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dessa história
Estar ao seu lado nos motiva
a trilhar novos caminhos e a
contribuir para a construção de
projetos de vida transformadores.
um projeto
educativo global
para sua escola
Atualização prática
para o professor
Bem-vindo ao futuro!
Próxima parada: 2030.
é interessante como a nossa percepção do tem- balho com as próximas gerações. Fernando Reimers, da
po é relativa. Às vezes, um minuto parece uma Universidade de Harvard, contribui com um artigo ex-
hora e, às vezes, 10 anos parecem um mês. Pare- clusivo sobre a importância de educar para a paz e como
ce que foi ontem que planejamos a nossa primeira a cidadania global pode empoderar os alunos e comba-
edição da Educatrix. Agora, chegando a nossa 15a ter a intolerância que aflige todo o planeta.
edição, com sete anos de trajetória, temos muitos Para chegar a esse futuro incerto, convidamos a
motivos para celebrar. professora Débora Garofalo para falar sobre a Edu-
Antes de mais nada, essa não é mais uma edição cação 4.0 e contar como colocar em prática algumas
da Educatrix. As próximas páginas estão repletas de metodologias e abordagens que já são realidade em
vida, aprendizados e muita emoção. Os nossos sete algumas escolas brasileiras, como a aprendizagem
anos podem parecer muito, mas não são nada frente baseada em projetos e STEAM. Convidamos também
aos 50 anos da Moderna. Não podíamos deixar de ce- Priscila Gonsales, do Educadigital, para fazer um es-
lebrar, compartilhando com pecial sobre Design Thinking
você um pouco das nossas raí- para educadores e como a abor-
zes, das histórias que tornam dagem está ganhando espaço
a Moderna mais humana e dar nas instituições de ensino e nas
voz a quem ajuda a escrever salas de aula.
nossa jornada futuro adentro. Como não podia deixar de
O convidado de honra é Ri- ser, a literatura marca presença
cardo Feltre, nosso visionário nesta edição. Promovemos uma
fundador. Aos 90 anos, ele nos associação pertinente sobre fake
contou como foi empreender news e o papel fundamental do
em 1968 e como foi traçar por bibliotecário. E convidamos Pe-
meio de tantos obstáculos um dro Bandeira, um dos mais queri-
caminho de sucesso, de pio- dos autores de literatura infantil e
neirismo e de qualidade. juvenil, para usar o pó de pirlim-
Vamos desbravar juntos pimpim e apresentar a atualidade
nossos 50 anos e conhecer da obra de Monteiro Lobato.
pessoas que, assim como você, têm o ideal de trans- Serão páginas com aprendizagens contínuas, his-
formar o mundo a partir da educação. E, para isso, tórias transformadoras e tendências ressignificantes.
se preocupam com cada detalhe, pois sabem que Esperamos que aproveite. Aproveito para agradecer a
isso fará a diferença no dia a dia das escolas. todos os colaboradores da Moderna que compartilha-
Se o passado é aquilo que nos molda, o futuro ram pequenos trechos de suas histórias. É gratificante
é aquilo que podemos construir no presente. Por ser parte dessa trajetória. A você, obrigado pelo cari-
isso, convidamos você a embarcar em uma jornada nho e reconhecimento que compartilha todos os dias
conosco. O ano é 2030, exatamente quando a gera- com nossas equipes nas escolas, pelos nossos canais de
ção que está entrando hoje na escola, com a BNCC atendimento e pelas redes sociais. Você faz parte dessa
e tantos desafios em pauta, vai se aventurar pelo história! Eu, particularmente, nesses 10 anos aqui, des-
mundo. Afinal de contas, para que sociedade esta- cobri que ser uma empresa de educação é, sobretudo,
mos formando nossas crianças? Quais são as com- ser uma empresa de futuro. Futuros possíveis. Futuros
petências que a escola precisa desenvolver para que por direito. E se tenho uma certeza é que nesses 50 anos,
os cidadãos do amanhã estejam preparados? Convi- esta empresa sempre foi — e sempre será — moderna.
damos Anna Penido, do Inspirare, para nos condu- Aperte o cinto e acomode-se confortavelmente que
zir nesse exercício e voltar nossos olhares até 2030. a viagem já vai começar. Boa leitura!
Esse futuro também é pano de fundo para a re-
flexão de Luciana Allan sobre empreendedorismo Ivan Aguirra Izar
antropológico, um termo que ela propõe para o tra- g er en t e d e c o m un i c aç ão e m ar k et i n g
► eSPeCIaL
50 ANOS DE TRADIÇÃO
E PIONEIRISMO PÁG. 56
► POR DENTRO | SOLUÇÕES LOCAIS PARA UM MUNDO GLOBAL PÁG. 70
► GESTÃO ESCOLAR | DESIGN THINKING : ESPANTOS, COLETIVIDADES E RITUAIS NA EDUCAÇÃO PÁG. 80
► PLENOS SABERES | A COR DO NARIZINHO MAIS QUERIDO DO BRASIL PÁG. 88
► PANORAMA | UMA REDE DE SOLUÇÕES PÁG. 94
► CIDADANIA | EDUCAR CIDADÃOS GLOBAIS PARA MANTER A PAZ NO MUNDO PÁG. 98
► FOCO | ENSINO MÉDIO: O PAÍS QUE ABANDONOU SEU FUTURO PÁG. 108
► LINHA DE RACIOCÍNIO | VERDADEIRO OU FALSO? PÁG. 116
► FAVORITOS | CONTEÚDOS QUE POTENCIALIZAM O DIA A DIA DO PROFESSOR PÁG. 120
► TRAJETÓRIA MARIA NILDE MASCELLANI | VISIONÁRIA DA FORMAÇÃO INTEGRAL PÁG. 122
Um herói
multifacetado
É hora de vestir as nossas capas e
enfrentar os novos tempos da educação.
texto Kátia Dutra ilustração Júlia Back
já parou para pensar o quanto sua vida é um conjun- A história do livro didático no Brasil foi assim também. Sur-
to de diversas histórias? Reflita por alguns segundos para giu do desafio de reunir conteúdos sobre determinada área de
imaginar um breve roteiro sobre a sua trajetória, reunindo estudo, para ser um companheiro do professor na missão de
passagens engraçadas, algumas perdas, conquistas e, sem educar. No seu próprio caminho, encontrou fieis aliados que
dúvida, muitos aprendizados. Se eu lhe convidasse a ir mais compuseram suas páginas, pensaram em seu formato e o leva-
além, você, sem dúvida, seria capaz de escrever uma trilogia ram a alunos em todo o país. A cada nova turma, a cada novo
apenas sobre a sua infância, conseguiria narrar vitórias e de- ano, jovens e professores embarcavam por suas páginas e vi-
talhar obstáculos que fizeram a sua jornada ser tão peculiar viam grandes aventuras pelo universo do conhecimento.
e exclusivamente sua. Como todo o herói, o livro sempre foi chamado a novas jor-
Nesse exercício de revisitação, pense agora em alguns ci- nadas. Em seu caminho, ganhou cores e imagens, novos for-
clos vivenciados por você na educação: seja uma mudança matos, abordagens, infografias, passou por revisões e reformas
de escola ou uma reforma educacional. Quantas vezes se viu ortográficas, políticas e pedagógicas, sempre se aprimorando
desafiado por alguém ou por uma situação? A partir disso, para acompanhar as necessidades dos tempos que ainda esta-
quantas vezes tomou coragem para ampliar seus conheci- vam por vir. Bimestre a bimestre, ano a ano, mudança a mu-
mentos e desenvolver habilidades que o ajudassem a rever- dança, o livro sempre contou com aliados que acreditavam em
ter tal situação? Quantos aliados e amigos encontrou pelo sua força e na sua importância como uma ferramenta de reno-
caminho? E, enfim, quantas vezes venceu o seu “inimigo” e vação da sociedade.
se tornou herói de suas conquistas? Quando as novas tecnologias ameaçaram as folhas impres-
Podemos fazer um paralelo dessas fases e etapas com a teo- sas, o livro juntou forças com seus amigos e mais uma vez sou-
ria do monomito ou jornada do herói, proposta pelo norte-a- be se adequar às necessidades dos que precisam dele. Ao invés
mericano Joseph Campbell em seu livro O herói com mil faces. de tentar derrotá-las, adaptou-se às linguagens que o novo
De acordo com Campbell, histórias que marcaram gerações, mundo pedia, ganhou uma nova roupagem em versões digi-
como O senhor dos anéis, Star Wars, Harry Potter, Jogos Vo- tais, abriu espaço para barras de rolagens, interações, zooms e
razes e até mesmo contos da mitologia grega têm em comum o elementos audiovisuais que complementaram seus conteúdos,
percurso de transformação do homem comum em herói, com melhoraram a experiência de uso e juntaram forças na missão
todas as provações que surgem no meio do caminho. de formar as próximas gerações.
Assim como a proposta de Campbell, nossas jornadas Em tempos pautados por mudanças tão imediatas e, mui-
diárias têm começo, meio e fim. Percorremos um caminho tas vezes, imprevisíveis, o livro permanece vivo no folhear de
longo entre os objetivos traçados, a aceitação de novos de- suas páginas ou no passar de dedos em uma tela. Ao lado de
safios, todos os encalços para vencer cada etapa de apren- seus aliados em todo o Brasil, segue lutando por uma educação
dizagem para, enfim, chegar a conquistas. Em cada estágio que transforma e ajudando milhares de jovens a enfrentar seus
desse ciclo, desenvolvemos competências necessárias para medos e acreditar em seus projetos de vida.
seguir em frente, aprendemos a reconhecer nossos aliados Vamos em frente para a próxima aventura, porque a jorna-
e a perceber outros chamados para novos desafios. da por um novo aprendizado está prestes a começar.
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50 anos
a favor da
educação
Ricardo Feltre, fundador da Moderna,
fala sobre as transformações na indústria
editorial nos últimos 50 anos, bem
como sobre a vitoriosa trajetória da
empresa e a sua própria, marcadas por
trabalho, dedicação e pitadas de sorte.
texto Sônia Cunha de S. Danelli ilustração Eduardo Santana
gerações para o futuro. Este é o compro- Mas havia alguns mais simples, como o que cursei,
misso firmado pela Moderna desde 1968. Agora, em na Rua Oriente. Lá, fiz os 4 anos de ginásio particular.
2018, ao completar 50 anos, revisitamos a nossa tra- Quando eu fui para o colegial, ficou um pouco
jetória e ficamos impressionados pela forma como mais difícil. Comecei em uma escola particular me-
ela se relaciona à educação brasileira. Para começar diana, porque as melhores eram mais caras e minha
as comemorações, voltamos às origens e conversa- família não podia pagar. Então, por acaso (aliás, um
mos com Ricardo Feltre, nosso fundador que, aos dos golpes de sorte da minha vida), tinha um colégio
90 anos, nos recebeu em sua casa para relembrar público no Parque D. Pedro, e, naquele ano, resolve-
alguns marcos importantes dessa história. ram abrir uma unidade próxima à estação São Joa-
quim. Houve uma espécie de vestibulinho e eu pas-
A Moderna está há 50 anos no sei. Entrei até bem colocado e fiz um bom colegial.
mercado atuando na formação de gerações No final do colegial, todo mundo fazia cursinho
de jovens. Conte-nos um pouco sobre como para entrar na faculdade. O Anglo Latino era dentro
foi a sua trajetória escolar? do colégio Anglo Latino, também próximo à esta-
Fiz primário em uma escola de bair- ção São Joaquim. Eu não podia pagar o cursinho do
ro. Poucos colégios ofereciam o ginásio estadual de Anglo, mas acabei encontrando um outro bem mais
graça. E os bons ginásios particulares eram caros. simples que eu consegui pagar.
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O cursinho tinha uma sala só, éramos 19 alunos mas logo percebemos o potencial. Então fundamos
e os professores eram alunos do curso superior. Um a Moderna para legalizar as vendas dos livros.
deles saiu e foi trabalhar na NASA. Quer dizer, tudo
fera e só 19 alunos. Por que o senhor escolheu o nome
Eu queria ser engenheiro, e quem queria ser en- Moderna?
genheiro, em São Paulo, lá por 1950, só tinha duas O nome Moderna era simples e trans-
opções: USP ou Mackenzie. O Mackenzie era mais mitia a ideia de que estávamos propondo algo novo.
Engenharia Civil, não tinha todas as modalidades.
Então, a Politécnica era o lugar para quem queria Em geral, quais materiais eram
Química ou Eletrotécnica. O vestibular era um su- usados para dar aula? O senhor considera
foco: poucas vagas e muitos candidatos. que o livro didático da Moderna foi uma
É bom lembrar que, na época, entrar na faculda- inovação na época?
de era sonho para 2%. Hoje, apesar das dificulda- Em geral, as escolas não tinham es-
des, esse sonho é para um número muito maior de quadro, mapas, projetor, essas coisas. O material era
jovens. Fazer o Ensino Médio já era uma conquista. essencialmente o livro didático. Desde o primeiro
Quase todo mundo ficava no caminho, e o que so- livro, a nossa preocupação foi não exagerar no con-
brava, 2% ou 3%, eram a elite. teúdo. Houve uma preocupação genuína para divi-
Quando chegou o vestibular, deu pra passar bem. dir os conteúdos em blocos coerentes, que fizessem
Tive outra sorte, pois, inauguraram um novo prédio sentido e fossem intercalados com questionários e
da Poli, onde hoje é a Fatec, e, quando entrei, as va- exercícios. Na prática, nada mais era do que o que
gas aumentaram de 80 para 160. Devo reconhecer fazíamos no cursinho. A principal inovação, se as-
que, em alguns momentos críticos, eu tive sorte. sim podemos chamar, foi a inclusão uma quantidade
maior de exercícios de fixação. No caso da Moderna,
Como nasceu a Moderna? outra novidade foi a organização em três volumes,
A Editora Moderna foi fundada em um para cada ano do Ensino Médio. Hoje parece ób-
22 de outubro de 1968 pelos professores Carlos Mar- vio, mas na época foi uma inovação e tanto.
mo, Setsuo Yoshinaga e por mim. Nós dávamos aulas
em um cursinho pré-vestibular. O Marmo ensinava Como foi o começo da Moderna e
Desenho e já havia publicado um livro por conta como eram comercializados os materiais?
própria. Yoshinaga e eu ensinávamos Química. Nos cinco primeiros anos, o ca-
Na época, os cursinhos não tinham apostila. O tálogo dispunha apenas dos livros dos fundadores.
professor explicava o conteúdo, resolvia um ou dois A nossa primeira sede foi em um pequeno sobrado
exercícios em sala e passava outros para os alunos residencial, na Travessa Tamoio, 10, no bairro pau-
resolverem em classe ou em casa. Enquanto o pro- listano do Paraíso. Havia apenas uma senhora para
fessor falava, eles tomavam nota ou copiavam o que atender ao telefone, um office-boy e três funcioná-
ele escrevia no quadro, e recebiam baterias de exer- rios para comercializar os livros de autoria dos fun-
cícios em folhas à parte. Cada professor selecionava dadores da empresa.
seus exercícios e o cursinho imprimia para os alunos. Por volta de 1974, Carlos Marmo e Setsuo Yoshi-
Nós três já produzíamos material para nossas au- naga resolveram se afastar da Moderna por motivos
las. Então, pensamos: se funciona e os alunos gos- particulares. Para ser sincero, a situação da empre-
tam, por que não transformar em livro? Yoshinaga sa em meados dos anos 70 era de vida ou de morte,
e eu fizemos o volume 1 de um projeto de Química sem exageros. Tínhamos poucos títulos no catálogo
em quatro volumes, que depois passamos para três, e pouco capital inicial. Aqui, a forte dedicação dos
um para cada ano do Ensino Médio. Vendemos os funcionários e o entusiasmo foram essenciais para
primeiros exemplares meio experimentalmente, fazer a Moderna renascer.
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Como eu atuava principalmente no Ensino Mé- Em geral, os livros didáticos eram encomendados
dio, mantive o foco na divulgação de materiais pela editora. A gente sondava o mercado e procurava
para este segmento. Convidei então alguns exce- um bom professor que tinha potencial para ser autor
lentes autores para compor o nosso catálogo de ou uma metodologia de aula interessante. Em geral,
obras: Hildebrando André (Português), Melhem os primeiros autores da Moderna eram professores
Adas (Geografia), José Mariano Amabis e Gilberto de cursinho, porque eu atuava no segmento, e por-
Rodrigues Martho (Biologia), José Dantas, Floria- que vinham de experiências no curso superior.
no Cáceres e Antônio Pedro (História), Francisco Em termos de produção e distribuição, as mudan-
Ramalho Junior, Nicolau Gilberto Ferraro, Paulo ças são gigantescas. Quando a Moderna nasceu não
Antonio de Toledo Soares (Física), Douglas Tufano existia computador, era tudo feito à mão, os recursos
(Português), Francisco de Assis Silva (História), gráficos eram limitados. Essa transição contou muito
Marcos Amorim e Hirome Nakata (Geografia), Ma- com a entrada dos meus filhos de Ricardo Arissa Fel-
ria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires tre e Eduardo Arissa Feltre na equipe de colaborado-
Martins (Filosofia), entre outros, que se tornaram res e me ajudaram com uma visão dos novos tempos.
amigos e partes importantes da credibilidade e do O Ricardo dinamizou a equipe de vendas e or-
reconhecimento da Moderna. ganizou um sistema de cobranças da Moderna. Já o
Com essa injeção de ânimo, a equipe da Moderna Eduardo, meu filho mais velho, criou e desenvolveu
foi crescendo e mudamos para um edifício maior, o sistema de editoração eletrônica, no qual o livro
situado na Rua Dr. Elísio de Castro, no Ipiranga, é totalmente produzido em computador, podendo
onde ficamos até 1979. Depois, estabelecemos nos- seguir diretamente para as impressoras, economi-
sa sede à Rua Afonso Brás, no 431, na Vila Nova Con- zando as etapas intermediárias de pré-impressão.
ceição – aonde ficamos até 1996. Havia mais espaço Dessa época, eu lembro bem do Eduardo dizendo:
e mais conforto para o trabalho interno e para o “Vamos fazer tudo no computador”. Eu dizia “Eduar-
atendimento de professores e livreiros. do, não dá”. Ele insistia e, então, a gente brigava. No
final, o tempo provou que o Eduardo estava certo.
