGIEN, R.
(orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris: École des Hau-
tes Études en Sciences Sociales. 1995, p. 110-143.
MACHADO, I. L.; MENEZES, W. & MENDES, E. (orgs.) As emoções no discurso. Vol.
1. Rio de Janeiro: Lucerna. 2007.
MACHADO, I. L. & MENDES, E. (orgs.) As emoções no discurso. Vol. 2. Campinas:
Mercado de Letras. 2010.
MACHADO, I. L. Emoções, ironia AD: breve estudo de um discurso literário. In: MA-
CHADO, I. L.; MENEZES, W. & MENDES, E. (orgs.) As emoções no discurso.
Vol. 1. Rio de Janeiro: Lucerna. 2007, p. 169-181.
NUSSBAUM, M. Les émotions comme jugement de valeur. In: PAPERMAN, P. &
OGIEN, R. (orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris:
École des Hautes Études en Sciences Sociales. 1995, p. 19-32.
PAPERMAN, P. L’absence d’émotion comme offense. In: PAPERMAN, P. & OGIEN, R.
(orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, intentions. Paris: École des
Hautes Études en Sciences Sociales. 1995, p. 175-196.
PAPERMAN, P. & OGIEN, R. (orgs.) La couleur des pensées: sentiments, émotions, in-
tentions. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales. 1995.
PLANTIN, C. Les bonnes raisons des émotions: principes et méthode pour l’étude du
discours émotionné. Bern: Peter Lang. 2011.
QUINTILIEN. Institution Oratoire. Paris : Les Belles-Lettres, 1975-1980.
179
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO
MIDIÁTICA DA GAFe
primeiras palavras
A compreensão de que o homem se apropria da língua, "não só para
veicular mensagens, mas principalmente, com o objetivo de atuar so-
cialmente" (KOCH, 2000, p. 21), incidindo argumentativamente sobre
o outro, se torna fundamental na atualidade. Nesse sentido, o enunciado
deve ser então encarado como produto de um sujeito sócio-historica-
mente constituído, que erige sua argumentação em torno da ideologia
que define sua inscrição em determinada comunidade discursiva. A ar-
gumentatividade funciona, portanto, como atividade estruturante de
todo discurso, na medida em que orienta os enunciados tanto interna-
mente (coesão e coerência, por exemplo); quanto em relação à sua ins-
crição em determinada formação discursiva. De acordo com Orlandi
(1998, p. 75) "a argumentação é vista pelo analista de discurso a partir
do processo histórico-discursivo em que as posições dos sujeitos são
constituídas". Dessa maneira, o sujeito se posiciona discursivamente e
seus argumentos são determinados historicamente e produto dos dis-
cursos vigentes.
Consideraremos, neste texto, um exemplo da discursividade em
torno da figura da mulher e dos papéis que ela desempenha socialmente.
A partir da análise de um enunciado sobreasseverado pela mídia brasi-
leira, é possível entrever tanto a posição do sujeito enunciador quanto
da própria mídia no jogo da argumentação, observado enquanto nego-
ciação discursiva do sujeito em sua relação simbólica com a história.
Partindo do pressuposto de que a argumentação determina o do-
mínio da organização do dizer e afeta sua ordem, analisaremos o enun-
ciado tenho convicção do que a mulher faz pela casa com base no
conceito de sobreasseveração (MAINGUENEAU, 2010), compreen-
dendo que esse processo de destacamento orienta argumentativamente
181
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
182
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
183
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
184
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
185
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
186
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
b) trecho sobreasseverado
"tenho convicção do que a mulher faz pela casa"
uso da locução do que com valor de pronome demonstrativo
187
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
3
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1864708-tenho-conviccao-do-que-a-mulher-
faz-pelacasa-diz-temer-no-dia-da-mulher.shtml
188
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
Figura 2 — O tempo4
4
http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/tenho-convic%C3%A7%C3%A3o-do-que-
a-mulher-faz-pela-casa-diz-temer-1.1445110
5
http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/politica/550672-tenho-conviccao-do-que-a-mul-
her-faz-pela-casa--diz-michel-temer.html
6
https://folhape.com.br/politica/politica/politica/2017/03/08/NWS,20300,7,547,POLITICA,2193-
TENHO-CONVICCAO-QUE-MULHER-FAZ-PELA-CASA-DIZ-TEMER-DIA-MULHER.aspx
189
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
7
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=78097&Not=%27Tenho%20co
nvic%C3%A7%C3%A3o%20do%20que%20a%20mulher%20faz%20pela%20casa%27,%20diz
%20Michel%20Temer
8
http://www.bahia25horas.com.br/2018/noticias/pol%EF%BF%BDtica,2912,039-tenho-conv-
ic-o-do-que-a-mulher-faz-pela-casa-039-diz-temer-no-dia-da-mulher.html
9
https://daqui.opopular.com.br/editorias/geral/michel-temer-comete-gafe-inacredit%C3%A1vel-
tenho-convic%C3%A7%C3%A3o-do-que-a-mulher-faz-pela-casa-1.1237543
190
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
191
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
192
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
13
https://folhape.com.br/politica/politica/politica/2018/03/08/NWS,61312,7,547,POLITICA,219
3-UM-ANO-APOS-GAFE-TEMER-FAZ-DISCURSO-RAPIDO-DIA-MULHER.aspx
14
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/03/um-ano-apos-gafe-temer-faz-discurso-rap-
ido-no-dia-da-mulher.shtml
193
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
194
UMA AbORDAGeM DISCURSIVA DA CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DA GAFe
195
ROBERTO LEISER BARONAS & JULIA LOURENÇO COSTA
Apontamentos finais
Ao analisarmos a circulação do enunciado tenho convicção do que
a mulher faz pela casa destacado pelos mais diversos suportes midiáticos
brasileiros do pronunciamento do presidente Michel Temer por ocasião
do Dia Internacional da Mulher em 2017, podemos constatar: a) os su-
portes midiáticos têm papel preponderante na transformação de um
enunciado em gafe, isto é, são eles que metaenunciativamente produzem
um comentário acerca do enunciado de outrem, qualificando como gafe,
o que implica dizer que a gafe não existe em si, mas é o produto de um
196
destacamento e, no mesmo processo com a transformação de um enun-
ciado em gafe, as mídias orquestram uma polêmica19 no espaço público;
b) ao produzirem essa metaenunciação em relação ao discurso do outro,
polemizando-o, por mais paradoxal que possa parecer, buscam eximir
esse outro, por meio da construção da cenografia do engano, do deslize,
de maneira a atenuar a responsabilidade por aquilo que foi dito.
