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1. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
1.1. Norma que altera o prazo de pagamento do tributo – (Info 790) – (MPRR-2017)
(TRF4-2016) (TJSE-2015)
Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei
de conversão, o termo inicial da contagem é a data da conversão da medida
provisória em lei.
STF. Plenário. RE 568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 12/2/14 (Info 735)
OBS:
Imagine agora a seguinte situação: O Presidente da República editou, em 29/1/04, a
Medida Provisória 164/2004 instituindo o PIS/PASEP. Essa MP foi convertida na Lei
nº 10.865, promulgada em 30/4/04. Durante a tramitação da Medida Provisória
164/2004 no Congresso, foi inserido no projeto de conversão um artigo majorando a
alíquota do PIS incidente sobre a água mineral. Desse modo, a majoração não havia
sido prevista, originariamente, pela Medida Provisória, tendo surgido somente
quando a MP foi convertida na Lei.
O prazo de 90 dias será contado da publicação da MP ou da Lei? O prazo será iniciado
da data da publicação da lei. Em regra, o termo inicial para a contagem do prazo
nonagesimal seria a data da publicação da medida provisória e não a da lei na qual
fosse convertida. Todavia, como no caso houve o agravamento da carga tributária
pela lei de conversão, a contagem do termo iniciar-se-ia da publicação desta. Assim,
segundo decidiu o STF, nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido
estabelecida somente na lei de conversão, o termo inicial da contagem é a data da
conversão da medida provisória em lei.
2. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
2.1. Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está
desvinculado de finalidade estatal – (Info 861)
2.2. Sociedade de economia mista com finalidade lucrativa e que for arrendatária
de imóvel público não goza de imunidade tributária – (Info 860) – IMPORTANTE!!!
A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, não se
estende a empresa privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela
exploradora de atividade econômica com fins lucrativos. Nessa hipótese é
constitucional a cobrança do IPTU pelo Município.
Ex: a União, proprietária de um grande terreno localizado no Porto de Santos,
arrendou este imóvel para a Petrobrás (sociedade de economia mista), que utiliza o
local para armazenar combustíveis. Antes do arrendamento, a União não pagava
IPTU com relação a este imóvel em virtude da imunidade tributária recíproca.
Depois que houve o arrendamento, a Petrobrás passa a ter que pagar o imposto.
STF. Plenário. RE 594015/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 6/4/17 (repercussão geral)
(Info 860).
OBS:
Imunidade tributária: Imunidade tributária consiste na determinação feita pela CF/88
de que certas atividades, rendas, bens ou pessoas não poderão sofrer a incidência de
tributos. Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo. A imunidade é uma
limitação ao poder de tributar, sendo sempre prevista na própria CF.
Imunidade tributária recíproca: A CF/88, em seu art. 150, VI, “a”, prevê a chamada
imunidade tributária recíproca. Isso significa que a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios não podem cobrar impostos sobre o patrimônio, a renda ou
os serviços, uns dos outros. Vejamos a redação do dispositivo constitucional:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
(...)
VI — instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
Sabbag menciona que essa imunidade tem como fundamento, ainda, o postulado da
isonomia dos entes constitucionais. Ora, pelo fato de todos os entes estarem em pé
de igualdade, não havendo hierarquia, nenhum deles pode estar sujeito ao poder de
tributar do outro (Manual de Direito Tributário.5. ed., São Paulo: Saraiva, p. 254).
A tese da empresa foi acolhida pelo STF? NÃO. A imunidade recíproca prevista no
art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal não foi concebida com o propósito de permitir
que empresa privada atue livremente no desenvolvimento de atividade econômica e
usufrua de vantagem advinda da utilização de bem público. Essa imunidade decorre
da necessidade de observar-se, no contexto federativo, o respeito mútuo e a autonomia
dos entes. Não cabe estendê-la para evitar a tributação de particulares que atuam no
regime da livre concorrência.
Uma vez verificada atividade econômica, nem mesmo as pessoas jurídicas de direito
público gozam da imunidade (art. 150, § 3º, da CF/88).
Como o recurso foi decidido sob a sistemática da repercussão geral, o STF fixou a
seguinte tese:
Incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de
direito público cedido a pessoa jurídica de direito privado,
devedora do tributo. STF. Plenário. RE 601720/RJ, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j. 6/4/17
(repercussão geral) (Infos 860 e 861).
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF),
aplica-se ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-lo.
STF. Plenário. RE 330817/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 8/3/17 (repercussão geral)
(Info 856).
OBS:
Onde estão previstas as hipóteses de imunidade tributária? A imunidade tributária
deverá ser sempre prevista na Constituição Federal. As hipóteses mais conhecidas
estão listadas no art. 150, VI, da CF/88. Existem, contudo, inúmeras outras
imunidades previstas ao longo do texto constitucional. Veja alguns exemplos:
Art. 5º, XXXIV, “a” e “b”, LXXIII, LXXIV, LXXVI e LXXVII: imunidade que
incide sobre “taxas”.
Art. 149, § 2º, I: imunidade referente a “contribuições sociais” e CIDE.
Art. 195, § 7º: imunidade incidente sobre “contribuições sociais”.
O § 7º do art. 195 da CF/88 traz dois requisitos para o gozo desta imunidade:
1) que se trate de pessoa jurídica que desempenhe atividades beneficentes de
assistência social.
Obs: a assistência social é tratada no art. 203 da CF/88. O STF, contudo, confere um
sentido mais amplo ao e afirma que os objetivos da assistência social elencados nos
incisos do art. 203 podem ser conseguidos também por meio de serviços de saúde e
educação. Assim, se a entidade prestar serviços de saúde ou educação também
poderá, em tese, ser classificada como de “assistência social”.
Isso gera alguma confusão porque aprendemos na faculdade, que, quando a CF/88l
fala apenas em "lei", sem especificar mais nada, ela está se referindo à lei ordinária. Ex:
art. 5º, XXXII ("o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor"). Trata-
se do Código de Defesa do Consumidor, uma lei ordinária (Lei nº 8.078/90).
Também aprendemos que a CF/88, quando quer exigir lei complementar, o faz
expressamente. Ex: art. 18, § 2º ("Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,
transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei
complementar.").
O § 7º do art. 195, contudo, deve ser interpretado em conjunto com o art. 146, II. Assim,
a Constituição exigiu sim lei complementar, mas não diretamente no § 7º do art. 195 e
sim na previsão geral do art. 146, II.
Além disso, o STF afirmou que a imunidade de contribuições sociais serve não apenas
a propósitos fiscais, mas também para a realização dos objetivos fundamentais da
República, como a construção de uma sociedade solidária e voltada para a erradicação
da pobreza. Logo, esta espécie de imunidade não pode ficar à mercê da vontade
transitória de governos. As regras para gozar dessa imunidade devem ser respeitadas
por todos os governos, não sendo, portanto, correto que o regime jurídico das
entidades beneficentes fique sujeito a flutuações legislativas constantes, muitas vezes
influenciadas pela vontade de arrecadar. Assim, um tema tão sensível como esse não
pode ser tratado por lei ordinário ou medida provisória.