Como era o processo de criação
de um livro didático há 50 anos? No início, os materiais da
Em qualquer editora, o caminho Moderna eram focados em Ensino Médio.
desde a ideia inicial até a materialização do livro é Como se deu a expansão do catálogo para
longo e passa por etapas essenciais: acertar o assun- outros segmentos?
to de interesse dos leitores/professores; ter autores Do Ensino Médio para o Funda-
competentes; ter colaboradores experientes e atua- mental 2 foi algo natural. Os professores falavam,
lizados com as necessidades do mercado, que edi- “os livros da Moderna para o Ensino Médio são tão
tem o texto inicial e adequem aos alunos; elaborar bons, não tem um livro aí para o ginásio?”. Então,
um projeto gráfico atraente; consolidar formatos acho que foi automático expandir o catálogo para o
e a qualidade da matéria-prima etc. Enfim, ter em segmento anterior.
mente uma série de atributos que torne aquele li- Na maioria das editoras, foi exatamente o opos-
vro indispensável na visão dos professores – nossos to. Elas, em geral, começaram com um catálogo In-
maiores parceiros na adoção dos materiais didáti- fantil, depois o Fundamental 1, o Fundamental 2,
cos. Esta é a premissa básica desde sempre para a para chegar no Ensino Médio. As crianças estuda-
confecção das coleções. vam, era um mercado maior, então a editora come-
O autor, principalmente de livros que não eram çava por onde se vendia mais. Elas estavam certas.
didáticos, vinha até a editora e nos apresentava seu Nós começamos ao contrário porque já tínhamos
original. Havia uma análise e decidíamos se valia ir experiência no Ensino Médio, no cursinho, e que-
em frente ou não. Isso não funcionava com didáticos. ríamos aproveitar o perfil.
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No final dos anos 1970, o nosso acervo de didá- bem com o crescimento de nosso acervo. Foram anos
ticos para o Ensino Médio estava completo e está- de progresso contínuo. As parcerias e a credibilidade
vamos prontos para começar a investir no Funda- alcançadas durante essa época foram fundamentais
mental 2. Em seguida, aumentamos a nossa atuação para os tempos de crise política que vieram a seguir.
no mercado e começamos a investir nas séries ini-
ciais, chamado de ensino primário na época. Quais foram as principais crises
que a Moderna enfrentou?
E os materiais paradidáticos e de A primeira crise foi o choque no
literatura infantojuvenil? preço do petróleo, que entre 1973 e 1974 subiu de
A nossa estreia no mercado de lite- US$3 para US$12. Isso se refletiu, na mesma propor-
ratura infantojuvenil foi na Bienal do Livro de 1980. ção, no preço do papel para impressão gráfica. Na
Sob a competente orientação de Maristela Petril- ocasião, o governo federal criou o Programa Pró-li-
li (hoje, diretora editorial da área de Literatura da vro, com o objetivo de oferecer uma linha de crédito
Moderna), lançamos nossos primeiros títulos in- especial para as editoras. Infelizmente, o Pró-livro
fantis de ficção. Foi um sucesso imediato e nos deu mostrou-se pouco útil, dada a grande quantidade
a coragem de investir no formato de paradidáticos, de garantias exigidas para o financiamento.
livros de não-ficção que abordam vários assuntos Nesse momento, por volta de 1974, o Marmo e o
de interesse dos alunos. Dessa época, temos muito Yoshinaga se afastaram, por motivos particulares,
a agradecer a autores como Pedro Bandeira, Mário e a empresa ficou sob a minha direção. Sem exage-
Lago, Cecília Meireles, Joel Rufino dos Santos, Gi- ro, a situação era de vida ou morte. Os títulos eram
selda Laporta Nicolelis, Eva Furnari, Ruth Rocha, poucos e não havia capital: a Moderna nasceu sem
entre muitos outros. dinheiro, só com o aporte dos sócios. Eu tinha que
trabalhar fora para pôr dinheiro na editora. Mas so-
Como foi a consolidação da brevivemos, com o grande esforço de nossos cola-
Moderna no mercado brasileiro? boradores internos e o apoio dos parceiros externos.
A década de 1980 foi generosa com Outro golpe violento veio em 1990, quando o
a Moderna. A empresa se consolidou e ficou conhe- Collor, imediatamente após a sua posse na presi-
cida e respeitada em todo o país, tanto no segmen- dência da República, congelou todos os depósitos
to de didáticos quanto na literatura infantojuvenil. bancários de pessoas físicas e jurídicas. O Brasil es-
Tornou-se essencial a ampliação da divulgação dos tava sem dinheiro! Todos sofreram enormemente e,
nossos materiais e aproximação com os professo- mais ainda, as firmas com giro financeiro anual. As
res brasileiros a fim de entender melhor suas ne- editoras de livros didáticos vendem e recebem suas
cessidades. A partir disso, tomamos duas decisões vendas no 1o semestre e guardam suas sobras de cai-
fundamentais: o aumento do grupo de divulgado- xa para o 2o semestre, quando a situação financeira
res e o estabelecimento de filiais e distribuidores no se inverte. No 2o semestre, as vendas e recebimentos
Brasil para nos ajudar no atendimento in loco. Nos- são fracos e os gastos aumentam, para a produção de
sa primeira filial foi em Ribeirão Preto e a segunda obras já existentes e o lançamento de novos títulos,
no Rio de Janeiro. Conforme a necessidade, outras sem o que uma editora não consegue crescer.
unidades menores foram surgindo, sem vendas ini- A gente teve de improvisar. Eu sumi da editora,
cialmente, mas com o objetivo crucial de divulga- peguei o carro e conheci todas as livrarias do estado
ção dos livros. Essas unidades eram chamadas de de São Paulo. Correndo atrás de dinheiro. Apro-
“Casas dos Professores” e nos ajudaram a expandir veitei para conhecer o pessoal também, mas estava
a marca por todo o Brasil. fazendo caixa, trocando na hora, dando desconto.
No geral, conseguimos estruturar departamen- Lembro que nesse momento o manuscrito do
tos, tínhamos uma equipe eficiente e que lidou muito meu livro, Fundamentos da Química, estava pron-
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to. Quando o Collor tirou todo o dinheiro da gente, Quando optamos pela Santillana e percebemos
a editora não podia pagar ninguém. Então, reuni os que eles compartilhavam conosco os mesmos va-
colaboradores e o livro foi feito na raça, todo digi- lores de pioneirismo e qualidade editorial, eu, co-
tado e montado internamente. Os desenhos foram vardemente, empurrei a burocracia para o meu fi-
feitos à mão, em nanquim. lho Ricardo. Preferi ficar o contato com os autores,
Os mais jovens não fazem ideia do que era a in- acompanhamento dos editores. O Ricardo ficou
flação brasileira, desde 1973, com o choque do pe- com o sofrimento, negociações, reuniões de mais
tróleo, até o lançamento do Plano Real, em 1994. de 24 horas seguidas com advogados e com suas
Nas compras do dia a dia, a população enfrentava preocupações como filho: “Pai, não vai ser doloroso
aumentos diários e, de certa forma, se acostumava. vender um negócio que o senhor fundou?” Eu dizia:
No entanto, para os chefes de família, que compra- “Não, estou tranquilo”.
vam livros didáticos uma vez por ano, o aumento
anualizado parecia escorchante e causava revoltas. O que a Moderna significou na
Foi um exercício de paciência explicar aos nossos sua vida profissional e pessoal?
clientes a conjuntura dos editores dentro da situa- No pessoal, deu muito trabalho e
ção geral do país. o preço, às vezes, foi alto. Antes de ter a editora, eu
A verdade é que, nesse período, para tentar fugir trabalhava muito dando aulas. Mas chegava o fim do
da inflação, uma das saídas foi comprar o máximo ano, eu tinha férias. Por um mês, pouco mais, pouco
de papel possível para impressão dos livros. Tor- menos, eu ficava livre e podia passear com minha
nou-se fundamental para nós estocar papel. Se a família. Depois que fundei a editora, praticamente
editora tinha papel, imprimia o livro; se não, mor- não saia mais de lá. Foi difícil e doloroso para todos.
ria. Para se ter uma ideia, quando eu ia pedir algum Eu tinha de cuidar da gestão da editora, mas tam-
financiamento no banco, me perguntavam quanto bém estava preocupado com o meu livro. Durante
de “papel limpo” eu tinha. Para o banco, o livro em um bom tempo, eu escrevia meu livro das 17 horas
estoque e a possibilidade de comercialização não ti- até a hora que aguentava ficar acordado à noite e
nham valor, as nossas máquinas não tinham valor. todo sábado e domingo. Apesar disso, tenho muita
Foi uma situação bem caótica. satisfação de olhar para a Moderna e ver que todo o
esforço deu certo.
E como aconteceu a venda da O problema é que o livro não tinha meio termo: ou
Moderna para o Grupo Santillana? me dedicava a escrever, ou então abandonava, desis-
Com o Plano Real e a estabilidade tia dele. E, editorialmente, buscar novidades é muito
econômica, a Moderna voltou a andar nos trilhos. difícil. Fui para minha primeira Feira de Frankfurt
Em 1996, mudamos a nossa sede para um prédio todo animado, achando que ia comprar muitos li-
próprio, de seis andares, à Rua Padre Adelino, 758, vros, e lá descobri que não tinha didático nenhum.
onde está até hoje. O prédio foi pensado para a ati-
vidade editorial e para abrigar o crescimento que a Qual é a lembrança mais bonita
Moderna registrava nas últimas décadas. que o senhor guarda da Moderna?
Conforme a empresa crescia, ela exigia mais de O que sempre me emociona é pen-
mim e mais investimentos externos. Então, começa- sar como a Moderna foi crescendo pouco a pouco,
mos a receber algumas ofertas de compra de empre- com juízo, junto com todos os colaboradores e for-
sas que vinham potencial na Moderna. Entre elas, a necedores. Com isso, formamos uma família, con-
Santillana, empresa espanhola pertencente ao Gru- seguimos atravessar todas aquelas crises, alta do
po Prisa. Tínhamos a preocupação de manter os va- dólar, Plano Collor, inflação absurda. Não sei se ti-
lores e diretrizes de trabalho que a Moderna sempre vemos sorte ou se foi resultado do trabalho. Só sei
manteve: valorização e respeito aos colaboradores. que foi uma trajetória difícil, mas muito bonita.
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Gestão da aprendizagem
em que o professor orienta e
personaliza a maneira de estudar
modernacompartilha.com.br
/Moderna.Compartilha
industrial e tecnológica, inteligência artificial, pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, que-
Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica brando velhos paradigmas de uma educação descontextuali-
são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! An- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e
tes de tudo, é importante entender que não existe um modelo ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.
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Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curri- vado a escolas públicas brasileiras, por meio
cular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competên- de uma rede brasileira de aprendizagem
cia de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permean- criativa, com intuito de promover trocas e
do todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores encontros para formação docente. “Preci-
e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura samos de gente inovadora que saiba usar os
maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos. recursos que temos de forma criativa, cons-
Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais es- ciente e colaborativa”, diz Burd.
sencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita
interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO 4.0
como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções Estamos vivendo um período de transforma-
inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. ções, em que se faz necessário uma mudança
O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto de concepção da escola e na forma como os
Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do alunos aprendem, que passa a seguir novas
QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, ape- abordagens e a exigir um currículo que va-
nas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, lorize a experimentação e a vivência.
62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar
possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na são ações do processo de cognição. Com a
educação, a formação dos professores é primordial. As políti- abertura do Ciberespaço, é uma tendên-
cas públicas devem dar suporte, repensando o processo edu- cia natural que o aluno tenha autonomia
cacional e permitindo que criatividade e inventividade inva- e busque conhecimento fora do ambiente
dam as salas de aula. escolar. O ensino híbrido permite trabalhar
Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações com modelos de rotações que mesclam di-
e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se versas estações de atividades, favorecendo a
preparar para o futuro que já chegou. construção do conhecimento, tanto dentro
quanto fora do ambiente escolar.
P O R ON DE CO ME ÇAR ?
A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos
enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, O QUE QUER DIZER
não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações
inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que
ENSINO HÍBRIDO?
atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.
O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para DEBATES E
o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes ORIENTAÇÃO
vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender
fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e
com um processo de aprendizagem inovador. O movimento
maker é a porta de entrada! FERRAMENTAS
Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cul- DIGITAIS
tura de inovação, invenção, programação e colaboração, tra-
balhando com metodologias ativas, transformando ferramen-
tas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e
se tornam parte vital do processo de aprendizagem.
PESQUISA
No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Es-
DE CAMPO
tados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi
idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de
explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tec- LEITURA E
nologia e diversos materiais estruturados ou não. EXERCÍCIOS
O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no
evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, orga-
nizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo PROJETOS E
Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compar- ATIVIDADES
tilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e MÃO NA MASSA
promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é posi-
tivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo le-
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HABILID AD ES D O PR O FESSO R
São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa-
OBSERVAR zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in-
terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as
mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em
consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade.
DEFINIR O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade
de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrati-
vas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são
e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de
IDEALIZAR novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de
aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.
O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando
múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de asso-
PROTOTIPAR ciações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno.
A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que
a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e am-
pliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamen-
TESTAR te para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente
deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que
o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.
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PAPEL DO
PROFESSOR
TECNOLOGIA
CULTURA ESTUDANTE
ESCOLAR NO CENTRO
ESPAÇO
AVALIAÇÃO
Fonte: Porvir.
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APRENDIZADO APRENDIZADO
INTEGRADOR BASEADO EM QUESTÕES NORTEADORAS
EXPERIMEN- Aprender
TAÇÃO CONSERTAR MODIFICAR FABRICAR
fazendo, bus-
Ensino cando autonomia
interdicisplinar e protagonismo FAZER CONSTRUIR
e contando com um ambiente propício à Comece com projetos simples que fortaleçam a empatia, o
experimentação. Estudos realizados por espírito lúdico, a criatividade, a vivência e a autonomia. Leve
pesquisadores da Universidade de Stanford para a sala de aula materiais não estruturados e recicláveis
(EUA) demostram que estudantes que vi- como papelão, plásticos, potes, tampinhas, garrafas PETs,
venciaram a aprendizagem mão na massa materiais eletrônicos como Leds, resistores, baterias, motores
tiveram um desempenho 30% mais alto do de 3V, 9V, garras de jacarés, conectores, fios, suportes de bate-
que aqueles que seguiram o aprendizado de rias, produzindo projetos mão na massa.
maneira convencional.
Equipamentos são importantes, mas é
necessário deixar claro que disponibili-
zar altos recursos tecnológicos e ambien-
PR O G R AM AÇÃO
Nas aulas, os alunos podem codificar e desvendar o
Scratch, um software on-line e off-line, livre e gratuito, que
tes virtuais de aprendizagem não garante funciona de maneira fácil e intuitiva, através de blocos de ar-
aprendizagem efetiva; é essencial que eles rastar, montar circuitos elétricos, incorporando o pensamento
venham acompanhados de práticas pe- maker. Como professor, você pode montar fichas de observa-
dagógicas que possibilitam experienciar ção e investigação para os estudantes registrarem o conheci-
vivências significativas, pautadas em uma mento. A partir destas fichas, você pode realizar intervenções e
educação humanizadora e integral. A abor- apontar caminhos necessários ao processo.
dagem ainda é um desafio para a educação, Todas essas habilidades são importantes para resgatar o en-
principalmente para as escolas públicas, cantamento das aulas e desenvolver o espírito criativo e inova-
mas não é impossível. dor, e funcionam para as todas as áreas do conhecimento. É pre-
ciso explorar novos recursos e ferramentas, mediando o espaço
ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM
Não é preciso ter um makerspa-
ce para tornar a sala de aula um ambiente
entre o aluno e a informação, de forma participativa e interativa,
próxima da realidade no processo de construção e reconstrução
do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do
mão na massa. Reorganizar o mobiliário e processo de aprendizagem. Porque o futuro já chegou.
incluir, a baixos custos, bancadas, reapro-
veitando portas e prateleiras, e acrescentar
cavaletes e ferramentas, já proporciona um
lugar de trabalho participativo e colabora-
é professora da rede pública de h Portal QEdu
tivo entre os estudantes. Ensino de São Paulo, Formada em www.qedu.org.br
Letras e Pedagogia, mestranda em h Porvir, Especial
No Especial Mão na Massa do portal Educação, colunista de Tecnologias Mão na Massa
Porvir, você pode consultar um simulador para o site da Nova Escola. porvir.org/especiais/maonamassa
maker, com uma lista de equipamentos,
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26
28
Mas não é somente isso. A escola preci- Ter as competências digitais e as socioe-
sa, na realidade, passar por uma profunda mocionais será tão importante quanto ter as
transformação para se adaptar aos novos competências cognitivas básicas. A BNCC
tempos e reunir o ferramental necessário (Base Nacional Comum Curricular) traz esta
para formar jovens preparados para assu- visão quando apresenta as 10 Competências
mir o protagonismo de suas vidas, tendo Gerais: Conhecimento, Pensamento Cientí-
todas as competências cognitivas básicas, fico, Crítico e Criativo, Repertório Cultural,
socioemocionais e digitais necessárias ao Comunicação, Cultura Digital, Trabalho e
cidadão do futuro. Projeto de Vida, Argumentação, Autoco-
nhecimento e Autocuidado, Empatia e Coo-
q u e tr an s f o r ma çõ e s peração, Responsabilidade e Cidadania.
deve mo s vive n ciar Na BNCC, não há uma orientação espe-
n a e d u ca çã o ? cífica relacionada às competências digitais.
Há tempos falamos que a educação bancária, No entanto, as tecnologias digitais são re-
organizada para atender à sociedade indus- cursos importantes em diferentes momen-
trial, já não faz mais sentido. Esta fazia sen- tos dos projetos escolares para pesquisar,
tido quando éramos formados para ter uma
única profissão ao longo da vida, quando
todo o conhecimento que adquiríamos no
ensino superior era suficiente para susten-
tar nossa trajetória profissional e quando o
reconhecimento e respeito a uma hierarquia
determinavam os valores de uma sociedade.
Hoje, com o mundo em plena ebulição,
com o advento da 4a Revolução Industrial
e, para muitos, com a chegada de uma
nova era, a da Inteligência Artificial, a so-
ciedade e a economia passam a ter uma
nova configuração, com novos princí-
pios, valores e oportunidades de geração
de renda. Reflete-se também na forma
como as crianças e adolescentes estão nes-
te mundo, como aprendem, quais são seus
interesses e quais oportunidades terão em
um futuro próximo.
