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C. H.

MACKINTOSH

ESTUDOS SOBRE
O LIVRO DE ÊXODO
2a edição

Edição original em inglês


2a Edição em português: junho de 2001

Editoração, Impressão e Acabamento


Associação Religiosa Imprensa da Fé

Depósito de Literatura Cristã


Rua Arlindo Bétio, 117
09911-470 Diadema, SP—BRASIL
Todos os direitos reservados

PREFÁCIO DO AUTOR
À TERCEIRA EDIÇÃO EM INGLÊS
NÃO posso deixar sair do prelo outra edição desta obra sem dizer uma ou duas palavras de
gratidão ao Senhor pela Sua graça em usar um instrumento tão fraco na divulgação da verdade e
edificação do Seu povo. Bendito seja o Seu nome, pois pode servir-Se de um livro ou de um simples
tratado para realização dos Seus propósitos: reveste de poder espiritual páginas e parágrafos que
nos poderiam parecer confusos esem interesse. Que Ele continue a abençoar esta obra para glória
do Seu nome, é o nosso desejo.

Dublin, Abril de 1862.

___________________________

Esta segunda edição é, essencialmente, igual à primeira de 1967.


Alguns erros de tipografia e ortografia foram intencionalmente corrigidos.
As citações bíblicas seguem a "Edição Revista e Corrigida" de João Ferreira de Almeida
publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, edição de 1995.

São Paulo, junho de 2001

Os editores.
— CAPÍTULO 1 —

A REDENÇÃO
Os Caminhos de Deus para com Israel
Pela graça de Deus, vamos agora encetar o estudo do Livro do ÊÊ xodo, cujo assunto
principal eé a RÊDÊNÇÃÃ O. Os primeiros cinco versíéculos relembram as cenas finais do livro
precedente. Os obje-tivos favorecidos do amor de Deus saã o postos perante noé s, e depressa nos
vemos conduzidos pelo autor inspirado aà açaã o do livro.
No nosso estudo sobre o Livro do Geé nesis, vimos que o que levou os irmaã os de Joseé a
descerem ao Êgito foi o seu procedimento para com ele. Êste fato deve ser considerado sob
dois aspectos distintos. Êm primeiro lugar podemos ver nele uma liçaã o solene com o
procedimento de Israel para com Deus; e em segundo lugar, temos nele uma liçaã o cheia de
estíémulo no desenrolar dos planos de Deus a favor de Israel.
Ê, no tocante ao procedimento de Israel para com Deus, poderaé haver coisa mais solene
do que seguir ateé ao fim os resultados da maldade que cometeram contra aquele em quem a
mente espiritual discerne um síémbolo admiraé vel do Senhor Jesus Cristo? Totalmente
indiferentes aà angué stia da sua alma, os filhos de Jacoé entregaram Joseé nas maã os dos
incircuncisos, e qual foi o resultado1? Desceram ao Êgito para aíé passarem por aquelas
profundas e dolorosas experieê ncias de coraçaã o taã o graé fica e comovedoramente descritas nos
capíétulos finais do Geé nesis. Ê isto naã o foi tudo: uma eé poca longa de provaçaã o estava reservada
aos seus descendentes, no proé prio paíés onde Joseé encontrara um caé rcere.
Poreé m, Deus intervinha em tudo isto, assim como o homem, e dispunha-Se a usar das
Suas prerrogativas, que consiste em fazer com que do mal saia bem. Os irmaã os de Joseé
puderam vendeê -lo aos ismaelitas; os ismaelitas, por sua vez, venderam-no a Potif ar; e este
lançou-o na prisaã o, mas o Senhor estava, acima de tudo, cumprindo os Seus poderosos
desíégnios. Ã coé lera do homem redundaraé em Seu louvor (Sl 76:10). Ãinda naã o tinha chegado a
altura em que os herdeiros estariam preparados para a herança, nem a herança estava
preparada para os herdeiros. Os fornos de tijolo iriam constituir uma escola severa para os
descendentes de Ãbraaã o; enquanto que nos montes e vales da terra prometida (Dt 11:11) se
acumulava a iniquidade dos amorreus.

Como Deus Cumpre seus Desígnios


Tudo isto eé profundamente interessante e instrutivo. Haé rodas que giram dentro de
outras rodas no mecanismo do governo de Deus (Êz 1:16). O Senhor serve-Se duma variedade
infinda de agentes para realizar os Seus propoé sitos inexcrutaé veis. Ã mulher de Potifar, o
copeiro do rei, os sonhos do Faraoé , o caé rcere, o trono, as cadeias, o sinete real, a fome—tudo
estaé ao Seu soberano dispor, e tudo serve de instrumento no desenrolar dos Seus prodigiosos
desíégnios. Ã mente espiritual deleita-se em meditar nestas coisas ao percorrer o vasto
domíénio da criaçaã o e da provideê ncia e ao reconhecer, em tudo, o mecanismo que o Deus
Onisciente e Onipotente utiliza para executar os Seus propoé sitos de amorredentor.
ÊÉ verdade que podemos ver muitos sinais da serpente, pegadas bem definidas do
inimigo de Deus e do homem; coisas que naã o podemos explicar nem compreender; a inoceê ncia
que sofre e a maldade que prospera podem dar certa apareê ncia de verdade ao raciocíénio dos
increé dulos e ceé pticos; poreé m o verdadeiro crente descansa na certeza de que "O Juiz de toda a
terra" faraé justiça (Gn 18:25).
Bendito seja Deus pela consolaçaã o e encorajamento que nos daã o estas reflexoã es!
Precisamos delas a cada instante, ao atravessarmos este mundo de pecado, onde o inimigo
tem feito mal aterrador, no qual os víécios e paixoã es dos homens produzem frutos taã o amargos
e onde o caminho do verdadeiro discíépulo apresenta escabrosidades tais que a simples
natureza jamais poderia suportar. Ã feé sabe, de certeza, que existe Ãlgueé m atraé s dos bastidores
a Quem o mundo naã o veê nem respeita, e, sabendo-o, pode dizer com serenidade: "tudo vai
bem".
Êstes pensamentos saã o-nos sugeridos pelas palavras no começo deste livro. "O meu
conselho seraé firme, e farei toda a minha vontade" (Is 46:10), diz o Senhor.
O inimigo pode opor-se; mas Deus haé -de estar sempre acima dele; e tudo que
precisamos eé de um espíérito simples e pueril de confiança e descanso nos propoé sitos divinos.
à incredulidade prefere olhar para os esforços que o inimigo faz para neutralizar os planos de
Deus, sem ter em conta o poder de Deus para lhes dar cumprimento. Ê para este poder que a
feé volve os olhos, e assim obteé m vitoé ria e goza de paz constante. Ê com Deus que a feé tem que
ver e a Sua infalíével fidelidade. Naã o se apoia sobre as areias movediças das coisas humanas e
das influeê ncias terrenas, mas sim na rocha inabalaé vel da eterna Palavra de Deus. Ê esta a base
soé lida e santa da feé . Venha o que vier, permanece nesse santuaé rio de força.
"Sendo, pois, Joseé falecido, e todos os seus irmaã os, e toda aquela geraçaã o." Ê depois? Ã
morte poderia porventura prej udicar os desíég nios do Deus vivoi Certamente que naã o. Deus
aguardava apenas o momento destinado, o momento oportuno, e entaã o as influeê ncias mais
hostis serviram de instrumento no desenrolar dos Seus planos.

Um Rei que não conhecia a Deus


"Depois, levantou-se um novo rei sobre o Êgito, que naã o conhecera a Joseé , o qual disse
ao seu povo: Êis que o povo dos filhos de Israel eé muito e mais poderoso do que noé s. Êia,
usemos sabiamente para com ele, para que naã o se multiplique, e aconteça que, vindo guerra,
ele tambeé m se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra noé s, e suba da terra" (versíéculos
8-10). Vemos aqui o raciocíénio de um coraçaã o que nunca aprendera a contar com Deus nos
seus caé lculos. O coraçaã o naã o-regenerado nunca o pode fazer, e por isso, quando Deus se revela,
todos os seus argumentos caem por terra. Fora de Deus, ou independentemente d'Êle, podem
parecer muito prudentes, mas logo que Deus aparece em cena, veê -se que saã o perfeita loucura.
Mas porque havemos noé s de permitir que as nossas mentes sejam, de qualquer modo,
influenciadas por argumentos e caé lculos que dependem, para a sua verdade aparente, da
exclusaã o total de Deus? Fazeê -lo eé , em princíépio, e de acordo com a sua extensaã o, praticamente,
ateíésmo. No caso de Faraoé verificamos que ele podia julgar corretamente as vaé rias
eventualidades dos negoé cios do seu reino: a multiplicaçaã o do povo, as possibilidades de
guerra e de os israelitas fazerem causa comum com o inimigo e abandonarem o paíés. Êle podia
pesar todas estas circunstaê ncias na balança com invulgar sagacidade; mas nunca lhe ocorreu
que Deus pudesse ter alguma coisa a ver com o assunto. Êste simples pensamento, se alguma
vez tivesse ocorrido a Faraoé , bastaria para lançar a confusaã o em todos os seus planos
classificando-os como loucura.
Ora eé conveniente refletirmos que sucede sempre assim com o raciocíénio da mente
ceé ptica do homem. Deus eé inteiramente excluíédo; sim, a sua pretendida verdade e solidez
dependem dessa exclusaã o. O aparecimento de Deus em cena daé o golpe mortal em todo o
cepticismo e infidelidade. Ãteé ao momento em que o Senhor aparece, podem pavonear-se no
palco com maravilhosa demonstraçaã o de sabedoria e destreza; poreé m, assim que o olhar
distingue o mais fraco vislumbre do bendito Senhor, saã o despojados do manto da sua
ostentaçaã o e revelados em toda a sua nudez e deformidade.
Com refereê ncia ao rei do Êgito, pode dizer-se, com segurança, que errou grandemente,
naã o conhecendo a Deus nem os Seus desíégnios imutaé veis. Faraoé ignorava que, muitos seé culos
antes, ainda ele estava longe de respirar o foê lego desta vida mortal, a palavra e o juramento de
Deus—"duas coisas imutaé veis"—haviam assegurado infalivelmente a libertaçaã o completa e
gloriosa daquele mesmo povo que ele, na sua sabedoria, propunha esmagar. Tudo isto ele
desconhecia; e, portanto, todos os seus pensamentos e todos os seus planos baseavam-se
sobre a ignoraê ncia dessa grande verdade, fundamento de todas as verdades, que DÊUS, ÊÉ .
Imaginava, loucamente, que, com a sua sabedoria e poder, poderia impedir o crescimento
daqueles acerca dos quais Deus havia dito: "seraã o como as estrelas dos ceé us e como a areia
que estaé na praia do mar" (Gn 22:17).
Portanto, o seu procedimento naã o passava de loucura e insensatez.
O pior erro que algueé m pode cometer eé agir sem contar com Deus. Mais cedo ou mais
tarde o pensamento de Deus impor-se-aé ao seu espíérito e entaã o daé -se a destruiçaã o terríével de
todos os seus planos e caé lculos. Quando muito, tudo quanto eé empreendido sem contar com
Deus soé pode durar o tempo presente. Mas naã o pode de modo algum alongar-se para a
eternidade. Tudo quanto eé apenas humano, por muito soé lido, brilhante e atraente que possa
ser, estaé destinado a cair nas garras da morte e a abolorecer no sileê ncio do tué mulo. Ã leiva do
vale haé -de cobrir as maiores honras e as gloé rias mais brilhantes do homem (Joé 21:33); a
mortalidade estaé esculpida na sua fronte, e todos os seus projetos saã o evanescentes.
Pelo contraé rio, tudo aquilo que estaé ligado e fundado em Deus permaneceraé para
sempre. "O seu nome permaneceraé eternamente; o seu nome se iraé propagando de pais a
filhos" (SI 72:17).

A Segurança proporcionada pela Fé


Quaã o grande eé portanto a estultíécia do deé bil mortal que se levanta contra o Deus eterno
arremetendo "com os pontos grossos dos seus escudos" (Joé 15:26). Êra como se o monarca do
Êgito tivesse procurado deter com a sua fraca maã o a mareé do oceano, impedir a multiplicaçaã o
daqueles que eram objetos dos propoé sitos eternos do Senhor. Por isso, embora pusessem
"sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com as suas cargas... quanto mais os
afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam". Ê assim haé -de ser sempre.
"Ãquele que habita nos ceé us se riraé : o Senhor zombaraé deles" (SI 2:4). Sobre a oposiçaã o dos
homens e dos demoé nios cairaé eterna confusaã o. Isto daé doce descanso ao coraçaã o, num
ambiente onde tudo eé , aparentemente, taã o hostil a Deus e taã o contraé rio aà feé . Se naã o tiveé ssemos
a certeza de que "a coé lera do homem louvaraé " o Senhor (SI 76:10) sentir-nos-íéamos abatidos
frequentemente em face das circunstaê ncias e das influeê ncias que nos rodeiam neste mundo.
Mas graças a Deus naã o atentamos "nas coisas que se veê em, mas nas que se naã o veê em; porque
as que se veê em saã o temporais, e as que se naã o veê em saã o eternas" (2 Co 4:18) .Com esta certeza
bem
podemos dizer: "Descansa no SÊNHORe espera nele; naã o te indignes por causa daquele
que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos" (SI 37:7).
Como a verdade destas palavras eé claramente discernida neste capíétulo, tanto no caso dos
oprimidos como no que se refere ao opressor! Se Israel tivesse atentado nas coisas que se
viam, que eram elas £ Ã ira do Faraoé , a severidade dos exatores, as afliçoã es, um serviço
rigoroso, a amarga escravatura, barro e tijolos. Poreé m, as coisas que se naã o viam o que eram 1?-
Os propoé sitos eternos de Deus, as Suas promessas infalíéveis, o dealbar de um dia de salvaçaã o e
a "toda de fogo" da redençaã o de Jeovaé . Que maravilhoso contraste! Soé a feé podia compreender
tudo isto, assim como nada senaã o a feé podia habilitar qualquer pobre israelita oprimido a
lançar uma vista de olhos desde os fornos de tijolo do Êgito para os campos verdejantes e os
ricos vinhedos da terra de Canaaã . Soé a feé podia reconhecer nesses escravos oprimidos, que
labutavam nos fornos de tijolo do Êgito, os herdeiros da salvaçaã o e os objetos do interesse e do
favor celestiais.
Ãssim era entaã o e assim eé agora. "Ãndamos por feé e naã o por vista" (2 Co 5:7). "Ãinda
naã o eé manifesto o que havemos de ser" (1 Jo 3:2). "Ênquanto estamos no corpo, vivemos
ausentes do Senhor" (2 Co 5:6). Como fato estamos no Êgito, no entanto, em espíérito, estamos
em Canaaã celestial. Ã feé poã e o coraçaã o sobre o poder das coisas divinas e invisíéveis e deste
modo habilita-o a elevar-se acima de tudo o que existe aqui, onde reinam "a morte e as trevas".
Ãh! se tiveé ssemos esta feé infantil que se senta junto aà fonte pura e eterna da verdade para
beber da sua aé gua, a qual reanima o espíérito prestes a desfalecer e comunica energia ao novo
homem em marcha para a casa do Pai!

As Parteiras Hebréias
Os versíéculos finais deste capíétulo oferecem-nos uma liçaã o edificante com a conduta
dessas mulheres tementes a Deus, Sifraé e Puaé . Ãrrostando com a ira do rei naã o executaram o
seu plano cruel e porissoDeus lhes fezcasas."...aos que me honram, honrarei" (1 Sm 2:30).
Recordemos sempre esta liçaã o e atuemos de acordo com ela.

— CÃPIÉTULO 2 —

O NASCIMENTO DE MOISÉS
O Fracasso de Satanás
Êsta parte do Livro do ÊÊ xodo abunda em princíépios profundos de verdade divina—
princíépios que podemos subdividir da seguinte forma: o poder de Satanaé s, o poder de Deus e o
poder da feé .
No ué ltimo versíéculo do primeiro capíétulo lemos: "Êntaã o, ordenou Faraoé a todo o seu
povo, dizendo: Ã todos os filhos que nascerem lançareis no rio". Êste era o poder de Satanaé s. O
rio era o lugar da morte; e, por meio da morte, o inimigo procurou frustrar os propoé sitos de
Deus. Tem sido sempre assim. Ã serpente sempre tem vigiado com olhar maligno os
instrumentos que Deus estaé prestes a usar para realizar os Seus desíégnios. Vejamos o caso de
Ãbel, em Geé nesis, capíétulo 4. Ã serpente naã o estava espreitando aquele vaso de Deus para o
poê r de parte por meio da morte? Vejamos o caso de Joseé , em Geé nesis, capíétulo 37. Ãíé o inimigo
procura poê r o homem escolhido por Deus num lugar de morte. Vejamos o caso da "semen te
real", em 2 Croê nicas, capíétulo 22; a matança promovida por Herodes, em Mateus 2; e a morte
de Cristo, em Mateus 27. Êm todos estes casos vemos o inimigo procurando, com a morte,
interromper a corrente de atuaçaã o divina.
Mas, bendito seja Deus, haé qualquer coisa depois da morte. Toda a esfera de açaã o
divina, pelo que respeita aà redençaã o, estaé para aleé m dos limites do domíénio da morte. Quando
o poder de Satanaé s se esgota eé que o de Deus começa a mostrar-se. Ã sepultura eé o limite da
atividade de Satanaé s; mas eé aíé que começa tambeé m a atividade divina. Isto eé uma verdade
gloriosa. Satanaé s tem o poder da morte; poreé m, Deus eé o Deus dos vivos e daé a vida que estaé
fora do alcance e poder da morte—uma vida na qual Satanaé s naã o pode tocar. O coraçaã o
encontra doce refrigeé rio nesta verdade, num mundo onde reina a morte. Ã feé pode contemplar
calmamente Satanaé s empregando a plenitude do seu poder; ela pode apoiar-se sobre a
potente intervençaã o de Deus na ressurreiçaã o. Pode postar-se junto da sepultura que acabou de
fechar-se sobre um ente amado e beber dos laé bios d'Ãquele que eé "a ressurreiçaã o e a vida" a
elevada garantia de uma imortalidade gloriosa. Êla sabe que Deus eé mais forte que Satanaé s e
pode portanto esperar, serenamente, a manifestaçaã o desse poder superior, e enquanto assim
espera encontra a sua vitoé ria e a sua paz. Temos um nobre exemplo deste poder da feé nos
primeiros versíéculos do capíétulo que estamos considerando.

Os Pais de Moisés
"Ê f oi-se um varaã o da casa de Levi e casou com uma filha de Levi. Ê a mulher concebeu,
e teve um filho, e, vendo que ele era formoso, escondeu-o treê s meses. Naã o podendo, poreé m,
mais escondeê -lo, tomou uma arca de juncos e a betumou com betume e pez; e, pondo nela o
menino, a poê s nos juncos aà borda do rio. Ê a irmaã do menino postou-se de longe, para saber o
que lhe havia de acontecer" (versíéculos la4).
Ãqui temos uma cena de tocante interesse, qualquer que seja o ponto de vista por que a
encaramos. Na realidade, era simplesmente o triunfo da feé sobre as influeê ncias da natureza e
da morte, deixando lugar para que o Deus da ressurreiçaã o agisse na Sua esfera e no caraé ter
que Lhe eé proé prio. ÊÉ certo que o poder do inimigo estaé patente, visto a criança ter de ser
colocada em tal posiçaã o — em princíépio, uma posiçaã o de morte. Ê, aleé m disso, era como se
uma espada atravessasse o coraçaã o da maã e ao ver o seu filho precioso exposto aà morte.
Satanaé s podia agir e a natureza podia chorar; contudo, o Vivificador dos mortos estava detraé s
daquela nuvem sombria e a feé via-O ali iluminando o cume dessa nuvem com os Seus raios
brilhantes e vivificadores. "Pela feé , Moiseé s, jaé nascido, foi escondido treê s meses por seus pais,
porque viram que era um menino formoso; e naã o temeram o mandamento do rei" (Hb 11:23).

A Arca de Junco
Ãssim, esta digna filha de Leviensina-nos uma santa liçaã o. Ã sua arca de juncos
betumada com betume epez proclama a confiança que ela tinha na verdade que havia qualquer
coisa que, como no caso de Noeé , "pregoeiro da justiça", podia defender aquele "menino formo-
so" das aé guas da morte. Devemos noé s supor que esta "arca" fosse apenas uma invençaã o
humanai Foi inventada por previsaã o e habilidade do homem'?- Foi a criança colocada na arca
por inspiraçaã o do coraçaã o da maã e, que alimentava a doce mas ilusoé ria esperança de salvar, por
esse meio, o seu ente querido da morte 1? Se a nossa resposta a estas interrogaçoã es fosse
afirmativa perderíéamos, quanto a mim, o ensino precioso de todo o assunto. Como admitir a
suposiçaã o que a "arca" fosse inventada por quem naã o via outro destino para o seu filho senaã o
afogando-o? Naã o haé outra maneira de encarar essa significante estrutura senaã o como um
saque da feé apresentado na tesouraria do Deus da ressurreiçaã o. Ãquela arca foi inventada pela
feé , como vaso de misericoé rdia, para conduzir o "menino formoso" atraveé s das aé guas da morte
ao lugar que lhe era designado pelos propoé sitos imutaé veis do Deus vivo. Quando con-
templamos esta filha de Levi curvada sobre aquela "arca" de juncos, que a sua feé havia
construíédo, despedindo-se do seu filho, concluíémos que ela segue as mesmas pisadas que seu
pai Ãbraaã o deu quando se levantou de diante do seu morto para comprar a cova de Macpela
aos filhos de Hete (Geê nesis, capíétulo 23). Naã o vemos nela apenas a energia da natureza que se
debruça sobre o objeto das suas afeiçoã es prestes a cair nas garras do rei dos terrores. Naã o, mas
reconhecemos nela a energia da feé que a habilitou a postar-se, como vencedora, junto da
margem do caudal frio da morte, observando o vaso escolhido de Jeovaé ateé que passe em
segurança para a outra margem.
Sim, prezado leitor, a feé pode voar ousadamente a essas regioã es que estaã o muito
afastadas deste mundo de morte e vasta desolaçaã o; e com o seu olhar de aé guia atravessar
essas nuvens que se acumulam sobre a sepultura e ver como o Deus da ressurreiçaã o cumpre
os Seus desíégnios eternos numa esfera onde os dardos da morte naã o podem jamais chegar. Êla
pode postar-se sobre a Rocha dos Seé culos e esperar em atitude de triunfo enquanto as vagas
da morte bramam e se desfazem a seus peé s.
Deixai-me perguntar: que valor tinha o mandamento do rei para algueé m que possuíéa
este princíépio celestiais
Que importaê ncia tinha esse mandamento para uma mulher que podia permanecer
calmamente ao lado da sua "arca de juncos" e encarar impavidamente a morteS O Êspíérito
Santo responde: "naã o temeram o mandamento do rei" (Hb 11:26). O espíérito que sabe um
pouco o que eé ter comunhaã o com Ãquele que ressuscita os mortos nada receia e pode fazer
coro triunfante com 1 Coríéntios 15: "Onde estaé , oé morte, o teu aguilhaã oS Onde estaé , oé inferno, a
tua vitoriai Ora, o aguilhaã o da morte eé o pecado, e a força do pecado eé a lei. Mas graças a Deus,
que nos daé a vitoé ria por nosso Senhor Jesus Cristo". Pode pronunciar estas palavras de triunfo
sobre Ãbel martirizado, sobre Joseé no fundo da cova, sobre Moiseé s na arca de j uncos, sobre "a
semente real" exterminada por maã o de Ãtaé lia e sobre os inocentes de Beleé m, assassinados por
ordem do cruel Herodes; e, acima de tudo, no tué mulo do Capitaã o da nossa salvaçaã o.
Contudo, eé possíével que alguns naã o possam distinguir a obra da feé na arca de juncos.
Ãlguns talvez naã o possam ultrapassar a compreensaã o da irmaã de Moiseé s, a qual se "postou de
longe, para saber o que lhe havia de acontecer". ÊÉ que a "sua irmaã " naã o estava aà altura da maã e
pelo que respeitava aà feé . Sem dué vida, havia nela esse profundo interesse, essa verdadeira
afeiçaã o, que vemos em "Maria Madalena e a outra Maria, assentadas defronte do sepulcro" (Mt
27:61). Poreé m, naquela que fez a arca de juncos havia alguma coisa muito superior ao
interesse ou afeto. Ê certo que a maã e do menino naã o se postou de longe para ver o que havia
de acontecer ao seu filho; e, por isso, aà semelhança do que acontece frequente mente, a
dignidade da feé poderia parecer, no seu caso, indiferença. Poreé m, naã o era indiferença, mas,
sim, verdadeiro engrandecimento da feé . Se o afeto natural naã o a obrigava a ficar junto daquele
ambiente de morte era apenas porque o poder da feé lhe havia confiado uma obra mais nobre
na presença do Deus da ressurreiçaã o. Ã feé dela havia aberto lugar para Deus naquele
ambiente, e Êle manifesta-Se logo duma maneira gloriosa.

A Filha de Faraó
"Ê a filha de Faraoé desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam pela borda do
rio; e ela viu a arca no meio dos juncos e enviou a sua criada, e a tomou. Ê, abrindo-a, viu o
menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixaã o dele e disse: Dos meninos dos
hebreus eé este" (versíéculo 5-6). Ãqui, pois, começa a soar a resposta divina em doce murmué rio
aos ouvidos da feé . Deus intervinha em tudo isto. O racionalismo, o cepticismo, a infidelidade, e
o ateíésmo, podem rir-se desta ideia. Ê a feé tambeé m; mas saã o risos diferentes. Os primeiros
riem com desprezo da ideia da intervençaã o divina num banal passeio duma princesa real pela
margem do rio. Ã segunda ri de cordial contentamento ao pensar que Deus estaé em tudo. Ê, de
fato, se alguma vez Deus interveio em qualquer coisa foi neste passeio da filha do Faraoé ,
embora ela o naã o soubesse.
Uma das mais ditosas ocupaçoã es da alma regenerada eé seguir as pegadas divinas em
circunstaê ncias e acontecimentos que a mente irrefletida atribui ao acaso ou aà fatalidade. Por
vezes a coisa mais banal pode ser um importantíéssimo elo numa cadeia de acontecimentos de
que Deus Se estaé servindo para levar avante os Seus grandiosos desíégnios. Vejamos, por
exemplo, Êster 6:1; que encon-tramos? Um monarca pagaã o que passa uma noite inquieta.
Nada haé de extraordinaé rio nisso, podemos supor; e no entanto, esta circunstaê ncia constitui um
elo numa grande cadeia de acontecimentos providenciais, ao fim da qual surge a maravilhosa
libertaçaã o dos descendentes oprimidos de Israel.
Ãssim sucedeu com a filha do Faraoé e o seu passeio pela margem do rio. Mas ela naã o
pensava que estava ajudando os intentos do "Senhor Deus dos hebreus"! Mal ela sabia que o
bebeé que chorava na arca de juncos viria ainda a ser o instrumento do Senhor para abalar a
terra do Êgito ateé aos seus alicerces! Ê contudo era assim. O Senhor pode fazer com que a
coé lera do homem redunde em Seu louvor (SI 76:10) e restringir o restante dessa coé lera. Como
a verdade deste fato transparece claramente nas palavras que se seguem!
"Êntaã o, disse sua irmaã aà filha de Faraoé : Irei eu a chamar uma ama das hebreé ias, que crie
este menino para tiíé- Ê a filha de Faraoé disse-lhe: Vai. Ê foi-se a moça e chamou a maã e do
menino. Êntaã o, lhe disse a filha de Faraoé : Leva este menino e cria-mo; eu te darei teu salaé rio. Ê
a mulher tomou o menino e criou-o. Ê, sendo o menino jaé grande, ela o trouxe aà filha de Faraoé ,
a qual o adoptou; e chamou o seu nome Moiseé s e disse: Porque das aé guas o tenho tirado"
versíéculos (7a 10).
à feé da maã e de Moiseé s encontra aqui a sua inteira recompensa; Satanaé s fica
embaraçado e a sabedoria maravilhosa de Deus eé revelada. Quem poderia supor que aquele
que havia dito aà s parteiras das hebreé ias "se for filho, matai-o", acrescentando, "a todos os
filhos que nascerem lançareis no rio", havia de ter na sua proé pria corte um desses proé prios
filhos? O diabo foi vencido com as suas proé prias armas, porque Faraoé , de quem queria servir-
se para frustrar os propoé sitos de Deus, foi usado por Deus para alimentar e educar esse
Moiseé s, que havia de ser o Seu instrumento para confundir o poder de Satanaé s. Provideê ncia
notaé vel! Maravilhosa sabedoria! Certamente, "ateé isto procede do Senhor" (Is 28:29).
Possamos noé s confiar n'Êle com mais simplicidade, e entaã o a nossa carreira seraé mais
brilhante e o nosso testemunho mais eficaz.

A Sua Educação
Meditando sobre a histoé ria de Moiseé s eé necessaé rio considerar este grande servo de
Deus debaixo do ponto de vista duplo do seu caraé ter pessoal e o seu caraé ter figurativo.
No caraé ter pessoal de Moiseé s haé muito, muitíéssimo, que aprender. Deus teve naã o soé de
o elevar como de o treinar, dum e doutro modo, durante o longo espaço de oitenta anos:
primeiro na casa da filha do Faraoé e depois "atraé s do deserto". ÃÀ nossa fraca mentalidade
oitenta anos parecem muito tempo para a preparaçaã o dum ministro de Deus. Mas os
pensamentos de Deus naã o saã o os nossos pensamentos. O Senhor sabia que eram necessaé rios
esses dois períéodos de quarenta anos para preparar o Seu vaso eleito. Quando Deus educa
algueé m, faé -lo duma maneira digna de Si e do Seu Santo serviço. O seu trabalho naã o o confia a
noviços. O servo de Cristo tem muitas liçoã es que aprender, deve passar por vaé rios exercíécios e
padecer muitos conflitos em segredo antes de estar realmente apto a agirem pué blico. Ã
natureza humana naã o gosta deste meé todo — prefere evidenciar-se em pué blico a aprender em
particular. Gosta mais de ser contemplada e admirada pelos homens do que de ser disciplina-
da pela maã o de Deus. Poreé m isto naã o serve. Noé s temos que seguir o caminho traçado pelo
Senhor.
à natureza pode precipitar-se no campo das operaçoã es, mas Deus naã o a quer ali. ÊÉ
necessaé rio que aquilo que eé humano seja quebrantado, consumido e posto de lado: o lugar que
lhe compete eé o da morte. Se a natureza teima em entrar em atividade, Deus, na Sua fidelidade
infalíével e na Sua perfeita sabedoria, ordena as coisas de tal maneira que o resultado dessa
atividade se transforma em fracasso e confusaã o. Êle sabe o que haé -de fazer com a nossa
natureza, onde deve ser colocada e como guardaé -la. Oh! que todos possamos estarem mais
íéntima comunhaã o com Deus no que diz respeito aos Seus pensamentos quanto ao "eu" e tudo
que com ele se relaciona. Ãssim cairemos menos em erro, a nossa vida seraé mais fiel e
moralmente elevada, o nosso espíérito estaraé tranquilo e o nosso serviço seraé , entaã o, mais
eficiente.

O Primeiro Contato com seus Irmãos


"Ê aconteceu naqueles dias que, sendo Moiseé s jaé grande, saiu a seus irmaã os e atentou
nas suas cargas; e viu que um varaã o egíépcio feria a um varaã o hebreu, de seus irmaã os. Ê olhou a
uma e a outra banda, e, vendo que ningueé m ali havia, feriu ao egíépcio e escondeu-o na areia"
versíéculos (11-12). Moiseé s mostra aqui zelo por seus irmaã os "mas naã o com entendimento"
(Rm 10:2). Ãinda naã o chegara o tempo determinado por Deus para julgar o Êgito e libertar
Israel, e o servo inteligente deve aguardar sempre o tempo de Deus. Moiseé s era "jaé grande" e
"instruíédo em toda a cieê ncia dos egíépcios"; e, aleé m disso, "cuidava que seus irmaã os
entenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela sua maã o" (Ãt 7:25). Tudo isto era
verdade, todavia, ele correu, evidentemente, antes de tempo, e quando algueé m procede assim
o resultado eé o fracasso (1).
Ê naã o soé o fracasso como tambeé m manifesta incerteza, falta de serena devoçaã o e santa
independeê ncia no progresso de um trabalho começado antes do tempo determinado por Deus.
Moiseé s olhou a uma c outra banda." Naã o haé necessidade disto quando se age com e para Deus e
na plena compreensaã o dos Seus pensamentos quanto aos pormenores da Sua obra. Se o tempo
determinado por Deus tivesse realmente chegado, e se Moiseé s sentisse que havia sido
incumbido de executar a sentença de Deus sobre o egíépcio, se sentisse ainda a presença divina
consigo, naã o teria olhado "a uma e outra banda."
_____________________________
(1) No discurso de Estêvão, perante o conselho, em Jerusalém, há uma referência à ação de Moisés, que é
conveniente considerar. "E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos,
os filhos de Israel. E, vendo maltratado um deles, o defendeu e vingou o ofendido matando o egípcio. E ele cuidava
que os seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam" (At
7:23-25). É evidente que o fim de Estêvão, com todo o seu discurso, era fazer com que a história da nação produzisse
efeito sobre as consciências daqueles que estavam perante ele; e seria contrário a este objetivo e contra a regra do
Espírito no Novo Testamento levantar aqui a questão se Moisés não havia atuado antes do tempo determinado por
Deus.
Além disso, Estêvão limita-se a dizer que lhe veio ao coração ir visitar seus irmãos. Não diz que Deus o
enviou por essa época. Tão-pouco toca de nenhuma maneira na questão do estado moral daqueles que o rejeitaram:
"...eles não entenderam". Quanto a eles, isto um fato, quaisquer que fossem as lições que Moisés pudesse ter de
aprender com o assunto. O homem espiritual não tem dificuldade em compreender isto.
Considerando Moisés como uma figura, podemos ver neste acontecimento da sua vida a missão de Cristo a
Israel e a forma como eles o rejeitaram e a recusa em que Ele reinasse sobre eles. Em contrapartida, se
considerarmos Moisés pessoalmente, vemos que ele, à semelhança de outros, cometeu erros e mostrou fraquezas: em
algumas ocasiões andou depressa, noutras devagar. Tudo isto é fácil de compreender e só contribui para engradecer
a graça infinda e a paciência inexaurível de Deus.

A Morte do Egípcio, um Ato Impensado e Prematuro


Êste ato de Moiseé s encerra uma liçaã o profundamente praé tica para todos os servos de
Deus. Duas circunstaê ncias se ligam com ela, a saber: o receio da ira do homem e a esperança
do favor humano. O servo do Deus vivo naã o deve atentar numa nem outra. Que importa a ira
ou o favoritismo dum pobre mortal aà quele que estaé investido da incumbeê ncia divina e que
goza da presença de Deus?-Para um tal servo estas coisas teê m menos importaê ncia que o poé
dos pratos duma balança. "Não o mandei eui- Êsforça-te e tem bom aê nimo; naã o pasmes, nem te
espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares" (Js 1:9). "Tu, pois,
cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar-, naã o desanimes
diante deles, porque eu farei com que naã o temas na sua presença. Porque eis que te ponho
hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra; e
contra os reis de Judaé , e contra os seus príéncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo
da terra. Ê pelejaraã o contra ti, mas naã o prevaleceraã o contra ti; porque eu sou contigo, diz o
SÊNHOR, para te livrar" (Jr 1:17-19).
Colocado assim sobre este terreno elevado, o servo de Cristo naã o olha a uma e outra
banda, mas atua de acordo com o conselho da sabedoria celestial: "Os teus olhos olhem
direitos e as tuas paé lpebras olhem diret amente diante de ti" (Pv 4:25). Ã sabedoria divina f az-
nos sempre olhar para cima e para a frente. Sempre que olhamos em redor para evitar o olhar
desdenhoso de um mortal ou para merecer o seu sorriso, podemos estar certos que haé
qualquer coisa que estaé mal; estamos fora do terreno proé prio de serviço divino. Falta-nos a
certeza de termos a incumbeê ncia divina e de sentirmos a presença do Senhor, ambas as coisas
taã o essenciais.
ÊÉ verdade que haé muitos que, por ignoraê ncia profunda ou excessiva confiança em si
proé prios, entram para uma esfera de serviço para a qual Deus nunca os destinou e para a qual,
portanto, os naã o preparou. Ê naã o soé o fazem como aparentam uma frieza de aê nimo e uma
confiança em si proé prios perfeitamente espantosas para aqueles que podem formar um
conceito imparcial dos seus dons e dos seus meé ritos. Contudo essas apareê ncias depressa
cedem aà realidade, e naã o podem modificar em nada o princíépio que nada pode impedir
realmente o homem de olhar "a uma e outra banda" senaã o aconvicçaã o íéntima de ter recebido
uma missaã odeDeuse de desfrutar a Sua presença. Quando possuíémos estas coisas somos
inteiramente livres das influeê ncias humanas e estamos independentes dos homens. Ningueé m
estaé em taã o boas condiçoã es de servir os homens como aquele que eé independente deles;
contudo, aquele que conhece o seu verdadeiro lugar pode baixar-se e lavar os peé s dos seus
irmaã os. Quando desviamos o olhar do homem e o fixamos sobre o ué nico Servo verdadeiro e
perfeito, naã o o encontramos "olhando a uma e outra banda", pelo simples motivo que nunca
procurou agradar aos homens mas a Deus. Naã o temia a ira do homem nem cortejava o seu
favor. Os Seus laé bios nunca se abriram para provocar os aplausos dos homens, nem jamais os
fechou para evitar as suas críéticas. Por isso, o que dizia e fazia tinha uma santa estabilidade e
elevaçaã o. Jesus eé o ué nico de quem se poê de dizer com verdade, "cujas folhas naã o caem e tudo
quando fizer prosperaraé " (Sl 1:3). Êm tudo que fazia prosperava, porque fazia todas as coisas
para Deus. Cada açaã o, cada palavra, cada movimento, cada olhar, cada pensamento era como
um belo cacho de frutos enviados ao alto para refrescar o coraçaã o de Deus. Jamais receou
pelos resultados da Sua obra, porquanto sempre trabalhou com e para Deus na compreensaã o
plena da sua vontade. Ã Sua proé pria vontade, posto que fosse divinamente perfeita, nunca se
confundiu com o que, como homem, fazia sobre a terra, e assim podia dizer: "Porque eu desci
do ceé u, naã o para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo 6:38). Por
isso, deu "o seu fruto na estaçaã o própria" (Sl 1:3), e fez sempre o que agradava ao Pai (Jo 8:29),
e, portanto, nada teve que temer, nem necessidade de arrependimento nem de "olhar a uma e
a outra banda".

A Graça de Deus Lembra-se Somente dos Atos da Fé (Hebreus 11)


Nisto, como em tudo mais, o Mestre bendito forma um contraste notaé vel com os Seus
servos mais honrados e destacados. O proé prio Moiseé s "temeu" (versíéculo 14), e Paulo teve de
se arrepender (2 Co 7:8); poreé m, o Senhor Jesus nunca fez uma coisa nem outra. Jamais se viu
forçado a recuar um passo, a arrepender-se duma palavra ou a corrigir um pensamento.
Tudo quanto fez foi absolutamente perfeito. Êra tudo fruto dado na estaçaã o proé pria. O
curso da Sua vida santa e celestial deslizava adiante sem obstaé culos nem deslizes. Ã sua
vontade estava perfeitamente submissa ao Pai. Os melhores homens, e ateé mesmo os mais
dedicados, cometem erros; mas eé perfeitamente exato que quando mais, pela graça, nos eé dado
mortificarmos a nossa vontade, menos erramos. Ê uma feliz circunstaê ncia quando, dum modo
geral, a nossa vida eé de feé e de dedicaçaã o exclusiva a Cristo.
Ãssim sucedeu com Moiseé s. Êra um homem de feé , um homem que absorveu em alto
grau o espíérito do seu Mestre e que seguiu com maravilhosa firmeza os Seus passos. ÊÉ certo
que antecipou, como notaé mos, em quarenta anos o períéodo que Deus destinara para julgar o
Êgito e libertar Israel; todavia, quando lemos o comentaé rio inspirado do Capíétulo 11 de
Hebreus nenhuma mençaã o encontramos deste fato. Êncontramos somente o princíépio divino
que, dum modo geral, orientou a sua vida: "Pela feé , Moiseé s, sendo já grande, recusou ser
chamado filho da filha de Faraoé , escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que
por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupeé rio de
Cristo do que os tesouros do Êgito; porque tinha em vista a recompensa. Pela feé , deixou o
Êgito, naã o temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisíével" (Hb 11:24-27).
Êsta passagem apresenta-nos os atos de Moiseé s de uma maneira cheia de graça.
ÊÉ assim que o Êspíérito Santo sempre conta a histoé ria dos santos do Velho Testamento.
Quando descreve a vida dum homem, apre-senta-o como ele eé , com todas as suas falhas e
imperfeiçoã es. Mas quando, no Novo Testamento, comenta essa biografia limita-se a dar o
princíépio que o orientou e o resultado da sua atividade. Por isso, naã o obstante lermos em
ÊÊ xodo que Moiseé s "olhou a uma e a outra banda", e disse; "certamente este negoé cio foi
descoberto", e por fim que "fugiu de diante da face de Faraoé ", lemos tambeé m na epíéstola aos
Hebreus que o que ele fez, feê -lo "pela feé "— naã o temeu a ira do rei — e ficou firme como vendo
o invisíével.
Ãssim aconteceraé em breve quando vier o Senhor, "o qual tambeé m traraé aà luz as coisas
ocultas das trevas e manifestaraé os desígnios dos corações; e entaã o cada um receberaé de Deus o
louvor" (1 Co 4:5). Êis aqui uma verdade consoladora e preciosa para toda a alma reta e o
coraçaã o fiel. O coração pode formar muitos projetos que, por diversas razoã es, a mão naã o pode
realizar. Todos esses intentos seraã o manifestados quando o Senhor vier. Bendita seja a graça
divina por nos haver dado uma tal certeza! Ãs devoçoã es do coraçaã o saã o muitos mais preciosas
para Cristo do que as obras mais espaventosas que as maã os possam executar. Êstas podem dar
algum brilho aos olhos do homem; mas aquelas saã o devidamente apreciadas pelo coraçaã o de
Jesus. Ãs obras podem ser assunto de conversaçaã o dos homens, mas as afeiçoã es saã o
manifestadas diante de Deus e dos Seus anjos. Que todos os servos de Cristo saibam ter os
seus coraçoã es somente ocupados com Êle e os seus olhos postos na Sua vinda.

Aquilo que a Fé Compreende


Êstudando a vida de Moiseé s, vemos que a feé o fez seguir um caminho completamente
diferente do curso normal da natureza humana, levando-o a desprezar naã o apenas todos os
prazeres e atraçoã es e honras da corte de Faraoé , mas a abandonar uma larga esfera de
atividade. Ã razaã o teria feito com que ele seguisse um caminho completamente oposto,
aconselhando-o a usar a sua influeê ncia a favor do povo de Deus em vez de sofrer com ele.
Segundo o parecer do homem, parecia que a Provideê ncia havia aberto um campo de trabalho
extenso e importante para Moiseé s; e de fato se alguma vez a maã o de Deus se manifestou pondo
um homem numa posiçaã o especial foi decerto o caso de Moiseé s. Devido a uma intervençaã o
maravilhosa e por uma seé rie incompreensíével de circuntaê ncias, em que era revelada em cada
uma delas a maã o do Todo-Poderoso, e que nenhuma provisaã o humana jamais poderia
combinar, a filha do Faraoé veio a ser o instrumento usado para tirar Moiseé s das aé guas, criaé -lo e
educaé -lo ateé que "completou a idade de quarenta anos" (Ãt 7:23). Êm tais circunstaê ncias o
abandono da sua alta posiçaã o e da influeê ncia que esta lhe dava naã o podia ser conside rado
senaã o como consequeê ncia de um zelo mal entendido.
à pobre razaã o podia assim discorrer. Poreé m a feé pensa de uma maneira diferente,
porque a natureza e a feé estaã o sempre em oposiçaã o uma aà outra. Ê embora naã o possam estar
de acordo em um soé ponto, eé possíével que naã o haja nada em que se acham taã o distanciadas
como sobre aquilo que se chama geralmente "indicaçoã es providenciais". Ã natureza
consideraraé sempre essas indicaçoã es como autorizaçoã es de complaceê ncia; ao passo que a feé
encontraraé nelas a oportunidade de renué ncia proé pria. Jonas podia ter imaginado que era um
caso extraordinaé rio da Provideê ncia o fato de encontrar um navio que ia partir para Tarsis; mas
o fato eé que isso foi apenas uma porta pela qual ele fugiu do caminho da obedieê ncia.
Sem dué vida alguma, eé privileé gio do crente ver a maã o de seu Pai celestiale ouvira Sua
voz em todas as coisas; mas naã o deve ser guiado pelas circunstaê ncias. Um crente que eé assim
guiado eé como um barco no mar alto sem leme nem bué ssola, aà merceê das ondas e do vento. Ã
promessa de Deus aos Seus filhos eé esta: "Guiar-te-ei com os meus olhos" (SI 32:8); e a Sua
palavra de admoestaçaã o eé : "Naã o sejas como o cavalo, nem como a mula, que naã o teê m
entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, para que se naã o atirem a ti" (SI 32:9). Ê
muito melhor sermos guiados pelos olhos do nosso Pai Celestial do que pelo cabresto e freio
das circunstaê ncias; e noé s sabemos que, na acepçaã o normal da palavra, "Provideê ncia" eé apenas
outro termo para o impulso das circunstaê ncias.
Ora, a energia da feé mostra-se recusando e desprezando constantemente essas
pretendidas manifestaçoã es providenciais. "Pela feé Moiseé s... recusou ser chamado filho da filha
de Faraoé ", e "pela feé deixou o Êgito" (Hb 11:24 e 27). Tivesse ele formado o seu juíézo pela luz
dos seus olhos, e teria agarrado a dignidade proposta como daé diva evidente da Provideê ncia, e
teria continuado na corte do Faraoé como sendo uma esfera de utilidade aberta plenamente
para si pela maã o de Deus. Poreé m, ele andou por feé e naã o por vista: e, por isso, desprezou tudo.
Que nobre exemplo! Que Deus nos deê graça para podermos imitaé -lo!
Ê note-se o que foi "o vitupeé rio de Cristo" que Moiseé s "teve por maiores riquezas do
que os tesouros do Êgito" (Hb 11.26). Naã o foi apenas o oproé brio por Cristo: "...as afrontas dos
que te afrontaram cairam sobre mim" (Sl 69:8). O Senhor identificou-Se em graça perfeita com
o Seu povo. Veio do ceé u, e, deixando o seio do Pai, pondo de parte a Sua gloé ria, tomou o lugar
do Seu povo, confessou o pecado dos Seus e sofreu o seu castigo no madeiro de maldiçaã o. Tal
foi o Seu sacrifíécio voluntaé rio; naã o somente agiu por noé s, como Se fez um conosco, libertando-
nos desta forma perfeitamente de tudo que era ou poderia ser contra noé s.
Vemos, pois, como Moiseé s estava em harmonia com o espíérito e a mente de Cristo, pelo
que respeitava ao povo de Deus. Vivera rodeado de todo o conforto, pompa e dignidade da
casa do Faraoé , onde "o gozo do pecado" e "os tesouros do Êgito" o cercavam profusamente.
Tudo isto ele podia ter gozado se quisesse. Podia ter vivido e morrido no meio da riqueza e do
esplendor. Toda a sua vida, desde o começo ateé ao fim, podia, se ele tivesse preferido, ter sido
iluminada pelo sol do favor real; mas isso naã o teria sido "feé "; nem taã o-pouco conforme com
Cristo. Da sua elevada posiçaã o, ele viu os seus irmaã os vergados sob o peso do seu fardo, e a f eé
levou-o a ver que o seu lugar era estar com eles. Sim, com eles em toda a sua ignomíénia,
escravidaã o e sofrimento. Fosse ele movido apenas pela benevoleê n cia, pela filantropia ou o
patriotismo e podia ter usado a sua influeê ncia pessoal a favor de seus irmaã os; talvez
conseguisse induzir Faraoé a aliviar o seu fardo e tornar a sua vida um pouco mais faé cil por
meio de concessoã es reais a seu favor; poreé m um tal procedimento nunca satisfazia um coraçaã o
que pulsava em comum com o coraçaã o de Cristo. Êra um coraçaã o assim que Moiseé s, pela graça
de Deus, trazia em seu seio; e, portanto, com todas as forças e todo o afeto desse mesmo
coraçaã o, lançou-se de alma, corpo e espíérito no proé prio meio dos seus irmaã os oprimidos.
Êscolheu antes ser maltratado com o povo de Deus", e, aleé m disso, feê -lo por feé .
Que o leitor pondere este fatos. Naã o nos devemos contentar com dese j ar apenas
bemaopovodeDeus,em servi-lo ou em falar benevolamente em seu favor. Devemos estar
inteiramente identificados com ele, por desprezado ou injuriado que possa ser. Ãteé certo
ponto, eé uma coisa agradaé vel para um espíérito beneé volo e generoso favorecer o Cristianismo;
mas eé uma coisa muito diferente e se identificar com os cristaã os ou sofrer com Cristo. Um
defensor é uma coisa, um mártir eé outra totalmente diferente. Êsta distinçaã o eé clara em todo o
Livro de Deus. Obadias teve cuidado das testemunhas de Deus, mas Êlias foi uma testemunha
para Deus (1 Rs 18:3- 4). Daé rio era taã o dedicado a Daniel que perdeu o repouso de uma noite
por causa dele; poreé m Daniel passou essa mesma noite na cova dos leoã es, como testemunha
da verdade de Deus (Dn 6:18). Nicodemos aventurou-se a falar uma palavra a favor de Cristo,
poreé m um discipulado mais completo teê -lo-ia levado a indentificar-se com Cristo.

José e Moisés, Figuras de Cristo


Êstas consideraçoã es saã o eminentemente praé ticas. O Senhor Jesus naã o quer proteçaã o,
mas sim comunhaã o. Ã verdade a Seu respeito eé -nos revelada, naã o para advogarmos a Sua
causa na terra, mas para termos comunhaã o com a Sua Pessoa no ceé u. Êle identifi-cou-Se a Si
Proé prio conosco ao preço enormíéssimo de tudo que o amorpodiadar. Nada o obrigava a isso;
podia ter continuado a gozar o Seu lugar "no seio do Pai" por toda a eternidade. Mas, entaã o,
como poderia essa onda poderosa de amor, que estava retida em Seu coraçaã o, avançar ateé noé s,
pecadores culpados e merecedores do infernou Êntaã o entre Êle e noé s naã o podia existir
nenhuma unidade senaã o sob condiçoã es que exigiam de Sua parte o abandono de todas as
coisas. Contudo, bendito seja o Seu nome adoraé vel por todos os seé culos eternos, esse
abandono foi feito voluntariamente. "O qual se deu a si mesmo por noé s, para nos remir de toda
a iniquidade e purificar fará si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tt 2.14). Naã o quis
gozar sozinho a Sua gloé ria. O Seu coraçaã o amantíéssimo deleita-se em associar "muitos filhos"
Consigo nessa gloé ria. "Pai", diz Êle, "aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, tambeé m
eles estejam comigo, para que vejam a minha gloé ria que me deste; porque tu me haé s amado
antes da criaçaã o do mundo" (Jo 17:24). Tais eram os pensamentos de Cristo com respeito ao
Seu povo; e podemos ver facilmente como Moiseé s simpatizou com estes preciosos
pensamentos. Indubitavelmente, participou em altograu do espíérito do Seu Mestre, e mostrou
esse espíérito excelente sacrificando de sua proé pria vontade todas as consideraçoã es pessoais e
associando-se sem reservas ao povo de Deus.
O caraé ter pessoal e os atos deste honrado servo de Deus seraã o considerados no estudo
subsequente destelivro, limitamo-nos aqui a consideraé -lo como uma figura do Senhor Jesus
Cristo. Que Moiseé s eé uma figura do Senhor eé evidente pela leitura da passagem seguinte: "O
SÊNHOR, teu Deus, te despertaraé um profeta do meio de ti, de teus irmaã os, como eu; a ele
ouvireis" (Dt 18:15). Naã o estamos, portanto, fantasiando em imaginaçaã ohumana quando
consideramos Moiseé s como uma figura, pois que eé este o ensino claro das Êscrituras, e nos
versíéculos finais deste capíétulo de ÊÊ xodo vemos este síémbolo sob dois aspectos: primeiro,
sendo rejeitado por Israel; e, segundo, na sua uniaã o com uma mulher estrangeira do paíés de
Midiaã .
Êstes dois pontos jaé foram considerados, ateé certo ponto, na histoé ria de Joseé , o qual,
sendo rejeitado por seus irmaã os segundo a carne, se uniu a uma noiva egíépcia. Neste caso,
como no caso de Moiseé s, vemos simbolizados a rejeiçaã o de Cristo por Israel e a Sua uniaã o com
a Igreja, mas num aspecto diferente. No caso de Joseé temos a demonstraçaã o de inimizade
positiva contra a suapessoa. Êm Moiseé s eé a rejeiçaã o da sua missão, que vemos. No caso de Joseé
lemos, "...seus irmaã os... aborreceram-noe naã o podiam falar com ele pacificamente" (Gn 37:4).
Mas no caso de Moiseé s, foi-lhedito: "Quem te tempostoa ti por maioral e juiz sobre nósf" (ÊÊ x
2:14). Êm suma, aquele foi pessoalmente odiado; este oficialmente rejeitado.
O mesmo acontece na forma como o grande misteé rio da Igrej a eé exemplificado na
histoé ria desses dois santos do Velho Testamento. "Ãsenate" representa uma fase da Igreja de
todo diferente daquela que temos na pessoa de "Zíépora" (Gn 41:45, ÊÊ x. 2:21). Ãsenate foi
unida a Joseé no tempo da sua exaltaçaã o; Zíépora foi a companheira de Moiseé s durante o tempo
da sua vida obscura no deserto (comparem-se Gn41:41-45 com ÊÊ x. 2:15; 3:1).ÊÉ verdade que
Joseé e Moiseé s foram, ao tempo da sua uniaã o com mulheres estrangeiras, rejeitados por seus
irmaã os; todavia, o primeiro era governador sobre toda a terra do Êgito, ao passo que o ué ltimo
apascentava as ovelhas "atraé s do deserto".
Portanto, quer contemplemos Cristo em gloé ria ou oculto para a visaã o do mundo, a
Igreja estaé intimamente unida com Êle. Ê agora, visto que o mundo naã o O veê , taã o-pouco pode
tomar conhecimento desse corpo que eé inteiramente um com Êle. "Por isso o mundo nos naã o
conhece, porque o naã o conhece a ele" (1 }o 3:1). Muito em breve, Cristo apareceraé em Sua
gloé ria, e a Igrej a com Êle. "Quando Cristo, que eé a nossa vida, se manifestar, entaã o, tambeé m voé s
vos manifestareis com ele em gloé ria" (Cl 3:4).
Ê em Joaã o 17:22 e 23, lemos, tambeé m: "Êeu dei-lhes a gloé ria que a mim me deste, para
que sejam um, como noé s somos um. Êu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em
unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como
me tens amado a mim" (¹).
Tal eé , pois, a posiçaã o santa e gloriosa da Igreja. Êla eé uma com Ãquele que eé rejeitado
pelo mundo, mas que ocupa o trono da Majestade nos ceé us. O Senhor Jesus Cristo tornou-Se
responsaé vel por ela na cruz, a fim de que ela pudesse compartilhar com Êle da Sua rejeiçaã o
agora e da sua gloé ria no futuro. Que todos os que fazem parte de um corpo assim altamente
privilegiado sejam mais compenetrados do sentimento que lhes conveé m seguir e do caraé ter de
que devem estar revestidos! Êntaã o haveria uma resposta clara e plena por parte dos filhos de
Deus a esse amor com que Êle nos amou e aà dignidade com que Êle os investiu. Ã vida do
cristaã o deveria ser sempre o resultado natural de um privileé gio realizado e naã o o resultado
constrangido de votos e resoluçoã es legais, o fruto proé prio de uma posiçaã o conhecida e gozada
pela feé e naã o o fruto dos esforços proé prios para se chegara uma posiçaã o "pelas obras da lei".
Todos os verdadeiros crentessaé o uma parte da noiva de Cristo. Por isso devem a Cristo os af
etos que correspondem a essa relaçaã o. ÊÉ uma relaçaã o que naã o se obteé m devido ao afeto, mas o
afeto emana dessa comunhaã o. Que assim seja, oé Senhor, com todo o povo amado que tu
adquiriste aà custa do teu sangue!

____________________
(1) Em João 17:21- 23 fala-se da unidade que a Igreja tinha a responsabilidade de manter, mas em que
falhou completamente, e da unidade que Deus realizará infalivelmente e que manifestará em glória.

— CÃPIÉTULO 3 —

DEUS CHAMA A MOISÉS


A Escola de Deus
Vamos agora retomar a histoé ria pessoal de Moiseé s e considerar este grande servo de
Deus durante o períéodo taã o interessante da sua vida de solidaã o, períéodo este que naã o vai aleé m
de quarenta dos seus melhores anos, se assim podemos dizer. O Senhor, na Sua bondade, Sua
sabedoria e Sua fidelidade, poã e o Seu servo aà parte, livre das vistas e dos pensamentos dos
homens, para o poder educar debaixo da Sua imediata direçaã o. Moiseé s tinha necessidade
disso. Havia passado quarenta anos na casa do Faraoé ; e, conquanto a sua estadia ali naã o
deixasse de ser proveitosa, todavia, tudo que tinha aprendido ali naã o era nada em comparaçaã o
com o que aprendeu no deserto. O tempo passado na corte pode ter sido valioso, mas a sua
estadia no deserto era indispensaé vel.
Nada haé que possa substituir a comunhaã o secreta com Deus ou a educaçaã o que se
recebe debaixo da Sua disciplina. "Toda a cieê ncia dos egíépcios" naã o havia habilitado Moiseé s
para o serviço a que devia ser chamado. Havia podido seguir uma carreira brilhante nas
escolas do Êgito, e deixara-as coberto de honras literaé rias, com uma inteligeê ncia enriquecida
por vastos conhecimentos e o coraçaã o cheio de orgulho e vaidade. Havia podido tomar os seus
tíétulos nas escolas dos homens, mas tinha ainda de aprender o alfabeto na escola de Deus.
Porque a sabedoria e a cieê ncia humanas, por muito valor que tenham em si mesmas, naã o
podem fazer de ningueé m um servo de Deus nem qualificar algueé m para desempenhar
qualquer cargo no serviço divino. Tais conhecimentos podem qualificar o homem natural para
desempenhar um papel importante diante do mundo: poreé m eé necessaé rio que todo aquele que
Deus quer empregar ao Seu serviço seja dotado de qualidades bem diferentes, qualidades aliaé s
que soé se adquirem no santo retiro da presença de Deus.
Todos os servos de Deus teê m aprendido por experieê ncia a verdade do que acabamos de
dizer: Moiseé s em Horeb, Êlias no ribeiro de Kerith, Êzequiel junto ao rio Chebar, Paulo na
Ãraé bia, e Joaã o em Patmos, saã o todos exemplos da grande importaê ncia de estarmos a soé s com
Deus. Ê se considerarmos o Servo Divino, vemos que o tempo que Êle passou em retiro foi dez
vezes aquele que gastou no Seu ministeé rio pué blico. Ãinda que perfeito em inteligeê n cia e
vontade, passou trinta anos na casa humilde de um carpinteiro de Nazareth, antes de se
manifestar em pué blico. Ê, mesmo depois de ter entrado na Sua carreira pué blica, quantas vezes
o vemos afastar-Se das vistas dos homens, para gozar a solidaã o santa da presença do Pai!
Pode perguntar-se, como poderaé a falta de obreiros, que tanto se faz sentir, ser suprida
se eé necessaé rio que todos passem por uma educaçaã o secreta taã o prolongada antes de tomarem
o seu trabalhou Mas isto eé um assunto do Mestre, e naã o nosso. ÊÉ Êle Quem sabe chamar os
obreiros, e Quem sabe tambeé m preparaé -los. Naã o eé obra do homem. Soé Deus pode chamar e
preparar um verdadeiro obreiros, e se Êle toma muito tempo para educar um tal homem, eé
porque assim o julga bom; sabemos que, se outra fosse a Sua vontade, Êle podia realizar esta
obra num instante. Uma coisa eé evidente: Deus tem tido todos os Seus servos muito tempo a
soé s Consigo, tanto antes como depois da sua entrada no ministeé rio pué blico; ningueé m poderaé
dispensar este treino, e sem esta disciplina, sem este exercíécio privativo, nunca seremos mais
que teoé ricos superficiais e inué teis. Todo aquele que se aventura numa carreira pué blica sem se
haver pesado na balança do santuaé rio, e medido na presença de Deus, parece-se com um navio
saindo aà vela sem lastro proé prio, que teraé fatalmente de sossobrar ao primeiro embate do
vento. Pelo contraé rio, existe para todo aquele que tem passado pelas diferentes classes da
escola de Deus uma profundidade, uma solidez, e uma constaê ncia que saã o os elementos
essenciais na formaçaã o do caraé cter de um verdadeiro e eficiente servo de Deus.
Por isso, quando vemos Moiseé s, aà idade de quarenta anos, afastado de todas as honras e
magnificeê ncia de uma corte, para passar quarenta anos na solidaã o do deserto, podemos
esperar veê -lo empreender uma carreira de serviço notaé vel; no que aliaé s naã o ficamos
desapontados. Ningueé m eé verdadeiramente educado senaã o aquele a quem Deus educa. Naã o
estaé dentro das possibilidades do homem preparar um instrumento para serviço do Senhor. Ã
maã o do homem eé incapaz de moldar um "vaso idoé neo para uso do Senhor" (2Tm2:21).
SomenteÃquelequequerusaé -lo pode preparaé -lo; e no caso presente temos um exemplo
singularmente belo do Seu modo de o fazer.

No Deserto
"Ê ÃPÃSCÊNTÃVÃ Moiseé s o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiaã ; e levou o
rebanho atraé s do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe" (versíéculo 1). Ãqui temos, pois,
uma mudança admiraé vel na vida de Moiseé s. Lemos em Geé nesis, capíétulo 46:34, que "todo o
pastor de ovelhas eé abominaçaã o para os egíépcios" e no entanto, Moiseé s, que era "instruíédo em
toda a cieê ncia dos egíépcios", eé transferido da corte do Êgito para traé s do deserto para
apascentar um rebanho de ovelhas e preparar-se para o serviço de Deus. Seguramente isto
naã o "eé o costume dos homens" (2 Sm 7:19) nem o curso natural das coisas: eé um caminho
incompreensíével para a carne e o sangue. Noé s havíéamos de pensar que a educaçaã o de Moiseé s
estava terminada logo que se tornou mestre de toda a sabedoria do Êgito, gozando ao mesmo
tempo das vantagens que oferece a este respeito a vida de uma corte. Poderíéamos supor que
um homem tão privilegiado havia de ter naã o apenas uma instruçaã o soé lida e extensa mas
tambeé m uma distinçaã o tal em suas açoã es que o tornariam apto para cumprir toda a espeé cie de
serviço. Poreé m, ver um tal homem, taã o bem d otadoe instruíédo, ser chamado a abandonar a
sua elevada posiçaã o para ir apascentar ovelhas atraé s do deserto, e qualquer coisa
incompreensíével para o homem, qualquer coisa que humilha ateé ao poé o seu orgulho e a sua
gloé ria, mostrando que as vantagens humanas saã o de pouco valor diante de Deus; mais ainda,
que saã o "como esterco", naã o somente aos olhos do Senhor, mas aos olhos de todos aqueles que
teê m sido ensinados na Sua escola (Fp. 3:8).
Êxiste uma diferença enorme entre o ensino humano e o divino. Ãquele tem por fim
cultivar e exaltar a natureza; este começa por a "secar" e a poê r de lado. "Ora, o homem natural
naã o compreende as coisas do Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode
entendeê -las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Podeis esforçar-vos por
educar o homem natural tanto quanto puderdes, sem que jamais consigais fazer dele um
homem espiritual. "O que eé nascido da carne eé carne, e o que eé nascido do Êspíérito eé espíérito"
(Jo 3:6). Se alguma vez um "homem natural" educado poê de esperar ter eê xito no serviço de
Deus, esse tal foi Moiseé s: ele era "instruíédo... e poderoso em suas palavras e obras" (Ãt 7:22); e
todavia teve que aprender alguma coisa "atraé s do deserto" que as escolas do Êgito nunca lhe
haviam ensinado. Paulo aprendeu muito mais na Ãraé bia do que jamais havia aprendido aos
peé s de Gamaliel (¹). Ningueé m pode ensinar como Deus; e eé necessaé rio que todos aqueles que
querem aprender d'Êle estejam a soé s com Êle. Foi no deserto que Moiseé s aprendeu as liçoã es
mais preciosas, mais profundas, mais poderosas e mais duraé veis; e eé ali que devem encontrar-
se todos os que queiram ser formados para o ministeé rio.
______________________
(1) O leitor não deve supor, nem por um momento, que pretendemos com estes comentários depreciar o
valor de uma instrução realmente proveitosa ou a cultura das faculdades intelectuais. De modo nenhum. Se, por
exemplo, o leitor é pai deve adornar a mente de seu filho com conhecimentos úteis: deve ensinar-lhe tudo que poderá
ser utilizado mais tarde no serviço do Mestre: não deve embaraçá-lo com aquilo que ele terá de pôr de parte
seguindo a carreira cristã, nem deve conduzi-lo, com o fim de lhe dar uma educação brilhante, por uma região da
qual é quase impossível sair com uma inteligência imaculada. Seria tão lógico encerrá-lo numa mina de carvão
durante dez anos, com o fim de o pôr em condições de discutir as propriedades da luz e da sombra, como fazê-lo
caminhar sobre o lodaçal da mitologia pagã com o fim de o preparar para a interpretação dos oráculos de Deus ou
de o fazer capaz de pastorear o rebanho de Cristo.

Ali onde só Deus é Exaltado


Possa o leitor conhecer por sua proé pria experieê ncia o que significa estar "atraé s do
deserto", esse lugar sagrado onde a natureza eé deitada ao poé e soé Deus eé exaltado. Ãli, os
homens e as coisas, o mundo e o ego, as circunstaê ncias presentes e a sua influeê ncia saã o
estimados pelo seu justo valor. Ãli, e somente ali, encontraraé uma balança divinamente afinada
para pesar tudo que haé no Seu íéntimo e aà Sua volta.
Ãli naã o haé falsas cores, nem falsos penachos, nem vaã s pretensoã es! O inimigo das almas
naã o tem o poder de dourar a areia desse lugar. Tudo ali eé realidade. O coraçaã o que tem estado
na presença de Deus, "atraé s do deserto", tem pensamentos justos sobre todas as coisas; e
eleva-se muito acima da influeê ncia excitante dos negoé cios deste mundo. O clamor e ruíédo, a
agitaçaã o e confusaã o do Êgito naã o penetram nesse lugar retirado; naã o se ouve o ruíédo do
mundo comercial e financeiro; a ambiçaã o naã o se faz sentir ali; a ambiçaã o da gloé ria do mundo
desaparece e a sede de ouro naã o se sente ali. Os olhos naã o saã o obscurecidos pela
concupisceê ncia, nem o coraçaã o eé ocupado pelo orgulho; a adulaçaã o dos homens naã o interessa,
e a sua censura naã o desanima. Êm suma: tudo eé posto de parte exceto a calma e luz da
presença divina; soé se ouve a voz de Deus; a Sua luz ilumina; os Seus pensamentos saã o aceitos
pelo coraçaã o. Tal eé o lugar onde teê m de ir todos aqueles que quiserem ser aptos para o
ministeé rio.
Prouvera a Deus que todos aqueles que aparecem em cena para servir em pué blico
conhecessemmelhoroqueeé respiraraatmosfera desselugar. Haveria, entaã o, menos tentativas
infrutíéferas no exercíécio do ministeé rio, mas haveria um serviço bem mais eficaz para gloé ria de
Cristo.
O que Vemos e Ouvimos
Êxaminemos agora o que Moiseé s viu e ouviu, atraé s do deserto. Teremos ocasiaã o de ver
como ele aprende ali liçoã es que estaã o muito acima da inteligeê ncia dos mais eminentes saé bios
do Êgito. Poderia parecer aà razaã o humana uma estranha perda de tempo um homem como
Moiseé s ter de passar quarenta anos sem fazer nada senaã o guardar ovelhas no deserto. Poreé m,
ele estava ali com Deus, e o tempo assim passado nunca eé perdido. ÊÉ conveniente recordar que
haé para o verdadeiro servo de Cristo alguma coisa mais do que mera atividade. Todo aquele
que estaé sempre em atividade corre o risco de trabalhar demais. Um tal homem deveria
meditar cuidadosamente nas palavras profundamente praé ticas do Servo perfeito: "Êle
desperta-me todas as manhaã s, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que
aprendem" (Isaíéas 50:4). O servo deve estar frequentemente na presença do seu mestre, a fim
de poder saber o que deve fazer. O "ouvido" e a "líéngua" estaã o intimamente unidos, em vaé rios
aspectos; poreé m, debaixo do ponto de vista espiritual, ou moral, se o ouvido estaé fechado e a
líéngua desatada, naã o restam dué vidas que se diraã o muitas coisas bem tolas. Por isso, "amados
irmaã os... todo o homem seja pronto paraowvíé'/; tardio para falar" (Tiago 1:19). Êsta exortaçaã o
oportuna baseia-se em dois fatos: a saber, que tudo o que eé bom vem do alto, e que o coraçaã o
estaé repleto de maldade, pronto a transbordar. Daíé, a necessidade de ter o ouvido abertoe a
líéngua refreada: rara e admiraé vel cieê ncia!—cieê ncia na qual Moiseé s fez grande progresso "atraé s
do deserto", e que todos podem adquirir, desde que estejam dispostos a aprender nessa
escola.

A Sarça
"Ê apareceu-lhe o Ãnjo do SÊNHOR em uma, chama de fogo no meio de uma sarça; e
olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça naã o se consumia. Ê Moiseé s disse: agora me
virarei para laé e verei esta grande visaã o, porque a sarça se naã o queima" (versíéculos 2-3). Êra ef
etivamen-te uma grande visaã o, porque uma sarça ardia e naã o se consumia. Ã corte do Faraoé
nunca poderia oferecer nada de semelhante. Poreé m, era uma visaã o graciosa porque nela era
simbolizada de um modo notaé vel a situaçaã o dos eleitos de Deus. Êles encontra vam-se no meio
do forno do Êgito; eoSenhorrevelava-senomeiode uma sarça ardente. Poreé m, assim como a
sarça se naã o consumia, taã o-pouco eram eles consumidos, porque Deus estava com eles. "O
SÊNHOR dos Êxeé rcitos estaé conosco: o Deus de Jacoé eé o nosso refué gio" (SI 46:7). Ãqui temos
força e segurança, vitoé ria e paz. Deus conosco, Deus em noé s, e Deus por noé s. Isto eé provisaã o
abundante para todas as necessidades.
Naã o haé nada mais interessante e mais instrutivo do que a maneira como aprouve ao
Senhor revelar-Se a Moiseé s na passagem que estamos considerando. Êle ia confiar-lhe o
encargo de tirar o Seu povo do Êgito, para que eles fossem a Sua Ãssembleia, para habitar no
meio deles tanto no deserto como na terra de Canaaã ; e eé do meio de uma sarça que lhe fala.
Síémbolo belo, solene e proé prio do Senhor habitando no meio do Seu povo eleito e resgatado;
"O nosso Deus eé um fogo consumidor" (Hb 12:29)-naã o para MOS consumir, mas para consumir
em noé s e aà nossa volta tudo que eé contra a Sua santidade, e que eé , portanto, um perigo para a
nossa verdadeira e eterna felicidade. "Mui fieé is saã o os teus testemunhos; a santidade conveé m aà
tua casa, SÊNHOR, para sempre" (Salmo 93:5).
O Velho e o Novo Testamento encerram vaé rios casos em que Deus Se manifesta como
"um fogo consumidor": como por exemplo o caso de Nadabe e Ãbiué , em Levíético 10. Tratava-se
de uma ocasiaã o solene. Deus habitava no meio do Seu povo, e queria manter este numa
posiçaã o digna de Si Proé prio. Naã o podia ter feito outra coisa. Naã o seria para Sua gloé ria nem para
proveito dos Seus se Êle tolerasse qualque: coisa, neles incompatíével com a pureza da Sua
presença. O lugar de habitaçaã o de Deus tem que ser santo.
Do mesmo modo, em Josueé , capíétulo 7, temos outra prova notaé vel, no caso de Ãcaã , de
que o Senhor naã o pode sancionar o mal com a Sua presença, qualquer que seja a forma que o
mal possa revestir ou por muito oculto que possa estar. O Senhor eé "um fogo consumi dor", e,
como tal, tinha de agir a respeito de tudo que pudesse manchar a Ãssembleia no meio da qual
habitava. Procurar unir a presença de Deus com o pecado naã o julgado eé o indíécio da
impiedade.
Ãnanias e Safira (Ãtos, 5) daã o-nos a mesma liçaã o. Deus o Êspíérito Santo habitava na
Igreja, naã o somente como uma influeê ncia, mas, sim, como uma pessoa divina, de tal maneira
que ningueé m podia mentir na Sua presença. Ã Igreja era, e eé ainda agora, morada de Deus; e eé
Êle Quem deve governar e julgar no meio dela. Os homens podem reviver em uniaã o a
concupisceê ncia, a impostura e a hipocrisia; mas Deus naã o pode fazeê -lo. Se quisermos que Deus
ande conosco, devemos julgar os nossos caminhos, ou entaã o Êle os julgaraé por noé s (veja 1 Co
11:29-32).
Êm todos estes casos e em muitos mais que podíéamos aduzir, vemos a força destas
palavras solenes, "a santidade conveé m aà tua casa, SÊNHOR, para sempre" (SI 93:5). Para aquele
que a tiver compreendido, esta verdade produziraé sempre sobre ele um efeito moral ideê ntico
aà quele que exerceu sobre Moiseé s: "Naã o te chegues para caé ; tira os teus sapatos de teus peé s;
porque o lugar em que tu estás é terra santa" (versíéculo 5). O lugar da presença de Deus eé
santo, e soé se pode caminhar por ele com os peé s descalços. Deus, habitando no meio do Seu
povo, comunica aà Ãssembleia desse povo um caraé ter de santidade que eé a base de todo o santo
afeto e de toda a santa atividade. O caraé ter da habitaçaã o deriva do caraé ter d'Ãquele que a
habita.
à aplicaçaã o deste princíépio aà Igreja, que eé agora a habitaçaã o de Deus, em Êspíérito, eé da
maior importaê ncia praé tica. Ãssim como eé bem-aventuradamente verdade que Deus habita,
pelo Seu Êspíérito, em cada membro da Igreja, dando deste modo um caraé ter de santidade ao
indivíéduo, eé igualmente certo que Êle habita na Ãssembleia; e, por isso, a Ãssembleia deve ser
santa. O centro em volta do qual os membros se reué nem eé nada menos do que a Pessoa de um
Cristo vivo, vitorioso e glorificado. O poder que os une eé nada menos do que o Êspíérito Santo; e
o Senhor Deus Todo-Poderoso habita neles e entre eles (vedeMt 18:20; 1 Co6:19; 3:16-17; Êf
2:21-22). Se tais saã o a santidade e dignidade que pertencem aà morada de Deus, eé evidente que
nada impuro, quer seja em princíépio, quer na praé tica, deve ser tolerado. Todos os que estaã o
relacionados com esta habitaçaã o deviam sentir a importaê ncia e solenidade destas palavras, "o
lugar em que tu estaé s eé terra santa." "Se algueé m destruir o templo de Deus, Deus o destruiraé "
(1 Co 3:17). Êstas palavras saã o dignas de toda a aceitaçaã o da parte de todos os membros da
Ãssembleia—de cada pedra viva no Seu santo templo! Possamos noé s todos aprender a pisar os
aé trios do Senhor com os peé s descalços!

O Monte Horebe: Santidade e Graça


Debaixo de todos os aspectos, as visoã es de Horebe rendem testemunho, ao mesmo
tempo, da graça e da santidade do Deus de Israel. Se a graça de Deus eé infinita, a Sua santidade
tambeé m o eé ; e, assim como a maneira em que Êle se revelou a Moiseé s nos faz conhecer a
primeira, o proé prio fato de Se revelar atesta a ué ltima. O Senhor desceu porque era
misericordioso; mas, depois de haver descido, eé dito que Se revelou como sendo santo: "Disse
mais: Êu sou o Deus de teu pai, o Deus de Ãbraaã o, o Deus de Isaque e o Deus de Jacoé . Ê Moiseé s
encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus" (versíéculo 6). Ã natureza humana
esconder-se-aé sempre como resultado da presença divina; quando estamos na presença de
Deus, com os peé s descalços e o rosto coberto, quer dizer, naquela disposiçaã o de alma que esses
atos exprimem de um modo taã o admiraé vel, estamos em condiçoã es vantajosas para ouvir os
doces acentos da graça. Quando o homem ocupa o lugar que lhe compete, Deus pode falar-lhe
em linguagem de pura misericoé rdia.
"Ê disse o SÊNHOR: Tenho visto atentamente a afliçaã o do meu povo, que estaé no Êgito, e
tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.
Portanto, desci para livraé -lo da maã o dos egíépcios e para f azeê -lo subir daquela terra a uma
terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel;.. .Ê agora, eis que o clamor dos filhos de
Israel chegou a mim, e tambeé m tenho visto a opressaã o com que os egíépcios os oprimem"
(versíéculos 7 a 9). Neste trecho, a graça absoluta, livre e incondicional do Deus de Ãbraaã o
brilha em todo o seu esplendor, livre dos "ses" e dos "mas", dos votos, das resoluçoã es e das
condiçoã es impostas pelo espíérito legalista do homem. Deus havia para Se manifestar em Sua
graça soberana, para realizar a obra de salvaçaã o, para cumprir a Sua promessa a Ãbraaã o,
promessa repetida a Isaque e a Jacoé . Naã o havia descido para ver se, na realidade, os herdeiros
da promessa estariam em condiçoã es de merecer a salvaçaã o. Bastava-Lhe que Necessitassem
dela. Ponderaraã o seu estado oprimido, as suas afliçoã es, as suas laé grimas, os seus suspiros, e a
sua pesada servidaã o; pois, bendito seja o Seu nome, Êle conta os "ais" do Seu povo e poã e as
suas laé grimas no Seu odre (S156:8). Naã o foi por coisa alguma de bom que houvesse visto neles
que os visitou, porque Êle sabia o que havia neles. Numa palavra, o verdadeiro fundamento da
intervençaã o misericordiosa do Senhor a favor do Seu povo eé revelado nestas palavras: "Êu sou
o Deus de Ãbraaã o" e "Tenho visto a afliçaã o do meu povo."
Êstas palavras revelam um princíépio fundamental nos caminhos de Deus. ÊÉ com base
naquilo que Êle eé que atua sempre. "ÊU SOU" assegura todas as cosias para "O MÊU POVO".
Certamente, Deus naã o ia deixar o Seu povo no meio dos fornos de tijolo do Êgito, e debaixo do
azorrague dos exatores do Faraoé . Êra o Seu povo, e, portanto, queria agir, com respeito a esse
povo, de uma maneira digna de Si Proé prio. O fato de ser o Seu povo, o objeto favorecido do Seu
amor de eleiçaã o e possuidor da Sua promessa incondicional, era suficiente. Nada podia
impedir a manifestaçaã o pué blica da relaçaã o que existia entre o Senhor e aqueles a quem,
segundo os Seus desíégnios eternos, havia sido assegurada a posse da terra de Canaaã . Havia
descido para os libertar, e os poderes da terra e do inferno reunidos naã o poderiam reteê -los
nem uma hora aleé m do tempo determinado por Êle. Podia servir-Se, e de fato serviu-Se, do
Êgito como escola, na qual estava o Faraoé como um mestre; poreé m, uma vez cumprida a sua
missaã o, o mestre e a escola saã o postos de parte, e o Seu povo eé libertado com maã o forte e braço
estendido.

