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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – AESVISA.


FACULDADES INTEGRADAS DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – FAINTVISA.

1 - FACETAS E REPRESENTAÇÕES DO CONTRAPODER: O OCASO DA


MONARQUIA VISTO A PARTIR DAS CHARGES OITOCENTISTAS.

2 - IMAGENS, POLÍTICA E CRISE MONARQUICA: AS REPRESENTAÇÕES DE D.


PEDRO II NAS IMAGENS DO SÉCULO XIX.

3 - NAS VEREDAS DA REPRESENTAÇÃO: RETRATOS DO PODER IMPERIAL


NOS ANOS FINAIS DA MONARQUIA.

4 – IMAGENS DA SEDIÇÃO: O HUMOR COMO INSTRUMENTO POLÍTICO NA


CRISE DA MONARQUIA.

THE RELATIONSHIPS HISTORY AND IMAGE, AND IS POSED TO THE


EMPEROR D. PEDRO II FOR THE ICONOGRAPHIC RESOURCES IN YOUR
TIME: A CRITICAL ANALYSIS.

FERREIRA, Gilson Gomes.1 <gilsongomestergra@gmail.com>.


BRITTO, Aurélio de Moura.2 <aurelio.britto@yahoo.com.br>.

RESUMO: Este estudo compreende a imagem enquanto instrumento para formulação de


pensamentos acerca das coisas que nos circundam constantemente, assim sendo, como a
produção histórica não cessa, os recursos iconográficos também não param de expor
perspectivas sobre os fatos históricos, e isto vem desenvolvendo-se com muita intensidade na
atualidade. Entretanto, abordaremos os fins do século XIX enquanto objeto de estudo deste
artigo, e especificamente as produções da Revista Illustrada, de Ângelo Agostini, para apontar
e analisar a imagem e sua história integrada a história cultural. No caso em questão
analisaremos 6 (seis) imagens publicadas pelo periódico que atribuíam uma imagem velha e
impotente ao Imperador D. Pedro II. Vale considerar-se também a situação de livre imprensa
da época que contribuiu significativamente para produção e circulação destas imagens,
concluindo que estas são para além de meros recursos ilustrativos, estão repletas de intensões
e fazem parte de dados contextos históricos aos quais reforçam ou refutam fatos, indivíduos,
instituições entre outros.

_____________________________________________
1. Graduando em Licenciatura Plena em História, pelas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão –
FAINTVISA.
2. Me. em História pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor do curso de Licenciatura
Plena em História das Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão – FAINTVISA.
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PALAVRAS-CHAVE: Imagens. D. Pedro II. Revista Illustrada. História.

ABSTRACT: This study comprehends the image as an instrument for formulating thoughts
about the things that surround us constantly, so, as historical production does not cease, the
iconographic resources also do not stop exposing perspectives on the historical facts, with
great intensity in the present time. However, we will approach the end of the nineteenth
century as an object of study of this article, and specifically the productions of the magazine
Illustrada, by Ângelo Agostini, to point and analyze the image and its history integrated
cultural history. In the case in question we will analyze 6 (six) images published by the
periodical that attributed an old and impotent image to the Emperor D. Pedro II. It is also
worth mentioning the situation of free press of the time that contributed significantly to the
production and circulation of these images, concluding that these are beyond mere illustrative
resources, are full of intentions and are part of historical data contexts to reinforce or refute
facts, individuals, institutions and others.

KEYWORDS: Images. D. Pedro II. Journal Illustrada. Story.

INTRODUÇÃO

‘Uma imagem vale mais que mil palavras’: assim afirmam os admiradores da
iconografia, em suas diversas formas de manifestação. O dito popular é respaldado no senso
comum, de forma que sintetiza o valor de cada elemento da imagem (histórico, cultural,
social, econômico, entre tantos outros), sem atentar para discuti-los e/ou analisa-los.

Recentemente, considerando a abertura dos estudos históricos para conceber enquanto


documento outras fontes que não fossem exclusivamente as escritas, diversas publicações
acadêmicas passaram a estudar imagens enquanto elemento significativo na construção de
novas interpretações acerca do passado humano. Não obstante, no decorrer das investigações,
a ciência esbarrou-se novamente com o senso comum, compreendendo que a frase: ‘uma
imagem vale mais que mil palavras’, de fato tinha sua razão de ser.

Isso nos leva a refletir sobre os escritos de Folarri em Garcia (2011), o pesquisador-
autor salienta que por vezes é função das ciências humanas e sociais dialogar com o senso
comum, porém, com métodos e técnicas de cunho científico que possam confirmar a sua
aplicabilidade, o que nos faz pensar nesta perspectiva que nenhuma teoria deve encontra-se
desprovida de contexto prático e vice-versa.

O presente artigo não irá refutar o entendimento popular, pelo contrário, seu intuito é

_____________________________________________
1. Graduando em Licenciatura Plena em História, pelas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão –
FAINTVISA.
2. Me. em História pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor do curso de Licenciatura
Plena em História das Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão – FAINTVISA.
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reafirmar essa posição e dialogar com algumas produções acadêmicas, e utilizando-se destas
para formulação de ideias, retirada de citações e paráfrases. Estas nos proporcionaram
constantes reflexões acerca da relação história e imagem, auxiliando na superação destas
enquanto um mero recurso ilustrativo. Como fonte documental que é, a iconografia representa
tempos, fatos e realidades de vidas, contextos, refletindo, por meio de análise, história. Como
toda fonte histórica deve criticada e confrontadas com outras.

