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Pensamento decolonial:

teoria crítica desde a América Latina

Aula 1. Introdução: história e características do pensamento decolonial

Gostaríamos de começar estabelecendo uma série de esclarecimentos sobre o que


entendemos por "pensamento decolonial", já que disso dependerão em muito as
genealogias e as caracterizações do mesmo, assim como vai orientar nossas
apresentações e as discussões esperadas.

Entendemos "pensamento decolonial" como aquele enfoque ou enquadramento


associado às elaborações conceituais do que Arturo Escobar denomina em seu artigo o
"programa de investigação de modernidade/colonialidade latinoamericano", ou ao grupo
de "modernidade/colonialidade" como é referido no prólogo escrito por Santiago
Castro-Gómez e Ramón Grosfoguel, ou o que na entrevista com Walter Mignolo
realizada por Maldonado indicam como a rede de modernidade/colonialidade. Esse
enquadramento compreende uma série de proposições de ordem teórica, mas também
buscam encarnar um projeto intelectual crítico.

Obviamente, este "pensamento decolonial" não constitui (nem pretende converter-se


em) a única modalidade de conceituação crítica elaborada desde a região. Em nossa
maneira de ver, o que os diferentes acadêmicos e intelectuais associados à configuração
e consolidação desse pensamento decolonial buscam é contribuir para tornar possível a
transformação não só dos conteúdos senão também dos termos (das condições) das
conversações sobre o sistema mundo moderno/colonial e suas diversas articulações
locais.

Se seguimos os argumentos do artigo de Escobar, podemos afirmar que este pensamento


decolonial (ou, se preferem falar em seus termos, o programa de investigação ...) se
caracteriza por uma série de deslocamentos/problematizações em formas dominantes de
compreender a modernidade (desde perspectivas históricas, sociológicas, culturais e
filosóficas). Seguindo Castro-Gomez e Grosfoguel, é pertinente agregar que o
pensamento decolonial também invoca uma epistemologia, um sujeito e um projeto
político que questionam os modelos eurocentristas do conhecimento e a agência.

Ressaltemos algumas das características chaves para entender em que consistiria esse
"pensamento decolonial".

1. Distinção entre colonialismo e colonialidade. Em termos analíticos, não podemos


confundir o colonialismo (uma forma de dominação político-administrativa à qual
correspondem um conjunto de instituições - metrópole/colônias) com a colonialidade
(que refere um padrão de poder global mais amplo e profundo). Para dizê-lo em outras
palavras, o colonialismo foi uma das experiências históricas constitutivas da
colonialidade, mas a colonialidade não se esgota com o colonialismo senão que inclui
muitas outras experiências e articulações que operam inclusive em nosso presente. Uma
vez concluído o processo de colonização, a colonialidade permanece vigente como
esquema de pensamento que legitima as diferenças entre sociedades, sujeitos e
conhecimentos.

A noção de colonialidade remonta às proposições do sociólogo peruano Aníbal Quijano,


mais concretamente com sua noção de colonialidade do poder. Em breve nos deteremos
na análise dessa categoria. Por enquanto, não obstante, é suficiente dizer que a
colonialidade é um padrão de poder que estrutura o sistema mundo, onde o trabalho, as
subjetividades, os conhecimentos, os territórios e as populações do mundo são
hierarquizados e governados para a produção e distribuição da riqueza.1

2. A colonialidade é o "lado escuro" da modernidade. Diferentemente de muitos teóricos


da modernidade que consideram o colonialismo como um "desvio" ou um "momento"
superado da modernidade, para o pensamento decolonial a modernidade se encontra
indissoluvelmente associada à colonialidade. Isto é, não há modernidade sem
colonialidade, e, por sua vez, a colonialidade supõe a modernidade. Daí que se refiram a
que a relação entre modernidade e colonialidade é de co-constituição. São como duas
caras de uma mesma moeda: uma não pode existir sem a outra. É por isso que se tende a
escrever modernidade/colonialidade. A barra "/" indica precisamente a relação de
constituição mútua dos dois termos, assim como a hierarquização entre os mesmos.2

