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Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Alagoas.
2
Parece-nos que tal perspectiva encerra uma visão que se adequa melhor ao estudo
do Direito, vez que este vocábulo é plurívoco. Ora se utiliza para referir-se aos estudos
que tomam por objeto o fenômeno de adaptação social direito, ora para se defender, por
exemplo,a importância do conhecimento dos direitos, ora na própria prática forense. Não
soa razoável pensar que a lógica, a dialética, a retórica ou a poética sozinhos, apartadas
dos demais instrumentais discursos, possa ser o meio para expresar-lhe todas as suas
facetas. O discurso de um advogado defendendo os interesses de seu patrocinado não é
expresso da mesma maneira do que o estudo de um professor dedicado à dogmática
jurídica.
Antes, porém, de apresentar esta perspectiva, num primeiro momento, inquiririr-
se-á sobre os conceitos fundamentais utilizados atualmente na filosofia do direito para o
conhecimento da retórica. Depois, mostrar-se-á como foi a recepção da perspectiva
retórica na teoria jurídica contemporâne, destacando os principais autores que dissertaram
sobre a temática: Viehweg e Perelman. Por fim, estudar-se-á, em poucas linlas, aquilo
que pensamos ser o seu produto mais acabado: a teoria da Argumentação Jurídica
desenvolvida por Atienza.
2
Sobre o desprestígio da retórica Reale sentencia: “Se há bem poucos anos alguém se referisse à arte ou
técnica da argumentação, como um dos requisitos essenciais à formação do jurista suscitaria sorrisos
irônicos e até mordazes, tão forte e generalizado se tornara o propósito positivista de uma Ciência do Direito
3
isenta de riqueza verbal, apenas adstrita à fria lógica das formas ou fórmulas jurídicas”. REALE, Miguel.
Lições preliminares de direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006 , p.88.
3
Interessante a seguinte passagem; “Assim a retórica, pelo que parece, é uma produtora de persuasão para
a crença, e não para a instrução no que diz respeito ao justo e ao injusto.” PLATÃO. Diálogos II: Górgias
(ou da retórica), Eutidemo (ou da disputa), Hípias maior (ou do belo), Hípias menor (ou do falso). Bauru:
EDUPRO, 2007, p. 54.
4
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Bauru: Edipro, p. 29.
5
ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Bauru: Edipro, p. 31.
4
verdade.6 Por outra banda, Adeodato argumenta acerca da impropriedade de uma visão
restritiva da filosofia, aceita, muitas vezes, até por retóricos, que desconsideram a
pertença desta naquela. Segundo seu pensamento, houve uma apropriação, por parte dos
ontológicos, da filosofa. No entanto, dado que sua função é pesquisar a sabedoria, e não
a verdade conteria também os estudos retóricos.7 Ou seja, a retórica e filosofia não seriam
antagônicas.
Ressalte-se que Eric Voegelin rechaça a opinião de que uma visão não ontológica
faria parte da filosofia. O filósofo germânico parte da ideia de que para os gregos,
especialmente em Platão, haveria um par de significação, sendo que um conceito
possuiria um contrário. Deste modo, um sofista ou arrivista, nesta perspectiva, jamais
poderia ser chamado por Filósofo, amigo da sabedoria, mas um “Filódoxo”. Em suas
palavras,
6
REALE, Giovanni; ANTISEREI, Dario. História da filosofia: antigüidade e idade média. 9ª ed. São
Paulo: Paulus, 2005, p.
7
ADEODATO, João Maurício. Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo. São Paulo:
Noeses, 2011, p. 2.
8
VOEGELIN, Eric. Ordem e História: Platão e Aristóteles. Vol 3. São Paulo: Loyola, 2009, p. 126.
5
9
“O raciocínio more geométrico era o modelo proposto aos filósofos desejosos de construir um pensamento
que pudesse alcançar a dignidade de ciência.” PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie.
Tratado da argumentação: a nova retórica. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.2.