Dizem que até 2040 muitas das profis-
sões que existirão ainda não foram inventa-
das. O ser humano cada vez mais depende-
rá das tecnologias digitais para se relacionar
o empreendedorismo
com o mundo, deverá saber utilizá-las não antropológico estimula tanto
somente como consumidor, mas também
como produtor de novos conhecimentos. o crescimento pessoal quanto
Cada vez vai ser mais simples programar e
inventar “coisas” para resolver problemas
o sentimento de comunidade
do mundo real. e o engajamento coletivo.
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modernacompartilha.com.br
/Moderna.Compartilha
Diálogos
particulares
com a BNCC
Escolas privadas interpretam a Base à luz dos contextos
em que estão inseridas e criam estratégias para implementá-la
a partir de seus respectivos projetos educativos.
texto Lara Silbiger
no exato momento em que a BNCC (Base Nacional o aluno precisa desenvolver, ela não diz como isso deve ser feito.
Comum Curricular) foi aprovada, em 17 de dezem- Portanto, quem vai determinar a estratégia, a carga horária e as
bro do ano passado, foi dada também a largada para disciplinas é a própria instituição, a partir do seu projeto edu-
que cada rede e escola do país (públicas e privadas) cativo”, explica Solange Petrosino, gerente de Serviços Educa-
se alinhe às novas diretrizes obrigatórias. O prazo cionais da Editora Moderna.
para implantação termina em 2020, quando as re- Dessa forma, o processo de implementação vai ganhando
ferências que definem os direitos de aprendizagem seus próprios contornos em cada uma das 71,4 mil escolas de
devem enfim permear os mais diversos aspectos da Educação Básica espalhadas pelo Brasil. “Na prática, a BNCC
vida escolar — do projeto pedagógico e currículo à será observada de acordo com a interpretação dos colégios e sua
formação de professores, materiais didáticos e ins- forma de fazer Educação”, conclui Ademar Batista Pereira, pre-
trumentos de avaliação. sidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares).
Nessa corrida, além de fôlego, as escolas precisam Ainda assim, colocar as diretrizes nacionais em prática, em
de um bom planejamento para cruzar a linha de che- menos de dois anos, não será uma tarefa simples. “O grande
gada. Os primeiros passos se resumem a entender o desafio do gestor da escola particular é concretizar as referên-
que é a BNCC, fazer uma revisão dos respectivos cur- cias da Base no dia a dia dos alunos”, afirma Esther Carvalho,
rículos e PPP (Projetos Políticos Pedagógicos) e criar diretora-geral do Colégio Rio Branco, de São Paulo (SP). Tende
um sistema de governança que envolva os professo- a levar vantagem, porém, quem já estava de olho nas tendên-
res nos eventuais ajustes e transformações. cias mundiais da Educação. “As escolas que já se preocupavam
Nas escolas públicas, esse processo é liderado pe- com a inovação e com os pressupostos globais que a Base trou-
las redes, muitas das quais têm unido esforços para xe – como formação integral, cidadania global, regionalização e
(re)elaborar seus currículos. Já as privadas gozam de competências socioemocionais – certamente terão mais facili-
fotos: divulgação
autonomia para dialogar com a Base e promover as dade de se ajustar”, afirma Solange, da Moderna.
mudanças que julguem necessárias para aproximá- Para acompanhar esse processo na rede privada, a Educatrix
-las do norte traçado pelo documento oficial. “Em- entrevistou os gestores de quatro escolas que já estão a todo vapor
bora a BNCC dite as habilidades e competências que com a implementação da BNCC. Confira os depoimentos a seguir.
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O primeiro passo para a implementação é aspectos ligados aos direitos de aprendizagem e ao trabalho
fazer uma interpretação correta da BNCC, que baseado em competências. É possível também que haja mu-
não é uma meta e muito menos um currículo. En- danças no regimento escolar a partir de 2019, com uma nova
tender sua potência e abrangência enquanto política pública organização didática dos períodos letivos.
é o primeiro grande desafio. Depois, é preciso compreender Além disso, dissecamos a BNCC para entender como ela se
que não se trata de uma lista de conteúdos. O que o docu- encaixa no nosso currículo, onde se adequa e que novidades
mento prevê é o que a criança deve aprender, sob a perspec- traz para o colégio. Com isso, foi possível constatar que os alvos
tiva dos direitos de aprendizagem. que perseguimos há anos – desenvolvimento de competências
Nesse contexto, é imperativo também entender o que é e visão interdisciplinar – estão de fato alinhados à Base.
competência – capacidade de mobilizar conhecimentos es- Não estamos falando de conceitos novos, mas sem dúvida
colares e intervir na realidade – e definir os conhecimentos de difícil implementação. Por mais que falemos em metodo-
com os quais instrumentalizar o aluno. Em suma, não são logias ativas, mudar o mindset dos professores em uma esco-
conceitos simples de ser assimilados. Muito menos quando la de 150 anos, como a nossa, é um processo longo. Para isso,
se tem em conta que, até pouco tempo, o currículo era tido investimos em formações continuadas que abordam o ensino
como uma mera lista de conteúdos. Hoje, porém, sabemos investigativo, ampliam o repertório de ferramentas pedagó-
que ele é um instrumento que traduz o conjunto de expe- gicas que favorecem as metodologias ativas e incentivam a
riências intencionalmente delineadas pela escola para con- aprendizagem colaborativa. Além disso, estruturamos um
cretizar as referências estabelecidas no PPP (Projeto Político processo de apoio aos professores e acompanhamento.
Pedagógico), bem como as orientações da BNCC. Quanto aos currículos do Ensino Fundamental, que ain-
Outro aspecto fundamental é desmentir o mito de que a da estão em análise, podemos apenas adiantar que teremos
Base exige que todos aprendam a mesma coisa. A implemen- ajustes de localização das expectativas de aprendizagem. Já
tação é muito mais complexa e demandou traduzir a Base na Educação Infantil, o que mudará no currículo serão as no-
para o projeto pedagógico de cada escola. menclaturas. A concepção em si deve manter-se muito pró-
No Colégio Rio Branco, a primeira etapa desse processo xima à que já tínhamos – calcada no uso de múltiplas lingua-
exigiu uma análise profunda da BNCC. Para começar, coloca- gens, brincadeiras e na ideia da ‘criança potente’.
fotos: divulgação
mos lado a lado os princípios que ela traz com o nosso PPP e Em linhas gerais, esses são os ajustes nos quais estamos
o planejamento do Colégio. Desse pareamento, resultaram as trabalhando enquanto aguardamos as publicações oficiais da
diretrizes da nova versão do projeto pedagógico, que refinará Diretoria de Ensino do estado, a quem respondemos.”
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ESTRUTURA DE GOVERNANÇA
No Colégio São Luís, entendemos a ao conhecimento. Para isso, temos ampliado nossos
implantação da BNCC como um movi- horizontes e nos debruçado sobre currículos – in-
mento de mão dupla. De um lado, a escola clusive internacionais – de filosofia humanista, cuja
deve analisar sua proposta pedagógica e matriz cur- foco é a formação integral da pessoa. A partir desse
ricular à luz do que a Base propõe. De outro, também benchmark, passamos a organizar nossos conteú-
precisa contextualizá-la no âmbito de sua própria dos de maneira mais integrada e a incorporar à ma-
proposta pedagógica. Sob essa lógica, estamos tra- triz de competências gerais e habilidades em todas
balhando na revisão curricular desde 2017. Esse pro- as dimensões, não apenas na intelectual. Nosso pra-
cesso é liderado pela direção-geral e levado a cabo zo para terminar a elaboração da nova matriz (até o
pelo chamado GT (Grupo de Trabalho) de Currículo, 9o ano do Ensino Fundamental) é outubro de 2018.
formado por educadores – docentes e não docentes Para o Ensino Médio, é junho de 2019.
– de todos os segmentos. Na mesma direção, caminha a formação conti-
Sob a coordenação da direção acadêmica, o GT nuada dos professores. Com foco na epistemologia e
se reúne uma vez por semana. Suas reflexões sobre na didática, as metodologias ativas, que favorecem
a BNCC e encaminhamentos são socializados men- todas as dimensões da aprendizagem, são a tôni-
salmente com todo o corpo docente, que tem pa- ca dos encontros, organizados a partir de reflexões
pel consultivo. Em paralelo, uma assessoria externa individuais e coletivas sobre a prática. Quanto aos
dialoga periodicamente com os professores e com o materiais didáticos que o Colégio adota, ainda va-
próprio GT. Já as aprovações finais ficam por conta do mos avaliar se há necessidade de mudanças para o
Conselho Diretor da Escola. próximo ano letivo. Cabe ressaltar que a análise da
A BNCC, porém, não impõe grandes desafios para adequação das obras à nossa proposta pedagógica e
o colégio. Já tínhamos um currículo bastante abran- aos documentos oficiais de Educação já faz parte da
gente em termos de conteúdo. O que vemos agora rotina anual. Neste ano, em especial, vamos atentar
são oportunidades de enriquecer o que já fazíamos e para o alinhamento dos conteúdos didáticos às exi-
oferecer aos estudantes mais alternativas de acesso gências da BNCC.”
36
Sagrado
fundação: 1900
professores: 560
alunos: 1.500 na Educação
Infantil, 7.100 no Ensino
Fundamental e 1.600
no Ensino Médio.
localização: 14 unidades
educacionais, com sede da Gestão
Pedagógica em Curitiba (PR).
rafael lima , gestor pedagógico
Graças ao fato de termos acompanhado meiros passos nessa direção já foram dados na Rede por meio
a construção da Base desde o princípio, com da apresentação geral da Base, com momentos especial-
participação ativa nas reflexões junto a sindicatos mente dedicados a esse propósito durante a formação con-
e outras organizações educacionais, nosso trabalho pedagó- tinuada. Agora, a próxima etapa é discutir formas de colocar
gico já estava voltado para os direitos de aprendizagem e o o aluno no centro da aprendizagem, bem como refletir sobre
desenvolvimento de habilidades e competências. novas práticas metodológicas e tecnologias educacionais que
Na Educação Infantil, por exemplo, a BNCC legitimou nos- contribuam para esse fim.
so olhar diferenciado para o binômio Cuidar e Educar, que Quanto ao currículo do Ensino Fundamental, este deve sofrer
sempre privilegiou os processos de alfabetização e letramen- ajustes para minimizar a fragmentação do conhecimento entre
to desde os estágios iniciais do desenvolvimento cognitivo. um ciclo e outro. Para isso, pretendemos ampliar – de forma
Além disso, o documento veio ao encontro da forma como orgânica e progressiva – a inserção de situações complexas no
exploramos os direitos de aprendizagem: com práticas peda- dia a dia do educando. Outro aspecto que merece atenção é o
gógicas que imprimem intencionalidade ao conviver, brincar, aprofundamento das práticas de leitura, escrita e oralidade.
participar, explorar, conhecer e expressar-se. No Infantil, por sua vez, os currículos tendem a ser tornar
Ainda assim, temos alguns desafios pela frente. O maior mais consistentes tanto na organização quanto na proposi-
de todos é garantir que os professores e as equipes pedagó- ção de experiências. Estas, segundo a própria Base, deverão
gicas tenham pleno entendimento da BNCC e das mudanças contribuir para a criança conhecer a si mesma e ao outro e
que se fazem necessárias para implementá-la na Rede. Uma compreender suas relações com a natureza, com a cultura e
delas é a atualização do PPP, com um olhar renovado para com a produção científica.
a identidade do Sagrado frente às demandas de um ensino Já em relação aos materiais didáticos, o que deve mudar
progressista. A nova versão da proposta pedagógica, que são os nossos critérios de seleção. Vamos visar ao alinha-
será finalizada até 2019, deve fortalecer a gestão democráti- mento dos conteúdos com a BNCC e também às novidades
ca e envolver toda a comunidade educativa nas transforma- metodológicas voltadas ao ensino progressista. Os ajustes,
ções que estão por vir. porém, só serão feitos na medida em que a Rede identificar
Para um futuro próximo, vemos também oportunidades reais necessidades.
na construção de práticas mais inovadoras de ensino. Para Por fim, novos indicadores de aprendizagem passarão a fa-
promover a autonomia dos educandos, vamos privilegiar o zer parte do sistema avaliativo do Sagrado, que já preza pela
conceito de Aprender a Aprender e o Ensino Híbrido. Os pri- observação das habilidades adquiridas pelos educandos.”
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AJUSTES NO CURRÍCULO
O primeiro passo para lidar com a BNCC gico. Com esse raio-x de cada área e segmento, agora temos con-
é desmitificar a ideia de que ela será imple- dições de traçar os próximos passos de alinhamento com a Base.
mentada nas escolas. É um erro que nos induz a Alguns ajustes, porém, já estão previstos. Em Matemática, va-
pensar em uma suposta massificação, que sequer tem como mos antecipar o desenvolvimento do pensamento computacional
acontecer. A Educação não se faz assim. A proposta consis- para o currículo do Ensino Fundamental. Até então, apresentá-
te em dialogar com a Base, identificar pontos de atrito com o vamos a Matemática Computacional apenas no início do Ensino
projeto pedagógico e com o currículo e avaliar como ela pode Médio e não necessariamente com o mesmo rigor no desenvolvi-
contribuir para a melhoria da aprendizagem. mento das competências que a Base agora determina.
Cabe destacar que todas essas interpretações e análises Em outros casos, porém, as diretrizes do documento já come-
sempre vão partir dos pressupostos e premissas de cada es- çam a ser incorporados no dia a dia. Por exemplo, se o assessor
cola. Não dá para fugir da própria história, da cultura e das re- de Língua Portuguesa está falando de ortografia com os profes-
lações que se formam em torno da instituição. É por isso que sores, ele já aproveita para abordar o tema sob o ponto de vista
a leitura da Base em uma escola mais tradicional pode acabar do desenvolvimento das competências definidas pela BNCC.
sendo completamente diferente da leitura que fazemos no Para o Infantil, não haverá grandes novidades. A Base traz
Vera Cruz, cuja abordagem é construtivista. apenas um outro jeito de organizar o trabalho pedagógico, com
Por aqui, as discussões estão a todo vapor. Desde feverei- base nos campos de experiência. Dessa forma, o documento
ro deste ano, equipes técnicas formadas por coordenadores, ratifica o que o Vera Cruz já segue: valorizar a experiência da
orientadores, assessores de área e professores da Educação criança e respeitar sua forma de aprender e pensar.
Infantil e do Ensino Fundamental se debruçam sobre a Base No Ensino Fundamental, o planejamento das aulas tam-
para fazer uma leitura crítica do documento e uma autorrefle- bém não será muito impactado. Definir objetivos com base no
xão sobre nossas práticas pedagógicas. desenvolvimento de competências tem tudo a ver com nosso
Em julho, as equipes tiveram a oportunidade de apresentar para jeito de ensinar. Menos cognitivistas e mais direcionados para
todo o corpo pedagógico do Colégio um primeiro diagnóstico das a experiência da vida escolar, acreditamos que o aprendizado
consonâncias e dissonâncias com a Base, bem como a necessi- se dá na relação com o conhecimento, com os professores e
dade de incorporar certos objetivos e aprofundar competências colegas e com a experiência vivida no coletivo.
específicas. Ainda durante o encontro, cada pessoa pôde contribuir Ainda temos muito por mapear e planejar pela frente. Mas
com ideias e apresentar suas demandas de formação continuada, é com serenidade que vamos tomando consciência das nossas
material didático, ajustes no currículo e revisão do projeto pedagó- necessidades e priorizando o que precisa ser feito até 2020.”
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p or re gião
nordeste sudeste
norte s ul centro-oeste
9,3% 17,4% 21,8% 17,3% 18,6%
ou 469.637 ou 680.545
ou 1.119.908
matrículas em escolas ou 2.496.501 matrículas em escolas
matrículas em escolas
privadas do matrículas em escolas ou 4.216.510 privadas do
privadas do
total de 5.030.223 privadas do matrículas em escolas total de 3.643.646
total de 6.468.176
total de 14.325.245 privadas do
total de 19.350.189
p or se gme n t o
edu c aç ão infan t il e nsino f undame n tal
das creches brasileiras das escolas de ed. infantil das escolas com anos das escolas com anos
são da rede privada são da rede privada iniciais são privadas finais são privadas
39
Interdisciplinaridade
Quando entrar
no chat significa
aprender
Chatbots e a inteligência artificial entraram
de vez nas rodas de conversa da educação.
Quais perguntas você deve se fazer
para inseri-los no cotidiano da sua escola?
texto Fernando Herranz, com colaboração de Gabriela Dias ilustração Leandro Lassmar
férias, nosso colega Fernando Her- crosoft e Amazon já possuem tecnologias semelhan-
ranz, da Espanha, presenciou a seguinte situação tes, todas baseadas em inteligência artificial (IA).
enquanto seu filho Rodrigo, de dois anos e meio, A história pode soar inofensiva, mas já é possível
tomava mamadeira pela manhã. Por descuido do imaginar um futuro não muito distante em que as-
pai, Rodrigo pegou o celular e, sob seu olhar aten- sistentes virtuais, baseados em voz ou não, ocupam
to, manteve a seguinte conversa espontânea com o um papel de destaque na vida de crianças e jovens.
dispositivo: Afinal, a relação com a máquina é natural para es-
Rodrigo: E aí, Siri, você está aí? sas gerações e está no centro de seus processos de
Siri: Estou aqui. aprendizado e de seu dia a dia.
Rodrigo: Você quer mamadeira? Pensando nisso, o que podemos fazer, como edu-
Siri: Tudo o que eu preciso está na nuvem. cadores, para nos prepararmos para o impacto que a
Para aqueles que não conhecem a Siri, ela é o cha- IA deve causar no mundo educativo? A análise a seguir
tbot (ou “robô conversacional”) embutido no sis- é uma reflexão coletiva da qual participaram várias
tema operacional dos dispositivos da Apple. Outras pessoas da área de tecnologia e aprendizagem, com
grandes empresas de tecnologia, como Google, Mi- diferentes pontos de vista, no Brasil e na Espanha.
42
os robôs
estão
entre nós
imagem: divulgação
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rastrear chatbots educacionais hoje é tarefa relativamente fácil, pois há uma eletiva dedicada ao tema. O professor
a área ainda está evoluindo, especialmente na educação básica. Segundo Rodrigo Assirati Dias, responsável pela cadeira,
a designer conversacional Camila Canonici, uma das “experiências pio- conta que a iniciativa faz parte da carga ho-
neiras e revolucionárias” foi o Robô Ed, da Petrobras, que até 2016 trocou rária do novo Ensino Médio e foi um sucesso.