Isso é menos complicado do que parece à primeira vista. Quando se diz que a
colonialidade é produzida pela modernidade, nos referimos que quando algo ou alguém
é imaginado ou definido como moderno ao mesmo tempo está implicitamente indicando
um algo ou alguém que não o é. Não há um nós (modernidade) sem que ao mesmo
tempo se defina um não-nós (não-modernidade). Ao definir um espaço, ao traçar
limites, ao mesmo tempo se define um interior e um exterior. Então, se pensamos a
modernidade como um projeto civilizatório, como uma tecnologia de governo de
populações e de governo sobre si mesmo, o que está em jogo é a configuração de um
nós-moderno em nome do qual se intervém sobre territórios, populações,
conhecimentos, corporalidades, subjetividades e práticas que em sua diferença são
produzidas como não-modernas. É precisamente esse "fora" da modernidade, essa
diferença, a que no pensamento decolonial denomina-se "diferença colonial". Noções
como colonialidade do saber e colonialidade do ser derivam dessa conceituação.

1
Escobar, referindo-se a Quijano, define a colonialidade do poder como "um modelo
hegemônico global de poder, instaurado desde a Conquista, que articula raça e trabalho, espaços
e gentes, de acordo com as necessidades do capital e para o benefício dos brancos europeus"
(Escobar, 2003, p. 62). Por sua vez, Castro-Gómez e Grosfoguel escrevem a respeito: "No
centro da 'colonialidade do poder' está o padrão de poder colonial que constitui a complexidade
dos processos de acumulação capitalista articulados em uma hierarquia racial/étnica global e
suas classificações derivativas de superior/inferior, desenvolvimento/subdesenvolvimento e
povos civilizados/bárbaros" (2007, p.18-19).
2
Um corolário dessa proposição é que a modernidade não surge nos séculos XVII e XVIII com
processos como o Iluminismo, a Reforma, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa,
senão que deve ser pensada muito mais atrás, nos séculos XV e XVI associada à constituição do
sistema mundo-moderno.
3. Problematização dos discursos euro-centrados e intramodernos da modernidade. As
narrativas históricas, sociológicas, culturais e filosóficas que circulam sobre a
modernidade (referidas por Escobar em seu artigo), são o resultado de enfoques euro-
centrados e intramodernos, isto é, de um lado supõe que a modernidade se origina na
Europa e que dali é exportada com maior ou menos êxito a outros lugares do mundo e,
por outro lado, assumem que a modernidade se entende desde problemáticas e
categorias modernas. Em contraposição a essas suposições, o pensamento decolonial
argumenta que há que entender a Europa desde uma perspectiva do sistema-mundo e,
portanto, a própria Europa é também resultante desse sistema geopolítico incluindo as
tecnologias de governo e as formações discursivas que a produzem como tal. Esse ponto
é fascinante porque descentraliza concepções que têm uma profunda força sobre o senso
comum até o ponto de serem impensáveis, verdadeiros pontos cegos para muitos
importantes filósofos e teóricos da modernidade.

Por outro lado, o enfoque da modernidade/colonialidade implica questionar a ideia


segundo a qual a história do planeta se explica por ou desde as dinâmicas da
modernidade europeia. Ou seja, segundo essa postura, não haveria um fora da
modernidade pois todas as histórias são explicadas desde uma única experiência linear
evolutiva que se emprega como parâmetro universal, de tal forma que se torna
impensável a possibilidade de construir projetos alternativos aos que esta modernidade
encarna. Como mencionaremos adiante, o projeto decolonial implica um projeto
político, que se tornaria impossível se não fosse possível pensar na exterioridade da
modernidade.

