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MACKINTOSH
ESTUDOS SOBRE
O LIVRO DE ÊXODO
2a edição
PREFÁCIO DO AUTOR
À TERCEIRA EDIÇÃO EM INGLÊS
NÃO posso deixar sair do prelo outra edição desta obra sem dizer uma ou duas palavras de
gratidão ao Senhor pela Sua graça em usar um instrumento tão fraco na divulgação da verdade e
edificação do Seu povo. Bendito seja o Seu nome, pois pode servir-Se de um livro ou de um simples
tratado para realização dos Seus propósitos: reveste de poder espiritual páginas e parágrafos que
nos poderiam parecer confusos esem interesse. Que Ele continue a abençoar esta obra para glória
do Seu nome, é o nosso desejo.
___________________________
Os editores.
— CAPÍTULO 1 —
A REDENÇÃO
Os Caminhos de Deus para com Israel
Pela graça de Deus, vamos agora encetar o estudo do Livro do ÊÊ xodo, cujo assunto
principal eé a RÊDÊNÇÃÃ O. Os primeiros cinco versíéculos relembram as cenas finais do livro
precedente. Os obje-tivos favorecidos do amor de Deus saã o postos perante noé s, e depressa nos
vemos conduzidos pelo autor inspirado aà açaã o do livro.
No nosso estudo sobre o Livro do Geé nesis, vimos que o que levou os irmaã os de Joseé a
descerem ao Êgito foi o seu procedimento para com ele. Êste fato deve ser considerado sob
dois aspectos distintos. Êm primeiro lugar podemos ver nele uma liçaã o solene com o
procedimento de Israel para com Deus; e em segundo lugar, temos nele uma liçaã o cheia de
estíémulo no desenrolar dos planos de Deus a favor de Israel.
Ê, no tocante ao procedimento de Israel para com Deus, poderaé haver coisa mais solene
do que seguir ateé ao fim os resultados da maldade que cometeram contra aquele em quem a
mente espiritual discerne um síémbolo admiraé vel do Senhor Jesus Cristo? Totalmente
indiferentes aà angué stia da sua alma, os filhos de Jacoé entregaram Joseé nas maã os dos
incircuncisos, e qual foi o resultado1? Desceram ao Êgito para aíé passarem por aquelas
profundas e dolorosas experieê ncias de coraçaã o taã o graé fica e comovedoramente descritas nos
capíétulos finais do Geé nesis. Ê isto naã o foi tudo: uma eé poca longa de provaçaã o estava reservada
aos seus descendentes, no proé prio paíés onde Joseé encontrara um caé rcere.
Poreé m, Deus intervinha em tudo isto, assim como o homem, e dispunha-Se a usar das
Suas prerrogativas, que consiste em fazer com que do mal saia bem. Os irmaã os de Joseé
puderam vendeê -lo aos ismaelitas; os ismaelitas, por sua vez, venderam-no a Potif ar; e este
lançou-o na prisaã o, mas o Senhor estava, acima de tudo, cumprindo os Seus poderosos
desíégnios. Ã coé lera do homem redundaraé em Seu louvor (Sl 76:10). Ãinda naã o tinha chegado a
altura em que os herdeiros estariam preparados para a herança, nem a herança estava
preparada para os herdeiros. Os fornos de tijolo iriam constituir uma escola severa para os
descendentes de Ãbraaã o; enquanto que nos montes e vales da terra prometida (Dt 11:11) se
acumulava a iniquidade dos amorreus.
As Parteiras Hebréias
Os versíéculos finais deste capíétulo oferecem-nos uma liçaã o edificante com a conduta
dessas mulheres tementes a Deus, Sifraé e Puaé . Ãrrostando com a ira do rei naã o executaram o
seu plano cruel e porissoDeus lhes fezcasas."...aos que me honram, honrarei" (1 Sm 2:30).
Recordemos sempre esta liçaã o e atuemos de acordo com ela.
— CÃPIÉTULO 2 —
O NASCIMENTO DE MOISÉS
O Fracasso de Satanás
Êsta parte do Livro do ÊÊ xodo abunda em princíépios profundos de verdade divina—
princíépios que podemos subdividir da seguinte forma: o poder de Satanaé s, o poder de Deus e o
poder da feé .
No ué ltimo versíéculo do primeiro capíétulo lemos: "Êntaã o, ordenou Faraoé a todo o seu
povo, dizendo: Ã todos os filhos que nascerem lançareis no rio". Êste era o poder de Satanaé s. O
rio era o lugar da morte; e, por meio da morte, o inimigo procurou frustrar os propoé sitos de
Deus. Tem sido sempre assim. Ã serpente sempre tem vigiado com olhar maligno os
instrumentos que Deus estaé prestes a usar para realizar os Seus desíégnios. Vejamos o caso de
Ãbel, em Geé nesis, capíétulo 4. Ã serpente naã o estava espreitando aquele vaso de Deus para o
poê r de parte por meio da morte? Vejamos o caso de Joseé , em Geé nesis, capíétulo 37. Ãíé o inimigo
procura poê r o homem escolhido por Deus num lugar de morte. Vejamos o caso da "semen te
real", em 2 Croê nicas, capíétulo 22; a matança promovida por Herodes, em Mateus 2; e a morte
de Cristo, em Mateus 27. Êm todos estes casos vemos o inimigo procurando, com a morte,
interromper a corrente de atuaçaã o divina.
Mas, bendito seja Deus, haé qualquer coisa depois da morte. Toda a esfera de açaã o
divina, pelo que respeita aà redençaã o, estaé para aleé m dos limites do domíénio da morte. Quando
o poder de Satanaé s se esgota eé que o de Deus começa a mostrar-se. Ã sepultura eé o limite da
atividade de Satanaé s; mas eé aíé que começa tambeé m a atividade divina. Isto eé uma verdade
gloriosa. Satanaé s tem o poder da morte; poreé m, Deus eé o Deus dos vivos e daé a vida que estaé
fora do alcance e poder da morte—uma vida na qual Satanaé s naã o pode tocar. O coraçaã o
encontra doce refrigeé rio nesta verdade, num mundo onde reina a morte. Ã feé pode contemplar
calmamente Satanaé s empregando a plenitude do seu poder; ela pode apoiar-se sobre a
potente intervençaã o de Deus na ressurreiçaã o. Pode postar-se junto da sepultura que acabou de
fechar-se sobre um ente amado e beber dos laé bios d'Ãquele que eé "a ressurreiçaã o e a vida" a
elevada garantia de uma imortalidade gloriosa. Êla sabe que Deus eé mais forte que Satanaé s e
pode portanto esperar, serenamente, a manifestaçaã o desse poder superior, e enquanto assim
espera encontra a sua vitoé ria e a sua paz. Temos um nobre exemplo deste poder da feé nos
primeiros versíéculos do capíétulo que estamos considerando.
Os Pais de Moisés
"Ê f oi-se um varaã o da casa de Levi e casou com uma filha de Levi. Ê a mulher concebeu,
e teve um filho, e, vendo que ele era formoso, escondeu-o treê s meses. Naã o podendo, poreé m,
mais escondeê -lo, tomou uma arca de juncos e a betumou com betume e pez; e, pondo nela o
menino, a poê s nos juncos aà borda do rio. Ê a irmaã do menino postou-se de longe, para saber o
que lhe havia de acontecer" (versíéculos la4).
Ãqui temos uma cena de tocante interesse, qualquer que seja o ponto de vista por que a
encaramos. Na realidade, era simplesmente o triunfo da feé sobre as influeê ncias da natureza e
da morte, deixando lugar para que o Deus da ressurreiçaã o agisse na Sua esfera e no caraé ter
que Lhe eé proé prio. ÊÉ certo que o poder do inimigo estaé patente, visto a criança ter de ser
colocada em tal posiçaã o — em princíépio, uma posiçaã o de morte. Ê, aleé m disso, era como se
uma espada atravessasse o coraçaã o da maã e ao ver o seu filho precioso exposto aà morte.
Satanaé s podia agir e a natureza podia chorar; contudo, o Vivificador dos mortos estava detraé s
daquela nuvem sombria e a feé via-O ali iluminando o cume dessa nuvem com os Seus raios
brilhantes e vivificadores. "Pela feé , Moiseé s, jaé nascido, foi escondido treê s meses por seus pais,
porque viram que era um menino formoso; e naã o temeram o mandamento do rei" (Hb 11:23).
A Arca de Junco
Ãssim, esta digna filha de Leviensina-nos uma santa liçaã o. Ã sua arca de juncos
betumada com betume epez proclama a confiança que ela tinha na verdade que havia qualquer
coisa que, como no caso de Noeé , "pregoeiro da justiça", podia defender aquele "menino formo-
so" das aé guas da morte. Devemos noé s supor que esta "arca" fosse apenas uma invençaã o
humanai Foi inventada por previsaã o e habilidade do homem'?- Foi a criança colocada na arca
por inspiraçaã o do coraçaã o da maã e, que alimentava a doce mas ilusoé ria esperança de salvar, por
esse meio, o seu ente querido da morte 1? Se a nossa resposta a estas interrogaçoã es fosse
afirmativa perderíéamos, quanto a mim, o ensino precioso de todo o assunto. Como admitir a
suposiçaã o que a "arca" fosse inventada por quem naã o via outro destino para o seu filho senaã o
afogando-o? Naã o haé outra maneira de encarar essa significante estrutura senaã o como um
saque da feé apresentado na tesouraria do Deus da ressurreiçaã o. Ãquela arca foi inventada pela
feé , como vaso de misericoé rdia, para conduzir o "menino formoso" atraveé s das aé guas da morte
ao lugar que lhe era designado pelos propoé sitos imutaé veis do Deus vivo. Quando con-
templamos esta filha de Levi curvada sobre aquela "arca" de juncos, que a sua feé havia
construíédo, despedindo-se do seu filho, concluíémos que ela segue as mesmas pisadas que seu
pai Ãbraaã o deu quando se levantou de diante do seu morto para comprar a cova de Macpela
aos filhos de Hete (Geê nesis, capíétulo 23). Naã o vemos nela apenas a energia da natureza que se
debruça sobre o objeto das suas afeiçoã es prestes a cair nas garras do rei dos terrores. Naã o, mas
reconhecemos nela a energia da feé que a habilitou a postar-se, como vencedora, junto da
margem do caudal frio da morte, observando o vaso escolhido de Jeovaé ateé que passe em
segurança para a outra margem.
Sim, prezado leitor, a feé pode voar ousadamente a essas regioã es que estaã o muito
afastadas deste mundo de morte e vasta desolaçaã o; e com o seu olhar de aé guia atravessar
essas nuvens que se acumulam sobre a sepultura e ver como o Deus da ressurreiçaã o cumpre
os Seus desíégnios eternos numa esfera onde os dardos da morte naã o podem jamais chegar. Êla
pode postar-se sobre a Rocha dos Seé culos e esperar em atitude de triunfo enquanto as vagas
da morte bramam e se desfazem a seus peé s.
Deixai-me perguntar: que valor tinha o mandamento do rei para algueé m que possuíéa
este princíépio celestiais
Que importaê ncia tinha esse mandamento para uma mulher que podia permanecer
calmamente ao lado da sua "arca de juncos" e encarar impavidamente a morteS O Êspíérito
Santo responde: "naã o temeram o mandamento do rei" (Hb 11:26). O espíérito que sabe um
pouco o que eé ter comunhaã o com Ãquele que ressuscita os mortos nada receia e pode fazer
coro triunfante com 1 Coríéntios 15: "Onde estaé , oé morte, o teu aguilhaã oS Onde estaé , oé inferno, a
tua vitoriai Ora, o aguilhaã o da morte eé o pecado, e a força do pecado eé a lei. Mas graças a Deus,
que nos daé a vitoé ria por nosso Senhor Jesus Cristo". Pode pronunciar estas palavras de triunfo
sobre Ãbel martirizado, sobre Joseé no fundo da cova, sobre Moiseé s na arca de j uncos, sobre "a
semente real" exterminada por maã o de Ãtaé lia e sobre os inocentes de Beleé m, assassinados por
ordem do cruel Herodes; e, acima de tudo, no tué mulo do Capitaã o da nossa salvaçaã o.
Contudo, eé possíével que alguns naã o possam distinguir a obra da feé na arca de juncos.
Ãlguns talvez naã o possam ultrapassar a compreensaã o da irmaã de Moiseé s, a qual se "postou de
longe, para saber o que lhe havia de acontecer". ÊÉ que a "sua irmaã " naã o estava aà altura da maã e
pelo que respeitava aà feé . Sem dué vida, havia nela esse profundo interesse, essa verdadeira
afeiçaã o, que vemos em "Maria Madalena e a outra Maria, assentadas defronte do sepulcro" (Mt
27:61). Poreé m, naquela que fez a arca de juncos havia alguma coisa muito superior ao
interesse ou afeto. Ê certo que a maã e do menino naã o se postou de longe para ver o que havia
de acontecer ao seu filho; e, por isso, aà semelhança do que acontece frequente mente, a
dignidade da feé poderia parecer, no seu caso, indiferença. Poreé m, naã o era indiferença, mas,
sim, verdadeiro engrandecimento da feé . Se o afeto natural naã o a obrigava a ficar junto daquele
ambiente de morte era apenas porque o poder da feé lhe havia confiado uma obra mais nobre
na presença do Deus da ressurreiçaã o. Ã feé dela havia aberto lugar para Deus naquele
ambiente, e Êle manifesta-Se logo duma maneira gloriosa.
A Filha de Faraó
"Ê a filha de Faraoé desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam pela borda do
rio; e ela viu a arca no meio dos juncos e enviou a sua criada, e a tomou. Ê, abrindo-a, viu o
menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixaã o dele e disse: Dos meninos dos
hebreus eé este" (versíéculo 5-6). Ãqui, pois, começa a soar a resposta divina em doce murmué rio
aos ouvidos da feé . Deus intervinha em tudo isto. O racionalismo, o cepticismo, a infidelidade, e
o ateíésmo, podem rir-se desta ideia. Ê a feé tambeé m; mas saã o risos diferentes. Os primeiros
riem com desprezo da ideia da intervençaã o divina num banal passeio duma princesa real pela
margem do rio. Ã segunda ri de cordial contentamento ao pensar que Deus estaé em tudo. Ê, de
fato, se alguma vez Deus interveio em qualquer coisa foi neste passeio da filha do Faraoé ,
embora ela o naã o soubesse.
Uma das mais ditosas ocupaçoã es da alma regenerada eé seguir as pegadas divinas em
circunstaê ncias e acontecimentos que a mente irrefletida atribui ao acaso ou aà fatalidade. Por
vezes a coisa mais banal pode ser um importantíéssimo elo numa cadeia de acontecimentos de
que Deus Se estaé servindo para levar avante os Seus grandiosos desíégnios. Vejamos, por
exemplo, Êster 6:1; que encon-tramos? Um monarca pagaã o que passa uma noite inquieta.
Nada haé de extraordinaé rio nisso, podemos supor; e no entanto, esta circunstaê ncia constitui um
elo numa grande cadeia de acontecimentos providenciais, ao fim da qual surge a maravilhosa
libertaçaã o dos descendentes oprimidos de Israel.
Ãssim sucedeu com a filha do Faraoé e o seu passeio pela margem do rio. Mas ela naã o
pensava que estava ajudando os intentos do "Senhor Deus dos hebreus"! Mal ela sabia que o
bebeé que chorava na arca de juncos viria ainda a ser o instrumento do Senhor para abalar a
terra do Êgito ateé aos seus alicerces! Ê contudo era assim. O Senhor pode fazer com que a
coé lera do homem redunde em Seu louvor (SI 76:10) e restringir o restante dessa coé lera. Como
a verdade deste fato transparece claramente nas palavras que se seguem!
"Êntaã o, disse sua irmaã aà filha de Faraoé : Irei eu a chamar uma ama das hebreé ias, que crie
este menino para tiíé- Ê a filha de Faraoé disse-lhe: Vai. Ê foi-se a moça e chamou a maã e do
menino. Êntaã o, lhe disse a filha de Faraoé : Leva este menino e cria-mo; eu te darei teu salaé rio. Ê
a mulher tomou o menino e criou-o. Ê, sendo o menino jaé grande, ela o trouxe aà filha de Faraoé ,
a qual o adoptou; e chamou o seu nome Moiseé s e disse: Porque das aé guas o tenho tirado"
versíéculos (7a 10).
à feé da maã e de Moiseé s encontra aqui a sua inteira recompensa; Satanaé s fica
embaraçado e a sabedoria maravilhosa de Deus eé revelada. Quem poderia supor que aquele
que havia dito aà s parteiras das hebreé ias "se for filho, matai-o", acrescentando, "a todos os
filhos que nascerem lançareis no rio", havia de ter na sua proé pria corte um desses proé prios
filhos? O diabo foi vencido com as suas proé prias armas, porque Faraoé , de quem queria servir-
se para frustrar os propoé sitos de Deus, foi usado por Deus para alimentar e educar esse
Moiseé s, que havia de ser o Seu instrumento para confundir o poder de Satanaé s. Provideê ncia
notaé vel! Maravilhosa sabedoria! Certamente, "ateé isto procede do Senhor" (Is 28:29).
Possamos noé s confiar n'Êle com mais simplicidade, e entaã o a nossa carreira seraé mais
brilhante e o nosso testemunho mais eficaz.
A Sua Educação
Meditando sobre a histoé ria de Moiseé s eé necessaé rio considerar este grande servo de
Deus debaixo do ponto de vista duplo do seu caraé ter pessoal e o seu caraé ter figurativo.
No caraé ter pessoal de Moiseé s haé muito, muitíéssimo, que aprender. Deus teve naã o soé de
o elevar como de o treinar, dum e doutro modo, durante o longo espaço de oitenta anos:
primeiro na casa da filha do Faraoé e depois "atraé s do deserto". ÃÀ nossa fraca mentalidade
oitenta anos parecem muito tempo para a preparaçaã o dum ministro de Deus. Mas os
pensamentos de Deus naã o saã o os nossos pensamentos. O Senhor sabia que eram necessaé rios
esses dois períéodos de quarenta anos para preparar o Seu vaso eleito. Quando Deus educa
algueé m, faé -lo duma maneira digna de Si e do Seu Santo serviço. O seu trabalho naã o o confia a
noviços. O servo de Cristo tem muitas liçoã es que aprender, deve passar por vaé rios exercíécios e
padecer muitos conflitos em segredo antes de estar realmente apto a agirem pué blico. Ã
natureza humana naã o gosta deste meé todo — prefere evidenciar-se em pué blico a aprender em
particular. Gosta mais de ser contemplada e admirada pelos homens do que de ser disciplina-
da pela maã o de Deus. Poreé m isto naã o serve. Noé s temos que seguir o caminho traçado pelo
Senhor.
à natureza pode precipitar-se no campo das operaçoã es, mas Deus naã o a quer ali. ÊÉ
necessaé rio que aquilo que eé humano seja quebrantado, consumido e posto de lado: o lugar que
lhe compete eé o da morte. Se a natureza teima em entrar em atividade, Deus, na Sua fidelidade
infalíével e na Sua perfeita sabedoria, ordena as coisas de tal maneira que o resultado dessa
atividade se transforma em fracasso e confusaã o. Êle sabe o que haé -de fazer com a nossa
natureza, onde deve ser colocada e como guardaé -la. Oh! que todos possamos estarem mais
íéntima comunhaã o com Deus no que diz respeito aos Seus pensamentos quanto ao "eu" e tudo
que com ele se relaciona. Ãssim cairemos menos em erro, a nossa vida seraé mais fiel e
moralmente elevada, o nosso espíérito estaraé tranquilo e o nosso serviço seraé , entaã o, mais
eficiente.
____________________
(1) Em João 17:21- 23 fala-se da unidade que a Igreja tinha a responsabilidade de manter, mas em que
falhou completamente, e da unidade que Deus realizará infalivelmente e que manifestará em glória.
— CÃPIÉTULO 3 —
No Deserto
"Ê ÃPÃSCÊNTÃVÃ Moiseé s o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiaã ; e levou o
rebanho atraé s do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe" (versíéculo 1). Ãqui temos, pois,
uma mudança admiraé vel na vida de Moiseé s. Lemos em Geé nesis, capíétulo 46:34, que "todo o
pastor de ovelhas eé abominaçaã o para os egíépcios" e no entanto, Moiseé s, que era "instruíédo em
toda a cieê ncia dos egíépcios", eé transferido da corte do Êgito para traé s do deserto para
apascentar um rebanho de ovelhas e preparar-se para o serviço de Deus. Seguramente isto
naã o "eé o costume dos homens" (2 Sm 7:19) nem o curso natural das coisas: eé um caminho
incompreensíével para a carne e o sangue. Noé s havíéamos de pensar que a educaçaã o de Moiseé s
estava terminada logo que se tornou mestre de toda a sabedoria do Êgito, gozando ao mesmo
tempo das vantagens que oferece a este respeito a vida de uma corte. Poderíéamos supor que
um homem tão privilegiado havia de ter naã o apenas uma instruçaã o soé lida e extensa mas
tambeé m uma distinçaã o tal em suas açoã es que o tornariam apto para cumprir toda a espeé cie de
serviço. Poreé m, ver um tal homem, taã o bem d otadoe instruíédo, ser chamado a abandonar a
sua elevada posiçaã o para ir apascentar ovelhas atraé s do deserto, e qualquer coisa
incompreensíével para o homem, qualquer coisa que humilha ateé ao poé o seu orgulho e a sua
gloé ria, mostrando que as vantagens humanas saã o de pouco valor diante de Deus; mais ainda,
que saã o "como esterco", naã o somente aos olhos do Senhor, mas aos olhos de todos aqueles que
teê m sido ensinados na Sua escola (Fp. 3:8).
Êxiste uma diferença enorme entre o ensino humano e o divino. Ãquele tem por fim
cultivar e exaltar a natureza; este começa por a "secar" e a poê r de lado. "Ora, o homem natural
naã o compreende as coisas do Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode
entendeê -las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Podeis esforçar-vos por
educar o homem natural tanto quanto puderdes, sem que jamais consigais fazer dele um
homem espiritual. "O que eé nascido da carne eé carne, e o que eé nascido do Êspíérito eé espíérito"
(Jo 3:6). Se alguma vez um "homem natural" educado poê de esperar ter eê xito no serviço de
Deus, esse tal foi Moiseé s: ele era "instruíédo... e poderoso em suas palavras e obras" (Ãt 7:22); e
todavia teve que aprender alguma coisa "atraé s do deserto" que as escolas do Êgito nunca lhe
haviam ensinado. Paulo aprendeu muito mais na Ãraé bia do que jamais havia aprendido aos
peé s de Gamaliel (¹). Ningueé m pode ensinar como Deus; e eé necessaé rio que todos aqueles que
querem aprender d'Êle estejam a soé s com Êle. Foi no deserto que Moiseé s aprendeu as liçoã es
mais preciosas, mais profundas, mais poderosas e mais duraé veis; e eé ali que devem encontrar-
se todos os que queiram ser formados para o ministeé rio.
______________________
(1) O leitor não deve supor, nem por um momento, que pretendemos com estes comentários depreciar o
valor de uma instrução realmente proveitosa ou a cultura das faculdades intelectuais. De modo nenhum. Se, por
exemplo, o leitor é pai deve adornar a mente de seu filho com conhecimentos úteis: deve ensinar-lhe tudo que poderá
ser utilizado mais tarde no serviço do Mestre: não deve embaraçá-lo com aquilo que ele terá de pôr de parte
seguindo a carreira cristã, nem deve conduzi-lo, com o fim de lhe dar uma educação brilhante, por uma região da
qual é quase impossível sair com uma inteligência imaculada. Seria tão lógico encerrá-lo numa mina de carvão
durante dez anos, com o fim de o pôr em condições de discutir as propriedades da luz e da sombra, como fazê-lo
caminhar sobre o lodaçal da mitologia pagã com o fim de o preparar para a interpretação dos oráculos de Deus ou
de o fazer capaz de pastorear o rebanho de Cristo.
A Sarça
"Ê apareceu-lhe o Ãnjo do SÊNHOR em uma, chama de fogo no meio de uma sarça; e
olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça naã o se consumia. Ê Moiseé s disse: agora me
virarei para laé e verei esta grande visaã o, porque a sarça se naã o queima" (versíéculos 2-3). Êra ef
etivamen-te uma grande visaã o, porque uma sarça ardia e naã o se consumia. Ã corte do Faraoé
nunca poderia oferecer nada de semelhante. Poreé m, era uma visaã o graciosa porque nela era
simbolizada de um modo notaé vel a situaçaã o dos eleitos de Deus. Êles encontra vam-se no meio
do forno do Êgito; eoSenhorrevelava-senomeiode uma sarça ardente. Poreé m, assim como a
sarça se naã o consumia, taã o-pouco eram eles consumidos, porque Deus estava com eles. "O
SÊNHOR dos Êxeé rcitos estaé conosco: o Deus de Jacoé eé o nosso refué gio" (SI 46:7). Ãqui temos
força e segurança, vitoé ria e paz. Deus conosco, Deus em noé s, e Deus por noé s. Isto eé provisaã o
abundante para todas as necessidades.
Naã o haé nada mais interessante e mais instrutivo do que a maneira como aprouve ao
Senhor revelar-Se a Moiseé s na passagem que estamos considerando. Êle ia confiar-lhe o
encargo de tirar o Seu povo do Êgito, para que eles fossem a Sua Ãssembleia, para habitar no
meio deles tanto no deserto como na terra de Canaaã ; e eé do meio de uma sarça que lhe fala.
Síémbolo belo, solene e proé prio do Senhor habitando no meio do Seu povo eleito e resgatado;
"O nosso Deus eé um fogo consumidor" (Hb 12:29)-naã o para MOS consumir, mas para consumir
em noé s e aà nossa volta tudo que eé contra a Sua santidade, e que eé , portanto, um perigo para a
nossa verdadeira e eterna felicidade. "Mui fieé is saã o os teus testemunhos; a santidade conveé m aà
tua casa, SÊNHOR, para sempre" (Salmo 93:5).
O Velho e o Novo Testamento encerram vaé rios casos em que Deus Se manifesta como
"um fogo consumidor": como por exemplo o caso de Nadabe e Ãbiué , em Levíético 10. Tratava-se
de uma ocasiaã o solene. Deus habitava no meio do Seu povo, e queria manter este numa
posiçaã o digna de Si Proé prio. Naã o podia ter feito outra coisa. Naã o seria para Sua gloé ria nem para
proveito dos Seus se Êle tolerasse qualque: coisa, neles incompatíével com a pureza da Sua
presença. O lugar de habitaçaã o de Deus tem que ser santo.
Do mesmo modo, em Josueé , capíétulo 7, temos outra prova notaé vel, no caso de Ãcaã , de
que o Senhor naã o pode sancionar o mal com a Sua presença, qualquer que seja a forma que o
mal possa revestir ou por muito oculto que possa estar. O Senhor eé "um fogo consumi dor", e,
como tal, tinha de agir a respeito de tudo que pudesse manchar a Ãssembleia no meio da qual
habitava. Procurar unir a presença de Deus com o pecado naã o julgado eé o indíécio da
impiedade.
Ãnanias e Safira (Ãtos, 5) daã o-nos a mesma liçaã o. Deus o Êspíérito Santo habitava na
Igreja, naã o somente como uma influeê ncia, mas, sim, como uma pessoa divina, de tal maneira
que ningueé m podia mentir na Sua presença. Ã Igreja era, e eé ainda agora, morada de Deus; e eé
Êle Quem deve governar e julgar no meio dela. Os homens podem reviver em uniaã o a
concupisceê ncia, a impostura e a hipocrisia; mas Deus naã o pode fazeê -lo. Se quisermos que Deus
ande conosco, devemos julgar os nossos caminhos, ou entaã o Êle os julgaraé por noé s (veja 1 Co
11:29-32).
Êm todos estes casos e em muitos mais que podíéamos aduzir, vemos a força destas
palavras solenes, "a santidade conveé m aà tua casa, SÊNHOR, para sempre" (SI 93:5). Para aquele
que a tiver compreendido, esta verdade produziraé sempre sobre ele um efeito moral ideê ntico
aà quele que exerceu sobre Moiseé s: "Naã o te chegues para caé ; tira os teus sapatos de teus peé s;
porque o lugar em que tu estás é terra santa" (versíéculo 5). O lugar da presença de Deus eé
santo, e soé se pode caminhar por ele com os peé s descalços. Deus, habitando no meio do Seu
povo, comunica aà Ãssembleia desse povo um caraé ter de santidade que eé a base de todo o santo
afeto e de toda a santa atividade. O caraé ter da habitaçaã o deriva do caraé ter d'Ãquele que a
habita.
à aplicaçaã o deste princíépio aà Igreja, que eé agora a habitaçaã o de Deus, em Êspíérito, eé da
maior importaê ncia praé tica. Ãssim como eé bem-aventuradamente verdade que Deus habita,
pelo Seu Êspíérito, em cada membro da Igreja, dando deste modo um caraé ter de santidade ao
indivíéduo, eé igualmente certo que Êle habita na Ãssembleia; e, por isso, a Ãssembleia deve ser
santa. O centro em volta do qual os membros se reué nem eé nada menos do que a Pessoa de um
Cristo vivo, vitorioso e glorificado. O poder que os une eé nada menos do que o Êspíérito Santo; e
o Senhor Deus Todo-Poderoso habita neles e entre eles (vedeMt 18:20; 1 Co6:19; 3:16-17; Êf
2:21-22). Se tais saã o a santidade e dignidade que pertencem aà morada de Deus, eé evidente que
nada impuro, quer seja em princíépio, quer na praé tica, deve ser tolerado. Todos os que estaã o
relacionados com esta habitaçaã o deviam sentir a importaê ncia e solenidade destas palavras, "o
lugar em que tu estaé s eé terra santa." "Se algueé m destruir o templo de Deus, Deus o destruiraé "
(1 Co 3:17). Êstas palavras saã o dignas de toda a aceitaçaã o da parte de todos os membros da
Ãssembleia—de cada pedra viva no Seu santo templo! Possamos noé s todos aprender a pisar os
aé trios do Senhor com os peé s descalços!
— CÃPIÉTULO 4 —
A PREPARAÇÃO DO SERVO
As Objeções de Moisés e os Meios de Deus
De novo devemos deter-nos por uns momentos ao peé do monte Horebe, "detraé s do
deserto" (um lugar sadio para a mente espiritual) para vermos manif estar-se de uma maneira
extraordinaé ria a incredulidade do homem e a graça ilimitada de Deus.
"Êntaã o, respondeu Moiseé s e disse: Mas eis que me naã o creraã o, nem ouviraã o a minha
voz, porque diraã o: SÊNHOR naã o te apareceu" (versíéculo 1). Como eé difíécil vencer a incredulidade
do coração do homem, e quaã o penoso eé para ele confiar em Deus! Como o ser humano eé
vagaroso em confiar em Deus! Como eé tardo em se aventurar em qualquer empresa confiando
somente nas promessas de Deus! Tudo eé bom para a natureza, menos isto. Ã cana mais fraca
para os olhos humanos eé considerada pela natureza como infinitamente mais soé lida, como
base da sua confiança, do que a rocha invisíével dos seé culos (Is 26:4). Ã natureza precipitar-se-aé
sem hesitaçaã o para qualquer auxíélio humano ou cisterna rota, em vez de se alimentar da fonte
das aé guas vivas (Jr 2:13,17:13).
Noé s havíéamos de pensar que Moiseé s tinha ouvido e visto o bastante para poê r fim aos
seus receios. O fogo consumidor na sarça que se naã o consumia; a graça de Deus, com toda a
sua condescendeê ncia; os tíétulos preciosos de Deus; a missaã o divina; a certeza da presença de
Deus; todas estas coisas deveriam terafugentado todo o pensamento de temor e comunicado
ao coraçaã o uma segurança firme. Contudo, Moiseé s continua a fazer perguntas, a que Deus
continua a responder; e, como jaé frisaé mos, cada nova pergunta poã e em evideê ncia nova graça.
"Ê o SÊNHOR disse-lhe: Que eé isso na tua maã o?Ê ele disse: Umavara" (versíéculo2).
O Senhor estava disposto a aceitar Moiseé s tal qual ele era e a servir-se do que ele tinha
na maã o. Ã vara, com a qual ele havia conduzido as ovelhas de seu sogro, ia ser usada para
libertar o Israel de Deus, para castigar o Êgito, para abrir atraveé s do mar um caminho do povo
remido do Senhor, e para fazer brotar aé gua da rocha a fim de refrescar as hostes sedentas de
Israel no deserto. Deus serve-se dos instrumentos mais fracos para realizar os Seus planos
mais gloriosos. "Uma vara"; um corno de carneiro (Js 6:5); "um paã o de cevada" (Jz 7:13); "uma
botija de aé gua" (lRs 19:6); "uma funda de pastor" (1 Sm 17:50); tudo, em suma, pode servir
nas maã os de Deus para cumprir a obra que Êle tem projetado. Os homens imaginam que naã o
se pode chegar a grandes resultados senaã o por grandes meios; poreé m naã o eé assim o meé todo
de Deus. Êle tanto pode servir-se de "um bicho" como do sol abrasador; de "uma aboboreira"
como de um vento calmoso (veja-se Jonas 4).
A Vara
Poreé m Moiseé s tinha de aprender uma liçaã o muito importante, tanto a respeito da vara
como da maã o que devia usaé -la. Êle tinha que aprender, e o povo tinha de ser convencido. "Ê Êle
disse: Lança-a na terra. Êle a lançou na terra, e tornou-se em cobra; e Moiseé s fugia dela. Êntaã o
disse o Senhor a Moiseé s: Êstende a tua maã o e pega-lhe pela cauda.(Ê estendeu a sua maã o e
pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na sua maã o). Para que creiam que te apareceu o
SÊNHOR; Deus de seus pais, o Deus de Ãbraaã o, o Deus de Isaque e o Deus de Jacoé " (versíéculo 5).
Trata-se de um sinal profundamente significante. Ã vara tornou-se serpente e Moiseé s fugia
dela assustado; mas, segundo ordem do Senhor, pegou-lhe pela cauda e tornou-se numa vara.
Naã o haé nada mais proé prio do que esta figura para expressar a ideia do poder de Satanaé s
voltado contra si mesmo, e deste fato encontramos numerosos exemplos nos meios que Deus
usa; o proé prio Moiseé s foi um exemplo notaé vel. Ã serpente estaé inteiramente debaixo do poder
de Cristo, e logo que chegar ao fim da sua insensata carreira, seraé lançada no lago de fogo, para
ali receber os frutos da sua obra por toda a eternidade:"... a antiga serpente, "oacusador" e
adversaé rio (Ãp 12:9-10) seraé eternamente aterrado com a vara do ungido de Deus.
A Mão Leprosa
"Ê disse-lhe mais o SÊNHOR: Mete agora a maã o no teu peito; Ê, tirando-a, eis que a sua
maã o estava leprosa, branca como a neve. Ê disse: Torna a meter a tua maã o no teu peito. Ê
tornou a meter a sua maã o no peito; depois tirou-a do peito; e eis que se tornara como a sua
outra carne" (versíéculos 6 a 7). Ã maã o leprosa e a sua purificaçaã o representam o efeito moral
do pecado e a maneira como o pecado foi tirado pela obra perfeita de Cristo. Posta no peito, a
maã o limpa tornou-se leprosa; e a maã o leprosa, posta no peito, ficou limpa. Ãlepra eé uma figura
bem conhecida do pecado; e assim como o pecado entrou no mundo pelo primeiro homem do
mesmo modo foi tirado pelo segundo. "Porque, assim como a morte veio por um homem,
tambeé m a ressurreiçaã o dos mortos veio por um homem" (ICo 15:21).
à degradaçaã o veio por um homem, e pelo homem a redençaã o; pelo homem veio a
ofensa e pelo homem o perdaã o; pelo homem veio o pecado e pelo homem a justiça; a morte
veio ao mundo por um homem; por um homem, a morte foi abolida, e a vida, a justiça e a
gloé ria foram introduzidas na terra. Ãssim, a serpente seraé naã o soé eternamente vencida e
confundida, como todos os vestíégios da sua obra abominaé vel seraã o apagados e destruíédos e
destruíédos por meio do sacrifíécio expiatoé rio d Ãquele que Se "manifestou para desfazer as
obras do diabo" (1 Jo 3:8).
A Falta de Eloquência
Com tudo isto o coraçaã o de Moiseé s naã o se deu por satisfeito.
"Êntaã o, disse Moiseé s ao SÊNHOR.- Ãh! Senhor! Êu naã o sou homem eloquente, nem de
ontem, nem de ante-ontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado
de boca e pesado de líéngua" (versíéculo 10). Que terríével lentidaã o! Nada senaã o a pacieê n cia
infinita do Senhor poderia suportaé -la. Êvidentemente, quando Deus lhe disse, "certamente eu
serei contigo" dava-lhe a garantia infalíével de que nada lhe faltaria de tudo que fosse
necessaé rio. Se fosse necessaé rio uma líéngua eloquente, que devia Moiseé s fazer senaã o entregar o
caso Ãquele que lhe havia dito "ÊU SOU" 4 Êloqueê ncia, sabedoria, poder, energia, estavam
encerrados nesse tesouro inesgotaé vel.
"Ê disse-lhe o SÊNHOR: Quem fezboca do homem"?- Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou
o que veê , ou o cego?- Naã o sou eu, o SÊNHOR ?-Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te
ensinarei o que haé s de falar" (versíéculos 11 a 12). Graça profunda, adoraé vel e incompa raé vel!
Como eé proé pria de Deus! Naã o haé ningueé m que seja como o Senhor, nosso Deus, cuja graça
paciente supera todas as nossas dificuldades e eé suficientemente abundante para todas as
nossas necessidades e fraquezas. "ÊU O SÊNHOR" deveria fazer cessar para sempre todos os
argumentos dos nossos coraçoã es carnais. Mas, ah! o raciocíénio eé difíécil de derribar, e levanta-se
de novo perturbando a nossa paz e desonrando Ãquele bendito Senhor que Se apresenta aà s
nossas almas em toda a plenitude da Sua graça, a fim de que sejamos cheios dela, segundo as
nossas necessidades.
ÊÉ bom recordarmo-nos que, quando temos o Senhor conosco, as nossas deficieê ncias e
fraquezas saã o uma ocasiaã o para que Êle manifeste a Sua graça e infinita pacieê ncia. Se Moiseé s
tivesse recordado isto, a sua falta de eloqueê ncia naã o o teria perturbado. O apoé stolo Paulo
aprendeu a dizer: "De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim
habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injué rias, nas necessidades,
nas perseguiçoã es, nas angué stias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, entaã o, sou
forte" (2 Co 12:9-10). Êsta eé , sem dué vida, a linguagem de um que chegou a um alto grau na
escola de Cristo. ÊÉ a experieê ncia de um homem que naã o se havia afligido por naã o possuir
eloqueê ncia, por quantohavia encontrado, na graça preciosa do Senhor Jesus Cristo, uma
resposta a todas as suas necessidades, quaisquer que fossem.
O conhecimento desta verdade deveria ter livrado Moiseé s da sua excessiva
desconfiança e da timidez que o dominava. Depois de o Senhor, em Sua misericoé rdia, lhe haver
assegurado que estaria com a sua boca, ele deveria ficar tranquilo quanto aà questaã o da
eloqueê ncia. Ãquele que fez a boca do homem podia, se houvesse necessidade disso, encheê -la
da mais poderosa eloqueê ncia. Para a feé , isto eé bem simples; poreé m o pobre coraçaã o increé dulo
confia infinitamente mais numa líéngua eloquente do que n'Ãquele que a criou. Êste fato seria
inexplicaé vel se naã o conheceê ssemos de que elementos se compoã e o coraçaã o natural. O coraçaã o
natural naã o pode confiar em Deus; e esta eé a causa do defeito humilhante de desconfiança no
Deus vivo, que se manifesta ateé mesmo entre os filhos de Deus, quando eles se deixarem
dominar, de algum modo, pela natureza humana. Por isso, no caso presente, Moiseé s hesita
ainda: "Ãh, Senhor! Ênvia por maã o daquele a quem tu haé s de enviar" (versíéculo 13). Êsta
exclamaçaã o equivalia, com efeito, recusar o privileé gio glorioso de ser o ué nico mensageiro do
Senhor ao Êgito e a Israel.
A Falsa Humildade
Todos noé s sabemos como a humildade que Deus promove eé uma graça inestimaé vel.
"Revesti-vos de humildade" eé umpreceitodivinoje a humildade eé , inconstestavelmente, o
adorno mais proé prio para um pecador. Poreé m se recusarmos tomar o lugar que Deus nos
designa ou seguir o caminho que a Sua maã o nos traça, naã o somos humildes.