Assim, diante da relevância das imunidades de contribuições sociais para a
concretização de uma política de Estado voltada à promoção do mínimo existencial,
deve incidir nesse caso a reserva legal qualificada prevista no art. 146, II, da CF/88 (lei
complementar).
Existe alguma lei que preveja os requisitos que deverão ser atendidos pela entidade
para gozar da imunidade de que trata o § 7º do art. 195 da CF/88? SIM. Os requisitos
legais exigidos na parte final do § 7º, enquanto não editada nova lei complementar
sobre a matéria, são somente aqueles previstos no art. 14 do CTN. Assim, para
gozarem da imunidade, as entidades devem obedecer às seguintes condições:
a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer
título;
b) aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus
objetivos institucionais;
c) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de
formalidades capazes de assegurar sua exatidão.
Mas o CTN (Lei nº 5.172/66) é uma lei ordinária ou complementar? O CTN foi editado
em 1966 como sendo uma lei ordinária. No entanto, ele foi "recepcionado com força
de lei complementar pela Constituição Federal de 1967, e mantido tal status com o
advento da CF/1988, visto que, tanto esta quanto aquela Magna Carta reservavam à
lei complementar a veiculação das normas gerais em matéria tributária, a regulação
das limitações ao poder de tributar e as disposições sobre conflitos de competência."
(ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 249). Em
suma, atualmente, o CTN possui status de lei complementar e, portanto, atende o
requisito do art. 146, II, da CF/88.
Observação: Este entendimento do acima explicado (RE 566622) vale também para a
imunidade prevista no art. 150, VI, "c", da CF/88:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
(...)
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
Assim, a lei de que trata o art. 150, VI, "c", da CF/88 é uma lei complementar
(atualmente, é o art. 14 do CTN).
Feitas estas considerações, veja o que decidiu o STF sobre uma lei que tratava a
respeito do tema: a Lei 9.732/98 alterou o art. 55 da Lei 8.212/91 criando requisitos
mais rigorosos para que as entidades beneficentes de assistência social pudessem
gozar da imunidade tributária do § 7º do art. 195 da CF/88. Esta Lei 9.732/98
(atualmente revogada) pode ser considerada constitucional? Os requisitos por ela
criados foram válidos? NÃO. Como já explicado, os requisitos para o gozo de
imunidade hão de estar previstos em lei complementar. A Lei 9.732/98 extrapolou os
requisitos estabelecidos no art. 14 do CTN criando obstáculos novos, adicionais aos já
previstos na lei complementar, sendo, portanto, formalmente inconstitucional por
afronta ao art. 146, II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2028/DF, ADI 2036/DF, ADI 2228/DF, rel. orig. Min. Joaquim
Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgados em 23/2 e 2/3/2017 (Info 855).
Assim, as entidades beneficentes que preenchiam os requisitos do art. 14 do CTN, mas
que não tiveram direito à imunidade por conta das exigências mais rigorosas da Lei
9.732/98 ganharam no STF a possibilidade de reaver o valor que pagaram a título de
contribuições para a seguridade social.
Nas palavras do saudoso Min. Teori Zavascki, “a reserva de lei complementar aplicada à
regulamentação da imunidade tributária, prevista no art. 195, § 7º, da Constituição Federal
(CF), limita-se à definição de contrapartidas a serem observadas para garantir a finalidade
beneficente dos serviços prestados pelas entidades de assistência social, o que não impede seja o
procedimento de habilitação dessas entidades positivado em lei ordinária.”
Vale ressaltar que a lei ordinária somente poderá prever regras que não extrapolem as
exigências estabelecidas na lei complementar (atualmente, o art. 14 do CTN).
Tributos diretos são aqueles que, oficialmente, não permitem tal transferência.
Contribuinte de direito e contribuinte de fato: Assim, pode-se dizer que nos tributos
indiretos surgem as figuras do contribuinte de direito e do contribuinte de fato:
a) Contribuinte de direito: é a pessoa que realiza o fato gerador.
b) Contribuinte de fato: é a pessoa que paga efetivamente o imposto considerando que
o contribuinte de direito transferiu para ele este encargo.
Qual das duas teses foi acolhida pelo STF? A tese das entidades imunes, ou seja,
haverá imunidade neste caso.
A tese da entidade foi acolhida pelo STF? NÃO. Segundo entende o STF, mesmo que
o comprador da mercadoria seja uma entidade que goza de imunidade tributária,
ainda assim deverá haver a normal incidência do imposto. As imunidades deverão ser
interpretadas sob o aspecto formal (e não econômico). Dessa forma, tem-se que:
se a entidade imune for contribuinte de direito, o imposto não incidirá;
se a entidade imune for apenas contribuinte de fato, o imposto incidirá
normalmente.
Assim, a imunidade tributária subjetiva aplica-se ao ente beneficiário se ele for o
contribuinte de direito, não importando discutir se o tributo em questão pode ou não
ter repercussão econômica para terceiros. Não se pode estender ao particular
vendedor (contribuinte de direito) a imunidade tributária subjetiva que detém o
adquirente de mercadoria (contribuinte de fato).
O STF possui um enunciado antigo que transmite essa mesma ideia:
Súmula 591-STF: A imunidade ou a isenção tributária do
comprador não se estende ao produtor, contribuinte do
imposto sobre produtos industrializados.
No exemplo que demos acima em que a entidade beneficente compra o forno, tal
pessoa jurídica irá realmente arcar com o ônus financeiro dos impostos envolvidos
nessa venda (IPI e ICMS) caso tenham sido realmente transferidos pelo vendedor
(contribuinte de direito). No entanto, este valor que será pago pela entidade não
possui natureza jurídica de tributo, mas sim de "preço", decorrente de uma relação
contratual. Em outras palavras, a entidade está pagando apenas o preço total no qual,
obviamente, o vendedor embutiu todos os seus custos (a fim de que ele possa ter
lucro). Vale reiterar, porém, que o valor pago pela entidade não é tributo, mas sim
preço.
Resumindo:
Se a entidade imune for contribuinte de direito: incide a imunidade subjetiva.
Se a entidade imune for contribuinte de fato: não incide a imunidade
subjetiva.
Como vimos, tributos indiretos são aqueles que permitem a transferência do seu
encargo econômico para uma pessoa diferente daquela definida em lei como sujeito
passivo. Exemplos mais conhecidos: IPI, ICMS, ISS e IOF.
Tributos diretos são aqueles que, oficialmente, não permitem tal transferência.
Se houver pagamento indevido de tributo, o sujeito passivo tem direito,
independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo (art.
165 do CTN). A isso se dá o nome de repetição de indébito.
Nos tributos diretos, a regra relativa às restituições é simples: quem pagou um valor
indevido ou maior que o devido tem direito à restituição.
Nos tributos indiretos, a questão é um pouco mais complexa.
Este entendimento do STJ permanece válido mesmo com a decisão do STF acima
explicada.
