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REFORMA PSIQUIÁTRICA E TRANSIÇÃO PARADIGMÁTICA NO

INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Abílio da Costa-Rosa, Daniel Mondoni∗


(UNESP-Assis)

O movimento para promover transformações no ideário e nas práticas em


Saúde Mental que se iniciou nos primeiros anos da década de 70 recebeu, já ao final da
década de 80, a denominação de Reforma Psiquiátrica. Este processo, contrapondo-se a
visão positivista e medicalizante da psiquiatria, visa contestar a hegemonia deste saber
sobre a loucura, buscando novos embasamentos para o entendimento da saúde mental, o
que resulta, evidentemente, em novas práticas. Operando como uma opção dentro deste
processo, a Atenção Psicossocial constitui-se como um corpo teórico, prático e ético que
vem se colocando de maneira radicalmente oposta ao Paradigma Psiquiátrico, aspirando
inclusive compor um paradigma que posso substituí-lo. Propõe mudanças em diversos
aspectos institucionais, tais como sua organização, as relações intrainstitucionais e desta
com a clientela e a população de um modo geral, nas compreensões teóricas, e, por fim,
na concepção de ética; pretendendo expandir o conceito de saúde para além da saúde
meramente biológica do paradigma médico e psiquiátrico, ao abranger outras áreas do
saber. Deste modo, as transformações operadas pela Reforma Psiquiátrica tendem, e
necessitam, ultrapassar as dimensões da saúde promovendo mudanças na legislação, na
cultura e no contexto social mais amplo. Os Centros de Atenção Psicossocial, criados a
partir destes processos de reforma, se tornaram no início desta década a política oficial
de atenção em Saúde Mental do governo federal, o que não garante, de qualquer
maneira, a transição do Paradigma Psiquiátrico para o Paradigma Psicossocial.
O objetivo do presente trabalho é analisar até que ponto se pode falar em
transição paradigmática no interior do estado de São Paulo. Auxiliados pela tese de
mestrado de Disete Devera, em nosso trabalho nos propomos a realizar uma análise
qualitativa da Reforma Psiquiátrica em alguns dos locais pesquisados por Disete. Como
metodologia utilizamos entrevistas abertas sobre as temáticas a serem investigadas com
os gestores municipais de Saúde Mental e os coordenadores de CAPS. A análise dos
dados será feita através do método dialético de análise de discursos.
O projeto encontra-se em pleno andamento e, portanto não dispomos de da
análise final dos discursos. De maneira parcial podemos dizer que estes nos aparentam
ser divergentes entre si em alguns aspectos, mas também convergentes em outros. Mas
não podemos analisar tais discursos sem considerar o contexto particular de cada
município, em seu processo de Reforma Psiquiátrica e Reforma Sanitária.


danielmondoni@yahoo.com.br
REFORMA PSIQUIÁTRICA E TRANSIÇÃO PARADIGMÁTICA
NO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Autores: Abílio da Costa-Rosa (UNESP-Assis), Daniel Mondoni (UNESP-Assis)

Primeiramente faz-se necessário elucidar os referenciais teóricos utilizados na

pesquisa. Devido à metodologia de análise utilizada é importante, inicialmente,

contextualizar historicamente a construção do paradigma psiquiátrico e seu

desenvolvimento, de modo geral e no Brasil. Em seguida passar aos movimentos

reformistas da psiquiatria em outros países e sua influência na políticas públicas

brasileiras de Saúde Mental, inclusos os processos da Reforma Sanitária e da Reforma

Psiquiátrica.

A construção do paradigma psiquiátrico se embasa nas transformações sociais

promovidas pela Revolução Francesa e na ascensão da ciência positivista frente às

explicações religiosas da igreja católica. A medicina foi uma das ciências que sofreu

maior impacto neste processo.

Sobre estes fundamentos criou-se a psiquiatria enquanto especialidade médica.

A loucura, antes objeto de estudo da filosofia, a qual tratava das questões da alma, das

paixões e da moral, tornou-se doença mental, devido à associação deste primeiro campo

ao da medicina, inscrevendo os temas antes de investigação filosófica na área da

patologia. Como doença é passível de tratamento médico. O delírio, assim como o

sonho, passa a ser visto como um erro por lhe faltar a razão, e como sintoma clínico tem

de ser eliminado.

