Вы находитесь на странице: 1из 57

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

BRUNA COSTA SILVA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

OS TEXTOS MOTIVADORES DA PROPOSTA DE REDAÇÃO DO


ENEM E A PRODUÇÃO ESCRITA DO CANDIDATO: UM CAMINHO
PARA A ANÁLISE

JOÃO PESSOA
2015
BRUNA COSTA SILVA

OS TEXTOS MOTIVADORES DA PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM E A


PRODUÇÃO ESCRITA DO CANDIDATO: UM CAMINHO PARA A ANÁLISE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura Plena em Letras,
Habilitação em Língua Portuguesa da
Universidade Federal da Paraíba, em
cumprimento das exigências legais para
obtenção do grau de Licenciada.

Orientadora: Profª Drª Josete Marinho de


Lucena

JOÃO PESSOA
2015
S586t Silva, Bruna Costa.

Os textos motivadores da proposta de redação do ENEM e a


produção escrita do candidato: um caminho para a análise /
Bruna Costa Silva.-- João Pessoa, 2015.

59f. : il.

Orientadora: Josete Marinho de Lucena

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura) -


UFPB/CCHLA

1. Língua portuguesa. 2. Redação – ENEM. 3. Textos


motivadores. 4. Produção escrita – candidato - análise.

UFPB/BC CDU: 806.90(043.2)

UFPB/BC CDU: 806.90(043.2)


“Aprender a escrever é, em grande parte, se não
principalmente, aprender a pensar, aprender a
encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como
não é possível dar o que não se tem, não se pode
transmitir o que a mente não criou ou não
aprisionou.’’.
(Moacyr Garcia)
A meus pais, que me acompanharam e se fizeram
presentes durante toda a minha trajetória, e a minha
avó materna, que sempre foi um exemplo de força e
dedicação.
AGRADECIMENTO

A Deus, quе, com seu amor infinito, permitiu-me o dom da vida, tornando possível a
realização de todas as etapas, para que eu chegasse até aqui;
A meus pais, Severina e Carlos, por toda a força e dedicação, aos meus irmãos e
demais familiares e amigos, que sempre estiveram presentes, contribuindo e torcendo para
que esse momento se concretizasse;
A esta universidade, sеu corpo docente, direção е administração, quе oportunizaram o
cumprimento de todas as atividades ao longo do curso.
Ao PIBIC/CNPQ, que me proporcionou a oportunidade de vivenciar as atividades de
pesquisa, imprescindíveis na formação acadêmica;
Ao PIBID/CAPES, por permitir a experiência de vivência em sala de aula, algo de
fundamental importância para a formação docente.
A direção e supervisão da Olivina Olívia, que recebeu a mim e aos demais bolsistas,
permitindo nossa inserção no ambiente escolar durante o período de atuação no PIBID;
As professoras, Suzaneide Rêgo e Lucivânia Herculano, supervisoras do
PIBID/Português da escola Olivina Olívia, pela disponibilidade e atenção dedicadas ao longo
do projeto;
A professora Mírian Sousa, por permitir o acompanhamento das suas aulas e abrir
espaço para que pudéssemos vivenciar a experiência docente, compartilhando experiências de
formação profissional;
A meus colegas de curso, pessoas com quem convivi durante esses quatro anos,
dividindo as alegrias e dificuldades no percurso das disciplinas. Muitos deles se tornaram
amigos que levarei para a vida;
As professoras, Regina Celi e Graça Carvalho, membros da banca avaliadora, pelas
valiosas contribuições, fundamentais para enriquecer esse trabalho.
A Profª. Drª. Josete Marinho, pela atenção, paciência, disponibilidade, е apoio durante
a elaboração deste trabalho.
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo discutir acerca do papel desempenhado pelos textos
motivadores que se encontram na proposta de redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio), a partir da produção escrita do candidato. Para tanto, buscamos discutir a maneira
como as ideias veiculadas por eles podem, ou não, exercer alguma influência na organização
do pensamento do candidato-autor, quanto ao ponto de vista por ele assumido, no momento
da elaboração do seu texto. É importante ressaltar que ao trabalhar com produção de textos, é
indispensável que se considere a teoria dos gêneros textuais, tendo em vista que eles são a
base da comunicação humana, bem como, as teorias que entendem a linguagem enquanto
atividade social. Portanto, nosso aporte teórico pauta-se na teoria dos gêneros textuais e no
Interacionismo Socio Discursivo (ISD). Destacamos os teóricos Bakhtin (2000), Bronckart
(2012) e Silva (2012), Marcuschi (2005; 2008; 2012) e Val (2009), para nossa pesquisa, além
dos documentos oficiais que guiam a elaboração do exame. Nesse sentido, trata-se de uma
pesquisa documental, de cunho qualitativo, uma vez que pauta-se na análise de documentos
oficiais que tem por objetivo avaliar os candidatos que estão aptos a ingressar nas instituições
de ensino superior do país. Para realização das análises foram selecionadas duas propostas de
redação, que correspondem os anos de 2011 e 2012, além de dez redações produzidas pelos
candidatos durante a aplicação das provas nesses anos. Procuramos observar como os textos
motivadores são recebidos pelos candidatos-autores, por meio da interferência desses textos
na escrita da redação. Após conclusão das análises, apresentamos os resultados referentes à
importância que os textos motivadores desempenham no momento da reflexão que antecede a
escrita do aluno, tendo em vista que estes se mostram enquanto um caminho de discussão para
conduzir o pensamento do candidato.

Palavras chave: ENEM. Influência. Textos motivadores. Redação.


ABSTRACT

This work aims to discuss about the played role of motivating texts found on the redaction
proposal of ENEM (National High School Exam), from the candidate‟s writing production.
For this, we focused on identifying the way in which ideas brought by these texts can exert
some influence upon the organization of the candidates‟ thoughts, considering the point of
view assumed by them, by the moment of elaboration of their texts. It is important to
highlight that, on working upon text production, it is indispensable to consider the textual
genres theory, based on the fact that they are the pillars of human communication, as so the
theories that explain language as a social activity. So, our theoretical contribution is guided by
the theory of textual genres and in socio-discursive interactionism. We highlight researchers
such as Bakhtin (2000), Bronckart (2012) and Silva (2012), Marcuschi (2005; 2008; 2012)
and Val (2009), for our research, as long as the documents that guided us to the elaboration of
an exam. This way, this is a documentary research, of qualitative nature, once it is based on
the analysis of official documents that have the objective of evaluating the candidates who fits
on joining the universities of our country. To the realization of the analysis, we selected two
proposals of redaction, that comprehended the years of 2011 and 2012, along with ten
redactions produced by the candidates during the test‟s appliance in those years. We aimed to
observe how the motivational texts are received by the author-candidates, through the reflexes
of these texts on the redactions‟ writing. After the analysis‟ conclusion, we presented the
results referring to the importance that the motivational texts had on the reflexive moment
previous to the students‟ writing, considering that they show themselves as a way of
discussion to conduce the candidates‟ thoughts.

Keywords: ENEM. Motivational Texts. Redaction.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Texto 1 da proposta de redação do ENEM 2011 ........................................... 28


Figura 2 - Texto 3 da proposta de redação do ENEM 2011 .......................................... 29
Figura 3 - Fragmento da redação I ................................................................................ 30
Figura 4 - Fragmento da redação II ............................................................................... 31
Figura 5 - Fragmento da redação III .............................................................................. 32
Figura 6 - Fragmento da redação IV.............................................................................. 33
Figura 7 - Fragmento da redação V ............................................................................... 34
Figura 8 - Texto 1 da proposta de redação do ENEM 2012 .......................................... 35
Figura 9 - Fragmento da redação VI.............................................................................. 36
Figura 10 - Fragmento da redação VII .......................................................................... 37
Figura 11 - Fragmento da redação VIII ......................................................................... 38
Figura 12 - Fragmento da redação IX............................................................................ 39
Figura 13 - Fragmento da redação X ............................................................................. 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

PCNs Parâmetro Curriculares Nacionais


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12
1 A PROPOSTA SOCIO INTERACIONISTA NA PRODUÇÃO TEXTUAL ...... 15
2 CONCEPÇÕES DE TRABALHO COM O TEXTO ............................................. 19
2.1 TIPO TEXTUAL X GÊNERO TEXTUAL.......................................................... 19
2.2 REDAÇÃO X PRODUÇÃO TEXTUAL ............................................................. 20
3 CONTEXTUALIZANDO O ENEM ........................................................................ 23
3.1 A REDAÇÃO NO ENEM .................................................................................... 23
4 ANÁLISE ................................................................................................................... 26
4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................... 26
4.2 ENTENDENDO A PROPOSTA DE REDAÇÃO ............................................... 26
4.2.1 Proposta de redação 2011 ............................................................................ 27
4.2.2 Redações 2011 ............................................................................................... 29
4.2.3 Proposta de redação 2012 ............................................................................ 34
4.2.4 Redações 2012 ............................................................................................... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 41
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 43
ANEXOS ....................................................................................................................... 45
ANEXO A – PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2011. .................................. 46
ANEXO B – PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2012.................................... 47
ANEXO C – REDAÇÃO I ......................................................................................... 48
ANEXO D - REDAÇÃO II ........................................................................................ 48
ANEXO E - REDAÇÃO III ....................................................................................... 49
ANEXO F - REDAÇÃO IV ...................................................................................... 50
ANEXO G - REDAÇÃO V ........................................................................................ 51
ANEXO H - REDAÇÃO VI ....................................................................................... 52
ANEXO I - REDAÇÃO VII ....................................................................................... 53
ANEXO J - REDAÇÃO VIII ..................................................................................... 54
ANEXO K - REDAÇÃO IX ....................................................................................... 55
ANEXO L - REDAÇÃO X ........................................................................................ 56
12

INTRODUÇÃO

A atividade de escrita de textos ganhou destaque e foi se desenvolvendo ao longo dos


anos, tanto na escola, quanto fora dela, sendo utilizada, inclusive, como importante
instrumento de avaliação em provas de seleção de candidatos a vagas no nível superior de
ensino. Desse modo, na perspectiva atual do Ensino de Língua Portuguesa e mediante a
utilização do Exame Nacional no Ensino Médio (ENEM) como instrumento para o acesso ao
Ensino Superior pela maioria das universidades brasileiras e, ainda, sendo a redação do citado
exame considerada de grande peso dentro de todo o certame, julgamos importante
percebermos as condições que são dadas ao candidato para redigir o texto que,
hipoteticamente, o conduz à vida universitária.
Nesse sentido, tivemos o objetivo de discutir acerca do papel desempenhado pelos
textos motivadores presentes na proposta de redação do ENEM, visando a escrita do
candidato. Para tanto, lançamos a hipótese de que os textos motivadores, ao funcionarem
como ponto de referência para a reflexão que antecede o momento da escrita, podem
direcionar a tomada de decisão dos argumentos e pontos de discussão a serem elencados ao
longo da redação.
Julgamos importante destacar que a ideia que embasa este trabalho é fruto de uma
pesquisa realizada na disciplina “Pesquisa aplicada ao ensino de Língua Portuguesa”, que
ocupa espaço no quinto período da grade curricular do curso de licenciatura em Letras –
Português da Universidade Federal da Paraíba. A disciplina culminou com a produção de um
artigo no qual analisamos os textos motivadores das propostas de redação da prova aplicadas
nos anos 2007, 2008, 2011 e 2012. Os resultados obtidos neste artigo instigaram sua
continuidade no formato deste trabalho de conclusão de curso (TCC).
Ao dar continuidade à pesquisa sobre os textos motivadores do ENEM na instância do
TCC, fizemos um recorte do corpus, selecionando as duas propostas de redação que
compreendem os anos de 2011 e 2012, bem como dez redações produzidas pelos candidatos
durante a realização das provas nesse período. A escolha dessas propostas justifica-se por
serem os anos em que o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Texeira)
operou reformulações na estruturação da proposta em decorrência do grande número de
universidades que aderiram à seleção de estudantes não mais por exames vestibulares, mas
por ingresso via ENEM. O critério utilizado para a escolha das redações se deu devido o
acesso no site do INEP em documentos elaborados pelo órgão, no qual são contempladas
algumas das redações que obtiveram nota máxima no processo de correção.
13