Constituição estadual não pode prever imunidade tributária para tributos estaduais
e municipais incidente sobre os veículos de radiodifusão.
STF. Plenário. ADI 773/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/8/2014 (Info
755).
A antiga RFFSA era uma sociedade de economia mista federal, que foi extinta, e a
União tornou-se sua sucessora legal nos direitos e obrigações.
A União goza de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88). A
RFFSA não desfrutava do benefício pois se tratava de entidade exploradora de
atividade econômica.
Os débitos tributários que a RFFSA possuía foram transferidos para a União e
devem ser pagos, não podendo este ente invocar a imunidade tributária recíproca.
O STF concluiu que a imunidade tributária recíproca não afasta a responsabilidade
tributária por sucessão, na hipótese em que o sujeito passivo era contribuinte
regular do tributo devido.
STF. 1ª Turma. RE 599.176/PR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 5/6/2014 (Info
749).
As pessoas que exercem atividade notarial não são imunes à tributação, porquanto
a circunstância de desenvolverem os respectivos serviços com intuito lucrativo
invoca a exceção prevista no art. 150, § 3º da CF/88. O recebimento de remuneração
pela prestação dos serviços confirma, ainda, capacidade contributiva. A imunidade
recíproca é uma garantia ou prerrogativa imediata de entidades políticas
federativas, e não de particulares que executem, com inequívoco intuito lucrativo,
serviços públicos mediante concessão ou delegação, devidamente remunerados.
Não há diferenciação que justifique a tributação dos serviços públicos concedidos
e a não-tributação das atividades delegadas. Ação Direta de Inconstitucionalidade
conhecida, mas julgada improcedente.
STF. ADI 3089, Relator p/ Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, j.
13/02/08.
4. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
4.1. Imunidade tributária obtida por assistência social versus cobrança de
estacionamento de veículos em área interna da entidade
5. ISENÇÕES
5.1. Benefícios fiscais concedidos na Constituição Estadual – (Info 755)
I – A Constituição estadual pode conceder benefícios fiscais em seu texto. Isso não
precisa ser tratado mediante lei de iniciativa privativa do Chefe do Executivo, nos
termos do art. 61, § 1º, II, “b”, da CF/88 (aplicável por simetria no âmbito estadual).
II – A CF/88 afirma que uma lei complementar federal irá conferir um tratamento
tributário adequado (diferenciado) para o ato cooperativo praticado pelas
sociedades cooperativas (art. 146, III, “c”). Essa LC ainda não existe, razão pela qual
o STF entende que, enquanto isso, os Estados-membros podem legislar sobre o
tema e dar às cooperativas o tratamento que reputem adequado.
III – A concessão unilateral de benefícios fiscais relativos ao ICMS, sem a prévia
celebração de convênio intergovernamental, nos termos do que dispõe a LC 24/1975,
afronta o art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 429/CE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2014 (Info 755).
6. PEDÁGIO
6.1. Pedágio possui natureza jurídica de tarifa – (Info 750)
O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias NÃO tem natureza tributária,
mas de preço público, consequentemente, não está sujeito ao princípio da
legalidade estrita.
STF. Plenário. ADI 800/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 11/6/2014 (Info 750).
7. TAXAS
7.1. Inconstitucionalidade de taxa de combate a sinistros instituída por lei
municipal – (Info 871) – IMPORTANTE!!!
O Estado-membro poderia criar uma taxa de combate a incêndio? Esse não era o
objeto principal da ação, mas o Min. Marco Aurélio (relator), durante os debates,
sustentou que não. Segundo ele, as atividades precípuas (principais) do Estado são
viabilizadas mediante arrecadação de impostos. Por sua vez, a taxa decorre do
exercício do poder de polícia ou da utilização efetiva ou potencial de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à disposição. Assim, as
atividades de segurança pública, dentre elas a preservação e o combate a incêndios,
devem ser sustentadas por meio de impostos, de forma que nem mesmo o Estado
poderia instituir validamente uma taxa para remunerar tais serviços. Vale ressaltar,
contudo, que esse tema não ficou expressamente decidido, havendo vozes em sentido
contrário, como a do Min. Roberto Barroso.
7.3. Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da taxa
para ato infralegal, desde que respeitados os parâmetros máximos – (Info 844)
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato
normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da
atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho
de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária
legalmente previstos.
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 19/10/16 (repercussão geral)
(Info 844).
7.4. Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da taxa
para ato infralegal, desde que respeitados os parâmetros máximos – (Info 842)
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato
normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da
atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho
de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária
legalmente previstos.
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 06/10/16 (repercussão geral)
(Info 842).
8. IPTU
8.1. Alíquota aplicável em caso de lei municipal declarada inconstitucional por
prever progressividade em função do valor do imóvel antes da EC 29/2000 – (Info 806)
Explicação:
1) Antecipação do vencimento do IPTU: norma que altera o prazo de recolhimento
do tributo não encerra majoração, e, portanto, não se submete aos princípios da
legalidade ou anterioridade (art. 150, I, da CF/88 e Súmula Vinculante 50);
2) Atualização da base de cálculo do IPTU: a atualização monetária também não
constitui majoração, não se submetendo à legalidade ou anterioridade (art. 150, I,
da CF/88 e Súmula 160, STJ);
3) Aumento dos valores da planta genérica do IPTU: constitui majoração da base
de cálculo do IPTU, sendo preciso repeitar os princípios da legalidade e da
anterioridade, à exceção da noventena (art. 150, § 1º, da CF/88).
CONCLUSÃO: No caso, houve desrespeito ao regramento constitucional somente
no que toca ao princípio da legalidade, em relação ao aumento do valor das plantas
genéricas.
9. IMPOSTO DE RENDA
9.1. Aumento de alíquota e irretroatividade – (Info 810)
10. ICMS
10.1. É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações
de importação editada após a vigência da EC 33/2001, mas antes da LC 114/2002 – (Info
887) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!
É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações de
importação editada após a vigência da EC 33/01 (12/12/01), mas antes da LC federal
114/2002, visto que é plena a competência legislativa estadual enquanto inexistir lei
federal sobre norma geral, conforme art. 24, § 3º, da CF/88.
Nesse sentido, o STF julgou válida lei do Estado de SP, editada em 21/12/01, que
prevê a incidência de ICMS sobre importação de veículo por pessoa física e para
uso próprio. Não há inconstitucionalidade uma vez que a lei foi editada após a EC
33/2001, que autorizou a tributação.
STF. 2ª Turma. ARE 917950/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ ac. Min. Gilmar
Mendes, j. 5/12/17 (Info 887).
OBS:
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
Fatos geradores: Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os
seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva,
2012, p. 1061):
circulação de mercadorias;
prestação de serviços de transporte intermunicipal;
prestação de serviços de transporte interestadual;
prestação de serviços de comunicação.
Vale ressaltar que incide o ICMS mesmo que “as operações e as prestações se iniciem no
exterior” (art. 155, II, da CF/88).
