Вы находитесь на странице: 1из 8

Lúcia Helena de Oliveira e Chris Delboni

Um hormônio secretado pela glândula pineal, localizada no cérebro, ganha


cada vez mais admiradores, que tomam sua versão sintética como que
bebe da fonte da juventude. A promessa: ela seria capaz até de reverter a
passagem do tempo. Mas os cientistas não têm provas. Reconhecem que a
substância é a responsável pela incrível pontualidade do corpo humano
saudável, em que cada órgão faz a coisa certa na hora certa. Se tem efeito
como remédio é outra história. Por isso sua comercialização ainda é
proibida no Brasil.

Até recentemente, fora da comunidade científica, seu nome só era


conhecido de poucos viajantes internacionais e pilotos. Essa gente sabia da
sua fama de bloquear o jet lag, o mal-estar que alguns sentem quando
mudam de fuso horário. Mas, de uns tempos para cá, a melatonina caiu na
boca do povo. E como caiu. Cerca de 3 milhões de americanos não passam
sem seu comprimido de melatonina toda noite e 40 000 brasileiros também
não vão para cama sem ela. A maré de usuários sobe desde o final de
1995, impulsionada por livros propagando que o hormônio evitaria o
envelhecimento.

“Não recomendo que ninguém tome melatonina antes de ouvir um médico”,


disse à SUPER o neuroendocrinologista Russel Reiter, professor da
Universidade do Texas e autor de Melatonin: Your Body’s Natural Wonder
Drug (algo como: melatonina, a droga maravilhosa que o seu corpo produz),
que chegou às livrarias americanas em novembro passado. Segundo o
texto, “além de combater o estresse e os micróbios, melhorar a qualidade
do sono, reduzir os riscos de enfartes, regular ritmos biológicos, a
substância talvez proteja contra o câncer.” Ufa. Resista à automedicação
quem puder.

Reiter, ao menos, estuda o assunto há 32 anos. E, apesar de ser seu fã


número um e apresentar dados cientificamente corretos, reconhece: “Ainda
temos muito o que pesquisar.” A cautela pode evitar a repetição do fiasco
ocorrido quando o hormônio foi isolado em 1958 dentro da minúscula
glândula pineal. Seu descobridor, o dermatologista americano Aaron Lerner,
cismou que poderia curar uma doença de pele chamada vitiligo, em que
falta o pigmento melanina. Por isso deu-lhe o nome de melatonina. Só que
as duas coisas não tinham nada a ver e o próprio Lerner abandonou a
investigação. Na época, porém, dois cientistas do Instituto Nacional de
Saúde Mental dos Estados Unidos ficaram intrigados. Richard Wurtman e
Julius Axelrod acertaram na mosca: “Sua fabricação era inibida pela luz do
dia”, explica Axelrod à SUPER. “Só podíamos estar mexendo com uma
peça do nosso relógio biológico.”

Ritmo para tirar proveito da natureza


Dia, noite, noite, dia: os seres vivos se adaptaram ao vaivém da luz criando
uma rotina interna. O primeiro cientista a ter essa suspeita foi o astrônomo
francês Jean-Jacques De Mairan que, em 1729, prestou atenção em uma
planta da espécie Mimosa pudica que ficava ao lado de seu telescópio. Ela
abria ou fechava as folhas conforme a luminosidade. De Mairan, então,
resolveu guardar o vaso dentro de um baú e notou que o vegetal continuava
se comportando como se acompanhasse a presença ou ausência do sol. A
experiência foi relatada à Academia de Ciências de Paris que, no entanto,
não deu bola.

Na época, acreditava-se que os ritmos biológicos obedeciam às mudanças


naturais externas e não a uma programação do indivíduo. Mas o francês
tinha razão. Segundo os atuais especialistas em cronobiologia, a agenda
inte- rior não depende diretamente da luminosidade. “Se você isolar alguém
em um lugar com luz artificial 24 horas, verá que os ciclos tenderão a
acontecer normalmente, pelo menos durante certo tempo”, diz o
neurofisiologista José Cipolla-Neto, professor da Universidade de São
Paulo.