Horebe: A Revelação daquilo que deve Caracterizar todo Servo de Deus


Tal foi, pois, o caraé ter duplo da revelaçaã o feita a Moiseé s no Monte Horebe. Ã santidade e
a graça estaã o reunidas naquilo que ele viu e ouviu. Ê estes dois elementos acham-se sempre,
como sabemos, em todas as obras e revelaçoã es de Deus, caracterizando-a de um modo notaé vel;
e deveriam tambeé m caracterizar a vida de todos aqueles que, de uma maneira ou de outra,
trabalham para o Senhor ou teê m comunhaã o com ele. Todo o verdadeiro servo eé enviado da
presença imediata de Deus com toda a sua santidade e toda a sua graça; e eé chamado para ser
santo e gracioso — para ser o reflexo da graça e santidade do caraé ter divino; e para alcançar
este estado, naã o soé tem de sair da presença imediata de Deus como tambeé m permanecer nela,
habitualmente, em espíérito. Êste eé o segredo do serviço eficaz para o Senhor.
Ningueé m senaã o o homem espiritual pode compreender estas duascoisas, "sai e
trabalha", "mas naã o te afastes". Para poder agir por Deus em pué blico, eu preciso de estar com
Êle no santuaé rio. Se eu naã o estiver com Êle no santuaé rio da Sua presença serei completamente
malsucedido.
Muitos fracassam particularmente nisto. Êxiste a possibilidade do perigo de se sair da
solenidade e calma da presença divina para o ruíédo da conviveê ncia com os homens e a
agitaçaã o do serviço ativo. Devemos vigiar contra este perigo.
Se perdermos esta disposiçaã o santa de espíérito, a qual eé representada aqui nos peé s
descalços, o nosso serviço seraé bem depressa insíépido e sem proveito. Se consentirmos que o
nosso trabalho se interponha entre o nosso coraçaã o e o Mestre, seraé de pouco valor. Soé
podemos servir a Cristo de um modo eficaz na medida em que desfrutamos d'Êle. ÊÉ quando o
coraçaã o se ocupa das Suas perfeiçoã es que as maã os executam o serviço que Lhe eé aceitaé vel; e
ningueé m pode servir a Cristo com fervor, vigor, e poder para os seus semelhantes se naã o
estiver sendo alimentado de Cristo, no secreto da sua alma. Poderaé , certamente, pregar um
sermaã o, orar, fazer um discurso, escrever uma obra, e cumprir toda a rotina de serviço pué blico,
sem contudo servir a Cristo. Ãquele que pretender apresentar Cristo aos outros deve ele
proé prio estar ocupado com Cristo.
Feliz de todo aquele que assim exercer ministeé rio, seja qual for o sucesso ou a aceitaçaã o
do seu trabalho. Porque ainda que esse ministeé rio naã o desperte atençaã o, naã o exerça influeê ncia,
ou naã o produza resultados aparentes, ele tem em Cristo o seu doce retiro e uma parte certa
que nada jamais lhe poderaé tirar. Ão passo que aquele que se alimenta com os frutos do seu
ministeé rio, que sente prazer nos gozos que daíé adveê m, ou com a atençaã o que inspira e o
interesse que desperta, eé semelhante a uma simples mangueira que fornece aé gua e fica soé com
ferrugem para si. ÊÉ deploraé vel encontrar-se algueé m em condiçoã es ideê nticas; e todavia eé esta a
situaçaã o em que se encontra todo aquele que se preocupa mais com a obra e seus resultados
do que com o Mestre e a Sua gloé ria.
Êste assunto exige o juíézo mais severo. O coraçaã o eé enganoso, e o inimigo eé astuto; daíé,
a grande necessidade de prestarmos atençaã o aà exortaçaã o, "Sede soé brios; vigiai." Ê quando a
alma eé levada ao convencimento dos numerosos perigos que rodeiam o servo de Cristo que
pode compreender a necessidade que tem de estar muito tempo a soé s com Deus: eé ali que se
estaé seguro e feliz. ÊÉ quando começamos, continuamos e acabamos a nossa obra aos peé s do
Mestre que o nosso serviço se torna verdadeiro.

Horebe: O Exame Depois de Quarenta Anos de Escola no Deserto


Depois de tudo que acabamos de dizer, eé evidente para o leitor que o ar que se respira
"atraé s do deserto" eé um ar muito saudaé vel para todo o servo de Cristo. Horebe eé o verdadeiro
ponto de partida para todos aqueles a quem Deus envia para trabalharem para Si. Foi em
Horebe que Moiseé s aprendeu a descalçar os seus peé s e a cobrir o seu rosto. Quarenta anos
antes ele quisera encetar a sua obra; poreé m a sua atividade era prematura. Foi na solidaã o do
monte de Deus, e do meio da sarça ardente, que a mensagem divina ressoou aos ouvidos do
servo de Deus. "Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraoé , para que tires o meu povo, os filhos
de Israel, do Êgito" (versíéculo 10). Nestas palavras havia verdadeira autoridade. Êxiste uma
grande diferença entre ser-se enviado de Deus e correr sem ser enviado. Ora, eé evidente que
Moiseé s naã o estava apto para o serviço quando ao princíépio se dispoê s a atuar. Se nada menos
que quarenta anos de disciplina secreta eram precisos, como poderia ter feito a sua obra de
outra maneira £ Êra impossíével. Tinha de ser ensinado por Deus e enviado por Êle; e o mesmo
deve ser com todos aqueles que tomam a carreira de serviço e testemunho por Cristo. Oh! se
estas liçoã es fossem profundamente gravadas em nossos coraçoã es, de modo que todas as
nossas obras pudessem ter o selo da autoridade do Mestre e a Sua aprovaçaã o!
Mas temos alguma coisa mais que aprender aos peé s do Monte Horebe. Ã alma encontra
prazer detendo-se neste lugar. "ÊÉ bom que estejamos aqui" (Mt 17:4). Ã presença de Deus eé
sempre um lugar de profundo exercíécio; onde o coraçaã o pode estar certo de ser descoberto. Ã
luz que resplandece nesse lugar santo manifesta todas as coisas; e esta eé a nossa grande
necessidade no meio das vaã s pretensoã es que nos rodeiam e do orgulho e da proé pria satisfaçaã o
que estaã o em noé s.
Poderíéamos pensar que, ao receber a incumbeê ncia divina, a resposta de Moiseé s fosse:
"eis-me aqui", ou, "que queres que eu f aça<?" Mas naã o; ainda naã o estava preparado para isto.
Sem dué vida, era a lembrança do seu primeiro fracasso que o impedia de responder assim.
Quando se age sem Deus em qualquer coisa eé certo ficar-se desanimado, mesmo quando Deus
nos manda. "Êntaã o, Moiseé s disse a Deus: Quem sou eu, que vaé a Faraoé e tire do Êgito os filhos
de Israel1?-" (versíéculo 11). Êste procedimento em nada se assemelha ao homem que,
quarenta anos antes, cuidava que os seus irmaã os entenderiam que Deus lhes havia de dar
liberdade pela sua maã o (Ãt 7:25). Tal eé o homem! Precipitado umas vezes, vagaroso outras.
Moiseé s aprendera muito desde o dia em que matara o egíépcio. Crescera no conhecimento de si
proé prio, e este conhecimento produzira modeé stia e timidez. Contudo naã o tinha,
evidentemente, confiança em Deus. Se eu olhar para mim proé prio, "nada" farei; mas se olhar
para Cristo, "posso fazer todas as coisas". Ãssim, quando a modeé stia e a timidez levaram
Moiseé s a dizer: "Quem sou<?", a resposta de Deus foi esta: "Certamente Eu serei contigo"
(versíéculo 12), o que era mais do que suficiente. Se Deus estiver comigo, pouco importa quem
sou ou o que sou. Quando Deus diz: "Êu te enviarei" e "serei contigo", o servo estaé amplamente
revestido de autoridade divina e de poder, e, portanto, deve estar perfeitamente satisfeito de ir
aonde Deus o envia.
Mas Moiseé s faz ainda outra pergunta, porque o coraçaã o humano estaé cheio de pontos
de interrogaçaã o. "Ê Moiseé s disse a Deus: Êis que, quando vier aos filhos de Israel e lhes disser:
O Deus de vossos pais me enviou a voé s; e eles me disserem: Qual eé o seu nome t Que direi-
Ihesi" ÊÉ maravilhoso ver como o coraçaã o shumana argumenta e interroga quando deve a Deus
obedieê ncia implíécita; e ainda mais maravilhosa eé a graça que suporta esses argumentos e
responde a todas as interrogaçoã es. Cada pergunta parece realçar apenas qualquer novo
aspecto da graça divina.

" EU SOU O QUE SOU"


"Ê disse Deus a Moiseé s: ÊU SOU O QUÊ SOU. Disse mais: Ãssim diraé s aos filhos de Israel:
ÊU SOU me enviou a voé s" (versíéculo 14). O tíétulo que Deus daé a Si proé prio eé maravilhosamente
significativo. Ão estudarmos nas Êscrituras os vaé rios nomes com que Deus se revela, vemos
que se encontram intimamente ligados com as necessidades variaé veis daqueles com os quais
Êle estaé em relaçaã o: Jeovaé -Jireé (o Senhor proveraé ); Jeovaé Nissi (o Senhor minha bandeira);
Jeovaé Chalom (o Senhor envia a paz); Jeovaé Tsidkeno (o Senhor justiça nossa). Todos estes Seus
tíétulos graciosos vaã o surgindo para ocorrer aà s necessidades do Seu povo; e quando se intitula
"ÊU SOU", abrange todas elas. Ão assumir este tíétulo, o Senhor dava ao Seu povo um cheque
em branco, que podia comportar qualquer quantia. Êle chama-Se "ÊU SOU", e a feé tem somente
que pedir, valendo-se deste nome inefavelmente precioso, tudo aquilo que precisa. Deus eé o
ué nico algarismo a que a necessidade humana soé tem que acrescentar os zeros. Se queremos
vida, Cristo diz: "ÊU SOU a vida". Se eé justiça que necessitamos Êle eé "o SÊNHOR JUSTIÇÃ
NOSSÃ". Se queremos paz, Êle eé "a nossa paz". Se ansiamos por "sabedoria e santificaçaã o e
redençaã o", Êle foi para noé s feito por Deus todas estas coisas. Numa palavra, temos de
percorrera vasta extensaã odas necessidades humanas para formar um conceito justo da
espantosa profundidade e aê mbito deste nome adoraé vel: "ÊU SOU".
Que graça naã o eé sermos chamados a andar na companhia d'Ãquele que tem um nome
assim! Êstamos no deserto, onde temos de lutar com a provaçaã o, o sofrimento e dificuldades;
mas, enquanto tivermos o feliz privileé gio de podermos recorrer em todo o tempo, e em todas
as circunstaê ncias, Ãquele que se revela em tantos aspectos da graça, correspondendo a todas
as nossas necessidades e fraquezas, nada temos a recear. Foi quando Deus se dispunha a fazer
atravessar o deserto ao seu povo que revelou a Moiseé s este precioso e compreensivo nome; e,
embora o crente possa, agora, dizer "Ãba Pai", por meio do Êspíérito de adoçaã o, nem por isso
perde o privileé gio de podergozar comunhaã o com Deus em todas as diversas formas em que
Lhe aprouve revelar-Se.
Por exemplo, o nome de "Deus", revela-O agindo na unidade da Sua proé pria esseê ncia,
manifestando o seu eterno poder e a Sua divindade nas obras da criaçaã o. "Senhor Deus" eé o
nome que toma em ligaçaã o com o homem. Depois, com o "Deus Todo-Poderoso" aparece ao
Seu servo Ãbraaã o para lhe dar a certeza de que cumpriraé a Sua promessa a respeito da sua
semente. Como Jeovaé daé -se a conhecer a Israel, na libertaçaã o do Êgito e conduzindo-o ao paíés
de Canaaã .
Foi assim que Deus falou antigamente muitas vezes e de muitas maneiras aos paíés
pelos profetas (Hb 1:1); e o crente, debaixo de atual dispensaçaã o, possuindo o Êspíérito de
adoçaã o, pode dizer: Ãquele que assim se revelou, que assim falou, que assim agiu, eé meu Pai.
Naã o haé nada mais interessante ou praticamente mais importante no seu geé nero do que
o estudo destes grandes nomes que Deus toma nas diferentes dispensaçoã es. Êstes nomes saã o
sempre empregados com conformidade moral com as circunstaê ncias em que saã o revelados;
poreé m, com o nome "ÊU SOU" existe uma tal altura, uma largura, profundidade e comprimento
que excedem todo o entendimento humano.
Ê naã o se esqueça que eé somente em ligaçaã o com o Seu povo que Deus toma este tíétulo.
Naã o foi com esse nome que Se dirigiu a Faraoé . Quando fala com ele, toma o tíétulo importante e
majestoso de "O Senhor, o Deus dos hebreus", que quer dizer, Deus em relaçaã o com esse
mesmo povo que Faraoé procurava esmagar. Isto deveria ter sido o bastante para que o Faraoé
compreendesse a sua terríével posiçaã o diante de Deus. "ÊU SOU" naã o produzira ao ouvido
incircunciso mais que um som ininteligíével e naã o comunicara realidade divina ao coraçaã o
increé dulo. Quando Deus manifestado em carne fez ouvir aos judeus infieé is do Seu tempo essas
palavras, "antes que Ãbraaã o fosse, Eu sou", eles pegaram em pedras para o apedrejar. Soé o
verdadeiro crente pode, em alguma medida, experimentar e gozar o valor desse nome inefaé vel,
"ÊU SOU". Um tal crente pode regozijar-se por ouvir dos laé bios do bendito Senhor Jesus
afirmaçoã es como estas: "Eu sou o paã o da vida"; "Eu sou a luz do mundo"; "Eu sou o bom
pastor"; "Eu sou a ressurreiçaã o e a vida"; "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"; "Eu sou a
videira verdadeira"; "Eu sou o Ãlfa e o OÊ mega"; "Eu sou a resplandecente estrela da manhaã ".
Numa palavra, o Senhor pode tomar qualquer tíétulo de exceleê ncia e beleza divinas, e, tendo-o
posto depois de "ÊU SOU", encontrai nele JÊSUS, admirai-0 e adorai-O.
Ãssim, haé doçura, bem como compreensaã o, no nome "ÊU SOU" muito para aleé m do
poder de expressaã o. Todo o crente pode encontrar nele exatamente aquilo que conveé m aà sua
necessidade espiritual, qualquer que ela seja. Naã o haé um soé atalho tortuoso na jornada do
cristaã o, nem uma simples fase da experieê ncia da sua alma, nem um ponto sequer na sua
situaçaã o que naã o seja divinamente satisfeito por este tíétulo, pela razaã o simples que soé tem que
colocar qualquer coisa que ele necessite, pela feé , ao lado desse tíétulo "ÊU SOU" para encontrar
tudoem Jesus. Paraocrente, portanto, por muito fraco e vacilante que sej a, esse nome encerra
uma pura bem-aventurança.
Mas embora fosse ao Seu povo eleito que Deus mandou Moiseé s dizer "ÊU SOU me
enviou a voé s", este nome, considerado em relaçaã o com os descrentes, encerra um sentido
profundamente solene e uma grande realidade. Se algueé m que estaé ainda em seus pecados
contempla, por um momento, este tíétulo maravilhoso, naã o pode deixar de interrogar-se: "Qual
eé o meu estado em relaçaã o com este Ser que se chama a Si Mesmo "ÊU SOU O QUÊ SOU"£ Se,
de fato, eé verdade que ÊLÊ ÊÉ , entaã o o que é Ele para mim? Que devo eu escrever defronte deste
nome solene "ÊU SOU" £ Naã o quero despo-jar esta pergunta da sua solenidade tíépica e poder
com as minhas proé prias palavras; mas oro para que O Êspíérito de Deus a faça penetrar na
conscieê ncia de todo o leitor que realmente necessite de ser esquadrinhado por ela.

"Este eé meu Nome Eternamente"


Naã o posso terminar os meus comentaé rios sobre este capíétulo sem chamar a atençaã o do
leitor crente, para a declaraçaã o profundamente interessante contida no versíéculo 15: "Ê disse
Deus mais a Moiseé s: Ãssim diraé s aos filhos de Israel: O SÊNHOR,ODCUS devossos pais, o Deus de
Ãbraaã o, o Deus de Isaque; e o Deus de Jacoé , me enviou a voé s: este é meu nome eternamente, e
este é meu memorial de geração em geração." Êsta declaraçaã o encerra uma verdade muito
importante—uma verdade que muitos crentes professos parece esqueceram, a saber: que a
relaçaã o de Deus com Israel eé eterna. Êle eé tanto o Deus de Israel agora como o era quando os
visitou na terra do Êgito. Ãleé m disso, Êle ocupa-Se com Israel agora tanto como entaã o, se bem
que de um modo diferente. Ã Sua Palavra eé clara e explíécita: "este eé meu nome eternamente".
Naã o diz "este eé meu nome por um tempo, tanto tempo quanto eles continuarem a ser o que
devem ser". Naã o; mas "este eé meu nome eternamente, e este eé meu memorial de geração em
geração". Que o leitor pondere isto. "Deus naã o rejeitou o seu povo, que antes conheceu" (Rml
1:2). Obedientes ou desobedientes, unidos ou dispersos, manifestos perante as naçoã es ou
escondidos da sua vista, saã o ainda o Seu povo. Saã o o Seu povo e o Senhor eé o seu Deus. Ã
declaraçaã o do versíéculo 15 do capíétulo 3 de ÊÊ xodo eé irrefutaé vel. Ã igreja professa naã o pode
justificar-se de ignorar uma relaçaã o que Deus diz deve durar eternamente. Tenhamos cuidado
como empregamos a palavra "eternamente". Se dissermos que naã o significa eternamente,
quando aplicada a respeito de Israel, que provas temos de que quer dizer eternamente quando
aplicada a nosso respeitou Deus quer dizer aquilo que diz; e em breve mostraraé aos olhos de
toda a terra que a Sua relaçaã o com Israel sobreviraé todas as resoluçoã es do tempo. "Porque os
donse avocaçaã o de Deus saã o sem arrependimento" (Rm 11:29). Quando o Senhor disse "este eé
meu nome eternamente" falou em sentido absoluto. "ÊU SOU" declarou que eé o Deus de Israel
para sempre, e os gentios seraã o obrigados a compreender esta verdade e a inclinarem-se
perante ela, assim como a reconhecer que todos os desíégnios providenciais de Deus a seu
respeito bem como o seu proé prio destino estaã o ligados de um modo ou de outro com esse
povo favorecido e honrado, ainda que julgado e disperso agora. "Quando o Ãltíéssimo distribuíéa
as heranças aà s naçoã es, quando dividia os filhos de Ãdaã o uns dos outros, poê s os termos dos
povos, conforme o nué mero dos filhos de Israel. Porque a porçaã o do SÊNHOReé o seu povo; Jacoé eé
a parte da sua herança" (Dt 32:8-9). Isto deixou de ser verdade 1?- O Senhor perdeu a Sua
"porçaã o" e largou "a parte da sua herança"?- Ã Sua vista de terno amor jaé naã o estaé fixada sobre
as tribos dispersas de Israel, haé muito tempo perdidas para a visaã o humanai Os muros de
Jerusaleé m jaé naã o estaã o perante Êlei Ou deixou o seu poé de ser precioso aos Seus olhosi Para
responder a estas interrogaçoã es seria preciso citar uma grande parte do Velho Testemunho e
uma parte naã o menor do Novo, mas este naã o eé o lugar para examinar pormenorizadamente
um tal assunto. Quero apenas dizer, em conclusaã o deste capíétulo, que a Cristandade naã o deve
ser ignorante "Certo sim! este segredo... que o endurecimento veio em parte sobre Israel, ateé
que a plenitude dos gentios haja entrado. Ê, assim, todo o Israel seraé salvo" (Rm 11:25-26).

— CÃPIÉTULO 4 —

A PREPARAÇÃO DO SERVO
As Objeções de Moisés e os Meios de Deus
De novo devemos deter-nos por uns momentos ao peé do monte Horebe, "detraé s do
deserto" (um lugar sadio para a mente espiritual) para vermos manif estar-se de uma maneira
extraordinaé ria a incredulidade do homem e a graça ilimitada de Deus.
"Êntaã o, respondeu Moiseé s e disse: Mas eis que me naã o creraã o, nem ouviraã o a minha
voz, porque diraã o: SÊNHOR naã o te apareceu" (versíéculo 1). Como eé difíécil vencer a incredulidade
do coração do homem, e quaã o penoso eé para ele confiar em Deus! Como o ser humano eé
vagaroso em confiar em Deus! Como eé tardo em se aventurar em qualquer empresa confiando
somente nas promessas de Deus! Tudo eé bom para a natureza, menos isto. Ã cana mais fraca
para os olhos humanos eé considerada pela natureza como infinitamente mais soé lida, como
base da sua confiança, do que a rocha invisíével dos seé culos (Is 26:4). Ã natureza precipitar-se-aé
sem hesitaçaã o para qualquer auxíélio humano ou cisterna rota, em vez de se alimentar da fonte
das aé guas vivas (Jr 2:13,17:13).
Noé s havíéamos de pensar que Moiseé s tinha ouvido e visto o bastante para poê r fim aos
seus receios. O fogo consumidor na sarça que se naã o consumia; a graça de Deus, com toda a
sua condescendeê ncia; os tíétulos preciosos de Deus; a missaã o divina; a certeza da presença de
Deus; todas estas coisas deveriam terafugentado todo o pensamento de temor e comunicado
ao coraçaã o uma segurança firme. Contudo, Moiseé s continua a fazer perguntas, a que Deus
continua a responder; e, como jaé frisaé mos, cada nova pergunta poã e em evideê ncia nova graça.
"Ê o SÊNHOR disse-lhe: Que eé isso na tua maã o?Ê ele disse: Umavara" (versíéculo2).
O Senhor estava disposto a aceitar Moiseé s tal qual ele era e a servir-se do que ele tinha
na maã o. Ã vara, com a qual ele havia conduzido as ovelhas de seu sogro, ia ser usada para
libertar o Israel de Deus, para castigar o Êgito, para abrir atraveé s do mar um caminho do povo
remido do Senhor, e para fazer brotar aé gua da rocha a fim de refrescar as hostes sedentas de
Israel no deserto. Deus serve-se dos instrumentos mais fracos para realizar os Seus planos
mais gloriosos. "Uma vara"; um corno de carneiro (Js 6:5); "um paã o de cevada" (Jz 7:13); "uma
botija de aé gua" (lRs 19:6); "uma funda de pastor" (1 Sm 17:50); tudo, em suma, pode servir
nas maã os de Deus para cumprir a obra que Êle tem projetado. Os homens imaginam que naã o
se pode chegar a grandes resultados senaã o por grandes meios; poreé m naã o eé assim o meé todo
de Deus. Êle tanto pode servir-se de "um bicho" como do sol abrasador; de "uma aboboreira"
como de um vento calmoso (veja-se Jonas 4).

A Vara
Poreé m Moiseé s tinha de aprender uma liçaã o muito importante, tanto a respeito da vara
como da maã o que devia usaé -la. Êle tinha que aprender, e o povo tinha de ser convencido. "Ê Êle
disse: Lança-a na terra. Êle a lançou na terra, e tornou-se em cobra; e Moiseé s fugia dela. Êntaã o
disse o Senhor a Moiseé s: Êstende a tua maã o e pega-lhe pela cauda.(Ê estendeu a sua maã o e
pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na sua maã o). Para que creiam que te apareceu o
SÊNHOR; Deus de seus pais, o Deus de Ãbraaã o, o Deus de Isaque e o Deus de Jacoé " (versíéculo 5).
Trata-se de um sinal profundamente significante. Ã vara tornou-se serpente e Moiseé s fugia
dela assustado; mas, segundo ordem do Senhor, pegou-lhe pela cauda e tornou-se numa vara.
Naã o haé nada mais proé prio do que esta figura para expressar a ideia do poder de Satanaé s
voltado contra si mesmo, e deste fato encontramos numerosos exemplos nos meios que Deus
usa; o proé prio Moiseé s foi um exemplo notaé vel. Ã serpente estaé inteiramente debaixo do poder
de Cristo, e logo que chegar ao fim da sua insensata carreira, seraé lançada no lago de fogo, para
ali receber os frutos da sua obra por toda a eternidade:"... a antiga serpente, "oacusador" e
adversaé rio (Ãp 12:9-10) seraé eternamente aterrado com a vara do ungido de Deus.

A Mão Leprosa
"Ê disse-lhe mais o SÊNHOR: Mete agora a maã o no teu peito; Ê, tirando-a, eis que a sua
maã o estava leprosa, branca como a neve. Ê disse: Torna a meter a tua maã o no teu peito. Ê
tornou a meter a sua maã o no peito; depois tirou-a do peito; e eis que se tornara como a sua
outra carne" (versíéculos 6 a 7). Ã maã o leprosa e a sua purificaçaã o representam o efeito moral
do pecado e a maneira como o pecado foi tirado pela obra perfeita de Cristo. Posta no peito, a
maã o limpa tornou-se leprosa; e a maã o leprosa, posta no peito, ficou limpa. Ãlepra eé uma figura
bem conhecida do pecado; e assim como o pecado entrou no mundo pelo primeiro homem do
mesmo modo foi tirado pelo segundo. "Porque, assim como a morte veio por um homem,
tambeé m a ressurreiçaã o dos mortos veio por um homem" (ICo 15:21).
à degradaçaã o veio por um homem, e pelo homem a redençaã o; pelo homem veio a
ofensa e pelo homem o perdaã o; pelo homem veio o pecado e pelo homem a justiça; a morte
veio ao mundo por um homem; por um homem, a morte foi abolida, e a vida, a justiça e a
gloé ria foram introduzidas na terra. Ãssim, a serpente seraé naã o soé eternamente vencida e
confundida, como todos os vestíégios da sua obra abominaé vel seraã o apagados e destruíédos e
destruíédos por meio do sacrifíécio expiatoé rio d Ãquele que Se "manifestou para desfazer as
obras do diabo" (1 Jo 3:8).

As Águas Tranformadas em Sangue


"Ê aconteceraé que, se eles te naã o crerem, nem ouvirem a voz do primeiro sinal, creraã o a
voz do derradeiro sinal; e, se acontecer que ainda naã o creiam a estes dois sinais, nem ouçam a
tua voz, tomaraé s das aé guas do rio e as derramaraé s na terra seca; e as aé guas, que tomaraé s do
rio, tornar-se-aã o em sangue sobre a terra seca" (versíéculos 8 a 9).
Êsta eé uma figura solene e mui expressiva da consequeê ncia de uma recusa em
submeter-se ao testemunho divino. Êste sinal soé devia ser executado caso eles recusassem os
outros dois. Êm primeiro plano, se tratava de um sinal para Israel, e depois de uma praga para
o Êgito.

A Falta de Eloquência
Com tudo isto o coraçaã o de Moiseé s naã o se deu por satisfeito.
"Êntaã o, disse Moiseé s ao SÊNHOR.- Ãh! Senhor! Êu naã o sou homem eloquente, nem de
ontem, nem de ante-ontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado
de boca e pesado de líéngua" (versíéculo 10). Que terríével lentidaã o! Nada senaã o a pacieê n cia
infinita do Senhor poderia suportaé -la. Êvidentemente, quando Deus lhe disse, "certamente eu
serei contigo" dava-lhe a garantia infalíével de que nada lhe faltaria de tudo que fosse
necessaé rio. Se fosse necessaé rio uma líéngua eloquente, que devia Moiseé s fazer senaã o entregar o
caso Ãquele que lhe havia dito "ÊU SOU" 4 Êloqueê ncia, sabedoria, poder, energia, estavam
encerrados nesse tesouro inesgotaé vel.
"Ê disse-lhe o SÊNHOR: Quem fezboca do homem"?- Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou
o que veê , ou o cego?- Naã o sou eu, o SÊNHOR ?-Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te
ensinarei o que haé s de falar" (versíéculos 11 a 12). Graça profunda, adoraé vel e incompa raé vel!
Como eé proé pria de Deus! Naã o haé ningueé m que seja como o Senhor, nosso Deus, cuja graça
paciente supera todas as nossas dificuldades e eé suficientemente abundante para todas as
nossas necessidades e fraquezas. "ÊU O SÊNHOR" deveria fazer cessar para sempre todos os
argumentos dos nossos coraçoã es carnais. Mas, ah! o raciocíénio eé difíécil de derribar, e levanta-se
de novo perturbando a nossa paz e desonrando Ãquele bendito Senhor que Se apresenta aà s
nossas almas em toda a plenitude da Sua graça, a fim de que sejamos cheios dela, segundo as
nossas necessidades.
ÊÉ bom recordarmo-nos que, quando temos o Senhor conosco, as nossas deficieê ncias e
fraquezas saã o uma ocasiaã o para que Êle manifeste a Sua graça e infinita pacieê ncia. Se Moiseé s
tivesse recordado isto, a sua falta de eloqueê ncia naã o o teria perturbado. O apoé stolo Paulo
aprendeu a dizer: "De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim
habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injué rias, nas necessidades,
nas perseguiçoã es, nas angué stias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, entaã o, sou
forte" (2 Co 12:9-10). Êsta eé , sem dué vida, a linguagem de um que chegou a um alto grau na
escola de Cristo. ÊÉ a experieê ncia de um homem que naã o se havia afligido por naã o possuir
eloqueê ncia, por quantohavia encontrado, na graça preciosa do Senhor Jesus Cristo, uma
resposta a todas as suas necessidades, quaisquer que fossem.
O conhecimento desta verdade deveria ter livrado Moiseé s da sua excessiva
desconfiança e da timidez que o dominava. Depois de o Senhor, em Sua misericoé rdia, lhe haver
assegurado que estaria com a sua boca, ele deveria ficar tranquilo quanto aà questaã o da
eloqueê ncia. Ãquele que fez a boca do homem podia, se houvesse necessidade disso, encheê -la
da mais poderosa eloqueê ncia. Para a feé , isto eé bem simples; poreé m o pobre coraçaã o increé dulo
confia infinitamente mais numa líéngua eloquente do que n'Ãquele que a criou. Êste fato seria
inexplicaé vel se naã o conheceê ssemos de que elementos se compoã e o coraçaã o natural. O coraçaã o
natural naã o pode confiar em Deus; e esta eé a causa do defeito humilhante de desconfiança no
Deus vivo, que se manifesta ateé mesmo entre os filhos de Deus, quando eles se deixarem
dominar, de algum modo, pela natureza humana. Por isso, no caso presente, Moiseé s hesita
ainda: "Ãh, Senhor! Ênvia por maã o daquele a quem tu haé s de enviar" (versíéculo 13). Êsta
exclamaçaã o equivalia, com efeito, recusar o privileé gio glorioso de ser o ué nico mensageiro do
Senhor ao Êgito e a Israel.
A Falsa Humildade
Todos noé s sabemos como a humildade que Deus promove eé uma graça inestimaé vel.
"Revesti-vos de humildade" eé umpreceitodivinoje a humildade eé , inconstestavelmente, o
adorno mais proé prio para um pecador. Poreé m se recusarmos tomar o lugar que Deus nos
designa ou seguir o caminho que a Sua maã o nos traça, naã o somos humildes.
No caso de Moiseé s eé evidente que naã o tinha verdadeira humildade, visto que a irado
Senhor se acendeu contra ele (versíéculo 14). Longe de ser humildade, o seu sentimento havia
ultrapassado os limites de simples fraqueza. Ênquanto se revestiu da apareê ncia excessiva de
timidez, embora repreensíével, a graça de Deus suportou-o e respon-deu-lhe com reiteradas
promessas; poreé m, logo que esse sentimento tomou caraé ter de incredulidade e lentidaã o de
coraçaã o, a justa ira do Senhor acendeu-se contra Moiseé s; e em lugar de ser ele o ué nico
instrumento na obra de testemunho e libertaçaã o de Israel, teve de repartir com outro este
honroso privileé gio.
Nada haé que sej a mais desonroso para Deus ou mais perigoso para noé s do que uma
humildade fingida. Quando, com o pretexto de naã o reunirmos certas virtudes e condiçoã es,
recusamos tomar o lugar que Deus nos daé , naã o mostramos humildade, visto que se
pudeé ssemos convencermo-nos de que possuíéamos essas virtudes e essas condiçoã es
imaginaríéamos que tíénhamos direito a esse lugar. Por exemplo, se Moiseé s possuíésse uma
medida de eloqueê ncia como ele julgava necessaé ria, temos motivos para crer que estaria pronto
a partir. Ora a questaã o eé de saber qual o grau de eloqueê ncia que ele necessitava para poder
cumprir a sua missaã o, enquanto que a resposta eé que sem Deus nenhum grau de eloqueê ncia
humana eé suficiente; ao passo que com Deus o mais simples gago pode ser um ministro
eficiente.
Êis aqui uma grande verdade praé tica. Ã incredulidade naã o eé humildade, mas orgulho.
Recusa crer em Deus porque naã o encontra no ego uma razaã o para crer. Êste eé o cué mulo da
presunçaã o. Se quando Deus fala me recuso a acreditar, com base nalguma coisa quehaé emmim,
façode Deus mentiroso (ljo5:10). Se quandoDeus declara o Seu amor, eu naã o me julgo digno
dele, faço de Deus mentiroso e manifesto o orgulho inerente de meu coraçaã o. O simples
pensamento de que posso merecer outra coisa que naã o seja o inferno, soé pode ser considerado
como a mais completa ignoraê ncia da minha condiçaã o perante Deus e do que Deus requer de
mim. Ênquanto que recusar o lugar que o amor redentor de Deus me indica, com base na
expiaçaã o efetuada por Cristo, eé fazer de Deus mentiroso e aviltar o sacrifíécio de Cristo na cruz.
O amor de Deus eé derramado espontaneamente; naã o eé atraíédo pelos meus meé ritos,
mas, sim, pela minha necessidade. Taã o-Pouco se trata do lugar que mereço, mas do lugar que
Cristo merece. Cristo tomou o lugar do pecador na cruz, para que o pecador pudesse tomar
lugar com Êle na gloé ria. Cristo tomou o lugar que o pecador merecia, para que o pecador
pudesse participar daquilo que Cristo merece. Deste modo, o ego eé completamente posto de
parte: esta eé a verdadeira humildade. Ningueé m pode ser verdadeiramente humilde antes de
ter chegado ao lado celestial da cruz; poreé m ali encontra vida divina, justiça
divinaeamisericoé rdiadeDeus. Êntaã oacaba para sempre o ego, quanto aà s pretensoã es de justiça
proé pria, e eé -se nutrido com a abundaê ncia de outrem. Êntaã o estaé -se preparado, moralmente,
para tomar parte no brado que haé de ressoar atraveé s da aboé bada incomensuraé vel dos ceé us por
todos os seé culos eternos, "Naã o a noé s, SÊNHOR, naã o a noé s, mas ao teu nome daé gloé ria" (SI 115:1).
Certamente nos ficaria mal se nos detiveé ssemos sobre os erros e fraquezas de um servo
taã o honrado como foi Moiseé s, de quem estaé escrito que foi "fiel em toda a sua casa, como
servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar" (Hb 3:5). Poreé m, se naã o nos
devemos deter sobre elas, num espíérito de proé pria satisfaçaã o, como se em circunstaê ncias
semelhantes noé s pudeé ssemos proceder de uma maneira diferente, devemos, sem dué vida,
aprender as santas liçoã es que elas teê m por fim ensinar-nos. Devemos aprender a julgarmo-nos
a noé s proé prios, e a pormos confiança implíécita em Deus—a pormos de lado o ego de modo que
Deus possa atuar em noé s, por nosso intermeé dio e por noé s. Êste eé o verdadeiro segredo do
poder.

Arão Falará por Ti


Vimos como Moiseé s perdeu o privileé gio de ser o ué nico instrumento de Deus na obra
gloriosa que ia ser realizada. Poreé m isto naã o eé tudo. "Êntaã o, se acendeu a ira do SÊNHOR, contra
Moiseé s, e disse: Naã o eé Ãraã o, o levita, teu irmaã o<? Êu sei que ele falaraé muito bem: e eis que ele
tambeé m sai ao teu encontro; e, vendo-te, se alegraraé em seu coraçaã o. Ê tu lhe falaraé s e poraé s as
palavras na sua boca; e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que
havereis de fazer. Ê ele falaraé por ti ao povo; e aconteceraé que ele te seraé por boca, e tu lhe
seraé s por Deus. Toma, pois, esta vara na tua maã o, com que faraé s os sinais" (versíéculos 14 a 17).
Êsta passagem eé um manancial de instruçoã es praé ticas muito preciosas. Vimos a timidez e
hesitaçaã o de Moiseé s, apesar das vaé rias promessas e todas as garantias que a graça divina lhe
dava. Ê, agora, embora nada tivesse ganho quanto ao poder verdadeiro, apesar de naã o haver
mais virtude ou eficaé cia numa boca do que na outra, e posto que Moiseé s, afinal, tivesse que poê r
as palavras na boca de Ãraã o, todavia veê mo-lo pronto a partir no proé prio momento em que
pode contar com a presença e cooperaçaã o de um mortal como ele; embora naã o tivesse
obedecido quando o Senhor lhe assegurou, repetidas vezes, que estaria com ele.
Prezado leitor, naã o seraé isto um espelho fiel no qual se refletem os nossos coraçoã es?
Sem dué vida que eé . Êstamos sempre prontos a confiar em qualquer coisa menos no Deus vivo.
Ãpoiados e protegidos por um mortal como noé s avançamos resolutamente; pelo contraé rio,
hesitamos, titubeamos e vacilamos quando soé temos a luz da presença do Mestre para nos
animar, e a força do Seu braço onipotente para nos suster. Isto deveria humilhar-nos
profundamente diante do Senhor, e levar-nos a uma maior familiaridade com Êle, de modo a
podermos confiar implicitamente n'Êle, e a avançarmos com passo firme, porque O temos
como o nosso único recurso e porçaã o.
Naã o restam dué vidas que a companhia de um irmaã o eé preciosa— "Melhor eé serem dois
do que um" (Êc 4:9)— quer seja no trabalho, no repouso ou no combate. O Senhor Jesus
enviou os Seus discíépulos "a dois a dois" (Mc 6:7), porque a uniaã o eé sempre melhor que o
isolamento; contudo, se a nossa familiaridade pessoal com Deus, e a nossa experieê ncia da Sua
presença, naã o nos proporcionarem, se for necessaé rio, andar sozinhos, a presença de um irmaã o
seraé de pouca utilidade. ÊÉ bom notar que Ãraã o, cuja companhia parece ter satisfeito Moiseé s, foi
quem mais tarde fez o bezerro de ouro (ÊÊ x 32:21). Vemos com frequeê ncia que a mesma pessoa
cuja companhia nos parecia necessaé ria para o nosso eê xito e progresso, vem a ser mais tarde
um motivo de grande desgosto para os nossos coraçoã es. Devemos relembrar isto sempre!

A Ordem na Casa do Servo, no Caminho, na Pousada


De qualquer maneira, Moiseé s consente por fim em obedecer; poreé m antes de estar
completamente preparado para a obra a quem fora chamado eé preciso que passe por outra
experieê ncia dolorosa; eé necessaé rio que Deus grave com Sua maã o a sentença de morte sobre a
sua carne. "Ãtraé s do deserto" ele havia aprendido importantes liçoã es; mas agora eé chamado
para aprender uma liçaã o ainda mais importante "no caminho, numa estalagem" (versíéculo 24).
Ser-se servo do senhor eé uma coisa muito seé ria, e a educaçaã o ordinaé ria naã o eé suficiente para
qualificar algueé m para essa posiçaã o. ÊÉ indispensaé vel que a natureza seja mortificada, e
mantida nessa posiçaã o de morte. "Mas jaé em noé s mesmos tíénhamos a sentença de morte, para
que naã o confiaé ssemos em noé s, mas em Deus, que ress*uscita os mortos" (2 Co 1:9).
Todo servo, para que seja bem sucedido no seu serviço, deve necessariamente saber o
que significa esta sentença de morte. Moiseé s teve de compenetrar-se dela, por experieê ncia
proé pria, antes de ser moralmente qualificado para a sua missaã o. Dispunha-se a fazer ouvir a
Faraoé esta solene mensagem:".. .Ãssim diz o Senhor: Israel eé meu filho, meu primogeé nito. Ê eu
te tenho dito: Deixa ir o meu filho, para que me sirva; mas tu recusaste deixaé -lo ir; eis que eu
matarei a teu filho, o teu primogeé nito" (versíéculos 22-23). Êsta era a mensagem que Moiseé s
devia levar a Faraoé — mensagem de juíézo e de morte; e, ao mesmo tempo, a sua mensagem
para Israel era de vida e salvaçaã o. Lembremos que aquele que haé de falar, da parte de Deus, de
morte e juíézo, de vida e salvaçaã o, tem de, antes de o fazer, realizar o poder praé tico destas
coisas na sua alma. Sucedeu assim com Moiseé s. No princíépio do livro veê mo-lo no lugar da
morte, figurativamente; contudo isto era uma coisa diferente de realizar pessoalmente a
experieê ncia da morte. Por isso lemos: "Ê aconteceu no caminho, numa estalagem, que o
SÊNHOR o encontrou, e o quis matar. Êntaã o, Zíépora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o
prepué cio de seu filho, e o lançou a seus peé s, e disse: Certamente me eé s um esposo sanguinaé rio.
Ê desviou-se dele. Êntaã o, ela disse: Êsposo sanguinaé rio, por causa da circuncisaã o" (versíéculos
24 a 26). Êsta passagem revela-nos um profundo segredo da histoé ria domeé stica e pessoal de
Moiseé s. ÊÉ evidente que, ateé este momento, o coraçaã o de Zíépora havia fugido aà ideia de
empregara faca aà quilo com que o af eto da natureza estava ligado: tinha evitado a marca que
devia ser impressa sobre a carne de todos os membros do Israel de Deus, ignorando que a sua
uniaã o com Moiseé s implicava necessariamente a morte da natureza; e ela vacilava ante a cruz.
Isto era natural. Poreé m Moiseé s havia cedido neste assunto; e isto explica a cena misteriosa na
"estalagem". Se Zíépora recusa circuncidar seu filho, o Senhor lançaraé maã o do seu marido; e se
Moiseé s cede aos pensamentos de sua esposa, o Senhor procuraraé mataé -lo (versíéculo 24). Ã
sentença de morte tem de ser escrita sobre a natureza; e se noé s procurarmos evitaé -la de um
modo, encontraé -la-emos de outra forma.

Zípora, Uma Figura da Igreja


Como jaé acentuamos, Zíépora representa um síémbolo interessante e instrutivo da Igreja.
Êla uniu-se a Moiseé s durante a eé poca da sua rejeiçaã o; e a passagem que acabamos de
reproduzir ensina-nos que a igreja eé chamada para conhecer Cristo, como Ãquele a Quem estaé
unida, "pelo sangue", sendo seu privileé gio beber o Seu caé lice e ser batizada com o Seu batismo.
Êstando crucificada com Êle, ela deve assemelar-se aà Sua morte, mortificar os seus membros
que estaã o sobre a terra, tomar a sua cruz cada dia e segui-Lo. Ã sua uniaã o com Cristo eé baseada
no sangue, e a manifestaçaã o do poder dessa uniaã o implica, necessariamente, a morte da
natureza. "Ê estais perfeitos nele, que eé a cabeça de todo principado e potestade; no qual
tambeé m estais circuncidados com a circuncisaã o naã o feita por maã o no despojo do corpo da
carne, a circuncisaã o de Cristo. Sepultados com Êle no batismo, nele tambeé m ressuscitastes
pela feé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos" (Cl 2:10 -12).
Tal eé a doutrina referente aà posiçaã o da Igreja com Cristo, doutrina cheia dos mais
gloriosos privileé gios para a Igreja e para cada um dos seus membros: perfeita remissaã o dos
pecados, justificaçaã o, completa aceitaçaã o, segurança eterna, comunhaã o perfeita com Cristo em
toda a Sua gloé ria. "Êstais perfeitos n'Êle". Isto, seguramente, diz tudo. Que se poderia
acrescentar aà quele que estaé "perfeito?-" Ã filosofia, as tradiçoã es dos homens, os rudimentos do
mundo, a comida ou a bebida, dias santos, a lua nova ou o saé bado*? "Naã o toques" nisto, "naã o
proves" aquilo, "naã o manuseeis", "os preceitos e doutrinas dos homens", dias e meses e
tempos e anos, poderia alguma ou todas estas coisas acrescentar um jota ou um til aà quele que
Deus declarou "perfeito"1?- Seria o mesmo se perguntaé ssemos se, depois dos seis dias de
trabalho empregados por Deus na obra da criaçaã o, não teria sido necessaé rio o homem dar uma
ué ltima demaã o naquilo que Deus havia declarado ser muito bom.
Nem taã o-pouco esta perfeiçaã o deve ser considerada, de modo nenhum, como um caso
de meé rito, alguma coisa a que devemos ainda chegar, e pela qual devemos lutar
diligentemente, e de cuja possessaã o naã o podemos ter a certeza ateé nos encontrarmos no leito
de morte, ou perante o trono do juíézo. Êste estado de perfeiçaã o eé a parte do mais fraco, do
mais inexperiente, do menos instruíédo filho de Deus. O mais fraco dos santos estaé incluíédo no
vocaé bulo apostoé lico: "voé s". Todos os filhos de Deus são "perfeitos em Cristo". O apoé stolo naã o
diz "sereis perfeitos" ou "podeis ser perfeitos", "podeis esperar serperfeitos", ou "oraipara que
sejais perfeitos": naã o, ele, por intermeé dio do Êspíérito Santo, declara da maneira mais absoluta,
"estais perfeitos". Êste eé o verdadeiro ponto de partida para o cristaã o, e se se toma como fim
aquilo que Deus assinalou como ponto de partida, eé transtornar tudo.
Mas pode peguntar-se: naã o temos pecado, nem defeitos, nem imperfeiçoã es 1?
Certamente que sim. "Se dissermos que naã o temos pecado, enganamo-nos a noé s mesmos, e
naã o haé verdade em noé s" (1 Jo 1:8). Temos pecadoem noé s, mas naã o sobre noé s. Demais, diante de
Deus naã o estamos no nosso eu, mas sim em Cristo. ÊÉ "n'Ele" que estamos "perfeitos". Deus veê o
crente em Cristo, com Cristo, e como Cristo. Êsta eé a sua condiçaã o imutaé vel e posiçaã o eterna.
"O despojo do corpo da carne" eé efetuado pela "circuncisaã o de Cristo" (Cl 2:11). O crente naã o
estaé na carne, posto que a carne esteja nele; acha-se unido a Cristo no poder de uma vida nova
e sem fim, e essa vida estaé inseparavelmente ligada aà justiça divina, na qual o crente estaé
perante
Deus. O Senhor Jesus tirou tudo que era contra o crente e trouxe-o para perto de Deus,
no mesmo favor que Êle Proé prio goza. Êm resumo: Cristo eé a sua justiça. Isto poã e fima todas as
questoã es, responde a todas as objeçoã es, e impoã e sileê ncio a todas as dué vidas. "Porque, assim o
que santifica, como os que saã o santificados, saã o todos de um" (Hb 2:11).
Êsta seé rie de verdades eé devida ao síémbolo profundamente interessante que nos eé
apresentado na uniaã o entre Moiseé s e Zíépora. Devemos agora terminar esta parte do livro e
sair, por um momento, de "detraé s do deserto", sem esquecermos as liçoã es profundas e as
santas impressoã es, taã o essenciais para todos os servos de Cristo e para todo o mensageiro do
Deus vivo, que ali aprendemos.
Todos os que quiserem servir eficientemente, quer seja na obra importante de
evangelizaçaã o, quer nos vaé rios ministeé rios da casa de Deus, que eé a Igreja, teraã o a necessidade
de receber as instruçoã es preciosas que Moiseé s recebeu ao peé do Monte Horebe e "no caminho
da estalagem".
Se se desse mais atençaã o aà s coisas que acabamos de meditar, naã o se veria tantos que
correm sem ser enviados, nem tantos lançarem-se num ministeé rio para o qual nunca foram
destinados. Que todo aquele que se levanta para pregar, ou exortar, ou servir de qualquer
forma, pondere, seriamente, se, na verdade, estaé preparado e se foi ensinado e enviado por
Deus. No caso negativo o seu trabalho naã o seraé reconhecido por Deus nem usado para beê nçaã o
dos homens, e quanto mais cedo desistir tanto melhor seraé para si proé prio e para aqueles a
quem tem procurado impor o pesado fardo de lhe prestarem atençaã o. Jamais um ministeé rio
humanamente ordenado, ou ordenado por vontade proé pria, seraé proé prio do recinto sagrado
da Igreja de Deus. Todo o servo de Deus deve ser dotado de Deus, ensinado porDeus e enviado
por Deus.

Arão vai ao Encontro de Moisés


"Disse tambeé m o SÊNHOR a Ãraã o: Vai ao encontro de Moiseé s, ao deserto. Ê ele foi,
encontrou-o no monte de Deus e o beijou. Ê anunciou Moiseé s a Ãraã o todas as palavras do
SÊNHOR, que o enviara, e todos os sinais que lhe mandara" (versíéculos 27 -28). Êsta formosa
cena de uniaã o e terno amor fraternal forma um flagrante contraste com outras que tiveram
lugar mais tarde na carreira destes dois homens atraveé s do deserto. Quarenta anos de vida no
deserto devem fazer certamente grandes alteraçoã es nos homens e nas coisas. Contudo, eé
agradaé vel prestar atençaã o aos primeiros dias de vida cristaã , antes das duras realidades da vida
do deserto terem impedido, de qualquer modo, o impulso de afeto amoroso: antes de o
engano, a corrupçaã o, e a hipocrisia terem praticamente destruíédo a confiança do coraçaã o
pondo o ente moral sob a fria influeê ncia de uma disposiçaã o duvidosa.
Que um tal resultado tem sido produzido, em muitos casos, atraveé s dos anos de
experieê ncia, eé , infelizmente, bem verdade. Feliz aquele que, posto que os seus olhos hajam sido
abertos para verem a natureza humana atraveé s de uma luz mais clara do que aquela que
omundodaé , sabe todavia servira suageraçaã o na energia daquela graça que emana do seio de
Deus. Quem conheceu jamais a profundidade e sinuosidade do coraçaã o humano como o
Senhor Jesus as conheceu"?- O Senhor Jesus "a todos conhecia; e naã o necessitava que algueé m
testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem" (Jo2.-24-25); conhecia os
homens taã o bem que naã o podia confiar neles; naã o podia dar creé dito ao que eles professavam,
ou sancionar as suas pretensoã es. Ê contudo, quem foi jamais taã o cheio de graça como Êle 1?-
Quem como Êle foi taã o amoroso, taã o terno, taã o compassivo e taã o condoíédo 1?- Quem tinha um
coraçaã o que compreendia todos i Êle podia sentir por todos. O perfeito conhecimento que
tinha da vileza humana naã o o levou a afastar-se das suas miseé rias. "Ãndou fazendo bem".
Porqueê ? Êra acaso porque imaginava que todos aqueles que se agrupavam em torno de Si
eram sinceros? Naã o; mas "porque Deus era com Êle" (Ãt 10:38). Êis o exemplo que devemos
imitar. Sigamo-lo, ainda que, f azendo-o, tenhamos que pisar o nosso eu e todos os seus
interesses, a cada passo da senda.
Quem desej araé possuir essa sabedoria, esse conhecimento da natureza humana, e essa
experieê ncia, que somente podem levar o homem a encerrar-se num cíérculo de coraçaã o duro de
egoíésmo e a olhar com desconfiança sinistra para todos 1?- Um tal resultado
nunca poderaé ser o efeito de uma natureza celestial ou excelente. Deus daé sabedoria,
mas naã o eé uma sabedoria que encerre o coraçaã o a todos os rogos de necessidade e infortué nio
humanos; daé -nos um certo conhecimento da natureza; poreé m naã o eé um conhecimento que nos
leve a agarrarmos com avidez egoíésta aà quilo que chamamos erradamente "nosso"; daé -nos
experieê ncia; mas naã o eé uma experieê ncia que nos leva a suspeitarmos de toda a gente, menos
de noé s proé prios. Se seguimos as pisadas do Senhor Jesus, se nos absorvermos do Seu excelente
espíérito, e por consequeê ncia o manifestarmos, se, em resumo, pudermos dizer: "para mim o
viver eé Cristo", entaã o, aà medida que andamos pelo mundo, com o conhecimento daquilo que o
mundo eé , e contactando com os homens, com o conhecimento daquilo que podemos esperar
deles, podemos pela graça manifestar Cristo no meio de tudo.
Os motivos que nos levam a atuar e os fins que temos em vista estaã o todos emcima,
onde estaé Ãquele que "eé o mesmoontem, e hoje e eternamente" (Hb 13:8). Foi isto que
fortaleceu o coraçaã o daquele amadoeveneradoservodeDeus,cujahistoé ria,pelomenos ateé aqui,
nos tem dado tantas profundas e soé lidas liçoã es, e o habilitou a vencer as vaé rias cenas penosas
da sua vida atraveé s do deserto. Ê noé s podemos afirmar, sem receio de nos equivocarmos, que
no fim de tudo, naã o obstante os quarenta anos de lutas e provaçoã es, Moiseé s poê de beijar outa
vez seu irmaã o, quando subiu ao Monte de Hor, com o mesmo afeto com que o fez quando o
encontrou no "Monte de Deus". Por certo, os dois encontros tiveram lugar em circunstaê ncias
bem diferentes. No "Monte de Deus", eles encontraram-se, abraçaram-se, e partiram em
cumprimento da sua missaã o divina. No "Monte de Hor" eles encontram-se por mandado do
Senhor (Nm 20:25) para que Moiseé s fizesse despir a seu irmaã o as vestes sacerdotais e o visse
morrer, em virtude de uma falta em que ele mesmo havia incorrido. Como tudo isto eé solene e
tocante! Ãs circunstaê ncias mudam: os homens separam-se uns dos outros; mas em Deus "naã o
haé mudança nem sombra de variaçaã o" (Tg 1:17).
"Êntaã o, foram Moiseé s e Ãraã o e ajuntaram todos os anciaã os dos filhos de Israel. Ê Ãraã o
falou todas as palavras que o SÊNHOR falara a Moiseé s e fez os sinais perante os olhos do povo"
(versíéculos 29 a 31). Quando Deus interveé m, necessariamente, cai todo o obstaé culo. Moiseé s
havia dito: "...eis que me naã o creraã o". Poreé m naã o era questaã o de saber se eles creriam nele ou
naã o, mas se creriam em Deus. Quando um homem pode considerar-se simplesmente como
enviado de Deus, pode estar completamente tranquilo quanto aà aceitaçaã o da sua mensagem, e
esta perfeita tranquilidade naã o o desvia, de nenhum modo, da sua terna e afetuosa solicitude
para com aqueles a quem se dirige. Pelo contraé rio, guarda-o daquela ansiedade desordenada
de espíérito que apenas pode contribuir para o impedir de dar um testemunho firme, elevado e
perseverante.
O servo de Deus deve recordar-se sempre que a mensagem que leva eé a mensagem de
Deus. Quando Zacarias disse ao anjo, "Como saberei isto?-" Ãcaso se sentiu perturbado este
ué ltimo com essa perguntai Certamente que naã o. Ã sua resposta calma, nobre, foi esta: "Êu sou
Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas" (Lucas
1:18-19). Ãs dué vidas do mortal naã o perturbam o sentimento de dignidade que o anjo tem da
sua mensagem. ÊÉ como se dissesse: "Como podes tu duvidar, quando do trono da Majestade
nos ceé us um mensageiro te foi enviado?" Ãssim deveria ir todo o mensageiro de Deus, e
entregar a sua mensagem neste espíérito.

— CÃPIÉTULOS 5 e 6 —

ISRAEL OPRIMIDO
E OS RECURSOS DIVINOS
A Escravidão
O resultado da primeira visita a Faraoé parece ter sido bem pouco animador. O
pensamento de perder os israelitas levou-o a trataé -los com maior crueldade e a sujeitaé -los a
redobrada vigilaê ncia. Sempre que o poder de Satanaé s eé restringido a um ponto o seu furor
aumenta. Ãssim aconteceu neste caso. Ã fornalha ia ser apagada pela maã o do amor libertador;
poreé m, antes de o ser, ela arde com mais intensidade e ferocidade. O diabo naã o gosta de soltar
nenhum daqueles que tem tido debaixo da sua garra terríével. Êle eé "o valente", e quando
"guarda, armado, a sua casa, em segurança estaé tudo quanto tem" (Lc 11:21). Poreé m, bendito
seja Deus, haé "outro mais valente do que ele", que lhe tirou "a sua armadura em que confiava",
e repartiu os seus despoj os pelos objetos favorecidos do Seu amor eterno.
"Ê depois, foram Moiseé s e Ãaraã o e disseram a Faraoé : Ãssim diz o SÊNHOR, Deus de Israel:
Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto" (capíétulo 5:1). Tal era a
mensagem do Senhor a Faraoé . Deus reivindicava inteira libertaçaã o para o povo, sob o
fundamento de ser o Seu povo e a fim de que pudessem celebrar-Lhe uma festa no deserto.
Nada pode jamais satisfazer Deus acerca dos Seus eleitos senaã o a sua inteira libertaçaã o do
jugo da servidaã o. "Desligai-o e deixa-o ir", eé , realmente, o grande lema dos desíégnios de Deus
acerca daqueles que, embora retidos em servidaã o por Satanaé s, saã o, todavia, os herdeiros da
Sua vida eterna.
Quando contemplamos os filhos de Israel no meio dos fornos de tijolo do Êgito, temos
perante noé s uma figura exata da condiçaã o de todo o filho de Ãdaã o segundo a carne. Êi-los ali,
esmagados sob o jugo mortíéfero do inimigo, sem poder para se libertarem. Ã simples mençaã o
da palavra liberdade naã o fez mais que aumentar o rigor do opressor para reforçar as cadeias
dos seus cativos e carregaé -los com um fardo ainda mais opressivo. Êra, pois, absolutamente
necessaé rio que a salvaçaã o viesse de fora. Mas de onde havia de vir?- Onde estavam os recursos
para pagar o seu resgate 1?- Ou onde estava a força para quebrar as cadeias 1? Ê, admitindo que
ambas as coisas existiam, onde estava a vontade para o conseguira Quem estaria disposto a
libertaé -los?- Ãh! Naã o havia esperança nem de dentro nem de fora. Ãpenas podiam olhar para
cima. O seu refué gio era Deus: Êle tinha tanto o poder como o querer; e podia efetuar a
redençaã o por poder e por preço. No Senhor, e somente n'Êle estava a salvaçaã o do povo de
Israel oprimido e arruinado.
ÊÉ sempre assim em todos os casos. "Ê em nenhum outro haé salvaçaã o, porque certo sim!
debaixo do ceé u nenhum outro nome haé , dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos"
(Ãt 4:12). O pecador estaé debaixo do poder daquele que o domina com um poder despoé tico.
Êstaé "vendido sob o pecado" (Rm 7:14); estaé preso aà vontade do diabo (2 Tm 2:26) — preso
com as cadeias da concupisceê ncia, da ira e da coé lera, fraco (Rm 5:6), "sem esperança e
semDeus" (Êf 2:12). Tale a condiçaã o do pecador. Comopoderia,pois,libertar-se <? Que poderia
fazer?- Sendo escravo de outrem tudo que faz, f aé -lo na qualidade de escravo. Os seus
pensamentos, as suas palavras, os seus atos saã o os pensamentos, as palavras e os atos de um
escravo. Sim, ainda mesmo quando chora e suspira por liberdade, as suas proé prias laé grimas e
suspiros saã o provas melancoé licas da sua escravatura. Pode lutar por liberdade; mas a sua
proé pria luta, embora evidencie um desejo de liberdade, eé a declaraçaã o positiva da sua
escravatura.

A Velha Natureza
Taã o-pouco se trata de uma questaã o áacondição do pecador: a sua proé pria natureza estaé
radicalmente corrompida—inteiramente debaixo do poder de Satanaé s. Por isso, naã o soé
necessita de ser introduzido numa nova posiçaã o, mas tambeé m de ser dotado de uma nova
natureza. Ã natureza e a condiçaã o andam sempre unidas. Se fosse possíével o pecador melhorar
a sua condiçaã o, de que lhe serviria isso enquanto a sua natureza continuasse a ser
irremediavelmente maé ? Um nobre poderia recolher e adoptar um mendigo e outorgar-Ihe a
fortuna e a posiçaã o de nobre, mas nunca poderia transmitir-lhe nobreza; e assima natureza do
mendigo nunca poderia achar satisfaçaã o ocupando a posiçaã o de um nobre. ÊÉ necessaé rio
possuir-se uma natureza que corresponda aà posiçaã o, e uma posiçaã o que corresponda aos
desejos, aos afetos, e aà s tendeê ncias dessa natureza.
Por isso, o evangelho da graça de Deus ensina-nos que o crente eé introduzido numa
posiçaã o inteiramente nova e que jaé naã o eé considerado como estando no seu anterior estado de
culpa e condenaçaã o, mais sim num estado de eterna e perfeita justificaçaã o. Ã condiçaã o em que
Deus o veê agora naã o eé apenas de pleno perdaã o, mas um estado de perfeiçaã o tal que a santidade
infinita naã o pode achar nele tanto como uma simples noé doa de pecado. Foi tirado da sua
condiçaã o de culpa e colocado para sempre numa nova condiçaã o de justiça imaculada. Naã o eé
que, de modo nenhum, a sua antiga condiçaã o haja sido melhorada. Isto seria inteiramente
impossíével, "Ãquilo que eé torto naã o se pode endireitar" (Êc 1:15). "Pode o etíéope mudar a sua
pele, ou o leopardo as suas manchas 1?-" (Jr 13:23). Nada haé mais oposto aà verdade
fundamental do evangelho que a teoria do melhoramento gradual da condiçaã o do pecador. O
pecador eé nascido numa maé condiçaã o, e enquanto naã o "nascer de novo" naã o pode estar em
qualquer outra. Poderaé procurar melhorar-se. Pode tomar a resoluçaã o de ser melhor no futuro
— de "voltar uma nova paé gina" da sua existeê ncia —, de alterar o seu modo de vida; poreé m,
com tudo isto naã o consegue sair de sua condiçaã o de pecador. Poderaé fazer-se religioso, como
se ousa dizer, poderaé tentar orar, poderaé observar diligentemente as ordenaçoã es, e revestir as
apareê ncias de uma reforma moral; contudo nenhuma destas coisas poderaé , no míénimo, alterar
a sua posiçaã o perante Deus.
A Nova Natureza
à questaã o eé semelhante aà questaã o da natureza. Como poderaé o homem alterar a sua
natureza? Poderaé submeteê -la a uma seé rie de operaçoã es, poderaé dominaé -la e disciplinaé -la;
poreé m continuaraé a ser natureza. "Ãquele que eé nascido da carne eé carne" (Jo 3:6). Ê neces -
saé rio que haja uma nova natureza, assim como uma nova disposiçaã o. Mas como poderaé o
pecador adquiri-las? - Crendo o testemunho que Deus de Seu Filho deu. "Ã todos quantos o
receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome" (Jo
1:12). Ãqui aprendemos, que todos os que creê em no nome do unigeé nito Filho de Deus, teê m o
direito ou o privileé gio de serem feitos filhos de Deus. Saã o feitos participantes de uma nova
natureza e teê m a vida eterna. "Ãquele que creê no Filho tem a vida eterna" (Jo 3:36). "Na
verdade, na verdade vos digo que, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou
tem a vida eterna, e naã o entraraé em condenaçaã o, mas passou da morte para a vida" (Jo 5:24).
"Ê a vida eterna eé esta: que te conheçam a ti soé por ué nico Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a
quem enviaste" (Jo 17:3). "Ê o testemunho eé este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
estaé em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida"(1 Jo5:11,12).

O Fundamento da Justificação
Tal eé a doutrina das Sagradas Êscrituras quanto aà questaã o importante da condiçaã o da
natureza. Poreé m, como eé que o crente eé feito participante da natureza divina?- Êssa mudança
admiraé vel depende inteiramente da grande verdade que "JÊSUS MORRÊU Ê RÊSSUSCITOU" (1
Ts 4:14). Êste bendito Senhor deixou o seio do amor eterno, o trono da gloé ria, as mansoã es de
luz imarcescíével, veio a este mundo de dores e pecado, tomou sobre Si a forma da carne do
pecado, e, depois de haver manifestado e glorificado perfeitamente Deus em todos os atos da
Sua vida bendita no mundo, morreu na cruz sob peso de todas as transgressoã es do Seu povo. Ê
deste modo satisfez tudo que era ou podia ser contra noé s. Êle engradeceu e honrou a lei (Is
42:21); e, fazendo-o, tornou-Se maldiçaã o sendo pendurado no madeiro. Todos os direitos
divinos foram satisfeitos, todos os inimigos reduzidos ao sileê ncio e os obstaé culos foram todos
derribados. "Ã misericoé rdia e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram" (SL
85:10). Ã justiça divina foi satisfeita, e o amor infinito pode derramar-se, com todas as
virtudes mitigantes e refrigerantes, no coraçaã o quebrantado do pecador; enquanto que, ao
mesmo tempo, o caudal purificador e expiador, que brotou do lado ferido do Cristo
crucificado, satisfaz perfeitamente todos os desejos ardentes da conscieê ncia culpada e
convencida de pecado. O Senhor Jesus tomou o nosso lugar na cruz: foi o nosso substituto. Êle
morreu, "o justo pelos injustos" (IPe 3:18); foi feito "pecado por noé s" (2Co5:21); morreu em
lugar do pecador; foi sepultado e ressuscitou, havendo cumprido tudo. Por isso nada haé
absolutamente contra o crente: ele estaé unido a Cristo e encontra-se na mesma condiçaã o de
justiça "porque, qual eleeé , somos noé s tambeé m neste mundo" (1 Jo4:17).
Êis aqui o que daé paz inabalaé vel aà conscieê ncia. Seja naã o estamos numa condiçaã o de
culpa, mas de justificaçaã o; se Deus nos veê em Cristo e como a Cristo, entaã o a nossa parte eé uma
paz perfeita. "Sendo, pois, justificados pela feé , temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo" (Rm5:l).
O sangue do Cordeiro cancelou toda a culpa do crente, riscou o seu grande deé bito e
deu-lhe uma folha perfeitamente em branco, na presença daquela santidade que naã o pode ver
o mal (He 1:13).
Poreé m, o crente naã o soé achou paz com Deus, como foi feito filho de Deus; e como tal
pode gozar a doçura da comunhaã o com o Pai e o Filho, no poder do Êspíérito Santo.

O Crente é Filho de Deus


à cruz deve ser encarada debaixo de dois modos diferentes: em primeiro lugar, satisfaz
os direitos de Deus; e em segundo lugar eé a expressaã o do amor de Deus. Se considerarmos os
nossos pecados emligaçaã o com os direitos de Deus como Juiz, acharemos na cruz a plena
liquidaçaã o desses direitos. Deus, como Juiz, ficou satisfeito e glorificado na cruz. Poreé m haé
mais do que isto. Deus tem afetos bem como direitos; e na cruz do Senhor Jesus Cristo todos
esses afetos saã o, de um modo tocante e agradaé vel, anunciados aos ouvidos do pecador;
enquanto que ao mesmo tempo, ele eé feito participante de uma nova natureza, a qual eé capaz
de gozar esses afetos e de ter comunhaã o com o coraçaã o donde eles emanam. "Porque tambeé m
Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1
Pe 3:18). Desta forma naã o somente somos introduzidos numa nova condição, como trazidos a
uma Pessoa, o Proé prio Deu" e somos dotados de uma natureza que pode achar as suas delíécias
n'Êle. "Ê naã o somente isto, mas tambeé m nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo qual agora alcançamos a reconciliaçaã o" (Rm 5:11).

A Festa para o SENHOR


Que formosura e que força encontramos nestas palavras de liberdade: "Deixa ir o meu
povo, para que me celebre uma festa no deserto!" "O Êspíérito do Senhor eé sobre mim, pois que
me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coraçaã o, a
apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos; a poê r em liberdade os oprimidos" (Lc
4:18,19). Ãs boas novas do evangelho anunciam liberdade de todo o jugo de servidaã o. Paz e
liberdade saã o os dons que o evangelho outorga a todos aqueles que nele creê em tal qual Deus o
tem declarado.
Ê note-se, "para que me celebrem uma festa". Se deviam deixar de servir a Faraoé , era
para entrarem ao serviço de Deus. Êra uma grande mudança. Êm vez de trabalho penoso sob a
direçaã o dos oficiais de Faraoé , eles iam fazer festa na companhia do Senhor; e, embora tivessem
de deixar o Êgito e entrar no deserto, contudo a presença divina acompanhaé -los-ia; e se o
deserto era escabroso e fatigante, era o caminho que conduzia a Canaaã . O propoé sito de Deus
era que Israel celebrasse uma festa ao Senhor no deserto, e para isto era preciso que Faraoé
deixasse ir o povo de Deus.

Faraó e os Grandes deste Mundo


Poreé m, Faraoé naã o estava de modo nenhum disposto a obedecer a esta ordem divina.
"Quem eé o SÊNHOR", disse ele, "cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel £ Naã o conheço o
SÊNHOR, nem tampouco deixarei ir Israel" (capíétulo 5:2). Porestas palavras, Faraoé revelaa sua
verdadeira condiçaã o moral e esta era de ignoraê ncia e consequentemente de desobedieê ncia. Ãs
duas coisas andam juntas. Se Deus naã o eé conhecido, naã o pode se obedecido; porque a
obedieê ncia eé sempre baseada sobre o conhecimento. Quando a alma eé abençoada com o
conhecimento de Deus, descobre que este conhecimento eé vida (Jo 17:3), e vida eé poder; e
quando se tem poder pode-se agir. ÊÉ oé bvio que naã o se pode agir sem vida; e portanto eé uma
grande falta de inteligeê ncia pretender-se que algueé m faça certas coisas com o fim de obter
aquilo mediante o qual se pode fazer alguma coisa.
Ãleé m disso, Faraoé desconhecia-se tanto a si como desconhecia o Senhor. Êle ignorava
que era um pobre verme da terra, e que havia sido levantado com o objetivo claro de tornar
conhecida a gloé ria d'Ãquele a quem disse naã o conhecer (ÊÊ x 9.16; Rm 9.17). "Ê eles disseram: O
Deus dos hebreus nos encontrou; portanto deixa-nos agora ir caminho de treê s dias ao deserto,
para que ofereçamos sacrifíécios ao SÊNHOR e ele naã o venha sobre noé s com pestileê ncia ou com
espada. Êntaã o, disse-lhes o rei do Êgito: Moiseé s e Ãraã o, por que fazeis cessar o povo das suas
obras? Ide a vossas cargas... Ãgrave-se o serviço sobre estes homens, para que se ocupem nele,
e naã o confiem em palavras de mentira" (versíéculos 3 a 9).
Que desenrolar encontramos aqui dos secretos recursos do coraçaã o humano! Que falta
de competeê ncia para entrar nas coisas de Deus! Todos os tíétulos divinos e as revelaçoã es
divinas eram, segundo o parecer de Faraoé , "palavras de mentira". Que sabia ele ou que lhe
importava o "caminho de treê s dias" no deserto ou a festa ao Senhora Como poderia
compreender a necessidade de uma tal viagem ou a natureza ou o fim de uma tal festaã o Êra
impossíével. Faraoé podia compreender o que significava agravar a servidaã o e fazer tijolos; estas
coisas tinham para ele um certo sentido de realidade; poreé m quanto a Deus, ao Seu serviço ou
ao Seu culto, soé podia veê -lo aà luz de uma fué til quimera, inventada por aqueles que buscavam
uma desculpa para evitar as duras realidades da vida.
Ãssim tem acontecido, com frequeê ncia, com os saé bios e grandes deste mundo. Êles teê m
sido os primeiros a classificar de vaidade e loucura os testemunhos divinos. Êscutai, por
exemplo, a opiniaã o que o "nobre Festo" formou sobre a grande questaã o debatida entre Paulo e
os Judeus: "Tinham, poreé m, contra ele algumas questoã es acerca da sua superstiçaã o e de um tal
Jesus, defunto, que Paulo afirmava viver" (Ãt 25:19). Ênfim! Como conhecia taã o pouco o que
dizia! Quaã o pouco compreendia da importaê ncia de saber se Jesus estava morto ou vivo! Naã o
pensou na relaçaã o que esta importante questaã o tinha sobre si e os seus amigos, Ãgripa e
Berenice; poreé m esta ignoraê ncia naã o alterou em nada o assunto; ele e eles sabem agora
alguma coisa mais sobre ele, apesar de nos dias passageiros da sua gloé ria terrestre o terem
considerado apenas como uma questaã o supersticiosa, improé pria da atençaã o de homens
sensatos, e somente proé pria para ocupar a mente desequilibrada de visionaé rios e entusiastas.
Sim, a questaã o importante que decide o destino de todo o filho de Ãdaã o, a questaã o sobre a qual
eé baseada a condiçaã o presente e eterna da Igreja e do mundo, e que es taé ligada a todos os
desíégnios divinos, era, segundo o juíézo de Festo, uma vaã superstiçaã o.
O mesmo aconteceu no caso de Faraoé . Êle nada sabia do Senhor "Deus dos hebreus", o
grande "ÊU SOU", e por isso considerava tudo que Moiseé s e Ãraã o lhe haviam dito acerca de
sacrificar a Deus como "palavras de mentira". Ãs coisas de Deus devem parecer sempre para o
espíérito profano do homem como vaã s, inué teis e desprovidas de sentido. O nome de Deus pode
ser usado como parte da fraseologia petulante de uma religiaã o fria e formal; poreé m Êle
Proé prio naã o eé conhecido. O Seu nome precioso, o qual encerra para o coraçaã o do crente tudo
aquilo que ele pode, possivelmente, desejar ou necessitar, naã o tem para o increé dulo nenhuma
significaçaã o, nem poder, nem virtude. Portanto, tudo que se relaciona com Deus, as Suas
palavras, os Seus desíégnios, os Seus pensamentos, os Seus caminhos, tudo, em suma, que trata
d'Êle, eé considerado como "palavras de mentira".
Mas o tempo aproxima-se rapidamente em que naã o seraé assim. O tribunal de Cristo, os
terrores do mundo vindouro, e as vagas do lago de fogo, naã o seraã o "palavras de mentira".
Seguramente que naã o; e todos aqueles que, pela graça creê em que estas coisas saã o realidades,
devem esf orçar-se por as impor aà conscieê ncia daqueles que, como Faraoé , consideram a
fabricaçaã o de tijolos como a ué nica em que vale a pena pensar — a ué nica coisa que pode ser
chamada verdadeira e soé lida.
Ãh! Quaã o frequentemente ateé os proé prios cristaã os vivem na regiaã o das coisas visíéveis,
na regiaã o do mundo e da carne, de tal maneira que perdem o sentido profundo, imutaé vel e
poderoso da realidade das coisas divinas e celestiais! Temos necessidade de viver mais
continuamente na regiaã o da feé , a regiaã o do ceé u, e na regiaã o da "nova criaçaã o". Êntaã o veremos
as coisas como Deus as veê , pensaremos a respeito delas como Êle pensa, e toda a nossa vida
seraé mais elevada, mais desinteressada, inteiramente separada do mundo e das coisas
terrenas.

Moisés Desanimado
Contudo, a prova mais dolorosa para Moiseé s naã o foi motivada pelo juíézo que Faraoé fez
da sua missaã o. O servo fiel e consagrado de Cristo deve esperar sempre ser considerado pelos
homens deste mundo como um simples entusiasta visionaé rio. O ponto de vista donde o
contemplam eé tal que naã o nos permite esperar deles outra coisa. Quanto mais fiel for o servo
ao seu Mestre divino, quanto mais seguir as Suas pisadas, quanto mais conforme for aà Sua
imagem, tanto mais, possivelmente, seraé considerado, pelos filhos deste mundo, como um que
"estaé fora de si". Portanto, este juíézo nem deve surpreendeê -lo nem desanimaé -lo. Poreé m eé uma
coisa infinitamente mais penosa para ele quando o seu serviço e o seu testemunho saã o mal
interpretados, desprezados ou rejeitados por aqueles que saã o os proé prios objetos deste
serviço e testemunho. Quando isto acontece ele tem muita necessidade de estar comDeus, no
segredo dos Seus pensamentos, no poder da comunhaã o, para ter o seu espíérito fortalecido na
realidade imutaé vel da sua carreira e serviço. Êm circunstaê ncias taã o difíéceis, se naã o se estaé
plenamente persuadido da missaã o divina, e consciente da presença divina, a queda seraé quase
certa.
Se Moiseé s naã o tivesse sido amparado assim, o seu coraçaã o teria fraquejado
inteiramente quando o agravamento da opressaã o do poder de Faraoé arrancou aos oficiais dos
filhos de Israel palavras de desalento e desaê nimo como estas: "O SÊNHOR atente sobre voé s e
julgue isso, porquanto fizestes o nosso cheiro repelente diante de Faraoé e diante de seus
servos, dando-lhes a espada nas maã os para nos matar" (versíéculo 21). Isto era muito triste; e
Moiseé s assim o sentiu, pois que "tornou ao SÊNHOR e disse: Senhor! Por que fizeste mal a este
povo£ Por que me enviaste? Por que desde que entrei a Faraoé para falar em teu nome, ele
maltratou a este povo; e, de nenhuma maneira livraste o teu povo" (versíéculos 22 a 23). No
proé prio momento em que a libertaçaã o parecia estar perto, as coisas tomaram um aspecto
muito desanimador; assim como acontece com a natureza, em que a hora mais escura da noite
eé com frequeê ncia aquela que precede imediatamente o amanhecer. Ãssim seraé certamente nos
ué ltimos dias da histoé ria de Israel: a hora da mais profunda obscuridade e da mais espantosa
angué stia, precederaé a apariçaã o repentina do "Sol da Justiça" (Mt 4:1:2), emergindo detraé s das
nuvens, e trazendo salvaçaã o debaixo das suas asas para curar eternamente a filha do Seu povo
(Jr6:14; 8:11).

A Resposta do SENHOR
Pode muito bem perguntar-se ateé que ponto o "porquê " de Moiseé s foi ditado por uma
verdadeira feé ou uma vontade mortificada. Contudo, o Senhor naã o repreende Moiseé s por esta
objeçaã o motivada pela grandeza da afliçaã o do momento. "Ãgora veraé s o que hei de fazer a
Faraoé ; porque, por maã o poderosa, os deixaraé ir, sim, por maã o poderosa os lançaraé de sua terra"
(capíétulo 6:1), foi a Sua bondosa resposta.
Êsta resposta estaé cheia de graça peculiar. Êm vez de censurar a insoleê ncia daquele que
se atreve a duvidar dos caminhos inexcrutaé veis do grande ÊU SOU, o misericordioso Senhor
procura aliviar o espíérito cansado do Seu servo mostrando-lhe o que em breve ia fazer. Êsta
maneira de agir eé digna de Deus, de quem desce toda a boa daé diva e todo o dom perfeito (Tg
1:5, 17), "Pois ele conhece a nossa estrutura;lembra-se de que somos poé " (SI 103:14).
Nem tampouco eé soé em Seus atos, mas, sim, em Si Mesmo, em Seu proé prio nome e
caraé ter, que Êle quer fazer conhecer ao coraçaã o o seu alíévio: eé nisso que estaé a bem-
aventurança plena, divina, e eterna. Quando o coraçaã o pode encontrar em Deus o seu alíévio,
quando pode refugiar-se no lugar seguro que lhe oferece o Seu nome, quando pode achar no
Seu caraé ter a resposta a todas as suas necessidades, entaã o estaé verdadeiramente muito acima
da regiaã o da criatura —pode abandonar as promessas tentadoras do mundo eé considerar as
pretensoã es altivas do homem pelo seu j usto valor. O coraçaã o dotado com o conhecimento
praé tico de Deus naã o soé pode olhar para o mundo e dizer "tudo eé vaidade", mas pode tambeé m
poros seus olhos emDeus e dizer; "todas as minhas fontes estaã o em ti" (Sl 87:7).

O Nome do SENHOR
"Falou mais Deus a Moiseé s e disse: Êu sou o SÊNHOR. Ê eu apareci a Ãbraaã o, a Isaque, e a
Jacoé , como o Deus Todo-poderoso; mas pelo meu nome, o SÊNHOR, naã o lhes fui perfeitamente
conhecido. Ê tambeé m estabeleci o meu concerto com eles, para dar-lhes a terra de Canaaã , a
terra de suas peregrinaçoã es, na qual foram peregrinos. Ê tambeé m tenho ouvido o gemido dos
filhos de Israel, aos quais os egíépcios escravizam, e me lembrei do meu concerto" (versíéculos 2
a 5). "O SÊNHOR" eé o tíétulo que Deus toma como Libertador do Seu povo, em virtude da Sua
aliança de pura e soberana graça. Êle revela-se a Si como a grande Origem natural do amor
redentor, estabelecendo os Seus conselhos, cumprindo as Suas promessas, e libertando o Seu
povo eleito de todo o inimigo e de todo o mal. Êra privileé gio de Israel permanecer para sempre
sob a salvaguarda desse tíétulo significativo, o qual nos revela Deus atuando para Sua proé pria
gloé ria, e levantando o Seu povo oprimido a fim de mostrar nele essa gloé ria.
"Portanto, dize aos filhos de Israel: Êu sou o SÊNHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas
dos egíépcios, vos livrarei da sua servidaã o e vos resgatarei com braço estendido e com juíézos
grandes. Ê eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SÊNHOR,
VOSSO Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egíépcios; e eu vos levarei aà terra, acerca da
qual levantei minha maã o, que a daria a Ãbraaã o, e a Isaque, e a Jacoé , e vo-la darei por herança,
eu o SÊNHOR" (versíéculos 6 a 8). Tudo isto proclama a graça mais pura, mais livre, mais rica. O
Senhor apresenta-Se ao coraçaã o do Seu povo como Ãquele que ia operar por eles, neles, e com
eles para manifestaçaã o da Sua gloé ria. Por muito desamparados e arruinados que estivessem,
Êle havia descido para fazer ver a Sua gloé ria e manifestar a Sua graça e mostrar um exemplo
do Seu poder na sua plena salvaçaã o. Ã sua gloé ria e a salvaçaã o do Seu povo estavam
inseparavelmente unidas. Mais tarde todas estas coisas haviam de lhes ser recordadas, como
lemos no Livro de Deuteronoê mio, capíétulo 7:7-8, "O SÊNHOR naã o tomou prazer em voé s, nem vos
escolheu, porque a vossa multidaã o era mais do que a de todos os outros povos, pois voé s eé reis
menos em nué mero do que todos os povos: mas porque o SÊNHOR VOS amava; e, para guardar o j
uramen-to que jurara a vossos pais, o SÊNHOR vos tirou com maã o forte e vos resgatou da casa
da servidaã o, da maã o de Faraoé , rei do Êgito".
Nada haé mais proé prio para estabelecer e firmar o coraçaã o tremente e duvidoso do que
o conhecimento de que Deus nos tomou tais quais somos, que conhece perfeitamente o que
somos; e que, aleé m disso, nunca poderaé descobrir em noé s alguma coisa que possa alterar o
caraé ter e a medida do Seu amor: "...como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-
os ateé ao fim" (Jo 13:1). Aquele que Êle ama, ama-o ateé ao fim. Êsta verdade eé motivo de gozo
inexplicaé vel. Deus sabia tudo a nosso respeito—conhecia o pior que havia em noé s, quando
manifestou o Seu amor para conosco no dom de Seu Filho. Sabia o que necessitaé vamos, e fez
ampla provisaã o para tudo isso. Sabia qual era o deé bito, e pagou-o. Sabia o que havia por fazer,
e fez tudo. Ãs Suas proé prias exigeê ncias tinham de ser cumpridas, e cumpriu-as. ÊÉ tudo obra
Sua. Por isso, veê mo-Lo dizer a Israel, Êu "...vos tirarei...", "vos livrarei", "vos tomarei por meu
povo", "vos levarei aà terra..", "Êu sou o Senhor". Isto era o que Ele queria fazer com base
naquilo que Ele era. Ênquanto esta grande verdade naã o for inteiramente compreendida e naã o
for recebida pela alma no poder do Êspíérito Santo, naã o pode haver uma paz soé lida. Naã o se
pode ter o coraçaã o feliz nem a conscieê ncia tranquila antes de se saber e crer que todos os
direitos divinos jaé foram divinamente satisfeitos.

