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RESUMO
ABSTRACT
The following paper aims to present the Benjamin's critique to power-violence that
institutionalize the right, with the introduction of a pure divine power to stop the
march of the mythical sovereign power. For such is necessary to explicit the
Schmitt's theory of state of exception, because there is a fictional character in the
decision-making capacity of sovereign to act for the reestablishment of the state of
right. We will discuss the relationship of the political problem of power with the
metaphysical problem of potential and actual for the formation of a revolutionary
power that annihilates the fetishistic constitution of the baroque historical reality.
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1 Crítica do poder-violência
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O poder do destino tem por teor essencial uma violência imediata, que não
é passível de qualificação como sendo um meio referente a um determinado fim
proposto. Tal poder é tão somente a manifestação pura e simples da potência de
um hybris irracional. Isto se evidencia com o exemplo dado por Benjamin da
explosão de violência da ira dos Deuses que desaba sobre Níobe, em que ocorre
a morte sangrenta de seus filhos por ela haver tentado desafiar o poder do destino.
O poder do destino, enquanto manifestação imediata da violência mítica, é, para
Benjamin, instituinte do direito e está subjacente ao próprio poder jurídico. Há,
portanto, nesta perspectiva da violência fundadora do direito, uma analogia
significativa entre o poder do destino e o poder jurídico.
Pode-se dizer, com isso, que a origem profunda do poder-violência contém
como teor fatual a potência anômica irracional instituinte do direito, cuja função
primordial é a institucionalização mítica do próprio direito, operando uma
configuração sui generis na relação entre meios e fins. Em uma passagem
fulgurante do texto Crítica do Violência - Crítica do Poder, Benjamin explicita
categoricamente essa função do poder-violência:
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1 O objetivo pretendido por Carl Schmitt em A Ditadura é inserir o estado de exceção no contexto
jurídico, estabelecendo uma articulação entre estado de exceção e ordem jurídica. Aí, a
inclusão do estado de exceção é levada a cabo pela relação dialética entre o poder
constituinte e o poder constituído. Para esse pensador, o poder constituinte não é mera
questão de força, mas é também uma questão de direito, visto que tal poder mantém uma
certa relação com a ordem jurídica, possuindo, pois, um traço mínimo de constituição. Esse
mínimo é um elemento formal especificamente jurídico, a saber, a decisão. A vinculação do
estado de exceção com a soberania, em sua Teologia Política, se dá pelo conceito de
decisão. No estado de exceção, o soberano se situa fora do ordenamento jurídico, porém,
por ser o responsável pela decisão última de sua suspensão, ele está ao mesmo tempo
incluído no próprio ordenamento.
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2 “Na verdade, o estado de exceção não é nem exterior nem interior ao ordenamento jurídico,
ou a uma zona de indiferença, em que dentro e fora não se excluem mas se indeterminam.
A suspensão da norma não significa a sua abolição e a zona de anomia por ela instaurada
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não é (ou, pelo menos, não pretende ser) destituída de relação com a ordem jurídica.”
(AGAMBEN, 2004, 39)
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O katechon, seja qual for a forma que ele possa assumir, produz a
histórica; sem ele, o próprio curso do tempo teria terminado. Ele detém o
fluxo do tempo conduzindo à contra-era do Anticristo [...] O jogo
recíproco, que envolve o tempo contínuo da normalidade com o choque
[shock] do estado de exceção, produz a história que é dada à
humanidade como instante último do tempo [Frist]. (BREDEKAMP, 1999,
253)
5 “Se o poder mítico é instituinte do direito, o poder divino é destruidor do direito; se aquele
estabelece limites, este rebenta todos os limites; se o poder mítico é ao mesmo tempo autor
da culpa e da penitência, o poder divino absolve a culpa; se o primeiro é ameaçador e
sangrento, o segundo é golpeador e letal, de maneira não-sangrenta.” (BENJAMIN, 1986,
173)
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6 “De novo, o puro poder divino dispõe de todas as formas eternas que o mito transformou em
bastardos do direito. O poder divino pode aparecer tanto na guerra verdadeira quanto no juízo
divino da multidão sobre o criminoso. Deve ser rejeitado, porém, todo poder mítico, o poder
instituinte do direito, que pode ser chamado de um poder que o homem põe (schaltende Gewalt).