ICMS importação: A CF/88 prevê que haverá cobrança de ICMS nos casos de
mercadoria importada do exterior ou nas hipóteses de serviço prestado no exterior.
Ex: uma empresa que fabrica roupas deverá pagar ICMS se importou da China uma
máquina têxtil para utilizar em sua linha de produção. Até aqui, tudo bem, sem muitas
dúvidas. A polêmica está na resposta para as três perguntas a seguir:
Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa física não contribuinte
habitual do imposto, haveria incidência de ICMS?
Veja o que diz o art. 24, § 3º da CF/88 invocado como fundamento para a validade das
leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da LC federal 114/2002.
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.
No Rio Grande do Sul foi editada uma lei prevendo que as empresas
transportadoras teriam duas opções de tributação do ICMS:
1ª) poderiam continuar com o sistema normal de créditos e débitos inerente ao
ICMS;
2ª) poderiam aderir a um regime tributário opcional no qual teriam a redução da
base de cálculo para o percentual de 80%, condicionada ao abandono do regime de
apuração normal de créditos e débitos.
O STF entendeu que não é inconstitucional lei estadual que permita que o
contribuinte opte por um regime especial de tributação de ICMS com base de
cálculo reduzida, mediante expressa renúncia ao aproveitamento de créditos
relativos ao imposto pago em operações anteriores, ainda que proporcional. Esta
norma não viola o princípio da não cumulatividade.
Assim, se a empresa contribuinte optar pelo sistema da base de cálculo reduzida,
não terá direito ao creditamento de ICMS.
STF. 1ª Turma. AI 765420 AgR-segundo/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Rosa Weber, j. 21/2/17 (Info 855).
OBS:
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
Fatos geradores: Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os
seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva,
2012, p. 1061):
circulação de mercadorias;
prestação de serviços de transporte intermunicipal;
prestação de serviços de transporte interestadual;
prestação de serviços de comunicação.
Exemplo dado por Ricardo Alexandre: “A” é uma refinaria de combustíveis que vende
a gasolina para os distribuidores (“B”), que revendem para os postos de gasolina
(“C”), que, por fim, vendem ao consumidor final (“D”). Para o Estado é mais fácil
cobrar de “A” todo o tributo que irá incidir sobre a cadeia produtiva. Assim, “A”
pagará o imposto por ele devido como contribuinte e também os impostos que irão
incidir sobre as vendas futuras (nesse caso, pagará como substituto
tributário/responsável tributário). (ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário
esquematizado. 10ª ed. São Paulo: Método, 2016, p. 317-319).
Assim, todo o tributo é pago de uma só vez por “A”, sendo calculado sobre o valor
pelo qual se presume que a mercadoria será vendida ao consumidor. (ALEXANDRE,
Ricardo, p. 319).
E se o fato gerador presumido ocorrer, mas com um valor diverso do que foi presumido
e calculado? Ex: a refinaria pagou o imposto relacionado com as vendas futuras na
qualidade de responsável tributário; suponhamos que o imposto foi calculado
presumindo que o distribuidor venderia o combustível por R$ 1,00 o litro, mas, na
realidade, diante de uma crise no mercado, ele só conseguiu vender por R$ 0,70; logo,
a base de cálculo do imposto (valor da mercadoria efetivamente vendida) foi inferior
àquela que havia sido presumida; diante disso, na prática, pagou-se um valor de
imposto maior do que o que seria realmente devido. O que fazer neste caso? Haverá
direito à restituição do valor pago a mais de imposto? SIM. O STF decidiu que é
devida a restituição da diferença do ICMS pago a mais, no regime de substituição
tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à
presumida.
A substituição tributária, prevista no art. 150, § 7º, da CF/88, tem como fundamento o
princípio da praticidade. Por meio desta técnica, o Estado consegue comodidade,
economicidade e eficiência na execução administrativa das leis tributárias. No entanto,
a praticidade tributária encontra freio nos princípios da igualdade, capacidade
contributiva e vedação do confisco, bem como na arquitetura de neutralidade fiscal
do ICMS.
Desse modo, é papel do Poder Judiciário tutelar situações que extrapolem o limite da
razoabilidade, como é o caso em tela, no qual o contribuinte paga um valor maior do
que efetivamente devido, tendo, portanto, direito de ser restituído.
Para o Min. Edson Fachin, a tributação não pode se transformar em uma ficção
jurídica, em uma presunção absoluta (juris et de jure) na qual o fato gerador presumido
assuma um caráter definitivo e sejam desprezadas as variações decorrentes do
processo econômico.
Este Convênio foi impugnado por meio de uma ADI, tendo o STF, em 2002, julgado
improcedente a ação, declarando que essa previsão de não-restituição do imposto não
violava a Constituição Federal. Em outras palavras, o STF, ao contrário de agora,
decidiu que não deveria haver a restituição do imposto caso a base de cálculo efetiva
fosse menor do que aquela presumidamente calculada. Veja trecho da ementa:
Todos os Ministros que votaram pela rejeição da ADI 1851 já saíram do STF e houve,
no caso, um overriding, que ocorre quando o Tribunal supera parcialmente um
entendimento anterior da própria Corte, modificando o âmbito de incidência do
precedente.
E por que se diz que houve uma superação parcial? Porque o caso julgado na ADI
1851 não é idêntico ao que foi apreciado novamente pela Corte. Na ADI 1851 estava
sendo analisada uma espécie de substituição tributária facultativa, na qual a empresa
poderia aderir ou não e, se aderisse, teria direito a alguns incentivos fiscais, tendo, por
outro lado, que seguir as regras do Convênio, que não previa a restituição.
Esta distinção, contudo, não é mais importante. Isso porque a tese fixada no RE
593849/MG foi bastante ampla e enfática, abrangendo inclusive os casos envolvendo
o Convênio ICMS 13/97, que já havia sido julgado constitucional e que agora não é
mais válido.
Vale ressaltar que Pernambuco e São Paulo, que não aderiram ao Convênio, possuem
leis estaduais que determinam a restituição caso a base de cálculo da operação seja
menor. Desse modo, tais leis estaduais, ao contrário do Convênio, asseguram o direito
aos contribuintes. Referidas leis estaduais também foram questionadas no STF e a
Corte decidiu que tais atos normativos estão corretos ao assegurar a restituição caso
haja um pagamento antecipado do ICMS a maior. Por isso, as ADI 2675/PE e ADI
2777/SP propostas contra as leis foram julgadas improcedentes.
STF não está vinculado aos efeitos de suas decisões anteriores: As decisões definitivas
de mérito proferidas pelo STF em ADI produzem eficácia contra todos e efeito
vinculante. Tais efeitos, contudo, não vinculam o próprio STF. Assim, se o STF
decidiu, em uma ADI, que determinado ato normativo é constitucional, a Corte
poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que este mesmo ato é
inconstitucional. Isso para evitar a petrificação da interpretação constitucional. Em
suma, o efeito vinculante conferido à decisão proferida na ADI está limitado aos
demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo, mas não à Suprema Corte.
