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Callie Hart
#2 Savage Things
Data: 01/2017
Se a máfia de Nova York quer a sua fidelidade, vai precisar lhe obrigar a se
submeter. Se os policiais o querem atrás das grades, vão ter que pegá-lo primeiro.
Ele vai matar os lobos. Ele vai sair da tempestade. Ele vai fazer seus inimigos
sofrerem. Zeth Mayfair está pronto para se autoproclamar o dono da cidade, e foda-
se quem se atrever a ir contra o rei.
Sloane
Sloane Romera vê a morte todos os dias, a encara nos olhos e nem sequer
estremece. Quando Mason Reeves entra com a sua pequena irmã na emergência do
St. Peter, uma nuvem negra paira sobre a menina – uma que Sloane reconhece
muito bem. Millie está muito doente, mas não é tarde demais. Sloane está
determinada a fazer tudo ao seu alcance para ajudar a criança, independentemente
de quantas regras serão quebradas no processo.
Mas Mason está preso em um pacto com o diabo. Um pacto que desenha um
grande alvo nas costas de Sloane. Há muitas chances de que ela esteja morta pela
manhã, e o homem que ela ama não vai ser capaz de salvá-la dessa vez.
Se tem uma coisa que Sloane sabe, é que você não pode enganar a morte.
Quando o Ceifador exige uma vida, uma vida deve ser dada. Não adianta
barganhar. Implorar é inútil.
~3~
A SÉRIE
Callie Hart
~4~
Capítulo Um
MASON
Um pássaro entrou voando pela janela da casa quando eu era garoto.
Eu não consigo me lembrar que espécie era. Suas asas eram marrons com
um pouco de dourado, e as pontas das penas eram tingidas com um azul
suave que só podia ser visto de alguns ângulos, quando a luz batia sobre
elas. O pássaro estava quebrado. Seu peito minúsculo subia e descia
rapidamente, seu bico aberto, os olhos pretos cheios de medo. Meu pai,
chapado pra caralho, como sempre, o pegou e o colocou nas minhas mãos.
Eu tinha sete anos, e ele me disse para quebrar o seu pescoço.
— Olhe para isso, garoto. Ele está acabado. Não tem porque pegá-lo e
deixar ele cagando pela casa toda.
Eu ainda não sei por que ele estava tão preocupado sobre aquela
coisinha tão pequena e quebrada cagando pela casa. Ele não tinha como
voar para lugar nenhum. A luz nos seus olhos estava desaparecendo
rapidamente quando eu coloquei seu corpo partido contra o meu peito, as
bicadas frias e ferozes nas minhas mãos nuas, e eu sabia que meu pai tinha
razão. O pássaro estava morrendo. Ele não tinha muito mais tempo de vida,
e eu tinha consciência disso. Mas eu não podia apenas quebrar o seu
pescoço. Eu não podia. Quando meu pai perdeu a paciência comigo,
percebendo que eu não ia matar a criatura em minhas mãos, ele tentou
arrancá-lo de mim e terminar o trabalho ele mesmo.
Eu corri.
Virei à esquerda e corri pela rua, passando por uma fileira de carros
grandes dos anos oitenta e o Ford F250 quebrado do Sr. Wellan. Evitei as
poças de água, sem me importar quando não conseguia desviar delas e
afundava meus tênis velhos nas piscinas rasas e os molhava imediatamente.
~5~
Eu não estava vestido para estar na rua. Eu estava jantando – postas de
peixe e batatas amassadas – quando o pássaro entrou pela janela da
cozinha, surpreendendo a minha mãe, então eu estava usando a calça do
meu pijama e uma camiseta fina. Lá fora, com o ar frio do inverno
apunhalando todas as partes nuas do meu corpo, eu estava ciente que
estava muito frio para sair correndo como um louco vestindo quase nada,
mas eu não tinha escolha. Meu pai não me deu escolha. Eu já tinha visto
aquele olhar cruel, maldoso em seus olhos antes. Eu sabia que ele não
ficaria feliz até que o pequeno pássaro estivesse morto.
Corri até que meus pés estivessem dormentes, tanto pelo frio quanto
por batê-los contra a calçada dura. Finalmente, parei na entrada de uma
pequena lanchonete, ofegando, meu coração acelerado e os olhos ardendo.
Eu não sabia se era por causa do frio ou da corrida, ou porque eu não queria
que o pássaro morresse, mas tinha noção de que não podia evitar. Não parei
para analisar. Apenas segurei o pássaro no meu peito e tentei recuperar o
fôlego.
Depois de muito tempo, ele não abriu os olhos novamente. Seu coração
minúsculo parou de bater na palma da minha mão, e suas asas pararam de
se contorcer e tremer. Levei-o para casa, arrastando os pés, sentindo como
se tivesse perdido uma batalha de alguma forma. Eu sabia que não poderia
salvá-lo, mas o fato de ele ter morrido em minhas mãos fazia parecer como
se eu tivesse falhado com ele de alguma forma. Eu deveria ter sido capaz de
superar a morte. Eu deveria ter sido capaz de levá-lo para longe dela, de
ajudá-lo a escapar do seu destino de alguma forma, mas isso não tinha
acontecido. Eu não tinha sido capaz. Eu falhei com ele.
~6~
pequeno pássaro. Sua vida está se esvaindo e não há nada que eu possa
fazer sobre isso.
— Porra, sim, claro que ela foi! — eu bato a mão na parede ao meu
lado, tentando respirar, manter o controle, mas é difícil demais. — Eu
expliquei tudo para a mulher que me atendeu no 911. Ela tem Síndrome de
Lennox Gastaut.
Eu não vou, no entanto. Millie reage mal a clobazam, mas não há mais
nada que pare as suas convulsões. Ela vai vomitar por horas quando se
recuperar desse estado fodido; da última vez que isso aconteceu, eu tive que
segurá-la a noite toda enquanto ela chorava e vomitava por tudo. Mas era
melhor do que isso. Era melhor do que ver seus olhos desfocados e vagos
enquanto todo o seu corpo treme e ameaça se partir ao meio.
Nada acontece.
— Eu vou lhe dar algo mais, algum valproato de sódio, Mason. Está
tudo bem. É normal as pessoas precisarem de um pequeno empurrão às
vezes.
~8~
Ela não percebe quantas vezes eu já passei por isso. Ela não percebe
que eu sei que vinte CCs de qualquer coisa não é normal. Bem, a menos que
seja administrado para um homem adulto. Definitivamente não deveria ser
injetado no sistema circulatório de um minúsculo ser humano de seis anos
de idade. Mantenho meus lábios apertados, no entanto. Observo a
paramédica fazer o seu trabalho, lidando com Millie com cuidado enquanto
lhe dá o que ela precisa.
Millie está muito longe de estar bem. Eu sei disso. A paramédica sabe
disso. Ela está tentando ser gentil, me alimentando com mentiras brancas,
mas a sua casual distorção da verdade só me deixa irritado. Quando foi que
mentiras já resolveram um problema? E quando ignorância cega já ajudou
uma pessoa a se preparar para o que estava vindo?
***
SLOANE
Nada mais me choca. Nada. Eu já vi de tudo. Acidentes de carro são os
piores. São nesses que as pessoas são levadas para a área de trauma,
falando, fazendo perguntas, preocupadas com seus entes queridos, talvez
reclamando de uma leve dor de estômago, mas parecendo bem. E então no
próximo minuto a pele deles está cinza e eles estão se dobrando, e a dor de
estômago da qual eles estavam falando e você não deu muita bola na
verdade se torna uma grave hemorragia interna, seus órgãos estão
~9~
esmagados como uma polpa e eles estão morrendo porque é tarde demais,
tarde demais para qualquer coisa, e então tudo acabou.
Choque. Choque faz coisas estranhas com o corpo humano. Ele deixa
você dormente, faz você continuar correndo, funcionando, quando deveria
ficar parado. Você nem percebe que seus ferimentos são maiores do que
pensou até que as coisas progridem para um ponto sem volta, e então é isso.
O fim. Nada mais pode ser feito.
~ 10 ~
— Os paramédicos já enviaram as informações sobre ela. Millie Reeves,
seis anos. Histórico de Síndrome de Lennox Gastaut, com convulsões tônicas
e mioclônicas. Deu baixa no St. Peter quatro vezes nos últimos oito meses,
bem como duas vezes no Halle and Prentice Medical. Ela convulsionou por
aproximadamente oito minutos na ambulância. A paciente ainda está
inconsciente.
Gitte franze o cenho. Ela olha para o tablet que está segurando,
provavelmente procurando nas linhas do plantão quem está trabalhando
essa manhã. Ela balança a cabeça. — Ele não deveria estar aqui, — ela diz.
— Mas eu juro que o vi na UTI uma hora atrás.
