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pecuniárias de quantidade:
i. O princípio do curso legal;
ii. O princípio do nominalismo monetário.
O princípio do curso legal significa que o cumprimento das obrigações
pecuniárias se deve realizar apenas com espécies monetárias a que o
Estado conheça função liberatória genérica, cuja aceitação é obrigatória
para os particulares. Assim, a obrigação pecuniária de quantidade tem
sempre por objecto uma quantia de unidades monetárias, devendo o
cumprimento ser realizado com espécies (moedas ou notas) que, nesse
momento, tenham curso legal, i.e., que possam desempenhar a função de
entrega de dinheiro que consiste em permitir ao credor a recepção de um
valor correspondente às espécies monetárias, em virtude da
susceptibilidade do seu uso enquanto instrumento geral de troca.
Dogmaticamente, as obrigações pecuniárias de quantidade consistem em
obrigações genéricas, sujeitas ao regime respectivo, mas o género de
referência toma por base todo o universo da moeda com curso legal no
país. Disto decorre a impossibilidade da extinção do género referida no
art.º 541.º, não ficando o devedor liberado pelo facto de não possuir
dinheiro para efectuar o pagamento, não sendo causa extintiva da
obrigação a impossibilidade económica do devedor, dado o facto de
enquanto existir moeda com curso legal subsistir o género acordado para
o pagamento.
Outro princípio essencial do regime das obrigações pecuniárias consiste
no princípio do nominalismo monetário, segundo o qual se deve tomar em
consideração somente o valor nominal da moeda, independentemente de
qual seja o valor de troca no momento do cumprimento (art.º 550.º, CC),
pelo que uma obrigação pecuniária de quantidade com um longo prazo de
cumprimento acarreta um risco de desvalorização da moeda, com a
inerente perda do seu poder de compra, e que esse risco é suportado pelo
credor, já que o devedor se libera com a simples entrega da quantia
monetária convencionada.
No entanto, o princípio do nominalismo monetário sofre algumas
excepções, podendo as partes convencionarem coisa diferente, dada a
supletividade do art.º 550.º, e ocorrendo que, em alguns caos, a lei prevê
a actualização das obrigações pecuniárias, sendo tal normal nos casos em
que se tratam de prestações periódicas ou em certas obrigações
restitutórias, em que a restituição ocorra passado um grande lapso de
tempo.
O art.º 551.º determina que “quando a lei permitir a actualização das
prestações pecuniárias, por virtude das flutuações do valor da moeda,
atender-se-á, na falta de outro critério legal, aos índices dos preços, de
modo a restabelecer, entre a prestação e a quantidade de mercadorias a
que equivale, a relação existente na data em que a obrigação se
constituiu”. Portanto, adopta-se preferencialmente o critério do índice dos
preços, para efeitos de actualização das obrigações, quando esta é
legalmente permitida. No caso de actualização convencional das
obrigações pecuniárias, caberá naturalmente às partes fixar o critério de
actualização.
Obrigações de juros
Obrigações plurais
A definição de obrigação do art.º 397.º reporta-se, em bom rigor, às
obrigações singulares, na medida em que nela apenas se menciona um
credor e um devedor. No entanto, a obrigação pode também constituir-se
abrangendo uma vinculação de várias pessoas para com outra
(pluralidade passiva), ou uma vinculação de uma pessoa para com outras
(pluralidade activa), ou ainda de várias pessoas para com outras
(pluralidade mista). Em todas estas situações o objecto da obrigação – a
realização da prestação – pode ser o mesmo, mas varia o número de
pessoas que se vinculam a essa conduta ou que tem o direito de a exigir.
Portanto, a obrigação deve ser classificada consoante o número de
sujeitos da relação obrigacional. Se a obrigação abranger apenas dois
sujeitos (o credor e o devedor), fala-se em obrigação singular. Se abranger
mais que dois sujeitos, tendo, assim, uma pluralidade de credores ou uma
pluralidade de devedores, fala-se em obrigação plural.
As obrigações plurais colocam o problema de determinar como se
processa a contribuição dos diversos devedores para a realização da
prestação a que estão vinculados e em que termos pode cada um dos
credores exigir a prestação.
