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ISBN 85-7304-126-9
Impresso no Brasil
I. O TEMA: A IGREJA
A. O Corpo
O tema desse livro é a igreja. Efésios abrange sete
aspectos dela, dos quais o primeiro é a igreja como o
Corpo de Cristo, a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas. Para que uma pessoa viva
seja completa, deve ter um corpo como expressão. O
Corpo de Cristo é a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas.
O termo “plenitude” tem sido mal empregado,
mal entendido e mal aplicado pelos cristãos de hoje. A
maioria dos mestres cristãos confunde plenitude com
riquezas. Assim, quando os cristãos falam da
plenitude de Cristo, acham que isso quer dizer as
riquezas de Cristo. (Contudo, embora muitos falem
da plenitude do Espírito Santo ou da plenitude de
Deus, poucos falam da plenitude de Cristo). De
acordo com o livro de Efésios, a palavra plenitude não
quer dizer riquezas; significa expressão. O termo
“riquezas de Cristo” é encontrado . em 3:8, e o termo'
“plenitude” é encontrado em 1:23 e 4:13. O capítulo 1
menciona a plenitude Daquele que a tudo enche em
todas as coisas, e o capítulo quatro fala da medida da
estatura da plenitude de Cristo. De acordo com 4:13, a
plenitude tem uma estatura, e a estatura tem uma
medida. Visto que temos um corpo, todos temos uma
estatura. Se fôssemos uma cabeça sem corpo, não
teríamos estatura. A plenitude de Cristo é o Corpo,
pois 4:13 diz que essa plenitude tem uma estatura
com uma medida. Assim, temos a medida da estatura
da plenitude de Cristo.
Essa plenitude é diferente das riquezas. As
riquezas não têm estatura. Mas como Corpo a
plenitude tem estatura, que, por sua vez, tem uma
medida. Assim, isso é prova contundente de que a
plenitude de Cristo não são as riquezas de Cristo;
antes, é o Corpo de Cristo.
É importante saber por que o Corpo de Cristo é
chamado de plenitude. Isso é bastante significativo. O
corpo de uma pessoa é simplesmente a plenitude
dessa pessoa, e essa plenitude é sua expressão.
Quando falo, movo meu corpo. Desse modo, meu ser
se expressa por meio do meu corpo. De modo
semelhante, a igreja é o Corpo de Cristo, e esse Corpo
é a plenitude Daquele que a tudo enche em todas as
coisas. Como isso é profundo! Todo o universo é
preenchido com Cristo. Como Aquele que a tudo
enche em todas as coisas, Cristo é sobremaneira
grandioso. Tal Pessoa grandiosa necessita de um
Corpo grandioso. Esse Corpo é a igreja. Portanto, a
igreja é o Corpo de Cristo, Sua plenitude.
As riquezas de Cristo podem ser comparadas a
todos os ricos alimentos produzidos em um país.
Essas riquezas não visam a exibição, mas a nutrição.
À medida que comemos esses ricos alimentos, essas
riquezas parecem desaparecer em nós. Quando são
digeridas e assimiladas, tomam-se parte de nós.
Como resultado, não são mais as riquezas, e, sim, a
plenitude. Assim, os robustos jovens desse país, que
assimilam os seus ricos alimentos, são a plenitude do
país. Por meio dessa ilustração podemos diferenciar
riquezas de plenitude. As riquezas são o alimento
ainda não ingerido. Mas, quando o alimento é
ingerido, digerido e assimilado, toma-se a plenitude.
As riquezas de Cristo são todos os itens do que Cristo
é. Quando as digerimos e assimilamos, elas se tomam
parte de nós, e nos tomamos a plenitude de Cristo.
Desse modo, a igreja é o Corpo de Cristo, a plenitude
da Pessoa universalmente grandiosa que a tudo enche
em todas as coisas. Esse é o primeiro item ou aspecto
do que a igreja é.
B. O Novo Homem
Em segundo lugar, a igreja é o novo homem
(2:15). No universo há somente um novo homem;
portanto, a igreja é o novo homem. Há uma diferença
significativa entre o Corpo e o novo homem. O Corpo
requer somente vida, mas o novo homem requer
tanto a vida como a pessoa, ou personalidade. Meu
corpo tem vida, mas meu ser como um homem tem
uma pessoa. A igreja é não somente o Corpo de Cristo
que possui a vida de Cristo; é também o novo homem
que tem Cristo como pessoa. Sem dúvida, esse novo
homem é corporativo, pois 2:15 diz que Cristo criou
de dois povos, os judeus e os gentios, um novo
homem. Isso quer dizer que de dois povos,
coletivamente, criou-se um só novo homem. Se
virmos que a igreja hoje é não somente o Corpo, mas
um homem com uma pessoa, nossa percepção da vida
da igreja será elevada.
C. O Reino
Em 2:19 vemos que a igreja é o reino de Deus.
Esse versículo diz: “Assim já não 'sais estrangeiros e
peregrinos, mas concidadãos dos santos”. O termo
concidadãos indica um reino, pois ser concidadão
refere-se a participar de certos direitos civis, e
direitos civis estão sempre relacionados com uma
nação ou reino. Assim, esse versículo revela que a
igreja é o reino de Deus, e que somos os cidadãos
desse reino, com certos direitos civis. À medida que
desfrutamos esses direitos, devemos também
compartilhar as responsabilidades. Portanto, a igreja
é o reino de Deus com direitos e responsabilidades. Se
quisermos os direitos, devemos também assumir as
responsabilidades. Algumas vezes, no entanto, talvez
desejemos desfrutar os direitos sem assumir as
responsabilidades. Mas devemos participar de
ambos, compartilhando os direitos e assumindo as
responsabilidades. Essa é a igreja como o reino de
Deus.
D. A Família de Deus
Em quarto lugar, a igreja é a família de Deus
(2:19). A família não é uma questão de direitos civis,
e, sim, de vida e desfrute. Em sua casa você não fala
muito sobre direitos, pois lá você tem a vida do pai e o
desfrute da vida dele. Assim, a igreja como casa ou
família de Deus refere-se à vida e desfrute: Muitos
santos gostam da vida da igreja como família, mas
não da vida da igreja como reino. Isso quer dizer que
desejam sempre ter uma situação boa, um desfrute
maravilhoso. Mas não podemos permanecer sempre
em casa; precisamos passar várias horas por dia fora
dela para ganhar a vida. Devemos ter não somente o
desfrute da família, mas também a responsabilidade
do reino. A igreja não pode ser sempre uma família;
ela deve ser também o reino de Deus. Contudo, estou
feliz porque na igreja como família de Deus temos
vida e desfrute.
E. A Habitação de Deus
Em 2:21 e 22 vemos que a igreja é também o
lugar em que Deus habita. O versículo 21 diz que todo
o edifício cresce \ para santuário no Senhor. Isso se
refere à edificação universal. O versículo 22 diz que os
santos em Éfeso são edificados juntamente para
habitação de Deus no espírito. Essa é a edificação
local. Universalmente a igreja é o templo do Senhor,
enquanto localmente é a habitação de Deus em nosso
espírito.
G. O Guerreiro
Finalmente, Efésios 6 revela que a igreja é o
guerreiro, um lutador corporativo. Um exército é
composto de muitos soldados, mas um guerreiro é
simplesmente uma pessoa. A igreja é o novo homem,
e esse novo homem é um guerreiro. Toda a armadura
de Deus citada no capítulo 6 não se destina ao cristão
individual, mas a toda a igreja como novo homem.
Como guerreiro, a igreja lida com o inimigo de Deus e
o derrota.
Se reunirmos esses sete aspectos, veremos uma
figura maravilhosa da igreja como Corpo para
expressar Cristo, como novo homem que toma Cristo
como sua pessoa, como reino com direitos e
responsabilidades, como família com vida e desfrute,
como habitação de Deus para que Ele viva nela, como
noiva para a satisfação de Cristo, e como guerreiro
para lutar a batalha e derrotar o inimigo, a fim de que
Deus realize Seu propósito eterno. Essa é a igreja.
O que a igreja faz não é tão importante quanto o
que a igreja é. Ela é o Corpo, o novo homem, o reino,
a família, a habitação, a esposa e o guerreiro. O que
fazemos não significa tanto, mas o que somos
significa muito. Em tal igreja, descrita em Efésios,
Cristo é expresso. Por meio dela, Cristo, a Pessoa, é
expresso. Em tal igreja há o reino de Deus com
direitos e responsabilidades e a família de Deus com
vida e desfrute. Ela é também a habitação de Deus, a
satisfação de Cristo e o guerreiro de Deus que luta
para Seu eterno propósito. Que igreja!
Se tivermos essa visão da igreja, perceberemos
como é pobre a situação na religião de hoje. Não
podemos achar o Corpo ou o novo homem na religião.
Além disso, não podemos achar o reino, a casa de
Deus, a habitação de Deus, a noiva de Cristo nem o
guerreiro de Deus. Como igreja, todos precisamos ser
esses sete itens. Especialmente os que assumem
responsabilidades nas igrejas precisam ter a visão da
igreja apresentada em Efésios. A igreja não é uma
escola, sociedade ou organização. Ela é o Corpo, o
novo homem, o reino, a família, a habitação, a noiva e
o guerreiro. Essa é a igreja, e é também o tema do
livro de Efésios. Pelo fato de ter tal tema, esse livro é
inesgotável.
Há, entretanto, ainda outros aspectos da igreja
encontrados no último livro da Bíblia. Em Apocalipse
vemos quatro aspectos adicionais: a igreja como
candelabro, filho varão, primícias e cidade santa.
Somente um aspecto da igreja encontrado em
Apocalipse, a noiva, corresponde aos aspectos vistos
em Efésios.
II. O CONTEÚDO
III. A CARACTERÍSTICA
O livro de Efésios tem uma característica
especial. Diferentemente de Romanos, que fala do
ponto de vista da condição dos pecadores, Efésios fala
do ponto de vista do propósito eterno de Deus. Nos
capítulos iniciais de Romanos, vemos a condição dos
pecadores. Em Romanos 1 todos os tipos de pecado
são relacionados. Mas tal lista não é encontrada no
capítulo 1 de Efésios. Isso acontece porque Efésios
fala não da condição dos pecadores, mas do propósito
eterno de Deus. Além disso, Efésios fala do ponto de
vista da eternidade, e não do tempo, e ainda das
regiões celestiais, e não da terra. Esse livro nos
introduz na eternidade. Não fique no tempo; entre na
eternidade. Visto que Efésios nos conduz às regiões
celestiais, não devemos permanecer em nossa
condição; em vez disso, devemos estar na eternidade
e nas regiões celestiais. Estamos no propósito eterno
de Deus e não devemos olhar para nossa condição.
Antes, olhemos para o propósito eterno de Deus.
Visto que somos tão presos à nossa condição e
envolvidos nela, precisamos ser resgatados. Efésios se
preocupa mais com o propósito de Deus do que com
nossa condição. Ele fala a nós do âmago do propósito
de Deus. Quando chegamos a esse livro, precisamos
orar: “Senhor, tira-me da minha condição, da terra e
do tempo. Resgata-me da minha condição t:
introduz-me na eternidade e nas regiões celestiais.
Quero entrar no coração de Deus e em Seu propósito
eterno”.
Muitos anos atrás eu lia Efésios como se eu fosse
um sapo em um poço estreito. Tentava entendê-lo a
partir da minha posição no poço. Mas não conseguia.
Para entender esse livro, precisamos ser libertos de
nossa condição e introduzidos no propósito eterno de
Deus e nas regiões celestiais. Se lermos Efésios a
partir de tal posição, nossa leitura será diferente. A
característica específica e particular desse livro é que
ele foi escrito do ponto de vista da eternidade, das
regiões celestiais, do coração de Deus e do propósito
eterno de Deus.
IV. A POSIÇÃO
Efésios tem uma posição específica na ordem dos
livros do Novo Testamento. Seria muito estranho se
fosse o primeiro deles. Louvado seja o Senhor por
tê-lo colocado na posição correta, imediatamente
após a revelação a respeito de Cristo versus religião
(Gálatas), seguido pela experiência prática de Cristo
(Filipenses), e que conduz à Cabeça (Colossenses)!
V. O AUTOR
Agora precisamos considerar o autor desse livro.
Como todos sabemos, o autor é o apóstolo Paulo.
Efésios 1:1 diz: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por
vontade de Deus”. Ele foi feito apóstolo de Cristo não
por homens, mas mediante a vontade de Deus, de
acordo com a Sua economia. Pelo fato de não ser um
apóstolo autodesignado, mas por meio da vontade de
Deus, Paulo tinha a autoridade proveniente da
vontade de Deus. Essa posição deu a ele autoridade
para anunciar nessa Epístola a revelação do propósito
eterno de Deus em relação à igreja. A igreja é
edificada sobre essa revelação (2:20). Ser apóstolo de
Cristo refere-se à sua posição, enquanto ser apóstolo
por meio da vontade de Deus refere-se à sua
autoridade. Como tal apóstolo, Paulo foi o autor desse
livro.
VI. OS DESTINATÁRIOS
A. Os Santos em Éfeso
, A última parte de 1:1 e 2 diz: “Aos santos que
vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós
outros e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor
Jesus Cristo”. Os destinatários desse livro eram os
santos em Éfeso. Isso se refere à posição deles. Os
santos são aqueles que são santificados, separados
para Deus de tudo que é comum.
C. Graça e Paz
Entre o autor e os destinatários havia a
comunicação de graça e paz (l:2). Graça e paz fluíam
do autor para os destinatários. Não havia fofoca,
crítica, acusação ou condenação; antes, havia graça e
paz.
A. Toda Sorte de
As palavras “toda sorte de” indicam a
todo-inclusividade das bênçãos de Deus. Tudo está
incluído, sem exceção.
B. Espiritual
Todas essas bênçãos são espirituais. Isso indica a
relação das bênçãos de Deus com o Espírito Santo.
Sendo espirituais, todas as bênçãos com as quais
Deus nos tem abençoado estão relacionadas com o
Espírito Santo. O Espírito de Deus é não somente o
canal, mas também a realidade das bênçãos divinas.
Nesse versículo, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito
estão todos relacionados com as bênçãos concedidas
a nós. Isso é, na verdade, a dispensação de Deus de Si
mesmo a nós. A bênção de Deus é principalmente a
dispensação do Deus Triúno a nós.
D. Em Cristo
Finalmente, todas essas bênçãos espirituais estão
em Cristo. Ele é a virtude, o instrumento e a esfera
nas quais Deus nos tem abençoado. Fora de Cristo,
sem Cristo, Deus nada tem a ver conosco. Mas, em
Cristo, Ele nos tem abençoado com toda sorte de
bênçãos espirituais nas regiões celestiais.
Não estamos em nós mesmos, mas em Cristo. Se
estivermos em nós mesmos, estaremos sem a bênção
de Deus. Aleluia! estamos em Cristo, que é a esfera, o
canal, o instrumento e a virtude nos quais temos sido
abençoados!
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM TRÊS
ESCOLHIDOS PARA SER SANTOS
Nesta mensagem chegamos à eleição de Deus
(1:4), à questão de termos sido escolhidos para ser
santos.
II. NELE
Deus nos escolheu "Nele", isto é, em Cristo.
Cristo foi a esfera na qual fomos selecionados por
Deus. Fora de Cristo não somos Sua escolha.
A. Deus É Santo
Ser santo é ser separado de tudo o que não é
Deus. Também significa ser diferente, distinto de
tudo o que não é Deus. Assim, não devemos ser
comuns, mas diferentes. No universo somente Deus é
santo. Ele é diferente de tudo o mais e é distinto.
Portanto, ser santo significa ser um com Deus. Não
ter pecado ou ser perfeito não é o mesmo que ser
santo. Para que sejamos santos precisamos ser um
com Deus porque somente Ele é santo (Lv 11:44; 1Sm
2:2 ).
4. Antes da Justificação
De acordo com a doutrina, esse aspecto da
santificação vem antes da justificação (1Co 6:11). A
santificação posicional precede a justificação, mas a
santificação disposicional vem após a justificação.
Somos santificados pelo sangue, pelo Espírito Santo e
no nome do Senhor Jesus antes de ser justificados.
1. Após a Justificação
Agora chegamos à santificação disposicional, que
vem após a justificação (Rm 6:19, 22). Essa é a
santificação não apenas em nossa posição, mas
também em nossa disposição. Portanto, é mais
profunda e subjetiva que a santificação posicional.
Na santificação subjetiva somos saturados de
Deus disposicionalmente. A separação pode ocorrer
facilmente e em pouquíssimo tempo. Mas ser
saturados disposicionalmente leva muito tempo. Se
formos fiéis ao Senhor, seremos saturados da
natureza de Deus dia após dia. Ele deseja saturar-nos
Dele mesmo, e nós necessitamos absorvê-Lo em
nosso ser. Isso requer tempo. Esse é o processo de ser
feito santo.
Deus nos escolheu para saturar-nos Dele mesmo;
Ele deseja trabalhar-Se em nosso ser. Então seremos
santos, assim como Ele é. No momento, todos
estamos no processo de saturação. Tenho estado
nesse processo por mais de cinqüenta anos, e ainda
estou nele, ainda absorvendo Deus dia após dia. Às
vezes minha esposa ou os irmãos ajudam-me a
absorvê-Lo. Eles me ajudam a estar disposto a isso,
inclusive quando em mim mesmo eu não esteja
disposto. Assim, quer eu esteja disposto ou não, o
Senhor faz com que eu seja saturado Dele e O
absorva. Muitos de nós que estiveram no cristianismo
por anos podem testificar que, enquanto estávamos
lá, não experimentamos muito dessa saturação. Mas,
desde que viemos para a vida da igreja, temos tido
Deus mais e mais infundido em nós. A vida da igreja é
uma vida de ter Deus infundido em nós. Quer
estejamos dispostos ou não, o elemento divino tem
sido infundido em nós.
Não me preocupo com a correção exterior; ela
nada significa. Ser saturado de Deus e tê-Lo
infundido em nós, no entanto, significa muito. Na
vida da igreja, você tem sido corrigido ou saturado?
Muitos de nós têm sido saturados de Deus. Não gosto
da autocorreção. Suponha que alguém seja orgulhoso
e se ajuste para ser humilde. Isso nada significa. A
única coisa que importa é ser saturados de Deus. Que
alegria é para mim ver que muitos irmãos têm sido
saturados de Deus, têm absorvido tanto Dele em si!
Essa é a santidade, a santificação, revelada na Bíblia.
Todos fomos escolhidos para ser santos desse
modo. Primeiramente, somos separados para Deus;
em segundo lugar, somos saturados Dele; por fim,
tornamo-nos um com Ele. Um dia, seremos como Ele.
Isso marcará a finalização da nossa santificação, o
processo que começa com a separação, continua com
a saturação e é completado com a plena redenção do
nosso corpo. Nesse tempo, desde o interior até o
exterior, seremos o mesmo que Ele é. Seremos santos.
É para esse propósito que fomos escolhidos por Deus
antes da fundação do mundo.
2. Pela Transformação da Alma
A santificação disposicional primeiramente
transforma nossa alma saturando cada parte de nosso
ser interior do elemento santo de Deus (2Co 3:18; Rm
12:2).
V. SEM MÁCULA
O versículo 4 também diz que fomos escolhidos
Nele para ser irrepreensíveis, sem mácula. Uma
mácula é como uma partícula estranha em uma jóia
preciosa. Os escolhidos de Deus devem ser saturados
somente do próprio Deus e não ter nenhuma
partícula estranha, tais como o elemento do homem
natural caído, a carne, o ego ou coisas mundanas. Isso
é ser sem mácula, sem qualquer mistura, e não ter
nenhum elemento além da natureza santa de Deus.
Após ser totalmente lavada pela água na Palavra, a
igreja será santificada desse modo (5:26-27).
Hoje, ainda temos muita mistura. Muitas
partículas estranhas, tais como a carne, o ego e a vida
natural, ainda estão em nós. Mas estamos sendo
gradualmente transformados. Portanto, por fim,
seremos tão santos e puros que não teremos mácula
alguma, estaremos sem nenhuma partícula externa,
tendo somente o elemento divino.