Ao construir tal cenografia, a mídia deixa em suspenso o posicio-
namento do outro em relação ao tema polemizado. A designação de um
enunciado como gafe, apesar de à primeira vista construir a imagem dis-
fórica do seu locutor, dissimula sobre o fato de haver identificação deste
locutor com o discurso da gafe, deixando essa compreensão, por parte
do coenunciador, indeterminada. Ademais, a ambiguidade em relação
a não identificação plena do locutor com os discursos que sustentam a
gafe é politicamente mais produtiva para o locutor em questão, pois além
de colocar o sujeito enunciador da gafe em ampla circulação midiática,
joga com a possibilidade de abarcar distintos posicionamentos sociais,
como por exemplo, acerca do papel da mulher na nossa sociedade.
Referências bibliográficas
AMOSSy, R. Apologia da polêmica. São Paulo: Contexto, 2017.
BENVENISTE, E. problemas de Linguística geral II. Campinas: Pontes Editores, 2006.
BOURDIEU, P. Raisons pratiques. Sur la théorie de l'action. Paris: Le Seuil, 1994.
_______. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
BROWN, P. & LEVINSON, S. Politeness: Some universals in language usage. Cambridge:
Cambridge University Press, 1987.
GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Tradução de Maria Célia San-
tos Raposo. Petrópolis: Vozes, 1985.
HIRATA, H. [et al.] (orgs.). Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
HOUAISS. A. Dicionário Houaiss da Língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 2000.
_______. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
19
Uma polêmica é o conjunto das intervenções antagônicas sobre uma dada questão em dado
momento. (...). A polêmica se constrói através de todas as interações públicas ou semipúblicas
que tratam de uma questão social, e se manifesta na circulação dos discursos (AMOSSy, 2017,
p. 72). Como modalidade discursiva, a polêmica é antes de tudo, uma arte da refutação
(AMOSSy, 2017, p. 98).
197
LE BART, C. L'Analyse du discours politique: de la théorie des champs à la sociologie de la
grandeur. Mots. Les langages du politique. 72, 2003. Disponível em:
http://journals.openedition.org.mots/6323.
LÉVy, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.
MAINGUENEAU, D. Cenas da enunciação. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
_______. Doze conceitos em Análise do discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
_______. Frases sem texto. Trad: Sírio Possenti. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
MAINGUENEAU, D.; CHARAUDEAU, P. Dicionário de Análise do Discurso. São
Paulo: Editora Contexto, 2008.
ORLANDI, E. Discurso e argumentação: um observatório do político. Fórum linguís-
tico. Florianópolis, n.1 (73-81), jul-dez, 1998.
198
ANÁLISe DO DISCURSO, ARGUMeNTAÇÃO e eNSINO
199
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
200
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
201
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
202
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
203
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
204
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
«Acerca do vocábulo diálogo, ele dá origem a duas palavras: dialogal e dialógico: — o adjetivo
dialogal remete para diálogo autêntico, quotidiano ou natural, entre dois ou mais participan-
tes, numa situação face a face;
— o adjetivo dialógico é utilizado para indicar um conjunto de fenómenos correspondentes
a uma encenação enunciativa, na fala de um locutor único, numa situação de diálogo. O lo-
cutor liga conteúdos semânticos a fontes que constituem uma gama de vozes com as quais o
locutor se pode identificar ou não [...]
Podemos utilizar o termo dialogal para abarcar simultaneamente o dialogal propriamente
dito, e o dialógico (polifónico e intertextual), salientando assim um dos aspetos fundamentais
da argumentação, o de articular dois discursos contraditórios.» (Plantin, 2016, p. 323. Trad.
minha).
12
«is reading also shows the potential of a deep rhetoric for both improving our understan-
ding of intellectual controversy and for participating in it. If one has a map of the kinds of ar-
guments available in a particular kind of dispute, one can ‘see’ not only what routes have been
205
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
taken by an argument but also what routes have not. is ‘‘seeing’’ occurs at many levels of
generality and is never automatic. Just because one sees the general outlines of an argumen-
tative region does not mean that one can suddenly imagine all the specific argumentation that
might occur within it. To see any at all requires motivation, knowledge, experience, imagina-
tion, sympathy, and a host of other abilities and intellectual virtues. is is the major educa-
tional difficulty faced by those who would teach the topoi. However, the topoi can work with
such abilities. Very clearly, knowing the untaken routes of reasoning enlarges one’s interpretive
perspective and increases, too, the sphere from which one might draw one’s own arguments».
13
A saliência é algo de importante do ponto de vista prático da comunicação: é ela que geral-
mente conduz os processos de compreensão e que evita o seu deslaçamento. Se a compreensão
se começa a deslaçar, a tendência é para que ocorram mal entendidos ou mesmo incompreen-
são. Os processos de saliência ajudam, qual luz de um farol, a apontar a direção (Para as noções
de saliência e de filtragem, propostas por Grize, cf. GRÁCIO, 2013, p. 72).
14
Tema desenvolvido de uma forma muito interessante em vários trabalhos de Selma Leitão.
206
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
e obtida por aquele que sabe falar», Perelman acrescenta: «E que sabe
pensar. Para mim a argumentação é um uso da palavra inseparável do
pensamento (...) o que eu queria dizer é que não se trata apenas de falar,
trata-se de raciocinar» (PERELMAN, 1970, p. 306. Trad. minha) 15.