Visamos compreender a história cultural imbricada na história das imagens (não da


arte), através de estudo histórico/metodológico, buscando a superação da ilustração, apenas
com esse fim. No caso em questão, imagens tem representatividade de uma mentalidade de
época e fornecem indícios que permitem avançar na compreensão do passado. Recortamos o
século XIX, nos anos finais do Segundo Reinado posto que neste período as imagens foram
de grande importância tanto para elevar, decair e salvaguardar politicamente indivíduos e
instituições. O Imperador D. Pedro II, é o personagem histórico que teve publicada muitas
imagens que (re)configuravam o seu EU, ele é e será o objeto de estudo ao qual
relacionaremos no decorrer deste a relação história e imagem.

Objetivamos especificamente observar a construção, como também a desconstrução,


de personalidades individuais, aqui nomeadamente do Imperador D. Pedro II, trabalhando
com fontes de linguagem não-verbal (imagens) que retratem o contexto histórico que ansiava
pela saída de D. Pedro II, como por consequência o fim do Império, verificando como tais
grupos políticos manifestavam nas caricaturas, cartuns, entre outros, seus interesses na
tentativa de projetar uma imagem de Imperador exausto e impossibilitado de continuar no
poder. Neste contexto, o imperador metaforiza o sistema monárquico, também tido obsoleto e
esgotado.

Nesta investigação acadêmica, recorreu-se a pesquisa de cunho bibliográfico, que se


encaminhou a partir da escolha do tema, formulação de problemas e objetivos, busca por
fontes e/ou levantamento bibliográfico, sucedida pela organização e leitura deste material, e,
finalmente, com posterior produção dos textos que culminaram neste artigo, alinhando esses
com algumas produções iconográficas do século XIX, sobre o Imperador D. Pedro II, no
intuito de atender aos objetivos deste trabalho.

As imagens aqui analisadas, foram selecionadas da Hemeroteca Digital, dos acervos


digitalizados da Revista Illustrada de Ângelo Agostini, especificamente as publicações de
1880 a 1889. Foram avaliados individualmente 386 números publicados da Revista Illustrada,
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e destes, foram seletadas 6 imagens. O recorte temporal justifica o critério de seleção das
ilustrações, pois é nesta década que o Imperador apresenta problemas diversos acometidos
pela sua idade e frágil saúde, a contar também que é a década final do Segundo Reinado, tais
imagens apontam características de velhice e caquexia do Imperador D. Pedro II, pondo em
xeque seu reinado. As iconografias serão analisadas historicamente e descritas na produção do
artigo.

Por último, se faz importante citar, a liberdade de imprensa existente na época, que
permitia a circulação de tais imagens que auxiliavam de forma crítica: positiva, ou negativa a
figura do Imperador.

1. HISTÓRIA CULTURAL DAS IMAGENS

Diversas mudanças ocorreram nos métodos e técnicas de pesquisa em história desde o


seu firmamento como ciência acadêmica e disciplina cientifica no século XIX.

Baseando-nos em Nova (2000) podemos compreender que a partir das novas


perspectivas das escolas históricas que sucederam o positivismo, especificamente com o
advento da Escola dos Analles e, posteriormente, da Nova História (Nova História Cultural), a
ciência história passou a ser estudada em conceitos mais amplos com relação a suas fontes.
Assim, para além dos documentos escritos, anteriormente reputados como recurso único para
análise dos fatos, a história passou a ser problematizada e escrita também através da
interpretação metodológica dos acontecimentos, bem como, com outras fontes que permitam
vislumbrar interpretações dos feitos humanos no mundo no decorrer dos tempos.

Com esta premissa de transformações, os documentos mudam de características,


ampliando os meios de pesquisa. Assim:

[...] o documento é qualquer elemento gráfico, iconográfico, plástico ou


fônico pelo qual o homem se expressa. É o livro, o artigo de revista ou
jornal, o relatório, o processo, o dossiê, a correspondência, a legislação, a
estampa, a tela, a escultura, a fotografia, o filme, o disco, a fita magnética, o
objeto utilitário, etc. [...] enfim, tudo que seja produzido por razões
funcionais, jurídicas, científicas, culturais ou artísticas pela atividade
humana (BELLOTTO, 1984 apud RUBIM; OLIVEIRA, 2006, p. 6).

No mesmo sentido Nova continua a trazer sua contribuição para que possamos
entender essas expressivas conversões e sustenta que:

[...] que envolve as ciências humanas como um todo, que os próprios


conceitos de método (de investigação e de exposição), objeto e documento
vão se ampliando, permitindo cada vez mais uma maior aproximação da
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história com territórios antes inexplorados (a oralidade, as imagens, o


imaginário). Novos domínios historiográficos são difundidos, tais como a
história oral, a antropologia histórica, a história cultural, a relação cinema-
história. Assim, pouco a pouco, os historiadores vão percebendo que as
possibilidades de construir discursos sobre o passado ultrapassam os limites
impostos pela escrita (NOVA, 2000, p. 143).

