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Figura 1: Samuel Hirszenberg, Spinoza (1907)

Baruch de Spinoza (1632-1677)

ea

Dinâmica dos Afetos

Por: Yan Soares Santos


I. Plano do Curso
Benedictus de Espinosa (1632-1677) e a Dinâmica dos Afetos

II. Investimento total:


III. Dados de Identificação:
Debatedor: Yan Soares Santos
Público alvo: aberto ao público
Duração: Dois (2) encontros de duas horas (2H) cada.
IV. Tema e justificativa:

• Os afetos, a ação humana e o desejo no pensamento de Espinosa voltados a uma filosofia


prática na atualidade;

• Que é Deus? Consequentemente que é a humanidade? É possível conhecer algo em sua


essência? Devemos advogar pela essencialização e enrijecimento das coisas/pessoas?
Não seria mais sensato pensar em como as coisas podem agir e como esse movimento é
provocado? Consequentemente não seria mais sensato pensar como age a humanidade?
Como ela produz coisas através de sua vivência? Como agem as pessoas e como são
impelidas a esse movimento? Não seria mais sensato pensar como as pessoas produzem
suas vivências e assim fazem-se a si mesmas? Em tempos atuais a relevância de se operar
o pensamento de Espinosa (1632-1677) tem por finalidade experimentar soluções aos
problemas apontados acima.
Espinosa foi um pensador subversivo do século XVII repensando a maneira como se
podia compreender Deus, o livre arbítrio e a relação mente/corpo propostas por Descartes
(1596-1650). Aliava sua forma de pensar a uma geometria e aos mais recentes
pensamentos sobre o movimento dos corpos celestes. Haveria, portanto, uma física dos
corpos – à época os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” de Isaac Newton (1643-
1727), com suas famosas leis da mecânica clássica, só foram publicados em 1687; essa
física dos corpos, portanto, seria baseada nas teses da astronomia de Copérnico (1473-
1543), Johannes Kepler (1571-1630) e Galileu Galilei (1564-1642).
Como eram provocados os movimentos dos corpos (essa física dos corpos)? Podemos
pensar separadamente mente e corpo? Considerando a impossibilidade de uma separação
mente/corpo como se dá o movimento dos corpos? Como através desse movimento as
pessoas produzem suas vivências e assim fazem-se a si mesmas? Operando enquanto
uma única coisa, mente e corpo movem-se através da dinâmica dos afetos. O aprendizado
de como essas afecções operam na homeostase (condição de relativa estabilidade da qual
o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do
corpo) dos sujeitos garantiria uma busca por maiores potencialidades de agir diante do
mundo; maiores possibilidades de perfeição – esse é um dos ensinamentos de Espinosa.

V. Objetivos:

Objetivo geral:

• Apresentar e discutir, de maneira elucidativa, os principais conceitos do filósofo – em


especial da obra Ética (1677) – e suas possíveis aplicações na vida prática da atualidade;

Objetivos específicos:
• Apresentar o momento histórico-filosófico da vida de Espinosa e as principais influências
em seu pensamento;

• Propor uma interpretação sobre a figura de Espinosa em seu próprio tempo;

• Discutir os principais conceitos e pensamentos do filósofo;

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• Indicar possíveis aplicações na vida cotidiana-prática da atualidade do pensamento
espinosiano;

• Apresentar possíveis ressonâncias da filosofia espinosiana em pensadores posteriores (ao


filósofo) e atuais;

VI. Conteúdo:
• Espinosa, um filósofo dissidente?;
o Vida e Obra;
o Natureza – esse Deus imanente:
▪ Deus sive natura (Deus ou a Natureza) – o é na medida que cria a si própria;
▪ Natureza naturada / natureza naturante;
• O pensamento do filósofo dissidente – principais conceitos:
o Deus (enquanto substancia infinita realizada em si mesma) e a humanidade – a
causalidade divina;
o Do sujeito comum ao sujeito livre na cidade livre;
o As afecções segundo Espinosa: A Alegria, a Tristeza, o Amor e o Ódio – as paixões
e seu movimento;
• Espinosa medicina mentis (medicamento mental)? – Por uma “filosofia prática” de Espinosa;
o O desejo, e a ação humana;
o A dinâmica dos afetos:
▪ As paixões tristes (o sujeito servo das afecções);
▪ As paixões alegres (o sujeito realizado em si-mesmo);
o Conatus ou a potência de agir do sujeito;
o O uso dos corpos – Cupiditas (desejo-apetite), conatus e afecções;
• Usando e abusando de Espinosa – as ressonâncias do filósofo dissidente:
o Judith Butler (1956-__) – “Problemas de Gênero” – a performatividade e suas
(possíveis) relações com Espinosa;
o Vladimir Safatle (1973-__) – “O Circuito dos Afetos” – afecções e política;
VII. Desenvolvimento do tema:
• Este minicurso pretende ser dividido em dois encontros com duração de duas horas cada.
Dessa maneira será dividido em dois módulos, um por dia:
o Módulo I:
▪ Espinosa, um filósofo dissidente?;
▪ O pensamento do filósofo dissidente – principais conceitos;
o Módulo II:
▪ Espinosa medicina mentis (medicamento mental)? – Por uma “filosofia
prática” de Espinosa;
▪ Usando e abusando de Espinosa – as ressonâncias do filósofo dissidente.
VIII. Recursos didáticos:

• Materiais oferecidos aos ouvintes:

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o Pasta, caneta, papel para anotação;
o Ficha de acompanhamento;
o Cópia de algum outro material trabalhado durante o minicurso;
• Materiais necessários para o debatedor:
o Quadro e Piloto;
o Elaboração de mapas conceituais para trabalhar o tema;

XIX. Bibliografia:

• Básica:

ESPINOSA, Benedictus de. Correspondências. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Espinosa vida e obra. In: ESPINOSA, Benedictus de. Ética. 2ªed.
São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os Pensadores). Pp. VI-XXIII.

ESPINOSA, Benedictus de. Pensamentos Metafísicos. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Tratado da Correção do Intelecto. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural,
1979 (Os Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Tratado Político. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

SPINOZA, Benedictus de. Ética. 3ªed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

• Complementar:

ALMEIDA, Rogério Miranda de. A Fragmentação da Cultura e o Fim do Sujeito. São Paulo:
Edições Loyola, 2012.

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 13ªed. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2017 [1990].

CHAUI, Marilena. Desejo, paixão e ação na ética de Espinosa. São Paulo: Companhia das Letras,
2011.

