Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
net/publication/282031516
CITATIONS READS
0 324
1 author:
Teotonio R. de Souza
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
184 PUBLICATIONS 44 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Teotonio R. de Souza on 22 September 2015.
xer tinha recebido em troca um tratamento das por Charles Boxer foram os prefácios pa- feito. Desejava que me tratassem como um sa: António da Silva Rego, José Pereira da
preferencial. Foram publicadas no mesmo ra a versão portuguesa dos meus livros Goa novo Fernão Mendes Pinto, sem nutrir sen- Costa, Luísde Albuqoerque, LuísFilipeTho-
jornal várias e fortes contestações desta inter- Medieval (Lisboa, Editorial Estampa, 1993)e timentos negativos, e referia-se ao Jesuíta maz. Outros do estrangeiro incllÚam Char-
pretação e em defesa de Charles Boxer. O tra- Goa to Me (Nova Deli,1994),um livro-adeus Maffei, que entrevistou Fernão Mendes Pin- les Boxer,G.V Scammell e Pierre Yves-Man-
tamento preferencial era devido à rara habi- quando decidi sair de Goa e recuperar a na- to antes de ele morrer. Numa outra carta do guino Silva Rego e Boxer voltavam a
lidade que Charles Boxer tinha demonstrado cionalidade portuguesa. Como referi na in- dia de São Pedro e São Paulo, avisava-!l'eso- encontrar-se em Goa depois do seu primei-
em comunicar-se com os japoneses na sua trodução, o título desse livro foi inspirado bre a política do presente Papa de dificultar ro encontro nos arquivos de Goa em 1951.
língua e respeitaras seus costumes. Como se por China to Me, de Emily Hahn. a concessão de dispensa aos padres para se ca- Escrevia-me o Professor Charles Boxer a
pode ler na autobiografia parcial de Emily Embora já o tenha dito implicitamente, sarem. Descrevia a burocracia doVaticanoco- seguir a esse 1.°encontro dos Seminários de
Hahn (mãe da sua filha Carola e mais tarde a maior parte da correspondência do Profes- mo muito lenta nessas matérias, salvo em ca- História Indo-Portuguesa [realizou-se em
sua esposa), intitulada China to Me (.944), sor Charles Boxer é-me dirigida durante a sos privilegiados, como o da bigamia ou 21-25de Setembro último em Goa o 11.°en-
Oda e Hattori, oficiais dos negócios estran- minha vivênciana Companhia deJesus (.967- relações de incesto de D. Pedro II de Portu- contro, completando 25 anos de trabalhos
geiros japoneses estacionados em Hong- 1994).É sobejamente conhecida a admiração gal com a sua cunhada francesa em 1667-68. de colaboração verdadeiranlente internacio-
Kongdurante o período da ocupação japone- que Charles Boxer sempre nutriu pela Com- E acabava o resto da carta em português: nal]:"Gostei imenso do evento em Goa e es-
sa, nutriam uma grande admiração por Charles panhiadeJesus. Explica-sepelos seus conhe- "Paciência, pois que não há outro remédio." pero que haja outro igual em breve.
Boxer, e o último governador japonês de cimentos e pela sua contribuição para a his- Servi-me destas breves passagens na corres- Achei que as duas melhores comunicações
Hong-Kong, general Suginami, já tinha conhe- tória do Japão e de Macau. A sua obra The pondência para ilustrar o interesse e preocu- eram de Ashin Das Gupta e de Pierre-Yves
cido Boxer no Reino Unido. Charles Boxer Christian Century of Japan (1951)tornarao pações humanas do Professor Charles Bo- Manguin. A terceira melhor era a de Teotá-
não precisava de fazer qualquer jogo sujo. mundialmente conhecido, e a Companhia xer pelos seus amigos. Correspondem à sua nio de Souza. Não estou de acordo com a
Não há dúvidas que Boxer alargara o âm- de Jesus sentiu-se endividada para com ele. maneira de fechar a maioria das cartas que me crítica que Scanlmel teceu, e acho que a sua
bito das suas investigações. De historiador re- Desenvolveu outras pesquisassobre a Or- dirigia "com um abraço apertado do amigo e foi a contribuição mais original. Palavra!"