VII. EM AMOR
Finalmente, seremos santos e sem mácula
perante Ele em amor2. Amor aqui refere-se ao amor
com o qual Deus ama o? Seus escolhidos e com o qual
os Seus escolhidos O amam. E nesse amor, em tal
amor, que os escolhidos de Deus tomam-se santos e
sem mácula perante Ele. Primeiramente, Deus nos
amou. Então esse amor divino nos inspira a amá-Lo,
Em tal condição e atmosfera de amor, somos
saturados de Deus para ser santos e sem mácula
como Ele é. Nesse amor, um amor mútuo, Deus nos
ama, e retomamos esse amor a Ele. É nessa condição
que somos transformados. Sob tal condição somos
saturados de Deus.
Espero que vejamos que a santidade revelada na
Bíblia é absolutamente diferente da que é encontrada
2
A VRA faz da expressão em amor um adjunto do verbo predestinar (“E em amor nos predestinou”), em
Ef 1:5; outras versões fazem da expressão um adjunto do verbo ser, no v. 4., como a VRC (“Para que
fôssemos santos (...) em caridade”) e BJ (“Para sermos santos (...) no amor”). (N.T.)
nos ensinamentos de hoje com respeito à
autocorreção e melhora de comportamento.
Primeiramente, somos separados para Deus e então
somos continuamente saturados Dele até que toda a
mistura em nós seja tragada pela natureza divina.
Quando isso acontecer em plenitude, seremos
inteiramente santificados, transformados e
conformados à imagem do Filho de Deus, Jesus
Cristo. Então seremos completamente santos.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM QUATRO
PREDESTINADOS PARA A FILIAÇÃO
Nesta mensagem chegamos à questão de que
fomos predestinados para a filiação. Efésios 1:5 diz:
“Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de
sua vontade” 3 . Na construção gramatical dos
versículos 4 e 5, o sujeito de escolher, no versículo 4, e
predestinar, no 5, é o mesmo. O versículo 4 diz:
“Assim como nos escolheu nele antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
ele; e em amor”. Esses versículos podem ser escritos
da seguinte maneira: “Assim como Ele, tendo nos
predestinado, escolheu-nos”. A escolha de Deus não
pode ser separada de Sua predestinação. São dois
aspectos de um só item. A escolha de Deus
acompanha a Sua predestinação, e esta é uma com
Sua escolha. É muito difícil dizer qual vem primeiro.
O ALVO CONSUMADO
Muitos cristãos nunca perceberam que Deus nos
escolheu, predestinou, redimiu, perdoou e agraciou
para o propósito de encabeçar todas as coisas em
Cristo. Você já percebeu que foi escolhido e
predestinado para que Deus encabece todas as
coisas? Já considerou o fato de que Deus o redimiu e
perdoou seus pecados a fim de encabeçar todas as
coisas? Os cristãos podem saber muito sobre a
escolha e a predestinação de Deus sem saber corno
esses itens se relacionam ao encabeçamento de todas
as coisas em Cristo. Nós mesmos podemos não ter
clareza sobre isso. Estamos acostumados a dizer que
o alvo de Deus não é nem a santidade nem a
espiritualidade, e, sim, a igreja. Mas o alvo final não é
nem mesmo a igreja; é o encabeçamento de todas as
coisas em Cristo. Sim, a igreja é o alvo, mas não o alvo
final, no último estágio. Ela é o alvo no primeiro
estágio. O alvo final é o encabeçamento de todas as
coisas em Cristo. Esse conceito é encontrado somente
em Efésios 1:10, e em nenhum outro versículo na
Bíblia.
Deus fez Cristo o Cabeça sobre todas as coisas (v.
22). Através de todas as dispensações de Deus em
todas as eras, todas as coisas serão encabeçadas em
Cristo no novo céu e nova terra. Essa será a eterna
administração e economia de Deus.
A IGREJA COMPARTILHA DO
ENCABEÇAMENTO DE CRISTO
A fim de encabeçar todas as coisas em Cristo,
Deus primeiramente encabeça os Seus escolhidos.
Portanto, a vida da igreja é uma vida de ser
encabeçado. Efésios 1:22 e 23 dizem: “E pôs todas as
coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre
todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a
plenitude daquele que a tudo enche em todas as
coisas”. O versículo 22 diz que Deus deu Cristo para
ser o Cabeça sobre todas as coisas. Isso indica que Ele
é não somente o Cabeça da igreja, mas de todas as
coisas. Deus deu Cristo à igreja para ser o Cabeça
sobre todas as coisas. A pequena palavra “à” implica
transmissão; indica que o encabeçamento de Cristo é
transmitido à igreja. Isso significa que, em certo
sentido, podemos compartilhar do encabeçamento de
Cristo sobre todas as coisas. Embora não sejamos o
cabeça, podemos partilhar do encabeçamento. Em
outras palavras, não somos o rei, mas podemos
partilhar do reinado.
A igreja pode partilhar do encabeçamento de
Cristo porque é o Corpo de Cristo. O Rei é não
somente o Cabeça, mas a Cabeça com o Corpo. Cristo
é não somente a Cabeça, mas também o Corpo (1Co
12:12). Visto que a igreja é o Corpo e Cristo é tanto a
Cabeça como o Corpo, podemos dizer que, em certo
sentido, nós, o Corpo, também somos Cristo. Embora
não sejamos a Cabeça, podemos partilhar do
encabeçamento de Cristo. Somos o Corpo da Cabeça,
e a Cabeça é o cabeça sobre todas as coisas. Somos
não apenas cabeça sobre os insetos, gatos e cães, mas
também sobre presidentes, reis, generais e grandes
industriais. Estamos acima de todos eles. O
presidente da República está acima de nós, ou
estamos acima dele? Em um sentido bastante real,
estamos acima dele. Ao dizer isso, não promovo
nenhuma revolução; simplesmente relato o fato
espiritual de que nós, os membros do Corpo de
Cristo, estamos acima de todas as coisas. A igreja não
está sujeita a nada a não ser ao próprio Cristo;
estamos sobre tudo o mais porque somos o Corpo
Daquele que está sobre todas as coisas. Você tem a
confiança de dizer que está acima do Presidente da
República e da Rainha da Inglaterra? Provavelmente
não. Contudo, posso dizer sinceramente que, se fosse
levado à presença do Presidente da República, teria o
sentimento de que estou acima dele. Ao dizer isso,
não sou orgulhoso; simplesmente estou ciente do fato
espiritual.
O AMONTOADO DE DESMORONAMENTO
A razão pela qual você pode não ter a confiança
com relação a isso é que você mesmo não está
encabeçado. Foi salvo e veio para a igreja, mas não foi
ainda encabeçado. Pelo contrário, ainda está no
amontoado universal do desmoronamento, o
desmoronamento no universo causado pela rebelião.
Devido às duas rebeliões, a dos anjos e a humana,
todo o universo está em estado de desmoronamento.
Aos olhos de Deus não há ordem na terra; em vez
disso, há um amontoado causado pelo
desmoronamento. Suponha que um alto edifício
desmorone de repente, desmanchando-se em um
amontoado de escombros. Nesse amontoado algumas
partes são mais altas que outras. De modo
semelhante, no desmoronamento causado pela
rebelião, algumas pessoas, tais como o Presidente ou
outros chefes de Estado, estão acima de outros. No
desmoronamento o Presidente da República está, é
lógico, mais elevado do que nós. Contudo, todos os
líderes mundiais ainda estão no desmoronamento.
Posso testificar que, pela graça do Senhor, não
estou mais no desmoronamento; fui resgatado dele.
Ser resgatado do desmoronamento é ser encabeçado.
Aleluia, fui encabeçado! Uma vez encabeçado em
Cristo, fui retirado do amontoado causado pelo
desmoronamento universal. Portanto, sou mais
elevado do que os que permanecem no
desmoronamento. Você foi encabeçado em Cristo?
Foi resgatado do amontoado da rebelião? Todos
precisamos ser libertos do desmoronamento e
encabeçados em Cristo.
Todo o universo é um amontoado de
desmoronamento causado pela rebelião. Deus criou o
universo em excelente ordem, mas um arcanjo, o
cabeça da era anterior a Adão, rebelou-se e tornou-se
Satanás (ver Is 14). A rebelião de Satanás causou o
primeiro desmoronamento no universo. Em Gênesis 1
Deus veio para restaurar a criação arruinada por essa
rebelião. Na verdade, o principal registro do capítulo
1 de Gênesis não é a criação, e, sim, a restauração. No
universo restaurado, Deus criou o homem e fez dele o
cabeça da criação. Mas esse homem, Adão, caiu. Essa
foi a segunda rebelião que levou ao segundo
desmoronamento. Como resultado dessas duas
rebeliões, todo o universo tomou-se um amontoado
de desmoronamento. Novamente digo, nesse
amontoado algumas pessoas são mais elevadas que
outras, mas todas permanecem no desmoronamento.
PELA LUZ
O encabeçamento na vida da igreja também
ocorre por meio da luz (Ap 21:23-25). Essa luz,
logicamente, não é a luz do conhecimento, mas da
vida. João 1:4 diz: “Nele estava a vida, e a vida era a
luz dos homens”. A luz aqui brilha a partir da vida na
qual crescemos. Quando crescemos em vida, temos a
luz da vida. Sob essa luz, tudo é mantido em ordem.
Se em vez de vida e luz tivermos morte e trevas, ainda
estaremos no desmoronamento. Onde quer que a
morte e as trevas estejam, aí haverá
desmoronamento. Toda a sociedade humana,
incluindo o cristianismo de hoje, nada mais é que
morte e trevas, e, portanto, um amontoado do
desmoronamento. Mas, visto que estamos cheios de
vida e sob a luz, não somos um desmoronamento.
Visto que estamos na vida e que todos os nossos
passos estão na luz, não há confusão. Embora o
cristianismo de hoje seja um amontoado de
desmoronamento em morte e trevas, nós na vida da
igreja estamos na vida e sob a luz. Com vida e luz
somos encabeçados.
Vimos que a igreja é a primeira a ser encabeçada
em Cristo. Por fim, virá o milênio, e, após ele, o novo
céu e nova terra com a Nova Jerusalém, nos quais
todas as coisas serão encabeçadas em Cristo. Na Nova
Jerusalém não haverá morte nem noite. Antes, tudo
estará saturado de vida e sob a luz. Com a Nova
Jerusalém como centro, tudo no novo céu e nova
terra estará encabeçado. Nesse tempo Efésios 1:10
será completamente cumprido. Então perceberemos
que Cristo é o Cabeça sobre todas as coisas para a
igreja, a qual é o Seu Corpo, a plenitude Daquele que
a tudo enche em todas as coisas. Hoje, na vida da
igreja, nós tomamos a frente para ser encabeçados em
Cristo. Para isso, precisamos crescer em vida e ter a
luz da vida.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM NOVE
ENCABEÇAR TODAS AS COISAS EM CRISTO (2)
Nesta mensagem falaremos um pouco mais sobre
o encabeçamento de todas as coisas em Cristo.
Efésios 1:9-1 O diz: “Desvendando-nos o mistério da
sua vontade, segundo o seu beneplácito que
propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na
dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas,
tanto as do céu, como as da terra”. O vocábulo
“beneplácito” no versículo 9 quer dizer “bom prazer”,
o verbo grego “fazer convergir” no início do versículo
10 pode também ser traduzido por “encabeçar” e o
termo “na dispensação” pode ser traduzido por “a fim
de ter uma dispensação”. Assim, esse trecho pode ser
traduzido por “segundo o Seu bom prazer que
propusera em Si mesmo de encabeçar em Cristo, a
fim de ter uma dispensação da plenitude dos
tempos”.
A dispensação que Deus propôs em Si mesmo é
encabeçar todas as coisas em Cristo na plenitude dos
tempos. Os tempos referem-se às eras. Quando
chegar o novo céu e nova terra, após a completação de
todas as dispensações de Deus em todas as eras,
haverá a plenitude dos tempos. A palavra
“dispensação” é também encontrada em 3:2: “Se é
que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça
de Deus a mim confiada para vós outros”. A
dispensação da graça de Deus significa a
administração da graça de Deus.
AS QUATRO ERAS
Na Bíblia há quatro eras. João 1:17 diz: “Porque a
lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a
realidade vieram por meio de Jesus Cristo”. A lei
relaciona-se a Moisés; a graça refere-se a Jesus
Cristo. Duas eras estão implícitas aqui: a da lei e a da
graça. Quando Moisés foi levantado houve o início da
era da lei; quando Cristo veio houve o início da era da
graça. Romanos 5 menciona Adão e Moisés (v. 14). O
pecado refere-se a Adão e, como vimos, a lei refere-se
a Moisés. Temos, portanto, três pessoas: Adão,
Moisés e Cristo, e três coisas: pecado, lei e graça.
Adão relaciona-se ao pecado, Moisés, à lei, e Cristo, à
graça. Isso indica que, desde Adão até a segunda
vinda de Cristo, há três eras: a do pecado, a da lei e a
da graça.
Muitos de vocês estão familiarizados com o
ensinamento teológico das sete dispensações: da
inocência, da consciência, do governo humano, da
promessa, da lei, da graça e do reino. Não é errado
dizer que há essas sete dispensações. Mas, de acordo
com o registro da Bíblia, podemos dizer que antes do
milênio há somente três eras, a de Adão, a de Moisés
e a de Cristo. Após a era da graça virá a do reino;
serão os mil anos do reino celestial na terra. Portanto,
há ao todo quatro eras: a do pecado, a da lei, a da
graça e a do reino.
Essas quatro eras são os tempos. Antes que a
primeira delas começasse não havia tempo, e, sim, a
eternidade passada; e depois delas não existirá mais
tempo; haverá a eternidade futura. Entre as duas
eternidades, a passada e a futura, há quatro eras,
quatro tempos. O tempo de Adão foi de pecado, o de
Moisés foi da lei, o tempo de Cristo é da graça e o do
milênio será do reino. Quando esses quatro tempos
forem cumpridos virá a plenitude dos tempos, a
completação das eras. As eras de Adão e de Moisés já
foram completadas, a da graça está em andamento e a
do milênio ainda não começou. Após o término da
quarta era haverá uma dispensação chamada por
Paulo de a plenitude dos tempos.
Quando Paulo estava na terra havia uma
dispensação, que ele chamou de dispensação da graça
(3:2). Não somente em seu tempo houve uma
dispensação; cada era teve a sua: a de Adão, a da lei e
a da graça, assim como certamente haverá uma na era
vindoura do reino. Na plenitude das eras haverá a
dispensação final e máxima.
O SIGNIFICADO DE DISPENSAÇÃO
Agora precisamos compreender o que é
dispensação. De acordo com certo ensinamento,
dispensação refere-se a uma-: era. Esse
entendimento, porém, não é exato. Outro
ensinamento diz que dispensação refere-se à maneira
de Deus lidar com Seu povo em certo período. Por
exemplo, na dispensação da inocência Deus lidava
com o homem de uma maneira, enquanto na
dispensação da consciência relacionava-se com ele de
outra maneira. Do mesmo modo, Deus lida com as
pessoas de diferentes maneiras nas eras do governo
humano, da promessa, da lei, da graça e do reino.
Esse entendimento de dispensação não está errado,
mas é incompleto. Uma dispensação é o ato ou
instância de dispensar; refere-se ao ato de Deus
dispensar-Se aos Seus escolhidos. Embora tenha
estudado a questão das dispensações por muitos anos
e tenha analisado inúmeros diagramas, nunca ouvi
falar que a dispensação de Deus é Seu ato de
dispensar-Se aos Seus. Precisamos esquecer todos os
diagramas e nos lembrar de algo básico: Deus agora
Se dispensa a nós.
A DISPENSAÇÃO DA VIDA
Como já enfatizamos, quando Satanás, o poder
da morte, injetou-se no homem, Satanás tomou-se
morte e trevas para o homem. A morte traz
corrupção, e as trevas trazem confusão. Seu objetivo
era corromper a criação de Deus e causar confusão.
Mas, louvado seja o Senhor, pois onde há abundância
de morte, há superabundância de vida! Após Satanás
ter vindo para mortificar, Deus veio para vivificar,
para dispensar vida. Onde há vida há também luz. A
morte arruína, mas a vida cura; as trevas geram
confusão, mas a luz traz a ordem adequada.
Precisamos ter em mente que Satanás veio para
mortificar a criação de Deus, e que a morte arruína e
as trevas causam confusão. Deus, contudo, veio para
vivificar a criação mortificada e trazer ordem. Nessa
ordem todas as coisas estão encabeçadas em Cristo.
A dispensação de Deus é o ato de Ele dispensar
vida aos que foram mortificados. Embora Adão
tivesse sido mortificado, Deus veio a fim de dispensar
algo de Si mesmo em Abel. Fez o mesmo com Enos e
Enoque. Não pense que, em si mesmo, uma pessoa
mortificada, Enoque fosse capaz de andar com Deus
por trezentos anos (Gn 5:22). Isso só foi possível por
meio do dispensar de Deus a ele. O mesmo aconteceu
com Noé. Ele andou com Deus e tinha muita fé pois
Deus Se dispensava a ele. Tal dispensar começou com
Abel e aumentou a cada geração. Assim, a
dispensação em Enoque foi maior do que em Enos, e
maior ainda em Noé. E, em Abraão, foi sobremaneira
maior. Atos 7:2 diz que o Deus da glória apareceu a
Abraão. Essa aparição certamente foi uma
dispensação. Ele podia ter fé em Deus porque Deus
fora dispensado a ele.
A mesma coisa ocorreu conosco quando ouvimos
o Evangelho e nos arrependemos. Ao mesmo tempo
em que nos arrependemos e confessamos nossos
pecados a Deus, Ele Se dispensou a nós, embora
talvez não estivéssemos cientes disso no momento.
Quando recordamos nossa experiência, no entanto,
percebemos que foi isso que aconteceu. No dia em
que me arrependi e confessei-a-Deus minha
pecaminosidade, algo foi dispensado ao meu ser. Eu
chorava, mas interiormente pegava fogo. Isso foi a
inspiração de Deus, bem como Sua dispensação.
Quando Deus vem inspirar-nos, Ele Se dispensa a
nós. Nada pode mudar-nos tanto como a dispensação
de Deus. Ela pode transformar um ladrão em santo,
porque dispensa a ele a natureza santa de Deus. Eu o
encorajo a buscar o Senhor por trinta minutos para
obter Sua dispensação. Nesse período, esqueça-se dos
problemas e do ambiente. Simplesmente abra-se a
Ele e confesse suas fraquezas e erros. Quanto mais
confessar, mais será aberto o caminho para Ele Se
dispensar a você.
Não importa quais termos usemos: dispensar,
inspirar, transfundir ou infundir; a experiência é a
mesma. Não me importo com terminologia;
preocupo-me com a dispensação do elemento divino
a você. Precisamos que Deus entre em nós.
Necessitamos que Seu elemento seja trabalhado em
nosso ser. Esse é o significado de dispensação.
Há falta dessa dispensação de Deus ao homem na
maioria dos cristãos de hoje. Muitos ensinam sobre as
sete dispensações, mas nunca dizem às pessoas que
uma dispensação denota Deus dispensar Sua vida e
natureza aos Seus escolhidos. Nosso encargo hoje não
é ensinar doutrina; é dispensar a vida e a natureza de
Deus ao seu povo. Por favor, não traga a este
ministério suas opiniões ou conceitos. Se o fizer, irá
desperdiçar seu tempo. Não estamos interessados em
discutir pontos ou conceitos doutrinários. Nosso
encargo é infundir Deus em você. Você pode conhecer
muita doutrina, mas ter pouquíssimo do elemento
divino. O que você precisa é a dispensação do
elemento de Deus em seu ser. Estive com os Irmãos
Unidos por anos, e por fim fiquei cansado de suas
disputas sobre doutrinas. Pode ser que não nos falte
doutrina, no entanto sejamos carentes do elemento
divino. A dispensação de Deus é infundir Seu próprio
elemento em nós.
I. COLOCADOS NO CRISTO
“ENCABEÇADOR”
A primeira parte do versículo 11 diz: “Nele, digo,
no qual fomos também feitos herança”. “Nele”
refere-se ao Cristo “encabeçador”. O versículo 10, que
fala de encabeçar todas as coisas em Cristo, contém a
palavra “nele”. E o versículo 11 começa com a palavra
“nele”. A composição de Paulo aqui é bastante
estranha e repetitiva. Contudo, ele escreveu desse
modo de propósito, a fim de enfatizar que todas as
coisas no céu e sobre a terra são encabeçadas em
Cristo. Ao enfatizar tal fato Paulo não se preocupou
com a excelência da composição. A palavra “nele”
revela que fomos colocados no Cristo “encabeçador”.