No caso de Moiseé s eé evidente que naã o tinha verdadeira humildade, visto que a irado
Senhor se acendeu contra ele (versíéculo 14). Longe de ser humildade, o seu sentimento havia
ultrapassado os limites de simples fraqueza. Ênquanto se revestiu da apareê ncia excessiva de
timidez, embora repreensíével, a graça de Deus suportou-o e respon-deu-lhe com reiteradas
promessas; poreé m, logo que esse sentimento tomou caraé ter de incredulidade e lentidaã o de
coraçaã o, a justa ira do Senhor acendeu-se contra Moiseé s; e em lugar de ser ele o ué nico
instrumento na obra de testemunho e libertaçaã o de Israel, teve de repartir com outro este
honroso privileé gio.
Nada haé que sej a mais desonroso para Deus ou mais perigoso para noé s do que uma
humildade fingida. Quando, com o pretexto de naã o reunirmos certas virtudes e condiçoã es,
recusamos tomar o lugar que Deus nos daé , naã o mostramos humildade, visto que se
pudeé ssemos convencermo-nos de que possuíéamos essas virtudes e essas condiçoã es
imaginaríéamos que tíénhamos direito a esse lugar. Por exemplo, se Moiseé s possuíésse uma
medida de eloqueê ncia como ele julgava necessaé ria, temos motivos para crer que estaria pronto
a partir. Ora a questaã o eé de saber qual o grau de eloqueê ncia que ele necessitava para poder
cumprir a sua missaã o, enquanto que a resposta eé que sem Deus nenhum grau de eloqueê ncia
humana eé suficiente; ao passo que com Deus o mais simples gago pode ser um ministro
eficiente.
Êis aqui uma grande verdade praé tica. Ã incredulidade naã o eé humildade, mas orgulho.
Recusa crer em Deus porque naã o encontra no ego uma razaã o para crer. Êste eé o cué mulo da
presunçaã o. Se quando Deus fala me recuso a acreditar, com base nalguma coisa quehaé emmim,
façode Deus mentiroso (ljo5:10). Se quandoDeus declara o Seu amor, eu naã o me julgo digno
dele, faço de Deus mentiroso e manifesto o orgulho inerente de meu coraçaã o. O simples
pensamento de que posso merecer outra coisa que naã o seja o inferno, soé pode ser considerado
como a mais completa ignoraê ncia da minha condiçaã o perante Deus e do que Deus requer de
mim. Ênquanto que recusar o lugar que o amor redentor de Deus me indica, com base na
expiaçaã o efetuada por Cristo, eé fazer de Deus mentiroso e aviltar o sacrifíécio de Cristo na cruz.
O amor de Deus eé derramado espontaneamente; naã o eé atraíédo pelos meus meé ritos,
mas, sim, pela minha necessidade. Taã o-Pouco se trata do lugar que mereço, mas do lugar que
Cristo merece. Cristo tomou o lugar do pecador na cruz, para que o pecador pudesse tomar
lugar com Êle na gloé ria. Cristo tomou o lugar que o pecador merecia, para que o pecador
pudesse participar daquilo que Cristo merece. Deste modo, o ego eé completamente posto de
parte: esta eé a verdadeira humildade. Ningueé m pode ser verdadeiramente humilde antes de
ter chegado ao lado celestial da cruz; poreé m ali encontra vida divina, justiça
divinaeamisericoé rdiadeDeus. Êntaã oacaba para sempre o ego, quanto aà s pretensoã es de justiça
proé pria, e eé -se nutrido com a abundaê ncia de outrem. Êntaã o estaé -se preparado, moralmente,
para tomar parte no brado que haé de ressoar atraveé s da aboé bada incomensuraé vel dos ceé us por
todos os seé culos eternos, "Naã o a noé s, SÊNHOR, naã o a noé s, mas ao teu nome daé gloé ria" (SI 115:1).
Certamente nos ficaria mal se nos detiveé ssemos sobre os erros e fraquezas de um servo
taã o honrado como foi Moiseé s, de quem estaé escrito que foi "fiel em toda a sua casa, como
servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar" (Hb 3:5). Poreé m, se naã o nos
devemos deter sobre elas, num espíérito de proé pria satisfaçaã o, como se em circunstaê ncias
semelhantes noé s pudeé ssemos proceder de uma maneira diferente, devemos, sem dué vida,
aprender as santas liçoã es que elas teê m por fim ensinar-nos. Devemos aprender a julgarmo-nos
a noé s proé prios, e a pormos confiança implíécita em Deus—a pormos de lado o ego de modo que
Deus possa atuar em noé s, por nosso intermeé dio e por noé s. Êste eé o verdadeiro segredo do
poder.
— CÃPIÉTULOS 5 e 6 —
ISRAEL OPRIMIDO
E OS RECURSOS DIVINOS
A Escravidão
O resultado da primeira visita a Faraoé parece ter sido bem pouco animador. O
pensamento de perder os israelitas levou-o a trataé -los com maior crueldade e a sujeitaé -los a
redobrada vigilaê ncia. Sempre que o poder de Satanaé s eé restringido a um ponto o seu furor
aumenta. Ãssim aconteceu neste caso. Ã fornalha ia ser apagada pela maã o do amor libertador;
poreé m, antes de o ser, ela arde com mais intensidade e ferocidade. O diabo naã o gosta de soltar
nenhum daqueles que tem tido debaixo da sua garra terríével. Êle eé "o valente", e quando
"guarda, armado, a sua casa, em segurança estaé tudo quanto tem" (Lc 11:21). Poreé m, bendito
seja Deus, haé "outro mais valente do que ele", que lhe tirou "a sua armadura em que confiava",
e repartiu os seus despoj os pelos objetos favorecidos do Seu amor eterno.
"Ê depois, foram Moiseé s e Ãaraã o e disseram a Faraoé : Ãssim diz o SÊNHOR, Deus de Israel:
Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto" (capíétulo 5:1). Tal era a
mensagem do Senhor a Faraoé . Deus reivindicava inteira libertaçaã o para o povo, sob o
fundamento de ser o Seu povo e a fim de que pudessem celebrar-Lhe uma festa no deserto.
Nada pode jamais satisfazer Deus acerca dos Seus eleitos senaã o a sua inteira libertaçaã o do
jugo da servidaã o. "Desligai-o e deixa-o ir", eé , realmente, o grande lema dos desíégnios de Deus
acerca daqueles que, embora retidos em servidaã o por Satanaé s, saã o, todavia, os herdeiros da
Sua vida eterna.
Quando contemplamos os filhos de Israel no meio dos fornos de tijolo do Êgito, temos
perante noé s uma figura exata da condiçaã o de todo o filho de Ãdaã o segundo a carne. Êi-los ali,
esmagados sob o jugo mortíéfero do inimigo, sem poder para se libertarem. Ã simples mençaã o
da palavra liberdade naã o fez mais que aumentar o rigor do opressor para reforçar as cadeias
dos seus cativos e carregaé -los com um fardo ainda mais opressivo. Êra, pois, absolutamente
necessaé rio que a salvaçaã o viesse de fora. Mas de onde havia de vir?- Onde estavam os recursos
para pagar o seu resgate 1?- Ou onde estava a força para quebrar as cadeias 1? Ê, admitindo que
ambas as coisas existiam, onde estava a vontade para o conseguira Quem estaria disposto a
libertaé -los?- Ãh! Naã o havia esperança nem de dentro nem de fora. Ãpenas podiam olhar para
cima. O seu refué gio era Deus: Êle tinha tanto o poder como o querer; e podia efetuar a
redençaã o por poder e por preço. No Senhor, e somente n'Êle estava a salvaçaã o do povo de
Israel oprimido e arruinado.
ÊÉ sempre assim em todos os casos. "Ê em nenhum outro haé salvaçaã o, porque certo sim!
debaixo do ceé u nenhum outro nome haé , dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos"
(Ãt 4:12). O pecador estaé debaixo do poder daquele que o domina com um poder despoé tico.
Êstaé "vendido sob o pecado" (Rm 7:14); estaé preso aà vontade do diabo (2 Tm 2:26) — preso
com as cadeias da concupisceê ncia, da ira e da coé lera, fraco (Rm 5:6), "sem esperança e
semDeus" (Êf 2:12). Tale a condiçaã o do pecador. Comopoderia,pois,libertar-se <? Que poderia
fazer?- Sendo escravo de outrem tudo que faz, f aé -lo na qualidade de escravo. Os seus
pensamentos, as suas palavras, os seus atos saã o os pensamentos, as palavras e os atos de um
escravo. Sim, ainda mesmo quando chora e suspira por liberdade, as suas proé prias laé grimas e
suspiros saã o provas melancoé licas da sua escravatura. Pode lutar por liberdade; mas a sua
proé pria luta, embora evidencie um desejo de liberdade, eé a declaraçaã o positiva da sua
escravatura.
A Velha Natureza
Taã o-pouco se trata de uma questaã o áacondição do pecador: a sua proé pria natureza estaé
radicalmente corrompida—inteiramente debaixo do poder de Satanaé s. Por isso, naã o soé
necessita de ser introduzido numa nova posiçaã o, mas tambeé m de ser dotado de uma nova
natureza. Ã natureza e a condiçaã o andam sempre unidas. Se fosse possíével o pecador melhorar
a sua condiçaã o, de que lhe serviria isso enquanto a sua natureza continuasse a ser
irremediavelmente maé ? Um nobre poderia recolher e adoptar um mendigo e outorgar-Ihe a
fortuna e a posiçaã o de nobre, mas nunca poderia transmitir-lhe nobreza; e assima natureza do
mendigo nunca poderia achar satisfaçaã o ocupando a posiçaã o de um nobre. ÊÉ necessaé rio
possuir-se uma natureza que corresponda aà posiçaã o, e uma posiçaã o que corresponda aos
desejos, aos afetos, e aà s tendeê ncias dessa natureza.
Por isso, o evangelho da graça de Deus ensina-nos que o crente eé introduzido numa
posiçaã o inteiramente nova e que jaé naã o eé considerado como estando no seu anterior estado de
culpa e condenaçaã o, mais sim num estado de eterna e perfeita justificaçaã o. Ã condiçaã o em que
Deus o veê agora naã o eé apenas de pleno perdaã o, mas um estado de perfeiçaã o tal que a santidade
infinita naã o pode achar nele tanto como uma simples noé doa de pecado. Foi tirado da sua
condiçaã o de culpa e colocado para sempre numa nova condiçaã o de justiça imaculada. Naã o eé
que, de modo nenhum, a sua antiga condiçaã o haja sido melhorada. Isto seria inteiramente
impossíével, "Ãquilo que eé torto naã o se pode endireitar" (Êc 1:15). "Pode o etíéope mudar a sua
pele, ou o leopardo as suas manchas 1?-" (Jr 13:23). Nada haé mais oposto aà verdade
fundamental do evangelho que a teoria do melhoramento gradual da condiçaã o do pecador. O
pecador eé nascido numa maé condiçaã o, e enquanto naã o "nascer de novo" naã o pode estar em
qualquer outra. Poderaé procurar melhorar-se. Pode tomar a resoluçaã o de ser melhor no futuro
— de "voltar uma nova paé gina" da sua existeê ncia —, de alterar o seu modo de vida; poreé m,
com tudo isto naã o consegue sair de sua condiçaã o de pecador. Poderaé fazer-se religioso, como
se ousa dizer, poderaé tentar orar, poderaé observar diligentemente as ordenaçoã es, e revestir as
apareê ncias de uma reforma moral; contudo nenhuma destas coisas poderaé , no míénimo, alterar
a sua posiçaã o perante Deus.
A Nova Natureza
à questaã o eé semelhante aà questaã o da natureza. Como poderaé o homem alterar a sua
natureza? Poderaé submeteê -la a uma seé rie de operaçoã es, poderaé dominaé -la e disciplinaé -la;
poreé m continuaraé a ser natureza. "Ãquele que eé nascido da carne eé carne" (Jo 3:6). Ê neces -
saé rio que haja uma nova natureza, assim como uma nova disposiçaã o. Mas como poderaé o
pecador adquiri-las? - Crendo o testemunho que Deus de Seu Filho deu. "Ã todos quantos o
receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome" (Jo
1:12). Ãqui aprendemos, que todos os que creê em no nome do unigeé nito Filho de Deus, teê m o
direito ou o privileé gio de serem feitos filhos de Deus. Saã o feitos participantes de uma nova
natureza e teê m a vida eterna. "Ãquele que creê no Filho tem a vida eterna" (Jo 3:36). "Na
verdade, na verdade vos digo que, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou
tem a vida eterna, e naã o entraraé em condenaçaã o, mas passou da morte para a vida" (Jo 5:24).
"Ê a vida eterna eé esta: que te conheçam a ti soé por ué nico Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a
quem enviaste" (Jo 17:3). "Ê o testemunho eé este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
estaé em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida"(1 Jo5:11,12).
O Fundamento da Justificação
Tal eé a doutrina das Sagradas Êscrituras quanto aà questaã o importante da condiçaã o da
natureza. Poreé m, como eé que o crente eé feito participante da natureza divina?- Êssa mudança
admiraé vel depende inteiramente da grande verdade que "JÊSUS MORRÊU Ê RÊSSUSCITOU" (1
Ts 4:14). Êste bendito Senhor deixou o seio do amor eterno, o trono da gloé ria, as mansoã es de
luz imarcescíével, veio a este mundo de dores e pecado, tomou sobre Si a forma da carne do
pecado, e, depois de haver manifestado e glorificado perfeitamente Deus em todos os atos da
Sua vida bendita no mundo, morreu na cruz sob peso de todas as transgressoã es do Seu povo. Ê
deste modo satisfez tudo que era ou podia ser contra noé s. Êle engradeceu e honrou a lei (Is
42:21); e, fazendo-o, tornou-Se maldiçaã o sendo pendurado no madeiro. Todos os direitos
divinos foram satisfeitos, todos os inimigos reduzidos ao sileê ncio e os obstaé culos foram todos
derribados. "Ã misericoé rdia e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram" (SL
85:10). Ã justiça divina foi satisfeita, e o amor infinito pode derramar-se, com todas as
virtudes mitigantes e refrigerantes, no coraçaã o quebrantado do pecador; enquanto que, ao
mesmo tempo, o caudal purificador e expiador, que brotou do lado ferido do Cristo
crucificado, satisfaz perfeitamente todos os desejos ardentes da conscieê ncia culpada e
convencida de pecado. O Senhor Jesus tomou o nosso lugar na cruz: foi o nosso substituto. Êle
morreu, "o justo pelos injustos" (IPe 3:18); foi feito "pecado por noé s" (2Co5:21); morreu em
lugar do pecador; foi sepultado e ressuscitou, havendo cumprido tudo. Por isso nada haé
absolutamente contra o crente: ele estaé unido a Cristo e encontra-se na mesma condiçaã o de
justiça "porque, qual eleeé , somos noé s tambeé m neste mundo" (1 Jo4:17).
Êis aqui o que daé paz inabalaé vel aà conscieê ncia. Seja naã o estamos numa condiçaã o de
culpa, mas de justificaçaã o; se Deus nos veê em Cristo e como a Cristo, entaã o a nossa parte eé uma
paz perfeita. "Sendo, pois, justificados pela feé , temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo" (Rm5:l).
O sangue do Cordeiro cancelou toda a culpa do crente, riscou o seu grande deé bito e
deu-lhe uma folha perfeitamente em branco, na presença daquela santidade que naã o pode ver
o mal (He 1:13).
Poreé m, o crente naã o soé achou paz com Deus, como foi feito filho de Deus; e como tal
pode gozar a doçura da comunhaã o com o Pai e o Filho, no poder do Êspíérito Santo.
Moisés Desanimado
Contudo, a prova mais dolorosa para Moiseé s naã o foi motivada pelo juíézo que Faraoé fez
da sua missaã o. O servo fiel e consagrado de Cristo deve esperar sempre ser considerado pelos
homens deste mundo como um simples entusiasta visionaé rio. O ponto de vista donde o
contemplam eé tal que naã o nos permite esperar deles outra coisa. Quanto mais fiel for o servo
ao seu Mestre divino, quanto mais seguir as Suas pisadas, quanto mais conforme for aà Sua
imagem, tanto mais, possivelmente, seraé considerado, pelos filhos deste mundo, como um que
"estaé fora de si". Portanto, este juíézo nem deve surpreendeê -lo nem desanimaé -lo. Poreé m eé uma
coisa infinitamente mais penosa para ele quando o seu serviço e o seu testemunho saã o mal
interpretados, desprezados ou rejeitados por aqueles que saã o os proé prios objetos deste
serviço e testemunho. Quando isto acontece ele tem muita necessidade de estar comDeus, no
segredo dos Seus pensamentos, no poder da comunhaã o, para ter o seu espíérito fortalecido na
realidade imutaé vel da sua carreira e serviço. Êm circunstaê ncias taã o difíéceis, se naã o se estaé
plenamente persuadido da missaã o divina, e consciente da presença divina, a queda seraé quase
certa.
Se Moiseé s naã o tivesse sido amparado assim, o seu coraçaã o teria fraquejado
inteiramente quando o agravamento da opressaã o do poder de Faraoé arrancou aos oficiais dos
filhos de Israel palavras de desalento e desaê nimo como estas: "O SÊNHOR atente sobre voé s e
julgue isso, porquanto fizestes o nosso cheiro repelente diante de Faraoé e diante de seus
servos, dando-lhes a espada nas maã os para nos matar" (versíéculo 21). Isto era muito triste; e
Moiseé s assim o sentiu, pois que "tornou ao SÊNHOR e disse: Senhor! Por que fizeste mal a este
povo£ Por que me enviaste? Por que desde que entrei a Faraoé para falar em teu nome, ele
maltratou a este povo; e, de nenhuma maneira livraste o teu povo" (versíéculos 22 a 23). No
proé prio momento em que a libertaçaã o parecia estar perto, as coisas tomaram um aspecto
muito desanimador; assim como acontece com a natureza, em que a hora mais escura da noite
eé com frequeê ncia aquela que precede imediatamente o amanhecer. Ãssim seraé certamente nos
ué ltimos dias da histoé ria de Israel: a hora da mais profunda obscuridade e da mais espantosa
angué stia, precederaé a apariçaã o repentina do "Sol da Justiça" (Mt 4:1:2), emergindo detraé s das
nuvens, e trazendo salvaçaã o debaixo das suas asas para curar eternamente a filha do Seu povo
(Jr6:14; 8:11).
A Resposta do SENHOR
Pode muito bem perguntar-se ateé que ponto o "porquê " de Moiseé s foi ditado por uma
verdadeira feé ou uma vontade mortificada. Contudo, o Senhor naã o repreende Moiseé s por esta
objeçaã o motivada pela grandeza da afliçaã o do momento. "Ãgora veraé s o que hei de fazer a
Faraoé ; porque, por maã o poderosa, os deixaraé ir, sim, por maã o poderosa os lançaraé de sua terra"
(capíétulo 6:1), foi a Sua bondosa resposta.
Êsta resposta estaé cheia de graça peculiar. Êm vez de censurar a insoleê ncia daquele que
se atreve a duvidar dos caminhos inexcrutaé veis do grande ÊU SOU, o misericordioso Senhor
procura aliviar o espíérito cansado do Seu servo mostrando-lhe o que em breve ia fazer. Êsta
maneira de agir eé digna de Deus, de quem desce toda a boa daé diva e todo o dom perfeito (Tg
1:5, 17), "Pois ele conhece a nossa estrutura;lembra-se de que somos poé " (SI 103:14).
Nem tampouco eé soé em Seus atos, mas, sim, em Si Mesmo, em Seu proé prio nome e
caraé ter, que Êle quer fazer conhecer ao coraçaã o o seu alíévio: eé nisso que estaé a bem-
aventurança plena, divina, e eterna. Quando o coraçaã o pode encontrar em Deus o seu alíévio,
quando pode refugiar-se no lugar seguro que lhe oferece o Seu nome, quando pode achar no
Seu caraé ter a resposta a todas as suas necessidades, entaã o estaé verdadeiramente muito acima
da regiaã o da criatura —pode abandonar as promessas tentadoras do mundo eé considerar as
pretensoã es altivas do homem pelo seu j usto valor. O coraçaã o dotado com o conhecimento
praé tico de Deus naã o soé pode olhar para o mundo e dizer "tudo eé vaidade", mas pode tambeé m
poros seus olhos emDeus e dizer; "todas as minhas fontes estaã o em ti" (Sl 87:7).
O Nome do SENHOR
"Falou mais Deus a Moiseé s e disse: Êu sou o SÊNHOR. Ê eu apareci a Ãbraaã o, a Isaque, e a
Jacoé , como o Deus Todo-poderoso; mas pelo meu nome, o SÊNHOR, naã o lhes fui perfeitamente
conhecido. Ê tambeé m estabeleci o meu concerto com eles, para dar-lhes a terra de Canaaã , a
terra de suas peregrinaçoã es, na qual foram peregrinos. Ê tambeé m tenho ouvido o gemido dos
filhos de Israel, aos quais os egíépcios escravizam, e me lembrei do meu concerto" (versíéculos 2
a 5). "O SÊNHOR" eé o tíétulo que Deus toma como Libertador do Seu povo, em virtude da Sua
aliança de pura e soberana graça. Êle revela-se a Si como a grande Origem natural do amor
redentor, estabelecendo os Seus conselhos, cumprindo as Suas promessas, e libertando o Seu
povo eleito de todo o inimigo e de todo o mal. Êra privileé gio de Israel permanecer para sempre
sob a salvaguarda desse tíétulo significativo, o qual nos revela Deus atuando para Sua proé pria
gloé ria, e levantando o Seu povo oprimido a fim de mostrar nele essa gloé ria.
"Portanto, dize aos filhos de Israel: Êu sou o SÊNHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas
dos egíépcios, vos livrarei da sua servidaã o e vos resgatarei com braço estendido e com juíézos
grandes. Ê eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SÊNHOR,
VOSSO Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egíépcios; e eu vos levarei aà terra, acerca da
qual levantei minha maã o, que a daria a Ãbraaã o, e a Isaque, e a Jacoé , e vo-la darei por herança,
eu o SÊNHOR" (versíéculos 6 a 8). Tudo isto proclama a graça mais pura, mais livre, mais rica. O
Senhor apresenta-Se ao coraçaã o do Seu povo como Ãquele que ia operar por eles, neles, e com
eles para manifestaçaã o da Sua gloé ria. Por muito desamparados e arruinados que estivessem,
Êle havia descido para fazer ver a Sua gloé ria e manifestar a Sua graça e mostrar um exemplo
do Seu poder na sua plena salvaçaã o. Ã sua gloé ria e a salvaçaã o do Seu povo estavam
inseparavelmente unidas. Mais tarde todas estas coisas haviam de lhes ser recordadas, como
lemos no Livro de Deuteronoê mio, capíétulo 7:7-8, "O SÊNHOR naã o tomou prazer em voé s, nem vos
escolheu, porque a vossa multidaã o era mais do que a de todos os outros povos, pois voé s eé reis
menos em nué mero do que todos os povos: mas porque o SÊNHOR VOS amava; e, para guardar o j
uramen-to que jurara a vossos pais, o SÊNHOR vos tirou com maã o forte e vos resgatou da casa
da servidaã o, da maã o de Faraoé , rei do Êgito".
Nada haé mais proé prio para estabelecer e firmar o coraçaã o tremente e duvidoso do que
o conhecimento de que Deus nos tomou tais quais somos, que conhece perfeitamente o que
somos; e que, aleé m disso, nunca poderaé descobrir em noé s alguma coisa que possa alterar o
caraé ter e a medida do Seu amor: "...como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-
os ateé ao fim" (Jo 13:1). Aquele que Êle ama, ama-o ateé ao fim. Êsta verdade eé motivo de gozo
inexplicaé vel. Deus sabia tudo a nosso respeito—conhecia o pior que havia em noé s, quando
manifestou o Seu amor para conosco no dom de Seu Filho. Sabia o que necessitaé vamos, e fez
ampla provisaã o para tudo isso. Sabia qual era o deé bito, e pagou-o. Sabia o que havia por fazer,
e fez tudo. Ãs Suas proé prias exigeê ncias tinham de ser cumpridas, e cumpriu-as. ÊÉ tudo obra
Sua. Por isso, veê mo-Lo dizer a Israel, Êu "...vos tirarei...", "vos livrarei", "vos tomarei por meu
povo", "vos levarei aà terra..", "Êu sou o Senhor". Isto era o que Ele queria fazer com base
naquilo que Ele era. Ênquanto esta grande verdade naã o for inteiramente compreendida e naã o
for recebida pela alma no poder do Êspíérito Santo, naã o pode haver uma paz soé lida. Naã o se
pode ter o coraçaã o feliz nem a conscieê ncia tranquila antes de se saber e crer que todos os
direitos divinos jaé foram divinamente satisfeitos.
— CÃPIÉTULOS 7 a 11 —
Os Dez Juízos
Toda a terra do Êgito tremeu debaixo dos golpes sucessivos da vara de Deus. Todos,
desde o monarca sentado no seu trono aà criada moendo no moinho, tiveram de sentir o peso
terríével dessa vara. "Ênviou Moiseé s, seu servo, e Ãraã o, a quem escolhera. Fizeram entre eles os
seus sinais e prodíégios, na terra de Cam. Mandou aà s trevas que a escurecessem; e elas naã o
foram rebeldes aà sua palavra. Converteu as suas aé guas em sangue, e assim fez morrer os
peixes. Ã sua terra produziu raã s em abundaê ncia, ateé nas caê maras dos seus reis. Falou ele, e
vieram enxames de moscas e piolhos em todo o seu territoé rio. Converteu as suas chuvas em
saraiva e fogo abrasador, na sua terra. Feriu as suas vinhas e os seus f igueirais e quebrou as
aé rvores dos seus termos. Falou ele, e vieram gafanhotos e pulgaã o em quantidade inumeraé vel, e
comeram toda a erva da sua terra e devoraram o fruto dos seus campos. Feriu tambeé m a todos
os primogeé nitos da sua terra, as primíécias de todas as suas forças" (SI 105:26 -36).
Ãqui, o Salmista daé -nos uma ideia resumida desses terríéveis castigos que por dureza do
seu coraçaã o Faraoé trouxe sobre a sua terra e o seu povo. Êste soberbo monarca havia
empreendido a tarefa de resistir aà vontade soberana e ao caminho do Deus Ãltíéssimo; e, como
consequeê ncia justa desta atitude, foi entregue aà cegueira judicial e dureza de coraçaã o. "Poreé m
o SÊNHOR endureceu o coraçaã o de Faraoé , e naã o os ouviu, como o SÊNHOR, tinha dito a Moiseé s.
Êntaã o, disse o SÊNHOR a Moiseé s: Levanta-te, pela manhaã cedo, e poã e-te diante de Faraoé , e dize-
lhe: Ãssim diz o SÊNHOR, oDeus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me sirva. Porque
esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre o teu coraçaã o, e sobre os teus servos, e sobre o
teu povo, para que saibas que naã o haé outro como eu, em toda a terra. Porque agora tenho
estendido a maã o para te ferir a ti e ao teu povo com pestileê ncia e para que sejas destruíédo da
terra; mas deveras para isto te mantive, para mostrar o meu poder em ti e para que o meu
nome seja anunciado em toda a terra" (capíétulo 9:12-16).
Janes e Jambres
Vamos considerar agora, em segundo lugar, a oposiçaã o de "Janes e Jambres", magos do
Êgito. Nunca teríéamos conhecido os nomes desses dois inimigos da verdade se o Êspíérito
Santo os naã o houvesse mencionado em ligaçaã o com os "tempos perigosos" dos quais o
apoé stolo Paulo avisa seu filho Timoé teo. ÊÉ da maé xima importaê ncia que o leitor crente
compreenda claramente o verdadeiro caraé ter da resisteê ncia que esses dois encantadores
opuseram a Moiseé s, e para que ele faça uma ideia completa do assunto, citaremos toda a
passagemda epíéstola de Paulo aTimoé teo, passagemaliaé s profundamente importante e solene.
A Aparência de Piedade
Contudo, os magos do Êgito soé puderam imitar os servos do Deus vivo em treê s coisas, a
saber: tornaram as suas varas em serpentes (capíétulo 7:12);transformaramaaé gua em sangue
(capíétulo 7:22), e fizeram subir as raã s sobre a terra (capíétulo 8:7); poreé m, quanto ao quarto
sinal, que implicava a exibiçaã o da vida, em ligaçaã o com a manifestaçaã o da humilhaçaã o da
natureza, viram-se inteiramente confundidos e tiveram de reconhecer "isto eé o dedo de Deus"
(capíétulos 8:16 a 19). Ãssim sucede tambeé m com os que resistem nos ué ltimos dias. Tudo
quanto fazem eé segundo o poder direto de Satanaé s e dentro dos limites do seu poder. Ãleé m
disso, o seu fim especíéfico eé resistirem aà verdade.
Ãs treê s coisas que Janes e Jambres puderam executar foram caracterizadas por poder
sataê nico, morte e impureza; quer dizer, as serpentes, o sangue e as raã s. Foi assim que
"resistiram a Moiseé s" e, "assim tambeé m estes resistem aà verdade", e impedem a sua açaã o
moral sobre a conscieê ncia. Nada haé que tanto contribua para enfraquecer o poder da verdade
como ver pessoas que naã o se encontram sob a sua influeê ncia fazerem as mesmas coisas que
aqueles que estaã o debaixo dela fazem. Ãssim opera Satanaé s no momento atual. Êle procura
fazer com que todos os homens sejam considerados como cristaã os; quer fazer-nos crer que
estamos rodeados de "um mundo cristaã o", poreé m esse pretenso mundo cristaã o naã o passa de
uma cristandade professa, a qual, longe de dar testemunho da verdade eé aqui destinada,
segundo os propoê s itos do inimigo da verdade, para se opor aà influeê ncia purificadora da
verdade.
Êm resumo, o servo de Cristo, testemunha da verdade, estaé rodeado, de todos os lados,
pelo espíérito de "Janes e Jambres"; e eé conveniente que recorde este fato, que conheça
inteiramente o mal com que tem que lutar e não esqueça que se trata da imitaçaã o que o diabo
faz da realidade de Deus, produzida, naã o pela vara de um mago declaradamente mau, mas, sim
mediante os atos de falsos religiosos, que teê m "apareê ncia de piedade", mas negam a eficaé cia
dela"; pessoas que fazem coisas aparentemente boas e justas, mas que naã o teê m a vida de
Cristo em suas almas, nem o amor de Deus em seus coraçoã es, nem tampouco o poder da
Palavra de Deus em suas conscieê ncias. "Naã o iraã o poreé m avante", acrescenta o apoé stolo,
"porque a todos seraé manifesto o seu desvario, como tambeé m o foi o daqueles". Com efeito a
insensatez de Janes e Jambres foi manifesta a todos, quando naã o somente se viram impotentes
para continuar a imitar os atos de Moiseé s e Ãraã o, como foram envolvidos nos juíézos de Deus.
Isto eé um ponto muito importante. Ã insensatez de todos aqueles que naã o possuem mais do
que a apareê ncia seraé manifestada. Naã o somente seraã o incapazes de imitar os efeitos plenos e
proé prios da vida e poder divinos, como eles mesmos viraã o a ser os objetos dos juíézos que
resultaram da rejeiçaã o da verdade que eles proé prios rejeitaram.
Ãlgueé m diraé que tudo is to naã o encerra instruçaã o para uma eé poca, como a nossa, de
apareê ncia sem eficaé cia'?- Certamente que tem; saã o exemplos que deveriam exercer influeê ncia
sobre toda a conscieê ncia em poder vivo e falar a todos os coraçoã es com assentos solenes e
penetrantes: deveriam levar-nos a examinarmo-nos seriamente para sabermos se estamos
dando testemunho da verdade e se andamos segundo a eficaé cia da piedade ou se somos um
obstaé culo dela neutralizando os seus efeitos por soé termos a sua apareê ncia. Os efeitos da
eficaé cia da piedade seraã o manifestados se noé s permanecermos nas coisas que temos
aprendido (2 Tm 3.14). Soé aqueles que saã o ensinados porDeus poderaã o permanecer nessas
coisas—aqueles que, pelo poder do Êspíérito de Deus, teê m bebido da aé gua da vida na fonte
pura da inspiraçaã o divina.
Graças a Deus, em todas as fraçoã es da Igreja professa haé muitas destas pessoas. Ãqui e
ali, haé muitos cujas conscieê ncias foram lavadas no sangue expiador do "Cordeiro de Deus", e
cujos coraçoã es batem com verdadeiro afeto pela Pessoa do Senhor Jesus, e cujos espíéritos saã o
animados com "a bendita esperança" de O verem assim como Êle eé e de serem feitos
eternamente semelhantes aà Sua imagem. Ê animador podermos pensar em tais pessoas. ÊÉ
uma misericoé rdia inefaé vel podermos ter comunhaã o com aqueles que podem dar a razaã o da
sua esperança e da posiçaã o que ocupam como filhos de Deus. Que o Senhor aumente o seu
nué mero dia a dia: e que a eficaé cia da piedade se espalhe mais e mais nestes ué ltimos dias, para
que se levante um testemunho brilhante e bem mantido ao nome d'Ãquele que eé digno de ser
exaltado!
A Primeira Objeção
à primeira destas objeçoã es encontra-se no capíétulo 8:25. "Êntaã o, chamou Faraoé a
Moiseé s e a Ãraã o e disse: Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". Ê desnecessaé rio acentuar
aqui que, quer sejam os magos com a resisteê ncia que opoã em ou Faraoé com as suas objeçoã es, eé
realmente Satanaé s que estaé atraé s de toda esta cena: e o seu objetivo, nesta proposta de Faraoé ,
consistia em impedir o testemunho do nome do Senhor—um testemunho ligado com a
separaçaã o completa entre o Seu povo e o Êgito. ÊÉ evidente que um tal testemunho naã o podia
ser dado se eles tivessem continuado no Êgito, ainda mesmo que tivessem oferecido sacrifíécios
ao Senhor. Os israelitas ter-se-iam entaã o colocado no mesmo terreno que os egíépcios, e teriam
posto o Senhor ao mesmo níével dos deuses do Êgito. Êntaã o os egíépcios poderiam ter dito aos
israelitas: "Naã o vemos nenhuma diferença entre noé s; voé s tendes o vosso culto, e noé s temos o
nosso; eé tudo a mesma coisa".
Os homens consideram perfeitamente natural que cada qual tenha uma religiaã o, seja
qual for. Contanto que sejamos sinceros e naã o haja interfereê ncia na crença do proé ximo, pouco
importa a forma da nossa religiaã o. Tais são os pensamentos dos homens a respeito daquilo que
eles chamam religiaã o; poreé m eé bem claro que a gloé ria do nome de Jesus naã o eé tida em conta
em tudo isto. O inimigo opor-se-aé sempre aà ideia de separaçaã o, e o coraçaã o do homem nunca
poderaé compreendeê -la. O coraçaã o humano pode aspirar aà piedade, porque a conscieê ncia
testifica que naã o estaé tudo em regra; mas ao mesmo tempo anela seguir o mundo: gosta de
sacrificar a Deus na terra; assim quando se aceita uma religiaã o mundana e se recusa sair ou
fazer separaçaã o dela (2 Co 6), o fim de Satanaé s eé conseguido. O seu plano invariaé vel, desde o
princíépio, consiste em impedir o testemunho dado ao nome de Deus na terra.Tal era o fim
escuro da proposta, "Ide e sacrificai ao vosso Deus nesta terra". Que fim o do testemunho, se
esta proposta tivesse sido aceite! O povo de Deus no Êgito e o Proé prio Deus associado com os
íédolos do Êgito! Que terríével blasfeê mia!
A Religião
Prezado leitor, noé s deveríéamos ponderar estas coisas seriamente. Êste esforço para
induzir o povo de Israel a sacrificar a Deus no Êgito revela um princíépio muito mais
importante do que poderíéamos, aà primeira vista, supor. O inimigo regozijar-se-ia se conseguis-
se obter, de qualquer modo, e de uma vez para sempre, em quaisquer circunstaê ncias, ateé
mesmo a apareê ncia de sançaã o divina para a religiaã o do mundo. Êle naã o poã e dificuldades a uma
religiaã o desta espeé cie. O seu intento eé alcançado taã o eficientemente por meio daquilo que eé
chamado "o mundo religioso" como de qualquer outro modo; e, por isso, quando consegue que
um verdadeiro cristaã o acredite na religiaã o do mundo, obteé m um grande triunfo.
ÊÉ um fato bem conhecido que nada haé que provoque tanta indignaçaã o como este
princíépio divino de separaçaã o deste presente seé culo mau. Podemos ter as mesmas opinioã es,
pregar as mesmas doutrinas e fazer o mesmo trabalho: poreé m, se procurarmos, ainda que seja
na mais pequena medida, agir segundo a ordem divina, que eé : "Destes afasta-te" (2Tm 3:5),
"saíédo meio deles" (2 Co 6:17), podemos es tar certos de encontrar a mais violenta oposiçaã o.
Como se explica isto? Principalmente devido ao fato que os cristaã os, estando separados da vaã
religiaã o, rendem um testemunho a Cristo que nunca poderiam dar enquanto estivessem
ligados com ela.
Êxiste um grande diferença entre Cristo e a religiaã o do mundo. Um pobre hindu,
envolvido em trevas, pode falar da sua religiaã o, mas nada sabe de Cristo. O apoé stolo, naã o diz,
"se haé algum conforto na religiaã o" (Fp 2:1); embora os devotos de uma religiaã o qualquer
achem incontestavelmente nela aquilo que lhes parece ser consolaçaã o. Paulo, pelo contraé rio,
achou a sua consolaçaã o em Cristo, depois de haver experimentado plenamente a inutilidade da
religiaã o, ainda que na sua forma mais bela e imponente (comparem-se Gll:13-14;Fp3:3-ll).
ÊÉ verdade que o Êspíérito Santo fala-nos da "religiaã o pura e imaculada" (Tg 1:27); poreé m
o homem descrente naã o pode, de modo nenhum, participar dela; porque como poderaé ter
parte naquilo que eé " puro e imaculado" ? Êsta religiaã o eé do ceé u, a fonte de tudo que eé puro e
excelente; estaé exclusivamente diante de nosso "Deus e Pai"; serve para exercíécio das funçoã es
da nova natureza, com a qual saã o dotados todos aqueles que creê em no nome do Filho de Deus
(Jol: 12 e 13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; ljo 5:1). Finalmente, define-se pelos dois principais aspectos
da benevoleê ncia e santidade pessoal "visitar os oé rfaã os e as viué vas nas suas tribulaçoã es" (Tg
1:27).
Se examinarmos a lista dos verdadeiros frutos do Cristianismo, veremos que estaã o
todos classificados sob estes dois pontos principais; e eé profundamente interessante notar
que, quer nos voltemos para o capíétulo 8 do ÊÊ xodo ou o primeiro de Tiago, a separaçaã o do
mundo eé apresentada como uma qualidade indispensaé vel no verdadeiro serviço a Deus. Nada
que seja manchado com o contato "deste seé culo mau" pode ser aceitaé vel diante de Deus, nem
receber da Sua maã o o selo" puro e imaculado". "Pelo que saíé do meio deles, e apartai-vos, diz o
Senhor; e naã o toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para voé s Pai, e voé s serreis
para mim filhos e filhas, diz o SenhorTodo-Poderoso" (2Co6:17-18).
Naã o havia no Êgito nenhum lugar de reuniaã o para o Senhor e o Seu povo redimido; sim,
para eles, a redençaã o e a separaçaã o eram uma e a mesma coisa. Deus havia dito: "desci para
livraé -los", (ÊÊ x 3:8) e nada senaã o isto podia satisfazeê -Lo ou glorificaé -Lo. Uma salvaçaã o que
deixasse o povo no Êgito naã o podia ser salvaçaã o de Deus. Ãleé m disso, devemos recordar que o
desíégnio do Senhor, com a salvaçaã o de Israel, assim como na destruiçaã o de Faraoé , era para que
o Seu nome fosse anunciado em toda a terra (capíétulo 9:16); e que declaraçaã o poderia haver
desse nome ou caraé ter, se o Seu povo tivesse de Lhe prestar culto no Êgito? Ou naã o teria
havido nenhum testemunho ou seria um testemunho falso. Portanto, era necessaé rio, para que
o caraé terde Deus fosse plena e fielmente declarado, que o Seu povo fosse inteiramente
libertado e completamente separado do Êgito; e eé , essencialmente, necessaé rio, agora, para que
um testemunho claro e sem equíévoco seja dado ao Filho de Deus, que todos que saã o realmente
Seus sejam separados deste presente seé culo mau. Tal eé a vontade de Deus; e para este fim
Cristo entregou-Se a Si mesmo. "Graça e paz, da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus
Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente seé culo mau,
segundo a vontade de Deus nosso Pai, aoqualseja dada gloé ria para todo o sempre Ãmen!" (Gl
1:3-5).
Os Gaé latas começavam a dar creé dito a uma religiaã o carnal e mundana — uma religiaã o
de ordenaçoã es —, uma religiaã o de "dias e meses, de tempos e de anos"; e o apoé stolo começa a
sua epíéstola dizendo-lhes que o Senhor Jesus Cristo Se deu a Si mesmo com o propoé sito de
libertar o Seu povo todo desse sistema. O povo de Deus deve ser separado, naã o com base na
sua santidade mas porque eé o Seu povo, e para que possa responder inteligentemente ao fim
que Deus propusera pondo-o em relaçaã o Consigo e associando-o com o Seu nome. Um povo
que continuasse a viver no meio das abominaçoã es e contaminaçoã es do Êgito naã o podia ser um
testemunho do Deus santo; nem tampouco, agora, todo aquele que se associa com as
contaminaçoã es de uma religiaã o mundana e corrompida naã o pode ser uma testemunha fiel e
poderosa de um Cristo crucificado e ressuscitado.