Ela deve ter visto. O irmão de Oliver Massey foi recentemente trazido
para o hospital com sérios ferimentos internos; Alex, um bombeiro, foi
atingido enquanto tentava ajudar a arrastar uma mulher inconsciente para
longe de um acidente de carro. Ele está se recuperando bem das várias
cirurgias, mas não bem o bastante para sair da UTI. Não ainda, pelo menos.
Gitte acena, desliza o tablet no bolso seu uniforme e vai correndo para
dentro do hospital. Eu fico sozinha, torcendo os dedos, o coração acelerado
no peito, a adrenalina correndo pelo meu corpo, fazendo meu estômago se
contorcer. Ainda é cedo, mas Seattle já está meio acordada e vibrando. No
meio da cidade, o Hospital St. Peter é o coração das coisas. Localizado na
convergência de três bairros distintos, você não pode ver ou ouvir as docas
daqui, mas você pode sentir o cheiro, a pitada salgada no ar, e você pode
sentir, de alguma forma, que está perto da água.
Em algum lugar do outro lado da cidade, Zeth Mayfair está dando uma
surra em um saco de areia, suas mãos esperançosamente bem enfaixadas
enquanto ele resolve suas frustrações matinais. Por um segundo eu me
perco, pensando nos músculos das suas costas flexionando e saltando
~ 11 ~
quando ele balança para acertar o saco. Ele se move de um jeito animalesco,
cru e perigoso. Seria muito fácil perder um dia inteiro observando ele malhar
e treinar no seu ginásio de luta. Fácil demais. Mas há pessoas aqui que
precisam de mim. Pessoas que precisam ser salvas.
Ele não diz nada. Ele me olha diretamente nos olhos e me desafia a
dizer alguma coisa. Tenho a impressão de que ele vai implodir se eu ousar
dizer palavras que ele não gosta, e isso me deixa desconfortável. Agradeço
aos paramédicos, notando vagamente que a ambulância veio do corpo de
bombeiros de Alex Massey, e então me viro para o jovem garoto na minha
frente. — Você é o pai da Millie? — eu não espero ele responder. Começo a
empurrar a maca para dentro. Preciso levar Millie para a pediatria e colocar
uma intravenosa nela o mais rápido possível.
— Não. Irmão. Mas eu sou o seu guardião legal. Nossos pais estão
mortos. Eu cuido de Millie desde que ela nasceu, basicamente.
~ 12 ~
— Eu vejo.
— Não.
— Me desculpe?
— Você não vê. A menos que você tenha cuidado de uma garotinha
seriamente doente pelos últimos seis anos, como você pode? — sua atitude é
realmente péssima – o bastante para me fazer parar de empurrar a maca e
virar para ele. Não estou irritada com ele. Ele é jovem demais para estar
lidando com tanta responsabilidade. Ele mesmo mal é um adulto, mas ele
claramente não está pensando direito agora.
— Olhe ao seu redor, Sr. Reeves. Olhe para onde você está. Não, eu
estive cuidando de uma garotinha doente pelos últimos seis anos. Eu estive
cuidando de vinte. Trinta. Estive cuidando de crianças muito doentes com
um dia de vida, assim como idosos com oitenta anos em situação muito
grave. Por uma década.
— Sim. Exatamente.
— Tudo bem. Eu sei como você se sente com isso também. Vamos lá.
Vamos deixar a sua irmã confortável e então podemos falar sobre o que
vamos fazer.
~ 13 ~
Capítulo Dois
ZETH
Violência não é uma escolha. É uma forma de ser. É simplesmente a
sua natureza. Não há como fugir. Não há como esconder. E mesmo que
houvesse uma maneira de codificar o seu DNA e esconder a sua verdade,
qual seria o ponto disso? Ser violento é bom. Rugir enquanto você bate seus
punhos uma e outra vez no peito de algum pedaço de merda fraco é bom.
Ver o sangue voar do nariz e boca das pessoas quando seus punhos se
conectam com o rosto delas? Adivinhe? É bom, também.
Meu telefone toca do outro lado do ginásio, mas eu não posso atender
agora. Provavelmente é Michael, checando se eu preciso de alguma dele hoje.
Estou a meio caminho de acabar de dar uma surra em um brasileiro, então
a ligação vai ter que esperar.
O sangue mancha o tatame. Pode ser meu. Pode ser dele. Quem se
importa, porra? Nós dois somos selvagens e estamos cedendo aos nossos
instintos mais primitivos de dominar. A única diferença entre eu e esse cara
é que eu não vou desistir. Eu não vou ceder. O inferno vai congelar antes
que isso aconteça. Eu não dou a mínima para quem ele é, quão grande ele é,
quão ruins são as minhas chances. Eu vou morrer antes de me submeter.
~ 14 ~
Por que as pessoas não aguentam três rodadas sem tentar vir com
uma desculpa para dar um tempo? Sempre tem alguma coisa: minhas faixas
estão soltas. Meus olhos estão ardendo. Não consigo lembrar se deixei o forno
ligado em casa. Esses filhos da puta todos sabem no que estão se metendo
quando entram na gaiola comigo. Eles todos assistiram e riram quando dei
uma surra em outras pessoas, quebrei o nariz delas e arranquei a dignidade
de inúmeros caras. Mas não, eles estão convencidos de que serão eles a me
derrubar. Tem que acontecer em algum momento, afinal, eu os ouço
sussurrando um para o outro. É bem difícil ouvi-los sussurrar depois,
quando seus rostos estão inchados e ensanguentados como carne recém
moída, e eles não conseguem abrir o maxilar. Ainda assim, eles voltam para
treinar. Ainda assim, eles aparecem na porta a cada manhã esperando para
lutar, para receber mais punição, porque eles estão intrigados.
Dou uma olhada para a gaiola, onde meu adversário está agora de
joelhos, o braço direito por cima do seu estômago, a cabeça pendurada
para baixo enquanto ele tenta se recompor. Duvido que ele vá algum lugar
tão cedo. Eu vou voltar e ajudá-lo em um segundo – Sloane vai me matar
se eu machucar um dos rapazes do ginásio e não der a ele a assistência
medica necessária – mas com certeza estou prestes a ter uma conversa
que não deve ser ouvida por ninguém.
— Não achei que fosse ouvir falar de você tão cedo, — digo a ele. —
Como está a vida nesse deserto seco e empoeirado?
~ 16 ~
Eu sei mito bem que amiga em comum é essa. Durante o último ano,
desde que me envolvi com Sloane e a sua missão imprudente para encontrar
sua irmã desaparecida a qualquer preço, a Agente Denise Lowel, do DEA1,
esteve metendo o nariz nos nossos negócios, geralmente criando incômodos
para si mesma e me irritando muito no processo. Só pode ser ela.
Não digo mais nada. Não digo a ele que eu sei que Lowell já está na
cidade há algum tempo. Não digo a ele fui contra tudo que eu acredito e
escondi isso de Sloane. Não digo a ele que estou de olho em Mason, o garoto
que estou treinando todas as manhãs, desde que o vi falando com a Agente
do DEA do lado de fora da oficina algumas semanas atrás. Mantenho a boca
fechada, e Rebel desliga o telefone.
~ 17 ~
***
Ajudo o Sr. Brasil a levantar e o mando embora – ele insistiu que não
queria ir ao hospital, então que porra eu podia fazer além de deixar ele ir? –
e então espero Michael aparecer. O ginásio está vazio. Mason, nosso espião,
deveria estar aqui treinando desde manhã cedo, antes do seu turno na
oficina do outro lado da rua, mas ele não apareceu, então tenho todo o lugar
para mim. As taxas do ginásio de luta Blood & Roses são astronomicamente
altas, então só gente séria vem treinar aqui. O que significa que o lugar não
é cheio de adolescentes cujas bolas acabaram de descer e que não têm a
menor ideia do que estão fazendo. Também significa que os criminosos de
Seattle tendem a ficar longe, o que é exatamente o que eu quero. Sempre que
um cara quer se candidatar para virar membro, tenho Michael fazendo uma
longa pesquisa sobre ele, garantindo que ele não vai trazer problemas para a
nossa porta. Ao menor sinal de envolvimento com o submundo, sua
aplicação é rejeitada sem maiores explicações.
— Por que diabos você não dormiu? É bom que você não esteja
fazendo trabalho noturno para outra pessoa, — eu rosno.
~ 18 ~
— Estou pensando que você ficou acordado por trinta e seis horas
porque estava entretendo alguém.
— Mas que diabos, cara? Você dirige o melhor e mais chamativo carro
já vendido. Você estava acelerando e de repente para um sinal? Se um
policial ver isso, vai pensar que você ganhou na porra da loteria. Você quer
passar o resto do dia preso enquanto os tiras descobrem que eles podem te
marcar por algo mais que direção imprudente?
Isso é uma mentira total, e ele sabe. Mas deixo passar, porque ele
merece. — Apenas me diga uma coisa. Esse Michael bizarro e tenso é porque
a vadia voltou para as nossas vidas? Ou tem algo mais que eu deveria saber?