Nas obrigações conjuntas ou parciárias, cada um dos devedores só está
vinculado a prestar ao credor ou credores a sua parte na prestação e cada
um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores a parte que lhe
cabe. A prestação é, assim, realizada por partes, prestando cada um dos
devedores a parte a que se vinculou e não recebendo cada um dos
credores mais do que aquilo que lhe compete.
Nas obrigações parciárias cada credor só pode exigir a sua parte no
crédito e cada devedor só tem de prestar a sua parte na dívida.
Os contratos – generalidades
A par dos tipos contratuais legais, tem-se, ainda, tipos sociais, ou seja,
encadeamentos de cláusulas habitualmente praticadas em determinados
sectores, em regra dotados de designação própria e que, mau grado a não
formalização em lei, traduzem composições equilibradas e
experimentadas. Não obstante a ausência de regulação pelo legislador, o
tipo social pode funcionar em moldes paralelos ao tipo legal, evitando
este, às partes, o terem de se repetir em lugares comuns, ao mesmo
tempo que afeiçoa as soluções historicamente mais equilibradas.
Os tipos sociais são, com frequência, alvo de pequenas codificações,
feitas em cláusulas contratuais gerais, havendo, então, que proceder ao
seu controlo material através da LCCG.
Contratos mistos
A união de contratos
No caso de, sem que o contrato-promessa tenha eficácia real, uma acção
de execução específica julgada procedente que tenha sido registada pelo
seu autor, esta sentença é oponível a terceiros, desde que a sentença
favorável venha a ser registada.
O registo da sentença que julgue definitivamente procedente a acção de
execução específica baseada em contrato-promessa de venda de coisa
imóvel, destituída de eficácia real, tem os seguintes efeitos:
a. O direito do promitente-adquirente, convertido em adquirente pela
sentença de procedência da acção, prevalece evidentemente, pela
publicidade que o registo conferiu à acção, sobre o direito de todos
os promitentes-adquirentes baseados em contratos-promessa de
data posterior, quer estes tenham, quer estes não tenham eficácia
real;
b. A prevalência do registo da sentença favorável ao promitente-
adquirente estende-se ao próprio registo da transmissão efectuada
pelo promitente-vendedor a terceiro, depois de registada a acção de
execução específica, por duas razões: primeiro, porque o registo da
acção, embora provisório por natureza, tornou pública a pretensão
do promitente, alertando, por conseguinte, qualquer futuro
adquirente contra o perigo decisivo da sua aquisição; segundo,
porque, de outro modo, o promitente-vendedor, depois de
demandado na acção de execução específica, teria sempre um meio
fácil de inutilizar o efeito principal da procedência da acção,
alienando entretanto o imóvel a terceiro;
c. A prevalência do registo da sentença favorável ocorre sobre terceiro
que houver adquirido antes da propositura de acção de execução
específica quando esta última for julgada procedente antes do
terceiro adquirente proceder ao registo da aquisição.
Sinal
Funcionamento do sinal
Funções do sinal
O art.º 415.º, remetendo para o art.º 410.º, n.º 2, leva a que a forma
aplicável ao pacto de preferência seja equivalente àquela aplicável ao
contrato-promessa.
Assim, se a preferência respeitar a contrato para cuja celebração a lei
exija documento (autêntico ou particular), o pacto só é válido se constar
de documento escrito, assinado pelo obrigado, não sendo necessária a
assinatura da outra parte, visto esta não ser promitente.
No entanto, Menezes Cordeiro nota que seria pouco compaginável uma
preferência ad nutum, pelo que ou existe uma contraprestação – o prémio
da preferência – ou este inclui-se, como cláusula, num pacto mais vasto,
de onde promanam deveres para ambas as partes. Neste caso e para este
Autor, será exigível, se necessário, a assinatura de ambas as partes,
aplicando-se na falta de uma destas o regime do contrato-promessa,
relativo à redução ou conversão.