Desse modo, do ponto de vista metodológico, a pesquisa apresenta cunho qualitativo


por pautar-se na análise da forma de apresentação e estruturação do conteúdo de provas de
redação do ENEM. Após seleção do corpus acima mencionado, iniciamos a leitura do
material teórico escolhido. Para tanto, nos pautamos nas ideias de Bronckart (2012) e Silva
(2012), na medida em que trabalham a escrita como atividade social; Bakhtin (2000), em sua
teoria dos gêneros textuais/discursivos; Marcuschi (2005; 2008; 2012) e Val (2009), no
trabalho com produção de textos; entre outros estudiosos. Com base na teoria estudada, foi
realizada a análise do corpus selecionado.
Ao longo das análises, procuramos observar as habilidades e competências exigidas
dos candidatos durante a realização da prova, além da maneira como as ideias veiculadas
pelos textos motivadores puderam exercer influência na organização do pensamento do
candidato quanto ao ponto de vista por ele assumido, no momento da elaboração do seu texto.
Após a conclusão das análises, apresentamos os resultados referentes à importância que os
textos motivadores desempenham no momento da reflexão que antecede a escrita do aluno,
tendo em vista que estes textos se mostram enquanto um ponto de referência a ser seguido, e,
portanto, um caminho de discussão para conduzir o pensamento do candidato a uma reflexão
acerca do assunto abordado.
É importante, ainda, observar que, ao trabalhar com produção de textos, é
indispensável que se considere a teoria dos gêneros textuais, tendo em vista que eles são a
base da comunicação humana, algo que está presente no cotidiano da vida em sociedade.
Dessa forma, ao nos debruçarmos sobre a atual forma de ingresso à universidade usada no
país – o ENEM, nos questionamos como a proposta de redação do exame contempla o
estudo/ensino de gêneros textuais.
Neste sentido, o estudo dos gêneros textuais neste trabalho justifica-se por duas
razões: primeiro por percebermos que, no ENEM, sendo a redação a parte de maior peso para
a aprovação do candidato, há uma tendência a usar textos motivadores de gêneros
textuais/discursivos variados, o que pode dar visibilidade ao candidato para sua “redação”; em
segundo lugar, apesar da proposta trazer em seu enunciado explicitamente a ação de “redigir
texto”, ao propor que o texto seja dissertativo-argumentativo, impulsiona o candidato a
posicionar-se sobre um tema atual e polêmico, o que remete a uma produção textual dentro de
um gênero textual/discursivo em que há um posicionamento sociopolítico em relação ao
cotidiano que a sociedade moderna vivencia.
O trabalho encontra-se organizado em quatro seções, a saber: A perspectiva sócio
interacionista na produção textual, no qual ressaltamos os aspectos históricos e sociais da
criação da linguagem; as concepções de trabalho com o texto, sessão na qual trabalhamos as
14

diferenças entre gênero/tipo textual e redação/produção textual; contextualizando o ENEM,


espaço destinado a uma breve contextualização do nosso objeto de análise; e a análise, última
parte do trabalho, em que apresentamos a reflexão feita a partir da análise do corpus
selecionado.
15

1 A PERSPECTIVA SOCIO INTERACIONISTA NA PRODUÇÃO TEXTUAL

As correntes filosóficas e das ciências humanas que tomam por base o interacionismo
social entendem que do processo histórico de socialização resultam as propriedades das
condutas do homem. Nessa perspectiva, Vygotsky vai de encontro à epistemologia dualista
adotada pela psicologia que vê os estudos sobre a natureza humana dividido em substâncias
independentes, constituídas pelo “físico” e pelo “psíquico”. Conforme afirma Bronckart, “[...]
se aderimos a uma epistemologia monista, então, a questão central da psicologia será a das
condições evolutivas e históricas da emergência desse tipo de fenômeno e, em particular, da
emergência do pensamento consciente dos organismos humanos” (2012, p. 26).
Dentro do processo de evolução que conduziu o homem à necessidade de criar novos
instrumentos que pudessem ser colocados na mediação entre ele e o meio, está o
desenvolvimento da linguagem. Esta, por sua vez, acaba exercendo forte influência na
reestruturação do comportamento social. Vygotsky propunha, portanto, a construção de um
conceito unificador que articulasse os vários aspectos das ações humanas, observando-se sua
dimensão social e discursiva.
A partir das ideias de Léontiev (1979), a noção de atividade é usada para designar
“[...] as organizações funcionais de comportamentos dos organismos vivos, através das quais
eles têm acesso ao meio ambiente e podem construir elementos de representação interna (ou
de conhecimento) sobre esse mesmo ambiente.” (BRONKART, 2012, p. 30). A espécie
humana traz como principal característica a diversidade de formas de atividade. Isso se deve
ao uso da linguagem como forma de comunicação social e da constituição do ser humano no
mundo. Dessa forma, o estudioso supracitado afirma que “na espécie humana, a cooperação
dos indivíduos na atividade é, ao contrário, regulada e mediada por verdadeiras interações
verbais e a atividade caracteriza-se, portanto, por essa dimensão que Habermans (1987)
chamou de agir comunicativo” (BRONKART, 2012, p. 32).
A necessidade do agir comunicativo, além de constituir o psiquismo humano, também
constitui o social. Logo, a língua pode ser percebida como um contrato social em que os
signos são postos para cada indivíduo de forma particular e, ao mesmo tempo, compartilhada.
A partir das ideias de Popper (1972/1991) e Habermans, a relação entre os signos e a
sociedade pode ser percebida através de mundos representados. Dessa forma, a linguagem que
produzimos está diretamente relacionada às nossas representações do mundo, tanto social,
quanto objetivo e subjetivo - o que pode ocorrer tanto na fala quanto na escrita. E, sobretudo,
16

em situações de escrita que permitem a interação com textos e vivências anteriores, que
podemos constatar a relação entre linguagem e o cotidiano ou a nossa ação no mundo.
Em vista disso, as ideias propostas por Vigotsky exerceram fortes influências na
criação da proposta teórica do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), que entende as ações
humanas enquanto sendo determinadas pelo social. Tal teoria considera que “as atividades de
linguagem são diversificadas, porque suas propriedades dependem também de opções
assumidas pelas formações sociais [...]” (BRONCKART 2006, p. 138). Desse modo, as
atividades de linguagem realizam-se em forma de textos e, devido à variedade dessas
atividades, os textos diversificam-se, apresentando-se na forma de gêneros também variáveis,
que servem aos diferentes contextos de uso da língua.
Considerando-se a necessidade de o indivíduo aprender a escrever textos, Silva (2012,
p. 31) destaca que

[...] é necessário reconhecer que esses modelos textuais dizem respeito aos gêneros,
os quais passam a ser entendidos como ferramentas da linguagem imputáveis a
qualquer participante de uma interação verbal. Assim sendo, torna-se fundamental
sua inserção no processo de ensino-aprendizagem da escrita.

O trabalho com produção de textos é de total importância no que diz respeito ao


ensino de língua, a fim de que o aluno/produtor do texto tenha consciência da função
desempenhada por cada gênero na sociedade. Nesse sentido, vale ressaltar que, por se
constituir enquanto ação de linguagem social, a escrita do texto envolve atividades
psicológicas e experiências vividas pelo sujeito. Logo, “no trabalho de escrita, o autor
combina o seu conhecimento de mundo, suas crenças e seus pontos de vista com os
conhecimentos linguísticos e textuais construídos na escola ou fora dela para expressar aquilo
que deseja” (VAL et. al, 2009, p. 70).
Levando em consideração nosso objeto de análise, o sujeito autor que produz o texto
dissertativo-argumentativo durante a seleção do ENEM transfere para sua redação marcas do
contexto social em que se insere, partindo do conhecimento que possui sobre o mundo e a
língua. Por ser esta uma avaliação realizada em nível nacional, abarca sujeitos de lugares e
classes variadas. Isso pode ser sentido através da maneira como escrevem e do
direcionamento dado aos pontos de vista defendidos por cada candidato. Esse aspecto, por sua
vez, reforça a ideia do caráter sociodiscursivo assumido pela linguagem e manifestado através
dos gêneros.
Não podemos esquecer que, da condição de existência do autor depende a existência
do leitor, pois quem escreve, escreve para um leitor. Segundo Val (2009, p. 70), “para que o
texto cumpra alguma função ou objetivo, ele precisa contar com um trabalho do leitor”. O
17

texto, portanto, só adquire sentido a partir da interação leitor-autor. Diante dessa reflexão,
surgem questões que precisam ser respondidas frente ao nosso objeto de análise. Qual é o
papel da redação no ENEM? A redação cumpre a sua função na sociedade? Quem é o leitor
desse texto?
No momento em que o candidato se encontra diante da necessidade de escrever um
texto, ele se vê obrigado a tomar inúmeras decisões, que vão desde o título até a escolha das
palavras que serão utilizadas para dizer aquilo que ele deseja. Para isso, a interpretação
adequada da proposta é essencial. Nesse momento, a leitura dos textos motivadores se
apresenta enquanto uma forte ferramenta de direcionamento para o tema a ser discutido no
texto, tal como reitera Val et al:

Em geral, o ato de produzir um texto decorre em grande medida de um ato de


interpretação de uma proposta. Num diálogo oral, num artigo científico, num texto
de opinião, numa prova, o autor está atendendo a uma demanda ou a uma
expectativa inerente à situação de comunicação (VAL et al, 2009, p. 72).

No contexto de escrita do ENEM, o candidato/produtor é colocado numa situação de


avaliação na qual “[...] o texto será avaliado, nos diversos graus de adequação, e considerado
satisfatório, interessante, relevante, consistente, ou não”. (VAL et al, 2009, p. 71). Dessa
forma, o leitor para quem texto é destinado desenvolve também o papel de avaliador. É essa a
realidade que direciona a escrita da redação nessa prova. O candidato depara-se com a
necessidade de escrever um texto que atenda às expectativas do seu interlocutor, tendo em
mente que é ele um leitor que avaliará e, por meio de uma nota, atestará a condição de
ingresso daquele ao ensino superior.
Ao incluir entre um de seus objetivos a avaliação da escrita do candidato, a redação do
ENEM assume um “[...] perfil, função e regras especiais de funcionamento”. (VAL et al,
2009, p. 72). Trata-se de uma atividade de subjetividade, que é conduzida e direcionada pela
necessidade de avaliação e seleção de um texto de modelo pré-estabelecido. Dessa forma, é
possível considerar que a função principal da redação do ENEM é testar as habilidades e
competências desenvolvidas para o trabalho com a linguagem, por parte do candidato que
disputa uma vaga no ensino superior.
Se pensarmos a proposta do texto seguindo o padrão dissertativo argumentativo, é
possível indicar, para a redação do ENEM, além do caráter seletivo e avaliativo, destacado
acima, a sua função frente às necessidades de resposta aos problemas da sociedade. Ao trazer
como pré-requisito para a escrita a colocação de uma proposta de intervenção, a redação
acaba tendo um valor para a sociedade, através da qual é possível depreender, em linhas
18

gerais, uma noção das ideias que a população tem das dificuldades enfrentados por todos,
além das possíveis formas de resolvê-las.
Para compreender melhor o padrão textual exigido na redação do Enem, faremos a
seguir uma explanação sobre os tipos e gêneros textuais, enfatizando características que lhes
são inerentes.
19

2 CONCEPÇÕES DE TRABALHO COM O TEXTO

Inicialmente, faremos a distinção entre gênero e tipologia textual, buscando entender a


função que cada um exerce no trabalho com o texto. Num segundo momento, apresentaremos
uma discussão sobre as diferenças entre os termos “redação” e “produção textual”.