Naã o se trata aqui da questaã o se somos filhos de Deus, e, portanto, se somos salvos.
Muitos filhos de Deus estaã o muito longe de conhecer os resultados plenos, quanto a si
proé prios, da morte e ressurreiçaã o de Cristo. Naã o compreendem esta verdade preciosa: que a
morte de Cristo tirou os seus pecados para sempre, e que eles saã o os felizes participantes da
Sua vida de ressurreiçaã o, com a qual o pecado nada mais tem que fazer. Cristo foi feito
maldiçaã o por noé s, naã o por ter nascido sob a maldiçaã o de uma lei quebrantada, mas sendo
pendurado no madeiro (comparem-se atentamente Dt 21:23; Gl 3:13). Noé s estaé vamos sob a
maldiçaã o, porque naã o tíénhamos guardado a lei; poreé m Cristo, o Homem perfeito, havendo
engrandecido a lei e tornando-a honrosa, devido ao fato de a haver cumprido perfeitamente,
foi feito maldiçaã o por noé s sendo pendurado no madeiro. Ãssim, na Sua vida Êle engrandeceu a
lei de Deus; e na Sua morte levou a nossa maldiçaã o. Portanto, agora naã o haé para o crente
maldiçaã o nem ira nem condenaçaã o: e embora tenha de comparecer no tribunal de Cristo, este
tribunal ser-lhe-aé taã o favoraé vel entaã o como agora o eé o trono da graça. O tribunal manifestaraé
a sua verdadeira condiçaã o, isto eé , que nada existe contra ele: o que ele eé , foi Deus quem o
realizou. Êle eé obra de Deus. Deus tomou-o no estado de morte e condenaçaã o e feê -lo
exatamente como queria que ele fosse. O Proé prio Juiz apagou os seus pecados e eé a sua justiça,
de forma que o tribunal naã o deixaraé de lhe ser favoraé vel; mais ainda, seraé a declaraçaã o pué blica,
autorizada e plena, feita ao ceé u, aà terra e ao inferno, de que aquele que eé lavado de seus
pecados no sangue do Cordeiro eé taã o limpo quanto Deus pode tornaé -lo (veja-se Jo 5:24; Rm
8:1; 2 Co 5:5,10,11; Êf 2:10). Tudo que era preciso fazer, o Proé prio Deus o fez, e certamente Êle
naã o condenaraé a Sua proé pria obra. Ã justiça que era pedida, Deus a proveu; e, portanto, naã o
acharaé nenhum defeito nesse suprimento. Ãluz do tribunal de Cristo seraé bastante radiante
para dissipar todas as neblinas e nuvens que pudessem obscurecer as gloé rias imaculadas e as
virtudes eternas que pertencem aà cruz e para mostrar que o crente estaé "todo limpo" (Jo
13:10; 15:3; Êf 5:27).
O que é o Mundo
Tudo isto eé bastante claro; poreé m, prezado leitor, aonde nos conduz quanto a este
mundo"?- Seguramente, fora dele, e isto de um modo completo. Êstamos mortos para o mundo
e vivos para Cristo. Somos participantes ao mesmo tempo da Sua rejeiçaã o pelo mundo e da Sua
aceitaçaã o no ceé u; e o gozo desta faz-nos considerar como nada a provaçaã o daquela. Ser
lançado fora do mundo, sem saber que tenho um lugar e uma parte no ceé u, seria insuportaé vel
para mim; poreé m, quando as gloé rias do ceé u enchem a visaã o da alma, eé necessaé rio muito pouco
da terra.
Mas, pode perguntar-se, "Que eé o mundo?" Seria difíécil encontrar um termo taã o mal
definido como "o mundo" ou "a mundanidade"; pois em geral noé s somos propensos a fazer a
mundanidade um ou dois pontos acima do lugar onde nos achamos situados espiritualmente.
à Palavra de Deus, poreé m, define com perfeita precisaã o o que significa o termo "o mundo",
quando o designa como aquilo que "naã o eé do Pai" (ljo 2:15 e 16). Por isso, quanto mais
profunda for a minha comunhaã o com o Pai, mais penetrante seraé a minha compreensaã o
daquilo que eé mundano. ÊÉ esta a forma divina de ensino. Quando mais vos deleitardes no amor
do Pai, tanto mais desprezareis o mundo. Mas quem eé aquele que revela o Pai<? ÊÉ o filho.
Como1?- Pelo poder do Êspíérito Santo. Pelo que, quanto mais habilitado eu estiver, no poder do
Êspíérito, naã o contristado, a deleitar-me na revelaçaã o que o Filho nos tem dado do Pai, tanto
mais exato seraé o meu discernimento quanto aà quilo que eé do mundo. ÊÉ aà medida que o reino
de Deus ganha terreno no coraçaã o, que o nosso juíézo quanto aà mundanidade se torna mais
reto. Naã o eé faé cil definir o que eé mundanismo. ÊÉ , como algueé m disse, "sombreado gradualmente
desde obranco ao preto carregado". Isto eé verdadeiro. Naã o se pode estabelecer um limite e
dizer: "eé aqui que começa o mundanismo"; poreé m a sensibilidade viva e delicada da natureza
divina recua perante ele; e tudo que noé s necessitamos eé andar no poder dessa natureza, a fim
de nos mantermos alheados a toda a espeé cie de mundanismo. "Ãndai em Êspíérito e naã o
cumprireis a concupisceê ncia da carne" (Gl 5:16). Ãndai com Deus, e naã o andareis com o
mundo. Ãs distinçoã es frias e as regras ríégidas para nada servem. ÊÉ o poder da vida divina que
noé s precisamos. Precisamos de compreender a significaçaã o espiritual do "caminhode treê s dias
no deserto", o qual nos separa para sempre naã o apenas dos fornos de tijolo e dos exatores do
ÊÉ gito, mas tambeé m dos seus templos e altares.
A Segunda Objeção
à segunda objeçaã o do Faraoé participava muitíéssimo do caraé ter e tendeê ncia da primeira.
"Êntaã o, disse Faraoé : Deixar-vos-ei ir, para que sacrifiqueis ao SÊNHOR vosso Deus no deserto;
somente que, indo, não vades longe" (capíétulo 8:28). Naã o podendo reteê -los no Êgito, procurava
ao menos reteê -los perto das fronteiras, para poder agir contra eles por meio das diversas
influeê ncias do paíés. Desta forma o povo podia ser reconduzido e o testemunho mais facilmente
aniquilado que se eles nunca tivessem saíédo do Êgito. Ãqueles que tornam para o mundo,
depois de aparentemente o terem deixado, causam muito mais dano aà causa de Cristo do que
se nunca se houvessem afastado dele; porque virtualmente confessam que, tendo provado as
coisas divinas, descobriram que as coisas terrenas saã o melhores e satisfazem mais.
Ê isto ainda naã o eé tudo. O efeito moral da verdade sobre as conscieê ncias dos increé dulos
e tristemente embaraçado pelo exemplo dos professos que regressam aà s coisas que
aparentemente haviam deixado. Naã o eé que tais casos concedam autorizaçaã o a ningueé m para
rejeitar a verdade de Deus, tanto mais que cada um eé responsaé vel por si mesmo e teraé de
prestar contas dos seus atos a Deus. Contudo, o efeito produzido eé , como em tudo mais, mau.
"Porquanto se, depois de terem escapado das corrupçoã es do mundo, pelo conhecimento do
Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o
ué ltimo estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora naã o conhecerem o cami nho da
justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado" (2 Pe
2:20-21).
Por esse motivo, se as pessoas naã o estaã o dispostas a ir longe, eé melhor naã o partirem. O
inimigo sabia isto bem; daíé a sua segunda objeçaã o. Uma posiçaã o de proximidade satisfaz
admiravelmente os seus propoé sitos. Ãqueles que ocupam esta posiçaã o naã o saã o nem uma coisa
nem outra; com efeito, qualquer que seja a sua influeê ncia, conduz, infalivelmente, para o lado
mau.
ÊÉ muito importante ver claramente que o fim de Satanaé s em todas estas objeçoã es era
poê r obstaé culos ao testemunho que soé podia ser rendido ao nome do Deus de Israel por meio
de uma peregrinaçaã o de três dias através do deserto. Isto era, em boa verdade, ir muito longe
—ir muito mais longe do que Faraoé podia imaginar, ou ateé onde lhe era possíével seguir Israel.
Que grande beê nçaã oseriasetodososque fazem profissaã o de sair do Êgito se separassem dele
pelo espíérito do seu entendimento e pela elevaçaã o do seu caraé ter; se conhecessem a cruz e a
sepultura de Cristo como os limites estabelecidos entre eles e o mundo! Ningueé m pode
colocar-se nesse terreno na energia da sua natureza. O Salmista poê de dizer:
"Ê naã o entres em juíézo com o teu servo, porque aà tua vista naã o se acharaé justo nenhum
vivente" (Sl 143:2). O mesmo acontece a respeito da separaçaã o verdadeira e efetiva do mundo.
"Nenhum vivente" pode realizaé -la. Ê somente como "morto com Cristo", e ressuscitado
tambeé m nele, pela feé , no poder de Deus(Cl 2:12),que o homem pode ser justificado diante de
Deus e separado do mundo. Êis o que podemos chamar "ir muito longe". Permita Deus que
todos os que fazem profissaã o de cristaã os e se chamam por este nome possam assim afastar-se!
Êntaã o a sua laê mpada daraé uma luzconstan-te, a sua trombeta daraé um sonido inteligíével e a
sua conduta seraé elevada; a sua experieê ncia seraé rica e profunda; a sua paz correraé como um
rio; os seus afetos seraã o celestiais e as suas vestes imaculadas. Ê, acima de tudo, o nome do
SÊNHOR Jesus seraé glorificado neles pelo poder do Êspíérito Santo, segundo a vontade de Deus
Pai.
A Terceira Objeção
à terceira objeçaã o de Faraoé requer atençaã o especial de nossa parte. "Êntaã o, Moiseé s e
Ãraã o foram levados outra vez a Faraoé , e ele disse-lhes: Ide, servi ao SÊNHOR, vosso Deus. Quais
saã o os que haã o-de ir? Ê Moiseé s disse: Havemos de ir com os nossos meninos e com os nossos
velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, e com as nossas ovelhas, e com os nossos
bois havemos de ir; porque festa ao SÊNHOR temos. Êntaã o ele lhes disse: Seja o SÊNHOR assim
convosco, como eu vos deixarei ir a voé s e a vossos filhos; olhai que haé mal diante da vossa face.
Naã o seraé assim; andai agora voé s, varoã es, e servi ao SÊNHOR; pois isso eé o que pedistes. Ê os
lançaram da face de Faraoé " (capíétulo 10:8 a 11).
De novo vemos como o inimigo procura dar um golpe de morte no testemunho dado ao
Deus de Israel. Os pais no deserto e os filhos no Êgitol Que terríével anomalia! Isto teria sido
apenas libertaçaã o parcial, ao mesmo tempo inué til para Israel e desonrosa para o Deus de
Israel. Isto naã o era possíével. Se os filhos fossem deixados no Êgito, naã o se podia dizer que os
pais os tivessem deixado. Tudo quanto podia dizer-se, em tal caso, era que em parte eles
serviam ao Senhor e em parte a Faraoé . Poreé m, o Senhor naã o podia ter parte com Faraoé . Êra
necessaé rio que possuíésse tudo ou nada. Êis aqui um princíépio importante para os pais cristaã os.
Possamos noé s teê -lo no íéntimo dos nossos coraçoã es! ÊÉ nosso privileé gio contar com Deus quanto
aos nossos filhos, e criaé -los "na doutrina e admoestaçaã o do Senhor" (Êf 6:4). Nenhuma outra
parte deve satisfazer-nos quanto aos nossos "pequeninos" senaã o aquela mesma que noé s
proé prios desfrutamos.
A Quarta Objeção
à quarta e ué ltima objeçaã o de Faraoé relacionava-se com os rebanhos e as manadas.
"Êntaã o, Faraoé chamou a Moiseé s e disse: Ide, servi ao SÊNHOR: somente fiquem vossas ovelhas e
vossas vacas; vaã o tambeé m convosco as vossas crianças (capíétulo 10:24). Com que perseverança
disputou Satanaé s cada palmo do caminho de Israel para fora do Êgito! Êm primeiro lugar
procurou manteê -los no paíés; entaã o diligenciou teê -los perto do paíés; depois esf orçou-se por
reter parte do povo; e por fim, depois de haver falhado nestas treê s tentativas, esforçou-se por
fazeê -los partir sem meios alguns para servir ao Senhor. Jaé que naã o podia reter os servidores
procurava ficar com os meios que eles tinham para servir, pensando obter o mesmo resultado
por um meio diferente. Jaé que naã o podia induzi-los a oferecerem sacrifíécios no paíés, queria
enviaé -los fora do paíés sem víétimas para os sacrifíécios.
A Resposta de Moisés
à resposta de Moiseé s a esta ué ltima objeçaã o de Faraoé daé -nos um relato dos direitos
soberanos do Senhor sobre o Seu povo e tudo que lhes pertence. "Moiseé s, poreé m, disse: Tu
tambeé m daraé s em nossos maã os sacrifíécios e holocaustos, que ofereçamos ao SÊNHOR nosso
Deus. Ê tambeé m o nosso gado haé de ir conosco, nem uma unha ficará; porque daquele
havemos de tomar para serviraã o SÊNHORnosso Deus; porque naã o sabemos com que havemos
de servir ao Senhor, ateé que cheguemos laé " (versíéculos 25-26). ÊÉ somente quando o povo de
Deus toma o seu lugar, com feé simples e infantil, sobre o terreno elevado em que a morte e
ressurreiçaã o os colocou, que podem ter um conhecimento adequado dos seus direitos sobre
eles: "...naã o sabemos com que havemos de servir ao SÊNHOR, ateé que cheguemos laé ". Quer dizer,
naã o sabiam qual era a sua responsabilidade, nem quais as exigeê ncias de Deus ateé que tivessem
andado "treê s dias de caminho" . Êstas coisas naã opodiam ser conhecidas no meio da atmosfera
corrompida do Êgito. ÊÉ indispensaé vel que a redençaã o seja conhecida como um fato consumado
antes que se possa ter uma percepçaã o justa ou completa da responsabilidade. Tudo isto eé
perfeito e belo.
"Se algueé m quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conheceraé se ela eé de
Deus" (Jo 7:17). ÊÉ necessaé rio que, por meio do poder da morte e ressurreiçaã o, estejamos fora
do Êgito. ÊÉ quando ocupamos o nosso lugar, pela feé , nesses aé trios gloriosos em que o sangue
precioso de Cristo nos introduz; quando podemos olhar em redor de noé s e contemplar os
resultados maravilhosos do amor que nos resgatou; quando contemplamos atentamente
Ãquele que nos trouxe para este lugar e nos deu todas estas riquezas, que somos
constrangidos a exclamar, como um dos nossos poetas exclamou:
"Nem uma unha ficaraé ". Que nobres palavras! O Êgito naã o eé o lugar proé prio para
guardar coisa alguma que pertença aos remidos do SÊNHOR. Deus eé digno de tudo: "alma, corpo
e espíérito" — tudo que somos e tudo quanto temos pertencem-Lhe:"...naã o somos de noé s
mesmos", porque "fomos comprados por bom preço" (I Co 6:19, 29) e eé nosso grande
privileé gio consagrarmo-nos com tudo quanto temos ÃÀ quele a Quem pertencemos e a cuj o
serviço fomos chamados. Nada se veê aqui do espíérito legalista. Ãs palavras "ateé que cheguemos
laé " saã o a salvaguarda divina contra este mal horríével. Noé s fizemos a caminhada de "treê s dias"
antes que pudesse ser ouvida ou compreendida uma soé palavra quanto ao sacrifíécio. Êstamos
de posse plena e indiscutíével da vida de ressurreiçaã o e da justiça eterna. Deixaé mos a terra da
morte e das trevas; fomos trazidos a Deus Mesmo, de forma que podemos possuíé-Lo no poder
dessa vida com que fomos dotados e nessa esfera de justiça na qual fomos colocados: servir eé ,
pois, todo o nosso gozo. Naã o existe em nosso coraçaã o um soé af eto do qual Êle naã o seja digno;
naã ohaé emtodo o Seu rebanho uma víétima que seja preciosa demais para ser imolada no Seu
altar. Quanto mais perto andarmos d'Êle, tanto melhor compreenderemos que a nossa comida
e a nossa bebida eé fazer a Sua santa vontade. O crente considera como seu maior privileé gio o
de servir ao Senhor, e deleita-se em todo o exercíécio e em toda a manifestaçaã o da natureza
divina. Naã o caminha carregando com um peso insuportaé vel aà s costas ou um jugo incoé modo ao
pescoço. O jugo foi "despedaçado por causa da unçaã o" (Is 10:27); o fardo foi tirado para
sempre pelo sangue da cruz, e ele avança "resgatado" "regenerador" e "desembaraçado" em
conformidade com estas palavras consoladoras: "DÊIXÃ IR O MÊU POVO".
A Ultima Praga
"Ê o SÊNHOR disse a Moiseé s: Ãinda uma praga trarei sobre Faraoé e sobre o Êgito; depois,
vos deixaraé ir daqui; e quando vos deixar ir totalmente, a toda a pressa vos lançaraé
daqui"(capíétulo 11:1). Ãinda mais um golpe duro deve cair sobre este monarca de coraçaã o
endurecido e sobre o seu povo, antes de ser obrigado a deixar ir o povo favorecido pela graça
soberana de Deus.
_______________________
(¹) Exige uma grande diferença entre o método divino de tratar com os gentios e os rejeitadores do
evangelho. Quanto aos primeiros, lemos: "E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus
os entregou a um sentimento perverso" (Rm 1:28): mas acerca dos últimos, está escrito, "...porque não receberam o
amor daverdadepara se salvarem... Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que
sejam julgados todos..." (2 Ts 2:10-12). Os gentios rejeitaram o testemunho da criação, e são, portanto, entregues a si
próprios. Os rejeitadores do evangelho recusam o brilho pleno da luz que refulge da cruz, e, portanto, Deus enviar-
lhes-á em breve a "operação do erro". Tudo isto é profundamente solene nestes dias em que há tanta luz e tanta
profissão religiosa.
— CÃPIÉTULO 12 —
A PÁSCOA
O Princípio dos Meses
"Ê falou o SÊNHORa Moiseé s e a Ãraã o na terra do Êgito, dizendo: Êste mesmo meê s vos
seraé o princíépio dos meses; este vos seraé o primeiro dos meses do ano" (capíétulo 12:1-2). Êis
aqui uma alteraçaã o muito importante na ordem de contar o tempo. O ano comum ou civil
seguia o seu curso ordinaé rio, quando o Senhor o interrompeu por causa do Seu povo, e assim,
em princíépio, ensinou-lhes que deviam começar uma nova era em Sua companhia. Ã histoé ria
anterior de Israel naã o devia ser doravante tomada em conta. Ã redençaã o tinha de constituir o
primeiro passo na vida real.
Isto ensina-nos uma verdade bem simples. Ã vida do homem naã o eé realmente de
interesse ateé que ele comece a andar com Deus no conhecimento de uma salvaçaã o perfeita e
de uma paz estaé vel, pelo sangue precioso do Cordeiro de Deus. Ãntes disto, segundo o j uíézo de
Deus e a expressaã o das Êscrituras, ele estaé "morto em ofensas e pecados" e "alienado da vida
de Deus" (Êf 2:1; 4:18). Toda a sua histoé ria naã o eé mais que um espaço vazio, ainda que, na
opiniaã o do homem, haja sido uma cena de ruidosa atividade. Tudo aquilo que desperta a
atençaã o do homem deste mundo, as honras, as riquezas, os prazeres, os atrativos da vida,
assim chamados, todas estas coisas, quando examinadas aà luz do juíézo de Deus e pesadas na
balança do santuaé rio, naã o saã o mais que um vazio horríével, um espaço inué til, indigno de ocupar
um lugar nos registos do Êspíérito Santo. "Ãquelequenaã ocreê no Filho naã overaé a vida" Qo 3:36).
Os homens falam de gozar a vida quando se lançam ao mundo, quando viajam de um lado para
o outro, para ver tudo que eé digno de se ver; poreé m esquecem que o ué nico meio verdadeiro,
real e divino de "ver a vida" eé "crer no filho de Deus".
Como os homens pensam taã o pouco nisto! Julgam que a verdadeira vida acaba quando
um homem se torna cristaã o, real e verdadeiro e naã o apenas de nome e profissaã o exterior; ao
passo que a palavra de Deus nos ensina que eé entaã o que podemos ver a vida e experimentar
verdadeira felicidade. "Quem tem o Filho tem a vida" (1JO5:12).Ê "Bem-aventurado aquele cuja
transgressaã o eé perdoada e cu jo pecado eé coberto" (Sl 32:1). Somente em Cristo podemos ter
vida e felicidade. Fora d'Êle tudo eé morte e miseé ria, segundo o juíézo do ceé u, sejam quais forem
as apareê ncias. ÊÉ quando o veé u espesso da incredulidade eé tirado do coraçaã o, e nos eé dado ver,
com os olhos da feé , o Cordeiro de Deus carregando o nosso fardo pesado de culpa sobre a cruz,
que entramos na senda da vida e participamos do caé lice da felicidade divina—vida que
principia na cruz e corre para uma eternidade de gloé ria —, uma felicidade que, cada dia se
torna mais profunda e mais pura, mais relacionada com Deus e repousando melhor em Cristo,
ateé chegarmos aà sua proé pria esfera, na presença de Deus e do Cordeiro. Buscar a vida e a
felicidade por outros meios eé um trabalho muito mais penoso do que fazer tijolos sem palha.
Por certo, o inimigo das almas daé brilho a esta cena passageira, para fazer crer aos
homens que ela eé toda de ouro.
Êle sabe como levantar mais de uma representaçaã o de fantoches com o fim de provocar
o riso falso de uma multidaã o descuidada, que naã o sabe que eé Satanaé s quem move os
cordelinhos e que eé seu objetivo conservar as almas afastadas de Cristo para as arrastar para a
perdiçaã o. Naã o existe nada verdadeiro, nada soé lido, nada que satisfaça a alma, senaã o em Cristo.
Sem Êle "tudo eé vaidade e afliçaã o de espíérito" (Êc 2:17). Soé n'Êle se encontram os gozos
verdadeiros e ternos; e por isso eé soé quando começamos a viver n'Ele, d'Ele, com Ele e para Ele
que começamos verdadeiramente a viver: "Êste mesmo meê s vos seraé o princíépio dos meses;
este vos seraé o primeiro dos meses do ano". O tempo passado nos fornos de tijolo e junto das
panelas de carne eé como se naã o tivesse existido. Deve, doravante, ser uma coisa sem
importaê ncia, salvo que a sua recordaçaã o deve, de vez em quando, servir para despertar o seu
sentido daquilo que a graça divina havia realizado em seu favor.
O Cordeiro Guardado
"Falai a toda a congregaçaã o de Israel, dizendo: Ãos dez deste meê s, tome cada um para si
um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada casa... O cordeiro, ou cabrito,
seraé , sem maé cula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras, e o
guardareis ateé ao deé cimo quarto dia deste meê s, e todo o ajuntamento da congregaçaã o de Israel
o sacrificaraé aà tarde" (versíéculos 3 a 6). Êis aqui a redençaã o do povo de Israel baseada sobre o
sangue do cordeiro segundo o desíégnio eterno de Deus. Isto daé aà redençaã o toda a sua
estabilidade divina.
à redençaã o naã o foi o resultado de um segundo pensamento de Deus. Ãntes que o
mundo existisse, ou Satanaé s, ou o pecado; antes que a voz de Deus houvesse interrompido o
sileê ncio de eternidade e chamado os mundos aà existeê ncia, Êle tinha os seus grandes desíégnios
de amor, e estes desíégnios naã o podiam achar jamais um fundamento suficientemente soé lido na
criaçaã o. Todos os privileé gios, todas as beê nçaã os e as gloé rias da criaçaã o repousavam sobre a
obedieê ncia de uma criatura, e, no proé prio momento em que esta caiu, tudo foi perdido. Poreé m,
a tentativa de Satanaé s de corromper a criaçaã o apenas serviu para abrir o caminho aà
manifestaçaã o dos propoé sitos profundos de Deus quanto aà redençaã o.
Êsta maravilhosa verdade eé -nos apresentada em figura debaixo do fato que o cordeiro
devia ser guardado desde o dia dez "ateé ao deé cimo quarto dia". Êste cordeiro era
indiscutivelmente uma figura de Cristo, como nos ensina, sem dué vida, a passagem da
ICoríéntios 5:7: "Porque Cristo, nossa paé scoa, foi sacrificado por noé s". Na primeira epíéstola de
Pedro faz-se alusaã o aà guarda do cordeiro durante estes quatro dias:
"Sabendo que naã o foi com cosias corruptíéveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vaã maneira de viver, que por tradiçaã o recebestes do vossos pais, mas com
o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual na
verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado
nestes últimos tempos; por amor de vós" (versíéculos 18-20).
Todos os desíégnios de Deus, desde toda a eternidade, tinham relaçaã o com Cristo; e
nenhum esforço de inimigo podia interferir com esses desíégnios: antes pelo contraé rio, esses
esforços apenas contribuíéram para a manifestaçaã o e a estabilidade inabalaé vel da sabedoria
insondaé vel de Deus. Se "o Cordeiro imaculado e incontaminado" foi "conhecido antes da
fundaçaã o do mundo", certamente que a redençaã o devia estar no pensamento de Deus antes da
fundaçaã o do mundo. O bendito Senhor naã o teve que improvisar um plano para remediar o
terríével mal que o inimigo havia introduzido na criaçaã o. Naã o, Êle apenas teve que tirar do
tesouro inexplorado dos Seus maravilhosos desíégnios a verdade quanto ao Cordeiro
imaculado, conhecido desde a eternidade, e que devia ser "manifestado nestes ué ltimos tempos
por amor de noé s".
Quando a criaçaã o saiu das maã os do Criador, mostrando em cada fase e em cada parte a
obra admiraé vel da Sua maã o—provas infalíéveis do seu eterno poder, e da sua divindade veja
(Rm 1:20) —, naã o houve necessidade do sangue do Cordeiro. Poreé m, quando "por um homem
entrou o pecado no mundo", foi revelado o pensamento mais alto, mais rico, mais profundo,
mais pleno da redençaã o pelo sangue do Cordeiro. Êsta verdade gloriosa apareceu
primeiramente atraveé s da nuvem espessa que rodeava os nossos primeiros pais, quando
saíéram do j ardim doÊÉ den;asualuz começou a brilhar nas figuras e sombras da dispensaçaã o
moisaica; e, por fim, resplandeceu sobre o mundo com todo o seu esplendor, quando "o
Oriente do alto nos visitou" na Pessoa do Deus manifestado em carne (1 Tm 3:16); e os seus
ricos e gloriosos resultados seraã o realizados quando aquela grande multidaã o vestida de
branco, e tendo palmas em suas maã os, se reunir em torno do trono de Deus e do Cordeiro, e
toda a criaçaã o descansar sob o cetro de paz do Filho de Davi.
Ãssim, o cordeiro tomado no dia dez e guardado ateé ao dia catorze mostra-nos Cristo
conhecido de Deus, desde a eternidade, poreé m manifestado na plenitude dos tempos por amor
de noé s. O desíégnio eterno de Deus em Cristo vem a ser o fundamento da paz do crente. Nada
menos do que isto seria suficiente. Somos reconduzidos muito para laé da criaçaã o, para laé dos
limites do tempo, aleé m da entrada do pecado e de tudo que pudesse possivelmente af etar o
fundamento da nossa paz. Ãexpressaã o "conhecido antes da fundaçaã o do mundo" faz-nos
retroceder aà s profundidades insondaé veis da eternidade, e mostra-nos Deus fazendo os Seus
proé prios planos de amor redentor e baseando-os sobre o sangue expiador do Seu precioso
Cordeiro imaculado.
Cristo foi sempre o pensamento primaé rio de Deus, e por isso, logo que começa a falar
ou atuar, Êle aproveita a ocasiaã o para manifestar Ãquele que ocupava o lugar mais elevado em
Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiraçaã o divina, descobrimos que cada
cerimoé nia, cada rito, cada ordenaçaã o, e cada sacrifíécio indicava "o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo" (Jo 1:29); poreé m em nenhum de uma forma taã o evidente como a Paé scoa. O
cordeiro da paé scoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais
interessantes e instrutivas das Êscrituras.
O Cordeiro Imolado
Na interpretaçaã o deste capíétulo 12 de ÊÊ xodo temos que tratar com unta assembleia e
um sacrifíécio eé : "todo o ajuntamento da congregaçaã o de Israel o sacrificaraé aà tarde" (versíéculo
6). Naã o se trata tanto de um nué mero de famíélias e alguns cordeiros (o que por certo eé muito
verdade) como de uma assembleia e um cordeiro. Cada famíélia era a expressaã o local de toda a
assembleia reunida em torno do cordeiro. O antíétipo deste ato teê mo-lo em toda a Igreja de
Deus reunida pelo Êspíérito Santo em nome do Senhor Jesus, da qual cada assembleia em
particular, onde quer que se reué na, deve ser a expressaã o local.
"Vendo Eu Sangue..."
Note-se que o israelita naã o descansa sobre os seus proé prios pensamentos, nos seus
sentimentos ou na sua experieê ncia, a respeito do sangue. Isto teria sido descansar sobre um
fundamento fraco e movediço. Os seus pensamentos e os seus sentimentos podiam
serprofundos ou superficiais: mas, quer fossem profundos, quer superficiais, nada tinham que
ver com o fundamento da sua paz. Deus naã o havia dito: "vendo vós o sangue, e avaliando-o
como ele deve ser avaliado, eu passarei por cima de voé s" .Isto teria bastado para lançar um
israelita em profundo desespero quanto a si proé prio, visto que eé impossíével para o espíérito
humano apreciar o valor do precioso sangue do Cordeiro de Deus. O que dava paz era a
certeza de que os olhos do Senhor estavam postos sobre o sangue, e que Êle apreciava o seu
valor. Isto tranquilizava o coraçaã o. O sangue estava de fora da porta, e o israelita encontrava-se
dentro de casa, de modo que naã o podia ver aquele sangue; mas Deus o via, e isso era
perfeitamente suficiente.
à aplicaçaã o deste fato aà questaã o da paz do pecador eé bem clara. O Senhor Jesus Cristo,
havendo derramado o Seu precioso sangue, em expiaçaã o perfeita pelo pecado, levou esse
sangue aà presença de Deus, e fez ali aspersaã o dele; e o testemunho de Deus assegura o crente
de que as coisas estaã o liquidadas a seu favor—liquidadas, naã o pelo apreço que ele daé ao
sangue, mas, sim, pelo proé prio sangue, que tem um taã o grande valor para Deus, que, por causa
desse sangue, sem mais um jota ou um til, Êle pode perdoar com justiça todo o pecado e
aceitar o pecador como um ser perfeitamente justo em Cristo. Como poderia algueé m desfrutar
paz segura se a sua paz dependesse da sua apreciaçaã o do sangue?- Seria impossíével! Ã me lhor
apreciaçaã o que o espíérito humano possa tomar do sangue estaraé sempre infinitamente abaixo
do seu valor divino; e, portanto, se a nossa paz dependesse da apreciaçaã o que lhe devíéamos
dar, noé s jamais poderíéamos gozar de uma paz segura, e seria o mesmo que se a buscaé ssemos
pelas obras da lei (Rm 9:32; Gl 2:16; 3:10). O fundamento de paz ou haé de ser somente o
sangue, ou entaã o nunca teremos paz. Juntar-lhe o valor que noé s lhe damos, eé derrubar todo o
edifíécio do cristianismo, precisamente como se conduzíéssemos o pecador ao peé do monte Sinai
e o puseé ssemos debaixo do concerto da lei. Ou o sacrifíécio de Cristo eé suficiente ou naã o eé . Se eé
suficiente, por que essas dué vidas e temores 1?- Ãs palavras dos nossos lábios confessam que a
obra estaé cumprida, mas as dué vidas e temores do coração declaram que naã o. Todo aquele que
duvida do seu perdaã o perfeito e eterno, nega, tanto quanto lhe diz respeito, o cumprimento do
sacrifíécio de Cristo.
Haé muitas pessoas que fogem da ideia de poê r em dué vida deliberada e abertamente a
eficaé cia do sangue de Cristo, mas que, todavia, naã o teê m uma paz segura. Êstas pessoas dizem
estar completamente convencidas da suficieê ncia do sangue de Cristo, desde que possam estar
certas de ter parte nele — desde que possam ter a verdadeira feé . Haé muitas almas preciosas
nesta infeliz condiçaã o. Ocupam-se mais da sua feé e dos seus interesses do que com o sangue de
Cristo e a palavra de Deus. Por outras palavras, olham para o seu íéntimo, em vez de olharem
para Cristo. Isto naã o eé o procedimento da feé , e, por conseguinte, carecem de paz. O israelita
protegido pela umbreira da porta manchada de sangue podia dar a estas almas uma liçaã o
muito apropriada — naã o fora salvo pelo interesse que tinha no sangue nem pelos seus
pensamentos acerca dele, mas simplesmente pelo proé prio sangue. Sem dué vida, ele tinha uma
parte bem-aventu-rada no sangue; assim como os seus pensamentos tambeé m estavam postos
nele; poreé m, Deus naã o havia dito: "Vendo eu o vosso apreço pelo sangue passarei por cima de
voé s". Ãh! naã o; o SÃNGUÊ, com o seu meé rito exclusivo e eficaé cia divina estava posto perante
Israel; e se eles tivessem tentado poê r soé que fosse um bocado de paã o asmo ao lado do sangue,
como base de segurança, teriam feito do Senhor mentiroso e negado a suficieê ncia do Seu
remeé dio.
Os Pães Asmos
Mas como devia ser comido este cordeiro 1?- "...com paã es asmos; com ervas amargosas a
comeraã o". O fermento eé empregado, invariavelmente, atraveé s das Êscrituras, como síémbolo do
mal. Nunca eé usado nem no Velho nem no NovoTestamento como simbolizando alguma coisa
pura, santa ou boa. Ãssim, neste capíétulo, a celebraçaã o da festa com "paã es asmos" eé figura da
separaçaã o praé tica do mal como resultado proé prio de havermos sido lavados dos nossos peca-
dos no sangue do Cordeiro e a proé pia consequeê ncia da comunhaã o com os Seus sofrimentos.
Nada senaã o paã o perfeitamente livre de fermento podia ser compatíével com o cordeiro assado.
Uma simples partíécula daquilo que era figura destacada do mal teria destruíédo o caraé ter moral
de toda a ordenaçaã o. Como poderíéamos noé s associar qualquer espeé cie de mal como a nossa
comunhaã o com Cristo nos Seus sofrimentos?- Seria impossíével. Todos aqueles que, pelo poder
do Êspíérito Santo, teê m compreendido a significaçaã o da cruz, naã o teraã o dificuldade, pelo mesmo
poder, de afastar entre eles o fermento. "Porque Cristo, nossa paé scoa, foi sacrificado por noé s.
Peio que façamos festa, naã o com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da
malíécia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade" (1 Co 5:7-8). Ã festa de que se fala
nesta passagem eé a mesma que, na vida e conduta da Igreja, corresponde aà festa dos paã es
asmos. Êsta durava "sete dias"; e a Igreja, coletivamente, e o crente individualmente, saã o
chamados para andar em santidade praé tica, durante os sete dias, ou seja todo o tempo da sua
carreira aqui na terra; e isto, note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no
sangue, e tendo comunhaã o com os sofrimentos de Cristo.
O israelita naã o deitava fora o fermento a fim de ser salvo, mas, sim, porque estava salvo;
e se deixasse de o deitar fora, naã o comprometia com isso a sua segurança por meio do sangue,
mas simplesmente a comunhaã o com a assembleia. "Por sete dias naã o se ache nenhum
fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer paã o levedado, aquela alma seraé
cortada da congregaçaã o de Israel, assim o estrangeiro como o natural da terra" (versíéculo 19).
O corte de uma alma da congregaçaã o corresponde precisamente aà suspensaã o de um cristaã o da
comunhaã o, quando acede aà quilo que eé contraé rio aà santidade da presença de Deus. Deus naã o
pode tolerar o mal. Um simples pensamento impuro interrompe a comunhaã o da alma; e
enquanto a mancha produzida por este pensamento naã o for tirada pela confissaã o, baseada na
intercessaã o de Cristo, naã o eé possíével restabelecer a comunhaã o (vide 1 Jo 1:5 -10). O cristaã o
sincero regozija-se nisto; e daé louvores em memoé ria da santidade de Deus (SI 97:12). Ãinda
que pudesse, naã o diminuiria, nem por um momento, o estalaã o: eé seu gozo inexcedíével andar na
companhia d Ãquele que naã o andaraé nem por um momento com uma simples partíécula de
"fermento".
Graças a Deus, noé s sabemos que nada poderaé j amais partir em dois o laço que une o
verdadeiro crente com Êle. Somos salvos pelo Senhor, naã o com uma salvaçaã o temporaé ria ou
condicional, mas "com uma eterna salvaçaã o" (Is 45:17). Poreé m, salvaçaã o e comunhaã o naã o saã o a
mesma coisa. Muitas pessoas estaã o salvas, e naã o o sabem; e muitas, tambeé m, estaã osalvas sem
teremogozo da salvaçaã o. ÊÉ impossíével que eu sinta o gozo de estar sob a verga da porta
manchada de sangue, se houver fermento em minha casa. ÊÉ um axioma na vida divina. Oxalaé
fosse escrito em nossos coraçoã es! Ã santidade praé tica, embora naã o seja a base da nossa
salvaçaã o, estaé intimamente ligada com o gozo da salvaçaã o. O israelita naã o era salvo pelos paã es
asmos, mas, sim, pelo sangue; e todavia o fermento teê -lo-ia cortado da comunhaã o. Ê assim
quanto ao cristaã o, ele naã o eé salvo por sua santidade praé tica, mas pelo sangue; poreé m se se
entrega ao mal, em pensamento, por palavras, ou açoã es, naã o teraã o verdadeiro gozo da
salvaçaã o, nem verdadeira comunhaã o com a pessoa do Cordeiro.
ÊÉ nisto, sem dué vida, que estaé o segredo de uma boa parte da esterilidade espiritual e
falta de paz constante que se observa entre os filhos de Deus. Naã o praticam a santidade: naã o
guardam a festa dos "paã es asmos" (ÊÊ x 23:15). O sangue acha-se sobre as ombreiras da porta,
poreé m o fermento dentro de suas casas impede-os de gozarem a segurança que o sangue
concede. Ã permissaã o do mal destroé i a nossa comunhaã o, embora naã o quebre o laço que nos
une eternamente a Deus. Ãqueles que pertencem aà Ãssembleia de Deus devem ser santos. Naã o
somente foram libertados da culpa e das consequeê ncias do pecado, como tambeé m da sua
praé tica, do seu poder e do amor do pecado. O proé prio fato de haverem sido libertados pelo
sangue do cordeiro da paé scoa impunha aos israelitas a obrigaçaã o de deitarem fora de suas
casas o fermento. Naã o podiam dizer, segundo a linguagem terríével do antinomianismo 1, "agora
que estamos livres, podemos conduzir-nos como nos aprouver". De modo nenhum! Se haviam
sido salvos feia graça, era para andarem em santidade. Ã alma que se aproveita da liberdade da
graça divina e da redençaã o que haé em Cristo Jesus para "continuar no pecado" prova
claramente que naã o compreende nem a graça nem a redençaã o.
à graça naã o somente salva a alma com uma eterna salvaçaã o, como lhe daé uma natureza
que se deleita em tudo que pertence a Deus, porque eé divina. Noé s somos feitos participantes
da natureza divina, a qual naã o pode pecar, porque eé nascida de Deus. Ãndar na energia desta
graça eé , na realidade, "guardar" a festa dos paã es asmos. Naã o existe "fermento velho" nem
"fermento da malíécia" (1 Co 5:8) na nova natureza, porque eé nascida de Deus e Deus eé santo e
"Deus eé amor". Por isso eé evidente que naã o eé com o fim de melhorar a nossa velha natureza,
que eé irreparaé vel, nem tampouco de obtermos a nova natureza, que tiramos de noé s o mal, mas,
sim, porque temos o mal em noé s. Noé s temos a vida e, no poder desta vida, tiramos o mal. ÊÉ
somente quando estamos libertados da culpa do pecado que compreendemos ou exibimos o
verdadeiro poder da santidade. Tentar consegui-lo por qualquer outro meio eé esforço inué til. Ã
festa dos paã es asmos soé pode ser guardada sob o abrigo perfeito do sangue.