250 milhões de frases com internautas. “A partir de 2004, quando entrou “Foram 37 inscritos e 25 selecionados no pri-
no ar, ele foi aprendendo com as conversas e evoluiu até conseguir dar meiro semestre. Eles aplicaram conhecimen-
cerca de 40 mil respostas, indo de petróleo a Machado de Assis”. tos de matemática e linguística, refletiram so-
Camila cita um projeto do governo do Ceará e outro de Moçam- bre questões éticas e tiveram de produzir um
bique como exemplos recentes da aplicação dessa tecnologia para chatbot com um personagem histórico, além
fins educacionais. No caso do Ceará, o governo vai testar robôs da de escrever um artigo”, conta.
empresa Somai em salas de aula a partir de 2019. “A presença física “Mas por que incorporar esse assunto ao
dos robôs gera uma experiência relevante, o que contribui para a currículo tão cedo?”, você talvez se pergunte.
memória de longo prazo”. Já em Moçambique, a ambição do robô Rodrigo, que também dá aula no ensino su-
Dr. Wilson é ajudar a “salvar 20 mil crianças de até 5 anos nos pró- perior, tem a resposta na ponta da língua. “A
ximos 36 meses”, por meio de conversas com “cidadãos comuns” coordenação do colégio escolheu IA porque ela
sobre higiene, uso racional da água e esgoto. vai ser parte da vida de todo mundo no futuro.
Em São Paulo, a inteligência artificial está presente também Mas a gente também ouviu os alunos, e eles se
como disciplina. No colégio Dante Alighieri, desde o início de 2018, interessaram muito pelo tema”, explica.
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strYX, UM
CHAtbot
QUe AJUDA
A estUDAr
imagem: divulgação
trarão ao sistema. Para o aluno, “um edubot é um cionar-se. Todas essas questões podem se tornar
assistente educativo pessoal, que estará sempre ao mais fáceis se “o acesso à informação não passar
lado do aprendiz. Sua presença será intensa, mes- obrigatoriamente pelo professor”, diz Marta Bonet.
mo que invisível. De acordo com o nível educativo e “Isso fará com que ele possa dedicar mais tempo a
o propósito, ele pode até ter um corpo, dirigido es- uma interação de maior qualidade com os alunos. Só
pecialmente à afetividade que todo relacionamen- que a melhora na qualidade da interação não acon-
to necessita”. Do ponto de vista do professor, será tecerá somente entre aluno e professor, mas tam-
como um “discípulo do mestre, assimilando sua sa- bém entre aluno e máquina. A interação será mais
bedoria e a interpretando para depois responder às complexa, mais rica e mais natural”, completa.
demandas do aluno. Assim, o trabalho do professor Segundo Víctor Sánchez, as coisas poderiam ir
não fica nem reduzido nem encoberto pela incansá- muito além. Para ele, essas ferramentas vão de-
vel entrega do bot”. senvolver várias capacidades paulatinamente e
Natalia Calvo propõe uma perspectiva fascinante acabarão resolvendo desde perguntas frequentes e
em que os bots podem contribuir de forma decisiva triviais até dúvidas complexas e transcendentais.
para uma nova relação entre aprendizagem e erro. “Um chatbot poderá talvez se converter em uma
“O fato de uma máquina trabalhar com o erro de for- espécie de psicólogo, detectando e tratando pro-
ma diferente diminui a pressão sobre o aprendizado, blemas como depressão, déficit de atenção ou até o
o que contribui para que ele aconteça de forma mais bullying real e digital”.
natural, como ocorre em contextos não formais”. Esse potencial ressoa com a designer conversa-
Segundo Calvo, “os últimos avanços da neurociên- cional Camila Canonici, que desde 2001 acompanha
cia demonstram que o cérebro necessita do erro para os efeitos que os robôs têm, inclusive no público
progredir. Um chatbot deve guiar e oferecer desafios em idade escolar. “Depois que a Petrobras lançou o
que abram a mente das crianças e as ajudem a mer- Robô Ed, em 2004, ele teve de passar a falar de pro-
gulhar em sua própria curiosidade”. blemas familiares com as crianças, pois esse tópico
Despertar a curiosidade, o espírito crítico, emo- surgia direto nas conversas”.
46
positivo”, conta Ivonete. “Acreditamos que, com a ajuda da Stryx do projeto Araribá Plus, coleção destinada para
– uma coruja bem-humorada e amigável, sem ser sabichona –, o Ensino Fundamental 2, e está disponível nas
esse tempo de tela vai ser mais eficaz, e o aluno vai ganhar auto- disciplinas de Português, Matemática, História,
nomia”, acrescenta ela. Geografia e Ciências.
q u arta parada : q u an d o os chatbots ferramentas terão espaço desde que o ser humano
s e rã o re al idade n a ed uc aç ão? entenda que máquinas têm a função de melhorar a
Essa pergunta talvez seja a mais fácil de responder, qualidade de vida e não a de substituir outras coisas.
pois a verdade é que já há chatbots disponíveis para “O ser humano é resistente a mudanças, mas a tecno-
uso educacional, tanto no Brasil quanto no exte- logia tem colocado muitos paradigmas de pernas para
rior. Víctor Sánchez lembra que “hoje já temos o o ar. Por isso, em relação à chegada da inteligência
IBM Watson atuando como um professor assistente artificial, torna-se cada vez mais urgente trabalhar o
em fóruns de universidades americanas”. Na pró- espírito crítico dos alunos para que possam entender
xima década, segundo ele, poderemos ver “versões e gerenciar essa importante mudança”, explica.
avançadas, difíceis de serem diferenciadas de pro- O cenário é mesmo inquietante e, por ora, a úni-
fessores reais, especialmente ao conversar sobre ca certeza talvez seja a de que, com a inteligência
materiais e disciplinas específicas”. artificial, a transformação das formas e das relações
Para Agustín Cuenca, fundador e CEO da empre- será significativa. Por enquanto, vale continuarmos
sa ASPGems, o fenômeno “acontecerá mais tarde do atentos às conversas das crianças com a Siri…
que acredito (5 ou 10 anos), mas antes do que calcu-
lam aqueles que pensam que ele não vai acontecer”.
Além do quando, Antonio Rodríguez acha que
FerNaNDO HerraNZ
será muito relevante o como. “Desorientação e resis- é responsável pelo Departamento de
Inovação da Santillana na Espanha.
tências serão inevitáveis no caminho. Deverá ser su-
perado o preconceito de que isso significa automati- Para saBer MaIs
h Blog Toyoutome, Cuando chatear signifique
zar a educação, de que a inteligência artificial coloca aprender… y enseñar: mod.lk/1wpfj
a função do professor em segundo plano, ou de que h Robô Ed Petrobrás: www.ed.conpet.gov.br/br
h Projeto Araribá Plus / Stryx: mod.lk/V44F2
ela vai trazer um controle excessivo ao acompanhar e h Relatório IBM - Possibilidades da inteligência
avaliar tão de perto a aprendizagem do aluno”. artificial na educação: mod.lk/pesqibm
47
expedição
2030 o d es af i o c e r to
de e d u c ar p a r a u m
f u t u r o i nc er to .
Para qual mundo estamos formando
nossas crianças e adolescentes?
Quais serão as habilidades e competências
exigidas para uma vida bem-sucedida?
texto Anna Penido ilustração Otavio Silveira
50
adivinhos e futurólogos nunca tiveram tamanha precisam para enfrentar os desafios da vida contem-
dificuldade para prever ou compreender o que o porânea, muitos dos quais ainda nem conhecemos.
destino nos reserva. Diante da velocidade e profun-
didade das transformações que marcam este início desafi o profi ssi onal
de século XXI, não há nada mais certo em relação As tecnologias modificam cotidianamente os faze-
ao futuro do que a sua própria incerteza. res e ambientes de trabalho, dos mais simples aos
As mudanças climáticas transformam o planeta. mais complexos. Tarefas repetitivas passam a ser
As novas tecnologias redefinem a vida humana. Os realizadas por máquinas, enquanto os profissio-
processos migratórios e as mudanças de compor- nais se diferenciam por suas habilidades humanas.
tamento provocam choques culturais. A busca de Criam-se novas profissões, muitas se transformam
competitividade modifica as relações econômicas e outras deixam de existir. Em grande medida, for-
e gera novos contextos políticos e sociais. E todas mamos estudantes para desempenhar funções que
essas movimentações juntas aprofundam os níveis ainda nem existem.
de insegurança e ansiedade dos indivíduos, que têm Diante dessa nova realidade, cabe às escolas de-
dificuldade de caminhar por terreno tão movediço senvolver a capacidade dos indivíduos de continuar
e ameaçador. aprendendo ao longo da vida, para que adquiram
No mundo atual, poucas são as garantias e mui- novos conhecimentos conforme se fizerem neces-
tos os desafios que nos afetam individual, local e sários. Para tanto, é importante motivar os alunos
globalmente, demandando novas capacidades, so- a valorizar e buscar o conhecimento de forma cada
luções e regulações. Simultaneamente, crescem as vez mais autônoma, acessando as mais diversas
dúvidas e expectativas em relação à educação e seu fontes, bem como selecionando, contextualizando
poder de não apenas preparar as novas gerações e aplicando as informações que obtêm. Os estudan-
para enfrentar uma realidade futura bastante ne- tes também precisam ser estimulados a pensar so-
bulosa, mas também de capacitá-las para reduzir os bre a sua própria aprendizagem, para serem capa-
impactos negativos e ampliar os benefícios trazidos zes de identificar o que precisam aprender e como
por todas essas mudanças. aprendem melhor.
Conhecimentos tradicionais continuam sendo O domínio das tecnologias é outro requisito
importantes, mas não se mostram suficientes para indispensável para que os alunos estejam prepa-
assegurar que as pessoas se realizem no âmbito pes- rados para um mundo do trabalho cada vez mais
soal, social e profissional, muito menos para que automatizado. Ainda que o seu diferencial seja
interajam com as questões próprias da contempo- justamente realizar o que não pode ser delegado
raneidade e participem da construção de um mun- às máquinas, o profissional do futuro precisa sa-
do melhor para si e para os demais. Cientes desse ber utilizá-las com inteligência e habilidade. O
desafio, especialistas e organizações ao redor do não desenvolvimento dessa competência desde a
globo apontam para a necessidade de revermos o idade escolar compromete significativamente as
que se ensina e se aprende nas escolas. chances dos indivíduos de se inserirem e progre-
Como consequência, diversos países promovem direm profissionalmente. Portanto, torna-se vital
reformas curriculares com o intuito de aproximar a assegurar que todas as escolas ofereçam essa opor-
educação do seu projeto de nação, de maneira que tunidade aos seus alunos.
crianças e jovens sejam preparados para se orientar A rápida obsolescência de conhecimentos téc-
e se realizar em um mundo em constante mudança, nicos demanda ainda que os currículos das insti-
bem como contribuir para o alcance de objetivos tuições de ensino contemplem competências mais
nacionais e globais de médio e longo prazo. transversais, que os apoiem a desempenhar qual-
No Brasil, essa oportunidade surge com a cons- quer profissão contemporânea, mesmo as que ain-
trução da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da não foram inventadas. Atributos como flexibi-
e com a Reforma do Ensino Médio, que reabrem a lidade, criatividade, trabalho em equipe, resolução
discussão sobre o que todos os estudantes brasileiros de problemas, inovação e empreendedorismo estão
precisam aprender. O propósito, nesse caso, para entre elas. Uma vez imbuídos dessas capacidades,
além de resolver problemas recorrentes relacio- as novas gerações terão mais facilidade de se adap-
nados à equidade e qualidade da Educação Básica, tar às mudanças e de se inserir com mais dignidade,
também se constitui em oportunidade para ofere- qualidade e sustentabilidade em um mundo do tra-
cer aos alunos brasileiros as aprendizagens que eles balho em constante mutação.
52
TECNOLOGIAS É
metas para alcançar os seus projetos de vida, seja
por esforço próprio, seja lutando por seus direi-
tos. As práticas pedagógicas e o ambiente escolar
I NDISPENSÁVEL
perseverem e vençam obstáculos; resiliência -
para que saibam lidar com frustrações, insuces-
sos e adversidades sem desistir do seu intento; e
ALUNOS ESTEJAM
os seus sonhos.
Os avanços na ciência e medicina impactam
na longevidade e aprofundam as discussões so-
PAR A UM MUNDO
mo, portanto, também passa pela capacidade
dos estudantes de promoverem a sua própria
saúde e bem-estar. Cresce a importância dos
53
54
55
TRADIÇÃO
PIONEIRISMO
A Moderna completa meio Com obras que marcaram época, prêmios e ino-
vações que revolucionaram a forma de fazer soluções
século e revisita sua trajetória para educação, a Moderna se consolidou como refe-
rência em projetos educativos. Por isso, não é raro
de transformação da educação, que gerações de professores e alunos se lembrem
de terem estudado com esses materiais ou de terem
sempre com foco no aluno. participado de formações e congressos pelo país.
Nas escolas privadas, a marca é líder de mercado
texto Lara Silbiger ilustração Carlo Giovani de Educação Básica. No setor público, por sua vez,
é a empresa que vendeu mais exemplares (24%) no
PNLD 2018 - Ensino Médio e a que teve o maior nú-
os 50 anos da Moderna, a Educatrix pre- mero de obras aprovadas nas avaliações pedagógicas
parou uma retrospectiva sob a ótica de seus colaboradores. Em coordenadas pelo Ministério da Educação no PNLD
busca de memórias, conversamos com profissionais de diversas 2019 - anos iniciais do Fundamental. Esse reconhe-
áreas da empresa. Entre fotografias antigas, estantes repletas cimento e credibilidade não vieram da noite para o
de livros, boas risadas e lágrimas, o que mais nos chamou a dia, como revelam as páginas a seguir. Em uma linha
atenção foram as profundas conexões entre a história da Mo- do tempo que se inicia com a sua fundação, em 1968,
derna e a difusão da educação e cultura no país. vamos percorrer alguns marcos dessa trajetória.
56
CASA NOVA
A primeira sede da Moderna foi em um sobrado, na capital
paulista. Na época da fundação, além de Feltre, Yoshinaga e
Marmo, trabalhavam uma secretária e um office-boy.
58
59
ANOS 1990
SUPERAR CRISES PARA
C O N Q U I S TA R R E S U LTA D O S
da década vem acompanhado de um quadro de re- seu livro, com mais de 600 páginas, e gerar trabalho suficiente
cessão, motivado pelo Plano Collor que lança pacotes radicais para todos. Durante o tempo de vacas magras, ele abriu mão de
de medidas econômicas, incluindo o confisco dos depósitos seus direitos autorais, em favor das finanças da editora”, recor-
bancários e das cadernetas de poupança. De acordo com re- da Dalva Muramatsu, que se aposentou como analista de plane-
portagem da época, publicada no jornal O Globo, em 1990, a jamento sênior em 2015, depois de 37 anos na empresa.
economia brasileira recuou 4,3% e a inflação chegou a 1.620% Não só a Moderna é afetada pelo confisco, como o próprio
no acumulado dos 12 meses. No ano seguinte, cai para 472%, governo tem de restringir a compra de didáticos. Em 1992, as
voltando a passar dos 1.000%, em 1992. limitações orçamentárias do MEC comprometem a distribuição
Internamente, a Moderna se vê temporariamente sem recur- nacional e os livros chegam apenas aos alunos de 1a à 4a séries.
sos para elaborar novas obras. “Mesmo assim, o professor Feltre Um novo fôlego vem só em 1996, com a nova Lei de Diretrizes
não queria dispensar nenhum funcionário. Ele decidiu reeditar e Bases (Lei no 9.394/96), que amplia a Educação Básica. A in-
clusão da Educação Infantil e do Ensino Médio como obrigações
do Estado tem reflexos diretos sobre a indústria de didáticos.
Nesse mesmo ano, o MEC constitui uma comissão para analisar
a qualidade dos conteúdos e aspectos pedagógico-metodológicos
EVOLUÇÃO
das obras inscritas no PNLD. A avaliação é publicada no primeiro
“Guia de Livros Didáticos”, a fim de orientar os professores em
suas escolhas. Em 1997, são apresentados os PCNs (Parâmetros
Curriculares Nacionais) do Ensino Fundamental, seguidos dos
DO L OG OTI P O
RCNs (Referenciais Curriculares Nacionais) da Educação Infantil,
em 1998, e dos PCNs do Ensino Médio, em 2000. “Eles trouxeram
novas perspectivas para a organização das nossas obras, agora
alinhadas com documentos públicos”, conta Ricardo Seballos,
diretor editorial e colaborador há 38 anos. As primeiras coleções
a MarCa Moderna está presente desde os lançadas no novo formato são Projeto Presente, para o Funda-
primeiros livros. A ideia era transmitir o ar de mental 1 e Ciências Naturais — Aprendendo com o Cotidiano, de
modernidade que inspirava os títulos, alinhados Eduardo Leite do Canto, para o Fundamental 2.
com as demandas da sociedade da época. Com obras desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e
Os primeiros logotipos valorizam o formato literaturas de ficção e não ficção, a Moderna diversifica suas
em si, dando ênfase à produção de livros
didáticos estruturados. Com o tempo, o ideal
de inovação ganhou mais peso e destaque.
Acompanhando as mudanças da sociedade,
em 2012, o logotipo com livros deu lugar a
um mundo dinâmico, sempre em movimento. 1968 ANOS 1980
Foi o momento em que a Moderna começou a
se posicionar não apenas como uma editora
de livros, mas como uma empresa global de
educação, que respeita a diversidade do mundo
e vê as necessidades de cada público por
todos os ângulos, numa perspectiva 360º.
1968 1974
1968 1974 1980 1
60
61
“Quando anunciou a venda, Feltre fez questão de desta- que quem faz materiais para educação precisa ter uma
car que a escolha dos compradores tinha sido feita a dedo. dose extra de paixão pelo que faz, dado o ritmo ace-
Não era de se estranhar as semelhanças entre ambas as em- lerado”, destaca Marta Cerqueira Leite, coordenadora
presas: de origem familiar, com investimento em educação de Design e Projetos Visuais.
e envolvimento direto do pai e seus filhos na gestão”, des- Ricardo Seballos destaca a importância de encontrar
taca a secretária executiva Patrícia Carvalho, que trabalhou soluções que não tenham sido imaginadas. “Propor pro-
diretamente com o professor Feltre por seis anos. A mu- jetos inovadores, exequíveis e viáveis, que inspirem estu-
dança, porém, impôs novos desafios. “Fui escolhida para dantes, professores e o mercado é a minha maior motiva-
secretariar o novo presidente, Andrés Cardó, mesmo sem ção e a principal recompensa pelo trabalho que realizo.”
falar espanhol. O jeito foi correr atrás dos meus objetivos e Em paralelo, novas estratégias comerciais são estabe-
estudar. Quando me tornei fluente, fui promovida à secre- lecidas. “Direcionamos os consultores de vendas para as
tária bilíngue”, conta ela, que está na empresa há 24 anos. escolas com potencial de adoção, segmentadas de acor-
“No seu primeiro ano no Brasil, o presidente buscou en- do com cada perfil pedagógico, e criamos a figura do as-
tender o trabalho de cada um e valorizou quem estava aqui. sessor pedagógico, cuja missão é orientar a utilização do
Para aqueles que tinham potencial de assumir novas posi- material em instituições adotantes”, explica Márcia Me-
ções, deu a oportunidade de crescer”, explica Arnaldo Tel-
les, diretor de Recursos Humanos, e funcionário há 22 anos.