CHAUÍ, Marilena. Espinosa: poder e liberdade. En publicacion: Filosofia política moderna. De


Hobbes a Marx Boron, Atilio A. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCP-
FFLCH, Departamento de Ciencias Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciencias Humanas,
USP, Universidade de Sao Paulo. 2006.

CHAUÍ, Marilena. Espinosa: uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 1995.

COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. LISETE, Rodrigues. Reflexões sobre a educação em


Espinosa: a experiência do encontro como segundo nascimento. Filosofia e Educação. Volume 5,
Número 1. Abril-Setembro de 2013. Pp. 111-129;

DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 3ªed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.

DAMÁSIO, António R. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de


si. 2ªed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.

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DESCARTES, René. Descartes vida e obra. In.: DESCARTES, René. Discurso do método,
Meditações, Objeções e repostas, As paixões da alma, Cartas, 2ªed. São Paulo: Abril Cultural,
1979 (Os Pensadores). Pp. VI-XXIII;

DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? São Paulo: Editora 34, 2016.

HUENEMANN, Charlie. Racionalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

MARTINS, André (org.). O mais potente dos afetos: Spinoza & Nietzsche. São Paulo: Editora
WMF Martins Fontes, 2009.

NEGRI, Antonio. Espinosa subversivo e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2016. (Filô Espinosa).

OLIVEIRA, Fernando Bonadia de. Espinosa e a radicalização ética na educação pública. Educ.
Soc., Campinas, v. 33, n. 118, pp. 191-204, jan.-mar. 2012.

RABENORT, William Louis. Spinoza como Educador. Fortaleza: EdUECE, 2010.

RUSS, Jacqueline. Filosofia: os autores, as obras. Petrópolis, RJ: 2015.

SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo.
2ªed. rev; 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

• Web

https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/espinosa/

"Acredito no Deus de Espinosa, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que
existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”
(Albert Einstein)

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III. Plano do Curso
Benedictus de Espinosa (1632-1677) e a Dinâmica dos Afetos

IV. Investimento total:


III. Dados de Identificação:
Debatedor: Yan Soares Santos
Público alvo: aberto ao público
Duração: Dois (2) encontros de duas horas (2H) cada.
IV. Tema e justificativa:

• Os afetos, a ação humana e o desejo no pensamento de Espinosa voltados a uma filosofia


prática na atualidade;
• Que é Deus? Consequentemente que é a humanidade? É possível conhecer algo em sua
essência? Devemos advogar pela essencialização e enrijecimento das coisas/pessoas? Não
seria mais sensato pensar em como as coisas podem agir e como esse movimento é
provocado? Consequentemente não seria mais sensato pensar como age a humanidade?
Como ela produz coisas através de sua vivência? Como agem as pessoas e como são
impelidas a esse movimento? Não seria mais sensato pensar como as pessoas produzem
suas vivências e assim fazem-se a si mesmas? Em tempos atuais a relevância de se operar
o pensamento de Espinosa (1632-1677) tem por finalidade experimentar soluções aos
problemas apontados acima.
Espinosa foi um pensador subversivo do século XVII repensando a maneira como se
podia compreender Deus, o livre arbítrio e a relação mente/corpo propostas por Descartes
(1596-1650). Aliava sua forma de pensar a uma geometria e aos mais recentes pensamentos
sobre o movimento dos corpos celestes. Haveria, portanto, uma física dos corpos – à época
os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” de Isaac Newton (1643-1727), com suas
famosas leis da mecânica clássica, só foram publicados em 1687; essa física dos corpos,
portanto, seria baseada nas teses da astronomia de Copérnico (1473-1543), Johannes
Kepler (1571-1630) e Galileu Galilei (1564-1642).
Como eram provocados os movimentos dos corpos (essa física dos corpos)? Podemos
pensar separadamente mente e corpo? Considerando a impossibilidade de uma separação
mente/corpo como se dá o movimento dos corpos? Como através desse movimento as
pessoas produzem suas vivências e assim fazem-se a si mesmas? Operando enquanto uma
única coisa, mente e corpo movem-se através da dinâmica dos afetos. O aprendizado de
como essas afecções operam na homeostase (condição de relativa estabilidade da qual o
organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo)
dos sujeitos garantiria uma busca por maiores potencialidades de agir diante do mundo;
maiores possibilidades de perfeição – esse é um dos ensinamentos de Espinosa.

V. Objetivos:

Objetivo geral:
• Apresentar e discutir, de maneira elucidativa, os principais conceitos do filósofo – em
especial da obra Ética (1677) – e suas possíveis aplicações na vida prática da atualidade;
Objetivos específicos:
• Apresentar o momento histórico-filosófico da vida de Espinosa e as principais influências em
seu pensamento;
• Propor uma interpretação sobre a figura de Espinosa em seu próprio tempo;
• Discutir os principais conceitos e pensamentos do filósofo;
• Indicar possíveis aplicações na vida cotidiana-prática da atualidade do pensamento
espinosiano;
• Apresentar possíveis ressonâncias da filosofia espinosiana em pensadores posteriores (ao
filósofo) e atuais;