2.1 TIPO TEXTUAL X GÊNERO TEXTUAL

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem que o trabalho com o texto seja
feito com base nos gêneros textuais, sejam eles orais ou escritos, por considerarem que todos
os textos apresentam-se através de um gênero, e, por isso, o conhecimento sobre o
funcionamento deles torna-se fundamental tanto para a produção quanto para a compreensão
do texto. Diante dessa necessidade, criou-se, no meio educacional, um aparato que tenta
conduzir o ensino de língua na perspectiva da teoria dos gêneros. No entanto, ainda é possível
perceber certa dificuldade no que se refere à maneira como esse aspecto é trabalhado em sala
de aula pelos educadores.
É impossível pensar os gêneros textuais sem levar em conta a questão da língua e da
linguagem. A língua, em seus aspectos discursivos e enunciativos, é entendida como uma
“forma de ação social e histórica” (MARCUSCHI, 2005, p. 22). Bakhtin (2000), aponta para
o indispensável uso da língua em todas as situações, inclusive quando o homem está só, como
pensava Humboldt. É partindo dessa ideia que Bakhtin inicia o estudo sobre o gênero do
discurso, relacionando-o à necessidade do uso da língua a todas as atividades humanas, o que
gera, consequentemente, uma variedade de enunciados, pois cada esfera de uso da língua cria
seus enunciados “relativamente estáveis”, sendo isso o que se denomina gêneros do discurso.
Ele observa, ainda, que a atividade comunicativa materializa-se “[...] em forma de enunciados
(orais e escritos) concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou outra esfera da
atividade humana” (BAKHTIN, 2000, p. 279).
A vida em sociedade é estruturada através da comunicação. Ela constitui-se, portanto,
enquanto chave da organização social. Daí surge a importância do trabalho com os gêneros.
São eles a base da comunicação humana, algo que está presente no dia a dia da vida em
sociedade. Marcuschi (2011, p. 17) considera que “é inegável que a reflexão sobre gênero
textual é tão relevante quanto necessária, tendo em vista ser ele tão antigo como a linguagem,
já que vem essencialmente envolto em linguagem”. Em outro momento, ele defende, ainda,
que o texto é um “tecido estruturado, uma entidade significativa, uma entidade de
20

comunicação e um artefato sociohistórico” (MARCUSCHI 2008, p. 72). Nesse contexto, cabe


colocar em discussão a distinção que se faz entre os gêneros e os tipos textuais. Ao trabalhar
essa distinção, o autor traz as seguintes definições

a. Tipo textual designa uma espécie de construção teórica {em geral uma sequencia
subjacente aos textos} definida pela natureza linguística de sua
composição{aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo}. O
tipo caracteriza-se muito mais como sequências linguísticas (sequências retóricas)
do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos
textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração,
argumentação, exposição, descrição, injunção.
[...]
b. Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas
recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária
e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por
composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados
na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. Em
contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações
comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio
listagens abertas (MARCUSCHI, 2008, p. 155).

Diante das definições acima expostas, é importante frisar que os gêneros não são
colocados em oposição aos tipos textuais, mas funcionam de forma integrada entre si. Assim,
a existência do Gênero precede e relaciona-se diretamente com a existência da tipologia,
consequentemente, a tipologia existe em um gênero textual. “[...] Não devemos imaginar que
a distinção entre gênero e tipo textual forme uma visão dicotômica, pois eles são dois aspectos
constitutivos do funcionamento da língua em situações comunicativas da vida diária.”
(MARCUSCHI, 2008, p. 156). Dessa forma, é possível que um texto que pertença a
determinado gênero seja constituído não apenas por uma, mas, por várias sequências
tipológicas.
Haveria, ainda, muito a comentar no que diz respeito à distinção entre gêneros e tipos
textuais. No entanto, para não mudar o foco da nossa discussão, nos deteremos ao que foi dito
acima e passaremos, nesse momento, a pensar numa outra distinção proposta para esse
trabalho, que está relacionada ao uso dos termos “redação” e “produção de textos” para
designar atividades que envolvem a escrita.

2.2 REDAÇÃO X PRODUÇÃO TEXTUAL

Durante um longo período, o trabalho com atividades de escrita não ocupou lugar de
muita relevância no planejamento escolar. No entanto, essa realidade passou por um processo
de transformações a partir da década de 70, quando o Decreto federal nº 79. 298, de 24 de
fevereiro de 1977 estabeleceu que, a partir do ano seguinte, os vestibulares deveriam inserir
21

na prova de Língua Portuguesa, além das questões de múltipla escolha, a produção de uma
redação. Nas palavras de Antunes:

Pensava-se, assim, em providenciar para o vestibular um instrumento discursivo de


avaliação, capaz de apreender mais fielmente a competência linguística dos alunos e,
em consequência, conceder à escola a oportunidade de trazer para os programas
questões textuais (2003, p. 5).

Essa determinação conduziu a uma mudança nas aulas de Língua Portuguesa, que
passaram a contar com o ensino de redação, direcionado para essa prática no vestibular. Vale
salientar que, as condições de produção dessa atividade no ambiente escolar, não foram
favoráveis para a solução dos problemas de dificuldades linguísticas enfrentadas pelos alunos,
uma vez que, ela se desenvolvia enquanto “um ensino de produção de textos que acredita na
mera assimilação de técnicas e padrões.” (BUZEN, 2006, p. 147). Desse modo, os principais
objetivos do ensino de redação na escola seriam “observar e apontar, através de uma correção
quase estritamente gramatical, os „erros‟ cometidos pelos alunos” (BUZEN, 2006, p. 147).
Seguindo esta concepção, no trabalho com a redação, o texto passa a ser visto como
um produto em que o professor observa, apenas, os aspectos normativos. A atividade de
escrita não exerce sua função, uma vez que aparece sem qualquer valor interacional e
dialógico. Conforme Geraldi (apud BUZEN, 2006, p. 147), “não há um sujeito que diz, mas
um aluno que devolve a palavra que lhe foi dita pela escola”. Nessas condições, não é
oferecido ao aluno o direito de ser autor de seu próprio texto, pois a escrita passa a ser vista
como um meio pelo qual é possível medir a escolarização e capacidade dos candidatos a
ingressarem em um curso de nível superior.
Em oposição a essa prática insatisfatória de trabalho com a escrita, que não leva em
consideração a atividade de linguagem no meio social, surgiram, entre os anos 80 e 90, novas
discussões que colocaram em evidência a necessidade de a atividade de escrita estar
fundamentada na construção de textos diversos. Nesse ínterim, ganha força entre professores
e estudiosos a expressão “produção de textos”. Essa nova concepção surge a partir da ideia de
que a língua se constitui histórica e socialmente, não sendo mais vista como um sistema fixo.
Nesse sentido, o foco de trabalho volta-se para as condições de produção e recepção do texto.
Como bem afirma Buzen, “[...] os alunos não deveriam produzir „redações‟, meros produtos
escolares, mas textos diversos que se aproximassem dos usos extraescolares, com função
específica e situada dentro de uma prática social escolar” (BUZEN, 2006, p. 149).
Desse modo, enquanto no trabalho com redação, o texto é visto sob a perspectiva de
produto final, ou seja, “...uma unidade linguística que se caracteriza por uma organização de
elementos, segundo regras coesivas que garantem a transmissão de um conteúdo de forma
22

coerente” (REINALDO, 2011, p. 90), a prática de produção de textos é entendida enquanto


um processo1 de construção que se dá em um lugar de interação verbal. Nessa segunda
perspectiva, de acordo com Reinaldo (2001, p. 91), “duas ordens de fatores agem
paralelamente ao ato de escrever textos: os fatores sociais (representados pelas práticas da
realidade social que cerca o indivíduo) e os fatores cognitivos (conhecimento do mundo, da
língua e do tipo de texto)”.
Observando o caminho de mudanças de perspectivas, Buzen ressalta que
“presenciamos um forte movimento, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, em que o
texto, ora tido como processo ora como produto (cf. Reinaldo, 2001), foi concebido como
unidade de ensino/aprendizagem” (2006, p. 151). Nessa perspectiva, o estudo centrado na
função que cada texto exerce no meio social e nas condições em que eles são produzidos
acaba ganhando destaque frente ao estudo dos aspectos de textualidade (coesão e coerência).
Desse modo,

Hoje, para a Linguística Textual, o texto é encarado como um evento sócio-


discursivo, como unidade processual da língua. Para esta mudança de perspectiva, o
caminho percorrido foi do formal para o funcional. Partiu-se de uma autonomia de
língua para um envolvimento com os falantes, demonstrando que ela não é apenas
um sistema, a língua é dinâmica, social, histórica e constituidora da realidade
(ASSIS; FARIA; RIBEIRO, 2008, p. 78).

O trabalho com produção de textos exige que o autor leve em consideração não apenas
os aspectos internos ao sistema linguístico, mas também as condições e objetivos que
conduzem a sua escrita.

1
Na discussão sobre o trabalho com a escrita, Reinaldo (2001) elenca duas perspectivas de tratamento do texto:
o texto como produto, com base nas abordagens de Marcuschi (1983), Koch (1989), Koch e Travaglia (1990); e
o texto como processo, no qual traz à tona o modelo sociocognitivo da escrita.
23

3 CONTEXTUALIZANDO O ENEM

O ENEM é uma prova realizada em nível nacional, assumida pelo INEP e é utilizada
hoje como principal meio de ingresso ao ensino superior. Criada em 1998, o seu objetivo
inicial era o de avaliar o estudante ao final da educação básica. A partir de 2009, quando
ganhou maior popularidade, ele passou a ser utilizado como forma de seleção nas
universidades. A elaboração desse exame pauta-se em diretrizes que são criadas a partir dos
postulados propostos nos PCN e demais documentos que regulam a educação no país,
levando-se em conta as competências que se esperam dos alunos egressos do Ensino Médio.
De caráter interdisciplinar e contextualizado, a prova procura fazer com que o aluno
demonstre sua capacidade de resolver situações-problemas, aplicando os conceitos por ele
apreendidos. Nesse sentido, o INEP evidencia o papel do exame e a forma como é
aproveitado para o ingresso no ensino superior quando afirma que “respeitando a autonomia
das universidades, a utilização dos resultados do ENEM para acesso ao ensino superior pode
ocorrer como fase única de seleção ou combinado com seus processos seletivos próprios”
(BRASIL, S/D).
Isso ocorre porque, apesar de um alto percentual das universidades brasileiras
aderirem ao ENEM, nem sempre a escolha pelo exame acontece, dentro de uma universidade,
como única forma de ingresso, pois algumas usam a nota do processo de seleção realizado
pela instituição paralelo ao uso do resultado obtido pelo ENEM. Desse modo,

Há três formas de uso dos resultados do Enem pelas instituições: mecanismo único,
quando o Enem é adotado como forma exclusiva de seleção; mecanismo alternativo,
quando o Enem é correlacionado a outro processo seletivo; mecanismo
complementar, quando o Enem é admitido como uma das fases ou um dos
componentes do processo seletivo utilizado pela instituição (BRASIL, 2014).

Dentro desse processo, a proposta de redação é algo crucial no momento de avaliação


do candidato, sendo um requisito que pode ser responsável por boa parte de aprovação ou
reprovação deste no Exame Nacional e, consequentemente, pela entrada em cursos superiores
de diversas universidades brasileiras, tanto da rede pública quanto da rede privada.