Com este acréscimo interdisciplinar que permitiu galgar outros caminhos da produção
do conhecimento, a relação história e imagem, na produção historiográfica, vem sendo cada
vez mais utilizada. Os recursos gráficos, cartuns, charges, fotografias, telas, entre tantos
outros materiais que denotem intencionalmente, ou não, arte, passaram a possuir valor
significativo, sendo auxiliares na identificação do regime de historicidade de uma época,
vindo a subsidiar o trabalho do historiador. (Hartog,

Neste aspecto, as imagens (iconografias) são dissociadas do panorama meramente


ilustrativo. Miani (2014) salienta que elas são modos de representatividade dos grupos sociais,
e para além, maneira de concebermos uma dada realidade. Nessa mesma perspectiva, “é o que
confirma Miriam Moreira Leite, ao identificar o uso desse tipo de fonte enquanto documento
que fala, que transmite ‘clara e diretamente informações’, ou ainda, igualado ao documento
escrito, como ‘representações que aguardam um leitor que as decifre’” (NEVES, 2004, p. 2).

De fato esses ‘novos recursos’, por meio das suas possibilidades interpretativas, muito
podem nos fazer perceber sobre as coisas. Eles não carregam consigo nenhuma neutralidade,
pelo contrário, mostram-se muitas vezes no intuito de aprovar ou reprovar algo ou alguém,
porém são declarações, apresentados na via estética, que deixam implícita ou explicita as
maneiras de pensar dos indivíduos, classes e sociedades de determinadas épocas.

Muitos pesquisadores dedicaram-se a utilizar métodos e técnicas interpretativas de


imagens. Panofsky (1892-1968) é um dos mais conceituados nesta área, através da
iconografia buscava expressar com fundamentação as interpretações possíveis dos registros
históricos. Sabemos que:

Na procura dessa exatidão, o autor cria uma metodologia, dividida em três


partes, para a análise das imagens: a primeira acontece com a identificação
dos motivos visuais, ou seja, uma leitura formalista que Panofsky denomina
de pré-iconográfica; a segunda é o estudo dos temas e dos conteúdos da
imagem, a leitura iconográfica, na qual se procuram as relações históricas e
alegorias acerca do tema da imagem; a terceira seria, finalmente, a leitura
iconológica, a procura do conteúdo, que para ser decifrado necessitaria de
uma confrontação com várias disciplinas, em uma maneira de relacionar a
obra com toda uma cultura (ALMEIDA, sd, p. 85).
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Vicente aborda em seus estudos também os métodos desenvolvidos por Panofsky, e


conclui que;
Outra forma de abordar o fenômeno da representação das imagens é o de
verificar as intenções do produtor ou do autor ao elaborar um quadro, uma
fotografia, ou produzir imagens em um filme. Seria, num primeiro momento,
tratar da ideologia, ou ideologias que levaram o autor a produzir a imagem
(VICENTE, sem data, p. 155).

Foi a Nova História Cultural que proporcionou esta amplitude com relação ao estudo
das imagens, e que respaldou ainda mais as propostas de Panofsky (e tantos outros), mesmo
que ele tenha formulado suas análises antes da primeira publicação da Nova História Cultural,
que ocorrera em 1989. Nesta perspectiva:

A cultura seria então uma construção social que dá sentido à realidade de um


determinado povo historicamente datado e localizado. Seria a tradução da
realidade através de formas simbólicas, dando sentido às palavras, às coisas
e às ações. Assim, entende-se como principal objeto de estudo da Nova
História Cultural, as representações nas suas mais variadas formas, sejam
elas literárias, iconográficas, musicais, etc. (SOUSA, 2005, p. 2).

Todavia, Sousa (2005), ainda ressalta que:


Os cuidados no trabalho com este tipo de fonte são muitos, pois as imagens
são fontes que se dão aos mais diversos tipos de leitura e interpretação.
Assim uma mesma imagem pode ter seu significado mudado de acordo com
o tipo de olhar que é lançado sobre ela. Deve-se sempre ter em mente
também que a imagem não se esgota em si mesma. O historiador que utiliza
a imagem como fonte histórica precisa enxergar além da imagem, ler suas
lacunas, silêncios, decifrar seus códigos. As imagens são representações do
mundo elaboradas para serem vistas (SOUSA, 2005, p. 3).

Muitas das produções visuais, atualmente estão sendo objeto de estudo, que vem a
contribuir sistematicamente para revisão historiográfica e surgimento de novas teses acerca
dos regimes de historicidade de diferentes períodos. Seguindo esta linha propomos a seguir,
compreender a história cultural, interligada veemente na história das imagens (não da arte),
buscando a superação da ilustração, apenas com esse fim. Ressaltamos mais uma vez que tais
imagens tem representatividade de uma mentalidade de um dado tempo.