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VI. Conteúdo:
• Espinosa, um filósofo dissidente?;
o Vida e Obra;
▪ Vida:
• Baruch, Benedictus ou Bento de Espinosa nasce em 24 de novembro
de 1632 em Amsterdã, sua família de origem portuguesa de judeus
e conceberam ao jovem uma educação hebraica. Frequentava o
círculo liberal protestante e dos judeus. Descobriu o primado da
razão aos moldes modernos através da ciência de Galileu e da
Filosofia de Descartes.
• Vive toda sua vida enquanto artífice do corte e polimento de vidro
para lentes de óculos, tanto em Leiden quanto em Haia,
posteriormente.
• Excomungado aos 24 anos pela comunidade judaica de Amsterdã,
abandona os estudos judaicos e penetrou no pensamento do
humanismo clássico. Leu obras de Tácito, Tito Lívio, Virgílio,
Sêneca, Ovídio, Cícero, Aristóteles, Hipócrates, Epiteto, Luciano,
Homero, Euclides.
• Após a publicação de Tratado Teológico-Político (1665) foi
considerado pelos teólogos como ateu, blasfemador e nocivo para a
república.
• Morre em 21 de fevereiro de 1677 provavelmente devido as
debilidades causadas por alguma intoxicação em decorrência de seu
ofício.
▪ Resumo das principais Obras:
• Tratado da correção do intelecto (1663): uma obra inacabada da
juventude do filósofo, na qual, aponta o verdadeiro conhecimento, o
conhecimento pela causa em contraposição às “pseudoformas” de
conhecer; trata-se, portanto, de um tratado do método, um
medicamento mental (medicina mentis), uma reflexão sobre o
caminho a seguir na investigação filosófica;
• Tratado Teológico-Político (1670): esta obra pretende defender a
liberdade de opinião e de expressão, empreendendo na separação
entre a fé e a filosofia; expõe também um método para se analisar
os textos (sagrados ou não); lançando as bases de um Estado
democrático, laico, separado da religião (mas que aceita as diversas
religiões e as práticas correspondentes);
• Ética (1677): obra elaborada sob a forma de um sistema matemático,
com definições, axiomas, postulados e proposições demonstradas
que se deduzem desse sistema. A Ética expõe e aplica o
racionalismo espinosiano, combatendo a ideia tradicional da criação
das coisas por um Deus transcendente e essencializado, para
afirmar a autoprodução de Deus e o modo de produção do Real;
estudando também a natureza e origem da mente; explica as paixões
humanas e em seguida expõe a servidão do indivíduo submetido às
paixões; por fim, fala do homem livre, conhecedor de Deus e
dominador do conatus alcançando a plenitude de uma alegria
perfeita, preenchido amplamente do conhecimento e de potência.
Uma ética geométrica – a verdade é imanente ao próprio
conhecimento, não necessitando de qualquer garantia externa:
conhecer adequadamente uma coisa é conhecer seu modo de
produção. Ou seja, ele desvia da questão “que é” para a questão
“como”!
▪ Para a leitura qualificada da “Ética, demonstrada à maneira dos geômetras”:
• “O método geométrico deixa de ser um método de exposição
intelectual; não se trata mais de uma exposição professoral, mas de
um método de invenção. Ele se torna um método de retificação vital
e óptica. Se o homem é de certa forma torcido, retificar-se-á este
efeito de torção religando-o a suas causas, more geométrico. Essa
geometria óptica atravessa toda a Ética” (DELEUZE, 2002: 19); “O

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método geométrico está, portanto, submetido a duas limitações: a
exterioridade dos pontos de vista e o caráter distributivo das
propriedades” (DELEUZE, 2017: 23):
• Axioma: hipótese (autoevidente) inicial de qual outros enunciados
são logicamente derivados;
• Definição: enunciado que explica o significado do termo;
• Proposição: é um termo usado em lógica para descrever o conteúdo
das asserções. Asserções, por sua vez, são conteúdos que podem
ser tomados como verdadeiros ou falsos;
• Demonstração: argumento dedutivo válido cujas premissas são
verdadeiras ao se assumirem certos axiomas;
• Corolário: afirmação deduzida de uma verdade já demonstrada; é
igualmente uma decorrência imediata de um teorema;
• Escólio: comentários gramaticais, críticos ou explicativos, sejam
originais, sejam extraídos de comentários pré-existentes; sua
finalidade é a de tornar inteligível;
• Explicação: para Espinosa, explicar quer dizer mostrar que uma
proposição é verdadeira, criando conexões necessárias para atingir
tal objetivo.
o Natureza – esse Deus imanente:
▪ Deus sive natura (Deus ou a Natureza) – o é na medida que cria a si
própria;
• “O autor procura mostrar de que modo Deus se produz a si mesmo,
às coisas e ao homem, demonstrando que esse modo de
autoprodução é o próprio modo de produção do real [...] 1. O ato pelo
qual Deus se produz é o ato pelo qual produz as coisas; 2. Deus é a
coisa de si mesmo e das coisas como causa imanente e não
transcendente; 3. A produção divina não visa a fim algum, é o seu
próprio fim, ou seja, entre o ato de produção e o produto não há
distancia a separá-los, são uma só e mesma coisa” (ESPINOSA,
1979: XVI);
• Se conhecer é conhecer pela causa, o ser humano só poderá ser
conhecido se forem explicitadas as causas de sua essência, de sua
existência, e de sua ação – que só existem relacionadas.
• Substancia e seus atributos – existência de si e por si;
• Efeitos imanentes à substancia – existência em outro e por outro;
• “Todos conhecemos o primeiro princípio de Espinosa: uma única
substância para todos os atributos. Mas conhecemos também, o
terceiro, o quarto ou o quinto princípio: uma única Natureza para
todos os corpos, uma única Natureza para todos os indivíduos, uma
Natureza que é ela própria um indivíduo variando de uma infinidade
de maneiras. Não é mais a afirmação de uma substancia única, é a
exposição de um plano comum de imanência em que estão todos os
corpos, todas as almas, todos os indivíduos. Este plano de imanência
ou de consistência não é um plano no sentido de desígnio no espírito,
projeto, programa, é um plano no sentido geométrico, seção,
interseção, diagrama” (DELEUZE, 2002: 127);
• “Deus é a natureza ‘complicativa’; e essa natureza explica e implica
Deus, envolve e desenvolve Deus. Deus ‘complica’ toda coisa, mas
toda coisa o explica e o envolve [...] Ora, em Espinosa a Natureza
compreende tudo, contém tudo, ao mesmo tempo em que é
explicada e implicada por cada coisa” (DELEUZE, 2017: 19-20);
▪ A importância da palavra ‘exprimir’ em Espinosa:
• Triplo emprego da palavra “exprimir”:
o exprimir uma essência: “cada atributo exprime uma
essência, mas enquanto exprime em seu gênero a essência
da substância; e como a essência da substância envolve
necessariamente a existência, cabe a cada atributo exprimir,