3.1 A REDAÇÃO NO ENEM

A redação, que é solicitada desde o primeiro ano de aplicação do exame, deve ser
estruturada na forma de texto em prosa, sendo do tipo dissertativo-argumentativo. O padrão
24

dissertativo argumentativo é definido pelo órgão responsável pela elaboração do exame da


seguinte maneira: “o texto é argumentativo porque o objetivo é a defesa, por meio de
argumentos convincentes, de uma ideia ou opinião; e dissertativo porque se estrutura sob a
forma dissertativa – proposição, argumentação e conclusão” (BRASIL, 2013, p. 14). O tema
sugerido em todos os anos da proposta é de ordem sociocultural, científica ou política,
devendo o aluno demonstrar seu posicionamento diante do que lhe é posto.
Nesse sentido, é importante lembrar que o ensino de língua portuguesa tem papel
fundamental nesse processo, pois, como sabemos, o ensino de língua deve ter como
prioridade o ouvir, o falar, o ler e o escrever. São essas atividades indissociáveis nas aulas de
português. Lembramos que os PCN propõem que de ensino de língua deve ter por objetivo
desenvolver no aluno habilidades e comportamentos de leitura e escrita que o conduzam a um
maior e mais eficiente uso possível das capacidades técnicas de ler e escrever.
O propósito do professor é, dessa forma, conduzir os alunos de modo a dar-lhes a
condição de fazerem uso da leitura e escrita em suas práticas sociais. “Essas práticas
direcionam para um letramento. E quando o assunto é letramento, é fundamental o conceito
de gêneros textuais” (ASSIS; FARIA; RIBEIRO, 2008, p. 78). Portanto, um exame que avalia
a situação do aluno que sai do Ensino Médio e o conduz a um curso superior, precisa apreciar
as competências de escrita e leitura, que vêm descritas nos documentos oficiais que regem o
ensino de língua no país.
A partir das ideias propostas por esses documentos e pela Matriz de Referência do
ENEM2, as competências e habilidades, previstas para a atividade de escrita no exame, são
elencadas na Matriz de Referência para a Redação do ENEM. Desse modo, o texto deve ser
escrito e corrigido com base nas cinco competências que integram esse documento.
A primeira competência – demonstrar domínio da modalidade escrita formal da
Língua Portuguesa – observa a obediência às regras da gramática normativa, bem como
presença/ausência de marcas de oralidade na língua escrita. Já a segunda competência –
compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para
desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo argumentativo em
prosa –, observa a necessidade de o candidato se manter dentro dos limites da estrutura do
texto. Nesse ponto, evidencia-se a importância da defesa dos argumentos, sem que haja fuga
ao tema proposto.

2
A Matriz de Referência foi desenvolvida para estruturar o ENEM, a fim de definir as habilidades e
competências que serão cobradas aos candidatos durante o processo de avaliação.
25

Na terceira competência – selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações,


fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista – ressalta a presença dos
argumentos adequados para a defesa do ponto de vista apontado pelo candidato. Na
sequência, a quarta competência – demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos
necessários para a construção da argumentação – remete à organização textual, que exige a
existência de uma relação entre frases e parágrafos, que garanta a sequência coerente do texto.
Como última competência (competência cinco) – elaborar proposta de intervenção para o
problema abordado, respeitando os Direitos Humanos –, o documento aponta para a proposta
de intervenção, na qual o candidato deve preocupar-se em oferecer uma solução para o
problema levantado ao longo do texto.
26

4 ANÁLISE

4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com base no referencial levantado, daremos início à análise do nosso corpus,


procedendo da seguinte maneira. Em um primeiro momento, faremos uma rápida
contextualização a respeito do padrão textual abordado no exame. Em seguida, analisaremos
as propostas de redação, tendo como foco os textos motivadores que compõem as provas dos
anos 2011 e 2012, acompanhadas das redações produzidas em cada ano. Conforme
apresentado ao longo do trabalho, além da importância exercida pelos conhecimentos sociais,
históricos e culturais, bem como da estrutura da língua, os textos motivadores podem
direcionar a escrita do candidato, bem como demarcar o espaço enunciativo da produção
escrita.
Buscamos perceber como o padrão dissertativo argumentativo é compreendido pelos
autores (ora candidatos inscritos no certame), bem como o direcionamento que é dado pelo
candidato ao tema proposto, tendo como base os textos motivadores que compõem cada
proposta. Para tanto, serão apresentadas a análise de dez redações (cinco de cada ano). Tais
redações foram selecionadas através do Guia do participante3, disponível no site do INEP.
Nesse momento, julgamos importante ressaltar que o foco de análise do trabalho
detém-se ao direcionamento enunciativo dado pelo candidato ao tema proposto para escrita do
texto. Devido à dimensão desta pesquisa, seria inviável incluir nas análises os aspectos
gramaticais, bem como, de manutenção da textualidade da redação.

4.2 ENTENDENDO A PROPOSTA DE REDAÇÃO

Como temos percebido, o propósito da nossa pesquisa é levantar a discussão sobre a


proposta de redação do ENEM. Trouxemos, para tanto, as noções de gênero e tipo textual,
atentando para o fato de que eles estabelecem relações entre si para a constituição do texto.
Desse modo, consideramos a noção de gênero em seu caráter sociodiscursivo, enquanto forma
de materialização da comunicação humana. Nessa concepção, os gêneros diariamente surgem
e se modificam na sociedade, constituindo “listagens abertas”, conforme aponta a definição de

3
O Guia do participante vem sendo disponibilizado anualmente pelo INEP/MEC, desde o ano de 2012, e tem
como objetivo esclarecer os critérios que são adotados no processo de avaliação das redações do Enem. Além de
responder às principais dúvidas dos candidatos, o manual traz exemplos e análises de redações que obtiveram
nota máxima no Exame realizado no ano anterior.
27

Marcuschi, variando conforme a necessidade e condições de produção. Devido a essa


pluralidade, o autor afirma ainda que “hoje a tendência é observar os gêneros pelo seu lado
dinâmico, processual, social, interativo, cognitivo, evitando a classificação e a postura
estrutural” (MARCUSCHI 2005, p. 18).
Tendo em mente a atual função assumida pelo texto dissertativo-argumentativo,
atentamos para a seguinte afirmação:

No contexto atual, o reconhecimento da dissertação como um gênero textual


(Schneuwly, 1994; Rojo, 1999; Koch, 2002) fundamenta-se nos postulados
bakhtinianos, que concebe as línguas humanas como fenômeno histórico e social, e
os gêneros textuais como enunciados que concretizam a língua, tomada como
produto da interação verbal. Essa atual concepção alicerça as abordagens
interacionista e enunciativista, que norteiam as orientações para a produção textual,
reconhece-se o caráter dialético e dialógico da dissertação – dialético em virtude de
sua própria natureza argumentativa, e dialógico por ser essa uma propriedade
intrínseca a todo enunciado: pressupor um interlocutor. Isso faz de cada dissertação
um elo na cadeia das relações sócio-históricas e, portanto, um gênero textual. Sob
essa perspectiva, a dissertação passa a ser concebida como um enunciado com um
propósito comunicativo, e o aluno-produtor admitido como um agente da interação
sócio-discursiva (SOUZA, 2003, p. 78).

O caráter analítico-reflexivo do texto dissertativo foi importante para que ele ganhasse
espaço no processo de ensino-aprendizagem da escrita. Tendo em mente nosso objeto de
pesquisa, cabe apontarmos para uma nova nomenclatura que surge no contexto do ENEM.
Dessa forma, as atuais condições sociais de escrita instauradas com a criação do exame,
conduziram para a formação de uma nova concepção de redação, que se desvencilha dos
modelos existentes até então e permitem que vários estudos apontem para o texto dissertativo-
argumentativo como um gênero de função e características próprias. Nesse contexto, o texto
dissertativo-argumentativo assume, dentro do exame, a posição de gênero, que, em vistas das
condições de produção, exerce determinada função na sociedade.
Na sequência, daremos início à análise das propostas de redação das provas realizadas
nos anos de 2011 e 2012. Após a análise de cada proposta, passaremos à discussão acerca do
papel que os textos motivadores que compõem essas propostas exercem, efetivamente, no
momento da escrita. Desse modo, “[...] numa perspectiva sociointeracionista poder-se [sic]
afirmar que a leitura favorece a apropriação de enunciados dos outros para que o enunciado de
cada um torne-se um elo da cadeia de enunciados de que se constitui a linguagem verbal”
(SOUZA 2003, p. 58). Consideramos a importância destes para a reflexão que antecede a
escrita do texto pelo candidato-autor.

4.2.1 Proposta de redação 2011


28

A proposta de redação de 2011 traz como tema “Viver em rede no século XXI: os
limites entre o público e o privado”. Um tema bastante discutido na atualidade e que, por isso,
encontra-se diretamente relacionado ao contexto de vida dos candidatos. Os textos
motivadores apresentados na proposta são do gênero artigo e notícia – fragmento de
“Liberdade sem fio” (Figura 1) e adaptação de “A internet tem ouvidos e memória” (Figura 2)
–, além de uma tirinha – Quadrinhos dos anos 10 (Figura 3) – do autor Dahmer.

Figura 1- Texto 1 da proposta de redação do ENEM 2011

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/05_AMARELO_GAB.
pdf>. Acesso em 12 de out. de 2014 às 14h12min.
.
O primeiro texto, conforme aponta a figura acima, levanta a questão do acesso à
internet como algo a que todos têm direito. O conteúdo é colocado de uma forma mais
objetiva e institucional, por meio de uma recente declaração da Organização das Nações
Unidas (ONU). Desse modo, o objetivo principal do fragmento é mostrar os rumos que a
utilização da rede virtual vem tomando em todo o mundo. Já o segundo texto da proposta,
apresentado na imagem abaixo, dá um maior enfoque à necessidade de se redobrar a atenção
quanto ao uso da internet e de seus aplicativos, como as redes sociais.

Figura 2- Texto 2 da proposta de redação do ENEM 2011

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/05_AMARELO_GAB.
pdf>. Acesso em 12 de out. de 2014 às 14h12min.
29

São apresentados os lados positivos e negativos gerados a partir do uso cada vez
mais acentuado da internet. Trata-se de um texto de cunho informativo, que traz dados
quantitativos (por meio de números e porcentagens apontadas em pesquisas realizadas
anteriormente), sem que se apresente nenhum juízo de valor por parte do autor/escritor.
O terceiro texto motivador, que pertence ao gênero tirinha, de cunho mais crítico e
reflexivo, faz uma crítica à atual sociedade de controle, em que o homem é constantemente
monitorado por meio de câmeras. A parte icônica do gênero, de grande importância para a
interpretação do texto, sugere que o homem não tem como escapar do controle imposto pela
sociedade, uma vez que, até mesmo aquele que vigia está, também, sendo vigiado.

Figura 3 - Texto 3 da proposta de redação do ENEM 2011

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/05_AMARELO_GAB.pdf>.
Acesso em 12 de out. de 2014 às 14h12min.

Diante disso, é possível perceber que os textos motivadores apresentam uma carga de
conteúdo suficiente para orientar a construção das ideias do candidato no momento de sua
produção, uma vez que através deles é dado o subsídio que conduz a uma reflexão sobre os
pontos positivos, bem como os negativos, gerados a partir da convivência da sociedade com
as novas tecnologias de monitoramento e informação. É possível notar, também, que há certa
tendência a que o candidato planeje a defesa de sua tese e direcione sua proposta de
intervenção de modo a tentar conduzir a um alerta e/ou conscientização por parte da
sociedade para o uso inadequado das novas tecnologias.

4.2.2 Redações 2011

Redação I
A primeira redação que nos propomos a analisar traz o título “O fim do Grande
Irmão”. O texto, que respeita os limites da estrutura do gênero dissertativo-argumentativo,
30

encontra-se organizado em cinco parágrafos, nos quais o candidato traça um caminho que
conduz à defesa da tese de que a internet é uma das principais formas de manipulação das
pessoas na sociedade atual. Ao longo de todo o texto é possível perceber traços das ideias
apresentadas pelos textos motivadores da proposta. No início do texto destacamos a frase
“câmeras que gravam qualquer movimento”, que pode ser associada à proposta defendida por
meio da tirinha – Quadrinhos dos anos 10 – no que se refere às características da sociedade de
controle e monitoramento social por meio de câmeras.
Desse modo, ao alicerçar a ideia principal da redação, conforme os requisitos da
competência II – compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do
conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo
argumentativo em prosa – da Matriz de Referência para a redação, o candidato recorre ao seu
conhecimento social – o que aponta para o caráter sociodiscursivo do uso da linguagem –, no
momento em que se refere ao “mundo de George Orwel”, descrito na obra “1984”, para tratar
do controle do homem por meio da tecnologia.
Ainda em relação aos textos motivadores, destacamos o terceiro parágrafo da redação:
Figura 4 - Fragmento da redação I

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/guia_participante_
redacao_enem2012.pdf >. Acesso em 21 de nov. de 2014 às 14h12min.