Pluralidade de preferentes
A simulação
A prova da simulação
A opção tem uma estrutura que não lhe permite encarar com facilidade o
seu próprio incumprimento, em virtude de se ter, no seu cerne, um direito
potestativo e uma sujeição. O incumprimento de uma opção residirá,
fundamentalmente, na inobservância de prestações secundárias que
tenham sido pactuadas ou na desatenção pelos deveres acessórios que
recaiam, ex bona fide, em qualquer das partes.
No caso do adstrito à opção alienar a coisa que era suposto manter para
o optante, aplica-se, por analogia, o art.º 274.º, tornando-se a venda a
terceiro ineficaz quando a opção seja exercida – o optante adquire a
propriedade da coisa onde quer que ela esteja, podendo exigir, depois, a
sua entrega. Ressalvam-se apenas as hipóteses de o terceiro poder, por
razões próprias, invocar a usucapião ou a aquisição tabular. Ocorre, em
qualquer caso, violação de prestações secundárias e de deveres
acessórios, pelo que o adstrito deverá indemnizar o optante pelas maiores
despesas que tenha ocasionado.
A venda feita nestas condições é meramente ineficaz no caso de
exercício da opção, sendo, fora desse caso, válida e legítima, produzindo
efeitos até ao exercício deste direito potestativo.
A natureza da opção
Contrato para pessoa a nomear é aquele cujos termos permitem que uma
das partes tenha o direito de designar um terceiro que encabece os
direitos e as obrigações dele derivados. Num primeiro tempo, o contrato é
concluído entre duas partes, podendo uma delas, porém, indicar um
terceiro que irá ocupar o seu lugar. No contexto do contrato para pessoa a
nomear, usa-se a seguinte terminologia:
i. Promitens ou promitente – a parte firme;
ii. Stipulans ou estipulante – a parte que pode nomear um terceiro,
para ocupar o seu lugar;
iii. Amicus – o terceiro;
iv. Eligendus – o amicus ou terceiro, antes de ter ocorrido a sua
nomeação;
v. Electio ou electio amici – a escolha ou a escolha do amigo ou
terceiro, para ocupar o lugar definitivo no contrato;
vi. Electus ou amicus electus – o terceiro nomeado, que passa a
parte definitiva, no contrato;
vii. Facultas amicum eligendi – a faculdade de designar o terceiro ou
amicus, para integrar o contrato.
Regime e efeitos
A cláusula para pessoa a nomear consta, em princípio, do próprio
contrato que a contenha. Nada obsta a que se insira num texto à parte ou,
até, subsequente – no entanto, revestirá, todavia, a forma exigida para o
contrato em si, em virtude de procederem as razões justificativas da
forma (art.º 221.º, n.º 2, CC), para além da regra relativa à forma da
procuração (art.º 262.º, n.º 2, CC).
No entanto, nem todos os contratos comportam cláusula para pessoa a
nomear, excluindo a lei (art.º 452.º, n.º 2, CC):
i Os casos em que não é admitida a representação;
ii Aqueles em que a determinação dos contraentes é indispensável.
A representação é universalmente admitida, mesmo no casamento (cf.
art.º 1620.º, CC), desde que se indique, na procuração, o outro nubente e
a modalidade do casamento. Relativamente à “determinação dos
contraentes”, pode-se apontar:
1. Negócios intuitu personae em que as qualidades pessoais da
contraparte sejam essenciais;
2. Negócios de tipo não-patrimonial
3. Negócios em que os valores subjacentes impliquem a imediata
indicação do contratante em jogo.
Menezes Cordeiro entende que deve ser realizada uma ponderação
casuística sobre os aspectos envolvidos.
Natureza
Promessa pública
Concurso público
O art.º 463.º, relativo a concursos públicos, constitui uma especial
modalidade de promessa pública. A sua particularidade reside na
atribuição da prestação operar a favor de quem vença um concurso, a
título de prémio. Deve-se proceder a articulação do regime do concurso
público com a figura da abertura de concurso para a celebração de um
contrato.
