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Caminhos e ausênc

no patrimô
da saúd
Belém, P

308 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 5 (2):


cias
Caminhos e ausências
ônio no patrimônio
de em da saúde em
Belém, Pará
Pará
CYBELLE SALVADOR MIRANDA
Universidade Federal do Pará, Brasil

JANE FELIPE BELTRÃO


Universidade Federal do Pará, Brasil

MÁRCIO COUTO HENRIQUE


Universidade Federal do Pará, Brasil

309
Miranda, C. S. et al

CAMINHOS E AUSÊNCIAS NO PATRIMÔNIO DA SAÚDE EM


BELÉM, PARÁ

Resumo
Esse artigo apresenta os resultados de inventário realizado sobre a tra-
jetória histórica das instituições de saúde na cidade de Belém, levando
em conta sua arquitetura e as mudanças de função que sofreram ao lon-
go do tempo. Essas mudanças estão impressas nas próprias edificações
e na memória da população belemense, bem como nos apagamentos
decorrentes das demolições de edifícios da saúde. A documentação re-
sultante inclui documentos institucionais, fotografias antigas e atuais,
desenhos arquitetônicos e entrevistas, os quais configuram um acervo
inexplorado para a compreensão do cuidado com a saúde no Norte do
Brasil. A recomposição das trajetórias de implantação e deslocamento
das instituições estudadas contribui para a compreensão do processo
de expansão urbana, com ocupação de áreas alagadas (decorrente da
implantação dos hospícios) e áreas de terra firme, vetor de expansão
priorizado pelas políticas higienistas.
Palavras-chave: Patrimônio da saúde, memória, Belém.

PATHS AND ABSENCES IN THE HEALTH HERITAGE OF


BELÉM, PARÁ

Abstract
This article presents the results of an inventory on the historical trajec-
tory of health institutions in the city of Belem, taking into account its
architecture and the role changes that have suffered over time. These
changes are imprinted both on the buildings and the memories of the
Belem population, as well as in the absences resulted from the demoli-
tions. The resulting documentation includes institutional documents, old
and current photographs, architectural drawings and interviews, which
constitute a collection untapped for understanding health care in northern
Brazil. The reconstruction of the trajectories of deployment and move-
ment of the institutions studied contributes to the understanding of the
process of urban expansion, with occupancy of wetlands (due to the im-
plementation of hospices) and land areas, as prioritized by hygienists policies.
Key-words: Health heritage, memory, Belém.

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

CHEMINS ET ABSENCES DANS LE PATRIMOINE DE LA


SANTÉ À BELÉM, PARÁ

Résumé
Cet article présente les résultats de l'inventaire qui s'est tenue sur la trajectoire
historique des institutions de la santé dans la ville de Belém, compte tenu
de son architecture et les changements qui ont souffert au fil du temps. Ces
changements sont imprimés dans leurs propres bâtiments et à la mémoire de
la population de Belém, ainsi que les destructions résultant de la démolition
des bâtiments de la santé. La documentation qui en résulte comprend les
documents institutionnels, vieilles et modernes photos, dessins architecturales
et interviews, qui constituent une collection inexploitée pour la compréhen-
sion des soins de santé dans le nord du Brésil. La recomposition des trajec-
toires de déploiement et de décalage des établissements étudiés contribue à la
compréhension du processus d'étalement urbain, avec l'occupation des terres
humides (résultant du déploiement des hospices) et les zones arides, vecteur
expansioniste priorisée par la politique hygiéniste.
Mots-clé: Patrimoine e la santé, memoire, Belém

Endereço da primeira autora para correspondência: Avenida Senador


Lemos, n° 54, apto 404 Umarizal, CEP 66050-000, Belém/PA, Brasil.
E-mail: cybelle@ufpa.br

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Miranda, C. S. et al

NOS CAMINHOS DO PATRIMÔNIO que se abrangesse um número maior de


DA SAÚDE instituições, reforçando que o intuito
do trabalho seria o de mapear quanti-
Para contar a história da construção do
tativamente as edificações e acervos
patrimônio da saúde em Belém, é preciso
presentes em cada capital (Quadro 1).
fazer o inventário dos achados e perdi-
Com a ampliação do período de ativi-
dos pelo caminho... perdidos que foram
dades por mais 6 meses, o pesquisador
grandes descobertas e achados repletos
Márcio Couto sugeriu a inclusão de
de ruínas.
três instituições inexistes atualmente,
A primeira fase dos trabalhos relativos ao mas de grande relevância para a com-
Projeto Rede Brasil - Inventário Nacional do preensão da história do cuidado a saúde
Patrimônio Cultural da Saúde: bens edificados na cidade: o Hospital do Senhor Bom
e acervos na cidade de Belém, PA1 ocor- Jesus dos Pobres, o Hospital Real e o
reu entre setembro de 2009 e fevereiro Hospício dos Lázaros. Destes, apenas a
de 2010, sendo a pesquisa concluída em edificação do Hospital Real permanece,
agosto de 2011. Tudo começou com o sendo hoje ocupada pelo Espaço Cul-
convite feito à professora Jane Beltrão, tural Casa das 11 janelas. Três hospitais
experiente pesquisadora nestas searas particulares de existência mais recente
da saúde e do patrimônio, ou vice-versa. também foram elencados, bem como
Depois, Cybelle Salvador Miranda foi instituições públicas que fazem parte do
incluída nesta tarefa por ser arquiteta patrimônio material e imaterial da saúde
antropóloga, arrebatando também a ar- em Belém, destacando-se por suas edi-
quiteta Carla Albuquerque e a designer ficações de linhas modernas e contem-
graduanda em Arquitetura Laura Costa. porâneas, como o Conjunto de edifícios
Logo em seguida foi convidado o histo- do antigo INSS na Avenida Presidente
riador antropólogo Márcio Couto Hen- Vargas e o Hospital de Clínicas Gaspar
rique, detentor de vasto conhecimento Vianna. O curto período disponibi-
sobre a Santa Casa de Misericórdia do lizado para o Inventário não foi obs-
Pará. Assim, munidos de muita determi- táculo para nossa curiosidade, sendo
nação, seguimos a campo. que o tema deslizou para as conexões e
Iniciou-se com uma relação das princi- relações pessoais dos pesquisadores en-
pais instituições a serem investigadas, volvidos, representando oportunidade
segundo a antiguidade e a relevância de trazer à luz memórias de persona-
para a narrativa sobre a assistência à gens até então obscurecidos na história
saúde em Belém. Como o período ini- da saúde em Belém.
cialmente proposto para a execução da As principais barreiras impostas ao
pesquisa fora de seis meses, as coorde- trabalho foram a burocracia vigente
nadoras do projeto optaram por dedi- nas instituições públicas, bem como a
car-se ao estudo de 13 instituições, já ausência de acervo organizado. A tal
que, após o envio do Relatório Parcial, ponto que, em algumas edificações,
o coordenador geral do projeto Profes- precisamos empregar métodos não
sor Renato Gama-Rosa Costa solicitou

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

ortodoxos para a obtenção de ima- O “Núcleo Pioneiro” compreende a


gens (inclusive o recurso a frestas em área inicial de colonização de Belém,
portas e fechaduras). Papéis que se estendendo-se pelos bairros da Cidade
perdiam, eram extraviados, ou insti- Velha e Batista Campos. Neste espaço
tuições que simplesmente negavam o temos o primeiro nosocômio do Pará:
acesso ou o registro de imagens, ale- o Hospital Real, bem como o primeiro
gando “questões de segurança” foram hospital construído em alvenaria, o
situações frequentes durante a coleta “Bom Jesus dos Pobres enfermos”.
de dados. Esse núcleo foi espraiando-se em razão
do crescimento urbano da cidade e em
Os resultados, porém, recompensaram
razão das políticas urbanas higienistas
os esforços: das instituições investiga-
que preconizaram o afastamento de
das produziu-se histórico dos principais
determinadas doenças do centro de
eventos, ilustrado por iconografia antiga e
Belém, configurando-se o “Núcleo
recente. Arquitetonicamente, fez-se a de-
de Expansão”. Nele, encontramos o
scrição das edificações, algumas não mais
Hospital dos Lázaros do Tucunduba, o
existentes, e obtiveram-se os desenhos
Hospício de Alienados do Tucunduba,
em planta de algumas delas, material dis-
o Hospital Juliano Moreira e os Hospi-
ponível para futuras incursões pelo tema.
tais de Isolamento.
Além da simples coletânea de fichas,
Ao deslocar-se de suas instalações à
foi observada a relação entre a implan-
Praça D. Frei Caetano Brandão, a San-
tação dos hospitais e a expansão da
ta Casa de Misericórdia configurou um
cidade, proporcionando a setorização
núcleo próprio, aqui chamado Núcleo
daqueles em núcleos, denominados
Santa Casa, que compreende o en-
Núcleo Pioneiro, Núcleo Santa Casa e
torno do Largo de Santa Luzia, onde
Núcleo de Expansão (Figura 1, Quadro
se encontra o Hospital da Santa Casa
2). Ao realizar o estudo, percebeu-se
de Misericórdia, maior referência em
que a localização dos hospitais e asilos
saúde na cidade de Belém, tanto por
repercutiu na ampliação da área urbana
sua história quanto pelos serviços que
da cidade, como no caso dos Hospitais
dispõe (Beltrão et al 2011).
de Isolamento, que conduziram a ocupa-
ção das áreas baixas da cidade correspon- Sem dúvida, a demolição do antigo
dentes ao Bairro do Guamá, parte do Hospital da Caridade, no núcleo pio-
denominado Núcleo de Expansão. Por neiro da cidade, e o desaparecimento
outro lado, a transferência do Hospital do Hospício de Alienados são repre-
da Santa Casa, que veio a ocupar o pré- sentativos de uma memória que se
dio do Bom Jesus no Largo da Sé no quer seletiva. Assim, discutir memória
início do século XIX, para a atual sede e patrimônio no Pará a partir das insti-
no bairro do Umarizal, também contri- tuições de atenção a saúde reveste-se
buiu para a aglutinação de instituições de importância, como emblema de um
de saúde no entorno, a qual denomina- fluxo de permanências e apagamentos
dos Núcleo Santa Casa. na memória da cidade de Belém.