Mas se a alteração das condições ambientais persistir, o corpo vai se


reprogramar passando a agir conforme esse novo software. Por isso, se
você mudar para o Japão, depois de um período seu corpo aprenderá a
sentir fome por volta da meia-noite brasileira, que é meio-dia no lugar em
que você está morando. “Os ciclos biológicos não são efeito do ambiente,
simplesmente estão sincronizados com ele.” E a sincronia ajuda a tirar
proveito das fases da natureza.

De olho na luz
Assim, as plantas fazem sua fotossíntese nos momentos mais ensolarados
do dia. As abelhas, por sua vez, não perdem tempo: dão seus passeios nas
horas em que as flores liberam maior quantidade pólen. O corpo humano
também tem seus horários (veja as ilustrações ao lado). Normalmente a
melatonina, presente até nos seres unicelulares, começa a ser fabricada
logo depois do anoitecer. “Seu pico no homem é por volta das 2 horas da
manhã”, conta o americano Russel Reiter. O corpo compreende se é dia ou
noite sabendo que há um antes e um depois da melatonina. E cada órgão
tem tarefas noturnas e diurnas, com um padrão de atividade que se reinicia
a cada 25,2 horas. São os ciclos de circadianos, ou seja, que duram cerca
de um dia.

Há um ano, cientistas da Universidade Harvard, Estados Unidos, mostraram


que a retina, no fundo dos olhos, é um órgão fundamental para corrigir a
programação biológica quando necessário. A retina sempre registra
impulsos luminosos, mesmo no caso dos cegos ou quando as pálpebras
estão fechadas. Desse modo, no primeiro dia que você passar no Japão, a
sua retina vai mandar sinais da presença de luz para o núcleo
supraquiasmático, o relógio biológico. Ele, por sua vez, passa um recado à
pineal: “Interrompa a sua produção de melatonina” (veja o infográfico da
página 57). Se a mesma ordem se repete vários dias em seguida, a agenda
acaba por se reprogramar.

Impressão digital
A questão é saber qual a “zero hora” de alguém. Há quem seja o chamado
tipo vespertino preferindo ir para a cama de madrugada para acordar perto
do meio dia. Nesse tipo, a produção de melatonina começa mais tarde do
que no tipo matutino, que adormece cedo, despertando com os primeiros
raios solares. “O perfil de produção de melatonina de cada indivíduo tende a
ser único, como uma impressão digital”, diz Cipolla. Cada um, portanto, tem
sua agenda exclusiva marcando os compromissos dos diversos órgãos, o
que complica bastante o uso de melatonina como medicamento. “Como
saber a hora exata de tomar o remédio, para não bagunçar toda essa
programação?”, pergunta Andrew Monjan, do Instituto Nacional de
Envelhecimento nos Estados Unidos. Por enquanto, não há resposta.

Promessas de manter a juventude


A melatonina produzida pela pineal despenca com o passar dos anos (veja
gráfico abaixo). “Isso é uma boa explicação para a insônia comum na
terceira idade”, diz à SUPER o neurologista americano Andrew Monjan.
“Pois, de fato, os comprimidos da substância são ótimos para chamar o
sono, sem causarem os malefícios dos calmantes”, afirma. No entanto,
Monjan não indica o hormônio a pacientes idosos. “Sabemos dos benefícios
para os insones quando a melatonina é tomada durante no máximo seis
dias”, conta. “Mas ninguém faz idéia do que acontece com o uso a longo
prazo.”

