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Quando menino, Jacob Palis pensava que cientista era alguém que pensava
muito e fumava cachimbo. Cachimbo, ele nunca chegou a fumar de verdade;
já pensar muito, sim, ele é réu confesso, mas que ninguém ache que o hábito
coíba a impulsividade. “Diga aí, Elon, quem é o melhor matemático
estrangeiro que passou pelo Brasil nos últimos tempos?”, perguntou ele, em
1962, aos 22 anos, ao matemático Elon Lages Lima. “Steve Smale”,
respondeu Lima, na época com 33, doutor por Chicago, onde conhecera
Smale.
“Então é com ele que eu vou estudar.” E foi, o que estava longe de ser uma
decisão sensata. Smale tinha fama de não dar muita atenção aos alunos de
doutorado por se preocupar demasiado com política – não raro, pedia aos
doutorandos que deixassem a matemática de lado para participar de ações
contra a Guerra do Vietnã. Como se não bastasse, tivera pouquíssimos
orientandos, de forma que Palis seria um dos primeiros, quase um
experimentando. O conjunto da obra não foi o suficiente para que o brasileiro
mudasse de ideia. Smale era o melhor, só isso importava.
“Voltar nos anos 60 estava longe de ser óbvio”, conta Marcelo Viana, ex-
aluno de Palis. “Um colega de doutorado dele comentou que, enquanto todo
mundo queria fazer carreira na pesquisa, o Jacob tinha uma visão de futuro
muito mais abrangente, que incluía a ideia esquisita de voltar para o Brasil. Na
época, o que havia por aqui era uma pequena comunidade, muito sofisticada
no seu topo, mas era uma sofisticação de meia dúzia.”
Meia dúzia era o que bastava. Já estavam por aqui Manfredo do Carmo e Elon
Lages Lima, cientistas que fizeram um percurso semelhante ao de Palis e que
pensavam como ele, além de Mauricio Peixoto e Leopoldo Nachbin,
fundadores do Impa. (Lélio Gama, o terceiro fundador, figura muito
respeitada pelos colegas, àquela altura se dedicava mais à administração do
que à pesquisa.)
Jacob Palis desceu do ônibus com livros escorrendo pelas mãos. Naquele
sábado, voltava para casa depois de um dia de estudos. No caminho, deu com
José Pelúcio Ferreira, homem-chave no desenvolvimento da ciência no Brasil.
Ferreira criara, dentro do BNDE (ainda sem o S), um fundo pioneiro para
financiar programas de pós-graduação em universidades brasileiras, e era,
naquele ano de 1970, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos, Finep.
“De onde você está vindo assim num sábado, Jacob?”, perguntou Ferreira, de
olho na pilha instável de livros. “Do Impa”, respondeu Palis. “E o que você
tem feito por lá?”, quis saber Ferreira. “Sonhado com um encontro
internacional de matemáticos”, respondeu Palis. E foi assim, dessa troca de
frases numa esquina de Laranjeiras, que nasceu o Simpósio Internacional de
Sistemas Dinâmicos de 1971, de importância capital para o desenvolvimento
da matemática brasileira.
“Com o decorrer dos anos”, escreveu Elon Lages Lima, “os limites do Impa
deixaram de ser os limites geográficos do Brasil.” De fato, hoje 50% dos
alunos de mestrado e doutorado da instituição – o Impa não oferece cursos de
graduação – são estrangeiros. Interagem com professores do quadro da
instituição oriundos dos Estados Unidos, da Rússia, da Letônia, do Chile,
além de se exporem a um fluxo constante de visitantes internacionais, tradição
iniciada pelos fundadores no final da década de 50, quando Stephen Smale,
Fields de 1966, e o francês René Thom, Fields de 1958, passaram temporadas
no Impa.
PROBLEMÁTICO
As inquietudes de um matemático
BERNARDO ESTEVES
Smale tinha uma bolsa do governo de seu país e veio com a mulher e os
dois filhos, o mais velho com 2 anos e meio, a caçula com 9 meses.
Alugaram o apartamento de um oficial da Aeronáutica que se refugiara
na Argentina depois de uma tentativa frustrada de golpe contra Juscelino
Kubitschek. Era um apartamento de onze cômodos num prédio de luxo
com vista para o morro da Babilônia, a poucas quadras da praia do
Leme, conforme ele descreveu num memorial escrito anos depois.
“Também contratamos as duas empregadas dele. O dólar rendia bem
naquele tempo.”
problemas que estava atacando nas duas áreas que lhe interessavam. “Eu
podia falar sobre topologia com o Elon Lima e sobre sistemas dinâmicos
com o Mauricio Peixoto”, contou o americano.
Um dos resultados notáveis que obteve no Rio foi a resolução parcial da
conjectura de Poincaré, problema formulado no começo do século XX e
considerado dos mais difíceis da topologia. O matemático francês
propunha que seria uma esfera todo objeto que obedecesse a
determinadas condições. Matemáticos se perguntaram se tais condições
valeriam para dimensões mais altas. Smale provou que sim para
dimensões superiores a 4.
com o mesmo ímpeto que ele aplicava à matemática. Foi assim quando
Smale se entusiasmou por barcos nos anos 80, por influência de Charles
Pugh, seu colega em Berkeley, dono de um pequeno veleiro. Decidido a
navegar até um destino incomum – as ilhas Marquesas, no meio do
Pacífico Sul, a 5,5 mil quilômetros de São Francisco –, comprou um
veleiro de 13 metros de comprimento, o , e começou a planejar a viagem
com dois anos de antecedência. Recrutou dois colegas para a empreitada:
Pugh e o mineiro Welington de Melo, seu amigo desde 1972, quando
esteve em Berkeley para um pós-doutorado.
A viagem ocorreu no verão de 1987. O trio navegou por 7 mil milhas
náuticas, ou 13 mil quilômetros, ao longo de três meses. Enfrentaram
vários percalços, incluindo temporal, fim do combustível, motor
quebrado, vazamento no casco, pane na bomba d’água e derretimento do
estoque de gelo. Cumprido o objetivo estipulado, navegar perdeu a graça
e Smale vendeu o .
Nos anos 80, seu amor pelas pedras ficou mais refinado quando decidiu
fotografar o acervo. Não lhe bastaria um padrão de qualidade amador, e
ele comprou câmeras, montou um estúdio em casa e mergulhou de
cabeça. Chegou a investir de quarenta a cinquenta horas semanais na
tarefa, organizou exposições individuais e lançou um livro de mesa com
fotos de sua coleção. Espanto dos espantos, declarou que sua maior
ambição era ser reconhecido como um grande fotógrafo. Continua a ser
apenas um matemático monumental.
BERNARDO ESTEVES
Repórter da piauí desde 2010, é autor do livro Domingo é dia de ciência, da Azougue
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