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Este é o poema do amor.

Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.

Do amor.

Do amor.

Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.

Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de

bicho.

Do amor.

Do amor.

Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das soleiras das portas

e das varandas que estão por cima dos números das portas,

com begónias e avencas plantadas em tachos e em terrinas.

Do amor das janelas sem cortinas

ou de cortinas sujas e tortas.

Este é o poema do amor.

Do amor das pedras brancas do passeio

com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,

e as ervas teimosas a descerem de permeio

e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a


crescerem.

Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas

com as chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.

Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas

a entrarem e a saírem e as pessoas todas muito malcriadas.

Este é o poema do amor.

Do amor do sol e do luar,

do frio e do calor,

das árvores e do mar,

da brisa e da tormenta,

da chuva violenta,

da luz e da cor.

Do amor do ar que circula

e varre os caminhos

e faz remoinhos

e bate no rosto e fere e estimula.

Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,

do amor sem amar nem lei nem compromisso,

do amor de olhar de lado como fazem as aves,

do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.

Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,

que salta, que voa, que vibra e lateja.

Das fitas ao vento,

dos barcos pintados,

das frutas, dos cromos, das caixas de tinta, dos supermercados.

Este é o poema do amor.


O poema que o poeta propositadamente escreveu

só para falar de amor,

de amor,

de amor,

de amor,

para repetir muitas vezes amor,

amor,

amor,

amor.

Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico

contar as palavras que o poeta escreveu,

tantos que,

tantos se,

tantos lhe,

tantos tu,

tantos ela,

tantos eu,

conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu

foi amor,

amor,

amor.

Este é o poema do amor.

António Gedeão

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