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horizontes da pesquisa em música

Vanda Bellard Freire


organizadora
Pesquisa em música e subjetividade:
bases filosóficas e pressupostos

As bases filosóficas da pesquisa qualitativa (subjetivista) encontram-se na


dialética e na fenomenologia, ambas implicadas com uma visão mais subje-
tiva da realidade e com a relativização do conhecimento. Melhor seria falar-
mos no plural, mencionando pesquisas qualitativas ou subjetivistas, já que
há diferentes linhas de abordagem dentro desse enfoque (mais adiante, essas
diferenças serão aprofundadas).
Os pressupostos das pesquisas consideradas qualitativas diferem dos
pressupostos das pesquisas rotuladas como quantitativas, de cunho predomi-
nantemente objetivo, uma vez que a pesquisa qualitativa é, por natureza, pre-
dominantemente subjetiva, tal como já mencionado no capítulo anterior.
Como também já foi observado, não se pode afirmar que uma pesqui-
sa possa ser estritamente objetiva, ou estritamente subjetiva. O que ocorre
é que predomina uma dessas concepções, que termina por conferir um for-
te caráter à pesquisa. Os pressupostos assumidos pela pesquisa considerada
qualitativa são de natureza predominantemente subjetiva, diferindo, assim,
já nos pressupostos adotados, das pesquisas de cunho predominantemente
objetivista.
Alguns dos pressupostos que regem a pesquisa qualitativa dizem respei-
to ao conceito de realidade (e, consequentemente, da realidade que é inves-
tigada), uma vez que a abordagem qualitativa considera a realidade como
uma instância em interação dialética com o sujeito ou mesmo como resul-
tante da percepção do sujeito e não como um fenômeno “em si”.
Entre os demais pressupostos da pesquisa qualitativa, pode também ser
citada a negação de possibilidade de neutralidade na pesquisa. A pesquisa é
entendida como necessariamente ideológica, matizada pela subjetividade do
pesquisador. Ou seja, no lugar de o pesquisador buscar um distanciamento
do objeto que lhe permita analisá-lo com maior isenção, a abordagem qua-
litativa considera que não há possibilidade de isenção absoluta, e, por esse
motivo, o importante é explicitar qual o ponto de vista que está sendo uti-
lizado. A abordagem qualitativa ou subjetivista não preconiza o afastamen-
to do sujeito em relação a um objeto que seria externo a ele, como forma de

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conferir “cientificidade” à pesquisa, pois acredita na profunda e inevitável
interação sujeito – objeto.
Entra, então, em questionamento, o próprio conceito de verdade que,
na pesquisa de caráter subjetivo, é considerada como relativa, motivo pelo
qual as pesquisas desse tipo não são afeitas a obter resultados generalizáveis,
aplicáveis a toda e qualquer situação similar. Ou seja, não se busca obter res-
postas “verdadeiramente” definitivas e generalizáveis. Isso implica, também,
em uma compreensão da concepção de conhecimento como instância dinâ-
mica e em permanente transformação, matizada pela subjetividade de quem
o constrói. Essa posição relativista diante da realidade e da verdade não sig-
nifica falta de compromisso ou de cientificidade na pesquisa, nem significa
que, como a abordagem é subjetiva, “qualquer coisa” pode ser afirmada, já que
a subjetividade não pode ser questionada.
Bressler (2006, p. 61) observa, a esse respeito, que
o propósito da investigação qualitativa não é descobrir a realidade, uma vez que isto re-
sulta impossível através da argumentação fenomenológica. O propósito é construir uma
memória experiencial mais clara e ajudar as pessoas a obter um conhecimento mais sofis-
ticado das coisas. […] Naturalmente, a compreensão alcançada por cada indivíduo será,
até certo ponto, única para o observador, mas grande parte se manterá em comum. Ain-
da que a compreensão que tentamos obter é de nossa própria criação, esta é uma criação
coletiva. Cada um de nós busca uma compreensão afinada; uma compreensão que resis-
ta sob novas construções humanas[…].