A oferta da prestação pelo concurso só é válida se fixar um prazo para a
apresentação dos concorrentes (art.º 463.º, n.º 1, CC), de outra forma, o
concurso ficaria indefinidamente aberto, podendo surgir mais
concorrentes, sem que nada de decidisse.
A decisão de admissão ao concurso ou de concessão do prémio compete,
exclusivamente, às pessoas designadas no anúncio – o “júri” – ou, na sua
falta, ao promitente (art.º 463.º, n.º 2, CC).
As diferenças de regime
O fenómeno da interpenetração
Figuras afins
A imputabilidade
A natureza da ilicitude
As causas de justificação
A colisão de direitos
Pode ocorrer que alguém disponha de um direito cujo exercício vá causar
danos a outrem, contradizendo direitos subjectivos do lesado ou
inobservando normas de protecção destinadas a proteger precisamente
os interesses atingidos pelo exercício em jogo. Ou, ainda, pode acontecer
que o destinatário de um dever se encontre na contingência de, para o
cumprir, ter de violar um direito alheio ou uma norma de protecção.
A legítima defesa
O estado de necessidade
A acção directa
O consentimento do lesado
O acto lesivo dos direitos de outrem, é lícito, desde que este tenha
consentido na lesão (art.º 340.º, n.º 1, CC). Assim, são pressupostos do
consentimento do lesado:
i. Um direito disponível;
ii. Um acto de consentimento;
iii. Um acto lesivo.
A disponibilidade do direito é um requisito basilar, sendo que o
consentimento do lesado não exclui a ilicitude do acto quando este for
contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes (art.º 340.º, n.º 2,
CC).
Existem, assim, as hipóteses da indisponibilidade de um direito e as
hipóteses de, havendo embora disponibilidade, o consentimento do lesado
se revelar ineficaz, para efeitos de justificação de ilicitude, por o concreto
acto ofensivo ser, por si, contrário à lei ou aos bons costumes. As
hipóteses de proibição legal são mais extensas do que poderia parecer,
abrangendo designadamente:
a. Os direitos de personalidade, nos quais existem restrições
ponderosas (art.º 81.º, CC);
b. Nos direitos de crédito, onde não é permitida uma renúncia prévia
aos direitos do credor (art.º 809.º, CC), tendo a remissão, sempre,
natureza contratual (art.º 863.º, n.º 1, CC);
c. Não é possível a doação de bens futuros (art.º 942.º, n.º 1, CC);
d. No Direito da Família trabalha-se, em regra, com situações
indisponíveis.
O art.º 340.º só opera perante a responsabilidade aquiliana (art.º 483.º,
n.º 1, CC), especialmente com direitos reais e – nas devidas margens –
com direitos de personalidade.
O dolo
A culpa traduz o juízo de censura que recai sobre aquele cuja actuação é
reprovada pelo Direito – culpa lato sensu.
Actualmente, a mera culpa ou negligência tem sido entendida como a
violação (objectiva) de uma norma por inobservância de deveres de
cuidado ou, conforme explícito no Código alemão, por violação do cuidado
necessário no tráfego.
O dano – generalidades
Os artigos 495.º e 496.º não tratam, nem tinham de tratar, dos danos
sofridos pelo próprio morto, os quais, podendo ser patrimoniais ou morais,
derivam das normas que garantem a sua propriedade (em sentido amplo)
e os seus bens de personalidade, conjuntamente com as cláusulas gerais
dos art.os 483.º, n.º 1, e 496.º, n.º 1. Nos termos gerais do fenómeno
sucessório, as indemnizações a que tais danos dêem lugar transmitem-se
aos sucessores do morto que podem coincidir, ou não, com as pessoas
referidas no art.º 496.º, n.º 2. Havendo coincidência, as pessoas visadas
acumularão indemnizações: directamente, pelos danos por elas sofridos e
a título de sucessão, pelos danos suportados pelo morto.