Nos fins do século XIX a fins do Segundo Reinado, as imagens foram divulgadas
amplamente por meio de revistas, jornais, e outros periódicos, tendo um importante papel na
construção da imagem de pessoas, grupos, ideologias e organizações sociais (vemos um caso
do ilustrativo enquanto representatividade do EU). O Imperador D. Pedro II fora por vezes
alvo dos ataques dos cartunistas, teve em muitas ocasiões a sua feição de homem e político
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estampada nos números da Revista Illustrada, por exemplo. E é sobre tais publicações na
referida que verificaremos a partir de então.

2. ANÁLISE DE IMAGENS DA REVISTA ILLUSTRADA – CONTEXTO


HISTÓRICO DA PRODUÇÃO ICONOGRÁFICA.

Na última década do Segundo Reinado, o Imperador já não mais dispunha da


vitalidade e saúde que continha ao assumir o trono em 1840, encontrava-se acometido com
doenças diversas, como o diabetes, e havia envelhecido precocemente. O branqueamento do
cabelo e da longa barba conotaram a figura de D. Pedro II uma aparência caquética. Vale
salientar que mesmo assim já havia atingido uma “privilegiada” longevidade, tendo em vista
que seus pais, a Imperatriz Leopoldina e D. Pedro I, faleceram com 29 e 34 anos,
respectivamente. A breve vida, foi o legado que 3, dos 4 filhos de D. Pedro II adquiriram dos
avós.

Ainda nos anos 80 do século XIX, podemos observar que a produção de recursos
iconográficos vinculados ao imperador era constante. Neste período, a monarquia brasileira
apresentava crises e já estava perdendo sua legitimidade, principalmente, após a crescente
adesão de alguns setores produtivos da sociedade ao sistema republicano e ao ocaso do
escravismo brasileiro.

Desta ocasião aproveitaram-se jornais, revistas, e outros periódicos da época. A


Revista Illustrada, publicou diversas imagens do Imperador, que criticavam e o
ridicularizavam, aos padrões da época. A sede da revista localizava-se no Rio de Janeiro,
capital do Brasil, onde todas as decisões administrativas do país eram tomadas, lá todos
sabiam primeiro de tudo o que estava acontecendo. A iconografia produzida tentava atingir
também o público não-leitor com desenhos que transmitiam mensagens diretas e críticas ao
sistema monárquico, contribuindo significativamente, e de forma mais expressiva nas
províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro, por meio da popularidade que possuía, com a
formação de opiniões acerca do regime político e dos agregados inerentes a estabilidade deste,
como a escravidão3. Sabemos que “Joaquim Nabuco chegou a declarar que a Revista
Illustrada era a ‘bíblia da abolição daqueles que não sabiam ler’” (SOBREL apud LIEBEL,
2015. p. 798).
Ângelo Agostini (1843-1910), era o responsável pelas publicações da Revista
Ilustrada que,
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[...] será o meio pelo qual Agostini e seus colaboradores promoverão a


oposição ao governo monárquico, e será também um dos palcos por onde
parte da população acompanhará os últimos anos da escravatura, a queda da
Monarquia e a ascensão republicana no centro político do país (LIEBEL,
2015. p. 797).

Italiano, Agostini migrou para o Brasil em 1859, antes disso inspirando-se nas sátiras
francesas produzidas por Daumier, como nos aponta Liebel (2015). A época deste, a França
apresentava iconografias produzidas no Le Charivari (ao qual Daumier publicava) com fortes
críticas ao regime político, e visível apoio a causa republicana. Antes da inauguração da
Revista Illustrada (1876), Agostini contribuiu com seus desenhos em: Diabo Coxo (1864), El
Mosquito (1863), O Cabrião (1866), e na publicação da estória em quadrinhos As Aventuras
de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte (1869).
No caso específico da Revista Illustrada, o autor publicava constantemente caricaturas
do Imperador em diversas formas, D. Pedro II foi vitimado quase que em todos os números da
revista até o fim da monarquia. Analisaremos a partir de então 6 modelos escolhidos enquanto
objeto de estudo deste artigo que expunham situações de uma característica vez ou outra
abordada nos elementos pictográficos, a velhice do Imperador.

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3. Geralmente é comum “associar Agostini ao movimento abolicionista foi a marca principal dos comentários
póstumos ao artista italiano. Há um esforço nas crônicas sobre a morte de Agostini de ombreá-lo em
importância na campanha abolicionista a Patrocínio e Nabuco. Com seu “lápis seguro”, seria mais um dos
grandes heróis do abolicionismo. Acabar com a escravidão no Brasil era considerado um elemento importante
na construção na nação republicana que começava a tomar forma. A atuação determinada de Agostini teria
contribuído decisivamente para que tal realidade pudesse acontecer, de maneira que era preciso reconhecer o
lugar de Agostini no processo que resultou no 13 de maio. [...]” BALABAN, Marcelo. Poeta do Lápis: A
trajetória de Ângelo Agostini no Brasil Imperial – São Paulo e Rio de Janeiro – 1864-1888. Tese (Doutorado
em História) – São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 2005. p. 13.
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IMAGEM 1 - AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista


Illustrada. Rio de Janeiro: v. 302. Ano, 7, p. 1-8, 1882.