A. Predestinados
Para fazer de nós Sua herança, Deus Pai nos
predestinou para ser Seus filhos. O processo de fazer
de nós Sua herança tem como base a predestinação
eterna de Deus e está de acordo com ela. Ele agora
trabalha em nós para atingir o alvo da Sua
predestinação.
O SELO E O PENHOR
De acordo com 1:13-14 a aplicação do Espírito
tem dois aspectos: o selo e o penhor, ou, como gosto
de dizer, o selar e o penhorar. A aplicação do Espírito
é Seu ato de selar e penhorar. Na verdade, o próprio
Espírito é tanto o selo como o penhor. Ambos
envolvem ação em nós. Portanto, o selo é, na verdade,
o selar, e o penhor é o penhorar. O Espírito não é
somente um selo sobre nós, mas Ele nos sela. Ele não
é somente o penhor que garante nossa herança, mas
também aplica o penhor em nós. Nesta mensagem
consideraremos o selar do Espírito, e, na próxima, a
Sua aplicação do penhor.
UM PROCESSO CONTÍNUO
Poucos cristãos vêem que o processo de selar
ainda ocorre hoje, que não acontece uma vez por
todas. Sem dúvida, o Espírito entrou em nós uma vez
por todas, mas o selar do Espírito é um processo
contínuo. Nessa questão não nos devemos preocupar
somente com a doutrina, mas também com a
experiência. Verifique se sua experiência corresponde
à doutrina.
No momento da regeneração, o selo do Espírito
foi colocado em nosso espírito, e teve início em nós o
processo de selar, visando a redenção do nosso corpo.
Isso indica que, um dia, até mesmo nosso corpo será
selado com o Espírito; ele será saturado do Espírito
Santo.
Vimos que o selo do Espírito traz a imagem de
Deus. Quando nos arrependemos, confessamos e
oramos em nosso espírito, trazemos a imagem de
Deus. Em tais momentos as pessoas podem ver a
imagem de Deus em nós. Mas, se começarmos a
discutir sobre ensinamentos, ficará evidente que
nossa mente não traz a imagem de Deus. Quando
oramos no espírito trazemos a imagem, mas, se
discutimos na mente, não a trazemos. Nesse
momento nossa mente não traz nada do Espírito.
Além disso, ao discutir sobre doutrinas você pode
ficar irritado, mas não há nada da imagem de Deus na
sua emoção. Isso indica que o selar do Espírito ainda
não se estendeu até sua emoção. Por fim você pode
ficar tão irritado com certo irmão sobre doutrina que
decide não mais ter comunhão com ele. Você o isola
porque, na sua opinião, a doutrina que ele ensina é
errada. Você exercita sua forte vontade para terminar
a comunhão com ele. Mas em sua vontade não há
nenhuma evidência do selar do Espírito. Portanto, em
toda a sua alma (mente, emoção e vontade) não há
nenhum traço da imagem de Deus. Embora possua o
selar do Espírito no seu espírito, não o tem na sua
alma.
É difícil para o selar do Espírito Santo
espalhar-se até alcançar nossa mente problemática. E
é ainda mais difícil expandir-se até nossa vontade
teimosa. Em muitos cristãos, a luta do selar do
Espírito para aprofundar-se na mente, emoção e
vontade dura muito tempo. Se considerar sua
experiência, verá que tem havido uma luta sobre essa
questão por anos. O selar do Espírito Santo tem
lutado para permear sua mente, emoção e vontade.
Mesmo hoje devemos admitir que, provavelmente,
nossa alma ainda não foi totalmente saturada.
Mesmo que tenha sido, nosso corpo ainda não foi
selado, pois não há nele nenhum sinal da aparência
de Deus, nem expressão alguma de Sua imagem.
Contudo, o selar do Espírito Santo ainda prossegue, e
continuará a avançar até a redenção do nosso corpo.
A EXPANSÃO DO SELAR
Muitos cristãos acham que, uma vez salvos, serão
arrebatados quando o Senhor Jesus voltar. Esse é um
entendimento muito superficial da Bíblia.
Arrebatamento denota maturidade. Nenhum
fazendeiro inicia a colheita antes de a plantação
amadurecer. Se a plantação ainda estiver verde, ele
não a colherá. Somos a lavoura de Deus. Portanto, a
época da colheita depende da maturidade. Vimos em
1:13-14 que fomos selados com o Espírito Santo para
a redenção da propriedade adquirida. O selar do
Espírito Santo em nosso espírito visa à redenção do
nosso corpo. A redenção do nosso corpo depende da
expansão do selar do Espírito Santo em todo o nosso
ser. Quando isso ocorrer, poderá ser tomada uma
decisão a respeito do tempo da redenção do nosso
corpo.
O selar do Espírito não deve ser considerado algo
que ocorre uma vez por todas. Não, ele continua a
ocorrer em nós, espalhando-se em todo o nosso ser. O
Espírito Santo se move em nós, e Seu mover é Seu
selar, santificar e transformar. Quando o nosso corpo
será transfigurado? Depende de quanto do selar do
Espírito tem ocorrido em nós. Seu selar tem muito a
ver com a redenção do corpo. Isso indica que o selar
ainda ocorre, diariamente saturando nossa mente,
emoção e vontade. Quando termina o ensino
fundamental, um aluno ainda não está pronto para a
faculdade. Antes de ir para um curso superior, deve
passar pelo ensino médio. De modo semelhante, uma
vez selados com o Espírito Santo em nosso espírito,
ainda não estamos prontos para a redenção do corpo.
Antes, precisamos ser selados na mente, emoção e
vontade. Em tantas coisas ainda precisamos ser
selados pelo Espírito.
Temos enfatizado que o selar do Espírito é Seu
mover em nós. Temos em nós um selo vivo, que se
move constantemente. Após o Espírito selar uma
parte, deseja selar outra, e depois ainda outra. Ele
deseja selar cada parte de nosso ser. Até que isso se
complete, a expansão do selar continuará.
Tenho certeza de que você nunca ouviu falar que
o selar do Espírito ainda prossegue. Mas esse fato
está implícito pelas palavras “para redenção” em 1:14.
Fomos selados com o Espírito Santo para a redenção
da propriedade adquirida. Esse processo de selar
continuará até o dia da redenção. Não tome isso
meramente como doutrina, mas aplique à sua
situação. Você está sob o selar do Espírito hoje? Ele
ainda prossegue em você? Precisamos ter a certeza de
que o selar do Espírito se espalha hoje em nosso ser.
Quando todo o nosso ser tiver sido selado, estaremos
prontos para a redenção do corpo.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM TREZE
O PENHOR DA NOSSA HERANÇA
Em Efésios 1:13-14 são mencionados juntamente
o selo e o penhor do Espírito Santo. É difícil dizer
qual vem primeiro, o selo ou o penhor. De acordo
com 2 Coríntios 1:21 e 22, o ato de selar parece vir
primeiro. Segunda Coríntios 1:22 diz que Deus
“também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em
nosso coração”. Contudo, tanto o ato de selar como o
penhorar ocorrem, na verdade, ao mesmo tempo.
B. Coração Puro
Também precisamos de coração puro. A Palavra
diz: “Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus” (Mt 5:8). Muitos não podem ver a Deus
nem receber a revelação das coisas espirituais,
porque o coração deles não é puro. Se quisermos ter
coração puro, devemos lidar com ele por inteiro, isto
é, com todas as partes que o compõem.
1. Mente Sóbria
Para ter coração puro, precisamos de mente
sóbria (2Tm 1:7). Alguns santos são confusos na
mente, incapazes de classificar as coisas. Para eles, as
letras “b” e “d” são quase a mesma coisa. Quando
lêem a Bíblia, Gálatas e Colossenses parecem-lhes
iguais. Não têm mente sóbria.
2. Emoção Amorosa
Embora a mente deva ser fria, quanto mais fria,
melhor, a emoção deve ser ardente. A fim de ter olhos
que vêem, precisamos de emoção amorosa (Jo 14:21).
Se a mente for ardente, não será sóbria. O problema é
que somos ardentes na mente e emoção, ou frios em
ambos. É fácil para as irmãs serem ardentes e para os
irmãos serem frios. Mas todos precisamos ser frios na
mente e ardentes na emoção.
3. Vontade Submissa
Por fim, coração puro requer vontade submissa
(Jo 7:17). Para ser submissa, a vontade deve ser
suave. Aprendi pela experiência que, se tivermos
coração puro com mente sóbria, emoção amorosa,
vontade submissa e espírito aberto com consciência
pura, nossos olhos serão capazes de ver. O espírito
deve estar aberto e a consciência livre de ofensas.
Além disso, o coração deve ter mente fria e sóbria,
emoção ardente e amorosa, bem como vontade
mansa e submissa. Quando tivermos tal espírito e
coração, os olhos do coração serão capazes de ver.
Sempre que aplicamos colírio aos olhos, ele nos abre
o espírito, purifica a consciência, esfria a mente
ardente, inflama a emoção fria e subjuga a vontade
obstinada. Quando tudo isso ocorre, nossos olhos são
curados. Ser curado é lidar com esses cinco aspectos
do nosso ser. Sem espírito aberto, consciência
purificada, mente sóbria, emoção amorosa e vontade
submissa, não veremos coisa alguma, embora
possamos comparecer a muitas conferências e
treinamentos. Poderemos aprender doutrinas, mas
não veremos nada na forma de visão.
B. O Arrebatamento, a Transfiguração do
Nosso Corpo e a Glorificação
O segundo aspecto da nossa esperança é a
transferência, pelo arrebatamento, do reino terreno e
físico para a esfera espiritual celestial e a glorificação
(Rm 8:23-25, 30; Fp 3:21). A palavra
“arrebatamento” significa êxtase, estar fora de si de
alegria. Para nós, cristãos, arrebatamento significa
ser tomados. Os mestres da Bíblia usam essa palavra
para descrever o arrebatamento porque, de acordo
com eles, ser arrebatado é um tipo de êxtase.
Contudo, duvido que muitos cristãos creiam
realmente que seu arrebatamento será um êxtase.
Você ficaria feliz se o Senhor viesse hoje? Você estaria
em êxtase ou choraria? A maioria dos cristãos
choraria ou ficaria amedrontada. Embora o
arrebatamento seja um aspecto da esperança do
chamamento de Deus, tal esperança depende de
vivermos ou não pelo Senhor. Se vivermos por Ele e
andarmos com Ele, nosso arrebatamento será um
êxtase. Mas, se não vivermos por Ele nem andarmos
com Ele, duvido que será um êxtase.
Muitos cristãos consideram o arrebatamento de
maneira negligente. Alguns guardam o conceito de
que, não importa o que estiverem fazendo ou onde
estiverem, serão arrebatados quando o Senhor voltar.
E se você estiver em um teatro ou discutindo com o
cônjuge? O arrebatamento em tais circunstâncias
será um êxtase? Certamente não! Não gostaria de
estar brigando quando o Senhor Jesus voltar. Em 2
Timóteo 4:1 Paulo disse a Timóteo: “Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e
mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino”. Isso
indica que Timóteo deveria viver à luz da aparição do
Senhor e do reino. Qualquer coisa que o reino rejeite
no futuro deve ser rejeitado em nosso viver hoje. Não
creio que muitos, mesmo entre nós, vivam na
aparição do Senhor. Se vivêssemos em Sua aparição,
certamente evitaríamos brigar; não gostaríamos de
ser encontrados discutindo quando o Senhor
aparecesse. Poucos cristãos consideram a vinda do
Senhor uma advertência. Se ler o Novo Testamento,
especialmente as epístolas, você verá que os apóstolos
viviam com a aparição do Senhor em vista. A aparição
do Senhor era constantemente uma advertência para
eles e regulava o seu viver. Não ousavam fazer certas
coisas porque acreditavam que o Senhor poderia
aparecer a qualquer momento. Se tomarmos
seriamente as questões da aparição do Senhor e do
reino, elas irão afetar imensamente nosso viver
diário.
Muitos cristãos, contudo, falam muito sobre o
arrebatamento e a vinda do Senhor; mas, após falar,
entregam-se a divertimentos mundanos. Que
situação lamentável! Alguns cristãos são conhecidos
por usar a mesma mesa para jogar cartas e reunir-se
para estudar a Bíblia. Outros têm uma discussão
sobre a vinda do Senhor, e então vão a eventos
esportivos, ao cinema ou dançar. Você já viu que a
aparição de Cristo deve ser um fator básico em nosso
viver diário? Devemos viver hoje à luz da aparição do
Senhor. Se o fizermos, nosso arrebatamento será um
êxtase.
Após ser tornados, estaremos diante do tribunal
de Cristo e acertaremos contas com Ele. Nesse
momento teremos de lidar com todas as nossas
deficiências, infidelidades, falhas e desonestidades.
Muitos cristãos têm acumulado muitas coisas assim
através da vida cristã. Quando o Senhor vier e eles
aparecerem diante do tribunal, certamente não
estarão cheios de alegria. Pelo contrário, estarão
aterrorizados. Todos precisamos reconsiderar nosso
viver. Muitos formulam desculpas para si mesmos,
especialmente para suas fraquezas. Alguns dizem: “O
Senhor sabe quão fraco somos, e será misericordioso
conosco. Não importa se falhamos ou cometemos
erros, o Senhor é misericordioso”. Outros
desculpam-se dizendo que não querem ser tão
espirituais ou religiosos. Quando o Senhor vier,
contudo, não haverá desculpas. Se a Sua vinda será
um êxtase ou não depende do nosso viver diário. Se
tivermos urna vida de falhas, derrotas,
desonestidades, infidelidades e rebeliões, a vinda do
Senhor não será um êxtase, e, sim, um juízo.
Precisamos prestar atenção à palavra do Senhor para
vigiar e orar (Lc 21:36). Se formos vigilantes,
buscando ao Senhor em oração, Sua vinda será nosso
êxtase. Essa é nossa esperança.
Quanta esperança ternos nos dias por vir
depende de sermos edificados hoje. Se não formos
edificados no Senhor, teremos pouquíssima
esperança. Cristo está em nós corno esperança da
glória, mas até mesmo essa esperança depende do
quanto somos edificados. Quando voltar, Cristo será
seu Juiz ou Noivo? Ele poderá ser Noivo para outros,
mas Juiz para você. Se assim for, no que diz respeito a
você, Ele não será a sua esperança da glória. Se Ele é
ou não a sua esperança a esse respeito, depende do
tipo de vida cristã que você vive hoje. Isso é sério, e
deve levar-nos a reconsiderar nossos caminhos. Se
nosso viver é normal, Cristo é nossa esperança e o
arrebatamento será um êxtase.
Na época do arrebatamento nosso corpo será
transfigurado e seremos glorificados. Contudo, digo
essas coisas cuidadosamente, devido à deplorável
situação entre os cristãos de hoje. Pela graça do
Senhor, nós, na Sua restauração, devemos atingir o
Seu padrão e vi ver a vida que Ele requer. Precisamos
ser Suas testemunhas vivas levando Seu testemunho
fora do arraial. Se agirmos assim, o Cristo que voltará
e nosso arrebatamento serão nossa esperança. Além
disso, a transfiguração do nosso corpo e nossa
glorificação também serão urna esperança para nós.
A NOVA JERUSALÉM
Vimos que três importantes aspectos do bendizer
de Deus são que seremos feitos santos, seremos
constituídos os filhos de Deus, e nos tornaremos
herança de Deus. Esses três aspectos são vistos na
Nova Jerusalém. De acordo com Apocalipse 21, a
Nova Jerusalém será uma cidade santa, uma cidade
na qual a santidade de Deus pode ser vista. Além do
mais, ela será uma composição dos filhos de Deus.
Apocalipse 21:7 diz que o vencedor herdará todas as
coisas e será filho de Deus. Isso indica que a Nova
Jerusalém é a totalidade da filiação divina. Além
disso, ela será um tesouro, uma herança, tanto para
Deus como para nós. Nela Ele nos desfrutará como
Seu tesouro, e nós O desfrutaremos como nosso
tesouro. Portanto, ela será uma herança mútua e
satisfação mútua para Deus e o homem. Será a
corporificação da santidade, uma composição dos
filhos de Deus e uma herança mútua para Deus e o
homem. Além disso, terá a glória de Deus, que é a
glória da herança de Deus, as riquezas da glória da
Sua herança entre os santos. Hoje essa glória é nossa
esperança.
A PROCLAMAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DA
TRANSMISSÃO
Precisamos ler esses versículos de Efésios várias
vezes, até ser profundamente impressionados com
eles e poder proclamá-los. Todo dia precisamos
proclamá-los a. nós mesmos, aos familiares, aos
irmãos e irmãs, aos anjos e demônios, e a todos os
seres criados. Quanto mais falarmos desse poder,
mais o experimentaremos sendo transmitido a nós.
Por fim, por meio da nossa fé nessa transmissão
e do nosso proclamar, a igreja aparecerá de maneira
prática. Cristo é o Cabeça sobre todas as coisas para a
igreja. Precisamos crer nisso e proclamar isso
continuamente. Para uma melhor vida da igreja,
sugiro que todos proclamemos Efésios 1:19-23 dez
vezes por dia. Vejamos qual será o resultado se todos
fizermos isso. Como é muito melhor esse tipo de falar
do que conversas vãs sobre os irmãos ou a situação da
igreja! Falar sobre os santos não nos anima nem
fortalece; pelo contrário, deprime e enfraquece. Desse
modo, a vida da igreja desaparecerá. Portanto,
proclamemos 1:19-23 e nos esqueçamos da situação
das igrejas, presbíteros, irmãos e irmãs. Por dez dias
vamos todos nós, a igreja, proclamar esses versículos
dez vezes por dia. Creio que, se fizermos isso, a vida
da igreja será elevada, pois, à medida que falamos, a
transmissão ocorrerá. Desse modo teremos infundido
em nós o poder divino proveniente da transmissão
celestial. Pela experiência posso testificar que isso
acontecerá.
Somos naturais, lógicos e vis demais.
Esqueçamo-nos da condição das igrejas e dos santos,
e voltemo-nos para o falar de Deus. Retomemos à Sua
pura palavra. Creiamos na palavra de Deus e a
proclamemos. À medida que a proclamarmos,
experimentaremos a transmissão divina e todos
teremos infundido em nós o Deus Triúno como poder
todo-inclusivo. Esse grande poder é para a igreja.
Aqui, na transmissão do poder divino, temos uma
sólida vida da igreja.
Não devemos estudar Efésios 1 meramente para
obter doutrina. Pelo contrário, devemos crer no falar
de Deus a respeito do fato universal. Não somente
cremos em Seu falar, mas nós mesmos o repetimos
diversas vezes. Desse modo experimentamos a
transmissão do poder divino, que é para a igreja.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM DEZOITO
A IGREJA, O CORPO DE CRISTO
Efésios 1:22-23 diz: “E pôs todas as coisas
debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas”. Os
termos “à” no versículo 22 e “para com” no 19
indicam transmissão de Cristo para a igreja. Mesmo
nós que estamos na vida da igreja não sabemos
plenamente o que ocorre entre Cristo e a igreja. Uma
transmissão está em progresso desde o dia de
Pentecostes.
TRANSMISSÃO CONTÍNUA
Essa transmissão não é uma vez por todas. De
acordo com o nosso conceito, achamos que certas
coisas ocorrem uma vez por todas. Considere, por
exemplo, o ser crucificado com Cristo. Os que
enfatizam os ensinamentos objetivos da Bíblia
afirmam que nossa crucificação com Cristo ocorreu
uma vez por todas. Em certo sentido concordo com
isso, pois Cristo morreu uma vez e não precisa morrer
novamente. Além disso, Ele ressuscitou uma vez e
não precisa ressuscitar de novo. Tudo o que Ele
realizou por nós, realizou uma vez por todas.
Contudo, a aplicação do que Ele fez não é uma vez por
todas; antes, ainda continua. De acordo com Gálatas
2:20, parece que a co-crucificação de Paulo com
Cristo aconteceu uma vez por todas. Mas; de acordo
com 2 Coríntios 4, ele estava sempre sob o morrer de
Cristo. Portanto, por um lado, a morte de Cristo é
uma vez por todas; por outro, é algo que continua
através de toda nossa vida cristã. De modo
semelhante, o poder que operou em Cristo ao
levantá-Lo dentre os mortos, ao assentá-Lo à destra
de Deus nas regiões celestiais, ao sujeitar todas as
coisas debaixo dos Seus pés e ao dá-Lo como Cabeça
sobre todas as coisas, operou uma vez por todas.