____________________
1) antinomia: contradição entre duas leis ou princípios; oposição recíproca Nota do editor.
As Ervas Amargas
Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os paã es asmos, a significaçaã o e
mesma utilidade moral. Naã o podemos desfrutar da participaçaã o dos sofrimentos de Cristo sem
recordarmos o que tornou necessaé rios esses sofrimentos, e esta recordaçaã o deve,
necessariamente, produzir um espíérito de mortificaçaã o e submissaã o, ilustrado, de um modo
apropriado, nas ervas amargosas da festa da paé scoa. Se o cordeiro assado representa Cristo
sofrendo a ira de Deus em Sua Proé pria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o
crente reconhece a verdade que Êle sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).
Por causa da leviandade dos nossos coraçoã es eé bom compreendermos a profunda
significaçaã o das ervas amargosas. Quem poderaé ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem
compreender, em alguma medida, o significado dos paã es asmos com ervas amargosas 1?- Uma
vida praticamente santa, unida a uma profunda submissaã o de alma, deve ser o fruto da
comunhaã o verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque eé de todo impossíével que o mal
moral e a leviandade de espíérito possam subsistir na presença desses sofrimentos.
Mas, pode perguntar-se naã o sente a alma um gozo profundo no conhecimento que
Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por noé s, o caé lice da ira justa de
Deus? Por certo que eé assim. Ê este o fundamento inabalaé vel de todo o nosso gozo. Mas,
poderemos noé sesquecerquefoi" por nossos pecados" que Êle sofreu £ Poderemos perder de
vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua
cabeça sob o peso das nossas transgressoã es? Certamente que naã o. Devemos comer o nosso
cordeiro com ervas amargosas; as quais, naã o se esqueça, naã o representam as laé grimas de um
sentimentalismo desprezíével e superficial, mas sim as experieê ncias profundas e verdadeiras de
uma alma que compreende com inteligeê ncia espiritual o significado e efeito praé tico da cruz.
Contemplando a cruz, descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e daé doce paz
e gozo. Poreé m, vemos que ela poã e de lado, inteiramente, tambeé m, a natureza humana—
representa a crucificaçaã o da "carne" e a morte do "homem velho" (veja-se Romanos, 6:6; Gl.
2-.20; 6:14; Cl. 2:11). Êstas verdades, nos seus resultados praé ticos, implicam muitas coisas
"amargosas" para a nossa natureza: exigem a renué ncia proé pria, a mortificaçaã o dos nossos
membros que estaã o sobre a terra (Cl 3:5), e a consideraçaã o do "homem velho" como morto
para o pecado (Rm 6). Todas estas coisas podem parecer terríéveis de encarar; poreé m, uma vez
que se haé entrado na casa cujas portas estaã o manchadas com o sangue veê em-se de uma
maneira muito diferente. Ãs mesmas ervas que, para o gosto de um egíépcio, eram, sem dué vida,
taã o amargosas, formavam uma parte integral da festa de redençaã o de Israel. Ãqueles que saã o
remidos pelo sangue do Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhaã o com Êle, consideram como
uma "festa" tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.
A Comunhão e a Paz
"Ê nada dele deixareis ateé pela manhaã ; mas o que dele ficar ateé pela manhaã , queimareis
no fogo" (versíéculo 10). Êste mandamento ensina-nos que a comunhaã o da congregaçaã o de
Israel naã o devia ser, de modo nenhum, separada do sacrifíécio sobre o qual se baseava essa
comunhaã o. O coraçaã o deve guardar sempre a lembrança viva de que toda a verdadeira
comunhaã o estaé inseparavelmente ligada com a redençaã o efe tuada. Crer que se pode ter
comunhaã o com Deus sobre qualquer outro fundamento eé imaginar que Deus pode ter comu-
nhaã o com o pecado que haé em noé s; e pensar em comunhaã o com o homem, com base em
qualquer outro fundamento, eé apenas formar uma uniaã o impura, da qual nada pode resultar
senaã o confusaã o e iniquidade. Êm suma: eé necessaé rio que tudo esteja fundamentado sobre o
sangue e inseparavelmente ligado com ele. Êste eé o significado simples da ordenaçaã o que
mandava comer o cordeiro da paé scoa na mesma noite em que o sangue havia sido derramado.
à comunhaã o naã o pode ser separada do seu fundamento.
Portanto, que belo quadro nos oferece a congregaçaã o de Israel protegida pelo sangue e
comendo em paz o cordeiro assado com paã es asmos e ervas amargosas! Nenhum temor de
juíézo, nenhum temor da ira do SÊNHOR, nenhum temor da tempestade terríével da justa
vingança, que, aà meia-noite, ia varrer, veementemente, toda a terra do Êgito! Tudo estava em
paz profunda atraé s das portas manchadas de sangue. Nada tinham a temer de fora; e nada
dentro podia perturbaé -los, salvo o fermento, que teria dado umgolpe mortal em toda a sua paz
e bem-aventurança. Que exemplo para a Igreja! Que exemplo para o cristaã o! Que Deus nos
ajude a contemplarmo-lo com um olhar iluminado e um espíérito doé cil!
O Vestido de Israel
Contudo, naã o esgotaé mos ainda o ensino desta taã o instrutiva ordenaçaã o. Consideraé mos
a posição de Israel e a comida de Israel, vamos agora falar do estado de Israel.
"Ãssim, pois, o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos peé s, e o
vosso cajado na maã o; e o comereis apressadamente; esta eé a Paé scoa do Senhor" (versíéculo 11).
Deviam comer a paé scoa como um povo que estava preparado para deixar atraé s de si o paíés da
morte e das trevas, da ira e do juíézo, e marchar em demanda da terra da promissaã o—a herança
que lhes estava reservada. O sangue que os havia preservado da sorte dos primogeé nitos do
Êgito era tambeé m o fundamento da sua libertaçaã o da escravidaã o do Êgito; e agora soé lhes
restava porem-se em marcha e andar com Deus para a terra que manava leite e mel. ÊÉ verdade
que naã o haviam ainda atravessado o Mar vermelho; tampouco haviam andado o "caminho de
treê s dias". Contudo, eram jaé , em princíépio, um povo redimido, um povo separado, um povo de
peregrinos, um povo esperançoso, um povo que dependia de Deus; e era preciso que os seus
trajos estivessem de harmonia com a sua presente condiçaã o e o destino futuro. Os lombos
cingidos indicavam uma separaçaã o rigorosa de tudo aquilo que os rodeava e mostravam que
eles eram um povo preparado para servir. Os peé s calçados mostravam que estavam prontos a
abandonar o seu estado presente; enquanto que o cajado era o emblema significativo de um
povo de peregrinos numa atitude de apoio em qualquer coisa que estava fora de si mesmos.
Que caracteríésticos preciosos! Prouvera a Deus que fossem vistos em cada membro da famíélia
dos Seus remidos.
Prezado leitor, meditemos "estas coisas (lTm 4:15). Pela graça de Deus,
experimentaé mos a eficaé cia purificadora do sangue de Jesus; neste estado eé nosso privileé gio
alimentarmo-nos da sua adoraé vel Pessoa e deleitarmo-nos nas Suas "riquezas
incompreensíéveis" (Êf 3:8), tendo parte nos Seus sofrimentos e sendo feitos "conforme aà sua
morte" (Fp 3:10). Mostremo-nos, pois, com paã es asmos e ervas amargosas, os lombos cingidos,
os sapatos nos peé s, e o cajado na maã o. Numa palavra: que sejamos notados como um povo
santo, um povo crucificado, vigilante e diligente—um povo que mancha, claramente, ao
encontro deDeus no caminho para agloé ria—, "destinado para oreino". Que Deus nos conceda
penetrar na profundidade e no poder de todas estas coisas; de forma que naã o sejam apenas
teorias, ou princíépios de conhecimento bíéblico e simples interpretaçaã o; mas, sim, realidades
vivas, divinas, conhecidas por experieê ncia e manifestadas na vida, para gloé ria de Deus.
O Verdadeiro Cristianismo
O verdadeiro Cristianismo naã o eé senaã o a manifestaçaã o da vida de Cristo implantada em
noé s pela operaçaã o do Êspíérito Santo, segundo os desíégnios eternos de Deus de graça soberana;
e todas as nossas obras antes desta implantaçaã o de nova vida naã o saã o mais que "obras mortas"
(Hb 6:1), das quais a nossa conscieê ncia deve ser purificada do mesmo modo que das "maé s
obras" (Hb 9:14).
à expressaã o "obras mortas" inclui todas as obras que os homens fazem com o fim de
obter a vida. Se algueé m busca a vida, eé evidente que ainda naã o a tem. ÊÉ possíével que seja muito
sincero em a buscar, mas a sua proé pria sinceridade forma evidente o fato que, por enquanto,
ainda naã o a alcançou. Ãssim, pois, todo o esforço feito com o fim de obter a vida eé obra morta,
tanto mais que eé feito sem a vida de Cristo, a ué nica vida verdadeira, e a ué nica fonte de onde
podem emanar as boas obras. Ênote-se que naã o eé uma questaã o de "obras maé s"; ningueé m
pensaria em obter a vida por tais meios. Naã o! Pelo contraé rio, ver-se-aé como as pessoas
recorrem constantemente aà s "obras mortas" a fim de aliviarem a Sua conscieê ncia sob a
sensaçaã o das "obras maé s", ao passo que a revelaçaã o divina nos ensina que a conscieê ncia
necessita de ser purificada tanto de umas como das outras.
Ãleé m disso, quanto aà justiça, lemos que "todas as nossas justiças saã o como o trapo da
imundíécia" (Is 64:6). Naã o eé dito aqui apenas que "todas as nossas iniquidades saã o como trapo
da imundíécia". Quem ousaria dizer o contraé rio? Poreé m o fato eé que os melhores frutos que
podemos produzir, sob a forma de piedade e da justiça, saã o representados nas paé ginas da
verdade eterna como "obras mortas" e "trapo da imundíécia". Os mesmos esforços que fazemos
para conseguir a vida provam que estamos mortos; e os nossos esforços para alcançarmos a
justiça provam apenas que estamos vestidos com trapos de imundíécia. ÊÉ soé como possuidores
da vida eterna e da justiça divina de podemos andar no caminho das boas obras que Deus nos
preparou. Ãs obras mortas e os trapos imundos naã o podem ser permitidos nesse caminho.
Ningueé m senaã o "os resgatados do Senhor" (Is 51:11) pode passar por ele. Êra na qualidade do
povo remido que Israel guardava a festa dos paã es asmos e santificava os primogeé nitos ao
Senhor., Jaé consideramos a primeira destas ordenaçoã es; quanto a esta ué ltima eé rica em
instruçoã es.
— CÃPIÉTULO 14 —
O MAR VERMELHO
Uma Situação sem Saída
"Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes aé guas, esses veê em as obras
do SÊNHOR e as suas maravilhas no profundo" (SI 107:23-24).
Quaã o verdadeiras saã o estas palavras! Ê contudo como os nossos coraçoã es covardes teê m
horror a essas "grandes aé guas"! Preferimos os fundos baixos, e, por consequeê ncia, deixamos
de ver "as obras" e "as maravilhas" do nosso Deus; pois estas soé podem ser vistas e conhecidas
"no profundo".
ÊÉ nos dias de provaçaã o e dificuldades que a alma experimenta alguma coisa da bem-
aventurança profunda e incontaé vel de poder confiar em Deus. Se tudo fosse sempre faé cil nunca
se poderia fazer esta experieê ncia. Naã o eé quando o barco desliza suavemente aà superfíécie do
lago tranquilo que a realidade da presença do Mestre eé sentida; mas sim, quando ruge o
temporal e as ondas varrem a embarcaçaã o. O Senhor naã o nos oferece a perspectiva de isençaã o
de provaçoã es e tribulaçoã es; pelo contraé rio, diz-nos que teremos tanto umas como as outras;
poreé m, promete estar conosco sempre; e isto eé muito melhor que vermo-nos livres de todo o
perigo. Ã compaixaã o do Seu coraçaã o conosco eé muito mais agradaé vel do que o poder da Sua
maã o por nós. Ã presença do Senhor com os Seus servos fieé is, enquanto passavam pelo forno de
fogo ardente, foi muito melhor do que a manifestaçaã o do Seu poder para os preservar dele (Dn
3). Desejamos com frequeê ncia ser autorizados a avançar na nossa carreira sem provaçoã es, mas
isto acarretaria grave prejuíézo. Ã presença do Senhor nunca eé taã o agradaé vel como nos
momentos de maior dificuldade.
Ãssim aconteceu no caso de Israel, como vemos neste capíétulo. Êncontram-se numa
dificuldade esmagadora—foram chamados a mercadejar "mas grandes aé guas"; veê em esvair-
se-lhes "toda a sua sabedoria" (Sl 107:27). Faraoé , arrependido de os haver deixado sair do seu
paíés, decide fazer um esforço desesperado para os trazer de novo. "Ê aprontou o seu carro e
tomou consigo o seu povo; e tomou seiscentos carros escolhidos, e todos os carros do Êgito, e
os capitaã es sobre eles todos... Ê, chegando Faraoé , os filhos de Israel levantaram seus olhos, e
eis que os egíépcios vinham atraé s deles, e temeram muito; entaã o, os filhos de Israel chamaram
ao SÊNHOR" (versíéculos 6-10). Ãqui estava uma cena no meio da qual o esforço humano era
inué til. Tentar livrarem-se por qualquer coisa que pudessem fazer, era a mesma coisa que se
tentassem fazer retroceder as ondas alterosas do oceano com uma palha. O mar estava diante
deles, o exeé rcito de Faraoé por detraé s, e de ambos os lados estavam as montanhas; e tudo isto,
note-se, havia sido permitido e ordenado por Deus. O Senhor havia escolhido o terreno para
acamparem "diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal -Zefom". Depois,
permitiu que faraoé os alcançasse. Ê por queê 1?- Precisamente para Se manifestar na salvaçaã o do
Seu povo e na completa destruiçaã o dos seus inimigos. "Ãquele que dividiu o Mar Vermelho em
duas partes; porque a sua benignidade eé para sempre. Ê fez passar Israel pelo meio dele;
porque a sua benignidade eé para sempre. Mas derribou a Faraoé com o seu exeé rcito no Mar
Vermelho, porque a sua benignidade eé para sempre" (SI 136:13-15).
O Propósito de Deus
Naã o existe sequer uma posiçaã o em toda a peregrinaçaã o dos remidos de Deus cujos
limites naã o hajam sido cuidadosamente traçados pela maã o da sabedoria infalíével e o amor
infinito. O alcance e a influeê ncia peculiar de cada posiçaã o saã o calculados com cuidado. Os Pi-
Hairotes e os Migdoles estaã o dispostos de maneira a estarem em relaçaã o com a condiçaã o
moral daqueles que Deus estaé conduzindo atraveé s dos caminhos sinuosos e dos labirintos do
deserto, e tambeé m para que manifestem o Seu proé prio caraé ter. Ã incredulidade sugere com
frequeê ncia esta pergunta: "Porque eé isto assim £ Deus sabe; e, sem dué vida, revelaraé a razaã o,
sempre que essa revelaçaã o promova a Sua gloé ria e o bem do Seu povo. Quantas vezes somos
tentados a perguntar porque e com que fim nos achamos nesta ou naquela circunstaê ncia!
Quantas vezes ficamos perplexos quanto aà razaã o de nos vermos expostos a esta ou aà quela
prova! Quaã o melhor seria curvarmos as nossas cabeças em humilde submissaã o, dizendo, "estaé
bem", e"tudoacabaraé bem"! Quanto aà Deus Quem determina a nossa posiçaã o, podemos estar
certos que eé uma posiçaã o sensata e salutar; e ateé mesmo quando noé s, louca e obstinadamente,
escolhemos uma posiçaã o, o Senhor, em Sua misericoé rdia, domina a nossa loucura e faz com
que as influeê ncias das circunstaê ncias da nossa proé pria escolha operem para nosso bem
espiritual.
ÊÉ quando os filhos de Deus se encontram nos maiores apertos e dificuldades que teê m o
privileé gio de ver as mais preciosas manifestaçoã es do caraé ter e da atividade de Deus; e eé por
esta razaã o que Êle os coloca fraquetemente numa situaçaã o de prova, a fim de poder mostrar-Se
de um modo mais notaé vel. O Senhor podia ter conduzido Israel atraveé s do Mar Vermelho para
muito aleé m do alcance das hostes de Faraoé , muito antes que este houvesse saíédo do Êgito,
poreé m isto naã o teria glorificado inteiramente o Seu nome, nem teria confundido de uma
maneira taã o completa o inimigo, sobre o qual queria ser "glorificado" (versíéculo 17). Tambeé m
noé s perdemos muitas vezes de vista esta preciosa verdade, e o resultado eé que os nossos
coraçoã es fraquejam na horta da provaçaã o. Se taã o somente pudeé ssemos encarar as crises
graves como uma oportunidade de Deus pode mostrar, em nosso favor, a suficieê ncia da graça
divina, as nossas almas conservariam o seu equilíébrio, e Deus seria glorificado, ateé mesmo no
profundo das aé guas.
A Salvação do SENHOR
"Moiseé s, poreé m, disse ao povo: Naã o temais; estai quietos, e vede o livramento do
SÊNHOR, que hoje vos faraé : porque aos egíépcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para
sempre. O SÊNHOR pelejaraé por voé s e voé s calareis" (versíéculos 13 -14). Êis aqui a atitude que a
feé toma em face da provaçaã o: "estai quietos". Para a carne e o sangue isto eé impossíével. Todos
os que conhecem, em alguma medida, a impacieê ncia do coraçaã o humano, ante a perspectiva de
provaçoã es e afliçoã es, poderaã o fazer uma ideia do que significa estar quieto. Ã nossa natureza
quer fazer alguma coisa. Ê por isso correraé de um lado para o outro: quer ter parte na obra; e
embora possa pretender justificar osseusatos desprezíéveis, f azendo-os acompanhar do tíétulo
pomposo e vulgar de emprego legítimo de meios, na realidade eles saã o apenas os frutos claros
e positivos da incredulidade que sempre poã e Deus de parte, e nada veê senaã o as nuvens escuras
da sua proé pria criaçaã o. Ã incredulidade cria e aumenta as dificuldades, e, entaã o, leva-nos a
procurarmos venceê -las por meio das nossas atividades inué teis e precipitadas, as quais, na
realidade, apenas lançam poeira em redor de noé s, e assim nos impede de vermos a salvaçaã o de
Deus. Pelo contraé rio, a feé eleva a alma acima das dificuldades ateé Deus, e habilita-nos a
estarmos "quietos". Nada ganhamos com os nossos esforços impacientes e inquietos. "Naã o
podemos fazer um cabelo branco ou preto, taã o-pouco podemos juntar um coê vado aà nossa
estatura" (Mt 5:36,6:27). Que poderia Israel fazer junto do Mar Vermelhou Podia secaé -lo?
Podia aplanar as montanhas?- Podia aniquilar as hostes do Êgito 1?- Impossíével. Êncontravam-
se encerrados dentro de um muro impenetraé vel de dificuldades, aà vista do qual a natureza naã o
podia fazer mais que tremer e sentir a sua completa impoteê ncia. Poreé m, para Deus era
precisamente o momento de atuar. Quando a incredulidade eé afastada da cena, Deus pode
intervir; e, para podermos ver os Seus atos, noé s temos de estar "quietos". Cada movimento da
natureza eé , com efeito, um impedimento para a nossa percepçaã o e gozo da intervençaã o divina
a nosso favor.
UM CÂNTICO DE VITÓRIA
O Louvor que Segue a Libertação
Êste capíétulo abre com o caê ntico magníéfico de vitoé ria de Israel nos bancos do Mar
Vermelho, quando viu "a grande maã o que o SÊNHOR mostrara aos egíépcios" (capíétulo 14:31).
Haviam visto a salvaçaã o de Deus e, portanto, entoaram os Seus louvores e narraram as Suas
obras maravilhosas. "Êntaã o, cantou Moiseé s e os filhos de Israel este caê ntico ao SÊNHOR" . Ãteé
este momento naã o temos ouvido nem sequer uma soé nota de louvor. Ouvimos o seu clamor
angustioso, enquanto labutavam nos fornos de tijolo do Êgito, escutaé mos o seu brado de
incredulidade, quando se viram rodeados por aquilo que lhes parecia serem dificuldades
insuperaé veis; mas, ateé agora, naã o ouvimos nenhum caê ntico de louvor. Foi soé quando, como um
povo salvo, se acharam rodeados pelos frutos da salvaçaã o de Deus que o hino triunfal
irrompeu de toda a congregaçaã o redimida. Foi quando saíéram do seu batismo "na nuvem e no
mar", e puderam contemplar os ricos despojos da vitoé ria, que se achavam espalhados aà sua
volta, que milhares de vozes se ouviram entoando o caê ntico da vitoé ria. Ãs aé guas do Mar
Vermelho corriam entre eles e o Êgito, e eles achavam-se na costa como povo inteiramente
libertado; e, portanto, puderam louvar o Senhor.
A Redenção e o Culto
Nisto, como em tudo o mais, eles foram figuras de todos noé s. Noé s precisamos de saber
que estamos salvos, no poder da morte e ressurreiçaã o, antes de podermos prestar a Deus culto
claro e inteligente. Haveraé sempre na alma reserva e hesitaçaã o, provenientes, sem dué vida, da
sua incapacidade em compreender a redençaã o que haé em Cristo Jesus. Pode haver o
reconhecimento do fato que haé salvaçaã o em Cristo Jesus, e em nenhum outro; poreé m
compreender, pela feé , o verdadeiro caraé ter e fundamento dessa salvaçaã o, realizando-a como
nossa, eé coisa muito diferente. O Êspíérito de Deus revela, com clareza inconfundíével, na Palavra
de Deus, que a Igreja estaé unida a Cristo na morte e ressurreiçaã o; e, demais, que Cristo
ressuscitado e assentado aà destra de Deus eé a medida e o penhor da aceitaçaã o da Igreja.
Quando se creê isto, a alma eé transportada para laé das regioã es da dué vida e incerteza. Como
pode o crente duvidar quando sabe que eé representado continuamente diante do trono de
Deus por um advogado, Jesus Cristo, o Justo 1?- ÊÉ privileé gio ateé do mais fraco dos membros da
Igreja de Deus saber que foi representado por Cristo na cruz, e que todos os seus pecados
foram confessados, levados, julgados e expiados ali. ÊÉ uma realidade divina, que, quando aceite
pela feé , daé a paz. Mas nada menos que isto pode jamais dar paz. Pode existir o desejo mais
sincero, ardente, ansioso e verdadeiro de Deus; poderaã o observar-se pia e devotadamente
todas as ordenaçoã es, deveres e praé ticas da religiaã o, mas o ué nico meio de libertar a conscieê ncia
do sentido do pecado eé veê -lo julgado na pessoa de Cristo, oferecendo-Se uma vez como
sacrifíécio pelo pecado na cruz de maldiçaã o. Se o pecado foi ali julgado uma vez para sempre, o
crente deve, portanto, consideraé -lo, agora, como uma questaã o divinamente e eternamente
arrumada. Ê que a questaã o do pecado foi assim julgada estaé provado pela ressur reiçaã o do
nosso Substituto. "Êu sei que tudo quanto Deus faz duraraé eternamente; nada se lhe deve
acrescentar, e nada se lhe deve tirar. Ê isso faz Deus para que haja temor diante dele" (Êc 3:14).
Contudo, enquanto eé admitido em geral que tudo isto eé verdadeiro quanto aà Igreja
coletivamente, muitos teê m grande dificuldade em fazer a sua aplicaçaã o pessoal. Êstaã o prontos
a dizer com o Salmista: "Verdadeiramente bom eé Deus para com Israel, para com os limpos de
coraçaã o. Quanto a mim..." (SI 73:1- 2). Olham para si, em vez de olharem para Cristo na morte e
Cristo na ressurreiçaã o. Êstaã o mais ocupados com a apropriaçaã o de Cristo do que com Cristo
Mesmo. Pensam na sua capacidade em vez de pensarem nos seus privileé gios. Saã o retidos num
estado de incerteza inquietante; e, por conseguinte, nunca podem tomar o lugar de
adoradores ditosos e inteligentes. Oram por salvaçaã o em vez de se regozijarem na possessaã o
consciente dela. Olham para os seus frutos imperfeitos em vez de contemplarem a perfeita
expiaçaã o de Cristo.
Bom, examinando as vaé rias notas deste caê ntico, no capíétulo 15 de ÊÊ xodo, naã o
encontramos uma nota sequer acerca do ego nem dos seus feitos: tudo se refere ao Senhor
desde o princíépio ao fim. Começa assim: "Cantarei ao SÊNHOR, porque sumamente se exaltou;
lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro". Isto eé uma amostra de todo o caê ntico. ÊÉ um simples
relato dos atributos e obras do Senhor. No capíétulo 14 os coraçoã es dos israelitas haviam sido,
com efeito, encurralados sob a pressaã o excessiva das circunstaê ncias; poreé m no capíétulo 15
essa pressaã o eé tirada, e os seus coraçoã es encontram plena saíéda num suave caê ntico de louvor.
O ego eé esquecido; as circunstaê ncias saã o perdidas de vista, e um soé objeto enche a sua visaã o, e
esse eé o Proé prio Senhor no Seu caraé ter e em Suas obras. Ãssim eles puderam dizer: "Pois tu,
SÊNHOR, me alegraste com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas maã os" (SI 92:4). Isto eé
culto verdadeiro. ÊÉ quando o pobre ego, com tudo quanto lhe pertence, eé perdido de vista e
somente Cristo enche os nossos coraçoã es, que podemos oferecer a Deus culto verdadeiro. Os
esforços de uma piedade carnal naã o saã o precisos para despertar na alma sentimentos de
devoçaã o. Naã o temos necessidade nenhuma de recorrer aà pretendida ajuda da religiaã o, assim
chamada, para inflamar na alma a chama do culto aceitaé vel a Deus. Ãh! Naã o; deixai que o
coraçaã o esteja ocupado somente com a Pessoa de Cristo, e os "caê nticos de louvor" seraã o a
consequeê ncia natural. ÊÉ impossíével que o olhar esteja fixado n'Êle sem que o espíérito se curve
em santa adoraçaã o. Se contemplarmos o culto dos exeé rcitos celestiais, que rodeiam o trono de
Deus e do Cordeiro, veremos que eé sempre acompanhado da apresentaçaã o de algum traço
especial das perfeiçoã es ou obras divinas. Ãssim deveria ser com a Igreja na terra; e quando eé
de outra maneira, eé porque nos deixamos vencer por coisas que naã o teê m lugar nas regioã es da
clara luz e da pura bem-aventurança.
Êis aqui as provaçoã es do deserto. "Que havemos de comera" e "que havemos de bebera"
Ãs aé guas de Mara puseram aà prova o coraçaã o de Israel e mostraram o seu espíérito
murmurador; mas o Senhor mostrou-lhes que naã o havia amargura que Êle naã o pudesse
dulcificar com a provisaã o da Sua graça: "...e o SÊNHOR mostrou-lhe um lenho que lançou nas
aé guas, e as aé guas se tornaram doces: ali lhes deu estatutos e uma ordenaçaã o, e ali os provou".
Que formosa figura d'Ãquele que foi, em graça infinita, lançado aà s aé guas da morte, para que
essas aé guas nada mais nos pudessem dar senaã o doçura, para todo o sempre. Verdadeiramente,
podemos dizer: "Na verdade jaé passou a amargura da morte", e nada mais nos resta senaã o as
doçuras eternas da ressurreiçaã o.
O versíéculo 26 poã e diante de noé s o caraé ter importante desta primeira etapa dos
remidos de Deus no deserto. Êncontramo-nos em grande perigo, nesta hora, de cair num
espíérito mal disposto, impaciente de murmuraçaã o. O ué nico remeé dio contra este mal eé
conservarmos os olhos postos em Jesus —"olhando para Jesus" (Hb 12:2). Bendito seja o Seu
nome, Êle sempre Se mostra aà altura das necessidades do Seu povo; e eles, em vez de se
queixarem das suas circunstaê ncias, deviam fazer delas o motivo de se aproximarem mais
d'Êle. ÊÉ assim que o deserto se torna ué til para nos ensinar o que Deus eé . ÊÉ uma escola na qual
aprendemos a conhecer a Sua graça constante e os Seus amplos recursos. "Ê suportou os seus
costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos" (Ãt 13:18).
O homem espiritual reconheceraé sempre que vale a pena ter aé guas amargas para Deus
as dulcificar:".. .tambeé m nos gloriamos nas tribulaçoã es, sabendo que a tribulaçaã o produz a
pacieê ncia; e a pacieê ncia, a experieê ncia, e a experieê ncia, a esperança" (Rm 5:3 -5).
O Maná
Contudo, como Israel estava debaixo da graça, as suas necessidades saã o supridas de
uma maneira maravilhosa, como lemos no versíéculo 4, deste capíétulo: "Êntaã o, disse o SÊNHOR, a
Moiseé s: Êis que vos farei chover paã o dos ceé us". Quando se achavam envolvidos pela nuvem fria
da incredulidade, eles haviam dito: "Quem dera que noé s morreê ssemos por maã o do SÊNHOR, na
terra do Êgito, quando estaé vamos sentados junto aà s panelas de carne, quando comíéamos paã o
ateé fartar!" Poreé m, agora Deus diz que lhes daraé "paã o dos ceé us". Ãbençoado contraste! Que
diferença espantosa entre as panelas de carne, os alhos porros e as cebolas do Êgito e este
manaé celestial— "o paã o dos poderosos"! (SI 78:25). Ãquelas coisas pertenciam aterra, este paã o
era do ceé u.
Mas este alimento celestial era necessariamente, uma experieê ncia da condiçaã o de
Israel, como estaé escrito, "...para que eu seja se anda em minha lei ou naã o". Êra preciso ter-se
um coraçaã o separado das influeê ncias do Êgito para se dar por satisfeito, ou apreciar "o paã o dos
ceé us". Com efeito, sabemos que o povo naã o se contentou com este paã o, antes o desprezou,
declarou-o "paã o vil" e desejou carne.
Desta forma os israelitas mostraram quaã o pouco separados estavam os seus coraçoã es
do Êgito e como naã o estavam dispostos a andar na lei de Deus: "..em Seu coraçaã o se tornaram
ao Êgito" (Ãt 7:39).
Poreé m, longe de serem reconduzidos para ali, foram transportados, por fim, para aleé m
de Babiloé nia (Ãt 7:43). Êis uma liçaã o solene e salutar para os cristaã os. Se aqueles que foram
libertados deste presente seé culo mau naã o andam com Deus com coraçoã es agradecidos,
satisfeitos com a provisaã o que Êle fez para os remidos no deserto, estaã o em perigo de cair nos
laços da influeê ncia de Babiloé nia. ÊÉ uma reflexaã o muito seé ria, que requer gosto celestial para se
poder alimentar do Paã o do ceé u. Ã natureza naã o pode saborear um tal alimento; suspira sempre
pelo Êgito, e, portanto, deve ser sempre dominada. ÊÉ nosso privileé gio, como aqueles que foram
batizados na morte de Cristo e ressuscitados "pela feé no poder de Deus" (Cl 2:12),
alimentarmo-nos de Cristo como "o paã o da vida que desceu do ceé u" (Jo6:51).
— CÃPITULO 17 —
REFIDIM
A Contenda do Povo com Moisés
"Depois, toda a congregaçaã o dos filhos de Israel partiu do deserto de Sim pelas suas
jornadas, segundo o mandamento do SÊNHOR, e acamparam em Refidim; e naã o havia ali aé gua
para o povo beber. Êntaã o, contendeu o povo com Moiseé s, e disseram: Daé -nos aé gua para beber.
Ê Moiseé s lhes disse: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao SÊNHORÃ"
Naã o conheceê ssemos noé s alguma coisa do mal humilhante de nossos coraçoã es e
ficaríéamos embaraçados quanto aà razaã o da insensibilidade espantosa de Israel para com a
bondade, a fidelidade e os atos poderosos do Senhor. Ãcabavam de ver cair paã o do ceé u para
alimentar seiscentas mil pessoas no deserto, e ei-los agora, prontos a "apedre j ar" Moiseé s por
os ter trazido para esse mesmo deserto, para os matar de sede. Nada pode exceder a
incredulidade terríével e maldade do coraçaã o humano senaã o a graça superabundante de Deus.
ÊÉ soé nessa graça que algueé m pode encontrar alíévio sob a sensaçaã o, sempre crescente, da sua
natureza perversa, que as circunstaê ncias tendem a manifestar. Houvesse Israel sido
transportado diretamente do Êgito a Canaaã , e naã o teria sido feita uma taã o triste exibiçaã o do
que eé o coraçaã o humano; e, como consequeê ncia, eles naã o teriam sido exemplos ou figuras taã o
admiraé veis para noé s. De fato, os quarenta anos de peregrinaçaã o no deserto of erecem-nos um
volume de avisos, admoestaçoã es e instruçoã es ué teis aleé m de toda a concepçaã o. Ãprendemos,
entre outras coisas, a propensaã o constante do coraçaã o para suspeitar de Deus. Confia em tudo,
menos em Deus. Prefere apoiar-se numa teia de aranha em vez do braço do Deus onipotente,
saé bio e generoso; e a mais pequena nuvem eé mais que suficiente para ocultar da sua vista a luz
do Seu bendito rosto. ÊÉ pois com razaã o que as Êscrituras falam dele como sendo "mau e infiel",
sempre pronto para" se apartar do Deus vivo" (Hb3:12).
ÊÉ interessante notar as duas interrogaçoã es feitas pela incredulidade, neste capíétulo e no
precedente. Saã o precisamente ideê nticas aà quelas que se levantam em noé s e aà nossa volta,
diariamente: "Que comeremos'?- Ê que beberemos?" (Mt 6:31). Naã o vemos que o povo fizesse
a terceira pergunta desta categoria, "com que nos vestire-mos'?-" Poreé m, estas saã o as
interrogaçoã es do deserto: "O quêí" "Ondeí" "Cornou". Ã feé tem apenas uma resposta
compreensíével para todas as treê s, a saber: DÊUS! Que resposta perfeita e preciosa! Ãh, se o
autor e o leitor destas linhas conhecessem perfeitamente o seu poder e a sua plenitude!
Necessariamente precisamos recordar, quando passamos pela provaçaã o, que naã o vem sobre
noé s tentaçaã o senaã o humana, "mas, fiel eé Deus, que vos naã o deixaraé tentar acima do que podeis;
antes, com a tentaçaã o daraé tambeé m o escape, para que a possais suportar" (1 Co 10:13).
Sempre que somos postos aà prova, podemos estar certos que, com a prova, haé tambeé m uma
saíéda, e tudo que precisamos eé uma vontade submissa ao Senhor e um olhar simples para
vermos a saíéda.
A Rocha Ferida
"Ê clamou Moiseé s ao SÊNHOR, dizendo: Que farei a este povoi Daqui a pouco me
apedrejaraã o. Êntaã o, disse o SÊNHORa Moiseé s: Passa diante do povo e toma contigo alguns dos
anciaã os de Israel; e toma na tua maã o a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Êis que eu estarei
ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu feriraé s a rocha, e dela sairaã o aé guas, e o povo
beberaé . Ê Moiseé s assim o fez, diante dos olhos dos anciaã os de Israel" (versíéculos 4 a 6). Ãssim
tudo eé suprido pela graça mais perfeita. Cada murmuraçaã o ocasiona uma nova manifestaçaã o
da graça. Ãqui vemos como as aé guas refrescantes jorraram da rocha ferida—uma ilustraçaã o
formosa do Êspíérito dado como fruto do sacrifíécio efetuado por Cristo. No capíétulo 16 temos
uma figura de Cristo descendo do ceé u para dar vida ao mundo. O capíétulo 17 mostra-nos uma
figura do Êspíérito Santo "derramado" em virtude da obra consumada de Cristo. "Porque
bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo" (1 Co 10:4). Mas quem poderia
beber antes da pedra ser ferida? Israel poderia ter contemplado essa rocha e morrer de sede
ao mesmo tempo que a contemplava, porque antes que fosse ferida pela vara de Deus naã o
podia dar refrigeé rio. Isto eé bem claro. O Senhor Jesus Cristo era o centro e base de todos os
desíégnios de amor e misericoé rdia de Deus. Por Seu intermeé dio deveria correr toda a beê nçaã o
para o homem. Ãs correntes da graça deviam emanar do "Cordeiro de Deus"; poreé m era neces -
saé rio que o Cordeiro fosse morto—que a obra da cruz fosse um fato consumado, antes que
muitas destas coisas fossem realizadas. Foi quando a Rocha dos seé culos foi ferida pela maã o de
Jeovaé , que as comportas do amor eterno foram abertas de par em par e os pecadores perdidos
convidados pelo Êspíérito Santo a beber abundantemente elivremente: "...O dom do Êspíérito
Santo" eé oresulta-do da obra consumada pelo Filho de Deus sobre a cruz. "Ã promessa do Pai..."
(Lc 24:49) naã o podia ser cumprida antes que Cristo se assentasse aà destra da Majestade nos
ceé us, depois de ha ver cumprido toda a justiça, respondido a todas as exigeê ncias da santidade,
engrandecido a lei tornando-a justa, suportado a ira de Deus contra o pecado, destruíédo o
poder da morte, e tirado aà sepultura a sua vitoé ria. Havendo feito todas estas coisas, subiu ao
alto, "levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora isto—ele subiu—que eé , senaã o que
tambeé m, antes, tinha descido aà s partes mais baixas da terral Ãquele que desceu eé tambeé m o
mesmo que subiu acima de todos os ceé us, para cumprir todas as coisas" (Êf 4:8-10).
Êste eé o verdadeiro fundamento da paz e da bem-aventurança e gloé ria da Igreja, para
todo o sempre.
A Água da Rocha
Ãntes de a rocha ser ferida a corrente de beê nçaã o estava retida e o homem nada podia
fazer. Que poder humano poderia fazer brotar aé gua da pederneira? Ê do mesmo modo,
podemos perguntar, que justiça humana poderia conseguir autorizaçaã o para abrir as com-
portas do amor divino 1?- Êste eé o verdadeiro modo de poê r aà prova a competeê ncia do homem.
Naã o podia, por seus feitos, suas palavras ou sentimentos, prover um fundamento para a
missaã o do Êspíérito Santo.
Seja o que for ou faça o que puder, ele naã o pode fazer isto. Mas, graças a Deus, tudo estaé
consumado; Cristo terminou a obra; a verdadeira Rocha foi ferida, e as aé guas refrescantes
brotaram, de forma que as almas sedentas podem beber. "Ã aé gua que eu lhe der", diz Cristo, "se
faraé nele uma fonte de aé gua que salte para aé vida eterna" (Jo 4:14). Ê mais adiante, lemos: "Ê,
no ué ltimo dia, o grande dia daà festa, Jesus poê s-se em peé , e clamou, dizendo: Se algueé m tem
sede, venha a mim e beba. Quem creê em mim, como diz a Êscritura, rios de aé gua viva correraã o
do seu ventre. Ê isto disse ele do Êspíérito, que haviam de receber os que nele cressem; porque
o Êspíérito Santo ainda naã o fora dado, por ainda Jesus naã o ter sido glorificado" Qo 7:37 - 39).
Ãssim como temos no manaé uma figura de Cristo, de igual modo temos uma figura do
Êspíérito Santo na aé gua brotando da rocha." Se tu conheceras o dom de Deus (Cristo)... tu lhe
pedirias, e ele te daria aé gua viva" — quer dizer, o Êspíérito.
Tal eé , portanto, o ensino ministrado aà mente espiritual com a rocha ferida; todavia, o
nome do lugar no qual esta figura foi apresentada eé um memorial perpeé tuo da incredulidade
do homem. "Ê chamou o nome daquele lugar Massa" (que quer dizer tentação) "e Meribaé "
(que quer dizer murmurar) "por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao
SÊNHOR, dizendo: Êstaé o SÊNHOR no meio de noé s, ou naã o?" (versíéculo 7). Levantar uma tal
interrogaçaã o, depois de tantas e repetidas garantias evidentes da presença de Jeovaé , prova a
incredulidade profundamente arraigada no coraçaã o humano. Êra, de fato, tentar o Senhor.
Foi assim tambeé m que os judeus, tendo a presença de Cristo com eles, pediram um
sinal do ceé u, tentando-o.
à feé nunca atua assim; creê na presença divina e goza dela, naã o por meio de um sinal,
mas pelo conhecimento que tem do proé prio Deus. Conhece que Deus estaé presente para gozar
d'Êle. Que o Senhor nos conceda um espíérito de verdadeira confiança n'Êle!