Este parece-nos ser um bom ponto de partida para colocar a questão
do ensino da argumentação. As competências linguistico-discursivo-co-
municacionais são, sem dúvida, importantes para as práticas retórico-
argumentativas. Saber analisar e expressar-se, de uma forma correta,
clara, eloquente e adaptada ao auditório é uma competência base sem a
qual a capacidade de argumentar se vê drasticamente restringida. O
mesmo acontece, aliás, com o saber ouvir e interpretar a fala do outro
de modo a corresponder-lhe e a conferir uma base realmente dialógica
à interação. Não é por acaso que, tanto Martin Heidegger, como Hans-
Georg Gadamer, avançaram a ideia segundo a qual, antes de ser uma
arte de falar, a retórica é uma arte de ouvir16 (WU, 2013) e que Henry
Johnstone Jr. (2007, p. 24) se lhe referiu como «uma espécie de cunha,
tal como uma espécie de ponte e a retórica é a técnica de colocar uma
cunha entre a pessoa e os dados da sua experiência imediata», ou seja,
algo que a torna disponível para a escuta de argumentos e, desse modo,
convoca a ordem do pensamento, da reflexão e do raciocínio. Também
Toulmin, Rieke & Janik (1984, p. 14) referiram a abertura à escuta dos
argumentos como um traço distintivo da racionalidade humana. Neste
sentido escreveram que:
[…]qualquer pessoa que participa numa argumentação mostra a
sua racionalidade, ou a falta dela, através da forma como lida e
responde à oferta de razões a favor ou contra as teses. Se for
‘aberto aos argumentos’, ela reconhecerá a força das razões ou pro-
curará replicar-lhes, lidando com elas, em qualquer dos casos, de
uma forma ‘racional’. Se for ‘surdo aos argumentos’, pelo contrá-
rio, poderá ignorar razões contrárias ou responder-lhes com as-
15
«(…) l’accord entre ceux qui ne pensent pas de la même façon ne peut se faire que
par l’éloquence, c’est-à-dire, conduite et obtenue par celui qui sait parler». «Et qui
sait penser. Pour moi l’argumentation est un usage de la parole inséparable de celui
de la pensée. (…) ce que je voulais dire c’est qu’il ne s’agit pas seulement de parler, il
s’agit de raisonner».
16
Para um desenvolvimento deste tema ver WU, 2013, pp. 507-519.
207
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
208
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
209
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
210
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
211
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
212
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
213
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
214
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
4. para concluir
No presente ensaio apresentámos as relações entre análise do dis-
curso e argumentação de uma forma contrária à ideia vulgarizada se-
gundo a qual o estudo da argumentação cai sob a alçada da análise do
discurso. Afirmamos, com efeito, que se a argumentação implica pen-
samento perspetivado, então todos os aspirantes ao estatuto de objeti-
vidade não escapam a este perspetivismo. Assim sendo, tudo o que se
apresenta como um «em última análise» poderá gozar de uma legitima-
ção sócio-institucional e, nesse sentido, permanecer indiscutido mas,
nem por isso, é indiscutível, como aliás refere a epígrafe que selecionei
para o presente trabalho.
Lidar com a incerteza de uma forma crítica, compreender a diver-
sidade dos caminhos possíveis, perceber a dimensão de escolha e de po-
sicionamento inerente à seleção dos caminhos tomados, assumir a
responsabilidade identitária que decorre das nossas assunções, percep-
cionar as exigências performativas das situações de argumentação, ser
capaz de ponderar multidimensionalmente e de lidar com o múltiplo, o
controverso e o alternativo — eis algumas linhas fundamentais que as-
sociei ao ensino da argumentação que, a meu ver, permanecerá sempre
muito parcial e num registo excessivamente académico se não assumir
(e retornar) às bases filosóficas e, mais especificamente, a uma antropo-
logia retórica na qual a finitude e a exposição à problematicidade são o
33
Como assinalou Michel Mayer (2015, p. 16), «em argumentação, todo o esforço de concen-
tração incide sobre a questão e não sobre a distância que ela traduz: debatemos, discutimos
uma questão e é ela que determina o raciocínio a seguir» (itálico nosso).
34
Ver também, MEyER, 2018, p. 167-171.
215
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
Referências bibliográficas
ALAIN. propos sur les pouvoirs. élements d’éthique politique. Paris: Gallimard, 1985.
AMOSSy, Ruth. Introduction : la dimension argumentative du discours - enjeux théo-
riques et pratiques. Argumentation et Analyse du Discours [En ligne], 20 | 2018,
mis en ligne le 15 avril 2018, consulté le 16 avril 2018. URL : http://journals.opene-
dition.org/aad/2560 ; DOI : 10.4000/aad.2560
ANGENOT, Marc. A retórica da argumentação como ciência do mais ou menos. In
GRÁCIO, R. A. & OLÍMPIO-FERREIRA, M., Contingência, incerteza e prudên-
cia: caminhos da retórica e da argumentação, Coimbra, Grácio Editor, 2018, pp.
87-104.
CONLEy, omas. What Jokes Can Tell Us About Arguments. In JOST, W., OLMSTED,
W. (Ed) (2003), A Companion To Rhetoric and Rhetorical Criticism. Blackwell
Publishing, 2003.
35
Coloca setas que orientam e assinalam a exposição humana à questão do sentido e à proble-
maticidade que lhe é inerente..
36
Não era afinal Cícero quem definia «argumento» como «algo de provável inventado para criar
confiança» (probabile inventium ad faciendam fidem)»? (Apud, Conley, 2003: 267).
216
ANÁLISE DO DISCURSO, ARGUMENTAÇãO E ENSINO
CROSSWHITE, James. Rhetoric in the Wilderness: e Deep Rhetoric of the Late Twen-
tieth Century. In Jost, Walter & Olmsted, Wendy (eds). A Companion to Rhetoric
and Rhetorical Criticism. Blackwell Publishing, 2003.
CUNHA, T. C., SOUSA, A.. A racionalidade retórica. In FIDALGO, A., RAMOS, F., OLI-
VEIRA, J. P. & MEALHA, Ó.. Livro de Actas do 4º Congresso da Associação por-
tuguesa de Ciências da Comunicação, 4º SOpCOM. Comissão Editorial da
Universidade de Aveiro: Aveiro, 2005, pp. 1828-1836.
DUCROT, O.. Dire et ne pas dire. Paris: Hermann, 1991.
GILBERT, Michael A.. Coalescent Argumentation. New Jersey: Laurence Erlbaum As-
sociate Publishers,1997.