Contudo, Cristo é o Cabeça sobre todas as coisas para
a igreja, e a suprema grandeza do poder que operou
Nele é para nós, os que cremos. O poder divino não é
transmitido à igreja uma vez por todas; antes, é
transmitido continuamente.
Essa transmissão começou no dia de
Pentecostes, e ainda continua hoje. Mesmo agora essa
transmissão é para a igreja. A eletricidade foi
instalada em nosso local de reuniões uma vez por
todas, mas agora é transmitida para o edifício
continuamente. De modo semelhante, tudo o que
Cristo realizou como Cabeça é continuamente
transmitido ao Corpo. O poder divino continuará a
ser transmitido à igreja por toda a eternidade; ele
nunca cessará.
DUAS CRIAÇÕES
Conosco, os que cremos, há duas criações, a
velha e a nova. Devemos admitir que a velha criação
ainda permanece conosco. Como detesto esse
resquício e desejo despojar-me dele! Alguns cristãos,
no entanto, não são atribulados pela velha criação;
pelo contrário, eles a apreciam. Você, de fato, odeia a
velha criação, a carne e o homem natural? Duvido. Se
eu o repreender por ser natural e carnal, você ficará
ofendido. Mas, se eu o elogiar e disser quão agradável
e bom você é, você se sentirá lisonjeado. Eis uma
prova categórica de que você ainda ama o velho
homem. Se odiar a carne e o homem natural, você
não ficará ofendido ao ser repreendido. Antes, ficará
agradecido.
A TRANSMISSÃO PROVENIENTE DO
CRISTO ASCENDIDO PARA PRODUZIR O
CORPO
Vimos que o Corpo de Cristo não veio à
existência antes da crucificação de Cristo, e, sim, após
Sua ascensão, quando algo vindo do Cristo ascendido
foi transfundido nos que creram. Isso quer dizer que
a transmissão do Cristo ascendido produz o Corpo.
Tudo que falamos na vida da igreja, no ministério ou
na comunhão deve resultar dessa transmissão. Se
nosso falar provém da transmissão, então provém do
Corpo. Se não vier da transmissão, não vem do Corpo.
No Corpo não há nada natural, da carne ou da velha
criação. Todos precisamos ter essa visão. Precisamos
ler esses versículos várias vezes até que a luz brilhe
sobre nós com respeito a isso. Quando tivermos a
visão, diremos: “É lógico que o Corpo não tem nada
do homem natural; ele vem da transmissão do Cristo
ascendido”. Louvado seja o Senhor porque na vida da
igreja a transmissão ocorre em todos nós!
A EXPERIÊNCIA DA TRANSMISSÃO
Quando estava no cristianismo fundamentalista
não experimentava essa transmissão. Em meu
envolvimento com o cristianismo pentecostal vi
algumas coisas estranhas, mas não a transmissão. Em
anos de experiência e fazendo comparações, vim a
enxergar que a vida da igreja adequada não é
fundamentalista nem pentecostal; é totalmente uma
questão da transmissão divina. Você pode ser muito
fundamentalista e ainda assim estar morto, tendo
pouco do Cristo ascendido transmitido ao seu
interior. Você pode não conhecer tal transmissão
'nem se preocupar com ela.
No cristianismo fundamentalista fui ensinado a
cortar retamente a palavra de Deus. Os mestres entre
os Irmãos Unidos constantemente mostravam quais
doutrinas eram erradas. Por fim, vim a perceber que,
quanto mais eu cortava retamente a Palavra, mais
morto ficava. Depois de eu estar sob essa influência
por mais de seis anos, o Senhor me mostrou que,
embora eu tivesse muito conhecimento, estava morto.
Imediatamente me arrependi pela minha situação de
morte. Na manhã seguinte subi ao topo de uma
montanha, e lá chorei, e até mesmo gritei minha
confissão e arrependimento. Nesse dia descobri que a
vida cristã não depende de ser fundamentalista, mas
da experiência da transmissão. Vários anos mais
tarde envolvi-me com o movimento pentecostal,
achando que iria ajudar-me a obter poder espiritual.
Fui ensinado por um dos líderes dos pregadores
pentecostais a falar em línguas, e assim o fiz por mais
de um ano. Contudo, quanto mais falava em línguas,
menos da transmissão parecia experimentar. Assim,
abandonei o movimento pentecostal e voltei ao
caminho da transmissão. Já estou nesse caminho há
mais de quarenta anos, e cada dia recebo mais dessa
transmissão.
No dia em que fomos salvos, o poder celestial foi
instalado em nosso espírito. O que precisamos agora
é uma transmissão contínua, e não de outra
instalação. Se abrirmos o coração, purificarmos o
coração e a consciência, e permitirmos que a mente se
tome sóbria, a emoção fervorosa e a vontade
submissa, experimentaremos a transmissão e
teremos o poder e as riquezas. Então, em vez de estar
no homem natural, estaremos em ressurreição e
ascensão. Quando desfrutamos a transmissão,
podemos nem mesmo saber onde estamos, pois
somos totalmente um com Cristo. Pode ser difícil
dizer se estamos na terra ou nos céus.
Quando Cristo é transmitido ao nosso interior, a
transmissão nos liga a Cristo e nos faz um com Ele.
Por exemplo, as luzes no local de reunião são
conectadas à transmissão elétrica vinda da usina.
Além disso, a transmissão divina é inesgotável.
Quanto mais falamos, mais temos para falar. Quanto
mais ministramos, mais suprimento temos. É em tal
transmissão que temos a vida da igreja e as funções
do Corpo.
Mais uma vez digo, a transmissão celestial é para
a igreja. Por meio dela, o Corpo é real, autêntico, vivo
e intrépido.
A PLENITUDE DE CRISTO
O versículo 23 diz que o Corpo é “a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas”. O
Corpo de Cristo é a Sua plenitude. A plenitude de
Cristo resulta do desfrute das Suas riquezas (3:8). Por
meio desse desfrute, tomamo-nos Sua plenitude para
expressá-Lo.
Essa é a plenitude Daquele que a tudo enche em
todas as coisas. Cristo, que é o Deus infinito sem
limitação, é tão grandioso que enche tudo em todas as
coisas. Tal Cristo grandioso precisa da igreja como
Sua plenitude, para Sua completa expressão.
É na transmissão que o Corpo de Cristo é a
plenitude Daquele que a tudo enche em todas as
coisas, porque o Cristo que a tudo enche em todas as
coisas está na transmissão. A transmissão nos
conecta ao Cristo que preenche tudo. Desse modo a
igreja se toma a plenitude do Cristo que a tudo enche.
I. NA ELEIÇÃO DE DEUS
Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu
“para sermos santos e irrepreensíveis” (v. 4). Como
podemos ser santos? Será que é seguindo certos
“ensinamentos de santidade” sobre questões como
vestimentas, maquiagem e corte de cabelo?
Certamente não! Santidade é a natureza de Deus, e
ser santo é ter a natureza divina trabalhada em nós.
Sem a natureza de Deus em nós, é-nos impossível ser
santos. Para que sejamos santos precisamos ser
saturados da santa natureza de Deus.
Ser santo envolve algo mais do que separação.
Alguns mestres cristãos dizem que ser santo é ser
separado; argumentam contra o conceito de que
santidade é a perfeição sem pecado. O Senhor Jesus
disse que o ouro é santificado pelo templo (Mt 23:17).
Alguns mestres têm usado isso como ilustração para
provar que santificação é questão de separação, e não
de perfeição sem pecado. Isso está correto. Mas
abrange somente o aspecto posicional da
santificação; não toca no aspecto disposicional
revelado em Romanos 6. Quando Deus é dispensado
a nós e trabalhado em nosso ser, e somos saturados
Dele, nossa disposição é santificada. Desse modo
tornamo-nos santos. Por fim, a Nova Jerusalém será
uma cidade santa. Ela não somente será separada de
todas as coisas comuns, mas será também
plenamente saturada de Deus. Isso é o que significa
ser santo. O fato de que fomos escolhidos por Deus
Pai para ser santos indica que Ele tenciona entrar em
nosso ser e nos saturar de Sua natureza santa. Sem
Sua natureza trabalhada em nós, não podemos ser
santos.
I. A CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO UM
Efésios 2:1 diz: “E vos vivificou, estando vós
mortos em ofensas e pecados” (VRC). Conforme a
gramática, “e” indica que a última sentença do
capítulo um não foi concluída. O último versículo ali
revela que a igreja, o Corpo de Cristo, foi produzida
por Ele mediante o que Ele alcançou. Já o capítulo
dois desvenda a situação anterior, a esfera de morte,
da qual ela foi gerada.
No capítulo um, o apóstolo Paulo fala muitas
coisas excelentes. Diz que a igreja vem à existência
pela maravilhosa transmissão do Cristo ascendido.
Também fala sobre Cristo e o poder que operou Nele
para levantá-Lo dentre os mortos, fazê-Lo sentar nos
lugares celestiais muito acima de tudo, sujeitar todas
as coisas debaixo de Seus pés e concedê-Lo como
Cabeça sobre todas as coisas para a igreja, que é Seu
Corpo, a plenitude Daquele que a tudo enche em
todas as coisas. Mas, como já dissemos, há o outro
lado da igreja. Existe o lado de Cristo e também o
nosso. Portanto, em 2:1, Paulo diz: “e (...) estando vós
mortos”. A igreja tem não só o aspecto da divindade,
mas também o da humanidade. No capítulo um,
vemos que ela é o resultado da divindade transmitida
a nós; no dois, vemos que ela provém da humanidade.
A conjunção “e” em 2:1 é significante ao juntar esses
dois aspectos da igreja.
A. Mortos Espiritualmente
O versículo 1 diz que estávamos mortos em
nossas ofensas e pecados. A expressão “estando vós
mortos” refere-se à condição morta do espírito, uma
morte que permeia todo o nosso ser. Não éramos
somente caídos e pecaminosos; estávamos mortos.
Ao pregar o evangelho em Shangai no dia de
ano-novo em 1947, disse às pessoas: “Amigos, nós,
pregadores cristãos, devemos ser honestos e dizer às
pessoas qual é sua real situação. Vocês não são
apenas pecadores; estão todos mortos. Todos estão
em um caixão e em um túmulo. Vocês podem
considerar-se damas e cavalheiros cultos, mas, na
verdade, estão mortos e sepultados em um túmulo.
Digo isso porque agora Cristo deseja vivificá-los e
levantá-los de seu caixão”. Essa é uma boa maneira
de pregar o Evangelho.
Pelo fato de o livro de Romanos lidar com
pecadores, não enfatiza que as pessoas caídas estão
mortas. Antes, a ênfase em Romanos é sobre pecados
e pecado. Mas a ênfase no livro de Efésios está na
morte, em lidar com pessoas mortas. A salvação
revelada em Romanos é a salvação de acordo com
ajustiça. Conforme Romanos 1:1617, o evangelho de
Deus é poderoso para salvar porque a justiça de Deus
se revela nele. Em Romanos, Deus nos salva por,
mediante e com Sua justiça. Em Efésios, contudo, Ele
salva os mortos com Sua vida. A justiça não beneficia
os mortos. O que eles precisam é vida. Muitos cristãos
não têm clareza sobre a diferença entre salvação pela
justiça e salvação pela vida. Por essa razão usam
Efésios para ilustrar a salvação pela justiça. Como
pecadores e pessoas mortas, precisávamos tanto da
justiça como da vida, tanto da salvação em Romanos
como da salvação em Efésios.
C. Em Ofensas e Pecados
O versículo 1 diz que estávamos mortos em
ofensas e pecados. Ofensas são atos que ultrapassam
o limite do correto, e pecados são atos maus. Foi
dessa situação de morte em ofensas e pecados que
fomos salvos para ser a igreja, o Corpo. Os mortos
foram vivificados para ser um organismo vivo a fim
de expressar Cristo.
Precisamos dizer algo mais sobre ofensas. Ao
participar de uma corrida você deve permanecer na
raia. Ultrapassar as linhas da raia é cometer delito,
ofensa. Você tem o direito de correr no limite da raia,
mas, se correr fora dele, ultrapassa seus direitos.
Anos atrás fui ajudado por certo irmão que tinha
aprendido as lições de vida. Um dia ele testificou que,
após ter sido iluminado por Deus, percebeu que se
batesse à porta de alguém e ninguém respondesse,
não tinha o direito de entrar. Fazer isso seria
ultrapassar seus direitos. Fui muito ajudado por esse
testemunho. Depois disso, sempre que visitava
alguém, limitava-me ao aposento no qual foi-me dado
sentar. Não pensava em andar nas outras partes da
casa. Fazer isso seria ultrapassar meus limites e
cometer ofensa. Outros, contudo, podem não achar
errado andar pela casa alheia e até mesmo examinar
várias coisas nela. Embora justifiquem seu
comportamento, aos olhos de Deus ultrapassam seus
direitos.
Suponha que após a reunião um irmão deixe o
hinário na cadeira. Você acha que tem o direito de
folheá-lo? Não; não tem, a menos que seja
responsável por limpar o local ou coletar itens para o
setor de achados e perdidos. Mesmo que tenha a
responsabilidade de apanhar coisas no local, isso não
quer dizer que tenha o direito de folhear o hinário do
irmão.
Aos olhos de Deus, ultrapassamos nossos
direitos muitas vezes. Portanto, estávamos mortos em
ofensas. Além disso, estávamos também mortos em
pecados, em atos maus como mentir e roubar.
B. Em Cristo Jesus
Foi em Cristo que Deus nos fez assentar
juntamente com Ele, uma vez por todas, nas regiões
celestiais. Isso foi realizado quando Cristo ascendeu
aos céus, e foi aplicado a nós pelo Espírito de Cristo
quando cremos Nele. Hoje percebemos e
experimentamos essa realidade em nosso espírito
mediante a fé no fato consumado.
Tanto Romanos como Efésios indicam que
estamos em Cristo. Em Romanos, porém, ser
transferido de Adão para Cristo é principalmente
uma questão de ser colocado numa posição
justificada. Contudo, em Efésios, estar em Cristo é
não somente uma questão de posição celestial, mas,
ainda mais importante, uma questão de vida. Visto
que estamos em Cristo, temos a vitalidade da vida.
Em Romanos Cristo é a justiça de Deus, enquanto em
Efésios Ele é vida. Portanto, conforme Romanos,
estar em Cristo significa estar numa posição
justificada, mas, de acordo com Efésios, estar em
Cristo significa ter a vitalidade da vida.
VIII. PELA FÉ
No versículo 8 Paulo diz que pela graça fomos
salvos mediante a fé. Fé é tomar reais as coisas
invisíveis. É pela fé que tomamos real tudo o que
Cristo fez por nós. Por meio de tal capacidade de
tomar real fomos salvos pela graça. A ação gratuita de
Deus nos salvou mediante nossa fé que toma tudo
real.
Falando sobre fé, o versículo 8 também diz: “E
isto não vem de vós; é dom de Deus”. A fé não vem de
nossas obras, nem de nossos esforços ou lutas; é dom
de Deus para que ninguém se glorie (v. 9). A fé não
vem de nós mesmos. Embora creiamos, a fé com a
qual cremos não se origina de nós. Em nós mesmos
não temos fé alguma. Contudo, quando nos
arrependemos e confessamos a Deus em nome do
Senhor Jesus, a capacidade de crer foi colocada em
nós. Antes de ser salvos, éramos totalmente incapazes
de crer. Mas no dia em que fomos salvos, a fé foi
dispensada a nós, e cremos. Alguém pode perguntar
como podemos crer em Jesus Cristo se nunca O
vimos. Embora nunca O tenhamos visto, não
podemos deixar de crer Nele. Essa fé não vem de nós
mesmos; é parte da graça transmitida a nós.
Fé, na verdade, é um aspecto de Cristo. É por isso
que a Bíblia fala da fé de Cristo (Rm 3:22, segundo o
original). Em Gálatas 2:20 Paulo diz: “A vida que
agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus”
(VRC). Fé é o próprio Cristo. Quando me ouvem,
alguns podem achar que para mim Cristo é tudo. Está
correto. A fé dada a nós é a fé comum aos que crêem
(Tt 1:4). A fé é dada, é recebida e é comum. Quando
juntamos esses fatos, vemos que essa fé é o próprio
Cristo.
Se houver um diamante magnífico à sua frente,
você espontaneamente irá apreciá-lo. Esse apreço não
se origina em você, e, sim, no diamante. Em certo
sentido, seu apreço é o próprio diamante. Você
certamente não teria o mesmo apreço por barro. Um
diamante é digno de apreço; o barro, não. Do mesmo
modo, a razão pela qual não colocamos nossa fé em
Sócrates ou Confúcio é que não se pode crer neles.
Mas, pelo fato de ser possível crer em Cristo,
colocamos nossa fé Nele. Nossa fé em Cristo não
procede de nós; procede Dele. Quando O vemos, a fé é
dispensada a nós. Portanto, não é absurdo dizer que
fé é Cristo. Isso é como dizer que santidade, amor,
justiça, paciência e perseverança são Cristo.
Visto que a fé única é o próprio Cristo, nós, que
cremos Nele, temos uma fé comum. Você não tem um
tipo de fé, e eu, outro. Quando Cristo veio até você,
você creu; e, quando Ele veio a mim, eu cri. Sempre
que Cristo vem a uma pessoa, ela crê Nele. Isso é
outra indicação de que a fé vem não de nós, mas de
Cristo.
Uma vez que a fé é dom de Deus e não de nossas
obras, nenhum de nós tem o direito de orgulhar-se.
Pelo contrário, todos devemos humildemente dizer:
“Senhor, se tu não tivesses vindo a mim, eu não teria
nenhuma fé. Mas Te louvo porque vieste, e eu recebi a
fé! Senhor, Tu és minha fé”.
X. CRIADOS
A. Em Cristo Jesus
O versículo 10 diz que somos obra-prima de Deus
“criados em Cristo Jesus”. Como a obra-prima do
trabalho de Deus nós, a igreja, somos um item
absolutamente novo no universo, algo
recém-originado por Deus. Fomos criados por Ele em
Cristo mediante a regeneração para ser Sua nova
criação (2Co 5:17).
II. A INCIRCUNCISÃO
O versículo 11 diz que os gentios na carne eram
“chamados incircuncisão pelos que, na carne, se
chamam circuncisão feita pela mão dos homens”
(VRC). Os termos “incircuncisão” e “circuncisão”
nesse versículo aplicam-se a pessoas; não se referem
a ações. A circuncisão são os circuncisos, e a
incircuncisão, os incircuncisos.
V. ESTRANHOS ÀS ALIANÇAS DA
PROMESSA
Conforme o versículo 12, éramos também
“estranhos às alianças da promessa”. As alianças de
Deus são Suas promessas. Sua promessa é Sua
palavra de que fará gratuitamente certas coisas por
Seu povo escolhido. Tal promessa não é uma
exigência, requerimento ou repreensão. O conceito
básico da promessa de Deus é que ela é Sua palavra.
Sem' a palavra não há promessa.
Por fim, a promessa de Deus tornou-se a aliança
de compromisso porque foi legalizada pelos
procedimentos necessários. Tanto no Antigo como no
Novo Testamento as promessas de Deus foram
legalizadas para tornar-se uma aliança de
compromisso. Você pode perguntar-se que
procedimento era necessário para legalizar a
promessa de Deus, tornando-a uma aliança. A melhor
ilustração é a morte do Senhor Jesus para perdoar os
nossos pecados. O Senhor prometeu que derramaria
Seu sangue na cruz para que recebêssemos o perdão
dos pecados. A promessa do perdão foi legalizada
pelo derramamento do Seu sangue. Por meio desse
procedimento, Sua promessa tornou-se uma aliança.
Nenhuma promessa compromete uma pessoa
tanto quanto uma aliança. Os homens podem fazer
promessas sem se comprometer por elas. Mas, uma
vez que pagamos o preço para que a promessa se
tome aliança, estamos comprometidos pela aliança
que fizemos. O preço é o procedimento necessário
para fazer da promessa uma aliança.
Todas as palavras que Deus falou a Seu povo
escolhido, desde Abraão até Malaquias, são Suas
promessas legalizadas para ser Suas alianças. Essas
palavras abrangem todo o Antigo Testamento, de
Gênesis 12 ao fim do livro de Malaquias. Visto que
essas palavras foram legalizadas para ser a aliança de
Deus, o Antigo Testamento é chamado testamento,
outro termo para aliança. Toda a Bíblia é uma aliança,
e o Antigo Testamento é a antiga aliança.