A pesquisa qualitativa também busca uma compreensão mais totalizan-


te daquilo que está sendo investigado. Os recortes são feitos apenas por ne-
cessidade prática, mas, conceitualmente, todo fenômeno é visualizado como
integrante de um todo maior, dinâmico e em permanente transformação.
Obras de um compositor, por exemplo, em uma investigação subjetivis-
ta, podem ser particularizadas em uma pesquisa, desde que não se perca de
vista o processo maior em que a criação dessas obras está inserida,pois, elas
servem como pontos de apoio para uma reflexão mais ampla, sem objetivo
de alcançar generalizações.
Situações de performance, igualmente, serão sempre entendidas como
manifestações interpretativas, condicionadas social e historicamente, por-
tanto também inseridas em processos mais amplos de concepção estética ou
mesmo da expectativa do intérprete e dos receptores dessa interpretação. Ou
seja, não se entende a interpretação musical como pré-determinada pelo au-
tor ou por uma época, pois, na visão subjetivista, a performance estará sempre

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sendo atualizada por novas escutas, novos entendimentos, novas concep-
ções, novos momentos da história etc. Os próprios limites da performance
são considerados relativos, pois alguns aspectos do ritual da interpretação,
assim como a interação com os expectadores, entre outros aspectos, podem
ser ou não incluídos nesses limites.
O pressuposto de uma realidade dinâmica aponta para outro pressupos-
to, o de transformação permanente dessa realidade, de mudança qualitativa
de suas condições. Ou seja, movimento é também um pressuposto dos en-
foques subjetivistas, para os quais a dinâmica dos processos é especialmente
importante, mesmo quando focalizam um estudo de caso.
A singularidade das conclusões da pesquisa, em contraposição às pre-
tensões de generalização dessas conclusões, é também uma característica dos
enfoques subjetivistas. A pesquisa qualitativa não adere à generalização como
princípio.
Resumindo, podemos apresentar os aspectos essenciais das pesquisas
qualitativas segundo Flick (2009, p. 23, 24 e 25):

• escolha adequada de métodos e teorias convenientes, valorizando-se a


adequação deles ao objeto de estudo;
• reconhecimento e análise de diferentes perspectivas, buscando, então,
menos testar aquilo que já é bem conhecido (por exemplo, teorias já formu-
ladas antecipadamente), do que descobrir o novo, através da legitimação e
análise de diferentes pontos de vista subjetivos envolvidos;
• reflexividade dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte
explícita do processo de produção de conhecimento, ou seja, a subjetividade do
pesquisador, bem como daqueles que estão sendo estudados, torna-se parte do
processo de pesquisa e, consequentemente, de produção de conhecimento;
• variedade de abordagens e métodos, pois a pesquisa qualitativa não
procura se basear em um conceito teórico e metodológico unificado, carac-
terizando-se por dialogar com diversas abordagens teóricas e seus métodos;
• avaliação do estudo e sua validade feita com referência ao objeto que
está sendo estudado, considerando o embasamento adequado do material
empírico (o que depende da seleção e aplicação adequada de métodos), sem
se guiar exclusivamente por critérios científicos teóricos, como no caso das
pesquisas quantitativas.

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Apesar das possíveis trocas entre abordagens quantitativas e qualitativas,
é importante perceber que, do ponto de vista epistemológico, ou seja, da na-
tureza do conhecimento envolvido, as diferenças são significativas e mere-
cem ser explicitadas pelo pesquisador, para segurança maior dele mesmo, e
para melhor compreensão dos resultados da pesquisa, por aqueles que tive-
rem acesso a esse material.

Questões e sugestões ao pesquisador iniciante:

• Você identifica sua questão e seus objetivos de pesquisa com a abordagem


qualitativa? Por quê?
• Procure identificar, no capítulo que acabou de ler, pelo menos três aspectos
que justifiquem entender sua pesquisa como subjetivista (se for este o seu caso).
• Se sua tendência é predominantemente objetivista, busque no capítulo que
acabou de ler três características que fundamentem essa tendência.
É importante ter uma consciência clara sobre a tendência filosófica
predominante na pesquisa desde seu início, pois essa clareza facilitará todas as
etapas posteriores, como adoção de métodos e de referencial teórico.

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Métodos de pesquisa em música e subjetividade