A charge expõe a costumeira participação do imperador D. Pedro II em eventos


públicos, este com presença quase que exclusiva de homens brancos (percebe-se a etnia a qual
pertencem pela ausência de cor nas mãos e rostos das caricaturas) trajados com roupas
comuns à elite da época, com a exceção de duas figuras que aparecem no canto inferior
esquerdo da imagem, não sabendo-se ao certo se homens ou mulheres, provavelmente
mulheres devido as vestimentas, que não prendem a atenção para a figura do imperador.

Podemos observar na imagem uma procissão a carregar mastros com coberta na


superfície, à frente do carregamento estão o imperador D. Pedro II e seu genro, o Conde
D’Eu, ambos com indumentária militar e mozeta sobre os ombros. O elemento que compõe a
cômica é o destaque feito a D. Pedro II enquanto incapaz de carregar o mastro do cortejo, que
está notoriamente sinuoso, aponta-se também a dificuldade do referido em concentrar-se na
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marcha, desajeitando o corpo. A crítica é feita pela extensão da mesma incapacidade apontada
na imagem, dada ao imperador em governar o Império brasileiro.

A imagem é capa do número 302, publicada em 1882, no rodapé da página há uma


legenda com os seguintes dizeres: “– D’après nature4 ao pé da letra. – O imperador já está
ficando velho, já lhe custa pegar na ... – É verdade, coitado! Custa-lhe até endireitar o corpo!
– O conde está cada vez mais camarão” (Idem).

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4. A expressão em destaque é um termo francês, verificamos a confirmação da inspiração francesa de Agostini
em suas produções, o modelo eurocêntrico é de grande valorização não apenas ao referido mas a Nação e
América como um todo, de acordo com o dicionário online infopédia a expressão significa: antiquado; e
aplica-se quando diz-se da obra de arte realizada diretamente a partir da natureza, ainda de acordo com o
mesmo. Disponível em: <https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-
portuguesa/d'apr%C3%A8s%20nature>. Acesso em: 08/10/2018.
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IMAGEM 2 – AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista


Illustrada. Rio de Janeiro: v. 309. Ano, 7, p. 1-8, 1882.

A imagem 2 será avaliada conjuntamente as imagens 3 e 4, entretanto, especificaremos


aqui os elementos que a compõem entes de quaisquer avaliações cientifico/interpretativas.
Apresenta novamente o Conde D’Eu, no momento impedido de pronunciar-se devido
a uma rolha lhe tapar a boca. Em segundo plano, todavia não menos importante, está o
Imperador D. Pedro II sentado em uma cadeira a dormir, mesmo não sendo tal atitude
oportuna para a ocasião. Recuadas no canto esquerdo da imagem, aos fundos dos
protagonistas desta iconografia encontram-se duas crianças, que desviam-se do seus afazeres
sutilmente, para ironizar ao Imperador com risadas, devido as circunstancias que este
encontra-se. Mesmo apresentam-se aos fundos as crianças são elementos importantes para
sátira apresenta da nesta imagem.
Está abaixo da imagem a seguinte legenda: “Precaução que a Sua Alteza o Sr. Conde
D’Eu quando tiver de visitar escolas. Se Sua Alteza imitasse o Seu Augusto e Imperial Sogro
não teria nunca ocasião de contestar fatos históricos” (Idem).
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IMAGEM 3 – AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista


Illustrada. Rio de Janeiro: v. 365. Ano, 8, p. 1-8, 1883.

Bem como a imagem anterior, esta também terá estudo conjunto, possuindo sua
análise agregada ao contexto das imagens 2 e 4, mesmo com cenários diferentes estas
apresentam situações pitorescas comuns.
A iconografia apresentada em capa é uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB), a legenda explicativa da imagem confirma isso, diz-se no rodapé: “Uma
sessão do Instituto Histórico” (Idem).
O momento acontece em uma grande mesa na qual dispõem-se livros, jornais e
documentos (fontes para discussão dos fatos históricos, normalmente assunto tratado nos
encontros) e estão presentes 7 (sete) membros da instituição. Destaca-se um dos sócios do
instituto palestrando enquanto os demais dormem durante o evento, e especificamente o
Imperador que segue o mesmo exemplo dos colegas estando sentado a ponta da mesa.
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IMAGEM 4 – AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista


Illustrada. Rio de Janeiro: v. 450. Ano, 12, p. 1-8, 1887.

O painel 4 contém foco na figura do Imperador D. Pedro II em momentos rotineiros de


seu dia, realizando leituras de jornais diversos a fim de ficar a par das notícias do império, no
entanto, o mesmo põe-se a tirar uma sonata que desmonta-lhe a postura corpórea e o prumo
dos óculos.

Fazemos destaque aos títulos dos jornais que estava por ler D. Pedro II,
especificamente o que encontra-se em suas mãos, o jornal ‘O Paiz’5. O escrito é de cunho
republicano, provavelmente a intenção de Agostini, um também republicano, foi de apontar a
preocupação do Imperador para com o avanço dos ideias republicanos no país, todavia
satirizou como sendo ainda mais forte seu sono.