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Figura 1 – Mapa com delimitação dosnúcleos da saúde. Fonte: Laura Costa, 2011.

Quadro 1
Relação das Instituições de saúde selecionadas para pesquisa

Instituições selecionadas Instituições adicionadas


inicialmente posteriormente
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará Hospital do Bom Jesus dos Pobres Enfermos
Hospital Dom Luis I da Beneficente Hospital Real
Portuguesa
Hospital da Ordem Terceira Hospício dos Lázaros
Hospital Ophir Loyola Hospital Nossa Senhora de Guadalupe
Hospital Naval de Belém Maternidade do Povo
Instituto de Ciências da Saúde da UFPA Clínica dos Acidentados
Centro de Saúde I Núcleo de Medicina Tropical
Hospital Universitário Barros Barreto Instituto Nacional de Seguridade Social INSS
Hospital da Aeronáutica Fundação Centro de Hematologia e
Hemoterapia do Pará
Hospital do Exército Hospital de Clínicas Gaspar Vianna
Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira
Instituto Evandro Chagas
Pronto Socorro Municipal

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Quadro 2
Instituições quanto à localização nos Núcleos
Núcleo Pioneiro Núcleo Santa Casa Núcleo de Expansão
Hospital Real Fundação Santa Casa de Hospício dos Lázaros
Misericórdia do Pará
Hospital do Bom Jesus dos Hospital Dom Luis I da Hospital Universitário Barros
Pobres Enfermos Beneficente Portuguesa Barreto
Hospital Naval de Belém Instituto de Ciências da Hospital Ophir Loyola
Saúde da UFPA
Hospital da Ordem Terceira Núcleo de Medicina Tropical Instituto Evandro Chagas
Instituto Nacional de Se- Hospital do Exército Hospital de Clínicas Gaspar
guridade Social INSS Vianna
Fundação Centro de Hemato- Pronto Socorro Municipal Hospital Psiquiátrico
logia e Hemoterapia do Pará Juliano Moreira
Centro de Saúde I Clínica dos Acidentados Hospital da Aeronáutica
Maternidade do Povo
Hospital Nossa Senhora
de Guadalupe

O NÚCLEO PIONEIRO interna e externamente. Foi tombado


pelo Instituto do Patrimônio Histórico
O termo “núcleo pioneiro” refere-se à
e Artístico Nacional (IPHAN) em 17
localização das instituições de saúde na
de dezembro de 1964 e, no início dos
área inicial de colonização de Belém,
anos 2002, com a conclusão das obras
sendo a primeira delas o Hospital
do Projeto Feliz Lusitânia, o edifício
Real. Instalado inicialmente no Forte
voltou a seguir os desenhos de Landi,
do Presépio, em 1760 o Governador
tornando-se o Centro Cultural “Casa
Melo e Castro propôs sua transferên-
das Onze Janelas” (Secult 2006).
cia para o convento de São Boaventu-
ra; mas, tendo este assumido a função O edifício possui planta em “L”, com-
de arsenal, a construção precisou ser posto por um retângulo maior paralelo
adiada até 1768, quando o Governador ao rio, com fachada principal voltada
Ataíde Teive comprou as residências ao Largo da Sé, com outro retângulo
de Domingos da Costa Bacelar para menor adossado do lado poente. A
tal propósito. O projeto de adaptação fachada principal possui dois pavimen-
coube a Antonio Landi, da Comissão tos; no 1º pavimento o portal central
Demarcadora de Limites, e o hospital é acompanhado por cinco janelas de
passou a atender doentes provindos cada lado, e no segundo pavimento
das fragatas.2 possui 11 portas-janela com gradis
em ferro. A fachada voltada para o rio
Durante o século XX, o prédio tornou-
compõe-se de loggias ao gosto italiano
se Quartel do Exército, sendo alterado
nos dois pisos (Figura 2).

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Figura 2 – Projeto de Landi para o Hospital Real. Fonte: Amazônia Felsínea (1999: 213).
Ao lado dessa edificação, no local onde mento vivo da primeira instituição hospi-
atualmente existe um chafariz, funcio- talar em alvenaria no Estado (Beltrão
nava o Hospital do Bom Jesus dos Po- et al 2011).
bres Enfermos, cuja construção, em
Baena (2004) relata que o prédio apre-
1785, só foi possível graças às doações
sentava três janelas entre duas portas
pedidas por Frei Caetano Brandão para
no primeiro pavimento, cinco janelas
acolher os pobres enfermos da cidade,
de sacada e balcões de ferro no se-
além de ter sido o local onde foram fei-
gundo e duas de peitoril no terceiro. A
tos os primeiros atendimentos a doentes
planta apresentava dois quadrados liga-
mentais no Pará. Inaugurado em 1787,
dos por um paralelogramo. Dentre os
construído e administrado pela Confra-
ambientes, destacavam-se a enfermaria,
ria da Caridade, foi incorporado aos
também chamada de “casa grande”,
bens da Santa Casa de Misericórdia em
que possuía uma coxia com altar de
1807, mas suas atividades encerraram-se
retábulo dourado, onde aconteciam as
em 1900. Em 1957, foi desapropriado
missas (Figura 3).
e entregue ao Ministério de Guerra,
que o utilizava como Estabelecimento Ainda no núcleo pioneiro, seguindo
de Subsistência.Tombado pela então pela Rua Dr. Assis, passando pelo Ar-
Diretoria do Patrimônio Histórico e senal de Marinha, encontra-se o Hos-
Artístico Nacional em 1964, foi demo- pital Naval, no limite entre os bair-
lido em 1978, e com ele se foi o docu- ros Jurunas e Cidade Velha (Beltrão

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

foram executadas pelo Escritório Téc-


nico-Administrativo de Belém (ETA)
através do engenheiro Otávio Pires.
Em 1965, foi criado o pavilhão poste-
rior, local onde hoje funciona a enfer-
maria do Fundo de Saúde da Marinha
(FUSMA). Em 1971, foram iniciadas
obras que conferiram ao nosocômio
o aspecto que possui hoje. Em 4 de ja-
neiro de 1972 foi inaugurado o Pavilhão
Administrativo.
O prédio encontra-se edificado em
dois pavimentos em forma de U, com
jardim interno. A implantação no ter-
reno apresenta recuo frontal, lateral e
fundo, este último margeado pelo rio
Figura 3 – Hospital Bom Jesus dos Po- Guamá. A área total construída é de
bres. Fonte: Vianna (1992: 80-81). aproximadamente 7.980m², com 105m
et al 2011). Atualmente, a instituição de frente por 76m de fundo. O jardim
tem por objetivo o atendimento por central dá acesso ao primeiro pavilhão,
meio do Sistema de Saúde da Marinha ala localizada à esquerda do prédio e
(SSM), bem como a supervisão de ativ- onde estão instalados os serviços adminis-
idades de assistência médico-social às trativos pertinentes ao Hospital. O segundo
comunidades ribeirinhas na Amazônia pavilhão está situado na ala central do
ocidental e oriental. O Hospital Naval prédio, é destinado aos serviços emer-
de Belém, também conhecido como genciais. O terceiro pavilhão está na ala
Hospital da Marinha ou do Arsenal, à direita do prédio sendo destinados
localizado na Rua do Arsenal, nº 200, aos serviços ambulatoriais (Beltrão et
em frente à Praça Carneiro da Rocha, al 2011)(Figura 4).
também conhecida como Praça do Ar- Acompanhando o crescimento da
senal, foi construído a partir de 1958; cidade rumo a seu segundo sítio de
entre os construtores destaca-se o En- ocupação, no bairro da Campina, foi
genheiro Alfredo Boneff.3 edificado o Hospital da Ordem Ter-
A criação da casa de saúde ocorreu na ceira de São Francisco, localizado na
década de 1950, instituída pelo Decre- Travessa Frei Gil de Vila Nova (antiga
to Nº. 44.193, de 31 de dezembro de Travessa Santo Antônio), nº 59, construí-
1958. Antes, era o prédio dos Sub-Ofici- do a partir de 1864 pela Venerável Or-
ais e Primeiros Sargentos do Comando dem Terceira de São Francisco.
de 4º Distrito Naval. As reformas e A princípio, a Ordem Franciscana atendia
ampliações efetuadas para a adapta- seus enfermos em uma pequena barra-
ção do edifício para prédio hospitalar

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Figura 4 – Acesso principal Hospital Naval de Belém. Foto: Carla Albuquerque (2010).