10.8. Incide ICMS sobre a tarifa de assinatura básica mensal de telefonia – (Info 843)
– IMPORTANTE!!!
Quando se fala em regime de apuração, isso significa a forma por meio da qual o
valor tributo será calculado.
No caso do ICMS, existem vários regimes de apuração do imposto.
A LC 87/96 autoriza que os Estados membros adotem o regime de apuração por
estimativa.
O Estado-membro pode estabelecer o regime de estimativa por meio de Decreto?
NÃO. Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do
ICMS por estimativa.
STF. Plenário. RE 632265/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/6/2015 (Info
790).
10.11. É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com
o ICMS sem a prévia celebração de convênio intergovernamental – (Info 777)
O Protocolo ICMS 21/2011 do Confaz permitiu que fosse cobrado ICMS nas
operações interestaduais em que o destinatário da mercadoria estivesse localizado
em seu território, independentemente de se tratar de consumidor final
(contribuinte do tributo) ou de mero intermediário.
Em outras palavras, de acordo com o referido Protocolo, se a pessoa residente no
Estado “X” adquirisse, de forma não presencial (ex: pela internet), uma mercadoria
oriunda de um vendedor localizado no Estado “Y”, o Estado “X” poderia também
cobrar ICMS sobre essa operação interestadual.
O STF, contudo, decidiu que esse Protocolo é inconstitucional e que a CF/88 não
permite a cobrança de ICMS pelo Estado de destino nas operações interestaduais
de venda de mercadoria a consumidor final realizadas de forma não presencial
(internet, telemarketing ou showroom).
A CF/88 adotou como critério que a cobrança do ICMS ocorra pelo Estado de origem
das mercadorias. Mudar a cobrança para o Estado de destino depende de alteração
da própria Constituição (depende de uma reforma tributária).
Desse modo, a CF/88 determinou que, nas operações interestaduais cuja mercadoria
seja destinada a consumidor final não contribuinte, apenas o Estado-Membro de
origem deverá cobrar o tributo, com a aplicação da alíquota interna.
Se fosse permitido que o Estado de destino também cobrasse o ICMS haveria
bitributação.
STF. Plenário. ADI 4628/DF e ADI 4713/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 680089/SE, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgados em 17/9/2014 (Info 759).
10.15. O ICMS não incide sobre o serviço de habilitação de telefone celular – (Info
734)
O ICMS é um imposto estadual que tem como um dos fatos geradores a prestação
onerosa de serviços de comunicação. Existem alguns serviços prestados pelas
empresas que são acessórios aos serviços de comunicação.
Exs: troca de titularidade de aparelho celular, conta detalhada, troca de aparelho etc.
Não incide ICMS sobre a prestação de serviços acessórios aos serviços de
comunicação.
STF. Plenário. RE 572020/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Luiz Fux, julgado em 6/2/2014 (Info 734).
11. ISSQN
11.1. Lei municipal que veicula exclusão de valores da base de cálculo do ISSQN –
(Info 841)
11.2. Incide ISS sobre o serviço prestado pelos planos de assistência à saúde – (Info
841)
Fato gerador: O ISSQN incide sobre a prestação dos serviços listados no anexo da LC
116/2003. Confira o texto constitucional:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art.
155, II, definidos em lei complementar.
(...)
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput
deste artigo, cabe à lei complementar:
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior;
III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos
e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
Exemplos: quando o médico atende o paciente em uma consulta, ele presta um serviço,
sendo isso fato gerador do ISSQN; quando o cabeleireiro faz uma escova progressiva
na cliente, ele também presta um serviço e deverá pagar ISSQN.
Todos os serviços que estão sujeitos ao pagamento de ISSQN encontram-se previstos
na lista anexa à LC 116/03. Se não estiver nesta lista, não é fato gerador deste imposto.
Vale ressaltar que esta lista é taxativa (exaustiva).
Serviços que não podem ser objeto de ISS: Existem determinados serviços que não
podem ser objeto de ISSQN, seja por vedação constitucional, seja porque foram
excluídos pela LC 116/2003. Assim, não incide ISSQN sobre:
a) prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, considerando que se trata
de fato gerador de ICMS (art. 156, III, da CF/88);
b) exportações de serviços para o exterior do País (art. 156, §
3º, II, da CF/88);
c) prestação de serviços em relação de emprego (art. 2º, II, da
LC 116/03);
d) prestação de serviços pelos trabalhadores avulsos (art. 2º,
II, da LC 116/03);
e) prestação de serviços pelos diretores e membros de
conselho consultivo ou de conselho fiscal de sociedades e
fundações, bem como pelos sócios-gerentes e gerentes-
delegados (art. 2º, II, da LC 116/03);
f) prestação de serviços pela Administração Pública direta,
autárquica e fundacional, em virtude da imunidade tributária
recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88);
g) operações de locação de bens móveis (Súmula vinculante
31).
A questão chegou até o STF. As operadoras de planos de saúde devem pagar ISS? SIM.
Serviço, para fins de ISS, não significa, necessariamente, obrigação de fazer: O STF
entende que a interpretação do conceito de "serviços", para fins de ISS (art. 156, III, da
CF/88), tem um sentido mais amplo do que o conceito de “obrigação de fazer”.
Portanto, “prestação de serviços” não tem por premissa a configuração dada pelo
Direito Civil. Prestação de serviços, para efeitos de ISS, é o "oferecimento de uma
utilidade para outrem, a partir de um conjunto de atividades imateriais, prestado com
habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugado ou não à entrega de bens
ao tomador" (Min. Luiz Fux).
O fato de ser seguro não afasta a incidência do ISS: A natureza jurídica securitária
alegada pelas operadoras de planos de saúde para infirmar a incidência do ISSQN não
indica fundamento capaz de afastar a cobrança do tributo no caso. Diferentemente dos
seguros-saúde, nos planos de saúde a garantia oferecida é somente a utilidade obtida
mediante a contratação do respectivo plano, o que não exclui o fato de as atividades
por elas desempenhadas — operadoras de plano de saúde e operadoras de seguro-
saúde — serem “serviço”. Nesse sentido, o ISSQN deve incidir sobre a comissão, assim
considerada a receita auferida sobre a diferença entre o valor recebido pelo contratante
e o repassado para os terceiros prestadores dos serviços médicos.
13.2. Incide o IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural – (Info
813) – IMPORTANTE!!!
Incide o IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural, ainda que
não desempenhe atividade empresarial, e o faça para uso próprio.
A tese firmada (incidência do IPI) se aplica também às operações de importação
realizadas anteriormente à decisão do STF. Isso significa que quem importou
veículos para uso próprio confiando nas decisões do STJ e do STF vai ter uma
surpresa desagradável e terá que pagar o imposto.
STF. Plenário. RE 723651/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 03/02/2016 (Info
813).
OBS:
A CF/88 estabelece a imunidade do IPI para produtos exportados. Isso não ocorre
para produtos importados. Não existe imunidade no caso de importação de veículos.
E não importa se quem importou é pessoa física ou jurídica, assim como também não
interessa o fato de o importador não exercer o comércio e adquirir o bem para uso
próprio.