A primeira divergência na psiquiatria se deu devido a sua falta de

cientificidade. Pinel, seu fundador, afirmava veementemente que não existia qualquer

fundamento orgânico nas patologias mentais. Porém, este pensamento afastava a


psiquiatria do campo médico. Outros procuravam incansavelmente por lesões que

pudessem causar tais desvios de comportamento. Estavam em jogo primeiramente a

possibilidade de tratamento, e posteriormente os métodos, no caso da cura ser admitida.

Morel conseguiu sanar esta cisão ao estabelecer uma relação de

interdependência entre ambos através de sua ‘doutrina das degenerações’, da qual surgiu

a atual orientação clínico-etiológica da psiquiatria. Mais tarde Kraepelin aprimorou este

método de pesquisa e inscreveu as personalidades psicopáticas, criminosos, marginais,

homossexuais entre outros, no quadro patológico. Assim, a psiquiatria se apropriava de

todos os comportamentos considerados anormais como seus objetos de estudo e

intervenção, não apenas o louco.

Os primeiros hospícios brasileiros datam de 1852. Porem só se tornaram

instituições totalmente médicas a partir de 1881. Já psiquiatria como especialidade

médica só foi criada em 1912. As políticas de Saúde Mental brasileiras seguiram as

diretrizes psiquiátricas até o início da década de 1980. Na anterior, 1970, as vinculações

maiores da psiquiatria com a rede hospitalar e a indústria farmacêutica do que com seu

projeto terapêutico se tornaram evidentes com o aumento das internações e do consumo

de psicofármacos, enquanto que a ineficácia de sua terapêutica era inegável, tendo em

vista a baixíssima porcentagem de melhoras e altas.

Foi a partir desta mesma década que movimentos reformistas da psiquiatria

começaram a ter influência no contexto brasileiro. O primeiro a tentar transformar as

políticas brasileiras de Saúde Mental foi a Psiquiatria Preventivo-Comunitária. O

modelo norte-americano foi base para as mudanças propostas para o estado de São

Paulo por Luiz da Rocha Cerqueira, no início da década de 1970. Apesar de suas

propostas terem sido deturpadas antes de sua instalação, o modelo Preventivo-


Comunitário manteve sua influência, mesmo após a redemocratização do país nos anos

80.

A partir de então outros movimentos reformistas tais como a Psicoterapia

Institucional, as Comunidades Terapêuticas, a Psiquiatria de Setor. Além disso, as

transformações que estavam ocorrendo no campo da Saúde em geral, a chamada

Reforma Sanitária, também ajudaram o sub-campo da Saúde Mental. As transformações

neste campo passaram a denominar-se Reforma Psiquiátrica a partir do final da década

de 1980, quando passou a configurar-se como um movimento autônomo, separado dos

demais campos da Saúde.

Com o crescimento e diversificação das experiências antimanicomiais o termo

Psicossocial passou a ser um conceito que visa designar todas essas práticas que tentam,

de forma ampla, reformar a psiquiatria ou até mesmo substituir seu paradigma.

Associando às influências dos movimentos citados anteriormente as idéias de outros

movimentos e experiências contrários a Psiquiatria como a Antipsiquiatria da Inglaterra,

a Psiquiatria Democrática da Itália, e também a saberes de áreas diversas à psiquiatria,

Psicanálise, Esquizoanálise, Filosofia da Diferença, Materialismo Histórico, a Atenção

Psicossocial tem tentado se opor dialeticamente ao paradigma asilar, configurando-se

continuamente como alteridade radical deste em busca de sua desconstrução.

Contrapõe-se ao propor a horizontalização das relações intrainstitucionais e não sua

verticalização, apregoando a desospitalização dos sujeitos com sofrimento psíquico

intenso e o fechamento dos hospitais psiquiátricos, incentivando a participação de

usuários e familiares na gestão institucional, implicando subjetivamente todos os

envolvidos no processo terapêutico

De um modo geral, a Atenção Psicossocial visa a desconstrução do discurso

psiquiátrico como único saber competente sobre a loucura. O discurso é aqui visto como
fator estruturante das relações, é mais que uma mera fala, é uma prática discursiva.

Neste trabalho nos interessam principalmente os processos de produção de tais

discursos mais do que suas possíveis interpretações, pois são os processos que definem

sua significação.

Pretendemos analisar se realmente há superação paradigmática do modelo

psiquiátrico no interior do estado de São Paulo. Pelo projeto encontrar-se em pleno

andamento não dispomos ainda de uma análise aprofundada dos discursos. Estes são os

dados parciais de que dispomos no momento. A pesquisa tem seu término previsto para

o início de agosto de 2006, quando teremos a análise final do trabalho.