Existe uma outra posição – defendida por Galvão Telles, Almeida Costa,
Leite de Campos, Menezes Cordeiro e Menezes Leitão – favorável a que,
para além das indemnizações atribuídas por via do art.º 496.º, ainda haja
outras, por danos morais e pela supressão do direito à vida, do próprio
lesado, e que seguem, depois, por via hereditária. Fundamentam esta
posição os seguintes argumentos:
a. Não faz sentido descobrir “direitos” e, depois, negar-lhes o regime;
se existe um direito à vida, então há que dotá-lo da competente
tutela aquiliana, logicamente a favor do seu titular;
b. A actual responsabilidade civil tem funções retributivas e
preventivas; ora tais funções perder-se-ão quando se admitam
direitos que desapareçam logo que sejam violados;
c. A mera aplicação do art.º 496.º, n.º 2, desarticulado do resto do
ordenamento, conduz a resultados inaceitáveis;
d. As indemnizações arbitradas pelos tribunais portugueses são, para
Menezes Cordeiro, totalmente insatisfatórias.
A jurisprudência envereda, na sua larga maioria, pelo caminho de que a
morte é um dano indemnizável, transmissível iure hereditario.
Danos emergentes e lucros cessantes
A natureza do dano
O art.º 492.º relativo aos danos causados por edifícios ou outras obras,
dispõe:
1. O proprietário ou possuidor de edifício ou de outra obra que ruir, no todo
ou em parte, por vício de construção ou defeito de conservação, responde
pelos danos causados, salvo se provar que não houve culpa da sua parte
ou que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos;
2. A pessoa obrigada, por lei ou por negócio jurídico, a conservar o edifício
ou obra responde, em lugar do proprietário ou possuidor, quando os danos
forem devidos exclusivamente a defeito de conservação.
Os requisitos para a existência de responsabilidade são os seguintes:
i. Um proprietário ou possuidor – ficam afastados detentores ou,
em geral, pessoas em cujos poderes não se incluem os de fazer
as obras de manutenção;
ii. Cujo edifício ou obra ruir, no todo ou em parte – figura-se uma
súbita modificação da coisa, que tenha por defeito o deixar jogar
a lei da gravidade;
iii. Por vício de construção ou defeito de conservação – estão em
causa vícios ou causas atinentes ao edifício ou à obra em causa,
por oposição a causas extrínsecas.
Perante isso, o proprietário ou possuidor implicados respondem pelos
danos causados, mas com duas ressalvas:
a. Ou de ele provar que não houve culpa da sua parte;
b. Ou que, mesmo com a diligência devida, não se teriam evitado os
danos.
A culpa é um juízo de valor formulado pelo ordenamento, que não pode
existir se não tiver ocorrido a (prévia) violação de normas, i.e., a ilicitude.
“Provar que não houve culpa”, pode significar uma de duas coisas:
1. Ou provar que não houve incumprimento de deveres aplicáveis
(ilicitude), sendo, por aí, inviável o juízo de culpa;
2. Ou que, apesar desse incumprimento, não era exigível, ao visado,
outra conduta – verificar-se-ia uma causa de excusa.
O art.º 492.º, n.º 2, convola para a pessoa obrigada, por lei ou por
negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra, a responsabilidade por
defeito de construção. O dever do tráfego, passa, como é lógico, para
esta.
Os deveres do tráfego
A comissão
O primeiro pressuposto inserido no art.º 500.º, n.º 1, para a
responsabilidade do comitente, é a situação de alguém encarregar outrem
de uma comissão ou, se se quiser, o acto e o efeito de comitir. Podem
distinguir-se os elementos seguintes:
i. A presença de liberdade de escolha do comitente;
ii. A incumbência de uma comissão a outrem;
iii. A aceitação dessa incumbência, pelo escolhido que, assim, se
torna comissário ou comitido;
iv. A existência de uma relação, daí resultante;
v. A actuação do comissário, no âmbito da comissão, por conta do
comitente.
A liberdade de escolha do comitente é o ponto de partida para a
aplicação desta figura. Na sua falta haverá uma relação legal ou uma
gestão de negócios, consoante a relação derive da lei ou da iniciativa do
próprio agente, verificados os competentes pressupostos.