gionalista, e algo amador até então, passara dem no Oriente e na América Latina. Char- admirador fideIíssimo". Quando recebeu o exemplar da minha
a ser um historiador do império. É quando co- les Boxer mantinha contactos pessoais e ad- Na correspondência que cobre o período tese de doutoramento, escrevia:'~cabei de fa-
meça a dcspender mais tempo nos arquivos mirava as pesquisasdos historiadores jeslÚtas, 1977-1993,eu estava sempre informado acer- zer uma recensão do seu excelente livro Goa
internacionais. Já se nota este novo papel na como Schurhammer, w,cki, Sebes, Schutte, ca dos projectos, conferências e viagens do Medieval.Já entreguei o textO para dactilo-
sua obra The GoldenAge ofBrazil (.960), on- todos eles pertencentes ao Instituto Histó- Professor Charles Boxer. Procurava sempre grafar. Segue em breve para a revista Indi-
de aparecem os prenúncios da crítica, que rico dosJesuítas em Roma, e autores I edito- ter o mesmo tipo de informações acerca das ca." [XVII, n.o I, 1980,pp. 87-89] Dizia nu-
reaparece na sua pré-síntese Four Centuries res de montes de documentação sobre osle- minhas actividades. Há referências às publi- ma outra carta: "Goa Medieval tem um
ofPortuguese Expansion, 1415-1825 (1961), e suítas no Oriente. Para Boxer a Companhia cações importantes que tivessem saído e da- aspecto inovador: Trata pela primeira vez de
que ganha força e consistência na polémica deJesus representava o que o Padmado por- va a sua apreciação delas. Sempre quc tinha aspectos da sociedade local que até agora es-
obra Race Relations, em 1963. tuguês tinha introduzido de melhore dequa- uma oportunidade e descobria talento e se- tiveram ausentes na historiogra/ia indopor-
Boxer recusava aceitar as declarações po- lidade no Oriente. RefIectem-se estes senti- riedade de esforços, tinha uma palavra de en- tuguesa."
líticas que não correspondessem à realidade mentos na correspondência que guardo. Era corajamento. Não tolerava era qualquer tipo A carta de 9 de Setembro de 1979trazia
histórica das colônias portuguesas. uma admiração pela instituição, mas nem de pretensões. o seu convite para visitá-Ia no decurso da mi-
Enquanto não tinha havido reacções ofi- por isso falhou na sua amizade pessoal quan- Não posso deixar de registar aqui a orga- nha viagem para Lisboa: "Fico contente em
ciais às publicações anteriores que também se do lhe manifestei a minha decisão para sairda nização em Goa (27-30de Novembro de 1978) saber que vai passar por aqui em Outubro.
referiam ao mesmo assunto, desta vez foi a re- Companhia deJesus. de um seoúnário que juntou pela primeira Quero que reserve um dia para estar comigo
ferência a Salazar logo no primeiro parágrafo Escrevia-me no dia de Santa Úrsula e as vez, depois da restauração das relações di- e ver os meus manuscritos sobre Ásia portu-
do livro que fez toda a diferença. -Iàm bém o Onze Mil Virgens (com raras excepções, era plomáticas entre Portugal e Índia (1974),os guesa e algunslivrosraros da minha colecção.
último parágrafo não deixava de ser provoca- seu hábito utilizaro calendáriolitúrgico na sua historiadores dos dois países, e de muitos ou- Pode ser em 11ou 12de Outubro. Ligue-me
dor: "Os opositores de toda a vida do Dr. Sa- correspondênciapara comigo):"I certainlywilI tros, para fazerem um ponto da situação e ini- quando chegara Londres para 044-284-2219.
!azar, como o Df. Armando Cortesão, alinham remain your firrnfriend and admirer,whether ciar um processo de actualização da historio- Há comboios de (e para) Euston com inter-
com ele no que respeita à permanência de you remain in or out of the Society" [Conti- grafia indo-portuguesa. Foi uma iniciativa valos de meia hora. É fácilchegar aqui". Des-
Portugal em África. Apesar do que quer que nuarei a ser seo amigo dedicado e admira- do PadreJohn Correia-Afonso,Jesuítagoês de então até 1994,passar um dia em casa de
possam sentir os trabalhadores e camponeses dor, seja dentro da Companhia, seja fora de- da Província de Bombaim. Fui seu colabora- Charles Boxer, sempre que eu passasse por
portugueses acercado passado, do presente e la]. Mas revela noutras cartas as suas dor priricipal na organização desse seoúnário Londres, com sherry e almoço de trabalho à
do futuro de Portugal como poder colonial, a preocupações, desejando que os jesuítas de e também um participante activo com uma espera, e com oportunidade de actualizar os
grande maioria das classes cultas tem orgulllO .Goa continuem a aproveitar-se dos meus ser- comunicação. Estiveram presentes algumas meus conhecimentos, era a melhor parte das
do passado histórico e das realizações pre- viços e apreciar a contribuição que eu tinha figuras distintas da historiografia portugue- minhas excursões internacionais.