— não tenho ideia do que poderia ser mais inconveniente do que Denise
Lowell em Seattle, mas porra. As coisas estão calmas. Calmas demais. Eu
queria acreditar que é apenas como a vida vai ser agora – previsível e segura,
porque é isso que Sloane merece. Mas eu não sou tão idiota. A minha
experiência diz que a vida vai te jogar uma ou cinco bolas de fogo quando
você menos esperar, e sempre existem aqueles que vão ajudar a te foder
ainda mais.
~ 19 ~
uma careta retorce os seus traços. — Eu não sei, — ele diz baixinho. — Eu
só... eu tenho uma sensação ruim.
~ 20 ~
Capítulo Três
SLOANE
Millie Reeves não chora quando acorda. Ela vomita e reclama que está
com frio, mas é isso. Considerando tudo, ela é relativamente sortuda. Ela
estava respirando enquanto tinha a violenta convulsão que a trouxe para o
St. Peter, mas o fornecimento de oxigênio no seu cérebro poderia ter sido
facilmente comprometido. Ela poderia ter acordado com as funções cerebrais
alteradas ou danificadas em inúmeros aspectos do seu sistema nervoso, e
ainda assim ela parece está se recuperando admiravelmente. Infelizmente, o
mesmo não pode ser dito do seu irmão.
— Eu não ligo para o que a médica disse. Eu quero levar ela para casa!
— Mason Reeves está de cabeça quente agora, enquanto se inclina contra o
balcão da recepção, cada vez mais vermelho enquanto tenta argumentar com
Gracie. Ele mal sabe que seus esforços são completamente inúteis.
— Receio não poder fazer isso, senhor. Agora, por favor, se afaste
dessa mesa antes que eu chame a segurança, — Gracie levante o queixo,
duro e inflexível. Ela só está esperando que ele continue discutindo. Claro, o
que ela está fazendo é altamente ilegal. Mason é o guardião legal de Millie.
Ela não precisa de cuidados urgentes específicos, então ele está no seu
direito de levá-la onde ele quiser. Gracie é apenas uma dessas mulheres que
vai empurrar e empurrar para conseguir as coisas do seu jeito, e dane-se as
consequências.
~ 21 ~
Ele mal vira os olhos na minha direção enquanto toma conhecimento
do que acabei de dizer. — Millie Reeves. Seis anos. Diagnosticada com LSG
com três anos e três meses de idade. Teve uma grande convulsão nas
últimas doze horas. Agora mostra sinais positivos de recuperação, apesar de
vômitos contínuos e diarreia. A pressão sanguínea está normal. Todos os
sinais cognitivos relatados estão normais. Requer monitoramento constante
pelas próximas quarenta e oito horas para garantir que não houve danos de
longo prazo devido à potencial privação de oxigênio, — Mason para aí. Ele
vira a cabeça, então está olhando diretamente para mim agora. — Tem mais
alguma coisa, Dra. Romera, ou eu cobri tudo?
Ele aperta o maxilar. — Porra, eu não sou estúpido, ok? Eu sei que
estou fodido. Sei que ela merece mais do que eu posso lhe dar, mas eu estou
tentando. Estou fazendo o meu melhor. Claro que ela estaria melhor aqui,
mas não posso pagar para que ela fique aqui além do tempo absolutamente
necessário. Essa não foi a sua pior convulsão. Muitas outras vão vir, e eu
tenho certeza que vou poder pagar essas visitas ao maravilhoso hospital
cinco estrelas St. Peter’s of Mercy.
~ 22 ~
convulsão de Millie foi ruim, sim, mas dada à natureza da sua condição, com
certeza não vai ser a pior. O pior ainda vai vir. A LSG talvez não a mate,
mas, da mesma forma, é possível que sim. Mason está, basicamente,
economizando para o funeral da sua irmã. Eu me pergunto se ele percebe
isso. Aperto a caneta que estou segurando, enterrando as unhas no plástico
duro. — Olhe. Me dê uma hora, Mason. Me dê uma última chance de dar
uma olhada nela. Se ela estiver estável, deixo você levá-la para casa.
— Então... então eu não sei. Vamos dar um jeito quando for a hora, —
essa é uma péssima resposta para a sua pergunta, mas é tudo que eu tenho
no momento. Eu sou uma médica, no entanto. Uma solucionadora de
problemas. Me dê um par de meias e um elástico e eu vou descobrir como
parar um sangramento. Me dê uma hora e um celular e eu vou descobrir
como ter certeza de que Millie Reeves receba os cuidados que ela precisa e
merece. Mason não acredita em mim ainda, mas ele vai. Ele pisca, os
músculos do seu maxilar trabalhando sem parar.
Mason não diz nada. Ele se mexe de um pé para o outro, seu ombro
direito sobe e desce enquanto ele olha de mim para Gracie e de volta para
mim. — Ela vai cuidar dela, — Gracie diz suavemente. — Ela é uma médica
excelente. Vamos ligar no mesmo instante se algo acontecer com a sua irmã,
Sr. Reeves, — ela já está com a mão no seu braço, o levando para fora da
recepção; ela não lhe dá a opção de recusar a sugestão. A raiva e frustração
que estavam se derramando dele um segundo atrás parecem ter
desaparecido nos últimos segundos. Eu já vi isso acontecer muitas vezes
antes; o peso da responsabilidade é algo muito, muito pesado. Tomar
decisões difíceis diariamente é assustador. Carregar o fardo de cuidar de
outra pessoa todas as horas de todos os dias é o bastante para levar uma
pessoa ao ponto da ruptura. Quando alguém se oferece para aliviar esse
fardo, as pessoas em geral ficam chocadas demais para reagir.
***
~ 23 ~
Encontro Oliver Massey lavando as mãos furiosamente na sala dos
residentes. Ele me dá um olhar de canto de olho quando me nota passando
pela porta. — Maldita epidemia de gripe. Quase não temos enfermeiras na
UTI. Como diabos se administra uma unidade de tratamento intensivo
quando não existem pessoas o suficiente para cuidar intensivamente de
alguém? Jesus, — ele dá um passo para trás quando a água espirra sobre o
lado da calha de aço inoxidável sobre a qual ele está inclinado. A sua calça
vai lentamente de cinza para preto no local em que o tecido absorve a água.
— Ótimo, — Oliver pega uma toalha da pilha limpa ao seu lado e começa a
se secar, resmungando baixinho.
Oliver joga a toalha no cesto de roupas para lavar ao lado dos armários
e suspira pesadamente; seu queixo descansa no peito quando ele se reclina,
descansando as costas contra o aço duro das portas dos armários. — Quem
diabos sabe, — ele diz baixinho. — Ele deveria estar na enfermaria agora,
Sloane. Ele deveria ter voltado ao seu maldito trabalho ou algo assim, e não
ainda ligado ao suporte de vida.
Tudo que eu digo parece inútil. Oliver sabe o que dizemos quando
nossos entes queridos estão lutando para se recuperar, porque ele diz isso
para as pessoas também: é um processo. Essas coisas levam tempo. A única
coisa que podemos fazer agora é esperar. Evitamos dar falsas esperanças.
Nós desviamos de palavras como esperança, porque elas dão a impressão de
que a situação não está mais no nosso controle. Esperança implica que uma
força desconhecida tomou as rédeas da saúde do irmão/mãe/irmã/filha
deles e nós não somos nada mais que meros observadores, olhando por uma
janela, os lábios apertados entre os nossos dentes e os dedos cruzados atrás
das costas.
~ 24 ~
capaz de assumir a situação. Não vai haver tempo para ter um colapso. Sei
que vou ser capaz de fazer tudo ao meu alcance para consertá-los, e minhas
mãos não vão tremer enquanto faço isso. Eu vou estar determinado. Focado.
Porque é isso que eles colocam dentro de nós, é quem eles nos ensinam a
ser.
— E você foi, Oliver. Você foi tudo isso. Você não vacilou nem uma vez
quando trouxeram o Alex. Você estava focado nisso e conseguiu dar conta do
recado. Você salvou a vida dele.
Minhas palavras passam por Oliver como água sobre a rocha. Ele não
as sente, não permite que elas o afetem de alguma forma. — Talvez, — ele
sussurra, olhando para as próprias mãos. Ele me dá um sorriso fraco e
pequeno, pouco firme nas bordas. — Talvez você tenha razão. Talvez eu
tenha feito tudo certo na sala de operação. Mas porra, Sloane. Eles não nos
ensinam a lidar com essa parte. Nunca nos ensinaram a sermos como essas
pessoas que ficam andando pelos corredores como leões enjaulados, porque
elas parecem... elas parecem inúteis pra caralho.
— Eu preciso da sua ajuda, — digo a ele. Essa é uma das coisas mais
gentis que eu posso fazer – dar a ele algo para pensar que não seja seu
irmão. — Tenho uma situação, algo complicado, e preciso do seu grande
cérebro para me ajudar a encontrar uma solução.
Os olhos de Oliver vão para o teto e ficam ali. — Eu não estou no meu
turno, Sloane.