Não há bitributação e o princípio da não cumulatividade não autoriza a dispensa do
imposto.
A cobrança do IPI para importação de veículos está de acordo com o princípio da
isonomia, uma vez que promove igualdade de condições tributárias entre o fabricante
nacional, já sujeito ao imposto em território nacional, e o fornecedor estrangeiro. Isso
porque o fornecedor estrangeiro, como está exportando o produto, não paga imposto
no país de origem e este chegaria ao Brasil em condições muito mais favoráveis que
os produtos produzidos na indústria nacional.
Vale ressaltar que o julgamento acima representa radical mudança de entendimento.
Isso porque tanto o STF como o STJ entendiam que NÃO incidia IPI na importação de
veículos para uso próprio.
O tema havia sido recentemente firmado pelo STJ em sede de recurso especial
repetitivo: “É firme o entendimento no sentido de que não incide IPI sobre veículo
importado para uso próprio, tendo em vista que o fato gerador do referido tributo é a
operação de natureza mercantil ou assemelhada e, ainda, por aplicação do princípio
da não cumulatividade.” (STJ. 1ª Seção. REsp 1396488/SC, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 25/02/2015).
Havia também precedentes do STF neste mesmo sentido: RE 550170 AgR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 7/6/2011; RE 255090 AgR, Rel. Min. Ayres Britto,
julgado em 24.8.2010.
13.3. Descontos incondicionais e sua não incidência na base de cálculo do IPI – (Info
757)
13.4. Selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte
– (Info 735)
14. IOF
14.1. IOF e transmissão de ações de companhias abertas – (Info 813)
É constitucional o art. 1º, IV, da Lei nº 8.033/90, uma vez que a incidência de IOF
sobre o negócio jurídico de transmissão de títulos e valores mobiliários, tais como
ações de companhias abertas e respectivas bonificações, encontra respaldo no art.
153, V, da CF, sem ofender os princípios tributários da anterioridade e da
irretroatividade, nem demandar a reserva de lei complementar.
Art. 1º São instituídas as seguintes incidências do imposto sobre operações de crédito,
câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários:
IV - transmissão de ações de companhias abertas e das consequentes bonificações
emitidas.
STF. Plenário. RE 583712/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/2/2016
(repercussão geral) (Info 813).
15. PIS/COFINS
15.1. O valor pago a título de ICMS não deve ser incluído na base de cálculo do
PIS/PASEP e COFINS – (Info 857) – ATUALIZAR INFO 594 DO STJ!!!
16. PIS/PASEP
16.1. Incide PIS/PASEP sobre negócios jurídicos praticados por cooperativa com
terceiros – (Info 835)
16.2. Incide PIS/PASEP sobre negócios jurídicos praticados por cooperativa com
tomadores de serviço – (Info 766)
Atenção: são 22,5% distribuídos ao longo do ano + 1% até o dia 10 do mês de julho de
cada ano + 1% até o dia 10 do mês de dezembro de cada ano. Logo, o total é 24,5%.
A questão chegou até o STF. O pedido do Município de Itabi foi acolhido? NÃO. O
poder de arrecadar atribuído à União implica também o poder de isentar. Assim,
quando a CF/88 determina que o FPM será composto pelo produto dos dois impostos
(IR e IPI), isso inclui o resultado das desonerações. De acordo com o inciso I do art.
159 da CF/88, a União deve entregar um percentual sobre o “produto da arrecadação”
do IR e do IPI ao Fundo de Participação dos Municípios. De fato, essas transferências
efetuadas pela União são de suma importância para as finanças municipais e para a
manutenção de sua autonomia financeira. Entretanto, aceitar o pedido do Município
iria contra o modelo de repartição de receitas previsto na Constituição Federal.
Tese fixada: Como o recurso extraordinário do Município foi julgado sob o rito da
repercussão geral e havia inúmeros outros processos sobrestados, o STF definiu uma
tese sobre o tema que valerá para os casos semelhantes:
É constitucional a concessão regular de incentivos, benefícios
e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Imposto
sobre Produtos Industrializados por parte da União em
relação ao Fundo de Participação de Municípios e respectivas
quotas devidas às Municipalidades. STF. Plenário. RE
705423/SE, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/11/2016
(repercussão geral) (Info 847).
18. COFINS
18.1. Portaria nº 655/93 e parcelamento de débitos de COFINS – (Info 851)
18.2. O valor retido em razão do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da
COFINS – (Info 762) – Tema polêmico!
O valor retido em razão do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da
COFINS, sob pena de violar o art. 195, I, “b”, da CF/88.
Obs: nesse julgado participaram vários Ministros que já se aposentaram. Assim, o
tema poderá ser alterado no futuro. Por enquanto, vale o que foi decidido.
STF. Plenário. RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/10/14 (Info 762).
Lei 8.212/91: Esta Lei trata sobre o custeio da Previdência Social e, no seu art. 22,
regulamenta o art. 195, I, da CF/88:
Valor adicional para o caso de instituições financeiras: Ocorre que a Lei 8.212/91
decidiu cobrar das instituições financeiras, além da contribuição de 22% prevista no
art. 22, I, um "extra", um adicional de mais 2,5% incidente sobre a folha de salários, na
forma do § 1º do art. 22, cuja redação é a seguinte:
20. CONTRIBUIÇÕES
20.1. É inconstitucional o art. 2º da Lei 11.000/04 quando delega aos conselhos
profissionais a competência para definir as anuidades sem parâmetro legal – (Info 844)
– (Analista Judiciário/TRERJ-2017)
Anuidades: Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que
integram a sua categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei nº
12.514/2011).
Essa previsão é constitucional? NÃO. O STF entendeu que o art. 2º, caput e o § 1º da
Lei nº 11.000/2004 são inconstitucionais. Vamos entender os motivos.
Art. 2º da Lei 11.000/04 não atendeu a esses parâmetros: O art. 2º da Lei 11.000/04
estabeleceu a possibilidade de os Conselhos de fiscalização fixarem livremente o valor
das anuidades pagas. Houve, portanto, um diálogo com o regulamento com o objetivo
de otimizar os princípios da capacidade contributiva e da isonomia, permitindo que
os próprios Conselhos defina, no caso concreto, o valor das anuidades de acordo com
os níveis superior, técnico e auxiliar.
Porém, o que se observa é que a Lei conferiu uma autorização muito ampla e genérica,
não impondo limites de "subordinação" e de "complementariedade" para o
regulamento. Com isso, a Lei 11.000/04 criou situação de instabilidade institucional,
deixando ao puro arbítrio do administrador o valor da exação. Não há previsão legal
de qualquer limite máximo para a fixação do valor da anuidade.
Percebe-se que a definição do valor do tributo, um poder outorgado pelo povo para o
Parlamento, foi inteiramente delegada, sem critérios, para os conselhos de fiscalização
que são entidades autárquicas eminentemente administrativas e destituídas de poder
político (legitimação democrática).