10
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. 4ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 329. Isto contradiz a afirmação seguinte: “(...) retórica não consiste apenas em persuasão,
no estudo e aplicação dos meios de persuadir, vai além disso. Nem sequer a retórica estratégica(que é apenas
um tipo de retórica), na qual a persuasão ocupa sem dúvida o lugar principal, reduz-se às metodologias
persuasivas.” O autor defende que há uma retórica material identificada com a própria linguagem. Assim
sendo, se intuiria que qualquer ato comunicativo se constituiria um meio retórico. ADEODATO, João
Maurício. Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo. São Paulo: Noeses, 2011, p. 3.
11
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. 4ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 339. Ademai, “
6
12
“Os meios para demonstrar realmente ou na aparência são, como na Dialética, a indução, o silogismo e,
finalmente, o silogismo aparente: são estes pontos que têm em comum, pois o exemplo é uma indução e o
entimema é um silogismo”ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Bauru: Edipro, p. 34.
13
PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2ª
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.31.
14
POSNER, Richard A. Problemas de filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 52.
15
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses,
2009, p. XXVII. Interessante é que alguns programas de pós-graduação em direito, para demonstrar o grau
de excelência da produção intelectual de seus docentes, afirmam que as suas argumentações são acolhidas
nos tribunais superiores do país. Mais que descrever, a ciência jurídica visa convencer.
7
algo relacionado à sua natureza: ciência sem lógica não seria ciência, no entanto recurso
para torná-la mais crível pelos interlocutores. Esse seria seu fim precípuo. O que não nega
o emprego na função habitual da lógica. Isso é possível. Exemplo encontra-se na
informática jurídica.
Nega-se, todavia, uma generalização ou necessidade dela para o cientista do
direito. Ao fazê-lo, far-se-ia uma afirmação reducionista. O direito e sua ciência são mais
que lógica.
16
VIEHWEH, Theodor. Tópica y Jurisprudencia. Taurus, Madrid, 1986, p.
17
MARCO ANTONIO CÍCERO foi....
18
VIEHWEH, Theodor. Tópica y Jurisprudencia. Taurus, Madrid, 1986, p. 37.
8
19
20
VIEHWEG, Theodor. Tópica y Jurisprudencia. Taurus, Madrid, 1986, p. 24.
21
AMADO, Juan García. Tópica, derecho y método jurídico. In: Doxa: Cuadernos de Filosofía del
Derecho. Alicante: Universidad de Alicante, 1987, pp. 190.
22
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015, 316.
23
VIEHWEG, Theodor. Tópica y Jurisprudencia. Taurus, Madrid, 1986, p. 49.
9
estruturas das argumentações não se preocupando com seus aspectos externos, tais como
os psicologicos. Deste modo, intentando renovar a análise dos raciocionios produzidos
em ambientes argumentativos , construindo para tanto uma teoria de argumentação
jurídica, que ele denominou de ‘’A nova retórica’’. 24
De fato, ‘’ O raciocinio move geometrico era o modelo proposto aos filósofos
desejosos de construir um sistema de pensamento que pudesse alcançar a dignidade de
uma ciência.’’ Como se tem um tópico precedente, deixe-se o apogeu desta perpesctiva
com a prevalência da filosofia racionalista, que tem em Descartes em de seus primeiros
expoentes. Sabendo-se que ‘’ O Campo da argumentação é o do verossimil , da causivel,
do provavel, na medida em que está ultima escapa ás certezas de rácula’’. Os adeptos do
racionalismo, afirma Perelman, a segundo plano, uma vez que não sendo analiticos sejam
despidos da caracteristica necessidade. 25
Em razão disto, encerra como um dos pressupostos da argumentação a noção de
auditório que a teoria da argumentação tem por objetivo o conhecimento dos individuos,
aquele que argumenta deve conhecer o destinatário dos argumentos, o qual, no fim das
contas, constituem o ponto central no ambiente discursivo.