Igualmente vil é também o poder mantenedor do direito, o poder administrado (verwaltete Gewalt)
que lhe serve. O poder divino, que é insígnia e chancela, jamais um meio de execução sagrada,
pode ser chamado de um poder de que Deus dispõe (waltende Gewalt).” (BENJAMIN, 1986, 175)
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perspectiva se atribui uma consistência própria à potência de poder até não passar
ao ato, desativando-se, com isso, a necessidade do vínculo estrutural entre
potência e ato. Por isso, traz-se à luz do dia a possibilidade real de uma potência
de não ser nem fazer em ato, isto é, uma impotência.
Introduz-se, então, um outro modo de potência que tem de se contrapor
frontalmente à potência soberana autofundadora do ser, enquanto princípio do
bando que vincula o poder constituinte ao poder constituído pelo mecanismo do se
aplicar desaplicando. A constituição da potência do não ser nem fazer tem de
depor a potência do bando soberano por um ato de violência especial, situando-
se, pois, para além de toda figura de relação – principalmente a relação jurídica. O
poder soberano não é capaz de decidir sobre o estado de exceção efetivo porque
está determinado pela potência inoperosa da relação de bando, que busca
constantemente uma autofundação do ser através da “opressão dos antipoderes
inimigos, acabando por enfraquecer o poder instituinte do direito” (BENJAMIN,
1986, 174-175)
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Ora, há que se determinar em que consiste esse irrelato e qual a sua origem,
pois é do decifrar do arcano dessa relação que depende a constituição de uma
potência revolucionária capaz de instaurar uma nova era histórica.
Além do aspecto juridicopolítico, há um aspecto socioeconômico que lança
as bases para se fincar a constituição da potência soberana sobre o portador da
vida nua na relação de bando – e este aspecto está completamente ausente da
investigação tanto de Benjamin quanto da de Agamben. É o fator do trabalho que
concerne ao fundamento originário de engendramento da culpa aferrada
biopoliticamente no corpo dos indivíduos modernos portadores da vida nua. É o
trabalho, no interior do processo de produção de mercadorias, que promove a
redução brutal do modo de ser qualitativo dos indivíduos à mera vida nua de
dispêndio de energia corporal e mental, em prol da valorização do Ser puro do
valor do fetiche do capital. A formação da culpa está intrinsecamente vinculada à
pro-dução (pro-ducere) do Ser-valor puro pela atividade abstrata do trabalho,
justamente porque conduz à existência fantasmagórica objetivada o poder
estranhado do fetiche do capital, como se fosse um sujeito de autoridade suprema
e absoluta.
Quem tentou articular um nexo entre vida nua e força de trabalho foi Karl-
Heinz Wedel no artigo Forma do Direito e "Vida nua". Wedel pretende
complementar a lacuna na teoria agambeniana do biopoder sobre o homo sacer
com o aspecto da subjetividade mercantil do trabalho, que reduz os seres humanos
à mera existência fisiológica. Para ele, há uma unidade recíproca entre a forma do
direito e a forma da mercadoria no interior da moderna sociedade produtora de
mercadorias, determinada pelo caráter fetichista do trabalho.
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CONCLUSÃO
Com isso, coloca-se em outros termos o que realmente está em jogo no
desvendar do enigma do arcano da constituição fetichista que funda o poder-
violência institucionalizador do direito: a formação de uma potência revolucionária
que irrompa o contínuo de sofrimento da realidade histórica barroca por um ato de
violência poética. A violência poética não é uma posição-em-obra da verdade, mas
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REFERÊNCIAS
BREDEKAMP, Horst. From Walter Benjamin to Carl Schmitt, via Thomas Hobbes.
Critical Inquiry, Vol. 25, No. 2, "Angelus Novus": Perspectives on Walter
Benjamin(Winter, 1999), pp. 247-266.
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