Para o contribuinte, surge uma situação de intranquilidade e incerteza por não saber
o quanto lhe poderá ser cobrado; para o fisco, significa uma atuação ilimitada e carente
de controle.
Desse modo, o grau de indeterminação do art. 2º da Lei 11.000/04 foi tão grande que
violou a reserva legal, consagrada pelo art. 150, I, da CF/88. Isso porque a remessa ao
ato infralegal não pode resultar em desapoderamento do legislador para tratar de
elementos tributários essenciais. O legislador não pode abrir mão de todos os critérios
em prol do regulamento.
Obs: em razão de não possuir natureza jurídica de autarquia, a OAB não está
vinculada a esses valores, podendo fixar anuidade em patamares superiores.
Quais são as vantagens do credor realizar o protesto? Existem inúmeros efeitos que
decorrem do protesto, no entanto, as duas principais vantagens para o credor são as
seguintes:
a) Serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) Funciona como uma forma de coerção para que o devedor
cumpra sua obrigação sem que seja necessária uma ação judicial
(como o protesto lavrado gera um abalo no crédito do devedor, que
é inscrito nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma que o
receio de ter um título protestado serve como um meio de cobrança
extrajudicial do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor
encontra uma forma de quitar seu débito).
Qual é o objeto do protesto? O que pode ser protestado? Segundo o art. 1º da Lei nº
9.492/97:
Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplência e o descumprimento de obrigação originada
em títulos e outros documentos de dívida.
Lei 12.767/2012: A fim de espancar quaisquer dúvidas, foi publicada a Lei 12.767/12
incluindo um parágrafo único ao art. 1º da Lei 9.492/97 e permitindo, expressamente,
o protesto de certidões da dívida ativa. Confira:
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto
as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e
fundações públicas. (Incluído pela Lei nº 12.767/2012)
Desse modo, foi incluída expressa previsão do protesto de CDA na Lei nº 9.492/97.
Ocorre que o STF, ao julgar esta ADI 5127/DF acima, decidiu modular os efeitos da
decisão. Assim, a Corte afirmou que esse entendimento só deverá valer para as
medidas provisórias que forem convertidas em lei depois da decisão da ADI 5127/DF.
As medidas provisórias que foram aprovadas antes da ADI 5127/DF, mesmo que
nelas tenha havido contrabando legislativo, não serão julgadas inconstitucionais (por
razões de segurança jurídica).
É como se o STF tivesse dado uma chance ao Congresso Nacional e, ao mesmo tempo,
feito um alerta: o que já foi aprovado não será declarado inconstitucional, porém não
faça mais isso.
Dessa forma, a decisão do STF contrária ao “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF)
teve eficácia prospectiva. A MP 577/2012, que resultou na Lei 12.767/2012 permitindo
o protesto de CDA, foi aprovada antes do mencionado precedente, motivo pelo qual
não padece de vício de inconstitucionalidade formal.
Ademais, não configura uma “sanção política”, já que não constitui medida coercitiva
indireta que restrinja, de modo irrazoável ou desproporcional, direitos fundamentais
dos contribuintes, com o objetivo de forçá-los a quitar seus débitos tributários. Tal
instrumento de cobrança é, portanto, constitucional.
Abusos poderão ser corrigidos pelo Poder Judiciário: Ressalta-se, por fim, que nas
hipóteses de má utilização do protesto de CDA, permanecem os juízes de 1º grau e os
demais tribunais do País com a prerrogativa de promoverem a revisão de eventuais
atos de protesto que, à luz do caso concreto, estejam em desacordo com a CF/88 e com
a legislação tributária, sem prejuízo do arbitramento de uma indenização compatível
com o dano sofrido pelo administrado. Desse modo, o protesto de CDA é uma prática
compatível com a Constituição Federal, mas os abusos poderão ser corrigidos pelo
Poder Judiciário.
Posição do STJ sobre o tema: Atualmente, é pacífico também no STJ que é válido o
protesto de CDA. Veja trechos da ementa do julgado que foi o leading case naquele
Tribunal:
Assim, apesar de a Súmula 411 do STJ não falar expressamente em "demora" (mora),
este enunciado é aplicado por analogia também para os casos em que o Fisco aceita
prontamente o pedido de aproveitamento ou restituição, mas demora
injustificadamente para efetivar na prática.
Segundo entendimento do STJ, a correção monetária deve ser feita pela taxa SELIC.
Vale ressaltar, ainda, que o STF fixou uma tese geral sobre o tema, de forma que não
abrange apenas a situação do IPI, mas também de outros tributos sujeitos à mesma
sistemática de restituição, como é o caso do ICMS e da COFINS.
Este dever fundamental de pagar tributos existe porque o Estado possui obrigações
para com as pessoas e estas somente podem ser atendidas se houver arrecadação.
Assim, o Poder Público precisa fornecer saúde, educação, segurança, direitos sociais e
isso é custeado, em sua grande parte, pelos recursos arrecadados com os tributos.
O dever fundamental de pagar tributos está previsto na CF/88? SIM. Esta é a opinião
do Ministro Gilmar Mendes. Em seu voto, ele afirma que tal dever está previsto no art.
145, § 1º, que tem a seguinte redação:
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e
serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da
lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas
do contribuinte.
Isso tem grande importância para o debate acadêmico sobre o tema e poderá também
ser cobrado na sua prova. Por essa razão, fique atento. Confira o trecho do Informativo
que transcreve as palavras do Ministro:
"É cediço que há o dever fundamental de pagar tributos,
entretanto os meios escolhidos pelo Poder Público devem
estar jungidos à necessidade da medida, à adequação e à
proporcionalidade, em sentido estrito, de restringir os meios
de adimplemento em caso de cobrança judicial, as quais não
estão presentes na apreciação da legislação ora questionada.
O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributárias. Um texto
constitucional como o nosso, pródigo na concessão de direitos
sociais e na promessa de prestações estatais aos cidadãos, deve
oferecer instrumentos suficientes para que possa fazer frente
às inevitáveis despesas que a efetivação dos direitos sociais
requer. O tributo é esse instrumento. Considera-se, portanto,
a existência de um dever fundamental de pagar impostos. No
caso da Constituição, esse dever está expresso no § 1º do art.
145."
Diversos Estados editaram leis estaduais prevendo que o Poder Executivo pode
utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com
processos em que os Estados sejam parte, mas também oriundos de outros feitos
em que estejam litigando somente particulares. Tais leis estão sendo questionadas
por meio de ADIs. É o caso, por exemplo, da Lei 21.720/15, do Estado de Minas
Gerais.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis
estaduais são inconstitucionais por violarem:
1) O princípio da separação dos poderes.
2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88).
3) A LC federal 151/15 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que
sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam
parte.
STF. Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/09/16 (Info 841).
OBS:
Depósitos judiciais: Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça
enquanto o processo não se encerra são depositados em uma conta bancária em nome
do Poder Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial. Exs: João ingressa com ação
de consignação em pagamento em face de Pedro, depositando em juízo R$ 100 mil
reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue a penhora on line de R$ 200
mil. Tais valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles poderão
ser levantados pela parte vencedora, devidamente atualizados.