Nesse trecho, de uma forma geral, fica marcada a ideia veiculada pelo segundo texto
motivador da proposta, no momento em que o candidato-autor coloca em evidência o
aumento do número de pessoas que têm acesso à rede, bem como a grande quantidade de
informações que circulam por ela. Ao longo de todo o texto, é possível perceber o
posicionamento do autor através de argumentos negativos para o uso da internet, como a
“alienação cultural e social” evidenciada no parágrafo ilustrado acima.
Dessa forma, ao concluir o texto, o candidato-autor coloca como proposta de
intervenção a criação de medidas que garantam um maior controle da internet. Para tanto, a
formação crítica dos cidadãos, por meio da escola, é colocada como importante ferramenta
para alertar e conscientizar a população dos riscos que o uso inadequado das novas
tecnologias oferece.
31

Redação II
A segunda redação, que se encontra estruturada em quatro parágrafos, tem como título
“Cidadania virtual”. Nela, a autora apresenta a tese de que as pessoas precisam desenvolver
uma postura crítica para poder desfrutar dos benefícios trazidos pela globalização. Desse
modo, a análise aponta para a predominância da influência das ideias defendidas pelo segundo
texto motivador da proposta. Diante disso, apresentamos abaixo um trecho que corresponde
ao terceiro parágrafo da redação.

Figura 5 - Fragmento da redação II

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/guia_participante_redacao
_enem2012.pdf >. Acesso em 21 de nov. de 2014 às 14h12min.

No trecho em análise, as palavras em destaque reforçam a ideia levantada acima, no


que diz respeito ao rumo que foi dado à redação a partir da leitura dos textos motivadores, em
especial, do segundo texto, do qual destacamos as expressões “disseminar ideias”; “não
acoberta anonimato” e “a internet é um ambiente social”, o que direciona para a apropriação,
por parte da autora, de termos e expressões do texto motivador.
Para defender sua tese, a autora se utiliza de argumentos positivos, como a
disseminação de ideias e informações, e negativos, como a interferência do mundo virtual no
real. Nesse momento, nos direcionamos para a competência III da matriz de referência –
selecionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um
ponto de vista –, destacando que a candidata foi capaz de organizar os argumentos necessários
para a defesa de seu ponto de vista. Na sequência, ao concluir o texto, ela alerta para a
necessidade de construção da criticidade. Mais uma vez, a proposta de intervenção aponta
para a educação como principal meio de conscientização da população.

Redação III
32

Na redação intitulada “Universalização com informação”, o autor utiliza-se de quatro


parágrafos para defender, por meio de argumentos positivos e negativos, a tese de que é
preciso um maior conhecimento do ambiente virtual. O candidato, assim como nas redações
anteriores, foi capaz de seguir a estrutura proposta para o gênero dissertativo argumentativo,
mostrando-se atento à interpretação da proposta de redação, o que demonstra o
desenvolvimento da segunda competência da matriz de referência para a redação, no que diz
respeito ao desenvolvimento da escrita dentro dos limites estruturais do gênero. Ao longo do
texto, é possível apontar traços do direcionamento da discussão, que se mantém na mesma
ordem de enunciação das duas redações analisadas anteriormente.

Figura 6 - Fragmento da redação III

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/guia_participante_redacao
_enem2012.pdf >. Acesso em 21 de nov. de 2014 às 14h12min.

As expressões em destaque na imagem acima novamente fazem alusão às ideias


propostas pelo segundo texto motivador – A internet tem ouvidos e memória –, na medida em
que é possível perceber, mais uma vez, a apropriação de expressões desse texto pelo
candidato. No trecho em questão, o autor indica os pontos desfavoráveis do uso da internet,
mostrando que, por se encontrar em um ambiente público, os internautas são expostos a
inúmeras formas de monitoramento e constrangimento. Ao concluir a redação, recorrendo ao
ponto de vista defendido ao longo do texto, o candidato-autor reforça, por meio da proposta
de intervenção, a necessidade de alerta à sociedade através de ações educativas promovidas
pelas autoridades governamentais.

Redação IV
A quarta redação analisada não possui título, o que é permitido pelo exame, uma vez
que não é exigido para o texto dissertativo-argumentativo. Na produção em questão, que se
encontra estruturada em cinco parágrafos, seguindo a estrutura do texto dissertativo-
argumentativo, a tese defendida pela autora é a de que é preciso questionar os limites entre o
público e o privado nas redes sociais.
33

As palavras em destaque no trecho abaixo (Figura 7), mais uma vez, reforçam a ideia
veiculada no segundo texto motivador da proposta. A autora aponta os lados positivos do uso
da internet, contrapondo-os às consequências reveladas pelo uso de maneira inadequada dessa
tecnologia.

Figura 7 - Fragmento da redação IV

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/guia_participante_redacao
_enem2012.pdf >. Acesso em 21 de nov. de 2014 às 14h12min.

A autora dessa redação também recorre a exemplos presentes na memória social para
defender o seu posicionamento. Como aspecto positivo, a candidata recorre, no terceiro
parágrafo, ao exemplo da “Primavera Árabe”, que encontrou nas redes sociais o principal
meio de divulgação de ideias. Outro exemplo trazido pela autora, no parágrafo seguinte, dessa
vez para apontar o aspecto negativo, foi a divulgação de fotos íntimas de uma atriz, por meio
da internet. Nesse momento, destacamos, novamente, o caráter sociointeracionista da
linguagem, que tem como base as ideias defendidas por Vigotsky, ao passo em que é possível
perceber a situação de interação que se estabelece entre a atividade de escrita e as vivências
anteriores (cotidiano) da autora.
A proposta de intervenção, mais uma vez, reforça a necessidade de conscientização
dos internautas, com a finalidade de que estes possam evitar as situações desagradáveis que
possam vir a acontecer, caso exponham algo da vida privada no espaço público da rede.

Redação V
A quinta redação aqui apresentada, que tem como título “Redes sociais: o uso exige
cautela”, está estruturada em cinco parágrafos e traz como tese a noção de que não possuir
uma página nas redes sociais é estar desintegrado do mundo globalizado.
34

Figura 8 - Fragmento da redação V

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/guia_participante_redacao
_enem2012.pdf >. Acesso em 21 de nov. de 2014 às 14h12min.

No fragmento acima, a autora, assim como nas demais redações analisadas, faz um
alerta acerca da “faceta perversa” revelada pelo uso inadequado da internet. Mais uma vez,
relembramos as ideias apresentadas no segundo texto motivador da proposta de redação,
frente à necessidade de o internauta saber distinguir os limites entre o público e o privado.
Retomando o aspecto social da linguagem apontada ao longo de nossa análise, destacamos a
retomada ao exemplo da organização que conduziu a “Primavera árabe”. A candidata
demonstra a habilidade de estabelecer relação entre as informações conhecidas pelos textos
motivadores e outras, contidas na memória social. Dando sequência à linha de raciocínio, na
proposta de intervenção, apresentada no último parágrafo, a candidata reforça a ideia de
conscientização da população por meio de medidas a serem adotadas pelas autoridades
governamentais de cada país.
Diante disso, foi possível perceber, por meio dos cinco textos analisados, uma certa
regularidade no que diz respeito ao direcionamento dado ao tema proposto na redação. Os três
textos motivadores da proposta mostraram-se necessários, ao passo que guiaram a reflexão
dos autores no momento da escolha dos argumentos a serem utilizados nos textos. Em todos
os casos, a tendência para a necessidade da criação de estratégias que motivem o alerta e a
conscientização da população estiveram presentes, de forma mais expressiva, na proposta de
intervenção, parte integrante da conclusão do texto dissertativo-argumentativo. Lembramos
que a competência V da matriz de referência foi seguida pelos candidatos-autores nos cinco
textos analisados, na medida em que a proposta de intervenção apresentada em cada redação
aponta uma solução para o problema levantado, com respeito aos direitos humanos.

4.2.3 Proposta de redação 2012

A prova aplicada no ano 2012 põe em discussão aspectos de ordem histórica e social,
trazendo como tema da proposta de redação “O movimento imigratório para o Brasil no
35

século XXI”. Os textos motivadores apresentados são dos gêneros artigo de opinião e
reportagem, além de uma imagem que ilustra o assunto tratado na reportagem. O primeiro
texto, que é um fragmento do artigo “A hospedaria de imigrantes”, traz um enfoque mais
histórico, no qual são apresentadas as contribuições trazidas, a partir da vinda de imigrantes
das várias nacionalidades, para a formação da cultura brasileira.

Figura 9 - Texto 1 da proposta de redação do ENEM 2012

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2012/caderno_enem2012
_dom_amarelo.pdf>. Acesso em 27 de nov. de 2014 às 22h35min.

O segundo texto (anexo B), fragmento da reportagem “Acre sofre com invasão de
imigrantes do Haiti”, é um texto de cunho informativo, voltado para algo mais específico, a
questão da imigração haitiana, que apresentou crescimento considerável a partir de 2011,
além dos motivos que levaram a essa realidade e como se dá a recepção deles no Brasil. Ao
lado do texto escrito, é colocado um texto icônico, que retrata, por meio de um mapa, os
caminhos traçados por esses migrantes. Já o terceiro texto (anexo B), também de cunho
informativo e estatístico - “Trilha da costura” -, traz os números divulgados pela ONU,
decorrentes do caminho da imigração dos bolivianos para países vizinhos, por causa de
fatores econômicos, bem como os trabalhos que lhes são apresentados como de mais fácil
acesso nos países para os quais emigram.
Diante das informações acima, é possível afirmar que os textos motivadores
cumprem o seu papel, na medida em que incitam à reflexão do candidato, sem lançar para ele
juízo de valor acerca do tema da imigração. Os dados fornecidos através dos textos têm a
função de contribuir para a reflexão do candidato. É válido perceber que o tema proposto
exige deste um conhecimento histórico, econômico e social, uma vez que “quando se lê, as
informações textuais conjugam-se com o conhecimento acumulado na mente”. (ASSIS;
FARIA; RIBEIRO, 2008, p. 13). Desse modo, a partir do que é dado como motivação, o autor
é conduzido a, partindo das informações fornecidas, buscar em sua memória e em seu
conhecimento prévio argumentos que lhe permitam dissertar sobre o tema proposto. Há, a
partir das ideias veiculadas pelos textos, uma tendência a que o candidato-autor direcione o
36

seus argumentos para a necessidade de estruturação e organização do mercado de trabalho,


frente à nova realidade enfrentada pelo país. Isso condiciona o candidato a pensar em uma
proposta de intervenção, conforme propõe a competência V da matriz de referência.

4.2.4 Redações 2012

Redação VI
A redação em análise encontra-se organizada em quatro parágrafos, obedecendo à
estrutura do texto dissertativo-argumentativo. O texto traz como título “Imigração no Brasil:
Resolver para poder crescer”. A autora desenvolve a tese de que o Brasil, ao receber um alto
número de imigrantes, vem enfrentando um desafio social e econômico, que deve ser
resolvido por meio de medidas a serem adotadas pelo governo.
Ao longo do texto, é possível perceber o direcionamento oferecido pelos textos
motivadores na medida em que a candidata aponta para o enriquecimento da cultura brasileira
a partir da chegada dos imigrantes, o que pode ser identificado também, no primeiro texto
motivador. A seguir, apresentamos um parágrafo da redação no qual é possível perceber a
interferência dos dois últimos textos que motivaram a reflexão da candidata.

Figura 10 - Fragmento da redação VI

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/guia_de_redac
ao_enem_2013.pdf >. Acesso em 30 de nov. de 2014 às 15h21min.

No trecho acima, a autora discute acerca das dificuldades encontradas no mercado de


trabalho diante da chegada dos trabalhadores de outras nacionalidades. Isso pode ser visto no
texto motivador II, que reforça a presença de profissionais qualificados, e no terceiro, em que
aparece como destaque a baixa qualificação. Desse modo, nesse parágrafo, a candidata
estabelece uma relação entre as ideias propostas nos dois textos. Destacamos o resgate de
informações presentes na memória social, o que demonstra a atenção da candidata à terceira
37

competência da matriz de referência, no momento em que fundamenta seus argumentos. Ao


concluir a redação, a proposta de intervenção põe em evidência a necessidade de o governo
oferecer incentivos às empresas que recebem esses trabalhadores, bem como melhorar os
treinamentos e cursos de Língua Portuguesa, a fim de que eles possam se capacitar.