ca de palha, no litoral da Baía do Gua- estilo neoclássico, com fachada azule-


jará. No entanto, em 1694, os francis- jada, platibanda balaustrada, vãos de
canos do Convento de Santo Antônio porta e janela em arco pleno no pri-
cederam aos Irmãos Terceiros um ter- meiro e segundo pavimentos e arcos
reno para a construção de uma capela. trilobados no terceiro (Figura 5).
Contígua à ela foi construída em 1864
Hoje essas características arquitetôni-
a enfermaria que originaria o futuro
cas se perderam, já que as esquadrias
hospital, edificada em três pavimentos,
de madeira foram substituídas por
com 13 m de largura por 4,5 m de fundos.
balancins em ferro, a platibanda e os
Já em 1867 o novo Hospital foi inaugu-
detalhes arquitetônicos foram substi-
rado, contendo três enfermarias: São
tuídos por marcações horizontais e
Roque, Santa Clara e Santo Ivo.4
verticais por toda a fachada, em padrão
O hospital sofreu diversas modificações “modernizante”. Destacam-se como
através dos anos, no entanto, ainda hoje remanescentes somente a capela e o
preserva sua função de hospital geral. hall de entrada do hospital.
A construção foi implantada no alinhamento
Próximo ao Hospital da Ordem Ter-
frontal e lateral do terreno, edificado
ceira, na Avenida Presidente Vargas,
em três pavimentos, encontrando-
está um dos prédios do antigo Instituto
se a volumetria original da edificação
Nacional de Seguridade Social (INSS),
preservada. A edificação apresentava

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 5 – Hospital e Capela da Ordem Terceira. Foto: Carla Albuquerque (2009).

onde ainda se vê a denominação anteri- O patrimônio do INSS é composto


or a esta: INAMPS (Instituto Nacional por diversas edificações, porém desta-
de Assistência Médica da Previdência ca-se o prédio do INAMPS situado na
Social), edificação construída em mea- Travessa Manoel Barata, esquina com
dos dos anos 1950/60, cujo construtor a Avenida Presidente Vargas, no Cen-
foi Edmar Porto Penna de Carvalho. tro Comercial de Belém (Figura 6).
As edificações onde funcionaram os
Antes da criação do Sistema Único de
Institutos de Saúde guardam padrões
Saúde (SUS), a assistência médica es-
modernistas, porém de épocas diferentes.
tava a cargo do INAMPS, restrita aos
Embora a edificação ocupe o alinhamen-
empregados que contribuíssem com a
to, apresenta linhas modernistas com emprego
previdência social. O INAMPS foi cri-
de janelas recuadas e brises horizontais em
ado pelo regime civil-militar em 1974
concreto, em clara referência ao pré-
pelo desmembramento do Instituto
dio modelo do modernismo brasileiro,
Nacional de Previdência Social (INPS),
sede do Ministério da Educação e
que tinha por finalidade prestar atendi-
Saúde no Rio de Janeiro.
mento médico aos contribuintes. Hoje
assumiu a denominação de Instituto Fundado em 1961 e construído entre
Nacional de Seguridade Social (INSS) os anos de 1967 e 1977, o Hospital
(Brasil 2006). Nossa Senhora de Guadalupe localiza-
se no bairro de Batista Campos, na Rua

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Arcipreste Manoel Teodoro, nº 734. A “casa azul” é caracterizada pelo es-


De propriedade da Sociedade das Ir- tilo protomoderno, expresso em linhas
mãs Adoradoras do Sangue de Cristo art decò. A simplicidade da volumetria
– ordem criada na cidade de Acuto, contrasta com o gradil com arabescos
na Itália, em 1834, por Santa Maria de em ferro do portão principal e do muro
Mattias –, teve projeto de autoria de que protege a edificação. Já o imóvel
Francisco Bolonha, e execução das ob- atual situa-se em terreno mais amplo,
ras por parte de Nicholas Chase (Bel- constituído de um bloco principal e de
trão et al 2011). um anexo. A construção apresenta re-
cuos laterais e frontais, sendo este últi-
Sua primeira sede localizava-se na Aveni-
mo bem mais acentuado na entrada do
da Assis de Vasconcelos, nº 757. A “casa
hospital, servindo de estacionamento.
azul”, como era chamada, foi adquirida
A planta do Hospital Guadalupe é linear,
em 1962 e entregue à congregação em
acompanhando a volumetria retangu-
8 de novembro do mesmo ano. Dois
lar da instituição. Externamente, por
anos depois tiveram início alguns tra-
ser uma construção em estilo moder-
balhos de reforma deste prédio. No
no, optou-se por deixar o acabamento
entanto, após a inauguração do atual
em concreto aparente, cuja textura é
hospital, em 1º de fevereiro do ano se-
interrompida pela fachada principal
guinte, a “casa azul” passou a residên-
em pedras irregulares de tons de cinza
cia de algumas irmãs da congregação.
e terrosos (Figura 7).
Atualmente funciona no local a Clínica
de Crianças Pio XII. O bloco anexo, onde funcionam as
clínicas, adota linguagem pós-moder-
na. A planta segue o mesmo padrão da
primeira construção, embora em escala
menor, comunicando-se com o edifí-
cio principal por passagem metálica
situada no primeiro pavimento.
A Maternidade do Povo foi construída
em 1958 pelo engenheiro Nicholas
Chase, o mesmo construtor do Hos-
pital Nossa Senhora da Guadalupe.
Localizada no bairro da Campina, na
Travessa Ferreira Cantão, nº 483, a
maternidade surgiu através da inicia-
tiva de um grupo de médicos lidera-
dos pelo Dr. Paulo Mota Castro. O
primeiro imóvel ocupado pela Mater-
nidade localizava-se na Travessa Padre
Figura 6 – Prédio INAMPS. Foto: Laura Prudêncio, local onde, hoje, funciona
Costa (2011). a Secretaria de Administração do Es-

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Figura 7 – Fachada Hospital Guadalupe. Foto: Laura Costa (2011).

tado do Pará (SEAD), imóvel este cedido azul, nas marcações. No primeiro pavi-
pelo Estado. Posteriormente, o Governo mento funcionam o bloco cirúrgico,
do Estado, na gestão de Aurélio do a central de material e esterilização
Carmo doou, em 1965, o terreno onde (CME), posto de enfermagem, repou-
foi edificada a sede da Maternidade so médico, e 23 leitos disponibilizados
na Travessa Ferreira Cantão. O novo para enfermarias e apartamentos. No
endereço permitiu a construção de segundo pavimento estão instalados 16
edificação com padrões de qualidade apartamentos, uma suíte master com-
para atendimento hospitalar conforme as posta por amplo quarto, sala de estar
exigências da época (Beltrão et al 2011). com monitor capaz de repetir as cenas
do parto ou qualquer outro vídeo que
Edificada no alinhamento do terreno,
o paciente desejar e um banheiro; a
em quatro pavimentos com estrutura
UTI neo-natal, berçário e o isolamento
em concreto armado, alvenaria de ti-
totalizam 20 leitos. O terceiro pavi-
jolo e vãos em esquadrias de alumínio
mento, em construção, está projetado
e vidro, em alguns casos há a utilização
para receber 16 apartamentos (Figura 8).
de vidro temperado transparente liso.
A fachada possui acabamento em re- Próximo dali está o Centro de Saúde
vestimento cerâmico dimensões 10 x nº 1, vinculado à Secretaria de Estado
10 cm, nas cores bege e azul, sendo o de Saúde Pública do Pará (SESPA). O
bege usado nos panos de parede e o Centro I, localizado na Travessa Presi-

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dente Pernambuco, nº 489, funcionou senta regularidade através de aberturas


até os anos 1970 como centro de referên- retangulares: as portas e janelas apresen-
cia para consultas, exames, vacinas, en- tam esquadrias em madeira, presentes
tre outros serviços relacionados. Com em todos os blocos, embora seja pos-
a mudança na oferta dos serviços do sível observar o contraste com alguns
setor privado de saúde, as atividades do balancins em alumínio. O revestimento
Centro foram encerradas. A Secretaria externo é chapiscado, o que confere
de Saúde, que possuía alguns departa- aparência rústica ao prédio. A cober-
mentos funcionando na área contígua tura é de águas combinadas, revestida
à Instituição, passou a ocupar o espaço de telha cerâmica, com beiral estreito
de forma integral. (Beltrão et al 2011).
O prédio, hoje, encontra-se muito A planta do prédio apresenta configura-
modificado. A construção é composta ção irregular acentuada, provavelmente
de cinco blocos de alvenaria (sendo como resultado de sua ampliação ao
dois destes com térreo e pavimento longo dos anos. No andar térreo, po-
superior), inseridos em terreno de dem ser encontrados os departamentos
formato poligonal. O bloco principal de Controle de Epidemias, de Doen-
apresenta recuos laterais e frontais, e os ças, de Atenção à Saúde, Assistência
demais se encontram nos limites do terreno. Farmacêutica, Controle de Hanseníase,
Em termos de fachada, a construção apre- Vigilância Sanitária e outros departa-

Figura 8 – Prédio maternidade do povo. Foto: Carla Albuquerque (2010).