Amaleque
O ponto sugerido a seguir por este capíétulo eé de particular interesse para noé s. "Êntaã o,
veio Ãmaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Pelo que disse Moiseé s a Josueé : Êscolhe-nos
homens, e sai, peleja contra Ãmaleque: amanhaã , eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de
Deus estaraé na minha maã o" (versíéculos 8 e 9). O dom do Êspíérito Santo conduz aà luta. Ã luz
reprime e luta com as trevas. Onde tudo eé obscuridade naã o haé luta; poreé m a mais pequena luta
indica a presença da luz: "...a carne cobiça contra o Êspíérito, e o Êspíérito, contra a carne; e estes
opoã em-se um ao outro; para que naã o façais o que quereis" (Gl 5:17). Ãssim acontece com este
capíétulo: a rocha eé ferida e as aé guas brotam dela, e lemos imediatamente, "entaã o veio
Ãmaleque e pelejou contra Israel".
Êsta eé a primeira vez que Israel se veê em luta com um inimigo exterior. Ãteé este
momento o SÊNHOR havia pelejado por eles, conforme lemos em capíétulo 14: "O SÊNHOR
pelejaraé por voé s e vos calareis". Poreé m, agoraeé dito: "Êscolhe-nos homens". Êm boa verdade,
Deus tem agora que lutar em Israel, assim como havia lutado,?or eles. Ê nisto que estaé a
diferença, quanto ao síémbolo; e quanto ao antíétipo, sabemos que existe uma grande diferença
entre os combates de Cristopor noé s e a luta do Êspíérito Santoem noé s. Ãqueles acabaram,
bendito seja Deus, a vitoé ria foi ganha, e uma pazgloriosa e eterna foi alcançada. Êsta, pelo
contraé rio, continua ainda.
Faraoé e Ãmaleque representam dois poderes ou influeê ncias diferentes: Faraoé
representa o impedimento aà libertaçaã o de Israel do Êgito; Ãmaleque representa o estorvo aé
sua caminhada com Deus pelo deserto. Faraoé serviu-se das coisas do Êgito para impedir Israel
de servir ao Senhor; por isso prefigura Satanaé s, que se serve "deste presente seé culo mau" (Gl
1:4) contra o povo de Deus. Ãmaleque, pelo contraé rio, eé -nos apresentado como o protoé tipo da
carne. Êra neto de Êsaué , o qual preferiu um prato de lentilhas ao direito de primogenitura
(veja-se Gn 36:12), e foi o primeiro que se opoê s ao avanço de Israel depois do seu batismo "na
nuvem e no mar" (1 Co 10:2). Êstes fatos servem para definir o seu caraé ter com grande
distinçaã o; e, aleé m disso, sabemos que Saul foi deposto do trono do reino de Israel em
consequeê ncia de ter falhado em destruir Ãmaleque (1 Sm 15). Ê, mais descobrimos que Hamaã
eé o ué ltimo dos amalequitas de quem se fala nas Êscrituras. Foi enforcado, em consequeê ncia do
seu pecaminoso atentado contra a semente de Israel (veja-se Ês 3:1). Nenhum amalequita
podia entrar na congregaçaã o do Senhor. Ê, finalmente, no capíétulo que temos perante noé s, o
Senhor declara guerra perpeé tuaa Ãmaleque.
Todas estas circunstaê ncias podem ser consideradas como dando evideê ncia concludente
do fato que Ãmaleque eé uma figura da carne. Ã ligaçaã o entre o seu conflito com Israel e a aé gua
correndo da rocha eé a mais notaé vel e instrutiva e estaé de perfeita harmonia com o conflito do
crente com a sua natureza pecaminosa; conflito este, que, como sabemos, eé a consequeê ncia de
ele ter a nova natureza e o Êspíérito Santo habitar em si. Ã luta de Israel começou logo que se
acharam de posse da redençaã o e depois de haverem provado o "manjar espiritual" e bebido
"da pedra espiritual" (ICo 10:3-4). Ãntes de encontrarem Ãmaleque nada tinham que fazer.
Naã o contenderam com Faraoé ; naã o destruíéram o poder do Êgito nem despedaçaram as cadeias
da servidaã o; naã o dividiram o mar nem submergiram as hostes de Faraoé nas suas aé guas; naã o
fizeram descer paã o do ceé u, nem tiraram aé gua da pederneira. Naã o fizeram nem poderiam fazer
nenhuma destas coisas; poreé m agora saã o chamados para lutar com Ãmaleque. O conflito
anterior tinha sido todo entre Jeovaé e o inimigo. Êles apenas tiveram que estar "quietos" e
contemplar os triunfos poderosos do braço estendido do Senhor e gozar os frutos da vitoé ria. O
Senhor havia lutado por eles; poreé m agora luta neles e por meio deles.
O JUDEU, O GENTIO
E A IGREJA DE DEUS
Chegamos agora ao fim de uma parte verdadeiramente notaé vel do Livro de ÊÊ xodo.
Vimos como Deus, no exercíécio da Sua perfeita graça, visitou e redimiu o Seu povo, tirando-o
da terra do Êgito e livrando-o primeiro da maã o do Faraoé e depois da maã o de Ãmaleque.
Demais, vimos no manaé um síémbolo de Cristo descendo do ceé u; e na rocha uma figura de
Cristo ferido pelo Seu povo; e na aé gua que brotava da rocha um síémbolo do Êspíérito Santo.
Êntaã o segue-se, em ordem notaé vel e formosa, uma figura da gloé ria vindoura, dividida nas suas
treê s partes principais, a saber: Os judeus, os gentios e a Igreja de Deus.
Durante a eé poca de rejeiçaã o de Moiseé s pelos seus irmaã os, ele foi postodepartee
favorecido com uma noiva — a companheira da sua rejeiçaã o. No princíépio deste livro fomos
levados a ver o caraé ter da relaçaã o de Moiseé s com esta esposa. Foi para ela "esposo sanguinaé -
rio" . Isto eé precisamente o que Cristo eé para a Igreja. Ã sua uniaã o com Êle eé baseada na morte
e ressurreiçaã o; e ela eé chamada aà comunhaã o dos Seus sofrimentos. ÊÉ , como sabemos, durante a
eé poca da incredulidade de Israel, e da rejeiçaã o de Cristo, que a Igreja eé formada; e quando
estiver completa, segundo os desíégnios de Deus e houver entrado nela a plenitude dos gentios
(Rm 11:25), Israel entraraé outra vez em cena.
Ãssim foi com Zíépora e o antigo Israel. Moiseé s enviara-a para junto de seu sogro
durante o perigo da sua missaã o junto de Israel; e logo que este saiu como povo inteiramente
livre, lemos que "Jetro, sogro de Moiseé s, tomou a Zíépora, a mulher de Moiseé s, depois que ele
lha enviara, com seus dois filhos, dos quais um se chamava Geé rson; porque disse: Êu fui
peregrino em terra estranha; e o outro se chamava Êlieé zer, porque disse: O Deus de meu pai foi
minha ajuda e me livrou da espada de Faraoé . Vindo, pois, Jetro, o sogro de Moiseé s, com seus
filhos e com sua mulher a Moiseé s no deserto ao monte de Deus, onde se tinha acampado, disse
a Moiseé s: Êu, teu sogro Jetro, venho a ti, com tua mulher e seus dois filhos com ela. Êntaã o, saiu
Moiseé s ao encontro de seu sogro, e inclinou-se, e beij ou-o, e perguntaram um ao outro como
estavam, e entraram na tenda. Ê Moiseé s contou a seu sogro todas as coisas que o SÊNHOR tinha
feito a Faraoé e aos egíépcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no caminho, e
como o SÊNHOR os livrara. Êalegrou-se Jetro de todo o bem que o SÊNHOR tinha feito a Israel,
livrando-o da maã o dos egíépcios. Ê Jetro disse: Bendito seja o SÊNHOR, que vos livrou das maã os
dos egíépcios e da maã o de Faraoé ; que livrou a este povo de debaixo da maã o dos egíépcios. Ãgora
sei que o SÊNHOR eé maior que todos os deuses: porque na coisa em que se ensoberbeceram, os
sobrepujou. Êntaã o, tomou Jetro, o sogro de Moiseé s, holocaustos e sacrifíécios para Deus; e veio
Ãraã o, e todos os anciaã os de Israel, para comerem paã o com o sogro de Moiseé s diante de Deus"
(versíéculos 2 a 12).
Êsta cena eé profundamente interessante. Toda a congregaçaã o se reuniu, em triunfo,
perante o Senhor: o gentio apresentou sacrifíécios, e, para completar o quadro, a esposa do
libertador juntamente com os filhos que Deus lhe havia dado, saã o introduzidos. ÊÉ , em resumo,
uma ilustraçaã o particularmente admiraé vel do reino vindouro.
"O Senhor daraé graça a gloé ria" (SI 84:11). Vimos nas paé ginas anteriores deste livro
muito da operaçaã o da "graça"; e aqui temos um quadro formoso de "gloé ria" da autoria do
Êspíérito Santo—um quadro que deve ser considerado particularmente importante por nos
mostrar as vaé rias esferas em que seraé manifestada essa gloé ria.
"Os judeus, os gentios e a Igreja de Deus" saã o termos bíéblicos que nunca poderaã o ser
esquecidos sem transtornar o curso perfeito da verdade que Deus revelou na Sua Palavra.
Êxistiram sempre desde que o misteé rio da Igreja foi inteiramente desenrolado pelo ministeé rio
do apoé stolo Paulo e existiraã o atraveé s do mileé nio. Por isso, devem ter lugar na mente de todo o
estudante espiritual da Êscritura Sagrada.
O apoé stolo ensina-nos, claramente, na sua Êpíéstola aos Êfeé sios, que o misteé rio da Igreja
naã o foi dado a conhecer noutros seé culos aos filhos dos homens como lhe fora revelado a ele.
Mas, embora naã o houvesse sido diretamente revelado, acha-se representado em figura de uma
maneira ou de outra; como, por exemplo, no casamento de Joseé com uma mulher egíépcia e no
casamento de Moiseé s com uma mulher da Êtioé pia (uma mulher cusita; Nm 12:1) O tipo ou
sombra de uma verdade eé uma coisa muito diferente de uma revelaçaã o direta e positiva da
mesma verdade. O grande misteé rio da Igreja naã o foi revelado ateé que Cristo, emgloé ria celestial,
o revelou a Saulo deTarso. Por isso, todos aqueles que procuram o desenrolar deste misteé rio
na lei, nos profetas ou nos Salmos, achar-se-aã o ocupados em labor ininteligente. Quando,
contudo, o encontram revelado claramente naÊpíéstola aos Êfeé sios, podem, com interesse e
proveito, traçar os seus síémbolos nas Êscrituras do Velho Testamento.
Deste modo, temos nos primeiros versíéculos deste capíétulo uma cena milenial. Todas as
esferas de gloé ria se abrem em visaã o perante noé s. "Os judeus" estaã o aqui como as grandes
testemunhas na terra da fidelidade, da misericoé rdia e do poder de Jeovaé . Ê isto precisamente
que os judeus foram em seé culos passados, eé o que saã o atualmente e o que seraã o para sempre.
"O gentio" leê no livro dos desíégnios de Deus quanto aos judeus as suas mais profundas liçoã es.
Segue a histoé ria maravilhosa desse povo peculiar e eleito — "um povo terríével desde o seu
princíépio" (Is 18:2). Veê tronos e impeé rios derrubados e naçoã es destruíédas ateé os seus
fundamentos, todo o homem e todas as coisas saã o compelidas a abrir caminho para que seja
estabelecida a supremacia desse povo sobre o qual Deus poê s o Seu afeto. "Ãgora sei que o
SÊNHOR eé maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os
sobrepujou" (versíéculo 11); eé o testemunho de um gentio quando a paé gina da histoé ria judaica
estaé aberta perante si.
Por fim, "a Igreja de Deus" coletivamente, como eé ilustrada por Zíépora, e os seus
membros individualmente, conforme os vemos em figura nos filhos de Zíépora, saã o
apresentados como ocupando a mais íéntima ligaçaã o com o libertador. Tudo isto eé perfeito na
sua ordem. Se nos pedirem provas, responderemos: "Falo como a entendidos, julgai voé s
mesmos o que digo" (1 Co 10:15).
Naã o pode fundar-se uma doutrina sobre um síémbolo; poreé m, quando uma doutrina eé
revelada, pode discernir-se o síémbolo dela com exatidaã o e estudaé -la com proveito. Êm todos os
casos o discernimento espiritual eé essencialmente necessaé rio, quer seja para compreender a
doutrina quer para discernir o síémbolo: "...o homem natural naã o compreende as coisas do
Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode entendeê -las, porque elas se
discernem espiritualmente" (ICo 2:14).
Chefes para a Administração
Desde o versíéculo 13 ateé ao fim do capíétulo fala-se da nomeaçaã o de chefes para
ajudarem Moiseé s na administraçaã o dos negoé cios da congregaçaã o. Isto foi feito por sugestaã o de
Jetro, que temia que Moiseé s desfalecesse totalmente em consequeê ncia do seu trabalho. Êm
relaçaã o com este fato, pode ser ué til considerar a nomeaçaã o dos setenta anciaã os em Nué meros,
Capíétulo 11. Vemos ali o espíérito de Moiseé s esmagado sob o peso da responsabilidade que
pesava sobre si, e daé lugar aà angué stia do seu coraçaã o nas seguintes palavras: "Por que fizeste
mal a teu servo, e por que naã o achei graça aos teus olhos, que pusesses sobre mim a carga de
todo este povo*?- Concebi eu, porventura, todo este povo 1?- Gerei-o eu, para que me dissesses
que o levasse ao colo, como o aio leva o que cria, aà terra que juraste a seus pais£.. .Êu sozinho
naã o posso levar a todo este povo, por que muito pesado eé para mim. Ê, se assim fazes comigo,
mata-me, eu te peço, se tenho achado graça aos teus olhos; e naã o me deixes ver o meu mal"
(Nml 1:11-15).
Êm todo este caso vemos como Moiseé s se retira de um lugar de honra. Se aprouve a
Deus fazer dele o ué nico instrumento da administraçaã o da Ãssembleia, isso foi para ele uma
maior honra e um alto privileé gio. ÊÉ verdade que era uma grande responsabilidade; poreé m a feé
teria reconhecido que Deus era amplamente suficiente para tudo. Todavia, Moiseé s perde o
aê nimo (servo abençoado como era) e diz, "eu sozinho naã o posso levar todo este povo, porque
muito pesado eé para mim. Mas ele naã o fora incumbido de levar todo o povo sozinho, porque
Deus estava consigo. O povo naã o era demasiado pesado para Deus; era Êle que os suportava.
Moiseé s era apenas o instrumento. Da mesma forma poderia ter dito que a sua vara levava o
povo, porque o que era ele senaã o um simples instrumento nas maã os de Deus, da mesma forma
que a vara o era nas suas? Ê neste ponto que os servos de Cristo falham constantemente; e a
sua falta eé tanto mais perigosa quanto eé certo que se reveste da apareê ncia de humildade. Fugir
de uma grande responsabilidade daé a impressaã o de falta de confiança pessoal e de uma
profunda humildade de espíérito; poreé m, tudo que nos interessa saber eé se Deus tem imposto
essa responsabilidade. Sendo assim, Êle estaraé incontestavelmente conosco no seu
desempenho; e, com a Sua companhia, podemos suportar todas as coisas. Com o Senhor o
peso de uma montanha naã o eé nada; sem Êle o peso de uma simples pena eé esmagador. ÊÉ uma
coisa muito diferente se um homem, na vaidade do seu espíérito, se apressa em tomar um fardo
sobre os seus ombros, um fardo que Deus nunca teve intençaã o de ele levar, e, portanto, nunca
o dotara para o conduzir; podemos, portanto, esperar veê -lo esmagado sob o peso. Poreé m, se eé
Deus que poã e sobre ele esse fardo, Êle torna-o naã o soé apto a conduzi-lo como lhe daé as forças
necessaé rias.
ISRAEL
AO PÉ DO MONTE SINAI
O Pacto da Graça
Êis-nos agora chegados a um ponto muito importante na histoé ria de Israel. O povo fora
conduzido ao peé do "monte palpaé vel, acesso em fogo" (Hb 12:18). Ã cena de gloé ria milenial,
que nos apresenta o capíétulo anterior, desaparecera. Fora apenas um momento breve de sol
durante o qual fora proporcionada uma viva imagem do reino; poreé m o sol desvaneceu-se
rapidamente e grossas nuvens amontoaram-se sobre esse "monte palpaé vel", onde Israel, num
espíérito funesto e insensíével de legalismo, abandonou o pacto de graça de Jeovaé pela aliança
das obras do homem. Impulso fatal! Que foi seguido dos resultados mais funestos. Ãteé aqui,
como temos visto, nenhum inimigo poê de subsistir diante de Israel — nenhum obstaé culo poê de
deter a sua marcha vitoriosa. Os exeé rcitos de Faraoé haviam sido destruíédos; Ãmaleque e o seu
povo haviam sido passados a fio de espada: tudo fora vitoé ria, porque Deus interviera a favor
do Seu povo, em conformidade com as promessas que fizera a Ãbraaã o, Isaqueejacoé .
Nos primeiros versíéculos do capíétulo que temos perante noé s, o Senhor resume de uma
maneira tocante aquilo que tem feito por Israel: "Ãssim falaraé s aà casa de Jacoé e anunciaraé s aos
filhos de Israel: Voé s tendes visto o que fiz aos egíépcios, como vos levei sobre asas de aé guias,
evos trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes o meu
concerto, entaã o sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos; porque toda a
terra eé minha. Ê voé s me sereis um reino sacerdotal e o povo santo" (versíéculos 3 a 6). Note-se
que o Senhor disse: "a minha voz" e "o meu concerto". Que dizia essa "voz" e que implicava esse
"concerto"? Ã voz de Jeovaé tinha-se feito ou vir para impor as leis e as ordenaçoã es de um
legislador severo e inflexíével? De modo nenhum. Falou para dar liberdade aos cativos—para
prover um refué gio da espada do destruidor—,para preparar um caminho para que os remidos
pudessem passar, para fazer descer paã o do ceé u, para fazer brotar aé gua da rocha. Tais foram as
expressoã es graciosas e inteligíéveis da "voz" do Senhor ateé ao momento em que Israel acampou
defronte do monte.
Quanto ao Seu "concerto" era um concerto de pura graça. Naã o impunha condiçoã es, naã o
podia nada, naã o punha nenhum fardo sobre os ombros nem jugo no pescoço. Quando "o Deus
da gloé ria apareceu" a Ãbraã o em Ur dos caldeus (Ãt 7:2), de certo que naã o lhe disse "faraé s isto"
e "naã o faraé s aquilo". Oh! naã o; uma tal linguagem naã o seria segundo o coraçaã o de Deus. Êle
prefere muito mais poê r uma mitra limpa sobre a cabeça do pecador do que poê r um jugo de
ferro sobre o seu pescoço (Zc 3:5; Dt 28:48). Ã Sua palavra a Ãbraaã o foi: "DÃR-TÊ-ÊI". Ã terra
de Canaaã naã o podia ser adquirida pelas obras do homem, mas devia ser dada pela graça de
Deus. Ãssim era; e, no princíépio do livro do ÊÊ xodo vemos Deus descendo em graça para
cumprir a Sua promessa aos descendentes de Ãbraã o. O estado em que encontrou essa
posteridade naã o importava, tanto mais que o sangue do cordeiro Lhe dava um fundamento
perfeitamente justo para realizar a Sua promessa. Êvidentemente naã o havia prometido a terra
de Canaaã aà posteridade de Ãbraã o com base em qualquer coisa que houvesse antevisto neles,
porque isto teria destruíédo a verdadeira natureza de uma promessa. Êm tal caso teria sido um
pacto e naã o uma promessa: "ora as promessas foram feitas a Ãbraaã o", naã o por um pacto (veja-
se Gaé latas 3).
Por isso, no princíépio desse capíétulo 19, faz-se lembrar ao povo a graça com que o
Senhor havia tratado com eles ateé ali, e recebem tambeé m a garantia daquilo que ainda haã o-de
ser, contanto que continuem a atender a "voz" celestial de misericoé rdia e a permanecer no
"pacto" de graça. "Sereis a minha propriedade peculiar de entre todos os povos". Como podiam
eles conseguir isto? Podiam consegui-lo aos tropeçoã es pela escada da proé pria justiça e do
legalismoi Seriam uma "propriedade peculiar" quando amaldiçoados pelas maldiçoã es de uma
lei transgredida—violada antes mesmo de a haverem recebido? Seguramente que naã o. Logo,
como ia ser esta "propriedade peculiar"? Permanecendo naquela posiçaã o em que o Senhor os
viu quando obrigou o profeta ambicioso a exclamar: "Que boas saã o as tuas tendas, oé Jacoé lQue
boas as tuas moradas, oé Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins ao peé dos rios; como
aé rvores de saê ndalo o SÊNHOR a plantou, como cedros junto aà s aé guas. De seus baldes manaraã o
aé guas, e a sua semente estaraé em muitas aé guas; e o seu rei se exalçaraé mais do que Ãgague, e o
seu reino seraé levantado. Deus o tirou do Êgito; as suas forças saã o como as do unicoé rnio;
consumiraé as gentes, seus inimigos, e quebraraé seus ossos, e com as suas setas os atravessaraé "
(Nm 24:5 - 8).
Um Compromisso Presunçoso
Contudo, Israel naã o estava disposto a ocupar esta posiçaã o. Êm vez de se regozijarem
com "a santa promessa" de Deus, aventura-ram-se a tomar ovotomais presunçoso que laé bios
humanos podiam pronunciar. "Êntaã o, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que o
SENHOR tem falado faremos" (versíéculo 8). Êsta linguagem era ousada. Naã o disseram,
"esperamos fazer" ou "procuraremos fazer" o que o Senhor disser; o que teria mostrado certo
grau de desconfiança em si mesmos. Mas naã o: pronunciaram-se da maneira mais absoluta:
"Faremos". Nem tampouco isto era a linguagem de alguns espíéritos presunçosos, cheios de
confiança em si mesmos que presumiam representar toda a congregaçaã o. Naã o; "Todo o povo
respondeu a uma voz". Ãbandonaram unaê nimes a "santa promessa" —o "concerto santo."
Ê agora, veja-se o resultado. Logo que Israel pronunciou o seu "voto" singular, assim
que decidiu "fazer" tudo o que o Senhor mandasse, deu-se uma mudança no aspecto das
coisas. "Ê disse o SÊNHOR a Moiseé s: Êis que eu virei a únuma nuvem espessa... e marcaraé s limites
ao povo em redor, dizendo: Guardai-vos, que naã o subais o monte, nem toqueis o seu termo;
todo aquele que tocar o monte certamente morreraé ". Vemos nesta passagem uma mudança
notaé vel: Ãquele que acabava de dizer,"... vos levei sobre asas de aé guias e vos trouxe a mim",
agora oculta-Se "numa nuvem espessa" e diz: "Marcaraé s limites ao povo em redor". Os acentos
agradaé veis de graça saã o trocados pelos "trovoã es e relaê mpagos" do monte fumegante. O homem
havia ousado falar das suas miseraé veis obras na presença da magnificente graça de Deus.
Israel dissera: "Faremos", e portanto eé preciso que sejam postos aà distaê ncia de forma a poder
verse claramente o que eé que podem fazer. Deus toma o lugar de distaê ncia moral; e o povo naã o
pensa de modo nenhum em encurtaé --la, porque todos estaã o cheios de temor e tremendo; e
naã o era de admirar, porque a visaã o era; "terríével" — taã o terríével que "Moiseé s disse: Êstou todo
assombrado e tremendo (Hb 12:25). Quem poderia suportar a vista desse "fogo consumidor",
que era a justa expressaã o da santidade divinal "...O SÊNHOR veio de Sinai, e lhes subiu de Seir;
resplandeceu desde o monte Para, e veio com dez milhares de santos; aà sua direita havia para
eles o fogo da lei" (Dt 33:2). Otermo"fogo", aplicadoaà lei, mostraa sua santidade. "O nosso Deus
eé um fogo consumidor" (Hb 12:29) — que naã o transige com o mal em pensamento, palavras
ou açoã es.
Desta forma, pois, Israel cometeu um erro fatal em dizer, "faremos". Isto era fazer um
voto que naã o podiam, ainda mesmo que quisessem, cumprir; e noé s conhecemos aquele que
disse "melhor eé que naã o votes do que votes e naã o pagues" (Êc 5:5). O proé prio caraé ter do voto
implica a competeê ncia de o cumprir; e onde estaé a competeê ncia do homem?- Para um pecador
desamparado fazer um voto, seria o mesmo que um homem falido passar um cheque sobre um
banco. Ãquele que faz um voto nega a verdade quanto aà sua proé pria condiçaã o e natureza. Êstaé
arruinado, que poderaé fazer?-Êncontra-se inteiramente sem forças, e naã o pode querer nem
fazer nada bom. Israel cumpriu o seu voto?- Fizeram tudo que o Senhor lhes havia mandado?
O bezerro de outro, as taé buas feitas em pedaços, o saé bado profanado, as ordenaçoã es
menosprezadas e abandonadas, os mensageiros de Deus apedrejados, o Cristo rejeitado e
crucificado, e a resisteê ncia ao Êspíérito, saã o provas esmagadoras de como o homem violou os
seus votos. Ãconteceraé assim sempre que a humanidade caíéda fizer votos.
Naã o se regozija o leitor cristaã o no fato de que a sua salvaçaã o eterna naã o descansa sobre
os seus miseraé veis votos e resoluçoã es, mas sim sobre a "oblaçaã o do corpo de Jesus Cristo, feita
uma vez"? (Hb 10:10). Oh, sim, eé sobre este fato que estaé fundado o nosso gozo, que nunca
pode falhar. Cristo tomou todos os nossos votos sobre Si Mesmo e cumpriu-os gloriosamente
para todo o sempre. ÃSua vida de ressurreiçaã o corre nos Seus membros e produz neles
resultados que os votos e as exigeê ncias da lei naã o podiam produzir. Êle eé a nossa vida e a nossa
justiça. Que o Seu nome seja precioso para os nossos coraçoã es e que a Sua causa domine
sempre anossa vida. Que a nossa comida e a nossa bebida seja gastar e gastarmo-nos no Seu
glorioso serviço.
Naã o posso terminar este capíétulo sem mencionar uma passagem do Livro de
Deuteronoê mio, que pode oferecer alguma dificuldade para certos espíéritos e que se relaciona
com o assunto que acabamos de tratar. "Ouvindo, pois, o SÊNHOR a voz das vossas palavras,
quando me falaé veis a mim, o SÊNHOR me disse-. Êu ouvi a voz das palavras deste povo, que te
disseram; em tudo falaram eles bem" (Dt 5:28). Poderia parecer, segundo estas palavras, que o
Senhor aprovava que eles tivessem feito um voto; poreé m, se o leitor se der ao trabalho de ler
todo o contexto, desde o versíéculo 24 ao versíéculo 27, veraé imediatamente que naã o se trata de
um voto, mas da expressaã o do seu terror por causa das consequeê ncias do seu voto. Naã o
podiam suportar aquilo que lhes era ordenado. "Se ainda mais ouvíéssemos a voz do SÊNHOR,
nosso Deus, morreríéamos. Porque, quem haé , de toda a carne, que ouviu a voz do Deus vivente
falando do meio do fogo, como noé s, e ficou vivo? Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o
SÊNHOR nosso Deus; e tu nos diraé s tudo o que te disser o SÊNHOR nosso Deus, e o ouviremos, e o
faremos". Êra esta a confissaã o da sua incapacidade para se encontrarem com o Senhor sob o
aspecto terríével a que o seu legalismo orgulhoso os havia levado. ÊÉ impossíével que o Senhor
possa aprovar o abandono de graça imutaé vel por um fundamento movediço de "obras da lei".
— CÃPIÉTULO 20 —
A LEI
A Lei e a Graça
ÊÉ da maior importaê ncia compreender o verdadeiro caraé ter e o objeto da lei moral,
como nos eé apresentada neste capíétulo. Êxiste uma tendeê ncia no homem para confundir os
princíépios da lei com graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamente
compreendidas. Ãlei eé despojada da sua austera e inflexíével majestade, e a graça eé privada de
todos os seus atrativos divinos. Ãs santas exigeê ncias de Deus ficam sem resposta, e as
profundas e mué ltiplas necessidades do pecador permanecem insolué veis pelo sistema anoé malo
criado por aqueles que tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem
confundir-se, visto que saã o taã o distintas quanto o podem ser duas coisas. Ãlei mostra-nos o
que o homem deveria ser; enquanto que a graça demonstra o que Deus eé . Como poderaã o, pois,
ser unidas num mesmo sistema1?- Como poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema
formado em parte pela lei e em parte pela graça 1? Impossíével: ele tem de ser sal vo por uma ou
por outra.
à lei tem sido aà s vezes chamada "a expressaã o do pensamento de Deus". Mas esta
definiçaã o eé inteiramente inexata.. Se a consideraé ssemos como a expressaã o daquilo que o
homem deveria ser, estaríéamos mais perto da verdade. Se eu considerar os dez mandamentos
como a expressaã o do pensamento de Deus, entaã o, pergunto, naã o haé nada mais no pensamento
de Deus senaã o "faraé s" isto e "naã o faraé s" aquilo? Naã o haé graça, nem misericoé rdia nem bondade?
Deus naã o manifestaraé aquilo que eé , nem revelaraé os segredos profundos desse amor que enche
o Seu coraçaã o? Naã o existe nada mais no coraçaã o de Deus senaã o exigeê ncias e proibiçoã es
severas"? Se fosse assim, teríéamos de dizer que "Deus eé lei"emvezde dizermos que" Deus eé
amor". Poreé m, bendito seja o Seu nome, existe muito mais em Seu coraçaã o do que jamais
poderaã o expressar os "dez mandamentos" pronunciados no monte fumegante. Se quero saber
o que Deus eé , devo olhar para Cristo; "porque nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade" (Cl 2:9). "PorquealeifoidadaporMoiseé s;agraçaeaverdadevieram por Jesus Cristo"
(Jo 1:17). Certamente, na lei achava-se uma certa medida de verdade; continha a verdade
quanto aà quilo que o homem deveria ser. Como tudo que emana de Deus, a lei era perfeita —
perfeita para alcançar o fim a que era destinada; poreé m esse fim naã o era, de modo nenhum,
revelar, perante pecadores culpados, a natureza e o caraé ter de Deus. Naã o havia graça nem
misericoé rdia. "Quebrantando algueé m a lei de Moiseé s, morre sem misericoé rdia" (Hb 10.28).
"Ohomem que fizer estascoisas viveraé por elas" (Lv 18:5; Rm 10:5). "Maldito todo aquele que
naã o permanecer em todas as coisas que estaã o escritas no livro da lei, para fazeê -las" (Dt 27:26;
Gl 3:10). Nada disto era graça. Com efeito, o monte Sinai naã o era o lugar para se procurar tal
coisa. Jeovaé revelou-Se ali em majestade terríével, no meio da obscuridade, trevas, tempestade,
trovoã es e relaê mpagos. Êstas circunstaê ncias naã o saã o aquelas que acompanham uma
dispensaçaã o de graça e misericoé rdia; mas eram proé prias de uma dispensaçaã o de verdade e
justiça: e a lei naã o era mais que isso.
Na lei Deus declara o que o homem deveria ser, e pronuncia a maldiçaã o sobre ele se o
naã o for. Ora quando o homem se examine aà luz da lei descobre que eé precisamente aquilo que
a lei condena. Como poderaé ele, portanto, obter a vida por meio da lerv à lei propoã e a vida e a
justiça como os fins a alcançar, guardando-a; mas mostra-nos, desde o primeiro momento, que
nos encontramos num estado de morte e iniquidade. Precisamos desde o primeiro momento
das mesmíéssimas coisas que a lei propoã e alcançar-nos no fim. Como vamos noé s, portanto,
obteê -las? Para cumprir aquilo que a lei requer eé preciso que eu tenha vida; e para ser o que a
lei exige devo possuir a justiça; e se eu naã o tiver vida e justiça sou "maldito". Poreé m, o fato eé
que eu naã o tenho uma nem a outra. Que devo entaã o f azer4- Êis a questaã o. Que respondam
aqueles que querem ser "doutores da lei" (1 Tm 1.7): que deê em uma resposta proé pria para
uma conscieê ncia reta, curvada sob o sentido duplo da espiritualidade e inflexibilidade da lei e
a sua carnalidade desesperada.
O Propósito da Lei
à verdade eé que, como nos ensina o apoé stolo, a lei veio para que a ofensa abundasse
(Rm5:20). Isto mostra-nos claramente o verdadeiro objetivo da lei: veio a propoé sito para que o
pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7:13). Êra, em certo sentido, como um espelho
perfeito enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Se eu me puser diante de um
espelho com o meu vestuaé rio desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas naã o o poã e
em ordem. Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a
tortuosidade, mas naã o a altera. Se eu sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me
todos os obstaé culos e dificuldades que se acham no caminho, mas naã o os remove. Ãleé m disso,
o espelho, o prumo, e a luz naã o criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem
os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: naã o cria o mal no coraçaã o
dohomem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalíével exatidaã o.
"Que diremos pois4 ÊÉ a lei pecado 1?- De modo nenhum; mas eu naã o conheci o pecado
senaã o pela lei; porque eu naã o conheceria a concupisceê ncia se a lei naã o dissesse: Naã o
cobiçaraé s" (Rm 7:7). O apoé stolo naã o diz que naã o teria tido "concupisceê ncia". Naã o, mas apenas
que naã o a teria conhecido. Ã "concupisceê ncia" existia; mas ele estava aà s escuras quanto ao fato,
ateé que a lei, como a luz do Deus Onipotente, brilhou nos recessos tenebrosos do seu coraçaã o e
revelou o mal que nele havia Ãssim como um homem numa caê mara escura pode estar rodeado
de poeira e confusaã o sem contudo poder ver nada por causa da escuridaã o. Mas deixai que os
raios de sol penetrem ali e ele distinguiraé imediatamente tudo. São os raios de sol que formam
o poé ? Certamente que naã o. O poé encontra-se ali, e os raios de sol apenas o detectam e revelam.
Isto eé apenas uma simples ilustraçaã o dos efeitos da lei: julga o caraé ter e a condiçaã o do homem.
Julga o pecador e encerra-o debaixo da maldiçaã o: vem para julgar o que ele eé e amaldiçoa-o se
ele naã o eé o que ela lhe diz que deve ser.
A Mensagem da Graça
Ãleé m disso, quando Deus deu, no monte Sinai, as exigeê ncias severas do concerto das
obras, dirigiu-Se exclusivamente a um povo. Ã sua voz foi ouvida unicamente dentro dos
estreitos limites da naçaã o judaica; poreé m, quando, nas planíécies de Beleé m, "o anjo do Senhor"
proclamou "novas de grande alegria", acrescentou estas palavras caracteríésticas, "que
serápara todo o povo" (Lc 2:10). Quando o Cristo ressuscitado enviou os Seus arautos de
salvaçaã o, a Sua mensagem era redigida assim: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a
toda a criatura" (Mc 16:15). Ã onda poderosa da graça, que tinha a sua origem no seio de Deus
e o seu leito no sangue do Cordeiro, estava destinada a elevar-se, na energia irresistíével do
Êspíérito Santo, muito acima dos estreitos limites de Israel e rolar atraveé s do comprimento e
largura de um mundo manchado de pecado. "Toda a criatura" devia ouvir "na sua proé pria
líéngua" a mensagem da paz, a palavra do evangelho, o relato da salvaçaã o pelo sangue da cruz.
Finalmente, para que nada pudesse faltar para dar a prova aos nossos coraçoã es
legalistas que o monte Sinai naã o era, de modo nenhum, o lugar onde os segredos profundos do
coraçaã o de Deus foram revelados, o Êspíérito Santo disse, tanto por boca de um profeta como
de um apoé stolo: "Quaã o formosos os peé s dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas
boas!" (Is 52:7; Rm 10:15). Poreé m, daqueles que queriam ser doutores da mesma lei o Êspíérito
Santo disse: "Êu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando" (GI5:12).
A Lei e o Evangelho
Desta forma, eé evidente que a lei naã o eé nem o fundamento de vida para o pecador nem
a regra de vida para o cristaã o. Cristo eé tanto uma coisa como a outra. Êle eé a nossa vida e a
nossa regra de vida. Ãlei soé pode amaldiçoar e matar. Cristo eé a nossa vida e justiça. Êle fez-Se
maldiçaã o por noé s sendo pregado no madeiro. O Senhor desceu ao lugar onde estava o pecador
—ao lugar da morte e do juíézo —, e, havendo, pela Sua morte, cumprido inteiramente tudo que
era ou poderia ser contra noé s, tornou-Se, na ressurreiçaã o, a origem de vida e o fundamento de
justiça para todos os que creê em no Seu nome. Possuindo assima vida e a justiça n'Êle, somos
chamados para andar, naã o apenas como a lei ordena, mas "como ele andou" (1 Jo 2:6). Seraé
desnecessaé rio afirmar que matar, cometer adulteé rio ou roubar, saã o atos diretamente opostos aà
moral cristaã . Mas se um cristaã o regulasse a sua vida segundo esses mandamentos ou de
acordo com o decaé logo produziria esses frutos raros e delicados de que fala a espíéstola aos
Êfeé sios1?- Poderiam os dez mandamentos fazer com que um ladraã o naã o roubasse mais e
trabalhasse a fim de poder ter que dar4 Transformariam jamais um ladraã o num homem
laborioso e liberais Naã o, por certo. Ã lei diz: "Naã o furtaraé s"; mas acaso diz, "daé aà quele que estaé
em necessidade" — vai, daé de comer ao teu inimigo, veste-o e abençoa-o —, vai e alegra por
teus sentimentos benevolentes e teus atos beneficentes o coraçaã o daquele que procura
sempre prejudicar-te? De modo nenhum; e, contudo, se eu estivesse sob a lei, como regra, ela
soé podia amaldiçoar-me e matar-me. Como pode ser isto, sendo o padraã o do Novo Testamento
muito mais elevado"? ÊÉ porque sou fraco e a lei naã o me daé forças nem me mostra misericoé r dia.
à lei exige força daquele que naã o tem nenhuma eantaldiçoa-o se ele naã o pode mostraé -la. Mas o
evangelho dá forças aà quele que naã o tem nenhuma, e abençoa-o na manifestaçaã o dessa força. Ã
lei propoã e a vida como o fim da obedieê ncia; o evangelho daé vida como o proé prio e ué nico
fundamento de obedieê ncia.
Mas, para naã o fatigar o leitor aà força de argumentos, pergunto, se a lei eé , realmente, a
regra de vida do crente, em que parte do Novo Testamento se apresenta ela assima
Êvidentemente o apoé stolo naã o tinha tal pensamento quando disse. "Porque, em Cristo Jesus,
nem a circuncisaã o nem a incircuncisaã o teê m virtude alguma, mas sim o ser um nova criatura. Ê,
a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericoé rdia sobre eles e sobre o Israel
de Deus" (Gl 6:15-16). Qual regra? Ã lei?- Naã o, mas sim a "nova criatura".
Êm capíétulo 20 de ÊÊ xodo naã o encontramos uma soé palavra quanto aà "nova criaçaã o".
Pelo contraé rio, este capíétulo eé dirigido ao homem tal qual ele eé , no seu estado natural da velha
criaçaã o, e poã e-no aà prova para saber o que ele pode realmente fazer. Ora se a lei era a regra
pela qual os crentes deviam andar, por que pronuncia o apoé stolo a sua beê nçaã o sobre os que
andam segundo uma regra totalmente diferen-tei Por que naã o diz ele, "a todos quantos
andarem conforme a regra dos dez mandamentos" 1? Naã o eé evidente, segundo esta passagem,
que a Igreja de Deus tem uma regra mais elevada segundo a qual deve andara ÊÉ ,
indiscutivelmente. Os dez mandamentos, embora façam parte, como todos os verdadeiros
crentes admitem, do caê non de inspiraçaã o, nunca poderiam ser a regra de feé para todo aquele
que tenha, pela graça infinita, sido introduzido na nova criaçaã o—todo aquele que tem
recebido nova vida em Cristo.
A Lei é Perfeita
Mas, pode perguntar-se, "a lei naã o eé perfeita? Ê se eé perfeita que mais pode desejar-se?-
à lei eé divinamente perfeita. Na verdade, a proé pria perfeiçaã o da lei eé a razaã o de amaldiçoar e
matar aqueles que naã o saã o perfeitos e pretendem subsistir perante ela. "Ã lei eé espiritual, mas
eu sou carnal" (Rm 7:14). ÊÉ inteiramente impossíével fazer-se uma ideia justada
perfeiçaã oeespiritualidadedalei. Poreé m, esta lei perfeita estando em contato com a humanidade
caíéda—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—soé podia produzir a "ira"
e a "inimizade" (Rm 4:15; 8:7). Por queê 1?- ÊÉ porque a lei naã o eé perfeita?- Ão contraé rio, eé
porque ela o eé e o homem eé pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua
perfeiçaã o espiritual; e ateé mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda
consigo uma natureza corrompida, o apoé stolo ensina-nos: "Para que a justiça da lei se
cumprisse em noé s, que naã o andamos segundo a carne, mas segundo o espíérito" (Rm 8:4): "..
