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COMARCA DE NOVO HAMBURGO

1ª VARA CÍVEL
Rua Dr. Bayard de Toledo Mércio, 66
_________________________________________________________________________

Processo 019/1.07.0022771-7 (CNJ:.0227711-36.2007.8.21.0019)


nº:
Natureza: Ação Civil Pública
Autor: Ministério Público
Réu: Município de Novo Hamburgo
Juiz Juíza de Direito - Dra. Michele Scherer Becker
Prolator:
Data: 15/07/2013

SENTENÇA

O MINISTÉRIO PÚBLICO, através de seu representante,


ajuizou a presente ação civil pública contra MUNICÍPIO DE NOVO
HAMBURGO, alegando, em síntese, que no dia 31 de março de 2006
ocorreu um incêndio de grandes proporções no Lixão do Lima, local
mantido pelo réu. Relatou que os bombeiros atuaram até a extinção das
chamas da superfície, mas o local permaneceu incendiando no
subterrâneo, emitindo fumaça e fuligem, o que fez com que moradores
passassem a enfrentar problemas de saúde, principalmente de ordem
respiratória. Acrescentou que não existe licenciamento ambiental para
utilização da área, razão pela qual recomendou ao município que
imediatamente suspendesse a utilização do local e elaborasse projeto de
recuperação da área. Afirmou que tentou resolver administrativamente o
problema, através de ofícios enviados à Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, mas o requerido não tomou as providências necessárias no
sentido de solucionar o problema. Afirmou que o Município causou e vem
causando danos ambientais de grande monta pelo fato de não ter
adotado as medidas adequadas no manejo da Central de Inertes
localizada no Bairro Rondônia, devendo ser condenado à recuperação de
tais danos e ao pagamento de indenização com relação aos danos
irrecuperáveis. Fundamentou sua pretensão nos artigos 3º, 11 e 12 da Lei
7.347/85, 225, §3º da Constituição Federal 3º, inciso IV e 14, §1º da Lei
6.938/81. Requereu, em caráter liminar, determinação para que o réu
cesse imediatamente suas atividades no local, abstendo-se de realizar
novos atos de deposição de resíduos, até que obtenha o devido
licenciamento ambiental, e para que inicie a adoção de medidas
emergenciais de contenção dos incêndios e dos demais danos
ambientais. Postulou a procedência da ação, com a confirmação das
medidas liminares e a condenação do réu: a) a recuperar a área lesada
em face da reposição irregular de resíduos na Central de Inertes do
Bairro Rondônia; b) a reparar em pecúnia os danos causados ao meio
ambiente que não sejam passíveis de recuperação; c) a destinar os

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resíduos atualmente dispostos de forma irregular para local previamente
licenciado pelos órgãos ambientais competentes; d) a se abster de
depositar resíduos no local, até que seja emitida a decida licença de
operação pelo órgão ambiental competente. Anexou os autos do
inquérito civil número 31/06.

Foi deferido o pedido de antecipação de tutela (fls. 07/08).

Em contestação (fls. 14/26), o requerido alegou que nunca


se omitiu de suas responsabilidades enquanto Poder Público, através de
providências concretas e através de estudos e projetos técnicos
necessários à completa recuperação da área. Disse que está promovendo
as providências necessárias para elaboração de estudo de recuperação e
adequação da área de manejo de resíduos da central de inertes do Bairro
Rondônia. Aduziu que os resíduos encontrados no local são inertes, ou
seja, não são potenciais poluentes. Assim, não há falar em poluição ou
danos ambientais. Acrescentou que os focos de incêndio não foram
provocados por representantes do Poder Público, não tendo cabimento
responsabilidade do Município por tais focos. Argumentou que os
trabalhos de manutenção do local estão em vias de serem iniciados.
Afirmou não ser possível sua condenação ao pagamento de indenização
em dinheiro, citando jurisprudência e doutrina sobre o tema. Relatou as
ações que vem executando para educar a comunidade para a prática de
atividades ambientalmente corretas. Requereu a extinção do feito sem
resolução de mérito, diante da perda do objeto, ou a improcedência da
ação. Juntou documentos nas fls. 27/90.

Houve réplica (fls. 95/101), acompanhada de documentos


(fls. 102/130.

O réu se manifestou nas fls. 143/144 e juntou documentos


nas fls. 145/174.

Seguiram-se manifestações das partes e juntada de


documentos.

Determinada a realização de perícia, foi juntado aos autos o


laudo de fls. 256/304.

As partes apresentaram pareceres técnicos nas fls.


312/313 e 317, e a perita apresentou laudo complementar nas fls.
323/331.

Em audiência, foram ouvidas cinco testemunhas (fls.


366/377) e juntados documentos (fls. 351/359).

Em substituição ao debate oral, as partes apresentaram


memoriais nas fls. 387/388 e 390/392.

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Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relatório. Decido.

O processo tramitou regularmente, com a observância


de todas as formalidades legais, estando isento de vícios.