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

mentos relacionados à administração acordo com as normas impostas pela


da instituição, sendo alguns deles situa- Agência Nacional de Vigilância Sani-
dos em anexos construídos ao fundo tária (ANVISA).
do terreno. No segundo pavimento, há
O prédio atual foi inaugurado em 29
predominância de espaços destinados
de março de 1994, com 4.000 m² de
às funções administrativas.
área construída. Tendo como propri-
Pouco mais além, no bairro Batista etário a Secretaria de Estado de Saúde
Campos, encontra-se a Fundação Cen- Pública do Pará (SESPA), seu projeto
tro de Hematologia e Hemoterapia é de autoria do arquiteto Paulo Lima,
do Pará (HEMOPA). Criada em 1978, por integrante do Escritório de Arquitetura
meio do decreto Lei nº 10.741, denominava- DPJ. A edificação emprega tipologia
se Fundação Centro Regional de He- moderna, edificada em alvenaria de ti-
moterapia do Pará (FUNEPA) e tinha jolo cerâmico e estruturada por pilares
como objetivo estimular a doação de de concreto. Na fachada principal, a
sangue. Inicialmente localizada na Ave- composição dos brises horizontais e
nida Generalíssimo Deodoro, 973, se- o pano de vidro ajudam a diminuir o
guia o modelo francês – voluntariado e consumo de energia gasto pela edifi-
anonimato.5 cação, além de permitir a visibilidade
para o exterior.
A fundação foi criada no contexto do
Programa Nacional de Sangue do Governo À exceção do fundo, as demais implan-
Federal, quando foi iniciada campanha tações foram executadas com afasta-
para criação de Hemocentros Estaduais, mento da testada do lote. Constituído
a partir da década de 1970, com o ob- por cinco pavimentos, o prédio pos-
jetivo de estimular a prática da doação sui acabamento cerâmico em todas as
de sangue pela comunidade e com fi- fachadas, vãos retangulares dispostos
nalidade social, além de organizar a de- de forma simétrica segundo a proposta
manda nacional de sangue. para cada fachada, com esquadrias em
ferro e fechamento em vidro fumé.
Em razão do aumento da demanda por
Platibanda de concreto encobre e ar-
coleta de sangue, ocasionando a falta
remata a cobertura (Figura 9).
de espaço para realização dos trabalhos
no edifício, foi adquirida sede mais am-
pla que atendesse às necessidades fun-
O NÚCLEO SANTA CASA
cionais, localizada à Avenida Magalhães
Barata, nº 1136. Entretanto, o avanço A escolha do termo “Santa Casa” para
da medicina no tratamento e manuseio compor este núcleo não foi aleatória, e
do sangue exigiu espaço adequado aos sim reflexo da influência que esta insti-
serviços oferecidos, obrigando a trans- tuição exerce sobre as demais situadas
ferência para outro imóvel. Foi com- em seu entorno, bem como do papel
prado terreno localizado à Travessa desempenhado como protagonista de
Padre Eutíquio, nº 2109, que possibili- boa parte das ações voltadas à assistên-
tou construir prédio que estivesse de cia à saúde pública em Belém desde

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Miranda, C. S. et al.

Figura 9 – Fachada HEMOPA. Foto: Carla Albuquerque (2010).

sua fundação, em 1650, ao lado da loja te e ao recém-nascido pelo Ministério


Paris n’América – pequeno edifício da Saúde (Beltrão et al 2011), embora
com igrejinha ao lado, ambos de taipa figure de forma pouco honrosa com
(Vianna 1992). Sobrevivendo por mui- certa frequência nos noticiários do Es-
to tempo através de doações e loterias, tado, pela carência de infraestrutura e
em anúncios que podem ser encon- investimentos necessários para atender
trados em jornais do século XIX (“O à crescente demanda por atendimento.
Paraense” e “A Província do Pará”), Em 1987, a instituição fundou o Mu-
a Santa Casa foi responsável pela ad- seu e Arquivo Histórico da Santa Casa
ministração do Hospício dos Lázaros, (MAHSC), cujo acervo reúne parte
acolheu os doentes da epidemia de fe- considerável da memória da instituição
bre amarela, em 1850, e conduziu a as- (Figura 10).
sistência aos variolosos e coléricos nos
Em 1807, o Hospital Senhor Bom
hospitais de isolamento.
Jesus dos Pobres, com todos os seus
Marco em sua história, a criação da bens patrimoniais, foi incorporado à
maternidade em 1914 desencadeou a SCMP, onde a Misericórdia paraense
ampliação de seus serviços à popula- funcionou até 1900. Em 1890, a SCMP
ção e, pelo histórico de caridade e ser- deixou de ser Irmandade e passou a
viços públicos, foi considerada modelo ser uma Associação Civil de Caridade.
no atendimento humanizado à gestan- Na mesma data, foi lançada a primeira

324 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 5 (2): 308-343, 2013


Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

pedra do novo Hospital da Caridade, hospitalares.


no bairro do Umarizal, com planta do
Cada bloco observa rigoroso padrão
engenheiro Manoel Odorico Nina Ri-
simétrico de formas e de composição
beiro, onde se deu a inauguração de
dos vãos e elementos decorativos. Os
sua maternidade, em 1914, e a forma-
blocos, distintos entre si, possuem jar-
ção do hospital-escola do Estado do
dins internos que implicam em sepa-
Pará, contribuindo para a formação de
ração uns dos outros, remetendo ao
muitos médicos paraenses. Em 1990, a
modelo hospitalar pavilhonar. Os blo-
Associação Civil de Caridade tornou-
cos mais antigos são em estilo eclético,
se Fundação Santa Casa de Misericór-
sendo a fachada da Maternidade em
dia do Pará (FSCMP), financiada pelo
linhas clássicas.
Governo do Estado.
A fachada principal possui frontão tri-
Segundo os padrões tipológicos, a San-
angular com medalhão da Santa Casa,
ta Casa é constituída por conjunto de
quatro pilastras com capitéis, frisos re-
blocos, a maioria contendo um pavi-
tos e três vãos de porta com bandeiras
mento, porão alto e recuos frontais. A
de arco pleno e platibanda reta que se
volumetria original está parcialmente
estende por todo o bloco, contribuin-
preservada, apesar das adaptações feitas
do para a monumentalidade da edifica-
para a modernização das instalações
ção. Os vãos quadrados são dispostos

Figura 10 – Hospital da Santa Casa Maternidade. Foto: Carla Albuquerque (2009).

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Miranda, C. S. et al.

de maneira harmoniosa e simétrica; as es- da formação em Medicina para servir


quadrias são em madeira e vidro. A cobertura como estabelecimento às aulas teóricas.
é formada por telha de barro composta
Caracterizado por arquitetura eclética,
por quatro águas em cada bloco.
o imóvel foi edificado em três pavi-
Em 2008, denúncias de alto número de mentos, possuindo, originalmente,
crianças mortas num curto período de vãos com esquadrias de madeira; saca-
tempo causou profunda crise na Insti- da de balcão com guarda-corpo ava-
tuição. Desde então, o Governo do Es- randado e janelas com guarda-corpo
tado do Pará vêm realizando obras na entalado, ambos entalhados em ferro
Santa Casa, sem preocupação alguma trabalhado; platibanda balaustrada
com a preservação da riqueza patrimo- com pináculos e porão baixo com ócu-
nial do prédio. los retangulares. A entrada principal
situa-se na parte chanfrada da edifica-
Em seu entorno, encontram-se boa
ção, composta por três entradas com
parte dos hospitais que compõem o
vergas em arco pleno e fachadas laterais
núcleo, a começar pela Faculdade de
simétricas (Figura 11).
Medicina, que integra o Instituto de
Ciências da Saúde da Universidade A construção do Instituto de Anato-
Federal do Pará (UFPA). A Faculdade mia Camilo Salgado em 1932 levou à
de Medicina, cujo início data de 1919, modernização das instalações da Insti-
foi a primeira a ser criada na Região tuição, fato esse que culminou na re-
Norte, atraindo alunos de estados vizinhos, modelação da fachada do Palacete de
já que as únicas instituições que ofereciam o Santa Luzia, no projeto arquitetônico
curso no Brasil localizavam-se no Rio de Augusto P. Lobão. Os detalhes
de Janeiro. arquitetônicos que embelezavam o
imóvel foram removidos, sendo a atual
O Instituto de Ciência da Saúde da
fachada composta por linhas retas sem
UFPA, conhecido simplesmente como
ornatos sinuosos (Miranda 2010).
Faculdade de Medicina, se localiza no
bairro Umarizal, na Praça Camilo Sal- A expansão pela vizinhança para am-
gado. É de propriedade da Universi- pliação das instalações físicas atinge
dade Federal do Pará, e começou a ser a Avenida Generalíssimo Deodoro
edificada em 1870, contando com a quando se constrói o Pavilhão Lauro
participação de diversos construtores. Magalhães, edificado em dois pavi-
mentos e inaugurado em 1º de março
Ao todo a instituição é formada por
de 1949. Seguindo o estilo arquitetôni-
conjunto de blocos edificados in-
co do palacete, o pavilhão possui si-
dependentemente de características
metria na disposição de seus vãos, o
arquitetônicas distintas. O prédio
predomínio pelo desenho de linhas
principal, o Palacete de Santa Luzia,
retas representando a racionalidade na
adquirido em 1929, devido à proximi-
composição do imóvel.
dade ao Hospital da Santa Casa de Mi-
sericórdia, foi adaptado às exigências A expansão não cessou, tanto que, em

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 11 – Faculdade de Medicina da UFPA. Foto: Carla Albuquerque (2010).

1946, a Faculdade de Medicina criou Em 1949 foi construído o prédio do


o Instituto de Higiene integrado com Biotério, edificado no interior do lote,
Laboratório de Química Fisiológica construído em dois pavimentos em
e Fisiologia ao lado do Instituto de alvenaria de tijolo e com afastamento
Anatomia Patológica. A particulari- entre ele e os demais blocos. Hoje, o
dade do bloco é que, ao invés dele ter Biotério encontra-se desativado e o es-
a entrada pela rua, foi idealizado para paço dá lugar ao Serviço de Assistên-
dentro do terreno do ICS, sendo pre- cia Psicossocial (SAPS) aos discentes
ciso adentrar pelo Palacete de Santa da UFPA e seus familiares. O prédio do
Luzia. Entre o novo bloco e o palacete Curso de Nutrição, também implantado
foi criado pátio interno aberto e bem no interior do lote, possui afastamento
arborizado, com chafariz e bancos, que entre os demais blocos. Percebe-se, por-
proporciona ares de praça. O laboratório tanto, que o conjunto de edificações não
de Química, com linhas modernas, foi é lido facilmente pelos que não frequen-
implantado no alinhamento do terreno tam o prédio quotidianamente.
frontal e lateral e edificado em dois
Em terreno contíguo ao Instituto, na Ave-
pavimentos com cobertura em telha
nida Generalíssimo Deodoro, encontra-
de fibrocimento. Hoje, o prédio abriga
se o Núcleo de Medicina Tropical, antes
a Faculdade de Fisioterapia e Terapia
Instituto de Higiene e Medicina Preven-
Ocupacional.
tiva Dr. Olímpio da Silveira (1949-1969).