GOODWIN, Jean. Designing Issues, In VAN EEMEREN, F. H. & HOUTLOUSSER, P.
(Eds). Dialectic and Rhetoric. e Warp and Woof Argumentation Analysis. Dor-
drecht: Kluwer Academic Publishers, 2020, pp. 81-96.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Racionalidade Argumentativa. Porto: Edições ASA, 1993.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Consequências da Retórica. Para uma revalorização do múl-
tiplo e do controverso. Coimbra: Pé de Página Editores, 1998.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Discursividade e perspetivas. Questões de Argumentação.
Coimbra: Grácio Editor, 2009.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Vocabulário Crítico de Argumentação. Coimbra: Grácio Edi-
tor, 2013.
GRÁCIO, Rui Alexandre. Retórica e objetividade. eID&A - Revista eletrônica de estu-
dos Integrados em Discurso e Argumentação, Ilhéus, n.6, pp. 171-184, jun. 2014.
GRÁCIO, Rui Alexandre. A argumentação na interação. Coimbra: Grácio Editor, 2016.
JOHNSTONE JR., Henry. Algumas reflexões sobre a argumentação. In GRÁCIO, R. A.
& OLÍMPIO-FERREIRA, M., Contingência, incerteza e prudência: caminhos da
retórica e da argumentação. Coimbra: Grácio Editor, 2018, pp. 29-41.
JOHNSTONE, H. W. Jr.. e Philosophical Basis of Rhetoric. In HAUSER, G. A. (Ed.),
philosophy an Rhetoric in Dialogue. Redrawing their Intellectual Landscape.
Pennsyvania: e Pennsyvania Sate University Press, 2007 pp. 15-26.
LEITãO, Selma. O trabalho com argumentação em ambientes de ensino-aprendizagem:
um desafio persistente. Uni-pluri/versidade, vol. 12, n.º 3, 2012, pp. 23-37.
MEyER, Michel. As bases da retórica. In CARRILHO, M. M.ª, (Org.), Retórica e Co-
municação. Porto: Edições ASA,1994.
MEyER, Michel. Qu’est-ce que l’argumentation?. Paris: Vrin, 2005.
MEyER, Michel. principia Rhetorica. Une théorie générale de l’argumentation. Paris:
Fayard, 2008.
MEyER, Michel. Como repensar as relações entre a retórica e a argumentação?. In GRÁ-
CIO, R. A. & OLÍMPIO-FERREIRA, M., Contingência, incerteza e prudência: ca-
minhos da retórica e da argumentação. Coimbra: Grácio Editor, 2018, pp. 167-173.
MORIN, Edgar. As grandes questões do nosso tempo. Lisboa: Editorial Notícias, 6ª ed,
1999.
PERELMAN, Chaïm. Le Champ de L’Argumentation. Bruxelles: Presses Universitaires
de Bruxelles,1970.
PERELMAN, Chaïm. Justice et Raison. Bruxelas: 2e éd., Éditions de l’Université Libré
de Bruxelles, 1972.
217
RUI ALEXANDRE GRÁCIO
218
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT
INTeRDISCURSIVITé DANS LA MéDIATION
JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
Wander Emediato
219
WANDER EMEDIATO
220
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
ment est sans doute important, mais la synchronisation entre les mé-
dias, loin d’être une garantie d’authenticité de l’information, permet de
construire l’événement sur la base des points de vue hégémoniques.
L’événement est un phénomène intégré au dialogisme social et aux luttes
discursives qui, sur le plan social, imposent aux médias eux-mêmes des
paroles et des points de vue. Bien que le public soit une partie intégrante
du phénomène interdiscursif, il ne faut pas négliger le poids des sources
et des institutions qui s’articulent pour le faire surgir et circuler comme
discours, notamment par les médias, qui concourent à la représentation
hégémonique et synchronisée.
C’est le concept de médiation qui est en jeu dans la notion d’événe-
ment, telle que je voulais la traiter ici. Ce concept n’est pas simple à cerner,
d’autant plus qu’il est traité en linguistique de façon assez restreinte,
comme le montre Guentcheva (1984, 1996), qui reprend le terme mé-
diatif introduit par Lazard, en 1956, pour ne traiter que des formes lin-
guistiques1. Médiatif est ici synonyme d’eventialité. Un ouvrage
francophone publié sous la direction de Delamotte-Legrand (2004), à
partir d’un colloque organisé à Rouen2, montre bien la portée de la no-
tion. Alors que le premier volume s’attaque aux recherches des formes
du médiatif en langue (éventialité), dans des approches qui vont de la syn-
taxe à la sémantique, de la logique à la modalisation, le deuxième discute
de la notion en discours, dont la notion de médiation est plus étendue.
Je ne veux pas traiter la médiation en termes de marquage en langue
(médiatif), mais le problème posé est si pertinent qu’on voulait y faire
mention dans cet article et en reprendre certaines définitions opératoi-
res. La première est celle de Kronning :
[...] notre connaissance du monde est souvent, pour diverses
raisons, imparfaite. Aussi le langage nous offre-t-il des moyens
d’opérer une modalisation épistémique des énoncés, grâce à la-
quelle nous pouvons présenter les énoncés comme plus ou moins
1
« Cette notion revoie à un acte complexe d´énonciation qui consiste à présenter des faits dont
l´appréhension ne correspond pas à une constatation ou à un vécu de l´énonciateur, mais à
un ‘rapport médiat’ que l´énonciateur institue entre lui et le contenu propositionnel de son
énonciation, ce dernier pouvant être attribué à un tiers non spécifié, à un ouï-dire, à un rai-
sonnement abductif à partir d´indices généralement issus de la perception, ou encore à des
faits impliquant un constat inattendu. » (Guentcheva, 2004 : p. 25)
2
Colloque international La médiation : marquages en langue et en discours.
223
WANDER EMEDIATO
Pour Champagne, l’événement est avant tout une affaire des médias,
vus comme un dispositif qui lui donne sa forme et sa substance, par l’ac-
tion de plusieurs agents, internes et externes aux médias :
[…] les médias construisent les événements dont ils rendent
compte. […] en certains cas, ils peuvent être de simples relais,
plus ou moins conscients ou consentants, de stratégies de com-
munication fabriquées à leur intention par ceux qui cherchent à
produire « artificiellement » des événements afin de profiter des
retombées qu'ils peuvent engendrer... » (Champagne, 2000, p.