De início, afasto a preliminar sustentada pelo réu de


perda de objeto, tendo em vista que não há prova inequívoca nos
autos de que o réu tenha tomado as providências necessárias à
recuperação da área em questão. Além disso, o Ministério Público
postula também a condenação do réu ao pagamento de
indenização em razão dos danos ambientais que não são passíveis
de reparação. Assim, o interesse de agir está evidente.

Trata-se de ação civil pública na qual pretende o


Ministério Público a condenação do Município réu a: a) recuperar a
área lesada em face da reposição irregular de resíduos na Central
de Inertes do Bairro Rondônia; b) reparar em pecúnia os danos
causados ao meio ambiente que não sejam passíveis de
recuperação; c) destinar os resíduos atualmente dispostos de forma
irregular para local previamente licenciado pelos órgãos ambientais
competentes; d) abster-se de depositar resíduos no local, até que
seja emitida a decida licença de operação pelo órgão ambiental
competente.

Merece prosperar a pretensão deduzida na inicial.

A Central de Inertes do Bairro Rondônia, ou “Lixão do


Lima”, como é conhecida, é área pertencente ao Município réu, que
nela mantinha depósito de resíduos.

Note-se, de início, que o inquérito civil foi instaurado


por iniciativa da população do local, que, através de um abaixo-
assinado com mais 400 assinaturas, relatou a situação precária da
Central de Inertes do Bairro Rondônia.

No abaixo-assinado de fls. 03/24 do inquérito civil em


apenso estão evidenciados os danos ao meio-ambiente e à
comunidade local diante do incêndio ocorrido no ano de 2006 na
área do “Lixão do Lima”. Referido abaixo-assinado possui a
seguinte redação “Nós moradores do município de Novo
Hamburgo: Loteamento Morada dos Verdes Campos, Rondônia, Vila
Kroeff e Santo Afonso. Viemos através deste informar a nossa

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revolta e exigir providências URGENTES, contra a queima do
LIXÃO DO MUNICÍPIO, que pegou fogo no dia 31 de março e
desde então foram feitas várias solicitações de tomada de
providências pelos moradores tanto via telefone, como
pessoalmente aos órgãos responsáveis como a SECRETARIA DO
MEIO HAMBIENTE e até a VIGILÂNCIA SANITÁRIA e até agora não foi
tomado nenhuma medida para que o problema fosse resolvido. Do
qual sua fumaça vem causando doenças respiratórias, em toda a
população e principalmente nas crianças, como asma, bronquite,
renite alérgica e sinusites.” (Sic.)

O incêndio ocorrido também está comprovado através


da prova testemunhal produzida durante o feito.

A testemunha Luciane Barros de Souza Bianqui, que


morava nas proximidades do local, afirmou que, na época, o lixão
ficou queimando por cerca de três meses, e o cheiro e a fumaça
causavam problemas respiratórios em seu filho (fl. 366). Tais fatos
também foram relatados pela informante Leni Terezinha Palhano de
Souza, que narrou: “Muita fumaça. Durante o dia a gente até não
percebia muito, mas de noite não subia aquela fumaça, ficava
parecendo um gás, e as crianças ao redor estavam todas ficando
doentes, os meus estavam doentes também, porque são alérgicos
né, então aquilo era terrível para todo mundo, na verdade.” (Fls.
368/369).

Destarte, tenho que os danos ambientais decorrentes


do incêndio de grandes proporções ocorrido no local estão
devidamente comprovados nos autos, devendo o requerido ser
condenado ao pagamento de indenização, com destinação do valor
ao Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente, como requerido
pelo Agente Ministerial.

Já o laudo pericial de fls. 257/304 foi conclusivo no


sentido de que existem condições para a ocorrência de novos
incêndios e que os resíduos depositados no local apresentam
potencial poluidor: “Os resíduos depositados durante o período de
utilização do terreno têm potencial poluidor, pois, com base nas
análises de laboratório (Anexo 14), e de acordo com a NBR
10004/2004, podem ser classificados como “resíduos classe II A –
Não inertes”. Assim, no caso de serem solúveis em água (em
concentração superior à estabelecida pela Norma), podem acabar
atingindo o solo e corpos d´água próximos.”

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Além disso, a expert também conclui que o local
oferece condições para a proliferação de vetores transmissores de
doenças, como ratos, moscas, baratas, mosquitos.

Do exposto, observa-se que, ainda que o teor de


metais (como ferro e manganês) do terreno seja decorrente da
colocação de argila no local, ou da própria característica do solo -
hipóteses que não podem ser descartadas -, e não dos resíduos
propriamente ditos, o fato é que o local precisa de tratamento
adequado, com medidas atinentes à recuperação total da área e
prevenção de novos fatos danosos ao meio ambiente - como
incêndios -.

Provavelmente não seja necessária a retirada de


todos os resíduos depositados no local, como afirmou o engenheiro
Waltemir Bruno Goltmayer nas fls. 370/373.

Contudo, diversas providências devem ser tomadas a


fim de recuperar a área e evitar que sejam depositados no local por
terceiros resíduos diversos, sem qualquer controle, que facilitem a
ocorrência de incêndios e a proliferação de animais transmissores
de doenças.