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Miranda, C. S. et al

Prédio de propriedade da Universidade de portas e janelas em madeira, com


Federal do Pará, sua construção foi re- venezianas e vidro, típicas da arquite-
alizada a partir de 1949, pela Constru- tura belemense da primeira metade do
tora M. C. Macedo. século XX, que não dialogam com o
modernismo explícito da fachada de
Devido às atividades realizadas pela
acesso (Beltrão et al 2011).
Faculdade de Medicina e Cirurgia do
Estado do Pará (FMCP) foi criado No mesmo terreno ocupado pela Santa
o Instituto de Higiene e Medicina Casa, na Travessa 14 de Março, funcio-
Preventiva Dr. Olímpio da Silveira na o Hospital do Pronto Socorro Mu-
(IHMP), a partir da doação da prefeitura nicipal, criado em meados da década
de quatro lotes contíguos à Faculdade, de 1920, como forma de prestar aten-
cuja obra foi concluída em 1954. Des- dimento de emergência aos pacientes
vinculando-se da Faculdade de Me- que acorriam à Santa Casa (Beltrão et
dicina, quinze anos depois, passou a se al 2011).
chamar Núcleo de Patologia Regional e
A necessidade de se criar um Serviço
Higiene (NPRH) (Miranda 2010).
de Assistência Pública que prestasse
Em 22 de março de 1991, a Resolução cuidados médicos às pessoas mais ne-
nº 576 transformou o Núcleo de Pa- cessitadas em caso de emergência levou
tologia Regional e Higiene e fundou o à criação do serviço de assistência, que
Núcleo de Medicina Tropical (NMT). funcionou, inicialmente, como órgão
Caracterizado como edifício de três auxiliar da Polícia e sob a dependência
pavimentos, possui afastamentos lateral do Serviço Médico-Legal. Desvincu-
e frontal, volumetria retangular e aproxi- lando-se dos mesmos, durante a inter-
madamente 180 m² de área construída, venção federal de Magalhães Barata
com cobertura em telha de fibrocimento (1930-1954), foi transferido para pré-
sem calhas ou condutores pluviais. dio próprio, em frente ao Hospital da
Ordem Terceira de São Francisco da
Na fachada principal, seu acesso é feito
Penitência, atendendo à população de
por vãos de porta em estrutura de ferro
maneira satisfatória (Meira 1986).
e vidro transparente que compõem su-
perfície de vidro que se estende do té- Em 1946, a falta de recursos para ad-
rreo ao segundo pavimento. Nos cor- quirir novos equipamentos e realizar
pos laterais que configuram a fachada reformas acarretou a transferência de
principal da edificação, as aberturas suas atividades para o prédio onde fun-
em colmeia de concreto são emoldura- cionava o Instituto Evandro Chagas,
das, tendo como divisão painel vertical localizado na Travessa 14 de março.
em concreto, e fechamento em vidro No local foi construída a sede atual,
transparente, remetendo à linguagem cuja inauguração aconteceu em 2 de
do racionalismo italiano (Figura 12). junho de 1950.
Nas demais fachadas, não há elemento
A Instituição é composta de quatro
arquitetônico de destaque; essas são
blocos de alvenaria, sendo um deles
compostas por vãos verticalizados

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 12 – Fachada Núcleo de Medicina Tropical. Foto: Carla Albuquerque (2010).

de construção recente, inaugurado em Brasil). É mantido pelas Forças Ar-


2010, composto de quatro pavimentos. madas e, embora seja um Hospital do
Caracteriza-se como edificação sem re- Exército, também atende civis, sepa-
cuos frontais e laterais em relação ao rados dos militares (estes classificados
terreno, e com ajardinamento escasso. por hierarquia dentro do hospital).
A sua volumetria é em estilo moderno, Oferece assistência médica e odon-
de fachada assimétrica e aberturas de tológica a militares e dependentes no
formatos variados. As esquadrias são, Estado do Pará e no Maranhão (Bel-
em sua maior parte, de alumínio. O re- trão et al 2011).
vestimento externo é feito de pintura
Funcionou em diversos locais antes
em cores claras e neutras, e interna-
de assumir o atual endereço, do Pre-
mente pode-se observar o mesmo pa-
sídio São José a Manaus, no Amazo-
drão cromático. Há também variações
nas em 1904, retornando a Belém 15
de piso, sendo alguns em lajota cerâmi-
anos mais tarde, ocupando prédio no
ca e outros em granilite nas cores cinza
Largo da Sé (onde já funcionava antes
e vermelha (Beltrão et al 2011).
da mudança). Em 1934, iniciam-se as
O Hospital Geral de Belém encontra- obras da sede que ocupa atualmente,
se próximo à Santa Casa, no caminho com a conclusão e inauguração das
da Rua Jerônimo Pimentel, em frente à novas instalações em 1939. A denomi-
Praça Santos Dummont (antiga Praça nação atual, Hospital Geral de Belém

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Miranda, C. S. et al

(HGeBe), foi recebida em 1953. cido como Asilo Português da Infância


Desvalida. Porém, mostrando-se insu-
O hospital atende a civis e militares, ten-
ficiente para atender à demanda, foi in-
do como finalidade básica, a assistên-
stalada, provisoriamente, uma enfermaria
cia médica e odontológica a militares
de dois pavimentos localizada na Rua
e seus dependentes de várias cidades
Santo Antônio, conhecida como Casa de
do Pará e Maranhão; as emergências
Saúde da Real Sociedade Portuguesa Be-
que chegam ao Hospital são atendidas
neficente. Até que, em maio de 1873, é
e, caso necessário, encaminhadas para
levantada a proposta de compra de um
outras instituições.
dos dois lotes situados na Estrada Dois
O entorno do prédio se caracteriza por de Dezembro (atual Avenida Generalís-
edifícios residenciais e pequena con- simo Deodoro) (Vianna 1974).
centração comercial, com calçadas ar-
Acatada a aquisição do terreno pela Di-
borizadas ao redor da quadra ocupada
retoria, contrata-se o arquiteto Frederico
pelo HGeBe. Sua fachada de linhas re-
José Branco, idealizador do projeto
tas faz referência ao Art Decò no corpo
que atende às exigências de higiene e
central, arrematado por platibanda.
saúde da época: edifício amplo, com
Os seis pavilhões interligados seguem
boa insolação e luminosidade, bastante
composição homogênea, com telhados
ventilado e arejado.
em quatro águas recobertos por telhas
de barro tipo francesa e vãos em verga Em 1877 inaugura-se o Hospital Dom
reta. Apenas o pavilhão da frente faz Luiz I, possuindo 253 leitos divididos
parte do projeto original (Figura 13). em três setores: masculino, feminino
e maternidade. Seus andares térreo e
Internamente, no prédio principal, é pos-
superior são destinados aos quartos
sível observar algumas intervenções re-
individuais e serviços cirúrgicos; nos
centes quanto ao acabamento de pisos e
porões habitáveis encontram-se en-
pinturas. Os demais pavilhões, construí-
fermarias, consultórios e serviços de
dos posteriormente, seguem o estilo do
apoio diagnóstico. O estabelecimento
prédio principal, diferenciando-se apenas
de saúde ocupa a totalidade do quar-
pelo seu interior, com revestimentos mais
teirão em que se situa, com pavilhões
ou menos recentes.
no alinhamento lateral esquerdo e de
Pouco mais distante, mas ainda na Aveni- fundo; e o bloco principal recuado
da Generalíssimo Deodoro (via que serve frontalmente.
como elo entre os componentes deste
A fachada principal possui característi-
núcleo), avista-se o Hospital Dom Luiz
cas neoclássicas como a simetria da
I, da Beneficente Portuguesa, idealizada
edificação, vãos ornados com frontões
pela Colônia Portuguesa no Pará.
triangulares e circulares, o frontão
Primeiro localizado num prédio próxi- curvo que arremata o corpo central da
mo à Praça da República, próximo ao fachada principal e platibanda que per-
Café Chic e vizinho ao antigo Hotel corre toda a extensão do prédio. Os
da Paz, inaugurou-se em 1867, conhe- vãos alternam vergas retas, curvas em

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 13 – Entrada principal do Hospital Geral do Exército. Foto: Laura Costa (2009).

