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Artigo do prof Reinier J. Rozestraten, pioneiro da psicologia do trânsito no Brasil, enfatizando a linha social da psicologia com o contexto do trânsito
Artigo do prof Reinier J. Rozestraten, pioneiro da psicologia do trânsito no Brasil, enfatizando a linha social da psicologia com o contexto do trânsito
Artigo do prof Reinier J. Rozestraten, pioneiro da psicologia do trânsito no Brasil, enfatizando a linha social da psicologia com o contexto do trânsito
O professor Reinier J. A. Rozes¬ Federal de Uberlândia. 2 (1):61, julho
traten, do Departamento de Psicolo- de 1985.) gia e Educação da Faculdade de Filo- sofia, Ciências e Letras de Ribeirão Os interesses em conflito Preto, é um dos estudiosos de Psico- Rozestraten descreve, em entre- logia do Trânsito no Brasil. vista, qual é o seu enfoque de Psicolo- A respeito do uso dos psicotécni- gia Social no entendimento da ques- cos, fez as seguintes afirmações na tão do trânsito, nos seguintes termos: Revista Psicologia e Trânsito: "O trânsito é um problema so- cial. Em cada cruzamento, constata- mos que os pedestres, os carros, os "Para mostrar como a situação é ônibus, as bicicletas etc. vão e vêm de encarada na maioria dos países euro- diferentes direções. Em princípio, ca- peus, transcrevo aqui um parágrafo da um deseja passar por esse cruza- de uma carta da pesquisadora em Psi- mento permanecendo ileso e deixan- cologia do Trânsito, A. Lightburn, do o outro passar também ileso. Na da Universidade de Nottingham, na prática, a situação é mais complexa Inglaterra dirigida à comissão do do que parece à primeira vista. O mo- Conselho Federal de Psicologia: 'O torista quer fluidez do tráfego de uso dos testes psicológicos para sele¬ veículos, o pedestre precisa de menor cionar motoristas tem sido objeto de fluidez para que possa atravessar a estudo da Organização Mundial de cam o bem comum, pode ser solicita- rua e, por outro lado, o comerciante Saúde. Eles chegaram à conclusão de do um exame complementar psiquiá- deseja que os fregueses possam esta- que aqueles testes têm apenas um lu- trico ou psicológico. cionar em frente a sua loja. Portanto, gar muito limitado não porque as O Brasil é um dos poucos países os interesses das pessoas que partici- condições psicológicas não fossem no mundo, talvez o único, onde o tes- pam do trânsito não são os mesmos, e importantes, mas porque não foi te de personalidade é imposto sim- entram necessariamente em conflito. possível organizar uma bateria de tes- plesmente como uma condição sine E mesmo os interesses das pes- tes psicológicos de aplicação prática qua non para a aquisição de uma Car- soas são variáveis conforme a situa- razoável que poderia predizer quais teira Nacional de Habilitação (CNH). ção. Por exemplo, uma pessoa quan- os motoristas de alto risco com algum Podemos questionar se somos os úni- do é motorista vê o pedestre como es- grau aceitável de certeza. Além disto, cos certos e se as pesquisas em que se torvo no seu caminho, mas quando não parece justificável numa base de baseia o julgamento sobre o apto ou essa mesma pessoa torna-se pedestre custo/benefício, e parece também ex¬ não-apto merecem esta confiança vê o carro atrapalhando o seu cami- tremamente impopular em relação à científica. Não há necessidade de co- nho. Há uma ambivalência ou con- população de motoristas, especial- meçar imediatamente uma guerra ico¬ tradição no seu julgamento da situa- mente em países que dão muito valor noclástíca e acabar com os testes na ção, dependendo da posição que ele à liberdade do indivíduo.' Portanto, seleção de motoristas e para a aquisi- está assumindo. É um certo egoísmo questiona-se também se as autorida- ção da CNH. Porém, em consequên- no sentido de querer sempre em todas des têm o direito de devassar a perso- cia destas reflexões, podemos, pelo as situações a garantia de todos os di- nalidade de um cidadão simplesmente menos, colocar alguns pontos de in- reitos e o mínimo possível de deveres porque ele quer dirigir um carro. Pra- terrogação e estimular a pesquisa que a serem cumpridos. Essa atitude in- ticamente todos os países da Europa poderá fornecer mais certeza a respei- terfere no trânsito para que não se te- aceitaram as conclusões do Simpósio to da validade e da fidedignidade dos nha uma consciência de que o trânsito de Roma. Nestes países, o direito de testes usados no Brasil para este fim" é um jogo social, envolvendo moto- dirigir é comum a todos; os exames (transcrição parcial do artigo de Rozes¬ ristas e pedestres, conforme regras teóricos e práticos são mais aperta- traten, Reinier J. A. A relação da Psi- definidas. A maioria imagina que po- dos, e somente quando os erros e os cologia do Trânsito com outras áreas de fazer na hora as regras conforme acidentes mostram que existem pro- da Psicologia. Revista Psicologia e as suas conveniências porque ele é blemas na pessoa e que eles prejudi- Trânsito. Uberlândia, Universidade mais importante do