413-414).
222
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
ment est sans doute important, mais la synchronisation entre les mé-
dias, loin d’être une garantie d’authenticité de l’information, permet de
construire l’événement sur la base des points de vue hégémoniques.
L’événement est un phénomène intégré au dialogisme social et aux luttes
discursives qui, sur le plan social, imposent aux médias eux-mêmes des
paroles et des points de vue. Bien que le public soit une partie intégrante
du phénomène interdiscursif, il ne faut pas négliger le poids des sources
et des institutions qui s’articulent pour le faire surgir et circuler comme
discours, notamment par les médias, qui concourent à la représentation
hégémonique et synchronisée.
C’est le concept de médiation qui est en jeu dans la notion d’événe-
ment, telle que je voulais la traiter ici. Ce concept n’est pas simple à cerner,
d’autant plus qu’il est traité en linguistique de façon assez restreinte,
comme le montre Guentcheva (1984, 1996), qui reprend le terme mé-
diatif introduit par Lazard, en 1956, pour ne traiter que des formes lin-
guistiques1. Médiatif est ici synonyme d’eventialité. Un ouvrage
francophone publié sous la direction de Delamotte-Legrand (2004), à
partir d’un colloque organisé à Rouen2, montre bien la portée de la no-
tion. Alors que le premier volume s’attaque aux recherches des formes
du médiatif en langue (éventialité), dans des approches qui vont de la syn-
taxe à la sémantique, de la logique à la modalisation, le deuxième discute
de la notion en discours, dont la notion de médiation est plus étendue.
Je ne veux pas traiter la médiation en termes de marquage en langue
(médiatif), mais le problème posé est si pertinent qu’on voulait y faire
mention dans cet article et en reprendre certaines définitions opératoi-
res. La première est celle de Kronning :
[...] notre connaissance du monde est souvent, pour diverses
raisons, imparfaite. Aussi le langage nous offre-t-il des moyens
d’opérer une modalisation épistémique des énoncés, grâce à la-
quelle nous pouvons présenter les énoncés comme plus ou moins
1
« Cette notion revoie à un acte complexe d´énonciation qui consiste à présenter des faits dont
l´appréhension ne correspond pas à une constatation ou à un vécu de l´énonciateur, mais à
un ‘rapport médiat’ que l´énonciateur institue entre lui et le contenu propositionnel de son
énonciation, ce dernier pouvant être attribué à un tiers non spécifié, à un ouï-dire, à un rai-
sonnement abductif à partir d´indices généralement issus de la perception, ou encore à des
faits impliquant un constat inattendu. » (Guentcheva, 2004 : p. 25)
2
Colloque international La médiation : marquages en langue et en discours.
223
WANDER EMEDIATO
224
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
225
WANDER EMEDIATO
226
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
227
WANDER EMEDIATO
228
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
crédible. Une telle procédure peut être associée à des stratégies d'effa-
cement énonciatif par le locuteur de citations du point de vue original
d’un locuteur cité, amplifiant ainsi les effets de preuve et d’évidence du
contenu énoncé, comme dans certaines citations académiques, dans une
thèse, par exemple.
La sous-énonciation se réfère à l'expression, par un locuteur, d'un
point de vue dominé, au profit d’un surénonciateur. Le capital locutif
d'un locuteur peut être au service de la circulation des points de vue des
autres, d'un surénonciateur, ce qui fait du locuteur principal (journaliste,
par exemple) un sous-énonciateur qui énonce au profit de l’énonciateur
cité. Pour la sous-énonciation, il faut distinguer quand c'est une domi-
nation imposée ou choisie. Un sous-énonciateur peut exprimer un PDV
dominé en révérence à une autorité par politesse, respect, admiration,
ou par soumission, adhésion libre, aliénation, etc. (Rabatel, 2004, p.11).
Comme le souligne le linguiste, le mode dont le locuteur premier (L1)
gère le dialogisme interne peut fonctionner comme une stratégie d'ar-
gumentation par autorité polyphonique. Il s'agit donc d'une exploration
argumentative des énoncés de locuteurs seconds (l2/e2) en faveur du
point de vue de L1/E1.
Les postures énonciatives sont au centre des objectifs argumentatifs
de l'instance de production du discours, permettant d'intégrer les études
de l'énonciation aux études d'argumentation. Assumer une posture
énonciative consiste, pour un sujet, à s’investir d'une manière ou d'une
autre dans la construction d'un point de vue, et, par ce biais, s’investir
dans la construction de l’événement et dans son orientation argumen-
tative. Le locuteur, responsable pour la construction du texte, donne
existence à des énonciateurs dont il organise les points de vue et les at-
titudes à travers la mise en discours des énoncés qu’il rapporte, et il peut
entretenir avec eux des relations de consensus ou de dissonance, ou, en
d’autres termes, co-orientés (consonantes) ou anti-orientés (dissonan-
tes). Les points de vue en question circulent dans un environnement so-
cial et sont évalués, caractérisés et discriminés, constituant ainsi des
positions spécifiques et parfois concurrentes dans l'interdiscours.
L'effacement énonciatif (Vion, 2003, 2004, 2005), est un type de pos-
ture énonciative — de mise à distance et d'opacité — qui permet au lo-
cuteur de se présenter d'une certaine manière comme neutre, objectif,
229
WANDER EMEDIATO
230
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
journaliste (ou l´instance journalistique), parce que c´est le journaliste qui rapporte les paroles
d´un locuteur second (l2/e2), dans ce cas, Mme. Christine Lagarde. C´est donc le journaliste
qui assume la responsabilité énonciative sur le texte, alors qu´au locuteur second est imputé
des énoncés, des points de vue et la prise en charge.