Os Nomes dos que Pertencem ao SENHOR


Os restantes versíéculos deste capíétulo tratam do relato dos "chefes das casas dos pais"
em Israel; eé um registro muito interessante, visto que nos mostra como o Senhor desce para
numerar aqueles que Lhe pertencem, embora estejam ainda debaixo do poder do inimigo.
Israel era o povo de Deus, e aqui Êle conta aqueles sobre os quais tinha o direito de soberania.
Que graça admiraé vel! Êncontrar um objeto de interesse naqueles que se encontravam no meio
de toda a degradaçaã o da servidaã o do Êgito! Êra graça digna de Deus. Ãquele que criou os
mundos e era rodeado por hostes de anjos, sempre prontos a executar "a sua vontade" (SI
103:21), desceu ao mundo com o propoé sito de adotar alguns escravos com cujo nome quis
ligar o Seu para sempre. Desceu ateé junto dos fornos de tijolos do Êgito e ali viu um povo que
gemia debaixo do chicote do opressor; e, entaã o, proferiu estas palavras memoraé veis: "Deixa ir
o meu povo"; e, havendo assim falado, procedeu aà sua contagem, como se quisesse dizer:
"Êstes saã o Meus; vou ver quantos tenho, para que nenhum seja deixado para traé s". "Levanta o
pobre do poé ... para o fazer assentar entre os príéncipes, para o fazer herdar o trono de gloé ria" (1
Sm 2:8).

— CÃPIÉTULOS 7 a 11 —

"DEIXA IR O MEU POVO


Êstes cinco capíétulos formam uma parte distinta, cujo conteué do pode ser dividido em
treê s pontos, a saber: os Dez Juíézos do SÊNHOR, a resisteê ncia de "Janes e Jambres" e as quatro
objeçoã es de Faraoé .

Os Dez Juízos
Toda a terra do Êgito tremeu debaixo dos golpes sucessivos da vara de Deus. Todos,
desde o monarca sentado no seu trono aà criada moendo no moinho, tiveram de sentir o peso
terríével dessa vara. "Ênviou Moiseé s, seu servo, e Ãraã o, a quem escolhera. Fizeram entre eles os
seus sinais e prodíégios, na terra de Cam. Mandou aà s trevas que a escurecessem; e elas naã o
foram rebeldes aà sua palavra. Converteu as suas aé guas em sangue, e assim fez morrer os
peixes. Ã sua terra produziu raã s em abundaê ncia, ateé nas caê maras dos seus reis. Falou ele, e
vieram enxames de moscas e piolhos em todo o seu territoé rio. Converteu as suas chuvas em
saraiva e fogo abrasador, na sua terra. Feriu as suas vinhas e os seus f igueirais e quebrou as
aé rvores dos seus termos. Falou ele, e vieram gafanhotos e pulgaã o em quantidade inumeraé vel, e
comeram toda a erva da sua terra e devoraram o fruto dos seus campos. Feriu tambeé m a todos
os primogeé nitos da sua terra, as primíécias de todas as suas forças" (SI 105:26 -36).
Ãqui, o Salmista daé -nos uma ideia resumida desses terríéveis castigos que por dureza do
seu coraçaã o Faraoé trouxe sobre a sua terra e o seu povo. Êste soberbo monarca havia
empreendido a tarefa de resistir aà vontade soberana e ao caminho do Deus Ãltíéssimo; e, como
consequeê ncia justa desta atitude, foi entregue aà cegueira judicial e dureza de coraçaã o. "Poreé m
o SÊNHOR endureceu o coraçaã o de Faraoé , e naã o os ouviu, como o SÊNHOR, tinha dito a Moiseé s.
Êntaã o, disse o SÊNHOR a Moiseé s: Levanta-te, pela manhaã cedo, e poã e-te diante de Faraoé , e dize-
lhe: Ãssim diz o SÊNHOR, oDeus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me sirva. Porque
esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre o teu coraçaã o, e sobre os teus servos, e sobre o
teu povo, para que saibas que naã o haé outro como eu, em toda a terra. Porque agora tenho
estendido a maã o para te ferir a ti e ao teu povo com pestileê ncia e para que sejas destruíédo da
terra; mas deveras para isto te mantive, para mostrar o meu poder em ti e para que o meu
nome seja anunciado em toda a terra" (capíétulo 9:12-16).

O Aspecto Profético da Rebelião contra o SENHOR


Considerando Faraoé e os seus atos, a alma eé transportada aà s cenas emocionantes do
Ãpocalipse, as quais nos mostram como o ué ltimo opressor orgulhoso do povo de Deus faz
descer sobre si e o seu reino as sete taças da ira do Deus Todo-Poderoso. ÊÉ propoé sito de Deus
que Israel tenha a proemineê ncia na terra; e, portanto, todo aquele que tiver a pretensaã o de se
opor a esta proemineê ncia teraé de ser posto de parte. Ãgraça divina deve encontrar o seu
objetivo; e todo aquele que intentar opor-se como um obstaé culo a essa graça teraé de ser
afastado do caminho; quer este seja o Êgito, Babiloé nia, ou "a besta que foi e jaé naã o eé " (Ãp 17:8),
pouco importa. O poder divino abriraé o caminho para que a graça divina possa derramar-se, e
maldiçaã o eterna cairaé sobre aqueles que se opuserem a ela. Os obstinados saborearaã o durante
toda a eternidade o fruto amargo da sua rebeliaã o contra "o SÊNHOR Deus dos hebreus". Êle
disse ao Seu povo: "Toda a ferramenta preparada contra ti naã o prosperaraé " (Is54:17),eaSua
fidelidade imutaé vel cumpriraé certamente aquilo que a Sua graça infinita prometeu.
Ãssim, no caso de Faraoé , quando ele persistiu em reter, com maã o de ferro, o Israel de
Deus, as taças da ira divina foram derramadas sobre ele; e a terra do Êgito foi coberta, em toda
a sua extensaã o, de trevas, enfermidades e desolaçaã o. Ãssim seraé , em breve, quando o grande
ué ltimo opressor emergir do abismo, armado com poder sataê nico para esmagar debaixo dos
seus peé s soberbos (SI 36:11) aqueles que o Senhor escolheu como objetos do Seu amor. O Seu
trono seraé destruíédo, o seu reino devastado por meio das sete ué ltimas pragas, e, finalmente,
ele proé prio seraé lançado, naã o no Mar Vermelho, mas "no lago de fogo e enxofre" (Ãp 18:8;
20:10).
Nem um til nem um jota de tudo que Deus prometeu a Ãbraaã o, a Isaque e Jacoé , deixaraé
de ser cumprido. Deus cumpriraé tudo. Ãpesar de tudo que tem sido dito e feito em sentido
contraé rio, Deus recorda-Se das suas promessas e cumpri-las-aé . "Porque todas quantas pro-
messas haé de Deus saã o nele sim, e por ele o Ãmen" em Jesus Cristo (2 Co 1:20). Muitas
dinastias se teê m levantado e atuado no palco deste mundo; muitos tronos se teê m erigido sobre
as ruíénas da antiga gloé ria de Jerusaleé m; muitos impeé rios teê m florescido por algum tempo, para
logo caíérem; potentados ambiciosos teê m combatido pela posse da "terra prometida"; todas
estas coisas teê m tido lugar; poreé m o Senhor tem dito acerca da Palestina: "...a terra naã o se
venderaé em perpetuidade, porque a terra eé minha" (Lv 25:23). Portanto, ningueé m possuiraé
para sempre esse paíés senaã o o Proé prio Senhor, e Êle o possuiraé por meio da semente de
Ãbraaã o. Uma simples passagem das Êscrituras eé suficiente para fixar as nossas ideias sobre
este assunto ou qualquer outro. Ã terra de Canaaã eé para a posteridade de Ãbraaã o, e a
posteridade de Ãbraaã o eé para a terra de Canaaã , e nenhum poder humano ou infernal pode j
amais inverter esta ordem divina. O Deus eterno empenhou a Sua palavra, e o sangue do
concerto eterno foi derramado para a retificar. Quem, pois, poderaé anulaé -la 1?- "O ceé u e a terra
passaraã o" mas essa palavra naã o haé -de passar (Mt 24:35). "Naã o haé outro, oé Jesurum,
semelhante a Deus, que cavalga sobre os ceé us para a tua ajuda e, com a sua alteza, sobre as
mais altas nuvens! O Deus eterno te seja por habitaçaã o, e por baixo de ti estejam os braços
eternos; e ele lance o inimigo de diante de ti e diga: Destroé i-o. Israel, pois, habitaraé soé e seguro,
na terra da fonte dejacoé , na terra de cereal e de mosto; e os seus ceé us gotejaraã o orvalho. Bem-
aventurado eé s tu, oé Israel! Quem eé como tu, um povo salvo pelo SÊNHOR, O escudo do teu
socorro, e a espada da tua alteza i Pelo que os teus inimigos te seraã o sujeitos, e tu pisaraé s
sobre as tuas alturas" (Dt 33:26-29).

Janes e Jambres
Vamos considerar agora, em segundo lugar, a oposiçaã o de "Janes e Jambres", magos do
Êgito. Nunca teríéamos conhecido os nomes desses dois inimigos da verdade se o Êspíérito
Santo os naã o houvesse mencionado em ligaçaã o com os "tempos perigosos" dos quais o
apoé stolo Paulo avisa seu filho Timoé teo. ÊÉ da maé xima importaê ncia que o leitor crente
compreenda claramente o verdadeiro caraé ter da resisteê ncia que esses dois encantadores
opuseram a Moiseé s, e para que ele faça uma ideia completa do assunto, citaremos toda a
passagemda epíéstola de Paulo aTimoé teo, passagemaliaé s profundamente importante e solene.

Nos Últimos Dias


"Sabe, poreé m, isto: que nos ué ltimos dias sobreviraã o tempos trabalhosos; porque haveraé
homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a
pais e maã es, ingratos, profanos, semafeto natural, irreconciliaé veis, caluniadores, incontinentes,
crueé is, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus, tendo apareê ncia de piedade, mas negando a eficaé cia dela.
Destes afasta-te. Porque deste nué mero saã o os que se introduzem pelas casas e levam cativas
mulheres neé scias carregadas de pecados, levadas de vaé rias concupisceê ncias, que aprendem
sempre,e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. Ê, como Janes e Jambres
resistiram a Moiseé s, assim tambeé m estes resistem aà verdade, sendo homens corruptos de
entendimento e reé probos quanto aà feé . Naã o iraã o, poreé m, avante; porque a todos seraé manifesto
o seu desvario, como tambeé m o foi o daqueles" (2Tm 3:1-9).
Ora, a natureza desta resisteê ncia aà verdade eé particularmente solene. Ã oposiçaã o que
Janes e Jambres fizeram a Moiseé s consistiu simplesmente em imitar, ateé onde lhes foi possíével,
tudo aquilo que ele fazia. Naã o vemos que eles atribuíéssem a um poder enganador ou mau os
sinais que ele fazia, mas antes que procuraram neutralizar os seus efeitos sobre a conscieê ncia
fazendo eles as mesmas coisas. O que Moiseé s fazia, tambeé m eles o podiam fazer, de modo que,
afinal naã o havia grande diferença. Um era taã o bom como os outros. Um milagre. Se Moiseé s
fazia milagres para tirar o povo do Êgito, eles podiam fazer milagres para os obrigarem a ficar
no paíés. Onde estava, pois, a diferença?
De tudo isto aprendemos a verdade solene que a resisteê ncia mais diaboé lica ao
testemunho de Deus, no mundo, vem daqueles que, embora imitem os efeitos da verdade, teê m
apenas a "apareê ncia de piedade" e "negam a eficaé cia dela" (2 Tm 3:5). Ãs pessoas desta
condiçaã o podem fazer as mesmas coisas, adoptar os mesmos costumes e o mesmo ritual,
empregar a mesma linguagem e professar as mesmas opinioã es dos outros. Se o cristaã o
verdadeiro, constrangido pelo amor de Cristo, daé de comer aos que teê m fome, daé vestuaé rio aos
nus, visita os enfermos, espalha as Êscrituras, distribui tratados, contribui para a divulgaçaã o
do evangelho, faz oraçaã o, canta hinos espirituais, prega o evangelho, o formalista pode fazer
todas estas coisas; e isto, note-se, eé o caraé ter especial da resisteê ncia oposta aà verdade "nos
ué ltimos tempos" — eé o espíérito de Janes e Jambres.
Quaã o necessaé rio eé compreendermos esta verdade! Quaã o importante é recordar que,
assim "como Janes e Jambres resistiram a Moiseé s", assim também esses "amantes de si
mesmos", do mundo e dos prazeres "resistem aà verdade"! Naã o querem viver sem "apareê n cia
de piedade", mas, enquanto adoptam a "forma", porque eé haé bito, detestam "a eficaé cia" dela,
porque essa significa a renué ncia proé pria. "Ã eficaé cia da piedade" implica o reconhecimento dos
direitos de Deus, o estabelecimento do Seu reino no coraçaã o, e, por consequeê ncia a Sua
manifestaçaã o na vida e no caraé ter; poreé m o formalista nada sabe disto. "Ãeficaé cia" da piedade
nunca poderaé estar de acordo com nenhum destes caracteres horrendos descritos na
passagem acima reproduzida; poreé m "a apareê ncia", encobrindo-os, permite-Ihes viverem sem
terem de se submeter, e isto agrada ao formalista. Êle naã o gosta de dominar as suas tentaçoã es,
de interromper os seus prazeres, de refrear as suas paixoã es, de poê r em regra os seus afetos, de
que o seu coraçaã o seja purificado. Somente precisa de bastante religiaã o para poder tirar o
melhor partido da vida presente e do mundo futuro. Desconhece o que significa abandonar o
mundo que passa, por ter achado "o mundo vindouro".
Considerando as diversas formas de oposiçaã o de Satanaé s aà verdade de Deus, vemos que
o seu meé todo tem sido sempre, em primeiro lugar, opor a violeê ncia; e, depois, se este meé todo
falha, corrompeê -la por meio de imitaçaã o. Por isso, procurou em primeiro lugar matar Moiseé s
(capíétulo 2:15), e tendo falhado em realizar o seu propoé sito, procurou imitar as suas obras.
O mesmo aconteceu com a verdade confiada aà Igreja de Deus. Os primeiros esforços de
Satanaé s manif estaram-se em ligaçaã o com a ira dos principais sacerdotes e anciaã os do povo
por meio do tribunal, o caé rcere e a espada. Poreé m, na passagem que reproduzimos da 2a
epíéstola a Timoé teo naã o se faz mençaã o de tais processos. Ã violeê ncia aberta foi substituíéda por
um meio mais astuto e perigoso de uma profissaã o vazia, ineficaz e a imitaçaã o. O inimigo, em
vez de se apresentar coma espada da perseguiçaã o na maã o, passeia com o manto da profissaã o
sobre os ombros, professando e imitando aquilo que em outro tempo combateu e perseguiu; e,
por este meio consegue vantagens assombrosas no tempo presente. Ãs formas horríéveis que o
pecado moral tem revestido, e que de seé culo para seé culo teê m manchado as paé ginas da histoé ria
da humanidade, longe de se encontrarem apenas naqueles lugares onde naturalmente
poderiam buscar-se, nos antros e cavernas das trevas humanas, acham-se cuidadosamente
ocultas debaixo das pregas do manto de uma profissaã o fria, impotente e sem influeê ncia, e esta
eé uma das obras-primas de Satanaé s.
ÊÉ natural que o homem, como ser caíédo e corrompido, seja egoíés ta, cobiçoso, vaidoso,
altivo; mas que seja tudo isto sob a capa formosa da "apareê ncia de piedade" denota a energia
especial de Satanaé s na sua resisteê ncia aà verdade "nos ué ltimos dias".
ÊÉ natural que o homem manifeste abertamente esses víécios repugnantes — a
concupisceê ncia e paixoã es—, que saã o o resultado forçoso do seu afastamento da origem de
santidade infinita e pureza, porque o homem seraé sempre o que ele eé ateé o fim da sua histoé ria.
Por outra parte, quando se veê o nome santo do Senhor Jesus
Cristo associado com a perversidade e a maldade implacaé vel do homem; quando se
veê em os princíépios santos ligados com praé ticas íémpias; quando se veê em todos os
caracteríésticos da corrupçaã o dos gentios, mencionados no primeiro capíétulo da epíéstola aos
Romanos, ligados com a "apareê ncia de piedade", entaã o, de verdade, pode dizer-se, eis aqui o
caraé ter horríével dos "ué ltimos dias", a resisteê ncia de"janesejambres".

A Aparência de Piedade
Contudo, os magos do Êgito soé puderam imitar os servos do Deus vivo em treê s coisas, a
saber: tornaram as suas varas em serpentes (capíétulo 7:12);transformaramaaé gua em sangue
(capíétulo 7:22), e fizeram subir as raã s sobre a terra (capíétulo 8:7); poreé m, quanto ao quarto
sinal, que implicava a exibiçaã o da vida, em ligaçaã o com a manifestaçaã o da humilhaçaã o da
natureza, viram-se inteiramente confundidos e tiveram de reconhecer "isto eé o dedo de Deus"
(capíétulos 8:16 a 19). Ãssim sucede tambeé m com os que resistem nos ué ltimos dias. Tudo
quanto fazem eé segundo o poder direto de Satanaé s e dentro dos limites do seu poder. Ãleé m
disso, o seu fim especíéfico eé resistirem aà verdade.
Ãs treê s coisas que Janes e Jambres puderam executar foram caracterizadas por poder
sataê nico, morte e impureza; quer dizer, as serpentes, o sangue e as raã s. Foi assim que
"resistiram a Moiseé s" e, "assim tambeé m estes resistem aà verdade", e impedem a sua açaã o
moral sobre a conscieê ncia. Nada haé que tanto contribua para enfraquecer o poder da verdade
como ver pessoas que naã o se encontram sob a sua influeê ncia fazerem as mesmas coisas que
aqueles que estaã o debaixo dela fazem. Ãssim opera Satanaé s no momento atual. Êle procura
fazer com que todos os homens sejam considerados como cristaã os; quer fazer-nos crer que
estamos rodeados de "um mundo cristaã o", poreé m esse pretenso mundo cristaã o naã o passa de
uma cristandade professa, a qual, longe de dar testemunho da verdade eé aqui destinada,
segundo os propoê s itos do inimigo da verdade, para se opor aà influeê ncia purificadora da
verdade.
Êm resumo, o servo de Cristo, testemunha da verdade, estaé rodeado, de todos os lados,
pelo espíérito de "Janes e Jambres"; e eé conveniente que recorde este fato, que conheça
inteiramente o mal com que tem que lutar e não esqueça que se trata da imitaçaã o que o diabo
faz da realidade de Deus, produzida, naã o pela vara de um mago declaradamente mau, mas, sim
mediante os atos de falsos religiosos, que teê m "apareê ncia de piedade", mas negam a eficaé cia
dela"; pessoas que fazem coisas aparentemente boas e justas, mas que naã o teê m a vida de
Cristo em suas almas, nem o amor de Deus em seus coraçoã es, nem tampouco o poder da
Palavra de Deus em suas conscieê ncias. "Naã o iraã o poreé m avante", acrescenta o apoé stolo,
"porque a todos seraé manifesto o seu desvario, como tambeé m o foi o daqueles". Com efeito a
insensatez de Janes e Jambres foi manifesta a todos, quando naã o somente se viram impotentes
para continuar a imitar os atos de Moiseé s e Ãraã o, como foram envolvidos nos juíézos de Deus.
Isto eé um ponto muito importante. Ã insensatez de todos aqueles que naã o possuem mais do
que a apareê ncia seraé manifestada. Naã o somente seraã o incapazes de imitar os efeitos plenos e
proé prios da vida e poder divinos, como eles mesmos viraã o a ser os objetos dos juíézos que
resultaram da rejeiçaã o da verdade que eles proé prios rejeitaram.
Ãlgueé m diraé que tudo is to naã o encerra instruçaã o para uma eé poca, como a nossa, de
apareê ncia sem eficaé cia'?- Certamente que tem; saã o exemplos que deveriam exercer influeê ncia
sobre toda a conscieê ncia em poder vivo e falar a todos os coraçoã es com assentos solenes e
penetrantes: deveriam levar-nos a examinarmo-nos seriamente para sabermos se estamos
dando testemunho da verdade e se andamos segundo a eficaé cia da piedade ou se somos um
obstaé culo dela neutralizando os seus efeitos por soé termos a sua apareê ncia. Os efeitos da
eficaé cia da piedade seraã o manifestados se noé s permanecermos nas coisas que temos
aprendido (2 Tm 3.14). Soé aqueles que saã o ensinados porDeus poderaã o permanecer nessas
coisas—aqueles que, pelo poder do Êspíérito de Deus, teê m bebido da aé gua da vida na fonte
pura da inspiraçaã o divina.
Graças a Deus, em todas as fraçoã es da Igreja professa haé muitas destas pessoas. Ãqui e
ali, haé muitos cujas conscieê ncias foram lavadas no sangue expiador do "Cordeiro de Deus", e
cujos coraçoã es batem com verdadeiro afeto pela Pessoa do Senhor Jesus, e cujos espíéritos saã o
animados com "a bendita esperança" de O verem assim como Êle eé e de serem feitos
eternamente semelhantes aà Sua imagem. Ê animador podermos pensar em tais pessoas. ÊÉ
uma misericoé rdia inefaé vel podermos ter comunhaã o com aqueles que podem dar a razaã o da
sua esperança e da posiçaã o que ocupam como filhos de Deus. Que o Senhor aumente o seu
nué mero dia a dia: e que a eficaé cia da piedade se espalhe mais e mais nestes ué ltimos dias, para
que se levante um testemunho brilhante e bem mantido ao nome d'Ãquele que eé digno de ser
exaltado!

As Quatro Objeções de Faraó


Resta-nos considerar ainda o terceiro ponto desta parte do livro, a saber, as quatro
objeçoã es ardilosas de Faraoé aà libertaçaã o completa e inteira separaçaã o do povo de Deus do
Êgito.

A Primeira Objeção
à primeira destas objeçoã es encontra-se no capíétulo 8:25. "Êntaã o, chamou Faraoé a
Moiseé s e a Ãraã o e disse: Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". Ê desnecessaé rio acentuar
aqui que, quer sejam os magos com a resisteê ncia que opoã em ou Faraoé com as suas objeçoã es, eé
realmente Satanaé s que estaé atraé s de toda esta cena: e o seu objetivo, nesta proposta de Faraoé ,
consistia em impedir o testemunho do nome do Senhor—um testemunho ligado com a
separaçaã o completa entre o Seu povo e o Êgito. ÊÉ evidente que um tal testemunho naã o podia
ser dado se eles tivessem continuado no Êgito, ainda mesmo que tivessem oferecido sacrifíécios
ao Senhor. Os israelitas ter-se-iam entaã o colocado no mesmo terreno que os egíépcios, e teriam
posto o Senhor ao mesmo níével dos deuses do Êgito. Êntaã o os egíépcios poderiam ter dito aos
israelitas: "Naã o vemos nenhuma diferença entre noé s; voé s tendes o vosso culto, e noé s temos o
nosso; eé tudo a mesma coisa".
Os homens consideram perfeitamente natural que cada qual tenha uma religiaã o, seja
qual for. Contanto que sejamos sinceros e naã o haja interfereê ncia na crença do proé ximo, pouco
importa a forma da nossa religiaã o. Tais são os pensamentos dos homens a respeito daquilo que
eles chamam religiaã o; poreé m eé bem claro que a gloé ria do nome de Jesus naã o eé tida em conta
em tudo isto. O inimigo opor-se-aé sempre aà ideia de separaçaã o, e o coraçaã o do homem nunca
poderaé compreendeê -la. O coraçaã o humano pode aspirar aà piedade, porque a conscieê ncia
testifica que naã o estaé tudo em regra; mas ao mesmo tempo anela seguir o mundo: gosta de
sacrificar a Deus na terra; assim quando se aceita uma religiaã o mundana e se recusa sair ou
fazer separaçaã o dela (2 Co 6), o fim de Satanaé s eé conseguido. O seu plano invariaé vel, desde o
princíépio, consiste em impedir o testemunho dado ao nome de Deus na terra.Tal era o fim
escuro da proposta, "Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". Que fim o do testemunho, se
esta proposta tivesse sido aceite! O povo de Deus no Êgito e o Proé prio Deus associado com os
íédolos do Êgito! Que terríével blasfeê mia!

A Religião
Prezado leitor, noé s deveríéamos ponderar estas coisas seriamente. Êste esforço para
induzir o povo de Israel a sacrificar a Deus no Êgito revela um princíépio muito mais
importante do que poderíéamos, aà primeira vista, supor. O inimigo regozijar-se-ia se conseguis-
se obter, de qualquer modo, e de uma vez para sempre, em quaisquer circunstaê ncias, ateé
mesmo a apareê ncia de sançaã o divina para a religiaã o do mundo. Êle naã o poã e dificuldades a uma
religiaã o desta espeé cie. O seu intento eé alcançado taã o eficientemente por meio daquilo que eé
chamado "o mundo religioso" como de qualquer outro modo; e, por isso, quando consegue que
um verdadeiro cristaã o acredite na religiaã o do mundo, obteé m um grande triunfo.
ÊÉ um fato bem conhecido que nada haé que provoque tanta indignaçaã o como este
princíépio divino de separaçaã o deste presente seé culo mau. Podemos ter as mesmas opinioã es,
pregar as mesmas doutrinas e fazer o mesmo trabalho: poreé m, se procurarmos, ainda que seja
na mais pequena medida, agir segundo a ordem divina, que eé : "Destes afasta-te" (2Tm 3:5),
"saíédo meio deles" (2 Co 6:17), podemos es tar certos de encontrar a mais violenta oposiçaã o.
Como se explica isto? Principalmente devido ao fato que os cristaã os, estando separados da vaã
religiaã o, rendem um testemunho a Cristo que nunca poderiam dar enquanto estivessem
ligados com ela.
Êxiste um grande diferença entre Cristo e a religiaã o do mundo. Um pobre hindu,
envolvido em trevas, pode falar da sua religiaã o, mas nada sabe de Cristo. O apoé stolo, naã o diz,
"se haé algum conforto na religiaã o" (Fp 2:1); embora os devotos de uma religiaã o qualquer
achem incontestavelmente nela aquilo que lhes parece ser consolaçaã o. Paulo, pelo contraé rio,
achou a sua consolaçaã o em Cristo, depois de haver experimentado plenamente a inutilidade da
religiaã o, ainda que na sua forma mais bela e imponente (comparem-se Gll:13-14;Fp3:3-ll).
ÊÉ verdade que o Êspíérito Santo fala-nos da "religiaã o pura e imaculada" (Tg 1:27); poreé m
o homem descrente naã o pode, de modo nenhum, participar dela; porque como poderaé ter
parte naquilo que eé " puro e imaculado" ? Êsta religiaã o eé do ceé u, a fonte de tudo que eé puro e
excelente; estaé exclusivamente diante de nosso "Deus e Pai"; serve para exercíécio das funçoã es
da nova natureza, com a qual saã o dotados todos aqueles que creê em no nome do Filho de Deus
(Jol: 12 e 13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; ljo 5:1). Finalmente, define-se pelos dois principais aspectos
da benevoleê ncia e santidade pessoal "visitar os oé rfaã os e as viué vas nas suas tribulaçoã es" (Tg
1:27).
Se examinarmos a lista dos verdadeiros frutos do Cristianismo, veremos que estaã o
todos classificados sob estes dois pontos principais; e eé profundamente interessante notar
que, quer nos voltemos para o capíétulo 8 do ÊÊ xodo ou o primeiro de Tiago, a separaçaã o do
mundo eé apresentada como uma qualidade indispensaé vel no verdadeiro serviço a Deus. Nada
que seja manchado com o contato "deste seé culo mau" pode ser aceitaé vel diante de Deus, nem
receber da Sua maã o o selo" puro e imaculado". "Pelo que saíé do meio deles, e apartai-vos, diz o
Senhor; e naã o toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para voé s Pai, e voé s serreis
para mim filhos e filhas, diz o SenhorTodo-Poderoso" (2Co6:17-18).
Naã o havia no Êgito nenhum lugar de reuniaã o para o Senhor e o Seu povo redimido; sim,
para eles, a redençaã o e a separaçaã o eram uma e a mesma coisa. Deus havia dito: "desci para
livraé -los", (ÊÊ x 3:8) e nada senaã o isto podia satisfazeê -Lo ou glorificaé -Lo. Uma salvaçaã o que
deixasse o povo no Êgito naã o podia ser salvaçaã o de Deus. Ãleé m disso, devemos recordar que o
desíégnio do Senhor, com a salvaçaã o de Israel, assim como na destruiçaã o de Faraoé , era para que
o Seu nome fosse anunciado em toda a terra (capíétulo 9:16); e que declaraçaã o poderia haver
desse nome ou caraé ter, se o Seu povo tivesse de Lhe prestar culto no Êgito? Ou naã o teria
havido nenhum testemunho ou seria um testemunho falso. Portanto, era necessaé rio, para que
o caraé terde Deus fosse plena e fielmente declarado, que o Seu povo fosse inteiramente
libertado e completamente separado do Êgito; e eé , essencialmente, necessaé rio, agora, para que
um testemunho claro e sem equíévoco seja dado ao Filho de Deus, que todos que saã o realmente
Seus sejam separados deste presente seé culo mau. Tal eé a vontade de Deus; e para este fim
Cristo entregou-Se a Si mesmo. "Graça e paz, da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus
Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente seé culo mau,
segundo a vontade de Deus nosso Pai, aoqualseja dada gloé ria para todo o sempre Ãmen!" (Gl
1:3-5).
Os Gaé latas começavam a dar creé dito a uma religiaã o carnal e mundana — uma religiaã o
de ordenaçoã es —, uma religiaã o de "dias e meses, de tempos e de anos"; e o apoé stolo começa a
sua epíéstola dizendo-lhes que o Senhor Jesus Cristo Se deu a Si mesmo com o propoé sito de
libertar o Seu povo todo desse sistema. O povo de Deus deve ser separado, naã o com base na
sua santidade mas porque eé o Seu povo, e para que possa responder inteligentemente ao fim
que Deus propusera pondo-o em relaçaã o Consigo e associando-o com o Seu nome. Um povo
que continuasse a viver no meio das abominaçoã es e contaminaçoã es do Êgito naã o podia ser um
testemunho do Deus santo; nem tampouco, agora, todo aquele que se associa com as
contaminaçoã es de uma religiaã o mundana e corrompida naã o pode ser uma testemunha fiel e
poderosa de um Cristo crucificado e ressuscitado.

O Caminho de Três Dias


à resposta que Moiseé s deu aà primeira ob jeçaã o de Faraoé eé realmente notaé vel: "Ê Moiseé s
disse: Naã o conveé m que façamos assim, porque sacrificaríéamos ao SÊNHOR, nosso Deus, a
abominaçaã o dos egíépcios; eis que, se sacrificaé ssemos a abominaçaã o dos egíépcios perante os
seus, olhos, naã o nos apedrejariam eles?" (capíétulo 8:26 - 27). O caminho de "treê s dias" eé
verdadeira separaçaã o do Êgito. Nada menos que isto podia satisfazer a feé . O Israel de Deus tem
que ser separado da terra e da morte e das trevas pelo poder da ressurreiçaã o. Ãs aé guas do Mar
Vermelho teê m de correr entre os remidos do Senhor e o Êgito, antes que eles possam oferecer
sacrifíécios ao Senhor. Se tivessem ficado no Êgito, teriam que sacrificar ao Senhor os mesmos
objetos abominaé veis do culto dos egíépcios (¹). Isto naã o pode ser. No Êgito naã o podia haver
tabernaé culo, nem templo, nem altar. Êm toda a extensaã o do paíés naã o havia lugar para nenhuma
destascoisas.Defato, como veremos adiante, Israel naã o entoou um caê ntico sequer de louvor ateé
que toda a congregaçaã o foi reunida no pleno poder da redençaã o levada a cabo na costa
cananeia do Mar Vermelho.
O mesmo eé exatamente agora. ÊÉ preciso que o crente saiba onde foi colocado para
sempre pela morte e ressurreiçaã o do Senhor Jesus Cristo, antes de poder ser um adorador
inteligente, um servo aprovado, ou uma testemunha eficaz.
_________________
(¹) A palavra "abominação" diz respeito àquilo que os egípcios adoravam.

Naã o se trata aqui da questaã o se somos filhos de Deus, e, portanto, se somos salvos.
Muitos filhos de Deus estaã o muito longe de conhecer os resultados plenos, quanto a si
proé prios, da morte e ressurreiçaã o de Cristo. Naã o compreendem esta verdade preciosa: que a
morte de Cristo tirou os seus pecados para sempre, e que eles saã o os felizes participantes da
Sua vida de ressurreiçaã o, com a qual o pecado nada mais tem que fazer. Cristo foi feito
maldiçaã o por noé s, naã o por ter nascido sob a maldiçaã o de uma lei quebrantada, mas sendo
pendurado no madeiro (comparem-se atentamente Dt 21:23; Gl 3:13). Noé s estaé vamos sob a
maldiçaã o, porque naã o tíénhamos guardado a lei; poreé m Cristo, o Homem perfeito, havendo
engrandecido a lei e tornando-a honrosa, devido ao fato de a haver cumprido perfeitamente,
foi feito maldiçaã o por noé s sendo pendurado no madeiro. Ãssim, na Sua vida Êle engrandeceu a
lei de Deus; e na Sua morte levou a nossa maldiçaã o. Portanto, agora naã o haé para o crente
maldiçaã o nem ira nem condenaçaã o: e embora tenha de comparecer no tribunal de Cristo, este
tribunal ser-lhe-aé taã o favoraé vel entaã o como agora o eé o trono da graça. O tribunal manifestaraé
a sua verdadeira condiçaã o, isto eé , que nada existe contra ele: o que ele eé , foi Deus quem o
realizou. Êle eé obra de Deus. Deus tomou-o no estado de morte e condenaçaã o e feê -lo
exatamente como queria que ele fosse. O Proé prio Juiz apagou os seus pecados e eé a sua justiça,
de forma que o tribunal naã o deixaraé de lhe ser favoraé vel; mais ainda, seraé a declaraçaã o pué blica,
autorizada e plena, feita ao ceé u, aà terra e ao inferno, de que aquele que eé lavado de seus
pecados no sangue do Cordeiro eé taã o limpo quanto Deus pode tornaé -lo (veja-se Jo 5:24; Rm
8:1; 2 Co 5:5,10,11; Êf 2:10). Tudo que era preciso fazer, o Proé prio Deus o fez, e certamente Êle
naã o condenaraé a Sua proé pria obra. Ã justiça que era pedida, Deus a proveu; e, portanto, naã o
acharaé nenhum defeito nesse suprimento. Ãluz do tribunal de Cristo seraé bastante radiante
para dissipar todas as neblinas e nuvens que pudessem obscurecer as gloé rias imaculadas e as
virtudes eternas que pertencem aà cruz e para mostrar que o crente estaé "todo limpo" (Jo
13:10; 15:3; Êf 5:27).

A Paz: Fora do Mundo


ÊÉ por causa de naã o haverem apropriado estas verdades fundamentais, com
simplicidade de feé , que muitos filhos de Deus lamentam naã o possuir uma paz segura e passam
por contíénuos altos e baixos na sua vida espiritual. Cada dué vida no coraçaã o de um crente eé
uma desonra para a palavra de Deus e o sacrifíécio de Cristo. ÊÉ porque naã o permanece, desde
jaé , naquela luz que brilharaé no tribunal de Cristo, que anda sempre aflito com dué vidas e
temores. Contudo, estas dué vidas e incertezas, que muitos teê m de deplorar, saã o apenas
consequeê ncias insignificantes comparativamente, tanto mais que apenas afetam a sua
experieê ncia. Os efeitos que produzem sobre o seu culto, o seu serviço e o seu testemunho saã o
muito mais graves, visto que a gloé ria do Senhor eé afetada. Mas, ah! nesta pouco se pensa,
geralmente falando, simplesmente porque o obje-tivo principal, o fim e o alvo, com a maioria
dos cristaã os,eé a salvaçaã o pessoal. Todos somos inclinados a considerar como essencial tudo
que se relaciona conosco; enquanto que aquilo que diz respeito aà gloé ria de Cristo em noé s e por
nosso intermeé dio eé considerado como não essencial.
Contudo, eé bom compreendermos claramente que a mesma verdade que daé paz segura
aà alma, poã e-na tambeé m em estado de poder oferecer um culto inteligente, um serviço
aceitaé vel, e um testemunho eficaz.
No capíétulo quinze da primeira epíéstola aos Coríéntios, o apoé stolo apresenta a morte e a
ressurreiçaã o de Cristo como o grande fundamento de todas as coisas. "Tambeé m vos notifico,
irmaã os, o evangelho que jaé vos tenho anunciado, o qual tambeé m recebestes e no qual tambeé m
permaneceis; pelo qual tambeé m sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se
naã o eé que crestes em vaã o. Porque primeiramente vos entreguei o que tambeé m recebi: que
Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Êscrituras, e que foi sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Êscrituras" (versíéculos 1 a 4).
Êis o evangelho, numa declaraçaã o raé pida e compreensíével. O fundamento da salvaçaã o eé
um Cristo morto e ressuscitado. "O qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para
nossa justificaçaã o" (Rm4:25). Ver Jesus, com os olhos da feé , pregado na cruz e assentado no
trono, eé uma visaã o que deve dar paz soé lida aà conscieê n cia e perfeita liberdade ao coraçaã o. Noé s
podemos olhar para o sepulcro e veê -lo vazio; podemos olhar par cima e ver o trono ocupado, e,
assim, continuar o nosso caminho cheios de gozo. O Senhor Jesus liquidou todas as coisas na
cruz a favor do Seu povo; e a prova desta liquidaçaã o eé que estaé aà destra de Deus. Um Cristo
ressuscitado eé a prova eterna de uma redençaã o efetuada; e se a redençaã o eé um fato
consumado, entaã o a paz do crente eé uma realidade estabelecida. Noé s naã o fizemos a paz, nem
nunca a poderíéamos ter feito. De fato, todos os nossos esforços nesse sentido soé serviriam
para manifestar com maior evideê ncia que eé ramos transgressores da faz. Poreé m, Cristo,
havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, tomou o Seu lugar nas alturas, triunfando sobre
todos os Seus inimigos. Por Êle Deus anuncia a paz. Ã palavra do evangelho transmite esta paz:
e a alma que creê o evangelho tem a paz estabelecida diante de Deus, porque Cristo eé a sua paz
(veja-se Ãtl0:36;Ro5:l,Êf2:14;Col:20).DestamaneiraDeussatisfeznaã o soé as Suas exigeê ncias,
como abriu um caminho divinamente justo mediante o qual o Seu amor infinito pode descer
ateé ao mais culpado da geraçaã o culpada de Ãdaã o.
Quanto ao resultado praé tico, a cruz de Cristo naã o soé tirou os pecados do crente como
quebrou para sempre os laços que o prendiam ao mundo, e, com base neste fato, ele tem o
privileé gio de considerar o mundo como uma coisa crucificada, e de ser considerado pelo
mundo como um que foi crucificado. Tal eé a posiçaã o do crente e do mundo — o mundo estaé
crucificado para o crente e o crente para o mundo. Êsta eé a verdadeira e elevada posiçaã o do
crente. O juíézo que este mundo fez de Cristo foi expresso pela posiçaã o em que o mundo
deliberadamente o colocou. O mundo foi convidado a fazer a sua escolha entre Cristo e um
assassino. Poê s o assassino em liberdade, e pregou Cristo na cruzentre dois malfeitores.
Portanto, se o crente segue as pisadas de Cristo e se compenetra com o Seu espíérito, e o
manifesta, ocuparaé o mesmíéssimo lugar que Cristo tem na estima do mundo; e desta forma
naã o somente conheceraé que, quanto aà sua posiçaã o diante de Deus, estaé crucificado com Cristo,
mas seraé levado tambeé m a realizar este fato na sua vida e na sua experieê ncia diaé ria.
Contudo, posto que a cruz tem assim quebrado eficazmente a ligaçaã o entre o crente e o
mundo, a ressurreiçaã o introduziu-o debaixo do poder de novos laços e novas relaçoã es. Se
vemos na cruz o juíézo do mundo, quanto a Cristo, na ressurreiçaã o vemos o juíézo de Deus. O
mundo crucif icou-O; poreé m, "Deus exaltou-o soberanamente" (Fp 2:9). O homem deu-Die
olugar mais baixo, mas Deus deu-Lhe o lugar mais elevado; e embora o crente seja chamado a
gozar plena comunhaã o com Deus, em seus pensamentos a respeito de Cristo, ele pode, por sua
parte, considerar o mundo como uma coisa crucificada. Ãssim, pois, se o crente estaé sobre uma
cruz e o mundo noutra, a distaê ncia moral entre os dois eé na verdade consideraé vel. Ê se a
distaê ncia eé consideraé vel em princíépio, tambeé m deveria seê -lo na praé tica. O mundo e o cristaã o
naã o deveriam ter nada absolutamente em comum; e nada teraã o em comum, exceto quan do o
cristaã o nega o seu Senhor e Mestre. O crente mostra-se infiel a Cristo na mesma proporçaã o em
que tem comunhaã o com o mundo.

O que é o Mundo
Tudo isto eé bastante claro; poreé m, prezado leitor, aonde nos conduz quanto a este
mundo"?- Seguramente, fora dele, e isto de um modo completo. Êstamos mortos para o mundo
e vivos para Cristo. Somos participantes ao mesmo tempo da Sua rejeiçaã o pelo mundo e da Sua
aceitaçaã o no ceé u; e o gozo desta faz-nos considerar como nada a provaçaã o daquela. Ser
lançado fora do mundo, sem saber que tenho um lugar e uma parte no ceé u, seria insuportaé vel
para mim; poreé m, quando as gloé rias do ceé u enchem a visaã o da alma, eé necessaé rio muito pouco
da terra.
Mas, pode perguntar-se, "Que eé o mundo?" Seria difíécil encontrar um termo taã o mal
definido como "o mundo" ou "a mundanidade"; pois em geral noé s somos propensos a fazer a
mundanidade um ou dois pontos acima do lugar onde nos achamos situados espiritualmente.
à Palavra de Deus, poreé m, define com perfeita precisaã o o que significa o termo "o mundo",
quando o designa como aquilo que "naã o eé do Pai" (ljo 2:15 e 16). Por isso, quanto mais
profunda for a minha comunhaã o com o Pai, mais penetrante seraé a minha compreensaã o
daquilo que eé mundano. ÊÉ esta a forma divina de ensino. Quando mais vos deleitardes no amor
do Pai, tanto mais desprezareis o mundo. Mas quem eé aquele que revela o Pai<? ÊÉ o filho.
Como1?- Pelo poder do Êspíérito Santo. Pelo que, quanto mais habilitado eu estiver, no poder do
Êspíérito, naã o contristado, a deleitar-me na revelaçaã o que o Filho nos tem dado do Pai, tanto
mais exato seraé o meu discernimento quanto aà quilo que eé do mundo. ÊÉ aà medida que o reino
de Deus ganha terreno no coraçaã o, que o nosso juíézo quanto aà mundanidade se torna mais
reto. Naã o eé faé cil definir o que eé mundanismo. ÊÉ , como algueé m disse, "sombreado gradualmente
desde obranco ao preto carregado". Isto eé verdadeiro. Naã o se pode estabelecer um limite e
dizer: "eé aqui que começa o mundanismo"; poreé m a sensibilidade viva e delicada da natureza
divina recua perante ele; e tudo que noé s necessitamos eé andar no poder dessa natureza, a fim
de nos mantermos alheados a toda a espeé cie de mundanismo. "Ãndai em Êspíérito e naã o
cumprireis a concupisceê ncia da carne" (Gl 5:16). Ãndai com Deus, e naã o andareis com o
mundo. Ãs distinçoã es frias e as regras ríégidas para nada servem. ÊÉ o poder da vida divina que
noé s precisamos. Precisamos de compreender a significaçaã o espiritual do "caminhode treê s dias
no deserto", o qual nos separa para sempre naã o apenas dos fornos de tijolo e dos exatores do
ÊÉ gito, mas tambeé m dos seus templos e altares.

A Segunda Objeção
à segunda objeçaã o do Faraoé participava muitíéssimo do caraé ter e tendeê ncia da primeira.
"Êntaã o, disse Faraoé : Deixar-vos-ei ir, para que sacrifiqueis ao SÊNHOR vosso Deus no deserto;
somente que, indo, não vades longe" (capíétulo 8:28). Naã o podendo reteê -los no Êgito, procurava
ao menos reteê -los perto das fronteiras, para poder agir contra eles por meio das diversas
influeê ncias do paíés. Desta forma o povo podia ser reconduzido e o testemunho mais facilmente
aniquilado que se eles nunca tivessem saíédo do Êgito. Ãqueles que tornam para o mundo,
depois de aparentemente o terem deixado, causam muito mais dano aà causa de Cristo do que
se nunca se houvessem afastado dele; porque virtualmente confessam que, tendo provado as
coisas divinas, descobriram que as coisas terrenas saã o melhores e satisfazem mais.
Ê isto ainda naã o eé tudo. O efeito moral da verdade sobre as conscieê ncias dos increé dulos
e tristemente embaraçado pelo exemplo dos professos que regressam aà s coisas que
aparentemente haviam deixado. Naã o eé que tais casos concedam autorizaçaã o a ningueé m para
rejeitar a verdade de Deus, tanto mais que cada um eé responsaé vel por si mesmo e teraé de
prestar contas dos seus atos a Deus. Contudo, o efeito produzido eé , como em tudo mais, mau.
"Porquanto se, depois de terem escapado das corrupçoã es do mundo, pelo conhecimento do
Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o
ué ltimo estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora naã o conhecerem o cami nho da
justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado" (2 Pe
2:20-21).
Por esse motivo, se as pessoas naã o estaã o dispostas a ir longe, eé melhor naã o partirem. O
inimigo sabia isto bem; daíé a sua segunda objeçaã o. Uma posiçaã o de proximidade satisfaz
admiravelmente os seus propoé sitos. Ãqueles que ocupam esta posiçaã o naã o saã o nem uma coisa
nem outra; com efeito, qualquer que seja a sua influeê ncia, conduz, infalivelmente, para o lado
mau.
ÊÉ muito importante ver claramente que o fim de Satanaé s em todas estas objeçoã es era
poê r obstaé culos ao testemunho que soé podia ser rendido ao nome do Deus de Israel por meio
de uma peregrinaçaã o de três dias através do deserto. Isto era, em boa verdade, ir muito longe
—ir muito mais longe do que Faraoé podia imaginar, ou ateé onde lhe era possíével seguir Israel.
Que grande beê nçaã oseriasetodososque fazem profissaã o de sair do Êgito se separassem dele
pelo espíérito do seu entendimento e pela elevaçaã o do seu caraé ter; se conhecessem a cruz e a
sepultura de Cristo como os limites estabelecidos entre eles e o mundo! Ningueé m pode
colocar-se nesse terreno na energia da sua natureza. O Salmista poê de dizer:
"Ê naã o entres em juíézo com o teu servo, porque aà tua vista naã o se acharaé justo nenhum
vivente" (Sl 143:2). O mesmo acontece a respeito da separaçaã o verdadeira e efetiva do mundo.
"Nenhum vivente" pode realizaé -la. Ê somente como "morto com Cristo", e ressuscitado
tambeé m nele, pela feé , no poder de Deus(Cl 2:12),que o homem pode ser justificado diante de
Deus e separado do mundo. Êis o que podemos chamar "ir muito longe". Permita Deus que
todos os que fazem profissaã o de cristaã os e se chamam por este nome possam assim afastar-se!
Êntaã o a sua laê mpada daraé uma luzconstan-te, a sua trombeta daraé um sonido inteligíével e a
sua conduta seraé elevada; a sua experieê ncia seraé rica e profunda; a sua paz correraé como um
rio; os seus afetos seraã o celestiais e as suas vestes imaculadas. Ê, acima de tudo, o nome do
SÊNHOR Jesus seraé glorificado neles pelo poder do Êspíérito Santo, segundo a vontade de Deus
Pai.

A Terceira Objeção
à terceira objeçaã o de Faraoé requer atençaã o especial de nossa parte. "Êntaã o, Moiseé s e
Ãraã o foram levados outra vez a Faraoé , e ele disse-lhes: Ide, servi ao SÊNHOR, vosso Deus. Quais
saã o os que haã o-de ir? Ê Moiseé s disse: Havemos de ir com os nossos meninos e com os nossos
velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, e com as nossas ovelhas, e com os nossos
bois havemos de ir; porque festa ao SÊNHOR temos. Êntaã o ele lhes disse: Seja o SÊNHOR assim
convosco, como eu vos deixarei ir a voé s e a vossos filhos; olhai que haé mal diante da vossa face.
Naã o seraé assim; andai agora voé s, varoã es, e servi ao SÊNHOR; pois isso eé o que pedistes. Ê os
lançaram da face de Faraoé " (capíétulo 10:8 a 11).
De novo vemos como o inimigo procura dar um golpe de morte no testemunho dado ao
Deus de Israel. Os pais no deserto e os filhos no Êgitol Que terríével anomalia! Isto teria sido
apenas libertaçaã o parcial, ao mesmo tempo inué til para Israel e desonrosa para o Deus de
Israel. Isto naã o era possíével. Se os filhos fossem deixados no Êgito, naã o se podia dizer que os
pais os tivessem deixado. Tudo quanto podia dizer-se, em tal caso, era que em parte eles
serviam ao Senhor e em parte a Faraoé . Poreé m, o Senhor naã o podia ter parte com Faraoé . Êra
necessaé rio que possuíésse tudo ou nada. Êis aqui um princíépio importante para os pais cristaã os.
Possamos noé s teê -lo no íéntimo dos nossos coraçoã es! ÊÉ nosso privileé gio contar com Deus quanto
aos nossos filhos, e criaé -los "na doutrina e admoestaçaã o do Senhor" (Êf 6:4). Nenhuma outra
parte deve satisfazer-nos quanto aos nossos "pequeninos" senaã o aquela mesma que noé s
proé prios desfrutamos.

A Quarta Objeção
à quarta e ué ltima objeçaã o de Faraoé relacionava-se com os rebanhos e as manadas.
"Êntaã o, Faraoé chamou a Moiseé s e disse: Ide, servi ao SÊNHOR: somente fiquem vossas ovelhas e
vossas vacas; vaã o tambeé m convosco as vossas crianças (capíétulo 10:24). Com que perseverança
disputou Satanaé s cada palmo do caminho de Israel para fora do Êgito! Êm primeiro lugar
procurou manteê -los no paíés; entaã o diligenciou teê -los perto do paíés; depois esf orçou-se por
reter parte do povo; e por fim, depois de haver falhado nestas treê s tentativas, esforçou-se por
fazeê -los partir sem meios alguns para servir ao Senhor. Jaé que naã o podia reter os servidores
procurava ficar com os meios que eles tinham para servir, pensando obter o mesmo resultado
por um meio diferente. Jaé que naã o podia induzi-los a oferecerem sacrifíécios no paíés, queria
enviaé -los fora do paíés sem víétimas para os sacrifíécios.
A Resposta de Moisés
à resposta de Moiseé s a esta ué ltima objeçaã o de Faraoé daé -nos um relato dos direitos
soberanos do Senhor sobre o Seu povo e tudo que lhes pertence. "Moiseé s, poreé m, disse: Tu
tambeé m daraé s em nossos maã os sacrifíécios e holocaustos, que ofereçamos ao SÊNHOR nosso
Deus. Ê tambeé m o nosso gado haé de ir conosco, nem uma unha ficará; porque daquele
havemos de tomar para serviraã o SÊNHORnosso Deus; porque naã o sabemos com que havemos
de servir ao Senhor, ateé que cheguemos laé " (versíéculos 25-26). ÊÉ somente quando o povo de
Deus toma o seu lugar, com feé simples e infantil, sobre o terreno elevado em que a morte e
ressurreiçaã o os colocou, que podem ter um conhecimento adequado dos seus direitos sobre
eles: "...naã o sabemos com que havemos de servir ao SÊNHOR, ateé que cheguemos laé ". Quer dizer,
naã o sabiam qual era a sua responsabilidade, nem quais as exigeê ncias de Deus ateé que tivessem
andado "treê s dias de caminho" . Êstas coisas naã opodiam ser conhecidas no meio da atmosfera
corrompida do Êgito. ÊÉ indispensaé vel que a redençaã o seja conhecida como um fato consumado
antes que se possa ter uma percepçaã o justa ou completa da responsabilidade. Tudo isto eé
perfeito e belo.
"Se algueé m quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conheceraé se ela eé de
Deus" (Jo 7:17). ÊÉ necessaé rio que, por meio do poder da morte e ressurreiçaã o, estejamos fora
do Êgito. ÊÉ quando ocupamos o nosso lugar, pela feé , nesses aé trios gloriosos em que o sangue
precioso de Cristo nos introduz; quando podemos olhar em redor de noé s e contemplar os
resultados maravilhosos do amor que nos resgatou; quando contemplamos atentamente
Ãquele que nos trouxe para este lugar e nos deu todas estas riquezas, que somos
constrangidos a exclamar, como um dos nossos poetas exclamou:

"Fora-me dado todo o domíénio da natureza,


Seria uma oferta pequena demais; Ãmor taã o sublime, taã o divino,
Que pede o meu coraçaã o, a minha vida, todo o meu ser."

"Nem uma unha ficaraé ". Que nobres palavras! O Êgito naã o eé o lugar proé prio para
guardar coisa alguma que pertença aos remidos do SÊNHOR. Deus eé digno de tudo: "alma, corpo
e espíérito" — tudo que somos e tudo quanto temos pertencem-Lhe:"...naã o somos de noé s
mesmos", porque "fomos comprados por bom preço" (I Co 6:19, 29) e eé nosso grande
privileé gio consagrarmo-nos com tudo quanto temos ÃÀ quele a Quem pertencemos e a cuj o
serviço fomos chamados. Nada se veê aqui do espíérito legalista. Ãs palavras "ateé que cheguemos
laé " saã o a salvaguarda divina contra este mal horríével. Noé s fizemos a caminhada de "treê s dias"
antes que pudesse ser ouvida ou compreendida uma soé palavra quanto ao sacrifíécio. Êstamos
de posse plena e indiscutíével da vida de ressurreiçaã o e da justiça eterna. Deixaé mos a terra da
morte e das trevas; fomos trazidos a Deus Mesmo, de forma que podemos possuíé-Lo no poder
dessa vida com que fomos dotados e nessa esfera de justiça na qual fomos colocados: servir eé ,
pois, todo o nosso gozo. Naã o existe em nosso coraçaã o um soé af eto do qual Êle naã o seja digno;
naã ohaé emtodo o Seu rebanho uma víétima que seja preciosa demais para ser imolada no Seu
altar. Quanto mais perto andarmos d'Êle, tanto melhor compreenderemos que a nossa comida
e a nossa bebida eé fazer a Sua santa vontade. O crente considera como seu maior privileé gio o
de servir ao Senhor, e deleita-se em todo o exercíécio e em toda a manifestaçaã o da natureza
divina. Naã o caminha carregando com um peso insuportaé vel aà s costas ou um jugo incoé modo ao
pescoço. O jugo foi "despedaçado por causa da unçaã o" (Is 10:27); o fardo foi tirado para
sempre pelo sangue da cruz, e ele avança "resgatado" "regenerador" e "desembaraçado" em
conformidade com estas palavras consoladoras: "DÊIXÃ IR O MÊU POVO".

A Ultima Praga
"Ê o SÊNHOR disse a Moiseé s: Ãinda uma praga trarei sobre Faraoé e sobre o Êgito; depois,
vos deixaraé ir daqui; e quando vos deixar ir totalmente, a toda a pressa vos lançaraé
daqui"(capíétulo 11:1). Ãinda mais um golpe duro deve cair sobre este monarca de coraçaã o
endurecido e sobre o seu povo, antes de ser obrigado a deixar ir o povo favorecido pela graça
soberana de Deus.

O Coração Endurecido de Faraó


Quaã o inué til eé que o homem se endureça e se exalte contra Deus; porque certamente Êle
pode reduzir a poé o coraçaã o mais endurecido e abater o espíérito mais altivo. Deus "pode
humilhar aos que andam na soberba" (Dn 4:37). O homem pode presumir ser alguma coisa:
pode levantar ao alto a sua cabeça em pompa e vaã gloé ria como se fosse senhor de si proé prio.
Homem vaã o! Quaã o pouco conhece o seu verdadeiro estado e o seu caraé ter! Naã o eé mais que um
instrumento de Satanaé s, usado por ele nos seus esforços perversos para impedir os propoé sitos
de Deus. Ã inteligeê ncia mais brilhante, o geé nio mais elevado, a energia mais indomaé vel, naã o
saã o mais que outros tantos instrumentos nas maã os de Satanaé s para executar os seus planos
tenebrosos, a menos que estejam postos sob o controle imediato do Êspíérito de Deus.
Ningueé m eé senhor de si proé prio: ou haé -de ser governado por Cristo ou por Satanaé s. O rei do
Êgito podia conside-rar-se um ente livre; e contudo naã o era mais que um instrumento nas
maã os de outrem. Satanaé s estava atraé s do trono; e, como resultado de Faraoé se ter disposto a
resistir aos propoé sitos de Deus, foi entregue judicialmente aà influeê ncia endurecedora e cega do
senhor da sua escolha.
Isto explica uma expressaã o que lemos frequentemente nos primeiros capíétulos deste
livro: "Poreé m, o SÊNHOR endureceu o coraçaã o de Faraoé ." Naã o seria proveitoso para ningueé m
procurar esquivar-se ao sentido claro desta soleníéssima declaraçaã o. Se o homem rejeita a luz
do testemunho divino, eé entregue aà cegueira judicial e ao endurecimento de coraçaã o. Deus
abandona-o a si proé prio; e entaã o Satanaé s, apoderando-se dele, precipita-o na perdiçaã o. Houve
bastante luz para mostrar a Faraoé a sua loucura extravagante em procurar reter aqueles que
Deus lhe havia ordenado que deixasse ir. Poreé m a verdadeira disposiçaã o do seu coraçaã o era de
opor-se a Deus, e, portanto, Deus abandonou-o a si mesmo, e fez dele um monumento para
manifestaçaã o da sua gloé ria "em toda a terra". Isto naã o encerra nenhuma dificuldade, salvo para
aqueles que desejam arguir com Deus — quese"embravecemcontraoTodo-Poderoso" (Joé
15:25), para ruíéna das suas almas imortais.
Deus daé aà s vezes aos homens aquilo que estaé de acordo com a verdadeira inclinaçaã o
dos seus coraçoã es:".. .por isso, Deus lhes enviaraé a operaçaã o do erro, para que creiam na
mentira, para que sejam julgados todos os que naã o creram a verdade; antes tiveram prazer na
iniquidade" (2 Ts 2:11-12). Se os homens rejeitam a verdade quando lhes eé apresentada, teraã o,
certamente, a mentira; se naã o querem Cristo, teraã o Satanaé s; se menosprezam o ceé u, teraã o o
inferno (¹). O Êspíérito increé dulo teraé alguma coisa que responder a istcr Ãntes de o fazer deve
certificar-se de que aqueles que saã o assim tratados judicialmente obram inteiramente
debaixoda sua responsabilidade.
Por exemplo, no caso de Faraoé , ele agiu, ateé certo ponto, segundo a luz que possuíéa.
Ãcontece o mesmo em todos os demais casos. O dever de prova recai, incontestavelmente,
sobre aqueles que estaã o dispostos a argumentar com Deus acerca dos Seus j uíézos contra os
que desprezam a verdade. O mais simples filho de Deus justificaraé a Deus em face das mais
inescrutaé veis dispensaçoã es; e, ainda que naã o possa responder satisfatoriamente a todas as
perguntas difíéceis da incredulidade, acha descanso perfeito nestas palavras: "Naã o faria justiça
o Juiz de toda a terral" (Gn 18:25). Êxiste muito mais sabedoria nesta forma de resolver uma
dificuldade aparente do que nos argumentos mais complicados; porque, certamente, um cora-
çaã o que estaé disposto a "replicar" a Deus (Rm 9:20) naã o seraé convencido pelos argumentos do
homem.
Contudo, eé uma das prerrogativas de Deus responder a todos os argumentos
orgulhosos do homem e abater as ideias altivas do espíérito humano. O Senhor pode imprimir a
sentença de morte sobre toda a natureza, ateé nas suas formas mais belas. "Ãos homens estaé
ordenado morrerem uma vez" (Hb 9:27). Ningueé m pode escapar a esta sentença.
O homem pode procurar encobrir a sua humilhaçaã o por vaé rios meios e ocultar a sua
retirada atraveé s do vale da sombra da morte da maneira mais heroé ica; dando os tíétulos mais
honrosos que possa imaginar-se aos seus ué ltimos dias; dourando com falsos esplendores o seu
leito de morte; decorando o preé stito fué nebre e a sepultura com apareê ncia de pompa, de
aparato e de gloé ria; levantando sobre os restos corrompidos um monumento espleê ndido,
sobre o qual saã o escritos os anais da vergonha humana; tudo isto o homem pode fazer; mas a
morte eé morte, afinal, e ele naã o pode retardaé -la nem um soé momento, nem tampouco
transformaé -la noutra coisa aleé m do que ela realmente eé , a saber: "o salaé rio do pecado" (Rm
6:23).

_______________________
(¹) Exige uma grande diferença entre o método divino de tratar com os gentios e os rejeitadores do
evangelho. Quanto aos primeiros, lemos: "E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus
os entregou a um sentimento perverso" (Rm 1:28): mas acerca dos últimos, está escrito, "...porque não receberam o
amor daverdadepara se salvarem... Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que
sejam julgados todos..." (2 Ts 2:10-12). Os gentios rejeitaram o testemunho da criação, e são, portanto, entregues a si
próprios. Os rejeitadores do evangelho recusam o brilho pleno da luz que refulge da cruz, e, portanto, Deus enviar-
lhes-á em breve a "operação do erro". Tudo isto é profundamente solene nestes dias em que há tanta luz e tanta
profissão religiosa.

Juízo dos Primogénitos do Egito


Êstes pensamentos saã o-nos sugeridos pelos primeiros versíéculos do capíétulo 11: "Ãinda
uma praga trarei!" Palavras solenes! Êstas poã em o selo da sentença de morte pronunciada
contra os primogeé nitos do Êgito: "as primíécias de todas as suas forças"(Sl 105:36). "Disse mais
Moiseé s: Ãssim o SÊNHOR tem dito: Ãmeia-noite eu sairei pelo meio do Êgito; e todo
primogeé nito na terra do Êgito morreraé , desde o primogeé nito de Faraoé , que se assenta com ele
sobre o seu trono, ateé ao primogeé nito da serva que estaé detraé s da moé , e todo o primogeé nito
dos animais. Ê haveraé grande clamor em toda a terra do Êgito, qual nunca houve semelhante e
nunca haveraé " (versíéculos 4 a 6). Êsta devia ser a ué ltima praga—morte em todas as casas. "Mas
contra todos os filhos de Israel nem ainda um caã o moveraé a sua líéngua, desde os homens ateé
aos animais, para que saibais que o SÊNHOR fez diferença entre os egíépcios e os israelitas"
(versíéculo 7). Soé o Senhor pode fazer diferença entre certo, sim!
Naã o nos compete a noé s dizer a algueé m: "Retira-te e naã o te chegues a mim, que sou mais
santo do que tu" (Is 65:5): esta eé a linguagem proé pria de um fariseu. Poreé m, quando Deus faz
diferença, somos forçados a indagar em que consiste essa diferença, e, no caso presente, vemos
que se tratava de uma simples questaã o de vida ou morte. Êis aqui a grande diferença que Deus
faz. Êle traça uma linha de demarcaçaã o: de um dos lados desta linha estaé "a vida", do outro "a
morte". Muitos dos primogeé nitos do Êgito podiam ser taã o formosos e ter os mesmos atrativos
como os de Israel, e talvez mais: poreé m Israel tinha vida e luz, com base nos desíégnios do amor
de um Deus redentor, e estabelecidos firmemente, como veremos, pelo sangue do Cordeiro.
Êsta era a posiçaã o ditosa de Israel; enquanto que, por outro lado, em toda a extensaã o do
paíés do Êgito, desde o monarca assentado no trono aà serva ocupada em moer, nada mais se via
senaã o morte; e soé se ouvia o brado de angué stia arrancado pelo golpe terríével da vara de Deus.
Deus pode abater o espíérito altivo do homem. Êle pode fazer com que a coé lera do homem
redunde em Seu louvor, e restringir o restante dessa coé lera (SI 76:10). "Êntaã o, todos estes teus
servos desceraã o a mim e se inclinaraã o diante de mim, dizendo: Sai tu e todo o povo que te
segue as pisadas; e depois eu sairei" (capíétulo 11:8). Deus cumpriraé os Seus propoé sitos. ÊÉ
mister que os Seus desíégnios de misericoé rdia sejam cumpridos a todo o custo; e a confusaã o de
rosto seraé a parte de todos aqueles que se Lhe opoã em. "Louvai ao SÊNHOR, porque ele eé bom;
porque a sua benignidade eé para sempre... Que feriu o Êgito nos seus primogeé nitos; porque a
sua benignidade eé para sempre. Com maã o forte, e com braço estendido; porque a sua
benignidade eé para sempre" (Sl 136:1,10,12).

— CÃPIÉTULO 12 —

A PÁSCOA
O Princípio dos Meses
"Ê falou o SÊNHORa Moiseé s e a Ãraã o na terra do Êgito, dizendo: Êste mesmo meê s vos
seraé o princíépio dos meses; este vos seraé o primeiro dos meses do ano" (capíétulo 12:1-2). Êis
aqui uma alteraçaã o muito importante na ordem de contar o tempo. O ano comum ou civil
seguia o seu curso ordinaé rio, quando o Senhor o interrompeu por causa do Seu povo, e assim,
em princíépio, ensinou-lhes que deviam começar uma nova era em Sua companhia. Ã histoé ria
anterior de Israel naã o devia ser doravante tomada em conta. Ã redençaã o tinha de constituir o
primeiro passo na vida real.
Isto ensina-nos uma verdade bem simples. Ã vida do homem naã o eé realmente de
interesse ateé que ele comece a andar com Deus no conhecimento de uma salvaçaã o perfeita e
de uma paz estaé vel, pelo sangue precioso do Cordeiro de Deus. Ãntes disto, segundo o j uíézo de
Deus e a expressaã o das Êscrituras, ele estaé "morto em ofensas e pecados" e "alienado da vida
de Deus" (Êf 2:1; 4:18). Toda a sua histoé ria naã o eé mais que um espaço vazio, ainda que, na
opiniaã o do homem, haja sido uma cena de ruidosa atividade. Tudo aquilo que desperta a
atençaã o do homem deste mundo, as honras, as riquezas, os prazeres, os atrativos da vida,
assim chamados, todas estas coisas, quando examinadas aà luz do juíézo de Deus e pesadas na
balança do santuaé rio, naã o saã o mais que um vazio horríével, um espaço inué til, indigno de ocupar
um lugar nos registos do Êspíérito Santo. "Ãquelequenaã ocreê no Filho naã overaé a vida" Qo 3:36).
Os homens falam de gozar a vida quando se lançam ao mundo, quando viajam de um lado para
o outro, para ver tudo que eé digno de se ver; poreé m esquecem que o ué nico meio verdadeiro,
real e divino de "ver a vida" eé "crer no filho de Deus".
Como os homens pensam taã o pouco nisto! Julgam que a verdadeira vida acaba quando
um homem se torna cristaã o, real e verdadeiro e naã o apenas de nome e profissaã o exterior; ao
passo que a palavra de Deus nos ensina que eé entaã o que podemos ver a vida e experimentar
verdadeira felicidade. "Quem tem o Filho tem a vida" (1JO5:12).Ê "Bem-aventurado aquele cuja
transgressaã o eé perdoada e cu jo pecado eé coberto" (Sl 32:1). Somente em Cristo podemos ter
vida e felicidade. Fora d'Êle tudo eé morte e miseé ria, segundo o juíézo do ceé u, sejam quais forem
as apareê ncias. ÊÉ quando o veé u espesso da incredulidade eé tirado do coraçaã o, e nos eé dado ver,
com os olhos da feé , o Cordeiro de Deus carregando o nosso fardo pesado de culpa sobre a cruz,
que entramos na senda da vida e participamos do caé lice da felicidade divina—vida que
principia na cruz e corre para uma eternidade de gloé ria —, uma felicidade que, cada dia se
torna mais profunda e mais pura, mais relacionada com Deus e repousando melhor em Cristo,
ateé chegarmos aà sua proé pria esfera, na presença de Deus e do Cordeiro. Buscar a vida e a
felicidade por outros meios eé um trabalho muito mais penoso do que fazer tijolos sem palha.
Por certo, o inimigo das almas daé brilho a esta cena passageira, para fazer crer aos
homens que ela eé toda de ouro.
Êle sabe como levantar mais de uma representaçaã o de fantoches com o fim de provocar
o riso falso de uma multidaã o descuidada, que naã o sabe que eé Satanaé s quem move os
cordelinhos e que eé seu objetivo conservar as almas afastadas de Cristo para as arrastar para a
perdiçaã o. Naã o existe nada verdadeiro, nada soé lido, nada que satisfaça a alma, senaã o em Cristo.
Sem Êle "tudo eé vaidade e afliçaã o de espíérito" (Êc 2:17). Soé n'Êle se encontram os gozos
verdadeiros e ternos; e por isso eé soé quando começamos a viver n'Ele, d'Ele, com Ele e para Ele
que começamos verdadeiramente a viver: "Êste mesmo meê s vos seraé o princíépio dos meses;
este vos seraé o primeiro dos meses do ano". O tempo passado nos fornos de tijolo e junto das
panelas de carne eé como se naã o tivesse existido. Deve, doravante, ser uma coisa sem
importaê ncia, salvo que a sua recordaçaã o deve, de vez em quando, servir para despertar o seu
sentido daquilo que a graça divina havia realizado em seu favor.

O Cordeiro Guardado
"Falai a toda a congregaçaã o de Israel, dizendo: Ãos dez deste meê s, tome cada um para si
um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada casa... O cordeiro, ou cabrito,
seraé , sem maé cula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras, e o
guardareis ateé ao deé cimo quarto dia deste meê s, e todo o ajuntamento da congregaçaã o de Israel
o sacrificaraé aà tarde" (versíéculos 3 a 6). Êis aqui a redençaã o do povo de Israel baseada sobre o
sangue do cordeiro segundo o desíégnio eterno de Deus. Isto daé aà redençaã o toda a sua
estabilidade divina.
à redençaã o naã o foi o resultado de um segundo pensamento de Deus. Ãntes que o
mundo existisse, ou Satanaé s, ou o pecado; antes que a voz de Deus houvesse interrompido o
sileê ncio de eternidade e chamado os mundos aà existeê ncia, Êle tinha os seus grandes desíégnios
de amor, e estes desíégnios naã o podiam achar jamais um fundamento suficientemente soé lido na
criaçaã o. Todos os privileé gios, todas as beê nçaã os e as gloé rias da criaçaã o repousavam sobre a
obedieê ncia de uma criatura, e, no proé prio momento em que esta caiu, tudo foi perdido. Poreé m,
a tentativa de Satanaé s de corromper a criaçaã o apenas serviu para abrir o caminho aà
manifestaçaã o dos propoé sitos profundos de Deus quanto aà redençaã o.
Êsta maravilhosa verdade eé -nos apresentada em figura debaixo do fato que o cordeiro
devia ser guardado desde o dia dez "ateé ao deé cimo quarto dia". Êste cordeiro era
indiscutivelmente uma figura de Cristo, como nos ensina, sem dué vida, a passagem da
ICoríéntios 5:7: "Porque Cristo, nossa paé scoa, foi sacrificado por noé s". Na primeira epíéstola de
Pedro faz-se alusaã o aà guarda do cordeiro durante estes quatro dias:
"Sabendo que naã o foi com cosias corruptíéveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vaã maneira de viver, que por tradiçaã o recebestes do vossos pais, mas com
o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual na
verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado
nestes últimos tempos; por amor de vós" (versíéculos 18-20).
Todos os desíégnios de Deus, desde toda a eternidade, tinham relaçaã o com Cristo; e
nenhum esforço de inimigo podia interferir com esses desíégnios: antes pelo contraé rio, esses
esforços apenas contribuíéram para a manifestaçaã o e a estabilidade inabalaé vel da sabedoria
insondaé vel de Deus. Se "o Cordeiro imaculado e incontaminado" foi "conhecido antes da
fundaçaã o do mundo", certamente que a redençaã o devia estar no pensamento de Deus antes da
fundaçaã o do mundo. O bendito Senhor naã o teve que improvisar um plano para remediar o
terríével mal que o inimigo havia introduzido na criaçaã o. Naã o, Êle apenas teve que tirar do
tesouro inexplorado dos Seus maravilhosos desíégnios a verdade quanto ao Cordeiro
imaculado, conhecido desde a eternidade, e que devia ser "manifestado nestes ué ltimos tempos
por amor de noé s".
Quando a criaçaã o saiu das maã os do Criador, mostrando em cada fase e em cada parte a
obra admiraé vel da Sua maã o—provas infalíéveis do seu eterno poder, e da sua divindade veja
(Rm 1:20) —, naã o houve necessidade do sangue do Cordeiro. Poreé m, quando "por um homem
entrou o pecado no mundo", foi revelado o pensamento mais alto, mais rico, mais profundo,
mais pleno da redençaã o pelo sangue do Cordeiro. Êsta verdade gloriosa apareceu
primeiramente atraveé s da nuvem espessa que rodeava os nossos primeiros pais, quando
saíéram do j ardim doÊÉ den;asualuz começou a brilhar nas figuras e sombras da dispensaçaã o
moisaica; e, por fim, resplandeceu sobre o mundo com todo o seu esplendor, quando "o
Oriente do alto nos visitou" na Pessoa do Deus manifestado em carne (1 Tm 3:16); e os seus
ricos e gloriosos resultados seraã o realizados quando aquela grande multidaã o vestida de
branco, e tendo palmas em suas maã os, se reunir em torno do trono de Deus e do Cordeiro, e
toda a criaçaã o descansar sob o cetro de paz do Filho de Davi.
Ãssim, o cordeiro tomado no dia dez e guardado ateé ao dia catorze mostra-nos Cristo
conhecido de Deus, desde a eternidade, poreé m manifestado na plenitude dos tempos por amor
de noé s. O desíégnio eterno de Deus em Cristo vem a ser o fundamento da paz do crente. Nada
menos do que isto seria suficiente. Somos reconduzidos muito para laé da criaçaã o, para laé dos
limites do tempo, aleé m da entrada do pecado e de tudo que pudesse possivelmente af etar o
fundamento da nossa paz. Ãexpressaã o "conhecido antes da fundaçaã o do mundo" faz-nos
retroceder aà s profundidades insondaé veis da eternidade, e mostra-nos Deus fazendo os Seus
proé prios planos de amor redentor e baseando-os sobre o sangue expiador do Seu precioso
Cordeiro imaculado.
Cristo foi sempre o pensamento primaé rio de Deus, e por isso, logo que começa a falar
ou atuar, Êle aproveita a ocasiaã o para manifestar Ãquele que ocupava o lugar mais elevado em
Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiraçaã o divina, descobrimos que cada
cerimoé nia, cada rito, cada ordenaçaã o, e cada sacrifíécio indicava "o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo" (Jo 1:29); poreé m em nenhum de uma forma taã o evidente como a Paé scoa. O
cordeiro da paé scoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais
interessantes e instrutivas das Êscrituras.

O Cordeiro Imolado
Na interpretaçaã o deste capíétulo 12 de ÊÊ xodo temos que tratar com unta assembleia e
um sacrifíécio eé : "todo o ajuntamento da congregaçaã o de Israel o sacrificaraé aà tarde" (versíéculo
6). Naã o se trata tanto de um nué mero de famíélias e alguns cordeiros (o que por certo eé muito
verdade) como de uma assembleia e um cordeiro. Cada famíélia era a expressaã o local de toda a
assembleia reunida em torno do cordeiro. O antíétipo deste ato teê mo-lo em toda a Igreja de
Deus reunida pelo Êspíérito Santo em nome do Senhor Jesus, da qual cada assembleia em
particular, onde quer que se reué na, deve ser a expressaã o local.

O Sangue sobre as Ombreiras e na Verga das Casas


"Ê tomaraã o do sangue e poê -lo-aã o em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas
em que o comerem. Ê naquela noite comeraã o a carne assada no fogo, com paã es asmos; com
ervas amargosas a comeraã o.
Naã o comereis dele nada cru, nem cozido em aé gua, senaã o assado ao fogo; a cabeça com
os peé s e com a fressura" (versíéculos 7 -9).
O cordeiro da paé scoa eé -nos apresentado sob dois aspectos, a saber: como fundamento
da paz e como centro de unidade. O sangue na verga das portas assegurava a paz de Israel:
"...vendo eu sangue, passarei por cima de voé s" (versíéculo 13). Nada mais era necessaé rio, senaã o
a aspersaã o do sangue, para se desfrutar paz em relaçaã o com o anj o destruidor. Ã morte devia
fazer a sua obra em todas as casas do Êgito. "Ãos homens estaé ordenado morrerem uma vez"
(Hb 9:27). Poreé m, Deus, em Sua grande misericoé rdia, encontrou um substituto imaculado para
Israel, sobre o qual foi executada a sentença de morte. Ãssim, as exigeê ncias de Deus e a
necessidade de Israel foram cumpridas por uma e mesma coisa, a saber: o sangue do cordeiro.
O sangue fora das portas era prova de que tudo estava perfeita e divinamente arrumado; e,
portanto, dentro reinava perfeita paz. Uma sombra de dué vida no coraçaã o dum israelita teria
sido uma desonra para o fundamento divino da paz—o sangue da expiaçaã o.
ÊÉ verdade que cada um daqueles que se achavam dentro de casa, em cuja porta o
sangue havia sido posto, deveria sentir, necessariamente, que se tivesse de receber a justa
retribuiçaã o dos seus pecados, a espada do anjo destruidor cairia irremediavelmente sobre si;
poreé m o cordeiro havia sofrido em seu lugar. Êste era o fundamento soé lido da sua paz. O juíézo
que lhe competia caíéra sobre uma víétima designada por Deus e, crendo isto, podia comer em
paz dentro de casa. Uma dué vida sequer teria feito do Senhor mentiroso; pois Êle havia dito:
"vendo eu sangue,passarei por cima de voé s". Isto era suficiente. Naã o era uma questaã o de
meé rito pessoal. O ego nada tinha a ver com o assunto. Todos os que se achavam protegidos
pelo sangue estavam salvos. Naã o estavam apenas num estado de salvos, mas salvos. Naã o
esperavam nem oravam para ser salvos, sabiam que isso era um fato assegurado, em virtude
da autoridade daquela palavra que permaneceraé de geraçaã o em geraçaã o. Demais, naã o se
achavam em parte salvos e em parte expostos ao juíézo: estavam completamente salvos. O
sangue do cordeiro e a palavra do senhor constituíéam o fundamento da paz de Israel naquela
noite terríével em que os primogeé nitos do Êgito foram abatidos. Se um simples cabelo da
cabeça de um israelita pudesse ser tocado, isso teria anulado a palavra do Senhor e declarado
nulo o sangue do cordeiro. ÊÉ da maé xima importaê ncia ter-se um conhecimento claro daquilo
que constitui o fundamento da paz do crente na presença de Deus. Saã o associadas tantas
coisas aà obra consumada de Cristo, que as almas se veê em envolvidas na confusaã o e incerteza
quanto aà sua aceitaçaã o. Naã o discernem o caraé ter absoluto da redençaã o pelo sangue de Cristo
na sua aplicaçaã o a si mesmas. Parece que ignoram que o perdaã o dos seus pecados descansa
sobre o simples fato de se ter efetuado perfeita expiaçaã o: um fato comprovado, aà vista de todos
os entes inteligentes criados, pela ressurreiçaã o de entre os mortos do Substituto do pecador.
Sabem que naã o existe outro meio de salvaçaã o senaã o pelo sangue da cruz, poreé m demoé nios
sabem isto tambeé m, e de nada lhes aproveita. O que necessitamos saber eé que estamos salvos.
O israelita sabia naã o somente que havia segurança no sangue, mas que estava em segurança. Ê
em segurança porqueê £ Êra devido a alguma coisa que havia feito, ou sentido, ou pensado 1?-De
modo nenhum; mas, sim porque Deus havia dito: "vendo eu sangue passarei por cima de voé s".
O israelita descansava sobre o testemunho de Deus; acreditava naquilo que Deus havia dito,
porque Deus o havia dito: "esse confirmou que Deus eé verdadeiro."