— Estou ciente.
— Você não precisa interferir. Você não precisa nem ver a criança, —
eu digo. — Só preciso de ajuda para descobrir como manter ela aqui.
— A criança?
— Uma garotinha, ela tem convulsões muito sérias. Seu irmão mais
velho é seu guardião legal, e ele não pode pagar para que ela fique mais
alguns dias.
— Não.
~ 26 ~
Capítulo Quatro
ZETH
Chegamos a mais um beco sem saída no armazém. As ligações que
temos feito há dias sempre acabam iguais: ninguém sabe o que Lowell está
fazendo. Ninguém sabe quais são seus objetivos aqui, e ninguém quer se
meter nisso, também.
Ela está aqui para me foder, exatamente como Rebel disse. Eu de fato
a constrangi profissionalmente. Eu, de fato, roubei o seu cachorro.
Tecnicamente, ela me deu Ernie no fim das contas, mas duvido que ela veja
~ 27 ~
dessa forma. Claro que ela não vê. Bem quando as coisas estavam parecendo
calmas, como se a vida tivesse entrado um pouco no lugar, como se eu
tivesse parado de ter que lidar com pessoas de merda, parado de ter que
olhar por cima do ombro toda vez que saio de casa, Lowell aparece e me joga
de novo nesse buraco escuro. Claro, eu poderia ignorar isso e deixar ela fazer
o que quiser, mas as coisas não vão funcionar dessa maneira. Eu sei que
não. Sua chegada à minha cidade é um precursor de coisas terríveis, e
preciso estar pronto cada uma delas. Se eu não estiver, vou acabar morto ou
preso outra vez, e nenhuma dessas opções é aceitável para mim. Não agora,
que eu tenho Sloane para pensar.
Falando no diabo...
— Claro.
Ainda assim, ela precisa de mim. Porra, ela disse que precisa de mim,
e eu nunca vou deixá-la esperando quando ela me manda uma mensagem
dessas. Eu largo Michael no ginásio, quase sem parar para o homem descer
do veículo, antes de arrancar na direção do hospital. Eu encontro Sloane no
setor deserto das docas de carga e descarga do St. Peter, que fica atrás do
prédio – ela costuma vir aqui quando precisa de um momento para respirar –
sentada em um degrau de concreto onde enfermeiras e empregados do
hospital vêm às vezes para fumar, se escondendo de seus pacientes e
familiares.
Já é quase noite agora, mas posso ver a forma pálida do casaco branco
de Sloane se mexendo levemente enquanto cruzo o espaço na direção dela.
Ela levanta o olhar para mim quando eu a alcanço, nem um pouco surpresa
pela minha aparição repentina.
~ 28 ~
— Você não demorou muito, — ela sussurra.
— Eu conhecia um atalho.
Ela faz uma careta, porque sabe que os meus atalhos envolvem
ultrapassar os sinais vermelhos e qualquer motorista que eu considere
muito lento, que são basicamente todos. — Meu rapaz imprudente. Você vai
entrar aqui deitado sobre uma maca dia desses.
Sloane me conhece de dentro para fora. Ela sabe pelo meu destaque
para a palavra precisava que minha mente já está em um lugar sujo, assim
como o resto do meu corpo, onde eu coincidentemente estou fodendo ela
como um animal. Ela coloca uma mão na minha coxa, seus dedos correndo
para cima e para baixo pela costura interna da minha calça jeans.
~ 29 ~
— Paciente violento? — minha mente vai instantaneamente para esses
lugares. Se algum desses filhos da puta causar problemas para ela, vai sair
do St. Peter mais machucado e quebrado do que entrou, não dou a mínima
para quem eles são.
— O que você quer dizer? Esconder a criança e tratar ela por baixo dos
panos?
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— Uhum. Se ela realmente precisa de tratamento, parece a melhor
opção para mim.
Eu sou o diabo no seu ombro, afinal de contas. Sou o seu príncipe das
trevas, a levando por caminhos que ela nunca andaria sozinha. Em algum
momento deve ter havido um anjo no outro ombro, mas esse cara foi
embora. E não fui em quem o assustou. Sloane o mandou embora por conta
própria. Ela gostou da escuridão. Ela gostou das sombras e da adrenalina.
Agora, quebrar as regras e perseguir outra emoção foi tudo que restou para
ela.
— Pare, Zeth. Deus, por favor... eu tenho que voltar lá para dentro em
um minuto. Se você continuar com isso...
— Porra.
— Você disse que tinha duas horas até que esse cara voltasse. Não vai
demorar tanto tempo assim levar a criança para o porão.
Eu sorrio maliciosamente.
~ 31 ~
Ela olha para baixo e nota o que eu percebi a um segundo atrás – suas
pernas já estão abertas, sua saia lápis preta e profissional deslizou para
cima das suas coxas nuas.
É tudo que eu preciso. Eu caio de joelhos antes que ela possa dizer
outra palavra. Empurro meu caminho entre as suas pernas, me inclinando
para ela poder colocá-las sobre os meus ombros.
~ 32 ~
Ela estremece, suas pernas pressionam um pouco mais apertado ao
redor da minha cabeça. Seus lábios estão abertos, o débil brilho dos seus
dentes visível na penumbra. — Talvez você tenha razão, — ela diz baixinho.
— Talvez eu fique. Talvez... talvez você deva dar a eles algo para ver.
Sei como é difícil para ela deixar ir e abrir mão do controle, e é por isso
que eu valorizo momentos como esse. É mais do que sexo. É mais do que
desejo. Isso é tudo.
~ 33 ~
debaixo da sua camisa de botos, então ela alcança a curva dos seus peitos
perfeitos por debaixo do sutiã, também.
Se sexo oral fosse uma arte marcial, eu seria faixa preta. Não, esqueça
isso. Eu seria a porra de um fodido Grão-Mestre. Eu sei exatamente como
trabalhar a ponta da minha língua sobre o clitóris de Sloane para fazer seu
corpo se apertar com força. Sei precisamente como usar minha boca,
deslizando sobre a sua buceta para massagear o monte sensível de nervos
em carícias longas que a fazem ofegar e gemer.
Curvo meus braços sob as suas coxas, assim posso agarrá-la melhor
pelos quadris, e então empurro minha língua dentro dela. Ela tem um gosto
bom pra caralho. Se eu estivesse perdido em uma ilha deserta e a buceta de
Sloane fosse a única coisa que eu tivesse para comer, eu seria o homem
mais feliz e mais bem alimentado de toda a raça humana. Ela me agarra pelo
cabelo, esmagando o meu rosto, e eu quase perco a cabeça.
Ela está perto. Posso dizer pelo quanto ela está molhada e pelas notas
erráticas e frenéticas da sua voz quando ela geme. Quero fazer ela gozar com
a minha boca – isso a destrói todas as vezes – mas uma grande parte de
mim, 20 cm de rocha sólida, exige estar dentro dela agora mesmo.
Eu a tomo. Não sou gentil quando deslizo dentro do seu calor quente e
úmido. Empurro o mais forte que posso, porque sei que ela ama quando eu
faço isso. Ela enrola os braços ao meu redor, me puxando para ela,
enterrando suas unhas na minha jaqueta de couro. Posso sentir mesmo
através do tecido grosso, então ela claramente está jogando pra valer.
~ 34 ~
Deus, a buceta dela é incrível. Eu já fodi a sua boca e a sua bunda,
mas nada é tão bom quanto a sua buceta. Nossos corpos se encaixam juntos
com um tipo de precisão que explode a minha mente. Nossa fisiologia não
mente; nós fomos feitos um para o outro.
O calor floresce dentro de mim, estende seus dedos sobre mim, através
de mim, sobre a parte de trás das minhas coxas e sobre as nádegas, sobe
pelas minhas costas, enviando uma onda de formigamento pela minha nuca
e pela cabeça. Sloane estremece, sua respiração saindo rápida e afiada
quando eu empurro dentro dela uma última vez.
— Deus, — ela sussurra, sua voz áspera, quase inaudível sobre meus
frenéticos batimentos cardíacos, que estão zumbindo nos meus ouvidos
agora. — Isso foi... intenso.
Ela abre os olhos, olhando para mim, e eu me vejo refletido neles. Vejo
um futuro infinito, improvável e improvável à minha frente. Se ele fosse
perfeito, essa vida que eu e Sloane aceitamos viver juntos, então nenhum de
nós sobreviveria. Nós dois precisamos de caos para nos incendiar. Nós dois
precisamos de um pouco de imprevisibilidade e turbulência ao longo do
caminho. Mas, saber que nós somos capazes de lidar com o que aparecer, é
o suficiente para mim, no entanto.
Ela me olha meio bêbada da foda que eu acabei de lhe dar e então
pisca para mim. — O quê?
Seus olhos se arregalam. — Minha roupa está toda suja, Zeth. Não
posso voltar para lá desse jeito.