A aquisição traz desafios para todas as áreas. Para o Mar-
keting, foi necessário desenhar um plano para que a edito-
ra alçasse um novo patamar, crescesse e se firmasse como
referência de inovação. “A Santillana decidiu remodelar a
marca da Moderna para torná-la mais jovem e dinâmica aos
olhos das escolas”, relata Márcia Carvalho, então gerente
de Marketing e hoje diretora do Moderna Compartilha.
A Moderna ganha um aporte de investimentos e de tec-
nologias inovadoras e lança o conceito de projeto multidis-
ciplinar coletivo, com o Projeto Pitanguá (2002), seguido
do Projeto Araribá (2003) e do Projeto Buriti (2005). “Era
diferente de tudo que conhecíamos. Estávamos acostuma-
dos com obras em que um único autor entregava os capítu-
los prontos. O desafio agora era outro e incluía encomendar
textos com diversos autores e editores, com especialidades
variadas, orquestrar equipes, editando e diagramando ao
mesmo tempo, e transformar tudo isso em uma obra com-
pleta. Confesso que, no início, ficamos apavorados”, lem-
bra Maria de Lourdes Rodrigues, gerente de planejamento
editorial, que está há 38 anos na Moderna.
Com isso, a lógica de organização do conteúdo sofre
mudanças. “Toda a estruturação ficou mais coerente com
a metodologia didática das escolas, com unidades padro-
nizadas e linguagem mais direta e objetiva”, ressalta Ricar-
do Seballos. Outra inovação da época é a inserção do de-
sign instrucional nas coleções, que associa projeto gráfico,
imagem, foto e infografia ao texto de forma coerente, com
maior hierarquia na apresentação dos conteúdos.
O resultado é disruptivo no mercado. “No lançamento
ARARIBÁ
do Pitanguá, batemos nosso recorde de vendas, com 20,5
milhões de exemplares no PNLD”, lembra Ronaldo Cardo-
PLUS
so, supervisor de logística de PNLD e das filiais da Moderna.
Os desafios da transição e a introdução de novas tec-
nologias são relembrados pelos colaboradores. “A equipe
editorial é um dos patrimônios da Moderna. A gente brinca
62
POR DENTRO DA
SANTILLANA BRASIL
FUnDaDa em 1960, na Espanha, e o Prêmio VivaLeitura e ATUALMENTE, A SANTILLANA BRASIL
a Santillana está presente em colaborar com o movimento ATUA NOS SEGUINTES SEGMENTOS:
22 países como braço editorial Todos pela Educação. m Soluções didáticas e serviços
de educação e de formação Para se aproximar ainda mais educacionais (Moderna).
do Grupo Prisa, que também dos profissionais da educação, m Plataforma de educação
controla a marca El País. a Fundação Santillana dá início (Moderna Compartilha).
No Brasil, a Santillana inicia a ciclos de congressos. A m Assessoria, livros e projetos de literatura
suas atividades em 2001, com a primeira edição contou com a infantojuvenil (Moderna e Salamandra).
aquisição da Moderna. Por conta participação do Nobel português m Soluções para ensino de Inglês
do reconhecimento das marcas José Saramago, que atraiu e Espanhol e programa bilíngue
nacionais, até meados dos anos 5 mil professores ao evento (Richmond, Santillana Español e
2000, a Santillana aparece no Anhembi, em São Paulo Educate Bilingual Program).
associada aos trabalhos de sua (SP). “Era uma época em que m Sistemas de ensino (UNOi Educação
Fundação, braço do grupo para a Santillana precisava dar à e Sistema Farias Brito).
a promoção de ações culturais Moderna uma nova dimensão. m Avaliação e assessoria educacional
e de responsabilidade social. Foi o ponto de virada para a (Avalia Educacional).
A empresa cria bases para editora deixar de ser um negócio m Novos negócios (Smartlab - plataforma
estreitar relações com órgãos familiar e se projetar como uma de conteúdos, formação de
de mercado e professores, grande empresa de educação”, professores e ambiente colaborativo).
além de participar de iniciativas conta Luciano Monteiro, diretor m Responsabilidade social
como o Instituto Pró-Livro de Relações Institucionais. (Fundação Santillana).
63
ANOS 2010
INOVAÇÃO
M U LT I P L ATA F O R M A
ganha força e a Moderna passa a ter todas as obras do catálogo passaram a ter
exclusividade na representação das obras de Pedro seus respectivos livros digitais. “Ao todo,
Bandeira e Eva Furnari. A exemplo do que acontecia produzimos 200 obras em HTML5 em seis
com Ruth Rocha (exclusiva do selo Salamandra), os meses”, conta. Tudo para tornar o apren-
livros são organizados por faixa etária e formam dizado uma experiência intensa e trans-
coleções que facilitam o trabalho nas escolas. Em formadora e o trabalho do professor mais
2012, Walcyr Carrasco se junta ao grupo e, em 2018, prático e dinâmico.
Ilan Brenman, um dos mais queridos autores da Argeu Pereira da Ivenção, gerente de
literatura infantil da atualidade, assina o seu con- Tecnologia Educacional, destaca também
trato de exclusividade – as obras serão reeditadas, a preocupação de oferecer uma educação
relançadas e incorporadas à nova Biblioteca Ilan igualitária e acessível. “A Moderna sempre
Brenman, a partir de 2019. foi atenta à responsabilidade social e à in-
Em 2017, o lançamento do Território da Leitura clusão, por isso, apoiamos e damos suporte
propõe uma nova experiência com literatura nas à geração de conteúdos acessíveis e, mais
escolas. O projeto propõe que profissionais da es- recentemente, fizemos novos investimentos
cola, alunos e famílias sejam verdadeiros contado- nesta área, tanto no que tange a sites e por-
res de histórias, a partir de uma curadoria literária, tais como na produção de livros acessíveis”.
formação e materiais de acompanhamento para di- Por trás dessa evolução, está a trans-
nâmicas de leitura. formação de uma editora tradicional em
Até os anos 2010, as obras em papel predomi- uma produtora de conteúdos educacionais
nam no catálogo, mesmo com conteúdos on-line e multiplataforma. Hoje, seus serviços e con-
em DVDs. O ponto de virada chega em 2011, com teúdos são entregues nos mais diferentes
a criação do departamento de Tecnologia Educa- meios e formatos. “É claro que o livro ain-
cional para desenvolvimento de conteúdos digi- da existe, mas agora convive com o mundo
tais. A concretização das novas ideias chega com o digital, repleto de inovações pensadas para
lançamento do Moderna Plus, que apresenta uma melhorar a experiência do professor e do
revolução na forma e no conteúdo com um novo aluno”, comenta Luciano Monteiro, diretor
conceito de materiais para o Ensino Médio, abar- de Relações Institucionais. “Há 12 anos, en-
cando ao livro impresso objetos multimídia, banco trei em uma editora de livros e hoje me vejo
de questões, planejador de aulas, portal etc. A acei- em uma editech,, com a tecnologia a serviço
tação foi tanta que o modelo foi gradativamente re- do aprendizado”, enfatiza.
plicado e aprimorado para outras coleções que, edi- Nesse cenário, nasce o Moderna Compar-
ção a edição, ganham novas funcionalidades como tilha, com uma proposta de uso dos mate-
rotas didáticas, aplicativos, entre outros. riais didáticos com infraestrutura tecnoló-
gica e formação para a escola se integrar à
A R EVO LU ÇÃ O D I G ITAL cultura digital. “Ele parte de uma demanda
Em 2012, a introdução dos livros digitais em HTML5 das escolas de instalar tecnologia e dispor de
coloca a empresa na vanguarda da navegabilidade. conteúdo digital, bem como da necessidade
O livro se torna mais portátil e interativo e o texto de ensinar seus professores a usá-los em fa-
fica responsivo em qualquer dispositivo móvel. “É vor do aprendizado”, explica Márcia Carva-
possível agregar vídeos, simuladores, imagens am- lho, diretora do projeto. Assim, desenvolve
pliadas e outros materiais que não estão no impres- um modelo de assessoria para os professo-
so”, acrescenta Seballos. Segundo ele, naquele ano, res, inédito no mercado editorial brasileiro,
64
65
2018
en t u si a smo
e a per sever a n ça
com qu e a pr i mor a mos a
VOZES DA
rICarDO seBaLLOs qu a l i da de de n ossos pr odutos
e ser vi ços, en r i qu ecen do- os c om
sol u ções i n ova dor a s, g er a m o am bie nte
MODERNA pr opí ci o pa r a o con tí n u o a pr endiz ado e
a pr i mor a men to pr of i ssi on a is. E sse
é o pr i n ci pa l moti vo pa r a se
Os 50 anos não poderiam ser mais bem tr a ba l h a r e vi ver n a
contados do que por aqueles que trilharam Moder n a .”
um caminho profissional e dividiram
suas histórias de vida com a empresa.
Qu a n do
a Moder na
me con vi dou
arnaLDO TeLLes pa r a tr a ba l h ar c om o
a n a l i sta de R ecu r sos Hum anos,
en con tr ei u m a mbie nte que —
a té h oje — pr op orc iona
desen vol vi me nto e
opor t u n i da de s.”
MarIsTeLa peTrILLI
Nesses Mi n h a
4 2 a no s, r el a çã o com a
ÂnGeLO XaVIer
nunc a me s e nt i no M oder n a é i n ten sa ,
me s mo l ug a r, t a ma nha ta n to pel o tempo qu a n to
a c a p a c id a d e d e re nov a ç ã o da pel a tr a jetór i a . C h eg u ei com o
e mp re s a . N ã o há rot ina . C a da di vu l g a dor, vi m do i n ter i or para a
o rig ina l q ue c a i na s ca pi ta l , ca sei , ti ve f i l h os e pa sse i por
minha s mã o s é uma toda s a s f u n ções comer ci a i s até
v id a nov a q ue ch eg a r a di r etor. Mi n h a
s urg e.” vi da a con teceu
a qu i .”
66
A M o d e rn a
t e m c o ra g e m de
p ro p o r c o is a s n ova s, Minha
c o m e mb a s a me nto. I sso h i stór i a de
HIUrY LeOneL vi da se mi st ura
fo rt a l e c e minha c on vi cçã o de
q ue t ud o q ue fazemos com a pr ópr i a Mode rna.
t e m e m s i um Foi el a qu e me deu um a nova
d ife re nc ial .” ca r r ei r a , qu e e u se que r
i ma g i n a va.”
O
Q ue m fa z ana CLaUDIa FernanDes l i vr o é u ma
l iv ro é
g r a n de si n f on i a .
a p a ix o na d o
Todos con tr i bu í mos para
p e l o q ue fa z .
u ma eta pa do pr ocesso
E e u s o u.”
a té a obr a soa r
per f ei ta men te
bem.”
67
Ten h o
Em
or g u l h o de
1 9 9 8, f ui
tr a ba l h a r em um a
re c o nhe c id a c omo
empr esa r espei tada e
p ro f is s io na l d o an o. M a i s
r econ h eci da pel a a t u aç ão étic a,
q ue o t ro fé u, o g ra n de pr êmi o
pel a a g i l i da de a o r esponde r
fo i o c e rt if ic a d o a s s ina do pel o pr ópr i o
à s dema n da s e p e la
Fe l t re. S e mp re vo u m e l embr a r
qu a l i da de de suas
d e l e d a nd o ‘ b o m di a’ pa r a
estr a tég i a s.”
t o d o mund o e n os
c ha ma nd o p el o
no me.”
Em 2 2
a n os a qu i , a
Moder n a tem si do mi n h a
M o ro p e rt o escol a , mi n h a pa i xã o, mi n h a s
d a M o d e rna con qu i sta s e, sem dú vi da ,
e s e mp re s o nhe i e m meu s son h os
t ra b a l ha r a q ui. Po r is s o, r ea l i za dos.”
t r a b a l ha r no RH e ve r o b ril ho n os
o l ho s d e q ue m e st á c o me ç a n do
uma c a rre ira é uma
d a s c o is a s ma is
g ra t if ic a nt e s.”
Já
f or ma do
em Pu bl i ci da de,
en tr ei como off ice-
A boy n a M oder n a , vi sando às
M o d e r n a me opor t u n i da des qu e a empre sa pode ria
a b riu u m mu n do me of er ecer. H oje, sou coorde nador
d e p o s s ib i l i da des, de da á r ea de I con og r af ia e
a p re nd iz a d o s, a o me en vi a r t u do qu e con str uí e
B ra s il a f or a pa r a sou devo a essa
c o nhe c e r escol a s de empr esa .”
t o d o o pa í s.”
68
H á 2 2 a no s, f ui Sa í da
a p rime ira mul he r Moder n a
a a t ua r na M o d e rna depoi s de 37 a n os
c o mo c o ns ul t o ra c o me rc ia l . de ca r r ei r a , ma s el a n ã o
D e s d e e nt ã o, a b ra c e i o d e s a f io di á r i o sa i de mi m. O ví n cu l o, i n cl usive
d e l ev a r s e u no me p a ra as de a mi za des, se ma n tém t ão
e s c o l a s, e m uma t ra j et ó r i a pr esen te qu e con ti n u o
d e a fet o s e col a bor a n do, a
re a l iz a ç õ e s.” di stâ n ci a .”
S o u g ra t o Sa í do
à M o d e rna i n ter i or de
p e l a a t e nç ã o e Mi n a s em bu sca do
o p o rt unid a d e s q ue r ecebi son h o de tr a ba l h a r e m um a
d ura nt e um d o s p e río dos ma i s edi tor a , o qu e se tor n ou re alidade
c rít ic o s d a v id a , q u a n do qu a n do a M oder n a a br i u su as portas para
p re c is e i c uid a r da mi m n o a n o pa ssa do. Vejo tantas histórias
minha s a úd e.” de cr esci men to qu e dec idi voltar
à sa l a de a u l a pa r a batalhar
pel o meu pr óxi mo sonho:
vi r a r edi tor a d a
ca sa .”
A Moder n a
é a exten sã o
d a mi n h a vi da . Nos
2 4 a no s eme m qu e estou a qu i ,
c a s e i, t ive f i l h os, per di meu s
p a is, c o mmpr
pr ei ca sa e ca r r o,
e nt re ta n tos ou tr os
ma r cos da mi n h a
hi stór i a .”
69
Soluções
locais
para um
mundo global
Richmond e Santillana Español se consolidam na
liderança do mercado de soluções para ensino de
idiomas, aliando experiência e qualidade internacionais
com a atenção para as demandas do país.
texto Lara Silbiger
“ , ” (em português, continentes europeu e americano. Já a Santillana
pense globalmente, aja localmente) é um dos maio- Español foi criada em 1991, a partir de uma parce-
res desafios que o mundo atual impõe ao ensino de ria com a Universidade de Salamanca, na Espanha,
idiomas. Ao mesmo tempo em que ele nos convida a para desenvolver conteúdos voltados ao ensino
transcender qualquer barreira — geográfica, espacial da língua e cultura espanholas para estrangeiros.
e temporal —, nos faz refletir também sobre as di- Ambas chegaram ao Brasil ainda nos anos 1990.
ferentes demandas que existem ao redor do mundo No início da década seguinte, seus títulos foram
para se aprender uma segunda língua. Nesse exercício adicionados ao catálogo de idiomas da Moderna, a
dialético do chamado glocal, equalizar as especifici- partir da incorporação da editora brasileira pela San-
dades das escolas brasileiras com a inovação e o pa- tillana em 2001. “O objetivo era aliar a experiência de
drão internacional de qualidade é a principal missão sucesso e consagração internacionais com a liderança
da Richmond e da Santillana Español (marcas-irmãs da Moderna no mercado nacional de didáticos”, ex-
da Moderna) no mercado nacional de soluções educa- plica Sandra Possas, diretora editorial da Richmond
cionais para Inglês e Espanhol, respectivamente. e da Santillana Español no Brasil. A partir de então,
A Richmond foi fundada pela Santillana em 1992, grandes investimentos foram feitos no país para ex-
no Reino Unido, para produzir e editar materiais pandir a atuação da Moderna na área de idiomas. “A
didáticos de Língua Inglesa, além de soluções para iniciativa fez parte de um esforço maior do Grupo
os professores dos mais de 20 países onde atua nos para assumir a liderança nos países onde atua.”
70
71
Ainda nesse contexto, em 2002, os dois selos caso, por exemplo, da obra Travesía Español, que
ganharam equipes editoriais próprias no Brasil. aborda o tema projeto de vida e motiva o aluno do
Elas foram encarregadas de realizar pesquisas jun- Ensino Médio a refletir sobre um tema diferente a
to a professores, bem como desenvolver e editar cada livro: autoconhecimento, vida em sociedade e
materiais adequados às nossas salas de aula. No escolhas profissionais.
ano seguinte, ambos voltaram a ter identidade e O segredo do sucesso das duas marcas no Bra-
catálogo próprios. E, dali por diante, tiveram a sil é potencializar seu olhar internacional a fim de
participação de autores brasileiros e estrangeiros encontrar a melhor solução para as especificida-
que conhecem a realidade escolar e as diretrizes des locais. “É fundamental compreender que cada
educacionais vigentes. grupo de países tem características próprias com
Hoje, a relevância das soluções desenvolvidas relação à carga horária, ao currículo, às temáticas
no país faz da Richmond reconhecida globalmente e, principalmente, ao contexto geral de aprendi-
pelo perfil inovador – além de líder de mercado na zagem de idiomas”, comenta Sandra. É com base
rede privada. No ano passado, a coleção Students for nesse conjunto de informações que nossas equipes
Peace recebeu o prêmio ELTtons, do British Council, editoriais se estruturam para atender a demanda
na categoria ‘Excelência em inovação de materiais brasileira, seja importando materiais ou criando
didáticos para ensino do idioma inglês como língua novos conteúdos por aqui. “Nossa preocupação é
estrangeira’. “Esta foi a primeira vez que uma pro- sempre estar em consonância com as metodologias
dução editorial totalmente concebida no Brasil re- mais recentes de ensino”, destaca Adriana Pedro de
cebeu tal condecoração”, comemora Sandra. Almeida, gerente de produção.