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com a essência de Deus, sua existência eterna” (DELEUZE,
2017: 16);
o exprimir a essência: “Deus se exprime por si mesmo ‘antes’
de exprimir-se em seus efeitos; Deus se exprime
constituindo por si a natureza naturante, antes de se exprimir
produzindo em sai a natureza naturada” (DELEUZE, 2017:
17);
o exprimir a existência: “A ideia de Deus se exprime em todas
as nossas ideias como fonte e causa destas, de maneira que
o conjunto de ideias reproduz exatamente a ordem da
natureza inteira. E a ideia, por sua vez, exprime a essência,
a natureza ou a perfeição de seu objeto: da definição ou da
ideia é dito que elas exprimem a natureza da coisa tal como
ela é em si mesma” (DELEUZE, 2017: 17);
• Exprimir: explicar ou desenvolver; implicar ou envolver; complicar,
conter ou compreender;
• “A expressão não concerne à substância ou ao atributo em geral, em
condições indeterminadas. Quando a substância é absolutamente
infinita, quando ela possui uma infinidade de atributos, então, e
somente então, pode-se dizer que os atributos exprimem a essência,
porque a substância também se exprime nos atributos” (DELEUZE,
2017: 23);
▪ Natureza naturada / natureza naturante;
• Natureza naturada: “natureza enquanto representa um conjunto de
modos do real que devem ser estudados cientificamente. Conjunto
dos modos que estão em Deus” (RUSS, 2016: 156). Totalidade dos
modos produzidos pelos atributos.
• Natureza naturante: “natureza enquanto designa uma substância
infinita; o que é em si e é concebido por si” (RUSS, 2016: 156).
Substancia e seus atributos, enquanto atividade infinita que produz
a totalidade do real.
• O pensamento do filósofo dissidente – principais conceitos:
o Deus (enquanto substancia infinita realizada em si mesma) e a humanidade – a
causalidade divina;
▪ Deus:
• “Ao causar-se a si mesmo, pondo por si mesmo a necessidade de
sua própria existência, Deus faz existir todas as coisas singulares
que O exprimem porque são efeitos de Sua potência infinita. Em
outras palavras, a existência da substância absolutamente infinita é,
simultaneamente, a existência de tudo o que sua potência gera e
produz: Deus é causa eficiente imanente de todos os seres que
seguem necessariamente de sua essência absolutamente infinita,
não se separa deles, e sim se exprime neles e eles O exprimem”
(CHAUÍ, 2011: 70);
• “Entendo por causa de si aquilo cuja essência envolve a existência;
ou por outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida
senão como existente” (Ética, I, def. 1). Ao começar a Ética pela
definição de causa de si, Espinosa tem uma intenção precisa.
Tradicionalmente, a noção de causa de si é usada com muitas
precauções, pro analogia com a causalidade eficiente (causa de um
efeito distinto), e portanto, em um sentido apenas derivado: causa de
si significaria “como por uma causa” (DELEUZE, 2002: 62);
▪ Humanidade:
• “O homem, contrariamente ao que imaginara toda a tradição, não é
uma substancia finita, mas um modo finito da substância
absolutamente infinita ou uma expressão determinada da potência
imanente de Deus – é este o sentido de ser parte do ser
absolutamente infinito [...] O ser humano é um modo singular finito
de dois atributos da substância absolutamente infinita – a extensão

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e o pensamento: pelo atributo pensamento, é uma mente; pelo
atributo extensão, um corpo” (CHAUÍ, 2011: 72);
• A mente é ideia do corpo, ou seja, o corpo constitui o objeto atual da
mente. A mente é a ideia das afecções corporais. Portanto, a mente
é consciência da vida de seu corpo e consciência de ser consciente
disso.
• Conhecimento: “O Conhecimento não é a operação de um sujeito,
mas a afirmação da ideia na alma: “Não somos nós quem afirma ou
nega jamais nada de uma coisa, mas é ela mesma que em nós
afirma ou nega algo de si mesma” (Espinosa: Breve tratado, II, 16,
5). Espinosa recusa qualquer análise do conhecimento que
distinguisse dois elementos: entendimento e vontade. O
conhecimento é a autoafirmação da ideia, “explicação” ou
desenvolvimento da ideia, à maneira de uma essência que se explica
em suas propriedades ou de uma causa que se explica nos seus
efeitos” (DELEUZE, 2002: 63).
o Do sujeito comum ao sujeito livre na cidade livre;
▪ O sujeito que adquire um conhecimento adequado de si mesmo e das
afecções, compreende as próprias paixões captando os mecanismos que as
engendram tendo acesso a uma liberdade racional irredutível; a democracia
seria a forma de governo capaz para a alma e o corpo dos sujeitos para
utilizarem sua razão livre.
▪ Sociedade:
• “Estado (civil) no qual um conjunto de homens compõe sua
respectiva potência de maneira a formar um todo de potência
superior. Este estado conjura a fragilidade e a impotência do estado
de natureza em que cada um corre sempre o risco de encontrar uma
força superior à sua e capaz de destruí-lo. O estado civil ou de
sociedade assemelha-se ao estado de razão, e contudo apenas dele
se assemelha, o prepara ou lhe ocupa o lugar. Isto porque, no estado
de razão, composição dos homens faz-se segundo uma combinação
de relações intrínsecas, determinada pelas noções comuns e pelos
sentimentos ativos que delas decorrem” (DELEUZE, 2002: 112);
• “Compreendemos agora por que o estado de sociedade segundo
Espinosa repousa num contrato que comporta dois momentos: 1. É
preciso que os homens renunciem à sua potência, e isso em proveito
do Todo que eles formam por meio dessa renúncia (a cessão conduz
exatamente ao seguinte: os homens consentem em deixar-se
“determinar” por afecções comuns de esperança e de temor); 2. Essa
potência do Todo assim formada (absolutum imperium) é transferida
para um Estado, monárquico, aristocrático ou democrático (sendo a
democracia o mais próximo do absolutum imperium e tendendo a
substituir as afecções-paixões de temor, de esperança e mesmo de
segurança pelo amor da liberdade, como afecção da Razão)”
(DELEUZE, 2002: 113).
o As afecções segundo Espinosa: A Alegria, a Tristeza, o Amor e o Ódio – as
paixões e seu movimento;
▪ Definição geral das afecções: “Uma afecção, chamada paixão da alma (animi
pathema), é uma ideia confusa pela qual a alma afirma a força de existir,
maior ou menor do que antes, do seu corpo ou de uma parte deste, e pela
presença da qual a alma é determinada a pensar tal coisa de preferência a
tal outra” (p. 222);
▪ I. O desejo (cupiditas) é a própria essência do homem, enquanto esta é
concebida como determinada a fazer algo por uma afecção qualquer nela
verificada.
▪ II. A alegria (Laetitia) é a passagem do homem de uma perfeição menor para
uma perfeição maior.
▪ III. A tristeza (Tristitia) é a passagem do homem de uma perfeição maior para
uma perfeição menor.
▪ VI. O amor (Amor) é a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior.