Para além da escolha, o comitente deverá ter incumbido o eleito de uma
determinada actuação ou comissão. A lei é muito abrangente, podendo
ser um acto isolado ou um desempenho continuado, de natureza jurídica,
material ou mista, gratuito ou oneroso, manual ou intelectual. A
incumbência pode – ou não – ser acompanhada da concessão de poderes
de representação, gerando o mandato, na em princípio, uma situação de
comissão.
A incumbência pode derivar de um contrato, entre ambos concluído, de
um acto unilateral operado no âmbito de uma relação previamente
constituída ou de uma pura indicação de facto, que são se deixe
validamente reconduzir a um figurino jurídico. Apenas se requer que o
comitente tenha a possibilidade de se exprimir e que o seu facto seja,
enquanto tal, devidamente tomado pelo seu destinatário, i.e., o
comissário.
A incumbência deve ser aceite, sendo que se assim não for, o comissário
irá agir como terceiro estranho, respondendo, nos termos gerais, pelas
decisões que tome e ponha em prática, mas sem com isso envolver a
responsabilidade do comitente. Não se exige ao comissário qualquer
aceitação juridicamente operacional, em termos de dar azo a um contrato,
sendo-lhe apenas exigida a imputabilidade geral (art.º 488.º, CC).
Da incumbência e da sua aceitação decorre uma relação entre as partes,
entendendo Antunes Varela que se exige um nexo de subordinação entre
o comitente e o comissário, a qual poderá ter carácter permanente ou
duradouro, assim como pode ser puramente transitória, ocasional,
limitada a actos materiais ou jurídicos de curta duração. Para Menezes
Cordeiro, a comissão existe quando alguém encarrgue outrem de agir por
conta do primeiro.
No exercício da função
A aplicação da comissão
Subjacente à imputação pelo risco por danos causados por veículos está
a ideia da ilicitude imperfeita, dirigindo-se o risco contra quem tem a
“direcção efectiva” do veículo e, portanto, contra a pessoa que pode
prevenir danos, tomando antecipadamente todas as medidas que, para
tanto, sejam necessárias. Tratando-se de pessoa não imputável, a
responsabilidade é filtrada pelo art.º 489.º, imputada a pessoa a quem
incumbe a vigilância – e que, aqui, deveria ter tomado as medidas
preventivas necessárias – e isso por forma a não privar o não-imputável
dos alimentos necessários (art.º 503.º, n.º 2, CC).
Os beneficiários e exclusão da responsabilidade
Havendo responsabilidade por danos causados por veículos, seja por via
delitual, seja por via do risco, as indemnizações caberão, à partida, aos
lesados. No entanto, é possível a exclusão ou limitação, por contrato, no
tocante aos danos que atinjam os bens (art.º 504.º, n.º 4, CC, a contrario).
A colisão de veículos
A solidariedade
A limitação da responsabilidade
As previsões de sacrifício
Concurso objectivo
Salvo nos casos dos artigos 491.º, 492.º, n.º 1, , 493.º, n.º 1 e 802.º, um
delito não deixa de o ser, i.e., não perde a natureza de acto ilícito, sempre
que o dano por ele provocado viesse a emergir de um outro factor nem a
imputação objectiva é paralisada em circunstâncias equivalentes. Assim,
Menezes Cordeiro opta pela irrelevância negativa da imputação virtual.
Prescrição
A natureza
O dever de prestar principal é fixado não pelo seu conteúdo, mas pela
sua finalidade – a supressão do dano. Está-se, assim, perante um vínculo
finalisticamente determinado: ao devedor (ao agente) cabe fazer tudo o
que seja necessário para suprimir o dano.
Infere-se daqui que, à partida, o conteúdo concreto da prestação não é
conhecido – apenas se apreende o dano que ela visa afastar. A regra
básica, é, sempre, a do princípio da reparação total. De outro modo, ficará
ainda uma parcela de dano por ressarcir, não tendo sido cumprido o dever
de indemnizar.