231
WANDER EMEDIATO
232
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
Il va sans dire que l’énoncé entre guillemets est bien attribué à l2/e2
et signalé d’ailleurs comme une déclaration de l2 dans un espace assez
symbolique (Harvard). La localisation spatiale n’est pas sans enjeux dans
la construction de l’événement, car l’espace symbolique renforce la cré-
dibilité et la légitimité du locuteur d’origine et des propos qui y sont
tenus. Néanmoins, force est de constater que ce PDV (la reprise mondiale
s’installe durablement) n’est pas assumé de façon personnelle par l2/e2,
puisqu’il ne le déclare pas comme un « je », mais comme « on » (on voit
que...). Il ne s’agit pas de quelque chose de trivial, car il faut représenter
ce PDV comme une donnée factuelle et non comme une opinion indi-
viduelle. Christine Lagarde, bien que citée nominalement, représente
une institution, le FMI. La modalité épistémique est présentée sur le
mode médiatif, le sujet énonciateur renvoie implicitement l’information,
par son statut, a une source qui garantirait, avec elle, la vérité du contenu
propositionnel.
Le PDV est, en tout cas, assumé pleinement. Certes, Lagarde se re-
tranche derrière un « on » et, dans certains cas, cela correspond à un af-
faiblissement de la prise en charge. Mais ici, c’est tout le contraire, en
ceci que Lagarde pose son PDV comme une ON-Vérité (Berrendonner,
1981), et donc un PDV qui n’est pas que le sien, mais est appelé à être
vérifié et donc partagé par tous : ici, ce qui est important, c’est « ON
VOIT » + ON constate. La PEC du PDV pourrait d’ailleurs être encore
plus forte si on mettait au futur dans un énoncé hypothétique : si on pre-
nait un peu de recul, on verrait/ si on prend un peu de recul, on verra
(= on ne peut que voir). C’est ce que Rabatel appelle dans Homo narrans
(2009) une évidence perceptuelle. C’est un PDV dont le statut de vérité
est renforcé par le caractère indéfini du « on », PDV des spécialistes, et
233
WANDER EMEDIATO
d’abord des spécialistes du FMI, dont Christine Lagarde, qui est bien
citée nominalement, et se présente comme légitime représentant d’une
institution, le FMI.
Par ailleurs, il faut désormais savoir à qui l’on peut attribuer l’expres-
sion (et le PDV) « en prenant un peu de recul ». Une telle expression
semble qualifier la déclaration de l2 — elle a donc une valeur adverbiale
modale. L2 a déclaré x en prenant un peu de recul. Il ne peut s’agir que
d’un commentaire de L1 sur la déclaration de l2. La suite (l’anticipation
de la croissance mondiale...) est attribuée au FMI (institution). Cette hy-
pothèse n’est pas infirmée par l’énoncé originel oublié sur la page du FMI
et qui transcrit fidèlement le discours de Lagarde à Harvard. Elle montre
que, volontairement ou non, ce PDV modal qui garantit le PDV de l2 est
pris en charge par L1. A noter que l’hypothèse est confirmée dans ce texte-
ci par le fait que ON peut ainsi renvoyer à Lagarde, au FMI et à ses spé-
cialistes, à tous les économistes, même s’ils n’appartiennent pas au FMI,
et même à tous les lecteurs qui sont capables de « prendre un peu de
recul » : on a là, typiquement, ce que Rabatel appelle une coénonciation.
Un autre problème concerne l’énoncé interne au discours rapporté
"tant attendue", qui semble polyphonique : l2 prend en charge ce PDV
(que la reprise mondiale est tant attendue), mais il impute également cet
"attente/espérance" à un énonciateur sans locuteur, c’est-à-dire, à un tiers
interdiscursif. Il est d’abord celui de Lagarde, mais aussi endossable (=
susceptible d’être pris en charge) par L1, des tiers, et notamment des lec-
teurs énonciateurs non locuteurs.
On voit bien que la gestion dialogique de l’article du journal Le
Monde endosse les points de vue de l2/e2 ainsi que sa façon de le pré-
senter, ne comportant, jusqu`à présent, aucune posture énonciative anti-
orientée (interprétative ou critique). L’effacement énonciatif contribue
à laisser parler l2/e2 sans modaliser ses propos.
Fragment 4 : un pDV explicatif causal
(4) elle a souligné que près de 75 % des pays du monde se re-
dressaient, « ce qui signifie plus d’emplois et une amélioration
du niveau de vie dans de très nombreuses régions du monde ».
234
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
235
WANDER EMEDIATO
236
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
Le choix par L1 de ce qui signifie pour rapporter elle traduit, est assez
compatible au niveau de l’acte assertif (d’évidence et non de probabilité),
ce qui nous permet de noter que L1 prend en charge le PDV à ce niveau
modal, c’est-à-dire que la conclusion est bien au niveau de l’évidence et
non de la probabilité, et les deux (L1 et l2) sont d’accord là-dessus. Il
s’agit bien d’un acte de paraphrase énonciative, proche de ce qui propose
Fuchs, avec une valeur pragmatique importante car les locuteurs sem-
blent s’entendre au niveau sémantique et, donc, interdiscursif. Il en va
de même, pourrait-on dire, pour la paraphrase énonciative entre « un
meilleur niveau de vie » et « une amélioration du niveau de vie ». Il ne
s’agit pas non plus du discours cité (bien qu’entre des guillemets), mais
d’une paraphrase énonciative assez approximative qui relie, en termes
d’enjeux, les deux locuteurs/énonciateurs (L1/E1 et l2/e2) autour de l’ob-
jet en question (la conclusion nécessaire à tirer de la relance/redresse-
ment économique). Il nous reste demander si le choix du
locuteur/journaliste pour la nominalisation, qui renvoie à une proces-
sualisation de l’action, ne ferait pas de lui un surénonciateur, dans la me-
sure où il semble aller bien au-delà des paroles rapportées et du PDV de
l2/e2. En effet, il nous semble qu’établir un lien de cause et conséquence
entre la relance économique et un meilleur niveau de vie est moins con-
traignant que de lier deux processus interdépendants (mais non néces-
saires), le redressement économique et l’amélioration du niveau de vie
(le processus suppose une duration, une constante, impose un raison-
nement scalaire du type plus il y a du redressement économique, plus il y
aura une amélioration du niveau de vie).
Fragment 5 : un pDV restrictif assez stratégique dans l’argu-
mentation
(5) La directrice du FMI a néanmoins constaté que « cette reprise
n’était pas totale », et que dans un certain nombre de pays, la
croissance est « trop faible ». L’an dernier, 47 pays ont vu par ail-
leurs leur pIb par habitant décliner.