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▪ VII. O ódio (Odium) é a tristeza acompanhada da ideia de uma causa exterior.
▪ XII. A esperança (Spers) é uma alegria instável nascida da ideia de uma coisa
futura ou passada, do resultado da qual duvidamos numa certa medida.
▪ XIII. O medo (Metus) é uma tristeza instável nascida da ideia de uma coisa
futura ou passada, do resultado da qual duvidamos numa certa medida.
• Espinosa medicina mentis (medicamento mental)? – Por uma “filosofia prática” de
Espinosa;
o O desejo, e a ação humana;
▪ Para Aristóteles, o páthos (paixão, excesso, catástrofe, passagem,
passividade, sofrimento, assujeitamento, sentimento e ligação afetiva):
“somos desejo natural – é nosso éthos sermos desejantes e desejosos como
tudo o que existe no mundo sublunar ou no mundo do movimento –, mas,
também temos desejos acidentais, sofremos passivamente a contingência,
os acidentes de nossas vidas e por isso somos seres naturalmente
submetidos aos acidentes passionais. [...] Nossa índole natural pode tornar-
se desejo contrário a si mesmo, sob o impacto das paixões” (CHAUÍ, 2011:
27);
▪ Os Estóicos como Cícero consideravam que desejar era estar doente, ou
seja, para eles a autoconservação, temperança, domesticação, era nossa
tendência e o desejo nos desvia disso. O desejo era a perda do poder de si
sobre si, perda da faculdade de julgar e por isso doença do juízo: “Aflição e
desejo são as perturbações que roubam a saúde do ânimo, saúde que os
estoicos chamavam de apatheia, negação do páthos, impassibilidade e
indiferença ao sofrimento e à dor. Tranquillitas, dizem os romanos.
Serenidade, escreve Sêneca” (CHAUÍ, 2011: 30);
▪ Para Agostinho, o desejo: “É doença que desnatura a natureza original do
homem e contraria a vontade de Deus. Não só doença, mas vício, o desejo
se faz pecado e habita em nós. Surge como potência desagregada do
homem e desordenadora da Natureza, agente do Mal. O desejo é pecado
original e origem do pecado” (CHAUÍ, 2011: 33);
▪ Os estratos discursivos sobre o desejo:
• “Antes, porém, que a ruptura com os antigos e medievais viesse a
consagrar-se, a retórica, dirigida pela moral, havia se tornado
medicina animi, operando no interior de três tradições: a platônica,
de ascese do desejo; a aristotélica e a epicurista, de educação do
desejo; e a estoica (e cristã), de abolição do desejo, no sábio (e no
santo), ou de sua moderação, para o vulgo (ou para o pecador) ”
(CHAUÍ, 2011: 35);
• “No entanto, quando a Renascença restituir o neoplatonismo e
recuperar a teologia astral, restituir o aristotelismo e recuperar a
metafísica do desejável como motor imóvel do mundo, e inserir,
estoicamente, o homem no todo da Natureza como microcosmo, o
laço que prendia o desejo à Fortuna voltará a ser atado, mas para
afirmar que o movimento desejante só em aparência é transgressão
do mandamento divino porque, em essência, é a realização do divino
em nós” (p. 37);
o O desejo enquanto Cupiditas era o pecado da
concupiscência (desejo sexual exagerado); o desejo
enquanto desiderium torna-se o pecado da soberba;
▪ O Homem Moderno:
o “O homem moderno não é mais um simples mechanicus, e
sim machinator, mais do que artesão, que extrai da matéria
o que ela lhe permite, é geômetra, algebrista e engenheiro,
concebendo movimentos novos, isto é, máquinas” (p. 43);
o Para Hobbes: “O conatus [esforço], movimento interno ao
corpo, é o movimento infinitesimal e invisível dos espíritos
animais”
▪ Patologia: é derivação do uso do páthos como doença, ou seja, páthos ≠
physis (natureza); Para Decartes uma psicoterapia seria possível, pois, a
razão dominaria os afetos, podendo calcular o desejo, ou tentar educá-lo;

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▪ Espinosa:
• “o desejo não é somente operação imaginativa e paixão; é um afeto
originário que pode ser passivo ou ativo, uma paixão ou uma ação,
e nossa razão só disporá da capacidade moderadora se for vivida
por nós como um afeto ou um desejo ativo cuja força suplanta a de
afetos passivos ou paixões. Assim, em lugar de o desejo tornar-se
racional, como toda a tradição filosófica prometera, é a razão que
precisa tornar-se desejante para ser racional” (CHAUÍ, 2011: 59);
• “Ocultando-nos de nós mesmos, o véu das ideias imaginativas induz
à inversão entre o desejante e o desejado: cremos que, externo a
nós, o desejado ou o indesejado é a causa do desejo ou da aversão
que vivenciamos” (CHAUÍ, 2011: 65);

o A dinâmica dos afetos: As paixões tristes (o sujeito servo das afecções) e As
paixões alegres (o sujeito realizado em si-mesmo);
▪ Afetos e desejos alegres e Afetos e desejos tristes:
• “Exatamente porque afetos alegres, tristes e desejantes se
entrecruzam e se entrelaçam de formas múltiplas e variadas,
Espinosa afirma que não possuímos um número suficiente de
palavras para exprimir todos os afetos possíveis, pois são
combinações infinitas de afetos alegres, tristes e desejantes. Para
alguns afetos tristes possuímos nomes, e Espinosa os nomeia: ódio,
aversão, medo, ciúme, desespero, remorso, arrependimento,
comiseração, autocomiseração, auto abjeção, humildade, modéstia,
inveja, pudor. Espinosa nomeia também alguns dos desejos tristes:
frustração, cólera, vingança, crueldade, temor, pusilanimidade,
consternação. E nomeia também alguns afetos e desejos alegres:
amor, generosidade, glória, esperança, gratidão, segurança,
devoção, estima, misericórdia, benevolência, coragem, força de
ânimo. No entanto, paixões e desejos tristes tendem a combinar-se
com paixões e desejos alegres, formando a trama cerrada do mundo
afetivo imaginário, faltando-nos nomes e palavras para nomear todos
os afetos assim produzidos. Essa combinação incessante de
alegrias, tristezas, desejos alegres e tristes indica que nosso ser é
constituído por um sistema de forças de intensidades distintas, ou
seja, nossa potência é perpassada pelo jogo interno de intensidades
fortes (alegria e desejos alegres) e fracas (tristeza e desejos tristes),
e é exatamente essa multiplicidade de intensidades que nos permite
vencer afetos tristes por alegres, mas também oscilar
incessantemente entre alegrias e tristezas” (CHAUÍ, 2011: 93)
o Conatus ou a potência de agir do sujeito;
▪ Para Descartes:
• “O conatus é uma força centrífuga, isto é, tendência a afastar-se
indefinidamente do centro de origem do movimento [...] limita-se a
ser um caso do princípio de inércia, proposto pela física cartesiana”
(CHAUÍ, 2011: 47);
▪ Para Hobbes e Espinosa:
• “[conatus] é também uma reação à pressão centrípeta que afeta
externamente um corpo. Sua função é manter o equilíbrio interno de
um corpo e restabelecê-lo quando rompido pelas forças externas [...]
esforço para desvencilhar-se de um obstáculo externo, e o desejo se
realiza num campo de forças em conflito, num meio ou ambiente de
antagonismos” (p. 47-48);
▪ Conatus é intensidade + força = potentia agendi – potência de agir:
• Esforço de perseverança da existência;
• “Duas espécies de afecção: as ações, que se explicam pela natureza
do indivíduo afetado e derivam de sua essência; as paixões, que se
explicam por outra coisa e derivam do exterior. O poder de ser
afetado apresenta-se então como potência de agir, na medida em
que se supõe preenchido por afecções ativas e apresenta-se como