~ 35 ~
— Troque que roupa. Escove o seu cabelo, se precisar, — eu digo a ela,
beliscando a sua bunda levemente entre meu indicador e o polegar. — Mas
não se atreva a limpar o meu gozo, garota zangada. Eu quero que você volte
ao trabalho sabendo que eu ainda estou dentro de você. Quero que você me
sinta entre as suas pernas. Me prometa, porra.
— Ótimo. Agora volte para dentro, antes que eu decida que vou te
foder outra vez.
~ 36 ~
Capítulo Cinco
SLOANE
Eu sou um acidente de trem. Graças a Deus ninguém me viu quando
eu me apressei pelos corredores até o vestiário, para pegar um uniforme azul
e um jaleco limpo. Droga, esse homem ama tornar a minha vida difícil às
vezes. Ou, se não difícil em si, no mínimo mais interessante. Sem dúvidas
ele está com aquele sorriso malvado no rosto enquanto dirige para casa, se
parabenizando pela maneira como meu coração provavelmente está
trovejando em meu peito enquanto eu tiro as roupas sujas, meu corpo agora
dolorido, cansado do sexo selvagem que acabamos de fazer. E ele está certo,
meu coração está trovejando em meu peito, e meu corpo está dolorido e
cansado, e eu me sinto incrível, iluminada de dentro para fora. Como diabos
eu vou voltar a me concentrar no trabalho depois disso? Não vai ser fácil.
Pretendo cumprir a promessa que fiz a ele, então vou pensar no nosso sexo
selvagem cada vez que eu me mover, sentar ou simplesmente respirar. Mas
eu tenho que ter certeza de estar focada ao mesmo tempo, no entanto. Tenho
uma pequena criança para levar e esconder no porão.
Ninguém diz nada quando eu vou até o quarto de Millie Reeves e pego
os gráficos no fim da sua cama. Suas estatísticas são a mesmas de hoje mais
cedo – sua pressão está baixa e seus batimentos parecem um pouco
erráticos às vezes, mas fora isso ela está estável. Há muitas chances de que
eu esteja sendo ridícula aqui e essa garota estaria perfeitamente bem em
casa sendo cuidada pelo seu irmão, mas eu não sei. Por alguma razão há um
peso no meu estômago, afundando como uma pedra, e o pensamento de
liberar Millie dos nossos cuidados me deixa ansiosa. Seu irmão claramente
cuida dela muito bem, mas essa sensação não vai passar. Aprendi muito
tempo atrás que ignorar a sua intuição tem consequências muito sérias na
minha linha de trabalho. Eles te ensinam a ser lógico, a trabalhar com
possibilidades plausíveis e a treinar para ter um cérebro cientifico, que é o
oposto de um cérebro guiado pela emoção, mas às vezes você precisa de um
pouco de emoção.
~ 37 ~
emerge para fora do cobertor. Seu cabelo é fino, mechas macias de seda
flutuando ao redor da sua cabeça, carregadas de estática. Os grandes olhos
azuis cheios de pânico se fixam em mim e começam a se encher de lágrimas.
Seu minúsculo lábio inferior estremece. — Onde está Mason? — ela
pergunta.
Seus olhos se arregalam ainda mais. — Mas você é médica. Você não
pode odiar hospitais.
Meu relógio, uma cópia barata de um Rolex, é uma das minhas posses
mais valiosas. Foi me dado por uma das minhas primeiras pacientes – uma
mulher que tratei contra câncer de ovário. Eu era residente naquela época,
então ela não era de fato minha paciente, mas fui eu quem a diagnostiquei.
O médico cuidando do seu caso, Dr. Withers, insistia que ela tinha doença
celíaca, mas naquela época eu tive a mesma sensação inquietante e
desconfortável de que algo não estava certo, então investiguei mais fundo. A
pequena massa no seu ovário esquerdo seria facilmente ignorada se eu não
estivesse procurando por isso com tanto empenho. A mulher, Casey, ficou
tão agradecida por eu ter descoberto o tumor maligno que ela voltou e me
trouxe o relógio algumas semanas de terminar suas sessões de
quimioterapia. Ela parecia cansada, com profundas olheiras sob os olhos,
mas tinha recebido alta. Ela estava livre do câncer, e disse que precisava me
agradecer por isso.
***
~ 39 ~
Dr. Bochowitz não é exatamente um corruptor das normas, mas o
velho médico sabe quando não fazer perguntas. Ele não parece achar isso
nada fora do comum eu querer colocar uma paciente de seis anos de idade
no necrotério. Millie não parece se incomodar pela falta de luz natural ou
com o estranho cheiro químico que permeia a sala, também. Na verdade, ela
parece bem confortável com os seus novos arredores, longe da correria das
enfermeiras e de pessoas a monitorando 24h por dia. Bochowitz se certifica
de que todos os corpos em que ele estava trabalhando estejam seguramente
trancados antes que ela possa colocar os olhos neles, e então ele lhe traz o
jantar e senta com ela enquanto ela come, contando histórias sobre a sua
neta, que aparentemente tem a mesma idade de Millie.
~ 40 ~
Ela finge estar aborrecida, cruzando os braços sobre o peito. — Não
estou não. Sr. Richard está me contando histórias de fantasmas. Eu nem
estava com medo, Mase. Eu ouvi tudinho!
— Eu não vou ter pesadelos, — Millie diz. — Eu sou velha demais para
isso.
Millie parece chocada com essa informação. Ela se mexe para baixo em
seus travesseiros e inclina a cabeça para o lado. — Isso não é muito justo, —
ela diz. — Adultos não deveriam ter medo de nada.
A doce garotinha na cama abre nas narinas quando puxa uma gigante
lufada de ar para dentro dos pulmões. Ela olha do Dr. Bochowitz para o seu
irmão, e então para mim, e então sacode a cabeça. — Você não tem medo,
Mason. Você é o irmão mais corajoso de todos. Você nunca, nunca tem medo
de nada.
Eu posso ver o quanto ela quer acreditar nisso. Se Mason nunca tem
medo, então Millie sabe que o seu protetor é corajoso e capaz de cuidar dela.
Mason deve estar muito consciente disso também. Ele faz cocegas sob o seu
queixo e sorri. — Está certo. Você me pegou. Eu não me assusto fácil, isso é
verdade.
~ 41 ~
— Quando nós podemos ir para casa? — Millie tenta jogar as cobertas
para o lado, como se estivesse pronta nesse instante. Sua tentativa é
frustrada pela forma firme que os lençóis foram presos na cama, impedindo
que ela vá muito longe.
Bochowitz acena com a mão. — Tudo bem, Sr. Reeves. Como você
pode ver, as regras normais não se aplicam aqui embaixo. Sinta-se à vontade
para atender, se você precisa. Você pode ir ali fora, no corredor.
~ 42 ~
Capítulo Seis
MASON
Lowel está puta. Ela não parece entender que se eu estou no hospital
com a minha irmãzinha, não vou ser capaz de fazer o seu trabalho sujo. Ela
é espinhosa pra caralho enquanto me descasca no telefone. — Você percebe,
Mason, que nós estamos trabalhando com um limite de tempo aqui. Se eu
não encontrar qualquer evidência relativa a esse assassinato logo, não vou
conseguir relacionar Mayfair como uma pessoa de interesse. Isso é ruim
para mim. Muito, muito ruim, o que significa que é muito, muito ruim para
você também. E para a sua irmãzinha. Quero dizer, tudo que eu preciso
fazer é ligar para o conselho tutelar...
— Porra. Você pode... você pode me dar mais um dia ou dois? Estou
fazendo o melhor que posso, ok? Zeth é um homem difícil de ler. Ele mantém
suas cartas bem guardadas. Não é como se ele fosse sair cuspindo sobre
cadáveres que ele enterrou nas montanhas toda vez que nós conversamos.
Ele não é estúpido. Ele mal me conhece.
— Eu não sei com quem diabos você teve que lidar no passado, mas
Zeth não podia estar mais longe de carismático e encantador. Ele é um filho
da puta hostil e espinhoso, e eu morro de medo dele. Não tenho
absolutamente nenhuma sensação de segurança, falsa ou não.
Lowell apenas grunhe. — Que seja. Você sabe o que está em jogo aqui,
Mason. Faça ele falar.
~ 43 ~
Essa mulher não tem ideia do que ela está me pedindo. Se ela tem,
então obviamente não dá a mínima para o meu bem-estar pessoal. No pouco
tempo que conheço Denise Lowell, ela não me passou a impressão de ser o
tipo de pessoa que permite que a segurança de outras pessoas fique no
caminho do que ela quer alcançar, no entanto.