O destaque da Santillana Español é igualmente Atualmente, a Santillana possui polos de pro-
notável, tendo se consolidado como a editora de di- dução de materiais didáticos de Língua Inglesa na
dáticos de Língua Espanhola mais adotada por to- Inglaterra, México, Espanha e Brasil. Enquanto a
dos os segmentos nas escolas particulares. A inova- primeira visa ao mercado internacional, os demais
ção também é sua marca registrada, com coleções atendem ao público interno e a países vizinhos.
que trazem não só recursos didáticos e pedagógicos Hoje, as publicações criadas pela Richmond Brasil
de ponta como temáticas de vanguarda. Esse é o já são exportadas para a América Latina.
Já as produções de Língua Espanhola têm seus
polos editoriais apenas na Espanha e no Brasil. “So-
mos um mercado promissor, especialmente pela
percepção das escolas de que oferecer mais um
idioma é uma vantagem competitiva”, diz Sandra.
Vale lembrar que a expansão do Espanhol se deu
principalmente a partir de 2005, incentivada pela
Lei no 11.161/ 2005.
eQ u ipe especialiZad a
Em boa medida, o sucesso da customização e adoção
Adriana Pedro de Almeida (à esq.), Sandra Possas das soluções da Richmond e da Santillana Español
(centro) e Izaura Valverde (à dir.). no Brasil se devem à qualificação dos profissionais
envolvidos no desenvolvimento editorial. “Todos os
nossos editores de texto têm formação em Letras e
ENTENDER AS DEMANDAS DO pós-graduação. Além disso, os designers também
DESSE PÚBLICO SÃO DIFERENCIAIS QUE dutores de conteúdo, infografistas, editores, de-
signers, entre outros profissionais”, destaca Izaura
COLOCAM A RICHMOND E A SANTILLANA Valverde, gerente editorial.
72
73
Bilinguismo dinâmico
UM noVo conceito começa a ser aplicado no univer-
so do ensino de idiomas. Trata-se do bilinguismo.
Mais que ser fluente em duas línguas, ele requer que
o aluno entenda a complexidade linguística e cultu-
ral do mundo e que se adapte às inúmeras formas de
interação e comunicação bilíngues, desenvolvendo
assim a tolerância frente às diferenças. “Na prática,
tudo isso demanda um aprendizado que expanda as
fronteiras do conhecimento para além do simples
domínio de duas línguas”, explica Izaura.
Para apoiar as escolas de Educação Infantil e
Ensino Fundamental nesse desafio, o programa
Educate by Richmond oferece uma proposta edu-
cacional bilíngue baseada na aprendizagem por
meio de vivências e atividades colaborativas. “O
objetivo é consolidar o conhecimento e os novos
conteúdos de forma motivadora, inteligente e di-
vertida — por exemplo, em aulas de culinária e de
teatro, experiências científicas, com recursos im-
pressos e digitais integrados, com kits de brinque-
dos acompanhados de roteiros de aprendizagem,
entre outros”, complementa Adriana.
Educate se vale do método da pedagogia de
projetos e pode ser implementado no turno ou
contraturno da escola, bem como na grade ou
no currículo estendido. O programa ainda ofere-
ce coaching para os professores, treinamentos,
acompanhamento pedagógico contínuo e pro-
gressivo e certificações internacionais TOEFL e de
Cambridge (para os alunos e professores).
74
Conteúdos alinhados
com os assuntos estudados
nas outras disciplinas.
NOSSOS
IS
DIFERENCIA
• Desenvolvimento
de competências
socioemocionais.
• Multiculturalismo.
• Integração entre
o livro impresso e
os recursos digitais.
• Metodologias ativas –
o aluno como
protagonista do seu
aprendizado.
Aberturas
de unidade
Entre em contato com o consultor Richmond da com uma
aba interativa
sua região ou solicite uma visita pelo e-mail:
richmondbr@richmond.com.br
A M E N TO
LANÇ
Totalmente alinhada à BNCC.
Nossos diferenciais
Coleção Multiplataforma
Experiência de Certificações
aprendizagem completa internacionais
Desenvolvimento Assessoria
profissional progressivo de marketing
Parcerias estratégicas
Design thinking:
espantos,
coletividades
e rituais na
educação
Como uma abordagem vinda de
outra área do conhecimento pode
apoiar processos de ensino e de
aprendizagem mais significativos?
texto Priscila Gonsales ilustração Guilherme Aranega
80
Por serem vozes contemporâneas, Rubem Al- cos da época com o fazer artesanal sob medida de
ves e Edgar Morin convalidam o que muitos outros antes, mais personalizado, centrado nas pessoas
pensadores notórios da educação já ressaltavam no usuárias daqueles produtos ou serviços. Despon-
passado em relação à importância da aprendizagem tava aí o conceito-chave do Design Thinking:
significativa, do professor como um facilitador, combinar qualidade estética com funcionalidade
da cooperação em equipe e, substancialmente, do e utilidade.
preparo para um futuro incerto. Mas o termo Design Thinking, de fato, come-
çou a ser popularizado nos anos 2000 pela IDEO,
PAU SA PAR A U M S U S PI RO premiada agência de inovação do Vale do Silício,
Em pleno 2018, ainda temos muito o que caminhar na Califórnia (EUA), cujos fundadores são profes-
nessas premissas. É certo que avançamos em rela- sores Escola de Design da Universidade de Stan-
ção a vislumbrar possibilidades de integração das ford (D School). No Brasil, chegou formalmente em
tecnologias digitais na educação, considerando 2010 por meio de cursos de extensão universitária
tantas plataformas multimídias existentes, apli- e menção em grandes eventos como a conferência
cativos móveis ou mesmo ferramentas adaptativas TED no Rio de Janeiro.
focadas nas avaliações oficiais. Podemos definir o Design Thinking (DT) como
Mas será que é possível dizer que estamos na um novo jeito de pensar e abordar problemas ou,
mesma toada em relação a mudanças e transforma- dito de outra forma, um modelo de pensamento
ções profundas nas pedagogias, nos tempos e espa- que coloca as pessoas no centro da solução de um
ços ou na promoção de atitudes e valores? Será que problema. Isso porque os designers não pensam so-
estamos rigorosamente em dia com os quatro pi- mente na beleza estética de um produto ou serviço,
lares da educação elencados pela Unesco em 1996: mas também na funcionalidade para quem vai uti-
aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a lizá-lo. Essencialmente, o DT funciona como uma
conviver e aprender a ser? abordagem a partir de três pilares que se inter-re-
Mudar é sempre difícil. É uma ação que gera, lacionam: empatia, colaboração e experimentação.
inevitavelmente, desequilíbrio. Sair da chamada Nesse sentido, e é muito importante frisar, o DT, ao
zona de conforto, arriscar novas posturas e práti- contrário do que possa parecer, não é uma metodo-
cas. Talvez por isso que ainda vemos tantos casos logia de ensino.
e projetos educativos em que a mudança se dá so-
mente do suporte físico para o digital. DESIGN THINKING
Nesse contexto, surge um assunto relativamente CO M O U M A ABO R D AG EM
desconhecido, que já chegou chegando no mundo Não é raro encontrarmos o DT sendo anunciado
da educação: o Design Thinking. A boa notícia é como “metodologia inovadora” ou mesmo como
que, embora pareça distante e pertencente a outra meio de “criar inovação”. O DT não tem essa pre-
área do saber, o DT tem muito mais conexão com tensão, é preciso ficar claro. O DT é uma aborda-
educação do que se pode imaginar. A começar pela gem. Bastante poderosa, sem dúvida, se for bem
quantidade considerável de “espantos” que ele utilizada. Ou seja, tudo vai depender das pessoas
pode gerar nos estudantes, nos professores, nos envolvidas no processo e da colaboração entre elas.
gestores e na comunidade escolar. Antes de continuar, é importante compreen-
der bem como os três pilares são fundamentais
O QUE É DESIGN THINKING ? quando se reconhece uma prática educativa de
Não há como traduzir a palavra “design” para a Lín- qualidade. Empatia é uma habilidade social de se
gua Portuguesa. Pode significar projeto, concepção colocar no lugar de outra pessoa e compreender,
ou criação, a depender do sentido e do contex- sob a perspectiva dessa pessoa, sentimentos, sen-
to. Como área formal de conhecimento, o Design sações, formas de se relacionar, de trabalhar e de
surge no final do século XIX, no auge da Revolução agir. Colaboração significa cocriação, acreditar que
Industrial, mas foi no início do século XX que pas- uma boa ideia surge da somatória de várias ideias. E
sa a ganhar força, especialmente com a criação da experimentação evidencia a importância de testar
Escola Bauhaus, na Alemanha, até hoje referência possibilidades, considerar hipóteses, valorizando
de vanguarda artística. as tentativas (protótipos) e os erros como partes
Um dos legados da Bauhaus foi mostrar a im- primordiais de qualquer aprendizado.
portância de desenvolver produtos e serviços a O que o Design Thinking traz, de fato, para a
partir do equilíbrio entre os avanços tecnológi- educação é a possibilidade de encarar seus desa-
82
DT E A I N OVA ÇÃ O NA ED U CAÇÃO
VANTAGENS
Se tem uma palavra que fica martelando na mente
dos profissionais da educação e cuja definição, de
certa forma, depende de interpretações subjetivas,
essa palavra é inovação. Meu projeto é inovador?
Uma nova ferramenta digital é inovadora? Nossa
proposta curricular é inovadora? São muitas as dú- DO DESIGN THINKING
NA EDUCAÇÃO
vidas e respostas possíveis. Para o Design Thinking,
no entanto, inovação tem a ver com valor percebi-
do pelas pessoas e isso, normalmente, não é ime-
diato, depende da apropriação, da utilidade de um
produto ou serviço na vida das pessoas. A inovação Facilitar a mediação da
no DT não surge, é consequência. aprendizagem, pois o
Um exemplo desse conceito de inovação como educador sugere, provoca,
consequência e que tem a ver com experimenta- instiga e suscita que os estudantes
ção é o uso dos famosos post-its. Poucas pessoas façam muitas perguntas e busquem
sabem que o produto não foi lançado exatamente eles mesmos as possíveis respostas;
como é hoje. Bem longe disso, ele foi resultado de
uma cola que “não deu certo”, pois era fraca, não Planejar um trabalho
grudava direito. Algum tempo depois, alguém viu diversificado com perfis
que poderia usar aquele papel que colava e desco- de alunos, incluindo
lava com facilidade em diversas superfícies, para aulas invertidas (ensino híbrido),
manter anotações em uma agenda, por exemplo, para privilegiar a troca e o
ou organizar ideias em uma reunião. Tal possibi- compartilhamento de descobertas
lidade foi se alastrando entre as pessoas até que se no momento presencial;
pudesse categorizar o produto como inovador. Em
resumo, o produto, serviço ou projeto criado preci- Organizar reuniões de
sa ser comprovadamente útil e apreciado por quem formação de professores,
vai usufruí-lo. Sem isso, não existe inovação sob a para torná-las mais
perspectiva do DT. efetivas, priorizando desafios que
Outro aspecto importante relacionado à ino- precisam ser solucionados;
vação é que ela não acontece apenas “fora da cai-
xa”, mas também “dentro da caixa”, ou seja, nem Criar dinâmicas para
sempre é possível estabelecer grandes mudanças sensibilização das
de gestão ou de processos para que haja inovação. famílias, visando maior
Apenas “pensar fora da caixa” não é o bastante, participação no cotidiano escolar.
mas sim considerar os entraves existentes e buscar
alternativas de enfrentá-los.
83
O que pensa?
O que vê?
O que fala?
O que escuta?
Desafio: O que sente?
Como podemos... ? Quais suas dores?
O que faz?
O objetivo é olhar para o(s) problema(s), compreendê-
lo(s) e refiná-lo(s), transformando-o em um desafio de Quais seus objetivos?
“design”. Vale a pena escolher um problema por vez.
Mas, como chegar ao desafio? Vamos lá!
84
85
Usar o DT na educação pressupõe empreender versa com o grupo envolvido. Compartilhar ano-
processos inovadores dentro de modelos estrutu- tações e registros de pensamentos, observações e
rais pouco flexíveis (alguém lembrou de escola?). histórias é fundamental.
Somente a colaboração entre as pessoas e alguma
dose de ousadia vão permitir solucionar desafios
com criatividade. Motivar e mobilizar para a ação
Momento conhecido como brains-
torming em que todos os participantes apre-
sentam diversas ideias por meio de palavras ou
tem tudo a ver com DT, ainda mais na educação. desenhos. Sem preocupação com seleção, o impor-
Sem dúvida, estamos falando aqui de coletivi- tante é a quantidade.
dade, de atividades em equipe, cooperação entre
pares. No entanto, mesmo sozinho em sala de aula,
o professor pode criar metodologias baseadas no
Essa é a fase para dar vida às
ideias. Criar protótipos para torná-las ideais
tangíveis e depois apresentar a outras pessoas que
Design Thinking para trabalhar diferentes assun- possam analisar e dar sugestões para refinar a ideia.
tos. A abordagem pressupõe intencionalidade pe-
dagógica, claro, mas não se pode confundi-lo com
metodologia de projeto, pois existe sempre um ele-
Uma vez criado o projeto, é impor-
tante planejar os próximos passos para que ele
seja realizado e também acompanhado e avaliado. A
mento inesperado a ser considerado no processo e, construção e o aprendizado são permanentes.
principalmente, o erro (o não dar certo). Vejamos o gráfico com as fases do DT na educa-
Uma das principais referências em formação do- ção. As duas primeiras, Descoberta e Interpreta-
cente, o pedagogo norte-americano Donald Schön, ção, correspondem à “empatia”, ou seja, primeiro
em seu livro Educando o Profissional Reflexivo: é preciso levantar informações, pesquisar, observar
um Novo Design para o Ensino e a Aprendizagem as pessoas envolvidas e, em seguida, analisar e fa-
ressalta o componente surpresa da prática educati- zer escolhas. A terceira fase chama-se Ideação, para
va como geradora de conhecimento e também uma enfatizar o momento da “colaboração”. A quarta
possibilidade de refletir no meio da ação, sem preci- fase é a Experimentação, quando se planeja e se cria
sar interrompê-la e, se preciso for, dar nova forma protótipos. Observe que logo após a Experimenta-
a essa mesma prática. Schön já antevia os benefícios ção vemos uma quinta fase, a Evolução, bastante
do DT para a educação. pertinente para a educação, pois envolve avaliação
e acompanhamento constante das soluções e/ou
DI SSE M I N AN D O RIT U AIS projetos criados.
O Design Thinking na educação pode ser visto como O Design Thinking para Educadores tem sido
uma ritualização de boas práticas educativas. Ritualizar utilizado no desenvolvimento do projeto Aprender
significa criar um ritual, algo presente em diferentes a Conviver, realizado pela Universidade Federal do
culturas e que envolve, na maioria das vezes, a realiza- Paraná (UFPR) em parceria com a Secretaria de Edu-
ção e o compartilhamento de técnicas, procedimentos, cação Continuada, Alfabetização, Diversidade e In-
hábitos ou regras ao longo dos tempos, por gerações. clusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC).
Isso significa que o DT não traz em si uma ino- O objetivo é melhorar a convivência escolar em 114
vação para a educação se não possibilitar que no- escolas de Curitiba (PR) e região metropolitana e
vas práticas surjam e outras já consistentes possam oferecer formação teórica e prática para cerca de 350
continuar sendo feitas continuamente ao longo dos educadores, visando a adoção de estratégias eficazes
tempos. Ao conhecer ou vivenciar as fases do DT, para o combate ao bullying e para o monitoramen-
muitos educadores vão se reconhecer em várias si- to e atendimento de múltiplas formas de violência,
tuações e dinâmicas. Por isso, o DT na educação re- preconceito e discriminação na escola, a partir da
mete a aplicar boas práticas pouco sistematizadas, perspectiva da educação e direitos humanos.
reconhecidas e valorizadas. Ou seja, permite evi-
denciar o processo como um resultado em si mesmo. FO CO NA CO NVIVÊNCIA ESCO LAR
Um estudo recente da Unicef revela que 43% dos
AS E TAPA S D O DESIGN THINKING estudantes sofreram bullying nas escolas. Esse dado
86
DeSIGN THINKING X
Quanto mais pessoas estiverem comprometidas
na busca de soluções para um problema, mais fácil é
encontrar as soluções. Com esse pressuposto, cur-
METODOLOGIA DE PROJETO
sos on-line e oficinas presenciais são oferecidas aos
educadores, coordenadores e gestores das escolas
para que todas as escolas passem juntas por cada
uma das fases do DT e possam trocar experiências e
difundida na desenvolvimento; não se aprendizados entre si.
educação, a metodologia de almeja, necessariamente, “Queremos apoiar as escolas a criarem planos
projeto (ou aprendizagem chegar a um projeto de ação inovadores para essa temática e o Design
baseada em projetos) visa a específico como resultado. Thinking é a abordagem ideal, pois permite mobi-
propiciar ao estudante uma É aqui que surge o lizar toda a comunidade para colaborar em prol de
aprendizagem significativa, elemento surpresa, que um desafio comum que é melhorar a convivência,
gerar motivação e integrar o pensamento abdutivo além de incentivar o diálogo entre as escolas par-
disciplinas. Design Thinking e enfatiza, se sobressai. ticipantes para compartilhamento de caminhos
metodologia de projetos têm Da mesma forma, não e soluções possíveis”, ressaltou o coordenador do
origens e enfoques diferentes, devemos nos referir ao DT projeto, professor Josafá Moreira da Cunha.
mas guardam semelhanças: como uma “metodologia Conviver tem a ver com estabelecer relações e isso
Analisar o problema
e definir objetivos (no
DT chamamos de “desafio”);
ativa”, não apenas porque o
DT não é metodologia, mas
também porque qualquer boa
acontece o tempo todo no ambiente escolar, por isso
precisa ser tema central das instituições de ensino.
Para resolver conflitos, é fundamental falar sobre
Planejamento
do projeto (no DT
buscamos entender o
prática educativa considera o
estudante como sujeito ativo
no processo de aprendizagem.
eles, refletir e debater sobre respeito às diferenças.