"Vendo Eu Sangue..."
Note-se que o israelita naã o descansa sobre os seus proé prios pensamentos, nos seus
sentimentos ou na sua experieê ncia, a respeito do sangue. Isto teria sido descansar sobre um
fundamento fraco e movediço. Os seus pensamentos e os seus sentimentos podiam
serprofundos ou superficiais: mas, quer fossem profundos, quer superficiais, nada tinham que
ver com o fundamento da sua paz. Deus naã o havia dito: "vendo vós o sangue, e avaliando-o
como ele deve ser avaliado, eu passarei por cima de voé s" .Isto teria bastado para lançar um
israelita em profundo desespero quanto a si proé prio, visto que eé impossíével para o espíérito
humano apreciar o valor do precioso sangue do Cordeiro de Deus. O que dava paz era a
certeza de que os olhos do Senhor estavam postos sobre o sangue, e que Êle apreciava o seu
valor. Isto tranquilizava o coraçaã o. O sangue estava de fora da porta, e o israelita encontrava-se
dentro de casa, de modo que naã o podia ver aquele sangue; mas Deus o via, e isso era
perfeitamente suficiente.
à aplicaçaã o deste fato aà questaã o da paz do pecador eé bem clara. O Senhor Jesus Cristo,
havendo derramado o Seu precioso sangue, em expiaçaã o perfeita pelo pecado, levou esse
sangue aà presença de Deus, e fez ali aspersaã o dele; e o testemunho de Deus assegura o crente
de que as coisas estaã o liquidadas a seu favor—liquidadas, naã o pelo apreço que ele daé ao
sangue, mas, sim, pelo proé prio sangue, que tem um taã o grande valor para Deus, que, por causa
desse sangue, sem mais um jota ou um til, Êle pode perdoar com justiça todo o pecado e
aceitar o pecador como um ser perfeitamente justo em Cristo. Como poderia algueé m desfrutar
paz segura se a sua paz dependesse da sua apreciaçaã o do sangue?- Seria impossíével! Ã me lhor
apreciaçaã o que o espíérito humano possa tomar do sangue estaraé sempre infinitamente abaixo
do seu valor divino; e, portanto, se a nossa paz dependesse da apreciaçaã o que lhe devíéamos
dar, noé s jamais poderíéamos gozar de uma paz segura, e seria o mesmo que se a buscaé ssemos
pelas obras da lei (Rm 9:32; Gl 2:16; 3:10). O fundamento de paz ou haé de ser somente o
sangue, ou entaã o nunca teremos paz. Juntar-lhe o valor que noé s lhe damos, eé derrubar todo o
edifíécio do cristianismo, precisamente como se conduzíéssemos o pecador ao peé do monte Sinai
e o puseé ssemos debaixo do concerto da lei. Ou o sacrifíécio de Cristo eé suficiente ou naã o eé . Se eé
suficiente, por que essas dué vidas e temores 1?- Ãs palavras dos nossos lábios confessam que a
obra estaé cumprida, mas as dué vidas e temores do coração declaram que naã o. Todo aquele que
duvida do seu perdaã o perfeito e eterno, nega, tanto quanto lhe diz respeito, o cumprimento do
sacrifíécio de Cristo.
Haé muitas pessoas que fogem da ideia de poê r em dué vida deliberada e abertamente a
eficaé cia do sangue de Cristo, mas que, todavia, naã o teê m uma paz segura. Êstas pessoas dizem
estar completamente convencidas da suficieê ncia do sangue de Cristo, desde que possam estar
certas de ter parte nele — desde que possam ter a verdadeira feé . Haé muitas almas preciosas
nesta infeliz condiçaã o. Ocupam-se mais da sua feé e dos seus interesses do que com o sangue de
Cristo e a palavra de Deus. Por outras palavras, olham para o seu íéntimo, em vez de olharem
para Cristo. Isto naã o eé o procedimento da feé , e, por conseguinte, carecem de paz. O israelita
protegido pela umbreira da porta manchada de sangue podia dar a estas almas uma liçaã o
muito apropriada — naã o fora salvo pelo interesse que tinha no sangue nem pelos seus
pensamentos acerca dele, mas simplesmente pelo proé prio sangue. Sem dué vida, ele tinha uma
parte bem-aventu-rada no sangue; assim como os seus pensamentos tambeé m estavam postos
nele; poreé m, Deus naã o havia dito: "Vendo eu o vosso apreço pelo sangue passarei por cima de
voé s". Ãh! naã o; o SÃNGUÊ, com o seu meé rito exclusivo e eficaé cia divina estava posto perante
Israel; e se eles tivessem tentado poê r soé que fosse um bocado de paã o asmo ao lado do sangue,
como base de segurança, teriam feito do Senhor mentiroso e negado a suficieê ncia do Seu
remeé dio.

O Sangue de Cristo: o Fundamento da Paz do Crente


à nossa inclinaçaã o natural eé buscarmos em noé s ou nas coisas alguma coisa que possa
constituir, junto com o sangue de Cristo, o fundamento da nossa paz. Êxiste uma falta
lamentaé vel de compreensaã o e clareza sobre este ponto vital, como se verifica pelas dué vidas e
receios com que muitos do povo de Deus saã o afligidos. Somos inclinados a pensar nos frutos
do Êspíérito em noé s, em vez de pensarmos na obra de Cristo por noé s, como fundamento da
nossa paz.
Vamos ver agora o lugar que ocupa a obra do Êspíérito Santo na cristandade; poreé m,
esta obra nunca eé apresentada nas Êscrituras como sendo a base em que assenta a nossa paz.
O Êspíérito Santo naã o fez a paz, mas Cristo. Naã o eé dito que o Êspíérito seja a nossa paz, mas sim
Cristo. Deus naã o mandou anunciar a paz pelo Êspíérito Santo, mas por Jesus Cristo (comparem-
se Ãt 10:36; Êf 2:14,17; Cl 1:20). Jamais poderemos compreender com demasiada nitidez esta
diferença importante. Ê soé pelo sangue de Cristo que obtemos a paz, justificaçaã o perfeita e
justiça divina; ele purifica a nossa conscieê ncia, introduz-nos no lugar santíéssimo, faz com que
Deus seja justificado recebendo o pecador contrito, e daé -nos o direito a todos os gozos, todas
as honras e todas as gloé rias do ceé u (veja-se Rm 3:24 -26; Êf 2:13-18; Cl l:20a22;Hb 9:14;
10:19; IPe 1:19; 2:24;1 Jo l:7; Ãp7:14-17).
Ão procurar poê r "o precioso sangue de Cristo" no seu lugar divinamente marcado,
espero sinceramente que ningueé m suponha que pretendo escrever uma soé palavra que possa
menosprezar a importaê ncia da obra do Êspíérito Santo. Deus me livre disso! O Êspíérito Santo
revela-nos Cristo, faz-nos conheceê -Lo, permite-nos alegrarmo-nos e alimentarmo-nos d'Êle; eé
o Êspíérito Quem toma das decisoã es de Cristo e no-las mostra. O Êspíérito eé o poder de
comunhaã o, o selo, a testemunha, a garantia, e a unçaã o. Êm resumo; todas as benditas
operaçoã es do Êspíérito saã o absolutamente essenciais. Sem Êle naã o podemos ver, saber, nem
ouvir, nem sentir, nem experimentar, nem gozar, nem manifestar nada de Cristo. Tudo isto eé
bem claro. Ã doutrina das operaçoã es do Êspíérito eé claramente exposta nas Êscrituras, e eé
recebida e compreendida por todo o crente fiel e bem esclarecido.
Todavia, naã o obstante tudo isto, a obra do Êspíérito naã o eé o fundamento da paz; porque,
se o fosse, naã o poderíéamos desfrutar de uma paz segura ateé aà vinda de Cristo, visto que a obra
do Êspíérito, na Igreja, naã o terminaraé , propriamente falando, ateé entaã o. O Êspíé rito prossegue a
Sua obra no crente:".. .O mesmo Êspíérito intercede por noé s com gemidos inexprimíéveis" (Rm
8:26), e esforça-Se por nos fazer chegar aà quela estatura para a qual havemos sido chamados, a
saber: uma perfeita semelhança, em todas as coisas, aà imagem do "Filho"; Êle eé o ué nico autor
de todo o desejo bom, de toda a aspiraçaã o santa, todo afeto puro, de toda a experieê ncia divina,
e de toda a convicçaã o saã ; poreé m, eé evidente que a sua obra em noé s naã o estaraé completa antes
de termos deixado a cena presente deste mundo para tomarmos o nosso lugar com Cristo na
gloé ria. Ãssim como o servo de Ãbraaã o naã o terminou a sua missaã o a respeito de Rebeca antes
de a ter apresentado a Isaque.
Naã o sucede assim com a obra de Cristo por noé s. Êssa obra estaé absoluta e eternamente
completa. O Senhor poê de dizer: "Êu glori-fiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me
deste a fazer" (Jo 17:4). Ê logo depois: "Êstaé consumado" (Jo 19:30). Contudo o Êspíérito Santo
naã o pode dizer que tem acabado a Sua obra. Como verdadeiro vigaé rio de Cristo na terra,
continua trabalhando no meio das diversas influeê ncias adversas que rodeiam a esfera da Sua
atividade e no coraçaã o dos filhos de Deus para os fazer chegar de uma maneira praé tica e
experimental aà altura do modelo divinamente eleito. Poreé m, nunca ensina a alma a depender
da Sua obra para ter paz na presença de Deus. Ã Sua missaã o eé falar de Jesus: naã o fala de Si
Mesmo. "Êle", diz Cristo,".. .haé -de receber do que eé meu e vo-lo haé de dar" (Jo 16:14). Se,
portanto, eé somente pelo ensino do Êspíérito que algueé m pode compreender o verdadeiro
fundamento da paz, e se o Êspíérito nunca fala de Si Mesmo, eé evidente que soé pode apresentar
a obra de Cristo como o fundamento sobre o qual a alma deve descansar para sempre; ainda
assim, eé em virtude dessa obra que o Êspíérito faz a Sua morada e cumpre as Suas maravilhosas
operaçoã es no coraçaã o do crente. Êle nos revela Cristo e nos faz capazes de compreendeê -lo e
gozar dÊle.
Por isso, o cordeiro da paé scoa, como fundamento da paz de Israel, eé um tipo admiraé vel
e magníéfico de Cristo, como fundamento da paz do crente. Nada havia a acrescentar ao sangue
posto sobre a ombreira da porta; taã o-pouco nada mais haé a acrescentar ao sangue posto sobre
o propiciatoé rio. Os "paã es asmos" e as "ervas amargosas" eram coisas necessaé rias, mas naã o
como formando, no todo ou em parte, o fundamento da paz. Deviam ser usadas no interior da
casa e constituíéam os sinais caracteríésticos da comunhaã o; poreé m, O FUNDÃMÊNTO DÊTUDO
ÊRÃ O SÃNGUÊ DO CORDÊIRO. Foi ele que salvou os israelitas da morte e os introduziu numa
nova cena de vida, de luz e de paz, formando o laço de uniaã o entre Deus e o Seu povo redimido.
Como povo ligado com Deus sobre o fundamento da redençaã o cumprida, era seu alto privileé gio
serem colocados debaixo de certas responsabilidades; mas essas responsabilidades naã o
formavam o laço de uniaã o, mas eram a consequeê ncia natural dele.

A Morte de Cristo na Cruz


Desejo recordar tambeé m ao leitor que a vida de obedieê ncia de Cristo naã o eé apresentada
nas Êscrituras como meio de alcançar o nosso perdaã o. Foi a Sua morte na cruz que abriu as
comportas eternas do amor, que, de outra maneira, ficariam fechadas para sempre. Se o
Senhor Jesus continuasse ateé este proé prio momento percorrendo as cidades de Israel e
"fazendo bem" (Ãt 10:38) o veé u do templo continuaria inteiro, para impedir a entrada do
adorador na presença de Deus. Foi a Sua morte que rasgou essa misteriosa cortina "de alto
abaixo" (Mc 15:38). Foi pelas suas "pisaduras", e naã o pela Sua vida de obedieê ncia, que noé s
"fomos sarados" (Is 53:5; 1 Pe 2:24); e foi na cruz que Êle suportou essas "pisaduras", e naã o
em nenhuma outra parte. Ãs Suas proé prias palavras, pronunciadas durante o curso da Sua
vida bendita, saã o mais que suficientes para tomar este ponto claro. "Importa, poreé m, que eu
seja batizado com um certo batismo, e como me angustio ateé que venha a cumprir-se!" (Lc
12:50).
Ãque se refere esta declaraçaã o senaã o aà Sua morte na cruz como cumprimento desse
batismo que abriu uma saíéda justa atraveé s da qual o Seu amor pudesse correr livremente ateé
aos culpados filhos de Ãdaã o?- De outra vez, o Senhor diz: "Se o graã o de trigo, caindo na terra,
naã o morrer fica soé " (Jo 12:24). Êle era esse precioso "graã o de trigo"; e teria ficado para sempre
"soé ", se, apesar de haver incarnado, naã o tivesse, por meio da Sua morte sobre o madeiro,
tirado tudo aquilo que pudesse impedir a uniaã o do Seu povo Consigo na ressurreiçaã o. "Mas se
morrer, daé muito fruto."
O leitor nunca poderaé considerar com demasiada atençaã o este assunto taã o solene e taã o
importante. Êxistem nele dois pontos relativos a esta questaã o, que conveé m recordar sempre, a
saber: que naã o podia haver uniaã o possíével com Cristo senaã o na ressurreiçaã o; e que Cristo
sofreu somente na cruz pelos pecados. Naã o devemos imaginar, de modo nenhum, que Cristo
nos uniu a Si por meio da incarnaçaã o. Isto naã o era possíével. Como poderia a nossa carne
pecaminosa unir-se assim com Êle4 O corpo do pecado tinha de ser desfeito pela morte.
O pecado tinha de ser tirado, exigia-o a gloé ria de Deus; todo o poder do inimigo devia
ser abolido. Como poderia conseguir-se isto£ Somente pela submissaã o do precioso, imaculado
Cordeiro de Deus na morte da cruz. "Porque convinha que aquele, para quem saã o todas as
coisas e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos aà gloé ria, consagrasse feias aflições,
o príéncipe da salvaçaã o deles" (Hb 2:10). "...Êis que eu expulso demoé nios, e efetuocuras, hoje e
amanhaã , e no terceiro dia sou consumado" (Lc 13:32). Ãs expressoã es "consagrasse", e
"consumado" nas passagens acima mencionadas naã o se relacionam com Cristo de uma
maneira abs-trata, porquanto, como Filho de Deus, Êle era perfeito desde toda a eternidade, e
no tocante aà Sua humanidade foi de igual modo absoltamente perfeito. Contudo, como
príéncipe da nossa salvaçaã o — como Ãquele que havia de trazer muitos filhos aà gloé ria, dando
assim muito fruto —, e para associar Consigo um povo redimido, Êle teve de chegar ao
"terceiro dia" a fim de ser "consumado" ou "consagrado"; desceu sozinho ao "lago horríével, um
charco de lodo"; poreé m, poê s imediatamente os Seus "peé s sobre a rocha" da ressurreiçaã o, e
associou "muitos filhos" Consigo (SI 40:1-3); combateu sozinho na batalha; poreé m, como
vencedor poderoso, espalha aà Sua roda, em rica profusaã o, os despojos da vitoé ria, para que noé s
pudeé ssemos ajuntaé -los e desfrutar deles eternamente.
Ãleé m disso, naã o devemos considerar a cruz de Cristo como um simples incidente numa
vida de expiaçaã o pelo pecado. Ã cruz foi o grande e ué nico ato de expiaçaã o pelo pecado:
"Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (IPe 2:24). Naã o os
levou em parte alguma mais.
Naã o foi na manjedoura que os tomou sobre Si, nem no jardim do Getsemani, nem no
deserto, mas SOMÊNTÊ "SOBRÊ O MÃDÊIRO". O Senhor nada teve a ver com o pecado, salvo
na cruz; e foi ali que Êle inclinou a Sua bendita cabeça e deu a Sua preciosa vida sob o peso
acumulado dos pecados do Seu povo. Nem tampouco jamais sofreu aà s maã os de Deus, salvo na
cruz; e ali o Senhor escondeu o Seu rosto d'Êle porque O fez "pecado por noé s" (2 Co 5-.21).
Êsta seé rie de pensamentos, e as vaé rias passagens a que se faz refereê ncia, podem, talvez,
ajudar o leitor a compreender mais claramente o poder divino das palavras: "vendo eu sangue
passarei por cima de voé s". Êra absolutamente necessaé rio que o cordeiro fosse sem maé cula,
pois de contraé rio como poderia satisfazer o olhar santo do Senhor 1?- Poreé m, se o sangue naã o
tivesse sido derramado o Senhor naã o poderia ter passado por cima do Seu povo, porque" sem
derramamento de sangue naã o haé remissaã o" (Hb 9:22). Teremos outra vez ocasiaã o de meditar
sobre este assunto, se o Senhor permitir, de uma maneira mais clara e apropriada nas figuras
de Levíético. ÊÉ um assunto que requer a atençaã o profunda de todos aqueles que amam o Senhor
Jesus Cristo em sinceridade.

A Páscoa: o Centro de Comunhão


Consideremos agora o segundo aspecto da paé scoa, como centro ao redor do qual a
assembleia estava reunida em tranquila, santa e feliz comunhaã o. Israel salvo pelo sangue, era
uma coisa; e Israel alimentando-se do cordeiro, era outra muito diferente. Êstavam salvos
somente pelo sangue; poreé m o objeto em volta do qual estavam reunidos era, evidentemente, o
cordeiro assado. Êsta distinçaã o naã o eé , de modo nenhum, absurda. O sangue do Cordeiro
constitui o fundamento tanto da nossa ligaçaã o com Deus como da nossa conexaã o uns com os
outros. ÊÉ como aqueles que saã o lavados pelo sangue que somos levados a Deus e ficamos em
comunhaã o uns com os outros. Ãparte a expiaçaã o perfeita de Cristo naã o podia haver
evidentemente comunhaã o nem com Deus nem com a assembleia.
Contudo naã o devemos esquecer o fato que eé para um Cristo vivo nos ceé us que os
crentes saã o reunidos pelo Êspíérito Santo. Êstamos unidos a um Chefe vivo — fomos levados a
uma "pedra viva" (1 Pe 2:4). O Senhor eé o nosso centro. Havendo achado paz pelo Seu sangue,
noé s reconhecemos que Êle eé o nosso grande centro de reuniaã o e o laço que nos une. "Porque
onde estiverem dois ou treê s reunidos em meu nome, aíé estou eu no meio deles" (Mt 18:20). O
Êspíérito Santo eé o ué nico que promove a reuniaã o; Cristo eé o ué nico objetivo em volta do qual nos
reunimos; e a nossa assembleia, assim convocada, deve ser caracterizada pela santidade, de
maneira que o Senhor nosso Deus possa habitar entre noé s. O Êspíérito Santo soé nos pode reunir
para Cristo; naã o nos pode reunir em torno de um sistema, um nome, uma doutrina ou uma
ordenaçaã o. Êle reué ne para uma Pessoa, e essa Pessoa eé Cristo glorificado no ceé u. ÊÉ isto que
deve dar um caraé ter peculiar aà assembleia de Deus. Os homens podem associar-se sobre
qualquer base, em volta dequalquercentroou com qualquer fim que mais lhes agrade; poreé m,
quando o Êspíérito Santo promove a associaçaã o, faé -lo sobre o fundamento da redençaã o ef etu-
ada e em redor da Pessoa de Cristo, com o fim de edificar um templo santo para Deus (1 Co
3:16-17; 6:19; Êf 2:21-22; 1 Pe 2.4-5).

Como a Páscoa Deveria Ser Comida


Veremos agora em pormenor os princíépios que nos saã o apresentados na festa da
paé scoa. Ã assembleia de Israel, sob o sangue, tinha de ser organizada pelo Senhor de uma
maneira digna de Si Proé prio. Quanto aà sua segurança contra o juíézo, como vimos jaé , nada era
necessaé rio senaã o o sangue; mas quanto aà comunhaã o que resultava desta segurança eram
necessaé rias outras coisas, que naã o podiam ser descuradas com impunidade.
Ê, portanto, lemos, em primeiro lugar: "Ê naquela noite comeraã o a carne assada no
fogo, com paã es asmos; com ervas amargosas a comeraã o. Naã o comereis dele nada cru, nem
cozido em aé gua, senaã o assado ao fogo" (versíéculos 8 a 9). O cordeiro em torno do qual a
congregaçaã o estava reunida, e com o qual fazia festa, era um cordeiro assado — um cordeiro
que tinha sido submetido aà açaã o do fogo. Vemos neste pormenor "Cristo a nossa paé scoa"
expondo-Se a Si Mesmo aà açaã o do fogo da santidade e da justiça de Deus, que acharam n'Êle
um objeto perfeito. Êle poê de dizer: "Provaste o meu coraçaã o; visitaste-me de noite;
examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca naã o transgrediraé " (SI
17:3).Tudon'Êleera perfeito. O fogo provou-O e naã o havia impureza. "Ã cabeça com os peé s e
com a fressura". Quer dizer, o centro da Sua inteligeê ncia; a Sua vida exterior com tudo quanto
lhe pertencia — tudo foi submetido aà açaã o do fogo, e tudo foi achado perfeito.
à maneira como o cordeiro devia ser assado eé profundamente significativa, como o saã o
em pormenor as ordenaçoã es de Deus. Nada deve ser passado por alto, porque estaé cheio de
significaçaã o — "naã o comereis dele nada cru, nem cozido em aé gua". Se o cordeiro tivesse sido
comido assim naã o teria sido a expressaã o da grande verdade que prefigurava segundo o
propoé sito divino, isto eé : que o nosso Cordeiro da paé scoa deveria sofrer, na cruz, o fogo da justa
ira de Deus; uma verdade, aliaé s, preciosa para a alma. Naã o estamos somente sob a proteçaã o
eterna do sangue do Cordeiro, como as nossas almas se alimentam pela feé da pessoa do
Cordeiro. Muitos de noé s enganamq-nos a este respeito. Êstamos prontos a contentarmo-nos
porestarmos salvos por meio da obra que Cristo cumpriu a nosso favor sem mantermos uma
santa comunhaã o com Êle Proé prio. O Seu coraçaã o amoroso nunca poderaé contentar-se com isto.
Êle trouxe-nos para perto de Si para que pudeé ssemos apreciaé -Lo, alimentarmo-nos d'Êle e
regozijarmo-nos n'Êle. Cristo apresenta-Se perante noé s como Ãquele que sofreu o fogo intenso
da ira de Deus, a fim de ser, neste caraé ter maravilhoso de Cordeiro, alimento para as nossas
almas redimidas.

Os Pães Asmos
Mas como devia ser comido este cordeiro 1?- "...com paã es asmos; com ervas amargosas a
comeraã o". O fermento eé empregado, invariavelmente, atraveé s das Êscrituras, como síémbolo do
mal. Nunca eé usado nem no Velho nem no NovoTestamento como simbolizando alguma coisa
pura, santa ou boa. Ãssim, neste capíétulo, a celebraçaã o da festa com "paã es asmos" eé figura da
separaçaã o praé tica do mal como resultado proé prio de havermos sido lavados dos nossos peca-
dos no sangue do Cordeiro e a proé pia consequeê ncia da comunhaã o com os Seus sofrimentos.
Nada senaã o paã o perfeitamente livre de fermento podia ser compatíével com o cordeiro assado.
Uma simples partíécula daquilo que era figura destacada do mal teria destruíédo o caraé ter moral
de toda a ordenaçaã o. Como poderíéamos noé s associar qualquer espeé cie de mal como a nossa
comunhaã o com Cristo nos Seus sofrimentos?- Seria impossíével. Todos aqueles que, pelo poder
do Êspíérito Santo, teê m compreendido a significaçaã o da cruz, naã o teraã o dificuldade, pelo mesmo
poder, de afastar entre eles o fermento. "Porque Cristo, nossa paé scoa, foi sacrificado por noé s.
Peio que façamos festa, naã o com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da
malíécia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade" (1 Co 5:7-8). Ã festa de que se fala
nesta passagem eé a mesma que, na vida e conduta da Igreja, corresponde aà festa dos paã es
asmos. Êsta durava "sete dias"; e a Igreja, coletivamente, e o crente individualmente, saã o
chamados para andar em santidade praé tica, durante os sete dias, ou seja todo o tempo da sua
carreira aqui na terra; e isto, note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no
sangue, e tendo comunhaã o com os sofrimentos de Cristo.
O israelita naã o deitava fora o fermento a fim de ser salvo, mas, sim, porque estava salvo;
e se deixasse de o deitar fora, naã o comprometia com isso a sua segurança por meio do sangue,
mas simplesmente a comunhaã o com a assembleia. "Por sete dias naã o se ache nenhum
fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer paã o levedado, aquela alma seraé
cortada da congregaçaã o de Israel, assim o estrangeiro como o natural da terra" (versíéculo 19).
O corte de uma alma da congregaçaã o corresponde precisamente aà suspensaã o de um cristaã o da
comunhaã o, quando acede aà quilo que eé contraé rio aà santidade da presença de Deus. Deus naã o
pode tolerar o mal. Um simples pensamento impuro interrompe a comunhaã o da alma; e
enquanto a mancha produzida por este pensamento naã o for tirada pela confissaã o, baseada na
intercessaã o de Cristo, naã o eé possíével restabelecer a comunhaã o (vide 1 Jo 1:5 -10). O cristaã o
sincero regozija-se nisto; e daé louvores em memoé ria da santidade de Deus (SI 97:12). Ãinda
que pudesse, naã o diminuiria, nem por um momento, o estalaã o: eé seu gozo inexcedíével andar na
companhia d Ãquele que naã o andaraé nem por um momento com uma simples partíécula de
"fermento".
Graças a Deus, noé s sabemos que nada poderaé j amais partir em dois o laço que une o
verdadeiro crente com Êle. Somos salvos pelo Senhor, naã o com uma salvaçaã o temporaé ria ou
condicional, mas "com uma eterna salvaçaã o" (Is 45:17). Poreé m, salvaçaã o e comunhaã o naã o saã o a
mesma coisa. Muitas pessoas estaã o salvas, e naã o o sabem; e muitas, tambeé m, estaã osalvas sem
teremogozo da salvaçaã o. ÊÉ impossíével que eu sinta o gozo de estar sob a verga da porta
manchada de sangue, se houver fermento em minha casa. ÊÉ um axioma na vida divina. Oxalaé
fosse escrito em nossos coraçoã es! Ã santidade praé tica, embora naã o seja a base da nossa
salvaçaã o, estaé intimamente ligada com o gozo da salvaçaã o. O israelita naã o era salvo pelos paã es
asmos, mas, sim, pelo sangue; e todavia o fermento teê -lo-ia cortado da comunhaã o. Ê assim
quanto ao cristaã o, ele naã o eé salvo por sua santidade praé tica, mas pelo sangue; poreé m se se
entrega ao mal, em pensamento, por palavras, ou açoã es, naã o teraã o verdadeiro gozo da
salvaçaã o, nem verdadeira comunhaã o com a pessoa do Cordeiro.
ÊÉ nisto, sem dué vida, que estaé o segredo de uma boa parte da esterilidade espiritual e
falta de paz constante que se observa entre os filhos de Deus. Naã o praticam a santidade: naã o
guardam a festa dos "paã es asmos" (ÊÊ x 23:15). O sangue acha-se sobre as ombreiras da porta,
poreé m o fermento dentro de suas casas impede-os de gozarem a segurança que o sangue
concede. Ã permissaã o do mal destroé i a nossa comunhaã o, embora naã o quebre o laço que nos
une eternamente a Deus. Ãqueles que pertencem aà Ãssembleia de Deus devem ser santos. Naã o
somente foram libertados da culpa e das consequeê ncias do pecado, como tambeé m da sua
praé tica, do seu poder e do amor do pecado. O proé prio fato de haverem sido libertados pelo
sangue do cordeiro da paé scoa impunha aos israelitas a obrigaçaã o de deitarem fora de suas
casas o fermento. Naã o podiam dizer, segundo a linguagem terríével do antinomianismo 1, "agora
que estamos livres, podemos conduzir-nos como nos aprouver". De modo nenhum! Se haviam
sido salvos feia graça, era para andarem em santidade. Ã alma que se aproveita da liberdade da
graça divina e da redençaã o que haé em Cristo Jesus para "continuar no pecado" prova
claramente que naã o compreende nem a graça nem a redençaã o.
à graça naã o somente salva a alma com uma eterna salvaçaã o, como lhe daé uma natureza
que se deleita em tudo que pertence a Deus, porque eé divina. Noé s somos feitos participantes
da natureza divina, a qual naã o pode pecar, porque eé nascida de Deus. Ãndar na energia desta
graça eé , na realidade, "guardar" a festa dos paã es asmos. Naã o existe "fermento velho" nem
"fermento da malíécia" (1 Co 5:8) na nova natureza, porque eé nascida de Deus e Deus eé santo e
"Deus eé amor". Por isso eé evidente que naã o eé com o fim de melhorar a nossa velha natureza,
que eé irreparaé vel, nem tampouco de obtermos a nova natureza, que tiramos de noé s o mal, mas,
sim, porque temos o mal em noé s. Noé s temos a vida e, no poder desta vida, tiramos o mal. ÊÉ
somente quando estamos libertados da culpa do pecado que compreendemos ou exibimos o
verdadeiro poder da santidade. Tentar consegui-lo por qualquer outro meio eé esforço inué til. Ã
festa dos paã es asmos soé pode ser guardada sob o abrigo perfeito do sangue.
____________________
1) antinomia: contradição entre duas leis ou princípios; oposição recíproca Nota do editor.

As Ervas Amargas
Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os paã es asmos, a significaçaã o e
mesma utilidade moral. Naã o podemos desfrutar da participaçaã o dos sofrimentos de Cristo sem
recordarmos o que tornou necessaé rios esses sofrimentos, e esta recordaçaã o deve,
necessariamente, produzir um espíérito de mortificaçaã o e submissaã o, ilustrado, de um modo
apropriado, nas ervas amargosas da festa da paé scoa. Se o cordeiro assado representa Cristo
sofrendo a ira de Deus em Sua Proé pria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o
crente reconhece a verdade que Êle sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).
Por causa da leviandade dos nossos coraçoã es eé bom compreendermos a profunda
significaçaã o das ervas amargosas. Quem poderaé ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem
compreender, em alguma medida, o significado dos paã es asmos com ervas amargosas 1?- Uma
vida praticamente santa, unida a uma profunda submissaã o de alma, deve ser o fruto da
comunhaã o verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque eé de todo impossíével que o mal
moral e a leviandade de espíérito possam subsistir na presença desses sofrimentos.
Mas, pode perguntar-se naã o sente a alma um gozo profundo no conhecimento que
Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por noé s, o caé lice da ira justa de
Deus? Por certo que eé assim. Ê este o fundamento inabalaé vel de todo o nosso gozo. Mas,
poderemos noé sesquecerquefoi" por nossos pecados" que Êle sofreu £ Poderemos perder de
vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua
cabeça sob o peso das nossas transgressoã es? Certamente que naã o. Devemos comer o nosso
cordeiro com ervas amargosas; as quais, naã o se esqueça, naã o representam as laé grimas de um
sentimentalismo desprezíével e superficial, mas sim as experieê ncias profundas e verdadeiras de
uma alma que compreende com inteligeê ncia espiritual o significado e efeito praé tico da cruz.
Contemplando a cruz, descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e daé doce paz
e gozo. Poreé m, vemos que ela poã e de lado, inteiramente, tambeé m, a natureza humana—
representa a crucificaçaã o da "carne" e a morte do "homem velho" (veja-se Romanos, 6:6; Gl.
2-.20; 6:14; Cl. 2:11). Êstas verdades, nos seus resultados praé ticos, implicam muitas coisas
"amargosas" para a nossa natureza: exigem a renué ncia proé pria, a mortificaçaã o dos nossos
membros que estaã o sobre a terra (Cl 3:5), e a consideraçaã o do "homem velho" como morto
para o pecado (Rm 6). Todas estas coisas podem parecer terríéveis de encarar; poreé m, uma vez
que se haé entrado na casa cujas portas estaã o manchadas com o sangue veê em-se de uma
maneira muito diferente. Ãs mesmas ervas que, para o gosto de um egíépcio, eram, sem dué vida,
taã o amargosas, formavam uma parte integral da festa de redençaã o de Israel. Ãqueles que saã o
remidos pelo sangue do Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhaã o com Êle, consideram como
uma "festa" tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.

A Comunhão e a Paz
"Ê nada dele deixareis ateé pela manhaã ; mas o que dele ficar ateé pela manhaã , queimareis
no fogo" (versíéculo 10). Êste mandamento ensina-nos que a comunhaã o da congregaçaã o de
Israel naã o devia ser, de modo nenhum, separada do sacrifíécio sobre o qual se baseava essa
comunhaã o. O coraçaã o deve guardar sempre a lembrança viva de que toda a verdadeira
comunhaã o estaé inseparavelmente ligada com a redençaã o efe tuada. Crer que se pode ter
comunhaã o com Deus sobre qualquer outro fundamento eé imaginar que Deus pode ter comu-
nhaã o com o pecado que haé em noé s; e pensar em comunhaã o com o homem, com base em
qualquer outro fundamento, eé apenas formar uma uniaã o impura, da qual nada pode resultar
senaã o confusaã o e iniquidade. Êm suma: eé necessaé rio que tudo esteja fundamentado sobre o
sangue e inseparavelmente ligado com ele. Êste eé o significado simples da ordenaçaã o que
mandava comer o cordeiro da paé scoa na mesma noite em que o sangue havia sido derramado.
à comunhaã o naã o pode ser separada do seu fundamento.
Portanto, que belo quadro nos oferece a congregaçaã o de Israel protegida pelo sangue e
comendo em paz o cordeiro assado com paã es asmos e ervas amargosas! Nenhum temor de
juíézo, nenhum temor da ira do SÊNHOR, nenhum temor da tempestade terríével da justa
vingança, que, aà meia-noite, ia varrer, veementemente, toda a terra do Êgito! Tudo estava em
paz profunda atraé s das portas manchadas de sangue. Nada tinham a temer de fora; e nada
dentro podia perturbaé -los, salvo o fermento, que teria dado umgolpe mortal em toda a sua paz
e bem-aventurança. Que exemplo para a Igreja! Que exemplo para o cristaã o! Que Deus nos
ajude a contemplarmo-lo com um olhar iluminado e um espíérito doé cil!

O Vestido de Israel
Contudo, naã o esgotaé mos ainda o ensino desta taã o instrutiva ordenaçaã o. Consideraé mos
a posição de Israel e a comida de Israel, vamos agora falar do estado de Israel.
"Ãssim, pois, o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos peé s, e o
vosso cajado na maã o; e o comereis apressadamente; esta eé a Paé scoa do Senhor" (versíéculo 11).
Deviam comer a paé scoa como um povo que estava preparado para deixar atraé s de si o paíés da
morte e das trevas, da ira e do juíézo, e marchar em demanda da terra da promissaã o—a herança
que lhes estava reservada. O sangue que os havia preservado da sorte dos primogeé nitos do
Êgito era tambeé m o fundamento da sua libertaçaã o da escravidaã o do Êgito; e agora soé lhes
restava porem-se em marcha e andar com Deus para a terra que manava leite e mel. ÊÉ verdade
que naã o haviam ainda atravessado o Mar vermelho; tampouco haviam andado o "caminho de
treê s dias". Contudo, eram jaé , em princíépio, um povo redimido, um povo separado, um povo de
peregrinos, um povo esperançoso, um povo que dependia de Deus; e era preciso que os seus
trajos estivessem de harmonia com a sua presente condiçaã o e o destino futuro. Os lombos
cingidos indicavam uma separaçaã o rigorosa de tudo aquilo que os rodeava e mostravam que
eles eram um povo preparado para servir. Os peé s calçados mostravam que estavam prontos a
abandonar o seu estado presente; enquanto que o cajado era o emblema significativo de um
povo de peregrinos numa atitude de apoio em qualquer coisa que estava fora de si mesmos.
Que caracteríésticos preciosos! Prouvera a Deus que fossem vistos em cada membro da famíélia
dos Seus remidos.
Prezado leitor, meditemos "estas coisas (lTm 4:15). Pela graça de Deus,
experimentaé mos a eficaé cia purificadora do sangue de Jesus; neste estado eé nosso privileé gio
alimentarmo-nos da sua adoraé vel Pessoa e deleitarmo-nos nas Suas "riquezas
incompreensíéveis" (Êf 3:8), tendo parte nos Seus sofrimentos e sendo feitos "conforme aà sua
morte" (Fp 3:10). Mostremo-nos, pois, com paã es asmos e ervas amargosas, os lombos cingidos,
os sapatos nos peé s, e o cajado na maã o. Numa palavra: que sejamos notados como um povo
santo, um povo crucificado, vigilante e diligente—um povo que mancha, claramente, ao
encontro deDeus no caminho para agloé ria—, "destinado para oreino". Que Deus nos conceda
penetrar na profundidade e no poder de todas estas coisas; de forma que naã o sejam apenas
teorias, ou princíépios de conhecimento bíéblico e simples interpretaçaã o; mas, sim, realidades
vivas, divinas, conhecidas por experieê ncia e manifestadas na vida, para gloé ria de Deus.

Quem Podia Comer a Páscoa?


Terminaremos os nossos comentaé rios sobre esta parte do capíé tulo passando por alto os
versíéculos 43 a 49. Êstes versíéculos ensinam-nos que, embora fosse privileé gio de todo o
verdadeiro israelita comer a paé scoa, nenhum estrangeiro incircunciso podia participar dela.
"Nenhum filho de estrangeiro comeraé dela... toda a congregaçaã o de Israel o faraé ". Ã circuncisaã o
era necessaé ria antes que a paé scoa pudesse ser comida. Poroutras palavras: eé precisoque a
sentença de morte seja lavrada sobre a natureza antes de nos podermos nutrir de Cristo
inteligentemente, quer seja como o fundamento de paz ou o centro de uniaã o. Ã circuncisaã o
tem o seu antíétipo na cruz.
Soé os varoã es eram circuncidados. Ã mulher era representada no varaã o. Ãssim, na cruz,
Cristo representou a Sua Igreja, e, por isso, a Igreja estaé crucificada com Cristo; contudo, vive
pela vida de Cristo, conhecida e manifestada na terra pelo poder do Êspíérito Santo. "Poreé m, se
algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Paé scoa ao SÊNHOR, seja-lhe
circuncidado todo o macho, e entaã o, chegaraé a celebraé -la, e seraé como o natural da terra; mas
nenhum incircunciso comeraé dela" (versíéculo 48). "Portanto, os que estaã o na carne naã o podem
agradar a Deus" (Rm 8:8).
à ordenaçaã o da circuncisaã o formava a grande linha de demarcaçaã o entre o Israel de
Deus e todas as naçoã es que havia aà face da terra; e a cruz do Senhor Jesus Cristo forma a linha
da demarcaçaã o entre a Igreja e o mundo. Fosse qual fosse a posiçaã o que umhomem ocupava ou
as vantagens que tivesse naã o podia ter parte em Israel ateé que se submetesse aà operaçaã o do
corte da sua carne. Um mendigo circuncidado estava mais perto de Deus que um rei
incircunciso. Ãssim tambeé m agora naã o pode haver participaçaã o nos gozos dos remidos de
Deus, senaã o pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; e essa cruz abate todas as pretensoã es,
derriba todas as distinçoã es e une todos os remidos numa congregaçaã o santa de adoradores
lavados pelo sangue. Ã cruz forma uma barreira taã o elevada e uma defesa de tal modo
impenetraé vel que nem um sequer aé tomo da terra ou da velha natureza pode atravessaé -la para
se misturar com "a nova criaçaã o". "Ê tudo isso proveé m de Deus, que nos reconciliou consigo
mesmo" (2 Co 5:18).
Poreé m, na instituiçaã o da paé scoa naã o soé foi sustentado o princíépio de separação entre
Israel e os estranhos, como a unidade de Israel foi tambeé m claramente posta em vigor. "Numa
casa se comeraé ; naã o levaraé s daquela carne fora da casa, nem dela quebrareis osso (versíéculo
46). Êxiste nesta passagem uma figura taã o formosa quanto o podia ser de "um corpo e um
Êspíérito" (Êf 4:4). Ã Igreja de Deus eé uma soé . Deus contempla-a como tal, susteé m-na como tal, e
manifestaé -la-aé como tal aà vista de anjos, homens e demoé nios, apesar de tudo quanto se tem
feito para poê r obstaé culos a essa unidade santa. Bendito seja Deus, a unidade da Sua Igreja estaé
taã o bem guardada como o eé a sua justificaçaã o, aceitaçaã o e segurança eterna. "Êle guarda todos
os seus ossos; nem sequer um deles se quebra" (Sl 34:20). "Nenhum dos seus ossos seraé
quebrado"(Jo 19:36). Ãpesar da rudeza e zelo da soldadesca romana, e naã o obstante todas a
influeê ncias hostis que teê m estado em operaçaã o, atraveé s dos seé culos, o corpo de Cristo eé um soé
e a sua unidade nunca poderaé ser quebrada. "HÃÉ UM SOÉ CORPO Ê UM SOÉ ÊSPIÉRITO" (Êf 4:4); e
isto, aleé m disso, aqui, no mundo. Feliz daqueles que teê m recebido feé para reconhecer esta
preciosa verdade e fidelidade para a porem em praé tica, nestes ué ltimos dias, naã o obstante as
dificuldades quase insuperaé veis que acompanham a sua profissaã o e praé tica! Creio que Deus
reconheceraé e honraraé os tais.
Que o Senhor nos guarde do espíérito da incredulidade que nos induziria a julgar por
vista, em vez de julgarmos aà luz da Sua Palavra imutaé vel!
— CÃPIÉTULO 13 —

O RESGATE DOS PRIMOGÊNITOS


Santifica-me todo Primogênito
Os primeiros versíéculos deste capíétulo ensinam-nos claramente que o af eto pessoal e a
santidade saã o frutos do amor divino produzidos naqueles que saã o os seus felizes objetos. Ã
consagraçaã o dos primogeé nitos e a festa dos paã es asmos saã o apresentados aqui na sua relaçaã o
imediata com alibertaçaã o de Israel do paíés do Êgito. "Santifica-me todo primogeé nito, o que
abrir toda madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque meu eé . Ê Moiseé s
disse ao povo-. Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saíéstes do Êgito, da casa da servidaã o;
pois, com maã o forte o SÊNHOR ; vos tirou daqui; portanto, naã o comereis paã o levedado"
(versíéculos 2-3). Ê logo em seguida: "Sete dias comeraé s paã es asmos; e ao seé timo dia haveraé
festa ao SÊNHOR. Sete dias se comeraã o paã es asmos, e olevedado naã o se veraé contigo, nem ainda
fermento seraé visto em todos os teus termos" (versíéculos 6-7).

Farás saber a teu Filho


Depois eé apresentada a razaã o por que estas duas cerimoé nias deviam ser praticadas. "Ê,
naquele mesmo dia, faraé s saber a teu filho, dizendo: Isto eé pelo que o SÊNHOR me tem feito,
quando eu saíé do Êgito... Se acontecer que teu filho no tempo futuro te pergunte, dizendo: Que
eé isto? Dir-lhe-aé s: O SÊNHOR nos tirou com maã o forte do Êgito, da casa da servidaã o. Porque
sucedeu que, endurecendo-se Faraoé , para naã o nos deixar ir, o SÊNHOR matou todos os
primogeé nitos na terra do Êgito, desde o primigeê nito do homem ateé ao primogeé nito dos
animais; por isso, eu sacrifico ao SÊNHOR OS machos de tudo o que abre a madre; poreé m, a todo
primogeé nito de meus filhos eu resgato".
Quanto mais compreendemos, pelo poder do Êspíérito Santo, a redençaã o que haé em
Cristo Jesus, tanto mais decidida seraé a nossa separaçaã o, e real seraé a nossa consagraçaã o. O
esforço para alcançar uma ou outra destas coisas antes que a redençaã o seja conhecida eé o
trabalho mais ué til que pode imaginar-se. Todo o nosso trabalho deve ser feito "pelo que o
SÊNHORtem feito", e naã o para obtermos d'Êle alguma coisa. Os esforços para se conseguir a
vida e a paz provam que ainda somos estranhos ao poder do sangue; ao passo que os frutos de
uma redençaã o experimentada saã o para louvor d'Ãquele que nos redimiu. "Porque pela graça
sois salvos, por meio da feé ; e isso naã o vemde voé s; eé domdeDeus. Naã o vem das obras, para que
ningueé m se glorie.Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus preparou para que andaé ssemos nelas" (Êf 2:8-10). Deus preparou-nos um caminho
de boas obras para que andaé ssemos nelas; e por meio da Sua graça prepara-nos para
andarmos nesse caminho. ÊÉ somente como salvos que podemos andar num tal caminho. Fosse
de outra maneira, poderíéamo-nos gloriar; mas visto que noé s proé prios somos tanto obra de
Deus como o caminho no qual andamos, naã o haé lugar algum para jactaê ncia.

O Verdadeiro Cristianismo
O verdadeiro Cristianismo naã o eé senaã o a manifestaçaã o da vida de Cristo implantada em
noé s pela operaçaã o do Êspíérito Santo, segundo os desíégnios eternos de Deus de graça soberana;
e todas as nossas obras antes desta implantaçaã o de nova vida naã o saã o mais que "obras mortas"
(Hb 6:1), das quais a nossa conscieê ncia deve ser purificada do mesmo modo que das "maé s
obras" (Hb 9:14).
à expressaã o "obras mortas" inclui todas as obras que os homens fazem com o fim de
obter a vida. Se algueé m busca a vida, eé evidente que ainda naã o a tem. ÊÉ possíével que seja muito
sincero em a buscar, mas a sua proé pria sinceridade forma evidente o fato que, por enquanto,
ainda naã o a alcançou. Ãssim, pois, todo o esforço feito com o fim de obter a vida eé obra morta,
tanto mais que eé feito sem a vida de Cristo, a ué nica vida verdadeira, e a ué nica fonte de onde
podem emanar as boas obras. Ênote-se que naã o eé uma questaã o de "obras maé s"; ningueé m
pensaria em obter a vida por tais meios. Naã o! Pelo contraé rio, ver-se-aé como as pessoas
recorrem constantemente aà s "obras mortas" a fim de aliviarem a Sua conscieê ncia sob a
sensaçaã o das "obras maé s", ao passo que a revelaçaã o divina nos ensina que a conscieê ncia
necessita de ser purificada tanto de umas como das outras.
Ãleé m disso, quanto aà justiça, lemos que "todas as nossas justiças saã o como o trapo da
imundíécia" (Is 64:6). Naã o eé dito aqui apenas que "todas as nossas iniquidades saã o como trapo
da imundíécia". Quem ousaria dizer o contraé rio? Poreé m o fato eé que os melhores frutos que
podemos produzir, sob a forma de piedade e da justiça, saã o representados nas paé ginas da
verdade eterna como "obras mortas" e "trapo da imundíécia". Os mesmos esforços que fazemos
para conseguir a vida provam que estamos mortos; e os nossos esforços para alcançarmos a
justiça provam apenas que estamos vestidos com trapos de imundíécia. ÊÉ soé como possuidores
da vida eterna e da justiça divina de podemos andar no caminho das boas obras que Deus nos
preparou. Ãs obras mortas e os trapos imundos naã o podem ser permitidos nesse caminho.
Ningueé m senaã o "os resgatados do Senhor" (Is 51:11) pode passar por ele. Êra na qualidade do
povo remido que Israel guardava a festa dos paã es asmos e santificava os primogeé nitos ao
Senhor., Jaé consideramos a primeira destas ordenaçoã es; quanto a esta ué ltima eé rica em
instruçoã es.

Resgatados pelo Sangue de Cristo


O anjo destruidor passou pela terra do Êgito para destruir todos os primogeé nitos;
poreé m os primogeé nitos de Israel escaparam por meio da morte de um substituto enviado por
Deus. Por consequeê ncia, estes aparecem perante noé s, neste capíétulo, como um povo vivo,
consagrado a Deus. Salvos por meio do sangue do cordeiro, eles teê m o privileé gio de consagrar
as suas vidas Ãquele que as redimiu. Ãssim, era soé como redimidos que possuíéam vida. Foi
somente a graça de Deus que fez com que houvesse diferença a favor deles, e dera-lhes o lugar
de homens vivos na Sua presença. No seu caso, certamente, naã ohavia lugar para jactaê ncia;
porque, quanto aos seus meé ritos ou dignidade pessoal, aprendemos neste capíétulo que foram
postos ao mesmo níével das coisas impuras e inué teis. "Poreé m tudo que abrir a madre da
jumenta resgataraé s com cordeiro; e, se o naã o resgatares cortar-lhe-aé s a cabeça; mas todo o
primogeé nito do homem entre teus filhos resgataraé s" (versíéculo 13). Havia duas classes de
animais, a saber: os limpos e os imundos; e o homem eé contado aqui com os ué ltimos. O
cordeiro tinha de responder pelos imundos; e se o jumento naã o fosse resgatado, a sua cabeça
tinha de ser cortada; de forma que o homem naã o redimido era posto ao mesmo níével do
animal imundo, e isto, tambeé m, numa condiçaã o que naã o podia ser mais insignificante e
obscura. Que quadro humilhante do homem na sua condiçaã o natural!
Oh! se os nossos pobres e orgulhosos coraçoã es pudessem compreender melhor esta
verdade! Êntaã o regozijar-nos-íéamos sinceramente com o privileé gio glorioso de sermos lavados
da nossa culpa no sangue do Cordeiro de Deus e de termos deixado para sempre a nossa vileza
pessoal na sepultura, onde foi posto o nosso Substituto.
Cristo era o Cordeiro limpo, sem maé cula. Noé s eé ramos imundos. Mas, adorado seja para
todo o sempre o Seu nome incomparaé vel, Êle tomou o nosso lugar; e foi feito pecado na cruz e
tratado como tal. Ãquilo que noé s devíéamos sofrer por todos os seé culos incontaé veis da
eternidade, sofreu-o Êle por noé s na cruz. Ãli, e entaã o, Êle sofreu tudo que noé s merecíéamos,
para que noé s pudeé ssemos gozar para sempre aquilo que Lhe eé devido. Êle recebeu o que noé s
merecíéamos, para que noé s pudeé ssemos receber os Seus meé ritos. Ãquele que era puro tomou,
por um pouco de tempo, o lugar dos imundos, a fim de que os imundos pudessem tomar para
todo o sempre o lugar dos puros. Ãssim, embora quanto aà natureza sejamos representados
pela figura repugnante de um jumento com a cabeça partida, pela graça somos representados
por um Cristo ressuscitado e glorificado no ceé u. Que contraste maravilhoso! Deita por terra a
gloé ria do homem e glorifica as riquezas do amor de redençaã o. Reduz ao sileê ncio a jactaê ncia
vazia do homem e poã e na sua boca um caê ntico de louvor a Deus e ao Cordeiro, que ressoaraé
nas cortes do ceé u atraveé s dos seé culos eternos (¹).
ÊÉ forçoso recordar aqui as palavras do apoé stolo Paulo aos Romanos: "Ora, se jaé
morremos com Cristo, cremos que tambeé m com ele viveremos; sabendo que, havendo Cristo
ressuscitado dos mortos, jaé naã o morre; a morte naã o mais teraé domíénio sobre ele. Pois, quanto
a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para Deus. Ãssim
tambeé m voé s considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso
Senhor. Naã o reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas
concupisceê ncias. Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos
de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus; como vivos dentre mortos, e os vossos membros a
Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado naã o teraé domíénio sobre voé s, pois naã o
estais debaixo da lei, mas debaixo dagraça" (Rm6:8 -14). Naã o soé estamos resgatados do poder
da morte e da sepultura, mas unidos Ãquele que nos resgatou pelo preço enormíéssimo da Sua
proé pria vida, para que pudeé ssemos, na energia do Êspíérito Santo, consagrar a nossa nova vida,
com todas as suas faculdades, ao Seu serviço, de forma a que o Seu nome precioso seja
glorificado em noé s, segundo a vontade de Deus, nossoPai.
___________________________
(¹) É interessante notarmos que por natureza temos o grau de um animal imundo; pela graça estamos
ligados com Cristo, o Cordeiro imaculado. Não pode haver mais baixo que o lugar que nos pertence por natureza e
nada mais elevado que o lugar que nos pertence por graça. Pensai, por exemplo, num jumento com a cabeça
decepada- eis o que vale um homem sem Deus. Pensai no "precioso sangue de Cristo": eis o que vale um homem
redimido. "Para vós, os que credes, é precioso" (IPe 2:7). Quer dizer, todos quantos são lavados no sangue participam
da preciosidade de Cristo. Assim como Ele é "a pedra viva", eles são "pedras vivas"; do mesmo modo que Ele é "a
pedra preciosa", eles são "pedras preciosas". Os remidos recebem vida e dignidade d'Elee n'Ele. São como Ele é. Cada
pedra do edifício é preciosa, porque é comprada nada menos nada mais que com "o sangue do Cordeiro". Deus
permita que o Seu povo conheça melhor o seu lugar e os seus privilégios em Cristo!

O Caminho do Deserto Próximo ao Mar Vermelho


Os ué ltimos versíéculos deste capíétulo daã o-nos um exemplo formoso e tocante do cuidado
terno do Senhor pelas necessidades do Seu povo. "Pois Êle conhece a nossa estrutura, lembra-
se de que somos poé " (Sl 103:14).
Quando redimiu Israel e os poê s em relaçaã o com Êle, o Senhor, na Sua graça insondaé vel e
infinita, tomou a Seu cargo todas as suas necessidades e fraquezas. Pouco importava o que eles
eram ou o que necessitavam, visto que Ãquele que se chama "ÊU SOU" estava com eles em
toda a riqueza inexauríével desse nome: estava com eles para os conduzir do Êgito aà terra de
Canaaã , e aqui veê mo-Lo escolher o melhor caminho para eles. "Ê aconteceu que, quando Faraoé
deixou ir o povo, Deus naã o os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto;
porque Deus disse: Para que, porventura, o povo naã o se arrependa, vendo a guerra, e tornem
ao Êgito. Mas Deus fez rodear o povo pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho"
(versíéculos 17-18).
O Senhor, em Sua graça e condescendeê ncia, ordenou as coisas de tal maneira para o Seu
povo que eles naã o encontraram, ao princíépio, provas demasiadamente difíéceis que podiam ter
o efeito de desanimar os coraçoã es e fazeê -los retroceder. "O caminho do deserto" era uma rota
muito mais demorada; mas Deus tinha vaé rias liçoã es importantes para ensinar ao Seu povo, as
quais soé podiam ser aprendidas no deserto. Mais tarde, este fato eé recordado nas seguin tes
palavras: "Ê te lembraraé s de todo o caminho, pelo qual o SÊNHOR, teu Deus, te guiou no deserto
estes quarenta anos, para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coraçaã o,
se guardarias os seus mandamentos ou naã o. Ê te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou
com o manaé , que tu naã o conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o
homem naã o viveraé soé de paã o, mas que tudo o que sai da boca do SÊNHOR viveraé o homem.
Nunca se envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu peé nestes quarenta anos" (Dt
8:2-4). Taã o preciosas liçoã es nunca poderiam ser aprendidas no "caminho da terra dos
filisteus". Nesse caminho, eles podiam ter aprendido o que era a guerra, logo no princíépio da
sua carreira; poreé m no "caminho do deserto" aprenderam o que era a carne, com toda a sua
perversidade, sua incredulidade e rebeliaã o. Mas Ãquele que se chama ÊU SOU estava com eles
em toda a Sua pacieê ncia, sabedoria perfeita, e poder infinito. Ningueé m senaã o Êle podia ter
suprido as necessidades da situaçaã o. Ningueé m senaã o Êle podia suportar a vista das
profundezas do coraçaã o humano. Ãbrir o meu coraçaã o em qualquer parte, salvo na presença
da graça infinita, equivaleria lançar-me em desespero. O coraçaã o humano eé apenas um inferno
em miniatura. Que graça inflaé vel, pois, ser libertado da sua terríével profundidade!

O Senhor ia Adiante Deles


"Ãssim, partiram de Sucote, e acamparam em Êtaã , aà entrada do deserto. Ê o SÊNHOR ia
adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa
coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de
diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite" (versíéculos
20 a 22). O Senhor naã o soé escolheu o caminho para o Seu povo, como desceu para os
acompanhar e tornar-Se conhecido deles segundo as suas necessidades. Naã o somente os
conduziu a salvo fora do Êgito, como desceu, com efeito, no Seu carro de viagens, para ser seu
companheiro atraveé s das vicissitudes da sua jornada atraveé s do deserto. Isto era graça divina.
Os israelitas naã o foram apenas libertados da fornalha do Êgito e entaã o deixados para que
fizessem o melhor que pudessem a sua jornada para Canaaã ; esse naã o era o meé todo de Deus
para com eles. Êle sabia que eles tinham diante de si uma jornada perigosa e aé rdua, com
serpentes e escorpioã es, ciladas e dificuldades, no deserto aé rido e esteé ril; e, bendito seja o Seu
nome para sempre, naã o quis que eles fossem sozinhos. Quis ser seu companheiro e participar
de todos os seus perigos e dores; sim, "Êle foi adiante deles"; foi "guia, defesa, e gloé ria, para os
libertar de todo o temor". Mas, ah! como eles afligiram Ãquele bendito Senhor com a sua
dureza de coraçaã o! Tivessem ele caminhado humildemente, confiantes e alegres, com Êle, e a
sua marcha teria sido vitoriosa desde o princíépio ao fim. Com o Senhor adiante deles, nenhum
poder podia ter interrompido a sua marcha triunfante desde o Êgito a Canaaã . O Senhor teê -los-
ia levado e colocado de posse da Sua herança, segundo as Suas promessas, e pelo poder da Sua
destra; nem um soé cananeu teria sido deixado para ser um espinho para Israel. Ê assim
aconteceraé quando o Senhor estender a Sua maã o, pela segunda vez, para libertar o Seu povo
do poder de todos os seus opressores. Que o Senhor apresse esse tempo!

— CÃPIÉTULO 14 —

O MAR VERMELHO
Uma Situação sem Saída
"Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes aé guas, esses veê em as obras
do SÊNHOR e as suas maravilhas no profundo" (SI 107:23-24).
Quaã o verdadeiras saã o estas palavras! Ê contudo como os nossos coraçoã es covardes teê m
horror a essas "grandes aé guas"! Preferimos os fundos baixos, e, por consequeê ncia, deixamos
de ver "as obras" e "as maravilhas" do nosso Deus; pois estas soé podem ser vistas e conhecidas
"no profundo".
ÊÉ nos dias de provaçaã o e dificuldades que a alma experimenta alguma coisa da bem-
aventurança profunda e incontaé vel de poder confiar em Deus. Se tudo fosse sempre faé cil nunca
se poderia fazer esta experieê ncia. Naã o eé quando o barco desliza suavemente aà superfíécie do
lago tranquilo que a realidade da presença do Mestre eé sentida; mas sim, quando ruge o
temporal e as ondas varrem a embarcaçaã o. O Senhor naã o nos oferece a perspectiva de isençaã o
de provaçoã es e tribulaçoã es; pelo contraé rio, diz-nos que teremos tanto umas como as outras;
poreé m, promete estar conosco sempre; e isto eé muito melhor que vermo-nos livres de todo o
perigo. Ã compaixaã o do Seu coraçaã o conosco eé muito mais agradaé vel do que o poder da Sua
maã o por nós. Ã presença do Senhor com os Seus servos fieé is, enquanto passavam pelo forno de
fogo ardente, foi muito melhor do que a manifestaçaã o do Seu poder para os preservar dele (Dn
3). Desejamos com frequeê ncia ser autorizados a avançar na nossa carreira sem provaçoã es, mas
isto acarretaria grave prejuíézo. Ã presença do Senhor nunca eé taã o agradaé vel como nos
momentos de maior dificuldade.
Ãssim aconteceu no caso de Israel, como vemos neste capíétulo. Êncontram-se numa
dificuldade esmagadora—foram chamados a mercadejar "mas grandes aé guas"; veê em esvair-
se-lhes "toda a sua sabedoria" (Sl 107:27). Faraoé , arrependido de os haver deixado sair do seu
paíés, decide fazer um esforço desesperado para os trazer de novo. "Ê aprontou o seu carro e
tomou consigo o seu povo; e tomou seiscentos carros escolhidos, e todos os carros do Êgito, e
os capitaã es sobre eles todos... Ê, chegando Faraoé , os filhos de Israel levantaram seus olhos, e
eis que os egíépcios vinham atraé s deles, e temeram muito; entaã o, os filhos de Israel chamaram
ao SÊNHOR" (versíéculos 6-10). Ãqui estava uma cena no meio da qual o esforço humano era
inué til. Tentar livrarem-se por qualquer coisa que pudessem fazer, era a mesma coisa que se
tentassem fazer retroceder as ondas alterosas do oceano com uma palha. O mar estava diante
deles, o exeé rcito de Faraoé por detraé s, e de ambos os lados estavam as montanhas; e tudo isto,
note-se, havia sido permitido e ordenado por Deus. O Senhor havia escolhido o terreno para
acamparem "diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal -Zefom". Depois,
permitiu que faraoé os alcançasse. Ê por queê 1?- Precisamente para Se manifestar na salvaçaã o do
Seu povo e na completa destruiçaã o dos seus inimigos. "Ãquele que dividiu o Mar Vermelho em
duas partes; porque a sua benignidade eé para sempre. Ê fez passar Israel pelo meio dele;
porque a sua benignidade eé para sempre. Mas derribou a Faraoé com o seu exeé rcito no Mar
Vermelho, porque a sua benignidade eé para sempre" (SI 136:13-15).

O Propósito de Deus
Naã o existe sequer uma posiçaã o em toda a peregrinaçaã o dos remidos de Deus cujos
limites naã o hajam sido cuidadosamente traçados pela maã o da sabedoria infalíével e o amor
infinito. O alcance e a influeê ncia peculiar de cada posiçaã o saã o calculados com cuidado. Os Pi-
Hairotes e os Migdoles estaã o dispostos de maneira a estarem em relaçaã o com a condiçaã o
moral daqueles que Deus estaé conduzindo atraveé s dos caminhos sinuosos e dos labirintos do
deserto, e tambeé m para que manifestem o Seu proé prio caraé ter. Ã incredulidade sugere com
frequeê ncia esta pergunta: "Porque eé isto assim £ Deus sabe; e, sem dué vida, revelaraé a razaã o,
sempre que essa revelaçaã o promova a Sua gloé ria e o bem do Seu povo. Quantas vezes somos
tentados a perguntar porque e com que fim nos achamos nesta ou naquela circunstaê ncia!
Quantas vezes ficamos perplexos quanto aà razaã o de nos vermos expostos a esta ou aà quela
prova! Quaã o melhor seria curvarmos as nossas cabeças em humilde submissaã o, dizendo, "estaé
bem", e"tudoacabaraé bem"! Quanto aà Deus Quem determina a nossa posiçaã o, podemos estar
certos que eé uma posiçaã o sensata e salutar; e ateé mesmo quando noé s, louca e obstinadamente,
escolhemos uma posiçaã o, o Senhor, em Sua misericoé rdia, domina a nossa loucura e faz com
que as influeê ncias das circunstaê ncias da nossa proé pria escolha operem para nosso bem
espiritual.
ÊÉ quando os filhos de Deus se encontram nos maiores apertos e dificuldades que teê m o
privileé gio de ver as mais preciosas manifestaçoã es do caraé ter e da atividade de Deus; e eé por
esta razaã o que Êle os coloca fraquetemente numa situaçaã o de prova, a fim de poder mostrar-Se
de um modo mais notaé vel. O Senhor podia ter conduzido Israel atraveé s do Mar Vermelho para
muito aleé m do alcance das hostes de Faraoé , muito antes que este houvesse saíédo do Êgito,
poreé m isto naã o teria glorificado inteiramente o Seu nome, nem teria confundido de uma
maneira taã o completa o inimigo, sobre o qual queria ser "glorificado" (versíéculo 17). Tambeé m
noé s perdemos muitas vezes de vista esta preciosa verdade, e o resultado eé que os nossos
coraçoã es fraquejam na horta da provaçaã o. Se taã o somente pudeé ssemos encarar as crises
graves como uma oportunidade de Deus pode mostrar, em nosso favor, a suficieê ncia da graça
divina, as nossas almas conservariam o seu equilíébrio, e Deus seria glorificado, ateé mesmo no
profundo das aé guas.

A Incredulidade dos Israelitas e a Nossa


Talvez nos sintamos admirados com a linguagem de Israel na ocasiaã o que estamos a
considerar. Podemos ter dificuldade em a compreender; poreé m quanto mais conhecemos os
nossos coraçoã es increé dulos, tanto mais compreendemos como somos maravilhosamente
semelhantes a eles. Parece que haviam esquecido a recente manifestaçaã o do poder de Deus em
seu favor. Haviam presenciado o julgamento dos deuses do Êgito e visto o poder desse paíés
abatido com o golpe da maã o onipotente do Senhor. Haviam visto a mesma maã o despedaçar as
cadeias da escravidaã o do Êgito e apagar os fornos de tijolo. Haviam visto todas estas coisas, e
logo que aparece uma nuvem escura no horizonte a sua confiança eé perdida e os seus coraçoã es
fraquejam: e entaã o pronunciam a sua incredulidade nestas palavras: "Naã o havia sepulcros no
Êgito, para nos tirares de laé ... melhor nos fora servir aos egíépcios do que morrermos neste
deserto" (versíéculos 11 -12). ÊÉ assim que a cega incredulidade erra sempre e esquadrinha em
vaã o os caminhos de Deus. Ã incredulidade eé a mesma em todos os tempos; eé a mesma que
levou David a dizer, um dia mau: "Ora, ainda algum dia perecerei pela maã o de Saul; naã o haé
coisa melhor para mim do que escapar apressadamente para a terra dos filisteus" (1 Sm 27:1).
Ê qual foi o resultado1?- Saul caiu na montanha de Gilboa; e o trono de David foi estabelecido
para sempre. Ã incredulidade levou Êlias, o tisbita, num momento de profundo abatimento, a
fugir para salvar a sua vida das ameaças coleé ricas de Jezabel. Ê qual foi o resultado"? Jezabel
morreu estatelada no solo, e Êlias foi levado para o ceé u num carro de fogo.
O mesmo aconteceu com Israel no seu primeiro momento de provaçaã o. Pensaram
verdadeiramente que o Senhor havia tanto trabalho para os libertar do Êgito apenas para os
deixar morrer no deserto.
Imaginavam que, se haviam sido preservados pelo sangue do cordeiro da paé scoa, era
apenas para que pudessem ser sepultados no deserto. Ãssim raciocina sempre a
incredulidade; induz-nos a interpretar Deus em presença da dificuldade, em vez de interpretar
a dificuldade na presença de Deus. Ã feé coloca-se atraveé s da dificuldade e encontra Deus ali,
em toda a Sua fidelidade, amor e poder. O crente tem o privileé gio de estar sempre na presença
de Deus: foi introduzido ali pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, e nada que possa tiraé -lo dali
deve ser permitido.
Nunca poderaé perder aquele proé prio lugar, porquanto o seu chefe e representante,
Cristo, o ocupa em seu nome. Poreé m, embora naã o possa perder esse lugar, pode perder, com
muita facilidade, o gozo do lugar, a experieê ncia e o poder de o possuir. Sempre que as
dificuldades se interpoã em entre o seu coraçaã o e o Senhor, naã o estaé , evidentemente, gozando a
presença do Senhor, mas sofrendo em presença das suas dificuldades. O mesmo sucede
quando uma nuvem se interpoã e entre noé s e o sol, privan-do-nos, por um pouco de tempo, da
alegria dos seus raios de luz. Ã nuvem naã o impede que o sol brilhe, apenas impede gozarmos
dele. Ãcontece precisamente assim sempre que permitimos que as provaçoã es e dores, as
dificuldades e perplexidades, ocultem das nossas almas os raios resplandecentes do
semblante do nosso Pai celestial, os quais brilham com fulgor invariaé vel na face de Jesus
Cristo.
Naã o existe dificuldade grande demais para o nosso Deus; pelo contraé rio, quanto maior
eé a dificuldade, tanto mais lugar haé para Êle agir no Seu caraé ter de Deus de toda a graça e
poder. Sem dué vida, a posiçaã o de Israel tal como se acha descrita nos primeiros versíéculos deste
capíétulo, era de grande provaçaã o—esmagadora para a carne e o sangue. Poreé m, a verdade eé
que o Criador dos ceé us e da terra estava ali, e eles apenas tinham que recorrer a Êle.
Contudo, prezado leitor, quaã o depressa falhamos quando chega a provaçaã o! Êstes
sentimentos soam agradavelmente aos ouvidos, e teê m uma apareê ncia agradaé vel sobre o papel;
e, graças a Deus, saã o divinamenteverdadeiros; poreé m, a questaã o mais importante eé praticaé -los
quando chega a oportunidade. Ê quando saã o postos em praé tica que se pode experimentar o
seu poder e a sua bem-aventurança. "Se algueé m quiser fazer a vontade dele, pela mesma
doutrina, conhecerá se ela eé de Deus" (Jo7:17).

A Salvação do SENHOR
"Moiseé s, poreé m, disse ao povo: Naã o temais; estai quietos, e vede o livramento do
SÊNHOR, que hoje vos faraé : porque aos egíépcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para
sempre. O SÊNHOR pelejaraé por voé s e voé s calareis" (versíéculos 13 -14). Êis aqui a atitude que a
feé toma em face da provaçaã o: "estai quietos". Para a carne e o sangue isto eé impossíével. Todos
os que conhecem, em alguma medida, a impacieê ncia do coraçaã o humano, ante a perspectiva de
provaçoã es e afliçoã es, poderaã o fazer uma ideia do que significa estar quieto. Ã nossa natureza
quer fazer alguma coisa. Ê por isso correraé de um lado para o outro: quer ter parte na obra; e
embora possa pretender justificar osseusatos desprezíéveis, f azendo-os acompanhar do tíétulo
pomposo e vulgar de emprego legítimo de meios, na realidade eles saã o apenas os frutos claros
e positivos da incredulidade que sempre poã e Deus de parte, e nada veê senaã o as nuvens escuras
da sua proé pria criaçaã o. Ã incredulidade cria e aumenta as dificuldades, e, entaã o, leva-nos a
procurarmos venceê -las por meio das nossas atividades inué teis e precipitadas, as quais, na
realidade, apenas lançam poeira em redor de noé s, e assim nos impede de vermos a salvaçaã o de
Deus. Pelo contraé rio, a feé eleva a alma acima das dificuldades ateé Deus, e habilita-nos a
estarmos "quietos". Nada ganhamos com os nossos esforços impacientes e inquietos. "Naã o
podemos fazer um cabelo branco ou preto, taã o-pouco podemos juntar um coê vado aà nossa
estatura" (Mt 5:36,6:27). Que poderia Israel fazer junto do Mar Vermelhou Podia secaé -lo?
Podia aplanar as montanhas?- Podia aniquilar as hostes do Êgito 1?- Impossíével. Êncontravam-
se encerrados dentro de um muro impenetraé vel de dificuldades, aà vista do qual a natureza naã o
podia fazer mais que tremer e sentir a sua completa impoteê ncia. Poreé m, para Deus era
precisamente o momento de atuar. Quando a incredulidade eé afastada da cena, Deus pode
intervir; e, para podermos ver os Seus atos, noé s temos de estar "quietos". Cada movimento da
natureza eé , com efeito, um impedimento para a nossa percepçaã o e gozo da intervençaã o divina
a nosso favor.

Permanecer Quietos e Ver a Salvação do SENHOR


Isto eé verdadeiro a nosso respeito em cada fase da nossa histoé ria. Ê verdadeiro quando,
como pecadores, sob o sentimento desconcertante que o pecado produz na conscieê ncia, somos
tentados a recorrer aos nossos proé prios feitos, com o fim de conseguirmos alíévio. Ê entaã o que,
verdadeiramente, devemos estar "quietos" de forma a podermos ver "a salvaçaã o de Deus". Pois
que poderíéamos noé s fazer no caso da expiaçaã o pelo pecado? Poderíéamos noé s ter estado com o
Filho de Deus na cruz1?- Poderíéamos noé s ter descido com Êle ao lago horríével e charco de lodoi
(SI 40:2). Teríéamos noé s podido abrir caminho ateé essa rocha eterna sobre a qual, na
ressurreiçaã o, Êle firmou os Seus peé s? Todo o espíérito reto reconheceraé imediatamente que um
tal pensamento seria uma atrevida blasfeé mia. Deus estaé soé na redençaã o; e quanto a noé s, soé
temos que "estar quietos e ver a salvaçaã o de Deus". O proé prio fato de ser a salvaçaã o de Deus
prova que o homem nada tem a fazer nela.
O preceito eé verdadeiro a nosso respeito, uma vez que temos entrado na carreira cristaã .
Êm cada nova dificuldade, quer seja pequena ou grande, a nossa sabedoria consiste que
estamos quietos —renunciar aà s nossas proé prias obras e achar o nosso doce repouso na
salvaçaã o de Deus. Tampouco podemos estabelecer categorias entre as dificuldades. Naã o
podemos dizer que haé dificuldades taã o insignificantes que podem ser evitadas por noé s; ao
passo que noutras nada senaã o a maã o de Deus nos pode valer. Naã o, todas estaã o de igual modo
fora do nosso alcance.
Somos taã o incapazes de mudar a cor de um cabelo como de remover uma montanha, de
formar uma folha de erva como de criar um mundo. Todas estas coisas saã o igualmente
impossíéveis para noé s, e todas saã o igualmente possíéveis para Deus. Portanto, devemo-nos
abandonar, com feé sincera, Ãquele "que se curva para ver o que estaé nos ceé us" (SI 113:6). ÃÀ s
vezes sentimo-nos transportados de uma maneira triunfante atraveé s das maiores provaçoã es,
enquanto que noutras ocasioã es desanimamos, trememos, e sucumbimos sob as circunstaê ncias
normais da vida. Ê por queê ? Porque no primeiro caso somos constrangidos a alijar o nosso
fardo sobre o Senhor; enquanto que no ué ltimo caso intentamos, loucamente, levaé -lo noé s
proé prios. O cristaã o eé , em si proé prio, se ele apenas o compreender, como um receptor esgotado,
no qual uma moeda e uma pena teê m o mesmo íémpeto.
O SENHOR é Quem Peleja
"O SÊNHOR pelejaraé por voé s, e vos calareis".
Que bendita segurança! Quaã o proé pria para tranquilizar o espíérito em face das
dificuldades mais aterradoras e dos maiores perigos! O Senhor naã o soé se coloca entre noé s e os
nossos pecados, como tambeé m entre noé s e as nossas circunstaê ncias. No primeiro caso daé -nos
paz de conscieê ncia; enquanto que no segundo daé paz aos nossos coraçoã es. Êstas duas coisas
saã o perfeitamente distintas, como muito bem sabe todo o cristaã o experimentado. Muitos teê m
paz de conscieê ncia, sem terem paz de coraçaã o. Ãcharam, pela graça e mediante a feé , Cristo, na
eficaé cia divina do Seu sangue, entre eles e todos os seus pecados; mas naã o podem, do mesmo
modo simples, veê -Lo na Sua sabedoria, amor e poder, entre eles e as suas circunstaê ncias. Disto
resulta uma diferença essencial na condiçaã o praé tica das suas almas, bem como no caraé ter do
seu testemunho. Nada pode contribuir tanto para glorificar o nome de Deus como aquele
repouso tranquilo de espíérito que dimana do fato de O termos entre noé s e tudo que pode ser
causa de ansiedade para os nossos coraçoã es. "Tu conservaraé s em paz aquele cuja mente estaé
firme em ti; porque ele confia em ti" (Is 26:3).
Mas, pode perguntar-se, naã o devemos fazer nada? Ã resposta pode ser dada com outra
pergunta, a saber: que podemos noé s fazer 1?-Todos os que realmente se conhecem teê m de
responder: Nada. Se, portanto, nada podemos fazer, naã o seraé melhor que permaneçamos
"quietos?" Se o Senhor estaé atuando por noé s naã o seraé melhor ficarmos detraé s d'Êle?
Correremos adiante d'Êle? Devemos importunar com a nossa atividade a Sua esfera de açaã o e
intrometermo-nos no Seu caminhou ÊÉ inué til que dois trabalhem quando um soé eé competente
para fazer tudo. Ningueé m pensaria em trazer uma vela acesa par acrescentar brilho ao sol do
meio-dia: e todavia o homem que tal fizesse podia ser tido na conta de saé bio em comparaçaã o
com aquele que pretende ajudar Deus com a sua atividade precipitada.

A Ordem de Deus para Marchar


Contudo, quando Deus, na Sua muita misericoé rdia, abre o caminho, a feé pode andar
nele; entaã o deixa o caminho do homem, para nadar no caminho de Deus.
"Êntaã o, disse o SÊNHOR a Moiseé s-. Por que clamas a mim4 Dize aos filhos de Israelque
marchem" (versíéculo 15). ÊÉ quando aprendemos a estar "quietos" que podemos, efetivamente,
ir para diante. Tentar ir para diante sem termos aprendido a estar "quietos" eé ter a certeza de
cairmos no ridíéculo da nossa loucura e fraqueza. Ê, portanto, verdadeira sabedoria, emtodasas
ocasioã es de dificuldade e perplexidade, permanecermos tranquilos—esperando unicamente
em Deus, que certamente nos abriraé um caminho; e entaã o poderemos "marchar" em paz e
tranquilidade. Naã o existe a incerteza quando eé Deus quem nos abre o caminho; pelo contraé rio,
todo o caminho de nossa proé pria invençaã o seraé um caminho de dué vida e hesitaçaã o. O homem
natural pode avançar, com certa apareê ncia de firmeza e decisaã o, no seu proé prio caminho;
poreé m, um dos elementos da nova natureza eé a desconfiança em si proé pria, em contraste com
a confiança emDeus como seu proé prio elemento. ÊÉ quando os nossos olhos teê m visto a
salvaçaã o de Deus que podemos seguir este caminho; contudo naã o poderemos veê -lo claramente
antes de sermos convencidos da inutilidade dos nossos proé prios e fracos esforços.
à expressaã o "verei a salvaçaã o de Deus" encerra beleza e força peculiar. O proé prio fato
de sermos chamados para ver a salvação de Deus eé prova de que a salvaçaã o estaé completa.
Ênsina-nos que a salvaçaã o eé uma obra realizada e revelada por Deus, para ser vista e gozada
por noé s. Naã o eé uma obra em parte de Deus e em parte do homem. Se fosse assim, naã o poderia
ser chamada a salvaçaã o de Deus. Para poder ser chamada a salvaçaã o de Deus eé preciso que seja
desprovida de tudo que pertence ao homem. O ué nico efeito possíével dos esforços humanos
seraé obscurecer aos nossos olhos a salvaçaã o de Deus.
"Dize aos filhos de Israel que marchem".
O proé prio Moiseé s parece ter ficado perplexo, como se depreende da interrogaçaã o "Por
que clamas a mim?" Moiseé s podia dizer ao povo "estai quietos e vede o livramento do SÊNHOR",
enquanto o seu proé prio espíérito clamava a Deus angustiado. Todavia, de nada vale clamar
quando devemos atuar; do mesmo modo que de nada serviraé atuar quando devemos estar em
expectativa. Ê contudo tal eé sempre o nosso meé todo. Intentamos avançar quando devemos
estar quietos, e ficamos quietos quando devemos avançar. No caso de Israel, podia perguntar-
se: "Para onde devemos ixí" Segundo as apareê ncias, havia uma barreira instransponíével no
caminho a qualquer movimento. Como poderiam eles atravessar o mar 1?- Êsta era a
dificuldade que a natureza jamais poderia resolver. Contudo, podemos estar certos que Deus
nunca daé um mandamento sem, ao mesmo tempo, comunicar o poder para lhe obedecermos.
O verdadeiro estado do coraçaã o pode ser posto aà prova pelo mandamento; poreé m a alma que,
pela graça, estiver disposta a obedecer receberaé poder do alto para o fazer. Quando Cristo
mandou ao homem com a maã o mirrada que a estendesse, ele poderia naturalmente ter dito:
"Como posso eu estender um braço que estaé morto para mim?" Contudo, ele naã o levantou
nenhuma objeçaã o, porque com o mandamento, e da mesma origem, veio o poder para
obedieê ncia.