arco pleno e ogival, demonstrando a Santa Casa. Obra dos irmãos Hum-
assimilação de influências ecléticas. As berto Maradei Pereira e João Alberto
pilastras apresentam-se na extensão da Maradei Cardoso, que se iniciaram
fachada como elemento de marcação e na Medicina através da ortopedia, a
identificação do rigor das proporções. pequena clínica encontrava-se na Rua
A cobertura original em telha de barro 13 de Maio, no Comércio. O empreen-
composta por três águas em cada pa- dimento decorreu da necessidade de
vilhão foi totalmente substituída pela atendimento à traumatologia e orto-
telha do tipo fibrocimento (Figura 14) pedia, especialidades não supridas de
(Beltrão et al 2011). forma satisfatória pelo Pronto Socorro
Municipal e que até hoje são as espe-
A edificação apresenta conservação boa,
cialidades da instituição, cuja maioria
porém percebe-se descuido com questões
dos atendimentos (em torno de 80%)
referentes ao lixo e à poluição do ambien-
provém do SUS. A Clínica dos Aci-
te; ainda que as sucessivas ocupações dos
dentados, também conhecida como
afastamentos laterais e de fundos tenham
Clínica de Cirurgia Ortopédica Ltda,
prejudicado significativamente a ideia de
localiza-se no bairro de Nazaré na Ave-
modelo higienista.
nida Nazaré.
A Clínica dos Acidentados encerra o
Com o crescimento da demanda de aten-
trajeto que compreende o Núcleo da
dimento de pessoas politraumatizadas,

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Miranda, C. S. et al

Figura 14 – Fachada Hospital D Luiz I. Foto: Carla Albuquerque (2009).

os Irmãos Maradei, com a ajuda do das atividades levaram à compra de


Governo Estadual, inauguraram em outro terreno vizinho à Clínica; as am-
1966 o espaço onde, ainda hoje, fun- pliações permitiram a construção de
ciona a Clínica dos Acidentados em um prédio de nove pavimentos com
frente à Praça Santuário de Nazaré. O área construída de 6.103,89 m².
imóvel ocupado pela Clínica era an-
Localizado numa área bem arborizada, o
tiga residência imperial de porão alto,
prédio de afastamento frontal e de fundo
de modo que a edificação precisou ser
e recuo lateral esquerdo possui a fachada
adaptada para responder aos padrões
com acabamento em placa de granito preto
referentes de uma casa de saúde.
e letreiros em aço inoxidável. Os seus vãos
Mais tarde, em razão da crescente de- se mostram dispostos de forma simétrica,
manda, os irmãos Maradei investiram similares uns aos outros, usando os mesmos
na compra de espaço contíguo à Clíni- materiais: esquadrias em alumínio com fe-
ca (antigo Colégio Líder), no propósi- chamento em vidro transparente liso e com
to de ampliar as instalações físicas; ali película translúcida para evitar o excesso
foram realizadas as construções do de luminosidade nas enfermarias e aparta-
bloco cirúrgico e mais 12 leitos para mentos. Estes vãos, de dimensões elevadas,
atendimento de urgência e emergên- auxiliam na ventilação, na insolação e na sa-
cia, oferecendo ao público 20 leitos. A lubridade adequada dos espaços hospitalares
condução da Clínica e o crescimento (Beltrão et al 2011).

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

O NÚCLEO DE EXPANSÃO foram para lá pessoas com febre ama-


rela e doentes mentais.
O surgimento das instituições voltadas
à saúde no chamado núcleo suburbano A enfermaria foi extinta em 1870, em
e de expansão só foi possível graças às função da queda no número de casos da
intervenções que eliminaram as barreiras epidemia, cujas vítimas foram transferi-
naturais impostas por áreas alagadas em das para o Hospital da Caridade. Alguns
Belém, que impediam a ampliação da anos mais tarde, em 1905, teve início sua
cidade para o interior. Além disso, o reforma mais importante, provendo ao
pensamento higienista praticado pelo local energia elétrica, escolas elementares,
poder público, principalmente durante espaço para jogos e uma capela. Quanto
a intendência de Antonio Lemos, ao tratamento dos hansenianos, a preocu-
tinha por objetivo o embelezamento pação com o contágio era tal que a Santa
de Belém através de melhorias na Casa mandou cunhar moedas para uso
infraestrutura, abertura de grandes exclusivo desses enfermos. O local foi de-
avenidas e criação de praças e áreas sativado em 1938, mas as demais colônias
verdes, mas também a construção de responsáveis pelo tratamento dos lázaros
instituições hospitalares e de assistên- permaneceram em atividade até a década
cia à saúde pública em áreas afastadas, de 1970, quando a atenção e tratamento
“setorizando” os enfermos para que de hansenianos deixou de preconizar a
não ficassem às vistas da sociedade. segregação (Beltrão et al 2011).
O primeiro a compor o núcleo foi o A configuração espacial da colônia carac-
Hospício de Lázaros do Tucunduba, terizava-se pela regularidade na ocupação
fundado em 1814 e localizado na Rua dos espaços, tendo como limites duas
Barão de Igarapé-Miri, no bairro do fileiras paralelas de habitações, que en-
Guamá. O terreno, onde anteriormente volviam as duas enfermarias principais;
funcionava uma olaria pertencente aos a mais antiga, destinada aos pacientes do
padres mercedários, foi adquirido pela sexo feminino, que possuía em sua estru-
Santa Casa de Misericórdia do Pará tura um amplo alpendre e capela, e duas
em 1807 para “recolher e afastar do outras enfermarias para pacientes do
convívio da sociedade os leprosos que sexo masculino (Ramos 1997).
vagavam pelas ruas de Belém” (Costa Próximo dali, o Hospital Universitário
2006: 98). As instalações do hospital João de Barros Barreto surgiu dos
eram precárias e a condição dos en- resquícios do “Domingos Freire”, hos-
fermos ficou mais crítica quando lá foi pital de isolamento que abrigava doen-
montada uma enfermaria para variolo- tes acometidos por doenças epidêmi-
sos, visto que o Hospital da Santa Casa cas no século XIX, como a febre
estava em condições impróprias para amarela. Embora a distância da cidade
acolhê-los e, pelo fato de ser uma epi- fosse favorável, o acesso ao local era
demia, a solução encontrada foi isolá- difícil, e o trajeto era vencido apenas a
los do núcleo urbano. Além dos enfer- pé ou a cavalo.
mos acometidos pela varíola, também

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Miranda, C. S. et al

O Hospital Universitário Barros Barreto, de corredores e enfermarias. Apesar


localizado no bairro do Guamá, na Rua da pressão pela construção de mais lei-
dos Mundurucus, teve sua construção tos, ainda busca-se a preservação das
iniciada a partir de 1940, pelo Departa- linhas originais do prédio, procurando
mento Nacional de Saúde. Suas obras atender às propostas de modernização
foram interrompidas em 1942, e apesar e ampliação, mas sem comprometer o
da urgência da obra, – dado os altos que construiu e consolidou.
índices de contágio e mortalidade por
No que se refere à sua arquitetura, o
tuberculose no estado neste período
‘Barros Barreto’ é um prédio sem orna-
–, as obras foram retomadas apenas
mentos estilísticos, com linhas sinuosas
em 1950. Desde sua inauguração, em
presentes na fachada e ao longo da estru-
1959, o Hospital Barros Barreto vem
tura que lhe conferem formato moderno
realizando o tratamento de doenças
e audacioso para a época de seu projeto,
infecto-contagiosas como a própria tu-
década de 1930. O formato em H da
berculose, fato que ainda causa temor
planta permite a setorização dos serviços
em alguns belemenses por medo do
e das especialidades médicas, além de
contágio e pelas tristes histórias vividas
conferir à fachada dinamismo visual. Em
na instituição hospitalar (Figura 15).
virtude das diversas reformas que sofreu,
O ‘Barros Barreto’ carrega consigo, seu interior é heterogêneo, o que produz
até hoje, o estigma de ser contagioso e conflito visual com o aspecto formal do
perigoso devido à relação do hospital restante da edificação (Beltrão et al 2011).
com a tuberculose e outras doenças es-
O Hospital Ophir Loyola, localizado no
tigmatizadas, como HIV/AIDS, cólera,
bairro São Brás, à Avenida Magalhães Bara-
meningite, entre outras. Sua localização
ta, surge com o objetivo de lutar con-
no bairro do Guamá – na época da construção
tra a infância desassistida e, mais tarde,
caracterizado como área afastada –, se deve
contra o câncer. Foi inaugurado em 6
à política de segregação de doentes de
de outubro de 1912, por influência do
tuberculose em lugares considerados
Dr. Ophir Pinto Loyola, o denomina-
aprazíveis e arborizados, condições
do Instituto de Proteção e Assistência
que auxiliariam na recuperação. Além,
à Infância do Pará, em razão da falta
também, da busca por locais pouco
de higiene e desnutrição, reflexo da
acessíveis para não permitir a prolifera-
condição de miséria social, para assim,
ção do “mal do século” XIX no cen-
minimizar a demanda de pacientes da
tro da cidade (Beltrão 2004). Em 1990
Santa Casa (Martins 2006).
houve a transição da administração do
Ministério da Saúde para a Universi- A primeira sede do Instituto fun-
dade Federal do Pará (UFPA). cionou na Rua Lauro Sodré (atual Rua
Ó de Almeida) entre Rua Frei Gil de
Seguindo os princípios de tratamento
Vila Nova e Avenida 15 de Agosto
à tuberculose na época, o espaço se
(Avenida Presidente Vargas). Depois
caracterizava por jardins cuidadosa-
se mudou para a Rua 13 de Maio, 104
mente plantados, além da amplitude
entre Travessa 7 de Setembro e Ave-

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 15 – Hospital Barros Barreto. Foto: Laura Costa (2009).