Nesse sentido, o DT oferece um potencial gigante para
apoiar os formatos e atividades baseadas em empatia,
contexto e as pessoas Muitas escolas hoje colaboração e experimentação de possibilidades.
envolvidas); criam projetos pedagógicos
Desenvolvimento
e execução
(no DT também há
que pouco representam
novas concepções de
aprendizagem. A maioria
uma ação a ser feita). ainda cumpre o tradicional é diretora-executiva do Instituto Educadigital. Atua
na área de educação e tecnologia digital desde 2001,
O DT pode ser usado objetivo de favorecer a desenvolvendo projetos e formações em recursos
como abordagem no acumulação de conteúdos, educacionais abertos e Design Thinking para Educadores.
desenvolvimento da em um enfoque apenas
h Design Thinking para Educadores: www.dtparaeducadores.org.br
metodologia de projetos, cognitivo. Mas educar não é
h Design Thinking e a Ritualização de Boas Práticas Educativas:
mas não é a metodologia só isso. Educar envolve vários www.gg.gg/LivroNovoDTE
de projetos. Outra diferença outros aspectos complexos h Documentário Rubem Alves: youtu.be/eBomNDrqn1s
h Escola de Design da Universidade de Stanford: dschool.stanford.edu
substancial é que o Design como afetividade, emoção,
h Criativos da Escola: criativosdaescola.com.br
Thinking considera a espiritualidade, ética,
h Comunicação não-violenta: https://goo.gl/ZfNYxz
imprevisibilidade em seu convivência, dentre outros. h Projeto Aprender a conviver: http://conviver.ufpr.br
h Estudo Unicef bullying: http://mod.lk/unicef1
Fonte: Design Thinking e a Ritualização de Boas Práticas Educativas, Educadigital, 2018.
87
A cor do narizinho
mais querido do Brasil
As aventuras e reinações literárias de Monteiro Lobato
rendem bons debates. Vamos adentrar as porteiras
do Sítio do Picapau Amarelo e conhecer mais sobre alguns
dos personagens mais queridos da literatura brasileira.
texto Pedro Bandeira ilustração Pedro Correa
sete décadas da morte de Monteiro Lobato, estamos o falecido Rubens de Barros Lima, contou-me que, nos tem-
cansados de ouvir um furioso alarido de detratores procuran- pos em que foi diretor da extinta Companhia Editora Nacional,
do destruir sua memória: numa conversa com Octalles Marcondes Ferreira, o fundador
— Racista! da editora, e outros três diretores, concluíram que um livro de
— Eugenista! receitas poderia ser um sucesso editorial. Assim nascia Dona
— Supremacista branco! Benta – Comer bem, publicação famosa até hoje, cuja capa con-
Está bem, está bem! É verdade que Lobato fez afirmações tou com o talento de Augustus, um dos ilustradores dos livros
absurdas, chegando, em uma carta para o médico Arthur Nei- do Sítio do Picapau Amarelo. Na vistosa capa, vemos Dona Ben-
va, a defender a criação, no Brasil, de um similar da crimino- ta erguer um cheiroso bolo observada por seu neto Pedrinho
sa Ku-Klux-Klan. Barbaridade! Sim. Também é verdade que, (um menino loiro como um inglesinho da gema). “Mas como?
pretendendo fazer humor, ele pôs na boca de pano da boneca – argumentou-se. – Dona Benta era uma intelectual que nem
Emília desaforos racistas impiedosos contra a pobre Tia Nastá- entrava na cozinha! A cozinheira do Sítio era Tia Nastácia!”. E
cia. Mas terá José Bento Monteiro Lobato sido somente isso? O essa objeção foi calada pelo próprio Octalles: “Ora se eu puser
que é uma pessoa? É uma só? Creio que não. Para mim, cada um uma negrona dessas na capa, ninguém vai comprar esse livro!”.
deve ser avaliado pelo conjunto de suas ações, de seus feitos, de Mas não é esse aspecto lobatiano que eu abordarei. O que eu
suas ideias. Se, ao final da análise, a balança pender para o lado quero mostrar é o bem que Lobato fez a mim, o escritor Pedro
mais obscuro, tudo bem, ou tudo mal: posso concluir que esse Bandeira. Eita, Lobato velho de guerra! O pai de todos, o fura-
analisado terá sido uma pessoa má. -bolos e o mata-piolhos de uma mão da qual eu adoraria ter sido
E Lobato? Quantos Lobatos e quantos Monteiros há em sua pelo menos o mindinho, mas de onde só consegui tornar-me o
trajetória? Será que a maior parte do que ele nos legou foi ódio? “seu-vizinho”. Desde pequeno confesso-me um “filho de Lo-
Tenho certeza de que não, mas não pretendo discutir nem de- bato”. Depois de tornar-me escritor, muitas vezes retornei a
fender o lado sombrio de sua personalidade multifacetada. De seus livros e, a cada releitura, minha admiração por seu talento
que adianta argumentar que na primeira metade do século só aumentou. Quando eu o lia e relia, cada vez encontrava mais
XX o mundo era racista? Que o Brasil era racista? (Ah, e não é razões para amar suas histórias. Isso porque sempre o li, pri-
mais?) Que por aqui, até a 2a Guerra Mundial, a Alemanha na- meiro como admirador, e em seguida como aprendiz.
zista gozava do maior apoio? Que os descendentes de africanos Não sei quantos autores podem gabar-se de terem sido, ao mes-
arrastados à força para cá jamais foram plenamente emancipa- mo tempo, o maior autor infantil de seu país em todos os tempos e
dos? E que só aos poucos nossa sociedade vem discutindo mo- também o maior contista para adultos de sua geração. Desculpem,
dos de fazer com que, na prática, a afirmação de que no Brasil mas, para ocupar o ponto mais alto desses dois pódios, só posso ci-
todos são iguais venha um dia a corresponder à verdade? tar Monteiro Lobato. Sem o trabalho dele, não sei como eu e tantos
Dou um pequeno exemplo de tal racismo: um amigo meu, outros autores para crianças teríamos nos formado.
88
89
A partir daí, tudo é reflexo da imaginação sonhadora da imaginação fervilhante de Narizinho, da mesma forma como se
menina de 7 anos: sua boneca de pano consegue falar, um ca- mudaram de malas e bagagens para a minha pequena e solitária
ramujo cura todas as doenças, uma aranha costura vestidos imaginação e para o imaginário das crianças do meu tempo!
belíssimos, um sabugo vira um sábio de cartola, um leitão fala De tudo, Lobato lançava mão: numa história eslava conta-
bobagens, um burro filosofa, um rinoceronte gramatiqueia, da de avó em avó, um menino chamado Piotr sai à caça de um
toda a mágica acontece com as mentes dos pequenos brasilei- perigoso lobo acompanhado apenas de um gato, de uma pata
ros acompanhando o poder da imaginação do autor. Emília fala e de um passarinho. Mais ou menos ao mesmo tempo em que
porque assim a imaginou Narizinho e tudo o mais é produto de Lobato (1924) inspirava-se nesse conto para criar A caçada da
sua criatividade, desde o dragão da Lua até o pó de pirlimpim- onça, Sergei Prokofiev compunha sua famosa suíte Pedro e o
pim. Emília, Visconde, Rabicó, Quindim, o Burro Conselheiro e Lobo, sem que um soubesse dos planos do outro... Mais tarde,
Faz-de-Conta são criações da inventividade de Narizinho. em 1931, Lobato viria a ampliar A caçada da onça para publicar
E o menino Pedrinho? É o mais fraco de todos os personagens Caçadas de Pedrinho, introduzindo o episódio da vingança das
do Sítio. Não pensa nada, não imagina nada, nada resolve. É uma feras e da defesa com as pernas de pau, rematando com o episó-
empada! Até no livro criado para dar-lhe protagonismo ele não dio da não caça ao rinoceronte, descaradamente chupado de O
serve para coisa alguma. Em Caçadas de Pedrinho, o menino se rapto do elefante branco, genial conto de Mark Twain, publica-
propõe a matar uma onça que assombra os sitiantes ao devorar- do no século anterior. De tudo ele se aproveitava, desde “inspi-
-lhes os leitões e parte à caça com Narizinho, Emília, o Visconde e rações” como esta do Twain até a apropriação indevida de Peter
o porquinho Rabicó. Mas é só, pois é a fome do leitão que descobre Pan, um personagem de James Barrie acabado de sair de um
o esconderijo da onça e são os besourinhos da Emília que denun- forno inglês e ainda muito longe de cair em domínio público...
ciam os planos de vingança dos animais ferozes. E, mais tarde, será Costumo pensar e argumentar com meus colegas escritores
também da boneca a ideia das salvadoras pernas de pau e das gra- que a vida de todo ser humano pode ser comparada às camadas
nadas de vespas para livrar a todos do ataque das feras vingadoras. de uma cebola. Nascemos bem no miolinho dela e, ali encerra-
Pedrinho é figurante. Até em O saci, seu papel é ouvir sobre di- dos, só vemos a primeira pequena camada que nos envolve. Só
ferentes entidades do folclore brasileiro, de norte a sul do país. Anos sabemos da mãe e do seio que nos alimenta; nem desconfiamos
depois, na certa por pena de seu personagem, Lobato faz o menino das outras camadas. Aos poucos, vamos tomando contato com
proibir Narizinho de participar de Os doze trabalhos de Hércules mais uma camada, primeiro aquela que contém um pai, depois
e lá parte ele para a Helade só para assistir Emília e Visconde lide- uma avó, logo algum irmão... Notam quando uma amiga vem fa-
rarem as aventuras. Provindo da “capital” para o “isolamento” do lar com a gente com seu bebê de um ou dois anos no colo? Notam
sítio, Pedrinho se deixa levar pela imaginação da prima e tudo o que como a criança nos estranha? Notam como ela recua e se encolhe
faz durante as aventuras é enfurecer-se com os perigos ameaçan- quando a gente tenta acariciá-la? É claro! Nós vivemos em uma
do-os com “bodocadas”, como no Vale do Paraíba eram apelidadas camada da cebola que ela desconhece! Mais tarde, lá pelos 4 ou
as “estilingadas”. Lobato errou quando criou um personagem que, 5 anos, o ser humano já conquistou outras camadas, já sabe que
vivendo na cidade, dela nada traz, nenhuma informação urbana, há uma professora, a sala de sua escolinha, colegas com quem
dos progressos, de sua escola, nada! Ele age como se tivesse nascido interagir. Para esse pequeno ser, não há nem ideia de que haja
e sido criado naquele sítio. Esqueçamos Pedrinho. outras camadas acima dela, que haja bairro, cidade, país, mundo.
Voltemos a Narizinho. Muito antes de a psicologia mapear É por isso que Piaget nos ensina que somente a partir dos 12 anos
os cérebros infantis em seu desenvolvimento, Lobato já intuía o ser humano consegue entender que há países, que há oceanos,
o que se pode chamar de “menina”. Alguém que não mais é uma que há uma imensidão de camadas da cebola que ele agora pode
criança e que ainda não se pode chamar de pré-adolescente. Na- compreender e abarcar com sua inteligência, mesmo sem preci-
rizinho é o perfeito quadro do que foi, é e sempre será uma “me- sar estar pisando nesses territórios tão distantes.
nina de 7 anos”. Ele observou que essa é a idade da imaginação Assim, entendemos que, para comunicarmo-nos com al-
solitária, da criação ermitã de mundos maravilhosos, o momen- guém, temos de adaptar nosso discurso de acordo com o que essa
to em que se começa a aprender a ler e, genialmente, adivinhou pessoa domina das camadas da cebola onde está e por onde pas-
que a menina traria para dentro de si (o espaço mágico do sítio) sou. Se encontramos uma criança de 3 anos, nosso discurso vira
os personagens dos mundos de aventuras e de fadas dos livros tatibitate e falamos com ela afinando a voz, perguntando-lhe
que agora é capaz de ler. Brilhante! E é por isso que, em Rei- “como é seu nominho?”, “quantos aninhos você tem?”, “cadê
nações, ocorre a invasão de todos os personagens dos Grimm, mamãe?”... Se nosso interlocutor é um adolescente, pergunta-
de Andersen, de Perrault, de Barrie, das Mil e uma Noites, de mos a ele qual sua banda predileta, para qual time torce e demais
tudo o que existia na Literatura infantil do seu tempo – tudo são detalhes que supomos ser camadas da cebola que ele já domina e
as leituras de Narizinho! E, então, é lógico que uma menininha onde se sente confortável. Nem ousamos, porém, citar detalhes
de 7 anos fosse apresentada à grande novidade do cinema mudo de camadas que ele já ultrapassou, pois na certa ele dirá que “isso
e “traria para o sítio” o Gato Félix, o caubói Tom Mix, Shirley é coisa de criança!” e não falamos das que ele ainda não atingiu,
Temple e o marinheiro Popeye! Sim! Os personagens virem a ha- pois na certa ele se desinteressará de nosso discurso. Por outro
bitar o Sítio do Picapau Amarelo equivale a eles instalarem-se na lado, se é com um adulto que nos encontramos, nosso discurso
90
91
Fomentar o desenvolvimento
da educação e a redução das
desigualdades educacionais. Esta é
a missão da Fundação Santillana,
que atua para beneficiar
estudantes, educadores e
instituições de ensino por meio do
estímulo e qualificação do debate
MKT • MODERNA
e promoção da educação cidadã.
fundacaosantillana.org.br
fb.com/fundacaosantillana
pano ram a
Uma rede
de soluções
Como um esforço
combinado de várias
iniciativas pode mudar
a Educação Brasileira.
texto Priscila Cruz
ilustração Otavio Silveira
94
educadores, técnicos ou profissionais da Educação conhe- o q u e po d em o s fazer ag o r a?
cem as limitações e os inúmeros desafios que surgem quando Diagnosticar com qualidade os desafios e elaborar
entramos em uma sala de aula, ocupamos uma mesa de dire- políticas com base em evidências e experiências exi-
ção ou um gabinete na Secretaria de Educação, para não citar tosas pode ser a chave para que, em um curto espaço
as outras dezenas de funções envolvidas no processo de ensi- de tempo, o ensino brasileiro retome o pulso. E, na
no-aprendizagem. A situação é, para muitos, uma longa jor- verdade, algumas iniciativas dentro desse processo já
nada solitária, dentro e fora da escola. De um lado, o público estão em andamento, mas precisam ser reforçadas.
em geral sabe muito pouco sobre os bastidores da Educação
e suas particularidades; de outro, faltam redes de cooperação
bem organizadas dentro e fora da escola que aumentem a ve-
① pne A primeira delas, como não po-
deria deixar de ser, é o Plano
Nacional de Educação (PNE), que, em 20 grandes
locidade das tomadas de decisão, impactando positivamente o metas, estabelece o norte para diferentes áreas edu-
acesso, a permanência e a aprendizagem dos alunos. cacionais. O documento foi um marco para a Educa-
Esse descompasso não aparece apenas nos testes interna- ção do país, mas ainda precisa de uma estratégia de
cionais e nacionais, ainda que eles sejam o termômetro mais execução para vencer os atrasos no cumprimento de
evidente; ele surge, sobretudo, no dia a dia escolar, na verba suas metas – hoje, conforme levantamento do Mi-
que não chega, nos professores e diretores sobrecarregados e nistério da Educação (MEC), apenas uma das ações
nos estudantes que vão à escola, mas não aprendem. Em um foi cumprida. Tirar o plano do papel, portanto, exi-
país como o Brasil, em que uma de suas faces mais nefastas é girá de nossos próximos governantes uma visão de
a desigualdade social, a falta de estratégia no apoio à Educa- curto e médio prazo que dê atenção à continuidade
ção atinge com mais dureza os estudantes em situação de mais das políticas públicas.
② bncc
vulnerabilidade. Enquanto entre os jovens mais ricos, a taxa Outro tópico cujo prosse-
de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos é de 85%, entre os guimento é essencial é a
mais pobres, o índice é de apenas 41,8%. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Edu-
Mudar essa rota não é um problema nem de professores, cação Infantil e do Ensino Fundamental. Se qui-
nem de familiares, nem de alunos e nem de gestores educa- sermos transformar o futuro da escola e, no pro-
cionais individualmente, mas de toda a sociedade brasileira. A cesso, o do Brasil, a mudança precisa enfrentar a
situação exige um ataque estratégico, um esforço combinado e crise de aprendizagem em que vivemos. Dito de
inteligente de vários setores e profissionais da Educação, para outra maneira, é urgente aprimorar o tempo de
criar uma rede de políticas públicas que se influenciem mutua- ensino-aprendizagem dentro das salas de aula. Ao
mente, reforçando as características positivas umas das outras. contrário de ser a causa dos problemas, os alunos
que não aprendem são, na verdade, uma das con-
par a u m s alto n a e d u ca çã o : e d ucação j á! sequências de um sistema de ensino que há mui-
Desse diagnóstico nasceu o Educação Já!, uma iniciativa su- to não tem conseguido cumprir seu dever. A Base
prapartidária liderada pelo movimento Todos Pela Educação e Nacional pode colaborar para mudar esse quadro.
formada por um grupo plural de especialistas, movimentos e O documento deve guiar (e não engessar!) mais
instituições. Guiados pela pergunta “O que devemos fazer para de cinco mil redes de ensino na elaboração e adap-
dar um salto na Educação nos próximos anos?”, o grupo aponta tação de saberes mínimos para crianças de todo o
prioridades que podem impulsionar a Educação brasileira nos país. A BNCC é uma oportunidade para que as redes
próximos quatro anos de gestão (2019-2022), como uma base e escolas discutam sobre o que, como e para que seus
nacional de aprendizagem, alfabetização, Ensino Médio, pro- alunos aprendem. Além disso, o texto é uma chance
fessores, governança e gestão e, por fim, financiamento. A si- de potencializar a atuação dos educadores que pas-
nergia entre essas ações combinadas pode alterar as trajetórias sarão a ter um referencial para guiar os conteúdos
escolares e de vida de milhares de brasileiros. dados em classe. Para a Educação Infantil, por exem-
A ideia é que, na hora de estabelecer planos para a Educação, plo, esse é um acontecimento inédito.
o próximo Presidente da República e os governantes estaduais
levem em conta tais propostas e compreendam que uma polí- o nd e pr ecisam o s avançar ?
tica pública de Educação isolada tem efeito limitado, mas em h professores Apesar de algumas iniciativas re-
conjunto, é possível transformar o país. A insistência na ideia levantes, há muito a se fazer para criar um leque de
do conjunto não é insignificante, pois ações combinadas podem políticas públicas bem amarradas. Especialmente
desencadear um círculo virtuoso, onde uma apoia as demais. no que diz respeito aos professores. Ao olharmos
96
97
Educar
cidadãos globais
para manter
a paz no mundo
A educação é a principal ferramenta para
combater um mundo cada vez mais intolerante.
texto Fernando M. Reimers tradução Rafael Spigel ilustração Vinícius Matsuei
em 1925, o professor Isaac Kandel, da Universida- to causados pela guerra e sentiu, à época de seu discurso, como
de Columbia, discursou para a associação de dire- a paz é frágil, como o conflito nunca está tão distante e como
tores de escolas do ensino médio e defendeu vee- a paz requer o cultivo de disposições. Outros educadores que
mentemente a educação para a cidadania global. sobreviveram às duas guerras tiveram percepções semelhan-
Ele argumentou que se as escolas norte-americanas tes sobre a importância da educação para a paz. Em seu famo-
não preparassem seus alunos para uma compreen- so discurso sobre Paz e Educação em 1932, Maria Montessori
são global, os Estados Unidos não se tornariam um defendeu uma pedagogia que motivasse a criança a fazer esco-
poder para a paz, mas sim um poder para a insta- lhas e contestou a educação autoritária, que preparava o aluno
bilidade no mundo. Kandel fez tal discurso apenas para seguir governantes autoritários. Seu discurso foi publi-
sete anos após o fim da Primeira Guerra Mundial e cado pelo Bureau Internacional de Educação da Unesco, do
14 anos antes do principal conflito global que estava qual Jean Piaget era diretor. Anos mais tarde, o próprio Piaget
por vir. Nascido na Romênia e tendo imigrado para escreveria uma biografia de Jan Amos Comenius, destacando
os Estados Unidos, ele conhecia a dor e o sofrimen- o papel de Comenius na promoção da educação para a paz.