Métodos de pesquisa são caminhos possíveis a serem trilhados para alcan-


çar as respostas buscadas e os objetivos da pesquisa. Os métodos, descritos
de forma simples, são os meios, o “como” a pesquisa será desenvolvida, para
dar conta das perguntas formuladas.
A metodologia estuda esses métodos, analisa-os, mas não cabe a ela ser
prescritiva, pois a escolha dos métodos é decisão complexa que comporta
vários níveis e comporta inúmeras alternativas.
Freire e Cavazotti (2007) consideram que os métodos de pesquisa abran-
gem, segundo uma visão esquemática, três níveis de diferentes naturezas: um
nível operacional (ou técnico, segundo alguns autores), relativo à interação
direta do pesquisador com o objeto de pesquisa; um nível correlacional, re-
lativo ao estabelecimento de relações entre as informações levantadas no ní-
vel operacional; e, finalmente, um nível filosófico e ideológico, subjacente a
todos os procedimentos da pesquisa, desde a formulação de suas questões,
que confere o caráter à pesquisa, garantindo densidade e coerência à inves-
tigação e às conclusões obtidas. Esse esquema, certamente, implica em uma
visão reducionista, e seu propósito é simplesmente didático.
Essencial, porém, é que os métodos realmente sejam pertinentes às
questões formuladas (e, consequentemente, à visão de mundo do pesquisa-
dor) e aos objetivos propostos, além de guardar relação de coerência com o
referencial teórico adotado, isto é, com os conceitos e teorias adotados como
base para a pesquisa. Dessa coerência interna, dependem, em grande parte,
a densidade e a confiabilidade das conclusões da pesquisa.
A densidade da pesquisa tem relação direta com a articulação coerente
entre objetivos propostos, métodos selecionados e referencial teórico adota-
do, isto é, com os conceitos e teorias que regerão a pesquisa principalmente
em sua fase interpretativa (o próximo capítulo se deterá em aprofundar al-
gumas considerações sobre o “referencial teórico”).
Os métodos operacionais (procedimentos metodológicos) nem sempre
são específicos da abordagem subjetivista ou objetivista de pesquisa, mas a for-
ma de concebê-los e aplicá-los à pesquisa certamente é nitidamente diferen-
ciada. Alguns métodos operacionais e técnicas desenvolvidos pelas pesquisas

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designadas como quantitativas têm sido apropriados pela pesquisa qualita-
tiva e ajustados aos seus propósitos. E vice-versa, ou seja, a pesquisa objeti-
vista também tem relativizado alguns de seus princípios e procedimentos,
face aos questionamentos da abordagem qualitativa ou subjetivista. Observa-
mos, assim, que a pesquisa de origem positivista e de natureza objetivista (ou
quantitativa, como alguns a designam) tem recebido algumas permeações
das concepções subjetivistas (ou qualitativas), ao longo do século xx, embora
o predomínio do enfoque objetivista e de seus pressupostos permaneça sub-
jacente. Processo similar se deu com a abordagem subjetivista.
Muitas vezes, é possível partir de uma base quantitativa (objetiva) pa-
ra construir uma interpretação qualitativa (subjetiva). Dados numéricos po-
dem servir a leituras subjetivas, embora, geralmente, as abordagens qualitati-
vas deem preferência a outros métodos que não são voltados para resultados
quantificáveis e que já têm embutida a perspectiva de subjetividade, como é
o caso das entrevistas quando realizadas segundo a perspectiva subjetivista.
Tão importante, contudo, quanto a configuração dos métodos e téc-
nicas empregados é o caráter originário da pesquisa. A natureza da questão
formulada já aponta a tendência do pesquisador, tendência essa que, inevi-
tavelmente, percorrerá todo o processo de pesquisa e estará subjacente aos
métodos, à interpretação dos dados e às conclusões formuladas.
Por exemplo, diante da obra de um determinado compositor, pode-se
interrogar sobre as reais intenções dele, o que indica um pressuposto, cons-
ciente ou não, de que há uma verdade “em si” contida na obra em questão,
definida pelo compositor no ato da criação, e que cabe ao pesquisador reve-
lá-la, configurando, assim, uma abordagem objetivista da obra.
Outro pesquisador pode, diante da mesma obra, interrogar sobre dife-
rentes concepções dessa obra, segundo diferentes receptores (um deles po-
de ser o próprio pesquisador) ou ainda segundo diferentes intérpretes (que
são, também, receptores da obra). Neste caso, não há o pressuposto de um
significado único e definitivo atribuído à obra pelo compositor, nem o pro-
pósito de revelar uma “verdade” ali contida, e sim o pressuposto de que a
obra de arte é sempre aberta a diferentes percepções e significados, confor-
me o sujeito que a recebe, uma vez que ele é um sujeito condicionado social
e historicamente. Ou seja, há um pressuposto subjacente referente à pos-
sibilidade permanente de atualização da percepção e dos significados atri-
buídos à obra.