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potência para padecer, quando é preenchido por paixões”
(DELEUZE, 2002: 33).
▪ Desvalorização de todos os valores e sobretudo do bem e do mal (em
proveito do ‘bom’ e do ‘mau’):
• “O bom existe quando o corpo compõe diretamente a sua relação
com o nosso, e, com toda ou com uma parte de sua potência,
aumenta a nossa. Por exemplo, um alimento. O mau para nós existe
quando o corpo decompõe a relação do nosso, ainda que se
componha com as nossas partes, mas sob outras relações que
aquelas que correspondem à nossa essência: por exemplo, como
um veneno que decompõe o sangue. Bom e mau têm pois um
primeiro sentido, objetivo, mas relativo e parcial: o que convém à
nossa natureza e o que não convém” (DELEUZE, 2002: 29);
• “Será dito bom (ou livre, ou razoável, ou forte) aquele que se esforça
tanto quanto pode, por organizar os encontros, por se unir ao que
convém à sua natureza, por compor a sua relação com relações
combináveis e, por esse meio, aumentar sua potência. Pois a
bondade tem a ver com o dinamismo, a potência e a composição de
potências. Dir-se-á mau, ou escravo, ou fraco, ou insensato, aquele
que vive ao acaso dos encontros, que se contenta em sofrer as
consequências, pronto a gemer e a acusar toda vez que o efeito
sofrido se mostra contrário e lhe revela a sua própria impotência”
(DELEUZE, 2002: 29);
• “Espinosa, em toda a sua obra, não cessa de denunciar três espécies
de personagem: o homem das paixões tristes; o homem que explora
essas paixões tristes, que precisa delas para estabelecer o seu
poder; enfim, o homem que se entristece com a condição humana e
as paixões do homem em geral (que tanto pode zombar como se
indignar, essa mesma zombaria constitui um mau risco). O escravo,
o tirano e o padre... a trindade moralista” (DELEUZE, 2002: 31);
o O uso dos corpos – Cupiditas (desejo-apetite), conatus e afecções;
▪ Corpo:
• “Espinosa propõe aos filósofos um novo modelo: o corpo. Propõe-
lhe instituir o corpo como modelo: “Não sabemos o que pode o
corpo...”. Esta declaração de ignorância é uma provocação: falamos
da consciência e de seus decretos, da vontade e de seus efeitos, dos
mil meios de mover o corpo, de dominar o corpo e as paixões – mas
nós nem sequer sabemos de que é capaz um corpo” (DELEUZE,
2002: 23-24);
• “Quando um corpo “encontra” outro corpo, uma ideia, outra ideia,
tanto acontece que as duas relações se compõem para formar um
todo mais potente, quanto que um decompõe o outro e destrói a
coesão de suas partes. Eis o que é prodigioso tanto no corpo como
no espírito: esses conjuntos de partes vivas que se compõem e
decompõem segundo leis complexas” (DELEUZE, 2002: 25);
• Que pode um corpo?
o Segunda tríade da expressão no modo finito: essência,
poder de ser afetado, afecções que preenchem esse poder;
o “A tríade expressiva do modo finito se apresenta assim: a
essência como grau de potência; a conexão característica
na qual ela se exprime; as partes extensivas subsumidas sob
essa conexão, e que compõem a existência do modo”
(DELEUZE, 2017: 239);
o “Que pode um corpo? A estrutura de um corpo é a
composição da sua conexão. O que pode um corpo é a
natureza e os limites do seu poder de ser afetado”
(DELEUZE, 2017: 240)
▪ O corpo apetece e a alma deseja (percepção ou consciência do apetite):
• “O desejo como consciência dos movimentos corporais pela mente
que, embora também seja definida como conatus, não realiza