Redação VII
A redação em análise encontra-se estruturada em cinco parágrafos e não possui título.
O candidato defende a tese de que o fluxo imigratório decorrente da boa fase econômica
vivida pelo Brasil tende a ser algo positivo, tanto cultural, quanto economicamente.
Utilizando-se de seu conhecimento social, a autora traça um panorama da imigração no Brasil
desde os séculos passados, trazendo também as causas da atual vinda de imigrantes para nosso
país. Nesse aspecto, identificamos mais uma vez e alinhamento com a perspectiva do ISD,
que entende que a formação social exerce influência sobre a forma como a atividade de
linguagem é desenvolvida por cada indivíduo.
No terceiro parágrafo do texto, apresentado pelo fragmento abaixo (Figura 11), é
possível sentir a interferência do primeiro texto motivador, na medida em que há uma
retomada da influência dos imigrantes na cultura do país.

Figura 11 - Fragmento da redação VII

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/guia_de_redac
ao_enem_2013.pdf >. Acesso em 30 de nov. de 2014 às 15h21min.

A proposta de intervenção, apresentada na conclusão do texto, remete a ideia de que o


governo deve propor maneiras de inserir os imigrantes no mercado de trabalho, de modo a
incentivar o intercâmbio cultural. Novamente, a preocupação com a reestruturação do
mercado de trabalho de modo a atender a nova demanda de trabalhadores, se mostra na
proposta como possível solução dos problemas gerados a partir do aumento da imigração.

Redação VIII
A oitava redação analisada também não possui título, encontra-se estruturada em cinco
parágrafos, obedecendo a estrutura do gênero dissertativo-argumentativo, e traz a tese de que
a atual posição econômica ocupada pelo Brasil vem atraindo imigrantes em busca de melhores
38

condições de vida. Ao longo do texto é possível sentir, com maior intensidade, os traços da
influência exercida pela leitura dos textos que motivaram a proposta (Figura 12).

Figura 12 - Fragmento da redação VIII

Fonte:<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/guia_de_r
edacao_enem_2013.pdf >. Acesso em 30 de nov. de 2014 às 15h21min.

No trecho acima, a candidata recorre ao conhecimento construído por meio da


vivência em sociedade quando aponta os motivos que levaram o Brasil a se destacar na
economia mundial e, logo em seguida, aponta para a diminuição da emigração e aumento da
imigração do país. Para comprovar os seus argumentos, a autora recorre e se apropria de
dados oferecidos no segundo e terceiro textos motivadores da proposta, como pode ser
percebido através das expressões destacadas acima.
Como conclusão da redação, a candidata-autora aponta como solução na proposta de
intervenção, respeitando os direitos humanos, conforme explicita a competência V da matriz
de referência, a importância de se promover a interação entre os estrangeiros e a sociedade
local, além do desenvolvimento de políticas de apoio que garantam o direito ao trabalho
desses imigrantes, bem como uma maior fiscalização nas fronteiras do país.

Redação IX
A redação em análise encontra-se estruturada em 4 parágrafos, sob o título “Brasil: um
país do mundo inteiro”. Nela, o candidato defende a tese de que o eixo migratório do século
XXI se dá dos países periféricos para os emergentes, como o Brasil, que tem se destacado na
economia do cenário mundial. Por meio de argumentos negativos, como os conflitos étnicos e
sociais, e positivos, como o desenvolvimento da economia e cultura do país, o autor defende a
necessidade de um olhar mais atento do governo para o atual crescimento imigratório em
nosso país.
Além de utilizar dados presentes em sua memória social para a defesa de seus
argumentos, o candidato-autor faz uso do subsídio oferecido por meio dos textos motivadores
39

da proposta de redação. No trecho abaixo (Figura 12), retirado do quarto parágrafo da


redação, é possível comprovar a presença de informações que foram inseridas no texto tendo
como base a notícia “Acre sofre com invasão de imigrantes do Haiti”.

Figura 13 - Fragmento da redação IX

Fonte:<http://www.faculdadeages.com.br/cila/manual-avaliadorENEM2013.pdf>. Acesso em 30
de nov. de 2014 às 17h46min.

Os enunciados destacados no trecho acima fazem menção às informações presentes no


segundo texto motivador, ao passo que o candidato cita o exemplo da qualificação
profissional dos imigrantes haitianos, e também quando levanta a questão referente à forma
como o Brasil deve receber os povos que chegam para viver no país. Reforçamos o fato de o
candidato se apropriar de termos e expressões dos textos trazidos na motivação da proposta.
Desse modo, como proposta de intervenção, o candidato aponta para a responsabilidade do
governo em proporcionar melhores condições de vida e oportunidade de trabalho para os
estrangeiros que aqui chegaram.

Redação X
A última redação aqui analisada não possui título, encontra-se organizada em seis
parágrafos e traz como tese a ideia de que a imigração do passado contribuiu para a formação
industrial do país e que, atualmente, ela vem sendo incentivada pelo potencial econômico
apresentado na mídia.
No trecho abaixo (Figura 14), é possível perceber a influência trazida pelo primeiro
texto motivador da proposta:
40

Figura 14 - Fragmento da redação X

Fonte:<http://www.faculdadeages.com.br/cila/manual-avaliadorENEM2013.pdf>. Acesso em 30 de
nov. de 2014 às 17h46min.

Nos dois parágrafos apresentados na figura 14, o candidato-autor se apropria da ideia


do primeiro texto quando retoma à identidade do Brasil enquanto construída a partir da
contribuição das pessoas das várias nacionalidades que vieram para nosso país, bem como a
formação da cultura, apresentando reflexos até os dias atuais. Ao concluir o texto, o autor
propõe que deve haver a criação de métodos de controle para garantir a cidadania dos
imigrantes que chegam a nosso país.
A partir da análise das cinco redações apontamos para certa regularidade no que diz
respeito à preocupação com a necessidade de investimento no mercado de trabalho, de modo a
atender às novas demandas com a chegada dos imigrantes ao Brasil. Esse aspecto, além de
outros elencados ao longo da análise, pode ser entendido enquanto uma marca do
direcionamento gerado a partir da leitura dos textos usados para conduzir a reflexão dos
candidatos, antes da escrita da redação. Desse modo, ressaltamos que os candidatos
mostraram-se leitores competentes, já que foram capazes de interpretar a proposta, bem como
os textos dados como motivação, no entanto, há certa limitação ao que é oferecido pelos
textos motivadores, de modo que os candidatos não conseguem ir muito além, no
desenvolvimento de seus argumentos.
41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O texto constitui-se enquanto uma unidade de sentido e, por isso, mostra-se como
importante ferramenta da comunicação humana. Ao longo de todo o desenvolvimento da
sociedade, a estrutura e a função que o texto exerce no meio vem adquirindo novas formas e
ganhando um maior destaque. Desse modo, é de total importância a preocupação com a
maneira como esse caminho vem sendo trilhado na atual conjuntura da sociedade.
Proveniente desse lugar de destaque na sociedade, a atividade de escrita vem sendo
exigida enquanto forma de avaliação nos principais exames de seleção para vagas no ensino
superior e técnico do país. Tendo em mente a dimensão que o ENEM passou a adquirir a
partir do ano de 2009, ocupando, hoje, o lugar de principal forma de seleção dos candidatos
que desejam ingressar nesse nível de ensino, é de fundamental importância a reflexão sobre a
maneira como esse processo vem sendo constituído, bem como a recepção que essa forma de
avaliação encontrou na sociedade, além da influência que ela exerce sobre o ensino do país.
O presente trabalho encontra sua relevância na medida em que propõe-se a investigar
as dimensões que o texto motivador assume dentro do processo de seleção, a partir da
recepção destes pelos candidatos, tendo em vista ser a atividade de escrita o momento em que
cada um pode demonstrar, de forma mais completa, as habilidades e competências adquiridas
ao longo de todo o processo de crescimento e desenvolvimento na educação básica.
Após as análises realizadas, foi possível perceber que o objetivo central da proposta de
redação do ENEM, de uma maneira geral, é identificar se o candidato foi capaz de
desenvolver as competências necessárias ao trabalho com os gêneros textuais/discursivos de
forma integrada à vida social, realçada, sobretudo, na competência 5 da Matriz de Referência
para redação do ENEM, que tem como exigência “Elaborar propostas (EP): recorrer aos
conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária
na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural”. É
perceptível também a condução da escrita de um texto dissertativo-argumentativo, no qual o
candidato apresenta um e/ou vários pontos de vistas e argumentos que o(s) sustenta(m). Há,
nesse sentido, a condução para a formação de um “novo gênero” de escrita na sociedade, com
funções e estrutura, definidos pelo modelo de avaliação da escrita instaurado pelo exame.
Os textos motivadores presentes nas propostas de redação analisadas mostram-se
suficientes para conduzir o pensamento do candidato a uma reflexão acerca do assunto
abordado no tema, uma vez que se mostram como um ponto de direcionamento sem que haja
julgamento de valores que priorize determinada visão, permitindo ao aluno apresentar sua
42

opinião sobre o tema trabalhado. Quanto ao enunciado da proposta, fica evidente o caráter de
organização estrutural que é exigido como pré-requisito da produção. Além disso, o respeito
aos direitos humanos aparece como critério de eliminação, o que, de certa maneira, acaba
conduzindo os candidatos a se manterem na ordem esperada de posicionamento enunciativo.
É perceptível, nas análises das redações produzidas, a comprovação da hipótese de que
os textos motivadores, ao funcionarem como uma espécie de gancho para a reflexão que
antecede a escrita do texto, acabam conduzindo a certa regularidade no direcionamento do
tema, uma vez que o candidato-autor deixa-se guiar, mesmo que de forma inconsciente, pelas
ideias veiculadas nesses textos. A interferência destes podem ser percebidos, de forma direta,
por meio da inclusão, na redação, de palavras ou expressões pertencentes ao vocabulário
utilizado neles, como também, de forma indireta, em que apenas a ideia central do texto
motivador é utilizada na redação.
A análise aponta ainda para a noção de que os candidatos foram capazes de
compreender a proposta de redação, bem como os textos que a motivam, no entanto, o nível
de informatividade das redações limita-se, na maioria das vezes, às informações trazidas
nesses textos, o que acaba conduzindo à escrita de redações/paráfrases dos textos
motivadores, em que não está marcada a presença da autoria do candidato.
Diante do exposto acima, consideramos que os estudos sobre a discussão levantada
nesse trabalho não só podem, como merecem ser conduzidas por outros caminhos de reflexão,
e aprofundadas com outras teorias. A dimensão que o tipo de trabalho realizado ocupa no
ambiente acadêmico não nos permitiu alçar voos maiores. A experiência desenvolvida a partir
do acompanhamento de aulas pelo projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsas de
Incentivo à Docência) ao longo desse ano, demonstrou um novo caminho que vem sendo dado
ao ensino de produção de textos, com vistas à preparação dos alunos do ensino médio para a
prova do ENEM. Deixamos, então, nossas reflexões como uma possível porta de acesso para
novos direcionamentos. Almejamos a possibilidade de dar continuidade às pesquisas aqui
iniciadas, de modo a gerar uma maior contribuição para o meio acadêmico – de modo
especial, ao curso de licenciatura –, como também para a sociedade de uma forma geral.
43

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. 6ª ed. São Paulo: Parábola
editorial, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BRONCKART, Jean Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um


interacionismo sociodiscusivo. Trad. Anna Rachel Machado, Péricles Cunha. 2 ed., 2 reimpr.
São Paulo: EDUC, 2012.

_____________. Atividades de linguagem, discurso e desenvolvimento humano.


Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes M. Matencio. São Paulo: mercado
de Letras, 2006.

BRASIL, INEP. Manual de capacitação para avaliação das redações do Enem 2013.
Campus Universitário Darcy Ribeiro. Cespe/UnB. Brasília – DF, 2013. Disponível em:
<http://www.faculdadeages.com.br/cila/manual-avaliadorENEM2013.pdf>. Acesso em 28 de
out. de 2014 às 09h13min.