Muitos acadêmicos (não só os associados ao pensamento decolonial) demonstraram que


não poucos dos aspectos associados à modernidade (enquanto a instituições,
subjetividades, formações políticas) foram "inventados" e implementados primeiros nos
territórios coloniais para depois ser importados e instrumentalizados na Europa. Por
outro lado, o que ocorre em um lugar determinado (digamos, a possibilidade de força de
trabalho "livre" própria do operário industrial na Inglaterra) não se explica
exclusivamente por fatores locais, senão pela localização deste no sistema-mundo (onde
se requer o trabalho escravizado no Caribe). Esse último tem a ver com o seguinte
ponto: de que a perspectiva analítica não é a nação, o país ou a localidade isolada, senão
que há que entender o que acontece e as características desses lugares em sua relação
com o sistema-mundo.

4. Pensar em termos do sistema mundo. O pensamento decolonial não fica restrito à


análise de países ou regiões isoladas, senão que lhe interessa compreender o que
acontece um país ou região em relação com o sistema-mundo. O sistema-mundo é a
unidade de análise do pensamento decolonial, não o Estado nação ou a região como se
existissem por si mesmas. Essa ênfase analítica no sistema-mundo é o que constitui a
perspectiva geopolítica do pensamento decolonial. Devido a que não existe
modernidade sem colonialidade, por isso os diferentes autores associados ao
pensamento decolonial falam de sistema-mundo moderno/colonial.

A perspectiva de sistema mundo é chave para entender como se produz a modernidade,


expandindo a escala planetária das formas políticas e econômicas próprias da
experiência europeia, e suas repercussões em todos os âmbitos da vida até o presente. O
sistema-mundo é produzido no processo de expansão colonial europeia, que conecta
pela primeira vez as diferentes regiões do planeta dando-lhe assim uma nova escala
(global). Desde então, as experiências locais de qualquer região do planeta se fazem
impensáveis por fora de sua interconexão no marco desse sistema mundial. Agora, isso
não quer dizer que a modernidade "chega" a todas as partes de uma mesma maneira, ou
que não é possível então um fora da modernidade, como já assinalado anteriormente.

5. Antes que um novo paradigma, o pensamento decolonial se considera um paradigma


outro. O que o pensamento decolonial busca não é consolidar-se como um novo
paradigma teórico dentro da academia (como o são o pós-estruturalismo, a pós-
colonialidade, etc.), senão questionar os critérios epistêmicos de produção do
conhecimento acadêmico associados ao eurocentrismo e à modernidade. Daí que
pretenda consolidar um conhecimento não eurocêntrico e desde a ferida colonial, isto é,
um paradigma outro. Isso foi argumentado em diversas ocasiões por Walter Mignolo,
quando afirma que o que se busca com o pensamento decolonial não é só mudar os
conteúdos, senão também os termos e as condições das conversações. Nesse sentido,
Escobar destaca que "o objetivo é labrar novas formas de análise, não contribuir aos já
estabelecidos sistemas de pensamento (eurocêntrico), sem importar o quão críticos eles
sejam" (2003, p. 70).

A crítica ao eurocentrismo desde o pensamento decolonial passa por reconhecer que


todo conhecimento é um conhecimento situado histórica e geopoliticamente. A
pretensão eurocêntrica de um conhecimento sem sujeito, sem história, sem relações de
poder, um conhecimento desde lugar nenhum, como "la mirada de Dios",
descorporalizado e deslocalizado, é profundamente questionada desde o pensamento
decolonial. Em oposição a essa pretensão, o pensamento decolonial se pensa como
paradigma outro que tem em consideração a geopolítica e a corpo-política, isto é, a
situacionalidade geohistórica e corporalizada que articula a produção de conhecimento 3.
Um conhecimento situado e um situado desde a diferença colonial, é precisamente o que
constitui o pensamento decolonial como paradigma outro. Um ponto muito importante,
mencionado tanto por Escobar (2003, p.81) como por Castro-Gómez e Grosfoguel
(2007, p.20) em seus respectivos artigos, é que essa apelação à diferença colonial e aos
conhecimentos outros não deve ler-se como um chamado a uma outreirização
essencialista.