Antes de crer em Cristo nós, os gentios, não
somente estávamos separados da comunidade de
Israel, mas éramos também estranhos às alianças da
promessa de Deus. Vimos que a promessa é a palavra
de Deus, que a promessa tomou-se aliança de
compromisso, e que todas as palavras de Deus a Seu
povo foram legalizadas por Ele na forma de aliança.
Antes de ser salvos, éramos estranhos à aliança da
promessa de Deus.
VIII. NO MUNDO
O versículo 12 também salienta que estávamos
“no mundo”. O mundo, que é o sistema de Satanás,
contrasta com a comunidade de Israel. A comunidade
de Israel era o reino de Deus, enquanto o mundo é o
reino de Satanás. Antes de ser salvos vivíamos no
mundo, onde não tínhamos esperança, expectativa e
Deus como desfrute. Essa é a razão pela qual
buscávamos divertimentos mundanos. As pessoas do
mundo hoje estão famintas por divertimentos porque
não têm Deus como desfrute. Mas agora que estamos
em Cristo, temos Deus como desfrute. Que satisfação!
Vários anos atrás alguns de meus amigos não
salvos perguntaram-me por que eu não me envolvia
com certos jogos de azar. Disse-lhes que estava
ocupado desfrutando a Bíblia e não tinha tempo para
tais jogos ou interesse por eles. Quando me
perguntaram por que não ia ao cinema, respondi que
tinha um cinema celestial, a vida da igreja, onde
podia enxergar a visão celestial. Por ter tal desfrute
pleno de Deus, não há lugar em mim para
divertimentos mundanos. Hoje não estamos mais no
mundo; estamos em Cristo, no Espírito e nas regiões
celestiais.
Temos agora um quadro claro da nossa posição
antes de ser salvos. Estávamos na posição de gentios
na carne, a incircuncisão, sem Cristo, separados da
comunidade de Israel e estranhos às alianças da
promessa. Não tínhamos esperança alguma e
estávamos sem Deus no mundo. Conforme nossa
natureza, estávamos na morte; conforme nossa
posição, éramos estranhos a Deus, a Cristo, à
promessa de Deus, ao reino de Deus e a tudo o que se
relaciona a Ele. Uma vez que estávamos em tal
posição, não tínhamos nenhuma esperança, assim
como não tínhamos Deus como desfrute. No mundo
buscávamos divertimentos pecaminosos na tentativa
de achar satisfação. Contudo, a igreja foi gerada a
partir de tal condição e posição deploráveis. Deus nos
salvou dessa condição e nos fez membros do Corpo de
Cristo. Somos agora a obra-prima de Deus e temos
uma nova condição, posição e natureza.
Efésios 2:13 diz: “Mas, agora, em Cristo Jesus,
vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo
sangue de Cristo”. O versículo 4 começa com as
palavras “mas Deus”, e o versículo 13 começa com as
palavras “mas, agora”.
Em Efésios 2, Paulo apresenta dois quadras: o da
nossa condição conforme nossa natureza (vs. 1-3) e o
da nossa posição conforme nosso status (vs. 11-12).
Era principalmente devido à nossa natureza
caída que estávamos em tal posição deplorável.
Segundo a natureza, éramos caídos; segundo a
posição, estávamos longe de Deus, de Cristo, da
comunidade de Israel e das alianças da promessa.
Efésios 2 revela que precisamos não somente ser
salvos da nossa condição pela graça de Deus, mas
também ser transferidos da nossa posição pela
redenção de Cristo. Quando somos transferidos da
nossa posição anterior, nós, que antes estávamos
longe, somos aproximados.
Deus nos salvou trabalhando-Se em nós para ser
nossa salvação. Essa é a graça salvadora que nos
resgata da condição causada por nossa natureza
caída. Quando a vida entrou em nós, fomos salvos da
condição de morte. Deus também nos transferiu da
posição anterior para nova posição, onde temos novo
status.
IX. ANTES LONGE
Para que apreciemos o versículo 13, precisamos
rever os pontos principais nos versículos 11 e 12.
Antes de ser salvos, éramos os gentios na carne,
chamados incircuncisão. O homem que Deus criou
para cumprir Seu propósito era puro, sem pecado ou
qualquer mistura negativa. Contudo, o pecado, a
natureza maligna de Satanás, entrou no homem por
meio da queda, fazendo primeiramente com que seu
corpo se tomasse carne, cheio de concupiscências, e
fazendo com que todo o seu ser, por fim, se tomasse
carne. O homem, portanto, foi danificado e não podia
cumprir o propósito de Deus. Deus, então, chamou
dentre a humanidade caída uma raça: Abraão e seus
descendentes. Para cumprir o Seu propósito, Deus
ordenou que fossem circuncidados, isto é, que
eliminassem a carne. Isso separou o povo de Deus da
humanidade caída e o livrou da condição caída. A
circuncisão fez enorme distinção entre eles e o resto
da humanidade, que foi dali em diante considerada a
incircuncisão, os que permanecem na condição caída.
Estávamos nessa categoria antes de ser trazidos a
Cristo.
Visto que estávamos separados de Israel, do qual
Cristo veio, estávamos separados de Cristo e nada
tínhamos a ver com Ele. Além disso, estávamos
separados da comunidade de Israel e éramos
estranhos às alianças da promessa. Ainda mais, não
tínhamos esperança, estávamos sem Deus e no
sistema satânico do mundo. Uma vez longe de Cristo,
da comunidade de Israel e das alianças da promessa
de Deus, estávamos longe de Deus e de todas as Suas
bênçãos.
X. MAS AGORA FOMOS APROXIMADOS
As palavras preciosas “mas, agora” (v. 13)
indicam que agora temos esperança assim como
temos Deus. Não mais estamos no mundo; estamos,
antes, em Cristo Jesus. Fomos aproximados Nele.
Mas de que, ou de quem, fomos aproximados?
Fomos aproximados não somente de Deus, mas
também de Cristo, de Israel e da promessa de Deus.
Isso equivale a estar perto de Deus e de todas as Suas
bênçãos. Portanto, no sangue redentor de Cristo
fomos aproximados tanto de Deus como de Israel.
Já dissemos que antes estávamos longe de Cristo,
da comunidade de Israel e das alianças da promessa
de Deus. Isso equivale a estar longe de Deus e de
todas as Suas bênçãos. Mas agora, em Cristo, fomos
aproximados das próprias coisas das quais antes
estávamos longe. Fomos transferidos da posição
anterior para Cristo. Visto que nossa nova posição e
status são Cristo, não mais estamos longe.
O versículo 13 diz especificamente que fomos
aproximados no sangue de Cristo. Isso significa que
não somente estamos no Messias, mas também na
redenção por Ele realizada. Os judeus ainda esperam
que o Messias venha; contudo, não percebem o
quanto precisam da redenção Dele. A transferência
da posição anterior para a nova posição em Cristo foi
na verdade realizada pela redenção de Cristo.
Estávamos numa posição inferior porque tínhamos
caído. Quando Cristo derramou Seu sangue na cruz
pela nossa redenção, esse sangue nos retirou da
posição inferior. Agora que fomos transferidos pelo
sangue de Cristo, estamos em Cristo e nas regiões
celestiais. Estamos, portanto, próximos de Deus.
Estamos também próximos de Israel, da promessa de
Deus e das Suas bênçãos. Em outras palavras, nessa
posição celestial somos um com Deus, um com o
Israel adequado, um com as alianças de Deus e um
com Suas bênçãos. Uma vez transferidos da posição
anterior para a nova posição, podemos participar de
tudo que é de Deus. Essa é nossa porção em Cristo.
Fomos salvos da condição caída pela vida, e
transferidos da posição anterior pela redenção de
Cristo. Agora desfrutamos a salvação e participamos
de tudo o que é de Deus. Aleluia, fomos salvos e
transferidos! O capítulo dois apresenta um quadro
claro de como fomos salvos da condição miserável
para ser a obra-prima de Deus, e de como fomos
transferidos da posição (e status) anterior para nos
tornar o novo homem, a comunidade de Deus, Sua
farru1ia e habitação. Essa é a revelação em Efésios 2.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM VINTE E TRÊS
A ELIMINAÇÃO DA PAREDE DE SEPARAÇÃO
Nesta mensagem consideraremos a questão da
eliminação da parede de separação (2:14-15).
2. Na Carne
Efésios 2:15 diz que Cristo aboliu “na sua carne”
a lei dos mandamentos na forma de ordenanças.
Visto que a humanidade tomou-se carne (Gn 6:3) e
foi assim afastada de Deus e de Seu propósito, Ele
ordenou que Seu povo escolhido fosse circuncidado
na carne. Essa ordenança foi dada por causa da carne
do homem. Cristo foi crucificado na carne. Feito isso,
Sua carne, que era tipificada pelo véu de separação no
templo, foi rasgada (Hb 10:20). Quebrando a parede
de separação na cruz, Cristo fez a paz.
Vimos que, de acordo com a Bíblia, as
ordenanças básicas dizem respeito à circuncisão, ao
sábado e à alimentação. Mas até mesmo essas
ordenanças, dadas por Deus, foram abolidas. Se as
ordenanças básicas foram abolidas, muito mais as
menores. Não devemos guardar nenhuma ordenança,
assim como não devemos criar novas. Pela graça do
Senhor, devemos aprender a ser flexíveis e abandonar
todas as diferenças, para o bem da vida da igreja. Não
importa aonde vamos, devemos aprender a ser iguais
aos outros. Então desfrutaremos a vida da igreja
como o novo homem, a comunidade de Deus, Sua
farru1ia e habitação.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM VINTE E QUATRO
DOS DOIS CRIOU UM SÓ NOVO HOMEM
Nesta mensagem chegamos à criação do novo
homem (2:14-15). Esta questão é extremamente
importante no Novo Testamento; contudo, tem sido
negligenciada pela maioria dos cristãos.
NOSSO ESPÍRITO
A frase “no espírito”12 é encontrada em todos os
capítulos de Efésios, menos no capítulo um. Você
percebe o que está em nosso espírito? Você pode dizer
que o Senhor Jesus e o Espírito de Deus estão em
nosso espírito. Isso, sem dúvida, está correto. Mas
agora precisamos ver que o novo homem também
está em nosso espírito. A habitação de Deus, Sua
morada, está em nosso espírito (2:22). Em tipologia,
a antiga cidade de Jerusalém era a habitação de Deus,
mas hoje Sua habitação está em nosso espírito. Nosso
12
Em 5:18, a expressão “enchei-vos do Espírito” pode ser traduzida por “enchei-vos no espírito”,
segundo o original. (N.T.)
espírito regenerado é a Jerusalém de hoje. Você pode
achar que não há comparação entre a cidade de
Jerusalém e o seu espírito. Jerusalém era uma cidade
enorme, enquanto nosso espírito é muito pequeno.
Mas, se conhecer a Bíblia, perceberá que nosso
espírito hoje é muito maior que Jerusalém. Ele é
universalmente amplo. O problema é que somos
individualistas demais e pensamos somente em nosso
espírito individual. Mas quando a Bíblia fala de “o
vosso espírito”, ela inclui o espírito de todos os
santos.
Por muito tempo nossa mente tem sido ocupada
por conceitos naturais, pensamentos religiosos e
ensinamentos tradicionais. Ao considerar o nosso
espírito, precisamos abandonar tudo isso e ver que
ele é universalmente amplo. Sabemos que Deus
habita no terceiro céu, mas também habita em nosso
espírito. Isso faz do nosso espírito a Jerusalém de
hoje. Aleluia por essa entidade maravilhosa no
universo chamada nosso espírito! O Espírito testifica
com o nosso espírito (Rm 8:16). As palavras “nosso
espírito” incluem o espírito de Paulo, de Martinho
Lutero, de John Wesley, de Watchman Nee, o seu e o
meu espírito. Como é vasto esse espírito! A Bíblia
revela que Deus é o Deus do nosso espírito (Nm 16:22
— VRC; Hb 12:9). Onde está Deus hoje? Em nosso
espírito. Onde está a habitação de Deus hoje? Em
nosso espírito. Onde está o novo homem? Também
em nosso espírito.
UM PROCESSO GRADUAL
Revestir-se do novo homem não ocorre uma vez
por todas. Pelo contrário, dura toda a vida, é um
processo gradual que prossegue através de toda a vida
cristã. Já dissemos diversas vezes que o novo homem
foi criado em Cristo e com Cristo. Em 2:15, a palavra
grega traduzida por “em” tem significado
instrumental; também significa “com”. Assim, em Si
mesmo significa na verdade Consigo mesmo. O novo
homem já foi criado com Cristo como essência divina.
Quando fomos regenerados, esse novo homem foi
colocado em nosso espírito. Agora, dia após dia,
precisamos revestir-nos desse novo homem deixando
que o espírito controle nosso ser e renove nossa
mente. Cada vez que alguma parte do nosso ser é
renovada, revestimo-nos um pouco mais do novo
homem. Portanto, quanto mais somos renovados pelo
fato de o espírito controlar a nossa mente, mais do
novo homem nos revestimos. Por fim, esse processo
de revestir-se do novo homem será completado.
CRISTO É TUDO
No novo homem não há nenhuma distinção
cultural ou nacional entre os povos: não há judeu
nem gentio, escravo nem livre, culto nem inculto (Cl
3:10-11). Do mesmo modo, não há americanos,
ingleses, japoneses, chineses, alemães ou franceses.
No novo homem Cristo é tudo, pois é a própria
essência com a qual é criado. Portanto, o novo
homem é apenas Cristo.
CRIADO E RENOVADO
A maneira de o Novo Testamento falar do novo
homem pode soar estranha à mente natural. De
acordo com Efésios 4:24, o novo homem é criado em
justiça e santidade da verdade (lit.), mas conforme
Colossenses 3:10 o novo homem é renovado. Como
pode o novo homem ser tanto criado como renovado?
Criar nada tem a ver com velharia; renovar, sim. A
criação do novo homem é uma coisa, mas a
experiência do novo homem é outra. Do ponto de
vista de Cristo, o novo homem já foi criado. Contudo,
do nosso ponto de vista e experiência, o novo homem
é renovado. Conforme a nova criação, o novo homem
foi completado pela obra de Cristo. Todavia,
conforme nossa experiência, o novo homem está no
processo de ser renovado diariamente. Meu encargo
nesta mensagem é mostrar como o novo homem é
renovado. Esse renovar é, na verdade, o revestir-se do
novo homem. Como já dissemos na mensagem
anterior, o novo homem já foi criado, mas nossa
necessidade agora é revestir-nos dele na experiência.
NENHUMA DISTINÇÃO
Falando do novo homem, Colossenses 3:11 diz:
“No qual não pode haver grego nem judeu,
circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo,
livre; porém Cristo é tudo em todos”. Em seu livro
Word Studies of the New Testament (Estudo das
Palavras do Novo Testamento), Vincent diz que na
língua grega os vocábulos traduzidos por “não pode
haver” são muito enfáticos e significam que não há
possibilidade. No novo homem não há possibilidade
de existir grego e judeu, bárbaro e cita, escravo e livre,
porque o modo anterior de viver encontrado entre
esses povos foi eliminado. Sem dúvida, na igreja em
Colossos havia pessoas dessas procedências, contudo,
de acordo com o que Paulo diz em Efésios 4:22, todos
eles tinham de pôr de lado a maneira anterior de vida.
Fazendo isso, seriam renovados.
Se considerarmos a vida da igreja do ponto de
vista de despojar-nos da antiga maneira de viver,
teremos de admitir que não temos feito isso
adequadamente. Pelo contrário, muitos de nós ainda
se apegam à sua maneira de viver.
Quando Paulo escreveu a epístola aos
Colossenses, havia judeus em praticamente toda
cidade na área do Mediterrâneo. Quando judeus e
gregos em certas cidades eram salvos, reuniam-se
como a igreja ali. Em muitas cidades deve ter havido
não somente judeus e gregos, mas também bárbaros
(europeus do norte) e citas 13 , que, como alguns
mestres da Bíblia crêem, eram os mais incultos e
bárbaros dos povos. Portanto, em algumas cidades
era possível que a igreja incluísse gregos cultos,
judeus religiosos, bárbaros, e citas incultos. Além
disso, havia também servos, que tinham sido
vendidos à escravidão, bem como mestres, pessoas
que possuíam escravos. O que aconteceria se todos
eles se reunissem para a mesa do Senhor? Para ter a
vida da igreja, tinham de despojar-se do velho
homem corporificado em sua maneira anterior de
viver. Os gregos tinham de despojar-se de sua
filosofia; os judeus, das suas observâncias religiosas e
regras de alimentação; os citas, de seu viver bárbaro;
os mestres, de sua atitude para com os servos; e os
servos, do modo de viver que lhes era peculiar. Na
vida da igreja não há lugar para tais distinções. Não
pode haver judeus ou gentios, bárbaros ou citas,
escravos ou livres. Na vida da igreja só há lugar para
Cristo.
Graças aos modernos meios de transporte e
comunicação, os povos do mundo têm-se aproximado
mais hoje do que em qualquer época da história. Os
Estados Unidos em particular são uma mistura de
todas as raças e povos. Misturam-se pessoas com
temperamentos completamente diferentes: alguns
extrovertidos e outros silenciosos e misteriosos. Isso
certamente ocorre nas igrejas na restauração do
Senhor, onde vemos tantos povos diferentes:
porto-riquenhos, mexicanos, brasileiros, suíços,
franceses, alemães, suecos, dinamarqueses,
13
Citas, povo nômade, notável na arte e na guerra, desaparecido por volta do seco 11 a. C., e que entre
os sécs. V e II a. C. habitou a Cítia, denominação dada pelos antigos gregos a regiões próximas ao mar
Negro e ao mar Cáspio (Dic. Aurélio). (N.T.)
indonésios, coreanos, chineses, japoneses, ganeses e
americanos. A diferença entre os povos pode ser vista
até mesmo no modo de cantar hinos. Alguns podem
cantar no modo que consideram solene, quase sem
mexer os lábios, enquanto outros podem ser cheios de
entusiasmo e mexer o corpo todo. Assim, até mesmo
ao cantar e louvar ao Senhor podemos apegar-nos ao
nosso modo de viver.
II. EM UM SÓ CORPO
O versículo 16 diz que judeus e gentios foram
reconciliados em um só Corpo. Esse único Corpo, a
igreja (1:22-23), é o novo homem do versículo
anterior. Foi nesse Corpo que judeus e gentios foram
reconciliados com Deus pela cruz. Nós, os que
cremos, tanto judeus como gentios, fomos
reconciliados não somente para o Corpo de Cristo,
mas também no Corpo de Cristo. Que revelação
temos aqui! Fomos reconciliados com Deus; fomos
salvos no Corpo de Cristo.
Geralmente consideramos a reconciliação algo
individual; não pensamos em reconciliação
corporativa. Contudo, a reconciliação adequada e
autêntica é em um só Corpo. O Corpo é o
instrumento, o meio, pelo qual fomos reconciliados
com Deus. De acordo com Colossenses 3:15, fomos
até mesmo chamados em um só Corpo.
Esse conceito corporativo permeia todo o Novo
Testamento. Nosso conceito, no entanto, é que fomos
reconciliados com Deus como indivíduos. Mas, aos
Seus olhos, fomos chamados em um só Corpo e
reconciliados com Ele no Corpo. O êxodo dos filhos
de Israel do Egito é uma clara figura disso. No Egito
eles estavam, em certo sentido, longe de Deus. Depois
que saíram do Egito e atravessaram o Mar Vermelho
juntos, foram reconciliados com Deus no monte Sinai
como congregação, e não como indivíduos. Isso
simbolizava nossa reconciliação com Deus num só
Corpo. Hoje precisamos ter esse conceito corporativo.
Não pense que você foi salvo individualmente. Pelo
contrário, fomos todos salvos juntamente e
reconciliados com Deus em um só Corpo.
C. Em Um Só Espírito
Como indica o versículo 18, nosso acesso ao Pai é
em um só Espírito. Se tivermos a cruz sem o Espírito,
teremos o fato sem a experiência. Portanto, o Espírito
é crucial. Em primeiro lugar, os crentes judeus e
gentios foram reconciliados em um só Corpo com
Deus (v. 16). Isso foi algo posicional. Então ambos
temos acesso em um só Espírito ao Pai. Isso é a
experiência.
D. Ao Pai
Esse acesso em um só Espírito é ao Pai.