que as regras. A impunidade do mais forte Na nossa realidade, algumas pes- soas têm mais direitos do que os ou- tros. O filho do prefeito, o deputado, a mulher do governador e muitas ou- tras pessoas acham que não precisam respeitar as regras porque são exce¬ ções às regras. Assim, reforça-se o desrespeito às regras, que depois se generaliza: se essas pessoas podem, por que eu, cidadão comum, também não posso? Em outros países, o pro- cesso é totalmente inverso ao nosso. Lembro que na Holanda, um policial multou o príncipe Bernard e por isso foi condecorado. Quem vai ser con- decorado no Brasil por multar o Pre- dente, não entra na estatística oficial. número de anos de vida útil destes é sidente da República? A mesma coisa acontece com todos os bem menor em relação aos acidenta- No Brasil, quem é o mais forte acidentes que não constam nos Bole- dos no trânsito que teriam mais 40 ou tem mais direitos, mas não deveria tins de Ocorrência, pois a polícia não 50 anos de vida pela frente. São pes- ter. Isso porque não há punição e foi chamada e tudo se resolveu infor- soas jovens em quem não somente os nem fiscalização. Você pode atrope- malmente entre os envolvidos. pais, como também asociedade,inves¬ lar e atè matar alguém com o carro, e O Boletim de Ocorrência não for- tiram durante muito tempo. E, exata- fica impune. No julgamento, são nece informações suficientes sobre os mente quando chegam à idade produ- aceitos diversos argumentos de defe- acidentes. É preciso melhorar o Bole- tiva, perdem a chance de poder dar sa: você não quis matar proposital¬ tim de Ocorrência e dar um treina- um retorno à sociedade por causa de mente, è réu primário etc. mento aos policiais para obterem um acidente de trânsito que pode ter Se houvesse uma fiscalização mais dados, deixando de simplesmen- acontecido por uma estupidez, distra¬ mais séria no trânsito, diminuiria sem te acumular dados e números sem re- ção ou ignorância. dúvida o índice de acidentes. No Ja- fletir a realidade. Deveria ser feita pão, eles conseguiram procedendo uma estatística que signifique alguma dessa maneira: multas altas e fiscali- coisa de maneira muito mais diferen- O trânsito como zação para todo lado. Se você tem ciada do que acontece hoje. um bem social que pagar tanto porque o seu carro está mal estacionado, dentro de uma Quem é o prejudicado Precisamos abandonar a idéia de semana ninguém mais vai estacionar num acidente? que o trânsito é um assunto só do mal. Aí acaba ficando caro e o pes- DETRAN, do CONTRAN, do soal vai começar a pensar antes de le- Constatamos que o acidente ainda DNER. Os órgãos públicos colocam var multa. è visto de modo muito genérico no as placas de sinalização, marcam as É importante assegurar que o Brasil. Quando há morte de duas pes- ruas etc., mas quem faz o trânsito so- brasileiro coloque na cabeça que as soas ou quando um carro bate o pára- mos nós. Eles podem fazer o Código leis de trânsito não são imposições choque num barranco, ambos os ca- Nacional de Trânsito, mas quem obe- autoritárias. Elas possuem uma vi- sos são considerados acidentes, mas dece ou desobedece somos nós. To- gência internacional e foram imagina- são completamente diferentes entre dos nós participamos do trânsito e das para dar segurança a todos aque- si. Por isso, é preciso passar a fazer nessa medida temos uma certa parce- les que participam do trânsito. uma descrição mais minuciosa dos la de responsabilidade nisso. acidentes e dos envolvidos neles, Assim, o trânsito passa a ser visto As omissões da abrangendo classe social, faixa etária, como um bem social que pertence a estatística oficial local etc. É um estudo de Psicologia todos. Todos têm direito ao trânsito, Social que não foi feito ainda no Bra- que não pertence somente a um ou a Os motoristas se impõem no trânsi- sil. outro. Se alguém tem direito, tam- to pela força bruta, respaldados pela Em termos de epidemiologia, o nú- bém tem deveres em relação aos ou- impunidade. Tanto é que a maior mero de mortes de acidentes no trân- tros, e vice-versa. Teria que haver porcentagem de acidentes de trânsito sito é menor na realidade do que de uma mudança de consciência de que o é de atropelamento de pedestres. mortes por doenças cardiovasculares. trânsito é de todos e para todos. Aí São 50 mil pessoas que morrem no Entretanto, mais de 30% morrem nos ocorreria uma tentativa de todo mun- trânsito todo ano. A estatística oficial acidentes de trânsito entre 18 e 30 do permanecer vivo, alcançar seu des- è de 23 mil, mas refere-se somente anos, enquanto a maioria das vítimas tino e ninguém se ferir ou morrer. Se- àqueles que morrem no momento de doenças cardiovasculares morre ria um benefício para todos na socie- exato do acidente. Quem morre sendo com 40 ou 50 anos normalmente. dade e, nesse sentido, o trânsito deve- transportado para o hospital, ou Mesmo que as vítimas de doenças car- ria ser um exercício de convivência morre dois ou três meses após o aci- diovasculares vivam até 70 anos, o pacífica."