Neste sentido, Perelman o define como conjunto daqueles queo o orador quer
influenciar com sua argumentação. Cada orador pensa, de uma forma mais ou menos
consciente, naqueles que procuram persuadir e que contextua o auditório ao qual se
dirigem seus discursos. 26 Todavia, Perelman acredita que a
24
ATIENZA, MANUEL. As Razões do Direito: Teorias da Argumentação Jurídica. São Paulo; Landy,
2003, p. 38.
25
PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2ª
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.2.
26
PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2ª
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.2.
27
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 66.
10
falaciosa da realidade: “Em vez de ocupar-se com a retórica e com opiniões enganadoras,
não será melhor amparado na filosofia , procurar conhecer o verdadeiro?”28 Pois, segundo
seu parecer, Aristóteles aceitava a retórica tão somente em razão da ignorância acerca do
instrumental requerido para bem argumentar seja pela ignorância dos interloctures que
não conseguiriam acompanhar o raciocínio do orador.29
Parece, portanto, que Perelman, além de opos a retórica á logica, parece favorecer
uma oposição entre esta e a dialética. O seguinte trecho, a pesar de longo, é explicativo
de seu modo de pensar:
28
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 66.
29
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 64.
30
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 73.
31
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 73.
11
32
Manuel Atienza nasceu em Oviedo, Espanha, em 1951, licenciou-se em Direito na Universidade de
Oviedo (1973), onde também alcançou o grau de doutor em Direito (1976). É Professor Catedrático de
Filosofia do Direito na Universidade de Alicante. Diretor da Revista “Doxa: Cuadernos de Filosofía del
Derecho” e do Mestrado em Argumentação Jurídica daquela Universidade espanhola.
33
BARBERIS, Mauro. ¿ Imperialismo de la Argumentación? Comentários al Curso de Argumentación
Jurídica de Manuel Atienza. In: Doxa: Cuadernos de Filosofía del Derecho. Alicante: Universidad de
Alicante, 2014, pp. 325-335.
34
ATIENZA, Manuel. Crítica de la Crítica Crítica. Contra Enrique Haba y Consortes. In: Doxa: Cuadernos
de Filosofía del Derecho. Alicante: Universidad de Alicante, 2010, pp. 361-367.
35
A tradução é lavra de Cláudia Roesler, professora de Direito na Universidade de Brasília, e foi lançada
em 2017. É o primeiro volume da coleção “Direito, Retórica e Argumentação”.
12
Manuel Atienza não elenca como um objetivo de seu Curso desenvolver uma
teoria original. Sua finalidade, ao contrária, seria sistematizar diversas concepções de
argumentação que, embora aparentemente conflitantes, teriam pontos de intersecção.
Neste sentido, advoga uma visão não parcial da atividade argumentativa. Isto é, intenta
desenvolver uma teoria eclética ou, como prefere denominar, uma “teoria mosaico”. Se o
autor parece modesto em relação ao alcance teórico de sua obra, não o é em relação aos
efeitos práticos que intenta, a saber: superar as principais teorias da argumentação
(Teorias Standards). 36
Em suas palavras, propõe apresentar “um conjunto de ideias(...) que conseguia
superar bastante as limitações que podem ser encontradas no que se qualificou como
teoria standard da argumentação jurídica.” 37
São aparentemente contraditórios estes
objetivos. Como superar um conjunto mais ou menos sólidos de teorias (capitaneadas por
autores como Perelman ou Alexy, por exemplo) se não se intenta ser original?
Na verdade, o critério que orienta Atienza é da utilidade das teorias na prática
jurídica. Não seria importante superar, no plano teorético, obras que estão já consagradas.