.porque quem ama aos outros cumpriu a lei... O amor naã o faz mal ao proé ximo. De sorte que o
cumprimento da lei eé o amor" (Rm 13:8 e 10). Se eu amar o proé ximo naã o furtarei aquilo que
lhe pertence; pelo contraé rio, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto eé claro e
faé cil de compreender por uma alma espiritual; mas naã o toca na questaã o da lei, quer seja como
fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o crente.
A Adoração
Depois de tudo que temos visto, haé um interesse particular para o homem espiritual
observar a posiçaã o relativa de Deus e o pecador no Hm deste memoraé vel capíétulo. "Êntaã o,
disse o SÊNHOR a Moiseé s: Ãssim diraé s aos filhos de Israel:... Um altar de terra me faraé s e sobre
ele sacrificaraé s os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíéficas e as tuas ovelhas, e as tuas
vacas; em todo lugar onde eu fizer celebrar a memoé ria do meu nome, VIRÊI ÃTI Ê TÊ
ÃBÊNÇOÃRÊI. Ê, se me fizeres um altar de pedras, naã o o faraé s de pedras lavradas; se sobre ele
levantares o teu buril, profanaé -lo-aé s. Naã o subiraé s tambeé m por degraus ao meu altar, para que a
tua nudez naã o seja descoberta diante deles" (versíéculos 22 aé 26).
Naã o vemos nesta passagem o homem na posiçaã o de fazer obras, mas na de um
adorador: e isto no fim do capíétulo 20 do ÊÊ xodo. Êste fato ensina-nos claramente que o
ambiente de Sinai naã o eé aquele que Deus quer que o pecador respire—o monte de Sinai naã o eé
o lugar proé prio para o encontro de Deus com o homem:".. .em todo o lugar onde eu fizer
celebrar a memoé ria do meu nome virei a ti e te abençoarei". Como esse lugar onde Jeovaé faz
celebrar a memoé ria do Seu nome, e onde vem para abençoar o Seu povo em adoraçaã o, eé
diferente dos terrores do monte fumegante!
Mas, aleé m disso, pode encontrar-Se com o pecador num altar sem pedras lavradas ou
degraus—um lugar de culto cuja construçaã o naã o necessita da arte do homem ou esforço
humano para dele se aproximar. Ãs pedras lavradas por maã o do homem soé podiam manchar o
altar e os degraus soé podiam descobrir a "nudez" humana. Que síémbolo admiraé vel do lugar
onde Deus encontra agora o pecador, a proé pria Pessoa e obra de Seu Filho, Jesus Cristo, em
Quem todas as exigeê ncias da lei e da justiça e da conscieê ncia saã o perfeitamente cumpridas! Êm
todos os tempos e em todos os lugares, o homem tem estado sempre pronto, de um modo ou
de outro, a levantar os seus instrumentos na construçaã o do seu altar ou para se aproximar
dele pelos degraus de sua proé pria invençaã o. Poreé m, o resultado dessas tentativas tem sido a
contaminação e a nudez... "todos noé s somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como
trapo da imundíécia; e todos noé s caíémos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos
arrebatam" (Is 64:6). Quem se atreveria a aproximar-se de Deus com um vestuaé rio de "trapo
da imundíécie?" Ou quem poderaé adoraé -Lo na sua "nudeza" Que maior absurdo poderia haver
do que pensar em chegar aà presença de Deus de um modo que necessariamente inclui
contaminaçaã o ou nudeza Ê contudo sucede assim sempre que o esforço humano eé empregado
para abrir o caminho para Deus. Naã o somente esse esforço eé desnecessaé rio como estaé
marcado com a contaminaçaã o e a nudez. Deus veio taã o perto do pecador, ateé mesmo aà
profundidade da sua ruíéna, que naã o haé necessidade de ele levantar o instrumento da
legalidade ou de subir os degraus da justiça proé pria — fazeê -lo eé apenas expor a sua imundíécia
e a sua nudez.
Saã o estes os princíépios com que o Êspíérito Santo termina esta parte notaé vel deste livro
inspirado. Que Deus os inscreva em nossos coraçoã es de forma a podermos compreender
claramente a diferença essencial entre a LÊI e a GRÃÇÃ.
— CÃPITULO 21 a 23 —
AS ORDENANÇAS
E AS PENALIDADES
A Infinita Condescendência de Deus para cora o Homen
O estudo desta parte do Livro do ÊÊ xodo estaé calculado para compenetrar o coraçaã o do
significado da sabedoria inescrutaé vel e infinita bondade de Deus. Com este estudo podemos
formar uma ideia de um reino governado por leis estabelecidas por Deus. Podemos ver nele
tambeé m a maravilhosa condescendeê ncia d'Ãquele que, naã o obstante ser o grande Deus do ceé u
e da terra pode, todavia, curvar-Se para julgar entre os homens a morte de um boi, o
empreé stimo de um vestido ou a perda do dente de um servo. "Quem eé como o SÊNHOR nosso
Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que estaé nos ceé us ena terral" (Sl 113:5-
6). Governa o universo e, todavia, pode ocupar-Se com o suprimento de vestuaé rio para uma
das Suas criaturas. Dirige o voê o dos anjos e toma nota do rastejar de um verme. Humilha-Se a
Si Proé prio para regular o movimento dos inumeraé veis astros que se movem no espaço infinito
e para registrar a queda de um pardal.
Quando ao caraé ter das leis apresentadas no primeiro destes capíétulos, podemos
aprender nele uma liçaã o dupla. Êssas leis e ordenaçoã es daã o um testemunho duplo: trazem-nos
uma mensagem e poã em perante os nossos olhos dois lados de um quadro. Falam de Deus e do
homem.
Êm primeiro lugar, quando a Deus, veê mo-Lo decretar leis que mostram justiça perfeita,
estrita e imparcial. "Olho por olho, dente por dente, maã o por maã o, peé por peé , queimadura por
queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe". Tal era o caraé ter das leis, dos estatutos e dos
juíézos por meio dos quais Deus governava o Seu reino terrestre de Israel. Previu-se tudo,
defenderam-se todos os interesses, e atenderam-se todas as reclamaçoã es. Naã o houve parci-
alidade, naã o se fez diferença entre ricos e pobres. Ã balança em que se pesaram as
reivindicaçoã es de cada homem foi afinada com precisaã o divina, de forma que ningueé m
pudesse justamente apelar de uma decisaã o. Ã toga pura da justiça naã o podia ser manchada
com as noé doas imundas dos suborno, da corrupçaã o ou da parcialidade. Os olhos e as maã os de
um Legislador divino precaveram tudo; e o Êxecutivo divino tratou inflexivelmente com todo o
delinquente. O golpe da justiça caiu somente sobre a cabeça do culpado, enquanto que toda a
alma obediente foi protegida no gozo de todo os seus direitos e privileé gios.
Êm segundo lugar, quanto ao homem, eé impossíével ler todas estas leis sem se ficar
impressionado com a declaraçaã o que, indireta, mas realmente, fazem da sua depravaçaã o. O
fato de o Senhor ter de promulgar leis contra certos crimes prova que o homem era capaz de
os cometer. Se essa capacidade ou tendeê ncia naã o existisse no homem, naã o haveria necessidade
da promulgaçaã o das leis. Ora, haé muitas pessoas que, se as abominaçoã es grosseiras proibidas
por este capíétulo lhes fossem relatadas podiam sentir-se tentadas a adoptar a linguagem de
Hazael e dizerem: "Pois que eé teu servo, que naã o eé mais que um caã o, para fazer tal coisa?" (2 Rs
8:13). Êstas pessoas naã o desceram ainda ao profundo abismo do seu proé prio coraçaã o. Porque
embora alguns dos crimes aqui proibidos pareçam colocar o homem, quanto a seus haé bitos e
inclinaçoã es, abaixo do níével de um caã o, estes mesmíéssimos estatutos provam, aleé m de toda a
controveé rsia, que o membro mais polido e cultivado da famíélia humana traz em seu coraçaã o as
sementes das abominaçoã es mais tenebrosas, horríéveis e abominaé veis. Para quem foram esses
estatutos promulgados?- Para o homem. Êram necessaé rios? Sem nenhuma dué vida. Mas teriam
sido inteiramente desnecessaé rios se o homem fosse incapaz de cometer os pecados referidos.
Poreé m o homem era capaz de os cometer; e por isso vemos que caiu o mais baixo possíével—
que a sua natureza estaé completamente corrompida —, que, desde a cabeça aà planta do seu peé ,
naã o existe nem sequer um aé tomo de perfeiçaã o moral.
Como poderaé um tal ente estar jamais, sem uma sensaçaã o de temor, perante o brilho do
trono de Deus? Como poderaé permanecer dentro do lugar santíéssimo? Como poderaé estar de
peé sobre o mar de cristal?- Como poderaé entrar pelas portas de peé rolas e trilhar as ruas de
ouro da cidade santa? Ã resposta a estas interrogaçoã es mostra-nos as profundidades
assombrosas do amor redentor e da eficaé cia eterna do sangue do Cordeiro de Deus. Por muito
profunda que seja a ruíéna do homem, o amor de Deus eé ainda mais profundo. Por muito negra
que seja a sua culpa, o sangue de Jesus pode lavaé -la. Por mais largo que seja o abismo que
separa o homem de Deus, a cruz tem-no atravessado. Deus desceu ao ponto mais baixo da
condiçaã o do pecador, de modo a poder elevaé -lo a uma posiçaã o de infinito favor, em ligaçaã o
eterna com Seu Filho. Bem podemos exclamar: "Vede quaã o grande amor nos tem concedido o
Pai: que foê ssemos chamados filhos de Deus" (1 Jo 3:1). Nada podia sondar a ruíéna do homem
senaã o o amor de Deus, e nada podia sobrepujara culpa do homem senaã o o sangue de Cristo.
Mas agora a proé pria profundidade da ruíéna soé engrandece o amor que a sondou, e a
intensidade da culpa apenas exalta a eficaé cia do sangue que a purifica. O mais vil pecador que
creê em Jesus pode regozijar-se na certeza de que Deus o veê e declara que ele "estaé todo limpo"
(Jo 13:10).
O Servo Hebreu
Tal eé , pois, o caraé ter duplo da instruçaã o que pode coligir-se das leis e ordenaçoã es
consideradas em conjunto; e quanto mais as examinamos em pormenor, mais impressionados
ficamos com o sentidoda sua plenitude e beleza. Tomemos, por exemplo, a primeira ordenaçaã o
que nos eé apresentada, a saber, a que se refere ao servo hebraico. "Se comprares um servo
hebreu, seis anos serviraé ; mas, ao seé timo, sairaé forro, de graça. Se entrou soé com o seu corpo,
soé com o seu corpo sairaé ; se ele era homem casado, sairaé sua mulher com ele. Se seu senhor
lhe houver dado uma mulher, e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e seus filhos
seraã o de seu senhor, e ele saíéra soé com seu corpo. Mas, se aquele servo expressamente disser.-
Êu amo a meu senhor, e a minha mulher e a meus filhos, naã o quero sair forro, entaã o, seu
senhor o levaraé aos juíézes, e o faraé chegar aà porta, ou ao postigo, e seu senhor lhe furaraé a
orelha com uma sovela; e o serviraé para sempre" (capíétulo 21:2 a 6). O servo era inteiramente
livre quanto a tudo que lhe dizia respeito. Havia cumprido todas as exigeê ncias da lei e poderia
portanto partir com absoluta liberdade; mas, por causa do amor aà sua mulher, ao seu amo e
aos seus filhos submetia-se aà servidaã o perpeé tua; e naã o somente isto, queria levar tambeé m no
seu corpo as marcas dessa servidaã o.
O Verdadeiro Servo
O leitor inteligente reconheceraé facilmente como tudo isto tem aplicaçaã o ao Senhor
Jesus Cristo. N'Êle vemos Ãquele que estava no seio do Pai antes que existissem todos os
mundos—o objeto das Suas delíécias eternas — e que podia ter ocupado este lugar por toda a
eternidade, sendo o Seu lugar pessoal e inteiramente peculiar, tanto mais que nada o obrigava
a abandonaé -lo, salvo esta obrigaçaã o que o amor inefaé vel criara e inspirara. Mas era tal o Seu
amor para com o Pai, Cujos desíégnios estavam incluíédos e para com a Igreja coletivamente e
cada membro dela individualmente, cuja salvaçaã o estava em causa, que veio ao mundo,
voluntariamente, humilhan-do-Se a Si Mesmo, tomando a forma de servo e as marcas de
serviço perpeé tuo sobre Si. No Salmo 40 faz-se provavelmente uma alusaã o a estas marcas: "...as
minhas orelhas furaste". Êste Salmo eé a expressaã o do af eto de Cristo por Deus. "Êntaã o disse:
Êis aqui venho; no rolo do livro estaé escrito de mim: Deleito-me em fazer a tua vontade, oé
meus Deus; sim a tua lei estaé dentro do meu coraçaã o" (versíéculos 7 e 8). Veio para fazer a
vontade de Deus, qualquer que pudesse ser essa vontade. Jamais fez a Sua vontade, nem
mesmo na aceitaçaã o e salvaçaã o de pecadores, ainda que certamente o Seu coraçaã o
amantíéssimo, com todas as suas afeiçoã es, estivesse posto inteiramente nessa obra gloriosa.
Sem dué vida, naã o recebe nem salva senaã o como servo dos desíégnios do Pai. "Tudo que o Pai me
daé viraé a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do ceé u
naã o para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ê a vontade do Pai,
que me enviou, eé esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o
ressuscite no ué ltimo dia" (Jo 6:37 -39).
Nesta passagem, temos um dos mais interessantes aspectos do caraé ter de servo do
Senhor Jesus Cristo. Êm graça perfeita, Êle considera-Se responsaé vel por receber todos os que
estaã o incluíédos nos desíégnios divinos; e naã o soé de recebeê -los, mas de os guardar em todas as
dificuldades e provaçoã es da sua carreira de desvios na terra, sim, ateé mesmo no caso da
proé pria morte, no caso de ela vir, e de os ressuscitar no ué ltimo dia. Oh, quaã o seguro estaé ateé o
membro mais fraco da Igreja de Deus! ÊÉ objeto dos desíégnios eternos de Deus, de cujo
cumprimento o Senhor Jesus Cristo eé o fiador. Jesus ama o Pai, e a segurança de cada membro
da famíélia redimida estaé em proporçaã o com a intensidade desse amor. Ã salvaçaã o do pecador
que creê no Filho de Deus naã o eé , em certo aspecto, senaã o a expressaã o do amor de Cristo pelo
Pai. Se um dos que creê em n'Êle pudesse perder-se por qualquer causa, o fato indicaria que o
Senhor Jesus Cristo era incapaz de dar cumprimento aà vontade de Deus, o que seria uma
blasfeé mia contra o Seu santo nome, ao qual seja dada a honra e majestade pelos seé culos
eternos!
Desta forma temos no servo hebraico uma figura de Cristo em Seu afeto ao Pai. Poreé m
haé alguma coisa mais do que isto: "Êu amo a minha mulher e a meus filhos. ""Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com lavagem da aé gua,
para a apresentar a si mesmo igrej a gloriosa, sem maé cula, nem ruga, nem coisa semelhante,
mas santa e irrepreensíével" (Êf 5:25 -27). Êxistem outras passagens das Êscrituras que nos
apresentam Cristo como antíétipo do servo hebraico, tanto no Seu amor pela Igreja, como
corpo, como para com todos os crentes, individualmente. O leitor encontraraé ensino sobre este
ponto nos capíétulos 13 de Mateus, 10 e 13 de Joaã o e 2 de Hebreus.
— CÃPIÉTULO 24 —
O PODER DO SANGUE
"De Longe"
Êste capíétulo abre com uma expressaã o notavelmente caracteríés tica de toda a
dispensaçaã o moisaica. "Depois, disse a Moiseé s: Sobe ao SÊNHOR, tu e Ãraã o, Nadabe e Ãbiué , e
setenta dos anciaã os de Israel; e inclinai-vos de longe... eles não se cheguem nem o povo suba
com ele." Podemos buscar de um ao outro extremo da lei sem encontramos estas palavras:
"Ãproximai-vos". Ãh, naã o; essas palavras nunca poderiam ser ouvidas do cume do Sinai, nem
do meio das sombras da lei. Soé podiam ser pronunciadas do lado celestial da sepultura vazia
de Jesus, onde o sangue da cruz abriu uma perspectiva perfeitamente clara para a visaã o da feé .
Ãs palavras "de longe" saã o taã o caracteríésticas da lei como as palavras "vinde" o saã o do
evangelho. Sob a lei, a obra que podia dar direito ao pecador a aproximar-se naã o se realizava
jamais. O homem naã o cumpriu a sua promessa de obedieê ncia, e o "sangue de bodes e
bezerros" (Hb 9:12) naã o podia expiar o pecado nem dar paz aà sua conscieê ncia perturbada. Por
isso, ele tinha de permanecer "longe". Os votos do homem haviam sido violados e o seu pecado
estava por purificar; como, pois, podia aproximar-se £ O sangue de dez mil bezerros naã o podia
limpar nem uma soé das manchas da conscieê ncia ou dar-lhe o sentimento pacíéfico da
intimidade com um Deus reconciliado.
Contudo, "o primeiro" concerto estaé aqui consagrado com sangue. Um altar eé edificado
ao peé do monte com doze pedras, segundo as doze tribos de Israel."Ê enviou certos jovens dos
filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos, e sacrificaram ao SÊNHOR sacrifíécios pacíéficos
de bezerros. Ê Moiseé s tomou a metade do sangue e a poê s em bacias; e a outra metade do
sangue espargiu sobre o altar... entaã o, tomou Moiseé s aquele sangue, e o espargiu sobre o povo,
e disse: Êis aqui o sangue do concerto que o SÊNHOR tem feito convosco sobre todas estas
palavras" (versíéculos 5,6 e 8). Êmbora fosse impossíével, como nos diz o apoé stolo, que o sangue
dos touros e dos bodes tirasse os pecados, contudo santificava quanto aà purificaçaã o da carne
(Hb 10:4; 9.13), ecomo"sombra dos bens futuros" servia para manter o povo em relaçaã o com
Deus (Hb 10:1).
A Manifestação de Deus
"Ê subiram Moiseé s e Ãraã o, Nadabe e Ãbiué esetentados anciaã os de Israel, e viram o Deus
de Israel e debaixo de seus peé s havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do
ceé u na sua claridade. Poreé m ele naã o estendeu a sua maã o sobre os escolhidos dos filhos de
Israel; mas viram a Deus, e comeram e beberam" (versíéculos 9 a 11). Ãssim se manifestava "o
Deus de Israel" em luz e pureza, majestade e santidade. Nada disto era o desenrolar
dosafetosdo coraçaã o do Pai ou os doces acentos da voz do Pai derramando paz e inspirando
confiança no coraçaã o. Naã o; a "obra de pedra de safira" falava daquela pureza e luz inacessíéveis
que obrigavam o pecador a manter-se "longe". Contudo, eles "viram a Deus e comeram e
beberam". Prova tocante da toleraê ncia e da misericoé rdia divina bem como do poder do sangue!
Êncarando o conjunto desta cena como uma simples ilustraçaã o, existe nela muito para
interessar o coraçaã o. O campo demarcado estaé em baixo, tem cima o pavimentode safira; mas o
altar, ao peé do monte, fala-nos desse caminho pelo qual o pecador pode subtrair-se aà
corrupçaã o da sua proé pria condiçaã o e elevar-se aà presença de Deus, para aíé fazer festa e adorar
em perfeita paz. O sangue que corria em redor do altar era o ué nico direito que o homem tinha
para subsistir na presença dessa gloé ria cujo parecer "era como um fogo consumidor no cume
do monte aos olhos dos filhos de Israel".
"Ê Moiseé s entrou no meio da nuvem, depois que subiu ao monte; e Moiseé s esteve no
monte quarenta dias e quarenta noites." Para Moiseé s isto significava uma posiçaã o
verdadeiramente elevada e santa. Foi chamado aparte da terra e das coisas terrenas. Ãlheado
das influeê ncias naturais, eé encerrado com Deus para ouvir da Sua boca os profundos misteé rios
da Pessoa e obra de Cristo; porque eé isso, com efeito, que nos eé representado no tabernaé culo,
cheio de significaçaã o em todos os seus acessoé rios—"figuras das coisas que estaã o nosceé us"(Hb
9:23).
O bendito Senhor sabia bem qual ia ser o fim do concerto das obras do homem; todavia,
mostra a Moiseé s, em figuras e sombras, os Seus preciosos pensamentos de amor e desíégnios
eternos de graça, manifestados e garantidos por Cristo.
Bendita seja para sempre a graça que naã o nos deixou sob um concerto de obras.
Bendito seja Ãquele que aquietou os trovoã es da lei e apagou as chamas do monte Sinai pelo
sangue do concerto eterno (Hb 13:20) e que nos deu uma paz que nenhum poder da terra ou
do inferno pode abalar. "Ãquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e
nos fezreis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele gloé ria e poder para todo o sempre. Ãmeé m
(Ãp 1:5-6).
— CÃPIÉTULO 25 —
O TABERNÁCULO
A Ordem Divina
Êste capíétulo eé o começo de um dos mais ricos filoã es da mina inesgotaé vel de inspiraçaã o
—um veio no qual cada pancada do alviaã o descobre riquezas incontaé veis. Sabemos qual eé o
ué nico alviaã o com o qual podemos trabalhar numa tal mina, a saber, o ministeé rio distinto do
Êspíérito Santo. Ã natureza humana nada pode fazer aqui. Ã razaã o eé cega e a imaginaçaã o
completamente inué til; a inteligeê ncia mais elevada, em vez de estar em estado de interpretar os
síémbolos sagrados, parece-se mais a um morcego ante o resplendor do sol, chocando-se contra
os objetos que eé inteiramente incapaz de discernir. Devemos obrigar a razaã o e a imaginaçaã o a
ficarem a parte, enquanto, com um coraçaã o puro, um olhar sensato e pensamentos reverentes
entramos nos recintos santos e contemplamos fixamente o mobiliaé rio cheio de significado.
Deus o Êspíérito Santo eé o ué nico que nos pode guiar atraveé s dos recintos da casa do Senhor e de
interpretar para as nossas almas o verdadeiro significado de tudo que se apresenta aà nossa
vista. Querer dar a sua explicaçaã o com o auxíélio de faculdades naã o santificadas seria mais
absurdo do que tentar reparar um reloé gio com as tenazes e o martelo de um ferreiro. "Ãs
figuras das coisas que estaã o no ceé u" (Hb 9:23) naã o podem ser interpretadas pela mente
natural, ainda mesmo a mais cultivada. Devem ser lidas aà luz do ceé u. O mundo naã o tem
nenhuma luzque possa revelaras suas belezas. Ãquele que produziu as figuras eé o ué nico que
pode explicar o que elas significam. Ê Ãquele que deu os síémbolos eé quem pode interpretaé -los.
Para a vista do homem pareceraé que haé irregularidade na maneira como o Êspíérito
apresenta o mobiliaé rio do tabernaé culo; mas, na realidade, como poderia esperar-se, existe a
mais perfeita ordem, a precisaã o mais notaé vel e a exatidaã o mais minuciosa. Desde o capíétulo 25
ao capíétulo 30, inclusive, temos uma parte distinta do Livro do ÊÊ xodo. Êsta parte subdivide-se
em duas partes, das quais a primeira termina no versíéculo 19 do capíétulo 27, e a segunda no
fim do capíétulo 30. Ã primeira começa com a descriçaã o da arca do concerto, dentro do veé u, e
termina com o altar de bronze e o aé trio no qual o altar devia ser posto. Quer dizer, daé -nos, em
primeiro lugar, o trono do juíézo do Senhor, sobre o qual Êle se assentava como Senhor de toda
a terra; e este trono conduz-nos aà quele lugar onde o Senhor encontra o pecador em virtude e
com base na obra de uma expiaçaã o consumada. Depois, na segunda parte temos a maneira de
o homem se aproximar de Deus—os privileé gios, as honras, e as responsabilidades daqueles
que, como sacerdotes, podem aproximar-se da presença Divina para prestarem culto e
gozarem da Sua comunhaã o. Deste modo a ordem eé perfeita e bela. Como poderia ser de outro
modo, visto que eé divinal à arca e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois
extremos. Ã primeira era o trono de Deus estabelecido em "justiça e juíézo" (SI 89:14). Ã ué ltima
era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque "a misericoé rdia e a verdade" iam
adiante do rosto de Jeovaé . O homem, por si mesmo, naã o ousava aproximar-se da arca para se
encontrar com Deus, porque o caminho do santuaé rio naã o estava ainda descoberto (Hb 9:8).
Poreé m, Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. "Ã justiça e o juíézo" naã o
podiam admitir o pecador no santuaé rio; mas a misericoé rdia e a verdade podiam fazer sair
Deus—naã o envolto naquele resplendor irresistíével e majestade com que costumava brilhar do
meio das colunas míésticas do Seu trono—"os querubins de gloé ria"—, mas rodeado daquele
ministeé rio gracioso que nos eé apresentado, simbolicamente, no mobiliaé rio e nas ordenaçoã es
do tabernaé culo.
Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percorreu Ãquele bendito
Senhor que eé o antíétipo de todos estes síémbolos —a substaê ncia destas sombras. Êle desceu do
trono eterno de Deus no ceé u ateé aà profundidade da cruz no Calvaé rio. Deixou toda a gloé ria do
ceé u pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceite por
Si Mesmo, e apresentaé -lo inculpaé vel diante daquele proé prio trono que Êle havia abandonado
por amor deles. O Senhor Jesus preenche, em Sua proé pria Pessoa e obra, todo o espaço entre o
trono de Deus e o poé da morte, assim como a distaê ncia entre o poé da morte e o trono de Deus.
N'Êle Deus desceu, em perfeita graça, ateé ao pecador, e n'Êle o pecador eé conduzido, em
perfeita justiça, ateé Deus. Todo o caminho, desde a arca ao altar, estaé marcado com as pegadas
do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze ateé a arca de Deus estava salpicado com
sangue da expiaçaã o; e todo adorador ao passar por esse caminho maravilhoso veê o nome de
Jesus impresso em tudo que se oferece aà sua vista. Que este nome venha a ser o mais precioso
de nossos coraçoã es!
Vamos proceder agora ao exame dos capíétulos que se seguem.
Ê interessante notar que a primeira coisa que o Senhor revela a Moiseé s eé o Seu
propoé sito gracioso de ter um santuaé rio ou santa habitaçaã o no meio do Seu povo — um
santuaé rio formado de materiais que indicavam Cristo, a Sua Pessoa, a Sua obra, e o fruto
precioso dessa obra, como os vemos aà luz, no poder e diversas merceê s do Êspíérito Santo. Ãleé m
disso, estes materiais eram o fruto fragrante da graça de Deus — as ofertas voluntaé rias de
coraçoã es consagrados. Jeovaé , cuja Majestade o ceé u dos ceé us naã o poderia conter (lRs 8:27),
achava o Seu agrado em habitar numa tenda erigida para Si por aqueles que nutriam o desejo
ardente de saudar a Sua presença no meio deles. Êste tabernaé culo pode ser considerado de
duas maneiras; primeira, como uma "figura das coisas celestiais"; e, segunda, como uma figura
profundamente significativa do corpo de Cristo. Os vaé rios materiais de que se compunha este
tabernaé culo seraã o apresentados aà nossa consideraçaã o aà medida que formos desenrolando o
assunto. Portanto, vamos considerar os treê s assuntos mais importantes que este capíétulo poã e
diante de noé s, a saber: a arca, a mesa e o castiçal.
A Arca no Templo
Contudo, a arca naã o deveria viajar sempre. Ãs "afliçoã es" de Davi(Sl 132:1) bem como as
guerras de Israel deviam ter um fim. Ã oraçaã o, "Levanta-te, Senhor, no teu repouso, tu e a arca
da tua força" (SI 132:8) devia ainda de ser feita e atendida. Êsta petiçaã o sublime teve o seu
cumprimento parcial nos dias auspiciosos de Salomaã o, quando "os sacerdotes trouxeram a
arca do concerto do SÊNHOR ao seu lugar, ao oraé culo da casa, ao lugar santíéssimo, ateé debaixo
das asas dos querubins. Porque os querubins estendiam ambas as asas sobre o lugar da arca e
cobriam a arca e os seus varais por cima. Ê os varais sobressaíram tanto que as pontas dos
varais se viam desde o santuaé rio diante do oraé culo, poreé m de fora naã o se viam; e ficaram ali
ateé ao dia de hoje' (1 Rs 8:6 - 8). Ã areia do deserto devia ser trocada pelo piso de ouro do
templo (1 Rs 6:30). Ãs peregrinaçoã es da arca haviam chegado ao seu termo: "adversaé rio naã o
havia, nem algum mau encontro", e, portanto, fizeram sobressair os varais.
Êsta naã o era a ué nica diferença entre a arca no tabernaé culo e no templo. O apoé stolo,
falando da arca na sua habitaçaã o do deserto, descreve-a como "a arca do concerto, coberta de
ouro toda em redor, em que estava um vaso de ouro, que continha o manaé , e a vara de Ãraã o,
que tinha florescido, e as taé buas do concerto" (Hb 9:4). Êstes eram os objetos que a arca
continha durante as suas jornadas no deserto—o vaso de manaé era o memorial da fidelidade
do Senhor em prover a todas as necessidades dos Seus remidos atraveé s do deserto, e a vara de
Ãaraã o era "um sinal para os filhos rebeldes" para acabar com "as suas murmuraçoã es"
(Compare-se Êx 16:32 - 34 e Nm 17:10). Poreé m, quando chegou o momento em que "os
varais" deviam ser retirados, logo que as peregrinaçoã es e as guerras de Israel terminaram,
quando "a casa magníéfica em exceleê ncia" (1 Cr 22:5) foi terminada, quando o sol da gloé ria de
Israel havia chegado, em figura, ao zeé nite com o esplendor e a magnificeê ncia do reino de
Salomaã o, entaã o os memoriais das necessidades e faltas do deserto desapareceram, e nada
ficou senaã o aquilo que constituíéa o fundamento eterno do trono do Deus de Israel e de toda a
terra. "Ãia arca, nada havia, senão só as duas tábuas de pedra que Moisés ali pusera junto a
Horebe" (I Rs 8:9).
Mas toda esta gloé ria devia ser obscurecida pelas nuvens carregadas do fracasso
humano e o descontentamento de Deus. Os peé s devastadores dos incircuncisos haviam ainda
de atravessar as ruíénas dessa magníéfica casa, e o desaparecimento do seu brilho e da sua
gloé ria devia provocar o assobio dos estranhos (1 Reis 9:8). Êste naã oeé omomento de continuar
em pormenor este assunto; limitar-me-ei a referir ao leitor a ué ltima mençaã o que a Palavra de
Deus faz da " arca do concerto" —uma passagem que nos transporta a uma eé poca em que a
loucura humana e o pecado naã o perturbaraã o mais o lugar de repouso da arca, e em que a arca
naã o seraé guardada num tabernaé culo de cortinas nem tampouco num templo feito por maã os. "Ê
tocou o seé timo anjo a sua trombeta, e houve no ceé u grandes vozes, que diziam-. Os reinos do
mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e ele reinaraé para todo o sempre. Êos
vinte e quatro anciaã os, que estaã o assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se
sobre seu rostoe adoraram aDeus, dizendo: Graças tedamos, Senhor, DeusTodo-poderoso, que
eé s, e que eras, e que haé s de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. Ê iraram-se as
naçoã es, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o
galardaã o aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a
grandes, e o tempo de destruíéres os que destroem a terra. Ê abriu-se no ceé u o templo de Deus,
e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e houve relaê mpagos, e vozes, e trovoã es, e
terremotos, e grande saraiva" (Ãp 11.15 -19).
O Propiciatório
Segue-se por sua ordem o propiciatoé rio. "Tambeé m faraé s um propiciatoé rio de ouro puro;
o seu cumprimento seraé de dois coê vados e meio, e a sua largura, de um coê vado e meio. Faraé s
tambeé m dois querubins de ouro; de ouro batido os faraé s, nas duas extremidades do
propiciatoé rio. Faraé s um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na
extremidade da outra parte; de uma soé peça com o propiciatoé rio faraé s os querubins nas duas
extremidades dele. Os querubins estenderaã o as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas
o propiciatoé rio; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querunbins estaraã o
voltadas para o propiciatoé rio. Ê poraé s o propiciatoé rio em cima da arca, depois que houveres
posto na arca o Testemunho, que eu te darei. Ê ali virei a ti e falarei contigo de cima do
propiciatoé rio, do meio dos dois querubins (que estaã o sobre a arca do Testemunho), tudo que
eu te ordenar para os filhos de Israel" (versíéculos 17 a 22).
Jeovaé declara aqui o Seu desíégnio misericordioso de descer do monte ardente para
tomar o Seu lugar sobre o propiciatoé rio. Podia fazer isto, visto que a taé buas da lei estavam
guardadas intactas na arca, e os síémbolos do Seu poder, tanto na criaçaã o como na provideê n cia,
se elevavam aà direita e aà esquerda como acessoé rios inseparaé veis deste trono em que o Senhor
Se havia assentado — um trono de graça fundado na justiça e sustido pela justiça e o juíézo. Ãli
brilha a gloé ria do Deus de Israel. Dali emanavam os Seus mandamentos suavizados e tornados
agradaé veis pela origem graciosa de onde saíéam— aà semelhança do sol do meio-dia, cujos raios
ao passarem atraveé s de uma nuvem vivificam e fecundam sem que o seu resplendor nos cegue.
"Os seus mandamentos naã o saã o pesados" quando recebidos do propiciatoé rio, porque
estaã o ligados com a graça que daé ouvidos para ouvir e o poder para obedecer.
O Candelabro
O castiçal de ouro puro vem a seguir, porque os sacerdotes de Deus teê m necessidade de
Luz bem como de alimento: e teê m tanto uma coisa como a outra em Cristo. Neste castiçal naã o
se faz mençaã o de outra coisa que naã o seja ouro. "Tudo seraé de uma soé peça, obra batida de
ouro puro" (versíéculo 36). "Ãs sete laê mpadas", as quais se "acenderaã o para alumiar defronte
dele", exprimem a perfeiçaã o da luz e energia do Êspíérito, baseadas e ligadas com a eficaé cia
perfeita da obra de Cristo. Ãobra do Êspíérito Santo nunca poderaé ser separada da obra de
Cristo. Isto eé indicado, de um modo duplo, nesta magníéfica imagem do castiçal de ouro. Ãs sete
laê mpadas estando ligadas aà cana de ouro batido indicam-nos a obra cumprida por
Cristo como a ué nica base da manifestaçaã o do Êspíérito na Igreja. O Êspíérito Santo naã o foi
dado antes de Jesus ter sido glorificado (comparem-se Joaã o 7:39 com Ãtos 19:2 a 6). Êm
Ãpocalipse, capíétulo 3, Cristo eé apresentado aà igreja de Sardes como Ãquele que tem "os sete
espíéritos". Quando o Senhor Jesus foi exaltado aà destra de Deus, entaã o derramou o Êspíérito
Santo sobre a Sua Igrej a, a fim de que ela pudesse brilhar segundo o poder e a perfeiçaã o da
sua posiçaã o no lugar santo, a sua proé pria esfera de ser, de açaã o e de culto.
Vemos, tambeé m, que uma das funçoã es particulares de Ãraã o consistia em acender e
espevitar essas sete laê mpadas. "Ê falou o SÊNHORa Moiseé s, dizendo: Ordena aos filhos de
Israel que te tragam azeite de oliveira puro, batido, para a luminaé ria, para acender as
laê mpadas continuamente. Ãraã o as poraé em ordem perante o SÊNHOR continuamente, desde a
tarde ateé aà manhaã , fora do veé u doTestemunho, na tenda da congregaçaã o; estatuto perpeé tuo eé
pelas vossas geraçoã es. Sobre o castiçal puro poraé em ordem as laê mpadas, perante o SÊNHOR,
continuamente" (Lv 24:1-4). Desta maneira, podemos ver como a obra do Êspíérito Santo na
Igreja estaé ligada com a obra de Cristo na terra e a Sua obra no ceé u. "Ãs sete laê mpadas"
estavam no tabernaé culo, evidentemente, mas a atividade e diligeê n cia do sacerdote eram
necessaé rias para as manter acesas e espevitadas. O sacerdote necessitava continuamente dos
"espevitadores" e dos "apagadores" para remover tudo que pudesse impedir o livre curso do
"azeite batido". Êsses espevitadores e apagadores eram igualmente feitos de "ouro batido"
porque todas essas coisas eram o resultado imediato da operaçaã o divina. Se a Igreja brilha, eé
unicamente pela energia do Êspíérito, e esta energia estaé fundada em Cristo, que, em virtude do
desíégnio eterno de Deus, veio a ser, em Seu sacrifíécio e sacerdoé cio, o manancial e poder de
todas as coisas para a Sua Igreja. Tudo eé de Deus. Quer olhemos para dentro desse veé u
misterioso e contemplemos a arca com a sua coberta e as duas figuras significativas, ou
admiremos o que estaé da parte de fora desse veé u, a mesa pura e o castiçal puro, com os seus
vasos e respectivos utensíélios — tudo nos fala de Deus, quer seja revelando-Se em ligaçaã o com
o Filho ou o Êspíérito Santo.
à chamada celestial coloca o leitor cristaã o no proé prio centro de todas estas preciosas
realidades. O seu lugar naã o estaé apenas no meio das" figuras das coisas que estaã o no ceé u", mas
no meio das "proé prias coisas celestiais". Tem "ousadia para entrar no santuaé rio pelo sangue
de Jesus". ÊÉ sacerdote para Deus. O paã o da proposiçaã o lhe pertence. O seu lugar eé aà mesa pura,
para comer o paã o sacerdotal, na luz. do Êspíérito Santo. Nada o poderaé privar desses privileé gios
divinos. Saã o seus para sempre. Êsteja em guarda contra tudo que possa privaé -lo dogozo deles.
Guarde-se contra toda a irritabilidade, a cobiça, de todo o sentimento e imaginaçoã es. Domine a
sua natureza, lance o mundo fora de seu coraçaã o, afugente Satanaé s. Que o Êspíérito Santo encha
inteiramente a sua alma de Cristo. Êntaã o seraé praticamente santo e sempre ditoso. Daraé fruto,
e o Pai celestial seraé glorificado, e o seu gozo seraé completo.
— CÃPIÉTULO 26 —
A ESTRUTURA DO
TABERNÁCULO
Os Materiais
Êsta parte do livro do ÊÊ xodo inclui a descriçaã o das cortinas e da cobertura do
tabernaé culo, nas quais a mente espiritual discerne as sombras das vaé rias fases e traços do
caraé ter de Cristo. "Ê o tabernaé culo faraé s de dez cortinas de linho fino torcido, e pano azul,e
pué rpura, e carmesim; com querubins as faraé s, de obra esmerada". Ãqui temos os diferentes
aspectos do "homem Jesus Cristo" (1 Tm 2:5). O "linho fino torcido" representa a pureza
imaculada da Sua vida e do Seu caraé ter; enquanto que o "azul, pué rpura e carmesim" no-Lo
apresentam como "o Senhor do ceé u", que deve reinar segundo os desíégnios divinos, mas Cuja
realeza deve ser o resultado dos Seus sofrimentos. Desta forma, temos n'Êle um homem puro,
homem celestial, reé gio e sofredor. Os diferentes materiais mencionados aqui naã o eram apenas
limitados aà s "cortinas" do tabernaé culo, como deviam ser tambeé m usados para o "veé u"
(versíéculo 31), a "coberta" da porta da tenda" (versíéculo 36), a coberta da "porta do paé tio"
(capíétulo 27:16), e "os vestidos do ministeé rio" e "os vestidos santos para Ãraã o" (capíétulo 39:1).
Êm suma, era Cristo em todo as partes, Cristo em tudo, somente Cristo ( ¹).
__________________
(¹) A expressão "puro e resplandecente" (Ap 19:8) dá força e formosura peculiar ao símbolo que o Espírito
Santo nos apresenta no "linho fino torcido". Com efeito, não é possível encontrar-se um emblema mais exato de
natureza imaculada.
O LinhoTorcido
O "linho fino torcido", como figura da humanidade imaculada de Cristo, abre um
manancial precioso e abundante de pensamento para a inteligeê ncia espiritual: daé -nos um
tema sobre o qual nunca eé demais meditar. Ã verdade quanto aà humanidade de Cristo deve ser
recebida com toda a exatidaã o escriturai, mantida com energia espiritual, guardada com santo
zelo e confessada com poder celestial. Se estivermos enganados quanto a este ponto de capital
importaê ncia naã o podemos estar dentro da verdade sobre coisa alguma. ÊÉ uma verdade
essencial e fundamental, e se naã o for recebida, defendida e confessada tal qual Deus a revelou
na Sua santa Palavra, todo o edifíécio naã o teraé solidez. Nada pode ser mais deploraé vel que o
relaxamento que parece prevalecer e predominar nos pensamentos e expressoã es de alguns
sobre esta doutrina taã o importante. Se houvesse mais revereê ncia pela palavra de Deus, haveria
um conhecimento dela mais perfeito; e, deste modo, evitar-se-iam essas declaraçoã es erroé neas
e irrefletidas que certamente devem entristecer o Êspíérito de Deus, Cuja incumbeê ncia eé
testemunhar de Jesus. Quando o anjo anunciou a Maria as boas novas do nascimento do
Salvador, ela disse-lhe: "Como se faraé isto, visto que naã o conheço varaã o"?- "Ã sua fraca
inteligeê ncia era incapaz de compreender, muito menos profundar, o estupendo misteé rio de
"Deus manifestado em carne" (l Tm 3:16). Mas note-se com atençaã o a resposta do anjo—
resposta dada naã o a umespíérito ceé ptico, mas a um coraçaã o piedoso, embora ignorante.