Para quem viaja e não se acostuma com o novo fuso horário, um


comprimido ou outro podem ajustar os ponteiros do relógio biológico (veja
como ele funciona ao lado). Os idosos, porém, precisariam mais do que um
mero ajuste. Como falta o hormônio em seu corpo, para resolver suas noites
mal dormidas eles dependeriam da substância para sempre. Por isso, os
famosos comprimidos não lhes serviriam de remédio. José Cipolla-Neto, da
Universidade de São Paulo, aponta outro detalhe importante: a dose. Os
produtos encontrados no mercado com menor dosagem contêm 1 miligrama
do hormônio. “Isso é duas a cinco vezes a quantidade que o corpo produz
todo dia”, diz. “E as conseqüências do excesso são uma incógnita. Há
indícios que o ciclo reprodutivo da mulher seja interrompido”, exemplifica.

A mania das megadoses surgiu com a hipótese sedutora de que seu uso
prolonga a vida. Há dois anos, o cientista Vladimir Dilman, do Instituto de
Pesquisa Experimental de São Petersburgo, acrescentou gotas de
melatonina na água de ratos. Os bichos viveram 25% mais do que o
esperado.

Combate aos radicais


Já o neurologista Walter Pierpaoli, da Fundação Biancalana Masea, na
Itália, implantou uma glândula pineal novinha em folha no cérebro de uma
cobaia velha e ela também ganhou 30% mais longevidade. O pesquisador
americano Russel Reiter tem uma teoria para explicar a juventude esticada
dos animais: “A melatonina é mais eficiente no combate aos radicais livres
do que a vitamina E”, afirma. Radicais livres são moléculas produzidas
durante a respiração que possuem um número ímpar de elétrons ao redor
do núcleo. Como esses só gostam de viver em pares, os radicais roubam
elétrons de tudo quanto é célula que encontram pela frente, causando
estragos que, somados, estão por trás de males diversos, como a perda de
memória na velhice e o câncer.

As defesas aumentam
Em tubos de ensaio, os cientistas já observaram que a melatonina pode
fazer um tumor maligno crescer mais devagar. Também em vidrinhos de
laboratório o hormônio age como uma vara de condão que multiplica as
células imunológicas. “São estudos sérios, mas ainda não há garantia de
que o mesmo se repita dentro do corpo humano”, opina Monjan, do Instituto
Nacional do Envelhecimento. E Reiter lamenta: “Nas poucas vezes em que
esses efeitos foram testados em seres humanos, foram usados pacientes à
beira da morte. Mas acho que muito em breve a melatonina será examinada
em gente com câncer pouco desenvolvido.”

Isso dependerá das novidades saídas da indústria farmacêutica: “Como o


hormônio faz mil e uma coisas dentro do organismo, fica difícil tomar
melatonina para esse ou aquele efeito sem produzir uma série de outros”,
explica Cipolla, da USP. Mas os químicos estão se inspirando na substância
natural para desenhar moléculas com uma única ação – anticâncer ou
sonífera, por exemplo. Drogas assim, com tudo o que a melatonina tem de
bom e nada do que ela pode causar de ruim, deverão chegar ao mercado
nos próximos dois anos.

Para saber mais


Melatonin: Your Body’s Nature Wonder Drug, Russel Reiter, Bantam
Books, Nova York, 1995.
Introdução ao Estudo da Cronobiologia, José Cipolla-Neto, Nelson
Marques e Luiz Menna-Barreto, Ícone Editora, São Paulo, 1988.
Um dia cheio de compromissos sérios
7

DIA
Hormônios do estresse preparam o corpo para acordar.

NOITE
O estômago, menos ácido, suporta melhor os medicamenos

DIA
O coração acelera e há maior tendência a enfartes.

NOITE
A pele recebe mais sangue e os cremes fazem mais efeito.

DIA
As áreas da atenção no cérebro ficam mais ativas.
NOITE
A melatonina é secretada pela glândula pineal.

10

DIA
O álcool se concentra mais rápido no sangue.

NOITE
Os brônquios se contraem, aumentando o risco de asma.

11

DIA
O desempenho de modo geral diminui. Ele aumentará de novo à tarde.