237
WANDER EMEDIATO
Le fragment (6) est précédé d’un sous-titre qui est la reprise des pa-
roles de l2/e2, comme verra dans l’extrait en discours cité ci-dessus. La
stratégie journalistique du détachement (Maingueneau, 2014) met en
évidence la posture énonciative de coénonciation adoptée par L1/E1,
qui procède à une aphorisation du pdv de l2/e2. L’aphorisation est partie
intégrante du but global de cet événement : inciter à l’action et faire de
l’engagement dans les réformes une opportunité, plus qu’une nécessité
ou une contrainte. On voit bien que le journal Le Monde s’engage dans
ce PDV et dans cette argumentation dans la mesure où il choisit de dé-
tacher le PDV stratégique et de le mettre en relief dans l’aphorisation.
On peut d’ailleurs ici constater une confluence entre la notion de sché-
matisation, chez Grize, par les opérations de mise en relief et d’éclairage,
et celles de détachement et d’aphorisation, chez Maingueneau (2014).
Dans le cas analysé, ces stratégies placent L1/E1 dans une posture de
coénonciation avec l2/e2, dans la mesure où ils semblent bien partager
le PDV et les buts.
238
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
239
WANDER EMEDIATO
240
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
241
WANDER EMEDIATO
il y a tout de même une nuance qui profite au PDV d’O Globo qui veut
mettre plus d’accent sur la « chance » et « la garantie d’une reprise » que sur
le fait d’avoir déjà une reprise favorable et, donc, il ne faut pas la gâcher.
Fragment (11) — Un pDV “ intrus” idéologique.
Desde o ano passado, o FMI enfrenta uma onda de populismo
nos países desenvolvidos, com forças hostis ao liberalismo co-
mercial ascendendo nos estados Unidos e na europa.
8
On sait que depuis longtemps les forces hostiles au libéralisme s´opposent au FMI, mais ces
forces hostiles ne sont pas forcément celles du populisme en ascension aux USA (Trump) ou
en Europe (extrême-droite notamment)
242
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
243
WANDER EMEDIATO
indirect intégré suivi d’un fragment cité traduit de façon du moins hy-
perbolisée (traduire ne pas gâcher la bonne reprise pour jeter une bonne
reprise dans la poubelle n’est pas tout à fait une traduction descriptive.
On sait bien que la traduction n’est pas sans enjeux et ici on dirait que O
Globo s’implique dans la prise en charge du PDV et y ajoute une nuance
affective). Quoi qu’il en soit, chaque journal, à sa façon, met en relief le
même PDV avec le même but d’avertissement.
Fragment 14: le pDV déontique et d’incitation à l’action pour
le réformes et contre les inégalités
(14) Além de pedir políticas monetárias e fiscais que estimulem
o crescimento, Lagarde também afirmou que os países deveriam
investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento para im-
pulsionar a produtividade e a demanda, o que pode reduzir o
desemprego e os subempregos. expandir o acesso à saúde e à
educação, bem como a adoção de impostos progressivos, pode
ajudar a reduzir a desigualdade, acrescentou.
"pesquisas do FMI mostram que a desigualdade excessiva difi-
culta o crescimento e esvazia a base econômica de um país", afir-
mou. "ela erode a confiança na sociedade e alimenta tensões
políticas".
Ce fragment est d’autant plus important qu’il met en évidence des as-
pects énonciatifs, argumentatifs et interdiscursifs saillants. Sur le plan énon-
ciatif il reprend le pdv d’incitation à l’action de l2/e2 pour les réformes,
mais à la différence du Monde, il spécifie des buts et des secteurs des réfor-
mes (monétaires, infrastructures, recherche, développement, santé, édu-
cation, fiscalité, etc.). Mais O Globo reprend également des PDV
axiologiques de l2/e2 qui mettent l’accent sur les inégalités sociales comme
obstacles au développement et comme source de tensions politiques. Ces
PDV jouent un rôle important dans l’argumentation du FMI dans la cons-
truction globale de l’événement, d’autant plus que le FMI a toujours été loin
du débat politique et assez borné aux questions économiques et monétaires.
L’argument d’autorité vient soutenir ce pdv (Les recherches du FMI mon-
trent que...), en rendant l’inégalité (excessive) une question logique et scien-
tifique (ce qui a pour but justement de dépolitiser la question).
Il n’est pas paradoxal de voir que c’est le journal O Globo, de ligne li-
bérale, qui met en relief ces PDV axiologiques contre les inégalités dans
244
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
245
WANDER EMEDIATO
246
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
247
WANDER EMEDIATO
Conclusion
Pour conclure, je voulais mettre en rapport les deux activités dis-
cursives, l’argumentation et l’énonciation, avec la dimension plus englo-
bante de l’interdiscours.
J’ai soutenu ici l’idée que la mise en scène des points de vue par les
journaux de référence collabore à la construction événementielle en
mettant en relief les PDV des locuteurs autorisés et légitimés dans l’es-
pace social. La presse participe ainsi à leur légitimation, dans la mesure
où elle les prend comme tels en leur donnant un capital verbal (et vi-
suel) important en dépit d’autres locuteurs bien moins visibles. Cela est
d’autant plus vrai que les PDV de ces locuteurs sont diffusés partout
dans le monde, repris par les médias de référence. Cela contribue à la
fois au processus de hiérarchisation des locuteurs médiatiques, ainsi qu’à
la marginalisation d’autres locuteurs qui n’apparaissent pas assez dans
les médias de référence et doivent faire recours à des médias plus mar-
ginaux (presse d’opinion, presse politique, presse indépendante, etc.).
Les locuteurs mis en relief par la presse de référence en sont les vedettes,
médiatisés comme des locuteurs autorisés et légitimes, correspondant
ainsi à des locuteurs des idéologies hégémoniques (Gramsci, 1995 ; Fair-
clough, 2001 ; ompson, 1990).