_____________. Sobre o Enem. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/, 2014>. Acesso


em 14 de nov. de 2014 às 14h46min.

_____________. A redação no ENEM 2012 – Guia do participante. Brasília – DF, 2012.


Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads
/2012/guia_participante_redacao_enem2012.pdf>. Acesso em 10 de nov. de 2014 às
12h32min.

_____________. A redação no ENEM 2013 – Guia do participante. Brasília – DF, 2013.


Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_
participante/2013/guia_de_redacao_enem_2013.pdf>. Acesso em 02 de nov. de 2014 às
23h45min.

BUZEN, Clécio. Da era da composição à era dos gêneros: o ensino de produção de texto no
ensino médio. In: BUZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia (org.). Português no ensino médio
e formação do professor. São Paulo: Parábola editorial, 2006.

ASSIS, Maria Cristina de; FARIA, Evangelina Maria Brito de; RIBEIRO, Maria das Graças
Carvalho. Redação no vestibular da UFPB: Estratégias de produção e critérios de
avaliação. Evangelina Maria Brito de Faria, Maria Cristina de Assis, Maria das Graças
Carvalho Ribeiro. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008.

GERALDI, J. W. Da sala de aula à construção externa da aula. In: ZACCUR, E. (org.). A


magia da linguagem. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, pp 123-140.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São


Paulo: Parábola editorial, 2008.

____________. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Ângela Paiva;


MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais e
ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005
44

____________. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI,


A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Org.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4ª ed.
São Paulo: Parábola Editorial, 2011.

REINALDO, Maria Augusta Gonçalves de Macedo. A orientação para produção de texto. In:
DIONÍSIO, Angela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org). O livro didático de
Português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

SILVA, Fábio Pessoa da. Os objetivos do ensino-aprendizagem da escrita na aula de Língua


Materna à luz do Interacionismo Sociodiscursivo. In: Nas trilhas do ISD: Práticas de
ensino-aprendizagem da escrita. Regina Celi Mendes Pereira (org). Campinas, SP: Pontes
Editores, 2012.

SOUZA, Edna Guedes de. Dissertação: gênero ou tipo textual? 2003, 177f. Dissertação
(Mestrado em Linguística). Programa de Pós Graduação em Letras. Universidade Federal de
Pernambuco. Recife –PE.

VAL, Maria da Graça Costa (et. al). Avaliação do texto escolar: Professor-leitor/Aluno-
autor. Ed. rev. e ampl. – Belo Horizonte: Autêntica Editora/ Caele, 2009.
45

ANEXOS
46

ANEXO A – PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2011.


47

ANEXO B – PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2012


48

ANEXO C – REDAÇÃO I

Redação de Isabela Carvalho Leme Vieira da Cruz, Rio de Janeiro (RJ).

O fim do Grande Irmão

Câmeras que gravam qualquer movimento, telas transmitindo notícias a todo


minuto, o Estado e a mídia controlando os cidadãos. O mundo idealizado por George
Orwell em seu romance 1984, onde aparelhos denominados teletelas controlam os
habitantes de Oceania vem se tornando realidade. Com a televisão e, principalmente, a
internet, somos influenciados – para não dizer manipulados – todos os dias.
Tal influência ocorre, majoritariamente, através da mídia e da propaganda. Com
elas, padrões de vida são disseminados a uma velocidade assombrosa, fazendo a sociedade,
muitas vezes privada de consciência crítica, absorvêlos e incorporá-los como ideais próprios.
Desse modo, deixamos de ter opinião particular para seguir os modelos ditados pelo
computador, acreditando no que foi publicado, sem o devido questionamento da veracidade
dos fatos apresentados.
Com isso, as novas redes sociais, surgidas nesse início do século XXI, se tornam os
principais vetores da alienação cultural e social da população, uma vez que todos possuem
um perfil virtual com acesso imensurável a todo o tipo de informações. Por isso, diversas
empresas e personalidades se valem da criação de perfis próprios, atraindo diversos
seguidores, aos quais impõe sua maneira de agir e pensar. Esses usuários, então, se tornam
mais vulneráveis e suscetíveis à manipulação virtual .
Outro ponto negativo dessas redes, como o Facebook e o Twitter, é o fato de todo o
conteúdo publicado ficar armazenado na internet, permitindo a determinação do perfil dos
usuários e a escolha da melhor maneira midiática de agir para conquistá-los. Além disso, o
uso indiscriminado de tais perfis possibilita a veiculação de imagens ou arquivos
difamadores, servindo como ferramenta política e social para aumentar a credibilidade de
determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na
Venezuela e comprometendo outras, com falsas denúncias, por exemplo.
Diante disso, é necessária a aplicação de medidas visando a um maior controle da
internet. A implantação, na grade escolar brasileira, do estudo dessas novas tecnologias de
informação, incluindo as redes sociais, e a, consequente, formação crítica dos brasileiros,
seria um bom começo. Só assim, poderemos negar as previsões feitas por George Orwell e ter
um futuro livre do controle e da alienação.

ANEXO D - REDAÇÃO II

Redação de Mary Clea Ziu Lem Gun, Barueri (SP).


49

Cidadania virtual

Assistimos hoje ao fenômeno da expansão das redes sociais no mundo virtual, um


crescimento que ganha atenção por sua alta velocidade de propagação, trazendo como
consequência, diferentes impactos para o nosso cotidiano. Assim, faz-se necessário um
cuidado, uma cautelosa discussão a fim de encarar essa nova realidade com uma postura
crítica e cidadã para então desfrutarmos dos benefícios que a globalização dos meios de
comunicação pode nos oferecer.
A internet nos abre uma ampla porta de acesso aos mais variados fatos, verbetes,
imagens, sons, gráficos etc. Um universo de informações de forma veloz e prática
permitindo que cada vez mais pessoas, de diferentes partes do mundo, diversas idades e
das mais variadas classes sociais, possam se conectar e fazer parte da grande rede virtual
que integra nossa sociedade globalizada. Dentro desse contexto as redes sociais
simbolizam de forma eficiente e sintética como é o conviver no século XXI, como se
estabelecem as relações sociais dentro da nossa sociedade pós-industrial , fortemente
integrada ao mundo virtual.
Toda a comodidade que a rede virtual nos oferece é, no entanto, acompanhada pelo
desafio de ponderar aquilo que se publica na internet, ficando evidente a instabilidade que
existe na tênue linha entre o público e o privado. Afinal, a internet se constitui também
como um ambiente social que à primeira vista pode trazer a falsa ideia de assegurar o
anonimato. A fragilidade dessa suposição se dá na medida em que causas originadas no
meio virtual podem sim trazer consequências para o mundo real. Crimes virtuais,
processos jurídicos, disseminação de ideias, organização de manifestações são apenas
alguns exemplos da integração que se faz entre o real e o virtual.
Para um bom uso da internet sem cair nas armadilhas que esse meio pode
eventualmente nos apresentar, é necessária a construção da criticidade, o bom senso entre
os usuários da rede, uma verdadeira educação capaz de estabelecer um equilíbrio entre os
dois mundos, o real e o virtual. É papel de educar tanto das famílias, dos professores como
da sociedade como um todo, só assim estaremos exercendo de forma plena nossa cidadania.

ANEXO E - REDAÇÃO III

Redação de Wellington Gomes de Souza, São Paulo (SP).

Universalização com informação


50

Devido à sua natureza social, o ser humano, durante toda a sua história, dependeu
dos relacionamentos para conviver em comunidade e assim transformar o mundo. Hoje, as
redes sociais na internet adquirem extrema importância, visto que são os principais meios
através dos quais as pessoas se relacionam diariamente. Além de universalizar o acesso a
elas, devemos também conhecer esse novo ambiente em que agimos.
As inovações tecnológicas, em sua maioria, buscam criar soluções que facilitem
cada vez mais as nossas tarefas do cotidiano. Uma dessas tarefas, imposta pela sociedade,
é a de mantermo-nos presentes e participativos em nossos círculos de relacionamentos,
principalmente no dos amigos. Tarefa árdua em meio ao agito e falta de tempo do nosso
estilo de vida contemporâneo, tornou-se muito mais simples com o advento das redes
sociais digitais, como o “Facebook” e “Orkut”, por exemplo. O sucesso dessas inovações é
notado pela adesão maciça e pelo aumento considerável no número de acessos.
Porém, um ponto importante a ser analisado é a questão do futuro da privacidade. O
fato de acessarmos essas redes até mesmo do conforto do nosso lar, isolado contato físico do
convívio social, nos faz esquecer de que a internet é um ambiente público. Nele as outras
pessoas podem, e vão, julgar comportamentos, criticar idéias, acompanhar os “passos” dos
outros e inclusive proporcionar constrangimentos.
A velocidade com a qual as redes virtuais foram inseridas em nossa sociedade
ainda não permitiu que as pessoas assimilassem e reconhecessem os limites que separam o
ambiente público do privado. Mediante esse descompasso, é importantíssimo que os
governos incluam na agenda da universalização do acesso às redes, também ações
educativas – palestras ou cursos – a fim de orientar os cidadãos, novos atores, sobre o que é
e como funciona esse novo palco de relações. Atitudes como essa é que vão garantir, com
dignidade, o acesso a esse mundo virtual de relações.

ANEXO F - REDAÇÃO IV

Redação de Alline Rodrigues da Silva, Uberaba (MG).

A crescente popularização do uso da internet em grande parte do globo terrestre é


uma das principais características do século XXI. Tal popularização apresenta grande
relevância e gera impactos sociais, políticos e econômicos na sociedade atual .
Um importante questionamento em relação a esse expressivo uso da internet é o fato
de existir uma linha tênue entre o público e privado nas redes sociais. Estas,
constantemente são utilizadas para propagar ideias, divulgar o talento de pessoas até então
51

anônimas, manter e criar vínculos afetivos, mas, em contrapartida também podem expor
indivíduos mais do que o necessário, em alguns casos agredindo a sua privacidade.
Recentemente, ocorreram dois fatos que exemplificam ambas as situações. A
“Primavera Árabe”, nome dado a uma série de revoluções ocorridas em países árabes, teve as
redes sociais como importante meio de disseminação de idéias revolucionárias e
conscientização desses povos dos problemas políticos, sociais e econômicos que assolam
esses países. Neste caso, a internet agiu e continua agindo de forma benéfica, derrubando
governos autoritários e pressionando melhorias sociais.
Em outro caso, bastante divulgado também na mídia, a internet serviu como
instrumento de violação da privacidade. Fotos íntimas da atriz hollywoodiana Scarlett
Johansson foram acessadas por um hacker através de seu celular e divulgadas pela internet
para o mundo inteiro, causando um enorme constrangimento para a atriz.
Analisando situações semelhantes às citadas anteriormente, conclui-se que é
necessário que haja uma conscientização por parte dos internautas de que aquilo que for
uma utilidade pública ou algo que não agrida ou exponha um indivíduo pode e deve ser
divulgado. Já o que for privado e extremamente pessoal deve ser preservado e distanciado do
mundo virtual , que compartilha informações para um grande número de pessoas em um
curto intervalo de tempo. Dessa forma, situações realmente desagradáveis no incrível
universo da internet serão evitadas.

ANEXO G - REDAÇÃO V

Redação de Camila Pereira Zuconi, Viçosa (MG).

Redes sociais: o uso exige cautela

Uma característica inerente às sociedades humanas é sempre buscar novas


maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas são apenas alguns dos vários
exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E,
atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios, são as redes virtuais,
consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns.
Orkut, Twiter e Facebook são alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais
acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que
não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo
globalizado. Através desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro,
compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos
autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento
52

é que nos convém cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais
representa uma vantagem.
Não saber os limites da nossa exposição nas redes virtuais pode nos custar caro e
colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do
momento em que colocamos informações na rede, foge do nosso controle a consciência das
dimensões de até onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informações pessoais
em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulneráveis moralmente.
Percebemos, portanto, que o novo fenômeno das redes sociais se revela como uma
eficiente e inovadora ferramenta de comunicação da sociedade, mas que traz seus riscos e
revela sua faceta perversa àqueles que não bem distinguem os limites entre as esferas
públicas e privadas “jogando” na rede informações que podem prejudicar sua própria
reputação e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dúvidas, é um
grande problema.
Dado isso, é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede
tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado
e, acima de tudo, bom senso, para que nem a própria imagem, nem a do próximo possa ser
prejudicada. Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias
comunidades virtuais através das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficiência e
sucesso como objeto da comunicação, serão, certamente, o melhor meio para alertar os
usuários a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessários para tal.