Ela pula, como se não estivéssemos nos encarando desde que eu voltei
para o quarto e ela só tivesse me notado agora. — Sim. Sim. Tudo bem, —
ela diz. Sua voz é plana, no entanto. Fria. É como se ela fosse outra pessoa,
e aquela médica afetuosa, carinhosa e amigável de um momento atrás
tivesse ido embora, sendo substituída por... eu não sei quem ela é agora. —
Está tudo perfeito, — ela diz, descruzando os braços e colocando as mãos
lentamente nos bolsos do seu jaleco branco. — Acho que agora sou eu que
vou ter que me desculpar por sair um momento, gente. É minha vez de fazer
uma ligação importante, — ela me dá outro olhar gelado e avaliador e então
dá um sorriso fraco para o seu colega. — Você não se importa se eu der um
pulo ali fora por um minuto?
Dr. Bochowitz pega um dos dedos do pé da minha irmã por cima dos
lençóis e o puxo da forma brincalhona. — Claro que não. Não há nenhum
outro lugar onde eu preferiria estar.
Dra. Romera sair. É como se ela quisesse sair correndo do quarto, mas
faz o seu melhor para sair andando. Um arrepio gelado desce pela minha
espinha. Que diabos há de errado com ela? O que poderia ter acontecido
~ 44 ~
durante o tempo em que estive fora do quarto? Isso não faz nenhum sentido.
Eu juro, nunca vou entender as mulheres.
***
Millie cai no sono perto das nove horas. Eu me sinto um merda por
deixar ela aqui outra vez depois de ter estado fora o dia todo, mas tenho
esperanças de que ela durma e não note a minha ausência até de manhã.
Penso em ligar para Ben e cancelar minha luta essa noite, mas nós
precisamos do dinheiro. Desesperadamente. Se eu não lutar, são dois mil
dólares a menos, e esse é o dinheiro do nosso aluguel do mês. Esse dinheiro
é que vai pagar pelas nossas necessidades e colocar comida na mesa para
Millie. Esse valor não chega nem perto de cobrir as despesas que nós temos
acumulado com hospitais – vou ter que lutar semana que vem outra vez para
chegar um pouco mais perto do valor que nós precisamos, o que me deixa
preocupado. Se eu não ganhar, se eu me machucar, se Millie passar mal
outra vez e eu não puder levá-la ao hospital...
~ 45 ~
chegando e é isso. Não há tempo para se defender. Nenhuma contagem no
planeta é o suficiente para prevenir uma concussão séria e alguns dentes
quebrados. Somente os homens mais loucos lutam com Rayne. Somente
pessoas como Ben.
Encontro meu melhor amigo nos fundos, onde uma loira gostosa com
imensos peitos falsos está passando a mão para cima e para baixo no seu
bíceps, como se ele fosse um maldito semideus. Quando ele levanta o olhar e
me vê, dá um tapa na bunda da garota e a manda embora.
— Ela não vai estar tão ansiosa para subir e descer no seu pau mais
tarde, quando você estiver todo roxo e humilhado, seu babaca, — eu digo a
ele.
Ben sorri. — E daí? Meu pau já está em carne viva dela subir e descer
nele. Preciso de um tempo para me recuperar. Vai ter outra garota
igualzinha a ela pronta para balançar no meu pau em algumas semanas, e
eu ainda vou estar rico por causa dessa luta.
Ele está certo. Rayne pode conseguir uma montanha de dinheiro por
acabar com Ben essa noite, mas isso não quer dizer que Ben vai para casa
de mãos vazias. Todo mundo sabe que não há chances de ganhar de Rayne.
Então é necessária uma soma de dinheiro decente para atrair lutadores para
tomarem a surra das suas vidas, e essa noite é a vez de Ben ser jogado para
todos os lados da gaiola. Filho da puta louco.
— Não. Você sabe que eu não posso ir, cara. Se houvesse algum jeito...
— algumas semanas atrás, Ben mencionou que está pensando em se mudar
para Los Angeles para treinar com profissionais, e ele não parou de falar
sobre essa merda desde então.
— Não é assim tão simples. Millie está bem aqui. Ela tem amigas. Eu
estaria fodido se Wanda não pegasse Millie na escola todos os dias. Eu não
poderia trabalhar, — eu não menciono que tenho uma agente do DEA que
está tão grudada na minha bunda que ela sabe exatamente o que eu comi de
café da manhã. Se eu tentar deixar o Estado, Lowell vai ter policiais na
minha porta mais rápido do que eu posso piscar.
~ 46 ~
Ben flexiona a mão quando eu acabo de enfaixá-la, esticando o
material ao redor dos seus dedos para poder fechar o punho direito. — Eu só
estou dizendo que Los Angeles é o lugar onde precisamos estar se queremos
começar a fazer um caminho nessa indústria. Você sabe disso, e eu sei
disso. Se ficarmos aqui, lutando por trocados a casa semana, nunca vamos
conseguir chegar às lutas em Vegas. Joe Rogan nunca vai falar da gente no
seu podcast. Vai ser isso aqui. Até que Jameson Rayne finalmente dê o fora
daqui e abra espaço para o resto de nós, sempre vamos pegar as lutas de
segunda categoria.
— Cara, olha só, eu não posso. Me desculpe. Não agora. Talvez daqui
um ano ou dois. Me desculpe, — Ben pode dizer pelo meu tom de voz que
esse é o fim desse tópico na nossa conversa. Ele suspira, batendo um punho
contra a palma da outra mão, a decepção se derramando dele.
~ 47 ~
Ben ri alto. — Eu já te disse, meu pau está em carne viva agora. Mas
talvez, depois que acabar com Rayne, eu ligue para você para um boquete da
vitória.
~ 48 ~
Capítulo Sete
MASON
Eu ganho a minha luta, mas não sem apanhar bastante. O meu
oponente é um veterano experiente, e eu cometo o erro de acreditar que ele
está começando a enfraquecer no terceiro round. Fico bastante confiante no
quarto, baixando um pouco a guarda para o show, tentando inflamar a
multidão, e é quando o bastardo conecta seu punho com o lado da minha
cabeça, bem ali onde a mandíbula se encontra com o crânio. Eles chamam
esse ponto de o botão. O botão de desligar. Se você for atingido com força
suficiente nesse lugar, é isso aí filho da puta, fim do espetáculo. Felizmente
eu consigo desviar um pouco para a esquerda, o que enfraquece o seu soco.
Do contrário eu estaria contando estrelas e minha bunda estaria batendo no
tatame. Eu cambaleio para trás, batendo na grade que cerca a gaiola, e
minha cabeça começa a girar.
~ 49 ~
cabelo curto me veja, mas não sou rápido o bastante. A multidão sai do
caminho o mais rápido possível, corpos esmagando outros corpos, pessoas
pisando nos pés umas das outras enquanto eu deslizo entre eles, mas as
pessoas magicamente abrem caminho para Kaya Rayne como se ela fosse a
maldita rainha de Sabá. Sua mão está no meu ombro antes que ande
metade do caminho até a saída.
Eu me viro e ali está ela – pequena Kaya, com o corpo perfeito, a boca
em formato de botão de flor e um brilho perverso nos olhos azul-claros.
Droga. Eu estive me fugindo dela por semanas como um maldito covarde.
Que diabos há de errado comigo? Ela é super gostosa. Até onde posso dizer,
ela está muito interessada em me ver pelado, o que é incrível, porque eu me
encontro imaginando como são os mamilos dela e como seria ter eles na
minha boca, pelo menos umas três ou quatro vezes por dia. Não vamos
começar a falar de quanto tempo eu passei pensando na sua buceta. Eu
deveria lhe dar exatamente o que ela quer: meu pau. E ainda assim, eu não
posso. Não seria absolutamente nada justo. Minha vida é um maldito circo
nesse momento. Arrastar ela para isso seria uma merda imperdoável.
— Sim, você sabe. Pessoas velhas não conseguem mais usar controles
remotos. Pessoas na faixa dos quarenta não conseguem lidar com apps de
mídias sociais. E agora parece que caras na metade dos vinte não
conseguem nem usar seus celulares para responder mensagens de texto.
Ahhh. Isso faz mais sentido. Ela está irritada comigo. — Deus, Kaya.
Eu sinto muito. Eu só estive meio amarrado nessas últimas semanas.
~ 50 ~
— Literal ou figurativamente? — ela coloca a mão no bolso do seu
casaco e pega algo, e então o coloca diretamente na boca. Uma red vine2. A
garota parece ter um estoque sem fim dessa coisa.
Não consigo ver Ben em lugar algum. Maldito Ben. Ele provavelmente
está sangrando profusamente no chuveiro agora, e eu realmente posso usar
isso para escapar. — É que não parecia justo, — eu digo. — Não tenho
tempo para relacionamentos, Kaya. Eu gosto de você, de verdade, mas
qualquer coisa entre nós seria apenas sexo. E eu não quero que você pense
que eu estou te usando.
— Por quê? — ela coloca outra bala entre os dentes e morde, franzindo
o cenho para mim.
— Porque o quê?
— Por que você não que me usar para sexo? Eu sou repulsiva ou algo
assim?
Olhando para os lados, Kaya ri baixinho pelo nariz. Ela não parece
machucada. Na verdade, ela parece estar se divertindo. — Você não pode me
machucar, querido. Você quer transar comigo. Eu quero transar com você.