Insta referir que o proprietário tem responsabilidade


objetiva pelos danos causados ao meio ambiente, a o teor do que
dispõe o art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81:

Art. 14 [...]
§ 1º- Sem obstar a aplicação das penalidades neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade
civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Assim, existente o dano e a irregularidade do réu


como proprietário e responsável pela Central de Inertes do Bairro
Rondônia, sua responsabilidade é cristalina e implica
consequências jurídicas.

Veja-se que Constituição assegura a todos,


pertencentes às presentes e futuras gerações, a existência digna
através da defesa do meio ambiente, impondo ao Poder Público a
realização de medidas que visem a preservar, a restaurar e a
manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado, controlando

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atividades que comportem risco para a qualidade de vida.

A concepção constitucional de meio ambiente como


bem de uso comum do povo foi ampliada, inserindo-se a função
ambiental da propriedade, que não pode mais ser vista de modo
absoluto e só se mostra legítima quando resguardada a sua
funcionalidade social, na dicção do art. 5º, inc. XXIII.
Complementando essa noção, o § 1º do art. 1.228 do Código Civil
preleciona que “O direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de
modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas”.

A matéria em questão encontra-se regulada nos


artigos 23, inciso VI, 30, inciso VIII e 225, caput, todos da
Constituição Federal:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios: (...)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição
em qualquer de suas formas; (...)

Art. 30. Compete aos Municípios:(...)


VIII - promover, no que couber, adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle
do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; (...)

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.” (Negritei.)

A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul


estabelece em seus artigos 247, § § 1º e 2º, e 250, caput e § 1º:

“Art. 247 - O saneamento básico é serviço público essencial


e, como atividade preventiva das ações de saúde e meio
ambiente, tem abrangência regional.
§ 1º - O saneamento básico compreende a captação, o
tratamento e a distribuição de água potável, a coleta, o
tratamento e a disposição final de esgotos cloacais e do lixo, bem
como a drenagem urbana.
§ 2º - É dever do Estado e dos Municípios a extensão

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progressiva do saneamento básico a toda a população urbana e
rural, como condição básica da qualidade de vida, da proteção
ambiental e do desenvolvimento social, (...)

Art. 250 - O meio ambiente é bem de uso comum do povo,


e a manutenção de seu equilíbrio é essencial à sadia qualidade de
vida.
§ 1º - A tutela do meio ambiente é exercida por todos os
órgãos do Estado.”

Por fim, a Lei n° 10.257/01, (Estatuto da Cidade) prevê


que:

“Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os


arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto
nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei,
denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem
pública e interesse social que regulam o uso da propriedade
urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar
dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. (Negritei.)

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido
como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços
públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras
gerações;
(…)
V – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
(…)
g) a poluição e a degradação ambiental;”

Por todas essas razões, à vista dos elementos de


convicção existentes nos autos, não resta outra alternativa senão a
condenação do réu nos termos da exordial.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos


contidos na presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, a fim de tornar
definitiva a liminar da fls. 07/08 e CONDENAR o réu MUNICÍPIO
DE NOVO HAMBURGO ao cumprimento: a) da OBRIGAÇÃO DE
NÃO FAZER, consistente em se abster de realizar suas atividades
de deposição de resíduos na Central de Inertes do Bairro Rondônia -
“Lixão do Lima” - até que seja emitida a devida licença de operação
pelo Órgão Ambiental Competente; b) de OBRIGAÇÃO DE FAZER,

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consistente: b.1) na recuperação integral da área lesada em face
da deposição irregular de resíduos na Central de Inertes do Bairro
Rondônia, tanto no seu interior, quando no seu entorno, com as
diretrizes definidas por perícia a ser realizada; b.2) na reparação
em pecúnia e conforme valor a ser apurado em perícia quando da
liquidação da sentença, dos danos ambientais não passíveis de
recuperação, com a destinação dos recursos ao Fundo Municipal de
Defesa do Meio Ambiente; b.3) na destinação dos resíduos
atualmente dispostos de forma irregular na Central de Inertes do
Bairro Rondônia para local devidamente licenciado pelos órgãos
ambientais competentes; resolvendo o processo com fundamento
no artigo 269, inciso I do CPC.

Condeno o demandado ao pagamento das custas


processais e honorários periciais no valor de R$ 18.085,70 (fl. 270),
que deverá ser acrescido de correção monetária pelo IGP-M a
contar de 22/03/2012 e juros de mora de 1% ao mês a contar da
presente data até o efetivo pagamento. Sem condenação em
honorários, uma vez que não são devidos ao Ministério Público, de
acordo com o art. 18 da Lei 7.347/85.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Novo Hamburgo, 15 de julho de 2013.

Michele Scherer Becker,


Juíza de Direito

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64-1-019/2013/246462 019/1.07.0022771-7 (CNJ:.0227711-36.2007.8.21.0019)

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