A respeito, em sua introdução ao livro Pensamiento crítico y matriz (de)colonial:


Reflexiones latinoamericanas, Catherine Walsh escreve:

“O projeto da modernidade/colonialidade se considera como paradigma-


outro pelo fato de que tenta construir um pensamento crítico que parte das
histórias e experiências marcadas pela colonialidade e não pela
modernidade, e também pelo fato de que busca conectar formas críticas de
pensamento não só na América Latina como em outros lugares do mundo
onde a expansão imperial/colonial e a própria colonialidade negam a
universalidade abstrata do projeto moderno e apontam a modos de pensar,
ser e atuar distintos" (2005, p.21)

3
Daí que na entrevista a Walter Mignolo, ele argumente: "Sou de onde Penso, no qual se
articulam a geopolítica (marcada pela classificação territorial imperial, por exemplo, terceiro
mundo, países subdesenvolvidos, etc.) e a corpo-política (corpos e línguas que estão fora da
epistemologia imperial)" (p. 193).
Como assinalado, o projeto decolonial retoma de maneira crítica e estabelece diálogos
construtivos com outros projetos intelectuais e políticos da América Latina e do Caribe,
assim como de outras latitudes do planeta, constituindo uma inovadora alternativa para
refletir sobre o sentido de pensar desde a especificidade histórica de nossas sociedades,
mas não só para ou sobre elas. Dessa maneira, retoma e discute com projetos centrais da
experiência intelectual latinoamericana e do Caribe, como os debates sobre o
colonialismo, a filosofia da libertação, a pedagogia crítica e a teoria da dependência,
entre outras, com as quais compartilha sua intenção de construir alternativas políticas e
epistêmicas às dominantes.

6. O pensamento decolonial deseja consolidar um projeto decolonial. A crítica


epistêmica que supõe o pensamento decolonial como paradigma outro não só busca
problematizar a colonialidade do saber encarnada nas formações e estabelecimentos
acadêmicos eurocentrados e as narrativas modernistas (cristianismo, liberalismo e
marxismo)4. Também busca contribuir a tornar possíveis outros mundos. Nesse sentido,
o pensamento decolonial refere uma ética e uma política: a da pluriversalidade. Em
oposição a desenhos globais e totalitários em nome da universalidade (que facilmente
correm o risco de fazer um particular representar o universal), a pluriversalidade
constitui uma aposta por visibilizar a tornar viáveis a multiplicidade de conhecimentos,
formas de ser e de aspirações sobre o mundo. A pluriversalidade é a igualdade-na-
diferença, a possibilidade de que no mundo caibam muitos mundos.

Na sequência aprofundaremos esse aspecto do pensamento decolonial como projeto


ético e político pela pluriversalidade. Por enquanto, indicar que não estamos nos
referindo a uma posição desde o multiculturalismo ou o relativismo cultural nem, muito
menos, desde os horizontes políticos traçados pela esquerda. Como propunha
enfaticamente Mignolo na entrevista: "... o projeto modernidade/colonialidade é crítico
tanto da direita como da esquerda. Posiciona-se frente às ideologias imperiais, racistas,
sexistas e não comulga com a esquerda marxista. Isto é: o pensamento decolonial é
desobediente tanto epistêmica como politicamente" (2007, p.195).

Pensamento decolonial e alguns enfoques teóricos contemporâneos

Uma vez indicadas essas características do pensamento decolonial, podemos nos


perguntar por uma série de relações e distinções entre este pensamento e certos
enfoques teóricos como a teoria pós-colonial, os estudos culturais e os estudos da
subalteridade, entre outros.