Mas extrair-lhes um significado prático no plano profissional. Isto é, auxiliar juízes,
advogados na elaboração de argumentos mais sólidos, dotando- lhes de um instrumental
analítico para a avaliação de todo processo argumentativo. Revela, por um lado, uma
postura realista sobre as próprias limitações do autor e, por outro, a própria base filosófica
em que se apoia. 38
Para alcançar seu intento, o autor divide seu livro em duas partes: geral e
específica. Ambas são compostas de cinco capítulos. Na primeira, busca-se uma definição
de argumentação. Já na segunda busca-se “resposta às perguntas argumentativas, às quais
um jurista tem que fazer frente em sua prática (...).”39
No primeiro capítulo denominado “Direito e Argumentação”, o caráter eclético
do livro fica de pronto evidenciado. O professor espanhol defende que o Direito não pode
se reduzir à argumentação. Mas que, no entanto, ela pode contribuir de forma decisiva
para a prática e, também, para a dimensão teórica do direito. Destaca que as principais
36
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 9.
37
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 9.
38
Ver as obras do autor: “Marx y los derechos humanos” e o mais recente “Filosofía del Derecho e
Transformación Social”.
39
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 10.
13
40
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, pp. 22-23.
41
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 31.
42
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 23.
43
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 29.
14
44
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 99.
45
Por exemplo, Perelman, Chaïn. Lógica Jurídica. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
46
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 33.
47
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 69.
48
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 49
49
MARITAIN, Jacques. Elementos de Filosofia II: A Ordem dos conceitos- Lógica Menor. Rio de Janeiro:
Agir: 2001, p.183.
50
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 68.
15
51
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 96.
52
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 145.
53
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 150.
54
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 151.
55
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 100.
56
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 119.
16
57
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 122.
58
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, pp. 156-157.
59
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 10.
60
ATIENZA, MANUEL. As Razões do Direito: Teorias da Argumentação Jurídica. São Paulo; Landy,
2003, p. 212.
17
61
ATIENZA, MANUEL. As Razões do Direito: Teorias da Argumentação Jurídica. São Paulo; Landy,
2003, p. 18 e p.212 e ss.
62
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 158.
18
a questão permanece residual, de tal sorte que apenas afasta os argumentos absurdos,
pouco revelando sobre a correção de sua utilização em determinado contexto
argumentativo, já que a análise, ainda que alicerçada em elementos formais, materiais e
pragmáticos, centrar-se-ia somente em: “ identificar o ponto (ou os pontos)da
controvérsia [ que] tem uma importância fundamental para entender a argumentação
analisada e, como se verá, para argumentar.”63 Ressalte-se que, neste particular, Atienza
defende a plausibilidade da existência de uma única resposta correta, sobretudo no
contexto da argumentação judicial.64Ademais, construção de diagramas65 não parece ser
um modo adequado para representação da argumentação. Parece mais um recurso
didático que um ensinamento a ser posto em prática pelos profissionais.
63
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 119.
64
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 10
65
ATIENZA, Manuel. Curso de Argumentação Jurídica. Curitiba: Alteridade, 2017, p. 104.
66
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 22.
19
Segundo Olavo de Carvalho, uma vez que são ciências do discurso, a Poética e a
Retórica, juntamente com a lógica e a dialética, também constituem a Órganon, isto é, o
conjunto de obras introdutórias, que em consequencia disto, não podem ser classificadas
com ciências teóricas, práticas ou técnicas. Assim, as ciências do discursos teriam como
objeto de investigação as maneiras que se utiliza com o fito de influciar a outo ou a si
próprio, mudando-se tão somente o grau de credibilidade presente em cada discurso.67
Para entender esta perspectiva, faz-se necessário aclarar alguns conceitos
fundamentais. Por discurso, entende-se o ‘’trânsito do acreditado ao acreditável, por meio
de um encadeamento de nexos.” A credibilidade, por sua vez, diz respeito á aceitação da
modificação exercida pelo emissor pelos receptores, dividindo-se em credibilidade inicial
e credibilidade final, a primeira referir-se a disposição preliminar em aceitar, ainda que
provisoriamente, o discurso do emissor. Já a segunda, seria a plena aceitação da
modificação proposta’’, Nota-se, portanto, que não somente a retórica visa modificar as
disposições de outrem, mas todo e qualquer discurso, Isto porque: ‘’Mudar de opinião é
ser modificado; receber uma informação é ser modificado, sentir uma emoção é ser
modificado.”68
O que diferiria cada tipo de discurso seria sua posição na escala de premissas isto
é, com seu grau de credibilidade alcançalvel. Esta caracteristica é tão importante na teoria
dos 4 discursos que Carvalho afirma que “A escala de credibilidade – quer das premissas,
quer das conclusões – é uma condição de possibilidade da existência do discurso.’’ De
fato, parece, deveras ser imprescindivel um escanolamento dos critérios da credibilidade,
já que o seu grau vai marcar a função e eficácia de cada um dos discursos apresentados.69
Em uma escala de credibilidade, o grau máximo de credibilidade pertence ao
absolutamente verdadeiro enquanti que o grau mínimo, ao minimamente verdadeiro: o
que é meramente possível: ‘’ O grau mínimo não poderia caber ao absolutamente falso,
porque o admitido como falsa não é jamais tomado como uma premissa de nada,
precisamente porque já impugnado’’. 70
67
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 29-30.