ANEXO H - REDAÇÃO VI

Redação de LARISSA REGHELIN COMAZZETTO, Santa Maria/RS

Imigração no Brasil: Resolver para poder crescer

Japoneses, italianos, portugueses, açorianos ou espanhóis. Durante o século XIX,


muitos foram os povos que, em busca de trabalho e bem-estar social, desembarcaram no
Brasil e enriqueceram nossa cultura. Atualmente, em pleno século XXI, a imigração para o
Brasil mantém-se crescente, desafiando não somente nossa sociedade como também nossa
economia.
Assim como os antigos imigrantes, os indivíduos que hoje se instalam em território
brasileiro anseiam por melhores e mais dignas condições de vida. Muitos deles, devido à
Crise Econômica originada em 2008, viram-se obrigados a se dirigir para outras nações,
como o Brasil . Os espanhóis, por exemplo, por terem sido intensamente atingidos pela
recessão, já somam uma quantidade expressiva na periferia de São Paulo. Diante disso, a
fração da sociedade que reside em tal localidade vem enfrentando muitas dificuldades em
“dividir” seu espaço, que, inicialmente, não era adequado à sobrevivência, quem dirá após a
chegada dos europeus. Segundo pesquisas realizadas pelo jornal “A Folha de São Paulo”,
no primeiro semestre de 2012, brasileiros e espanhois dos arredores de São Paulo vivem em
53

constantes conflitos e a causa traduz-se, justamente, na irregularidade habitacional que


ambos compartilham.
Como se não bastasse, a economia brasileira também tem sofrido com a chegada dos
migrantes. Existem, entre eles, tanto trabalhadores desqualificados como profissionais
graduados. O problema reside na pouca oferta de emprego a eles destinada. Visto que não
recebem oportunidades, passam a integrar setores informais da economia, sem direitos
trabalhistas e com ausência de pagamento dos devidos impostos. O Estado, dessa forma,
deixa de arrecadar capital e de aproveitar a mão-de-obra disponível, o que auxiliaria no
andamento da economia nacional .
Assim, com a finalidade de preparar a sociedade e a economia brasileiras para a
chegada dos novos imigrantes, medidas devem ser tomadas. O Estado deve oferecer
incentivos às empresas que empregarem os recém-chegados; essas, por sua vez, devem
prepará-los para o mercado brasileiro, oferecendo treinamentos adequados e cursos de
Língua Portuguesa e, ainda, garantir seus direitos trabalhistas. É imprescindível que o
governo procure habitações para os imigrantes e que nós, brasileiros, respeitemos os povos
que, seja no passado ou no presente, somente têm a nos acrescentar.

ANEXO I - REDAÇÃO VII

Redação de PEDRO IGOR DA SILVA FARIAS, Teresina/PI

O fluxo de pessoas pelo mundo sempre foi objeto de estudo para entender a dinâmica
econômica e social do globo. Nos últimos anos, a mudança na economia e o novo espaço que
o Brasil tem conquistado no cenário internacional atraiu trabalhadores e turistas,
apontando para movimentos migratórios cada vez mais intensos para o Brasil no século
XXI.
Desde o Brasil Colônia, a imigração para o Brasil é expressiva. Foi preciso povoar o
território para garantir o controle da região e, além disso, escravos foram trazidos da
África para satisfazer as necessidades econômicas das lavouras. Mais tarde, já no Brasil
Império, com a abolição da escravatura, imigrantes europeus encheram os portos brasileiros
para substituir a mão-de-obra e embranquecer a população. No Brasil República, a abertura
para o capital estrangeiro trouxe multinacionais para o país. Neste século XXI, as causas da
imigração são outras e decorrem dos avanços do país.
Como país emergente na economia mundial, o Brasil atrai atenções de diversos
setores, como moda e tecnologia. A crise que a Europa e os Estados Unidos vivenciam hoje
atrai ainda mais imigrantes, confiantes na estabilidade econômica e chances de progresso.
Até os brasileiros que saíram do país em busca de melhores condições estão retornando por
acreditarem no potencial brasileiro. Por isso, é preciso aproveitar o momento oportuno, que
traz vantagens econômicas e trocas culturais. Como mostra o passado, os imigrantes
podem favorecer o desenvolvimento e o futuro promete ainda mais pessoas vindo para o
Brasil.
54

A certeza de que a migração oferecerá impacto econômico e social para o Brasil é


reforçada pelos eventos importantes que terão sede no país: a Copa do Mundo e as
Olimpíadas. A infraestrutura para a recepção dessas pessoas está sendo montada e, se tiver
sucesso no comando desses eventos, os efeitos serão benéficos para a economia e para a
sociedade.
O Brasil é destino cobiçado na mente de empresários, trabalhadores e turistas hoje.
Para aproveitar esse momento, o governo deve inserir esses imigrantes no mercado de
trabalho, aproveitar sua qualificação e incentivar o intercâmbio cultural. Dessa forma, a
herança das imigrações será bem utilizada.

ANEXO J - REDAÇÃO VIII

Redação de ADRIEL REGO BARBOSA, Teresina/PI

O fluxo imigratório para o Brasil vem se acentuando desde a década de noventa,


devido a melhorias nos campos sociais e econômicos, os quais eram os principais fatores de
emigração, ou seja, de saída do país. Apesar de estimular o respeito à diversidade cultural,
além de outros benefícios, a imigração exige atenção, pois caso negligenciada, poderá
ocasionar problemas sociais.
A principal causa para tal movimento é o progresso econômico do Brasil,
confirmado pela liderança do bloco financeiro sulamericano, o Mercosul. Além disso, como
consequência do crescimento econômico, as condições sociais melhoraram, como a
expectativa de vida, as quais também são resultado das políticas assistenciais do governo,
como o Bolsa-família. Com isso, grande parte da população que emigrava, em busca de
melhores condições de vida, permanece no país. Paralelamente, as dificuldades econômico-
sociais de outros países, como o Haiti, abalado pelo terremoto ocorrido em 2010, estimulam
a entrada de estrangeiros no Brasil.
Além disso, a globalização, fenômeno de interdependência entre as nações, facilita
a imigração. Como nenhuma produz todos os bens e alimentos dos quais necessita, os
fluxos comerciais e de trabalho aumentam. Um exemplo é a migração de cientistas e
engenheiros estrangeiros para os pólos tecnológicos paulistas. Além disso, a globalização
também se caracteriza pelos progressos nas telecomunicações e nos transportes, mais
rápidos e acessíveis, facilitando os deslocamentos. Nesse sentido, o Brasil é favorecido, com
a entrada de mais indivíduos na população economicamente
ativa, e com a interação de sua sociedade com novas culturas, respeitando as diferenças.
Contudo, apesar de tais benefícios, o fluxo imigratório pode ser prejudicial. Um
exemplo, verificado principalmente na fronteira com a Bolívia, é o tráfico de drogas, o qual
é facilitado. Além disso, doenças podem ser trazidas, vitimando brasileiros. Outra questão
55

problemática é a adaptação à língua portuguesa, o que pode dificultar a garantia de


trabalhos dignos. Com isso, pode aumentar a informalidade, bem como a criminalidade.
Tal situação se agrava quando a imigração é ilegal, pois dificulta a atuação do Estado
brasileiro.
Desse modo, percebe-se que boa parte de tais problemas pode ser solucionada a partir
da integração do migrante à sociedade, de forma plena. No caso da sociedade civil, faz-se
importante recepcionar bem os estrangeiros, o que pode ser conseguido com festas ou
encontros públicos, que facilitam a interação e o aprendizado da língua portuguesa.
Quanto ao Estado, é importante garantir a dignidade dos empregos, aplicando as
dirigências da Consolidação das leis do trabalho (CLT), além de fiscalizar regiões de
fronteiras, combatendo o tráfico de drogas.

ANEXO K - REDAÇÃO IX

Brasil: Um país do mundo inteiro

Desde o século XVI, quando os primeiros colonizadores chegaram ao Brasil, na época


das Grandes Navegações, o país é caracterizado pela constante entrada de imigrantes. Ao
longo dos séculos XIX e XX, em virtude das unificações alemã e italiana e das grandes
Guerras Mundiais, respectivamente, espanhóis, japoneses, italianos e alemães chegaram ao
Brasil e formaram um grande exército de reserva, cuja mão de obra foi fundamental para
nosso desenvolvimento industrial. Entretanto, a imigração não parou de ocorrer com o fim
dos conflitos. Assim, é necessário entender suas implicações e utilizá-las da melhor forma
possível.
O tradicional eixo migratório mundial é de pessoas do “Sul pobre” em direção a
países do “Norte rico”. Contudo, no século XXI, tem-se destacado a migração Sul-Sul, dos
países periféricos para aqueles emergentes (como o Brasil, que se tornou a sexta economia
do mundo, em 2011). Há duas importantes explicações para esse fato. Uma delas é a crise
econômica de 2008, que abalou fortemente os países desenvolvidos e tem feito com que os
imigrantes optem pelos países em desenvolvimento. Os B.R.I.C.S., por exemplo, tornaram-
se atrativos pólos econômicos para quem busca melhores condições de vida e oportunidades
de crescimento profissional.
A outra explicação para a migração Sul-Sul é a maior proximidade física e cultural
entre os países sulistas. Uma prova disso é a grande quantidade, no Brasil, de
latinoamericanos, vindos do Haiti, da Bolívia e do Paraguai. A presença desses
estrangeiros em território brasileiro pode acarretar conflitos sociais, decorrentes de
preconceitos raciais e xenofobismo, principalmente, mas pode também ser de grande valor
para a economia e para a cultura do país. As duas avaliações extremas separam-se pela
forma como a sociedade brasileira se comporta diante dos que são diferentes e das políticas
públicas de gerenciar a entrada e a permanência desses imigrantes no Brasil.
56

Como a tendência do movimento imigratório para o Brasil é aumentar (devido ao


crescimento do país), a melhor maneira de conviver com esse fato é interpretá-lo de maneira
positiva. Os imigrantes, por exemplo, muitas vezes são qualificados (como aqueles vindos
da classe média haitiana), e podem suprir a necessidade do Brasil nessa área. O governo
precisa proporcionar aos estrangeiros condições de vida e de trabalho adequadas, o que
movimentaria a economia e contribuiria para nossa imagem no exterior. Quanto à
população, cabe a ela receber os imigrantes da melhor forma possível, com grande respeito
às suas peculiaridades e culturas, de modo a deixar bem clara a verdade de que o Brasil é,
de fato, um país de todos.

ANEXO L - REDAÇÃO X

O mundo sofre mudanças socio-economicas periódicamente seja por motivos


naturais ou incidências políticas. De forma sazonal elas influenciam bastante a migração
mundial.
O Brasil que tem suas origens compostas basicamente por colonos imigrantes
ainda registra, de forma mais moderada, imigrações de várias partes do planeta.
Nos séculos passados esse fenômeno contribuiu para o desenvolvimento de nosso
sistema industrial e consequentemente para a formação de nossa cultura nos tornando,
hoje, uma das principais economias mundiais.
A imigração para o Brasil é praticamente motivada pelo potencial econômico
apresentado pela mídia internacional. Pessoas de países menos desenvolvidos acreditam
que aqui poderão atingir estabilidade financeira e melhores condições de vida. A grande
maioria desses imigrantes são originários da américa latina.
Infelizmente o nosso poder público não tem conseguido manter controle e
fiscalização. O crescimento da imigração é maior que a capacidade de implantação de
políticas de controle.
Haja vista a dimensão territorial do país, se faz necessário, e até de forma
agressiva, a manutenção e criação de métodos de controle, não para coibir ou proibir mas
simplesmente para garantir a cidadania para aqueles que desejem contribuir para o
crescimento do país.

Вам также может понравиться