Com a teoria pós-colonial. Não se deve confundir o pensamento decolonial com a teoria
pós-colonial. A teoria pós-colonial e os estudos pós-coloniais se referem à experiência
colonial como estruturante tanto do colonizado como do colonizador, e isso não
somente no passado senão também no presente. O colonialismo continua tendo efeitos
estruturantes de subjetividades, corporalidades, espacialidades e práticas sociais. O

4
Nesse sentido, Arturo Escobar destaca: “[…] o programa MC [modernidade/colonialidade]
deve ser entendido como uma maneira diferente de pensamento, na contramão das grandes
narrativas governistas - a cristandade, o liberalismo e o marxismo - localizando seu próprio
questionamento nos próprios dos sistemas de pensamento e investigações para a possibilidade
de modos de pensamento não eurocêntricos" (Escobar, 2003, p.54).
trabalho de Edward Said, Orientalismo, constitui um referente fundacional dos estudos
pós-coloniais e da teoria pós-colonial. Autores como Franz Fanon são redescobertos nas
genealogias dos estudos pós-coloniais.

Agora bem, três são os principais aspectos que diferenciam o pensamento decolonial
dos estudos pós-coloniais ou da teoria pós-colonial. Primeiro, a distinção entre
colonialidade e colonialismo a que nos referimos anteriormente. O pensamento
decolonial opera dentro do espaço de problematização aberto pela colonialidade,
enquanto que os estudos pós-coloniais no constituído pelo colonialismo. Segundo, as
experiências históricas e os locus de enunciação são diferentes: o do pensamento
decolonial é a diferença colonial que remonta à colonização da América Latina e do
Caribe entre o século XVI e XIX pelas primeiras potências europeias Espanha e
Portugal no contexto da primeira modernidade 5; enquanto que os estudos pós-coloniais
referem-se à colonização da Ásia e da África do século XVIII ao XX, por parte das
potências do norte europeu (França, Inglaterra, Alemanha) no contexto da segunda
modernidade. Finalmente, como propõe Mignolo, "o pensamento decolonial se
diferencia da teoria pós-colonial ou dos estudos pós-coloniais em que a genealogia
destes se localiza no pós-estruturalismo francês mais que na densa história do
pensamento decolonial" (2007, p. 27).6

Com o pós-estruturalismo. O pós-estruturalismo é uma corrente teórica que se associa


ao "giro discursivo" (isto é, que argumenta que o mundo está discursivamente
constituído), a uma redefinição da agência do sujeito e a destotalização da noção de
estrutura. Derivado da genealogia foucaultiana e o desconstrutivismo derrideano (sem
que Foucault ou Derrida sejam pós-estruturalistas no sentido estrito), o pós-
estruturalisno é uma "invenção" estadunidense elaborada nos anos oitenta 7. Ainda que
alguns autores associados ao pensamento decolonial (como Escobar) tenham recorrido
ao pós-estruturalismo, o pensamento decolonial se encontra muito mais próximo de
fontes próprias da teoria crítica latinoamericana (filosofia da libertação com Dussel, por
exemplo). Além do mais, para alguns autores do pensamento decolonial, o pós-
estruturalismo continua preso ao pensamento eurocêntrico. Agora bem, examinar em
concreto o quão atravessadas por posições pós-estruturalistas estão as elaborações
específicas de cada um dos autores que se identificam com o pensamento decolonial, é
um trabalho que ultrapassa os objetivos imediatos, mas que não deixaria de ser
relevante.

Con os estudos culturais. Um dos nós mais importantes do pensamento decolonial é o


doutorado em estudos culturais latino-americanos na Universidade Andina Simón
Bolívar, em Quito. Dirigido por Catherine Walsh, esse programa já formou dois grupos
de doutorandos fazendo uma forte ênfase no pensamento decolonial, nas categorias e
5
Os conceitos de primeira e segunda modernidade são propostos por Enrique Dussel.
6
Em outra passagem, Mignolo pontua: "O projeto decolonial difere também do projeto pós-
colonial, ainda que, como com o primeiro, mantém boas relações de vizinhança. A teoria pós-
colonial ou os estudos pós-coloniais vão à cavalo entre a teoria crítica europeia proveniente do
pós-estruturalismo (Foucault, Lacan e Derrida) e as experiências da elite intelectual nas ex-
colônias inglesas na Ásia e África do Norte" (2007, p. 26).
7
Para aprofundamento na caracterização do pós-estruturalismo, ver Gibson-Graham (2002).
postulados da modernidade/colonialidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que a relação
entre estudos culturais latino-americanos e o pensamento decolonial é bem estreita. Não
obstante, as modalidades dominantes dos estudos culturais (tanto no Reino Unido, como
nos Estados Unidos, Austrália e Ásia) remontam a genealogias e projetos intelectuais e
políticos que diferem do pensamento decolonial tal como o temos defendido aqui.