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Observamos, assim, que além das perguntas que dão origem à pesqui-
sa sinalizarem sua natureza ideológica, os conceitos e teorias adotados co-
mo referencial teórico devem ser coerentes com essa natureza, assim como
os métodos e técnicas deverão, também, ter uso pertinente. Conceitos como
“tempo”, “forma”, “significado”, “representação”, “avaliação”, “cotidiano”,
“contexto”, “estrutura”, “continuidade”, “descontinuidade”, “memória”, en-
tre outros, podem ser tomados como integrantes do referencial teórico. A
concepção adotada será uma condicionante de toda a pesquisa, desde os ob-
jetivos aos métodos e às conclusões. Ou seja, tanto as teorias (explicações)
como os conceitos que elas articulam são os fundamentos (referencial) que
irão subsidiar a pesquisa, sendo que os métodos e técnicas adotados devem
ser coerentes com esse referencial.
Podemos destacar, entre os métodos e técnicas mais usados pelas pes-
quisas qualitativas, a observação (sobretudo a participante) e a comparação,
a entrevista, os questionários, a análise qualitativa, a descrição etnográfica,
sempre utilizados e manipulados de forma adequada à natureza da pesquisa.
O simples fato de colher depoimentos, através de entrevistas, por exemplo,
não é suficiente para que a pesquisa seja considerada subjetivista, pois essa
característica está relacionada a outros fatores. Ou seja, além do referencial
teórico, a forma como são concebidos e utilizados os procedimentos de pes-
quisa é que a identificam como subjetivista ou objetivista.
Flick (2009, p. 29, 30, 31 e 32) identifica três perspectivas principais,
no que se refere às tendências das pesquisas qualitativas, e identifica alguns
métodos como mais relacionados a cada uma delas:

1) Uma primeira perspectiva valoriza a abordagem dos pontos de vista


subjetivos e tem forte ligação com a fenomenologia, adotando como princi-
pais métodos as entrevistas semiestruturadas e as entrevistas narrativas.
2) Uma segunda perspectiva valoriza a descrição e produção de situa-
ções sociais, tendo como principais abordagens metodológicas os grupos fo-
cais, a etnografia, a observação participante, a gravação de interações e a co-
leta de documentos.
3) A terceira perspectiva é a da análise hermenêutica [interessada em desven-
dar significados] das estruturas subjacentes e utiliza, principalmente, a gravação
de interação, a fotografia e o registro em filmes como métodos de estudo.

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Certamente, iremos encontrar, como já comentado, métodos e técnicas
similares aos que foram citados até este momento em pesquisas de outro teor
(como as quantitativas/objetivistas), mas sua formulação, aplicação e fina-
lidades serão essencialmente diferentes. Assim, cabe destacar que essa clas-
sificação que Flick apresenta não é totalmente “fechada”, pois os métodos
priorizados por uma perspectiva de pesquisa podem ser utilizados por outra,
ainda que de maneira diversa e com propósitos diversos.
André (1995) destaca três tipos de pesquisa que aparecem associados
à abordagem qualitativa, ou seja, os métodos empregados nessas pesqui-
sas partem de pressupostos abordados no capítulo anterior, tais como os da
não-neutralidade e da não-separação sujeito-objeto, pressupostos esses que
estarão subjacentes aos procedimentos metodológicos, assim como ao refe-
rencial teórico e a todo o processo da pesquisa. São os seguintes os tipos de
pesquisa destacados por André:
1) pesquisas do tipo etnográfico, cuja ênfase estaria, de modo geral, na des-
crição de práticas, hábitos, crenças, valores, significados etc., de um grupo so-
cial, tendo a observação participante como um dos métodos predominantes.
2) estudo de caso, também muito ligado à pesquisa etnográfica, uma
vez que aplica a abordagem etnográfica ao estudo de um caso (cabe lembrar
que nem todo estudo de caso utiliza a abordagem etnográfica e, portanto,
nem todos se encaixam nesta descrição).
3) pesquisa-ação, voltada principalmente para, a partir da coleta e análise
de dados e do diagnóstico de problemas, planejar ações para sua superação.
Nos três casos destacados por André, os procedimentos metodológi-
cos, assim como as questões que originam as pesquisas, relacionam-se dire-
tamente aos pressupostos e fundamentos metodológicos mencionados nos
capítulos iniciais deste livro.
Quanto aos métodos empregados, podemos dizer que os procedimen-
tos básicos de qualquer pesquisa são observação e comparação e estarão pre-
sentes, explicitamente ou não, em pesquisas quantitativas ou qualitativas
(Freire & Cavazzoti, 2007). Outros métodos ou técnicas, como a experi-
mentação ou a análise estatística, por exemplo, são mais afeitos às pesquisas
quantitativas, enquanto a descrição etnográfica ou a análise fenomenológica
estão no âmbito das pesquisas qualitativas. Passaremos, a seguir, a apresen-
tar alguns aspectos básicos referentes a alguns métodos mais usuais nas pes-
quisas em música, na perspectiva da pesquisa subjetivista.

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