Posicionalmente fomos reconciliados com Deus; na
experiência temos acesso ao Pai. Ser reconciliado
com Deus é ser salvo; ter acesso ao Pai é desfrutar
Deus, que, como fonte da vida, regenerou-nos para
que sejamos Seus filhos.
Em um só Corpo fomos reconciliados com Deus
por meio da cruz. Isso é fato. Agora podemos ter
acesso ao Pai e contatá-Lo diretamente. Isso é
experiência. Fomos reconciliados com Deus
posicionalmente para salvação, e temos acesso ao Pai
em experiência para desfrute. É significativo que
esses versículos não digam que fomos reconciliados
com o Pai e temos acesso a Deus. É o oposto;
reconciliados com Deus uma vez por todas, temos
agora acesso ao Pai para desfrute contínuo.
No versículo 18 a Trindade da Deidade está
implícita. Mediante Deus Filho que é o Realizador, o
meio, e em Deus Espírito que é quem executa, isto é,
Ele é a aplicação, temos acesso a Deus Pai que é o
Originador, a fonte do nosso desfrute.
Nos versículos 15 e 16 o apóstolo Paulo menciona
o único novo homem antes do Corpo. Qual é a razão
disso? A fim de responder essa questão precisamos
considerar 2:14-16 novamente. Quando chegamos a
esses versículos, não devemos vir com nosso conceito
natural, entendimento religioso ou preocupações
doutrinárias, que nos tornam obtusos e insensíveis
para entender a Palavra. Uma vez que o aspecto da
igreja como Corpo não é tão elevado como o do novo
homem, podemos achar que o Corpo deveria ser
mencionado antes. Contudo, como poderia haver o
Corpo se não houvesse primeiramente um homem?
Em primeiro lugar falamos sobre um homem, e
depois sobre o corpo desse homem. A criação do novo
homem foi fundamental, enquanto a produção do
Corpo foi conseqüência. Portanto, Paulo
primeiramente diz que a morte de Cristo na cruz
aboliu na Sua carne as ordenanças, a fim de criar em
Si mesmo o único novo homem. Ao fazer isso, o
Corpo foi produzido. Assim que o homem foi criado, o
corpo veio a existir. A esse respeito a palavra “e” no
início do versículo 16 é significativa; ela conecta o
conceito da reconciliação em um só Corpo com o da
criação do novo homem. Quando Cristo fez dos dois,
judeus e gentios, um só novo homem, Ele os
reconciliou em um só Corpo com Deus. Por essa razão
Paulo mencionou o novo homem antes do Corpo.
Lembre-se, Cristo não reconciliou indivíduos. Ele
reconciliou dois povos, judeus e gentios, em um só
Corpo. Se tivesse apenas reconciliado pecadores
individuais, não precisaria reconciliá-los no Corpo.
Mas, a fim de reconciliar dois povos, Ele tinha de
fazê-lo no Corpo.
Os judeus e os gentios estavam separados, mas
na cruz Cristo derrubou a parede de separação e fez
deles uma nova entidade, o único novo homem. Mas e
a relação deles com Deus? Para que fossem
reconciliados com Ele havia a necessidade de um
Corpo como instrumento. Quando Cristo fez dos dois
um só novo homem, simultaneamente os reconciliou
com Deus em um só Corpo. Quando se tornaram o
novo homem, foi-lhes possível ser reconciliados com
Deus em um só Corpo. Portanto, o Corpo foi o meio
pelo qual foram reconciliados com Deus. Por essa
razão, nos versículos 15 e 16 o novo homem é
mencionado antes do Corpo.
Uma vez reconciliados com Deus, ainda havia a
necessidade de judeus e gentios terem acesso ao Pai
para desfrute. Esse acesso não é somente no Corpo,
mas também no Espírito. Estar no Corpo é fato; estar
no Espírito é experiência. Embora estejamos no
Corpo, podemos não estar no Espírito. Podemos,
antes, vaguear em nossos pensamentos. Quando você
se senta numa reunião, por exemplo, pode viajar pelo
mundo na mente. Isso ilustra o fato de que
precisamos estar no Espírito.
Quando estamos no Espírito desfrutamos o Pai.
De fato podemos ter Deus estando no Corpo, mas se
quisermos desfrutar o Pai na experiência, devemos
estar no Espírito. Antes estávamos longe de Deus,
mas fomos reconciliados posicionalmente com Ele.
Agora não há nenhuma separação, ou partição, entre
nós e Deus. Contudo, se não estivermos no Espírito,
não teremos o desfrute desse fato. Portanto, a fim de
desfrutar em experiência o que possuímos em
posição, precisamos estar no Espírito.
A. Em Cristo
O versículo 21 diz: “No qual todo O edifício, bem
ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (VRC).
Aqui vemos que em Cristo, que é a pedra angular,
todo o edifício, incluindo judeus e gentios, é ajustado
e cresce para templo santo.
B. Crescer
Visto que o edifício é vivo (1Pe 2:5), ele cresce.
Cresce para templo santo. A real edificação da igreja
como casa de Deus ocorre mediante o crescimento em
vida dos crentes. Hoje a igreja está crescendo.
Contudo, não cresce em nossa vida natural, e, sim, na
vida divina, espiritual.
O versículo 21 também diz que todo o edifício é
ajustado. A palavra ajustado significa adequado à
condição e situação do edifício.
I. O MORDOMO: UM PRISIONEIRO
Para haver tal dispensação há a necessidade de
mordomos. Cada apóstolo é um mordomo de Deus.
Como apóstolo, Paulo era um mordomo que
dispensava as riquezas de Deus a Seus filhos.
A. De Cristo Jesus
Embora fosse mordomo, em 3:1 Paulo referiu-se
a si mesmo como prisioneiro de Cristo Jesus “por
amor de vós, gentios”. Ele se considerava prisioneiro
de Cristo. Aparentemente estava confinado a uma
prisão física; na verdade estava aprisionado em
Cristo. Com base nessa posição, de viver como
prisioneiro em Cristo, ele rogava aos santos. Ao
desvendar a revelação do mistério de Deus a respeito
da igreja nos capítulos 1 e 2, ele falou com base em
sua posição como apóstolo de Cristo por meio da
vontade de Deus. Tal posição era a autoridade da sua
revelação a respeito da igreja. Ao rogar aos santos que
andassem de modo digno do chamamento de Deus,
falou do ponto de vista de sua posição como
prisioneiro do Senhor. Sua posição como apóstolo de
Cristo o qualificava a desvendar a revelação de Deus,
ao passo que sua posição como prisioneiro do Senhor
demonstrava seu andar Nele, por meio do qual podia
inspirar e rogar aos santos que andassem no Senhor
assim como ele o fez.
Paulo considerava-se prisioneiro de Cristo
porque tinha sido aprisionado por Cristo. Mais tarde,
em 4:1, refere-se a si mesmo como “o prisioneiro no
Senhor”. Cristo era sua prisão. Um dia, o próprio
Cristo a quem você ama toma-se sua prisão. Mais
cedo ou mais tarde, cada mordomo de Deus, cada
ministro das riquezas de Deus, cada pessoa que ama
fielmente a Cristo, será aprisionado não somente por
Cristo, mas também em Cristo. Quanto mais você O
ama, mais estará Nele. Por fim, estará Nele a tal
ponto que Ele se tomará sua prisão. Uma vez que seja
colocado nessa prisão, não desejará sair, porque a
amará muito. Nela você desfruta Cristo ao máximo.
Todos os que amam a Bíblia têm alta
consideração pela Epístola aos Efésios. Seria grande
perda se não houvesse tal livro no Novo Testamento,
pois ele contém a mais elevada revelação da Bíblia.
Essa revelação foi dada a um homem aprisionado em
Cristo, alguém que desfrutava Cristo como sua prisão.
Isso indica que, para que vejamos algo tão celestial e
divino, precisamos ser prisioneiros no Senhor.
Quanto mais liberdade tivermos, mais cegos seremos.
Mas, se Cristo for nossa prisão, nossos olhos serão
abertos para enxergar a visão celestial, e receberemos
a mais elevada revelação.
B. Por Amor dos Santos
Paulo teve essa visão por amor dos santos, pois,
como diz em 3:1, era prisioneiro por amor dos
gentios. Se desfrutarmos Cristo como nossa prisão
também teremos uma visão, não para nós mesmos, e,
sim, para a igreja.
Muitos cristãos lêem Efésios várias vezes sem
enxergar a revelação contida nesse livro porque não
estão aprisionados em Cristo. São livres demais, e
essa liberdade os faz cegos. Mas, se estiver disposto a
perder sua liberdade, a visão virá a você. Que você
prefere: liberdade ou visão? Todos precisamos orar:
“Senhor, pelo bem da visão celestial, estou disposto a
perder a liberdade. Senhor, desejo ser aprisionado em
Ti. As pessoas podem achar que estou sofrendo, mas
quando estou aprisionado em Ti, desfruto-Te ao
máximo”. O desfrute de estar aprisionado em Cristo
nos capacita a receber a revelação celestial.
Sem dúvida, há verdades preciosas em todos os
livros da Bíblia. Mas as mais doces e profundas estão
em Efésios. Elas são transmitidas em sentenças
celestiais como sede fortalecidos no homem interior,
renovados no espírito da mente e cheios até toda a
plenitude de Deus. Essas expressões celestiais foram
ditas por alguém que teve uma visão como prisioneiro
em Cristo. Enquanto estava aprisionado em Cristo,
Paulo viu o que era ser fortalecido no homem interior,
renovado no espírito da mente e enchido até toda a
plenitude de Deus. Em princípio ocorre o mesmo
conosco hoje. Sempre que temos liberdade fora de
Cristo perdemos a visão espiritual. Mas, se
estivermos dispostos a habitar em Cristo como nossa
prisão, a visão virá, e nossa visão será restaurada. Os
céus nos serão abertos, e tudo se tomará claro como
cristal.
Em Efésios 3 o apóstolo Paulo teve uma visão
muito elevada. Foi nesse capítulo que usou o termo
“as insondáveis riquezas de Cristo”. O que ele viu a
respeito disso está muito além do nosso
entendimento. Nem mesmo ele tinha palavras
adequadas para expressá-lo. Por fim, pôde falar
apenas da largura, comprimento, profundidade e
altura (v. 18). Essas dimensões, que são as dimensões
de Cristo, são na verdade as dimensões do universo.
Como estava confinado e restrito a uma prisão, Paulo
teve uma visão das dimensões universais de Cristo.
Embora você se considere pequeno, também verá
algo por amor da igreja se estiver disposto a ser
prisioneiro em Cristo.
A. O Mordomado
O mordomado da graça é o dispensar das
riquezas de Cristo. De acordo com o contexto do
capítulo 3, a graça refere-as às riquezas de Cristo.
Quando Suas riquezas são desfrutadas por você,
tomam-se graça. O ministério de Paulo era
dispensá-las como graça aos crentes. Uma comissária
de bordo dispensa alimento aos passageiros, e não
informação sobre como cozinhar. De modo
semelhante, o apóstolo Paulo dispensava as riquezas
de Cristo aos santos. Isso é o que fazemos hoje no
ministério.
B. A Graça
Como nosso mordomado é o dispensar da graça,
precisamos ver o que é graça. João 1:17 diz que a
graça veio por meio de Jesus Cristo. No Antigo
Testamento havia a lei, e não a graça. A graça só veio
quando Cristo veio.
Muitos cristãos acham que graça refere-se
principalmente a bênçãos materiais. Embora a Bíblia
indique que a graça só veio com Cristo, contudo Deus
concedeu bênçãos materiais ao Seu povo antes que
Cristo viesse. Graça é nada menos que o próprio Deus
dado a nós, ganho por nós e desfrutado por nós.
Antes que Cristo viesse, Deus não podia ser dado a
ninguém. Ninguém podia recebê-Lo ou desfrutá-Lo.
Mas em Cristo e por meio de Cristo recebemos Deus,
e Ele se torna nosso desfrute. Portanto, graça é o
próprio Deus como nosso desfrute. O mordomado da
graça é o dispensar de Deus às pessoas para ser seu
desfrute. Dispensar essa graça aos outros é nosso
mordomado de acordo com a economia de Deus.
Visto que participamos de Deus como nosso desfrute,
podemos dispensá-Lo como graça aos outros. Esse é o
mordomado da graça.
A. No Espírito
O versículo 5 diz que o mistério foi revelado aos
apóstolos e profetas no espírito. A palavra “espírito”
aqui refere-se ao espírito humano dos apóstolos e
profetas, um espírito regenerado e habitado pelo
Espírito Santo de Deus. Pode ser considerado o
espírito mesclado, o espírito humano mesclado com o
Espírito de Deus. Tal espírito mesclado é o meio pelo
qual a revelação do Novo Testamento a respeito de
Cristo e a igreja é desvendada aos apóstolos e
profetas. Precisamos do mesmo espírito para ver tal
revelação.
Quando falamos aos outros sobre Cristo e a
igreja, não devemos falar a partir de nossa mente,
emoção ou vontade. Devemos, antes, falar aos outros
a partir do nosso espírito o que temos experimentado
de Cristo e a igreja. O princípio aqui é que emoção
toca emoção, mente toca mente, e vontade toca
vontade. Do mesmo modo, somente o espírito pode
contatar o espírito. ·Se você falar aos outros pela sua
emoção não será capaz de tocar o espírito deles. Mas
se falar a partir do seu espírito, o espírito deles será
tocado.
I. AS RIQUEZAS DE CRISTO
Para que sejamos apóstolos, profetas,
mordomos, ministros e até mesmo prisioneiros em
Cristo, precisamos conhecer as insondáveis riquezas
de Cristo. Elas visam à produção da igreja como
plenitude de Cristo.
A. Em Tipos
As riquezas de Cristo são descritas em tipos, ou
símbolos. Não é fácil encontrar tudo o que prefigura
Cristo no Antigo Testamento. Alguns tipos estão
escondidos. Por exemplo, a terra que emerge em
Gênesis 1:9-10 prefigura Cristo. Muitos outros são
encontrados no primeiro capítulo de Gênesis: a luz, o
sol, as estrelas e as árvores. Em outros lugares na
Bíblia vemos que a videira, a macieira, o cedro e o
cipreste prefiguram Cristo. As ervas também O
tipificam. Na Páscoa os filhos de Israel comiam não
somente o cordeiro, mas também pães asmos e ervas
amargas. Trigo e cevada também são tipos de Cristo,
assim como a flor de hena citada em Cântico dos
Cânticos. Certas pessoas também tipificam Cristo.
Adão, Abel, Isaque, Jacó, José, Moisés e Arão são
algumas delas. Os sacerdotes, reis e profetas também
O tipificam.
Quanto mais estudo a Bíblia, mais percebo quão
pouco a conheço. Poderiam ser dadas cem mensagens
sobre Gênesis 1, principalmente sobre os tipos de
Cristo nesse capítulo. A Bíblia é profunda. Somente
quando tocamos suas profundezas é que realmente
vemos as riquezas que ela contém. Sob a superfície
dela estão as riquezas de Cristo. Pelo fato de essas
riquezas serem tão vastas, é difícil alguém dizer
quantos tipos de Cristo há no Antigo Testamento. Só
isso já revela muito das riquezas de Cristo.
B. Em Sombras
Juntamente com os tipos há também as sombras
e figuras de Cristo. Embora tipos e sombras sejam
similares em certos aspectos, são como faces
humanas, que não somente têm semelhanças, mas
também diferem. Tipos são principalmente pessoas
ou coisas que simbolizam Cristo; sombras referem-se
a rituais e práticas no Antigo Testamento que O
retratam. De acordo com Colossenses 2:16-17, os
regulamentos de alimentação, os rituais e os dias
santos eram sombras. Por meio disso vemos que as
leis, ordenanças e cerimônias no Antigo Testamento
eram sombras retratando Cristo. Mas Adão, Arão e
Moisés não eram sombras; eram tipos. O sábado e a
lua nova, por outro lado, eram sombras. Embora o
sábado fosse um descanso, não era o descanso real,
pois este é Cristo. Do mesmo modo, a lei como
testemunho de Deus descrevia como Ele era. Como
descrição e explicação de Deus, a lei era um
testemunho de Deus. Nisso ela era uma sombra de
Cristo como real explicação, definição e testemunho
de Deus.
C. Em Figuras
Uma figura refere-se principalmente a uma
situação que apresenta certo quadro. Por exemplo, os
filhos de Israel a peregrinar no deserto são uma
figura, um quadro de nossa experiência na vida cristã
hoje, que freqüentemente é uma vida de peregrinar. A
Páscoa é outra figura. Embora o cordeiro pascal seja
um tipo de Cristo, a Páscoa em si é uma figura que
descreve como Cristo, nossa Páscoa, salva-nos do
juízo de Deus e nos alimenta com o que Ele é.
Portanto, o quadro da Páscoa é uma figura de Cristo.
Cristo é tão rico que precisa não somente de
tipos, mas também de sombras e figuras para
retratá-Lo. Todos os tipos, sombras e figuras de
Cristo no Antigo Testamento eram descrições,
explicações e definições do que Cristo é. Precisamos
estudar tudo isso nas Escrituras para conhecer as
riquezas de Cristo.
D. Em Profecias
As riquezas de Cristo também são vistas nas
profecias. Na Bíblia a primeira profecia a respeito de
Cristo é Gênesis 3:15, versículo que prediz que Cristo,
como descendente da mulher, esmagaria a cabeça da
serpente, Satanás. Isso quer dizer que Cristo deveria
tomar-se um homem nascido de uma virgem, pois
deveria descender da mulher. Cristo não é o
descendente de um homem; Ele é a descendência de
uma mulher. Somente esse versículo revela muito das
riquezas de Cristo.
Isaías 9:6 é outra profecia a respeito de Cristo.
Esse versículo nos dá sete títulos Dele: Menino, Filho,
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno,
Príncipe da Paz. Há no Antigo Testamento muitas
outras profecias acerca de Cristo. Até mesmo o curto
livro de Zacarias contém muitas profecias detalhadas
a Seu respeito.
E. No Cumprimento
As riquezas de Cristo também são vistas no
cumprimento das profecias. Às vezes no
cumprimento de uma profecia no Novo Testamento
algo mais é adicionado. Por exemplo, o Antigo
Testamento revela que Cristo seria o cordeiro. Mas no
Antigo Testamento Cristo nunca é chamado de o
Cordeiro de Deus. Contudo, no cumprimento da
profecia a Seu respeito como cordeiro, Ele é chamado
de o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Que complemento
maravilhoso!
Quando jovem, eu ficava incomodado com o fato
de que às vezes os escritores do Novo Testamento
adicionavam certas coisas ao citar as profecias do
Antigo Testamento a respeito de Cristo. Achava que
eles não deviam ter ido além do que estava escrito no
Antigo Testamento. Mais tarde vim a perceber que
Cristo não podia ser limitado pelas profecias a Seu
respeito. Quando Ele veio, cumpriu mais do que fora
profetizado. Além disso, nossa experiência de Cristo
ultrapassa o cumprimento das profecias. Na verdade
isso não é adicionar algo; é experimentar o Cristo
ilimitado. Em nossa experiência Cristo é não somente
o Cordeiro de Deus, mas também o Cordeiro da
eternidade. Assim, a profecia é curta, o cumprimento
é mais longo, e a experiência é eterna. Quando
experimentamos Cristo no cumprimento das
profecias a Seu respeito, não acrescentamos nada.
Antes, entramos na eterna experiência das riquezas
inesgotáveis de Cristo.
F. Como Plantas
As plantas também retratam as riquezas de
Cristo. A grama, as flores, os grãos e as árvores
descrevem Suas riquezas.
G. Como Animais
Cristo é tipificado não somente por árvores e
plantas, mas também por animais. O cordeiro, o boi,
a águia, o leão e a pomba simbolizam Cristo.
H. Como Minerais
Na Bíblia vários minerais também mostram as
riquezas de Cristo. Ouro, prata, bronze e pedras
preciosas, por exemplo, tipificam-No.
I. Como Pessoas
Já dissemos que várias pessoas na Bíblia
tipificam Cristo. Todas elas descrevem diferentes
aspectos das riquezas de Cristo. Vemos certas
riquezas de Cristo em Adão, outras em Abel e outras
em José. Através de toda a Bíblia muitas outras
pessoas retratam diferentes aspectos das riquezas de
Cristo.
I. A SABEDORIA DE DEUS
O versículo 10 continua: “Para que, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus se tome conhecida,
agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais”. Esse versículo fala da sabedoria de Deus.