A caricatura é legendada no fim da página com os seguintes dizeres: “El-Rei, nosso


Senhor e amo, dorme o sono da... indiferença. Os jornais que diariamente trazem os
desmandos dessa situação, parecem produzir em Sua Alteza o efeito de um narcótico. Bem
aventurado Senhor! Para vós o reino do Céu e para o vosso povo... o és inferno!” (Idem).

As imagens 2, 3 e 4, apresentam as dificuldades de D. Pedro II em manter a atenção


por longos períodos de tempo, principalmente, quando tinha de tratar dos assuntos de Estado,
os quais particularmente não agradava muito, segundo apontam as biografias do mesmo.
Muitas imagens foram publicadas e:

[...] não arrefeceram nem mesmo durante a doença do imperador nos três
últimos anos do reinado. Nesse período, em que o diabetes se agravara e lhe
causava sonolência, os caricaturistas, Agostini à frente, se deliciavam em
representá-lo dormindo em reuniões ministeriais ou em sessões do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. Se anteriormente ele era criticado pelo
excesso de poder pessoal, agora se tornara o Pedro Banana (CARVALHO,

_____________________________________________
5. O jornal ‘O Paiz’ foi inaugurado próximo aos fins do Império Brasileiro, em 1884, sob responsabilidade de
João José dos Reis Júnior, intitulado conde de São Salvador de Matozinhos. Rui Barbosa destacou-se como
redator-chefe, pautando o conteúdo do jornal em prol ao abolicionismo e a causa republicana, foi substituído
posteriormente por Quintino Bocaiúva, outro republicano, que consolidou o editorial com matérias fortemente
ligadas a crítica a monarquia. O novo redator chegou neste jornal a publicar matérias de Silva Jardim, o que
reforçava seus princípios, apoiando a Questão Militar de 1884 que enfraqueceu o respaldo legitimo do regime
monárquico. Com a República tomou rumos, encerrando suas atividades definitivamente em 1934. Cf. em
Biblioteca Nacional Digital. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/artigos/o-paiz/>. Acesso
em:02/11/2018.
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2007. p. 87).
Estas imagens tem destaque por situarem-se em capa, publicadas em 1882, 1883,
1887, respectivamente. A imagem 2, satiriza as visitas que o imperador realizava em escolas,
as quais acabara por vezes ressonando. A imagem 3, mostra a mesma situação nos eventos do
IHGB, instituição a qual foi um dos fundadores. Não distante das demais, a imagem 4, denota
o mesmo cenário, e reforça as demais por também contrastar entre o D. Pedro II monarca e o
intelectual, aspectos que diferenciavam notoriamente uma mesma pessoa, e que
representavam na devida ordem, aos tempos da publicação destas imagens, o velho e novo, a
imagem tentava enfatizar um ser debilitado, frágil e maleável, mas, mesmo assim, apontava as
características do Pedro moderno e fascinado pelo conhecimento.

IMAGEM 5 – AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista Illustrada. Rio de Janeiro: v. 119. Ano, 5, p. 1-
8, 1880.
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A imagem 5, apresenta o mesmo contexto das relatadas anteriormente com exceção da


primeira, mostra D. Pedro II em momentos de sonecas inadequadas. Um outro diferencial é
não estar disposta em capa, no caso em questão todas as outras iconografias analisadas
encontravam-se na capa do periódico. A Revista Illustrada comumente possuía 8 (oito)
páginas, contendo geralmente as charges sátiras de Agostini na abertura, no meio do livrete, e
na página final. Esta imagem encontra-se no número 199, publicado em 1880, nas páginas 4 e
5, ou seja, é uma situada no meio da revista.

É uma tira (historieta) que mescla componentes da linguagem verbal e não-verbal para
um entendimento eficaz. A tabela a seguir expõe as cenas que compõem a imagem como um
todo e também transcreve as narrativas que a agregam valor histórico/interpretativo.

CENÁRIOS DA IMAGEM
Um grupo de homens, políticos, estão a planejar algo,
enquanto o Imperador está novamente a tirar um cochilo, em
sua conversa atentar para o despertar de D. Pedro II.
Salientamos novamente o valor dado a intelectualidade do
Descrição:
Imperador, mesmo que a imagem tente desconstruir o
político, nunca ousou em abstrair-lhe da sua intelectualidade,
mesmo que usasse desta sua característica para revelar
CENÁRIO 1
enquanto uma prioridade maior que a de governar.
- Olha Sua Majestade ........... a confessar que lhe inspiramos,
que ele está completamente ........... sobre a nossa política.
- Isso é que eu não duvido: Se ele não abriu os olhos com as
Legenda:
descomposturas do .............. ....................., a revolução do
vintém e outras coisitas mais, é porque não é tão cedo que
.................................
Esta parte é cortada ao meio pela divisão das páginas, D.
Pedro II começa a acordar. Homens em grupo manuseiam
Descrição:
CENÁRIO 2 um objeto a parecer representar uma pasta de arquivos com
divisórias.
Legenda: Ultimamente porém Sua Majestade abriu um olho,
Despertar por completo de D. Pedro II, levantando-se.
CENÁRIO 3 Descrição:
Homens percebem sua movimentação.
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Legenda: e depois os dois