Deus Abre o Caminho para a Fé


Ãssim, tambeé m, no caso de Israel, vemos que com o mandamento para marcharem veio
o suprimento da graça. "Ê tu, levanta a vara, e estende a tua maã o sobre o mar, e fende-o, para
que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco" (versíéculo 16). Êis aqui a senda da
feé . Ã maã o de Deus abre o caminho para podermos dar o primeiro passo, e isto eé tudo que a feé
sempre precisa. Deus naã o daé nunca direçaã o para dois passos ao mesmo tempo. Devemos da
um passo, e entaã o recebemos luz para o segundo. Deste modo o coraçaã o eé mantido em
permanente dependeê ncia de Deus. "Pela feé , passaram o Mar Vermelho, como por terra seca"
(Hb 11:29). Ê evidente que o Mar naã o foi dividido em toda a sua extensaã o de uma soé vez. Se
assim tivesse sido, eles teriam sido conduzidos "por vista" e naã o "por f eé ". Naã o eé preciso feé para
se empreender uma viagem quando se veê o caminho em toda a sua extensaã o; mas eé necessaé ria
feé para algueé m se poê r ao caminho quando naã o veê mais do que o primeiro passo. O Mar divida-
se aà medida que Israel avançava, de forma que, para cada novo passo, eles dependiam de Deus.
Tal era o caminho por onde marchavam os remidos do Senhor, guiados pela Sua maã o.
Passaram pelas grandes aé guas da morte e descobriram que estas aé guas "foram-lhes como
muro aà sua direita e aà sua esquerda" (versíéculo 22).
Os egíépcios naã o puderam avançar num caminho como este. Êntraram nele porque o
viram aberto — para com eles era uma questaã o de vista e naã o de feé — "...o que intentando os
egíépcios se afogaram" (Hbll:29).Quandoas pessoas tentam fazer aquilo que soé a feé pode
conseguir, encontram a derrota e a confusaã o. O caminho pelo qual Deus faz marchar o Seu
povo eé um caminho que nunca pode ser trilhado pela natureza — "... carne e sangue naã o
podem herdar o Reino de Deus" (1 Co 15:50); tampouco podem caminhar pelo caminho de
Deus. Ã f eé eé a grande regra caracteríéstica do reino de Deus, e eé soé pela feé que podemos andar
nos caminhos de Deus. "Sem feé eé impossíével agradar a Deus" (Hb 11:6). Deus eé grandemen-te
glorificado quando avançamos com Êle com os olhos vendados, por assim dizer, porque esta eé
a prova de que temos mais confiança na Sua vista do que na nossa. Se sei que Deus vela por
mim, posso muito bem cerrar os olhos e avançar em santa calma e segurança. Nas ocupaçoã es
humanas sabemos que quando a sentinela estaé no seu posto, os outros podem dormir
tranquilos. Quanto melhor podemos noé s descansarem perfeita segurança quando sabemos
que Ãquele que naã o tosqueneja nem dorme tem o Seu olhar fixo em noé s (SI 121:4) e os Seus
braços eternos em volta de noé s!

O Anjo de Deus e a Coluna de Nuvem


"Ê o Ãnjo de Deus, que ia diante do exeé rcito de Israel, se retirou, e ia atraé s deles;
tambeé m a coluna de nuvem se retirou diante deles e se poê s atraé s deles. Ê ia entre o campo dos
egíépcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a
noite; de maneira que em toda a norte naã o chegou um ao outro" (versíéculos 19- 20). O Senhor
colocou-Se exatamente entre Israel e o inimigo—isto era verdadeira proteçaã o. Ãntes que Faraoé
pudesse tocar num cabelo da cabeça de Israel, teria que atravessar o pavilhaã o doTodo-
Poderoso —, sim, o Proé prioTodo-Poderoso. ÊÉ assim que Deus sempre Se interpoã e entre o Seu
povo e todo o inimigo, de forma que "toda a ferramenta preparada contra" eles "naã o
prosperaraé " (Is 54:17). Êle poê s-Se entre noé s e os nossos pecados, e eé nosso privileé gio
encontraé -Lo entre noé s e todo aquele ou coisa que possa ser contra noé s. Êste eé o ué nico meio de
encontrarmos tanto a paz de coraçaã o como a paz de conscieê ncia. O crente pode buscar os seus
pecados com ansiedade e diligeê ncia sem conseguir encontraé -los. Por queê ? Porque Deus estaé
entre ele e os seus pecados. O Senhor lançou para traé s das Suas costas todos os nossos
pecados; enquanto que, ao mesmo tempo, faz brilhar sobre noé s a luz do Seu semblante.
Da mesma maneira, o crente pode buscar as suas dificuldades, e naã o as encontrar,
porque Deus estaé entre ele e as dificuldades. Se, portanto, em vez de nos determos com os
nossos pecados e as nossas dores, nos apoiaé ssemos somente em Cristo, o caé lice amargoso
seria adoçado e muitas horas negras seriam iluminadas. Ã verdade eé que muitas vezes
descobrimos que nove deé cimos das nossas dores e provaçoã es se compoã em de males
antecipados ou imaginaé rios, que soé existem no nosso espíérito desordenado, porque eé
increé dulo. Deus permita que o leitor conheça a paz inabalaé vel tanto do coraçaã o como da
conscieê ncia, que resulta de ter a Cristo, em toda a Sua plenitude, entre si e todos os seus
pecados e todas as suas dores.
ÊÉ , ao mesmo tempo, solene e interessante notar o aspecto duplo da "coluna de nuvem",
neste capíétulo. Ê a nuvem era escuridaã o para os egíépcios, mas para Israel "esclarecia a noite".
Que semelhança com a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo! Verdadeiramente, essa cruz tem, do
mesmo modo, um duplo aspecto. Constitui a base da paz do crente; e, ao mesmo tempo, sela a
condenaçaã o de um mundo culpado. O mesmíéssimo sangue que purifica a conscieê ncia do crente
e lhe daé paz mancha este mundo e consuma o seu pecado. Ã mesmíéssima missaã o do Filho de
Deus, que despojou o mundo da sua capa e o deixa inteiramente sem desculpa, veste a Igreja
de um manto formoso de justiça e enche a suaboca de louvor incessante. O proé prio Cordeiro
de Deus que encheraé de terror, com a grandeza da Sua ira, todas as tribos e povos da terra,
conduziraé pela Sua maã o bondosa o rebanho que comprou com o Seu precioso sangue atraveé s
de verdes pastos e a aé guas tranquilas (comparem-se Ãp 6:15 -17 com 7:17).

Israel Vitorioso e o Exército de Faraó Destruído


O fim do nosso capíétulo mostra-nos Israel vitorioso nas praias do Mar Vermelho e o
exeé rcito do Faraoé submergido nas suas aé guas. Os temores dos israelitas e a jactaê ncia dos
egíépcios eram igualmente desprovidos de fundamento. Ã obra gloriosa do Senhor havia
destruíédo tanto uns como os outros. Ãs mesmas aé guas que serviram de muro aos remidos de
Deus, serviram de sepultura para Faraoé . ÊÉ sempre assim: aqueles que andam por feé acham um
caminho por onde transitar, ao passo que todos aqueles que tentam imitaé -los encontram uma
sepultura. Trata-se de uma verdade solene, que naã o eé , de modo nenhum, diminuíéda pelo fato
que Faraoé atuava em hostilidade declarada e positiva contra Deus quando intentou atravessar
o Mar Vermelho. Descobrir-se-aé sempre a verdade que todos aqueles que intentam imitar as
obras da feé seraã o confundidos. Felizes daqueles que, embora fracos, podem andar por feé .
Seguem por um caminho de bem-aventurança inf laé vel—um caminho que, embora possa ser
marcado por falhas e fraquezas, eé , todavia, começado, prosseguido e acabado com Deus.
Possamos noé s entrar mais e mais na realidade divina, calma elevaçaã o e santa independeê ncia
desta senda.
Naã o devemos deixar esta parte do Livro do ÊÊ xodo sem nos referirmos aà passagem da 1
Êpíéstola aos Coríéntios 10:1-2, em que se faz refereê ncia aà nuvem e ao mar.
"Ora, irmaã os, naã o quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da
nuvem; e todos passaram pelo mar; e todos foram batizados em Moiseé s, na nuvem e no mar".
Êsta passagem encerra a instruçaã o preciosa e profunda para o cristaã o, pois que o apoé stolo
continua, dizendo: "Ê essas coisas foram-nos feitas em figura" (versíéculo 6), dando-nos assim
autorizaçaã o divina para interpretarmos o batismo de Israel "na nuvem e no mar" de uma
maneira simboé lica; e nada, seguramente, pode ter uma significaçaã o mais profunda e praé tica.
Foi como povo batizado desta maneira que os israelitas empreenderam a sua peregrinaçaã o
atraveé s do deserto, para qual foi feita provisaã o de "um manjar espiritual" e "uma mesma
bebida espiritual" pela maã o d'Ãquele que eé amor. Êm suma: era simbolicamente um povo
morto para o Êgito e tudo que lhe dizia respeito. Ã nuvem e o mar foram para eles aquilo que a
cruz e a sepultura de Cristo saã o para noé s. Ãnuvem punha-os ao abrigo dos seus inimigos e o
mar separava-os do Êgito—da mesma maneira, a cruz protege-nos de tudo que podia ser
contra noé s, e noé s achamo-nos do lado celestial da sepultura de Jesus. ÊÉ aqui que começa a
nossa peregrinaçaã o atraveé s do deserto. Ê aqui que começamos a saborear o manaé celestial e
abeber das correntes que brotam da "rocha espiritual", enquanto que, como povo de
peregrinos, caminhamos para a terra do repouso da qual Deus nos tem falado.
Desejo aqui chamar a atençaã o do leitor para a importaê ncia de compreender a diferença
entre o Mar Vermelho e o Jordaã o. Os dois acontecimentos teê m o seu antíétipo na morte de
Cristo. Poreé m, no primeiro vemos separaçaã o do Êgito; no ué ltimo vemos introduçaã o na terra de
Canaaã . O crente naã o somente estaé separado deste presente seé culo mau, por meio da cruz de
Cristo, como foi vivificado da sepultura de Cristo, ressuscitado juntamente com Êle e
assentado nos lugares celestiais, em Cristo (Êf 2:5-6). Por isso, ainda que esteja rodeado pelas
coisas do Êgito, ele encontra-se, quanto aà sua experieê ncia atual, no deserto; enquanto que, ao
mesmo tempo, eé levado pela energia da feé aà quele lugar onde Jesus estaé sentado aà destra de
Deus. Ãssim, o crente naã o soé eé perdoado de todos os seus pecados, como estaé associado com
Cristo ressuscitado nos ceé us: naã o soé eé salvo por Cristo, como estaé unido a Êle para sempre.
Nada menos do que isto podia satisfazer o amor de Deus ou realizar os Seus propoé sitos a
respeito da Igreja.
Prezado leitor, compreendemos noé s estas coisas? Ãcreditamo-las? Manifestamos o
poder delas?- Bendita a graça que as tornou invariavelmente certas para cada membro do
corpo de Cristo, quer seja soé um olho, uma paé lpebra, uma maã o ou umpeé . Ã verdade destas
coisas naã o depende, portanto, da sua manifestaçaã o por noé s, nem de as realizar-mos ou
compreendermos, mas, sim, do "PRÊCIOSO SÃNGUÊ DÊ CRISTO", que cancelou toda a nossa
culpa e lançou o fundamento de todos os desíégnios de Deus a nosso respeito. Êis descanso
verdadeiro para todo o coraçaã o quebrantado e toda a conscieê ncia sobrecarregada.
— CÃPIÉTULO 15 —

UM CÂNTICO DE VITÓRIA
O Louvor que Segue a Libertação
Êste capíétulo abre com o caê ntico magníéfico de vitoé ria de Israel nos bancos do Mar
Vermelho, quando viu "a grande maã o que o SÊNHOR mostrara aos egíépcios" (capíétulo 14:31).
Haviam visto a salvaçaã o de Deus e, portanto, entoaram os Seus louvores e narraram as Suas
obras maravilhosas. "Êntaã o, cantou Moiseé s e os filhos de Israel este caê ntico ao SÊNHOR" . Ãteé
este momento naã o temos ouvido nem sequer uma soé nota de louvor. Ouvimos o seu clamor
angustioso, enquanto labutavam nos fornos de tijolo do Êgito, escutaé mos o seu brado de
incredulidade, quando se viram rodeados por aquilo que lhes parecia serem dificuldades
insuperaé veis; mas, ateé agora, naã o ouvimos nenhum caê ntico de louvor. Foi soé quando, como um
povo salvo, se acharam rodeados pelos frutos da salvaçaã o de Deus que o hino triunfal
irrompeu de toda a congregaçaã o redimida. Foi quando saíéram do seu batismo "na nuvem e no
mar", e puderam contemplar os ricos despojos da vitoé ria, que se achavam espalhados aà sua
volta, que milhares de vozes se ouviram entoando o caê ntico da vitoé ria. Ãs aé guas do Mar
Vermelho corriam entre eles e o Êgito, e eles achavam-se na costa como povo inteiramente
libertado; e, portanto, puderam louvar o Senhor.

A Redenção e o Culto
Nisto, como em tudo o mais, eles foram figuras de todos noé s. Noé s precisamos de saber
que estamos salvos, no poder da morte e ressurreiçaã o, antes de podermos prestar a Deus culto
claro e inteligente. Haveraé sempre na alma reserva e hesitaçaã o, provenientes, sem dué vida, da
sua incapacidade em compreender a redençaã o que haé em Cristo Jesus. Pode haver o
reconhecimento do fato que haé salvaçaã o em Cristo Jesus, e em nenhum outro; poreé m
compreender, pela feé , o verdadeiro caraé ter e fundamento dessa salvaçaã o, realizando-a como
nossa, eé coisa muito diferente. O Êspíérito de Deus revela, com clareza inconfundíével, na Palavra
de Deus, que a Igreja estaé unida a Cristo na morte e ressurreiçaã o; e, demais, que Cristo
ressuscitado e assentado aà destra de Deus eé a medida e o penhor da aceitaçaã o da Igreja.
Quando se creê isto, a alma eé transportada para laé das regioã es da dué vida e incerteza. Como
pode o crente duvidar quando sabe que eé representado continuamente diante do trono de
Deus por um advogado, Jesus Cristo, o Justo 1?- ÊÉ privileé gio ateé do mais fraco dos membros da
Igreja de Deus saber que foi representado por Cristo na cruz, e que todos os seus pecados
foram confessados, levados, julgados e expiados ali. ÊÉ uma realidade divina, que, quando aceite
pela feé , daé a paz. Mas nada menos que isto pode jamais dar paz. Pode existir o desejo mais
sincero, ardente, ansioso e verdadeiro de Deus; poderaã o observar-se pia e devotadamente
todas as ordenaçoã es, deveres e praé ticas da religiaã o, mas o ué nico meio de libertar a conscieê ncia
do sentido do pecado eé veê -lo julgado na pessoa de Cristo, oferecendo-Se uma vez como
sacrifíécio pelo pecado na cruz de maldiçaã o. Se o pecado foi ali julgado uma vez para sempre, o
crente deve, portanto, consideraé -lo, agora, como uma questaã o divinamente e eternamente
arrumada. Ê que a questaã o do pecado foi assim julgada estaé provado pela ressur reiçaã o do
nosso Substituto. "Êu sei que tudo quanto Deus faz duraraé eternamente; nada se lhe deve
acrescentar, e nada se lhe deve tirar. Ê isso faz Deus para que haja temor diante dele" (Êc 3:14).
Contudo, enquanto eé admitido em geral que tudo isto eé verdadeiro quanto aà Igreja
coletivamente, muitos teê m grande dificuldade em fazer a sua aplicaçaã o pessoal. Êstaã o prontos
a dizer com o Salmista: "Verdadeiramente bom eé Deus para com Israel, para com os limpos de
coraçaã o. Quanto a mim..." (SI 73:1- 2). Olham para si, em vez de olharem para Cristo na morte e
Cristo na ressurreiçaã o. Êstaã o mais ocupados com a apropriaçaã o de Cristo do que com Cristo
Mesmo. Pensam na sua capacidade em vez de pensarem nos seus privileé gios. Saã o retidos num
estado de incerteza inquietante; e, por conseguinte, nunca podem tomar o lugar de
adoradores ditosos e inteligentes. Oram por salvaçaã o em vez de se regozijarem na possessaã o
consciente dela. Olham para os seus frutos imperfeitos em vez de contemplarem a perfeita
expiaçaã o de Cristo.
Bom, examinando as vaé rias notas deste caê ntico, no capíétulo 15 de ÊÊ xodo, naã o
encontramos uma nota sequer acerca do ego nem dos seus feitos: tudo se refere ao Senhor
desde o princíépio ao fim. Começa assim: "Cantarei ao SÊNHOR, porque sumamente se exaltou;
lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro". Isto eé uma amostra de todo o caê ntico. ÊÉ um simples
relato dos atributos e obras do Senhor. No capíétulo 14 os coraçoã es dos israelitas haviam sido,
com efeito, encurralados sob a pressaã o excessiva das circunstaê ncias; poreé m no capíétulo 15
essa pressaã o eé tirada, e os seus coraçoã es encontram plena saíéda num suave caê ntico de louvor.
O ego eé esquecido; as circunstaê ncias saã o perdidas de vista, e um soé objeto enche a sua visaã o, e
esse eé o Proé prio Senhor no Seu caraé ter e em Suas obras. Ãssim eles puderam dizer: "Pois tu,
SÊNHOR, me alegraste com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas maã os" (SI 92:4). Isto eé
culto verdadeiro. ÊÉ quando o pobre ego, com tudo quanto lhe pertence, eé perdido de vista e
somente Cristo enche os nossos coraçoã es, que podemos oferecer a Deus culto verdadeiro. Os
esforços de uma piedade carnal naã o saã o precisos para despertar na alma sentimentos de
devoçaã o. Naã o temos necessidade nenhuma de recorrer aà pretendida ajuda da religiaã o, assim
chamada, para inflamar na alma a chama do culto aceitaé vel a Deus. Ãh! Naã o; deixai que o
coraçaã o esteja ocupado somente com a Pessoa de Cristo, e os "caê nticos de louvor" seraã o a
consequeê ncia natural. ÊÉ impossíével que o olhar esteja fixado n'Êle sem que o espíérito se curve
em santa adoraçaã o. Se contemplarmos o culto dos exeé rcitos celestiais, que rodeiam o trono de
Deus e do Cordeiro, veremos que eé sempre acompanhado da apresentaçaã o de algum traço
especial das perfeiçoã es ou obras divinas. Ãssim deveria ser com a Igreja na terra; e quando eé
de outra maneira, eé porque nos deixamos vencer por coisas que naã o teê m lugar nas regioã es da
clara luz e da pura bem-aventurança.

Deus: o Único Propósito do Louvor


Êm todo o culto verdadeiro, Deus eé ao mesmo tempo o objeto do culto, o assunto do
culto, e o poder do culto.
Por isso neste capíétulo de ÊÊ xodo encontra-se um belo exemplo de um caê ntico de louvor.
ÊÉ a linguagem de um povo redimido celebrando os louvores dignos d'Ãquele que os redimiu.
"O SÊNHOR eé a minha força e o meu caê ntico; ele me foi por salvaçaã o; este eé o meu Deus;
portanto, lhe farei uma habitaçaã o; ele eé o Deus de meu pai; por isso o exaltarei. O SÊNHOROÉ
varaã o de guerra; SÊNHOR eé o seu nome... Ã tua destra, oé SÊNHOR, se tem glorificado em poteê ncia;
a tua destra, oé SÊNHOR, tem despedaçado o inimigo... O SÊNHOR, quem eé como tu entre os
deuses1?- Quem eé como tu glorificado em santidade, terríével em louvores, operando
maravilhas?-... Tu, com a tua beneficeê ncia, guiaste este povo, que salvaste; coma tua força o
levaste aà habitaçaã o da tua santidade... O SÊNHOR reinaraé eterna e perpetuamente".
Quaã o compreensiva eé a extensaã o deste caê ntico! Começa com a redençaã o e termina com
a gloé ria'. Principia com a cruz, e termina com o reino. ÊÉ parecido com um belo arco-íéris, do
qual uma extremidade mergulha nos "sofrimentos" e a outra na "gloé ria que se lhes seguiu" (1
Pe 1:11). Tudo se refere ao Senhor. ÊÉ o derramamento da alma produzido pela contemplaçaã o
de Deus e das suas obras maravilhosas.
Ãleé m disso, o caê ntico naã o paé ra com o cumprimento dos desíég nios de Deus, visto que
lemos: "Com a tua beneficeê ncia guiaste este povo..., com a tua força o levaste aà habitaçaã o da tua
santidade". O povo podia dizer isto, embora acabasse apenas de poê r os seus peé s nas margens
do deserto. Naã o era uma expressaã o de uma vaga esperança. Tampouco era aproveitar uma
escura oportunidade. Ãh! naã o; quando a alma estaé inteiramente ocupada com Deus pode
espraiar-se na plenitude da Sua graça, gozar da proteçaã o da luz do Seu rosto, e deleitar-se na
rica abundaê ncia das Suas misericoé rdias e da Sua bondade. Ãs perspectivas que se abrem ante
a alma estaã o livres de nuvens, quando ela, tomando o seu lugar sobre a rocha eterna em que o
amor redentor se associou com um Cristo ressuscitado, contempla a aboé bada espaçosa dos
planos e propoé sitos infinitos de Deus e fixa o olhar no esplendor dessa gloé ria que Deus
preparou para todos aqueles que lavaram e branquearam os seus vestidos no sangue do
Cordeiro.
Isto explica-nos o caraé ter peculiarmente brilhante e elevado desses rasgos de louvor
que encontramos atraveé s das paé ginas da Sagrada Êscritura. Ã criatura eé posta de parte; Deus eé
o ué nico objeto e enche toda a esfera da visaã o da alma. Nada haé ali que pertença ao homem,
nem aos seus pensamentos ou aà s suas experieê ncias; e, portanto, a corrente de louvor corre
copiosa e ininterruptamente. Quaã o diferente eé tudo isto dos hinos que frequentemente ouvi-
mos cantar nas reunioã es cristaã s, taã o repletos das nossas faltas, das nossas fraquezas e das
nossas deficieê ncias! O fato eé que nunca poderemos cantar com verdadeira inteligeê ncia
espiritual e poder enquanto nos contemplarmos a noé s proé prios. Descobriremos sempre
qualquer coisa em noé s que seraé um obstaé culo para o nosso culto. De fato, muitos parecem crer
que estar num estado de dué vida e hesitaçaã o eé uma graça cristaã ; e, como resultado, os seus
hinos saã o do mesmo caraé ter da sua condiçaã o espiritual. Êstas pessoas, por muito sinceras e
piedosas que possam ser, nunca, na verdadeira experieê ncia das suas almas, compreenderam o
proé pio fundamento do culto. Ãinda naã o puseram de parte o ego; naã o atravessaram ainda o
mar; e, naã o tomaram ainda o seu lugar, como um povo espiritualmente batizado, na outra
margem, no poder da ressurreiçaã o. Êstaã o ainda, de um modo ou de outro, ocupadas consigo:
naã o consideram o ego como uma coisa crucificada, com a qual Deus acabou para sempre.
Que o Êspíérito Santo leve o povo de Deus a uma compreensaã o mais clara, plena, e digna
do seu lugar e privileé gios, como aqueles que, havendo sido lavados dos seus pecados no
sangue de Cristo, saã o apresentados diante de Deus naquela aceitaçaã o infinita e pura em que
Êle estaé , como Chefe ressuscitado e glorificado da Sua Igreja. Ãs dué vidas e os temores naã o saã o
proé prios dos filhos de Deus, porque o seu divino penhor naã o deixou sombra de dué vidas, para
que haja suspeita de temor. O seu lugar eé no santuaé rio. Teê m "ousadia para entrar no santuaé rio,
pelo sangue de Jesus" (Hb 10:19). Ãcaso podem existir dué vidas ou temores no santuaé rio"? Naã o
eé evidente que aquele que duvida poã e a perfeiçaã o da obra de Cristo — obra que foi
confirmada, aà vista da inteligeê ncia, pela ressurreiçaã o de Cristo de entre os mortos'?- O bendito
Senhor naã o podia ter deixado a sepultura sem que todo o motivo de dué vida e de temor para o
Seu povo tivesse sido inteiramente removido. Por esse motivo, eé doce privileé gio do cristaã o
exultar na salvaçaã o completa. O proé prio Senhor eé a sua salvaçaã o, e ele tem apenas que gozar os
frutos da obra que Deus fez por ele, e andar para Seu louvor enquanto espera pelo tempo em
que "O SÊNHOR reinaraé eterna e perpetuamente".
Êxiste uma nota neste caê ntico para a qual desejo chamar a atençaã o do leitor: "...este eé o
meu Deus; portanto, lhe farei uma habitaçaã o" (versíéculo 2). ÊÉ um fato digno de notar que
quando o coraçaã o transborda da alegria da redençaã o, entaã o expressa o propoé sito de se
consagrar referente aà habitação fará Deus.
Que o cristaã o pondere isto. O pensamento de Deus habitar com os homens acha-se nas
Êscrituras desde ÊÊ xodo, capíétulo 15, ao Ãpocalipse. Êscutemos a linguagem de um coraçaã o
consagrado: "Certamente, que naã o entrarei na tenda em que habito, nem subirei ao leito em
que durmo, naã o darei sono aos meus olhos, nem repouso aà s minhas paé lpebras, enquanto naã o
achar lugar para o SÊNHOR, uma morada para o Poderoso de Jacoé " (SI 132:3 - 5). "Pois o zelo da
tua cada me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíéram sobre mim" (SI 69:9; Jo 2:17).
Naã o pretendo tratar deste assunto aqui; poreé m, gostaria de despertar interesse por ele no
coraçaã o do leitor, para que o estudasse, por si mesmo, com oraçaã o, desde a primeira vez que o
encontramos nas Êscrituras ateé chegar aà quela consoladora declaraçaã o: "Êis aqui o tabernaé culo
de Deus com os homens, pois com eles habitaraé , e eles seraã o o seu povo, e o mesmo Deus
estaraé com eles, e seraé o seu Deus. Ê Deus limparaé de seus olhos toda a laé grima"(Ãp 21:3-4).

A Partida para o Deserto


"Depois, fez Moiseé s partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíéram ao deserto de Sur, e
andaram treê s dias no deserto; e naã o acharam aé guas" (versíéculo 22). Ê quando entramos na
experieê ncia do deserto que somos postos aà prova, a fim de que se manifeste ateé que ponto
conhecemos Deus e o nosso proé prio coraçaã o. O princíépio da nossa vida cristaã eé acompanhado
por uma vivacidade e de um gozo exuberantes, que logo as rajadas de vento do deserto
procuram deter; e entaã o, a naã o ser que haja um profundo sentimento daquilo que Deus eé para
noé s, acima e aleé m de tudo mais, sentimo-nos desfalecer, e em nossos coraçoã es tornamos ao
Êgito (Ãt 7:39). Ã disciplina do deserto eé necessaé ria, naã o para nos dar o direito a Canaaã , mas
para nos tornar familiarizados com Deus e os nossos proé prios coraçoã es, para nos habilitar a
compreendermos o poder do nosso parentesco e para nos dar capacidade para gozarmos da
terra de Canaaã , quando laé chegarmos (veja-se Dt 8:2 - 5).
à verdura, a frescura e a exuberaê ncia da primavera teê m atrativos peculiares, os quais
desaparecem perante o calor abrasador do veraã o; poreé m, com os devidos cuidados, este
mesmo calor que destroé i os traços espleê ndidos da primavera, produz os frutos maduros e
sazonados do outono. O mesmo acontece na vida cristaã ; pois existe, como sabemos, uma
analogia notaé vel e profundamente instrutiva entre os princíépios que regem o reino da
natureza e aqueles que caracterizam o reino da graça, sendo uns e outros obra do mesmo
Deus.
Podemos contemplar Israel sob treê s posiçoã es distintas, a saber: no Êgito, no deserto, e
na terra de Canaaã . Êm todas estas posiçoã es, eles saã o "nossas figuras"; enquanto que noé s nos
achamos nas treê s ao mesmo tempo. De fato, noé s encontramo-nos, por assim dizer, no Êgito,
rodeados de coisas da natureza, que se adaptam perfeitamente ao coraçaã o natural. Todavia,
porquanto fomos chamados pela graça de Deus aà comunhaã o de Seu Filho Jesus Cristo, noé s,
segundo os afetos e desejos da nova natureza, encontramos, necessariamente, o nosso lugar
fora de tudo que pertence ao Êgito (*) (o mundo no seu estado natural), e isto f az-nos passar
pelas experieê ncias do deserto, ou, por outras palavras, poã e-nos, quanto aà experieê ncias, no
deserto.
à natureza divina suspira ardentemente por uma ordem de coisas diferentes — por
uma atmosfera mais pura do que aquela que nos rodeia, e desta forma faz-nos sentir que o
Êgito eé como um deserto moral. Poreé m, visto que estamos, aos olhos de Deus, eternamente
ligados Ãquele que penetrou nos ceé us, e se assentou aà destra da Majestade, eé nosso privileé gio
saber, pela feé , que estamos assentados com Êle ali (Êf 2:6). De forma que, apesar de estarmos,
quanto aos nossos corpos, no Êgito, quanto aà nossa experieê ncia estamos no deserto, enquanto
que, ao mesmo tempo, a feé nos conduz a Canaaã e habilita-nos a alimentarmo-nos "do trigo da
terra do ano antecedente" Os 5:11), isto eé , de Cristo, como Ãquele que naã o somente veio aà
terra, mas que voltou para o ceé u e Se assentou ali em gloé ria.

Mara: as Águas Amargas


Os versíéculos finais deste capíétulo mostram-nos Israel no deserto. Ãteé aqui parece que
tudo lhes havia corrido bem. Terríéveis j uíézos haviam caíédo sobre o Êgito, mas Israel fora
perfeitamente excluíédo; o exeé rcito do Êgito jazia morto nas praias do mar, mas Israel estava
em triunfo. Tudo isto era bastante; mas, enfim, o aspecto das coisas depressa mudou! Os hinos
de louvor foram depressa substituíédos pelas palavras de descontentamento. "Êntaã o, chegaram
a Mara; mas naã o puderam beber as aé guas de Mara, porque eram amargas: por isso, chamou-se
o seu nome Mara. Ê o povo murmurou contra Moiseé s, dizendo: Que havemos de bebera
(versíéculos 23 a 24).
"Ê toda a congregaçaã o dos filhos de Israel murmurou contra Moiseé s e contra Ãraã o no
deserto. Ê os filos de Israel disseram-lhes:
Quem dera que noé s morreê ssemos pela maã o do SÊNHOR na terra do Êgito, quando
estaé vamos sentados junto aà s panelas de carne, quando comíéamos paã o ateé fartar! Porque nos
tendes tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidaã o (capíé tulo 16:2-3).
_____________________
(¹) Existe uma grande diferença moral entre o Egito e Babilónia, que é importante conhecer. O Egito foi o
país de onde veio o povo de Israel; Babilónia foi a terra para onde eles foram deportados mais tarde (comparem-se
Am 5:25- 27 com At 7:42-43). O Egito significa aquilo que o homem fez do mundo; Babilónia expressa o que Satanás
tem feito, faz ou fará da Igreja professa. Por isso, não estamos apenas rodeados das circunstâncias do Egito, como
também pelos princípios morais de Babilônia.
Isto faz dos nossos "tempos" o que o Espírito Santo considera "trabalhosos"—difíceis. São necessárias a
energia do Espírito de Deus e uma sujeição completa à autoridade da Palavra de Deus para se poder enfrentar a
influência combinada das realidades do Egito e o espírito e os princípios de Babilónia. Aquelas satisfazem os desejos
naturais do coração; enquanto que estes se ligam e dirigem à religiosidade da natureza, que lhes dá um acolhimento
peculiar no coração. O homem é um ente religioso e peculiarmente susceptível das influências da música, da
escultura, da pintura, ritos pomposos e cerimónias. Quando estas coisas se acham ligadas com o suprimento das
necessidades naturais—sim, com a facilidade e a luxúria da vida, nada senão o poder da Palavra de Deus e do
Espírito pode manter alguém fiel a Cristo.
Devemos notar também que existe uma grande diferença entre os destinos do Egito e os de Babilónia. O
capítulo 19 de Isaías apresenta-nos as bênçãos que estão guardadas para o Egito. Esta é a conclusão: "E ferirá o
SENHOR aos egípcios e os curará; e converter-se-ão ao SENHOR, e mover-se-á às suas orações, e os curará: ...Naquele
dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. Porque o SENHOR dos Exércitos
os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança"
(versículos 22-25).
O fim da história da Babilónia é muito diferente quer o encaremos como uma cidade literal ou um sistema
espiritual. "E reduzi-la-ei a possessão de corujas e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o
SENHOR dos Exércitos" (Is 14:23). "Nunca mais será habitada, nem reedificada de geração em geração" (Is 13:20).
Isto quando a Babilónia, literalmente; sob o ponto de vista místico ou espiritual vemos o seu destino em Apocalipse,
capítulo 18. Esse capítulo é uma descrição de Babilónia, e termina com estas palavras: "E um forte anjo levantou
uma pedra como uma grande mó e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada Babilónia, aquela
grande cidade, e não será jamais achada" (versículo 21).
Com que imensa solenidade deveriam essas palavras soar aos ouvidos de todos aqueles que estão ligados,
de qualquer modo, com Babilónia—isto é, com a Igreja professa. "Sai dela, povo meu, para que não sejas
participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas" (Ap 18:4). O "poder" do Espírito Santo
operará necessariamente ou expressar-se-á numa certa "forma" de piedade, e o alvo do inimigo tem sido sempre
defraudar a Igreja professa do poder, ao mesmo tempo que a induz a apoiar-se na forma e a perpetuá-la—a
imprimir a forma depois de todo o espírito e a vida haverem desaparecido. É assim que ele edifica a Babilónia
espiritual. As pedras com que esta cidade é edificada são os professos sem vida espiritual; e o martelo com que ele
liga essas pedras é "a forma de piedade sem poder".
Oh! prezado leitor, certifiquemo-nos de que compreendemos estas coisas plena e claramente.

Êis aqui as provaçoã es do deserto. "Que havemos de comera" e "que havemos de bebera"
Ãs aé guas de Mara puseram aà prova o coraçaã o de Israel e mostraram o seu espíérito
murmurador; mas o Senhor mostrou-lhes que naã o havia amargura que Êle naã o pudesse
dulcificar com a provisaã o da Sua graça: "...e o SÊNHOR mostrou-lhe um lenho que lançou nas
aé guas, e as aé guas se tornaram doces: ali lhes deu estatutos e uma ordenaçaã o, e ali os provou".
Que formosa figura d'Ãquele que foi, em graça infinita, lançado aà s aé guas da morte, para que
essas aé guas nada mais nos pudessem dar senaã o doçura, para todo o sempre. Verdadeiramente,
podemos dizer: "Na verdade jaé passou a amargura da morte", e nada mais nos resta senaã o as
doçuras eternas da ressurreiçaã o.
O versíéculo 26 poã e diante de noé s o caraé ter importante desta primeira etapa dos
remidos de Deus no deserto. Êncontramo-nos em grande perigo, nesta hora, de cair num
espíérito mal disposto, impaciente de murmuraçaã o. O ué nico remeé dio contra este mal eé
conservarmos os olhos postos em Jesus —"olhando para Jesus" (Hb 12:2). Bendito seja o Seu
nome, Êle sempre Se mostra aà altura das necessidades do Seu povo; e eles, em vez de se
queixarem das suas circunstaê ncias, deviam fazer delas o motivo de se aproximarem mais
d'Êle. ÊÉ assim que o deserto se torna ué til para nos ensinar o que Deus eé . ÊÉ uma escola na qual
aprendemos a conhecer a Sua graça constante e os Seus amplos recursos. "Ê suportou os seus
costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos" (Ãt 13:18).
O homem espiritual reconheceraé sempre que vale a pena ter aé guas amargas para Deus
as dulcificar:".. .tambeé m nos gloriamos nas tribulaçoã es, sabendo que a tribulaçaã o produz a
pacieê ncia; e a pacieê ncia, a experieê ncia, e a experieê ncia, a esperança" (Rm 5:3 -5).

Elim: Doze Fontes e Setenta Palmeiras


Todavia, o deserto tem os seus Êlins bem como os seus Maras; as suas fontes e
palmeiras, bem como as suas aé guas amargas. "Êntaã o, vieram a Êlim, e havia ali doze fontes de
aé gua e setenta palmeiras; e ali se acamparam junto das aé guas (versíéculo 27).
O Senhor graciosa e ternamente prepara verdes lugares no deserto para o Seu povo; e
embora sejam, quanto muito, oaé sis, refrescam, todavia, o espíérito e animam o coraçaã o. Ã
permaneê ncia temporaé ria em Êlim era evidentemente calculada para tranquilizar os coraçoã es
do povo e fazer cessar as suas murmuraçoã es. Ã sombra agradaé vel das suas palmeiras e as
aé guas refrescantes das suas fontes vieram muito a propoé sito, depois da provaçaã o de Mara, e
realçam aà nossa vista as virtudes preciosas daquele ministeé rio espiritual que Deus proveê para
o Seu povo no mundo. Os nué meros "doze" e "setenta" estaã o intimamente ligados com o
ministeé rio.
Mas Êlim naã o era Canaaã Ãs fontes e as palmeiras eram apenas um antegozo desse paíés
ditoso que estava situado para laé dos limites do deserto esteé ril, no qual os remidos acabavam
de entrar. Davam refrigeé rio, sem dué vida, mas era refrigeé rio do deserto: era apenas
momentaê neo, destinado em graça, a animar os espíéritos deprimidos e a dar-lhes vigor para a
sua marcha para Canaaã . Ãssim eé , como sabemos, com o ministeé rio na Igreja; eé um suprimento
gracioso para as nossas necessidades, destinado a refrescar, fortalecer e encorajar os nossos
coraçoã es "ateé que todos cheguemos aà medida da estatura completa de Cristo" (Êf 4:13).
— CÃPITULO 16 —

O MANÁ: O PÃO DO CÉU


As Murmurações do Povo
"Ê PÃRTIDOS de Êlim, toda a congregaçaã o dos filhos de Israel veio ao deserto de Sim,
que estaé entre Êlim e Sinai, aos quinze dias do meê s segundo, depois que saíéram da terra do
Êgito". Vemos aqui Israel numa posiçaã o notaé vel e muito interessante. ÊÉ ainda o deserto, sem
dué vida, mas eé um lugar de paragem muito importante e significativo, a saber, "entre Êlim e
Sinai". Ãquele era o lugar onde haviam recentemente provado as aé guas refrescantes do
ministeé rio divino; este era o lugar onde eles deixaram o terreno da graça soberana e se
colocaram debaixo do concerto das obras. Êstes fatos tornam "o deserto de Sinai" uma parte
particularmente interessante da jornada de Israel. O Seu aspecto e influeê ncia saã o acentuados
grandemente como qualquer outro ponto em toda a sua histoé ria. Veê mo-los aqui como os
objetos da mesma graça que os havia tirado da terra do Êgito, e, portanto, todas as suas
murmuraçoã es saã o imediatamente atendidas por suprimento divino. Quando Deus opera na
manifestaçaã o da Sua graça naã o haé impedimento. Ãs beê nçaã os que Êle derrama correm sem
interrupçaã o. Ê soé quando o homem se coloca debaixo da lei que perde tudo; porque entaã o
Deus tem de permitir que ele se certifique de quanto pode exigir com base nas suas proé prias
obras.
Quando Deus visitou e redimiu o Seu povo e os tirou da terra do Êgito, naã o foi,
certamente, com o propoé sito de os deixar morrer de fome e de sede no deserto. Êles deviam
saber isto. Deviam ter confiado n'Êle e andado na confiança daquele amor que os havia
libertado gloriosamente dos horrores da escravidaã o do Êgito.
Deviam ter recordado que era infinitamente melhor estar com Deus no deserto do que
nos fornos de tijolo com Faraoé . Mas naã o; o coraçaã o humano acha uma coisa muito difíécil dar
creé dito a Deus pelo seu amor puro e perfeito: tem muito mais confiança em Satanaé s do que em
Deus. Vede, por um momento, toda a dor e sofrimento, a miseé ria e degradaçaã o que o homem
tem sofrido por causa de ter dado ouvidos aà voz de Satanaé s, e contudo nunca tem uma palavra
de queixa quanto ao seu serviço ou desejo de se libertar das suas maã os. Naã o estaé descontente
com Satanaé s nem cansado de o servir. Colhe repetidas vezes os frutos amargos nesses campos
que Satanaé s tem aberto de si; e, todavia, pode ser visto repetidas vezes a semear a
mesmíéssima semente e a passar pelos mesmos trabalhos.
Mas como eé diferente quando se trata de Deus! Quando nos dispomos a andar nos Seus
caminhos, estamos prontos, aà primeira apareê ncia de dificuldades ou provaçoã es, a murmurar e
a rebelarmo-nos. Na verdade, naã o haé nada em que tanto falhamos como no desenvolvimento
de um espíérito confiante e agradecido. Êsquecemos facilmente dez mil beê nçaã os na presença de
uma simples privaçaã o. Os nossos pecados foram todos perdoados, "fomos aceites noamado"(Êf
1:6) efeitos herdeiros eco-herdeiros com Cristo—esperamos agloé ria eterna; e aleé m de tudo
mais, o nosso caminho atraveé s do deserto estaé coberto de misericoé rdias inumeraé veis; e
todavia deixai que uma nuvem, apenas como palma da maã o de um homem, apareça no
horizonte, e as ricas misericoé rdias do passado saã o por noé s prontamente esquecidas
aà vistadesta pequena nuvem, que, afinal, pode muito vem desfazer-se embeê nçaã os sobre a nossa
cabeça.
Êste pensamento deveria humilhar-nos profundamente diante de Deus. Como somos
diferentes nisto, e em tudo mais, do nosso bendito Modelo! Vede-O—o verdadeiro Israel no
deserto—rodeado de feras e jejuando durante quarenta dias. Como Se conduziu Êle?
Murmurou1?- Queixou-Se da Sua sorte?- Desejou achar-Se noutras circunstaê ncias 1? Ãh! naã o.
Deus era a porçaã o do Seu caé lice e a parte da Sua herança (SI 16). Ê, portanto, quando o
tentador se aproximou de Lhe oferecer o necessaé rio, gloé rias, distinçoã es, e as honras desta vida,
Êle recusou-os e manteve firmemente a posiçaã o de absoluta dependeê ncia de Deus e implíécita
obedieê ncia aà Sua palavra. Soé aceitaria do mesmo modo o paã o e a gloé ria das maã os de Deus.
Como foi taã o diferente com Israel segundo a carne! Taã o depressa sentiu o sofrimento da
fome "Murmurou contra Moiseé s e contra Ãraã o, no deserto" (versíéculo 2). Parece que haviam
perdido a compreensaã o de haverem sido libertados pela maã o do Senhor, porque disseram:"...
porque nos tendes tirado para este desertou" Ê tambeé m no capíétulo 17:3, lemos: "...o povo
murmurou contra Moiseé s, e disse: porque nos fizeste subir do Êgito, para nos matares de sede,
a noé s, e aos nossos filhos, e ao nosso gado?" Ãssim, eles manifestaram em todas as ocasioã es
um espíérito irritado e de queixume, e mostraram quaã o pouco realizavam a presença do seu
Poderoso e infinitamente gracioso Libertador.
Ora, naã o haé nada que tanto desonre a Deus como um espíérito murmurador por parte
daqueles dos que Lhe pertencem. O apoé stolo apresenta como caracteríéstico especial da
corrupçaã o dos gentios que, "...tendo conhecido a Deus, naã o o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças" (Rm 1:21). Ê entaã o segue-se o resultado praé tico deste espíérito ingrato, "antes
em seus discursos se desvaneceram, e o seu coraçaã o insensato se obscureceu". Ãquele que
deixa de reter um sentido grato da bondade de Deus tornar-se-aé rapidamente
"entenebrecido". Ãssim Israel perdeu o sentido de estar nas maã os de Deus; e isto levou-os,
como podia esperar-se, a trevas mais espessas, visto que os encontramos, mais tarde na sua
histoé ria, dizendo: "Porque nos traz o SÊNHOR a esta terra, para cairmos a espada e para que
nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa"?-" (Nm 14:3). Tal eé a atitude que a alma
que naã o estaé em comunhaã o toma. Começa por perder a noçaã o de estar nas maã os de Deus para
seu bem, e, termina por se julgar nas Suas maã os para seu mal. Que triste progresso!

O Maná
Contudo, como Israel estava debaixo da graça, as suas necessidades saã o supridas de
uma maneira maravilhosa, como lemos no versíéculo 4, deste capíétulo: "Êntaã o, disse o SÊNHOR, a
Moiseé s: Êis que vos farei chover paã o dos ceé us". Quando se achavam envolvidos pela nuvem fria
da incredulidade, eles haviam dito: "Quem dera que noé s morreê ssemos por maã o do SÊNHOR, na
terra do Êgito, quando estaé vamos sentados junto aà s panelas de carne, quando comíéamos paã o
ateé fartar!" Poreé m, agora Deus diz que lhes daraé "paã o dos ceé us". Ãbençoado contraste! Que
diferença espantosa entre as panelas de carne, os alhos porros e as cebolas do Êgito e este
manaé celestial— "o paã o dos poderosos"! (SI 78:25). Ãquelas coisas pertenciam aterra, este paã o
era do ceé u.
Mas este alimento celestial era necessariamente, uma experieê ncia da condiçaã o de
Israel, como estaé escrito, "...para que eu seja se anda em minha lei ou naã o". Êra preciso ter-se
um coraçaã o separado das influeê ncias do Êgito para se dar por satisfeito, ou apreciar "o paã o dos
ceé us". Com efeito, sabemos que o povo naã o se contentou com este paã o, antes o desprezou,
declarou-o "paã o vil" e desejou carne.
Desta forma os israelitas mostraram quaã o pouco separados estavam os seus coraçoã es
do Êgito e como naã o estavam dispostos a andar na lei de Deus: "..em Seu coraçaã o se tornaram
ao Êgito" (Ãt 7:39).
Poreé m, longe de serem reconduzidos para ali, foram transportados, por fim, para aleé m
de Babiloé nia (Ãt 7:43). Êis uma liçaã o solene e salutar para os cristaã os. Se aqueles que foram
libertados deste presente seé culo mau naã o andam com Deus com coraçoã es agradecidos,
satisfeitos com a provisaã o que Êle fez para os remidos no deserto, estaã o em perigo de cair nos
laços da influeê ncia de Babiloé nia. ÊÉ uma reflexaã o muito seé ria, que requer gosto celestial para se
poder alimentar do Paã o do ceé u. Ã natureza naã o pode saborear um tal alimento; suspira sempre
pelo Êgito, e, portanto, deve ser sempre dominada. ÊÉ nosso privileé gio, como aqueles que foram
batizados na morte de Cristo e ressuscitados "pela feé no poder de Deus" (Cl 2:12),
alimentarmo-nos de Cristo como "o paã o da vida que desceu do ceé u" (Jo6:51).

Cristo: O Pão Vivo que Desceu do Céu


Êste eé o nosso alimento nesta peregrinaçaã o—Cristo apresentado pelo ministeé rio do
Êspíérito Santo atraveé s das Êscrituras; enquanto que, para nosso refrigeé rio espiritual, o
Êspíérito Santo veio, como o fruto precioso da Rocha ferida — Cristo, que foi ferido por noé s. Tal
eé a nossa parte neste mundo.
Ora, eé evidente que, a fim de podermos desfrutar uma parte como esta, os nossos
coraçoã es devem estar separados de tudo neste presente seé culo mau— de tudo aquilo que
poderia despertar a nossa cobiça como aqueles que vivem na carne. Um coraçaã o mundano e
carnal naã o encontra Cristo nas Êscrituras nem poderaé apreciaé -Lo, se o encontrar. O manaé era
taã o puro e mimoso que naã o podia suportar contato com a terra. Por isso, descia sobre o
orvalho (veja-se Nml 1:9) e tinha de ser recolhido antes de o sol se elevar. Cada um, portanto,
devia levantar-se cedo e recolher a sua parte. O mesmo acontece com o povo de Deus agora: o
manaé celestial tem de ser colhido todas as manhaã s. O manaé de ontem naã o serve para hoje nem
o de hoje para amanhaã . Devemo-nos alimentar de Cristo cada dia que passa, com novas
energias do Êspíérito, de contraé rio deixaremos de crescer. Ãdemais, devemos fazer de Cristo o
nosso primeiro objetivo. Devemos buscaé -lo "cedo", antes de "outras coisas" terem tempo de se
poderar dos nossos pobres coraçoã es. Ê nisto que muitos de noé s, enfim, falhamos! Damos um
segundo lugar a Cristo, e como consequeê ncia ficamos fracos e esteé reis. O inimigo, sempre
vigilante, aproveita-se da nossa indoleê ncia espiritual para nos roubar a bem-aventurança e as
forças que recebemos nutrindo-nos de Cristo. Ã nova vida no crente só pode ser alimentada e
mantida por Cristo. "Ãssim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de
mim se alimenta tambeé m viveraé por mim" (Jo 6:57).
à graça do Senhor Jesus Cristo, como Ãquele que desceu do ceé u, para ser o alimento do
Seu povo, eé inefavelmente preciosa para a alma renovada; poreé m, a fim de poder apreciaé -Lo
desta forma, devemos compreender que estamos no deserto, separados para Deus, no poder
de uma redençaã o efetuada. Se ando com Deus atraveé s do deserto, estarei satisfeito com o
alimento que Êle me daé , e este eé Cristo, como Ãquele que desceu do ceé u. "O trigo da terra"
deCanaaã , "do ano antecedente" (Js 5:11) tem o seu antíétipo em Cristo elevado às alturas e
assentado na gloé ria. Como tal, Êle eé o proé prio alimento daqueles que, pela feé , sabem que estaã o
ressuscitados e assentados juntamente com Êle nos lugares celestiais. Poreé m,
o manaé , isto eé , Cristo como Aquele que desce do ceé u, eé o sustento para o povo de Deus,
na sua vida e experieê ncias do deserto. Como um povo estrangeiro no mundo, necessitamos de
um Cristo que tambeé m aqui viveu como estrangeiro; como povo assentado nos lugares
celestiais, temos um Cristo que tambeé m ali estaé assentado. Isto poderaé explicar a diferença
que existe entre o manaé e o trigo da terra doano antecedente. Naã o se trata da redençaã o, pois
que esta jaé a temos no sangue da cruz, e ali somente; mas simplesmente da provisaã o que Deus
fez para o Seu povo em face das variadas condiçoã es em que este se encontra, quer seja lutando
no deserto ou tomando posse em espíérito da herança celestial.

A Glória do Senhor na Nuvem


Que quadro admiraé vel nos oferece Israel no deserto! Detraé s de si ficava o Êgito, na sua
frente estava a terra deCanaaã ,eaà sua volta a areia do deserto; enquanto que eles mesmos
estavam reduzidos a esperar do ceé uoseu sustento diaé rio! O deserto naã o produziu uma folha de
erva nem deu uma gota de aé gua para o Israel de Deus. Ã sua porçaã o estava soé em Deus. Nada
teê m aqui. Ã sua vida, sendo celestial, soé pode ser mantida por coisas celestiais. Êmbora es tej
am no mundo, naã o saã o do mundo, porque Cristo os escolheu dele. Como povo celestial por
nascimento, acham-se de caminho para a sua paé tria; e saã o mantidos por alimento que lhes eé
enviado dali. Ã sua marcha eé para diante e para cima. Ãgloé ria soé assim os dirige. ÊÉ
inteiramente inué til volver os olhos para traé s na direçaã o do Êgito, porque nem um soé raio de
gloé ria se pode distinguir ali; "...e eles viraram para o deserto, eis que a gloé ria do S ÊNHOR
apareceu na nuvem". O carro de fogo do Senhor estava no deserto, e todos os que desejam ter
comunhaã o com Êle tinham de estar ali tambeé m, e, estando ali, o manaé do ceé u seria o seu
alimento, e somente esse.

Cristo: O Alimento do Cristão


Verdade seja que este manaé era um sustento estranho, tal como um egíépcio nunca
poderia compreender, apreciar ou viver dele; poreé m aqueles que haviam sido "batizados... na
nuvem e no mar" (1 Co 10:2) podiamapreciaé -loesernutridos por ele, se taã o-somente andassem
em conformidade com esse batismo. Ãssim eé agora no caso de todo o verdadeiro crente. O
homem do mundo naã o pode compreender como eé que o crente vive. Tanto a sua vida como
aquilo que o manteé m estaã o inteiramente fora do alcance da visaã o humana. Cristo eé a sua vida,
e de Cristo ele vive. Nutre-se, pela feé , com os atrativos poderosos d'Ãquele que, sendo "Deus,
bendito eternamente" (Rm 9:15), "tomou sobre si a forma de servo, fazen-do-se semelhante
aos homens" (Fl 2-.7). Segue-O desde o seio do Pai ateé aà cruz e desde a cruz ao trono, e
encontra n'Êle, em todas as fases da Sua carreira e em cada atitude da Sua vida, um alimento
precioso para o homem novo em si. Tudo em volta, embora de fato seja o Êgito, eé moralmente
um deserto aé rido e lué gubre, que nada produz para o espíérito renovado; e precisamente na
proporçaã o em que o crente encontrar alguma coisa com que se nutrir, o seu homem espiritual
seraé impedido no seu progresso. Ã ué nica provisaã o que Deus tem feito eé o manaé do ceé u, e o
verdadeiro crente deveraé alimentar-se sempre dele.
ÊÉ verdadeiramente lamentaé vel ver como tantos cristaã os buscam as coisas deste mundo.
Isto prova claramente que estaã o com "teé dio" do manaé celestial e que o consideram como "paã o
vil". Servem aquilo que deveriam mortificar. Ãs atividades da nova vida estaraã o sempre em
relaçaã o com a subjugaçaã o "do velho homem com seus feitos" (Cl 3:9); e quanto mais isto for
conseguido, tanto mais se desejaraé o nutrimento "do paã o que fortalece o... coraçaã o" (SI
104:15). Ãssim como acontece com o fíésico, em que quanto maior eé o exercíécio maior eé o
apetite, assim tambeé m acontece com a graça: quanto mais exercitadas forem as nossas
faculdades renovadas, tanto mais sentiremos a necessidade de nos alimentarmos diariamente
de Cristo. Uma coisa eé sabermos que temos vida em Cristo juntamente com pleno perdaã o e
aceitaçaã o diante de Deus, e outra muito diferente termos habitualmente comunhaã o com Êle —
nutrindo-nos d'Êle, pela feé e fazendo d'Êle o ué nico alimento das nossas almas. Muitos
professam ter achado perdaã o e paz em Jesus, mas, na realidade, alimentam-se de uma
variedade de coisas que naã o teê m relaçaã o com Êle. Ãlimentam os seus espíéritos com a leitura
dos perioé dicos e uma variedade de literatura fríévola e insíépida. Poderaã o encontrar Cristo nela?
Ãcaso eé por tais meios que o Êspíérito Santo fala de Cristo aà alma? Saã o estas as gotas de orvalho
puro sobre as quais o manaé desce do ceé u para sustento dos remidos de Deus no Deserto? Ãh!
naã o; saã o produtos grosseiros sobre os quais se deleita o espíérito carnal. Como poderia, pois, o
verdadeiro cristaã o alimentar-se com tais coisas? Sabemos, mediante o ensino da Palavra de
Deus, que ele tem duas naturezas: e pode perguntar-se qual das duas se alimenta com o
noticiaé rio do mundo e a literatura mundana. ÊÉ a velha natureza ou a nova? Soé pode haver uma
resposta. Pois bem, qual das duas estamos ansiosos por alimentara à nossa conduta daraé ,
incontestavelmente, a verdadeira resposta a esta interrogaçaã o. Se eu desejar sinceramente
crescer na vida divina, se o meu grande objetivo for o de ser semelhante e consagrado a Cristo,
se suspiro sinceramente pela extensaã o do reino de Deus no meu coração, entaã o, sem dué vida,
buscarei continuamente essa qualidade de alimento que estaé destinado por Deus a promover
o meu crescimento espiritual. Tudo isto eé claro. Os atos de um homem saã o sempre o
verdadeiro indíécio dos seus desejos e propoé sitos . Por isso, se vejo um crente descurar a sua
Bíéblia, e, contudo, dispor de tempo — sim, parte do seu melhor tempo — para ler o jornal, naã o
me seraé difíécil ver qual eé o verdadeiro estado da sua alma. Êstou certo que naã o pode ser um
crente es piritual: naã o se alimenta de Cristo, naã o vive para Cristo nem daé testemunho d'Êle.
Se um israelita deixasse de apanhar, durante a frescura da manhaã , a sua porçaã o do
alimento que a graça de Deus havia preparado, em breve sentiria a falta de forças para a sua
jornada. Ãssim eé conosco. Devemos fazer de Cristo o objeto supremo na ocupaçaã o das nossas
almas, de outro modo a nossa vida espiritual declinaraé inevitavelmente. Nem tampouco
podemos alimentar as nossas almas com os sentimentos e as experieê ncias relacionados com
Cristo porque, sendo incertos, naã o podem representar o nosso alimento espiritual. Vivemos
ontem de Cristo, temos de viver hoje de Cristo e de Cristo para sempre. Ãleé m disso de nada
vale alimentarmo-nos em parte de Cristo e em parte de outras coisas. Ãssim como no caso da
vida ésomente Cristo, da mesma forma o viver deve ser Cristo somente. Ãssim como naã o
podemos misturar nada com aquilo que transmite a vida, tampouco podemos misturar alguma
coisa com aquilo que a mantém.

O Vaso de Maná na Arca da Aliança


ÊÉ bem verdade que, em espíérito e pela feé , noé s podemo-nos alimentar, ateé mesmo agora,
de um Cristo ressuscitado e glorificado, elevado aà s alturas, em virtude da redençaã o efetuada,
conforme era ilustrado no "trigo da terra do ano antecedente" (Josueé 5). Ê naã o somente isto,
sabemos que quando os remidos de Deus tiverem entrado nessas regioã es de gloé ria, descanso e
imortalidade, que se acham aleé m do Jordaã o, teraã o acabado, de fato, com o alimento do deserto;
mas naã o teraã o terminado com Cristo nem com a recordaçaã o daquilo que constitui o alimento
especíéfico da sua vida no deserto.
Os israelitas nunca haviam de esquecer, no meio do leite e mel da terra de Canaaã , aquilo
que os havia sustentado durante os quarenta anos da sua peregrinaçaã o no deserto:".. .Êsta eé a
palavra que o SÊNHOR tem mandado: Êncheraé s um goê mer dele e o guardaraé s para as vossas
geraçoã es, para que vejam o paã o que vos tenho dado a comer neste deserto, quando eu vos tirei
da terra do Êgito... .Como o SÊNHOR tinha ordenado a Moiseé s, assim Ãaraã o o poê s diante
doTestemunho em guarda" (versíéculos 32 - 34).
Que precioso memorial da fidelidade de Deus! Naã o os deixou morrer de fome, como os
seus coraçoã es insensatos e increé dulos haviam temido. O Senhor fez chover paã o do ceé u,
alimentou-os com "paã o de poderosos", velou sobre eles com toda a ternura de uma ama,
suportou-os, levou-os sobre asas de aé guias, e, tivessem eles continuado no proé prio terreno da
graça, ter-lhes-ia dado posse de todas as promessas feitas aos seus pais. O vaso de manaé ,
portanto, contendo, com efeito, a raçaã o diaé ria de um homem, e posto diante do Senhor, eé cheio
de instruçaã o. Naã o houve nele vermes nem vestíégios de corrupçaã o. Êra o memorial da
fidelidade do Senhor provendo as necessidades daqueles que havia remido da maã o do inimigo.
Não Fazer Provisão de Maná para o Dia de Amanhã
Naã o acontecia assim quando o homem o acumulava para si. Êntaã o os sintomas de
corrupçaã o depressa se manifestavam. Naã o podemos fazer provisoã es, se compreendermos a
verdade e realidade da nossa posiçaã o. ÊÉ nosso privileé gio apropriarmo-nos, dia a dia, da
preciosidade de Cristo, como Ãquele que desceu do ceé u para dar vida ao mundo. Poreé m, se
algueé m, esquecendo-se disto, entesoura para o dia de amanhaã , isto eé , se reserva verdade aleé m
das suas necessidades, em vez de a converter em proveito da renovaçaã o das suas forças, a
verdade certamente corromper-se-aé . Êis uma liçaã o salutar para noé s. ÊÉ uma cosia muito seé ria
aprender a verdade; porque naã o existe um princíépio que professamos ter aprendido que naã o
teremos que provar na praé tica. Deus naã o nos quer teoé ricos. Trememos muitas vezes ao ouvir
como algumas pessoas, quando oram, fazem ardentes votos de consagraçaã o, temendo que,
quando chegar a hora da provaçaã o, naã o tenham o poder espiritual necessaé rio para executar o
que os seus laé bios teê m pronunciado.
Êxiste o grande perigo do intelecto ultrapassar a conscieê ncia e os afetos do coraçaã o. ÊÉ
por isso que muitos parece fazerem, logo ao princíépio, um raé pido progresso, ateé um certo
ponto; mas entaã o param de repente e parece retrocederem. Como um israelita que apanhasse
mais manaé do que precisava para o sustento do dia. Podia parecer muito mais diligente que os
outros, fazendo reserva do alimento celestial; contudo cada partíécula a mais das necessidades
do dia naã o soé era inué til, mas muito pior do que inué til, visto que "criava bichos". ÊÉ assim com o
cristaã o: deve usar o que tem—deve alimentar-se de Cristo como necessidade premente e essa
necessidade manifesta-se no seu serviço. O caraé ter e os caminhos de Deus e a preciosidade e
beleza de Cristo, assim como as vivas profundidades das Êscrituras saã o somente reveladas aà feé
e aà s necessidades presentes da alma. ÊÉ na medida em que usamos o que recebemos que mais
nos seraé dado. ÃÉ vida do crente tem de ser praé tica; e eé nisto que muitos de noé s fracassamos.
Ãcontece frequentemente que aqueles que progrediam mais depressa em teoria saã o os mais
vagarosos nos elementos praé ticos e experimentais, porque se trata mais de um trabalho
intelectual que do coraçaã o e da conscieê ncia. Nunca devemos esquecer que o Cristianismo naã o
eé um conjunto de opinioã es, um sistema de dogmas ou um determinado nué mero de pontos de
vista. ÊÉ uma realidade viva por exceleê ncia—uma coisa pessoal, praé tica, poderosa, anunciando-
se a si proé pria em todas as circunstaê ncias e cenas da vida diaé ria, espalhando a sua influeê ncia
santa sobre o caraé ter e a vida do indivíéduo e transmitindo as suas disposiçoã es celestiais a
todas as relaçoã es a que o cristaã o possa ser chamado por Deus a cumprir.
Êm resumo, eé o resultado de se estar associado e ocupado com Cristo. Tal eé o
cristianismo. Pode haver ideias corretas e princíépios saã os e pontos de vista claros sem se ter a
menor comunhaã o com Jesus; poreé m um credo ortodoxo sem Cristo naã o eé mais que uma coisa
fria, esteé ril e morta.
Que o leitor cristaã o se certifique de que naã o soé estaé salvo por Cristo como vive,
tambeé m, d'Êle. De fazer d'Êle a sua porçaã o diaé ria, buscaé -Lo "de manhã" e a "Ele só". Quando
qualquer coisa despertar a sua atençaã o, durante o dia, deve fazer esta interrogaçaã o:
"Contribuiraé isto para que Cristo venha ao meu coraçaã o? Seraé isto um meio de aumentar o
meu afeto por Êle ou de me aproximar mais da Sua Pessoal Se a resposta for negativa deve
rejeitar o que quer que for imediatamente: sim, rejeitar, ainda mesmo que o objetivo que
chama a sua atençaã o seja o mais agradaé vel aà vista e se presente com o mais respeitaé vel
aspecto. Se o seu propoé sito for avançar e fazer progresso na vida divina, entaã o deve cultivar a
sua familiaridade pessoal com Cristo; soé entaã o poderaé reclamar do seu coraçaã o o
cumprimento fiel desta lealdade. Deve fazer de Cristo o seu alimento diaé rio. Deve juntar o
manaé que desce sobre o orvalho e alimentar-se dele com o apetite provocado pela companhia
diligente com Deus atraveé s do deserto. Que a graça de Deus o fortifique abundantemente, por
meio do Êspíérito Santo (¹).
____________________
(¹) O leitor tirará muito proveito com a meditação do capítulo 6 do Evangelho de João, em relação com o
assunto do maná. Estando perto a páscoa, Jesus alimenta a multidão, e depois retira-se para um monte, para estar
só. Dali vem em auxílio dos Seus, que se acham aflitos sobre as águas do lago. Depois disto revela a doutrina da Sua
Pessoa e da sua Obra, e declara que dará a Sua carne pela vida do mundo e que ninguém pode ter vida se não comer
a Sua carne e beber o Seu sangue. Finalmente fala de Si Mesmo como subindo para onde estava primeiro e do poder
vivificador do Espírito Santo. É, na verdade rico e abundante em verdade espiritual para conforto e edificação da
alma. revela a doutrina da Sua Pessoa e da sua Obra, e declara que dará a Sua carne pela vida do mundo e que
ninguém pode ter vida se não comer a Sua carne e beber o Seu sangue. Finalmente fala de Si Mesmo como subindo
para onde estava primeiro e do poder vivificador do Espírito Santo. É, na verdade rico e abundante em verdade
espiritual para conforto e edificação da alma.

O Dia de Repouso: o Sábado


Êxiste mais um ponto neste capíétulo que desejo mencionar, isto eé , a instituiçaã o do
saé bado relacionada com o manaé e a posiçaã o de Israel tal qual nos eé apresentada aqui. Depois
do capíétulo 2 de Geé nesis ateé ao capíétulo que temos perante noé s, naã o se faz mençaã o desta
instituiçaã o. Isto eé singular. O sacrifíécio de Ãbel, a carreira de Ênoc com Deus, a pregaçaã o
deNoeé ,achamadadeÃbraaã o,juntamentecomahistoé riapermenorizada de Isaquejacoé ejoseé , saã o
todas representadas; mas naã o se fazalusaã oao saé bado ateé ao momento em que encontramos
Israel reconhecido como um povo em relaçaã o com o Senhor, e consequentemente debaixo da
responsabilidade que essa relaçaã o implica.
O saé bado foi interrompido no ÊÉ den; e eé aqui instituíédo outra vez para Israel no deserto.
Mas, ah, o homem naã o ama o repouso de Deus! "Ê aconteceu, ao seé timo dia, que alguns do
povo saíéram para colher, mas naã o o acharam. Êntaã o, disse o SÊNHOR a Moiseé s: Ãteé quando
recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leisi Vede, visto que o SÊNHOR vos deu o
saé bado, por isso ele, no sexto dia, vos daé paã o para dois dias; cada um fique no seu lugar, que
ningueé m saia do seu lugar no seé timo dia" (versíéculos 27 -29). Deus queria que o Seu povo
gozasse de um doce repouso com Êle Mesmo: queria dar-lhes repouso, alimento, e refrigeé rio
no deserto. Poreé m o coraçaã o humano naã o estaé disposto a repousar comDeus.O povo podia
recordar e falar dos tempos em que "estavam sentados junto aà s panelas de carne" no Êgito;
mas naã o podiam apreciar a bem- aventurança de se sentarem nas suas tendas, gozando com
Deus "o descanso do saé bado" e alimen-tando-se com o manaé celestial.
Ê naã o se esqueça que o saé bado eé apresentado aqui como um caso de daé diva: "...o
SÊNHOR vos deu o saé bado" (versíéculo29). Mais adiante, neste mesmo livro, encontramo-lo
outra vez mencionado debaixo da forma de lei e acompanhado de maldiçaã o e juíézo, no caso de
desobedieê ncia; poreé m, quer o homem caíédo receba um privileé gio ou uma lei, eé -lhe indiferente.
à sua natureza eé maé . Naã o pode descansar em Deus nem trabalhar para Deus. Se Deus trabalha
e lhe faz um repouso, ele naã o quer guardaé -lo; e se Deus o manda trabalhar, naã o o faz. Tal eé o
homem. Naã o tem lugar em seu coraçaã o para Deus. Pode usar o nome do saé bado como um meio
de se exaltar a si proé prio ou como insíégnia da sua proé pria religiosidade; mas quando volvemos
os olhos para o capíétulo 16 do ÊÊ xodo descobrimos que naã o pode celebrar o saé badodeDeus
como uma dádiva; e quando abrimos o capíétulo 15 de Nué meros, versíéculos 32 a 36,
descobrimos que naã o pode guardaé -lo como uma lei.
Ora, noé s sabemos que o saé bado, assim como o manaé , era uma figura. Êm si mesmo, era
uma beê nçaã o — uma agradaé vel merceê da parte de um Deus de amor e graça, que queria
suavizar o trabalho e a labuta de um mundo pecaminoso mediante o refrigeé rio de um dia de
descanso em cada sete. Qualquer que seja a forma de encararmos a instituiçaã o do saé bado, veê -
la-emos sempre fecunda da mais rica graça, quer a encaremos a respeito do homem ou acerca
da criaçaã o animal. Ê embora os cristaã os guardem o primeiro dia da semana — o dia do Senhor
— e liguem com ele as regras que lhe saã o proé prias, todavia observa-se a mesma provideê ncia
graciosa; nem a mente governada por sentimentos proé prios procuraria, por um momento
sequer, interferir com uma tal demonstraçaã o de misericoé rdia:".. .o saé bado foi feito por causa
do homem" (Mc 2:27); e embora o homem nunca o houvesse guardado, segundo o
pensamento divino, isso naã o diminuiu a graça que resplandece na sua instituiçaã o, nem o priva
da sua profunda significaçaã o como figura do repouso eterno que resta para o povo de Deus, ou
sombra dessa substaê ncia a qual a feé goza agora na Pessoa e Obra de um Cristo ressuscitado.
O leitor naã o deve supor, portanto, que o que tem sido dito, ou possa ser acentuado,
nesta linhas, tem por fim menosprezar, no míénimo, a provisaã o misericordiosa de um dia de
repouso para o homem e para a criaçaã o animal ou interferir com o lugar distinto que o Dia do
Senhor ocupa no Novo Testamento. Muito longe disso! Como homem, aprecio o primeiro
destes dias, e como cristaã o regozijo-me no ué ltimo o bastante para naã o escrever ou articular
uma síélaba sequer em desabono quer de um quer do outro. Gostaria apenas de pedir ao leitor
para pesar, com imparcialidade, na balança das Êscrituras, tudo que tem sido afirmado, e naã o
formar um juíézo precipitadamente antecipado.
Êste assunto seraé tratado outra vez, mais adiante, se o Senhor permitir. Êntretanto,
procuraremos aprender a apreciar melhor o valor do repouso que o nosso Deus nos preparou
em Cristo, e gozar d'Êle como o nosso repouso, alimentando-nos d'Êle como "o manaé
escondido" (Ãp 2:17) e posto, no poder da ressurreiçaã o, no lugar santíéssimo — o memorial do
que Deus fez por noé s, vindo a este mundo, em Sua graça infinita, a fim de que pudeé ssemos
estar perante Êle, segundo as perfeiçoã es de Cristo, e nos alimentarmos com as Suas riquezas
inexauríéveis para sempre.

— CÃPITULO 17 —

REFIDIM
A Contenda do Povo com Moisés
"Depois, toda a congregaçaã o dos filhos de Israel partiu do deserto de Sim pelas suas
jornadas, segundo o mandamento do SÊNHOR, e acamparam em Refidim; e naã o havia ali aé gua
para o povo beber. Êntaã o, contendeu o povo com Moiseé s, e disseram: Daé -nos aé gua para beber.
Ê Moiseé s lhes disse: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao SÊNHORÃ"
Naã o conheceê ssemos noé s alguma coisa do mal humilhante de nossos coraçoã es e
ficaríéamos embaraçados quanto aà razaã o da insensibilidade espantosa de Israel para com a
bondade, a fidelidade e os atos poderosos do Senhor. Ãcabavam de ver cair paã o do ceé u para
alimentar seiscentas mil pessoas no deserto, e ei-los agora, prontos a "apedre j ar" Moiseé s por
os ter trazido para esse mesmo deserto, para os matar de sede. Nada pode exceder a
incredulidade terríével e maldade do coraçaã o humano senaã o a graça superabundante de Deus.
ÊÉ soé nessa graça que algueé m pode encontrar alíévio sob a sensaçaã o, sempre crescente, da sua
natureza perversa, que as circunstaê ncias tendem a manifestar. Houvesse Israel sido
transportado diretamente do Êgito a Canaaã , e naã o teria sido feita uma taã o triste exibiçaã o do
que eé o coraçaã o humano; e, como consequeê ncia, eles naã o teriam sido exemplos ou figuras taã o
admiraé veis para noé s. De fato, os quarenta anos de peregrinaçaã o no deserto of erecem-nos um
volume de avisos, admoestaçoã es e instruçoã es ué teis aleé m de toda a concepçaã o. Ãprendemos,
entre outras coisas, a propensaã o constante do coraçaã o para suspeitar de Deus. Confia em tudo,
menos em Deus. Prefere apoiar-se numa teia de aranha em vez do braço do Deus onipotente,
saé bio e generoso; e a mais pequena nuvem eé mais que suficiente para ocultar da sua vista a luz
do Seu bendito rosto. ÊÉ pois com razaã o que as Êscrituras falam dele como sendo "mau e infiel",
sempre pronto para" se apartar do Deus vivo" (Hb3:12).
ÊÉ interessante notar as duas interrogaçoã es feitas pela incredulidade, neste capíétulo e no
precedente. Saã o precisamente ideê nticas aà quelas que se levantam em noé s e aà nossa volta,
diariamente: "Que comeremos'?- Ê que beberemos?" (Mt 6:31). Naã o vemos que o povo fizesse
a terceira pergunta desta categoria, "com que nos vestire-mos'?-" Poreé m, estas saã o as
interrogaçoã es do deserto: "O quêí" "Ondeí" "Cornou". Ã feé tem apenas uma resposta
compreensíével para todas as treê s, a saber: DÊUS! Que resposta perfeita e preciosa! Ãh, se o
autor e o leitor destas linhas conhecessem perfeitamente o seu poder e a sua plenitude!
Necessariamente precisamos recordar, quando passamos pela provaçaã o, que naã o vem sobre
noé s tentaçaã o senaã o humana, "mas, fiel eé Deus, que vos naã o deixaraé tentar acima do que podeis;
antes, com a tentaçaã o daraé tambeé m o escape, para que a possais suportar" (1 Co 10:13).
Sempre que somos postos aà prova, podemos estar certos que, com a prova, haé tambeé m uma
saíéda, e tudo que precisamos eé uma vontade submissa ao Senhor e um olhar simples para
vermos a saíéda.

A Rocha Ferida
"Ê clamou Moiseé s ao SÊNHOR, dizendo: Que farei a este povoi Daqui a pouco me
apedrejaraã o. Êntaã o, disse o SÊNHORa Moiseé s: Passa diante do povo e toma contigo alguns dos
anciaã os de Israel; e toma na tua maã o a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Êis que eu estarei
ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu feriraé s a rocha, e dela sairaã o aé guas, e o povo
beberaé . Ê Moiseé s assim o fez, diante dos olhos dos anciaã os de Israel" (versíéculos 4 a 6). Ãssim
tudo eé suprido pela graça mais perfeita. Cada murmuraçaã o ocasiona uma nova manifestaçaã o
da graça. Ãqui vemos como as aé guas refrescantes jorraram da rocha ferida—uma ilustraçaã o
formosa do Êspíérito dado como fruto do sacrifíécio efetuado por Cristo. No capíétulo 16 temos
uma figura de Cristo descendo do ceé u para dar vida ao mundo. O capíétulo 17 mostra-nos uma
figura do Êspíérito Santo "derramado" em virtude da obra consumada de Cristo. "Porque
bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo" (1 Co 10:4). Mas quem poderia
beber antes da pedra ser ferida? Israel poderia ter contemplado essa rocha e morrer de sede
ao mesmo tempo que a contemplava, porque antes que fosse ferida pela vara de Deus naã o
podia dar refrigeé rio. Isto eé bem claro. O Senhor Jesus Cristo era o centro e base de todos os
desíégnios de amor e misericoé rdia de Deus. Por Seu intermeé dio deveria correr toda a beê nçaã o
para o homem. Ãs correntes da graça deviam emanar do "Cordeiro de Deus"; poreé m era neces -
saé rio que o Cordeiro fosse morto—que a obra da cruz fosse um fato consumado, antes que
muitas destas coisas fossem realizadas. Foi quando a Rocha dos seé culos foi ferida pela maã o de
Jeovaé , que as comportas do amor eterno foram abertas de par em par e os pecadores perdidos
convidados pelo Êspíérito Santo a beber abundantemente elivremente: "...O dom do Êspíérito
Santo" eé oresulta-do da obra consumada pelo Filho de Deus sobre a cruz. "Ã promessa do Pai..."
(Lc 24:49) naã o podia ser cumprida antes que Cristo se assentasse aà destra da Majestade nos
ceé us, depois de ha ver cumprido toda a justiça, respondido a todas as exigeê ncias da santidade,
engrandecido a lei tornando-a justa, suportado a ira de Deus contra o pecado, destruíédo o
poder da morte, e tirado aà sepultura a sua vitoé ria. Havendo feito todas estas coisas, subiu ao
alto, "levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora isto—ele subiu—que eé , senaã o que
tambeé m, antes, tinha descido aà s partes mais baixas da terral Ãquele que desceu eé tambeé m o
mesmo que subiu acima de todos os ceé us, para cumprir todas as coisas" (Êf 4:8-10).
Êste eé o verdadeiro fundamento da paz e da bem-aventurança e gloé ria da Igreja, para
todo o sempre.

A Água da Rocha
Ãntes de a rocha ser ferida a corrente de beê nçaã o estava retida e o homem nada podia
fazer. Que poder humano poderia fazer brotar aé gua da pederneira? Ê do mesmo modo,
podemos perguntar, que justiça humana poderia conseguir autorizaçaã o para abrir as com-
portas do amor divino 1?- Êste eé o verdadeiro modo de poê r aà prova a competeê ncia do homem.
Naã o podia, por seus feitos, suas palavras ou sentimentos, prover um fundamento para a
missaã o do Êspíérito Santo.
Seja o que for ou faça o que puder, ele naã o pode fazer isto. Mas, graças a Deus, tudo estaé
consumado; Cristo terminou a obra; a verdadeira Rocha foi ferida, e as aé guas refrescantes
brotaram, de forma que as almas sedentas podem beber. "Ã aé gua que eu lhe der", diz Cristo, "se
faraé nele uma fonte de aé gua que salte para aé vida eterna" (Jo 4:14). Ê mais adiante, lemos: "Ê,
no ué ltimo dia, o grande dia daà festa, Jesus poê s-se em peé , e clamou, dizendo: Se algueé m tem
sede, venha a mim e beba. Quem creê em mim, como diz a Êscritura, rios de aé gua viva correraã o
do seu ventre. Ê isto disse ele do Êspíérito, que haviam de receber os que nele cressem; porque
o Êspíérito Santo ainda naã o fora dado, por ainda Jesus naã o ter sido glorificado" Qo 7:37 - 39).
Ãssim como temos no manaé uma figura de Cristo, de igual modo temos uma figura do
Êspíérito Santo na aé gua brotando da rocha." Se tu conheceras o dom de Deus (Cristo)... tu lhe
pedirias, e ele te daria aé gua viva" — quer dizer, o Êspíérito.
Tal eé , portanto, o ensino ministrado aà mente espiritual com a rocha ferida; todavia, o
nome do lugar no qual esta figura foi apresentada eé um memorial perpeé tuo da incredulidade
do homem. "Ê chamou o nome daquele lugar Massa" (que quer dizer tentação) "e Meribaé "
(que quer dizer murmurar) "por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao
SÊNHOR, dizendo: Êstaé o SÊNHOR no meio de noé s, ou naã o?" (versíéculo 7). Levantar uma tal
interrogaçaã o, depois de tantas e repetidas garantias evidentes da presença de Jeovaé , prova a
incredulidade profundamente arraigada no coraçaã o humano. Êra, de fato, tentar o Senhor.
Foi assim tambeé m que os judeus, tendo a presença de Cristo com eles, pediram um
sinal do ceé u, tentando-o.
à feé nunca atua assim; creê na presença divina e goza dela, naã o por meio de um sinal,
mas pelo conhecimento que tem do proé prio Deus. Conhece que Deus estaé presente para gozar
d'Êle. Que o Senhor nos conceda um espíérito de verdadeira confiança n'Êle!

