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Me habituei desde pequena a ouvir minha mãe ler durante os

cultos domésticos, a ser despertada pela voz firme de meu pai a cantar
e pelo som agudo da viola às 8:00 da manhã, isso quando não era
despertada as 6:00 pelo chocalho que ele usava em seu programa de
rádio. A poesia e o gosto pela leitura talvez tenham sido plantados nesse
exato momento. Não frequentava a escola ainda, mas minha irmã
costumava ler para mim quando criança, e aprendi a ler com a ajuda
dela. Ela lia sempre a mesma história para mim, a história de uma
centopeia que ia a uma festa(eu adorava aqueles insetos vestidos de
gente). Enquanto ela lia eu acompanhava com os dedos a palavra que
estava lendo e lembro de tentar sozinha a ler o que acabara de ouvir. E
foi assim que aprendi a ler.

A leitura é algo fascinante, antes mesmo de saber ler eu já me


sentia parte das histórias que ouvia. Com 5 ou 6 anos eu gostava de ouvir
minha irmã ler perto das grandes janelas (era assim que eu as
enxergava) da nossa casa amarela. Lembro-me de estar na sala de
visitas em uma rede com minha irmã, perto da janela no canto direito e
sentir a brisa da noite. Meu pai está em outra rede no canto paralelo ao
nosso, minha mãe está em uma cadeira de madeira, pintada de vinho e
meu irmão talvez estivesse jogando na pracinha do Coreto.

Meus pés estão a balançar, e minha irmã está com um livro bem
espesso em suas mãos. Esse livro não tem capa, suas folhas são
amareladas, as letras são pequenas e a ilustração é toda em preto e
branco, algo um pouco sombrio (não, esse não é o livro A Casa do some
-some). O livro é costurado por um tipo de linha bem fina, algumas
páginas, pelo que me lembro soltam a cada virada de página. Era um
livro de estórias fantásticas, de terror e aventura. O sentimento de
suspense sempre me tomava a cada parágrafo, hoje não me lembro das
histórias daquele livro, mas lembro das sensações que as histórias me
traziam: medo, curiosidade e o mais o importante o que minha família
me dava segurança.

Os livros de mistério e as histórias de terror deram lugar aos livros


de teologia e filosofia durante a adolescência. Agora quem ditava as
leituras e as discussões era meu irmão mais velho. Ele Sempre trazia
uma novidade para mim e para a Priscilla, quando não eram os livros
eram discussões sobre a fé e filosofia. Uma vez após o almoço ele sentou
na rede conosco (adoramos uma rede até hoje) e veio nos ensinar o que
era a dialética de Hegel. Nada melhor que após um belo almoço de frango
frito e arroz branco feito pela vó, uma reflexãozinha hegeliana, não é
mesmo? Assim sempre que liamos algo compartilhávamos o que
tínhamos aprendido ou discordado da leitura, cada um a seu modo, com
seu gosto literário e seu pensamento trazia a qualquer oportunidade de
comunhão alguma discussão sobre as leituras realizadas, e aqueles
momentos me traziam a sensação que tinha mais a aprender.

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