Nós dois queremos nos usar para sexo. Então deveríamos fazer exatamente
isso.
~ 51 ~
estavam tentando dormir na minha casa todas as noites e querendo me
apresentar para os seus pais. Isso nunca acaba bem. Porém, quando Kaya
diz isso, eu tenho a impressão de que vou ser aquele tentando dormir na
casa dela todas as noites, querendo apresentá-la para os meus pais. Acho
que não há um perigo real disso acontecer, uma vez que meus pais já estão
mortos há muito tempo, mas ainda assim... Kaya faz que eu sinta que não
estou no controle aqui, e eu não gosto disso, porra. É aterrorizante. Nunca
gostei de uma garota o bastante para considerar que ela abriria espaço em
minha vida para ficar de maneira permanente. Não acho que Kaya abriria
espaço para ocupar lugar na minha vida. Tenho a sensação de que tudo
mudaria para acomodar ela, e isso não pode acontecer. Apenas não é
possível.
— Você precisa relaxar, Reeves. Nem tudo precisa ser tão sério. Às
vezes, as coisas podem ser divertidas, — lentamente ela começa a se afastar,
sumindo na multidão, e eu estou dolorosamente ciente do fato de que ainda
estou usando o calção apertado que usei para lutar, e estou prestes a
apresentar uma ereção bem óbvia. — Se você se lembrar de como usar seu
celular, deveria responder uma das minhas mensagens. Eu adoraria te
ajudar a relaxar uma hora dessas, — ela me dá um pequeno aceno e então
desaparece, engolida pela multidão tentando sair do porão, agora que as
lutas acabaram.
***
~ 52 ~
Eu estou elétrico, vivo, cheio dos pés à cabeça de uma energia vibrante
enquanto caminho pelo estacionamento na direção da caminhonete. Na
verdade eu deveria estar exausto, estressado pelo dia de hoje, mas lutar
sempre faz isso comigo. Se eu estivesse na cama com uma mulher agora,
poderia foder por horas. Eu poderia gozar uma e outra vez, e isso não iria
importar. Esse tipo de energia não se dissipa tão fácil. Ela se prende,
mantém sua mente afiada, aprimorando seus sentidos de forma que você
fica consciente de tudo. Estou considerando voltar imediatamente para o St.
Peter, antes que eu caia adormecido de uma vez, quando minha mente fica
em branco, tudo desaparecendo instantaneamente quando eu percebo o
Camaro preto estacionado ao lado da minha caminhonete. Eu reconheceria
esse Camaro em qualquer lugar; eu o vejo todos os dias, estacionado do lado
de fora da Academia de Luta Blood & Roses.
Mas que porra Zeth está fazendo aqui? Ele sabe sobre as lutas ilegais
que acontecem no porão do mercado, ele deve saber, todo mundo sabe, mas
nunca esperei vê-lo por aqui. De jeito nenhum.
Oh, oi cara (insira um sorriso enigmático aqui). Você veio ver as lutas?
Você viu Jameson Rayne acabar com Ben Farminger no primeiro round?
Louco, não?
Ou...
Oi, Zet. O que traz você ao Markets nessa noite agradável? Não
consegue dormir?
~ 53 ~
mão parada sobre o volante, a outra sobre a alavanca de troca de marcha.
Ele não olha para mim. Ele não diz uma palavra.
Ele sabe.
Eu exalo, deixando minha cabeça cair para a frente, meu queixo quase
batendo no peito. Zeth liga o motor do Camaro, e eu sei o que ele espera de
mim. Foda-se Lowell. Foda-se esse dia todo. Foda-se a minha maldita vida.
Eu dou a volta e sento ao lado dele; Zeth acelera assim que minha bunda
encosta no banco e a porta está fechada. O interior do carro tem cheiro de
limão e sabão para couro, como se ele tivesse acabado de ser lavado.
~ 54 ~
Capítulo Oito
ZETH
Há somente algumas regras pelas quais eu vivo. Posso contá-las nos
dedos de uma mão. Primeira: se você matar um homem, tenha certeza de
que ele está morto antes de se livrar do corpo. Segunda: sempre confira cada
cômodo para potenciais ameaças quando entrar em uma casa vazia.
Terceira: se algo parece bom demais para ser verdade, definitivamente é
perigoso. Última e quarta: nunca entregue alguém, por mais fodidamente
terrível que ele for. Jamais.
Nunca foi uma opção entregar Charlie Holsan para a polícia. Eu nunca
considerei entregá-lo para os garotos de azul de Seattle e deixar que eles
fizessem o seu trabalho. Eles poderiam tê-lo processado, finalmente fazendo
ele pagar por todas as terríveis atrocidades que cometeu durante a vida,
acabando com ele para sempre. Holsan poderia ter vivido cada respiração
que ainda lhe sobrava no corpo atrás das grades, sua liberdade arrancada
até que ele finalmente morresse dentro de uma cela fria, com os ossos
doendo, agonizando de artrite. Mas eu não podia dar a eles as informações
necessárias para que isso acontecesse. Porra, não. É apenas como as coisas
são.
~ 55 ~
encarar isso: eu ainda estou totalmente puto da cara com ele. Estou tão
furioso que poderia facilmente perder o controle e quebrar o seu pescoço.
Michael sorri para ele, colocando uma mão no seu ombro. — Melhor a
gente entrar, hm? — ele parece um pouco triste – o filho da puta deveria
estar do meu lado, não sentindo pena do cara que estava dando informações
para a mulher determinada a destruir nossas vidas. Eu atiro a ele um olhar
sombrio, e Michael apenas dá de ombros. Ele não se arrepende nem um
pouco. Que ótimo braço direito ele vai ser essa noite. Eu os sigo para dentro
do armazém, puxando a pesada porta ao passar e trancando-a, e então faço
meu caminho até a sala de estar, onde encontro Sloane sentada no sofá, com
as mãos unidas, seu rosto branco como papel.
— Eu ameacei fazer isso. Mas então Sloane apontou muito bem o que
você faria comigo se eu colocasse as mãos nela, e eu decidi deixar ela fazer
suas próprias escolhas.
Não tenho nada a dizer sobre isso. Justo, eu teria arrancando pedaço
por pedaço de Michael se ele tivesse colocado as mãos em Sloane. Mas,
~ 56 ~
ainda assim. É fodidamente inacreditável que ele tenha deixado ela entrar e
se acomodar no sofá, sabendo o que estava prestes a acontecer com o garoto.
— Você não pode ficar irritado com Michael, — Sloane diz. Sua voz é
fria, puro gelo. Ela está brava comigo – posso ver nos seus olhos. Eu não
preciso ouvir ela dizer as palavras, mas ela diz mesmo assim. — Você nunca
deveria ter escondido isso de mim. Eu deveria ter sabido sobre Lowell desde
o começo.
~ 57 ~
algumas semanas atrás e um corpo foi desenterrado. Quando a perícia fez a
sua mágica, descobriram uma digital parcial que pertencia a Zeth. Isso é
tudo que eu sei.
Mas nós não contamos com o rio fazendo a terra ceder, no entanto.
Não havia como prever que as tempestades que assolaram Seattle
recentemente poderiam desenterrar seu corpo, violando seu último lugar de
descanso.
***
SLOANE
Eu já vi Zeth irritado antes, vezes demais para contar, mas dessa vez é
diferente. Dessa vez sua raiva está misturada com uma dor que ele
geralmente tenta empurrar para baixo e esquecer, mas agora está sendo
obrigado a encará-la, e isso é mais do que ele consegue lidar. Meu lindo,
selvagem Zeth. Ainda tão rasgado pela dor da perda que não consegue nem
dizer o nome da sua irmã. Eu ainda estou brava com ele, sim, mas também
estou doendo muito por ele agora.
— Sem dúvidas eles acharam mais do que uma digital parcial nela, —
Michael diz de algum lugar ao longe. — Nós todos a tocamos. Cada um de
nós ajudou a baixar o corpo para dentro da cova.
~ 58 ~
ainda gritante da sua morte recente. Nem mesmo eu, que a conheci por tão
pouco tempo. Eu a amava, no entanto. Era impossível não amar. A
indignidade do seu corpo ser desenterrado por um labrador é significativa;
parece que nós a desrespeitamos da pior maneira, permitindo que seus
restos agora também sejam cutucados e revirados por uma equipe forense.
Mason diz, — Ela disse que tem homicídios marcados nessa área. Ela
pensa que eles estão ligados a uma gangue de motoqueiros do Novo México
que trafica maconha.
— Eu não sei, cara. Eu tinha que dizer alguma coisa. Ela está
convencida de que algo ilegal acontece na academia, que você pode estar
traficando drogas ou armas por lá. Ela me disse para espionar sempre que
pudesse, e contar para ela de qualquer reunião que você participasse.
~ 59 ~
melhor do que costumava ser. O muro que existe entre ele e o resto da
sociedade foi um pouco destruído agora; é estranho e desagradável ver ele
voltar ao que era com tanta facilidade.