Os políticos (homens em grupo) apresentam as ideias
Descrição: tramadas ao Imperador com a expectativa de sua aprovação.
CENÁRIO 4
Entregando-o documentos e caneta de pena.
Legenda: e chegou até a .......................................
Os homens aguardam D. Pedro II assinar os decretos, em
Descrição: espreita. A imagem novamente encontra-se dividida por
CENÁRIO 5
ocasião da paginação.
Legenda: Afinal assinou a famosa dissolução e escolheu um senador.
Por fim, o Imperador vira-se do assento com os documentos
assinados, entretanto algo parece estar desconforme, pois
Descrição:
nota-se que o grupo de homens surpreendem-se com os tais
CENÁRIO 6
decretos assinados.
Só fez uma pequena alteração no que lhe apresentaram para
Legenda:
assinar.
TABELA 1: descrição e legenda transcrita dos cenário que compõem a Imagem 5 (Idem).

Considerando o contexto a qual foi produzida e publicada a imagem realiza crítica


direta a monarquia, representada por D. Pedro II, e seus arranjos como um todo, representado
pelas manobras políticas as quais o sistema permitia para vislumbrar continuidade.
Inicialmente a tira enfatiza os costumeiros cochilos do Imperador em momentos
inapropriados, como se fossem por descaso, “e assim d. Pedro dorme justamente nas
atividades de que tanto se vangloria de participar, ou é apresentado como um joguete nas
mãos dos políticos que o cercam” (SCHWARCZ, 1998. p. 631).

A imagem 6, situada na página seguinte, deu-se em 1885, na capa do número 424,


mais precisamente aos fins deste ano, possuem como elementos que a compõem a iconografia
uma alegoria (que por vezes apareceu em alguns números da revista, a qual neste não vemos o
rosto, mas apenas as formas) com guarda-chuva, no canto inferior esquerdo da imagem acima
de um pequeno monte. Nos céus o Imperador, a representar o ano velho que estar próximo de
terminar, 1885, estando a regar a terra, simbolizando a chegada de chuvas (a imagem
apresentava a problemática das secas que assolavam o Rio de Janeiro neste referido ano), com
um regador, o que implica entender como que tais chuvas foram fracas. Encontra-se com a
expressão facial em desanimo, e com a barba maior e mais volumosa do que de fato possuía,
veste-se com roupas simplórias que de nada atribuem o status de realeza com um boné com a
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data/ano que representa. Vale observar com atenção os adereços que consigo estão além do
regador e das veste: um par de botas penduradas no braço, e uma trouxa nas costas a
simbolizar partida.

IMAGEM 6 – AGOSTINI, A. Chronicas Fluminenses. Revista


Illustrada. Rio de Janeiro: v. 424. Ano, 10, p. 1-8, 1885.

Aparece no rodapé da página os seguintes dizeres que legendam a imagem: “O ano


velho ficou tão penalizado com a tremenda seca, que antes de partir, quis obsequiar o povo
fluminense com copiosa regação. Por nossa parte, agradecemos” (Idem).

Como verificamos no decorrer desta produção as imagens analisadas expuseram o


Imperador fragilizado pela idade, e mesmo esta última possibilitando diversas outras
interpretações, no caso em questão a problemática da seca no Rio de Janeiro, consideraremos
apenas o fato objetivo deste artigo. D. Pedro II novamente é explicito como caquético, os
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elementos que o estão consigo na gravura permitem tal entendimento, como por exemplo o
par de botas pendurados em seu braço direito.

Para além D. Pedro II representa o ano velho, que estar por findar, associando esta
perspectiva a esperança de fim da monarquia, que de fato já estava em crise até com relação a
saúde do Imperador, dois anos depois inclusive, teve ele de viajar para Europa a fim de tratar-
se de algumas doenças.

3. LIBERDADE DE IMPRENSA NO SEGUNDO REINADO

Consideramos de grande importância compreender os mecanismos políticos que


permitiam a circulação de tais imagens, especificamente, na segunda metade dos oitocentos.
Logicamente podemos deduzir que se não fosse a impressa um órgão livre, as imagens
analisadas neste artigo, e tantas outras além deste, não circulariam entre a população da época.
Sabemos que:

Desde os anos 50 a imprensa gozava no Brasil de grande liberdade, e é por


isso mesmo que o próprio imperador era um dos alvos mais constantes de
ataques e desenhos satíricos. Esse tipo de imprensa será, inclusive, objeto de
uma grande expansão, e já em 1876 o Rio de Janeiro contava com meia
dúzia de jornais satíricos, geralmente semanais, cuja tiragem chegava a 10
mil exemplares. Entre eles destacam-se alguns mais antigos, como A Semana
Ilustrada e O Mosquito, e outros mais recentes, como O Mequetrefe, O
Fígaro e a Revista Ilustrada (SCHWARCZ, 1998. p. 626).