As cidades escolhidas seguem uma hipótese levantada por Disete Devera

(2005) em sua tese de mestrado. Segundo ela, no interior do estado de São Paulo, a

Reforma Psiquiátrica estaria concentrada nos municípios de maior nível populacional.

Foram realizadas entrevistas em seis municípios, com seus articuladores municipais de

Saúde Mental e com coordenadores de CAPS. As entrevistas têm mostrado que

assistência em Saúde Mental nos municípios do interior do estado de São Paulo se

baseia em discursos diversos, que parecem estar em uma linha contínua que contempla

extremos paradigmáticos bastante divergentes.

Ainda há municípios que não têm devidamente implantadas nem mesmo as

propostas mais simples da Reforma Sanitária. Por exemplo, apresentam mecanismos de

controle social inexistentes, mal-estruturados ou inoperantes, e a assistência

insuficientemente territorializada, o que traz dificuldades como o acesso dos usuários e

a realização de atividades como as visitas domiciliares. Também não parecem entender

o potencial transformador destas idéias, ou ainda não acreditam que possam funcionar.

Acabam por se utilizar excessivamente das internações psiquiátricas, mesmo quando

não reconhecem nela qualquer benefício para o sujeito. Há ainda outros com estes
mecanismos bem implantados, mas com procedimentos ainda excessivamente

fundamentados na psiquiatria, demonstrando certa dificuldade em reconhecer a relação

com o usuário como a principal ferramenta terapêutica do trabalho em Saúde Mental e

estar atento neste processo ao desejo do sujeito. Com o saber psiquiátrico prevalecendo

sobre os demais, as estratégias como as internações e a medicação acabam

predominando sobre as demais possibilidades, pois concebe a doença mental como algo

a ser eliminado prevalece sobre a visão do sujeito integral. Por fim, há aqueles em que

os problemas e discussões giram em torno de temáticas distintas como o limite da

autonomização destes sujeitos, sua inclusão social e o manejo da relação terapêutica

durantes as crises visando não se utilizar da internação. Nestes casos as propostas da

Reforma Sanitária são de grande valor, pois contribuem com vários aspectos do trabalho

nos CAPSs. Busca-se também a visão integral sobre o sujeito, sem fazê-la girar somente

entorno de sua doença mental. Este último conceito também é questionado quanto ao

seu sentido degradante e objetificante, para ser pensado em uma direção existencial,

enquanto um outro modo de subjetivação possível. Com algumas exceções, os

entrevistados desconheciam a Atenção Psicossocial como um corpo teórico, técnico e

ético que permitisse desconstruir o Paradigma Psiquiátrico e transformar da assistência

em Saúde Mental. Referiam-se ao termo mais como aspectos da legislação referente aos

CAPS.

Concluindo, os discursos estudados produzem instituições com funcionamentos

diversos, entre o Paradigma Psiquiátrico, ainda que se tenha reduzido a utilização dos

hospitais psiquiátricos, e o Paradigma Psicossocial, que parece ainda não ter sido

completamente assimilado. Entre estes dois paradigmas encontramos municípios em

diferentes estágios de transição, processo que parece se iniciar principalmente através

das propostas da Reforma Sanitária.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARANTE, P. O homem e a serpente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 1996.


AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil.
Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1995.
CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo: Abril Cultural/Editora Braziliense, 1984.
COSTA, J. F. História da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus,
1981.
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ao modo asilar”. In AMARANTE, P. (org.) Ensaios: subjetividade, saúde mental,
sociedade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
COSTA-ROSA, A. Saúde Mental Comunitária: análise dialética de um movimento
alternativo. Dissertação de mestrado, USP. São Paulo. 1987.
COSTA-ROSA, A., LUZIO, C. A., YASUI, S. “Atenção psicossocial: rumo a um
novo paradigma na Saúde Mental Coletiva” In. AMARANTE, P.(org) Archivos de
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DEVERA, D. A reforma psiquiátrica no interior do estado de São Paulo:
psiquiatria reformada ou mudança paradigmática? Dissertação de mestrado,
UNESP. Assis. 2005.
LUZIO, C. A. A atenção em Saúde Mental em municípios de pequeno e médio
portes: ressonâncias da Reforma Psiquiátrica. Tese de doutorado, UNICAMP.
Campinas. 2003.

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