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movimentos, e sim ordena, conecta e encadeia pensamentos, alguns
dos quais são afetos e desejos” (CHAUI, 2011: 49);
• “O apetite nada mais é que o esforço pelo qual cada coisa encoraja-
se a perseverar no seu ser, cada corpo na extensão, cada alma ou
cada ideia no pensamento (conatus) [...] A consciência é como a
passagem, ou melhor, como o sentimento de passagem dessas
totalidades menos poderosas às mais poderosas e inversamente. A
consciência é puramente transitiva (DELEUZE, 2002: 27)
• “A dinâmica do conatus toma o movimento como uma causa,
rigorosamente definida como tal, uma vez que é responsável pela
gênese dos corpos e dos efeitos e, apreendendo-o segundo a
exigência galileana de toma-lo não como passagem entre dois
pontos em repouso, mas como continuidade e trânsito ininterruptos,
permite uma ciência do desejo de estilo matemático, cujos
pressupostos são: a causa do movimento é outro movimento; o
começo de um movimento já é movimento; um corpo é efeito de
movimentos e causa de outros, e toda variação qualitativa – no caso,
a variação afetiva causada pelo desejo” (p. 52);
• Ação:
o “Uma paixão, demonstra Espinosa, nunca é vencida por uma
razão, mas, apenas por outra paixão mais forte e contrária;
e uma paixão forte só é vencida por uma ação mais forte e
contrária. A ação – porque depende inteiramente do agente
como causa adequada ou total dos efeitos – é sempre mais
forte ou potente do que uma paixão, mesmo que esta seja
muito forte; por conseguinte, o afeto ativo é mais forte do que
o afeto passional” (CHAUI, 2011: 65)
• Ética:
o Rede afetiva intrincada de desejos múltiplos de acordo com
as disposições do corpo-mente, em detrimento do hábito,
que é aptidão do corpo-mente para a autoconservação;
o “A Ética de Espinosa não tem nada a ver com uma moral,
ele a concebe como uma etologia, isto é, como uma
composição das velocidades e das lentidões, dos poderes
de afetar e de ser afetado nesse plano de imanência. Eis por
que Espinosa lança verdadeiros gritos: não sabeis do que
sois capazes, no bom como no mau, não sabeis
antecipadamente o que pode um corpo ou uma alma, num
encontro, num agenciamento, numa combinação”
(DELEUZE, 2002: 130);
o “Etologia é, antes de tudo, o estudo das relações de
velocidade e de lentidão, dos poderes de afetar e de ser
afetado que caracterizam cada coisa. Para cada coisa,
essas relações e esses poderes possuem uma amplitude,
limiares (mínimo e máximo), variações ou transformações
próprias. E eles selecionam no mundo ou na Natureza aquilo
que corresponde à coisa, isto é, o que afeta ou é afetado por
ela, o que move a coisa ou é movido por ela” (DELEUZE,
2002: 130);
• “Eis por que Espinosa afirma que a essência do homem é desejo. Na
vida corporal, uma afecção pode aumentar ou diminuir, favorecer ou
prejudicar a potência do corpo. Tal afecção é o afeto. Visto que a
mente é ideia de seu corpo e ideia dessa ideia (ou consciência de
si), ela forma ideia dos afetos corporais, ou seja, experimenta
psiquicamente os afetos, ou aquilo que aumenta ou diminui, favorece
ou prejudica sua potência de pensar” (CHAUÍ, 2011: 85);
▪ Ser spinozistas:
• “Em suma: se somos espinosistas, não definiremos algo nem por sua
forma, nem por seus órgãos e suas funções, nem como substância
ou como sujeito. Tomando emprestados termos da Idade Média, ou

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então da geografia, nós o definiremos por longitude e latitude. Um
corpo pode ser qualquer coisa, pode ser um animal, pode ser um
corpo sonoro, pode ser uma alma ou uma ideia, pode ser um corpus
linguístico, pode ser um corpo social, uma coletividade. Entendemos
por longitude de um corpo qualquer conjunto de relações de
velocidade e de lentidão, de repouso e de movimento, entre
partículas que o compõem desse ponto de vista, isto é, entre
elementos não formados. Entendemos por latitude o conjunto dos
afetos que preenchem um corpo a cada momento, isto é, os estados
intensivos de uma força anônima (força de existir, poder de ser
afetado). Estabelecemos assim a cartografia de um corpo. O
conjunto das longitudes e das latitudes constitui a Natureza, o plano
de Imanência ou de consistência, sempre variável, e que não cessa
de ser remanejado, composto, recomposto, pelos indivíduos e pelas
coletividades” (DELEUZE, 2002: 132-133).
o Usando e abusando de Espinosa – as ressonâncias do filósofo dissidente:
▪ Nietzsche (1844-1900) – o mais potente dos afetos:
• Pontos de aproximação ditados por Nietzsche em sua carta a
Overbeck em 1881: 1. “fazer do conhecimento o mais potente dos
afetos”; 2. Negar o livre-arbítrio; 3. Negar a teleologia e as causas
finais; 4. Negar a ordem moral do mundo; 5. Negar o desinteresse;
6. Negar o mal;
• “A razão é instrumento da virtude, ela é uma forma que o desejo
assume neste esforço, chamado de conatus, para conservar-se,
multiplicar-se e crescer. Este esforço conta com o conhecimento
racional e intuitivo, onde finalmente atinge velocidades altíssimas,
que nós nunca imaginávamos alcançar! Que grande alegria, o
conhecimento é, realmente, o mais potente dos afetos”
(https://razaoinadequada.com/2016/08/17/espinosa-o-
conhecimento-e-o-mais-potente-dos-afetos/ último acesso:
23/10/2017);
• Para Nietzsche: “Da perspectiva que assume em 1881, Spinoza, é o
único entre os modernos a não admitir a ideia de uma vontade livre,
a recusar as noções de bem e de mau, a repudiar os juízos morais.
Por isso mesmo ele se põe como um de seus raros ancestrais
filosóficos” (MARTON, 2009: 4);
• “Em Nietzsche, o mundo seria concebido como uma totalidade
interconectada de quanta dinâmicos ou, se se quiser, de campos de
força instáveis em permanente tensão; sempiterno e finito, não se
submeteria a lei alguma nem seria dotado de nenhuma
racionalidade. E o ser humano faria parte desse fluxo contínuo, sem
nada que pudesse explicar a sua vida ou justificar a sua morte, de
modo que a celebração da existência no amor fati assumiria a forma
de um desafio” (MARTON, 2009: 13);
• Para Nietzsche, Spinoza teve uma dupla penetração: A primeira em
idos de 1876 quando ao falar da moral e dos afetos de Spinoza
afirma que a filosofia é uma reflexão sobre a vida e não sobre a
morte, porém, em 1882 acusou Spinoza de buscar a
autoconservação através de um controle dos instintos, visando seu
apaziguamento, e criticando pelo mesmo motivo, a forma geométrica
de exposição da Ética.
▪ Judith Butler (1956-__) – A performatividade e suas (possíveis) relações com
Espinosa;
▪ Na última sessão desse último capítulo, Butler, nos apresenta suas posições e
possibilidades. Intitulada Inscrições corporais, subversões performativas a
filósofa para a mobilizar as indicações de Mary Douglas para compreender e
como fazer com que as configurações culturais podem tornar maleáveis ou
proliferarem além da perspectiva binária. Butler nos diz:
Entretanto, segundo a compreensão da identificação como
fantasia ou incorporação posta em ato, é claro que essa