"Desceraé sobre ti o Êspíérito Santo, e a virtude do Ãltíéssimo te cobriraé com a sua sombra; pelo
que tambeé m o Santo que de ti haé de nascer, seraé chamado Filho de Deus" (Lc 1:34-35). Maria
imaginava, sem dué vida que este nascimento deveria ter lugar segundo os princíépios ordinaé rios
da geraçaã o. Mas o anjo corrige o seu equíévoco, e, corrigindo-o, anuncia uma das maiores
verdades da revelaçaã o. Declara que o poder divino estava prestes a formar UM HOMÊM
VÊRDÃDÊIRO—" o segundo homem, o Senhor do ceé u" (1 Co 15:47): um homem cuja natureza
seria divinamente pura, inteiramente incapaz de receber ou de comunicar a mais pequena
mancha. Êste Ser santo foi formado, aà "semelhança da carne do pecado", sem pecado na carne.
Participou inteiramente da carne e do sangue sem uma partíécula ou sombra de mal ligado com
eles.
Êsta verdade eé de primacial importaê ncia, nunca seraé retida com fidelidade e firmeza
excessiva. Ã incarnaçaã o do Filho, a segunda Pessoa da Trindade eterna, a Sua entrada
misteriosa em carne pura e sem maé cula, formada pelo poder do Ãltíéssimo, no ventre da
virgem, eé o fundamento do "misteé rio da piedade" (ITm 3:16), do qual a cimalha eé o Deus-
homem glorificado no ceé u, a Cabeça, Representante e Modelo da Igreja remida de Deus. Ã
pureza essencial da Sua humanidade satisfez perfeitamente as exigeê ncias de Deus; enquanto
que a sua realidade correspondia aà s necessidades do homem. Êra homem, porque soé um
homem podia responder pela ruíéna do homem. Poreé m, era homem tal que podia dar satisfaçaã o
a todas as exigeê ncias do trono de Deus. Êra um homem imaculado, verdadeiro homem, em
quem Deus podia achar o Seu agrado, e em quem o homem podia apoiar-se sem reservas.
Naã o eé preciso recordar ao leitor esclarecido que tudo isto, separado da morte e
ressurreiçaã o, eé perfeitamente inué til para noé s. Noé s tíénhamos necessidade naã o somente de um
Cristo incarnado, mas de um Cristo crucificado e ressuscitado. Na verdade, Êle fez-se carne
para ser crucificado; mas eé por Sua morte e ressurreiçaã o que a Sua incarnaçaã o veio a ser eficaz
para noé s. ÊÉ um erro moral crer que Cristo tomou o homem em uniaã o consigo na incarnaçaã o.
Isto era impossíével. Êle Proé prio ensina expressamente o contraé rio. "Na verdade, na verdade
vos digo que se o graã o de trigo, caindo na terra, naã o morrer, fica cie só; mas se morrer daé muito
fruto" (Jo 12:24). Naã o podia haver nenhuma uniaã o entre carne santa e pecaminosa, pura e
impura, corruptíével e incorruptíével, mortal e imortal. Ã morte eé a ué nica base de uniaã o entre
Cristo e os Seus membros eleitos. ÊÉ em ligaçaã o com as palavras "levantai-vos, vamos" (Mc
14:42) que o Senhor diz: "Êu sou a videira, voé s as varas" (Jo 15:5). Porque "se fomos plantados
juntamente com ele na semelhança da sua morte... o nosso homem velho foi com ele
crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito" (Rm 6:5-6). "No qual tambeé m estais
circuncidados, com a circuncisaã o naã o feita por maã o no despojo do corpo da carne: a
circuncisaã o de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele tambeé m ressuscitastes pela feé no
poder deDeus, que o ressuscitou dos mortos" (Cl 2:11-12).
Os capíétulos 6 de Romanos e 2 de Colossenses nos daã o um relato pormenorizado da
verdade sobre este importante assunto. Foi unicamente como morto e ressuscitado que Cristo
e o Seu povo puderam tornar-se em um. O verdadeiro graã o de trigo tinha de cair na terra e
morrer antes que a espiga pudesse ser formada e recolhida no celeiro celestial.
Poreé m, embora isto seja uma verdade claramente revelada nas Êscrituras, eé igualmente
claro que a incarnaçaã o formava, por assim dizer, os alicerces do glorioso edifíécio; e as cortinas
de "linho fino" apresentam-nos, em figura, a beleza moral do "Homem Jesus Cristo". Jaé vimos a
maneira como Êle foi concebido; e, ao longo do curso da Sua vida aqui na terra, encontramos
exemplos e mais exemplos da mesma imaculada pureza. Passou quarenta dias no deserto,
sendo tentado pelo diabo, mas nada em Sua natureza respondeu aà s vis sugestoã es do tentador.
Podia tocar os leprosos sem ser contaminado. Podia tocar o esquife de um defunto sem
contrair o fedor da morte. Podia passar incoé lume pela atmosfera mais contaminada. Êra,
quanto aà Sua humanidade, como um raio de sol que vinha da fonte de luz, o qual pode passar,
sem ser atingido, pelo ambiente de maior contaminaçaã o. Foi perfeitamente ué nico em natureza,
caraé ter e constituiçaã o.
Soé Êle podia dizer: "Naã o permitiraé s que o teu santo veja corrupçaã o" (Sl 16:10). Isto
estava em relaçaã o com a Sua humanidade, que, sendo perfeitamente santa e pura, podia levar
o pecado. "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24).
Naã o no madeiro, como alguns querem ensi-nar-nos, mas "sobre o madeiro". Foi na cruz que
Cristo levou os nossos pecados, e somente ali. "Ãquele que naã o conheceu pecado, o fez pecado
por noé s, para que nele foê ssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5:21).
O Azul
"Ãzul" eé a cor eteé rea e indica o caraé ter celestial de Cristo, o Qual, a despeito de ter
entrado em todas as circunstaê ncias de verdadeira e auteê ntica humanidade—exceto o pecado
—era "o Senhor do ceé u"
(1 Co 15:47). Sendo homem verdadeiro, andou sempre com o sentimento da Sua proé pria
dignidade, como estrangeiro celestial: jamais olvidou donde tinha vindo, onde estava ou para
onde ia. Ã fonte de todo o Seu gozo estava nas alturas. Ã terra naã o podia fazeê -lo mais rico nem
mais pobre. Ãchou que este mundo era "uma terra seca e cansada, onde naã o havia aé gua" (Sl
63:1); e, por isso, o Seu espíérito soé podia dessedentar-se nas alturas. Êra inteiramente
celestial: "...ningueé m subiu ao ceé u, senaã o o que desceu do ceé u, o Filho do Homem, que estaé no
ceé u" (Jo3:16).
A Púrpura
"Pué rpura" indica realeza, e mostra-nos Ãquele que havia "nascido rei dos judeus", que
Se apresentou como tal aà naçaã o judaica e foi rejeitado; que fezumaboa confissaã o perante
Poê ncio Pilatos, decla-rando-Se rei, quando, para a visaã o humana, naã o havia um simples traço
de realeza. "Tu dizes que eu sou rei" (Jo 18:37). Ê ".. .vereis em breve o Filho do homem
assentado aà direita do poder e vindo sobre as nuvens do ceé u" (Mt 26:64). Ê, por fim, a
inscriçaã o sobre a Sua cruz, em hebraico, grego e latim—a linguagem da religiaã o, da cieê ncia e
do governo—declara, perante todo o mundo, que Êle era "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". Ã
terra negou-Lhe os Seus direitos — desgraçadamente para ela—mas naã o aconteceu o mesmo
com o ceé u: ali os Seus direitos foram plenamente reconhecidas. Foi recebido como um
vencedor nas moradas eternas da luz, coroado de gloé ria e honra, e assentou-Se, por entre
aclamaçoã es dos exeé rcitos celestiais, no trono da majestade nas alturas, ateé que Seus inimigos
sejam postos por escabelo de Seus peé s. "Por que se amotinam as naçoã es e os povos imaginam
coisas vaã s£ Os reis da terra se levantam, e os príéncipes juntos se mancomunam contra o
SÊNHOR e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras e sacudamos de noé s as
suas cordas. Ãquele que habita nos ceé us se riraé ; o Senhor zombaraé deles. Êntaã o, lhes falaraé na
sua ira, e no seu furor o confundiraé . Êu, poreé m, ungi o meuRei sobre o meu santo monte Siaã o.
Recitarei o decreto: O SÊNHORme disse: Tu eé s meu Filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te
darei as naçoã es por herança e os confins da terra por tua possessaã o.
Tu os esmigalharaé s com uma vara de ferro; tu os despedaçaraé s como a um vaso de
oleiro. Ãgora, pois, oé reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juíézes da terra. ServiaoSÊNHOR
com temore alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se naã o ire, e pereçais no caminho,
quando em breve se inflamar a sua ira. BÊM-ÃVÊNTURÃDOS TODOS ÃQUÊLÊS QUÊ NÊLÊ
CONFIÃM" (Salmo 2).
O Carmesim
O "carmesim", quando genuíéno, eé produzido pela morte e f ala-nos dos sofrimentos de
Cristo:".. .Cristo padeceu por noé s na carne" (1 Pe 4:1). Sem morte, tudo teria sido inué til.
Podemos admirar "o azul" e a "pué rpura", mas sem o "carmesim" o tabernaé culo teria perdido
um aspecto importante. Foi por meio da morte que Cristo destruiu aquele que tinha o impeé rio
da morte. O Êspíérito Santo, pondo diante de noé s uma figura admiraé vel de Cristo — o verda -
deiro tabernaé culo —, naã o podia omitir aquela fase do Seu caraé ter que constitui o fundamento
da Sua uniaã o com o Seu corpo, a Igreja, o Seu direito ao trono de Davi e o senhorio de toda a
criaçaã o. Êm suma, o Êspíérito naã o somente nos mostra o Senhor Jesus, nestas cortinas
simboé licas, como homem imaculado, homem real, mas tambeé m como homem sofredor; aquele
que, por meio da morte, adquiriu o direito aà quilo que, como homem, tinha direito nos
desíégnios divinos.
A Primeira Cortina
Contudo, as cortinas do tabernaé culo naã o saã o apenas a expressaã o dos diferentes
aspectos do caraé ter de Cristo, como poã em tambeé m em evideê ncia a unidade e firmeza desse
caraé ter. Cada um desses aspectos estaé exposto na sua proé pria perfeiçaã o; e nunca interfere com
ou prejudica a beleza de outro. Tudo era harmonia perfeita aos olhos de Deus e foi assim
apresentado no "modelo que no monte se mostrou" a Moiseé s e na sua reproduçaã o no meio do
povo. "Cinco cortinas se enlaçaraã o aà outra; e as outras cinco cortinas se enlaçaraã o uma com a
outra" (versíéculo 3). Tal era a proporçaã o e firmeza em todos os caminhos de Cristo, como
homem perfeito, andando pelo mundo, em qualquer situaçaã o ou relaçaã o que O considerarmos.
Quando atua segundo um desses caracteres, naã o encontramos absolutamente nada que seja
incompatíével com a integridade divina de outro. Êle foi, em todo o tempo, em todo o lugar e em
todas as circunstaê ncias, o homem perfeito. Nada n'Êle faltava a essa encantadora e bela
proporçaã o que Lhe era proé pria, em todos os Seus atos. "Todas estas cortinas seraã o de uma
medida"(versíéculo 2).
Um par de cinco cortinas pode muito bem simbolizar os dois aspectos principais do
caraé ter de Cristo atuando a favor de Deus e do homem. Vemos os mesmos dois aspectos na lei,
a saber, o que era devido a Deus e o que era devido ao homem; de forma que, quanto a Cristo,
se olharmos de passagem, vemos que Êle podia dizer, "a tua lei estaé dentro do meu coraçaã o"
(SI 40); e se pensarmos na Sua conduta, vemos esses dois elementos ordenados com perfeita
precisaã o, e naã o soé ordenados, mas inseparavelmente unidos pela graça celestial e a energia
divina que habitaram na Sua gloriosa Pessoa.
"Ê faraé s laçadas de pano azul na ponta de uma cortina, na extremidade, na juntura;
assim tambeé m faraé s na ponta da extremidade da outra cortina, na segunda juntura... Faraé s
tàmbémcinqúen-ta colchetes de ouro, e ajuntaraé s com estes colchetes as cortinas, uma com a
outra e será um tabernáculo" (versíéculos 4 e 6). Nas "laçadas" de azul e nos "colchetes de ouro"
temos a manifestaçaã o daquela graça celestial e energia divina em Cristo que Lhe proporcionou
ligar e harmonizar perfeitamente as reivindicaçoã es de Deus e as pretensoã es do homem; de
forma que, satisfazendo tanto umas como outras, Êle nunca, nem por um momento, perturbou
o Seu caraé ter. Quando os homens astutos e hipoé critas o tentaram com a pergunta: "ÊÉ líécito
pagar o tributo a Ceé sar, ou naã o?" a Sua resposta foi, "Dai... a Ceé sar o que eé de Ceé sar e a Deus o
que eé de Deus" (Mt 22:17-21).
Nem foi apenas Ceé sar, mas o homem em todas as suas relaçoã es que recebeu a resposta
a todas as suas pretensoã es em Cristo. Da mesma maneira que reuniu na Sua Pessoa a natureza
de Deus e humana, satisfez em Seus passos de perfeiçaã o as exigeê ncias de Deus e as pretensoã es
do homem. Seria muito interessante seguir, atraveé s da narrativa do evangelho, a
exemplificaçaã o do princíépio sugerido pelas "laçadas de azul" e os "colchetes de ouro"; devo,
poreé m, deixar que o leitor prossiga este estudo sob a direçaã o do Êspíérito Santo, o Qual deseja
alargar-Se sobre cada aspecto d 'Ãquele bendito Senhor que eé Seu propoé sito exaltar.
A Cortina de Pêlos de Cabras
à primeira cortina (na verdade, um par de cinco cortinas) era encoberta por outras de
"peê los de cabras" (versíéculos 7 a 13). Sua beleza estava escondida para os de fora por aquilo
que indicava aspereza e severidade. Para aqueles que tinham o privileé gio de entrar no recinto
sagrado nada era visíével senaã o o "azul", a pué rpura", o "camersim" e o "linho fino torcido"—a
exposiçaã o combinada das virtudes e exceleê ncia desse tabernaé culo divino no qual Deus habitou
atraé s do veé u: isto eé , Cristo, por Cuja carne, o antíétipo de todas estas coisas, os raios dourados
da natureza divina brilharam taã o delicadamente que o pecador podia veê -los acabrunhado pelo
seu brilho deslumbrante.
Quando o Senhor Jesus passou por este mundo, quaã o poucos foram aqueles que
realmente o conheceram! Quaã o poucos tiveram os olhos ungidos com colíério celestial para
penetrarem e apreciarem o profundo misteé rio do Seu caraé ter! Quaã o poucos viram o "azul", a
"pué rpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido"! Foi soé quando a feé trouxe o homem aà sua
presença que Êle poê de consentir que o esplendor daquilo que Êle era brilhasse — deixou que
a gloé ria atravessasse a nuvem. Para a visaã o natural era como se houvesse uma reserva e
severidade aà Sua volta, que era justamente simbolizada pelas "cortinas de peê los de cabras".
Tudo isto era o resultado da Sua profunda separaçaã o e apartamento, naã o dos pecadores pes-
soalmente, mas dos pensamentos e maé ximas dos homens. Nada tinha em comum com o
homem, nem estava dentro do aê mbito da natureza humana compreendeê -Lo. "Ningueé m pode
vir a mim, se o Pai que me enviou o naã o trouxer"; e quando um daqueles que haviam sido
trazidos confessou o Seu nome, disse-lhe que naã o fora a carne que lho revelara, "mas meu Pai
que estaé nos ceé us" (compare Jo 6:44 e Mt 16:17). Êle era "como raiz de uma terra seca", sem
"parecer" nem "formosura" para atrair a vista ou satisfazer o coraçaã o do homem. Ã corrente
da opiniaã o pué blica nunca poderia correr na direçaã o d'Ãquele que, passando rapidamente pelo
palco deste mundo, ia envolto numa "cortina de peê los de cabras". Jesus naã o foi popular. Ã
multidaã o poê de segui-Lo por um momento, porque, para ela, o Seu ministeé rio estava ligado com
"os paã es e os peixes", que respondiam aà sua necessidade; mas estava igualmente taã o pronta a
clamar: "Tira, tira, crucifica-o" como a exclamar "Hosana ao Filho de Davi!"(Mt 21:9). Que os
cristaã os, os servos de Cristo, os pregadores do evangelho se lembrem disto! Quetodosnoé s
ecadaumem particular se lembre sempre das "cobertas de pêlos de cabras".
O ALTAR DE COBRE
E O ÁTRIO
O Altar de Incenso não Mencionado
Deparamos agora com o altar de cobre que estava aà porta do tabernaé culo, e quero
chamar a atençaã o do leitor para a ordem seguida pelo Êspíérito Santo nesta parte do livro. Jaé
fizemos notar que a passagem compreendida entre o capíétulo 25 e o versíéculo 19 do capíétulo
27 forma uma parte distinta, que nos daé uma descriçaã o da arca e do propiciatoé rio, da mesa e
do castiçal, das cortinas e do veé u, e, por fim, do altar de cobre edopaé tioemque estava esse altar
colocado. Lendo os versíéculos 15 do capíétulo 35, 25 do capíétulo 37 e 26 do capíétulo 40, vemos
que o altar do incenso estaé mencionado entre o castiçal e o altar de cobre. Ão passo que,
quandoo Senhor daé instruçoã es a Moiseé s, o altar de cobre eé introduzido imediatamente depois
do castiçal e das cortinas do tabernaé culo. Ora, visto que deve haver uma razaã o divina para esta
diferença, eé privileé gio de todo o estudioso inteligente e aplicado da Palavra de Deus indagar
qual era essa razaã o.
Qual eé a razaã o, portanto, por que o Senhor, quando daé instruçaã o quanto aos adornos do
"santuaé rio", omite oaltarde incensoepassa ao altar de cobre que estava aà porta do
tabernaé culo*?- Ã razaã o, presumo, eé simplesmente esta: descreve primeiro a maneira em que
haé de manif estar-Se ao homem, e depois indica a forma de o homem se aproximar de Si.
Tomou o Seu lugar no trono; como o "Senhor de toda a terra" (Js 3:11 e 13): os raios da Sua
gloé ria estavam ocultos atraé s do veé u—figura da carne de Cristo (Hb 10:20); poreé m, fora do veé u,
estava a manifestaçaã o de Si Mesmo, em ligaçaã o com o homem, na "mesa pura", e, pela luz e
poder do Êspíérito Santo, representados no castiçal. Depois vem o caraé ter de Cristo como
homem aqui na terra, representado nas cortinas e nas cobertas do tabernaé culo. Ê finalmente
temos o altar de cobre como a grande exibiçaã o do lugar de encontro entre o Deus santo e o
pecador. Isto leva-nos, com efeito, aà extremidade, de onde voltamos, na companhia de Ãraã o e
seus filhos, ao santuaé rio, o lugar normal dos sacerdotes, onde estava o altar do incenso. Desta
forma a ordem eé notavelmente formosa. Do altar de ouro, naã o se faz mençaã o antes que haja
sacerdote para queimar incenso sobre ele, porque o Senhor mostrou a Moiseé s o modelo das
coisas nos ceé us segundo a ordem em que estas coisas devem ser atendidas pela feé . Por outra
parte, quando Moiseé s daé instruçoã es aà s consagraçoã es (capíétulo 35), quando daé conta dos
trabalhos de Bezaleel e Ãoliabe (capíétulos 37 e 38), e quando levanta o tabernaé culo (capíétulo
40), segue simplesmente a ordem em que os utensíélios estavam colocados.
O Altar de Cobre
O prosseguimento deste estudo taã o interessante, e o confronto das passagens acima
mencionadas, recompensaraã o amplamente o leitor. Passemos agora ao altar de cobre.
Êste altar era o lugar onde o pecador se aproximava de Deus, pelo poder e em virtude
do sangue da expiaçaã o. Êstava colocado aà porta do tabernaé culo da "tenda da congregaçaã o", e
sobre ele era derramado todo o sangue dos sacrifíécios. Êra construíédo de "madeira de cetim e
cobre". Ã madeira era a mesma do altar de ouro do incenso, mas o metal era diferente, e a
razaã o desta diferença eé obvia. O altar de bronze era o lugar onde o pecado era tratado segundo
o juíézo divino. O altar de ouro era o lugar onde o perfume precioso da aceitabilidade de Cristo
subia para o trono de Deus. Ã "madeira de cetim", como figura da humanidade de Cristo, era a
mesma num caso e no outro; poreé m no altar de cobre vemos Cristo sob o fogo da justiça
divina; no altar de ouro vemos como Êle satisfaz os afetos divinos. No primeiro, o fogo da ira
divina foi apagado, no ué ltimo, o fogo do culto sacerdotal eé aceso. Ã alma deleita-se de
encontrar Cristo tanto num como no outro; poreé m o altar de cobre eé o ué nico que responde aà s
necessidades de uma conscieê ncia culpada, como a primeira coisa para um pobre pecador
desamparado, necessitado e convicto. Naã o eé possíével haver paz soé lida, quanto aà questaã o do
pecado, enquanto o olhar da feé naã o descansar em Cristo como o antíétipo do altar de cobre. ÊÉ
necessaé rio que eu veja o meu pecado reduzido a cinzas na fornalha desse altar, antes de poder
gozar de paz de conscieê ncia na presença de Deus. ÊÉ quando sei, pela feé no testemunho de
Deus, que Êle Proé prio tratou do meu pecado na Pessoa de Cristo, no altar de cobre—que deu
satisfaçaã o a todas as Suas justas exigeê ncias —, que tirou o meu pecado da Sua santa presença,
de modo que nunca mais pode voltar, que posso gozar paz divina e eterna — e naã o antes.
O Ouro e o Cobre
Quero fazer aqui uma observaçaã o sobre o significado do "ouro" e do "cobre" nos
utensíélios do tabernaé culo. O "ouro" eé síémbolo da justiça divina, ou da natureza divina no
"Homem Jesus Cristo". "Cobre" eé o síémbolo da justiça, pedindo o julgamento do pecado, como
no altar de cobre; ou o julgamento da impureza, como na pia de cobre. Isto explica a razaã o por
que dentro da tenda do tabernaé culo tudo era ouro — a arca, o propiciatoé rio, a mesa, o castiçal
e o altar do incenso. Todas estas coisas eram os síémbolos da natureza divina e da exceleê ncia
pessoal inerente do Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, fora da tenda do tabernaé culo tudo era
cobre—o altar de cobre e os seus utensíélios, a pia e a sua base.
ÊÉ preciso que as exigeê ncias da justiça, quanto ao pecado e aà impureza, sejam
divinamente satisfeitas antes que possa haver alguma alegria pelos preciosos misteé rios da
Pessoa de Cristo, tais como nos saã o revelados no interior do santuaé rio de Deus. ÊÉ quando
posso ver todo o pecado e impureza perfeitamente julgados e lavados que posso, como
sacerdote, aproximar-me e adorar no santuaé rio, e gozar a plena manifestaçaã o da formosura e
perfeiçaã o do Deus Homem, Cristo Jesus.
O leitor poderaé , com muito proveito, prosseguir com a aplicaçaã o deste pensamento em
pormenor, naã o apenas no estudo do tabernaé culo e o templo, mas tambeé m em vaé rias passagens
da Palavra de Deus; por exemplo, no capíétulo 1 de Ãpocalipse Cristo aparece "cingido pelos
peitos com um cinto de ouro" e tendo os Seus "peé s semelhantes a latão reluzente, como se
tivessem sido refinados numa fornalha". O "cinto de ouro" eé o síémbolo da Sua justiça
intríénseca. Os peé s semelhantes a lataã o reluzente" saã o a expressaã o do juíézo inflexíével sobre o
mal- o Senhor naã o pode tolerar o mal, antes pelo contraé rio, tem de esmagaé -lo debaixo dos Seus
peé s.
Tal eé o Cristo com Quem temos de tratar. Julga o pecado, mas salva o pecador. Ã feé veê o
pecado reduzido a cinzas no altar de cobre; veê toda a impureza lavada na pia de cobre; e,
finalmente, goza de Cristo, tal como eé revelado, no secreto da presença divina, pela luz e poder
do Êspíérito Santo. Ã feé acha-O no altar de ouro, em todo o valor da Sua intercessaã o. Ãlimenta-
se d'Êle aà mesa pura. Reconhece-O na arca e no propiciatoé rio como Ãquele que responde a
todas as exigeê ncias da justiça divina, e, ao mesmo tempo, satisfaz todas as necessidades
humanas. Contempla-O no veé u, como todas as figuras míésticas. Veê escrito o Seu nome precioso
em todas as coisas. Oh, que os nossos coraçoã es estejam sempre prontos a apreciar e louvar
este Cristo incomparaé vel e glorioso!
Nada pode ser de tanta importaê ncia como o conhecimento claro da doutrina do altar de
cobre; quero dizer, como eé ensinada por meio dele. Ê devido aà falta de clareza sobre este ponto
que muitas almas se lamentam toda a vida. Ã questaã o da sua culpa nunca foi clara e
completamente liquidada no altar de cobre. Nunca chegaram a realizar pela feé que o Proé prio
Deus liquidou para sempre, na cruz, a questaã o dos seus pecados. Buscam paz para as suas
conscieê ncias atribuladas na regeneraçaã o e a sua evideê ncia—os frutos do Êspíérito, a sua
disposiçaã o, sentimentos e experieê ncia —, coisas muito boas e valiosas em si, mas que naã o
formam o fundamento da paz. Ê o conhecimento daquilo que Deus tem feito no altar de cobre
que enche a alma de paz. Ãs cinzas no altar contam-me a histoé ria que TUDO ÊSTÃÉ CUMPRIDO.
Os pecados do crente foram todos tirados pela proé pria maã o do amor redentor. "Ãquele que naã o
conheceu pecado, o fez pecado por noé s, para que, nele, foê ssemos feitos justiça de Deus" (2
Co5:21).Todoopecadodeve ser julgado, poreé m os pecados do crente jaé foram julgados na cruz;
por isso ele estaé perfeitamente justificado. Supor que pode existir qualquer coisa contra o
crente, mesmo o mais fraco, eé negar toda a obra da cruz. Os pecados e as iniquidades do crente
foram todos tirados pelo Proé prio Deus, e portanto foram perfeitamente quitados.
Desapareceram com a vida que o Cordeiro de Deus derramou na morte.
Certifique-se o leitor de que o seu coraçaã o estaé inteiramente fundado na paz que Jesus
fez pelo sangue da sua cruz.
— CÃPIÉTULO 28 —
AS VESTES
DOS SACERDOTES
Êstes capíétulos mostram-nos o Sacerdoé cio em todo o seu valor e eficaé cia, e estaã o cheios
de interesse. Ã proé pria palavra "sacerdoé cio" desperta no coraçaã o um sentimento da mais
profunda gratidaã o pela graça que naã o soé nos abriu um caminho para entrarmos na presença
de Deus, como nos deu o necessaé rio para ali nos mantermos, segundo o caraé ter e as exigeê ncias
dessa posiçaã o elevada e santa.
O Sacerdócio de Arão
O sacerdoé cio de Ãraã o era um dom de Deus por um povo que, por natureza proé pria,
estava distante e necessitava de algueé m que aparecesse em seu nome continuamente na Sua
presença. O capíétulo 7 da epíéstola aos Hebreus ensina-nos que a ordem do sacerdoé cio estava
ligada com a lei, que fora estabelecida segundo "a lei do mandamento carnal" (versíéculo 16) e
que fora impedida de permanecer pela morte (versíéculo 23) e que os sacerdotes dessa ordem
estavam sujeitos aà s fraquezas humanas. Portanto, esta ordem naã o podia dar perfeiçaã o, e por
isso devemos bendizer a Deus por naã o ter sido instituíéda com "juramento". O juramento de
Deus soé podia fazer-se em ligaçaã o com aquilo que devia durar eternamente, e isto era o
sacerdoé cio perfeito, imortal, e intransmissíével do nosso grande e glorioso Melquizedeque, que
daé ao Seu sacrifíécio e ao Seu sacerdoé cio todo o valor, e a dignidade e gloé ria da Sua
incomparaé vel Pessoa. O simples pensamento de que temos um tal sacrifíécio e um tal Sacerdote
faz com que o coraçaã o palpite com as mais vivas emoçoã es de gratidaã o.
O Cinto
O "cinto" eé o síémbolo bem conhecido do serviço; e Cristo eé o Servo perfeito—o Servo
dos desíégnios divinos e das necessidades profundas e variadas do Seu povo. Com espíérito de
sincera dedicaçaã o, que nada podia impedir, Êle cingiu-se para a Sua obra; e quando a feé veê
assim o Filho de Deus cingido julga, certamente, que nenhuma dificuldade eé grande demais
para Si. No síémbolo que temos perante noé s vemos que todas as virtudes, meé ritos, e gloé rias de
Cristo, na Sua natureza divina e humana, entram plenamente no Seu caraé ter de servo. "Ê o
cinto de obra esmerada, do seu eé fode, que estaraé sobre ele, seraé da mesma obra, da mesma
obra de ouro, e de pano azul e de pué rpura, e de camesim e de linho fino torcido" (versíéculo 8).
à feé disto deve satisfazer todas as necessidades da alma e os mais ardentes desejos do coraçaã o.
Naã o vemos Cristo apenas como a víétima imolada no altar, mas tambeé m como o cingido Sumo
Sacerdote sobre a casa de Deus. Bem pode, pois, o apoé stolo inspirado dizer, "cheguemo-nos,...
retenhamos... consideremo-nos uns aos outros" (Hb 10:19-24).
O Manto do Éfode
"Tambeé m faraé s o manto do eé fode todo de pano azul... e nas suas bordas faraé s romaã s de
pano azul, de pué rpura e de carmesim, ao redor das suas bordas; e campainhas de ouro no
meio delas, ao redor. Uma campainha de ouro e uma romaã , outra campainha de ouro e outra
romaã haveraé nas bordas do manto ao redor, e estaraé sobre Ãraã o, quando ministrar, para que se
ouça o seu sonido, quando entrar no satuaé rio diante do SÊNHORÃ quando sair, para que naã o
morra" (versíéculos 31 a35).
O manto azul do "eé fode" exprime o caraé ter celestial do nosso Sumo Sacerdote, que
penetrou nos ceé us, para aleé m do alcance da visaã o humana; poreé m, pelo poder do Êspíérito
Santo, haé um testemunho da verdade de estar vivo na presença de Deus; e naã o apenas um
testemunho, mas fruto tambeé m. "Uma compainha de ouro e uma romaã , outra campainha de
ouroe outra romaã ". Tal eé a ordem cheia de beleza. O verdadeiro testemunho da grande verdade
que Jesus vive sempre para interceder por noé s estaraé sempre ligado com fertilidade no Seu
serviço. Oh, se ao menos pudeé ssemos compreender mais profundamente estes misteé rios
preciosos e santos! (¹).
__________________
(¹) É desnecessário advertir que existe uma propriedade divina e significativa em todas as figuras que nos
são apresentadas na Palavra de Deus. Assim, por exemplo, a "romã", quando aberta verifica-se que consiste de um
número de sementes contidas num líquido vermelho. Certamente, isto fala por si. Que a espiritualidade, e não a
imaginação, faça o seu juízo.
A Lâmina de Ouro
"Tambeé m faraé s uma laê mina de ouro puro e nela gravaraé s, aà maneira degravuras de
selos.- SÃNTIDÃDÊÃO SÊNHOR. Ê ataé -la-aé s comum cordaã o de fio azul, de maneira que esteja
na mitra; sobre a frente da mitra estaraé . Ê estaraé sobre a testa de Ãraã o, para que Ãraã o leve a
iniquidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas de suas
coisas santas; e estaraé continuamente na sua testa, para que tenham aceitaçaã o perante o
SÊNHOR" (versíéculos 36 a 38). Êis aqui uma verdade importante para a alma. Ã laê mina de ouro
sobre a testa de Ãraã o era figura da santidade do Senhor Jesus Cristo: "e estaraé
CONTINUÃMÊNTÊ NÃ SUÃ testa, para que TÊNHÃM aceitaçaã o perante o SÊNHOR". Que
descanso para o coraçaã o por entre as flutuaçoã es da nossa experieê ncia! O nosso Sumo
Sacerdote estaé sempre na presença de Deus por noé s. Somos representados pore aceites n'Êle.
à Sua santidade pertence-nos. Quanto mais profundamente conhecermos a nossa proé pria
vileza e fraquezas, tanto mais experimentaremos a verdade humilhante que em noé s naã o habita
bem algum, e mais fervorosamente bendiremos o Deus de toda a graça por esta verdade
consoladora: "estaraé continuamente na sua testa, para que tenham aceitaçaã o perante o
SÊNHOR".
Se o leitor for um daqueles que saã o frequentemente tentados e sobrecarregados com
dué vidas e temores, com altos e baixos no seu estado espiritual, com tendeê ncias a contemplar o
seu pobre coraçaã o, frio, inconstante e rebelde—se for tentado com incerteza excessiva e falta
de santidade —, deve apoiar-se de todo o coraçaã o sobre esta verdade preciosa: que o seu
Sumo Sacerdote representa-o diante do trono de Deus. Deve fixar os seus olhos na laê mina de
ouro e ler, na inscriçaã o gravada nela, a medida da sua aceitaçaã o eterna perante Deus. Que o
Êspíérito Santo o ajude a provar a doçura peculiar e o poder mantenedor desta doutrina divina
e celestial!
A CONSAGRAÇÃO
DO SARCEDOTE
A Lavagem com Água
Jaé frisaé mos que Ãraã o e seus filhos representam Cristo e a Igrej a, poreé m nos primeiros
versíéculos deste capíétulo eé dado o primeiro lugar a Ãraã o. "Êntaã o, faraé s chegar Ãraã o e seus
filhos aà porta da tenda da congregaçaã o e os lavaraé s com aé gua" (versíéculo 4). Ã lavagem da aé gua
tornava Ãraã o simbolicamente aquilo que Cristo eé intrinsecamente, isto eé : santo. Ã Igreja eé
santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreiçaã o. Êle eé a definiçaã o perfeita
daquilo que ela eé perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da aé gua representa a açaã o da
palavra de Deus (veja-se Êf 5:26).
"Ê por eles me santifico a mim mesmo, para que tambeé m eles sejam santificados na
verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita
obedieê ncia, orien-tando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Êspíérito
eterno, a fim de que todos aqueles que saã o d'Êle pudessem ser inteiramente separados pelo
poder moral da verdade.
A Unção
"Ê tomaraé s o azeite da unçaã o e o derramaraé s sobre a sua cabeça " (versíéculo 7). Nestas
palavras temos o Êspíérito, mas eé preciso notar que Ãraã o foi ungido antes de o sangue ser
derramado, porque nos eé apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era
em Sua Proé pria Pessoa, foi ungido com o Êspíérito Santo muito antes que fosse cumprida a obra
da cruz. Êm contrapartida, os filhos de Ãraã o naã o foram ungidos senaã o depois de ser espargido
o sangue, "degolaraé s o carneiro, e tomaraé s do seu sangue, e o poraé s sobre a ponta da orelha
direita deÃraã o,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como tambeé m sobre o dedo
polegar da sua maã o direita, e sobre o dedo polegar do seu peé direito: e o resto do sangue
espalharaé s sobre o altar ao redor" (¹). "Êntaã o, tomaraé s do sangue que estaraé sobre os altar e
do azeite da unçaã o e o espargiraé s sobre Ãraã o e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre
os as vestes de seus filhos com ele" (versíéculos 20 e 21). No que diz respeito aà Igreja, o sangue
da cruz eé o fundamento de tudo. Êla naã o podia ser ungida com o Êspíérito Santo ateé que a sua
Cabeça ressuscitada tivesse subido ao ceé u e depositado sobre o trono da Maj estade divina o
relato do sacrifíécio que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos noé s
somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e
promessa do Êspíérito Santo, derramou isto que voé s agora vedes e ouvis" (Ãt 2:32-33); compa-
rem-se tambeé m Jo 7:39; Ãt 19:1 - 6). Desde os dias de Ãbel que haviam sido regeneradas
almas pelo Êspíérito Santo e experimentado a Sua influeê ncia, sobre as quais operou e a quem
qualificou para o serviço; poreé m a Igreja naã o podia ser ungida com o Êspíérito Santo ateé que o
Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no ceé u e recebesse para ela a promessa do Pai. Ã verdade
desta doutrina eé ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a
sua integridade estreita eé mantida, em figura, no síémbolo que temos perante noé s, pelo fato
claro que, embora Ãraã o fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versíéculo 7),
contudo os seus filhos naã o o foram, e naã o podiam ser ungidos senaã o depois (versíéculo 21).
____________________
(¹) O ouvido, as mãos e os pés são consagrados a Deus no poder da expiação efetuada e mediante a energia
do Espírito Santo.
A Preeminência de Cristo
Poreé m, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unçaã o neste capíétulo, aleé m da
verdade importante acerca da obra do Êspíérito, e a posiçaã o que a Igreja ocupa. Ã preemineê ncia
do Filho eé -nos tambeé m apresentada. "Ãmaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso
Deus, o teu Deus, te ungiu com oé leo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb
1:9). ÊÉ preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicçoã es e
experieê ncias. Por certo, a graça infinita de Deus eé manifestada no fato maravilhoso que
pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas
nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocaé bulo "mais". Por mais íéntima que seja a
uniaã o—e eé taã o íéntima quanto os desíégnios eternos do amor divino a podiam fazer—, eé ,
contudo, necessaé rio que Cristo tenha em tudo a preemineê ncia" (Cl 1:18). Naã o podia ser de
outra maneira. Êle eé Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criaçaã o,
Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Naã o existe um soé astro de todos os que se movem
no espaço que naã o Lhe pertença e naã o se mova sob a Sua orientaçaã o. Naã o existe um verme
sequer que se arrasta sobre a terra, que naã o esteja sob os Seus olhos incansaé veis. Êle estaé
acima de todas as coisas; eé toda a criatura "o primogeé nito de entre os mortos" "o princíépio da
criaçaã o de Deus" (Cl l:15-18;Ãp 1:5). "Toda a famíélia nos ceé us ena terra" (Êf 3:15) deve alinhar,
na classe divina, sob Cristo. Tudo isto seraé reconhecido com gratidaã o por todo o crente
espiritual; sim, a sua proé pria articulaçaã o produz um estremecimento no coraçaã o do crente.
Todos os que saã o guiados pelo Êspíérito regozijar-se-aã o com cada nova manifestaçaã o das
gloé rias pessoais do Filho; da mesma maneira que naã o poderaã o tolerar qualquer coisa que se
levante contra elas. Que a Igreja se eleve aà s mais altas regioã es e gloé ria, seraé seu gozo ajoelhar
aos peé s d'Ãquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifíécio, aà uniaã o Consigo; o
qual havendo plenamente correspondido a todas as exigeê ncias da justiça divina, pode satisfa-
zer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitaçaã o infinita com
o Pai, na Sua gloé ria eterna: "Naã o se envergonha de lhes chamar irmaã os" (Hb 2:11).
___________________
Nota: Evitei propositadamente tocar no assunto das ofertas em capítulo 29 visto que teremos ocasião de
considerar as diferentes classes de sacrifícios, por sua ordem, nos nossos estudos sobre o Livro de Levítico, se o
Senhor permitir.
— CÃPIÉTULO 30 —
O CULTO, A COMUNHÃO
E A ADORAÇÃO
O Altar de Cobre e o Altar de Ouro
Instituíédo o sacerdoé cio, como vimos nos dois capíétulos precedentes, somos
introduzidos aqui na posiçaã o do verdadeiro culto e comunhaã o sacerdotal. Ã ordem eé notaé vel e
instrutiva; e, aleé m disso, corresponde exatamente com a ordem da experieê ncia do crente. No
altar de bronze, o crente veê as cinzas dos seus pecados; e veê -se imediatamente unido com
Ãquele que, embora pessoalmente puro e incontaminado, de forma que podia ser ungido sem
sangue, tem-nos, contudo, associado Consigo na vida, em justiça e favor; e, por fim, o crente veê
no altar de ouro a preciosidade de Cristo, como sendo a substaê ncia com a qual eé alimentado o
amor divino.