sentes no ultramar, e estão resolvidas a não ab- Houve troca de muitas cartas quando eu
dicarvoluntariamente no futuro previsível." decidi publicarem Goa,João de Barros: Por-
Para além da troca de nomes pouco corteses tuguese Humanist and Historian of Ásia (No-
e outros galhardetes no Diário Popular de va Deli, 1981),uma das suasúltimas obras que
Lisboa, em Dezembro:1aneiro de 1963-1964, o próprio Boxer considerava importante, e
o governo de Salazar pediu ao governo britâ- assim o con/irrnao seu biógrafo Alden Dau-
nico a exclusão de Boxer da Comissão Con- ru. Para Charles Boxer,João de Barrosera um
junta Anglo-Lusa. Quando isto não foi acei- modelo para a sua inspiração pessoal, não só
te pelo governo britânico, Portugal decidiu como um historiador "seguro"nautilizaçãodas
suspender a Comissão, que só voltaria a reu- fontes, mas principalmente um escritOrcapaz
nir-se após a morte de Salazar- Apesar de tu- de informar sobre o vasto império português
do o que acontecera, quando Boxer fez sair a desde o Maranhão até às Malucas. Asua car-
segunda edição de Fidalgos in the Far East, em ta do dia de São Mateus ApóstOlo mostra-se
1968, ele manteve a dedicação da obra a Ar- contente com a excelente recensão feita por
mando e Carlota Cortesão! Mas dez anos mais A. Coimbra Manins na revista Portugal
tarde Armando Cortesão reeditava a sua Su- Hoje, de 4 de Setembro de 1981.Refere
ma Oriental omitindo a dedicatória a Char- também à impressão muito positiva de Pina
lesBoxer, "a quem a história dos portugueses Martins.
no Oriente deve tanto" na primeira edição! Mas Para prestar a melhor homenagem que eu
entre os portugueses, Carlos Estorninho e Charles Boxer acompanhou com particular atenção podia ao meu mestre-amigo historiador por
Carlos deAzevedo mantiveram-se manifesta ocasiãoda comemoração do centenário do seu
e incondicionalmente fiéis amigos de Charles a política que afectava a escrita da história em nascimento, decidi antecipar o evento com
Boxer durante a tempestade, enquanto al- a publicação da 1.'versão portuguesa da obra
guns outros, como António da Silva Rego, Portugal efez regularmente epublicou os seus que acabei de mencionar. João de Barros:
Luís Ferrand deAlmeida, Manuel Lopes deA!- Humanista Português e Historiador da Ásia
meida, assumiram uma postura critica, mas res- balanços críticos da historiografia portuguesa. foi lançado na Sociedade de Geografia de
peitosa. LisboaemJaneiro de 2002 com a chancela do
Querendo voltar para o aspecto pessoal Não pactuava com a instrumentalização do passado, Centro Português de Estudos do Sudeste
desta minha evocação, além de memórias Asiático (CEPESA) e com o apoio da Funda-
pessoais de vários encontros com o Professor nem para o glorificar, nem para o denegrir como ção CaIouste Gulbenkian.1
Charlés Boxer em sua casa de Ringshall End;
"I,
que não distava muito da residência da minha estratégia para Justificar ou 'condenar 'as opções: Professor Doutor Teotónio R. de Soir:'a
irmã, casada e estabelecida em Dunstable . [Universidade Lusófona
(Luron) há 25 anos, guardo algumas dezenas
de cartas recebidas do Professor Charles Bo-
políticas da actualidade. de Humanidades e Tecnologias]
Sócio Correspondente
xer. Agrande parte da correspondência é dos da Academia Portuguesa de História
anos 1979-1985, mas continuou até 1995. As Sócio Efectivo da Sociedade
últimas missivas escritas à máquina e assina- de Geografia de LIsboa