O capítulo um fala do poder de Deus (vs. 19-20), o
dois, da graça de Deus (vs. 5-8) e o três, da sabedoria
de Deus. Ele é extremamente sábio, e o universo
revela Sua sabedoria.
Precisamos ver a diferença entre sabedoria e
conhecimento. Em Colossenses 2:3 os dois são
mencionados juntos. A sabedoria é mais elevada e
mais profunda que o conhecimento. Ela pode ser
vista no início de algo, por exemplo, na formulação de
um novo invento, enquanto o conhecimento pode ser
visto na aplicação prática. Se tiver somente
conhecimento e faltar-lhe sabedoria, você será
incapaz de iniciar ou inventar algo. Deus é o único
Iniciador. Ele iniciou muitas coisas, não pelo Seu
conhecimento, e, sim, pela Sua sabedoria. Quando
entra em cena para aplicar o que iniciou, Ele exibe
Seu conhecimento.
Em nosso caso, a sabedoria está em nosso
espírito, e o conhecimento na mente. Se você não
sabe como chegar ao seu espírito, pode ter muito
conhecimento, mas não terá sabedoria. Mas se for
uma pessoa no espírito, será sábio. Além disso, na
mente você terá conhecimento, prudência.
a versículo 10 diz que por meio da igreja a
multiforme sabedoria de Deus torna-se conhecida
dos principados e potestades na regiões celestiais.
Esses principados e potestades são os principados e
potestades angélicos, tanto bons como maus. A
passagem aqui refere-se especialmente aos malignos:
Satanás e seus anjos. De acordo com o Novo
Testamento, Satanás tem um reino, anjos e esfera de
governo. Sua esfera de governo está no ar e na terra. a
livro de Daniel mostra que todas as nações da terra
estão sob o domínio de Satanás no ar. Portanto, por
meio da igreja Deus toma conhecida Sua sabedoria,
não aos seres humanos principalmente, e, sim, aos
anjos rebeldes que são os seguidores do inimigo de
Deus.
a versículo oito revela que a igreja é produzida
com as riquezas insondáveis de Cristo. Quando o
povo escolhido de Deus participa das riquezas de
Cristo e as desfruta, elas fazem deles a igreja, por
meio da qual a multiforme sabedoria de Deus se torna
conhecida dos principados e potestades angélicos nas
regiões celestiais. Portanto, a igreja é a sábia exibição
por Deus de tudo o que Cristo é.
Até mesmo a rebelião de Satanás está na esfera
da sabedoria de Deus. Se não fosse a rebelião
satânica, a sabedoria de Deus não teria sido revelada
de maneira plena. Se você for cheio de sabedoria,
quanto mais tribulações e dificuldades tiver, mais
sabedoria expressará. Mas se tudo o que se relaciona
a você for calmo e sem problemas, você não terá
nenhuma oportunidade de expressar sua sabedoria.
Na verdade, quando tudo vai bem, há pouca
necessidade de sabedoria. Você precisa de tribulação
a fim de exibir sua sabedoria.
Deus também precisa de problemas. Ele até
mesmo precisa de um adversário, Satanás. Poucos
cristãos percebem que Deus na verdade precisa de
Satanás. Embora precise de nós, Deus precisa ainda
mais de Satanás. Quando jovem, perguntava-me por
que Deus não lançara Satanás no lago de fogo
imediatamente após ter-se rebelado contra Ele.
Questionava por que Deus dera a ele tanta liberdade.
Também me perguntava por que Deus colocara a
árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim
do Éden. Se ela não estivesse lá, o homem não teria
caído. Mas sem Satanás e sem a árvore do
conhecimento, a sabedoria de Deus não pode ser
plenamente manifestada. Satanás e a árvore do
conhecimento têm criado muitas oportunidades para
a sabedoria de Deus manifestar-se de modo
multiforme, isto é, de várias maneiras e aspectos e de
muitos ângulos. A palavra grega traduzida por
“multiforme” indica que a sabedoria de Deus tem
muitos lados, aspectos e direções. Somente por meio
de problemas todos os aspectos da sabedoria de Deus
podem ser manifestados.
Quando alguns ouvem isso, podem ser tentados a
dizer: “Vamos criar mais problemas para Deus.
Façamos o mal para que venha o bem”. Nunca diga
isso. Se tenciona criar problemas ou fazer o mal, pode
achar-se incapaz de fazê-lo, Por exemplo, embora seja
fácil levantar-se, é difícil cair de propósito.
Precisamos perceber nossa pequenez. Por nós
mesmos, não podemos ter sucesso em ser derrotados
ou vitoriosos. Se tentar não ser derrotado, você pode
ser derrotado. Mas, se desejar ser derrotado, pode
descobrir que não consegue.
Considere o exemplo de Davi. Com relação a
Bate-Seba, Davi cometeu grande falha. Se Deus não
tivesse permitido que ele caísse nessa questão, Davi
não poderia ter caído. Sua queda deu a Deus
oportunidade de expressar Sua sabedoria. Por meio
da sua queda e arrependimento, combinados com o
perdão de Deus, Davi ganhou um filho, Salomão, para
ser o edificador do templo. Mais tarde, Davi caiu
novamente, dessa vez ao fazer o censo do exército de
Israel. Mas por meio dessa segunda queda Davi
adquiriu o lugar sobre o qual o templo foi edificado.
Para a edificação do templo havia a necessidade tanto
do edificador como do lugar. Se ler a Bíblia com
entendimento, verá que as quedas de Davi não vieram
de Davi nem de Deus; vieram de Satanás. Foi Satanás
quem tentou Davi a cometer imoralidade e a
recensear o exército de Israel. Quando Davi cedeu a
essas tentações, Satanás ficou satisfeito, convencido
de que tinha danificado um rei excelente, cujo
coração era absoluto por Deus. Ele, contudo, não
sabia que suas tentações criaram oportunidades para
que a sabedoria de Deus fosse manifestada.
O que quer que o inimigo de Deus faça dá a Deus
oportunidade de exibir Sua sabedoria. Se nunca
tivéssemos sido envenenados e corrompidos, não
precisaríamos tanto de Deus, e não haveria
necessidade da Sua salvação. Quanto mais
pecaminosos, corruptos e danificados formos, maior
é nossa necessidade de Deus, e maior a oportunidade
de Deus fazer algo por nós.
No versículo 10 Paulo declara que a sabedoria
multiforme de Deus se torna conhecida dos
principados e potestades nas regiões celestiais por
meio da igreja. Ela é o Corpo de Cristo, os
co-herdeiros e os co-participantes. A igreja é
composta dos que antes estavam arruinados,
corrompidos e danificados. Antes de ser salvos,
éramos víboras, serpentes venenosas. Além disso,
estávamos mortos nas transgressões e pecados. Ainda
mais, estávamos dispersos e divididos, totalmente
incapazes de ser um. Assim, todos os membros da
igreja estavam numa situação desesperadora.
Contudo Deus, em Sua sabedoria, é capaz de fazer de
nós a igreja. Agora somos não somente redimidos,
salvos, limpos, livres e regenerados; somos também
unidos. Somos um com Deus e entre nós. Portanto,
somos a igreja.
A igreja é o maior objeto de orgulho de Deus.
Embora você possa não se preocupar tanto com a
igreja, Deus se preocupa. Às vezes Ele pode dizer:
“Olhe, Satanás, tomei as próprias pessoas a quem
você tinha arruinado e fiz delas a igreja. Você tem a
sabedoria para fazer isso? Você não a tem, mas Eu
sim”.
Depois de Deus ter criado o homem e o colocado
no jardim, Satanás veio para interferir, convencido de
que a melhor maneira de arruinar o homem que Deus
criara para Si mesmo era injetar sua própria natureza
maligna nele. Na queda, Satanás entrou no homem
como pecado e, em muitos aspectos, fez com que o
homem fosse o mesmo que ele. Por essa razão a Bíblia
refere-se aos homens caídos como raça de víboras.
Tendo vindo ao homem como pecado, Satanás fez-se
um com o homem e transmutou o corpo humano em
carne. Mas um dia Deus tomou-se carne (Jo 1:14). Por
fim, Satanás fez com que Cristo, que se tinha tornado
carne, fosse crucificado. Primeiramente ele instigou
Judas a traí-Lo, e depois incitou os judeus e gentios a
cooperar para crucifica-Lo. O que Satanás não
percebeu, contudo, é que ao colocar Cristo na cruz
estava na verdade crucificando a si mesmo. Como diz
Hebreus 2:14: “Visto, pois, que os filhos têm
participação comum de carne e sangue, destes
também Ele, igualmente, participou, para que, por
sua morte, destruísse aquele que tem o poder da
morte, a saber, o diabo”. Por meio de Sua própria
morte na cruz, o Senhor Jesus destruiu Satanás. Que
exibição da maravilhosa sabedoria de Deus! Esse é
um aspecto de Sua sabedoria.
Outro aspecto da sabedoria de Deus é revelado
em 1 Coríntios 1. Nesse capítulo Paulo diz que os
gregos, as pessoas filosóficas, buscavam sabedoria.
Contudo para nós, chamados por Deus e que cremos
no Senhor Jesus, a sabedoria é Cristo. Ele é a
sabedoria de Deus. Primeira Coríntios 1:30 diz que é
de Deus que estamos em Cristo Jesus. O fato de que
estamos em Cristo é a sabedoria de Deus. Não posso
explicar como Ele nos colocou em Cristo. Contudo,
tenho profunda convicção e segurança de que
estamos em Cristo. Louvado seja o Senhor por isso!
Em Sua sabedoria Deus nos colocou em Cristo.
De acordo com 1 Coríntios 1:30, Cristo é nossa
sabedoria com relação à justiça, santificação e
redenção. Como nossa justiça, Ele lidou com o nosso
passado, que era totalmente injusto. Para nossa atual
situação, Cristo é nossa santificação, e para o futuro
Ele é nossa redenção. Um dia nosso corpo será
redimido, isto é, transfigurado. Cristo ser nossa
justiça, santificação e redenção requer muita
sabedoria da parte de Deus. Embora Cristo seja nossa
justiça para o passado, santificação para o presente e
redenção para o futuro, Ele é também nossa justiça,
santificação e redenção diárias.
Para entender isso adequadamente, precisamos
ver a plena extensão da economia de Deus. Após a
criação e a queda do homem, Deus tornou-se carne
por meio da encarnação. Então o Senhor Jesus foi à
cruz e crucificou a carne. Após passar pela morte e
ressurreição ascendeu aos céus, depois desceu e
entrou em nós como Espírito que dá vida a fim de
vivificar o nosso espírito mortificado e nos regenerar.
Tendo-nos regenerado, Ele agora habita em nosso
espírito como vida. Nessa vida, a vida divina, temos a
lei da vida, o sentimento da vida e a comunhão da
vida. O Senhor, contudo, não é somente vida a nós; é
também a unção em nosso interior. Além disso, dia a
dia Ele nos sela satura, unge e permeia. A medida que
isso ocorre, espontaneamente O vivemos, e Ele se
torna nossa justiça. Essa é a sabedoria de Deus. Por
causa da Sua sabedoria, Deus pode gloriar-se diante
de Satanás sobre o que Ele faz com o homem
corrompido e arruinado. Você já percebeu que o que
somos como cristãos hoje vem da sabedoria de Deus?
Somente Ele tem a sabedoria para iniciar tal obra
maravilhosa, de transformar pessoas pecaminosas e
corrompidas em membros de Cristo.
Por meio do trabalho do Espírito da vida, há uma
mudança na nossa própria natureza. É uma mudança
metabólica, que nos santifica e transforma. Assim,
Cristo é não somente nossa justiça, mas também
santificação. Além disso, somos redimidos dia a dia, e
por fim seremos glorificados. Cristo é nossa justiça,
santificação e redenção, não somente objetiva, mas
também subjetivamente, mesclando-nos e
mudando-nos metabolicamente. Tudo isso é um
testemunho da multiforme sabedoria de Deus.
Muitos aspectos da Sua sabedoria são manifestados
ao fazer de Cristo nossa justiça, santificação e
redenção. Nossa experiência de Cristo nessas
questões é de acordo com a multiforme sabedoria de
Deus.
A igreja por meio da qual a sabedoria de Deus é
tão maravilhosamente exibida é Sua obra-prima. Aos
Seus olhos a coisa mais bela no universo é a igreja,
pois por intermédio dela a Sua multiforme sabedoria
é mostrada a Satanás e seus anjos. Breve virá o dia em
que Satanás e seus anjos serão envergonhados.
Perceberão que tudo que têm feito tem dado a Deus
oportunidade de manifestar Sua sabedoria. No
mesmo princípio, nossas falhas, erros, derrotas e
maus feitos também Lhe têm dado oportunidade de
exibir Sua sabedoria. Nenhum de nós gosta de estar
errado; pelo contrário, todos desejamos ser corretos.
Embora sempre tenha desejado fazer a coisa certa,
tenho cometido muitos erros, até mesmo alguns
grandes erros. Certamente os detesto, mas posso
testificar que eles deram a Deus oportunidade de
exibir Sua sabedoria. Portanto, posso agradecer ao
Senhor por todos os meus erros.
Se revirmos nosso passado, perceberemos que
recebemos mais graça por meio dos erros do que por
meio do que fizemos sem nenhum erro. Embora
tenha cometido alguns grandes erros, por meio deles
recebi muita misericórdia e graça. Parece que a
misericórdia e graça recebidas têm sido
proporcionais à seriedade dos erros. Aleluia, somos
os escolhidos de Deus, e até mesmo por meio de
nossas falhas Ele manifesta Sua multiforme
sabedoria! Contudo, não devemos tentar falhar
intencionalmente a fim de receber a misericórdia e
graça de Deus.
B. Diante do Pai
Nos versículos 14 e 15 Paulo diz: “Por esta causa,
me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o
nome toda família, tanto no céu como sobre a terra”.
Repare que ele não se refere a Deus, e, sim, ao Pai. O
“Pai” aqui é usado num sentido amplo, significando
não somente o Pai da família da fé (Gl 6:10), e, sim, o
Pai de toda família nos céus e sobre a terra. O Pai é a
origem, não somente dos crentes regenerados, mas
também da humanidade criada por Deus (Lc 3:38),
de Israel (Is 63:16; 64:8) e dos anjos (Jó 1:6). O
conceito dos judeus era que Deus era Pai somente
deles. Assim, o apóstolo orou ao Pai de todas as
famílias no céu e sobre a terra, de acordo com sua
revelação, e não como os judeus, que oravam somente
ao Pai de Israel, de acordo com o conceito judaico.
Como Deus é a origem da família dos anjos no
céu e de todas as famílias humanas na terra, toda
família toma o nome de Deus, do mesmo modo que
produtores dão nome aos produtos e pais, aos filhos.
II. QUE SEJAMOS FORTALECIDOS
No versículo 16 temos o tema da oração de Paulo:
“Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos
conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante
o seu Espírito no homem interior”. Em contraste com
a oração no capítulo um, que pede revelação, essa é
uma oração que pede experiência. A necessidade no
capítulo um é que vejamos as coisas relacionadas com
o Corpo de Cristo, vejamos como o Corpo vem à
existência e como é constituído. Mas é inadequado
simplesmente ter a revelação; também precisamos da
experiência do que vemos. Uma vez que precisamos
experimentar Cristo subjetivamente, Paulo orou para
que fôssemos fortalecidos com poder no homem
interior.
B. Com Poder
Somos também fortalecidos com poder. Esse
poder é o poder da ressurreição citado em 1:19-20; e é
esse poder que opera em nós (3:20). Ele ressuscitou a
Cristo dentre os mortos, fê-Lo ascender aos céus e pôs
todas as coisas debaixo de Seus pés. É com tal poder
que Deus nos fortalece.
D. No Homem Interior
O versículo 16 também diz que somos
fortalecidos no homem interior. O homem interior é o
nosso espírito regenerado com a vida de Deus como
sua vida. É nosso espírito regenerado pelo Espírito de
Deus (10 3:6), habitado pelo Espírito de Deus (Rm
8:11, 16) e mesclado com o Espírito de Deus (1Co
6:17). Para que experimentemos Cristo até toda a
plenitude de Deus, precisamos ser fortalecidos no
homem interior. Isso quer dizer que precisamos
aprofundar-nos no nosso espírito, onde podemos ser
fortalecidos por meio do Espírito Santo.
Pelo fato de os seres humanos serem almas, não
espíritos, nossa personalidade ou pessoa está na
alma. Essa é a razão de a Bíblia referir-se aos homens
como almas (Êx 1:5; At 2:41 — VRC). Tanto o corpo
como o espírito são vasos usados pela alma. Portanto,
como almas, temos um vaso exterior, o corpo, assim
como um vaso interior, o espírito. Quando nos
arrependemos e cremos no Senhor Jesus, Ele entrou
em nós e nos regenerou com Ele mesmo como nossa
vida. Antes de ser regenerados não havia vida em
nosso espírito; tínhamos simplesmente a vida
humana na alma. Mas, por meio da regeneração,
temos agora a vida divina no espírito. Portanto, ele
não é mais apenas um vaso; tornou-se nossa pessoa
com a vida de Deus. Mas que aconteceu com a vida
humana e a velha pessoa na alma? A velha pessoa, a
alma com a vida humana, foi crucificada, e agora
nossa nova pessoa é o espírito com a vida divina.
Nosso espírito regenerado com a vida divina é agora o
nosso homem interior.
É muito difícil permanecer no espírito. Todos
estamos acostumados a sair do espírito, e não a
entrar e permanecer nele. De acordo com minha
experiência, posso testificar que não sou inclinado a
permanecer no espírito. Uma vez que é tão fácil sair
do espírito, ainda estou aprendendo a permanecer
nele. Sempre que permanecemos no espírito, somos
fortalecidos; mas sempre que saímos dele, somos
enfraquecidos. Você já percebeu como é fácil a mente
vaguear quando você ora? Quando não está orando,
pode não pensar em certas coisas. Mas, quando
começa a orar, pode repentinamente descobrir que
seus pensamentos estão em uma coisa e, logo depois,
em outra. Você pode fazer até mesmo uma rápida
viagem a outra parte do mundo. Essa é a razão pela
qual precisamos ser fortalecidos no homem interior.
Quanto mais somos fortalecidos, mais as partes do
nosso ser interior são trazidas de volta ao espírito, ao
homem interior.
Precisamos ser fortalecidos para permanecer no
espírito e não ser distraídos por pensamentos acerca
de tantas coisas. Para orar sem ser distraídos,
precisamos ser fortalecidos no homem interior. Como
precisamos ser fortalecidos para que todo o nosso ser
se volte ao homem interior e aí permaneça!
A revelação no capítulo 3 de Efésios pode ser
vista somente quando estamos no espírito. Como diz
o versículo 5, o mistério torna-se conhecido dos
apóstolos e profetas no espírito. Ser fortalecido no
homem interior é o segredo de ter a revelação do
mistério. Precisamos ser fortalecidos para que todo o
nosso ser seja conduzido de volta ao espírito.
Em nosso espírito somos também enchidos das
riquezas de Cristo até toda a plenitude de Deus (v.
19). A palavra grega traduzida por “até” no versículo
19 quer dizer “resultando em”. Nosso ser cheio das
riquezas de Cristo resulta na plena expressão de
Deus. Essa é a plenitude de Deus.
III. PARA QUE CRISTO HABITE EM NOSSO
CORAÇÃO
A primeira parte do versículo dezessete diz: “E,
assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé”. Nosso
coração é composto de todas as partes da alma
(mente, emoção e vontade) mais a consciência (a
parte principal do espírito). Essas são as partes
interiores do nosso ser. Por meio da regeneração,
Cristo entrou em nosso espírito (2Tm 4:22). A seguir,
devemos permitir que Ele se espalhe para cada parte
do nosso coração. Nosso coração é a totalidade de
todas as partes interiores e o centro do ser interior;
portanto, quando Cristo habita em nosso coração,
controla todo o nosso ser interior, assim como supre e
fortalece cada parte interior com Ele mesmo.
No versículo 17 Paulo diz que é mediante a fé que
Cristo habita em nosso coração. Fé é tornar reais as
coisas não vistas (Hb 11:1). O habitar de Cristo é
misterioso e abstrato. Nós O percebemos não pelos
sentidos físicos, e, sim, pelo sentido da fé.
Os três primeiros capítulos de Efésios são sobre a
igreja e os últimos três, sobre o andar de modo digno
do chamamento de Deus com vistas à igreja.