Apesar de vítima dos cartunistas, o próprio imperador admirava o trabalho das mídias,
“embora não seja reconhecido, dom Pedro II contribuiu bastante para a liberdade de imprensa.
João Camilo Torres6 citou as palavras do imperador no texto Conselhos a Regente7”
(CARVALHO, 1996. p. 3).
A liberdade de imprensa no Segundo Reinado foi a tentativa do império da
demonstração de uma monarquia moderna e desprendida da perseguição e repressão política,
todavia, deu-se como um importante instrumento pelo qual foram fortalecidos diversos
recursos que inviabilizaram a continuidade do sistema, falindo as instituições que eram seu
sustentáculo, como a escravidão, que posteriormente ocasionou na crescente adesão ao
republicanismo.
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Os jornais, mesmo servindo aos adversários, irmanavam-se na difusão da


ideologia voltada para o progresso. Surgiram as empresas jornalísticas,
substituindo, nos maiores centros urbanos, o jornalismo artesanal. Os jornais
essencialmente opinativos propunham novos modelos editoriais cuja ênfase
era para o artigo de fundo, o editorial, enquanto os diários apregoavam uma
suposta neutralidade e compromisso com a verdade. O aspecto documental
foi priorizado, e passaram a ser utilizadas a ilustração e a fotografia
(CARVALHO, 1996. p. 4).

E sobre o uso da imagem,


[...] a partir de então das facilidades da fotografia, a caricatura passa a
divulgar a feição do monarca e de seus políticos, envolvendo-os, porém, em
situações e cenários hilariantes. De forma paradoxal o oficialato ganhava
novas formas de divulgação. Não só pela exaltação como pela crítica o
Império encontrava espaços de penetração. (SCHWARCZ, 1998. p. 627).

Em concordância com Nunes (2010), em um país com muitos analfabetos como


apontam dados censuais do período, os escritores encontraram dificuldades de estabelecer seu
trabalho por meio das publicações, a partir das imagens postas nos periódicos puderam atingir
massas anteriormente não contempladas pelo projeto da liberdade de imprensa e contrariar o
sistema com seus próprios mecanismos permissivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa nos foi possível vislumbrar a produção historiográfica, através
de novas abordagens, o método de análise de ilustrações empregado é fecundo na
demonstração de como a história das imagens no estudo das iconografias permitem
perspectivas ousadas e inovadoras na investigação histórica.

Podemos inferir a partir das imagens analisadas a pretensão de Agostini, em seu


notório posicionamento ao sistema republicano, de apresentar um imperador deteriorado pela
idade, ao mesmo tempo incapaz de chefiar o poder que detinha (Poder Moderador) tornando-
se uma espécie de imperador inoperante, isso feito por meio de uma ilustração com efeito
cômico e crítico.

Tudo isso só foi possível através da liberdade de impressa que possibilitava a

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6. Produziu notas organizadas em um livro intitulado: Conselhos à Regente, no qual apresenta as orientações
que escreveu D. Pedro II a Princesa Isabel pouco antes de sua primeira viagem para Europa, em 1871.
7. Nos Conselhos à Regente, o Imperador escrevera acerca do trato com a imprensa. “Sobre a imprensa: Eu
entendo que se deve permitir toda a liberdade nestas manifestações [...] pois as doutrinas expendidas nessas
manifestações pacíficas ou se combatem por seu excesso, ou por meios semelhantes, menos no excesso. Os
ataques ao imperador [...] não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário”
(CARVALHO, 2007. p. 91).
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impressão e circulação de tais imagens por mais pejorativas e depreciativas que estas fossem.
Liberdade esta que permitiu a articulação das forças de oposição nos mais diversos periódicos
do período. Dessa forma:

Graças à liberdade de imprensa o Brasil conheceu uma maneira divertida de


fazer críticas políticas sérias. [...] exposto desse modo à chacota pública, d.
Pedro e seu sistema como que desmontavam. [...] as caricaturas “roubavam”
as feições, mas “corrompiam” o cenário, destacando as contradições que
rondavam o governo e seu imperial representante. Nesse sentido, nada pior
para a imagem da realeza brasileira, até então tão bem preservada
(SCHWARCZ, 1998. p. 638/39).

Em avaliação transversal das imagens analisadas neste artigos entendemos que todas
comumente intercedem sobre um Imperador imbricado com a velhice, sob a óptica de um país
em crescente adesão ao republicanismo e com instituições monárquicas cada vez mais frágeis,
como também é apresentado D. Pedro II.

Vale salientar que não tratava-se apenas de uma intensão de Agostini publicar tais
imagens, no período em questão outras revistas tinham o mesmo intuito, assim concluímos
que a função da imagem é ser crítico-reflexiva, faz-se necessário compreender a ilustração
para além dos seus elementos imagéticos, necessitando-se construir uma superação da
ilustração com este único fim, em lógica, como é produzida por indivíduos, pertencentes a um
contexto histórico, está arraigada de significados das mentalidade socioculturais de onde
originou-se.

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1882.
______. Chronicas Fluminenses. Revista Illustrada. Rio de Janeiro: v. 309. Ano, 7, p. 1-8,
1882.
______. Chronicas Fluminenses. Revista Illustrada. Rio de Janeiro: v. 365. Ano, 8, p. 1-8,
1883.
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1885.
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