Amaleque
O ponto sugerido a seguir por este capíétulo eé de particular interesse para noé s. "Êntaã o,
veio Ãmaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Pelo que disse Moiseé s a Josueé : Êscolhe-nos
homens, e sai, peleja contra Ãmaleque: amanhaã , eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de
Deus estaraé na minha maã o" (versíéculos 8 e 9). O dom do Êspíérito Santo conduz aà luta. Ã luz
reprime e luta com as trevas. Onde tudo eé obscuridade naã o haé luta; poreé m a mais pequena luta
indica a presença da luz: "...a carne cobiça contra o Êspíérito, e o Êspíérito, contra a carne; e estes
opoã em-se um ao outro; para que naã o façais o que quereis" (Gl 5:17). Ãssim acontece com este
capíétulo: a rocha eé ferida e as aé guas brotam dela, e lemos imediatamente, "entaã o veio
Ãmaleque e pelejou contra Israel".
Êsta eé a primeira vez que Israel se veê em luta com um inimigo exterior. Ãteé este
momento o SÊNHOR havia pelejado por eles, conforme lemos em capíétulo 14: "O SÊNHOR
pelejaraé por voé s e vos calareis". Poreé m, agoraeé dito: "Êscolhe-nos homens". Êm boa verdade,
Deus tem agora que lutar em Israel, assim como havia lutado,?or eles. Ê nisto que estaé a
diferença, quanto ao síémbolo; e quanto ao antíétipo, sabemos que existe uma grande diferença
entre os combates de Cristopor noé s e a luta do Êspíérito Santoem noé s. Ãqueles acabaram,
bendito seja Deus, a vitoé ria foi ganha, e uma pazgloriosa e eterna foi alcançada. Êsta, pelo
contraé rio, continua ainda.
Faraoé e Ãmaleque representam dois poderes ou influeê ncias diferentes: Faraoé
representa o impedimento aà libertaçaã o de Israel do Êgito; Ãmaleque representa o estorvo aé
sua caminhada com Deus pelo deserto. Faraoé serviu-se das coisas do Êgito para impedir Israel
de servir ao Senhor; por isso prefigura Satanaé s, que se serve "deste presente seé culo mau" (Gl
1:4) contra o povo de Deus. Ãmaleque, pelo contraé rio, eé -nos apresentado como o protoé tipo da
carne. Êra neto de Êsaué , o qual preferiu um prato de lentilhas ao direito de primogenitura
(veja-se Gn 36:12), e foi o primeiro que se opoê s ao avanço de Israel depois do seu batismo "na
nuvem e no mar" (1 Co 10:2). Êstes fatos servem para definir o seu caraé ter com grande
distinçaã o; e, aleé m disso, sabemos que Saul foi deposto do trono do reino de Israel em
consequeê ncia de ter falhado em destruir Ãmaleque (1 Sm 15). Ê, mais descobrimos que Hamaã
eé o ué ltimo dos amalequitas de quem se fala nas Êscrituras. Foi enforcado, em consequeê ncia do
seu pecaminoso atentado contra a semente de Israel (veja-se Ês 3:1). Nenhum amalequita
podia entrar na congregaçaã o do Senhor. Ê, finalmente, no capíétulo que temos perante noé s, o
Senhor declara guerra perpeé tuaa Ãmaleque.
Todas estas circunstaê ncias podem ser consideradas como dando evideê ncia concludente
do fato que Ãmaleque eé uma figura da carne. Ã ligaçaã o entre o seu conflito com Israel e a aé gua
correndo da rocha eé a mais notaé vel e instrutiva e estaé de perfeita harmonia com o conflito do
crente com a sua natureza pecaminosa; conflito este, que, como sabemos, eé a consequeê ncia de
ele ter a nova natureza e o Êspíérito Santo habitar em si. Ã luta de Israel começou logo que se
acharam de posse da redençaã o e depois de haverem provado o "manjar espiritual" e bebido
"da pedra espiritual" (ICo 10:3-4). Ãntes de encontrarem Ãmaleque nada tinham que fazer.
Naã o contenderam com Faraoé ; naã o destruíéram o poder do Êgito nem despedaçaram as cadeias
da servidaã o; naã o dividiram o mar nem submergiram as hostes de Faraoé nas suas aé guas; naã o
fizeram descer paã o do ceé u, nem tiraram aé gua da pederneira. Naã o fizeram nem poderiam fazer
nenhuma destas coisas; poreé m agora saã o chamados para lutar com Ãmaleque. O conflito
anterior tinha sido todo entre Jeovaé e o inimigo. Êles apenas tiveram que estar "quietos" e
contemplar os triunfos poderosos do braço estendido do Senhor e gozar os frutos da vitoé ria. O
Senhor havia lutado por eles; poreé m agora luta neles e por meio deles.

O Combate Contra Amaleque


Ãssim eé tambeé m com a Igreja de Deus. Ãs vitoé rias sobre as quais se baseiam a sua paz
eterna e bem-aventurança foram ganhas para ela por Cristo combatendo sozinho. Êle esteve
sozinho na cruz e soé na sepultura. Ãlgreja teve de ficar de parte, pois como poderia ela estar
alíé? Como poderia ela vencer Satanaé s, suportar a ira de Deus ou tirar aà morte o seu aguilhaã o?
Êra impossíével. Êstas coisas estavam fora do alcance dos pecadores, mas naã o fora do alcance
d'Ãquele que veio para os salvar e que era o ué nico que podia levar sobre Seus ombros o peso
poderoso de todos os seus pecados e tirar o fardo para sempre por meio do Seu sacrifíécio, de
forma que Deus o Êspíérito Santo, emanando de Deus o Pai, em virtude da expiaçaã o ef etuada
pelo Deus Filho, pode fazer morada na Igreja coletivamente e em cada um dos seus membros
individualmente.
Ora eé quando o Êspíérito Santo faz assim morada em noé s, em consequeê ncia da morte e
ressurreiçaã o de Cristo, que começa o nosso conflito. Cristo combateu por noé s; o Êspíérito Santo
lutaem noé s. O proé prio fato de desfrutarmos este primeiro rico despojo da vitoé ria coloca-nos
em conflito direto com o inimigo. Mas a nossa consolaçaã o eé sabermos que somos feitos
vencedores mesmo antes de entrarmos no campo da luta. O crente entra na peleja cantando
"Graças a Deus que nos daé a vitoé ria por nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 15:57). Portanto, naã o
combatemos como coisa incerta, batendo no ar, enquanto procuramos subjugar o nosso corpo
e reduzi-lo aà servidaã o (1 Co 9:26-27)."... Somos mais do que vencedores por Ãquele que nos
amou" (Rm 8:37). Ãgraça em que nos apoiamos toma a carne inteiramente desprovida de
poder para dominar sobre ela em noé s (veja Romanos 6). Se a lei eé "a força do pecado", a graça
eé a fraqueza da lei. Ã lei concede poder ao pecado sobre noé s; a graça daé -nos poder sobre o
pecado.
"Pelo que disse Moiseé s a Josueé : Êscolhe-nos homens, e sai e peleja contra Ãmaleque;
amanhaã , eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de Deus estaraé na minha maã o. Ê fez Josueé
como Moiseé s lhe dissera, pelejando contra Ãmaleque; mas Moiseé s, Ãraã oeHur subiram ao cume
do outeiro. Ê acontecia que, quando Moiseé s levantava a sua maã o Israel prevalecia; mas quando
ele abaixava a sua maã o, Ãmaleque prevalecia. Poreé mas maã os de Moiseé s eram pesadas; por
isso, tomaram uma pedra, e a puseram debaixo dele, para assentar-se sobre ela; e Ãraã o e Hur
sustentaram as suas maã os, um de um lado e o outro, do outro; assim ficaram as suas maã os
firmes ateé que o sol se poê s. Ê, assim Josueé desfezaÃmalequeeaoseupovoaofiodeespada"
(versíéculos 9 a 13).
Ãqui temos duas coisas distintas, a saber: o combate e a intercessaã o. Cristo estaé nas
alturas por noé s, enquanto o Êspíérito Santo conduza luta terríévelem noé s. Êstas duas coisas
andam juntas. ÊÉ na medida que compreendemos, pela feé , a eficaé cia da intercessaã o de Cristo em
nosso favor que fazemos frente (ou nos opomos) aà nossa natureza pecaminosa.

A Luta do Cristão Contra a Carne


Ãlgumas pessoas procuram olvidar o fato do combate do cristaã o com a carne. Êncaram
a regeneraçaã o como uma transformaçaã o completa ou renovaçaã o da velha natureza. Segundo
este princíépio segue-se, necessariamente, que o crente naã o tem nada com que lutar. Se a minha
natureza eé renovada, contra o que tenho de lutara Naã o haé nada com que lutar no íéntimo, visto
que a minha velha natureza estaé renovada, e nenhum poder exterior pode prejudicar-me,
porquanto naã o haé nada que lhe corresponda no meu íéntimo. O mundo naã o possui atrativos
para aquele cuja carne foi inteiramente transformada, e Satanaé s naã o tem com que ou sobre
que possa atuar. Pode dizer-se a todos aqueles que susteé m esta teoria que parece esquecerem
o lugar que Ãmaleque ocupa na histoé ria do povo de Deus. Tivesse Israel concebido a ideia que,
uma vez destruíédas as hostes do Faraoé , o seu conflito havia acabado, e teriam sido tristemente
confundidos quando Ãmaleque veio sobre eles. O fato eé que o conflito deles começou soé entaã o.
Ãssim eé para o crente, porque "... tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estaã o escritas para
aviso nosso" (1 Co 10:11). Poreé m naã o poderia haver nenhuma "figura" nem "aviso" em "tudo
isto" para aquele cuja velha natureza fosse feita de novo. Com efeito, uma tal pessoa teria
muito pouca necessidade de qualquer dessas provisoã es graciosas que Deus preparou no Seu
reino para aqueles que saã o os seus sué bditos.
Somos ensinados claramente na Palavra de Deus que o crente traz consigo aquilo que
corresponde a Ãmaleque, a saber "a carne" — "o homem velho", a mente carnal (Rm 6:6; 8:7;
Gl 5:17). Ora, se o cristaã o, sentindo os movimentos da sua velha natureza, começa por poê r em
dué vida se eé cristaã o, naã o somente se torna a si proé prio extremamente infeliz como se priva das
vantagens da sua posiçaã o diante do inimigo. Ã carne existe no crente e estaraé nele ateé ao fim
da sua carreira. O Êspíérito Santo reconhece inteiramente a sua existeê ncia, como podemos ver
em vaé rias passagens do Novo Testamento. Êm Romanos, capíétulo 6:12, lemos: "Naã o reine,
portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupisceê ncias".
Um tal preceito seria de todo descabido se a carne naã o existisse no crente. Seria inoportuno
dizer-nos para naã o deixarmos que o pecado reinasse sobre noé s, se o pecado naã o habitasse de
fato em noé s. Êxiste uma grande diferença entre habitar e reinar. O pecado habita no crente,
poreé m reina no descrente.
Contudo, embora habite em noé s, temos, graças a Deus, um princíépio de poder sobre ele.
"Porque o pecado naã o teraé domíénio sobre voé s, pois naã o estais debaixo da lei, mas debaixo da
graça" (Rm 6:14). Ã mesma graça que, mediante o sangue da cruz, tirou o pecado, garante-nos
a vitoé ria e daé -nos poder sobre o seu princíépio de açaã o em noé s.
Morremos para o pecado, e por isso o pecado naã o tem reivindicaçoã es sobre noé s.
"Ãquele que estaé morto estaé justificado do pecado". "Sabendo isto: que o nosso velho homem
foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que naã o sirvamos mais
ao pecado" (Rm 6:6-7). "Ê, assim, Josueé desfez a Ãmaleque e a seu povo ao fio de espada".
Tudo foi vitoé ria, e a bandeira de Jeovaé flutuou sobre as hostes triunfantes, tendo a formosa e
acalentadora inscriçaã o "Jeovaé -nissi" — "o SÊNHOR eé minha bandeira". Ã certeza da vitoé ria deve
ser taã o completa como a compreensaã o do perdaã o, visto que as duas cosias saã o baseadas
igualmente sobre o fato que Jesus morreu e ressuscitou. ÊÉ no poder deste fato que o crente
goza de uma conscieê ncia purificada e subjuga o pecado em si. Ã morte de Cristo havendo
satisfeito todas as exigeê ncias de Deus quanto ao nosso pecado, a Sua ressurreiçaã o torna-se a
origem de poder em todos os pormenores da luta. O Senhor morreu por noé s e agora vive em
noé s. Ã sua morte daé -nos paz e a Sua ressurreiçaã o daé -nos poder.

Cristo: o nosso Grande Intercessor


ÊÉ edificante notar o contraste entre Moiseé s no cume do outeiro e Cristo no trono. Ãs
maã os do nosso grande Intercessor nunca poderaã o estar pesadas. Ã Sua intercessaã o nunca
poderaé vacilar. Êle vive sempre para interceder por noé s (Hb 7:25). Ã sua intercessaã o eé
incessante eeficaz. Havendo tomado o Seu lugar nas alturas, no poder da justiça divina, o
Senhor atua por noé s, segundo o que Êle eé e conforme a perfeiçaã o infinita do que fez. Ãs Suas
maã os nunca poderaã o abaixar, nem pode ter necessidade de algueé m para as suster. Ã perfeiçaã o
da Sua advocacia estaé baseada sobre o Seu perfeito sacrifíécio. Ãpresenta-nos perante Deus,
vestidos das Suas proé prias perfeiçoã es, de forma que, embora tenhamos que cobrir sempre o
nosso rosto com o poé , com o sentimento daquilo que somos, o Êspíérito soé pode testemunhar
perante noé s daquilo que o Senhor eé perante Deus e daquilo que noé s somos n'Êle. Naã o estamos
na carne, mas no Êspíérito (Rm 8:9). Êstamos nocorpo, quanto ao fato da nossa condiçaã o; mas
naã o estamos nacarne, quanto ao princíépio da nossa posiçaã o. Ãleé m disso, a carne estaé em noé s,
apesar de estarmos mortos para ela; mas naã o estamos na carne, porque estamos vivos com
Cristo.
Notemos tambeé m que Moiseé s tinha a vara de Deus com ele no outeiro — a vara com
que havia ferido a rocha. Êsta vara era a expressaã o ou síémbolo do poder de Deus, o qual eé visto
igualmente na expiaçaã o e na intercessaã o. Quando a obra de expiaçaã o foi cumprida, Cristo
tomou o Seu lugar no ceé u e enviou o Êspíérito Santo para fazer a Sua morada na Igreja; de
forma que existe uma ligaçaã o inseparaé vel entre a obra de Cristo e a obra do Êspíérito. Êm cada
uma delas eé feita a aplicaçaã o do poder de Deus.
— CÃPIÉTULO 18 —

O JUDEU, O GENTIO
E A IGREJA DE DEUS
Chegamos agora ao fim de uma parte verdadeiramente notaé vel do Livro de ÊÊ xodo.
Vimos como Deus, no exercíécio da Sua perfeita graça, visitou e redimiu o Seu povo, tirando-o
da terra do Êgito e livrando-o primeiro da maã o do Faraoé e depois da maã o de Ãmaleque.
Demais, vimos no manaé um síémbolo de Cristo descendo do ceé u; e na rocha uma figura de
Cristo ferido pelo Seu povo; e na aé gua que brotava da rocha um síémbolo do Êspíérito Santo.
Êntaã o segue-se, em ordem notaé vel e formosa, uma figura da gloé ria vindoura, dividida nas suas
treê s partes principais, a saber: Os judeus, os gentios e a Igreja de Deus.
Durante a eé poca de rejeiçaã o de Moiseé s pelos seus irmaã os, ele foi postodepartee
favorecido com uma noiva — a companheira da sua rejeiçaã o. No princíépio deste livro fomos
levados a ver o caraé ter da relaçaã o de Moiseé s com esta esposa. Foi para ela "esposo sanguinaé -
rio" . Isto eé precisamente o que Cristo eé para a Igreja. Ã sua uniaã o com Êle eé baseada na morte
e ressurreiçaã o; e ela eé chamada aà comunhaã o dos Seus sofrimentos. ÊÉ , como sabemos, durante a
eé poca da incredulidade de Israel, e da rejeiçaã o de Cristo, que a Igreja eé formada; e quando
estiver completa, segundo os desíégnios de Deus e houver entrado nela a plenitude dos gentios
(Rm 11:25), Israel entraraé outra vez em cena.
Ãssim foi com Zíépora e o antigo Israel. Moiseé s enviara-a para junto de seu sogro
durante o perigo da sua missaã o junto de Israel; e logo que este saiu como povo inteiramente
livre, lemos que "Jetro, sogro de Moiseé s, tomou a Zíépora, a mulher de Moiseé s, depois que ele
lha enviara, com seus dois filhos, dos quais um se chamava Geé rson; porque disse: Êu fui
peregrino em terra estranha; e o outro se chamava Êlieé zer, porque disse: O Deus de meu pai foi
minha ajuda e me livrou da espada de Faraoé . Vindo, pois, Jetro, o sogro de Moiseé s, com seus
filhos e com sua mulher a Moiseé s no deserto ao monte de Deus, onde se tinha acampado, disse
a Moiseé s: Êu, teu sogro Jetro, venho a ti, com tua mulher e seus dois filhos com ela. Êntaã o, saiu
Moiseé s ao encontro de seu sogro, e inclinou-se, e beij ou-o, e perguntaram um ao outro como
estavam, e entraram na tenda. Ê Moiseé s contou a seu sogro todas as coisas que o SÊNHOR tinha
feito a Faraoé e aos egíépcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no caminho, e
como o SÊNHOR os livrara. Êalegrou-se Jetro de todo o bem que o SÊNHOR tinha feito a Israel,
livrando-o da maã o dos egíépcios. Ê Jetro disse: Bendito seja o SÊNHOR, que vos livrou das maã os
dos egíépcios e da maã o de Faraoé ; que livrou a este povo de debaixo da maã o dos egíépcios. Ãgora
sei que o SÊNHOR eé maior que todos os deuses: porque na coisa em que se ensoberbeceram, os
sobrepujou. Êntaã o, tomou Jetro, o sogro de Moiseé s, holocaustos e sacrifíécios para Deus; e veio
Ãraã o, e todos os anciaã os de Israel, para comerem paã o com o sogro de Moiseé s diante de Deus"
(versíéculos 2 a 12).
Êsta cena eé profundamente interessante. Toda a congregaçaã o se reuniu, em triunfo,
perante o Senhor: o gentio apresentou sacrifíécios, e, para completar o quadro, a esposa do
libertador juntamente com os filhos que Deus lhe havia dado, saã o introduzidos. ÊÉ , em resumo,
uma ilustraçaã o particularmente admiraé vel do reino vindouro.
"O Senhor daraé graça a gloé ria" (SI 84:11). Vimos nas paé ginas anteriores deste livro
muito da operaçaã o da "graça"; e aqui temos um quadro formoso de "gloé ria" da autoria do
Êspíérito Santo—um quadro que deve ser considerado particularmente importante por nos
mostrar as vaé rias esferas em que seraé manifestada essa gloé ria.
"Os judeus, os gentios e a Igreja de Deus" saã o termos bíéblicos que nunca poderaã o ser
esquecidos sem transtornar o curso perfeito da verdade que Deus revelou na Sua Palavra.
Êxistiram sempre desde que o misteé rio da Igreja foi inteiramente desenrolado pelo ministeé rio
do apoé stolo Paulo e existiraã o atraveé s do mileé nio. Por isso, devem ter lugar na mente de todo o
estudante espiritual da Êscritura Sagrada.
O apoé stolo ensina-nos, claramente, na sua Êpíéstola aos Êfeé sios, que o misteé rio da Igreja
naã o foi dado a conhecer noutros seé culos aos filhos dos homens como lhe fora revelado a ele.
Mas, embora naã o houvesse sido diretamente revelado, acha-se representado em figura de uma
maneira ou de outra; como, por exemplo, no casamento de Joseé com uma mulher egíépcia e no
casamento de Moiseé s com uma mulher da Êtioé pia (uma mulher cusita; Nm 12:1) O tipo ou
sombra de uma verdade eé uma coisa muito diferente de uma revelaçaã o direta e positiva da
mesma verdade. O grande misteé rio da Igreja naã o foi revelado ateé que Cristo, emgloé ria celestial,
o revelou a Saulo deTarso. Por isso, todos aqueles que procuram o desenrolar deste misteé rio
na lei, nos profetas ou nos Salmos, achar-se-aã o ocupados em labor ininteligente. Quando,
contudo, o encontram revelado claramente naÊpíéstola aos Êfeé sios, podem, com interesse e
proveito, traçar os seus síémbolos nas Êscrituras do Velho Testamento.
Deste modo, temos nos primeiros versíéculos deste capíétulo uma cena milenial. Todas as
esferas de gloé ria se abrem em visaã o perante noé s. "Os judeus" estaã o aqui como as grandes
testemunhas na terra da fidelidade, da misericoé rdia e do poder de Jeovaé . Ê isto precisamente
que os judeus foram em seé culos passados, eé o que saã o atualmente e o que seraã o para sempre.
"O gentio" leê no livro dos desíégnios de Deus quanto aos judeus as suas mais profundas liçoã es.
Segue a histoé ria maravilhosa desse povo peculiar e eleito — "um povo terríével desde o seu
princíépio" (Is 18:2). Veê tronos e impeé rios derrubados e naçoã es destruíédas ateé os seus
fundamentos, todo o homem e todas as coisas saã o compelidas a abrir caminho para que seja
estabelecida a supremacia desse povo sobre o qual Deus poê s o Seu afeto. "Ãgora sei que o
SÊNHOR eé maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os
sobrepujou" (versíéculo 11); eé o testemunho de um gentio quando a paé gina da histoé ria judaica
estaé aberta perante si.
Por fim, "a Igreja de Deus" coletivamente, como eé ilustrada por Zíépora, e os seus
membros individualmente, conforme os vemos em figura nos filhos de Zíépora, saã o
apresentados como ocupando a mais íéntima ligaçaã o com o libertador. Tudo isto eé perfeito na
sua ordem. Se nos pedirem provas, responderemos: "Falo como a entendidos, julgai voé s
mesmos o que digo" (1 Co 10:15).
Naã o pode fundar-se uma doutrina sobre um síémbolo; poreé m, quando uma doutrina eé
revelada, pode discernir-se o síémbolo dela com exatidaã o e estudaé -la com proveito. Êm todos os
casos o discernimento espiritual eé essencialmente necessaé rio, quer seja para compreender a
doutrina quer para discernir o síémbolo: "...o homem natural naã o compreende as coisas do
Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode entendeê -las, porque elas se
discernem espiritualmente" (ICo 2:14).
Chefes para a Administração
Desde o versíéculo 13 ateé ao fim do capíétulo fala-se da nomeaçaã o de chefes para
ajudarem Moiseé s na administraçaã o dos negoé cios da congregaçaã o. Isto foi feito por sugestaã o de
Jetro, que temia que Moiseé s desfalecesse totalmente em consequeê ncia do seu trabalho. Êm
relaçaã o com este fato, pode ser ué til considerar a nomeaçaã o dos setenta anciaã os em Nué meros,
Capíétulo 11. Vemos ali o espíérito de Moiseé s esmagado sob o peso da responsabilidade que
pesava sobre si, e daé lugar aà angué stia do seu coraçaã o nas seguintes palavras: "Por que fizeste
mal a teu servo, e por que naã o achei graça aos teus olhos, que pusesses sobre mim a carga de
todo este povo*?- Concebi eu, porventura, todo este povo 1?- Gerei-o eu, para que me dissesses
que o levasse ao colo, como o aio leva o que cria, aà terra que juraste a seus pais£.. .Êu sozinho
naã o posso levar a todo este povo, por que muito pesado eé para mim. Ê, se assim fazes comigo,
mata-me, eu te peço, se tenho achado graça aos teus olhos; e naã o me deixes ver o meu mal"
(Nml 1:11-15).
Êm todo este caso vemos como Moiseé s se retira de um lugar de honra. Se aprouve a
Deus fazer dele o ué nico instrumento da administraçaã o da Ãssembleia, isso foi para ele uma
maior honra e um alto privileé gio. ÊÉ verdade que era uma grande responsabilidade; poreé m a feé
teria reconhecido que Deus era amplamente suficiente para tudo. Todavia, Moiseé s perde o
aê nimo (servo abençoado como era) e diz, "eu sozinho naã o posso levar todo este povo, porque
muito pesado eé para mim. Mas ele naã o fora incumbido de levar todo o povo sozinho, porque
Deus estava consigo. O povo naã o era demasiado pesado para Deus; era Êle que os suportava.
Moiseé s era apenas o instrumento. Da mesma forma poderia ter dito que a sua vara levava o
povo, porque o que era ele senaã o um simples instrumento nas maã os de Deus, da mesma forma
que a vara o era nas suas? Ê neste ponto que os servos de Cristo falham constantemente; e a
sua falta eé tanto mais perigosa quanto eé certo que se reveste da apareê ncia de humildade. Fugir
de uma grande responsabilidade daé a impressaã o de falta de confiança pessoal e de uma
profunda humildade de espíérito; poreé m, tudo que nos interessa saber eé se Deus tem imposto
essa responsabilidade. Sendo assim, Êle estaraé incontestavelmente conosco no seu
desempenho; e, com a Sua companhia, podemos suportar todas as coisas. Com o Senhor o
peso de uma montanha naã o eé nada; sem Êle o peso de uma simples pena eé esmagador. ÊÉ uma
coisa muito diferente se um homem, na vaidade do seu espíérito, se apressa em tomar um fardo
sobre os seus ombros, um fardo que Deus nunca teve intençaã o de ele levar, e, portanto, nunca
o dotara para o conduzir; podemos, portanto, esperar veê -lo esmagado sob o peso. Poreé m, se eé
Deus que poã e sobre ele esse fardo, Êle torna-o naã o soé apto a conduzi-lo como lhe daé as forças
necessaé rias.

O Ensinamento para o Servo de Cristo


O abandono de um posto divinamente indicado nunca eé o fruto de humildade. Pelo
contraé rio, a mais profunda humildade manifes-tar-se-aé na permaneê ncia nesse posto em
simples dependeê ncia de Deus. Quando recuamos ante algum serviço sob o fundamento de
inaptidaã o eé uma prova segura de estarmos ocupados com o ego — com noé s proé prios. Deus naã o
nos chama para o serviço com base na nossa capacidade, mas, sim, na Sua; por isso, a menos
que esteja ocupado com pensamentos a meu respeito ou com desconfiança n'Êle, naã o preciso
abandonar qualquer posiçaã o de serviço ou testemunho por causa das muitas dificuldades
relacionadas com ela. Todo o poder pertence a Deus, e eé o mesmo quer esse poder atue por
meio de um soé instrumento ou mediante setenta; o poder eé ainda o mesmo: contudo, se um
instrumento recusa o cargo, tanto pior eé para ele. Deus naã o obrigaraé ningueé m a ocupar um
lugar de honra, se naã o confiar em Si para o manter nele. O caminho estaé sempre aberto para
poder descer do seu cargo e lançar-se no lugar onde a vil incredulidade quercolocar-nos.
Ãconteceu assim com Moiseé s: queixou-se do fardo que devia levar, e o fardo foi
imediatamente removido; poreé m com ele foi tirada tambeé m a grande honra de poder levaé -lo.
"Ê disse o SÊNHOR a Moiseé s: Ãjunta-me setenta homens dos anciaã os de Israel, de quem sabes
que saã o anciaã os do povo e seus oficiais; e os traraé s perante a tenda da congregaçaã o, e ali se
poraã o contigo. Êntaã o, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Êspíérito que estaé sobre ti, e o
porei sobre eles; e contigo levaraã o o cargo do povo, para que tudo sozinho o naã o leves" (Nml
1:16-17). Nenhum novo poder foi introduzido. Êra o mesmo Êspíérito, que fosse num ou em
setenta. Naã o havia mais valor ou virtude na natureza de setenta homens do que na de um soé
homem. "O Êspíérito eé o que vivifica; a carne para nada aproveita" (Jo 6:63). Nada se ganhou,
quanto ao poder, mas Moiseé s perdeu muito da sua dignidade.
Na segunda parte do capíétulo onze de Nué meros vemos como Moiseé s profere palavras
de incredulidade, as quais lhe valeramuma severa reprimenda da parte do Senhor. "Seria pois
encurtada a maã o do SÊNHORÃ Ãgora veraé s se a minha palavra te aconteceraé ou naã o" (versíéculo
23). Se o leitor comparar os versíéculos 11 a 15 com os versíéculos 21 e 22, veraé que existe uma
relaçaã o solene e clara. O homem que recua perante a responsabilidade, com fundamento na
sua proé pria fraqueza, corre grande perigo de poê r em dué vida a suficieê nciae plenitude dos
recursos de Deus.
Êsta cena ensina uma liçaã o muito preciosa para todo o servo de Cristo que possa ser
tentado a sentir-se soé ou sobrecarregado com o seu trabalho. Conveé m que um tal servo se
lembre que, onde o Êspíérito Santo estaé operando um soé instrumento eé taã o bom e eficaz como
setenta instrumentos; e onde Êle naã o opera, setenta naã o teê m mais valor do que um soé . Tudo
depende da energia do Êspíérito Santo. Com Êle um soé homem pode fazer tudo, sofrer tudo e
suportar tudo.
Sem Êle setenta homens nada podem fazer. Que o servo solitaé rio se recorde, para
conforto e aê nimo do seu coraçaã o fatigado, que, contanto que tenha consigo a presença e poder
do Êspíérito Santo, naã o tem motivo para queixar-se da sua carga nem de suspirar por
diminuiçaã o do seu trabalho. Se Deus honra um homem dando-lhe muito trabalho a fazer,
regozije-se o tal no seu trabalho e naã o murmure; porque se murmurar pode perder
rapidamente a sua honra. Deus naã o tropeça com dificuldades quando se trata de achar
instrumentos. Ãteé das pedras podia levantar filhos a Ãbraã o, e pode suscitar de essas memas
pedras os instrumentos necessaé rios para o cumprimento da sua obra gloriosa.
Ãh! quem tivera um coraçaã o mais disposto a servi-Lo! Um coraçaã o paciente, humilde,
consagrado e despido de si mesmo! Um coraçaã o prontoaservircomoutrosedispostoaservirsoé ;
um coraçaã o cheio de tal maneira de amor por Cristo, que encontra o seu gozo —o seu maior
gozo—em servi-Lo, seja em que esfera for e qualquer que seja o caraé ter do serviço. Êsta eé
certamente a necessidade especial dos dias em que nos caiu a nossa sorte. Que o Êspíérito
Santo desperte em nossos coraçoã es um sentimento mais profundo da preciosidade excelente
do nome de Jesus e nos habilite a dar uma resposta mais clara, completa e inequíévoca ao amor
imutaé vel de Seu coraçaã o!
— CÃPITULO 19 —

ISRAEL
AO PÉ DO MONTE SINAI
O Pacto da Graça
Êis-nos agora chegados a um ponto muito importante na histoé ria de Israel. O povo fora
conduzido ao peé do "monte palpaé vel, acesso em fogo" (Hb 12:18). Ã cena de gloé ria milenial,
que nos apresenta o capíétulo anterior, desaparecera. Fora apenas um momento breve de sol
durante o qual fora proporcionada uma viva imagem do reino; poreé m o sol desvaneceu-se
rapidamente e grossas nuvens amontoaram-se sobre esse "monte palpaé vel", onde Israel, num
espíérito funesto e insensíével de legalismo, abandonou o pacto de graça de Jeovaé pela aliança
das obras do homem. Impulso fatal! Que foi seguido dos resultados mais funestos. Ãteé aqui,
como temos visto, nenhum inimigo poê de subsistir diante de Israel — nenhum obstaé culo poê de
deter a sua marcha vitoriosa. Os exeé rcitos de Faraoé haviam sido destruíédos; Ãmaleque e o seu
povo haviam sido passados a fio de espada: tudo fora vitoé ria, porque Deus interviera a favor
do Seu povo, em conformidade com as promessas que fizera a Ãbraaã o, Isaqueejacoé .
Nos primeiros versíéculos do capíétulo que temos perante noé s, o Senhor resume de uma
maneira tocante aquilo que tem feito por Israel: "Ãssim falaraé s aà casa de Jacoé e anunciaraé s aos
filhos de Israel: Voé s tendes visto o que fiz aos egíépcios, como vos levei sobre asas de aé guias,
evos trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes o meu
concerto, entaã o sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos; porque toda a
terra eé minha. Ê voé s me sereis um reino sacerdotal e o povo santo" (versíéculos 3 a 6). Note-se
que o Senhor disse: "a minha voz" e "o meu concerto". Que dizia essa "voz" e que implicava esse
"concerto"? Ã voz de Jeovaé tinha-se feito ou vir para impor as leis e as ordenaçoã es de um
legislador severo e inflexíével? De modo nenhum. Falou para dar liberdade aos cativos—para
prover um refué gio da espada do destruidor—,para preparar um caminho para que os remidos
pudessem passar, para fazer descer paã o do ceé u, para fazer brotar aé gua da rocha. Tais foram as
expressoã es graciosas e inteligíéveis da "voz" do Senhor ateé ao momento em que Israel acampou
defronte do monte.
Quanto ao Seu "concerto" era um concerto de pura graça. Naã o impunha condiçoã es, naã o
podia nada, naã o punha nenhum fardo sobre os ombros nem jugo no pescoço. Quando "o Deus
da gloé ria apareceu" a Ãbraã o em Ur dos caldeus (Ãt 7:2), de certo que naã o lhe disse "faraé s isto"
e "naã o faraé s aquilo". Oh! naã o; uma tal linguagem naã o seria segundo o coraçaã o de Deus. Êle
prefere muito mais poê r uma mitra limpa sobre a cabeça do pecador do que poê r um jugo de
ferro sobre o seu pescoço (Zc 3:5; Dt 28:48). Ã Sua palavra a Ãbraaã o foi: "DÃR-TÊ-ÊI". Ã terra
de Canaaã naã o podia ser adquirida pelas obras do homem, mas devia ser dada pela graça de
Deus. Ãssim era; e, no princíépio do livro do ÊÊ xodo vemos Deus descendo em graça para
cumprir a Sua promessa aos descendentes de Ãbraã o. O estado em que encontrou essa
posteridade naã o importava, tanto mais que o sangue do cordeiro Lhe dava um fundamento
perfeitamente justo para realizar a Sua promessa. Êvidentemente naã o havia prometido a terra
de Canaaã aà posteridade de Ãbraã o com base em qualquer coisa que houvesse antevisto neles,
porque isto teria destruíédo a verdadeira natureza de uma promessa. Êm tal caso teria sido um
pacto e naã o uma promessa: "ora as promessas foram feitas a Ãbraaã o", naã o por um pacto (veja-
se Gaé latas 3).
Por isso, no princíépio desse capíétulo 19, faz-se lembrar ao povo a graça com que o
Senhor havia tratado com eles ateé ali, e recebem tambeé m a garantia daquilo que ainda haã o-de
ser, contanto que continuem a atender a "voz" celestial de misericoé rdia e a permanecer no
"pacto" de graça. "Sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos". Como podiam
eles conseguir isto? Podiam consegui-lo aos tropeçoã es pela escada da proé pria justiça e do
legalismoi Seriam uma "propriedade peculiar" quando amaldiçoados pelas maldiçoã es de uma
lei transgredida—violada antes mesmo de a haverem recebido? Seguramente que naã o. Logo,
como ia ser esta "propriedade peculiar"? Permanecendo naquela posiçaã o em que o Senhor os
viu quando obrigou o profeta ambicioso a exclamar: "Que boas saã o as tuas tendas, oé Jacoé lQue
boas as tuas moradas, oé Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins ao peé dos rios; como
aé rvores de saê ndalo o SÊNHOR a plantou, como cedros junto aà s aé guas. De seus baldes manaraã o
aé guas, e a sua semente estaraé em muitas aé guas; e o seu rei se exalçaraé mais do que Ãgague, e o
seu reino seraé levantado. Deus o tirou do Êgito; as suas forças saã o como as do unicoé rnio;
consumiraé as gentes, seus inimigos, e quebraraé seus ossos, e com as suas setas os atravessaraé "
(Nm 24:5 - 8).

Um Compromisso Presunçoso
Contudo, Israel naã o estava disposto a ocupar esta posiçaã o. Êm vez de se regozijarem
com "a santa promessa" de Deus, aventura-ram-se a tomar ovotomais presunçoso que laé bios
humanos podiam pronunciar. "Êntaã o, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que o
SENHOR tem falado faremos" (versíéculo 8). Êsta linguagem era ousada. Naã o disseram,
"esperamos fazer" ou "procuraremos fazer" o que o Senhor disser; o que teria mostrado certo
grau de desconfiança em si mesmos. Mas naã o: pronunciaram-se da maneira mais absoluta:
"Faremos". Nem tampouco isto era a linguagem de alguns espíéritos presunçosos, cheios de
confiança em si mesmos que presumiam representar toda a congregaçaã o. Naã o; "Todo o povo
respondeu a uma voz". Ãbandonaram unaê nimes a "santa promessa" —o "concerto santo."
Ê agora, veja-se o resultado. Logo que Israel pronunciou o seu "voto" singular, assim
que decidiu "fazer" tudo o que o Senhor mandasse, deu-se uma mudança no aspecto das
coisas. "Ê disse o SÊNHOR a Moiseé s: Êis que eu virei a únuma nuvem espessa... e marcaraé s limites
ao povo em redor, dizendo: Guardai-vos, que naã o subais o monte, nem toqueis o seu termo;
todo aquele que tocar o monte certamente morreraé ". Vemos nesta passagem uma mudança
notaé vel: Ãquele que acabava de dizer,"... vos levei sobre asas de aé guias e vos trouxe a mim",
agora oculta-Se "numa nuvem espessa" e diz: "Marcaraé s limites ao povo em redor". Os acentos
agradaé veis de graça saã o trocados pelos "trovoã es e relaê mpagos" do monte fumegante. O homem
havia ousado falar das suas miseraé veis obras na presença da magnificente graça de Deus.
Israel dissera: "Faremos", e portanto eé preciso que sejam postos aà distaê ncia de forma a poder
verse claramente o que eé que podem fazer. Deus toma o lugar de distaê ncia moral; e o povo naã o
pensa de modo nenhum em encurtaé --la, porque todos estaã o cheios de temor e tremendo; e
naã o era de admirar, porque a visaã o era; "terríével" — taã o terríével que "Moiseé s disse: Êstou todo
assombrado e tremendo (Hb 12:25). Quem poderia suportar a vista desse "fogo consumidor",
que era a justa expressaã o da santidade divinal "...O SÊNHOR veio de Sinai, e lhes subiu de Seir;
resplandeceu desde o monte Para, e veio com dez milhares de santos; aà sua direita havia para
eles o fogo da lei" (Dt 33:2). Otermo"fogo", aplicadoaà lei, mostraa sua santidade. "O nosso Deus
eé um fogo consumidor" (Hb 12:29) — que naã o transige com o mal em pensamento, palavras
ou açoã es.
Desta forma, pois, Israel cometeu um erro fatal em dizer, "faremos". Isto era fazer um
voto que naã o podiam, ainda mesmo que quisessem, cumprir; e noé s conhecemos aquele que
disse "melhor eé que naã o votes do que votes e naã o pagues" (Êc 5:5). O proé prio caraé ter do voto
implica a competeê ncia de o cumprir; e onde estaé a competeê ncia do homem?- Para um pecador
desamparado fazer um voto, seria o mesmo que um homem falido passar um cheque sobre um
banco. Ãquele que faz um voto nega a verdade quanto aà sua proé pria condiçaã o e natureza. Êstaé
arruinado, que poderaé fazer?-Êncontra-se inteiramente sem forças, e naã o pode querer nem
fazer nada bom. Israel cumpriu o seu voto?- Fizeram tudo que o Senhor lhes havia mandado?
O bezerro de outro, as taé buas feitas em pedaços, o saé bado profanado, as ordenaçoã es
menosprezadas e abandonadas, os mensageiros de Deus apedrejados, o Cristo rejeitado e
crucificado, e a resisteê ncia ao Êspíérito, saã o provas esmagadoras de como o homem violou os
seus votos. Ãconteceraé assim sempre que a humanidade caíéda fizer votos.
Naã o se regozija o leitor cristaã o no fato de que a sua salvaçaã o eterna naã o descansa sobre
os seus miseraé veis votos e resoluçoã es, mas sim sobre a "oblaçaã o do corpo de Jesus Cristo, feita
uma vez"? (Hb 10:10). Oh, sim, eé sobre este fato que estaé fundado o nosso gozo, que nunca
pode falhar. Cristo tomou todos os nossos votos sobre Si Mesmo e cumpriu-os gloriosamente
para todo o sempre. ÃSua vida de ressurreiçaã o corre nos Seus membros e produz neles
resultados que os votos e as exigeê ncias da lei naã o podiam produzir. Êle eé a nossa vida e a nossa
justiça. Que o Seu nome seja precioso para os nossos coraçoã es e que a Sua causa domine
sempre anossa vida. Que a nossa comida e a nossa bebida seja gastar e gastarmo-nos no Seu
glorioso serviço.
Naã o posso terminar este capíétulo sem mencionar uma passagem do Livro de
Deuteronoê mio, que pode oferecer alguma dificuldade para certos espíéritos e que se relaciona
com o assunto que acabamos de tratar. "Ouvindo, pois, o SÊNHOR a voz das vossas palavras,
quando me falaé veis a mim, o SÊNHOR me disse-. Êu ouvi a voz das palavras deste povo, que te
disseram; em tudo falaram eles bem" (Dt 5:28). Poderia parecer, segundo estas palavras, que o
Senhor aprovava que eles tivessem feito um voto; poreé m, se o leitor se der ao trabalho de ler
todo o contexto, desde o versíéculo 24 ao versíéculo 27, veraé imediatamente que naã o se trata de
um voto, mas da expressaã o do seu terror por causa das consequeê ncias do seu voto. Naã o
podiam suportar aquilo que lhes era ordenado. "Se ainda mais ouvíéssemos a voz do SÊNHOR,
nosso Deus, morreríéamos. Porque, quem haé , de toda a carne, que ouviu a voz do Deus vivente
falando do meio do fogo, como noé s, e ficou vivo? Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o
SÊNHOR nosso Deus; e tu nos diraé s tudo o que te disser o SÊNHOR nosso Deus, e o ouviremos, e o
faremos". Êra esta a confissaã o da sua incapacidade para se encontrarem com o Senhor sob o
aspecto terríével a que o seu legalismo orgulhoso os havia levado. ÊÉ impossíével que o Senhor
possa aprovar o abandono de graça imutaé vel por um fundamento movediço de "obras da lei".
— CÃPIÉTULO 20 —

A LEI

A Lei e a Graça
ÊÉ da maior importaê ncia compreender o verdadeiro caraé ter e o objeto da lei moral,
como nos eé apresentada neste capíétulo. Êxiste uma tendeê ncia no homem para confundir os
princíépios da lei com graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamente
compreendidas. Ãlei eé despojada da sua austera e inflexíével majestade, e a graça eé privada de
todos os seus atrativos divinos. Ãs santas exigeê ncias de Deus ficam sem resposta, e as
profundas e mué ltiplas necessidades do pecador permanecem insolué veis pelo sistema anoé malo
criado por aqueles que tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem
confundir-se, visto que saã o taã o distintas quanto o podem ser duas coisas. Ãlei mostra-nos o
que o homem deveria ser; enquanto que a graça demonstra o que Deus eé . Como poderaã o, pois,
ser unidas num mesmo sistema1?- Como poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema
formado em parte pela lei e em parte pela graça 1? Impossíével: ele tem de ser sal vo por uma ou
por outra.
à lei tem sido aà s vezes chamada "a expressaã o do pensamento de Deus". Mas esta
definiçaã o eé inteiramente inexata.. Se a consideraé ssemos como a expressaã o daquilo que o
homem deveria ser, estaríéamos mais perto da verdade. Se eu considerar os dez mandamentos
como a expressaã o do pensamento de Deus, entaã o, pergunto, naã o haé nada mais no pensamento
de Deus senaã o "faraé s" isto e "naã o faraé s" aquilo? Naã o haé graça, nem misericoé rdia nem bondade?
Deus naã o manifestaraé aquilo que eé , nem revelaraé os segredos profundos desse amor que enche
o Seu coraçaã o? Naã o existe nada mais no coraçaã o de Deus senaã o exigeê ncias e proibiçoã es
severas"? Se fosse assim, teríéamos de dizer que "Deus eé lei"emvezde dizermos que" Deus eé
amor". Poreé m, bendito seja o Seu nome, existe muito mais em Seu coraçaã o do que jamais
poderaã o expressar os "dez mandamentos" pronunciados no monte fumegante. Se quero saber
o que Deus eé , devo olhar para Cristo; "porque nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade" (Cl 2:9). "PorquealeifoidadaporMoiseé s;agraçaeaverdadevieram por Jesus Cristo"
(Jo 1:17). Certamente, na lei achava-se uma certa medida de verdade; continha a verdade
quanto aà quilo que o homem deveria ser. Como tudo que emana de Deus, a lei era perfeita —
perfeita para alcançar o fim a que era destinada; poreé m esse fim naã o era, de modo nenhum,
revelar, perante pecadores culpados, a natureza e o caraé ter de Deus. Naã o havia graça nem
misericoé rdia. "Quebrantando algueé m a lei de Moiseé s, morre sem misericoé rdia" (Hb 10.28).
"Ohomem que fizer estascoisas viveraé por elas" (Lv 18:5; Rm 10:5). "Maldito todo aquele que
naã o permanecer em todas as coisas que estaã o escritas no livro da lei, para fazeê -las" (Dt 27:26;
Gl 3:10). Nada disto era graça. Com efeito, o monte Sinai naã o era o lugar para se procurar tal
coisa. Jeovaé revelou-Se ali em majestade terríével, no meio da obscuridade, trevas, tempestade,
trovoã es e relaê mpagos. Êstas circunstaê ncias naã o saã o aquelas que acompanham uma
dispensaçaã o de graça e misericoé rdia; mas eram proé prias de uma dispensaçaã o de verdade e
justiça: e a lei naã o era mais que isso.
Na lei Deus declara o que o homem deveria ser, e pronuncia a maldiçaã o sobre ele se o
naã o for. Ora quando o homem se examine aà luz da lei descobre que eé precisamente aquilo que
a lei condena. Como poderaé ele, portanto, obter a vida por meio da lerv à lei propoã e a vida e a
justiça como os fins a alcançar, guardando-a; mas mostra-nos, desde o primeiro momento, que
nos encontramos num estado de morte e iniquidade. Precisamos desde o primeiro momento
das mesmíéssimas coisas que a lei propoã e alcançar-nos no fim. Como vamos noé s, portanto,
obteê -las? Para cumprir aquilo que a lei requer eé preciso que eu tenha vida; e para ser o que a
lei exige devo possuir a justiça; e se eu naã o tiver vida e justiça sou "maldito". Poreé m, o fato eé
que eu naã o tenho uma nem a outra. Que devo entaã o f azer4- Êis a questaã o. Que respondam
aqueles que querem ser "doutores da lei" (1 Tm 1.7): que deê em uma resposta proé pria para
uma conscieê ncia reta, curvada sob o sentido duplo da espiritualidade e inflexibilidade da lei e
a sua carnalidade desesperada.

O Propósito da Lei
à verdade eé que, como nos ensina o apoé stolo, a lei veio para que a ofensa abundasse
(Rm5:20). Isto mostra-nos claramente o verdadeiro objetivo da lei: veio a propoé sito para que o
pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7:13). Êra, em certo sentido, como um espelho
perfeito enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Se eu me puser diante de um
espelho com o meu vestuaé rio desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas naã o o poã e
em ordem. Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a
tortuosidade, mas naã o a altera. Se eu sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me
todos os obstaé culos e dificuldades que se acham no caminho, mas naã o os remove. Ãleé m disso,
o espelho, o prumo, e a luz naã o criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem
os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: naã o cria o mal no coraçaã o
dohomem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalíével exatidaã o.
"Que diremos pois4 ÊÉ a lei pecado 1?- De modo nenhum; mas eu naã o conheci o pecado
senaã o pela lei; porque eu naã o conheceria a concupisceê ncia se a lei naã o dissesse: Naã o
cobiçaraé s" (Rm 7:7). O apoé stolo naã o diz que naã o teria tido "concupisceê ncia". Naã o, mas apenas
que naã o a teria conhecido. Ã "concupisceê ncia" existia; mas ele estava aà s escuras quanto ao fato,
ateé que a lei, como a luz do Deus Onipotente, brilhou nos recessos tenebrosos do seu coraçaã o e
revelou o mal que nele havia Ãssim como um homem numa caê mara escura pode estar rodeado
de poeira e confusaã o sem contudo poder ver nada por causa da escuridaã o. Mas deixai que os
raios de sol penetrem ali e ele distinguiraé imediatamente tudo. São os raios de sol que formam
o poé ? Certamente que naã o. O poé encontra-se ali, e os raios de sol apenas o detectam e revelam.
Isto eé apenas uma simples ilustraçaã o dos efeitos da lei: julga o caraé ter e a condiçaã o do homem.
Julga o pecador e encerra-o debaixo da maldiçaã o: vem para julgar o que ele eé e amaldiçoa-o se
ele naã o eé o que ela lhe diz que deve ser.

A Lei Condena o Pecador


ÊÉ , portanto, claramente impossíével que algueé m possa obter a vida e a justificaçaã o por
meio daquilo que soé pode amaldiçoaé -lo; e a menos que a condiçaã o do pecador e o caraé ter da
lei sejam inteiramente alterados, a lei naã o pode fazer mais que amaldiçoaé -lo. Ã lei naã o eé
indulgente com as fraquezas, e naã o reconhece a obedieê ncia sincera, embora imperfeita. Se
fosse este o caso, naã o seria aquilo que eé , "santa, justa e boa" (Rm7:12). ÊÉ justo que o pecador
naã o possa obter vida pela lei porque a lei eé aquilo que eé . Se o pecador pudesse obter vida pela
lei, a lei naã o seria perfeita, ou entaã o ele naã o seria pecador. ÊÉ impossíével que o pecador possa
obter vida por meio de uma lei perfeita, porque, embora seja perfeita, tem de condenaé -lo: a
sua perfeiçaã o absoluta manifesta e sela a ruíéna e condenaçaã o do homem. "Porisso, nenhuma
carne seraé justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do
pecado" (Rm 3:20). O apoé stolo naã o diz que o pecado eé pela lei, mas somente que por ela vem o
conhecimento do pecado. "Porque ateé aà lei estava o pecado no mundo, mas o pecado naã o eé
imputado naã o havendo lei" (Rm 5:13). O pecado existia, e precisava apenas da lei para o
manifestar na forma de "transgressaã o". ÊÉ como se eu dissesse a meu filho: "naã o deves tocar
nessa faca". Ã minha proibiçaã o revela a tendeê ncia do seu coraçaã o para fazer a sua proé pria
vontade.
O apoé stolo Joaã o diz que o "o pecado eé iniquidade" (1 Jo 3:4). Ã palavra "transgressaã o"
naã o traduz o verdadeiro pensamento do Êspíérito Santo nesta passagem (1). Para que haja
transgressaã o eé necessaé rio que seja estabelecida uma regra ou linha de conduta definida;
porque transgressaã o quer dizer cruzar uma linha proibida; essa linha teê mo-la na lei. Tomemos
por exemplo algumas das suas proibiçoã es: "Naã o mataraé s", "Naã o cometeraé s adulteé rio", "Naã o
furtaraé s". Ãqui tenho, pois, uma regra ou linha posta diante de mim; poreé m descubro que
tenho em mim mesmo os proé prios princíépios contra os quais estas proibiçoã es saã o
expressamente dirigidas. Ãinda mais, o proé prio fato de me ser proibido matar mostra que o
homicíédio estaé em minha natureza. Naã o havia necessidade de me ser proibido fazer uma coisa
que eu naã o tinha inclinaçaã o para fazer; poreé m, a revelaçaã o da vontade de Deus, quanto ao que
eu deveria ser, mostra a tendeê ncia da minha vontade para ser aquilo que naã o devo. Isto eé bem
claro, e estaé perfeitamente de acordo com todoo ensino apostoé lico sobre este assunto.
_____________________
(¹) Ao contrário da King James Version (inglês), que emprega a palavra transgressão, as traduções em
português de João Ferreira de Almeida e de António Pereira de Figueiredo empregam o vocábulo iniquidade, o qual
nos parece estar mais conforme com o original (N. do T.).

Não somos Justificados pela Lei


Muitos, contudo, admitem que naã o podemos obter vida pela lei, mas sustentam, ao
mesmo tempo, que a lei eé a nossa regra de vida. Ora, o apoé stolo declara que "Todos aqueles...
que saã o das obras da lei, estaã o debaixo da maldiçaã o" (Gl 3:10). Pouco importa a sua condiçaã o
individual, se estaã o sobre o terreno da lei, acham-se, necessariamente, sob a maldiçaã o. Pode
ser que algueé m diga: "Êu estou regenerado, e, portanto, naã o estou exposto aà maldiçaã o." Poreé m,
se a regeneraçaã o naã o retira o homem do terreno da lei, naã o pode poê -lo para laé dos limites da
maldiçaã o da lei. Se o cristaã o estiver debaixo da lei, estaé exposto, necessariamente, aà maldiçaã o
da lei. Mas, que tem que ver a lei com a regeneraçaã o 1?- Onde eé que vemos que se trate da
regeneraçaã o no capíétulo 20 de ÊÊ xodos à lei tem apenas uma pergunta a fazer ao homem—uma
pergunta curta, solene e direta —, a saber: "ÊÉ s tu o que deverias seri" Se a resposta eé negativa,
a lei naã o pode senaã o lançar os seus terríéveis anaé temas sobre o homem e mataé -lo. Ê quem
reconheceraé mais prontamente e mais profundamente que, em si mesmo, naã o eé aquilo que
deveria ser senaã o o homem verdadeiramente regenerado?- Portanto, se estaé debaixo da lei,
estaé , inevitavelmente, debaixo da maldiçaã o. Naã o eé possíével que a lei diminua as suas exigeê ncias
ou se misture com a graça. Os homens procuram sempre baixar o seu padraã o; sentem que naã o
podem elevar-se aà medida da lei, e, entaã o, procurar rebaixaé -la ateé si; poreé m este esforço eé vaã o:
a lei permanece em toda a sua pureza, majestade e inflexibilidade austera, e naã o aceitaraé nada
menos que uma obedieê ncia perfeita; qual eé o homem, regenerado ou não, que pode intentar
obedecer assim?- Dir-se-aé : "Noé s temos a perfeiçaã o em Cristo". Sem dué vida, mas naã o eé pela lei,
mas, sim, pela graça; e naã o podemos, de nenhum modo, confundir as duas dispensaçoã es. Ãs
Êscrituras ensinam-nos claramente que naã o somos j ustif içados pela lei; nem a lei eé a nossa
regra de vida. Ãquilo que soé pode amaldiçoar nunca poderaé justificar, e aquilo que soé pode
matar nunca poderaé ser uma regra de feé . Seria como se um homem tentasse fazer fortuna
valendo-se de uma açaã o de faleê ncia movida contra si.

Um Jugo Impossível de Levar


O capíétulo 15 do livro de Ãtos mostra-nos como o Êspíérito Santo respondeu aà tentativa
que se pretendera fazer para poê r os crentes sob a lei, como regra de vida. "Ãlguns, poreé m, da
seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidaé -los e
mandar-lhes que guardassem a lei de Moiseé s" (versíéculo 5). Isto naã o era mais do que o silvo da
antiga serpente fazendo-se ouvir nas sugestoã es sinistras e desanimadoras desses primitivos
legalistas. Mas vejamos como o assunto foi resolvido pela poderosa energia do Êspíérito Santo e
a voz unaê nime dos doze apoé stolos e de toda a Igreja. "Ê, havendo grande contenda, levan-tou-
se Pedro e disse-lhes: Varoã es irmaã os, bem sabeis que jaé haé muito tempo Deus me elegeu,
dentre voé s, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem". —
O queê ? Ãs exigeê ncias e as maldiçoã es da lei de Moiseé s? Naã o; bendito seja Deus, esta naã o era a
mensagem que Deus queria fazer chegar aos ouvidos de pecadores perdidos. Ouvissem, entaã o,
o queê "? "OUVISSÊM DÃ MINHÃ BOCÃ Ã PÃLÃVRÃ DO ÊVÃNGÊLHO Ê CRÊSSÊM". Ãqui estava a
mensagem que correspondia ao caraé ter e natureza de Deus. Êle nunca teria perturbado os
homens com uma linguagem triste de exigeê ncias e proibiçoã es. Êsses fariseus naã o eram Seus
mensageiros — muito pelo contraé rio. Naã o eram portadores de boas novas, nem anunciadores
da paz, e portanto os seus peé s eram tudo menos "formosos" aos olhos d'Ãquele que Se deleita
em misericoé rdia.
"Ãgora, pois", continua o apoé stolo, "porque tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos
discíépulos um jugo que nem nossos pais nem noé s pudemos suportara" Êsta linguagem era
grave e forte. Deus naã o queria poê r "um jugo sobre a cerviz" daqueles cujos coraçoã es haviam
sido libertados pelo evangelho da paz. Ãntes pelo contraé rio, desejava exortaé -los a
permanecerem na liberdade de Cristo e a naã o se meterem "outra vez debaixo do jugo da
servidaã o" (Gl. 5:1). Naã o enviaria aqueles a quem havia recebido em Seu seio de amor "ao
monte palpaé vel" para os aterrorizar com a "escuridaã o", "trevas", e "tempestade" (Hb 12:18).
Isso seria impossíével. "Mas cremos", diz Pedro, "que seremos salvos PÊLÃ GRÃÇÃ DO SÊNHOR
JÊSUS CRISTO, como eles tambeé m" (Ãt 15:11). Tanto os judeus, que tinham recebido a lei
como os gentios, que nunca a receberam, deviam agora ser "salvos" pela "graça". Ê naã o
somente deviam ser "salvos pela graça", mas estar "firmes" na graça (Rm 5:2) e crescer na
graça (2Pe 3:18). Ênsinar outra coisa era tentar a Deus. Êsses fariseus subvertiam os proé prios
fundamentos da feé cristaã ; e o mesmo fazem todos aqueles que procuram poê r os crentes
debaixo da lei. Naã o existe mal ou erro mais abominaé vel aos olhos de Deus do que o legalismo.
Êscutai a linguagem eneé rgica — os acentos de justa indignaçaã o—de que se serve o Êspíérito
Santo, a respeito desses doutores da lei: "Êu quereria que fossem cortados aqueles que vos
andam inquietando" (Gl 5:12).
Mas, deixai-me perguntar, os pensamentos do Êspíérito Santo mudaram a este respeitou
Jaé deixou de ser tentar a Deus poê r um jugo sobre a cerviz do pecadora Ê segundo a Sua
vontade graciosa que a lei seja lida aos ouvidos dos pecadores? Responda o leitor a estas
interrogaçoã es aà luz do capíétulo 15 de Ãtos e da Êpíéstola aos Gaé latas. Êstas Êscrituras, ainda
mesmo que naã o houvesse outras, saã o suficientes para provar que a intençaã o de Deus nunca foi
que os Gentios "ouvissem a palavra" da lei. Se fosse essa a Sua intençaã o, o Senhor teria,
certamente, escolhido algueé m para a proclamar aos seus ouvidos. Mas naã o; quando proclamou
a Sua "lei terríével", Êle falou numa soé líéngua; poreé m quando proclamou as boas novas de salva-
çaã o, pelo sangue do Cordeiro, falou na líéngua "de todas as nações que estão debaixo do céu".
Falou de tal moâoque cada um, na sua própria língua em que havia nascido, pudesse ouvir a
doce histoé ria da graça (Ãt 2:1 -11).

A Mensagem da Graça
Ãleé m disso, quando Deus deu, no monte Sinai, as exigeê ncias severas do concerto das
obras, dirigiu-Se exclusivamente a um povo. Ã sua voz foi ouvida unicamente dentro dos
estreitos limites da naçaã o judaica; poreé m, quando, nas planíécies de Beleé m, "o anjo do Senhor"
proclamou "novas de grande alegria", acrescentou estas palavras caracteríésticas, "que
serápara todo o povo" (Lc 2:10). Quando o Cristo ressuscitado enviou os Seus arautos de
salvaçaã o, a Sua mensagem era redigida assim: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a
toda a criatura" (Mc 16:15). Ã onda poderosa da graça, que tinha a sua origem no seio de Deus
e o seu leito no sangue do Cordeiro, estava destinada a elevar-se, na energia irresistíével do
Êspíérito Santo, muito acima dos estreitos limites de Israel e rolar atraveé s do comprimento e
largura de um mundo manchado de pecado. "Toda a criatura" devia ouvir "na sua proé pria
líéngua" a mensagem da paz, a palavra do evangelho, o relato da salvaçaã o pelo sangue da cruz.
Finalmente, para que nada pudesse faltar para dar a prova aos nossos coraçoã es
legalistas que o monte Sinai naã o era, de modo nenhum, o lugar onde os segredos profundos do
coraçaã o de Deus foram revelados, o Êspíérito Santo disse, tanto por boca de um profeta como
de um apoé stolo: "Quaã o formosos os peé s dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas
boas!" (Is 52:7; Rm 10:15). Poreé m, daqueles que queriam ser doutores da mesma lei o Êspíérito
Santo disse: "Êu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando" (GI5:12).

A Lei e o Evangelho
Desta forma, eé evidente que a lei naã o eé nem o fundamento de vida para o pecador nem
a regra de vida para o cristaã o. Cristo eé tanto uma coisa como a outra. Êle eé a nossa vida e a
nossa regra de vida. Ãlei soé pode amaldiçoar e matar. Cristo eé a nossa vida e justiça. Êle fez-Se
maldiçaã o por noé s sendo pregado no madeiro. O Senhor desceu ao lugar onde estava o pecador
—ao lugar da morte e do juíézo —, e, havendo, pela Sua morte, cumprido inteiramente tudo que
era ou poderia ser contra noé s, tornou-Se, na ressurreiçaã o, a origem de vida e o fundamento de
justiça para todos os que creê em no Seu nome. Possuindo assima vida e a justiça n'Êle, somos
chamados para andar, naã o apenas como a lei ordena, mas "como ele andou" (1 Jo 2:6). Seraé
desnecessaé rio afirmar que matar, cometer adulteé rio ou roubar, saã o atos diretamente opostos aà
moral cristaã . Mas se um cristaã o regulasse a sua vida segundo esses mandamentos ou de
acordo com o decaé logo produziria esses frutos raros e delicados de que fala a espíéstola aos
Êfeé sios1?- Poderiam os dez mandamentos fazer com que um ladraã o naã o roubasse mais e
trabalhasse a fim de poder ter que dar4 Transformariam jamais um ladraã o num homem
laborioso e liberais Naã o, por certo. Ã lei diz: "Naã o furtaraé s"; mas acaso diz, "daé aà quele que estaé
em necessidade" — vai, daé de comer ao teu inimigo, veste-o e abençoa-o —, vai e alegra por
teus sentimentos benevolentes e teus atos beneficentes o coraçaã o daquele que procura
sempre prejudicar-te? De modo nenhum; e, contudo, se eu estivesse sob a lei, como regra, ela
soé podia amaldiçoar-me e matar-me. Como pode ser isto, sendo o padraã o do Novo Testamento
muito mais elevado"? ÊÉ porque sou fraco e a lei naã o me daé forças nem me mostra misericoé r dia.
à lei exige força daquele que naã o tem nenhuma eantaldiçoa-o se ele naã o pode mostraé -la. Mas o
evangelho dá forças aà quele que naã o tem nenhuma, e abençoa-o na manifestaçaã o dessa força. Ã
lei propoã e a vida como o fim da obedieê ncia; o evangelho daé vida como o proé prio e ué nico
fundamento de obedieê ncia.
Mas, para naã o fatigar o leitor aà força de argumentos, pergunto, se a lei eé , realmente, a
regra de vida do crente, em que parte do Novo Testamento se apresenta ela assima
Êvidentemente o apoé stolo naã o tinha tal pensamento quando disse. "Porque, em Cristo Jesus,
nem a circuncisaã o nem a incircuncisaã o teê m virtude alguma, mas sim o ser um nova criatura. Ê,
a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericoé rdia sobre eles e sobre o Israel
de Deus" (Gl 6:15-16). Qual regra? Ã lei?- Naã o, mas sim a "nova criatura".
Êm capíétulo 20 de ÊÊ xodo naã o encontramos uma soé palavra quanto aà "nova criaçaã o".
Pelo contraé rio, este capíétulo eé dirigido ao homem tal qual ele eé , no seu estado natural da velha
criaçaã o, e poã e-no aà prova para saber o que ele pode realmente fazer. Ora se a lei era a regra
pela qual os crentes deviam andar, por que pronuncia o apoé stolo a sua beê nçaã o sobre os que
andam segundo uma regra totalmente diferen-tei Por que naã o diz ele, "a todos quantos
andarem conforme a regra dos dez mandamentos" 1? Naã o eé evidente, segundo esta passagem,
que a Igreja de Deus tem uma regra mais elevada segundo a qual deve andara ÊÉ ,
indiscutivelmente. Os dez mandamentos, embora façam parte, como todos os verdadeiros
crentes admitem, do caê non de inspiraçaã o, nunca poderiam ser a regra de feé para todo aquele
que tenha, pela graça infinita, sido introduzido na nova criaçaã o—todo aquele que tem
recebido nova vida em Cristo.

A Lei é Perfeita
Mas, pode perguntar-se, "a lei naã o eé perfeita? Ê se eé perfeita que mais pode desejar-se?-
à lei eé divinamente perfeita. Na verdade, a proé pria perfeiçaã o da lei eé a razaã o de amaldiçoar e
matar aqueles que naã o saã o perfeitos e pretendem subsistir perante ela. "Ã lei eé espiritual, mas
eu sou carnal" (Rm 7:14). ÊÉ inteiramente impossíével fazer-se uma ideia justada
perfeiçaã oeespiritualidadedalei. Poreé m, esta lei perfeita estando em contato com a humanidade
caíéda—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—soé podia produzir a "ira"
e a "inimizade" (Rm 4:15; 8:7). Por queê 1?- ÊÉ porque a lei naã o eé perfeita?- Ão contraé rio, eé
porque ela o eé e o homem eé pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua
perfeiçaã o espiritual; e ateé mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda
consigo uma natureza corrompida, o apoé stolo ensina-nos: "Para que a justiça da lei se
cumprisse em noé s, que naã o andamos segundo a carne, mas segundo o espíérito" (Rm 8:4): "..
.porque quem ama aos outros cumpriu a lei... O amor naã o faz mal ao proé ximo. De sorte que o
cumprimento da lei eé o amor" (Rm 13:8 e 10). Se eu amar o proé ximo naã o furtarei aquilo que
lhe pertence; pelo contraé rio, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto eé claro e
faé cil de compreender por uma alma espiritual; mas naã o toca na questaã o da lei, quer seja como
fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o crente.

Os dois grandes Mandamentos


Se considerarmos a lei sob as suas duas partes importantes, vemos que ordena ao
homem amar a Deus de todo o seu coraçaã o, de toda a sua alma e de todas as suas forças, e
amaraã o proé ximo como a si mesmo. Tal eé o resumo da lei. Êis o que a lei exige, e nada menos.
Mas qual eé o filho caíédo de Ãdaã o que j amais poê de responder a esta dupla exigeê ncia da lei4-
Qual eé o homem que pode dizer que ama Deus desta maneirai "...a inclinaçaã o da carne" (quer
dizer, a inclinaçaã o que temos por natureza) "eé inimizade contra Deus" (Rm 8:7). O homem
aborrece a Deus e os Seus caminhos. Deus veio na Pessoa de Cristo e manifestou-Se aos
homens, naã o na magnificeê ncia esmagadora da Sua majestade, mas com todo o encanto e a
doçura de graça perfeita e condescendeê ncia. Qual foi o resultado? O homem aborreceu a Deus:
"...me aborreceram a mime a meu Pai" (Jo 15:24). Mas diraé algueé m, "ohomem devia amar a
Deus". Sem dué vida, e merece a morte e a perdiçaã o eterna se o naã o fizer. Mas poderaé a lei
produzir este amor no coraçaã o do homemi Êra esse o seu fim? De maneira nenhuma, "porque
a lei opera a ira". Ã lei encontra o homem num estado de inimizade contra Deus; e, sem alterar
nada desse estado — porque esse naã o era o seu objetivo — manda que ele ame a Deus de todo
o seu coraçaã o, e amaldiçoa-o se o naã o fizer. Naã o pertencia ao domíénio da lei alterar ou
melhorar a natureza do homem; nem tampouco podia dar-lhe o poder de cumprir as suas
justas exigeê ncias. Dizia: "Faze isto eé viveraé s". Mandava que o homem amasse a Deus. Naã o
revelava aquilo que Deus era para o homem, mesmo na sua culpa e ruíéna; mas dizia ao homem
aquilo que ele deveria ser para Deus.
Êra uma obra triste. Naã o se via em tudo isto o desenrolar dos atrativos poderosos do
caraé ter divino, produzindo no homem verdadeiro arrependimento para com Deus, fundindo o
seu coraçaã o de gelo e elevando a sua alma em verdadeiro af eto e adoraçaã o sincera. Naã o; era
um mandamento inflexíével para amar a Deus; e, em vez de produzir amor, opera "a ira"—naã o
porque naã o devesse ser amado, mas porque o homem era pecador.
Depois, lemos; "Ãmaraé s ao teu proé ximo como a ti mesmo". Como pode "o homem
natural" fazer isto? Ãma ao seu proé ximo como a si mesmo?- ÊÉ este o princíépio que se observa
nas caê maras de comeé rcio, na bolsa, nos bancos, nos negoé cios, nas feiras e nos mercados deste
mundo"?- Ãh, naã o! O homem naã o ama o seu proé ximo como a si mesmo. Sem sombras de
dué vida, deveria fazeê -lo, e se a sua condiçaã o fosse boa, ele o faria. Mas eé mau — inteiramente
mau—e a menos que nasça de novo da Palavra e do Êspíérito Santo, naã o pode ver nem entrar
no reino deDeus(Jo3:3-5).Ãleinaã opode produzir este novo nascimento. Mata "o homem velho",
mas naã o cria, nem pode criar "ohomemnovo".Comefeito, sabemos que o Senhor Jesus reuniu
na Sua gloriosa Pessoa tanto Deus como o nosso proé ximo, visto que era, segundo a verdade
fundamental da doutrina cristaã , "Deus manifestado em carne" (1 Tm 3:16). Como foi Êle
tratado pelo homem'? Ãmou-0 de todo o seu coraçaã o ou como a si mesmo*?- Ão contraé rio:
crucificou-0 entre dois salteadores depois de haver, antecipadamente, preferido um ladraã o e
malfeitor a este bendito Senhor que andara fazendo bem — que tinha vindo da eterna morada
de luz e amor, sendo Êle Proé prio a personificaçaã o viva dessa luz e desse amor — Cujo coraçaã o
tinha sempre palpitado com a mais simpatia pela necessidade humana e Cuja maã o estivera
sempre disposta a enxugar as laé grimas do pecador e a aliviar os seus sofrimentos. Ãssim,
contemplando a cruz de Cristo, vemos nela uma demonstraçaã o irrefutaé vel do fato que naã o estaé
ao alcance da natureza ou capacidade do homem guardar a lei.

A Adoração
Depois de tudo que temos visto, haé um interesse particular para o homem espiritual
observar a posiçaã o relativa de Deus e o pecador no Hm deste memoraé vel capíétulo. "Êntaã o,
disse o SÊNHOR a Moiseé s: Ãssim diraé s aos filhos de Israel:... Um altar de terra me faraé s e sobre
ele sacrificaraé s os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíéficas e as tuas ovelhas, e as tuas
vacas; em todo lugar onde eu fizer celebrar a memoé ria do meu nome, VIRÊI ÃTI Ê TÊ
ÃBÊNÇOÃRÊI. Ê, se me fizeres um altar de pedras, naã o o faraé s de pedras lavradas; se sobre ele
levantares o teu buril, profanaé -lo-aé s. Naã o subiraé s tambeé m por degraus ao meu altar, para que a
tua nudez naã o seja descoberta diante deles" (versíéculos 22 aé 26).
Naã o vemos nesta passagem o homem na posiçaã o de fazer obras, mas na de um
adorador: e isto no fim do capíétulo 20 do ÊÊ xodo. Êste fato ensina-nos claramente que o
ambiente de Sinai naã o eé aquele que Deus quer que o pecador respire—o monte de Sinai naã o eé
o lugar proé prio para o encontro de Deus com o homem:".. .em todo o lugar onde eu fizer
celebrar a memoé ria do meu nome virei a ti e te abençoarei". Como esse lugar onde Jeovaé faz
celebrar a memoé ria do Seu nome, e onde vem para abençoar o Seu povo em adoraçaã o, eé
diferente dos terrores do monte fumegante!
Mas, aleé m disso, pode encontrar-Se com o pecador num altar sem pedras lavradas ou
degraus—um lugar de culto cuja construçaã o naã o necessita da arte do homem ou esforço
humano para dele se aproximar. Ãs pedras lavradas por maã o do homem soé podiam manchar o
altar e os degraus soé podiam descobrir a "nudez" humana. Que síémbolo admiraé vel do lugar
onde Deus encontra agora o pecador, a proé pria Pessoa e obra de Seu Filho, Jesus Cristo, em
Quem todas as exigeê ncias da lei e da justiça e da conscieê ncia saã o perfeitamente cumpridas! Êm
todos os tempos e em todos os lugares, o homem tem estado sempre pronto, de um modo ou
de outro, a levantar os seus instrumentos na construçaã o do seu altar ou para se aproximar
dele pelos degraus de sua proé pria invençaã o. Poreé m, o resultado dessas tentativas tem sido a
contaminação e a nudez... "todos noé s somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como
trapo da imundíécia; e todos noé s caíémos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos
arrebatam" (Is 64:6). Quem se atreveria a aproximar-se de Deus com um vestuaé rio de "trapo
da imundíécie?" Ou quem poderaé adoraé -Lo na sua "nudeza" Que maior absurdo poderia haver
do que pensar em chegar aà presença de Deus de um modo que necessariamente inclui
contaminaçaã o ou nudeza Ê contudo sucede assim sempre que o esforço humano eé empregado
para abrir o caminho para Deus. Naã o somente esse esforço eé desnecessaé rio como estaé
marcado com a contaminaçaã o e a nudez. Deus veio taã o perto do pecador, ateé mesmo aà
profundidade da sua ruíéna, que naã o haé necessidade de ele levantar o instrumento da
legalidade ou de subir os degraus da justiça proé pria — fazeê -lo eé apenas expor a sua imundíécia
e a sua nudez.
Saã o estes os princíépios com que o Êspíérito Santo termina esta parte notaé vel deste livro
inspirado. Que Deus os inscreva em nossos coraçoã es de forma a podermos compreender
claramente a diferença essencial entre a LÊI e a GRÃÇÃ.

— CÃPITULO 21 a 23 —

AS ORDENANÇAS
E AS PENALIDADES
A Infinita Condescendência de Deus para cora o Homen
O estudo desta parte do Livro do ÊÊ xodo estaé calculado para compenetrar o coraçaã o do
significado da sabedoria inescrutaé vel e infinita bondade de Deus. Com este estudo podemos
formar uma ideia de um reino governado por leis estabelecidas por Deus. Podemos ver nele
tambeé m a maravilhosa condescendeê ncia d'Ãquele que, naã o obstante ser o grande Deus do ceé u
e da terra pode, todavia, curvar-Se para julgar entre os homens a morte de um boi, o
empreé stimo de um vestido ou a perda do dente de um servo. "Quem eé como o SÊNHOR nosso
Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que estaé nos ceé us ena terral" (Sl 113:5-
6). Governa o universo e, todavia, pode ocupar-Se com o suprimento de vestuaé rio para uma
das Suas criaturas. Dirige o voê o dos anjos e toma nota do rastejar de um verme. Humilha-Se a
Si Proé prio para regular o movimento dos inumeraé veis astros que se movem no espaço infinito
e para registrar a queda de um pardal.
Quando ao caraé ter das leis apresentadas no primeiro destes capíétulos, podemos
aprender nele uma liçaã o dupla. Êssas leis e ordenaçoã es daã o um testemunho duplo: trazem-nos
uma mensagem e poã em perante os nossos olhos dois lados de um quadro. Falam de Deus e do
homem.
Êm primeiro lugar, quando a Deus, veê mo-Lo decretar leis que mostram justiça perfeita,
estrita e imparcial. "Olho por olho, dente por dente, maã o por maã o, peé por peé , queimadura por
queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe". Tal era o caraé ter das leis, dos estatutos e dos
juíézos por meio dos quais Deus governava o Seu reino terrestre de Israel. Previu-se tudo,
defenderam-se todos os interesses, e atenderam-se todas as reclamaçoã es. Naã o houve parci-
alidade, naã o se fez diferença entre ricos e pobres. Ã balança em que se pesaram as
reivindicaçoã es de cada homem foi afinada com precisaã o divina, de forma que ningueé m
pudesse justamente apelar de uma decisaã o. Ã toga pura da justiça naã o podia ser manchada
com as noé doas imundas dos suborno, da corrupçaã o ou da parcialidade. Os olhos e as maã os de
um Legislador divino precaveram tudo; e o Êxecutivo divino tratou inflexivelmente com todo o
delinquente. O golpe da justiça caiu somente sobre a cabeça do culpado, enquanto que toda a
alma obediente foi protegida no gozo de todo os seus direitos e privileé gios.
Êm segundo lugar, quanto ao homem, eé impossíével ler todas estas leis sem se ficar
impressionado com a declaraçaã o que, indireta, mas realmente, fazem da sua depravaçaã o. O
fato de o Senhor ter de promulgar leis contra certos crimes prova que o homem era capaz de
os cometer. Se essa capacidade ou tendeê ncia naã o existisse no homem, naã o haveria necessidade
da promulgaçaã o das leis. Ora, haé muitas pessoas que, se as abominaçoã es grosseiras proibidas
por este capíétulo lhes fossem relatadas podiam sentir-se tentadas a adoptar a linguagem de
Hazael e dizerem: "Pois que eé teu servo, que naã o eé mais que um caã o, para fazer tal coisa?" (2 Rs
8:13). Êstas pessoas naã o desceram ainda ao profundo abismo do seu proé prio coraçaã o. Porque
embora alguns dos crimes aqui proibidos pareçam colocar o homem, quanto a seus haé bitos e
inclinaçoã es, abaixo do níével de um caã o, estes mesmíéssimos estatutos provam, aleé m de toda a
controveé rsia, que o membro mais polido e cultivado da famíélia humana traz em seu coraçaã o as
sementes das abominaçoã es mais tenebrosas, horríéveis e abominaé veis. Para quem foram esses
estatutos promulgados?- Para o homem. Êram necessaé rios? Sem nenhuma dué vida. Mas teriam
sido inteiramente desnecessaé rios se o homem fosse incapaz de cometer os pecados referidos.
Poreé m o homem era capaz de os cometer; e por isso vemos que caiu o mais baixo possíével—
que a sua natureza estaé completamente corrompida —, que, desde a cabeça aà planta do seu peé ,
naã o existe nem sequer um aé tomo de perfeiçaã o moral.
Como poderaé um tal ente estar jamais, sem uma sensaçaã o de temor, perante o brilho do
trono de Deus? Como poderaé permanecer dentro do lugar santíéssimo? Como poderaé estar de
peé sobre o mar de cristal?- Como poderaé entrar pelas portas de peé rolas e trilhar as ruas de
ouro da cidade santa? Ã resposta a estas interrogaçoã es mostra-nos as profundidades
assombrosas do amor redentor e da eficaé cia eterna do sangue do Cordeiro de Deus. Por muito
profunda que seja a ruíéna do homem, o amor de Deus eé ainda mais profundo. Por muito negra
que seja a sua culpa, o sangue de Jesus pode lavaé -la. Por mais largo que seja o abismo que
separa o homem de Deus, a cruz tem-no atravessado. Deus desceu ao ponto mais baixo da
condiçaã o do pecador, de modo a poder elevaé -lo a uma posiçaã o de infinito favor, em ligaçaã o
eterna com Seu Filho. Bem podemos exclamar: "Vede quaã o grande amor nos tem concedido o
Pai: que foê ssemos chamados filhos de Deus" (1 Jo 3:1). Nada podia sondar a ruíéna do homem
senaã o o amor de Deus, e nada podia sobrepujara culpa do homem senaã o o sangue de Cristo.
Mas agora a proé pria profundidade da ruíéna soé engrandece o amor que a sondou, e a
intensidade da culpa apenas exalta a eficaé cia do sangue que a purifica. O mais vil pecador que
creê em Jesus pode regozijar-se na certeza de que Deus o veê e declara que ele "estaé todo limpo"
(Jo 13:10).

O Servo Hebreu
Tal eé , pois, o caraé ter duplo da instruçaã o que pode coligir-se das leis e ordenaçoã es
consideradas em conjunto; e quanto mais as examinamos em pormenor, mais impressionados
ficamos com o sentidoda sua plenitude e beleza. Tomemos, por exemplo, a primeira ordenaçaã o
que nos eé apresentada, a saber, a que se refere ao servo hebraico. "Se comprares um servo
hebreu, seis anos serviraé ; mas, ao seé timo, sairaé forro, de graça. Se entrou soé com o seu corpo,
soé com o seu corpo sairaé ; se ele era homem casado, sairaé sua mulher com ele. Se seu senhor
lhe houver dado uma mulher, e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e seus filhos
seraã o de seu senhor, e ele saíéra soé com seu corpo. Mas, se aquele servo expressamente disser.-
Êu amo a meu senhor, e a minha mulher e a meus filhos, naã o quero sair forro, entaã o, seu
senhor o levaraé aos juíézes, e o faraé chegar aà porta, ou ao postigo, e seu senhor lhe furaraé a
orelha com uma sovela; e o serviraé para sempre" (capíétulo 21:2 a 6). O servo era inteiramente
livre quanto a tudo que lhe dizia respeito. Havia cumprido todas as exigeê ncias da lei e poderia
portanto partir com absoluta liberdade; mas, por causa do amor aà sua mulher, ao seu amo e
aos seus filhos submetia-se aà servidaã o perpeé tua; e naã o somente isto, queria levar tambeé m no
seu corpo as marcas dessa servidaã o.