Contudo, na verdade somente os primeiros dois
capítulos são sobre a igreja, pois o capítulo três marca
o início da exortação de Paulo a respeito de um andar
digno do chamamento de Deus. Em Efésios 3 Paulo se
apresenta como modelo de alguém que podia
executar o propósito eterno de Deus a respeito da
igreja. Se tivéssemos somente os capítulos um e dois
sem o três, teríamos o ensinamento e até mesmo a
visão a respeito da igreja, mas não o caminho de
cumprir a visão. No capítulo três vemos como a igreja
é constituída de modo prático. Esse capítulo não diz
respeito à revelação da Igreja, nem, estritamente
falando, ao andar de modo digno do chamamento de
Deus para a igreja; antes, diz respeito à experiência
prática da igreja sendo constituída.
A vida da igreja é constituída de pessoas segundo
o modelo do apóstolo Paulo. Todos precisamos
segui-lo em receber a revelação no espírito e em ser
fortalecidos no homem interior. Quando se ajoelhou
diante do Pai, Paulo era tão forte no homem interior
que nada podia abalá-lo ou perturbá-lo, Pelo fato de
todo o seu ser estar em seu espírito, nada externo
podia atribulá-lo. Também precisamos ser
fortalecidos a tal ponto que nada seja capaz de nos
afastar do homem interior. Além disso, precisamos
que Cristo habite em nosso coração para que sejamos
totalmente ocupados e possuídos por Ele.
Quando somos fortalecidos no homem interior e
Cristo habita em nosso coração, somos capazes de ter
a revelação. Precisamos receber a mesma revelação
concedida aos primeiros apóstolos e profetas. Paulo
não podia recebê-la por nós; devemos recebê-la nós
mesmos, pessoal e subjetivamente, sendo fortalecidos
no homem interior. Essa revelação a respeito de
Cristo e a igreja é a economia de Deus, o mistério
oculto. Ser os apóstolos e profetas de hoje depende de
ter a revelação. Sem a revelação, não podemos ser
apóstolos e profetas. Se ti vesse vindo a este país sem
essa revelação, todo o meu falar teria sido em vão.
Mas vim com uma revelação, e de acordo com ela
falei. Isso fez de mim um seguidor dos apóstolos e
profetas no ministério neotestamentário de Deus.
Hoje todos os santos, incluindo os jovens, podem ser
tais seguidores.
Quando fomos salvos, Cristo entrou em nosso
espírito. Agora devemos dar a Ele oportunidade de
espalhar-Se por todas as partes do nosso ser interior.
À medida que somos fortalecidos no homem interior,
a porta se abre para Cristo espalhar-Se em nós,
espalhar-Se a partir do nosso espírito até nossa
mente, emoção e vontade. Quanto mais se espalha em
nosso interior, mais Ele se estabelece e habita em nós.
Isso quer dizer que Ele ocupa cada parte do nosso ser
interior, possuindo-a e saturando-a com Ele mesmo.
Como resultado, não somente recebemos a revelação,
mas somos também enchi dos com Cristo. Então,
onde quer que formos, seremos os apóstolos, os
enviados, e também os profetas, os que falam por
Cristo.
ESTUDO-VIDA DE EFÉSIOS
MENSAGEM TRINTA E TRÊS
COMPREENDER AS DIMENSÕES DE CRISTO E
CONHECER Ü' AMOR DE CRISTO
Nesta mensagem consideraremos as questões de
compreender as dimensões de Cristo e conhecer o
Seu amor. No versículo 18 Paulo fala da largura,
comprimento, altura e profundidade, mas não diz a
que essas dimensões se referem. Certamente
referem-se a Cristo. Precisamos ser fortalecidos para
compreender com todos os santos a largura, o
comprimento, a altura e a profundidade de Cristo.
A PLENITUDE DE DEUS
A plenitude de Deus é a expressão de Deus. Já
enfatizamos que o Corpo não são as riquezas de
Cristo, e, sim, a Sua plenitude (1:23). À medida que as
riquezas de Cristo são digeri das e assimiladas em
nosso interior, elas são metabolizadas. Por meio
desse processo de metabolismo tornamo-nos a
plenitude de Cristo como Sua expressão. Muitos
cristãos consideram riquezas e plenitude sinônimos.
As riquezas de Cristo são os vários aspectos de Cristo
para nosso desfrute, enquanto a plenitude é o
resultado, a conseqüência, do desfrute dessas
riquezas. Por exemplo, quando comemos e digerimos
as riquezas dos alimentos de um país, tornamo-nos a
plenitude daquele país. Como a plenitude do país,
somos sua expressão. Efésios 3:19 não diz que somos
enchi dos com as riquezas de Deus, mas enchidos até
a plenitude de Deus. Isso quer dizer que somos
enchidos com um resultado: tornamo-nos a
expressão de Deus. A expressão de Deus hoje é a
igreja, que é o Corpo, a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas. Portanto, a plenitude de
Deus em 3:19 é a plenitude de Cristo, que é o Corpo
em 1:23. O Corpo é constituído por meio de nosso
desfrute das riquezas de Cristo.
Os capítulos um e dois abrangem a revelação da
igreja, e o capítulo três abrange a constituição da
igreja. No capítulo três vemos que Paulo, um líder e
modelo, recebeu a revelação e desfrutou as riquezas
de Cristo. Elas foram metabolicamente constituídas
em seu ser para fazer dele parte do Corpo. Todos que
desejam segui-lo para ser os apóstolos e profetas de
hoje devem ser o mesmo que ele nessas questões.
Então a igreja será constituída para tornar-se a
plenitude de Cristo e a plenitude de Deus. Para que
isso aconteça, Paulo orou a fim de que fôssemos
fortalecidos no homem interior, tendo como
resultado Cristo habitando em nosso coração e assim
ocupar, possuir, permear e saturar todo o nosso ser
interior com Ele mesmo. Desse modo somos enchi
dos com Cristo, e nos tornamos fortes para
compreender as dimensões de Cristo e conhecer Seu
amor que excede todo entendimento. Por fim,
seremos enchi dos de Cristo a tal ponto que nos
tornaremos a plenitude de Deus.
À medida que passamos por todos esses passos,
precisamos compreender as dimensões de Cristo. A
palavra grega traduzida como “compreender”
significa não somente conhecer, mas também
agarrar, tomar posse intensamente. A fim de
compreender as dimensões de Cristo precisamos de
todos os santos; para isso devemos tomar posse de
Cristo corporativamente.
EXPERIMENTAR A LARGURA E O
COMPRIMENTO
Em nossa experiência de Cristo, primeiro
experimentamos a largura do que Ele é, e então o
comprimento. Isso é horizontal. Quando avançamos
Nele, experimentamos a altura e profundidade de
Suas riquezas. Isso é vertical. Primeiro
experimentamos Cristo espalhando-se como largura e
comprimento. Mais tarde O experimentamos
erguendo-se como altura e finalmente descendo como
profundidade. Como veremos, nossa experiência de
Cristo deve, por fim, tornar-se tridimensional, como
um cubo.
Se tivermos somente o comprimento de Cristo
sem a largura, nossa experiência será uma “linha”,
isto é, uma experiência que é longa e estreita ao
extremo. Nossa experiência de Cristo, contudo, não
deve ter apenas uma dimensão, como uma linha, e,
sim, duas, como um quadrado, e depois três, como
um cubo. É muito importante que todos tenhamos
uma experiência bidimensional ou “quadrada” de
Cristo. Se tivermos somente uma experiência “linear”
Dele, essa linha continuará até parar numa
extremidade. Todos os extremistas são “lineares”: sua
experiência de Cristo está sobre uma só “linha”. Se
você experimentar Cristo adequada e normalmente
como largura e comprimento, será guardado de ir a
um extremo. Não vá longe demais na linha de uma
experiência longa e restrita de Cristo. Antes,
experimente-O de maneira “quadrada” como largura
e comprimento. Experimentando-O continuamente
como largura e comprimento, nossa experiência será
como um “tapete” solidamente entretecido, e não
apenas um longo “fio”.
Alguns exemplos ajudarão a esclarecer essa
questão. Por vários anos ouvi certo grande mestre da
Bíblia. Ele era extremamente versado nas Escrituras.
Embora gastasse muito pouco tempo em oração, lia
constantemente a Palavra e escrevia notas em sua
Bíblia. Após falar sobre a Bíblia por certo tempo,
pedia licença e fumava cachimbo. Então recomeçava
a discussão das Escrituras. Ele tinha uma “linha”
unidimensional (uma ênfase extrema em estudar a
Bíblia), mas em sua experiência não havia a expansão
normal de Cristo em duas dimensões como um
“quadrado”.
Uma irmã em minha cidade natal também tinha
uma experiência “linear”. Não lia a Bíblia, mas
dedicava muito tempo à oração. Sendo extremamente
séria em orar, decidiu jejuar e orar por muitos dias.
Ao sétimo dia alguns vieram a mim muito
preocupados com a situação dela. Quando a
visitamos, ela estava na cama, enfraqueci da devido
aos sete dias de jejum. Nós a encorajamos a tomar
cuidado com a saúde, mas ela ficou ofendida com
nossa sugestão. No dia seguinte faleceu. Esse é um
exemplo de como uma experiência “linear” pode levar
as pessoas a um extremo, e até desviá-las. Cedo ou
tarde toda experiência “linear” desvia-se. Portanto,
precisamos ser equilibrados. Esses dois exemplos
mostram que precisamos despender tempo tanto em
oração como no estudo da Palavra.
Outra experiência extremista diz respeito às
reuniões da igreja. Há pouco tempo alguns dentre nós
decidiram que não precisavam mais das reuniões da
igreja. Preferiram apenas desfrutar o Senhor em casa.
Não há nada errado em desfrutar o Senhor em casa,
mas não devemos “esticar” tal experiência até que se
torne um extremo. Outros, pelo contrário,
preocupam-se somente com as reuniões. Em sua vida
cristã não reservam tempo para oração, estudo
bíblico ou desfrute do Senhor em casa. Preocupam-se
somente com as reuniões. Isso também é um
extremo.
Como é fácil ter experiências “lineares”, de uma
só dimensão! Parece que poucos santos desejam
experiências bidimensionais, como tapete. Para que
tenhamos uma experiência de Cristo como tapete
solidamente entretecido, precisamos ser equilibrados
de muitos modos. Ser equilibrado é ser enriquecido.
Precisamos tanto da largura como do comprimento;
precisamos das experiências bidimensionais,
“quadradas”, de Cristo.
Para que experimentemos Cristo em Suas
dimensões universais precisamos da vida da igreja.
Precisamos experimentá-Lo com todos os membros
do Corpo. Em particular, precisamos das reuniões da
igreja, pois nelas somos equilibrados por meio das
mensagens e testemunhos dos santos. Se
experimentarmos as dimensões de Cristo na vida da
igreja, gradualmente seremos tecidos como “tapete”.
Não seremos finos fios de “linha”. O que é necessário
hoje não são experiências de “linha”, e, sim, um
“tapete” tecido por meio da experiência equilibrada
de Cristo na igreja.
Quando experimentamos Cristo desse modo,
descobrimos que Sua largura e comprimento são
imensuráveis. Ele é imensurável em Sua expansão. À
medida que O experimentamos em Sua expansão,
passamos a ver que Suas dimensões são as próprias
dimensões do universo.
EXPERIMENTAR A ALTURA E A
PROFUNDIDADE
Após experimentarmos a largura e o
comprimento de Cristo, começamos a experimentar
Sua altura, e então a profundidade. Não pense que
primeiro experimentamos a profundidade de Cristo.
Não, primeiramente subimos e depois descemos.
Antes que possamos ter a profundidade, devemos ter
a altura. As experiências espirituais da profundidade
de Cristo vêm das experiências da Sua altura. Isso
quer dizer que primeiro crescemos, e depois somos
enraizados. Portanto, o entendimento adequado da
experiência da altura e profundidade de Cristo é
contrário ao nosso conceito natural, que coloca a
profundidade antes da altura.
Em nossa experiência de Cristo, devemos
prosseguir de duas para três dimensões, de
“quadrado” para “cubo”. Um cubo é sólido. Tanto no
tabernáculo como no templo, o Santo dos Santos era
um cubo. Suas dimensões no tabernáculo eram dez
côvados e no templo, vinte. A Nova Jerusalém será
um cubo eterno, com doze mil estádios em três
dimensões. A vida da igreja hoje também deve ser um
“cubo”. Além disso, nossa experiência de Cristo na
igreja deve ser “cúbica”, tridimensional, com muitas
linhas indo e voltando, nas três direções. Quando O
experimentamos de tal modo tridimensional somos
sólidos. Em nossa experiência de Cristo somos
primeiro um “quadrado”, e depois um “cubo”.
Quando nos tornamos um cubo, não podemos cair
nem ser quebrados. Cristo é o cubo universal. E a vida
da igreja hoje é também um “cubo”, não uma “linha”,
ou mesmo um “tapete”. E nossa experiência de
Cristo? Que o Senhor abra nossos olhos para que
vejamos que nossa experiência Dele deve ser um
“cubo”. À medida que avançamos e voltamos,
subimos e descemos em nossa experiência de Cristo,
temos por fim um sólido “cubo”.
A IGREJA É CONSTITUÍDA
METABOLICAMENTE
Quando nos aprofundamos em 3:19, vemos que a
plenitude de Deus é a igreja. O capítulo 3 de Efésios
não se preocupa com a organização da igreja ou sua
formação, e, sim, com sua constituição. A igreja não é
organizada nem formada; é metabolicamente
constituída em nós por meio da nossa experiência e
desfrute das riquezas de Cristo. Para que a igreja seja
constituída de modo prático, precisamos ser
fortalecidos no homem interior. Então Cristo pode
habitar em nosso coração; Ele deve ocupar todas as
partes do nosso ser interior e saturá-las de Suas
riquezas. Precisamos, então, ser arraigados e
alicerçados em amor: arraigados para crescimento e
alicerçados para edificação. Em seguida devemos
compreender as dimensões de Cristo. Isso é
experimentá-Lo em Suas dimensões universais, tanto
horizontal como verticalmente. Juntamente com isso
conhecemos em nossa experiência o amor de Cristo
que excede todo entendimento. Como resultado de
todas essas experiências, somos por fim enchidos até
toda a plenitude de Deus. Portanto, ser cheio até a
plenitude de Deus é o resultado, a conseqüência, de
todas as experiências mais profundas, elevadas e ricas
de Cristo descritas em Efésios 3.
AS RIQUEZAS E A PLENITUDE
Quando comecei a falar sobre a diferença entre
as riquezas de Cristo e a Sua plenitude, alguns
tentaram argumentar comigo citando João 1:16:
“Porque todos nós temos recebido da Sua plenitude, e
graça sobre graça”. Diziam: “João 1:16 declara que
todos temos recebido da Sua plenitude. Será que a
plenitude não são as riquezas de Cristo? Como então
você pode fazer distinção entre riquezas e plenitude?”
Quando Cristo estava na terra com os discípulos, que
você diria que estava com Ele: as riquezas de Deus ou
a plenitude de Deus? Se as riquezas estivessem com
Ele, mas a plenitude não, faltaria algo; não estaria
completo. Por exemplo, suponha que uma
bomboneira de vidro contenha apenas alguns
bombons muito apetitosos. A bomboneira contém
algumas riquezas dos bombons, mas não a plenitude.
Contudo, após ser cheia deles, terá não somente as
riquezas, mas também a plenitude. Se a bomboneira
permanecer só parcialmente cheia, não haverá nela a
expressão dos bombons. Já que a plenitude é a
expressão, sem a plenitude não pode haver expressão.
Somente quando os bombons encherem a
bomboneira até a borda é que haverá plenitude como
expressão das riquezas.
Quando o Senhor Jesus veio, sem dúvida alguma
trouxe consigo todas as riquezas de Deus. Nele,
contudo, estavam não somente as riquezas de Deus,
mas também a Sua plenitude. Essa é a razão de João
1:16 dizer que todos nós temos recebido da Sua
plenitude, e não das Suas riquezas. Se você pegar um
bombom de uma bomboneira cheia deles, não irá
receber um bombom das riquezas da bomboneira,
mas da sua plenitude.
A plenitude é a completação das riquezas. Em
grego a palavra usada para “plenitude” significa
completação. Portanto, é correto traduzir essa
palavra grega por “totalidade”. A palavra grega
traduzida por “de” em João 1:16 indica procedência.
Assim, todos nós temos recebido da plenitude de
Cristo, a saber, da totalidade das riquezas de Deus.
Antes de me deitar à noite, sempre bebo um copo
de vitamina, de preferência cheio até a borda. À
medida que o bebo, participo da plenitude da
vitamina que está no copo. Quando Cristo veio, não o
fez só parcialmente cheio das riquezas de Deus.
Antes, estava cheio até a borda. Portanto, a plenitude,
a totalidade, do que Deus é estava presente Nele. Essa
plenitude, ou totalidade, é a expressão de Deus. O
Senhor Jesus era como o copo, e as riquezas de Deus
com as quais Ele estava cheio até toda a plenitude de
Deus eram como a vitamina. Os discípulos receberam
não apenas das riquezas de Deus, mas da Sua
plenitude.
ASSIMILAR METABOLICAMENTE . AS
RIQUEZAS DE CRISTO
No Novo Testamento a plenitude é a expressão
por meio da totalidade das riquezas. Essa é a razão de
Paulo falar em 3:8 das insondáveis riquezas de Cristo
e em 1:23 e 4:13 da plenitude de Cristo. As riquezas de
Cristo são os vários aspectos do que Ele é, e a Sua
plenitude é o resultado, a conseqüência, do nosso
desfrute das riquezas. À medida que as desfrutamos,
elas são assimiladas metabolicamente em nosso ser.
Então elas nos constituem a plenitude de Cristo, o
Corpo de Cristo, a igreja, como Sua expressão.
Portanto, a plenitude de Cristo em 1:23 é a própria
plenitude de Deus em 3:19. A plenitude de Deus é o
resultado de os crentes serem metabolicamente
constituídos experimentando as riquezas de Cristo.
Para assimilar Cristo metabolicamente,
precisamos ser fortalecidos no homem interior.
Precisamos também que Cristo habite em nosso
coração, isto é, ocupe, possua e sature
metabolicamente cada parte do nosso ser interior de
tudo o que Ele é. Então seremos arraigados para o
crescimento em vida e alicerçados para a edificação.
Além disso, nós nos tomaremos fortes para
compreender Cristo na experiência, em todas as Suas
dimensões universais. Juntamente com isso,
conheceremos pela experiência o amor de Cristo que
excede todo entendimento. Quando tivermos
experimentado Cristo a tal ponto, seremos cheios de
todas as Suas riquezas até toda a plenitude de Deus.
Tudo isso visa à constituição da igreja de modo
prático como Corpo de Cristo para Sua expressão.
O EFEITO DA VISÃO
Todos precisamos de tal visão, tal revelação. Se a
tivermos, nosso ser mudará. Se ela estiver constituída
em nós e então sairmos para falar por Deus,
certamente seremos Seus enviados e porta-vozes.
Seremos os apóstolos e profetas de hoje.
Essa visão revela a única maneira de o Senhor
edificar a igreja. Somente quando tivermos essa visão
é que o Senhor terá caminho para realizar na terra a
edificação da igreja. Após mais de dezenove séculos
de história cristã, que foi realizado para o Senhor?
Considere a situação de hoje. Praticamente ninguém
tem a visão do capítulo três de Efésios. Que o Senhor
nos dê o encargo de orar: “Senhor, tem misericórdia
de mim. Preciso ter essa visão. Preciso enxergar a
plenitude de Deus e como ela vem a existir. Senhor,
mostra-me a constituição do Corpo. Mostra-me como
a igreja pode ser constituída de modo prático”. Uma
vez que tenha tal visão, você se tomará alguém
diferente. Será apóstolo e profeta. Aonde quer que vá
será um enviado, e, sempre que proclamar essa visão,
será o porta-voz de Deus a falar Cristo para a
economia divina.
Posso testificar que vim a este país com essa
visão e um único encargo. Os que têm estado comigo
nesses anos podem testificar que não mudei meu
conceito nem meu falar. Em vários aspectos e de
vários ângulos, tenho falado somente uma coisa: que
a economia de Deus é dispensar-Se aos Seus
escolhidos para fazê-los a expressão de Cristo. Como
vimos nesta mensagem, essa expressão é a plenitude
de Deus.