nida Portugal, em imóvel pertencente O imóvel é localizado em uma das


à Santa Casa. Em 1932, transferiu-se principais avenidas de escoamento do
para outra sede mais ampla na esqui- trânsito na cidade, de intenso tráfego
na da Avenida Nazaré com a Travessa e bem arborizada por mangueiras cen-
Joaquim Nabuco. tenárias. A área construída do Hospital
é de aproximadamente 21.088,48 m²;
Um ano depois, foi oferecido como
constituída por pavilhões que foram
pagamento para quitação da dívida do
acrescidos no decorrer de sua história
Estado um terreno localizado na então
e em função da ampliação das ativi-
Avenida Independência, de amplo es-
dades hospitalares (Beltrão et al 2011).
paço para o hospital exercer suas ativi-
dades, vindo a ser inaugurado em 19 O estabelecimento abriga blocos
de abril de 1941, com a denominação hospitalares que variam entre dois e
Instituto Ophir Loyola. sete pavimentos, seguindo o modelo
monobloco. Nota-se a subsistência de
Em 2006, a Lei Estadual nº 6.826 cria
padrões similares de dimensões, for-
o Hospital Ophir Loyola, órgão de atu-
mas, materiais construtivos e de com-
ação especial da Secretaria de Estado
posição dos vãos. As esquadrias são
de Saúde Pública, destacando-se na
em madeira e vidro, e alumínio e vidro.
região Norte como o único hospital de
A cobertura é composta por quatro
referência em tratamento de câncer.
águas em telha de fibrocimento. O

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Miranda, C. S. et al

acesso ao hospital pode ser feito pela Chagas”. Dois anos depois, o Serviço
Avenida Magalhães Barata, entrada Especial de Saúde Pública (SESP) o in-
principal, e também pela Travessa 14 corpora como seu laboratório central e
de Abril (Figura 16). órgão de pesquisa.
Com a aquisição de terrenos que serviri- Em 22 de maio de 1970, o IEC foi
am para ampliação das instalações hos- transferido do âmbito da FSESP para
pitalares, o HOL incorporou a edifica- a Fundação Oswaldo Cruz (FIO-
ção que abrigava a Residência Oficial do CRUZ), voltando a ser reintegrado
Vice-Governador do Estado, imóvel que à FSESP cinco anos depois, ficando
foi preservado integralmente e aproveitado subordinado diretamente à Presidência
como Departamento de Ensino e Pes- até 1990, como organismo de pesqui-
quisa da Instituição. sas biomédicas. Em 1991, integrou a
Fundação Nacional de Saúde, criada
Seguindo pelo endereço do HOL em
pela fusão da FSESP e da Superin-
direção à saída de Belém, pela Avenida
tendência de Campanhas de Saúde
Almirante Barroso, encontra-se o pri-
Pública (SUCAM). Apenas em 9 de
meiro prédio onde funcionou o Instituto
junho de 2003 passou a integrar
Evandro Chagas, fundado em 1934. A
a estrutura da Secretaria de Vigilância
característica da edificação principal re-
em Saúde (SVS), como unidade ges-
flete o uso como residência antes da ocu-
tora independente, na qual se encon-
pação institucional, assim como outras
tra atualmente.
construções ao longo da antiga Estrada
de Ferro Belém-Bragança. Sua arquitetura caracteriza-se por ser
bastante singular, com influência das
O Instituto Evandro Chagas, localiza-
residências germânicas, cobertura
do no bairro do Marco, se originou a
achatada em suas extremidades e or-
partir de 1934, com a descoberta de 41
namentação peculiar. A escadaria que
casos de leishmaniose visceral em lo-
dá acesso à entrada principal é robusta,
calidades no interior do país. Isto acar-
ligeiramente curva em suas extremidades
retou a vinda do então diretor do Insti-
e arrematada por pinhas laterais, fazen-
tuto Oswaldo Cruz, Evandro Chagas,
do jus ao estilo do prédio. O interior
ao Pará, o qual pôde realizar seu pro-
é todo em madeira de lei, e o prédio
jeto de fundar o Instituto de Pesquisa
principal possui porão habitável –
Experimental do Norte (IPEN), em 11
onde anteriormente funcionavam vári-
de novembro de 1936, com o objetivo
os serviços do IEC –, e dois pavimen-
de estudar o calazar e outras doenças
tos. A fachada do hospital tem simetria
regionais – malária, leishmaniose tegu-
e ritmo equilibrado pela sequência de
mentar, bouba, filariose e as vermino-
janelas e, acima, a cobertura de inclina-
ses intestinais (Deane 1986).
ção singular remete aos frontões trian-
Em 1940, com o falecimento de Evan- gulares clássicos (Figura 17).
dro Chagas, o Instituto passa a receber
Apesar de não ter sido tombado, o Insti-
a denominação de “Instituto Evandro
tuto procura preservar o patrimônio,

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 16 – Entrada principal HOL. Foto: Carla Albuquerque (2009).

por meio de reparos frequentes, valori- Apesar dos reparos e manutenção constante
zando as características arquitetônicas do hospital, o então governador Au-
originais. Todavia, nota-se que a construção gusto Montenegro (1901-1909) ob-
já recebeu alterações, como a construção servou “condições tais que, longe
de banheiros nos dois pisos e de um de favorecer a cura, apresentavam o
prédio acoplado aos fundos, com aces- triste desfecho, pela intercorrência de
so feito por escada lateral. mortos diversos”, bem como a falta de
equipamentos adequados para tratar os
O Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira,
pacientes, tendo se tornado o hospí-
também chamado Hospício dos Alie-
cio um “depósito de loucos” (Meira
nados, localizava-se no bairro do Marco,
1984:8). O governo anterior, de Paes de
em frente ao monumento do Marco da
Carvalho (1897-1901), tinha intenção de
Légua, na Avenida Almirante Barroso.
transferir as instalações para outro lo-
O terreno adquirido para construir o
cal, mas Montenegro preferiu investir
hospital, por sua localização, atendia às
na melhoria do prédio. Demoliu a casa
exigências da política higienista da época.
de banhos que causava infiltrações e era
Entretanto, a construção apresentou falhas
foco de polinevrite e construiu outras
construtivas, tornando necessários alguns
duas com modernos aparelhos hidroterá-
reparos emergenciais antes de sua inau-
picos trazidos da Europa.
guração, marcada pela chegada de sete
“loucos” do Hospício dos Lázaros. Apesar dos óbices impostos pela estru-

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Miranda, C. S. et al

Figura 17 – Instituto Evandro Chagas. Foto: Laura Costa (2009).

tura física, registraram-se importantes ológicas da Universidade do Estado do


avanços no tratamento psiquiátrico, Pará (UEPA).
que repercutiram na mudança do nome
Construído entre os anos de 1887 e
“Hospício de Alienados” para “Hos-
1892, cujo projeto teve como autor o
pital Psiquiátrico Juliano Moreira”,
engenheiro Manoel Odorico Nina Ri-
em 1937, homenageando o médico
beiro, destinou-se ao tratamento dos
brasileiro responsável por utilizar mé-
alienados, visto que o Asilo de Aliena-
todos de vanguarda para assistir aos
dos do Tucunduba foi desativado. Em
doentes mentais. Outras intervenções
1892, o hospital recebeu os doentes
foram a abolição da camisa de força
transferidos do antigo asilo. Em 1903,
e o uso da praxiterapia, envolvendo
a administração do Hospício dos Alie-
atividades como pintura, escultura,
nados, até então à cargo da Santa Casa
bordado, danças e passeios. Contudo,
de Misericórdia, passou para a gestão
a instituição passou gradualmente a ser
do Estado.
relegada pelo governo e, após o mis-
terioso incêndio que destruiu parte de O hospital era uma construção predomi-
suas instalações em 1982, teve suas nantemente horizontal, marcada pela
atividades encerradas. O prédio origi- simetria característica das construções
nal foi demolido em 1989, no espaço de partido neoclássico, cujas abertu-
hoje funciona o Centro de Ciências Bi- ras organizavam-se em ritmo regular.
Adotou o modelo pavilhonar, com

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

setores específicos para homens, mul- Regional (I COMAR). Em 1998, já


heres e crianças. A entrada principal dispunha de 80 leitos, dos quais, 20%
da instituição, de frente para a Ave- eram destinados a pacientes conve-
nida Almirante Barroso era destacada niados ao Sistema Único de Saúde
pelo portão trabalhado em ferro, o (SUS); e tinha como principal função
qual dava acesso ao hall do prédio. Na a assistência médico-hospitalar aos
fachada, observava-se o frontão trian- militares da Aeronáutica e seus depen-
gular, pilastras com capitéis coríntios, dentes além de atividades no campo da
posicionadas nas laterais do vão de medicina preventiva, ensino e perícia
acesso principal em formato de arco médica.7
pleno, além do uso de cúpula encimada
Suas características arquitetônicas obe-
por uma lanterna (Figura 18) (Beltrão
decem à rigidez do estilo militar, com
et al 2011).
pavilhões – onde são setorizados os
Pela Avenida Almirante Barroso, é serviços médicos –, sem ornamentos e
possível encontrar, além do terreno com cobertura em fibrocimento. A ex-
onde funcionou o Hospital Juliano ceção é apenas de um prédio destinado
Moreira, o Hospital da Aeronáutica de ao tratamento odontológico, que apre-
Belém (HABE), inaugurado em plena senta características modernas. Logo
Era Vargas, no ano de 1944, resultado na entrada é possível ver o Pronto-So-
da necessidade de criar uma base aérea corro e, próximo a este, está localizada
de apoio aos Aliados na cidade. Ao fim a capela mortuária em homenagem à
da guerra, correu o risco de ser substi- Nossa Senhora de Loreto, padroeira da
tuído por um centro de abastecimento Aeronáutica.
de material sanitário, mas sob protes-
Ao longo do terreno há também prédios
tos do brigadeiro Eduardo Gomes,
em que funcionam a Direção e a Casa do
que sugeriu a mudança para uma Ma-
Diretor, sendo a sede administrativa um
ternidade da Legião Brasileira de As-
chalé em estilo eclético, construído no
sistência, o hospital foi preservado. De
início do século XX (1904), na Era da
acordo com Beltrão et al (2011),
Borracha, de elegantes escadarias de
O HABE é classificado como ferro rendado, símbolos de riqueza e
Hospital de Área de 3º escalão do status. Formado originalmente por três
Sistema de Saúde da Aeronáutica pavimentos, teve o pavimento superior
(SISAU), com a principal função de removido na década de 1970; apresenta
oferecer assistência médico-hospi-
cobertura em duas águas, porão com
talar aos militares da Aeronáutica
e seus dependentes, além de ativi- 2, 85 metros de altura e primeiro pavi-
dades no campo da medicina pre- mento com pé direito de 3,5 metros,
ventiva, ensino e perícia médica. além do uso de gradis e balaustrada em
ferro e colunas envolvendo a edificação,
As instalações hospitalares atendiam às exibindo características clássicas greco-
demandas da 1ª Zona Aérea lá insta- romanas (Figura 19)(Feitosa et al 2009).
lada, hoje Primeiro Comando Aéreo
A casa destinada à residência do dire-