98
c on f ir a o
making of
d a c r iaç ã o
d o g r af ite:
mod.lk/educagra
100
1 2 3
Até 2030, Implementar, Até 2030, garantir
reduzir pelo em nível que todos os
menos à metade nacional, homens e mulheres,
a proporção de medidas e sistemas particularmente os pobres e
homens, mulheres e de proteção social vulneráveis, tenham direitos
crianças, de todas as adequados, para todos, iguais aos recursos econômicos,
idades, que vivem na incluindo pisos, e até bem como o acesso a serviços
pobreza, em todas 2030 atingir a cobertura básicos, propriedade e controle
as suas dimensões, substancial dos pobres e sobre a terra e outras formas de
de acordo com as vulneráveis. propriedade, herança, recursos
definições nacionais. naturais, novas tecnologias
apropriadas e serviços financeiros,
incluindo microfinanças.
4 5 6
Até 2030, Garantir uma mobilização Criar marcos
construir a significativa de recursos políticos
resiliência dos a partir de uma variedade sólidos em
pobres e daqueles em de fontes, inclusive por meio níveis nacional, regional
situação de vulnerabilidade, do reforço da cooperação e internacional, com
e reduzir a exposição e para o desenvolvimento, para base em estratégias
vulnerabilidade destes proporcionar meios adequados de desenvolvimento
a eventos extremos e previsíveis para que os países a favor dos pobres e
relacionados com o clima e em desenvolvimento, em sensíveis a gênero, para
outros choques e desastres particular os países menos apoiar investimentos
econômicos, sociais e desenvolvidos, implementem acelerados nas ações de
ambientais. programas e políticas para erradicação da pobreza.
acabar com a pobreza em
todas as suas dimensões. Fonte: Nações Unidas
101
Alcançar cada uma dessas metas requer ações como forma de alavancar a inteligência coletiva. Elas podem se
específicas que, por sua vez, requerem capacidades adaptar dinamicamente ao feedback decorrente dos ciclos rápidos
específicas. Como essas metas globais só podem ser da experimentação e podem aumentar o aprendizado decorrente
alcançadas se as comunidades locais fizerem a sua de ciclos similares que ocorrem concomitantemente em diversos
parte, elas necessariamente implicam em ações e cenários. Nesse sentido, as redes profissionais têm um potencial
escolhas feitas por muitas pessoas ao redor do mun- inerente para aprendizagem e adaptação que foge das formas mais
do. Proporcionar às pessoas as capacidades para fa- convencionais de produzir currículo e livros didáticos.
zer escolhas e tomar atitudes é tarefa da educação.
Ao envolver os educadores na análise de quais ③ aprender
fazendo
competências são necessárias para alcançar as metas, Os profissionais devem necessariamente experimentar como
e, por sua vez, discernir quais pedagogias e experiên- uma forma de criar novos conhecimentos. De fato, uma rede de
cias ajudarão os alunos a adquiri-las, a abordagem desenvolvimento é um amplo laboratório para experimenta-
que segui fez mais do que começar com o objetivo em ções contínuas em busca de soluções para desafios complexos.
mente. Ela proporcionou um nível de transparência A epistemologia que reforça esse princípio é que o conheci-
e responsabilidade profissional e pública para as es- mento profissional deve se valer da prática, não pode ser ge-
colhas feitas em qualquer planejamento de currículo rado na ausência de ou desprovido de prática. Ser professor é
que raramente estão disponíveis em normas estatais uma profissão não apenas porque aqueles que a praticam devem
ou com livros didáticos e recursos curriculares. dominar o conhecimento especializado para conduzir seu tra-
balho, mas também no sentido de que aqueles que a praticam
② ativar redes de melhoria
para projetar o currículo devem contribuir para o desenvolvimento de conhecimento es-
O segundo princípio é que a tarefa de planejar o pecializado. Para tal conhecimento, baseado na prática, se tor-
currículo, especialmente quando envolve domínios nar conhecimento profissional, disponível para outros, ele deve
inovadores ou complexos, requer a colaboração de ser público, e não privado. Uma rede profissional é uma forma
colegas. Embora possamos apreciar o ideal de que de fazer que o conhecimento oriundo da prática se submeta à
cada professor seja capaz de desenvolver o seu pró- análise essencial para se tornar público. Ademais, a confiança
prio currículo, na prática, o trabalho de ensinar é nos princípios de pensamento com base em planejamento e em
estruturado de tal forma que limita consideravel- redes de desenvolvimento proporciona um contexto para a ex-
mente a quantidade de tempo dedicada ao plane- perimentação sistemática e teste de hipóteses que estão implí-
jamento do currículo. Não é surpresa que existem citas em qualquer currículo.
muitos recursos on-line para a ajudar o professor
a compartilhar currículos e aulas e que, na prática, ④ obaseada
poder de uma educação
em problemas
muitos docentes recorrem a recursos já existentes. Algumas das competências necessárias para prosperar no
A razão pela qual os professores já criaram redes século XXI são melhor adquiridas ao envolver os alunos em
informais para compartilhar recursos, ou dependem problemas reais e ao convidá-los a testarem soluções. Tal edu-
de recursos existentes, é a complexidade do desen- cação, baseada em problemas e projetos como esses, vale-se
volvimento curricular de alta qualidade. Tradicio- das tradições da educação progressiva desenvolvida por John
nalmente essa tem sido a vantagem das editoras de Dewey e é consistente com o atual conhecimento sobre como
livros didáticos: a capacidade de envolver diversos defender um aprendizado mais profundo.
editores especialistas, autores e outros profissionais,
produzindo materiais de alta qualidade e distribuin- ⑤ oempoder da colaboração
equipes diversas
do os custos necessários para financiar sua produção A realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
pelo grande número de usuários. exigirá colaboração sem precedentes em todos os níveis. Se há
No entanto, existem limites para a forma con- uma habilidade que todos os alunos precisarão desenvolver é
vencional de alcançar economias de escala ao pro- a colaboração. Os recursos apresentados nesses livros sobre
duzir materiais instrucionais, e um deles é que metodologias baseadas em projetos ajudam a desenvolver tais
esses recursos devem ter como alvo algum grupo habilidades colaborativas. Mas se os professores devem ensi-
específico, razão pela qual muitos livros didáticos nar os alunos a colaborar, eles próprios devem aprender a co-
estão alinhados com as normas dos estados onde há laborar profissionalmente.
mais alunos. Um dos méritos da ideia da Base Na-
cional Comum Curricular, um conjunto nacional a pr ática d a ed u cação g lo bal e
de normas curriculares, é justamente o de capaci- o m ovim ento d a ed u cação g lo bal
tar tais economias de escala no desenvolvimento de Ao alinhar o currículo à estrutura dos Objetivos de Desenvol-
recursos instrucionais de alta qualidade. vimento das Nações Unidas, pretende-se cultivar uma menta-
As redes profissionais têm uma nítida vantagem lidade entre os alunos para educá-los como cidadãos globais.
102
103
MATERIAL
MATERIAL
DIDÁTICO
DIDÁTICO
DE ALTA
DE QUALIDADE
ALTA QUALIDADE
ALIADO
ALIADO
À À
MATERIAL DIDÁTICO
MATERIAL DE
DIDÁTICO ALTA
DE QUALIDADE
ALTA
excelência ALIADO
QUALIDADE
excelência À
ALIADO
pedagógica
pedagógica À
excelência
que pedagógica
excelência pedagógica
que
vocêvocê
conhece!
conhece!
que você
que conhece!
você conhece!
NASCEU
NASCEUNO
NOTOPO
TOPO
O SISTEMA DE ENSINO que já
NASCEU NO TOPO
EFICIÊNCIA
EFICIÊNCIA
RESULTADOS
E CREDIBILIDADE
RESULTADOS
E CREDIBILIDADE
EXPRESSIVOS
EXPRESSIVOS
COMPROVADAS
COMPROVADAS
DE SEUS
DE SEUS
ALUNOS
PELOS
ALUNOS
PELOS
EFICIÊNCIA E CREDIBILIDADE COMPROVADAS PELOS
RESULTADOS EXPRESSIVOS DE SEUS ALUNOS
do do
Brasil
Brasil
no:no:
do Brasil no:
vezes
vezes campeão
campeão do doBrasil,
Brasil,
em Olimpíadas
em Olimpíadas
Científicas,
Científicas,
em Escolas
em Escolas
vezes
Militares
Militares campeão
e noeENEM.
no ENEM. do Brasil,
em Olimpíadas Científicas, em Escolas
Militares e no ENEM.
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contato@sistemafb.com.br
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PLATAFORMA DE CONTEÚDOS
Na plataforma SmartLab sua escola tem conteúdos relevantes de diversas áreas
do conhecimento, como matemática, português, idiomas, tecnologia, cidadania
digital, dentre outros. Na plataforma, os seus alunos e professores têm a facilidade
de acessar todas as atividades com apenas um único login e senha.
FORMAÇÃO CONTINUADA
O SmartLab acompanha professores e tutores de sua escola ao longo de um
processo de formação continuada, entregando a eles recursos para potencializar
as oportunidades de aprendizado e criar experiências significativas para estudantes.
AMBIENTE COLABORATIVO
Projetado e desenvolvido por especialistas em educação e ambientação
colaborativa, o Espaço Smartlab é um ambiente de estímulo ao aprendizado,
promovendo criatividade, autonomia e trabalho colaborativo.
11 2790.2436 / 2790.1484
contato@smartlab.me
smartlab.me
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Ensino Médio:
o país que
abandonou
seu futuro
Em meio às expectativas sobre a BNCC
e a Reforma do Ensino Médio, incertezas
e inseguranças assustam instituições
de ensino e refletem um problema
em longo prazo no segmento.
texto Paulo de Camargo ilustração Mariana Salimena
108
110
111
AfASTA oS
1
do Ensino Médio representa uma
política pública que deve ser complementada
JoVENS DA
por Estados e municípios, conforme seus pró-
prios contextos. Afinal, os problemas da edu-
cação dos jovens possuem causas múltiplas,
EScoLA? ]
de origem social, pedagógica, individuais, de
diferentes ordens. O estudo Políticas públicas
para redução do abandono e evasão escolar
de jovens, realizado pelo pesquisador Ricardo
Paes de Barros, é o mais completo sobre o tema.
O pesquisador reuniu estudos e evidências nacionais e in-
ternacionais e estabeleceu 13 principais fatores do que chama
de desengajamento dos jovens, com o objetivo de orientar as
políticas públicas voltadas para os adolescentes. Esses fatores
são agrupados em 3 conjuntos: 1 fatores que não decorrem
da falta de interesse, mas sim da existência de impedimentos;
2
2 a falta de interesse como decisão bem informada e racio-
nal, e, 3 fatores determinantes que dizem respeito à falta de
interesse sem informação adequada.
Do primeiro grupo fazem parte, por exemplo, o acesso li-
mitado pela existência de vagas ou transporte; a impossibi-
lidade física, a gravidez e a maternidade na adolescência, as
atividades ilegais (uso de drogas, por exemplo); o mercado de
trabalho; a pobreza; a violência.
O segundo é composto pelo impacto do déficit de apren-
dizado; da falta de significado da aprendizagem; da baixa
flexibilidade; da qualidade da educação e do clima escolar.
Por fim, há fatores ligados à percepção equivocada ou
parcial da importância da escola e da educação; e a baixa
resiliência emocional.
A partir de agora, a pesquisa vai subsidiar diferentes ações
do Instituto Brava para sensibilizar a sociedade e oferecer ins-
3
trumentos aos gestores públicos para a implementação de
práticas bem-sucedidas de inclusão dos jovens na escola. En-
tre elas, estão a publicação de um site que esmiúça os resul-
tados do trabalho e facilita o acesso às políticas pesquisadas
(www.gesta.org.br).
Entre outras contribuições, o estudo buscou ampliar o
conceito de garantia dos direitos de educação, hoje focado
unicamente na oferta e na qualidade de ensino. A proposta
abrange os indicadores mais comuns, como o evasão, aban-
dono e repetência, e foca na importância do engajamento.
Segundo as projeções do autor, no ritmo atual e sem que nada
seja feito, o Brasil levará até 200 anos para atingir metas que
o próprio país estabeleceu, em documentos legais como o
Plano Nacional de Educação.
112
113
Guia do professor
Curso
Curso
COMO ORGANIZAR
A ARTE DE LER E A BIBLIOTECA DA
CONTAR HISTÓRIAS MINHA ESCOLA
ministrado por
ministrado por
Verdadeiro
ou falso?
Fenômeno das fake news põe em xeque a
capacidade reflexiva e investigativa e confirma
a Competência em Informação, intrínseca
dos bibliotecários, como pré-requisito
para interagir em ambientes digitais de
expressão e construção do conhecimento.
texto Lara Silbiger ilustração João Montanaro
ao que tudo indica, o velho ditado “a mentira sa fácil das fake news, o primeiro passo é reconhe-
tem perna curta” está ultrapassado. Hoje as notí- cer os mecanismos que estão por trás delas. Entre
cias fraudulentas — também conhecidas como fake eles, está a chamada clickbait, uma disputa por
news – têm 70% mais chances de viralizar que as cliques como fonte de renda na internet. Quanto
verdadeiras, segundo revela um estudo do MIT mais gente acessa os links, mais dinheiro de pu-
(Massachusetts Institute of Technology) publicado blicidade entra no bolso dos proprietários de sites.
em março deste ano na revista Science. Nesse ce- “Com isso, disseminar notícia — independente da
nário de incertezas, desenvolver habilidades, ati- sua procedência e veracidade — acabou virando
tudes e a Competência em Informação – campo de negócio. Ganha quem tiver as manchetes mais cha-
estudo da Biblioteconomia – para avaliar o nível de mativas e sensacionalistas, com carga dramática ou
confiabilidade de qualquer notícia virou questão de polêmica”, afirma o bibliotecário Leonardo Ripoll,
sobrevivência no ciberespaço. mestrando em Gestão da Informação na UDESC
Para navegar com segurança e não se tornar pre- (Universidade do Estado de Santa Catarina).
116
caça-boatos
intencional”, constata Ripoll em seu artigo Zumbi-
ficação da informação: a desinformação e o caos
informacional. Como consequência, ele destaca a
perda da criticidade em atividades usuais como a
leitura e a interpretação, seguida da mecanização do
comportamento das pessoas em relação à informa-
ção. “A tal ponto que acabam agindo como propaga- uma turma de 25 alunos do Ensino Médio do
doras de poluição informacional”, explica. Colégio Super Ensino, em Ourinhos (SP), está se
especializando no que eles chamam de HoaxBusters
c o m par ti l h a men to (em português, caçadores de boatos). Aliás, esse é
in d is c r imi n a d o o nome do site de checagem de notícias que eles
De acordo com a pesquisa do MIT, liderada pelo mesmo desenvolveram – liderados pelo professor
cientista Soroush Vosoughi, em Cambridge, as in- Estêvão Zilioli, coordenador de tecnologia educacional
formações falsas se disseminam mais rápido e com do colégio – e que deve ser lançado no segundo
maior alcance que as verdadeiras, o que fica ainda semestre deste ano. A iniciativa é fruto da participação
mais evidente quando o tema é política. A conclu- de Zilioli no programa Google Innovators 2017, do
são é fruto da análise de 126 mil notícias comparti- qual derivou o projeto de combate a fake news na
lhadas no Twitter 4,5 milhões de vezes, entre 2006 escola. Os encontros com os estudantes se dão no
e 2018, por 3 milhões de pessoas. contraturno das aulas, sempre às sextas-feiras. O
Nesse universo, os pesquisadores identificaram desafio é determinar o grau de confiabilidade das
que, enquanto a verdade raramente chegava a mais notícias selecionadas naquele dia como estudo de
de mil usuários, as fake news rotineiramente al- caso. A trilha de checagem dá origem a infográficos
cançavam mais de 10 mil pessoas. Para entender a que, por sua vez, alimentarão o site do projeto. “É
participação dos bots nesses números, os estudio- uma experiência que deixa o senso crítico dos alunos
sos usaram uma sofisticada tecnologia de detecção cada vez mais apurado. Assim, vão deixando de ser
para remover da análise os compartilhamentos ge- consumidores passivos da informação”, afirma.
rados por eles. Ainda assim, as estatísticas mostra-
ram que as notícias falsas se espalharam na mesma
118
119
Livros
NO BRASIL
POR Antonio Gois
Ruth Rocha e Walcyr Carrasco
120
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O Brasil tem 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas. As indústrias que usam
essas árvores conservam outros 5,6 milhões de hectares de matas nativas.
m de
as e jorna is im pressos sa bendo que o papel que ve
revist
Você gostará ainda mais de ve l e bio degrad ável. Descarte corretamente.
árvores plantadas, é reciclá
nsável.
Seja um consumidor respo