Dans ces matières journalistiques dites d’« information », où le lo-
cuteur principal joue sur son effacement énonciatif et laisse parler les
locuteurs autorisés, en choisissant, bien sûr, les fragments de discours
« pertinents », congruents avec la visée argumentative des uns et des au-
tres, l’événement est coconstruit en fonction de l’hégémonie, et c’est la
raison pour laquelle les PDV sont repris, diffusés et rarement commen-
tés ou mis en débat avec d’autres locuteurs non hégémoniques. La cons-
truction d’un événement comme Le Plan d’Action Mondial du FMI
demande la mise en œuvre des procédés de diffusion globale synchro-
nisée, car il a pour but de provoquer des réactions orientées vers le plan
d’action et non vers la contestation, d’autant plus que l’urgence (des ré-
formes et des plans d’action) joue sur une temporalité précise dont un
débat approfondi et long ruinerait la possibilité de réussite. C’est pourquoi
il s’agit d’un discours argumentatif et en même temps programmateur
(Greimas, 1983) ou d’incitation à l’action (Adam, 2017). En effet, la façon
248
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
249
WANDER EMEDIATO
250
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
251
WANDER EMEDIATO
Références bibliographiques
ADAM, Jean-Michel. Les textes : types et prototypes. Paris : Armand Colin, 2017.
ANGENOT, Le dialogue de sourds. Paris : Mille et une nuits, 2008.
BEDNAREK, Monika. evaluation in Media Discourse. London : Continuum, 2006.
BOURDIEU, Pierre. Ce que parler veut dire. Paris : Fayard, 1982.
CHAMPAGNE, Patrick. L'événement comme enjeu. In: Réseaux, volume 18, n°100,
2000. Communiquer à l'ère des réseaux. pp.403-426.
CHARAUDEAU, Patrick. Une éthique du discours médiatique est-elle possible ? Revue
Communication Vol.27, N°2, Éditions Nota Bene, Québec, 2009.
CHARAUDEAU, P. Le discours d’information médiatique. Paris: Nathan, 2000.
CHARAUDEAU, Patrick. Grammaire du sens et de l’expression. Paris : Hachette, 1992.
COURTINE, J.-J. (éd). Analyse du discours politique, Langages, 62, 1981.
DELAMOTTE-LEGRAND, Régine (dir.). Les médiations langagières. Des faits de langue
aux discours. Volumes I e II. Rouen : Publications de l’Université de Rouen. 2004.
ECHOS, Les. https://www.lesechos.fr/06/10/2017/lesechos.fr/030669961734_pour-chris-
tine-lagarde--le-temps-des-reformes-est-venu.htm
EMEDIATO, W. (org.) A construção da opinião na mídia. Belo Horizonte: Fale/UFMG,
2013.
EMEDIATO, Wander. A argumentação na mídia: problematicidade e avaliação ética. In:
MACHADO, Ida Lucia; MELLO, Renato de. (org.). Análises do discurso hoje. V.
3. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Lucerna, 2010. p. 70-98.
EMEDIATO, W. Representações discursivas de cidadania na mídia. In: SILVA, Denize
E. G. LEAL, M. C. D., PACHECO, M. C. N. Discurso em questão. Brasília: Canône
editorial , 2009.
252
ARGUMeNTATION, pOSTUReS éNONCIATIVeS eT INTeRDISCURSIVITé
DANS LA MéDIATION JOURNALISTIQUe D’UN éVéNeMeNT
253
WANDER EMEDIATO
254
SObRe OS AUTOReS
255
Françoise Sullet-Nylander é professora titular do Departamento de es-
tudos românicos e clássicos da Universidade de Stockholm (Suécia)
onde ensina língua francesa e Análise do Discurso. Efetua pesquisas
sobre polifonia, discurso relatado, reformulação e jogos de linguagem
em textos jornalísticos e em debates políticos. Seus trabalhos mais re-
centes centram-se sobre o humor e ironia e sobre os termos utilizados
pelos participantes de debates políticos ao se dirigirem uns aos outros,
no intervalo ocorrido entre os dois turnos das eleições presidenciais na
França (2016-2107).
E-mail: Françoise.Sullet-Nylarder@su.se
256
líder do grupo de pesquisa “Retórica e argumentação”, juntamente com
a professora Dra. Maria Cecília Miranda (FAFICH/UFMG).
E-mail: helciralima@uol.com.br
257
realização do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação
em Linguística da Universidade Federal de São Carlos (DL/PPGL-UFS-
Car). É membro participante do Grupo de Estudos em Semiótica da Uni-
versidade de São Paulo - GES-USP e do Laboratório de Estudos
Epistemológicos e Discursividades Multimodais - LEEDIM-UFSCar.
E-mail: julialourenco@usp.br
258
Mônica Santos de Souza Melo é Doutora em Estudos Linguísticos pela
Universidade Federal de Minas Gerais (2003), tendo realizado estágio
pós-doutoral em Análise do Discurso (2012) na mesma instituição.
Atualmente é Professora Associada IV da Universidade Federal de Vi-
çosa, onde leciona e orienta pesquisas na Graduação e no Programa de
Pós-Graduação em Letras, atuando principalmente nos seguintes temas:
discurso (religioso, político e jurídico), argumentação, semiolinguística
e mídia. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
E-mail: monicassmelo@yahoo.com.br
259
editor da revista da ABRALIN e é editor da revista Linguasagem-UFS-
Car. Atual presidente da Associação Nacional de Pós-graduação em Le-
tras e Linguística - ANPOLL.
E-mail: baronas@uol.com.br
260
Este livro foi produzido em Coimbra (Portugal) no mês de agosto de 2018.
Capitaneado por Ida Lúcia Machado, Gláucia
Muniz Proença Lara e Wander Emediato de
Souza, o presente livro apresenta ao leitor uma
variedade de temas, numa pluralidade de cor-
pora e abordagens, tomados do passado, do pre-
sente — e até de um futuro do passado, no caso
do curioso experimento do Padre Antônio
Vieira. Por outro lado, ele confirma a capacidade
de agregação, de interlocução e diálogo que é
uma marca do Núcleo de Análise do Discurso
da Faculdade de Letras da Universidade Federal
de Minas Gerais, cujas atividades, desenvolvidas
ininterruptamente há quase três décadas, cria-
ram, difundiram e consolidaram uma área de es-
tudos evidentemente nuclear.
www.ruigracio.com