ÊÉ sempre assim: eé necessaé rio que haja um altar de cobre e um sacerdote antes que
possa haver um altar de ouro e incenso. Muitíéssimos filhos de Deus nunca passaram do altar
de cobre; nunca entraram, em espíérito, no poder e realidade do verdadeiro culto sacerdotal.
Naã o se regozijam no pleno e perfeito sentimento divino de perdaã o e justiça; nunca
conseguiram chegar ao altar de ouro. Êsperam alcançaé -lo quando morrerem; ao passo que jaé
teê m o privileé gio de estar ali agora. Ã obra da cruz tirou do caminho tudo que podia
representar um obstaé culo a um culto livre e inteligente. Ã posiçaã o atual de todos os crentes
verdadeiros eé junto do altar de ouro do incenso.
Êste altar eé figura de uma posiçaã o de maravilhosa bem-aventurança. ÊÊ ali que
desfrutamos a realidade e eficaé cia da intercessaã o de Cristo. Havendo acabado com o ego e
tudo quanto lhe diz respeito, ainda que esperaé ssemos algumbem dele, temos de estar
ocupados com aquilo que Cristo eé perante Deus. Nada encontraremos no ego senaã o corrupçaã o;
todas as suas manifestaçoã es saã o corrompidas; jaé foi condenado e posto de parte pelo juíézo de
Deus, e nem soé um fio ou partíécula dele se pode encontrar no incenso ou no fogo do altar de
ouro puro. Isso seria impossíével. Fomos introduzidos no santuaé rio "pelo sangue de Jesus",
santuaé rio de serviço e culto sacerdotal, no qual naã o existe nem sequer um vestíégio de pecado.
Vemos a mesa pura, o castiçal puro e o altar puro; mas naã o existe nada que nos recorde o ego e
a sua miseé ria. Se fosse possíével que alguma coisa do ego se apresentasse aà nossa vista, isso soé
serviria para destruir o nos so culto, contaminar o nosso alimento sacerdotal e ofuscara nossa
luz. Ã natureza naã o pode ter lugar no santuaé rio de Deus: foi consumida e reduzida a cinzas
com tudo quanto lhe pertence; e agora as nossas almas saã o chamadas para gozar o bom cheiro
de Cristo, subindo como perfume agradaé vel a Deus: eé nisto que Deus Se deleita. Tudo o que
apresenta Cristo na Sua proé pria exceleê ncia eé agradaé vel a Deus. Ãteé a mais deé bil expressaã o ou
manifestaçaã o de Cristo, na vida ou adoraçaã o de um dos Seus santos, eé cheiro agradaé vel, no
qual Deus acha o Seu prazer.
Ênfim, temos muitíéssimas vezes de estar ocupados com as nossas faltas e fraquezas. Se
os efeitos do pecado, que habita em noé s, se manifestam, temos de tratar com Deus acerca
deles, pois o Senhor naã o pode concordar com o pecado. Pode perdoar o pecado e purif icar-
nos; pode restaurar as nossas almas pelo ministeé rio precioso do nosso grande Sumo
Sacerdote; poreé m naã o pode associar-se a um simples pensamento pecaminoso. Um
pensamento ligeiro ou louco bem como uma ideia impura ou cobiçosa, saã o o bastante para
perturbar a comunhaã o do crente e interromper o seu culto. Se um tal pensamento se levanta,
deve ser confessado e julgado antes de podermos desfrutar outra vez os gozos sublimes do
santuaé rio. Um coraçaã o em que opera a concupisceê ncia naã o tem parte nas ocupaçoã es do
santuaé rio. Quando nos encontramos na nossa proé pria condiçaã o sacerdotal, a natureza eé como
se naã o tivesse existeê ncia; eé entaã o que nos podemos alimentar de Cristo. Podemos provar o
prazer divino de estarmos inteiramente livres de noé s proé prios e completamente absorvidos
por Cristo.
Mas tudo isto soé pode ser produzido pelo poder do Êspíérito. ÊÉ inué til procurar excitar os
sentimentos naturais de devoçaã o pelos diferentes instrumentos da religiaã o sistemaé tica. ÊÉ
necessaé rio que haja fogo puro e incenso puro (comparem-se Lv 10:1 com 16:12). Todos os
esforços para adorar a Deus por meio das faculdades profanas da natureza estaã o incluíédos na
caregoria de "fogo estranho". Deus eé o verdadeiro objeto de adoraçaã o; Cristo eé o f undamen-to
e a substaê ncia de adoraçaã o; e o Êspíérito Santo eé o seu poder.
Propriamente falando, portanto, assim o altar de cobre nos apresenta Cristo no valor
do Seu sacrifíécio, o altar de ouro mostra-nos Cristo no valor da Sua intercessaã o. Êste fato daraé
ao leitor uma melhor compreensaã o do motivo por que a ocuapaçaã o sacerdotal eé introduzida
entre os dois altares. Êxiste, como podia esperar-se, uma relaçaã o íéntima entre os dois altares,
pois que a intercessaã o de Cristo estaé fundada sobre o Seu sacrifíécio.
"Ê uma vez no ano Ãraã o faraé expiaçaã o sobre as pontas do altar, com o sangue do
sacrifíécio das expiaçoã es; uma vez no ano faraé expiaçaã o sobre ele, pelas vossas geraçoã es;
santíéssimo eé ao SÊNHOR" (versíéculo 10). Tudo repousa sobre o fundamento inabalaé vel do
SÃNGUÊ ÊSPÃRGIDO. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem
derramamento de sangue naã o haé remissaã o. De sorte que era bem necessaé rio que as figuras das
coisas que estaã o no ceé u assim se purificassem; mas, as proé prias coisas celestiais, com
sacrifíécios melhores do que estes. Porque Cristo naã o entrou num santuaé rio feito por maã os,
figura do verdadeiro, poreé m, no mesmo ceé u, para agora comparecer, por noé s, perante a face de
Deus" (Hb 9:22-24).
A Pia de Cobre
Nos versíéculos 17 a 21 temos a "pia de cobre com a sua base" — o vaso da purificaçaã o e
a sua base. Êstas duas coisas saã o sempre mencionadas conjuntamente (veja-se capíétulos
30:28; 38:8; 40:11). Êra nesta pia que os sacerdotes lavavam as maã os e os peé s, e desta forma
mantinham aquela pureza que era essencial ao cumprimento das suas funçoã es sacerdotais.
Naã o significava, de modo nenhum, uma nova questaã o do sangue; mas simplesmente um ato
mediante o qual se mantinham em aptidaã o para o serviço sacerdotal e o culto.
"Ê Ãraã o e seus filhos nela lavaraã o as suas maã os e os seus peé s. Quando entrarem na
tenda da congregaçaã o, lavar-se-aã o com aé gua, para que naã o morram, ou quando se chegarem ao
altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao SÊNHOR" (versíéculo 20). Naã o pode
haver verdadeira comunhaã o com Deus se a santidade pessoal naã o for diligentemente mantida.
"Se dissermos que temos comunhaã o com ele e andarmos em trevas, mentimos e naã o
praticamos a verdade" (1 Jo 1:6). Êsta santidade pessoal soé pode proceder da açaã o da Palavra
de Deus nas nossas obras e nos nossos caminhos:"... pela palavra dos teus laé bios me guardei
das veredas do destruidor" (Sl 17:4). O nosso enfraquecimento constante no ministeé rio
sacerdotal pode ser causa de negligenciarmos o uso conveniente da pia de cobre. Se os nossos
caminhos naã o saã o submetidos aà noçaã o purificadora da Palavra de Deus — se continuarmos em
busca ou na praé tica de alguma coisa que, segundo o testemunho da nossa proé pria conscieê ncia,
eé claramente condenada pela Palavra de Deus, o nosso caraé ter sacerdotal careceraé certamente
de poder. Ã perseverança deliberada no mal e o verdadeiro culto sacerdotal saã o de todo
incompatíéveis. "Santifica-os na verdade; a tua palavra eé a verdade" (Jo 17:17). Se houver em
noé s impureza, naã o podemos gozar a presença de Deus. O efeito da Sua presença seraé entaã o
convencer-nos do mal pela luz santa da Sua Palavra. Poreé m, quando, mediante a graça,
sabemos purificar os nossos caminhos, acautelando-nos segundo a Palavra de Deus, entaã o
estamos moralmente em estado de gozar a Sua presença.
O leitor perceberaé imediatamente que se abre aqui um vasto campo de verdade praé tica
e como a doutrina da pia de cobre eé largamente apresentada no Novo Testamento. Oh! que
todos aqueles que teê m o privileé gio de poê r os peé s nos aé trios do santuaé rio com vestidos
sacerdotais e de se aproximarem do altar de Deus, par exercer o sacerdoé cio, mantenham as
maã os e os peé s limpos pelo uso da verdadeira pia de cobre!
Talvez seja interessante notar que a pia de cobre com a Sua base era feita "dos espelhos
das mulheres que se ajuntaram, ajuntando-se aà porta da tenda da congregaçaã o" (capíétulo
38:8). Êste fato eé cheio de significado. Êstamos sempre prontos a ser como o homem que
"contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se
esqueceu de como era" (Tg 1:28). O espelho da natureza nunca poderaé dar-nos uma vista clara
e permanente da nossa verdadeira condiçaã o. "Ãquele, poreé m, que atenta bem para a lei
perfeita da liberdade e nisso persevera, naã o sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra,
este tal seraé bem-aventurado no seu feito" (Tg 1:25). Ãquele que recorre continuamente aà
Palavra de Deus e a deixa falar ao seu coraçaã o e aà sua conscieê ncia seraé mantido na atividade
santa da vida divina.
A Santa Unção
Os versíéculos 22 e 23 tratam "do azeite da santa unçaã o", com a qual eram ungidos os
sacerdotes com todos os utensíélios do santuaé rio.
Nesta unçaã o discernimos uma figura das vaé rias graças do Êspíérito Santo, as quais se
acharam em Cristo em toda a sua plenitude divina. "Todos os teus vestidos cheiram a mira, a
aloeé s e a caé ssia, desde os palaé cios de marfim de onde te alegram" (SI 45:8). "Como Deus ungiu
a Jesus de Nazareé com o Êspíérito Santo e com virtude" (Ãt 10:38). Todas as graças do Êspíérito
Santo, em sua perfeita fragraê ncia, se concentraram em Cristo; e eé somente d'Êle que podem
emanar. Quanto aà Sua humanidade, foi concebido do Êspíérito Santo; e, antes de entrar no Seu
ministeé rio pué blico, foi ungido com o Êspíérito Santo; e, finalmente, havendo tomado o Seu lugar
nas alturas, derramou sobre o Seu corpo, a Igreja, os dons preciosos do Êspíérito, em testemu-
nho da redençaã o efetuada (veja-se Mt 1.20; 3:16-17; Lc 4:18-19; Ãt 2:33; 10:45-46; Êf 4:8-13).
ÊÉ como aqueles que estaã o associados com este bendito e eternamente glorificado
Senhor que os crentes saã o feitos participantes dos dons e graças do Êspíérito Santo; e, aleé m
disso, eé na medida em que andam em intimidade com Êle que gozam ou emitem a Sua
fragraê ncia.
O homem naã o regenerado naã o conhece estas coisas. "Naã o se ungiraé com ele a carne do
homem" (versíéculo 32). Ãs graças do Êspíérito nunca poderaã o ser ligadas com a carne, porque o
Êspíérito Santo naã o pode reconhecer a natureza. Nem um soé dos frutos do Êspíérito foi jamais
produzido no solo esteé ril da natureza. Ê necessaé rio nascer de novo (Jo 3:7). Ê soé como unidos
com o novo homem, como sendo parte da nova criaçaã o, que podemos conhecer alguma coisa
dos frutos do Êspíérito Santo.
ÊÉ inué til procurar imitar esses frutos e virtudes. Os mais belos frutos que jamais
cresceram no campo da natureza, no seu mais alto grau de cultivo — os traços mais amaé veis
que a natureza pode apresentar— devem ser inteiramente rejeitados no santuaé rio de Deus.
"Naã o se ungiraé com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme a sua
composiçaã o: santo eé ,e seraé santo para voé s. O homem que compuser tal perfume como este, ou
que dele puser sobre um estranho, seraé extirpado dos seus povos". Naã o deve haver imitaçaã o
da obra do Êspíérito: tudo tem que ser do Êspíérito: inteiramente e realmente do Êspíérito.
Demais, aquilo que eé do Êspíérito naã o deve ser atribuíédo ao homem:"... o homem natural naã o
compreende as coisas do Êspíérito de Deus, porque lhe parecem loucura; e naã o pode entendeê -
las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14).
Num dos caê nticos dos degraus haé uma alusaã o magníéfica a este azeite da unçaã o. "Oh!
quaã o bom e quaã o suave é", diz o salmista, "que os irmaã os vivam em uniaã o! ÊÉ como o oé leo
precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Ãraã o, e que desce aà orla das suas
vestes" (Sl 133:1- 2). Os proé prios vestidos do chefe da casa sacerdotal, depois de ele haver
sido ungido com o azeite da santa unçaã o, devem mostrar os seus preciosos efeitos. Que oleitor
possa experimentar o poder desta unçaã o, e conhecer o que eé ter "a unçaã o do Santo" e ser
selado com o Êspíérito Santo da promessa! (lJo2:20;Êf 1:13). Nada tem valor, segundo a
apreciaçaã o de Deus, salvo aquilo que estaé ligado com Cristo, e tudo aquilo que estiver assim
ligado com Êle pode receber a santa unçaã o.
O SERVIÇO
Bezalel e Aoliabe
Os primeiros versíéculos deste breve capíétulo recordam a chamada divina e os
qualificativos de "Bezalel" e"Ãoliabe" para fazerem o trabalho da congregaçaã o. "Depois, falou o
SÊNHOR a Moiseé s, dizendo: Êis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de
Hur, da tribo de Judaé . Ê o enchi do Êspíérito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de
cieê ncia em todo o artifíécio... e eis que eu tenho posto com ele a Ãoliabe, o filho de Ãisamaque,
da tribo de Daã , e tenho dado sabedoria ao coraçaã o de todo aquele que eé saé bio de coraçaã o, para
que façam tudo que eu tenho ordenado". Quer seja para a obra do tabernaé culo, na antiguidade,
ou para "a obra do ministeé rio", agora, eé necessaé rio que aqueles que saã o empregados nela
sejam divinamente escolhidos, divinamente chamados, divinamente qualificados e
divinamente nomeados; e tudo deve ser feito segundo o mandamento de Deus. Naã o estava
dentro das atribuiçoã es do homem selecionar, chamar, qualificar ou nomear os obreiros para a
obra do tabernaé culo; nem tampouco o pode fazer para a obra do ministeé rio. Demais, ningueé m
podia presumir de se nomear a si proé prio para a obra do tabernaé culo; nem tampouco ningueé m
pode agora nomear-se a si proé prio para a obra do ministeé rio. Êra tudo, eé e deve ser
absolutamente da competeê ncia divina. Pode haver quem corra por seu proé prio impulso ou
quem seja enviado por colegas; mas naã o se esqueça que todos aqueles que correm sem serem
enviados por Deus seraã o mais cedo ou mais tarde cobertos de vergonha e confusaã o. Tal eé a saã
doutrina que nos eé sugerida pelas palavras "eu tenho chamado", "eu tenho posto", "eu tenho
dado", "eu tenho ordenado". Ãs palavras de Joaã o Batista, "o homem naã o pode receber coisa
alguma senaã o lhe for dada do ceé u", seraã o sempre verdadeiras. O homem tem, pois, muito
pouco em que se vangloriar, menos ainda de que invejar ao seu proé ximo.
Êxiste uma liçaã o ué til a tirar da comparaçaã o deste capíétulo com o capíétulo 4 de Geé nesis:
"Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e de ferro" (versíéculo 22). Os descendentes de
Caim eram dotados de talento profano para fazer de uma terra maldita e cheia de gemidos um
lugar agradaé vel sem a presença de Deus. "Bezalel" e "Ãoliabe" pelo contraé rio foram dotados
com períécia divina para embelezar um santuaé rio que devia ser santificado e abençoado pela
presença divina e a gloé ria do Deus de Israel.
Gostaria de pedir ao leitor que f izesse aà sua proé pria conscieê ncia a seguinte pergunta:
Consagro eu o que quer que possuo de períécia ou energia aos interesses da Igreja, que eé o
lugar de habitaçaã o de Deus, ou ao embelezamento de um mundo íémpio e sem Cristo 1? Naã o
diga em seu coraçaã o "naã o sou divinamente chamado ou dotado para a obra do ministeé rio".
Note-se que embora todos os israelitas naã o fossem Bezaleles ou Ãoliabes todos podiam servir
os interesses do santuaé rio. Êxistia uma porta aberta para todos poderem comunicar. Ê assim eé
agora. Cada um tem um lugar para ocupar, um ministeé rio a cumprir, uma responsabilidade a
desempenhar; e tanto o leitor como eu estamos, neste proé prio momento, promovendo os
interesses da Casa de Deus — O Corpo de Cristo, a Igreja — ou cooperando nos planos íémpios
de um mundo que ainda estaé manchado com o sangue de Cristo e o sangue de todos os santos
maé rtires. Oh! ponderemos profundamente estas coisas, na presença d'Ãquele que esquadrinha
os coraçoã es, a Quem ningueé m pode enganar e de Quem todos saã o conhecidos.
APOSTASIA
Vamos agora contemplar alguma coisa diferente daquilo que tem ateé aqui ocupado a
nossa atençaã o. "Ãs figuras das coisas que estaã o no ceé u" (Heb. 9:23) passaram perante os
nossos olhos — Cristo em Sua gloriosa Pessoa, em Seus deveres de misericoé rdia e em Sua obra
perfeita, tal como saã o representados no tabernaé culo e nos seus utensíélios míésticos. Havemos
estado em espíérito no monte e ouvido as proé prias palavras de Deus, as doces declaraçoã es dos
pensamentos celestiais, afeiçaã o e propoé sitos, dos quais Jesus eé "o Ãlfa e o Omega, o princíépio e
o fim, o primeiro e o ué ltimo".
"Faze-nos Deuses"
Mas agora somos convidados a descer outra vez aà terra para contemplar a ruíéna que o
homem faz de tudo em que poã e a sua maã o.
"Mas, vendo o povo que Moiseé s tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Ãraã o,
e disseram-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses que vaã o adiante de noé s; porque enquanto a este
Moiseé s, a este homem que nos tirou da terra do Êgito, naã o sabemos o que lhe sucedeu"
(versíéculo 1). Que degradaçaã o se manifesta aqui! Faze-nos deuses! Ãbandonavam Jeovaé para se
porem debaixo da tutela de deuses feitos por maã os de homens. Nuvens escuras e neé voas
espessas cobriam o monte; eles estavam fartos de esperar por aquele que se havia ausentado e
de se apoiarem num braço invisíével, embora real. Imaginaram que um deus feito com "um
buril" valia mais que o Senhor; preferiam um bezerro que podiam ver em vez do Deus invisíével
mas presente em toda a parte — uma falsificaçaã o visíével aà realidade invisíével!
Desgraçadamente, sempre, assim tem sucedido na histoé ria do homem. O coraçaã o
humano deseja alguma coisa que se possa ver— aquilo que responda e satisfaça os sentidos.
Soé a feé pode ficar firme "como vendo o invisíével" (Hb 11:27). Ãssim, em todos os tempos, os
homens teê m tido a tendeê ncia para levantar imitaçoã es das realidades divinas e de se apoiarem
nelas. Vemos assim como as falsificaçoã es da religiaã o se teê m multiplicado ante os nossos olhos.
Ãquelas coisas que sabemos, por meio da autoridade da Palavra de Deus, serem realidades
divinas e celestiais teê m sido transformadas em imitaçoã es humanas e terrenas pela Igreja
professa. Cansada de se apoiar sobre um braço invisíével, de confiar num sacrifíécio invisíével, de
recorrer a um sacerdote invisíével, de esperar a direçaã o de um chefe invisíével, tem-se ocupado
em "fazer" estas coisas; e, desta forma, atraveé s dos seé culos, tem estado ocupada, de "buril" na
maã o, talhando e gravando uma coisa apoé s outra, de sorte que agora jaé naã o achamos mais
analogia entre muita coisa que vemos em torno de noé s e o que lemos na Palavra de Deus do
que aquela que existe entre um bezerro "fundido" e o Deus de Israel.
"Faze-nos deuses! Que pensamento! O homem convidado a fazer deuses e o povo
disposto a poê r a sua confiança neles! Prezado leitor, olhemos no íéntimo e em torno de noé s e
vejamos senaã o descobrimos algo de semelhante. Lemos a respeito da histoé ria de Israel que
todas estas coisas lhes sobrevieram como figuras, "e estaã o escritas para aviso nosso, para
quem jaé saã o chegados os fins dos seé culos" (ICo 10:11). Procuremos, pois, aproveitar o "aviso".
Ãcordemos que ainda que naã o façamos precisamente "um bezerro de fundiçaã o" nos
prostramos diante dele. O pecado de Israel eé , sem dué vida, um "tipo" de alguma coisa em que
corremos o risco de cair. Sempre que, em nosso coraçaã o, deixamos de nos apoiar exclusiva -
mente em Deus, quer seja no que se refere ao assunto da salvaçaã o, quer no tocante aà s
necessidades da nossa vida, estamos dizendo, em princíépio, "faze-nos deuses". ÊÉ
desnecessaé rio dizer que, em noé s mesmos, naã o somos de nenhuma maneira melhores que Ãraã o
ou os filhos de Israel; e se eles honraram um bezerro em lugar do Senhor, noé s corremos o risco
de atuar segundo o mesmo princíépio e de manifestar o mesmo espíérito. Ã nossa ué nica
salvaguarda eé estarmos muito tempo na presença de Deus. Moiseé s sabia que "o bezerro de
fundiçaã o" naã o era Jeovaé , e portanto naã o o reconheceu. Poreé m, quando nos afastamos da
presença divina eé impossíével prever os erros crassos em que podemos cair e todo o mal em
que podemos ser arrastados.
As Realidades da Fé
Noé s somos chamados a viver pela feé ; nada podemos ver pela vista dos sentidos. Jesus
subiu aà s alturas e eé -nos dito para esperarmos pacientemente pelo Seu aparecimento. Ã
Palavra de Deus, aplicada ao coraçaã o na energia do Êspíérito Santo, eé o fundamento de confi-
ança em todas as coisas, temporais e espirituais, presentes e futuras. Deus fala-nos do
sacrifíécio cumprido por Cristo; noé s cremos pela graça e pomos as nossas almas sob a eficaé cia
deste sacrifíécio, e sabemos que nunca seremos confundidos.
Fala-nos de um sumo sacerdote, que penetrou nos ceé us, Jesus, o Filho de Deus, cuja
intercessaã o eé toda poderosa; noé s, pela graça, cremos e apoiamo-nos confiadamente sobre o
Seu poder e sabemos que seremos salvos para todo o sempre. Fala-nos do Chefe vivo com
Quem estamos unidos no poder da vida de ressurreiçaã o, e de Quem nenhuma influeê ncia
angeé lica, humana ou diaboé lica nos poderaé separar e, pela graça, cremos e apoiamo-nos a esse
Chefe bendito com feé simples e sabemos que nunca havemos de perecer. Fala-nos do
aparecimento glorioso do Filho, vindo dos ceé us; noé s, pela graça, cremos e procuramos
experimentar o poder purificador desta "esperança bendita" (Tt 2:13); e sabemos que naã o
sofreremos nenhum desengano. Fala-nos de uma herança incorruptíével, incontaminaé vel, e que
naã o se pode murchar, guardada nos ceé us para noé s, e que estamos guardados na virtude de
Deus (1 Pe 1:4-5); de posse da qual herança entraremos a seu devido tempo; e, pela graça,
cremos e sabemos que naã o seremos confundidos. Diz-nos que os cabelos da nossa cabeça
estaã o todos contados e que nada nos faltaraé ; e mediante a graça cremos e gozamos uma doce
tranquilidade de coraçaã o.
Ê assim eé , ou, pelo menos, assim quisera Deus que fosse. Poreé m o inimigo estaé sempre
ativo, buscando fazer com que estas realidades divinas sejam desprezadas por noé s — Procura
induzir-nos a pegar no "buril" da incredulidade e fazermos os nossos proé prios deuses.
Vigiemoscontraele; oremos para sermos guardados dele; testifiquemos contra ele; atuemos
contra ele; e desta forma ele seraé confundido, Deus seraé glorificado e noé s proé prios seremos
abundantemente abençoados.
O Bezerro de Fundição
Quanto a Israel, neste capíétulo, a sua rejeiçaã o deDeus foi a mais completa. "ÊÃraã o lhes
disse: Ãrrancai os pendentes de ouro, que estaã o nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos
filhos, e de vossas filhas e trazei-mos... e ele os tomou das suas maã os, e formou o ouro comum
buril, e fez dele um bezerro de fundiçaã o. Êntaã o, disseram: Estes são teus deuses, oé lsrael, que te
tiraram da terra do Êgito. ÊÃraã o, vendo isto, edificou um altar diante dele; e Ãraã o apregoou, e
disse: Ãmanhaã seraé festa ao SENHOR" (versíéculos 2 a 5). Isto era poê r Deus de parte e substituíé-
Lo por um bezerro. Quando puderam proclamar que um bezerro os tinha tirado do Êgito,
abandonaram, evidentemente, toda a ideia da presença e do caraé ter do verdadeiro Deus.
"Depressa" se desviaram do caminho que Deus lhes tinha ordenado, para cometerem um erro
taã o grosseiro e espantoso! Ê Ãraã o, o irmaã o e companheiro de Moiseé s no seu cargo, conduziu-os
neste extravio; e poê de dizer diante de um bezerro: "Ãmanhaã seraé festa ao SÊNHOR"! Como isto eé
triste! Quaã o humilhante! Deus destituíédo por um íédolo! Um objeto "esculpido por artifíécio e
imaginaçaã o dos homens" foi posto em lugar do "Senhor de toda a terra"!
MEDIAÇÃO
E RESTAURAÇÃO
A Tenda da Congregação
O Senhor recusa acompanhar o seu povo aà terra prometida: ".. .eu naã o subirei no meio
de ti, porquanto eé s povo obstinado, para que naã o te consuma eu no caminho" (versíéculo 3). No
princíépio deste livro, o Senhor poê de dizer: "Tenho visto atentamente a afliçaã o do meu povo,
que estaé no Êgito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as
suas dores". Poreé m, agora tem que dizer: "Tenho visto a este povo, e eis que eé povo obstinado".
Um povo afligido eé objetivo da graça, mas um povo obstinado eé necessaé rio que sej a
humilhado. O clamor de Israel oprimido havia obtido resposta por meio da manifestaçaã o da
graça; mas o caê ntico idoé latra de Israel deve ser atendido pela voz de severa admoestaçaã o.
"Povo obstinado eé s; se um momento subir no meio de ti, de consumirei; poreé m agora
tira de ti os teus atavios, para que eu saiba o que te hei-de fazer"(versíéculo 5). ÊÉ soé quando
somos despojados dos atavios da nossa natureza que Deus pode tratar conosco. Um pecador
despido pode ser revestido; poreé m um pecador coberto de ornamentos deve ser despido. ÊÉ
necessaé rio que sejamos despojados de tudo que pertence ao ego, antes de podermos ser
revestidos daquilo que pertence a Deus.
"Êntaã o, os filhos de Israel se despojaram dos seus atavios, ao peé do monte Horebe". Ãli
estavam, ao peé deste memoraé vel monte, a sua festa e os seus caê nticos haviam sido trocados
por amargas lamentaçoã es, os seus atavios postos de parte, as taé buas da lei em pedaços. Tal era
a sua condiçaã o quando Moiseé s se dispoê s a agir imediatamente de acordo com o seu estado.
Ãgora jaé naã o podia reconhecer o povo no seu caraé ter corpoé reo. Ã assembleia havia-se
contaminado inteiramente levantando um íédolo de sua proé pria fabricaçaã o em lugar de Deus —
um bezerro em lugar do Senhor.
"Ê tomou Moiseé s a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial,
e chamou-lhe a tenda da congregaçaã o." Ãssim o campo foi rejeitado como o lugar da presença
divina. Deus jaé naã o estava ali, nem podia estar por mais tempo, porque havia sido deposto por
uma invençaã o humana. Um novo centro de reuniaã o foi, pois, estabelecido. "Ê aconteceu que
todo aquele que buscava o SÊNHOR, saiu aà tenda da congregaçaã o que estava fora do arraial ".
Êis aqui um princíépio precioso da verdade que a mente espiritual facilmente
compreenderaé . O lugar que Cristo ocupa agora eé "fora do arraial" (Hb 13:13), e noé s somos
convidados a ir ao Seu encontro, "fora do arraial". ÊÉ necessaé ria muita sujeiçaã o aà Palavra de
Deus para se poder saber exatamente o que significa realmente o arraial, e muito poder
espiritual para se poder sair dele; e muito mais ainda para se poder, quando se estaé "longe",
atuar a favor dos que estaã o dentro do arraial no poder combinado da santidade e da graça — a
santidade que nos separa da contaminaçaã o do arraial e a graça que nos habita a atuar a favor
daqueles que estaã o dentro dele.
"Ê falava o SÊNHOR a Moiseé s face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois,
tornava ao arraial, mas o moço Josueé , filho de Num, seu servidor, nunca se apartava do meio da
tenda". Moiseé s manifesta maior energia espiritual que o seu servo Josueé . Ê muito mais faé cil
tomar uma posiçaã o de separaçaã o do campo do que proceder acertadamente par com aqueles
que estaã o dentro dele.
O MONTE HOREBE
E O EVANGELHO
Êm capíétulo 34 Deus daé as segundas taé buas da lei, naã o para serem quebradas, mas para
serem guardadas na arca, em cima da qual, como jaé fizemos notar, Jeovaé ia tomar o Seu lugar
como Senhor de toda a terra no governo moral. "Êntaã o, ele lavrou duas taé buas de pedra, como
as primeiras; e levantou-se Moiseé s pela manhaã de madrugada, e subiu ao monte Sinai, como o
SÊNHOR lhe tinha ordenado; e tomou as duas taé buas de pedra na sua maã o. Ê o SÊNHOR desceu
numa nuvem e se poê s junto a ele; e ele apregoou o nome do SÊNHOR. Passando, pois, o SÊNHOR
perante a sua face, clamou: JÊOVÃÉ , o SÊNHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e
grande em beneficeê ncia e verdade; que guarda a beneficieê ncia em milhares; que perdoa a
iniquidade, e a transgressaã o, e o pecado; que ao culpado naã o tem por inocente; que visita a
iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos ateé aà terceira e quarta geraçaã o" (versíéculos
4 a 7). Lembremo-nos que Deus eé visto aqui no Seu governo moral do mundo e naã o como eé
visto na cruz — naã o como brilha na face de Jesus Cristo —, naã o como eé proclamado no
evangelho da Sua graça. Êis uma exibiçaã o de Deus no evangelho: "Ê tudo isso proveé m de Deus,
que nos reconciliou consigo mesmo, por Jesus Cristo e nos deu o ministeé rio da reconciliaçaã o,
isto eé , Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, NÃÃ O LHÊS IMPUTÃNDO os seus
pecados e poê s em nósapalavra da reconciliação" (2 Co 5:18-19). Naã o ter "ao culpado por
inocente" e naã o "imputar o pecado" saã o termos que nos apresentam duas ideias de Deus
totalmente diferentes. Visitar "a iniquidade" e tiraé -la naã o eé certamente a mesma coisa. Ã
primeira eé Deus agindo em Seu governo; a segunda eé Deus no evangelho. Êm capíétulo 3 da 2 a
epíéstola aos Coríéntios, o apoé stolo poã e em contraste o "ministeé rio" mencionado em ÊÊ xodo,
capíétulo 34, como "o ministeé rio" do evangelho. O leitor faraé bem em estudar esse capíétulo com
atençaã o. Ãprenderaé com essa liçaã o que todo aquele que considera o ponto de vista do caraé ter
de Deus dado a Moiseé s, no Monte Horebe, como explicando o evangelho, deve ter realmente
uma compreensaã o muito imperfeita do que eé o evangelho. Êu naã o posso descobrir os segredos
profundos do coraçaã o do Pai nem na criaçaã o, nem mesmo no governo moral. O filho proé digo
poderia ter achado o seu lugar nos braços d'Ãquele que Se revelou no Monte Sinais Joaã o
poderia ter inclinado a sua cabaça no coraçaã o desse Senhora Seguramente que naã o. Poreé m,
Deus revelou-Se na face de Jesus Cristo; Êle nos revelou, com harmonia divina, todos os Seus
atributos na obra da cruz. Foi ali que "a misericoé rdia e a verdade se encontraram, a justiça e a
paz se beijaram" (SI 85:10). O pecado eé completamente tirado e o pecador que creê
perfeitamente justificado "PÊLO SÃNGUÊDÃ CRUZ".
Quando vemos Deus assim revelado, temos apenas, aà semelhança de Moiseé s, de inclinar
a cabeça aà terra e adorar — atitude que conveé m a um pecador perdoado e recebido na
presença de Deus!
— CÃPIÉTULOS 35 a 40 —
A CONSTRUÇÃO
DO TABERNÁCULO
O Desprendimento Voluntário
Êstes capíétulos conteê m uma recapitulaçaã o de diversas partes do tabernaé culo e seu
mobiliaé rio; e visto que jaé expliquei o que creio ser o significado das partes mais proeminentes,
eé desnecessaé rio acrescentar mais.
Êxistem, contudo, duas coisas nesta parte do livro das quais podemos tirar instruçoã es
muitos ué teis, a saber, em primeiro lugar os sacrifícios voluntários do povo; e, em segundo, a
obediência implícita do povo a respeito da obra do tabernaé culo do testemunho.
"Êntaã o, toda a congregaçaã o dos filhos de Israel saiu de diante de Moiseé s, e veio todo
homem, a quem o seu coraçaã o moveu, e todo aquele cujo espíérito voluntariamente o impeliu, e
trouxeram a of ertaalçada ao SÊNHOR, para a obra da tenda da congregaçaã o, e para todo o seu
serviço, e para as vestes santas. Ê, assim, vieram homens e mulheres, todos dispostos de
coraçaã o; trouxeram fivelas, e pendentes, e aneé is, e braceletes, e todo vaso de ouro; e todo
homem oferecia oferta de ouro ao SÊNHOR, e todo homem que se achou com pano azul, e
pué rpura, e carmesim, e linho fino, e peê los de cabras, e peles de carneiro tintas de vermelho, e
peles de texugos, os trazia; todo aquele que oferecia oferta alçada de prata ou de metal, a
trazia; por oferta alçada ao SÊNHOR; e todo aquele que se achava com madeira de cetim, a
trazia para toda a obra do serviço. Ê todas a mulheres saé bias de coraçaã o fiavam com as maã os, e
traziam o fiado, o pano azul, a pué rpura, o carmesim e o linho fino. Ê todas as mulheres, cujo
coraçaã o se moveu em sabedoria, fiavam os peê los das cabras. Ê os príéncipes traziam pedras
sardoé nicas, e pedras de engaste para oeé fode epara o peitoral, e especiarias, e azeite para a
luminaé ria, e para o oé leo da unçaã o, e para o incenso aromaé tico. Todo homem e mulher, cujo
coraçaã o voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o SÊNHOR
ordenara se fizesse pela maã o de Moiseé s" (capíétulo 35:20 a 29). Ê mais adiante lemos: "Ê
vieram todos os saé bios que faziam toda a obra do santuaé rio, cada um da obra que fazia, e
falaram a Moiseé s, dizendo: O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o
SÊNHOR ordenou se fizesse... porque tinham material bastante para toda a obra que havia de
fazer-se" (capíétulo 36:4 a 7).
Que quadro encantador da dedicaçaã o aà obra do santuaé rio! Naã o foram precisos esforços,
apelos ou argumentos solenes par constranger os coraçoã es do povo a darem. Oh! naã o: os
coraçoã es foram voluntariamente movidos. Êste era o proé prio princíépio. Ã corrente de
sacrifíécios voluntaé rios vinha dos coraçoã es: "Príéncipes", "homens", "mulheres", todos sentiam
que era para eles um doce privileé gio darem ao Senhor, naã o com um coraçaã o estreito ou maã o
mesquinha, mas de um modo principesco trouxeram "muito mais do que bastava."
A Obediência Implícita
Êm segundo lugar, quanto aà obedieê ncia do povo estaé escrito: "Conforme tudo o que o
SENHOR ordenara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel toda a obra. Viu, pois, Moiseé s toda a
obra, e eis que a tinham feito; como o SENHOR ordenara, assim a fizeram; entaã o, Moiseé s os
abençoou" (capíétulo 39:42 a 43). O Senhor havia dado instruçoã es minuciosas relativas a toda a
obra do tabernaé culo. Cada estaca, cada base, cada colchete, cada cordaã o estavam exatamente
nos seus lugares. Naã o houve lugar disponíével para os recursos, a razaã o ou o sentido comum do
homem. O Senhor naã o delineou um plano deixando ao homem a tarefa de o completar; nem
deixou nenhuma margem para o homem fazer introduzir as usas combinaçoã es. De modo
nenhum. "Ãtenta, pois, que o faças conforme ao modelo que te foi mostrado no monte (ÊÊ x 25:40,
26:30; Hb8:5).
Êste mandato naã o deixava lugar para invençoã es humanas. Se fosse permitido ao
homem fazer uma simples estaca, essa estaca estaria, seguramente, fora de lugar, no parecer
de Deus. Podemos ver em capíétulo 32 o que "o buril" do homem produz. Graças a Deus, o buril
naã o teve lugar no tabernaé culo. Neste caso eles fizeram precisamente o que lhes fora dito—
nada mais, nada menos. Êis aqui uma liçaã o proveitosa para a igreja professa! Êxistem muitas
coisas na histoé ria de Israel que devemos procurar seriamente evitar: as suas murmuraçoã es de
impacieê ncia, os seus votos de legalismo, e a sua idolatria; poreé m na sua devoçaã o e na sua
obedieê ncia podemos imitaé -los. Que a nossa devoçaã o seja mais sincera e a nossa obedieê ncia
mais implíécita. Podemos afirmar com toda a segurança que se tudo naã o tivesse sido feito
conforme ao modelo mostrado "no monte" naã o poderíéamos ler, no final do livro, que "entaã o, a
nuvem cobriu a tenda da congregaçaã o, e a gloé ria do SÊNHOR encheu o tabernaé culo, de maneira
que Moiseé s naã o podia entrar na tenda da congregaçaã o, porquanto a nuvem ficava sobre ela, e a
gloé ria do SÊNHOR enchia o tabernaé culo" (capíétulo 40:34-35). O tabernaé culo era, para todos os
efeitos, conforme ao modelo divino, e, portanto, podia ser cheio da glória divina.
Êxistem tomos de instruçoã es nesta verdade. Êstamos sempre prontos a considerar a
Palavra de Deus insuficiente ateé para os míénimos pormenores ao culto e serviço de Deus. Mas
isto eé um grande erro, erro que tem sido a origem de abundantes males e erros na igreja
professa. Ã Palavra de Deus eé suficiente para todas as coisas, quer seja no que se refere aà
salvaçaã o e conduta pessoal, quer no tocanteaà ordemegovernodaÃssembleé ia. "Toda
Êscritura,divinamente inspirada eé proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para
toda boa obra" (2 Tm 3:16-17). Êstas palavras resolvem toda a questaã o. Se a Palavra de Deus
prepara umb.omemperfeitamente"p>aratoda boaobra", segue-se,necessariamente, que tudo o
que naã o se acha nas suas paé ginas naã o pode ser uma boa obra. Demais, recordemos que a gloé ria
divina naã o pode ligar-se com aquilo que naã o for conforme ao modelo divino.
CONCLUSÃO
Prezado leitor, acabamos de percorrer juntos as paé ginas deste livro precioso. Tenho a
confiança que temos recolhido algum fruto do nosso estudo. Confio que temos recolhido
alguns pensamentos edificantes acerca de Jesus e do Seu sacrifíécio, aà medida que avançamos. ÊÉ
verdade que os nossos pensamentos mais elevados naã o podem ser mais que mesquinhos, e
que o que percebemos de mais profundo eé muito superficial comparado com a intençaã o de
Deus em todo este livro. ÊÉ agradaé vel recordarmos que, pela graça, estamos no caminho que
conduz aà quela gloé ria em que conheceremos como somos conhecidos; e onde os nossos
coraçoã es se deleitaraã o com o resplendor do semblante d'Ãquele que eé o princíépio e o fim de
todos os caminhos de Deus, quer seja na criaçaã o, na provideê ncia ou na redençaã o. Êncomendo-
o, pois, ao Senhor em corpo, alma e espíérito, orando para que possa compreendera profunda
bem-aventurança de ter a sua parte em Cristo, e para que seja guardado na esperança da Sua
vinda gloriosa. Ãmeé n.
FIM