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O CINEMA-DOCUMENTÁRIO
Santiago (2007), de João Moreira Salles, pode ser lido por diversas
perspectivas, mas dois desdobramentos, de uma mesma linha de análise,
interessam-nos em especial: o uso de recursos característicos das produções
anti-ilusionistas e o seu exame enquanto objeto que reflete aspectos do
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serão mostrados pela câmera pouco depois, quanto no texto em voz over,
já na primeira frase reportando às próprias imagens que vemos na tela.
Os recursos metaficcionais estão presentes nesse documentário
em toda a sua extensão. Santiago “começa e termina duas vezes”,3
apresentando uma estrutura com introdução e pós-escrito que remete às
obras impressas. O uso de molduras, a exemplo dos retratos, é perceptível,
de modo mais evidente, nos enquadramentos de Santiago durante as
entrevistas, nas quais ele geralmente é visto através de portas, havendo
sempre maçanetas, cortinas ou outros elementos cênicos em destaque que,
de maneira metafórica, obstaculizam a aproximação entre documentarista
e personagem.
Além da função visual, de ser o limite sensível da imagem,
separando-a do que está fora dela, e da função econômica, de valorização
do quadro, a moldura, de acordo com Jacques Aumont (2002: 147),
desempenha um papel simbólico, indicando ao “espectador que ele está
olhando uma imagem que, por estar emoldurada de uma certa maneira,
deve ser vista de acordo com certas convenções e possui eventualmente
certo valor”.
Na narração, observamos ainda o uso de molduras textuais. Aos
onze minutos de filme ouvimos o seguinte relato:
3) Observação de Amir Labaki extraída do texto crítico Notas sobre Santiago.
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5) Escorel aborda os dois documentários nos quais foi responsável pela montagem, mas
a temática da entrevista é a série em formato documental 1937-45: Imagens do Estado
Novo, do próprio Escorel, na época, trabalho ainda em fase produção.
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soltos pelas mãos de uma mulher e voam no ar. A cena é utilizada como
ilustração da história de Francesca da Rimini, contada pelo narrador.7
O motivo da inclusão de tal imagem enquanto recurso ilustrativo,
que Salles chega a mencionar como técnica já superada, seria exatamente
o fato de ela ser a única utilizada na montagem e, assim, simbolizar a
quebra de um dogma próprio e a liberdade criativa. Como destaca Stam
(1981: 57), “a matéria da arte autorreflexiva é a própria tradição – a ela se
faz alusões, com ela se brinca, se supera e se exorciza”.
A presença da equipe de produção e dos equipamentos de filmagem
em cena, bem como dos próprios documentaristas, é mais um artifício anti-
ilusionista que pode ser visto nos dois filmes. Segundo afirma Bernardo
(2010), ao discutir aspectos do documentário Jogo de cena, de Eduardo
Coutinho (2007), quando o documentarista aparece dentro do filme,
transforma-se em personagem, gerando uma camada de ficcionalidade. O
limiar entre a realidade vivida e a ficcionalização do real é, contudo, mais
esgarçado no documentário de Salles do que em Cabra, bem como o grau
de autorreflexividade, inclusive no que se refere à aparição da equipe e do
documentarista.
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10) Discussão apontada por Klinger (2006) a partir das reflexões de Philippe Lejeune
(1975).
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Referências bibliográficas
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Filmografia
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