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Figura 18 – Hospital Juliano Moreira. Fonte: Ricci & Valentim (2009: 26).

tor também se apresenta no estilo dos e começa a oferecer à população os


palacetes europeus, com cobertura serviços de Ambulatório. Em 1998,
em telhas francesas, de cujas laterais recebe financiamento do Projeto RE-
sobressaem-se torres oitavadas de in- FORSUS, o que ocasionou mudanças
fluência germânica, enquanto que a na estrutura física da instituição, ampli-
capela votiva ocupa um antigo ban- ando seu atendimento para os serviços
galô da primeira metade do século XX, de Nefrologia, Cardiologia e Obstetrí-
também adaptado. cia de Alto Risco.
Por fim, o Hospital de Clínicas Gas- O Hospital de Clínicas Gaspar Vianna,
par Vianna (HCGV) é o mais recente cujo projeto é de autoria da arquiteta
a compor o núcleo de expansão, tendo Fátima Vianna, localiza-se no bairro da
sido criado em 1985, como resultado Pedreira, na Travessa Alferes Costa, s/n.
de um plano do Governo do Estado O Hospital de Clínicas é uma construção
para implantar um Estabelecimento em estilo moderno, com volumetria in-
Assistencial de Saúde voltado para o serida no terreno de forma diagonal e
atendimento da rede estadual, com fachada principal voltada para o Norte.
clínicas básicas e de atendimento es- Com afastamentos frontais e laterais,
pecializado em Psiquiatria. Em 1987, é dividido em oito blocos interliga-
foi concluída a Clínica Psiquiátrica, o dos, com áreas abertas que favorecem
bloco de acesso e serviços externos e a ventilação, arborização e iluminação
gerais, mas apenas dois anos depois natural. A instituição conta com 13 blo-
os leitos foram disponibilizados para a cos, sendo nove destinados às funções
população. Nesse período, a obra sofre administrativas, clínicas e laboratório;
paralisação, reiniciando em 1990. nos demais localizam-se os serviços
gerais e o departamento de engenharia.
Em 1991, ano do Centenário de Gas-
Em termos de planta, cada bloco tem
par Vianna, a instituição recebeu o
uma configuração particular, contudo
nome do médico e cientista paraense

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Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Figura 19 – HABE na sua inauguração. Fonte: Arquivo da unidade.

certos padrões são frequentes, como transtorna a configuração de sua personali-


extensos corredores com hall central. dade, dilapidada, sem ao menos fragmen-
Externamente, os acabamentos são em tos aos quais poderia recorrer para mon-
pintura lisa ou pastilhas de cerâmica tar um quebra-cabeças do tempo.
(Beltrão et al 2011).
À Belém dos casarões invadidos pela
natureza e das edificações ditas históri-
cas é negado o reconhecimento de sua
PARA FINALIZAR...
múltipla temporalidade, pela destruição
A construção da memória de um dos traços antigos, pelo abandono,
povo é parte da imagem que este tem pelos acréscimos despudorados de
de si e que quer expor para o outro. concreto sem alma... Espera-se que
Os apagamentos impostos pelos po- esse trabalho venha trazer uma gota de
deres públicos direcionam a imagem inspiração para o conhecimento e valo-
da cidade de Belém que se tem hoje, rização de nosso patrimônio, evocan-
e que será legada à posteridade: uma do através de relatos e imagens muitas
cidade com poucos marcos em que se possibilidades que foram perdidas, e
apoiar, em que a modernidade avança muitas outras que ainda nos aguar-
de modo irregular, devastando o mate- dam, espreitando num vão de porta ou
rial existente, sem substituí-lo por algo numa esquadria mutilada, na existência
de maior valor, pelo menos estético. muda de arcabouços desocupados, de
O incessante desejo que impele o anjo edificações fantasmas, enquanto novas
da história ao futuro, como narra Wal- babilônias se erguem, alargando seus
ter Benjamin (1985), impede recordar domínios.
o passado, feito de ruínas. Esta cena
de devastação, em cujo espelho se re-
fletem seus habitantes, transforma e

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Miranda, C. S. et al

NOTAS Federal, Conselho Editorial.


1
A Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ Beltrão, J. F. 2004. Cólera, o flagelo da Belém do
coordena, desde 2007, a Rede Brasil de Grão-Pará. Belém, EdUFPA/MPEG.
Patrimônio Cultural da Saúde, tendo como Beltrão, J.F., C.S.Miranda, M. C. Henrique,
responsáveis Paulo Roberto Elian dos San- L. C. C. Costa, C.F.R. Albuquerque. 2011.
tos e Renato da Gama-Rosa Costa. A Rede Inventário Nacional do Patrimônio Cultural da
Brasil tem como objetivo realizar o Inven- Saúde: Bens Edificados e Acervos – Patrimônio de/
tário Nacional do Patrimônio Cultural da em Saúde em Belém-Pará. Relatório final de pes-
Saúde, por meio da ação cooperativa entre quisa. Belém: Universidade Federal do Pará
diversas instituições de ensino e pesquisa – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/
brasileiras. O resultado do Inventário re- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; Rio
alizado em Belém traduziu-se em 23 fichas, de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. CD-
nas quais consta a síntese das informações ROM. Inédito.
históricas e arquitetônicas das instituições,
disponíveis para consulta em: http:// Benjamin, W. 1985. Obras Escolhidas. Magia e téc-
patrimonioarquitetonico.coc.fiocruz.br/ nica, arte e política: ensaios sobre Literatura e História da
cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah. Cultura. vol. 1. São Paulo: Brasiliense.
xis&lang=E&base=BARQ Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de
2
Amazônia Felsínea. 1999. Antonio José Gestão Estratégica e Participativa. 2006. A
Landi: itinerário artístico e científico de construção do SUS: histórias da Reforma Sani-
um arquiteto bolonhês na Amazônia do tária e do Processo Participativo. Ministério da
século XVIII. Lisboa: Comissão Nacio- Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Par-
nal para as Comemorações dos Descobri- ticipativa. – Brasília: Ministério da Saúde.
mentos Portugueses. Costa, M.N.P. 2006. Caridade e Saúde Pública
3
Hospital Naval de Belém. Livro do Es- em Tempos de Epidemias – Belém 1850-1890.
tabelecimento. [Belém: s.n., 19--] v. 1 e 2. Dissertação de Mestrado. Programa da
Pós-Graduação em História, Centro de Fi-
4
Diário do Pará. Os 366 anos da Ordem Ter- losofia e Ciências Humanas, Universidade
ceira. Belém, 12 dez. 1995. Caderno A, p. 04. Federal do Pará, Belém.
5
O ano dos 20 anos: uma trajetória compro- Deane, L.M. E. 1986. Histórico do Instituto
metida com a qualidade de com a vida. Doação. Evandro Chagas – Período 1936-1949, in
HEMOPA. Belém, jun. 1998, p. 6-7, 1988. Instituto Evandro Chagas: 50 anos de contribuição
6
No local funcionam apenas atividades às ciências biológicas e à medicina tropical. Belém:
administrativas e laboratórios do referido Fundação Serviços de Saúde Pública.
Instituto, cuja sede foi transferida para o Feitosa, A., F. Garcia, T. Parente. 2009.
município de Ananindeua, PA. Histórico e Levantamento do Hospital da
7
HABE comemora 54 anos. O Liberal. Aeronáutica – Chalé da Administração.
Belém, 10 jan. 1998: p. 7. Trabalho Final da Disciplina Restauro,
elaborado sob orientação da Professora
Ana Lea Nassar Matos. Faculdade de Ar-
REFERÊNCIAS quitetura e Urbanismo. Belém: Universi-
dade Federal do Pará. Inédito.
Baena, A. L. M. 2004 [1833]. Ensaio corográ-
fico sobre a Província do Pará. Brasília: Senado Martins, M.R.M. 2006. Instituto de Proteção e

342 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 5 (2): 308-343, 2013


Caminhos e ausências no patrimônio da saúde

Assistência à Infância do Pará: Instituto Ophir


Loyola. Belém.
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– Casa das Onze Janelas, Casario da Rua Pa-
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Vianna, A. 1974. A História da Benemérita
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___. 1992 [1902]. A Santa Casa da Mi-
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(1650-1902). Coleção Lendo o Pará,
Belém: SECULT.

Recebido em 30/05/2013.
Aprovado em 31/07/2013.

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 5 (2): 308-343, 2013 343

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