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coerência é desejada, anelada, idealizada, e que essa
idealização é um efeito de significação corporal. Em outras
palavras, atos, gestos e desejo produzem o efeito de um núcleo
ou substância interna, mas o produzem na superfície do corpo,
por meio do jogo de ausências significantes, que sugerem, mas
nunca revelam, o princípio organizador da identidade como
causa. Esses atos, gestos, atuações, entendidos em termos
gerais, são performativos, no sentido de que a essência ou
identidade que por outro lado pretendem expressar são
fabricações manufaturadas e sustentadas por signos corpóreos
e outros meios discursivos (p. 235).
Portanto,
Se o corpo não é um “ser”, mas uma fronteira variável, uma
superfície cuja permeabilidade é politicamente regulada, uma
prática significante dentro de um campo cultural de hierarquia
do gênero e da heterossexualidade compulsória, então que
linguagem resta para compreender essa representação corporal,
esse gênero, que constitui sua significação “interna” em sua
superfície? [...] Consideremos o gênero, por exemplo, como um
estilo corporal, um “ato”, por assim dizer, que tanto é
intencional como performativo, onde “performativo” sugere a
construção dramática e contingente do sentido (p. 240).
É necessário seguir a ressalva de Butler para compreender melhor a
performatividade, pois, existe uma diferença dela com a expressão. A
expressão existe quando se estipula uma identidade pré-existente – e como a
autora demonstrou ao longo do texto ela preexiste heteronormativamente –
já a performatividade constitui a identidade dramaticamente, através do
tornar-se.
Por fim, “o fato de a realidade do gênero ser criada mediante performances
sociais contínuas significa que as próprias noções de sexo essencial e de
masculinidade ou feminilidade verdadeiras ou permanentes também são
constituídas, como parte da estratégia que oculta o caráter performativo do
gênero e as possibilidades performativas de proliferação das configurações
de gênero fora das estruturas restritivas da dominação masculinista e da
heterossexualidade compulsória” (p. 244).
▪ Vladimir Safatle (1973-__) – “O Circuito dos Afetos” – afecções e política;
pensar novas formas políticas através do pensar novos corpos políticos:
• Compreender o poder é compreender corpos políticos e seus
circuitos de afetos;
• “normatividades sociais funcionam a partir de uma dinâmica de
conflitos entre normas explícitas e implícitas, entre normas que são
claramente enunciadas e aquelas que agem em silêncio, precisando
continuar implícitas para poder funcionar” (SAFATLE, 2016: 15);
• “Talvez precisemos partir da constatação de que sociedades são, em
seu nível mais fundamental, circuitos de afetos” (SAFATLE, 2016:
15);
• “Uma encarnação não é necessariamente uma representação, mas
um dispositivo de expressão de afetos. Sendo assim, podemos
pensar a política a partir da maneira como afetos determinados
produzem modos específicos de encarnação. Nem todas as
corporeidades são idênticas; algumas são unidades imaginárias,
outras são articulações simbólicas, outras são dissociações reais.
Cada regime de corporeidade tem seu modo de afecção” (SAFATLE,
2016: 20);
• Predicados do sujeito: “se voltarmos os olhos a uma dimensão
mais estrutural do problema, será importante lembrar como a
etimologia de ‘predicar’ é bastante clara. Vinda do latim praedicare,
que significa “proclamar, anunciar”, a predicação é aquilo que pode
ser proclamado, aquilo que se submete às condições gerais da
enunciação” (SAFATLE, 2016: 24);
VII. Desenvolvimento do tema:

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• Este minicurso pretende ser dividido em dois encontros com duração de duas horas cada.
Dessa maneira será dividido em dois módulos, um por dia:
o Módulo I:
▪ Espinosa, um filósofo dissidente?;
▪ O pensamento do filósofo dissidente – principais conceitos;
o Módulo II:
▪ Espinosa medicina mentis (medicamento mental)? – Por uma “filosofia
prática” de Espinosa;
▪ Usando e abusando de Espinosa – as ressonâncias do filósofo dissidente.
VIII. Recursos didáticos:

• Materiais oferecidos aos ouvintes:


o Pasta, caneta, papel para anotação;
o Ficha de acompanhamento;
o Cópia de algum outro material trabalhado durante o minicurso;
• Materiais necessários para o debatedor:
o Quadro e Piloto;
o Elaboração de mapas conceituais para trabalhar o tema;

XIX. Bibliografia:

• Básica:

ESPINOSA, Benedictus de. Correspondências. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Espinosa vida e obra. In: ESPINOSA, Benedictus de. Ética. 2ªed. São
Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os Pensadores). Pp. VI-XXIII.

ESPINOSA, Benedictus de. Pensamentos Metafísicos. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Tratado da Correção do Intelecto. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural,
1979 (Os Pensadores).

ESPINOSA, Benedictus de. Tratado Político. 2ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os
Pensadores).

SPINOZA, Benedictus de. Ética. 3ªed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

• Complementar:

ALMEIDA, Rogério Miranda de. A Fragmentação da Cultura e o Fim do Sujeito. São Paulo:
Edições Loyola, 2012.

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 13ªed. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2017 [1990].

CHAUI, Marilena. Desejo, paixão e ação na ética de Espinosa. São Paulo: Companhia das Letras,
2011.

CHAUÍ, Marilena. Espinosa: poder e liberdade. En publicacion: Filosofia política moderna. De


Hobbes a Marx Boron, Atilio A. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCP-
FFLCH, Departamento de Ciencias Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciencias Humanas,
USP, Universidade de Sao Paulo. 2006.

CHAUÍ, Marilena. Espinosa: uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 1995.

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COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. LISETE, Rodrigues. Reflexões sobre a educação em
Espinosa: a experiência do encontro como segundo nascimento. Filosofia e Educação. Volume 5,
Número 1. Abril-Setembro de 2013. Pp. 111-129;

DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 3ªed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.

DAMÁSIO, António R. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de


si. 2ªed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.

DELEUZE, Gilles. Espinosa e o problema da expressão. São Paulo: Editora 34, 2017.

DESCARTES, René. Descartes vida e obra. In.: DESCARTES, René. Discurso do método,
Meditações, Objeções e repostas, As paixões da alma, Cartas, 2ªed. São Paulo: Abril Cultural,
1979 (Os Pensadores). Pp. VI-XXIII;

DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? São Paulo: Editora 34, 2016.

HUENEMANN, Charlie. Racionalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

MARTINS, André (org.). O mais potente dos afetos: Spinoza & Nietzsche. São Paulo: Editora
WMF Martins Fontes, 2009.

NEGRI, Antonio. Espinosa subversivo e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.
(Filô Espinosa).

OLIVEIRA, Fernando Bonadia de. Espinosa e a radicalização ética na educação pública. Educ.
Soc., Campinas, v. 33, n. 118, pp. 191-204, jan.-mar. 2012.

RABENORT, William Louis. Spinoza como Educador. Fortaleza: EdUECE, 2010.

RUSS, Jacqueline. Filosofia: os autores, as obras. Petrópolis, RJ: 2015.

SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo.
2ªed. rev; 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

• Web

https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/espinosa/

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