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O debruçar sobre a questão das relações de poder entre Estado e escola nos possibilita
afirmar, ao lado de Gracindo (1997), Dourado e Paro (2001), Frigotto (1991) e Silva
(2002), que o Estado tende a impingir os ideais neoliberais inclusive na escola,
sugerindo uma não-interferência do Estado na área administrativa, alegando maior
abertura para a participação. Veiga (2001, p. 32) avalia que:
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É, pois, preconizada certa abertura para a participação nas empresas, porém sob a
lógica do controle, da busca de eficiência e eficácia, traduzidas na melhoria dos índices
de produtividade.
Lima (2003), ao tomar a escola como foco de estudo, chama a atenção para o fato de
que a participação no contexto da organização escolar deve considerar não apenas o
que está definido nos planos das orientações para a ação organizacional, mas
também e principalmente o que se realiza no plano da ação organizacional. Ao
propor essa perspectiva de análise, o autor destaca que, além de se considerar as
estruturas e regras formalmente instituídas na escola, é preciso voltar o olhar para
um nível intermediário e um nível profundo da organização escolar. O
reconhecimento desses níveis de organização da escola possibilitaria apreender a
existência de regras não apenas formais, mas também as regras não-formais e as
regras informais. Como explica Lima (2003, p.53),
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Por seu turno, as regras informais não são estruturadas, costumam ser ainda mais
circunstanciais e não podem ser generalizadas a toda organização ou mesmo aos
seus largos setores.
Têm um alcance mais limitado, podendo ser mesmo produzidas de forma ad hoc
para a resolução de um problema específico. A sua existência raramente está
detectada através de documentos escritos; pode-se, quando muito, inferi-la
através de atos e decisões.
Considerando esses diferentes graus de formalização das regras, Lima (2003) propõe
diferentes tipos de participação, levando em conta a existência de regras e
regulamentações. A participação formal se estrutura a partir de documentos, de modo
que legitima certas formas de intervenção e impede outras. Por sua vez, a participação
informal, produzida e partilhada em pequenos grupos, pode constituir-se a partir de
uma regra não-formal, admitindo-se outros desenvolvimentos e outras adaptações não
previstos nas normas e nos regulamentos. Nessa perspectiva de análise, o autor
propõe quatro critérios para análise da participação praticada: democraticidade;
regulamentação; envolvimento; orientação. Com base nesses critérios, são
apresentados vários tipos e graus de participação.
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De outra parte, a participação não formal se realizaria tendo como base regras
menos estruturadas formalmente, de modo que esse tipo de participação implicaria
sempre uma ação de interpretação das regras formais, o que poderia levar tanto à
manutenção quanto à mudança da realidade existente.
A participação informal, por sua vez, teria como referência as regras informais, não
são estruturadas formalmente. Na maioria das vezes, esse tipo de participação se
realiza em pequenos grupos e em torno de objetivos específicos, não definidos pelas
regras formais, que podem estar orientados no sentido de uma oposição a essas
regras, ou mesmo de complementaridade a elas.
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nesse grupo são aquelas que utilizam de recursos, tais como: eleição de
representantes, divulgação de informação, recursos a lutas sindicais e greves, além de
formas de contestação e oposição. São indivíduos comprometidos com a
transformação efetiva das atuais condições da escola, sugerindo, opinando e agindo.
A não-participação ocorrida na maioria das escolas também deve ser analisada, pois
essa não-participação, de certa forma, constitui-se num tipo de participação.
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A perspectiva de análise e a tipologia propostas por Lima (2003) não devem ser
tomadas como modelos fechados de interpretação da realidade. É preciso que a
participação e a não-participação nos processos de trabalho, no contexto das
instituições e dos sistemas educativos, possam assumir diferentes contornos e
características, sendo que, com freqüência, será possível encontrar em um mesmo
contexto formas distintas de a participação se realizar ou não, seja no plano da prática
da ação organizacional ou no plano das orientações para ação.
Por fim, como alerta Lucas (1975), apenas o ato de participar não implica que isso será
de fato bom. A participação é um tema que está em voga, mas precisamos analisá-la
compreendendo suas diversas faces. Todos a desejam, mas por vezes os envolvidos
estão poucos satisfeitos com as tentativas de alcançarem suas pretensões.
Portanto, cabe ao gestor educacional ter clareza quanto aos caminhos que pretende
construir, de modo a se criar condições para que a participação seja a mais ampliada e
efetiva possível, tanto nos processos de tomada de decisão quanto na organização dos
trabalhos nas instituições e nos sistemas educativos. Por certo, nenhuma forma de
participação é plenamente satisfatória. Há sempre vantagens e desvantagens. Mesmo
que encontremos dificuldades e diversidades, a participação ainda é o meio mais
democrático para uma educação responsável. Saber encontrar caminhos para lidar com
inúmeros pares possibilitará que a participação seja mais concreta e justa.
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Referências