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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS PALMAS

Disciplina: Estágio Obrigatório 1


Professor(a): Patrícia
Aluno: Vasni Ferreira Queiroz

Resenha da peça teatral “Conselho de Classe” de Jô Bilac

Jô Bilac, dramaturgo carioca, e um dos expoentes da dramaturgia brasileira, traz


em sua obra o melhor da tradição carioca. Apresenta-se como um Nelson Rodrigues às
avessas.
Do grande dramaturgo brasileiro, pode-se ver em seu texto a riqueza dos
diálogos. Estes são sempre cotidianos, mesmo que inseridos no ambiente de trabalho.
Na peça esse cotidiano é o escolar, o espaço em que ação transcorre: em uma reunião de
classe, na quadra de uma escola, entre professores da rede pública.
Essa opção pelo prosaico é tão forte que o autor acrescenta outras camadas de
intimidade em um cotidiano já muito informal, uma vez que o conselho de classe se dá
após o fim do ano letivo, com a presença apenas de alguns professores, sob o calor
tropical do Rio de Janeiro, a falta de água na escola e os ventiladores velhos que não
ventilam. Essa irrupção da intimidade está presente, por exemplo, nos problemas que as
professoras trazem de casa para o ambiente de trabalho: a venda de roupas para
complementar a renda, o telefonema da locadora da casa cobrando a professora o
pagamento de taxas, notícias sobre a diretora afastada e “fofocas” sobre professores
ausentes. Assim como em Nelson Rodrigues, o dramaturgo também consegue uma
excelente caracterização de seus personagens apenas com os diálogos, a informalidade,
e essa irrupção do familiar na vida social para enriquecer psicologicamente as
personagens.
Em “Conselho de Classe”, tem sempre essa conversa informal, sempre essa
espera da formalidade da reunião que parece nunca chegar, sempre adiada pelo mesmo
cotidiano das personagens que interrompe o oficial. É nesse jogo do anunciado, do
esperado, que nunca acontece, que Bilac utiliza-se apenas dos diálogos para dar vida às
suas personagens que, embora pertencentes a uma mesma classe, de professoras, têm
visões de mundo completamente diferentes. e esse mesmo diálogo enseja aos poucos o
conflito. Um conflito que na verdade já ocorreu, mas só paulatinamente o leitor é
introduzido nele, ficando em suspensão até a hora da reunião.
Mas Bilac é um Nelson Rodrigues às avessas também. E esse é o ponto que
torna sua obra tão original. Diferente de Nelson Rodrigues, cujas personagens estão
sempre envolvidas com tabus sociais, complexos psicológicos e taras sem distinção de
classe social. Em Bilac, é a classe social, a formação profissional e a geração das
personagens que determinam seu comportamento.
A fala da antiga diretora, Vivian, no prólogo da peça, ao demonstrar seu apreço
pelos japoneses, já indica o conflito do drama e o conflito escolar existente no Brasil

[...]Mas é que lá, rapaz, todo mundo é amarelo,


todo mundo tem a mesma cara, o mesmo olho.
Aqui no Brasil, não. Um é preto, outro é mulato...
Daí fizeram umas escolas pra poucos, e deu no que
deu: uma educação totalmente deformada hoje. É
preciso entender o país e quem está nele. Pra isso,
você precisa sair da sala de aula e entender o aluno
como indivíduo... o professor como individuo. E os
indivíduos perceberem a escola como parte da
comunidade e o que você pode fazer por ela.
(BILAC, 2016. P.28)

É essa diversidade social e cultural existente no Brasil e presente na escola


pública, tanto entre os professores quanto entre os alunos que torna sempre iminente os
conflitos, quer seja por visões diferentes sobre a educação, quer seja por receber um
grupo heterogêneo de estudantes. Diferentemente do Japão, um dos países menos
miscigenados do mundo e com uma cultura milenar, a escola brasileira tenta
uniformizar conteúdos, padrões, avaliações e comportamentos em nível nacional, de um
país extremamente diverso e com abismos sociais.
Essa uniformização é a deixa para o conflito na peça. É por causa da proibição
do uso de bonés por parte dos alunos, que com eles poderiam se individualizar dentro
do sistema massificador escolar, que os alunos, em contato com uma professora de arte,
mais progressistas, e estudando a obra “O pagador de promessa”, de Dias Gomes,
começam a entender sua realidade. Assim como a personagem da peça, Zé do Burro é
proibido de entrar na igreja por ter um sincretismo religioso, os alunos se veem na
mesma condição. São proibidos de entrar no templo do saber com suas peculiaridades.
Mesmo utilizando seus uniformes, a escola proibi que eles tragam para o ambiente de
aprendizado um acessório do vestuário comum à cultura jovem. Mas após lerem
criticamente sua realidade, os alunos resolvem intervir politicamente para reivindicar
seus direitos.
É neste conflito do embate entre alunos e a diretora, que termina ferida com a
cruz do aluno que interpreta Zé do Burro, caindo em sua cabeça, que se desenrola a
peça. As professoras defensoras da escola uniformizada e com grades, desconfiam da
professora de artes. Tem-na como agitadora dos alunos, tramando para conseguir a
direção ou um diretor favorável à sua visão de educação.
Entretanto, ao ler a peça, mesmo que o leitor não concorde com uma das visões
sobre a educação é forçoso reconhecer que se simpatiza com todas essas profissionais
da educação. Essas professoras deram suas vidas para educar os alunos. Mesmo que se
discorde de sua visão e de seus métodos, elas se entregaram, sem apoio do sistema
educacional, com péssima remuneração, sem estrutura para as aulas, enfrentando o
cotidiano sucateado e caótico da escola para fazer o melhor em que acreditam pela
educação.
Esse é um dos grandes aspectos do texto. Assim como Nelson Rodrigues, Bilac
constrói personagens com suas virtudes e fraquezas. Acima de tudo humanos. E leva o
público a simpatizar com eles, mesmo que não concorde com suas escolhas.
O desfecho da peça também é extraordinário. Como disse a diretora Viviam no
prólogo da peça, que a solução para a educação é que cada individuo perceba a escola
como parte da comunidade; o novo diretor tem a mesma visão. Ele combate
personalismos, como a professora de educação física que leva a chave da quadra para
sua casa. Mas ele também não consegue resolver o conflito, pois o conselho se dispersa
e é adiado para o próximo ano letivo.
Jô Bilac deixa a peça sem solução, pois a solução para a educação brasileira não
está em uma peça teatral, nem mesmo na mão de uma única pessoa, como nas mãos do
autor da peça. A solução está somente na união dos indivíduos, da comunidade em
torno dos seus problemas. Na escola, ela passa pela participação democrática dos
professores, alunos, pais e funcionários da escola para decidirem, cada um respeitando
ao outro, o futuro conjunto deles.
Somente o Conselho de Classe pode oferecer alternativas ao conflito escolar.

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