Por isso e entre outros aspectos:
i. Quando a reparação de um bem não seja viável, a indemnização
não deve ser o do seu valor venal, mas sim o custo da sua
substituição;
ii. Prevalece, nos termos legais, a reparação natural, cabendo ao
lesado justificar o porquê de um pedido em dinheiro; a passagem
a uma indemnização a dinheiro só ocorre quando se verifiquem
os requisitos legais;
iii. A aplicação do art.º 562.º envolve a actualização do valor em
jogo, só sobre ele se aplicando juros; a obrigação de
indemnização é uma obrigação de valor.
Os requisitos e as acções
Modalidades
O dono pode reagir diversamente, perante uma gestão alheia dos seus
negócios, tendo-se:
a. A gestão aprovada quando ele declare estar genericamente de
acordo com o que tenha sido feito;
b. A gestão não-aprovada, na hipótese inversa.
No último caso, a não-aprovação poderá resultar do puro silêncio do dono
ou, pelo contrário, de uma expressa declaração de discordância. No
entanto, esta distinção não se confunde com outra, a qual tem a ver, em
rigor, com os actos praticados pelo gestor em nome do dono, os quais
poderão ser:
1. Ratificados, sempre que o dono os faça seus, operando os seus
efeitos perante terceiros;
2. Não-ratificados, no caso contrário, não operando os seus efeitos
contra terceiros.
Figuras afins
Requisitos – generalidades
A direcção de negócio
No interesse do dono
A falta de autorização
O dever de entrega
O gestor deve entregar ao dominus tudo o que tenha recebido de
terceiros no exercício da gestão ou o saldo das respectivas contas, com os
juros legais, relativamente às quantias em dinheiro, a partir do momento
em que a entrega haja de ser efectuada (art.º 465.º, al e), CC).
O dever de entrega, ao dono, é um corolário lógico da actuação havida,
por conta dele, tendo-se várias hipóteses, consoante as circunstâncias:
1. A entrega de coisas corpóreas, obtidas com a gestão;
2. A transmissão, para o dono, de direitos adquiridos pelo gestor, em
nome próprio, mas por conta do dono e no âmbito da gestão;
3. A transferência, para o dono, de posições contratuais ou de débitos,
resultantes da gestão;
4. A manutenção de uma conta-corrente, quando haja entregas e
recebimentos de bens homogéneos ou de valores, com a restituição
do saldo a que haja lugar;
5. O pagamento dos juros legais, relativamente às importâncias em
dinheiro que o gestor tenha detido, por conta do dono,
A determinação da exacta obrigação de entrega depende do destino que
tenham os actos celebrados pelo gestor com os terceiros. Ter-se-á, pois,
de se indagar se houve, ou não, aprovação, se ocorreu ratificação e se o
dono exerceu as facultades que cabem ao mandante sem representação.
A responsabilidade do gestor
Se a gestão não for regular, i.e., se, tendo-se iniciado em termos úteis,
ela não respeitar o interesse do dono ou a sua vontade, real ou
presumível, não há lugar ao reembolso das despesas. Para além da
responsabilidade fixada no art.º 466.º, n.º 1, apenas poderá haver azo à
aplicação do enriquecimento sem causa (art.º 468.º, n.º 2, CC). Com o
seguinte alcance prático: o dono, tendo obtido efectivas vantagens com a
actuação do gestor, deve devolver a este não as despesas, mas apenas
aquilo com que tenha beneficiado, descontadas todas as desvantagens,
com a actuação do gestor, ficando ressalvada a hipótese de, não
obstante, haver aprovação da gestão pelo dono (art.º 468.º, n.º 2, in fine,
CC).
A remuneração do gestor
O dono apenas deve remunerar o gestor quando a gestão corresponda ao
exercício da actividade profissional deste (art.º 470.º, n.º 1, CC), sendo
aplicável o regime da remuneração do mandatário: não havendo ajuste,
recorre-se às tarifas profissionais; na falta destas, aos usos; na falta de
umas e outras, à equidade (art.º 1158.º, n.º 2 ex vi 470.º, n.º 2, CC).
No entanto, Menezes Cordeiro defende uma interpretação restritiva,
devendo considerar-se o próprio esforço do gestor como uma despesa a
ter em conta.
Direitos do dono
A aprovação da gestão
Natureza da gestão