O Verdadeiro Servo
O leitor inteligente reconheceraé facilmente como tudo isto tem aplicaçaã o ao Senhor
Jesus Cristo. N'Êle vemos Ãquele que estava no seio do Pai antes que existissem todos os
mundos—o objeto das Suas delíécias eternas — e que podia ter ocupado este lugar por toda a
eternidade, sendo o Seu lugar pessoal e inteiramente peculiar, tanto mais que nada o obrigava
a abandonaé -lo, salvo esta obrigaçaã o que o amor inefaé vel criara e inspirara. Mas era tal o Seu
amor para com o Pai, Cujos desíégnios estavam incluíédos e para com a Igreja coletivamente e
cada membro dela individualmente, cuja salvaçaã o estava em causa, que veio ao mundo,
voluntariamente, humilhan-do-Se a Si Mesmo, tomando a forma de servo e as marcas de
serviço perpeé tuo sobre Si. No Salmo 40 faz-se provavelmente uma alusaã o a estas marcas: "...as
minhas orelhas furaste". Êste Salmo eé a expressaã o do af eto de Cristo por Deus. "Êntaã o disse:
Êis aqui venho; no rolo do livro estaé escrito de mim: Deleito-me em fazer a tua vontade, oé
meus Deus; sim a tua lei estaé dentro do meu coraçaã o" (versíéculos 7 e 8). Veio para fazer a
vontade de Deus, qualquer que pudesse ser essa vontade. Jamais fez a Sua vontade, nem
mesmo na aceitaçaã o e salvaçaã o de pecadores, ainda que certamente o Seu coraçaã o
amantíéssimo, com todas as suas afeiçoã es, estivesse posto inteiramente nessa obra gloriosa.
Sem dué vida, naã o recebe nem salva senaã o como servo dos desíégnios do Pai. "Tudo que o Pai me
daé viraé a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do ceé u
naã o para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ê a vontade do Pai,
que me enviou, eé esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o
ressuscite no ué ltimo dia" (Jo 6:37 -39).
Nesta passagem, temos um dos mais interessantes aspectos do caraé ter de servo do
Senhor Jesus Cristo. Êm graça perfeita, Êle considera-Se responsaé vel por receber todos os que
estaã o incluíédos nos desíégnios divinos; e naã o soé de recebeê -los, mas de os guardar em todas as
dificuldades e provaçoã es da sua carreira de desvios na terra, sim, ateé mesmo no caso da
proé pria morte, no caso de ela vir, e de os ressuscitar no ué ltimo dia. Oh, quaã o seguro estaé ateé o
membro mais fraco da Igreja de Deus! ÊÉ objeto dos desíégnios eternos de Deus, de cujo
cumprimento o Senhor Jesus Cristo eé o fiador. Jesus ama o Pai, e a segurança de cada membro
da famíélia redimida estaé em proporçaã o com a intensidade desse amor. Ã salvaçaã o do pecador
que creê no Filho de Deus naã o eé , em certo aspecto, senaã o a expressaã o do amor de Cristo pelo
Pai. Se um dos que creê em n'Êle pudesse perder-se por qualquer causa, o fato indicaria que o
Senhor Jesus Cristo era incapaz de dar cumprimento aà vontade de Deus, o que seria uma
blasfeé mia contra o Seu santo nome, ao qual seja dada a honra e majestade pelos seé culos
eternos!
Desta forma temos no servo hebraico uma figura de Cristo em Seu afeto ao Pai. Poreé m
haé alguma coisa mais do que isto: "Êu amo a minha mulher e a meus filhos. ""Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com lavagem da aé gua,
para a apresentar a si mesmo igrej a gloriosa, sem maé cula, nem ruga, nem coisa semelhante,
mas santa e irrepreensíével" (Êf 5:25 -27). Êxistem outras passagens das Êscrituras que nos
apresentam Cristo como antíétipo do servo hebraico, tanto no Seu amor pela Igreja, como
corpo, como para com todos os crentes, individualmente. O leitor encontraraé ensino sobre este
ponto nos capíétulos 13 de Mateus, 10 e 13 de Joaã o e 2 de Hebreus.

O Amor de Cristo excede todo Entendimento


à compreensaã o deste amor do coraçaã o de Jesus naã o pode deixar de produzir um
espíérito de afeto fervoroso Ãquele que poê de manifestar um amor taã o puro, perfeito e
desinteressado. Como poderiam a esposa e os filhos do servo hebraico deixar de amar aquele
que havia renunciado voluntariamente aà sua liberdade a fim de que ele e eles pudessem estar
juntosi Ê que eé o amor apresentado no tipo quando comparado com aquele que brilha no
antíétipo? ÊÉ como nada. "O amor de Cristo excede todo o entendimento" (Êf 3:19). Foi esse
amor que o levou a pensar em noé s antes que os mundos existissem, a visitar-nos na plenitude
dos tempos, a caminhar deliberamente para a umbreira da porta, sofrer por noé s na cruz, a fim
de nos poder elevar aà posiçaã o de Seus companheiros no Seu reino eterno e Sua gloé ria.
Se eu pretendesse fazer uma exposiçaã o completa dos restantes estatutos e juíézos desta
parte do Livro do ÊÊ xodo, isso levantar-me-ia muito mais longe do que pretendo ir,
presentemente (¹). Quero apenas acentuar que eé impossíével ler esta parte do Livro e naã o sentir
o coraçaã o cheio de adoraçaã o perante esta profunda sabedoria e justiça perfeita, e todavia
consideraçaã o terna, que permeia todo o assunto.
Terminemos o seu estudo com esta convecçaã o profundamente enraizada na alma, que
Ãquele que fala aqui eé "o ué nico Deus verdadeiro", "saé bio" e infinitamente gracioso.
Que as nossas meditaçoã es sobre a Sua Palavra eterna produzam o efeito de
prostrarmos as nossas almas em adoraçaã o perante Ãquele Cujos caminhos perfeitos e
atributos gloriosos brilham em todo o su esplendor nesta Palavra, para o gozo e edificaçaã o do
Seu povo adquirido aà custa do sangue de Seu Filho.
_______________
(¹) Devo frisar que as festas mencionadas no capítulo 23:14-19, e os sacrifícios do capítulo 29, visto serem
apresentados plena e pormenorizadamente no livro de Levítico, serão tratados quando dos nossos comentários
sobre esse livro singularmente interessante.

— CÃPIÉTULO 24 —

O PODER DO SANGUE
"De Longe"
Êste capíétulo abre com uma expressaã o notavelmente caracteríés tica de toda a
dispensaçaã o moisaica. "Depois, disse a Moiseé s: Sobe ao SÊNHOR, tu e Ãraã o, Nadabe e Ãbiué , e
setenta dos anciaã os de Israel; e inclinai-vos de longe... eles não se cheguem nem o povo suba
com ele." Podemos buscar de um ao outro extremo da lei sem encontramos estas palavras:
"Ãproximai-vos". Ãh, naã o; essas palavras nunca poderiam ser ouvidas do cume do Sinai, nem
do meio das sombras da lei. Soé podiam ser pronunciadas do lado celestial da sepultura vazia
de Jesus, onde o sangue da cruz abriu uma perspectiva perfeitamente clara para a visaã o da feé .
Ãs palavras "de longe" saã o taã o caracteríésticas da lei como as palavras "vinde" o saã o do
evangelho. Sob a lei, a obra que podia dar direito ao pecador a aproximar-se naã o se realizava
jamais. O homem naã o cumpriu a sua promessa de obedieê ncia, e o "sangue de bodes e
bezerros" (Hb 9:12) naã o podia expiar o pecado nem dar paz aà sua conscieê ncia perturbada. Por
isso, ele tinha de permanecer "longe". Os votos do homem haviam sido violados e o seu pecado
estava por purificar; como, pois, podia aproximar-se £ O sangue de dez mil bezerros naã o podia
limpar nem uma soé das manchas da conscieê ncia ou dar-lhe o sentimento pacíéfico da
intimidade com um Deus reconciliado.
Contudo, "o primeiro" concerto estaé aqui consagrado com sangue. Um altar eé edificado
ao peé do monte com doze pedras, segundo as doze tribos de Israel."Ê enviou certos jovens dos
filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos, e sacrificaram ao SÊNHOR sacrifíécios pacíéficos
de bezerros. Ê Moiseé s tomou a metade do sangue e a poê s em bacias; e a outra metade do
sangue espargiu sobre o altar... entaã o, tomou Moiseé s aquele sangue, e o espargiu sobre o povo,
e disse: Êis aqui o sangue do concerto que o SÊNHOR tem feito convosco sobre todas estas
palavras" (versíéculos 5,6 e 8). Êmbora fosse impossíével, como nos diz o apoé stolo, que o sangue
dos touros e dos bodes tirasse os pecados, contudo santificava quanto aà purificaçaã o da carne
(Hb 10:4; 9.13), ecomo"sombra dos bens futuros" servia para manter o povo em relaçaã o com
Deus (Hb 10:1).

A Manifestação de Deus
"Ê subiram Moiseé s e Ãraã o, Nadabe e Ãbiué esetentados anciaã os de Israel, e viram o Deus
de Israel e debaixo de seus peé s havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do
ceé u na sua claridade. Poreé m ele naã o estendeu a sua maã o sobre os escolhidos dos filhos de
Israel; mas viram a Deus, e comeram e beberam" (versíéculos 9 a 11). Ãssim se manifestava "o
Deus de Israel" em luz e pureza, majestade e santidade. Nada disto era o desenrolar
dosafetosdo coraçaã o do Pai ou os doces acentos da voz do Pai derramando paz e inspirando
confiança no coraçaã o. Naã o; a "obra de pedra de safira" falava daquela pureza e luz inacessíéveis
que obrigavam o pecador a manter-se "longe". Contudo, eles "viram a Deus e comeram e
beberam". Prova tocante da toleraê ncia e da misericoé rdia divina bem como do poder do sangue!
Êncarando o conjunto desta cena como uma simples ilustraçaã o, existe nela muito para
interessar o coraçaã o. O campo demarcado estaé em baixo, tem cima o pavimentode safira; mas o
altar, ao peé do monte, fala-nos desse caminho pelo qual o pecador pode subtrair-se aà
corrupçaã o da sua proé pria condiçaã o e elevar-se aà presença de Deus, para aíé fazer festa e adorar
em perfeita paz. O sangue que corria em redor do altar era o ué nico direito que o homem tinha
para subsistir na presença dessa gloé ria cujo parecer "era como um fogo consumidor no cume
do monte aos olhos dos filhos de Israel".
"Ê Moiseé s entrou no meio da nuvem, depois que subiu ao monte; e Moiseé s esteve no
monte quarenta dias e quarenta noites." Para Moiseé s isto significava uma posiçaã o
verdadeiramente elevada e santa. Foi chamado aparte da terra e das coisas terrenas. Ãlheado
das influeê ncias naturais, eé encerrado com Deus para ouvir da Sua boca os profundos misteé rios
da Pessoa e obra de Cristo; porque eé isso, com efeito, que nos eé representado no tabernaé culo,
cheio de significaçaã o em todos os seus acessoé rios—"figuras das coisas que estaã o nosceé us"(Hb
9:23).
O bendito Senhor sabia bem qual ia ser o fim do concerto das obras do homem; todavia,
mostra a Moiseé s, em figuras e sombras, os Seus preciosos pensamentos de amor e desíégnios
eternos de graça, manifestados e garantidos por Cristo.
Bendita seja para sempre a graça que naã o nos deixou sob um concerto de obras.
Bendito seja Ãquele que aquietou os trovoã es da lei e apagou as chamas do monte Sinai pelo
sangue do concerto eterno (Hb 13:20) e que nos deu uma paz que nenhum poder da terra ou
do inferno pode abalar. "Ãquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e
nos fezreis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele gloé ria e poder para todo o sempre. Ãmeé m
(Ãp 1:5-6).
— CÃPIÉTULO 25 —

O TABERNÁCULO
A Ordem Divina
Êste capíétulo eé o começo de um dos mais ricos filoã es da mina inesgotaé vel de inspiraçaã o
—um veio no qual cada pancada do alviaã o descobre riquezas incontaé veis. Sabemos qual eé o
ué nico alviaã o com o qual podemos trabalhar numa tal mina, a saber, o ministeé rio distinto do
Êspíérito Santo. Ã natureza humana nada pode fazer aqui. Ã razaã o eé cega e a imaginaçaã o
completamente inué til; a inteligeê ncia mais elevada, em vez de estar em estado de interpretar os
síémbolos sagrados, parece-se mais a um morcego ante o resplendor do sol, chocando-se contra
os objetos que eé inteiramente incapaz de discernir. Devemos obrigar a razaã o e a imaginaçaã o a
ficarem a parte, enquanto, com um coraçaã o puro, um olhar sensato e pensamentos reverentes
entramos nos recintos santos e contemplamos fixamente o mobiliaé rio cheio de significado.
Deus o Êspíérito Santo eé o ué nico que nos pode guiar atraveé s dos recintos da casa do Senhor e de
interpretar para as nossas almas o verdadeiro significado de tudo que se apresenta aà nossa
vista. Querer dar a sua explicaçaã o com o auxíélio de faculdades naã o santificadas seria mais
absurdo do que tentar reparar um reloé gio com as tenazes e o martelo de um ferreiro. "Ãs
figuras das coisas que estaã o no ceé u" (Hb 9:23) naã o podem ser interpretadas pela mente
natural, ainda mesmo a mais cultivada. Devem ser lidas aà luz do ceé u. O mundo naã o tem
nenhuma luzque possa revelaras suas belezas. Ãquele que produziu as figuras eé o ué nico que
pode explicar o que elas significam. Ê Ãquele que deu os síémbolos eé quem pode interpretaé -los.
Para a vista do homem pareceraé que haé irregularidade na maneira como o Êspíérito
apresenta o mobiliaé rio do tabernaé culo; mas, na realidade, como poderia esperar-se, existe a
mais perfeita ordem, a precisaã o mais notaé vel e a exatidaã o mais minuciosa. Desde o capíétulo 25
ao capíétulo 30, inclusive, temos uma parte distinta do Livro do ÊÊ xodo. Êsta parte subdivide-se
em duas partes, das quais a primeira termina no versíéculo 19 do capíétulo 27, e a segunda no
fim do capíétulo 30. Ã primeira começa com a descriçaã o da arca do concerto, dentro do veé u, e
termina com o altar de bronze e o aé trio no qual o altar devia ser posto. Quer dizer, daé -nos, em
primeiro lugar, o trono do juíézo do Senhor, sobre o qual Êle se assentava como Senhor de toda
a terra; e este trono conduz-nos aà quele lugar onde o Senhor encontra o pecador em virtude e
com base na obra de uma expiaçaã o consumada. Depois, na segunda parte temos a maneira de
o homem se aproximar de Deus—os privileé gios, as honras, e as responsabilidades daqueles
que, como sacerdotes, podem aproximar-se da presença Divina para prestarem culto e
gozarem da Sua comunhaã o. Deste modo a ordem eé perfeita e bela. Como poderia ser de outro
modo, visto que eé divinal à arca e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois
extremos. Ã primeira era o trono de Deus estabelecido em "justiça e juíézo" (SI 89:14). Ã ué ltima
era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque "a misericoé rdia e a verdade" iam
adiante do rosto de Jeovaé . O homem, por si mesmo, naã o ousava aproximar-se da arca para se
encontrar com Deus, porque o caminho do santuaé rio naã o estava ainda descoberto (Hb 9:8).
Poreé m, Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. "Ã justiça e o juíézo" naã o
podiam admitir o pecador no santuaé rio; mas a misericoé rdia e a verdade podiam fazer sair
Deus—naã o envolto naquele resplendor irresistíével e majestade com que costumava brilhar do
meio das colunas míésticas do Seu trono—"os querubins de gloé ria"—, mas rodeado daquele
ministeé rio gracioso que nos eé apresentado, simbolicamente, no mobiliaé rio e nas ordenaçoã es
do tabernaé culo.
Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percorreu Ãquele bendito
Senhor que eé o antíétipo de todos estes síémbolos —a substaê ncia destas sombras. Êle desceu do
trono eterno de Deus no ceé u ateé aà profundidade da cruz no Calvaé rio. Deixou toda a gloé ria do
ceé u pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceite por
Si Mesmo, e apresentaé -lo inculpaé vel diante daquele proé prio trono que Êle havia abandonado
por amor deles. O Senhor Jesus preenche, em Sua proé pria Pessoa e obra, todo o espaço entre o
trono de Deus e o poé da morte, assim como a distaê ncia entre o poé da morte e o trono de Deus.
N'Êle Deus desceu, em perfeita graça, ateé ao pecador, e n'Êle o pecador eé conduzido, em
perfeita justiça, ateé Deus. Todo o caminho, desde a arca ao altar, estaé marcado com as pegadas
do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze ateé a arca de Deus estava salpicado com
sangue da expiaçaã o; e todo adorador ao passar por esse caminho maravilhoso veê o nome de
Jesus impresso em tudo que se oferece aà sua vista. Que este nome venha a ser o mais precioso
de nossos coraçoã es!
Vamos proceder agora ao exame dos capíétulos que se seguem.
Ê interessante notar que a primeira coisa que o Senhor revela a Moiseé s eé o Seu
propoé sito gracioso de ter um santuaé rio ou santa habitaçaã o no meio do Seu povo — um
santuaé rio formado de materiais que indicavam Cristo, a Sua Pessoa, a Sua obra, e o fruto
precioso dessa obra, como os vemos aà luz, no poder e diversas merceê s do Êspíérito Santo. Ãleé m
disso, estes materiais eram o fruto fragrante da graça de Deus — as ofertas voluntaé rias de
coraçoã es consagrados. Jeovaé , cuja Majestade o ceé u dos ceé us naã o poderia conter (lRs 8:27),
achava o Seu agrado em habitar numa tenda erigida para Si por aqueles que nutriam o desejo
ardente de saudar a Sua presença no meio deles. Êste tabernaé culo pode ser considerado de
duas maneiras; primeira, como uma "figura das coisas celestiais"; e, segunda, como uma figura
profundamente significativa do corpo de Cristo. Os vaé rios materiais de que se compunha este
tabernaé culo seraã o apresentados aà nossa consideraçaã o aà medida que formos desenrolando o
assunto. Portanto, vamos considerar os treê s assuntos mais importantes que este capíétulo poã e
diante de noé s, a saber: a arca, a mesa e o castiçal.

A Arca e seu Conteúdo


à arca do concerto ocupa o primeiro lugar nas comunicaçoã es divinas feitas a Moiseé s.
Ãsua posiçaã o no tabernaé culo era, tambeé m, notaé vel. Êncerrada dentro do veé u, no lugar
santíéssimo, formava a base do trono de Jeovaé . O seu proé prio nome apresentava aà alma a sua
importaê ncia. Uma arca, tanto quanto podemos compreender o significado da palavra, eé
destinada a guardar intacto o que eé posto dentro dela. Foi numa arca que Noeé e sua famíélia,
com todas as espeé cies de animais da criaçaã o, foram transportados com segurança sobre as
ondas do juíézo que cobriu a terra. Uma arca, como lemos no princíépio deste livro, foi o vaso da
feé para preservar um menino formoso das aé guas da morte. Quando, portanto, lemos da "arca
do concerto" somos levados a crer que era destinada por Deus aguardar intacto o Seu
concerto, no meio de um povo dado ao erro. Nesta arca, como sabemos, foram depositadas as
segundas taé buas da lei. Quanto aà s primeiras foram quebradas ao peé do monte, mostrando que
o concerto do homem era de todo abolido—que o seu trabalho nunca poderia, de qualquer
modo, formar a base do trono de governo de Jeovaé . "Ãjustiça e o juíézo saã o a habitaçaã o desse
trono", quer seja no seu aspecto terrestre, quer no celestial. Ã arca naã o podia conter as taé buas
quebradas dentro do seu interior sagrado. O homem podia falhar no cumprimento dos votos
que havia feito voluntariamente; poreé m a lei de Deus tem de ser conservada em toda a sua
integridade divina e perfeiçaã o. Se Deus estabelecia o Seu trono no meio do Seu povo, soé o
podia fazer de uma maneira digna de Si. O princíépio do Seu juíézo e governo deve ser perfeito.
"Ê faraé s varas de madeira de cetim, e as cobriraé s com ouro. Ê meteraé s as varas nas
argolas, aos lados da arca, para se levar com elas aarca" (versíéculos 13e 14). Ã arca do
concerto devia acompanhar o povo em todas as suas peregrinaçoã es. Nunca se deteve enquanto
eles se mantiveram como um exeé rcito em viagem ou no conflito: foi adiante deles ateé ao meio
do Jordaã o; foi o seu ponto de reuniaã o em todas as guerras de Canaaã ; era a garantia segura e
certa do poder para onde quer que ia. Nenhum poder do inimigo podia subsistir diante
daquilo que era a expressaã o bem conhecida da presença e poder de Deus. Ã arca devia ser a
companheira inseparaé vel de Israel no deserto; e as "varas" e as "argolas" eram a expressaã o
exata do seu caraé ter ambulante.

A Arca no Templo
Contudo, a arca naã o deveria viajar sempre. Ãs "afliçoã es" de Davi(Sl 132:1) bem como as
guerras de Israel deviam ter um fim. Ã oraçaã o, "Levanta-te, Senhor, no teu repouso, tu e a arca
da tua força" (SI 132:8) devia ainda de ser feita e atendida. Êsta petiçaã o sublime teve o seu
cumprimento parcial nos dias auspiciosos de Salomaã o, quando "os sacerdotes trouxeram a
arca do concerto do SÊNHOR ao seu lugar, ao oraé culo da casa, ao lugar santíéssimo, ateé debaixo
das asas dos querubins. Porque os querubins estendiam ambas as asas sobre o lugar da arca e
cobriam a arca e os seus varais por cima. Ê os varais sobressaíram tanto que as pontas dos
varais se viam desde o santuaé rio diante do oraé culo, poreé m de fora naã o se viam; e ficaram ali
ateé ao dia de hoje' (1 Rs 8:6 - 8). Ã areia do deserto devia ser trocada pelo piso de ouro do
templo (1 Rs 6:30). Ãs peregrinaçoã es da arca haviam chegado ao seu termo: "adversaé rio naã o
havia, nem algum mau encontro", e, portanto, fizeram sobressair os varais.
Êsta naã o era a ué nica diferença entre a arca no tabernaé culo e no templo. O apoé stolo,
falando da arca na sua habitaçaã o do deserto, descreve-a como "a arca do concerto, coberta de
ouro toda em redor, em que estava um vaso de ouro, que continha o manaé , e a vara de Ãraã o,
que tinha florescido, e as taé buas do concerto" (Hb 9:4). Êstes eram os objetos que a arca
continha durante as suas jornadas no deserto—o vaso de manaé era o memorial da fidelidade
do Senhor em prover a todas as necessidades dos Seus remidos atraveé s do deserto, e a vara de
Ãaraã o era "um sinal para os filhos rebeldes" para acabar com "as suas murmuraçoã es"
(Compare-se Êx 16:32 - 34 e Nm 17:10). Poreé m, quando chegou o momento em que "os
varais" deviam ser retirados, logo que as peregrinaçoã es e as guerras de Israel terminaram,
quando "a casa magníéfica em exceleê ncia" (1 Cr 22:5) foi terminada, quando o sol da gloé ria de
Israel havia chegado, em figura, ao zeé nite com o esplendor e a magnificeê ncia do reino de
Salomaã o, entaã o os memoriais das necessidades e faltas do deserto desapareceram, e nada
ficou senaã o aquilo que constituíéa o fundamento eterno do trono do Deus de Israel e de toda a
terra. "Ãia arca, nada havia, senão só as duas tábuas de pedra que Moisés ali pusera junto a
Horebe" (I Rs 8:9).
Mas toda esta gloé ria devia ser obscurecida pelas nuvens carregadas do fracasso
humano e o descontentamento de Deus. Os peé s devastadores dos incircuncisos haviam ainda
de atravessar as ruíénas dessa magníéfica casa, e o desaparecimento do seu brilho e da sua
gloé ria devia provocar o assobio dos estranhos (1 Reis 9:8). Êste naã oeé omomento de continuar
em pormenor este assunto; limitar-me-ei a referir ao leitor a ué ltima mençaã o que a Palavra de
Deus faz da " arca do concerto" —uma passagem que nos transporta a uma eé poca em que a
loucura humana e o pecado naã o perturbaraã o mais o lugar de repouso da arca, e em que a arca
naã o seraé guardada num tabernaé culo de cortinas nem tampouco num templo feito por maã os. "Ê
tocou o seé timo anjo a sua trombeta, e houve no ceé u grandes vozes, que diziam-. Os reinos do
mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e ele reinaraé para todo o sempre. Êos
vinte e quatro anciaã os, que estaã o assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se
sobre seu rostoe adoraram aDeus, dizendo: Graças tedamos, Senhor, DeusTodo-poderoso, que
eé s, e que eras, e que haé s de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. Ê iraram-se as
naçoã es, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o
galardaã o aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a
grandes, e o tempo de destruíéres os que destroem a terra. Ê abriu-se no ceé u o templo de Deus,
e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e houve relaê mpagos, e vozes, e trovoã es, e
terremotos, e grande saraiva" (Ãp 11.15 -19).

O Propiciatório
Segue-se por sua ordem o propiciatoé rio. "Tambeé m faraé s um propiciatoé rio de ouro puro;
o seu cumprimento seraé de dois coê vados e meio, e a sua largura, de um coê vado e meio. Faraé s
tambeé m dois querubins de ouro; de ouro batido os faraé s, nas duas extremidades do
propiciatoé rio. Faraé s um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na
extremidade da outra parte; de uma soé peça com o propiciatoé rio faraé s os querubins nas duas
extremidades dele. Os querubins estenderaã o as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas
o propiciatoé rio; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querunbins estaraã o
voltadas para o propiciatoé rio. Ê poraé s o propiciatoé rio em cima da arca, depois que houveres
posto na arca o Testemunho, que eu te darei. Ê ali virei a ti e falarei contigo de cima do
propiciatoé rio, do meio dos dois querubins (que estaã o sobre a arca do Testemunho), tudo que
eu te ordenar para os filhos de Israel" (versíéculos 17 a 22).
Jeovaé declara aqui o Seu desíégnio misericordioso de descer do monte ardente para
tomar o Seu lugar sobre o propiciatoé rio. Podia fazer isto, visto que a taé buas da lei estavam
guardadas intactas na arca, e os síémbolos do Seu poder, tanto na criaçaã o como na provideê n cia,
se elevavam aà direita e aà esquerda como acessoé rios inseparaé veis deste trono em que o Senhor
Se havia assentado — um trono de graça fundado na justiça e sustido pela justiça e o juíézo. Ãli
brilha a gloé ria do Deus de Israel. Dali emanavam os Seus mandamentos suavizados e tornados
agradaé veis pela origem graciosa de onde saíéam— aà semelhança do sol do meio-dia, cujos raios
ao passarem atraveé s de uma nuvem vivificam e fecundam sem que o seu resplendor nos cegue.
"Os seus mandamentos naã o saã o pesados" quando recebidos do propiciatoé rio, porque
estaã o ligados com a graça que daé ouvidos para ouvir e o poder para obedecer.

O Único Lugar de Encontro


à arca e o propiciatoé rio, considerados em conjunto como um todo, saã o para noé s uma
figura admiraé vel de Cristo, em Sua Pessoa e Sua obra. Havendo engrandecido a lei, na Sua vida,
e tornando-a honrosa, veio a ser, por meio da morte, a propiciaçaã o ou propiciatoé rio para todo
aquele que creê . Ã misericoé rdia de Deus soé podia repousar numa base de perfeita justiça:".. .a
graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm5:21). O ué nico
lugar proé prio para o encontro entre Deus e o homem eé aquele onde a graça e a justiça se
encontram e se harmonizam perfeitamente. Nada senaã o a justiça perfeita podia agradar a
Deus; e nada senaã o a graça perfeita pode convir ao pecador. Mas onde poderiam estes
atributos encontrar-se4 Somente na cruz. Ê ali que a misericoé rdia e a verdade se encontraram;
a justiça e a paz se beijaram (SI 85:10). Ê assim que a alma do pecador crente encontra paz. Veê
que a justiça de Deus e a sua justificaçaã o repousam sobre o mesmo fundamento, isto eé : a obra
consumada por Cristo. Quando o homem, sob a influeê ncia poderosa da verdade de Deus, toma
o seu lugar como pecador, Deus pode, no exercíécio da graça, tomar o Seu como Salvador, e
entaã o toda a questaã o se acha solucionada, porque havendo a cruz respondido a todas as
exigeê ncias da justiça divina, os rios da graça podem correr sem impedimento. Quando o Deus
justo e o pecador se encontram sobre uma plataforma salpicada de sangue tudo estaé
solucionado para sempre — solucionado de maneira a glorificar Deus perfeitamente e salvar o
pecador para toda a eternidade. Seja Deus verdadeiro, ainda que todo o homem seja
mentiroso; e quando o homem eé levado inteiramente ao ponto mais baixo da sua condiçaã o
moral diante de Deus e estaé pronto a aceitar o lugar que a verdade de Deus lhe designa, entaã o
reconhece que Deus Se revelou como o Justo justificador. Isto deve dar paz aà conscieê ncia; e naã o
apenas paz, mas concede a capacidade de comungar com Deus e de ouvir os Seus santos
preceitos no conhecimento daquela relaçaã o em que a graça divina nos introduziu.
Por isso, "o lugar santíéssimo" oferece-nos uma cena verdadeiramente admiraé vel. Ã arca,
o propiciatoé rio, os querubins, a gloé ria! Que espetaé culo para o sumo sacerdote de Israel quando
entrava dentro do veé u! Que o Êspíérito de Deus abra os olhos do nosso entendimento de modo
a podermos compreender melhor o profundo significado destes síémbolos preciosos.

A Mesa do Pão da Proposição


Moiseé s recebe em seguida instruçoã es quanto "aà mesa dos paã es da proposiçaã o", ou paã es
de apresentaçaã o. Sobre esta mesa estava disposto o alimento dos sacerdotes de Deus. Durante
sete dias os doze paã es de "flor de farinha com incenso" estavam dispostos na presença do
Senhor, depois do que, sendo substituíédos por outros, eram o alimento dos sacerdotes, que
comiam deles no lugar santo (veja-se Lv 24:5-9).
Êscusado seraé dizer que esses doze paã es simbolizam "o homem Cristo Jesus". Ã "fiorde
farinha" da qual eram compostos, mostra a Sua perfeita humanidade, enquanto que "o
incenso" indica a inteira consagraçaã o dessa humanidade a Deus. Se Deus tem os Seus
sacerdotes ministrando no lugar santo, teraé certamente uma mesa para eles, e uma mesa bem
fornecida tambeé m. Cristo eé a mesa e o paã o sobre ela. Ã mesa pura e os doze paã es mostram
Cristo, presente incessantemente diante de Deus em toda a exceleê ncia da Sua imaculada
humanidade e como alimento para a famíélia sacerdotal. Os "sete dias" mostram a perfeiçaã o do
gozo divino em Cristo; e os "doze paã es" exprimem este gozo no homem e pelo homem. ÊÉ
possíével que exista tambeé m a ideia de ligaçaã o de Cristo com as doze tribos de Israel e os doze
apoé stolos do Cordeiro.

O Candelabro
O castiçal de ouro puro vem a seguir, porque os sacerdotes de Deus teê m necessidade de
Luz bem como de alimento: e teê m tanto uma coisa como a outra em Cristo. Neste castiçal naã o
se faz mençaã o de outra coisa que naã o seja ouro. "Tudo seraé de uma soé peça, obra batida de
ouro puro" (versíéculo 36). "Ãs sete laê mpadas", as quais se "acenderaã o para alumiar defronte
dele", exprimem a perfeiçaã o da luz e energia do Êspíérito, baseadas e ligadas com a eficaé cia
perfeita da obra de Cristo. Ãobra do Êspíérito Santo nunca poderaé ser separada da obra de
Cristo. Isto eé indicado, de um modo duplo, nesta magníéfica imagem do castiçal de ouro. Ãs sete
laê mpadas estando ligadas aà cana de ouro batido indicam-nos a obra cumprida por
Cristo como a ué nica base da manifestaçaã o do Êspíérito na Igreja. O Êspíérito Santo naã o foi
dado antes de Jesus ter sido glorificado (comparem-se Joaã o 7:39 com Ãtos 19:2 a 6). Êm
Ãpocalipse, capíétulo 3, Cristo eé apresentado aà igreja de Sardes como Ãquele que tem "os sete
espíéritos". Quando o Senhor Jesus foi exaltado aà destra de Deus, entaã o derramou o Êspíérito
Santo sobre a Sua Igrej a, a fim de que ela pudesse brilhar segundo o poder e a perfeiçaã o da
sua posiçaã o no lugar santo, a sua proé pria esfera de ser, de açaã o e de culto.
Vemos, tambeé m, que uma das funçoã es particulares de Ãraã o consistia em acender e
espevitar essas sete laê mpadas. "Ê falou o SÊNHORa Moiseé s, dizendo: Ordena aos filhos de
Israel que te tragam azeite de oliveira puro, batido, para a luminaé ria, para acender as
laê mpadas continuamente. Ãraã o as poraé em ordem perante o SÊNHOR continuamente, desde a
tarde ateé aà manhaã , fora do veé u doTestemunho, na tenda da congregaçaã o; estatuto perpeé tuo eé
pelas vossas geraçoã es. Sobre o castiçal puro poraé em ordem as laê mpadas, perante o SÊNHOR,
continuamente" (Lv 24:1-4). Desta maneira, podemos ver como a obra do Êspíérito Santo na
Igreja estaé ligada com a obra de Cristo na terra e a Sua obra no ceé u. "Ãs sete laê mpadas"
estavam no tabernaé culo, evidentemente, mas a atividade e diligeê n cia do sacerdote eram
necessaé rias para as manter acesas e espevitadas. O sacerdote necessitava continuamente dos
"espevitadores" e dos "apagadores" para remover tudo que pudesse impedir o livre curso do
"azeite batido". Êsses espevitadores e apagadores eram igualmente feitos de "ouro batido"
porque todas essas coisas eram o resultado imediato da operaçaã o divina. Se a Igreja brilha, eé
unicamente pela energia do Êspíérito, e esta energia estaé fundada em Cristo, que, em virtude do
desíégnio eterno de Deus, veio a ser, em Seu sacrifíécio e sacerdoé cio, o manancial e poder de
todas as coisas para a Sua Igreja. Tudo eé de Deus. Quer olhemos para dentro desse veé u
misterioso e contemplemos a arca com a sua coberta e as duas figuras significativas, ou
admiremos o que estaé da parte de fora desse veé u, a mesa pura e o castiçal puro, com os seus
vasos e respectivos utensíélios — tudo nos fala de Deus, quer seja revelando-Se em ligaçaã o com
o Filho ou o Êspíérito Santo.
à chamada celestial coloca o leitor cristaã o no proé prio centro de todas estas preciosas
realidades. O seu lugar naã o estaé apenas no meio das" figuras das coisas que estaã o no ceé u", mas
no meio das "proé prias coisas celestiais". Tem "ousadia para entrar no santuaé rio pelo sangue
de Jesus". ÊÉ sacerdote para Deus. O paã o da proposiçaã o lhe pertence. O seu lugar eé aà mesa pura,
para comer o paã o sacerdotal, na luz. do Êspíérito Santo. Nada o poderaé privar desses privileé gios
divinos. Saã o seus para sempre. Êsteja em guarda contra tudo que possa privaé -lo dogozo deles.
Guarde-se contra toda a irritabilidade, a cobiça, de todo o sentimento e imaginaçoã es. Domine a
sua natureza, lance o mundo fora de seu coraçaã o, afugente Satanaé s. Que o Êspíérito Santo encha
inteiramente a sua alma de Cristo. Êntaã o seraé praticamente santo e sempre ditoso. Daraé fruto,
e o Pai celestial seraé glorificado, e o seu gozo seraé completo.
— CÃPIÉTULO 26 —

A ESTRUTURA DO
TABERNÁCULO
Os Materiais
Êsta parte do livro do ÊÊ xodo inclui a descriçaã o das cortinas e da cobertura do
tabernaé culo, nas quais a mente espiritual discerne as sombras das vaé rias fases e traços do
caraé ter de Cristo. "Ê o tabernaé culo faraé s de dez cortinas de linho fino torcido, e pano azul,e
pué rpura, e carmesim; com querubins as faraé s, de obra esmerada". Ãqui temos os diferentes
aspectos do "homem Jesus Cristo" (1 Tm 2:5). O "linho fino torcido" representa a pureza
imaculada da Sua vida e do Seu caraé ter; enquanto que o "azul, pué rpura e carmesim" no-Lo
apresentam como "o Senhor do ceé u", que deve reinar segundo os desíégnios divinos, mas Cuja
realeza deve ser o resultado dos Seus sofrimentos. Desta forma, temos n'Êle um homem puro,
homem celestial, reé gio e sofredor. Os diferentes materiais mencionados aqui naã o eram apenas
limitados aà s "cortinas" do tabernaé culo, como deviam ser tambeé m usados para o "veé u"
(versíéculo 31), a "coberta" da porta da tenda" (versíéculo 36), a coberta da "porta do paé tio"
(capíétulo 27:16), e "os vestidos do ministeé rio" e "os vestidos santos para Ãraã o" (capíétulo 39:1).
Êm suma, era Cristo em todo as partes, Cristo em tudo, somente Cristo ( ¹).
__________________
(¹) A expressão "puro e resplandecente" (Ap 19:8) dá força e formosura peculiar ao símbolo que o Espírito
Santo nos apresenta no "linho fino torcido". Com efeito, não é possível encontrar-se um emblema mais exato de
natureza imaculada.

O LinhoTorcido
O "linho fino torcido", como figura da humanidade imaculada de Cristo, abre um
manancial precioso e abundante de pensamento para a inteligeê ncia espiritual: daé -nos um
tema sobre o qual nunca eé demais meditar. Ã verdade quanto aà humanidade de Cristo deve ser
recebida com toda a exatidaã o escriturai, mantida com energia espiritual, guardada com santo
zelo e confessada com poder celestial. Se estivermos enganados quanto a este ponto de capital
importaê ncia naã o podemos estar dentro da verdade sobre coisa alguma. ÊÉ uma verdade
essencial e fundamental, e se naã o for recebida, defendida e confessada tal qual Deus a revelou
na Sua santa Palavra, todo o edifíécio naã o teraé solidez. Nada pode ser mais deploraé vel que o
relaxamento que parece prevalecer e predominar nos pensamentos e expressoã es de alguns
sobre esta doutrina taã o importante. Se houvesse mais revereê ncia pela palavra de Deus, haveria
um conhecimento dela mais perfeito; e, deste modo, evitar-se-iam essas declaraçoã es erroé neas
e irrefletidas que certamente devem entristecer o Êspíérito de Deus, Cuja incumbeê ncia eé
testemunhar de Jesus. Quando o anjo anunciou a Maria as boas novas do nascimento do
Salvador, ela disse-lhe: "Como se faraé isto, visto que naã o conheço varaã o"?- "Ã sua fraca
inteligeê ncia era incapaz de compreender, muito menos profundar, o estupendo misteé rio de
"Deus manifestado em carne" (l Tm 3:16). Mas note-se com atençaã o a resposta do anjo—
resposta dada naã o a umespíérito ceé ptico, mas a um coraçaã o piedoso, embora ignorante.
"Desceraé sobre ti o Êspíérito Santo, e a virtude do Ãltíéssimo te cobriraé com a sua sombra; pelo
que tambeé m o Santo que de ti haé de nascer, seraé chamado Filho de Deus" (Lc 1:34-35). Maria
imaginava, sem dué vida que este nascimento deveria ter lugar segundo os princíépios ordinaé rios
da geraçaã o. Mas o anjo corrige o seu equíévoco, e, corrigindo-o, anuncia uma das maiores
verdades da revelaçaã o. Declara que o poder divino estava prestes a formar UM HOMÊM
VÊRDÃDÊIRO—" o segundo homem, o Senhor do ceé u" (1 Co 15:47): um homem cuja natureza
seria divinamente pura, inteiramente incapaz de receber ou de comunicar a mais pequena
mancha. Êste Ser santo foi formado, aà "semelhança da carne do pecado", sem pecado na carne.
Participou inteiramente da carne e do sangue sem uma partíécula ou sombra de mal ligado com
eles.
Êsta verdade eé de primacial importaê ncia, nunca seraé retida com fidelidade e firmeza
excessiva. Ã incarnaçaã o do Filho, a segunda Pessoa da Trindade eterna, a Sua entrada
misteriosa em carne pura e sem maé cula, formada pelo poder do Ãltíéssimo, no ventre da
virgem, eé o fundamento do "misteé rio da piedade" (ITm 3:16), do qual a cimalha eé o Deus-
homem glorificado no ceé u, a Cabeça, Representante e Modelo da Igreja remida de Deus. Ã
pureza essencial da Sua humanidade satisfez perfeitamente as exigeê ncias de Deus; enquanto
que a sua realidade correspondia aà s necessidades do homem. Êra homem, porque soé um
homem podia responder pela ruíéna do homem. Poreé m, era homem tal que podia dar satisfaçaã o
a todas as exigeê ncias do trono de Deus. Êra um homem imaculado, verdadeiro homem, em
quem Deus podia achar o Seu agrado, e em quem o homem podia apoiar-se sem reservas.
Naã o eé preciso recordar ao leitor esclarecido que tudo isto, separado da morte e
ressurreiçaã o, eé perfeitamente inué til para noé s. Noé s tíénhamos necessidade naã o somente de um
Cristo incarnado, mas de um Cristo crucificado e ressuscitado. Na verdade, Êle fez-se carne
para ser crucificado; mas eé por Sua morte e ressurreiçaã o que a Sua incarnaçaã o veio a ser eficaz
para noé s. ÊÉ um erro moral crer que Cristo tomou o homem em uniaã o consigo na incarnaçaã o.
Isto era impossíével. Êle Proé prio ensina expressamente o contraé rio. "Na verdade, na verdade
vos digo que se o graã o de trigo, caindo na terra, naã o morrer, fica cie só; mas se morrer daé muito
fruto" (Jo 12:24). Naã o podia haver nenhuma uniaã o entre carne santa e pecaminosa, pura e
impura, corruptíével e incorruptíével, mortal e imortal. Ã morte eé a ué nica base de uniaã o entre
Cristo e os Seus membros eleitos. ÊÉ em ligaçaã o com as palavras "levantai-vos, vamos" (Mc
14:42) que o Senhor diz: "Êu sou a videira, voé s as varas" (Jo 15:5). Porque "se fomos plantados
juntamente com ele na semelhança da sua morte... o nosso homem velho foi com ele
crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito" (Rm 6:5-6). "No qual tambeé m estais
circuncidados, com a circuncisaã o naã o feita por maã o no despojo do corpo da carne: a
circuncisaã o de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele tambeé m ressuscitastes pela feé no
poder deDeus, que o ressuscitou dos mortos" (Cl 2:11-12).
Os capíétulos 6 de Romanos e 2 de Colossenses nos daã o um relato pormenorizado da
verdade sobre este importante assunto. Foi unicamente como morto e ressuscitado que Cristo
e o Seu povo puderam tornar-se em um. O verdadeiro graã o de trigo tinha de cair na terra e
morrer antes que a espiga pudesse ser formada e recolhida no celeiro celestial.
Poreé m, embora isto seja uma verdade claramente revelada nas Êscrituras, eé igualmente
claro que a incarnaçaã o formava, por assim dizer, os alicerces do glorioso edifíécio; e as cortinas
de "linho fino" apresentam-nos, em figura, a beleza moral do "Homem Jesus Cristo". Jaé vimos a
maneira como Êle foi concebido; e, ao longo do curso da Sua vida aqui na terra, encontramos
exemplos e mais exemplos da mesma imaculada pureza. Passou quarenta dias no deserto,
sendo tentado pelo diabo, mas nada em Sua natureza respondeu aà s vis sugestoã es do tentador.
Podia tocar os leprosos sem ser contaminado. Podia tocar o esquife de um defunto sem
contrair o fedor da morte. Podia passar incoé lume pela atmosfera mais contaminada. Êra,
quanto aà Sua humanidade, como um raio de sol que vinha da fonte de luz, o qual pode passar,
sem ser atingido, pelo ambiente de maior contaminaçaã o. Foi perfeitamente ué nico em natureza,
caraé ter e constituiçaã o.
Soé Êle podia dizer: "Naã o permitiraé s que o teu santo veja corrupçaã o" (Sl 16:10). Isto
estava em relaçaã o com a Sua humanidade, que, sendo perfeitamente santa e pura, podia levar
o pecado. "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24).
Naã o no madeiro, como alguns querem ensi-nar-nos, mas "sobre o madeiro". Foi na cruz que
Cristo levou os nossos pecados, e somente ali. "Ãquele que naã o conheceu pecado, o fez pecado
por noé s, para que nele foê ssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5:21).

O Azul
"Ãzul" eé a cor eteé rea e indica o caraé ter celestial de Cristo, o Qual, a despeito de ter
entrado em todas as circunstaê ncias de verdadeira e auteê ntica humanidade—exceto o pecado
—era "o Senhor do ceé u"
(1 Co 15:47). Sendo homem verdadeiro, andou sempre com o sentimento da Sua proé pria
dignidade, como estrangeiro celestial: jamais olvidou donde tinha vindo, onde estava ou para
onde ia. Ã fonte de todo o Seu gozo estava nas alturas. Ã terra naã o podia fazeê -lo mais rico nem
mais pobre. Ãchou que este mundo era "uma terra seca e cansada, onde naã o havia aé gua" (Sl
63:1); e, por isso, o Seu espíérito soé podia dessedentar-se nas alturas. Êra inteiramente
celestial: "...ningueé m subiu ao ceé u, senaã o o que desceu do ceé u, o Filho do Homem, que estaé no
ceé u" (Jo3:16).

A Púrpura
"Pué rpura" indica realeza, e mostra-nos Ãquele que havia "nascido rei dos judeus", que
Se apresentou como tal aà naçaã o judaica e foi rejeitado; que fezumaboa confissaã o perante
Poê ncio Pilatos, decla-rando-Se rei, quando, para a visaã o humana, naã o havia um simples traço
de realeza. "Tu dizes que eu sou rei" (Jo 18:37). Ê ".. .vereis em breve o Filho do homem
assentado aà direita do poder e vindo sobre as nuvens do ceé u" (Mt 26:64). Ê, por fim, a
inscriçaã o sobre a Sua cruz, em hebraico, grego e latim—a linguagem da religiaã o, da cieê ncia e
do governo—declara, perante todo o mundo, que Êle era "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". Ã
terra negou-Lhe os Seus direitos — desgraçadamente para ela—mas naã o aconteceu o mesmo
com o ceé u: ali os Seus direitos foram plenamente reconhecidas. Foi recebido como um
vencedor nas moradas eternas da luz, coroado de gloé ria e honra, e assentou-Se, por entre
aclamaçoã es dos exeé rcitos celestiais, no trono da majestade nas alturas, ateé que Seus inimigos
sejam postos por escabelo de Seus peé s. "Por que se amotinam as naçoã es e os povos imaginam
coisas vaã s£ Os reis da terra se levantam, e os príéncipes juntos se mancomunam contra o
SÊNHOR e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras e sacudamos de noé s as
suas cordas. Ãquele que habita nos ceé us se riraé ; o Senhor zombaraé deles. Êntaã o, lhes falaraé na
sua ira, e no seu furor o confundiraé . Êu, poreé m, ungi o meuRei sobre o meu santo monte Siaã o.
Recitarei o decreto: O SÊNHORme disse: Tu eé s meu Filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te
darei as naçoã es por herança e os confins da terra por tua possessaã o.
Tu os esmigalharaé s com uma vara de ferro; tu os despedaçaraé s como a um vaso de
oleiro. Ãgora, pois, oé reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juíézes da terra. ServiaoSÊNHOR
com temore alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se naã o ire, e pereçais no caminho,
quando em breve se inflamar a sua ira. BÊM-ÃVÊNTURÃDOS TODOS ÃQUÊLÊS QUÊ NÊLÊ
CONFIÃM" (Salmo 2).

O Carmesim
O "carmesim", quando genuíéno, eé produzido pela morte e f ala-nos dos sofrimentos de
Cristo:".. .Cristo padeceu por noé s na carne" (1 Pe 4:1). Sem morte, tudo teria sido inué til.
Podemos admirar "o azul" e a "pué rpura", mas sem o "carmesim" o tabernaé culo teria perdido
um aspecto importante. Foi por meio da morte que Cristo destruiu aquele que tinha o impeé rio
da morte. O Êspíérito Santo, pondo diante de noé s uma figura admiraé vel de Cristo — o verda -
deiro tabernaé culo —, naã o podia omitir aquela fase do Seu caraé ter que constitui o fundamento
da Sua uniaã o com o Seu corpo, a Igreja, o Seu direito ao trono de Davi e o senhorio de toda a
criaçaã o. Êm suma, o Êspíérito naã o somente nos mostra o Senhor Jesus, nestas cortinas
simboé licas, como homem imaculado, homem real, mas tambeé m como homem sofredor; aquele
que, por meio da morte, adquiriu o direito aà quilo que, como homem, tinha direito nos
desíégnios divinos.

A Primeira Cortina
Contudo, as cortinas do tabernaé culo naã o saã o apenas a expressaã o dos diferentes
aspectos do caraé ter de Cristo, como poã em tambeé m em evideê ncia a unidade e firmeza desse
caraé ter. Cada um desses aspectos estaé exposto na sua proé pria perfeiçaã o; e nunca interfere com
ou prejudica a beleza de outro. Tudo era harmonia perfeita aos olhos de Deus e foi assim
apresentado no "modelo que no monte se mostrou" a Moiseé s e na sua reproduçaã o no meio do
povo. "Cinco cortinas se enlaçaraã o aà outra; e as outras cinco cortinas se enlaçaraã o uma com a
outra" (versíéculo 3). Tal era a proporçaã o e firmeza em todos os caminhos de Cristo, como
homem perfeito, andando pelo mundo, em qualquer situaçaã o ou relaçaã o que O considerarmos.
Quando atua segundo um desses caracteres, naã o encontramos absolutamente nada que seja
incompatíével com a integridade divina de outro. Êle foi, em todo o tempo, em todo o lugar e em
todas as circunstaê ncias, o homem perfeito. Nada n'Êle faltava a essa encantadora e bela
proporçaã o que Lhe era proé pria, em todos os Seus atos. "Todas estas cortinas seraã o de uma
medida"(versíéculo 2).
Um par de cinco cortinas pode muito bem simbolizar os dois aspectos principais do
caraé ter de Cristo atuando a favor de Deus e do homem. Vemos os mesmos dois aspectos na lei,
a saber, o que era devido a Deus e o que era devido ao homem; de forma que, quanto a Cristo,
se olharmos de passagem, vemos que Êle podia dizer, "a tua lei estaé dentro do meu coraçaã o"
(SI 40); e se pensarmos na Sua conduta, vemos esses dois elementos ordenados com perfeita
precisaã o, e naã o soé ordenados, mas inseparavelmente unidos pela graça celestial e a energia
divina que habitaram na Sua gloriosa Pessoa.
"Ê faraé s laçadas de pano azul na ponta de uma cortina, na extremidade, na juntura;
assim tambeé m faraé s na ponta da extremidade da outra cortina, na segunda juntura... Faraé s
tàmbémcinqúen-ta colchetes de ouro, e ajuntaraé s com estes colchetes as cortinas, uma com a
outra e será um tabernáculo" (versíéculos 4 e 6). Nas "laçadas" de azul e nos "colchetes de ouro"
temos a manifestaçaã o daquela graça celestial e energia divina em Cristo que Lhe proporcionou
ligar e harmonizar perfeitamente as reivindicaçoã es de Deus e as pretensoã es do homem; de
forma que, satisfazendo tanto umas como outras, Êle nunca, nem por um momento, perturbou
o Seu caraé ter. Quando os homens astutos e hipoé critas o tentaram com a pergunta: "ÊÉ líécito
pagar o tributo a Ceé sar, ou naã o?" a Sua resposta foi, "Dai... a Ceé sar o que eé de Ceé sar e a Deus o
que eé de Deus" (Mt 22:17-21).
Nem foi apenas Ceé sar, mas o homem em todas as suas relaçoã es que recebeu a resposta
a todas as suas pretensoã es em Cristo. Da mesma maneira que reuniu na Sua Pessoa a natureza
de Deus e humana, satisfez em Seus passos de perfeiçaã o as exigeê ncias de Deus e as pretensoã es
do homem. Seria muito interessante seguir, atraveé s da narrativa do evangelho, a
exemplificaçaã o do princíépio sugerido pelas "laçadas de azul" e os "colchetes de ouro"; devo,
poreé m, deixar que o leitor prossiga este estudo sob a direçaã o do Êspíérito Santo, o Qual deseja
alargar-Se sobre cada aspecto d 'Ãquele bendito Senhor que eé Seu propoé sito exaltar.
A Cortina de Pêlos de Cabras
à primeira cortina (na verdade, um par de cinco cortinas) era encoberta por outras de
"peê los de cabras" (versíéculos 7 a 13). Sua beleza estava escondida para os de fora por aquilo
que indicava aspereza e severidade. Para aqueles que tinham o privileé gio de entrar no recinto
sagrado nada era visíével senaã o o "azul", a pué rpura", o "camersim" e o "linho fino torcido"—a
exposiçaã o combinada das virtudes e exceleê ncia desse tabernaé culo divino no qual Deus habitou
atraé s do veé u: isto eé , Cristo, por Cuja carne, o antíétipo de todas estas coisas, os raios dourados
da natureza divina brilharam taã o delicadamente que o pecador podia veê -los acabrunhado pelo
seu brilho deslumbrante.
Quando o Senhor Jesus passou por este mundo, quaã o poucos foram aqueles que
realmente o conheceram! Quaã o poucos tiveram os olhos ungidos com colíério celestial para
penetrarem e apreciarem o profundo misteé rio do Seu caraé ter! Quaã o poucos viram o "azul", a
"pué rpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido"! Foi soé quando a feé trouxe o homem aà sua
presença que Êle poê de consentir que o esplendor daquilo que Êle era brilhasse — deixou que
a gloé ria atravessasse a nuvem. Para a visaã o natural era como se houvesse uma reserva e
severidade aà Sua volta, que era justamente simbolizada pelas "cortinas de peê los de cabras".
Tudo isto era o resultado da Sua profunda separaçaã o e apartamento, naã o dos pecadores pes-
soalmente, mas dos pensamentos e maé ximas dos homens. Nada tinha em comum com o
homem, nem estava dentro do aê mbito da natureza humana compreendeê -Lo. "Ningueé m pode
vir a mim, se o Pai que me enviou o naã o trouxer"; e quando um daqueles que haviam sido
trazidos confessou o Seu nome, disse-lhe que naã o fora a carne que lho revelara, "mas meu Pai
que estaé nos ceé us" (compare Jo 6:44 e Mt 16:17). Êle era "como raiz de uma terra seca", sem
"parecer" nem "formosura" para atrair a vista ou satisfazer o coraçaã o do homem. Ã corrente
da opiniaã o pué blica nunca poderia correr na direçaã o d'Ãquele que, passando rapidamente pelo
palco deste mundo, ia envolto numa "cortina de peê los de cabras". Jesus naã o foi popular. Ã
multidaã o poê de segui-Lo por um momento, porque, para ela, o Seu ministeé rio estava ligado com
"os paã es e os peixes", que respondiam aà sua necessidade; mas estava igualmente taã o pronta a
clamar: "Tira, tira, crucifica-o" como a exclamar "Hosana ao Filho de Davi!"(Mt 21:9). Que os
cristaã os, os servos de Cristo, os pregadores do evangelho se lembrem disto! Quetodosnoé s
ecadaumem particular se lembre sempre das "cobertas de pêlos de cabras".

A Cortina de Peles de Carneiros Tintas de Vermelho


Poreé m se as peles de cabras representavam o rigor da separaçaã o de Cristo do mundo,
as "peles de carneiro, tintas de vermelho, representam a Sua consagraçaã o e afeto a Deus,
mantidos mesmo ateé à morte. Êle foi o ué nico servo perfeito que trabalhou na vinha de Deus.
Teve um soé fim, que prosseguiu com firme propoé sito desde a manj edoura ateé aà cruz, e este foi
glorificar o Pai e consumar a Sua obra. "Naã o sabeis que me conveé m tratar dos negoé cios de meu
Pai1?-" Êra a linguagem da Sua mocidade e o cumprimento desses "negoé cios" era o fim da Sua
vida. Ã Sua comida era fazer a vontade d'Ãquele que o tinha enviado e cumprir a Sua obra (Jo
4:34). Ãs "peles de carneiro tintas de vermelho" formam uma parte taã o distinta do Seu haé bito
normal como os "peê los de cabras". Ã sua devoçaã o por Deus separava-O dos haé bitos dos
homens.

A Cortina de Peles de Texugo


"Ãs peles de texugo" parece indicarem a santa vigilaê ncia com que o Senhor Jesus estava
em guarda contra a aproximaçaã o de tudo que era hostil ao fim que absorvia toda a Sua alma.
Êle tomou a Sua posiçaã o ao lado de Deus e manteve-a com uma persisteê ncia que nenhuma
influeê ncia dos homens ou demoé nios, da terra ou do inferno, poê de j amais vencer. Ã coberta de
peles de texugo estava por "cima" (versíéculo 14), ensinando-nos que o aspecto proeminente
do caraé ter do "Homem Cristo Jesus" era a determinaçaã o de ser uma testemunha de Deus na
terra. Foi o verdadeiro Nabote, que preferiu dar a Sua vida a renunciar aà verdade de Deus, ou
abandonar aquilo para que havia tomado o Seu lugar neste mundo.
à cabra, o carneiro e o texugo devem ser considerados como representando certos
aspectos naturais e simbolizando tambeé m certas qualidades morais, e devem tomar-se em
conta na sua aplicaçaã o ao caraé ter de Cristo. Ã vista humana soé podia distinguir o aspecto
natural, poreé m naã o podia ver nada da graça moral, beleza e dignidade que se ocultavam
debaixo da forma exterior do desprezado e humilde Jesus de Nazareé . Quando os tesouros de
sabedoria divina fluíéam dos Seus laé bios, a interrogaçaã o daqueles que O ouviam era esta: "Naã o
eé este o carpinteirou" (Mc 6:3). "Como sabe este letras, naã o as tendo aprendido"?-" (Jo 7:15).
Quando declarava que era o Filho de Deus e afirmava a Sua divindade eterna, respondiam-lhe:
"Ãinda naã o tens cinquenta anos", ou pegavam "em pedras para lhe atirar" (Jo 8:57- 59). Êm
suma, a confissaã o dos fariseus, "este naã o sabemos donde eé " (Jo 9:29) era verdadeira.
Seria completamente impossíével, num volume como este, seguir o desenrolar dos
aspectos preciosos do caraé ter de Cristo, que nos mostra o relato do evangelho. Dissemos o
bastante para abrir ao leitor um manancial de meditaçaã o espiritual e dar uma ideia dos
tesouros preciosos que estaã o envolto nas cortinas e cobertas do tabernaé culo. O misteé rio de
Cristo, motivos secretos de açaã o e suas perfeiçoã es inerentes — a Sua apareê ncia exterior
desprovida de atrativos —, aquilo que Êle era em Si Mesmo, o que era para Deus, e o que era
para os homens, o que era segundo o juíézo da feé e no parecer da natureza, tudo isto estava
agradavelmente relatado aos ouvidos circuncidados pelas cortinas de azul, pué rpura, carmesim
e linho fino torcido, bem como na cobertura de peles.

As Tábuas e suas Bases de Prata


"Ãs taé buas para o tabernaé culo" (versíéculo 15) eram feitas da mesma madeira que era
usada na "arca do concerto". Demais, debaixo das taé buas haviabases de prata proveniente do
resgate—os "colchetes" e as "molduras" eram igualmente de prata (compare-se atenta-
menteocapíétulo30:llal6comocapíétulo38:25a28).Ovigamento da tenda do tabernaé culo
descansava todo sobre bases daquilo que indicava a expiaçaã o ou o resgate da alma; enquanto
que os "colchetes" e as "molduras" da parte superior reproduziam o mesmo pensamento. Ãs
bases de prata estavam metidas na areia e os colchetes e as molduras estavam em cima.
Qualquer que seja a profundidade a que penetrarmos ou a altura que alcançarmos acharemos
esta verdade gloriosa e eterna brasonada: "JÃÉ ÃCHÊI RÊSGÃTÊ" Qoé 33:24). Bendito seja Deus,
naã o somos resgatados "com coisas corruptíéveis, como prata ou ouro,.. .mas com o precioso
sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (IPe 1:19).

Os Véus que Fecharam as Entradas


O tabernaé culo estava dividido em treê s partes distintas: "O lugar santíéssimo", "o
santuaé rio" e "o paé tio do tabernaé culo". Ã entrada para cada uma destas partes era feita dos
mesmos materiais, "azul, pué rpura, carmesim e linho fino torcido" (compare-se o capíétulo
26:31 e 36 com 27:16). Ã sua interpretaçaã o eé simples: Cristo eé a ué nica porta de entrada aos
vaé rios campos de gloé ria que haã o de ser ainda revelados, quer seja na terra, no ceé u ou no ceé u
dos ceé us.
"Toda a famíélia nos ceé us e na terra" (Êf 3:15) seraé posta sob a Sua autoridade e
introduzida na felicidade e gloé ria eternas, em virtude da expiaçaã o que Êle fez. Isto eé bem claro
e naã o exige esforço de imaginaçaã o para ser compreendido. Sabemos que eé verdadeiro, e
quando conhecemos a verdade que eé simbolizada, o síémbolo eé facilmente compreendido. Se os
nossos coraçoã es estivessem cheios de Cristo, naã o nos perderemos na nossa interpretaçaã o do
tabernaé culo e seus acessoé rios. Naã o eé de um intelecto cheio de criticismo que precisamos neste
estudo, mas de um coraçaã o cheio de amor porjesus e uma conscieê ncia em paz pelo sangue da
cruz.
Que o Êspíérito Santo nos prepare para o estudo destas coisas com um maior interesse e
inteligeê ncia! Que Êle abra os nossos olhos para que contemplemos as maravilhas da lei.
— CÃPIÉTULO 27 —

O ALTAR DE COBRE
E O ÁTRIO
O Altar de Incenso não Mencionado
Deparamos agora com o altar de cobre que estava aà porta do tabernaé culo, e quero
chamar a atençaã o do leitor para a ordem seguida pelo Êspíérito Santo nesta parte do livro. Jaé
fizemos notar que a passagem compreendida entre o capíétulo 25 e o versíéculo 19 do capíétulo
27 forma uma parte distinta, que nos daé uma descriçaã o da arca e do propiciatoé rio, da mesa e
do castiçal, das cortinas e do veé u, e, por fim, do altar de cobre edopaé tioemque estava esse altar
colocado. Lendo os versíéculos 15 do capíétulo 35, 25 do capíétulo 37 e 26 do capíétulo 40, vemos
que o altar do incenso estaé mencionado entre o castiçal e o altar de cobre. Ão passo que,
quandoo Senhor daé instruçoã es a Moiseé s, o altar de cobre eé introduzido imediatamente depois
do castiçal e das cortinas do tabernaé culo. Ora, visto que deve haver uma razaã o divina para esta
diferença, eé privileé gio de todo o estudioso inteligente e aplicado da Palavra de Deus indagar
qual era essa razaã o.
Qual eé a razaã o, portanto, por que o Senhor, quando daé instruçaã o quanto aos adornos do
"santuaé rio", omite oaltarde incensoepassa ao altar de cobre que estava aà porta do
tabernaé culo*?- Ã razaã o, presumo, eé simplesmente esta: descreve primeiro a maneira em que
haé de manif estar-Se ao homem, e depois indica a forma de o homem se aproximar de Si.
Tomou o Seu lugar no trono; como o "Senhor de toda a terra" (Js 3:11 e 13): os raios da Sua
gloé ria estavam ocultos atraé s do veé u—figura da carne de Cristo (Hb 10:20); poreé m, fora do veé u,
estava a manifestaçaã o de Si Mesmo, em ligaçaã o com o homem, na "mesa pura", e, pela luz e
poder do Êspíérito Santo, representados no castiçal. Depois vem o caraé ter de Cristo como
homem aqui na terra, representado nas cortinas e nas cobertas do tabernaé culo. Ê finalmente
temos o altar de cobre como a grande exibiçaã o do lugar de encontro entre o Deus santo e o
pecador. Isto leva-nos, com efeito, aà extremidade, de onde voltamos, na companhia de Ãraã o e
seus filhos, ao santuaé rio, o lugar normal dos sacerdotes, onde estava o altar do incenso. Desta
forma a ordem eé notavelmente formosa. Do altar de ouro, naã o se faz mençaã o antes que haja
sacerdote para queimar incenso sobre ele, porque o Senhor mostrou a Moiseé s o modelo das
coisas nos ceé us segundo a ordem em que estas coisas devem ser atendidas pela feé . Por outra
parte, quando Moiseé s daé instruçoã es aà s consagraçoã es (capíétulo 35), quando daé conta dos
trabalhos de Bezaleel e Ãoliabe (capíétulos 37 e 38), e quando levanta o tabernaé culo (capíétulo
40), segue simplesmente a ordem em que os utensíélios estavam colocados.

O Altar de Cobre
O prosseguimento deste estudo taã o interessante, e o confronto das passagens acima
mencionadas, recompensaraã o amplamente o leitor. Passemos agora ao altar de cobre.
Êste altar era o lugar onde o pecador se aproximava de Deus, pelo poder e em virtude
do sangue da expiaçaã o. Êstava colocado aà porta do tabernaé culo da "tenda da congregaçaã o", e
sobre ele era derramado todo o sangue dos sacrifíécios. Êra construíédo de "madeira de cetim e
cobre". Ã madeira era a mesma do altar de ouro do incenso, mas o metal era diferente, e a
razaã o desta diferença eé obvia. O altar de bronze era o lugar onde o pecado era tratado segundo
o juíézo divino. O altar de ouro era o lugar onde o perfume precioso da aceitabilidade de Cristo
subia para o trono de Deus. Ã "madeira de cetim", como figura da humanidade de Cristo, era a
mesma num caso e no outro; poreé m no altar de cobre vemos Cristo sob o fogo da justiça
divina; no altar de ouro vemos como Êle satisfaz os afetos divinos. No primeiro, o fogo da ira
divina foi apagado, no ué ltimo, o fogo do culto sacerdotal eé aceso. Ã alma deleita-se de
encontrar Cristo tanto num como no outro; poreé m o altar de cobre eé o ué nico que responde aà s
necessidades de uma conscieê ncia culpada, como a primeira coisa para um pobre pecador
desamparado, necessitado e convicto. Naã o eé possíével haver paz soé lida, quanto aà questaã o do
pecado, enquanto o olhar da feé naã o descansar em Cristo como o antíétipo do altar de cobre. ÊÉ
necessaé rio que eu veja o meu pecado reduzido a cinzas na fornalha desse altar, antes de poder
gozar de paz de conscieê ncia na presença de Deus. ÊÉ quando sei, pela feé no testemunho de
Deus, que Êle Proé prio tratou do meu pecado na Pessoa de Cristo, no altar de cobre—que deu
satisfaçaã o a todas as Suas justas exigeê ncias —, que tirou o meu pecado da Sua santa presença,
de modo que nunca mais pode voltar, que posso gozar paz divina e eterna — e naã o antes.

O Ouro e o Cobre
Quero fazer aqui uma observaçaã o sobre o significado do "ouro" e do "cobre" nos
utensíélios do tabernaé culo. O "ouro" eé síémbolo da justiça divina, ou da natureza divina no
"Homem Jesus Cristo". "Cobre" eé o síémbolo da justiça, pedindo o julgamento do pecado, como
no altar de cobre; ou o julgamento da impureza, como na pia de cobre. Isto explica a razaã o por
que dentro da tenda do tabernaé culo tudo era ouro — a arca, o propiciatoé rio, a mesa, o castiçal
e o altar do incenso. Todas estas coisas eram os síémbolos da natureza divina e da exceleê ncia
pessoal inerente do Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, fora da tenda do tabernaé culo tudo era
cobre—o altar de cobre e os seus utensíélios, a pia e a sua base.
ÊÉ preciso que as exigeê ncias da justiça, quanto ao pecado e aà impureza, sejam
divinamente satisfeitas antes que possa haver alguma alegria pelos preciosos misteé rios da
Pessoa de Cristo, tais como nos saã o revelados no interior do santuaé rio de Deus. ÊÉ quando
posso ver todo o pecado e impureza perfeitamente julgados e lavados que posso, como
sacerdote, aproximar-me e adorar no santuaé rio, e gozar a plena manifestaçaã o da formosura e
perfeiçaã o do Deus Homem, Cristo Jesus.
O leitor poderaé , com muito proveito, prosseguir com a aplicaçaã o deste pensamento em
pormenor, naã o apenas no estudo do tabernaé culo e o templo, mas tambeé m em vaé rias passagens
da Palavra de Deus; por exemplo, no capíétulo 1 de Ãpocalipse Cristo aparece "cingido pelos
peitos com um cinto de ouro" e tendo os Seus "peé s semelhantes a latão reluzente, como se
tivessem sido refinados numa fornalha". O "cinto de ouro" eé o síémbolo da Sua justiça
intríénseca. Os peé s semelhantes a lataã o reluzente" saã o a expressaã o do juíézo inflexíével sobre o
mal- o Senhor naã o pode tolerar o mal, antes pelo contraé rio, tem de esmagaé -lo debaixo dos Seus
peé s.
Tal eé o Cristo com Quem temos de tratar. Julga o pecado, mas salva o pecador. Ã feé veê o
pecado reduzido a cinzas no altar de cobre; veê toda a impureza lavada na pia de cobre; e,
finalmente, goza de Cristo, tal como eé revelado, no secreto da presença divina, pela luz e poder
do Êspíérito Santo. Ã feé acha-O no altar de ouro, em todo o valor da Sua intercessaã o. Ãlimenta-
se d'Êle aà mesa pura. Reconhece-O na arca e no propiciatoé rio como Ãquele que responde a
todas as exigeê ncias da justiça divina, e, ao mesmo tempo, satisfaz todas as necessidades
humanas. Contempla-O no veé u, como todas as figuras míésticas. Veê escrito o Seu nome precioso
em todas as coisas. Oh, que os nossos coraçoã es estejam sempre prontos a apreciar e louvar
este Cristo incomparaé vel e glorioso!
Nada pode ser de tanta importaê ncia como o conhecimento claro da doutrina do altar de
cobre; quero dizer, como eé ensinada por meio dele. Ê devido aà falta de clareza sobre este ponto
que muitas almas se lamentam toda a vida. Ã questaã o da sua culpa nunca foi clara e
completamente liquidada no altar de cobre. Nunca chegaram a realizar pela feé que o Proé prio
Deus liquidou para sempre, na cruz, a questaã o dos seus pecados. Buscam paz para as suas
conscieê ncias atribuladas na regeneraçaã o e a sua evideê ncia—os frutos do Êspíérito, a sua
disposiçaã o, sentimentos e experieê ncia —, coisas muito boas e valiosas em si, mas que naã o
formam o fundamento da paz. Ê o conhecimento daquilo que Deus tem feito no altar de cobre
que enche a alma de paz. Ãs cinzas no altar contam-me a histoé ria que TUDO ÊSTÃÉ CUMPRIDO.
Os pecados do crente foram todos tirados pela proé pria maã o do amor redentor. "Ãquele que naã o
conheceu pecado, o fez pecado por noé s, para que, nele, foê ssemos feitos justiça de Deus" (2
Co5:21).Todoopecadodeve ser julgado, poreé m os pecados do crente jaé foram julgados na cruz;
por isso ele estaé perfeitamente justificado. Supor que pode existir qualquer coisa contra o
crente, mesmo o mais fraco, eé negar toda a obra da cruz. Os pecados e as iniquidades do crente
foram todos tirados pelo Proé prio Deus, e portanto foram perfeitamente quitados.
Desapareceram com a vida que o Cordeiro de Deus derramou na morte.
Certifique-se o leitor de que o seu coraçaã o estaé inteiramente fundado na paz que Jesus
fez pelo sangue da sua cruz.
— CÃPIÉTULO 28 —

AS VESTES
DOS SACERDOTES
Êstes capíétulos mostram-nos o Sacerdoé cio em todo o seu valor e eficaé cia, e estaã o cheios
de interesse. Ã proé pria palavra "sacerdoé cio" desperta no coraçaã o um sentimento da mais
profunda gratidaã o pela graça que naã o soé nos abriu um caminho para entrarmos na presença
de Deus, como nos deu o necessaé rio para ali nos mantermos, segundo o caraé ter e as exigeê ncias
dessa posiçaã o elevada e santa.

O Sacerdócio de Arão
O sacerdoé cio de Ãraã o era um dom de Deus por um povo que, por natureza proé pria,
estava distante e necessitava de algueé m que aparecesse em seu nome continuamente na Sua
presença. O capíétulo 7 da epíéstola aos Hebreus ensina-nos que a ordem do sacerdoé cio estava
ligada com a lei, que fora estabelecida segundo "a lei do mandamento carnal" (versíéculo 16) e
que fora impedida de permanecer pela morte (versíéculo 23) e que os sacerdotes dessa ordem
estavam sujeitos aà s fraquezas humanas. Portanto, esta ordem naã o podia dar perfeiçaã o, e por
isso devemos bendizer a Deus por naã o ter sido instituíéda com "juramento". O juramento de
Deus soé podia fazer-se em ligaçaã o com aquilo que devia durar eternamente, e isto era o
sacerdoé cio perfeito, imortal, e intransmissíével do nosso grande e glorioso Melquizedeque, que
daé ao Seu sacrifíécio e ao Seu sacerdoé cio todo o valor, e a dignidade e gloé ria da Sua
incomparaé vel Pessoa. O simples pensamento de que temos um tal sacrifíécio e um tal Sacerdote
faz com que o coraçaã o palpite com as mais vivas emoçoã es de gratidaã o.

O Éfode e as Pedras Preciosas


Mas devemos prosseguir com o exame dos capíétulos que ainda temos aà nossa frente.
Êm capíétulo 28 temos as vestes sacerdotais, e em capíétulo 29 trata-se dos sacrifíécios. Ãquelas
estaã o mais em ligaçaã o com as necessidades do povo, enquanto que estes se relacionam com os
direitos de Deus. Ãs vestes representam as diversas funçoã es e atributos do cargo sacerdotal. O
"eé fode" era o manto sacerdotal, e estando inseparavelmente ligado aà s umbreiras e ao peitoral,
ensina-nos, claramente, que a força dos ombros do sacerdote e o afeto do seu coraçaã o estavam
inteiramente consagrados aos interesses daqueles que representava, e a favor dos quais levava
o eé fode. Êstas coisas, que eram simbolizadas em Ãraã o, saã o realizadas em Cristo. O Seu poder
onipo-tente e amor infinito pertencem-nos eternamente e incontestavelmente. Os ombros que
susteé m o universo protegem ateé o mais fraco e obscuro membro da congregaçaã o redimida a
preço de sangue. O coraçaã o de Jesus bate com afeto imorredouro ateé mesmo pelo membro
menos considerado da assembleia redimida.
Os nomes das doze tribos, gravados sobre pedras preciosas, eram levados tanto sobre
os ombros como sobre o peito do sumo sacerdote (vide versíéculos 9al2,15a29).Ã exceleê ncia
peculiar de uma pedra preciosa consiste no fato que quanto mais intensa eé a luz que sobre ela
incide, tanto maior eé o seu brilho esplendente. Ã luz nunca pode obscurecer uma pedra
preciosa; apenas aumenta e desenvolve o seu brilho. Ãs doze tribos, tanto uma como outra, a
maior como a menor, eram levadas continuamente aà presença do Senhor sobre o peito e os
ombros de Ãraã o. Êram todas, e cada uma em particular, mantidas na presença divina em todo
este resplendor perfeito da formosura inalteraé vel que era proé prio da posiçaã o em que a graça
perfeita do Deus de Israel as havia colocado. O povo era representado diante de Deus pelo
sumo sacerdote. Quaisquer que fossem as suas fraquezas, os seus erros, ou faltas, os seus
nomes resplandeciam sobre o "peitoral" com imarcescíével esplendor. O Senhor havia-lhes
dado esse lugar, e quem poderia arrancaé -los dali 1?- Jeovaé tinha-os posto assim, e quem podia
poê -los de outra formai Quem teria podido penetrar no santuaé rio para arrebatar de sobre o
coraçaã o de Ãraã o o nome de uma das tribos de Israel? Quem teria podido manchar o brilho que
rodeava esses nomes no lugar onde Deus os havia colocado? Ningueé m. Êstavam fora do
alcance de todo o inimigo — longe da influeê ncia de todo o mal.
Quaã o animador eé para os filhos deDeus,quesaã o provados, tentados, zurzidos e
humilhados, pensar que Deus os veê sobre o coraçaã o de Jesus! Perante os Seus olhos, eles
brilham sempre em todo o fulgor de Cristo, revestidos de toda agraça divina. O mundo naã o
pode veê -los assim; mas Deus veê -os desta maneira, enistoestaé todaa diferença. Os homens, ao
considerarem os filhos de Deus, veê em apenas as suas imperfeiçoã es e defeitos, porque saã o
incapazes de ver qualquer coisa mais; de sorte que o seu juíézo eé sempre falso e parcial. Naã o
podem ver as joé ias brilhantes com os nomes dos remidos gravados pela maã o do amor imutaé vel
de Deus. ÊÉ certo que os cristaã os deveriam ser cuidadosos em naã o dar ocasiaã o a que os homens
do mundo falem injuriosamente; deviam procurar, fazendo bem, tapar a boca aà ignoraê ncia dos
homens maus (lPe2:15). Seao menos compreendessem, pelo poder do Êspíérito Santo, a graça
em que brilham sem cessar, aos olhos de Deus, realizariam certamente as caracteríésticas de
uma vida de santidade praé tica, pureza moral e engrandecimento perante os olhos dos homens.
Quanto mais compreendermos, pela feé , a verdade objetiva, ou tudo o que somos em Cristo,
tanto mais profunda, praé tica e real seraé a obra subjetiva em noé s, e maior seraé a manifestaçaã o
do efeito moral na nossa vida e caraé ter.
Mas, graças aDeus, naã o temos que ser julgados pelos homens, mas por Êle Proé prio: e
misericordiosamente mostra-nos o nosso sumo sacerdote levando o nosso juíézo sobre o seu
coraçaã o diante do Senhor continuamente (versíéculo 30). Êsta segurança daé paz profunda e
soé lida ao coraçaã o—uma pazque nada pode abalar. Podemos ter de confessar elamentar as
nossas faltasedefeitosconstantes;anossa vista pode estar, por vezes, obscurecida de tal
maneira por laé grimas de um verdadeiro arrependimento que naã o possa ver o brilho das
pedras preciosas com os nossos nomes gravados, e todavia eles estaã onelas. Deus os veê , e isto eé
suficiente. ÊÉ glorificado pelo seu brilho; brilho que naã o eé conseguido por noé s, mas com que Êle
nos dotou. Nada tíénhamos senaã o trevas, tristeza, e deformidades; mas Deus deu-nos brilho,
pureza e beleza. Ã Êle seja dado o louvor pelos seé culos dos seé culos!

O Cinto
O "cinto" eé o síémbolo bem conhecido do serviço; e Cristo eé o Servo perfeito—o Servo
dos desíégnios divinos e das necessidades profundas e variadas do Seu povo. Com espíérito de
sincera dedicaçaã o, que nada podia impedir, Êle cingiu-se para a Sua obra; e quando a feé veê
assim o Filho de Deus cingido julga, certamente, que nenhuma dificuldade eé grande demais
para Si. No síémbolo que temos perante noé s vemos que todas as virtudes, meé ritos, e gloé rias de
Cristo, na Sua natureza divina e humana, entram plenamente no Seu caraé ter de servo. "Ê o
cinto de obra esmerada, do seu eé fode, que estaraé sobre ele, seraé da mesma obra, da mesma
obra de ouro, e de pano azul e de pué rpura, e de camesim e de linho fino torcido" (versíéculo 8).
à feé disto deve satisfazer todas as necessidades da alma e os mais ardentes desejos do coraçaã o.
Naã o vemos Cristo apenas como a víétima imolada no altar, mas tambeé m como o cingido Sumo
Sacerdote sobre a casa de Deus. Bem pode, pois, o apoé stolo inspirado dizer, "cheguemo-nos,...
retenhamos... consideremo-nos uns aos outros" (Hb 10:19-24).

O Peitoral de Juízo. O Urim e o Tumim


"Tambeé m poraé s no peitoral do juíézo Urim e Tumim", (luzes e perfeiçoã es) "para que
estejam sobreocoraçaã odeÃraã o,quandoentrar diante do SÊNHOR; assim, Ãraã o levaraé o juíézo dos
filhos de Israel sobre o seu coraçaã o, diante do SÊNHOR, continuamente" (versíéculo 30).
Ãprendemos em vaé rias passagens da Êscritura que o Urim estava relacionado com a
comunicaçaã o da mente de Deus, quanto aà s diferentes questoã es que se levantavam nos
pormenores da histoé ria de Israel. Ãssim, por exemplo, na nomeaçaã o de Josueé , lemos; "Ê se
poraé perante Êleazar, o sacerdote, o qual por ele consultaraé , segundo o juízo de Urim, perante o
SENHOR" (Num. 27:21). "Ê de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim (as tuas perfeiçoã es e luzes) saã o
para o teu amado... ensinaram os teus juíézos a Jacoé e a tua lei a Israel" (Dt 33:8 -10). "Ê
perguntou Saul ao SÊNHOR, poreé m o SÊNHOR lhe naã o respondeu, nem por sonhos, nem porUrim,
nem por profetas" (1 Sm 28:6). "Ê otirsata lhes disse que naã o comessem das coisas sagradas,
ateé que houvesse sacerdote com
Urim e com Tumim"(Êd 2:63). Vemos assim que o sumo sacerdote naã o soé levava o juíézo
da congregaçaã o perante o Senhor, como comunicava tambeé mo juíézo do Senhor aà congregaçaã o
—solenes, importantes, e preciosas funçoã es! ÊÉ o que temos, com perfeiçaã o divina, no nosso
"grande sumo sacerdote, ...que penetrou nos ceé us" (Hb 4:14). Leva continuamente o j uíézo do
Seu povo sobre o coraçaã o, e, por intermeé dio do Êspíérito Santo, comunica-nos o conselho de
Deus a respeito dos pormenores mais insignificantes da nossa vida diaé ria. Naã o temos
necessidade de sonhos ou visoã es: se andarmos em Êspíérito, desfrutaremos toda a certeza que
pode conceder o perfeito "Urim" sobre o coraçaã o do nosso Sumo Sacerdote.