68
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 64-65.
69
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 67.
70
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 67.
20
Como foi assinalado acima, a Teoria dos Quatro discursos entende-os como
instrumentos, isto é, como parte do Órganon. É equivocado, portanto, absolutizá-los,
quaisquer que sejam. Não foram poucas as teorias jurídicas que buscaram identificar o
Direito com um desses aspectos: Direito é lógica, parece demodê, tendo dado espaço a
incontáveis teorias que apenas sublinham os aspectos formais: Direito é retórica.
Ora, pelo menos na espistemologia aristotélica nenhum desses discursos fazia
parte de seu conjunto. Afirmações como as acimas citadas não tem razão de existir
justamente por faltar aos discursos o caráter epistêmico. Assim, seriam apenas meios para
se galgar o conhecimeto, nunca o próprio conhecimento.
Direito se expressa através da poética ( que poderíamos atualmente chamar de
literatura), pela retórica, pela dialética e pela lógica. É notável que algumas das conquistas
civilizacionais tenham surgido no campo da imaginação litérária antes de fazerem parte
do rol de direitos defendidos pelos juristas. A noção de direitos oponíveis ao poder estatal
apareceu na tragédia grego na obra Antígona de Sófocles.
Deste modo,
A Antígona não é um drama de tese, mas através da acção e do
sofrimento destas personagens, manifesta-se com suficiente
clareza o problema de o Estad poder aspirar a ter a última palabra
ou também ele debe também debe respeitar leis que não tiverem
a sua origem nele e que, portanto, permanecem sempre subtraídas
à sua intervenção.71
71
LASKY, Albin. História da Literatura Grega. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995. P. 309
72
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
Campinas: Vide Editorial, 2013, p. 74
21
poderia ser realizado por seu meio. Causa estranheza o fato de que toma de Aristóteles
algumas de suas premissas como a teoria do entimema, mas recusa-se não só as cogitações
do estagirita acerca de disciplinas essenciais da filosofia como a metafísica, cosmologia,
ética, etc, mas as próprias ciências do discurso que diferem da retórica.73 Assim, eleva-o
a um patamar inimaginável em Aristóteles, tornando-se a própria teoria do conhecimento.
Evidentemente, uma tal perspectiva gozou de grande prestígio na academia
brasileira e alhures a partir da década de 90. Todavia, parece ter se esgotado. A Teoria
dos Quatro Discursos parece ser um meio útil para entender o Direito como um fenômeno
que, ao menos tempo, se caracteriza pelo constante desenvolvimento e pelo ideal de
fixação, pois, valores como segurança jurídica, mais do que nunca necessários, sobretudo
em momentos de crisses e desintegrações semelhantes a que o Brasil atravessa.
6. REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015
73
ADEODADO, João Maurício. Ética e Retórica: Por uma Teoria da Dogmática Jurídica. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2010, p. 329 e ss.
22
VOEGELIN, Eric. Ordem e História: Platão e Aristóteles. Vol 3. São Paulo: Loyola,
2009.