Lei complementar federal 151/15: Como se sabe, o Brasil vem passando por uma crise
econômica e os Estados e Municípios têm enfrentado enormes dificuldades para pagar
suas despesas, especialmente com precatórios. Diante disso, uma das medidas
encontradas pelo Governo para contornar esse problema foi o de permitir que o Poder
Executivo estadual utilize parte dos valores que estão nos depósitos judiciais. Para
tanto, foi editada a LC 151/2015, que prevê, resumidamente, o seguinte:
Dos valores que estão na conta do Poder Judiciário como depósito judicial,
deve-se identificar aqueles que sejam oriundos de processos nos quais os
Estados, o DF e os Municípios sejam parte.
Desses valores, 70% poderá ser transferido para a conta única do Tesouro do
Estado, do Distrito Federal ou do Município.
Os 30% restantes ficarão como um fundo de reserva, a fim de serem utilizados
para o pagamento dos valores devidos à outra parte, caso o Estado, o DF ou o
Município perca a causa.
Obs: poderá o Estado, o Distrito Federal ou o Município utilizar até 10% da parcela
que lhe for transferida para constituição de Fundo Garantidor de PPPs ou de outros
mecanismos de garantia previstos em lei, dedicados exclusivamente a investimentos
de infraestrutura.
Leis estaduais: Ocorre que, antes da LC 151/15, diversos Estados já haviam editado
leis estaduais prevendo que o Poder Executivo poderia utilizar os valores constantes
dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos em que o Estado fosse
parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem litigando somente
particulares. Em outras palavras, os Estados poderiam utilizar indistintamente os
valores dos depósitos judiciais. Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs
propostas pelo Procurador Geral da República.
É o caso, por exemplo, da Lei 21.720/2015, do Estado de Minas Gerais.
O que o STF vem decidindo? O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e
provisório, que tais leis estaduais são inconstitucionais pelos seguintes motivos:
1) Violam o princípio da separação dos poderes. Segundo já
decidiu o STF, cumpre ao Poder Judiciário a administração e
os rendimentos referentes à conta única de depósitos judiciais
e extrajudiciais. Atribuir ao Poder Executivo essas funções
contraria o disposto no art. 2º da CF/88, que afirma a
interdependência - independência e harmonia - entre o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (STF. Plenário. ADI
3458, Rel. Min. Eros Grau, j. 21/02/08).
2) Ofendem a iniciativa privativa da União. A Lei que versa
sobre depósitos judiciais é de competência legislativa
privativa da União, por tratar de matéria processual, nos
termos do art. 22, I, da CF/88 (STF. Plenário. ADI 2909, Rel.
Min. Ayres Britto, j. 12/05/10).
3) Contraria a LC federal 151/15. A lei federal apenas autoriza
o levantamento de 70% dos valores que sejam objeto de
depósitos vinculados a processos em que os entes federados
sejam parte (art. 2º).
25.2. Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais
verbas – (Info 809)
Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder
Executivo pode utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas
relacionados com processos em que os Estados fossem parte, mas também oriundos
de outros feitos em que estivessem litigando somente particulares. Tais leis estão
sendo questionadas por meio de ADIs propostas pelo Procurador Geral da
República. É o caso, por exemplo, da LC 42/15, do Estado da Bahia.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis
estaduais são inconstitucionais por violarem:
1) O princípio da separação dos poderes.
2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88).
3) A LC federal 151/15 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que
sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam
parte.
STF. Plenário. ADI 5409 MC-Referendo/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/11/15 (Info
809).
Limites de gastos com pessoal: A LRF estabelece valores máximos que a União, os
Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com
servidores públicos). A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida
no art. 169 da CF/88: “A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em
lei complementar”.
Quais são os limites previstos na LRF? Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da
LRF e podem ser assim resumidos:
Os Estados-membros/DF e os Municípios poderão editar leis alterando estes
percentuais? Depende:
Se a alteração for para tornar os limites mais rígidos: SIM.
Se a alteração for para tornar os limites mais flexíveis: NÃO.
“A expressão ‘não poderá exceder’, presente no artigo 169 da CF/88, conjugada com o
caráter nacional da lei complementar ali mencionada, assentam a noção de marco
negativo, imposto a todos os membros da Federação, no sentido de que os parâmetros
de controle de gastos ali estabelecidos não podem ser ultrapassados, sob pena de se
atentar contra o intuito de preservação do equilíbrio orçamentário (receita/despesa)
consagrado na norma.
Com vistas ao atendimento dessa finalidade, eventual acréscimo normativo
promovido pelo Estado-membro, voltado ao enrijecimento do controle de despesas,
não se mostra, a princípio, incompatível com a Constituição Federal." (STF. Plenário.
ADI 4426, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 09/02/2011).
Assim, nada impede que um Estado-membro edite uma lei estadual prevendo que o
limite total de gastos com pessoal naquela unidade da Federação será de 50% da
receita corrente líquida. Isso estará de acordo com o art. 169 da CF/88.
Desse modo, perceba que a lei estadual reduziu o percentual que o Executivo pode
gastar com pessoal, mas em compensação aumentou o limite do Legislativo (a LRF
prevê um máximo de 3% e a lei estadual fixou 4,5%).
Diante disso, indaga-se: essa lei estadual é válida? NÃO. Ressalte-se que, no caso,
não há um mero conflito de legalidade (lei estadual x LRF). A lei estadual, ao afrontar
os limites de gastos com pessoal previstos na LRF, ofendeu diretamente o texto
constitucional, qual seja, o art. 169 da CF/88.
O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com
o pagamento de fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração
dos servidores públicos. Os órgãos e entidades também estão sem dinheiro para
custear os serviços públicos.
Diante disso, diversas ações (individuais e coletivas) foram propostas, tanto na
Justiça comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a realização
desses pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e
determinando a apreensão de valores nas contas do Estado para a concretização dos
pagamentos.
Neste cenário, o Governador do Estado ajuizou ADPF no STF com o objetivo de
suspender os efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT da 1ª Região
que tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a
liberação de valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro.
O STF afirmou que esse conjunto de decisões representa uma usurpação das
competências constitucionais reservadas ao Poder Executivo (a quem cabe exercer
a direção da administração) e ao Poder Legislativo (a quem compete autorizar a
transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de
programação para outra, ou de um órgão para outro). Logo, isso significa uma
ofensa ao art. 2º, art. 84, II e art. 167, VI e X, da Constituição Federal.
Diante desse cenário, o STF determinou a suspensão dos efeitos das decisões que
tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de
valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro e que tenham
recaído sobre recursos escriturados, com vinculação orçamentária específica ou
vinculados a convênios e operações de crédito, valores de terceiros sob a
administração do Poder Executivo e valores constitucionalmente destinados a
municípios, devendo, ainda, ser devolvidos os recursos que ainda não tenham sido
repassados aos beneficiários dessas decisões judiciais.
STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/17 (Info 869).