NOITE
Na maioria dos indivíduos, é quando surge o sono.

12

DIA
Enzimas digestivas a todo vapor fazem bater a fome.

NOITE
Só a partir daí é que são secretados os hormônios do crescimento

DIA
O cérebro provoca um certo tipo de preguiça, que não depen

NOITE
O pico das contrações uterinas pode provocar partos.

DIA
Diminui o número de células de defesa no sangue.

NOITE
A melatonina provoca o aumento das células defensoras

DIA
É o momento em que se tem mais força muscular.

NOITE
Os hormônios do estresse são inibidos. O relaxamento é total
4

DIA
É o pico da temperatura corporal. As febres tendem a se elevar.

NOITE
Qualquer reação alérgica pode ser mais forte

DIA
Principal pico da atenção cerebral que dura até a noite.

NOITE
A glândula tireóide passa a regular o consumo de energia.

DIA
Os nervos muito ativados tornam as dores mais fortes.

NOITE
As articulações ficam inchadas e aumenta o reumatismo.

Um sistema com pontualidade britânica


A digestão, a renovação celular, os batimentos cardíacos – tudo obedece ao ritmo da
melatonina. Entenda como ela é disparada e como age no corpo.
Relógio
Feito uma bola de gude, o núcleo supraquiasmático do cérebro se comunica com a retina dos olhos
e deduz que horas são pela luz captada por eles.

Agenda
Em outro canto do cérebro, quem marca os compromissos diurnos e noturnos é a glândula pineal
produtora da melatonina. O relógio manda mensagens nervosas sobre o horário (só durante a noite
é que deve secretar melatonina). Mas a agenda também fica acertando seus ponteiros, conforme a
estação do ano.

O alarme
A presença ou ausência da melatonina são alarmes da agenda que disparam funções cerebrais
como preparar o sono ou a vigília. Mas a melatonina também age no resto do corpo.

Energia
A melatonina avisa diretamente as células a que horas elas devem absorver mais insulina, hormônio
sem o qual é impossível usar a glicose como fonte de energia.

Circulação
Ela também interfere na parede dos vasos, provocando sua contração ou seu relaxamento. Controla
assim as alterações de pressão no decorrer do dia.

Defesas
Sob influência do hormônio da pineal, os glóbulos brancos do sangue, que são os defensores do
organismo, podem se multiplicar, aumentando seu exército.

Remédio ainda é ilegal no Brasil


“A situação da melatonina nos Estados Unidos começa a preocupar”, informa Andrew Monjan, do
Instituto Nacional do Envelhecimento desse país. Por ser uma proteína, como qualquer hormônio
sob o ponto de vista estritamente químico, a substância ganhou o rótulo de suplemento alimentar,
como uma cápsula de vitamina. Com isso, escapa das garras mais afiadas do Food and Drug
Administration (FDA), o órgão americano que controla alimentos e medicações. “Ora, comida não
tem hora certa para se engolir, mas melatonina deve ter”, critica Monjan. Segundo o cientista, o
horário de consumir melatonina deve ser diferente de indivíduo para indivíduo e só um exame de
sangue pode determiná-lo. “Está certo que apelar para uns poucos comprimidos esporadicamente
não deve atrapalhar o funcionamento do organismo”, diz. “Mas quem usa a substância diariamente,
na esperança de retardar a velhice, pode estar fazendo mal a saúde em vez de bem.”

Além disso, por não se tem certeza se todas as marcas vendem de fato melatonina. No Brasil, os
riscos são idênticos, já que não existe melatonina nacional. Pior: a que se vende aqui é fruto de
contrabando. Não há meios legais de a substância ser importada para o comércio, uma vez que não
tem registro no Ministério da Saúde. No entanto, nada impede que um brasileiro compre melatonina
no Exterior para consumo próprio no Brasil. A questão ética é se os médicos deveriam ou não
receitá-la, sem provas de que funcione como remédio.

Вам также может понравиться