O trabalho de Stuart Hall, para mencionar a uma das figuras mais visíveis dos estudos
culturais (e uma de suas tendências mais interessantes), examina as relações entre a
cultura e o poder desde uma perspectiva contextualista que problematiza os
reducionismos de qualquer índole. Se alimenta do marxismo, do estruturalismo, do pós-
estruturalismo, da psicanálise, da teoria da performatividade, dos estudos pós-colonais;
em outras palavras, marcos conceituais considerados eurocêntricos pelo pensamento
decolonial.

Com os estudos da subalternidade. Os estudos da subalternidade remetem ao trabalho


de um grupo de estudiosos da Índia que buscavam questionar as vertentes da
historiografia elitista dominante (tanto a colonial como a nacionalista) sobre seu país
desde uma perspectiva que ressalta a agência dos setores subalternos. Seus problemas
pelas fontes, a representação do subalterno e os limites da historiografia que atravessam
a experiência colonial e pós-colonial da Índia são fundamentais. Influenciados,
principalmente no princípio por Gramsci e posteriormente pelo pós-estruturalismo, se
diferencia claramente da caracterização do pensamento decolonial.

Com a tradição da teoria crítica latino-americana. O pensamento decolonial se


considera com herdeiro e intensificador de algumas das contribuições mais originais da
teoria crítica latino-americana. Como veremos, no pensamento crítico latino-americano
encontram-se enfoques como a teoria da dependência, a filosofia da libertação, a
pedagogia do oprimido, a investigação-ação participativa e a teologia da libertação,
entre outros. O pensamento decolonial dá continuidade a essa tradição, ainda que isso
não signifique que não faça rupturas e críticas a essas correntes. Além disso, algumas
dessas expressões da teoria crítica latino-americana estão mais próximas ao pensamento
decolonial (como a filosofia da libertação, de Dussel) que outras.

Para além dessas correntes, o que o pensamento decolonial procura articular são
tradições e modalidades de pensar que tenham estado subalternizadas, silenciadas pela
colonialidade do saber. Nesse sentido, é muito mais profunda a ancoragem que o
pensamento decolonial busca estabelecer com o pensamento produzido desde a
diferença colonial na região da América Latina e do Caribe. Como bem ressaltava
Grosfoguel: "É que com o pensamento decolonial, nós não estamos propondo nada
novo, nós estamos recuperando formas de pensamento que foram suprimidas pela
modernidade/colonialidade"8. Por fim, insistir em que, ainda que o pensamento
decolonial seja um pensamento desde a América Latina, não pretende limitar-se à
região.

Referências citadas

8
Oficina realizada no Instituto de Estudos Sociais e Culturais, Pensar. Universidade Javeriana. Bogotá. 27
de Novembro de 2006.
Castro-Gómez, Santiago y Ramón Grosfoguel. 2007. “Prólogo. Giro decolonial, teoría
crítica y pensamiento heterárquico” En: Santiago Castro-Gómez y Ramón
Grosfoguel (eds.), El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica
más allá del capitalismo global. pp. 9-23. Bogotá: Iesco-Pensar-Siglo del Hombre
Editores.

Escobar, Arturo. 2003. “Mundos y conocimientos de otro modo”: el programa de


investigación de modernidad/colonialidad Latinoamericano. Tabula Rasa. (1): 51-
86.

Gibson-Graham, J. K. 2002. Intervenciones posestructurales. Revista Colombiana de


Antropología e Historia. (38): 261-286.

Maldonado, Nelson. 2007. Walter Mignolo: una vida dedicada al proyecto decolonial.
Nómadas. (26): 187-194.

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