O Manto do Éfode
"Tambeé m faraé s o manto do eé fode todo de pano azul... e nas suas bordas faraé s romaã s de
pano azul, de pué rpura e de carmesim, ao redor das suas bordas; e campainhas de ouro no
meio delas, ao redor. Uma campainha de ouro e uma romaã , outra campainha de ouro e outra
romaã haveraé nas bordas do manto ao redor, e estaraé sobre Ãraã o, quando ministrar, para que se
ouça o seu sonido, quando entrar no satuaé rio diante do SÊNHORÃ quando sair, para que naã o
morra" (versíéculos 31 a35).
O manto azul do "eé fode" exprime o caraé ter celestial do nosso Sumo Sacerdote, que
penetrou nos ceé us, para aleé m do alcance da visaã o humana; poreé m, pelo poder do Êspíérito
Santo, haé um testemunho da verdade de estar vivo na presença de Deus; e naã o apenas um
testemunho, mas fruto tambeé m. "Uma compainha de ouro e uma romaã , outra campainha de
ouroe outra romaã ". Tal eé a ordem cheia de beleza. O verdadeiro testemunho da grande verdade
que Jesus vive sempre para interceder por noé s estaraé sempre ligado com fertilidade no Seu
serviço. Oh, se ao menos pudeé ssemos compreender mais profundamente estes misteé rios
preciosos e santos! (¹).
__________________
(¹) É desnecessário advertir que existe uma propriedade divina e significativa em todas as figuras que nos
são apresentadas na Palavra de Deus. Assim, por exemplo, a "romã", quando aberta verifica-se que consiste de um
número de sementes contidas num líquido vermelho. Certamente, isto fala por si. Que a espiritualidade, e não a
imaginação, faça o seu juízo.

A Lâmina de Ouro
"Tambeé m faraé s uma laê mina de ouro puro e nela gravaraé s, aà maneira degravuras de
selos.- SÃNTIDÃDÊÃO SÊNHOR. Ê ataé -la-aé s comum cordaã o de fio azul, de maneira que esteja
na mitra; sobre a frente da mitra estaraé . Ê estaraé sobre a testa de Ãraã o, para que Ãraã o leve a
iniquidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas de suas
coisas santas; e estaraé continuamente na sua testa, para que tenham aceitaçaã o perante o
SÊNHOR" (versíéculos 36 a 38). Êis aqui uma verdade importante para a alma. Ã laê mina de ouro
sobre a testa de Ãraã o era figura da santidade do Senhor Jesus Cristo: "e estaraé
CONTINUÃMÊNTÊ NÃ SUÃ testa, para que TÊNHÃM aceitaçaã o perante o SÊNHOR". Que
descanso para o coraçaã o por entre as flutuaçoã es da nossa experieê ncia! O nosso Sumo
Sacerdote estaé sempre na presença de Deus por noé s. Somos representados pore aceites n'Êle.
à Sua santidade pertence-nos. Quanto mais profundamente conhecermos a nossa proé pria
vileza e fraquezas, tanto mais experimentaremos a verdade humilhante que em noé s naã o habita
bem algum, e mais fervorosamente bendiremos o Deus de toda a graça por esta verdade
consoladora: "estaraé continuamente na sua testa, para que tenham aceitaçaã o perante o
SÊNHOR".
Se o leitor for um daqueles que saã o frequentemente tentados e sobrecarregados com
dué vidas e temores, com altos e baixos no seu estado espiritual, com tendeê ncias a contemplar o
seu pobre coraçaã o, frio, inconstante e rebelde—se for tentado com incerteza excessiva e falta
de santidade —, deve apoiar-se de todo o coraçaã o sobre esta verdade preciosa: que o seu
Sumo Sacerdote representa-o diante do trono de Deus. Deve fixar os seus olhos na laê mina de
ouro e ler, na inscriçaã o gravada nela, a medida da sua aceitaçaã o eterna perante Deus. Que o
Êspíérito Santo o ajude a provar a doçura peculiar e o poder mantenedor desta doutrina divina
e celestial!

As Vestes dos Filhos de Arão


"Tambeé m faraé s tué nicas aos filhos de Ãraã o, e f ar-Ihes-aé s cintos; tambeé m lhes faraé s
tiaras, para gloé ria e ornamento... faze-lhes tambeé m calçoã es de linho, para cobrirem a carne
nua... e estaraã o sobre Ãraã o e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregaçaã o ou
quando chegarem ao altar para ministrar no santuaé rio, para que naã o levem iniquidade e
morram." Ãqui, Ãraã o e seus filhos representam em figura Cristo e a Igreja—saã o a expressaã o
das qualidades intríénsecas, essenciais, pessoais e ternas de Cristo; enquanto que as "tué nicas" e
"tiaras" dos filhos de Ãraã o representam aquelas graças de que estaé revestida a Igreja, em
virtude da sua ligaçaã o com a Cabeça da famíélia sacerdotal.
Podemos ver assim em tudo que acaba de passar perante os nossos olhos, neste
capíétulo, o cuidado misericordioso com que Jeovaé fez provisaã o para as necessidades do Seu
povo, permitindo que eles vissem aquele que estava prestes a atuar a seu favor e a representaé -
nos na Sua presença vestido como os vestidos que correspondiam diretamente aà condiçaã o do
povo, tal qual Êle os conhecia. Nada que o coraçaã o pudesse desejar ou de pudesse ter
necessidade foiesquecido. Podiam contemplar Ãraã o dos peé s aà cabeça e ver que tudo estava
completo. Desde a mitra santa na cabeça de Ãraã o aà s companhias de ouro e romaã s que
bordavam o seu manto, tudo era como devia estar, porque tudo estava conforme o modelo que
fora mostrado no monte —tudo era segundo o caé lculo que o Senhor fazia das necessidades do
Seu povo e das Suas proé prias exigeê ncias.

Fios de Ouro Entretecidos


Mas existe ainda um ponto relacionado com as vestes de Ãraã o que requer a atençaã o do
leitor: e este eé a forma como o ouro eé introduzido na sua confecçaã o. Êste assunto acha-se no
capíétulo 39; contudo a sua interpretaçaã o cabe muito bem aqui. "Ê estenderam as laê minas de
ouro, e as cortaram em fios, para entretecer entre o pano azul, e entre a pué rpura, e entre o
carmesim, e entre o linho fino da obra mais esmerada" (capíétulo 39:3). Jaé fizemos notar que o
"azul, a pué rpura, o carmesim e o linho fino torcido" apresentam as vaé rias fazes da humanidade
de Cristo, e que o ouro representa a Sua natureza divina. Os fios de ouro estavam
curiosamente introduzidos nos demais materiais, de modo a estarem inseparavelmente
unidos, e todavia perfeitamente distintas deles. Ã aplicaçaã o desta admiraé vel imagem ao
caraé ter do Senhor Jesus eé cheia de interesse. Êm diferentes cenas apresentadas nos relatos dos
evangelhos, podemos discernir facilmente esta rara e formosa uniaã o da humanidade e
divindade, e, ao mesmo tempo, a distinçaã o misteriosa.
Por exemplo, considerai Cristo no mar da Galileé ia, no meio da tempestade. Êle "estava
dormindo sobre uma almofada" (Mc 4:38). Que preciosa demonstraçaã o da sua humanidade!
Poreé m, num momento eleva-Se da atitude de verdadeira humanidade aà dignidade completa e
majestade da divindade, e, como supremo Governador do universo, acalma a tempestade e
impoã e sileê ncio ao mar. Naã o se nota aqui nenhum esforço, nenhuma precipitaçaã o, nem
preparaçaã o preé via para este momento. Com perfeita naturalidade, Êle passa da condiçaã o de
humanidade positiva aà esfera essencial da divindade. O repouso daquela naã o eé mais natural
que a atividade desta. Êle estaé perfeitamente no Seu elemento tanto numa como na outra.
Vede-O ainda no caso dos cobradores do tributo, segundo Mateus, 17. Como "Deus
Ãltíéssimo, possuidor dos ceé us e da terra", estende a Sua maã o sobre os tesouros do oceano, e
diz, "saã o meus"; e, havendo declarado que o oceano eé Seu, "pois Êle o fez" (SI 95:5), volta-Se e,
numa demonstraçaã o de perfeita humanidade, associa-Se ao seu pobre servo, por meio dessas
palavras tocantes, "toma-o e dá-o por mim e por ti". Palavras cheias de graça! Sobretudo
quando as consideramos em ligaçaã o com o milagre taã o expressivo da divindade d'Ãquele que
assim se ligava, em infinita condescendeê ncia, com um pobre verme.
Mas vede-O, mais uma vez, junto da sepultura de Laé zaro 0o 11). Comove-Se e chora, e
essa emoçaã o e essas laé grimas proveê m das profundidades de uma humanidade perfeita—desse
coraçaã o perfeitamente humano, que sentia, como nenhum outro coraçaã o podia sentir, o que
era achar-se no meio da cena em que o pecado havia produzido taã o terríéveis frutos. Mas logo,
como a Ressurreiçaã o e a Vida, como Ãquele que segura em Suas maã os as chaves do inferno e
da morte (Ãp 1:18) clama: "Laé zaro, sai para fora"; e aà voz de poder de Jesus a morte e a
sepultura abrem as suas portas e deixam sair o seu cativo.
O espíérito do leitor poderaé facilmente recordar outras cenas dos evangelhos que
ilustram esta uniaã o dos fios de ouro com o "azul, a pué rpura, o carmesim e o linho fino torcido";
quer dizer, da uniaã o da deidade com a humanidade, na Pessoa misteriosa do Filho de Deus.
Naã o haé nada de novo neste pensamento, frequentemente assinalado por aqueles que teê m
estudado com algum cuidado as Êscrituras do Velho Testamento.
Poreé m, eé sempre proveitoso pensar no bendito Senhor Jesus como Ãquele que eé
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. O Êspíérito Santo uniu estas duas naturezas
por meio de uma obra delicada e apresenta-as ao espíérito regenerado do crente para serem
admiradas e desfrutadas por ele.
Consideremos, agora, antes de terminarmos esta parte do Livro do ÊÊ xodo, o capíétulo
29.
— CÃPIÉTULO 29 —

A CONSAGRAÇÃO
DO SARCEDOTE
A Lavagem com Água
Jaé frisaé mos que Ãraã o e seus filhos representam Cristo e a Igrej a, poreé m nos primeiros
versíéculos deste capíétulo eé dado o primeiro lugar a Ãraã o. "Êntaã o, faraé s chegar Ãraã o e seus
filhos aà porta da tenda da congregaçaã o e os lavaraé s com aé gua" (versíéculo 4). Ã lavagem da aé gua
tornava Ãraã o simbolicamente aquilo que Cristo eé intrinsecamente, isto eé : santo. Ã Igreja eé
santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreiçaã o. Êle eé a definiçaã o perfeita
daquilo que ela eé perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da aé gua representa a açaã o da
palavra de Deus (veja-se Êf 5:26).
"Ê por eles me santifico a mim mesmo, para que tambeé m eles sejam santificados na
verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita
obedieê ncia, orien-tando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Êspíérito
eterno, a fim de que todos aqueles que saã o d'Êle pudessem ser inteiramente separados pelo
poder moral da verdade.

A Unção
"Ê tomaraé s o azeite da unçaã o e o derramaraé s sobre a sua cabeça " (versíéculo 7). Nestas
palavras temos o Êspíérito, mas eé preciso notar que Ãraã o foi ungido antes de o sangue ser
derramado, porque nos eé apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era
em Sua Proé pria Pessoa, foi ungido com o Êspíérito Santo muito antes que fosse cumprida a obra
da cruz. Êm contrapartida, os filhos de Ãraã o naã o foram ungidos senaã o depois de ser espargido
o sangue, "degolaraé s o carneiro, e tomaraé s do seu sangue, e o poraé s sobre a ponta da orelha
direita deÃraã o,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como tambeé m sobre o dedo
polegar da sua maã o direita, e sobre o dedo polegar do seu peé direito: e o resto do sangue
espalharaé s sobre o altar ao redor" (¹). "Êntaã o, tomaraé s do sangue que estaraé sobre os altar e
do azeite da unçaã o e o espargiraé s sobre Ãraã o e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre
os as vestes de seus filhos com ele" (versíéculos 20 e 21). No que diz respeito aà Igreja, o sangue
da cruz eé o fundamento de tudo. Êla naã o podia ser ungida com o Êspíérito Santo ateé que a sua
Cabeça ressuscitada tivesse subido ao ceé u e depositado sobre o trono da Maj estade divina o
relato do sacrifíécio que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos noé s
somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e
promessa do Êspíérito Santo, derramou isto que voé s agora vedes e ouvis" (Ãt 2:32-33); compa-
rem-se tambeé m Jo 7:39; Ãt 19:1 - 6). Desde os dias de Ãbel que haviam sido regeneradas
almas pelo Êspíérito Santo e experimentado a Sua influeê ncia, sobre as quais operou e a quem
qualificou para o serviço; poreé m a Igreja naã o podia ser ungida com o Êspíérito Santo ateé que o
Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no ceé u e recebesse para ela a promessa do Pai. Ã verdade
desta doutrina eé ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a
sua integridade estreita eé mantida, em figura, no síémbolo que temos perante noé s, pelo fato
claro que, embora Ãraã o fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versíéculo 7),
contudo os seus filhos naã o o foram, e naã o podiam ser ungidos senaã o depois (versíéculo 21).
____________________
(¹) O ouvido, as mãos e os pés são consagrados a Deus no poder da expiação efetuada e mediante a energia
do Espírito Santo.

A Preeminência de Cristo
Poreé m, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unçaã o neste capíétulo, aleé m da
verdade importante acerca da obra do Êspíérito, e a posiçaã o que a Igreja ocupa. Ã preemineê ncia
do Filho eé -nos tambeé m apresentada. "Ãmaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso
Deus, o teu Deus, te ungiu com oé leo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb
1:9). ÊÉ preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicçoã es e
experieê ncias. Por certo, a graça infinita de Deus eé manifestada no fato maravilhoso que
pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas
nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocaé bulo "mais". Por mais íéntima que seja a
uniaã o—e eé taã o íéntima quanto os desíégnios eternos do amor divino a podiam fazer—, eé ,
contudo, necessaé rio que Cristo tenha em tudo a preemineê ncia" (Cl 1:18). Naã o podia ser de
outra maneira. Êle eé Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criaçaã o,
Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Naã o existe um soé astro de todos os que se movem
no espaço que naã o Lhe pertença e naã o se mova sob a Sua orientaçaã o. Naã o existe um verme
sequer que se arrasta sobre a terra, que naã o esteja sob os Seus olhos incansaé veis. Êle estaé
acima de todas as coisas; eé toda a criatura "o primogeé nito de entre os mortos" "o princíépio da
criaçaã o de Deus" (Cl l:15-18;Ãp 1:5). "Toda a famíélia nos ceé us ena terra" (Êf 3:15) deve alinhar,
na classe divina, sob Cristo. Tudo isto seraé reconhecido com gratidaã o por todo o crente
espiritual; sim, a sua proé pria articulaçaã o produz um estremecimento no coraçaã o do crente.
Todos os que saã o guiados pelo Êspíérito regozijar-se-aã o com cada nova manifestaçaã o das
gloé rias pessoais do Filho; da mesma maneira que naã o poderaã o tolerar qualquer coisa que se
levante contra elas. Que a Igreja se eleve aà s mais altas regioã es e gloé ria, seraé seu gozo ajoelhar
aos peé s d'Ãquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifíécio, aà uniaã o Consigo; o
qual havendo plenamente correspondido a todas as exigeê ncias da justiça divina, pode satisfa-
zer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitaçaã o infinita com
o Pai, na Sua gloé ria eterna: "Naã o se envergonha de lhes chamar irmaã os" (Hb 2:11).
___________________
Nota: Evitei propositadamente tocar no assunto das ofertas em capítulo 29 visto que teremos ocasião de
considerar as diferentes classes de sacrifícios, por sua ordem, nos nossos estudos sobre o Livro de Levítico, se o
Senhor permitir.
— CÃPIÉTULO 30 —

O CULTO, A COMUNHÃO
E A ADORAÇÃO
O Altar de Cobre e o Altar de Ouro
Instituíédo o sacerdoé cio, como vimos nos dois capíétulos precedentes, somos
introduzidos aqui na posiçaã o do verdadeiro culto e comunhaã o sacerdotal. Ã ordem eé notaé vel e
instrutiva; e, aleé m disso, corresponde exatamente com a ordem da experieê ncia do crente. No
altar de bronze, o crente veê as cinzas dos seus pecados; e veê -se imediatamente unido com
Ãquele que, embora pessoalmente puro e incontaminado, de forma que podia ser ungido sem
sangue, tem-nos, contudo, associado Consigo na vida, em justiça e favor; e, por fim, o crente veê
no altar de ouro a preciosidade de Cristo, como sendo a substaê ncia com a qual eé alimentado o
amor divino.
ÊÉ sempre assim: eé necessaé rio que haja um altar de cobre e um sacerdote antes que
possa haver um altar de ouro e incenso. Muitíéssimos filhos de Deus nunca passaram do altar
de cobre; nunca entraram, em espíérito, no poder e realidade do verdadeiro culto sacerdotal.
Naã o se regozijam no pleno e perfeito sentimento divino de perdaã o e justiça; nunca
conseguiram chegar ao altar de ouro. Êsperam alcançaé -lo quando morrerem; ao passo que jaé
teê m o privileé gio de estar ali agora. Ã obra da cruz tirou do caminho tudo que podia
representar um obstaé culo a um culto livre e inteligente. Ã posiçaã o atual de todos os crentes
verdadeiros eé junto do altar de ouro do incenso.
Êste altar eé figura de uma posiçaã o de maravilhosa bem-aventurança. ÊÊ ali que
desfrutamos a realidade e eficaé cia da intercessaã o de Cristo. Havendo acabado com o ego e
tudo quanto lhe diz respeito, ainda que esperaé ssemos algumbem dele, temos de estar
ocupados com aquilo que Cristo eé perante Deus. Nada encontraremos no ego senaã o corrupçaã o;
todas as suas manifestaçoã es saã o corrompidas; jaé foi condenado e posto de parte pelo juíézo de
Deus, e nem soé um fio ou partíécula dele se pode encontrar no incenso ou no fogo do altar de
ouro puro. Isso seria impossíével. Fomos introduzidos no santuaé rio "pelo sangue de Jesus",
santuaé rio de serviço e culto sacerdotal, no qual naã o existe nem sequer um vestíégio de pecado.
Vemos a mesa pura, o castiçal puro e o altar puro; mas naã o existe nada que nos recorde o ego e
a sua miseé ria. Se fosse possíével que alguma coisa do ego se apresentasse aà nossa vista, isso soé
serviria para destruir o nos so culto, contaminar o nosso alimento sacerdotal e ofuscara nossa
luz. Ã natureza naã o pode ter lugar no santuaé rio de Deus: foi consumida e reduzida a cinzas
com tudo quanto lhe pertence; e agora as nossas almas saã o chamadas para gozar o bom cheiro
de Cristo, subindo como perfume agradaé vel a Deus: eé nisto que Deus Se deleita. Tudo o que
apresenta Cristo na Sua proé pria exceleê ncia eé agradaé vel a Deus. Ãteé a mais deé bil expressaã o ou
manifestaçaã o de Cristo, na vida ou adoraçaã o de um dos Seus santos, eé cheiro agradaé vel, no
qual Deus acha o Seu prazer.
Ênfim, temos muitíéssimas vezes de estar ocupados com as nossas faltas e fraquezas. Se
os efeitos do pecado, que habita em noé s, se manifestam, temos de tratar com Deus acerca
deles, pois o Senhor naã o pode concordar com o pecado. Pode perdoar o pecado e purif icar-
nos; pode restaurar as nossas almas pelo ministeé rio precioso do nosso grande Sumo
Sacerdote; poreé m naã o pode associar-se a um simples pensamento pecaminoso. Um
pensamento ligeiro ou louco bem como uma ideia impura ou cobiçosa, saã o o bastante para
perturbar a comunhaã o do crente e interromper o seu culto. Se um tal pensamento se levanta,
deve ser confessado e julgado antes de podermos desfrutar outra vez os gozos sublimes do
santuaé rio. Um coraçaã o em que opera a concupisceê ncia naã o tem parte nas ocupaçoã es do
santuaé rio. Quando nos encontramos na nossa proé pria condiçaã o sacerdotal, a natureza eé como
se naã o tivesse existeê ncia; eé entaã o que nos podemos alimentar de Cristo. Podemos provar o
prazer divino de estarmos inteiramente livres de noé s proé prios e completamente absorvidos
por Cristo.
Mas tudo isto soé pode ser produzido pelo poder do Êspíérito. ÊÉ inué til procurar excitar os
sentimentos naturais de devoçaã o pelos diferentes instrumentos da religiaã o sistemaé tica. ÊÉ
necessaé rio que haja fogo puro e incenso puro (comparem-se Lv 10:1 com 16:12). Todos os
esforços para adorar a Deus por meio das faculdades profanas da natureza estaã o incluíédos na
caregoria de "fogo estranho". Deus eé o verdadeiro objeto de adoraçaã o; Cristo eé o f undamen-to
e a substaê ncia de adoraçaã o; e o Êspíérito Santo eé o seu poder.
Propriamente falando, portanto, assim o altar de cobre nos apresenta Cristo no valor
do Seu sacrifíécio, o altar de ouro mostra-nos Cristo no valor da Sua intercessaã o. Êste fato daraé
ao leitor uma melhor compreensaã o do motivo por que a ocuapaçaã o sacerdotal eé introduzida
entre os dois altares. Êxiste, como podia esperar-se, uma relaçaã o íéntima entre os dois altares,
pois que a intercessaã o de Cristo estaé fundada sobre o Seu sacrifíécio.
"Ê uma vez no ano Ãraã o faraé expiaçaã o sobre as pontas do altar, com o sangue do
sacrifíécio das expiaçoã es; uma vez no ano faraé expiaçaã o sobre ele, pelas vossas geraçoã es;
santíéssimo eé ao SÊNHOR" (versíéculo 10). Tudo repousa sobre o fundamento inabalaé vel do
SÃNGUÊ ÊSPÃRGIDO. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem
derramamento de sangue naã o haé remissaã o. De sorte que era bem necessaé rio que as figuras das
coisas que estaã o no ceé u assim se purificassem; mas, as proé prias coisas celestiais, com
sacrifíécios melhores do que estes. Porque Cristo naã o entrou num santuaé rio feito por maã os,
figura do verdadeiro, poreé m, no mesmo ceé u, para agora comparecer, por noé s, perante a face de
Deus" (Hb 9:22-24).

O Meio Siclo de Resgate


Os versíéculos 11 a 16, inclusive, tratam do dinheiro das expiaçoã es para a congregaçaã o.
Todos tinham de pagar da mesma maneira. "O rico naã o aumentaraé , e o pobre naã o diminuiraé da
metade do siclo, quando derem a oferta ao SÊNHOR, para fazer expiaçaã o por vossas almas". Na
questaã o doresgate todos saã o postos ao mesmo níével. Pode haver uma grande diferença em
conhecimento, de experieê ncia, de aptidaã o, de progresso, de zelo e de dedicaçaã o, poreé m o
fundamento de expiaçaã o eé igual para todos. O grande apoé stolo dos gentios e o mais deé bil
cordeiro do rebanho de Cristo estaã o no mesmo níével no que se refere aà expiaçaã o. ÊÉ uma
verdade muito simples e feliz ao mesmo tempo. Nem todos podem ser igualmente fervorosos e
abundar em frutos; poreé m o fundamento soé lido e eterno do repouso do crente eé "o precioso
sangue de Cristo" (1 Pe 1:19), e naã o a dedicaçaã o ou abundaê ncia de frutos. Quanto mais
compenetrados estivermos da verdade e poder destas coisas tanto mais frutos daremos.
Bendito seja Deus, sabemos que todos os Seus direitos foram cumpridos e os nossos
votos satisfeitos por Ãquele que era ao mesmo tempo o representante dos Seus direitos e o
Êxpoente da Sua graça, o mesmo que consumou a obra de expiaçaã o sobre a cruz e estaé agora aà
destra de Deus. Nisto existe doce descanso para o coraçaã o e a conscieê ncia. Ãexpiaçaã o eé a
primeira coisa que alcançamos, e nunca mais a perdemos de vista. Por muito extenso que se j a
o curso da nossa inteligeê ncia, por muito rica que seja a nossa experieê ncia, por muito elevado
que seja o dom da nossa piedade, teremos sempre de nos retirar para a doutrina simples,
divina, inalteraé vel e fortalecedora doutrina do O SÃNGUÊ. Ãssim tem sido sempre na histoé ria
do povo de Deus o assim eé e assim seraé em todos os tempos. Os mais dotados e instruíédos
servos de Cristo teê m regressado sempre com regozijo a "esta ué nica fonte de delíécias", na qual
os seus espíéritos sequiosos beberam quando conheceram o Senhor; e o caê ntico eterno da
Igreja, na gloé ria, seraé : "Ãquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados"
(Ãpl:5). Ãs cortes do ceé u ressoaraã o para sempre com a doutrina gloriosa do sangue.

A Pia de Cobre
Nos versíéculos 17 a 21 temos a "pia de cobre com a sua base" — o vaso da purificaçaã o e
a sua base. Êstas duas coisas saã o sempre mencionadas conjuntamente (veja-se capíétulos
30:28; 38:8; 40:11). Êra nesta pia que os sacerdotes lavavam as maã os e os peé s, e desta forma
mantinham aquela pureza que era essencial ao cumprimento das suas funçoã es sacerdotais.
Naã o significava, de modo nenhum, uma nova questaã o do sangue; mas simplesmente um ato
mediante o qual se mantinham em aptidaã o para o serviço sacerdotal e o culto.
"Ê Ãraã o e seus filhos nela lavaraã o as suas maã os e os seus peé s. Quando entrarem na
tenda da congregaçaã o, lavar-se-aã o com aé gua, para que naã o morram, ou quando se chegarem ao
altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao SÊNHOR" (versíéculo 20). Naã o pode
haver verdadeira comunhaã o com Deus se a santidade pessoal naã o for diligentemente mantida.
"Se dissermos que temos comunhaã o com ele e andarmos em trevas, mentimos e naã o
praticamos a verdade" (1 Jo 1:6). Êsta santidade pessoal soé pode proceder da açaã o da Palavra
de Deus nas nossas obras e nos nossos caminhos:"... pela palavra dos teus laé bios me guardei
das veredas do destruidor" (Sl 17:4). O nosso enfraquecimento constante no ministeé rio
sacerdotal pode ser causa de negligenciarmos o uso conveniente da pia de cobre. Se os nossos
caminhos naã o saã o submetidos aà noçaã o purificadora da Palavra de Deus — se continuarmos em
busca ou na praé tica de alguma coisa que, segundo o testemunho da nossa proé pria conscieê ncia,
eé claramente condenada pela Palavra de Deus, o nosso caraé ter sacerdotal careceraé certamente
de poder. Ã perseverança deliberada no mal e o verdadeiro culto sacerdotal saã o de todo
incompatíéveis. "Santifica-os na verdade; a tua palavra eé a verdade" (Jo 17:17). Se houver em
noé s impureza, naã o podemos gozar a presença de Deus. O efeito da Sua presença seraé entaã o
convencer-nos do mal pela luz santa da Sua Palavra. Poreé m, quando, mediante a graça,
sabemos purificar os nossos caminhos, acautelando-nos segundo a Palavra de Deus, entaã o
estamos moralmente em estado de gozar a Sua presença.
O leitor perceberaé imediatamente que se abre aqui um vasto campo de verdade praé tica
e como a doutrina da pia de cobre eé largamente apresentada no Novo Testamento. Oh! que
todos aqueles que teê m o privileé gio de poê r os peé s nos aé trios do santuaé rio com vestidos
sacerdotais e de se aproximarem do altar de Deus, par exercer o sacerdoé cio, mantenham as
maã os e os peé s limpos pelo uso da verdadeira pia de cobre!
Talvez seja interessante notar que a pia de cobre com a Sua base era feita "dos espelhos
das mulheres que se ajuntaram, ajuntando-se aà porta da tenda da congregaçaã o" (capíétulo
38:8). Êste fato eé cheio de significado. Êstamos sempre prontos a ser como o homem que
"contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se
esqueceu de como era" (Tg 1:28). O espelho da natureza nunca poderaé dar-nos uma vista clara
e permanente da nossa verdadeira condiçaã o. "Ãquele, poreé m, que atenta bem para a lei
perfeita da liberdade e nisso persevera, naã o sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra,
este tal seraé bem-aventurado no seu feito" (Tg 1:25). Ãquele que recorre continuamente aà
Palavra de Deus e a deixa falar ao seu coraçaã o e aà sua conscieê ncia seraé mantido na atividade
santa da vida divina.

Um Grande Sumo Sacerdote


à eficaé cia do ministeé rio sacerdotal de Cristo estaé intimamente ligada com a açaã o
penetrante e purificadora da Palavra de Deus. "Porque a palavra de Deus eé viva, e eficaz, e
mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ateé a divisaã o da alma, e do
espíérito, e das juntas e medulas, e eé apta para discernir os pensamentos e intençoã es do
coraçaã o. Ê naã o haé criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estaã o nuas e
patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar." Ê o apoé stolo inspirado acres centa
imediatamente; "Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que
penetrou nos ceé us, retenhamos firmemente a nossa confissaã o. Porque naã o temos um sumo
sacerdote que naã o possa compadecer-se das nossas fraquezas; poreé m um que, como noé s, em
tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança, ao trono da graça, para
que possamos alcançar misericoé rdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno" (Hb 4:12-16).
Quanto mais vivamente sentirmos o fio da palavra de Deus, tanto mais apreciaremos o
ministeé rio misericordioso e gracioso do nosso Sumo Sacerdote. Êstasduas coisas andam
juntas. Saã o os companheiros inseparaé veis da senda do cristaã o. O Sumo Sacerdote simpatiza
com as fraquezas que a Palavra de Deus descobre e expoã e: Êle eé um Sumo
Sacerdote "fiel" e "misericordioso". Por isso, soé nos podemos aproximar do altar na
medida em que fazemos uso da pia de cobre. O culto deve ser sempre oferecido no poder da
santidade. Ê necessaé rio perdermos de vista a natureza, tal qual eé refletida num espelho, e
estarmos ocupados inteiramente com Cristo, conforme no-Lo apresenta a Palavra de Deus. ÊÉ
soé desta forma que "as maã os e os peé s", as obras e os nossos caminhos saã o purificados, segundo
a purificaçaã o do santuaé rio.

A Santa Unção
Os versíéculos 22 e 23 tratam "do azeite da santa unçaã o", com a qual eram ungidos os
sacerdotes com todos os utensíélios do santuaé rio.
Nesta unçaã o discernimos uma figura das vaé rias graças do Êspíérito Santo, as quais se
acharam em Cristo em toda a sua plenitude divina. "Todos os teus vestidos cheiram a mira, a
aloeé s e a caé ssia, desde os palaé cios de marfim de onde te alegram" (SI 45:8). "Como Deus ungiu
a Jesus de Nazareé com o Êspíérito Santo e com virtude" (Ãt 10:38). Todas as graças do Êspíérito
Santo, em sua perfeita fragraê ncia, se concentraram em Cristo; e eé somente d'Êle que podem
emanar. Quanto aà Sua humanidade, foi concebido do Êspíérito Santo; e, antes de entrar no Seu
ministeé rio pué blico, foi ungido com o Êspíérito Santo; e, finalmente, havendo tomado o Seu lugar
nas alturas, derramou sobre o Seu corpo, a Igreja, os dons preciosos do Êspíérito, em testemu-
nho da redençaã o efetuada (veja-se Mt 1.20; 3:16-17; Lc 4:18-19; Ãt 2:33; 10:45-46; Êf 4:8-13).
ÊÉ como aqueles que estaã o associados com este bendito e eternamente glorificado
Senhor que os crentes saã o feitos participantes dos dons e graças do Êspíérito Santo; e, aleé m
disso, eé na medida em que andam em intimidade com Êle que gozam ou emitem a Sua
fragraê ncia.
O homem naã o regenerado naã o conhece estas coisas. "Naã o se ungiraé com ele a carne do
homem" (versíéculo 32). Ãs graças do Êspíérito nunca poderaã o ser ligadas com a carne, porque o
Êspíérito Santo naã o pode reconhecer a natureza. Nem um soé dos frutos do Êspíérito foi jamais
produzido no solo esteé ril da natureza. Ê necessaé rio nascer de novo (Jo 3:7). Ê soé como unidos
com o novo homem, como sendo parte da nova criaçaã o, que podemos conhecer alguma coisa
dos frutos do Êspíérito Santo.
ÊÉ inué til procurar imitar esses frutos e virtudes. Os mais belos frutos que jamais
cresceram no campo da natureza, no seu mais alto grau de cultivo — os traços mais amaé veis
que a natureza pode apresentar— devem ser inteiramente rejeitados no santuaé rio de Deus.
"Naã o se ungiraé com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme a sua
composiçaã o: santo eé ,e seraé santo para voé s. O homem que compuser tal perfume como este, ou
que dele puser sobre um estranho, seraé extirpado dos seus povos". Naã o deve haver imitaçaã o
da obra do Êspíérito: tudo tem que ser do Êspíérito: inteiramente e realmente do Êspíérito.
Demais, aquilo que eé do Êspíérito naã o deve ser atribuíédo ao homem:"... o homem natural naã o
compreende as coisas do Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode entendeê -
las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14).
Num dos caê nticos dos degraus haé uma alusaã o magníéfica a este azeite da unçaã o. "Oh!
quaã o bom e quaã o suave é", diz o salmista, "que os irmaã os vivam em uniaã o! ÊÉ como o oé leo
precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Ãraã o, e que desce aà orla das suas
vestes" (Sl 133:1- 2). Os proé prios vestidos do chefe da casa sacerdotal, depois de ele haver
sido ungido com o azeite da santa unçaã o, devem mostrar os seus preciosos efeitos. Que oleitor
possa experimentar o poder desta unçaã o, e conhecer o que eé ter "a unçaã o do Santo" e ser
selado com o Êspíérito Santo da promessa! (lJo2:20;Êf 1:13). Nada tem valor, segundo a
apreciaçaã o de Deus, salvo aquilo que estaé ligado com Cristo, e tudo aquilo que estiver assim
ligado com Êle pode receber a santa unçaã o.

O Perfume bemTemperado, Puro e Santo


No ué ltimo paraé grafo deste capíétulo, taã o rico em ensinos, temos o "perfume temperado,
santo e puro". Êste perfume precioso apre-senta-hos as perfeiçoã es incomensuraé veis e
ilimitadas de Cristo. Naã o eé prescrita a quantidade de cada ingrediente, porque as virtudes de
Cristo, as belezas e perfeiçoã es que se acham concentradas na Sua adoraé vel Pessoa, saã o
ilimitadas. Soé a mente infinita de Deus pode medir as perfeiçoã es infindas d'Ãquele em quem
habita a plenitude da Divindade; e durante o curso de toda a eternidade essas gloriosas
perfeiçoã es continuaraã o a desenrolar-se aà vista dos santos e anjos prostrados em adoraçaã o. De
vez em quando, aà medida que novos raios de luz emanam desse Sol de gloé ria divina, os aé trios
do ceé u, nas alturas, e os vastos campos da criaçaã oabaixo dos ceé us, ressoaraã o com vibrantes
Ãleluias Ãquele que era, e que eé e que sempre seraé o objeto de louvor de todas as classes de
entes criados com inteligeê ncia.
Poreé m naã o soé naã o era prescrita a quantidade dos ingredientes que entravam na
composiçaã o do incenso, como eé dito que de cada um será igual o peso. Cada aspecto de beleza
moral achou em Jesus o seu lugar e a sua justa proporçaã o. Nenhuma quantidade se interpunha
ou se chocava com a outra; tudo era "temperado, puro e santo" e exalava um odor taã o
fragrante que ningueé m senaã o Deus podia apreciaé -lo.
"Ê dele, moendo, o pisaraé s, e dele poraé s diante doTestemunho, na tenda da
congregaçaã o, onde eu virei a ti; coisa santíéssima vos seraé ". Êxiste um significado profundo e
extraordinaé rio na expressaã o "o pisaraé s". Ênsina-nos que cada simples movimento na vida de
Cristo, cada uma das mais pequenas circunstaê ncias, cada açaã o, cada palavra, cada olhar, cada
gesto, cada rasgo, cada feiçaã o do Seu rosto, esparge um odor produzido por proporçaã o igual—
o peso de todas as virtudes que compunham o Seu caraé ter era igual. Quanto mais pisado era o
perfume, tanto mais se manifestava a sua rara e esquisita composiçaã o.
"...O incenso que faraé s conforme a composiçaã o deste, naã o o fareis para voé s mesmos;
santo seraé para o SÊNHOR. O homem que fizer tal como este para cheirar seraé extirpado do seu
povo". Êste perfume fragrante estava destinado exclusivamente para o Senhor. O seu lugar
estava "diante do testemunho". Êxiste em Jesus alguma coisa que soé Deus pode apreciar. De
certo, todo o coraçaã o crente pode aproximar-se da Sua incomparaé vel Pessoa e achar inteira
satisfaçaã o para os seus mais ardentes e profundos desejos; contudo, depois de todos os
remidos terem esgotado a medida da sua compreensaã o, depois de os anjos terem contemplado
em eê xtase as gloé rias imaculadas do homem Cristo Jesus, taã o ardentemente quanto a sua visaã o
lhes permite, existe n'Êle qualquer coisa que soé Deus pode profundar e apreciar. Nenhuma
visaã o humana ou angeé lica poderia jamais discernir devidamente cada partíécula desse perfume
primorosamente " pisados". Ã terra tampouco podia oferecer uma esfera proé pria aà
manifestaçaã o do seu divino e celestial poder.
Resumo
Ãssim, pois, chegaé mos, no nosso raé pido estudo, ao fim de uma parte distinta do livro do
ÊÊ xodo. Começamos pela "arca do concerto" ateé que chegaé mos ao "altar do cobre";
retrocedemos do altar de cobre e chegaé mos aà "santa unçaã o"; e oh! que divagaçaã o esta, se taã b
somente for feita aà luz infalíével do Êspíérito Santo, em vez da companhia vacilante da luz da
imaginaçaã o humana!
Que divagaçaã o, contanto que seja feita naã o por entre as sombras de uma dispensaçaã o
que acabou, mas no meio das gloé rias e das poderosas atraçoã es do Filho de Deus,
representadas por estas coisas! Se o leitor ainda naã o fez esta divagaçaã o, veraé mais do que
nunca o seu afeto atraíédo para Cristo se a fizer; teraé uma maior concepçaã o da Sua gloé ria, da
Sua beleza, da Sua exceleê ncia e do Seu poder para sanar a conscieê ncia e satisfazer o coraçaã o
sedento; os seus olhos estaraã o fechados para as atraçoã es do mundo e os ouvidos naã o prestaraã o
atençaã o aà s pretensoã es e promessas da terra. Êm suma, estaraé pronto a pronunciar o ameé m
fervoroso aà s palavras do apoé stolo (1 Co 16:22), quando disse: "SÊ ÃLGUÊÉ M NÃÃ O ÃMÃ ÃO
SÊNHOR JÊSUS CRISTO SÊJÃ ÃNÃÉ TÊMÃ; MÃRÃNÃTÃ" (¹).
__________________
(¹) É interessante notar o lugar que ocupa este anátema aterrador. Acha-se no final de uma longa epístola,
no decorrer da qual o apóstolo teve de reprimir alguns pecados dos mais grosseiros e vários erros de doutrina. Quão
solene e significativo é, portanto, o fato de que quando anuncia o seu anátema não o lança contra aqueles que
haviam introduzido esses erros e pecados, mas sim contra todo aquele que não ama ao Senhor Jesus Cristo. Por que é
isto assim' É acaso porque o Espírito de Deus faz pouco caso dos erros ou pecados' Seguramente que não; toda a
epístola nos revela os Seus pensamentos quanto a estes males. A verdade é que quando o coração está cheio de amor
para com o Senhor Jesus Cristo, existe uma salvaguarda positiva contra toda a espécie de falsa doutrina e má
conduta. Se alguém não ama a Cristo não se pode calcular quais as ideias que possa adoptar ou o caminho que
possa seguir. Logo, a forma do anátema e o lugar que ocupa na epístola.
— CÃPIÉTULO 31 —

O SERVIÇO
Bezalel e Aoliabe
Os primeiros versíéculos deste breve capíétulo recordam a chamada divina e os
qualificativos de "Bezalel" e"Ãoliabe" para fazerem o trabalho da congregaçaã o. "Depois, falou o
SÊNHOR a Moiseé s, dizendo: Êis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de
Hur, da tribo de Judaé . Ê o enchi do Êspíérito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de
cieê ncia em todo o artifíécio... e eis que eu tenho posto com ele a Ãoliabe, o filho de Ãisamaque,
da tribo de Daã , e tenho dado sabedoria ao coraçaã o de todo aquele que eé saé bio de coraçaã o, para
que façam tudo que eu tenho ordenado". Quer seja para a obra do tabernaé culo, na antiguidade,
ou para "a obra do ministeé rio", agora, eé necessaé rio que aqueles que saã o empregados nela
sejam divinamente escolhidos, divinamente chamados, divinamente qualificados e
divinamente nomeados; e tudo deve ser feito segundo o mandamento de Deus. Naã o estava
dentro das atribuiçoã es do homem selecionar, chamar, qualificar ou nomear os obreiros para a
obra do tabernaé culo; nem tampouco o pode fazer para a obra do ministeé rio. Demais, ningueé m
podia presumir de se nomear a si proé prio para a obra do tabernaé culo; nem tampouco ningueé m
pode agora nomear-se a si proé prio para a obra do ministeé rio. Êra tudo, eé e deve ser
absolutamente da competeê ncia divina. Pode haver quem corra por seu proé prio impulso ou
quem seja enviado por colegas; mas naã o se esqueça que todos aqueles que correm sem serem
enviados por Deus seraã o mais cedo ou mais tarde cobertos de vergonha e confusaã o. Tal eé a saã
doutrina que nos eé sugerida pelas palavras "eu tenho chamado", "eu tenho posto", "eu tenho
dado", "eu tenho ordenado". Ãs palavras de Joaã o Batista, "o homem naã o pode receber coisa
alguma senaã o lhe for dada do ceé u", seraã o sempre verdadeiras. O homem tem, pois, muito
pouco em que se vangloriar, menos ainda de que invejar ao seu proé ximo.
Êxiste uma liçaã o ué til a tirar da comparaçaã o deste capíétulo com o capíétulo 4 de Geé nesis:
"Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e de ferro" (versíéculo 22). Os descendentes de
Caim eram dotados de talento profano para fazer de uma terra maldita e cheia de gemidos um
lugar agradaé vel sem a presença de Deus. "Bezalel" e "Ãoliabe" pelo contraé rio foram dotados
com períécia divina para embelezar um santuaé rio que devia ser santificado e abençoado pela
presença divina e a gloé ria do Deus de Israel.
Gostaria de pedir ao leitor que f izesse aà sua proé pria conscieê ncia a seguinte pergunta:
Consagro eu o que quer que possuo de períécia ou energia aos interesses da Igreja, que eé o
lugar de habitaçaã o de Deus, ou ao embelezamento de um mundo íémpio e sem Cristo 1? Naã o
diga em seu coraçaã o "naã o sou divinamente chamado ou dotado para a obra do ministeé rio".
Note-se que embora todos os israelitas naã o fossem Bezaleles ou Ãoliabes todos podiam servir
os interesses do santuaé rio. Êxistia uma porta aberta para todos poderem comunicar. Ê assim eé
agora. Cada um tem um lugar para ocupar, um ministeé rio a cumprir, uma responsabilidade a
desempenhar; e tanto o leitor como eu estamos, neste proé prio momento, promovendo os
interesses da Casa de Deus — O Corpo de Cristo, a Igreja — ou cooperando nos planos íémpios
de um mundo que ainda estaé manchado com o sangue de Cristo e o sangue de todos os santos
maé rtires. Oh! ponderemos profundamente estas coisas, na presença d'Ãquele que esquadrinha
os coraçoã es, a Quem ningueé m pode enganar e de Quem todos saã o conhecidos.

O Sábado é o Dia do Senhor


Êste capíétulo termina com uma alusaã o aà instituiçaã o do saé bado. Êm capíétulo 16 fez-se
refereê ncia ao saé bado em relaçaã o com o manaé ; foi expressamente ordenado em capíétulo 20,
quando o povo foi formalmente posto sob a lei; e aqui encontramo-lo outra vez em relaçaã o
com o estabelecimento do tabernaé culo. Sempre que a naçaã o de Israel eé apresentada em
qualquer posiçaã o especial ou reconhecida como povo colocado sob uma responsabilidade
especial, entaã o o saé bado eé introduzido. Consideremos atentamente o dia e o modo em que o
saé bado devia ser observado, assim como o fim com que foi instituíédo em Israel. "Portanto,
guardareis o saé bado, porque santo eé para voé s; aquele que o profanar certamente morrerá;
porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo.
Seis dias se faraé obra, poreé m o sétimo dia eé o saé bado do descanso, santo ao SÊNHOR; qualquer
que no dia do saé bado fizer obra, certamente morrerá". Isto eé claro e categoé rico, quanto o pode
ser qualquer coisa, e estabelece "o seé timo dia" e nenhum outro; proíébe positivamente, sob
pena de morte, toda a espeé cie de trabalho neste dia. ÊÉ impossíével iludir o sentido claro destas
palavras. Ê recorde-se que naã o existe sequer uma linha da Êscritura Sagrada que prove que o
saé bado foi alterado ou que os princíépios estritos da sua guarda hajam sido, no míénimo,
moderados. Se existe alguma prova nas Êscrituras em contraé rio, seraé bom que o leitor se
certifique que ela existe de fato.
Mas, vejamos agora se os cristaã os professos guardam de fato o saé bado no dia e segundo
a maneira que Deus ordenou. Seria perder tempo em provar que naã o o fazem. Bom, quais saã o
as consequeê ncias de uma simples quebra do saé bado? "Ãquele que o fizer certamente morrerá;
será extirpado".
Mas, dir-se-aé , naã o estamos debaixo da lei, mas, sim, debaixo da graça. Bendito seja Deus
por essa doce segurança! Êstiveé ssemos noé s debaixo da lei e naã o haveria ningueé m em toda a
Cristandade que naã o tivesse caíédo, desde longo tempo, sob o juíézo, ateé mesmo soé por causa da
quebra do saé bado. Poreé m, se estamos debaixo da graça, qual eé o dia que nos pertencei Ê
seguramente o primeiro dia da semana, "o dia do Senhor". Êste dia eé o dia da Igreja, o dia da
ressurreiçaã o de Jesus, que, havendo passado o saé bado na sepultura, ressuscitou vitorioso
sobre todos os poderes das trevas, conduzindo assim o Seu povo da antiga criaçaã o e de tudo
quanto lhe pertence para a nova geraçaã o, da qual Êle eé a Cabeça, e da qual o primeiro dia da
semana eé a justa expressaã o.
Êsta distinçaã o merece ser examinada com oraçaã o aà luz das Êscrituras. Um simples
nome pode ter um grande significado e pode tambeé m naã o significar nada. No caso que
estamos tratando existe muito mais significado entre "o saé bado" e "dia do Senhor" que muitos
cristaã os parece compreederem. ÊÉ evidente que o primeiro dia da semana tem um lugar na
Palavra de Deus que naã o eé dado a nenhum outro dia. Nenhum outro dia eé designado por este
majestoso tíétulo, "o dia do Senhor". Bem sei que haé pessoas que negam que em Ãpocalipse
1:10 se faz alusaã o ao primeiro dia da semana; poreé m, por minha parte estou completamente
convencido de que a critica saã e saã exagesis garantem, e, ainda mais, exigem a aplicaçaã o dessa
passagem naã o ao dia do advento de Cristo em gloé ria, mas ao dia da Sua ressurreiçaã o de entre
os mortos.
Mas, certamente, o dia do Senhor nunca eé chamado o saé bado. Muito longe disso, f ala-se
destes dois dias, repetidas vezes, na sua proé pria clareza. Por isso, o leitor deve evitar os dois
extremos. Êm primeiro lugar deveraé evitar o legalismo, que com tanta frequeê ncia se acha
associado com o termo "saé bado"; e, em segundolugar, deveraé testificar contra toda a tentativa
que tenha por fim desonrar o dia do Senhor ou rebaixaé -lo ao níével de um dia ordinaé rio. O
crente estaé livre da maneira mais completa da observaê ncia de "dias e meses, e tempos e anos"
(Gl 4:10). Ã sua uniaã o com Cristo ressuscitado libertou-o completamente de todas estas
superstiçoã es e observaê ncias. Mas, por muito verdadeiro que seja tudo isto, "o primeiro dia da
semana" ocupa um lugar especial no Novo Testamento. Que o cristaã o lhe deê esse lugar! ÊÉ um
doce e feliz pivileé gio e naã o um jugo penoso.
O espaço naã o me permite entrar em mais pormenores sobre este assunto tão
interessante. Ãliaé s, jaé foi tratado nas paé ginas precedentes deste volume. Quero terminar os
meus comentaé rios frisando um ou dois pontos particulares acerca do contraste entre "o
saé bado" e o "dia do Senhor".
1) O saé bado era "o sétimo dia": o dia do Senhor éo primeiro.
2) O saé bado era uma experieê ncia da condiçaã o de Israel; o dia do Senhor eé aprova da
aceitaçaã o da Igreja inteiramente numa base incondicional.
3) O saé bado pertencia aà antiga criaçaã o; o dia do Senhor pertence aà nova criaçaã o.
4) O saé bado era um dia de repouso corporal para o judeu; o dia do Senhor eé um dia de
repouso espiritual para o cristaã o.
5) Se um judeu trabalhasse no saé bado devia ser condenado aà morte jseocristaã o naã o
trabalhar no dia do Senhor daé uma fraca prova de vida. Quer dizer, se naã o trabalhar em
proveito das almas, para a extensaã o da gloé ria de Cristo e a disseminaçaã o da verdade. De fato, o
cristaã o consagrado, que possui algum dom, encontra-se geralmente mais fatigado ao fim do
dia do Senhor do que em qualquer outro dia da semana; pois como poderaé ele descansar
enquanto as almas perecem ao seu redor?
6) O judeu devia ficar, segundo a lei, na sua tenda no dia de saé bado; o cristaã o eé levado
pelo espíérito do evangelho a sair para assistir aà assembleia pué blica ou para anunciar o
evangelho aos pecadores perdidos.
Que o Senhor nos conceda podermos descansar com mais naturalidade no nome do
Senhor Jesus Cristo e trabalhar mais vigorosamente por Êle! Deveríéamos confiar com o
Êspíérito de uma criança e trabalhar com a energia de um homem.
— CÃPIÉTULO 32 —

APOSTASIA
Vamos agora contemplar alguma coisa diferente daquilo que tem ateé aqui ocupado a
nossa atençaã o. "Ãs figuras das coisas que estaã o no ceé u" (Heb. 9:23) passaram perante os
nossos olhos — Cristo em Sua gloriosa Pessoa, em Seus deveres de misericoé rdia e em Sua obra
perfeita, tal como saã o representados no tabernaé culo e nos seus utensíélios míésticos. Havemos
estado em espíérito no monte e ouvido as proé prias palavras de Deus, as doces declaraçoã es dos
pensamentos celestiais, afeiçaã o e propoé sitos, dos quais Jesus eé "o Ãlfa e o Omega, o princíépio e
o fim, o primeiro e o ué ltimo".

"Faze-nos Deuses"
Mas agora somos convidados a descer outra vez aà terra para contemplar a ruíéna que o
homem faz de tudo em que poã e a sua maã o.
"Mas, vendo o povo que Moiseé s tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Ãraã o,
e disseram-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses que vaã o adiante de noé s; porque enquanto a este
Moiseé s, a este homem que nos tirou da terra do Êgito, naã o sabemos o que lhe sucedeu"
(versíéculo 1). Que degradaçaã o se manifesta aqui! Faze-nos deuses! Ãbandonavam Jeovaé para se
porem debaixo da tutela de deuses feitos por maã os de homens. Nuvens escuras e neé voas
espessas cobriam o monte; eles estavam fartos de esperar por aquele que se havia ausentado e
de se apoiarem num braço invisíével, embora real. Imaginaram que um deus feito com "um
buril" valia mais que o Senhor; preferiam um bezerro que podiam ver em vez do Deus invisíével
mas presente em toda a parte — uma falsificaçaã o visíével aà realidade invisíével!
Desgraçadamente, sempre, assim tem sucedido na histoé ria do homem. O coraçaã o
humano deseja alguma coisa que se possa ver— aquilo que responda e satisfaça os sentidos.
Soé a feé pode ficar firme "como vendo o invisíével" (Hb 11:27). Ãssim, em todos os tempos, os
homens teê m tido a tendeê ncia para levantar imitaçoã es das realidades divinas e de se apoiarem
nelas. Vemos assim como as falsificaçoã es da religiaã o se teê m multiplicado ante os nossos olhos.
Ãquelas coisas que sabemos, por meio da autoridade da Palavra de Deus, serem realidades
divinas e celestiais teê m sido transformadas em imitaçoã es humanas e terrenas pela Igreja
professa. Cansada de se apoiar sobre um braço invisíével, de confiar num sacrifíécio invisíével, de
recorrer a um sacerdote invisíével, de esperar a direçaã o de um chefe invisíével, tem-se ocupado
em "fazer" estas coisas; e, desta forma, atraveé s dos seé culos, tem estado ocupada, de "buril" na
maã o, talhando e gravando uma coisa apoé s outra, de sorte que agora jaé naã o achamos mais
analogia entre muita coisa que vemos em torno de noé s e o que lemos na Palavra de Deus do
que aquela que existe entre um bezerro "fundido" e o Deus de Israel.
"Faze-nos deuses! Que pensamento! O homem convidado a fazer deuses e o povo
disposto a poê r a sua confiança neles! Prezado leitor, olhemos no íéntimo e em torno de noé s e
vejamos senaã o descobrimos algo de semelhante. Lemos a respeito da histoé ria de Israel que
todas estas coisas lhes sobrevieram como figuras, "e estaã o escritas para aviso nosso, para
quem jaé saã o chegados os fins dos seé culos" (ICo 10:11). Procuremos, pois, aproveitar o "aviso".
Ãcordemos que ainda que naã o façamos precisamente "um bezerro de fundiçaã o" nos
prostramos diante dele. O pecado de Israel eé , sem dué vida, um "tipo" de alguma coisa em que
corremos o risco de cair. Sempre que, em nosso coraçaã o, deixamos de nos apoiar exclusiva -
mente em Deus, quer seja no que se refere ao assunto da salvaçaã o, quer no tocante aà s
necessidades da nossa vida, estamos dizendo, em princíépio, "faze-nos deuses". ÊÉ
desnecessaé rio dizer que, em noé s mesmos, naã o somos de nenhuma maneira melhores que Ãraã o
ou os filhos de Israel; e se eles honraram um bezerro em lugar do Senhor, noé s corremos o risco
de atuar segundo o mesmo princíépio e de manifestar o mesmo espíérito. Ã nossa ué nica
salvaguarda eé estarmos muito tempo na presença de Deus. Moiseé s sabia que "o bezerro de
fundiçaã o" naã o era Jeovaé , e portanto naã o o reconheceu. Poreé m, quando nos afastamos da
presença divina eé impossíével prever os erros crassos em que podemos cair e todo o mal em
que podemos ser arrastados.

As Realidades da Fé
Noé s somos chamados a viver pela feé ; nada podemos ver pela vista dos sentidos. Jesus
subiu aà s alturas e eé -nos dito para esperarmos pacientemente pelo Seu aparecimento. Ã
Palavra de Deus, aplicada ao coraçaã o na energia do Êspíérito Santo, eé o fundamento de confi-
ança em todas as coisas, temporais e espirituais, presentes e futuras. Deus fala-nos do
sacrifíécio cumprido por Cristo; noé s cremos pela graça e pomos as nossas almas sob a eficaé cia
deste sacrifíécio, e sabemos que nunca seremos confundidos.
Fala-nos de um sumo sacerdote, que penetrou nos ceé us, Jesus, o Filho de Deus, cuja
intercessaã o eé toda poderosa; noé s, pela graça, cremos e apoiamo-nos confiadamente sobre o
Seu poder e sabemos que seremos salvos para todo o sempre. Fala-nos do Chefe vivo com
Quem estamos unidos no poder da vida de ressurreiçaã o, e de Quem nenhuma influeê ncia
angeé lica, humana ou diaboé lica nos poderaé separar e, pela graça, cremos e apoiamo-nos a esse
Chefe bendito com feé simples e sabemos que nunca havemos de perecer. Fala-nos do
aparecimento glorioso do Filho, vindo dos ceé us; noé s, pela graça, cremos e procuramos
experimentar o poder purificador desta "esperança bendita" (Tt 2:13); e sabemos que naã o
sofreremos nenhum desengano. Fala-nos de uma herança incorruptíével, incontaminaé vel, e que
naã o se pode murchar, guardada nos ceé us para noé s, e que estamos guardados na virtude de
Deus (1 Pe 1:4-5); de posse da qual herança entraremos a seu devido tempo; e, pela graça,
cremos e sabemos que naã o seremos confundidos. Diz-nos que os cabelos da nossa cabeça
estaã o todos contados e que nada nos faltaraé ; e mediante a graça cremos e gozamos uma doce
tranquilidade de coraçaã o.
Ê assim eé , ou, pelo menos, assim quisera Deus que fosse. Poreé m o inimigo estaé sempre
ativo, buscando fazer com que estas realidades divinas sejam desprezadas por noé s — Procura
induzir-nos a pegar no "buril" da incredulidade e fazermos os nossos proé prios deuses.
Vigiemoscontraele; oremos para sermos guardados dele; testifiquemos contra ele; atuemos
contra ele; e desta forma ele seraé confundido, Deus seraé glorificado e noé s proé prios seremos
abundantemente abençoados.

O Bezerro de Fundição
Quanto a Israel, neste capíétulo, a sua rejeiçaã o deDeus foi a mais completa. "ÊÃraã o lhes
disse: Ãrrancai os pendentes de ouro, que estaã o nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos
filhos, e de vossas filhas e trazei-mos... e ele os tomou das suas maã os, e formou o ouro comum
buril, e fez dele um bezerro de fundiçaã o. Êntaã o, disseram: Estes são teus deuses, oé lsrael, que te
tiraram da terra do Êgito. ÊÃraã o, vendo isto, edificou um altar diante dele; e Ãraã o apregoou, e
disse: Ãmanhaã seraé festa ao SENHOR" (versíéculos 2 a 5). Isto era poê r Deus de parte e substituíé-
Lo por um bezerro. Quando puderam proclamar que um bezerro os tinha tirado do Êgito,
abandonaram, evidentemente, toda a ideia da presença e do caraé ter do verdadeiro Deus.
"Depressa" se desviaram do caminho que Deus lhes tinha ordenado, para cometerem um erro
taã o grosseiro e espantoso! Ê Ãraã o, o irmaã o e companheiro de Moiseé s no seu cargo, conduziu-os
neste extravio; e poê de dizer diante de um bezerro: "Ãmanhaã seraé festa ao SÊNHOR"! Como isto eé
triste! Quaã o humilhante! Deus destituíédo por um íédolo! Um objeto "esculpido por artifíécio e
imaginaçaã o dos homens" foi posto em lugar do "Senhor de toda a terra"!

A Ira do SENHOR e a Intercessão de Moisés


Tudo isto implicava renué ncia deliberada, da parte de Israel, aà sua relaçaã o com o Senhor.
Haviam abandonado o Senhor; e, por consequeê ncia, vemos que Êle os considerou no terreno
que escolheram. "Êntaã o, disse o SÊNHOR a Moiseé s: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste
subir do Êgito, se tem corrompido. Ê depressa se tem desviado do caminho que eu lhes tinha
ordenado... Tenho visto a este povo, e eis que eé povo obstinado. Ãgora, pois, deixa-me, que o
meu furor se acenda contra eles, e os consuma: e eu farei de ti uma grande naçaã o" (versíéculos
7a 10). Ãqui estava uma porta aberta para Moiseé s; e aqui ele manifesta uma virtude pouco
vulgar e semelhança de espíérito com aquele Profeta semelhante a si que o Senhor devia
suscitar. Moiseé s recusa ser ou ter qualquer coisa sem o povo. Ãrgumenta com Deus com
fundamento na Sua proé pria gloé ria, e repoã e o povo sobre Êle com estas palavras tocantes: "O
SÊNHOR, porque se acende o teu furor contra o teu povo, que tu tiraste da terra do Êgito com
grande força e com forte maã o?-Por que haã o de falar os egíépcios, dizendo: Para mal os tirou,
para mataé -los nos montes e para destruíé-los da face da terral Torna-te da ira do teu furor,
earrepende-te deste mal contra otcu povo. Lembra-te de Ãbraaã o, de Isaque, e de Israel, teus
servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa semente
como as estrelas do ceé us e darei aà vossa semente toda esta terra, de que tenho dito, para que a
possuam por herança eternamente" (versíéculos 11 a 13).
Isto era uma defesa poderosa. Ãgloé ria de Deus, a justificaçaã o do Seu santo nome, o
cumprimento do Seu juramento: tais saã o os argumentos em que Moiseé s se firma para rogar ao
Senhor para aplacar a Sua ira. Naã o podia achar na conduta ou caraé ter de Israel argumento de
defesa; mas achou-o no Proé prio Deus.

As Tábuas da Lei Quebradas


O Senhor havia dito a Moiseé s: "O teu povo, que fizeste subir; poreé m Moiseé s responde ao
Senhor, "o teu povo, que tu tiraste...". Êra o povo do Senhor, apesar de tudo; e o Seu nome, a Sua
gloé ria, e o Seu juramento estavam ligados com o seu destino. Logo que o Senhor Se liga com
um povo, o Seu caraé ter eé emprenhado e a feé esperaraé sempre n'Êle sobre este soé lido
fundamento. Moiseé s esquece-se completamente de si. Ã sua alma estaé inteiramente ocupada
com pensamentos acerca da gloé ria do Senhor e do Seu povo. Ditoso servo!
Como haé taã o poucos como ele! Ê quando o contemplamos nesta cena, percebemos que
estaé infinitamente abaixo do bendito Mestre. Ã diferença entre eles eé infinita! Moiseé s desceu
do monte. "Ê vendo o bezerro e as danças, acendeu-se o furor de Moiseé s e arremessou as
taé buas das suas maã os e quebrou-as ao peé do monte" (versíéculo 19). O concerto fora violado e
os seus acordos foram feitos em bocados; e, entaã o, havendo, em justa indignaçaã o, executado o
juíézo, "disse ao povo: Voé s pecastes grande pecado; agora, poreé m, subirei ao SÊNHOR;
porventura, farei propiciaçaã o por vosso pecado".

Cristo, nosso Mediador


Quaã o diferente eé tudo isto do que vemos em Cristo! Veio do seio do Pai naã o com as
taé buas daleiemSuas maã os, mas com a lei em Seu coraçaã o: naã o veio para conhecer a condiçaã o
do povo, mas com perfeito conhecimento do que essa condiçaã o era. Demais, em vez destruir os
acordos do concerto e executar o juíézo, engrandeceu a lei e honrou-a e levou sobre a Sua
adoraé vel Pessoa, na cruz, o juíézo do Seu povo; e, havendo cumprido tudo, voltou para o ceé u,
naã o com um "porventura farei propiciaçaã o por vossos pecados", mas para depositar sobre o
trono da Majestade nas alturas os acordos imperecíéveis de uma expiaçaã o realizada. Isto
constitui uma diferença imensa e verdadeiramente gloriosa.
Graças a Deus, naã o temos necessidade de seguir com ansiedade o nosso Mediador para
saber se cumpriraé a nossa redençaã o e se apaziguaraé a justiça ofendida. Naã o, Êle jaé fez tudo. Ã
Sua presença nas alturas declara que toda a obra foi consumada. Nos limites deste mundo,
prestes a partir, e com toda a calma de um vencedor consciente da vitoé ria—embora tivesse
ainda que atravessar a cena mais sombria — ,poê de dizer "Êu glorifiquei-te na terra, tendo
consumado a obra que me deste a fazer" (Jo 17:4). Bendito Salvador! Bem podemos adorar-Te
triunfar com o lugar de gloé ria e honra com que a justiça eterna Te coroou. O lugar mais
elevado no ceé u pertence-Te, e os Teus santos esperam apenas o tempo em que "ao nome de
Jesus se dobre todo o joelho.. .e toda a líéngua confesse que Jesus Cristo eé o Senhor, para gloé ria
de Deus Pai" (Fl 2:10-11). Deus e o Governo Moral

Deus e o Governo Moral


No fim deste capíétulo o Senhor proclama os Seus direitos no governo moral nas
seguintes palavras: "Ãquele que pecar contra mim, a este riscarei eu do meu livro. Vai, pois,
agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo iraé adiante de ti; poreé m,
no dia da minha visitaçaã o, visitarei, neles, o seu pecado". Êis aqui Deus no governo, naã o Deus
no evangelho. Ãqui Deus fala de riscar opecador; no evangelho veê -Se tirando opecado. A
diferença eé grande!
O povo deve ser conduzido, por intermeé dio de Moiseé s, pela maã o de um anjo. Êste
estado de coisas era bem diferente daquele que havia existido desde o Êgito ao Sinai. Israel
perdera todo o direito baseado na lei, e por isso soé restava a Deus retroceder aà Sua soberania e
dizer: "... terei misericoé rdia de quem eu tiver misericoé rdia."
- CÃPIÉTULO 33 –

MEDIAÇÃO
E RESTAURAÇÃO
A Tenda da Congregação
O Senhor recusa acompanhar o seu povo aà terra prometida: ".. .eu naã o subirei no meio
de ti, porquanto eé s povo obstinado, para que naã o te consuma eu no caminho" (versíéculo 3). No
princíépio deste livro, o Senhor poê de dizer: "Tenho visto atentamente a afliçaã o do meu povo,
que estaé no Êgito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as
suas dores". Poreé m, agora tem que dizer: "Tenho visto a este povo, e eis que eé povo obstinado".
Um povo afligido eé objetivo da graça, mas um povo obstinado eé necessaé rio que sej a
humilhado. O clamor de Israel oprimido havia obtido resposta por meio da manifestaçaã o da
graça; mas o caê ntico idoé latra de Israel deve ser atendido pela voz de severa admoestaçaã o.
"Povo obstinado eé s; se um momento subir no meio de ti, de consumirei; poreé m agora
tira de ti os teus atavios, para que eu saiba o que te hei-de fazer"(versíéculo 5). ÊÉ soé quando
somos despojados dos atavios da nossa natureza que Deus pode tratar conosco. Um pecador
despido pode ser revestido; poreé m um pecador coberto de ornamentos deve ser despido. ÊÉ
necessaé rio que sejamos despojados de tudo que pertence ao ego, antes de podermos ser
revestidos daquilo que pertence a Deus.
"Êntaã o, os filhos de Israel se despojaram dos seus atavios, ao peé do monte Horebe". Ãli
estavam, ao peé deste memoraé vel monte, a sua festa e os seus caê nticos haviam sido trocados
por amargas lamentaçoã es, os seus atavios postos de parte, as taé buas da lei em pedaços. Tal era
a sua condiçaã o quando Moiseé s se dispoê s a agir imediatamente de acordo com o seu estado.
Ãgora jaé naã o podia reconhecer o povo no seu caraé ter corpoé reo. Ã assembleia havia-se
contaminado inteiramente levantando um íédolo de sua proé pria fabricaçaã o em lugar de Deus —
um bezerro em lugar do Senhor.
"Ê tomou Moiseé s a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial,
e chamou-lhe a tenda da congregaçaã o." Ãssim o campo foi rejeitado como o lugar da presença
divina. Deus jaé naã o estava ali, nem podia estar por mais tempo, porque havia sido deposto por
uma invençaã o humana. Um novo centro de reuniaã o foi, pois, estabelecido. "Ê aconteceu que
todo aquele que buscava o SÊNHOR, saiu aà tenda da congregaçaã o que estava fora do arraial ".
Êis aqui um princíépio precioso da verdade que a mente espiritual facilmente
compreenderaé . O lugar que Cristo ocupa agora eé "fora do arraial" (Hb 13:13), e noé s somos
convidados a ir ao Seu encontro, "fora do arraial". ÊÉ necessaé ria muita sujeiçaã o aà Palavra de
Deus para se poder saber exatamente o que significa realmente o arraial, e muito poder
espiritual para se poder sair dele; e muito mais ainda para se poder, quando se estaé "longe",
atuar a favor dos que estaã o dentro do arraial no poder combinado da santidade e da graça — a
santidade que nos separa da contaminaçaã o do arraial e a graça que nos habita a atuar a favor
daqueles que estaã o dentro dele.
"Ê falava o SÊNHOR a Moiseé s face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois,
tornava ao arraial, mas o moço Josueé , filho de Num, seu servidor, nunca se apartava do meio da
tenda". Moiseé s manifesta maior energia espiritual que o seu servo Josueé . Ê muito mais faé cil
tomar uma posiçaã o de separaçaã o do campo do que proceder acertadamente par com aqueles
que estaã o dentro dele.

O Senhor Diz: Irá a Minha Presença...


"Ê disse Moiseé s ao SÊNHOR: Êis que tu me dizes: Faze subir a este povo, poreé m naã o me
fazes saber a quem haé s de enviar comigo; e tu disseste: Conheço-te por teu nome; tambeé m
achaste graça aos meus olhos". Moiseé s solicita a companhia do Senhor como prova de o povo
haver achadograf a aos Seus olhos. Se fosse apenas uma questaã o de justiça, o Senhor soé podia
consumir o povo, estando no seu meio, porque era um "povo obstinado". Poreé m, fala de graça
em relaçaã o com o Mediador e a proé pria obstinaçaã o do povo torna-se um argumento para pedir
a Sua presença: "Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, vaé agora o Senhor no
meio de nós, poraue este povo é obstinado; poreé m, perdoa a nossa iniquidade e o nosso pecado,
e toma-nos pela tua herança" (capíétulo 34:9). Êis uma oraçaã o naã o apenas bela mas tocante. O
"povo obstinado" pedia a graça ilimitada e a pacieê ncia inexauríével de Deus. Soé Êle podia
suportaé -lo.
"Disse, pois: Iraé a minha presença contigo para te fazer descansar". Parte preciosa!
Bendita esperança! Ã presença de Deus conosco durante a travessia do deserto e no fim
descanso eterno! Graça para suprir as nossas necessidades presentes e a gloé ria como a nossa
sorte vindoura! Os nossos coraçoã es podem bem exclamar: "ÊÉ bastante, Senhor!"
— CÃPIÉTULO 34 —

O MONTE HOREBE
E O EVANGELHO
Êm capíétulo 34 Deus daé as segundas taé buas da lei, naã o para serem quebradas, mas para
serem guardadas na arca, em cima da qual, como jaé fizemos notar, Jeovaé ia tomar o Seu lugar
como Senhor de toda a terra no governo moral. "Êntaã o, ele lavrou duas taé buas de pedra, como
as primeiras; e levantou-se Moiseé s pela manhaã de madrugada, e subiu ao monte Sinai, como o
SÊNHOR lhe tinha ordenado; e tomou as duas taé buas de pedra na sua maã o. Ê o SÊNHOR desceu
numa nuvem e se poê s junto a ele; e ele apregoou o nome do SÊNHOR. Passando, pois, o SÊNHOR
perante a sua face, clamou: JÊOVÃÉ , o SÊNHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e
grande em beneficeê ncia e verdade; que guarda a beneficieê ncia em milhares; que perdoa a
iniquidade, e a transgressaã o, e o pecado; que ao culpado naã o tem por inocente; que visita a
iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos ateé aà terceira e quarta geraçaã o" (versíéculos
4 a 7). Lembremo-nos que Deus eé visto aqui no Seu governo moral do mundo e naã o como eé
visto na cruz — naã o como brilha na face de Jesus Cristo —, naã o como eé proclamado no
evangelho da Sua graça. Êis uma exibiçaã o de Deus no evangelho: "Ê tudo isso proveé m de Deus,
que nos reconciliou consigo mesmo, por Jesus Cristo e nos deu o ministeé rio da reconciliaçaã o,
isto eé , Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, NÃÃ O LHÊS IMPUTÃNDO os seus
pecados e poê s em nósapalavra da reconciliação" (2 Co 5:18-19). Naã o ter "ao culpado por
inocente" e naã o "imputar o pecado" saã o termos que nos apresentam duas ideias de Deus
totalmente diferentes. Visitar "a iniquidade" e tiraé -la naã o eé certamente a mesma coisa. Ã
primeira eé Deus agindo em Seu governo; a segunda eé Deus no evangelho. Êm capíétulo 3 da 2 a
epíéstola aos Coríéntios, o apoé stolo poã e em contraste o "ministeé rio" mencionado em ÊÊ xodo,
capíétulo 34, como "o ministeé rio" do evangelho. O leitor faraé bem em estudar esse capíétulo com
atençaã o. Ãprenderaé com essa liçaã o que todo aquele que considera o ponto de vista do caraé ter
de Deus dado a Moiseé s, no Monte Horebe, como explicando o evangelho, deve ter realmente
uma compreensaã o muito imperfeita do que eé o evangelho. Êu naã o posso descobrir os segredos
profundos do coraçaã o do Pai nem na criaçaã o, nem mesmo no governo moral. O filho proé digo
poderia ter achado o seu lugar nos braços d'Ãquele que Se revelou no Monte Sinais Joaã o
poderia ter inclinado a sua cabaça no coraçaã o desse Senhora Seguramente que naã o. Poreé m,
Deus revelou-Se na face de Jesus Cristo; Êle nos revelou, com harmonia divina, todos os Seus
atributos na obra da cruz. Foi ali que "a misericoé rdia e a verdade se encontraram, a justiça e a
paz se beijaram" (SI 85:10). O pecado eé completamente tirado e o pecador que creê
perfeitamente justificado "PÊLO SÃNGUÊDÃ CRUZ".
Quando vemos Deus assim revelado, temos apenas, aà semelhança de Moiseé s, de inclinar
a cabeça aà terra e adorar — atitude que conveé m a um pecador perdoado e recebido na
presença de Deus!
— CÃPIÉTULOS 35 a 40 —

A CONSTRUÇÃO
DO TABERNÁCULO
O Desprendimento Voluntário
Êstes capíétulos conteê m uma recapitulaçaã o de diversas partes do tabernaé culo e seu
mobiliaé rio; e visto que jaé expliquei o que creio ser o significado das partes mais proeminentes,
eé desnecessaé rio acrescentar mais.
Êxistem, contudo, duas coisas nesta parte do livro das quais podemos tirar instruçoã es
muitos ué teis, a saber, em primeiro lugar os sacrifícios voluntários do povo; e, em segundo, a
obediência implícita do povo a respeito da obra do tabernaé culo do testemunho.
"Êntaã o, toda a congregaçaã o dos filhos de Israel saiu de diante de Moiseé s, e veio todo
homem, a quem o seu coraçaã o moveu, e todo aquele cujo espíérito voluntariamente o impeliu, e
trouxeram a of ertaalçada ao SÊNHOR, para a obra da tenda da congregaçaã o, e para todo o seu
serviço, e para as vestes santas. Ê, assim, vieram homens e mulheres, todos dispostos de
coraçaã o; trouxeram fivelas, e pendentes, e aneé is, e braceletes, e todo vaso de ouro; e todo
homem oferecia oferta de ouro ao SÊNHOR, e todo homem que se achou com pano azul, e
pué rpura, e carmesim, e linho fino, e peê los de cabras, e peles de carneiro tintas de vermelho, e
peles de texugos, os trazia; todo aquele que oferecia oferta alçada de prata ou de metal, a
trazia; por oferta alçada ao SÊNHOR; e todo aquele que se achava com madeira de cetim, a
trazia para toda a obra do serviço. Ê todas a mulheres saé bias de coraçaã o fiavam com as maã os, e
traziam o fiado, o pano azul, a pué rpura, o carmesim e o linho fino. Ê todas as mulheres, cujo
coraçaã o se moveu em sabedoria, fiavam os peê los das cabras. Ê os príéncipes traziam pedras
sardoé nicas, e pedras de engaste para oeé fode epara o peitoral, e especiarias, e azeite para a
luminaé ria, e para o oé leo da unçaã o, e para o incenso aromaé tico. Todo homem e mulher, cujo
coraçaã o voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o SÊNHOR
ordenara se fizesse pela maã o de Moiseé s" (capíétulo 35:20 a 29). Ê mais adiante lemos: "Ê
vieram todos os saé bios que faziam toda a obra do santuaé rio, cada um da obra que fazia, e
falaram a Moiseé s, dizendo: O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o
SÊNHOR ordenou se fizesse... porque tinham material bastante para toda a obra que havia de
fazer-se" (capíétulo 36:4 a 7).
Que quadro encantador da dedicaçaã o aà obra do santuaé rio! Naã o foram precisos esforços,
apelos ou argumentos solenes par constranger os coraçoã es do povo a darem. Oh! naã o: os
coraçoã es foram voluntariamente movidos. Êste era o proé prio princíépio. Ã corrente de
sacrifíécios voluntaé rios vinha dos coraçoã es: "Príéncipes", "homens", "mulheres", todos sentiam
que era para eles um doce privileé gio darem ao Senhor, naã o com um coraçaã o estreito ou maã o
mesquinha, mas de um modo principesco trouxeram "muito mais do que bastava."
A Obediência Implícita
Êm segundo lugar, quanto aà obedieê ncia do povo estaé escrito: "Conforme tudo o que o
SENHOR ordenara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel toda a obra. Viu, pois, Moiseé s toda a
obra, e eis que a tinham feito; como o SENHOR ordenara, assim a fizeram; entaã o, Moiseé s os
abençoou" (capíétulo 39:42 a 43). O Senhor havia dado instruçoã es minuciosas relativas a toda a
obra do tabernaé culo. Cada estaca, cada base, cada colchete, cada cordaã o estavam exatamente
nos seus lugares. Naã o houve lugar disponíével para os recursos, a razaã o ou o sentido comum do
homem. O Senhor naã o delineou um plano deixando ao homem a tarefa de o completar; nem
deixou nenhuma margem para o homem fazer introduzir as usas combinaçoã es. De modo
nenhum. "Ãtenta, pois, que o faças conforme ao modelo que te foi mostrado no monte (ÊÊ x 25:40,
26:30; Hb8:5).
Êste mandato naã o deixava lugar para invençoã es humanas. Se fosse permitido ao
homem fazer uma simples estaca, essa estaca estaria, seguramente, fora de lugar, no parecer
de Deus. Podemos ver em capíétulo 32 o que "o buril" do homem produz. Graças a Deus, o buril
naã o teve lugar no tabernaé culo. Neste caso eles fizeram precisamente o que lhes fora dito—
nada mais, nada menos. Êis aqui uma liçaã o proveitosa para a igreja professa! Êxistem muitas
coisas na histoé ria de Israel que devemos procurar seriamente evitar: as suas murmuraçoã es de
impacieê ncia, os seus votos de legalismo, e a sua idolatria; poreé m na sua devoçaã o e na sua
obedieê ncia podemos imitaé -los. Que a nossa devoçaã o seja mais sincera e a nossa obedieê ncia
mais implíécita. Podemos afirmar com toda a segurança que se tudo naã o tivesse sido feito
conforme ao modelo mostrado "no monte" naã o poderíéamos ler, no final do livro, que "entaã o, a
nuvem cobriu a tenda da congregaçaã o, e a gloé ria do SÊNHOR encheu o tabernaé culo, de maneira
que Moiseé s naã o podia entrar na tenda da congregaçaã o, porquanto a nuvem ficava sobre ela, e a
gloé ria do SÊNHOR enchia o tabernaé culo" (capíétulo 40:34-35). O tabernaé culo era, para todos os
efeitos, conforme ao modelo divino, e, portanto, podia ser cheio da glória divina.
Êxistem tomos de instruçoã es nesta verdade. Êstamos sempre prontos a considerar a
Palavra de Deus insuficiente ateé para os míénimos pormenores ao culto e serviço de Deus. Mas
isto eé um grande erro, erro que tem sido a origem de abundantes males e erros na igreja
professa. Ã Palavra de Deus eé suficiente para todas as coisas, quer seja no que se refere aà
salvaçaã o e conduta pessoal, quer no tocanteaà ordemegovernodaÃssembleé ia. "Toda
Êscritura,divinamente inspirada eé proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para
toda boa obra" (2 Tm 3:16-17). Êstas palavras resolvem toda a questaã o. Se a Palavra de Deus
prepara umb.omemperfeitamente"p>aratoda boaobra", segue-se,necessariamente, que tudo o
que naã o se acha nas suas paé ginas naã o pode ser uma boa obra. Demais, recordemos que a gloé ria
divina naã o pode ligar-se com aquilo que naã o for conforme ao modelo divino.
CONCLUSÃO
Prezado leitor, acabamos de percorrer juntos as paé ginas deste livro precioso. Tenho a
confiança que temos recolhido algum fruto do nosso estudo. Confio que temos recolhido
alguns pensamentos edificantes acerca de Jesus e do Seu sacrifíécio, aà medida que avançamos. ÊÉ
verdade que os nossos pensamentos mais elevados naã o podem ser mais que mesquinhos, e
que o que percebemos de mais profundo eé muito superficial comparado com a intençaã o de
Deus em todo este livro. ÊÉ agradaé vel recordarmos que, pela graça, estamos no caminho que
conduz aà quela gloé ria em que conheceremos como somos conhecidos; e onde os nossos
coraçoã es se deleitaraã o com o resplendor do semblante d'Ãquele que eé o princíépio e o fim de
todos os caminhos de Deus, quer seja na criaçaã o, na provideê ncia ou na redençaã o. Êncomendo-
o, pois, ao Senhor em corpo, alma e espíérito, orando para que possa compreendera profunda
bem-aventurança de ter a sua parte em Cristo, e para que seja guardado na esperança da Sua
vinda gloriosa. Ãmeé n.

FIM

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