— Eu disse a ela a verdade – que você não tem reuniões lá. Mas ela
não acreditou em mim. Ela queria que eu ficasse até mais tarde. Fosse lá
todos os dias. Ela sabia quando eu não aparecia. Foi por isso que ela me
ligou hoje. Ela sabia que eu estava no hospital, e não na academia.
Mason esfrega o queixo com a ponta dos dedos. — Como eu vou saber,
porra. Ela vai saber que eu não estou na academia, e com toda certeza ela
vai saber que não estou com Millie. Ela provavelmente vai pensar que você
descobriu tudo e está prestes a acabar com a minha raça, — ele diz, olhando
acusadoramente para Zeth.
Deus, se ele está tentando cair nas graças desse homem, está fazendo
um péssimo trabalho. Ele tem um ponto, no entanto. — Por que você não
leva Mason de volta para o hospital? — não tenho razão para acreditar que
Zeth vai me ouvir, ele raramente ouve, mas vai ser melhor para todos os
envolvidos se ele fizer isso dessa vez. — Lowell não espera que você deixe
Mason ir caso você descubra que ele estava te espionando para ela. Ela
espera que você o machuque e o faça desaparecer. Leve ele de volta para o
hospital e ela não vai mais ser aquela que sabe de tudo.
— E ter ele indo até a academia todos os dias? Perto de você e da porra
da minha namorada? Eu acho que não.
— E daí? Você vai matar ele? Bem aqui na minha frente? Você não
está nem ao menos considerando poupar a vida de um garoto estúpido? Ele
só estava protegendo a irmã, Zeth.
— Foi você quem me contou o que ele tinha feito, Sloane. Foi você que
me ligou no momento em que ouviu ele falando com a Lowell.
~ 60 ~
problema novo. Você já sabia há algum tempo. E eu nunca quis que você o
machucasse, Zeth, — tomo uma respiração profunda, sabendo que meu
próximo argumento vai convencê-lo de vez ou deixá-lo ainda mais irritado.
Mas eu tenho que dizer isso. Eu não quero Mason morto, seus pedaços
flutuando no Sound só porque ele teve o azar de ser jogado dentro do nosso
pesadelo sem ter nenhuma escolha sobre o assunto. — Pense nisso, — eu
digo. — Pense de verdade no que você teria feito por Lacey, Zeth. Você não
teria feito um pacto com o diabo para manter ela a salvo? O que você faria
agora para trazer ela de volta? Você negociaria com Lowell. Você negociaria
com qualquer um, e sabe disso. Então deixe Mason ir. Deixe ele cuidar da
sua irmã, e nós vamos cuidar da questão Lowell. É o melhor. É o melhor
para todos nós.
Zeth olha para a parede. Especificamente, ele olha para uma pequena
foto emoldurada de caminho à beira-mar que aparentemente não tem nada a
ver com Seattle. Eu já pensei muito nessa foto; há outras imagens nas
paredes do armazém, mas elas todas são obras de arte contemporâneas.
Respingos e recortes de cor, correndo uns para os outros, se sobrepondo e
contradizendo. Essa fotografia, cheia de uma multidão enchendo o calçadão,
vendedores de cachorro-quente, uma arcada no fundo, sinais de neon acesos
apesar do azul pálido no céu, é o único objeto sentimental por aqui. Zeth
desvia o olhar.
— Lowell não vai apenas parar de ligar para ele, — ele diz. — Ela não
vai esquecer que ele é a sua fonte. Não é tão simples assim deixar ele ir
embora para cuidar da irmã, Sloane.
— Então, droga, eu não sei. Por que não diz a ele o que você quer que
ele diga a ela? Assim ela pensa que está sabendo do que precisa, e Mason
fica limpo. Existe um jeito de contornar essa situação sem ninguém morrer.
~ 61 ~
Ele estala o dedo indicador, então o dedo médio, e para. — Certo.
Isso é tudo que ele diz. Estou esperando que ele continue com uma
lista de advertências, assim como uma série de ameaças que faria o mais
durão dos criminosos tremer. Mas ele diz apenas isso. Ele quer ir embora;
posso ver o quanto ele quer esmagar o punho em alguma coisa agora, e ele
sem dúvida acha que teve sua oportunidade roubada. Mason, lenta e
cautelosamente, fica de pé. — Então eu posso ir?
Zeth grunhe. Ele vira a cabeça na direção da porra, seu rosto duro e
inexpressivo. — É melhor você ir logo, antes que eu mude de ideia, porra.
— Ele não deveria ter ideia de nada disso. Ele deveria apenas se capaz
de cuidar da família dele e ir trabalhar. Em vez disso, tem que lidar com
Denise Lowell, e só porque ele é um alvo fácil. Ela sabe que ele tem acesso a
você, e ela sabe que pode manipulá-lo. Você acha que isso é justo?
~ 62 ~
bolas de futebol e pessoas que trabalham com caridade ganhariam na loteria
toda maldita semana. Mason tem sorte. Se eu fosse Charlie Holsan, ele
nunca teria saído andando daqui. Ele teria cortado a sua garganta e dois
caras iam cuidar de queimar as suas digitais e arrancar a porra dos seus
molares da boca, — ele não fica para ouvir o que eu tenho a dizer sobre isso.
Ele vai embora, desaparece, rosnando sombriamente.
~ 63 ~
Capítulo Nove
SLOANE
A luz da manhã atravessa a vasta extensão de vidro que forma a
parede direita do meu quarto. A quilômetros de distância, Seattle é uma
fraca forma azul no horizonte, cercada pelo cinza metálico da água.
Provavelmente é cedo, cinco e meia, talvez seis da manhã, e eu sou acordada
por uma vontade louca de fazer xixi.
Chego ao banheiro bem a tempo. Parece que minha bexiga está prestes
a explodir, assim como a minha cabeça. Cara, eu me sinto péssima. Me sinto
pior do que quando estava sofrendo com o vírus da gripe que agora assola o
St. Peter. Assim, quando tento me levantar, o banheiro parece girar
loucamente e, sem aviso, meu estômago revira. — Merda, — eu caio no chão,
conseguindo jogar meu cabelo para o lado bem a tempo antes de começar a
vomitar, as torradas de cream cheese que foram meu jantar ontem à noite
fazendo um desagradável retorno, salpicando no vaso sanitário.
Deus, por favor, não. Por favor, não fica que eu consegui pegar uma
outra variação dessa coisa. Eu fico ali, pairando sobre a porcelana,
esperando, gastando tempo, só para o caso de não ter acabado e começar a
vomitar novamente. Mas isso não acontece. Os músculos do meu estômago
se contraem, reclamando amargamente enquanto eu fico de pé, mas me
sinto um pouco melhor. Pode não ter sido nada demais, no fim das contas.
Eu posso não ter pego outra gripe, que voltou vingativa para me morder o
traseiro. Os antibióticos que tomei para uma infecção no peito pareciam ter
deixado tudo bem. Mais provável é que o cream cheese guardado há
~ 64 ~
semanas na geladeira acabou estragando. Faço uma nota mental para
limpar toda a geladeira nos próximos dias, enquanto volto para o quarto e
me atiro na cama. Hoje eu tenho que trabalho, mas meu turno só começa de
tarde. Melhor descansar e dormir o máximo que posso antes que a loucura
do St. Peter comece. É sexta-feira – a sala da emergência vai estar cheia de
bêbados e condenados, e eu vou precisar de toda minha força para conseguir
virar a noite.
Falando no diabo...
~ 65 ~
Zeth entra no quarto. Eu o ouço colocar algo na mesa de cabeceira do
seu lado da cama, e então algo do meu lado também. O rico cheiro de café
desperta os meus sentidos. — Oi, — ele me toca, colocando a mão
delicadamente no meu ombro nu. — Você é tão ruim nisso, sabia, — eu abro
um olho e olho para ele. Há um pequeno sorriso em seu rosto. — Você
aperta demais os olhos. Pude dizer que você estava acordada assim que
entrei aqui.
— Não.
Ele não menciona a noite passada, ou o fato de que Mason agora está
por aí, perfeitamente capaz de contar a Lowell de que nós sabemos que ela
está o usando como informante, e há pouco que podemos fazer sobre isso.
Ou que isso é minha culpa. Ele se senta na beira da cama, me olhando
enquanto eu tomo meu café, como um artista que estuda o objeto que está
pintando, sem esperar que eu diga algo ou comente o fato de que ele está me
observando. Ele quer ser um observador externo nesse momento. Ele quer
fingir que não está aqui, que de alguma forma ele consegue espreitar esse
momento em que estou relaxada na cama, tomando meu tempo para acordar
totalmente, o cabelo por todos os lados, linhas estranhas dos travesseiros
marcando meu pescoço e meu ombro.
— Esperar o quê?
~ 66 ~
você ir embora, e então ia atrás dele outra vez. Pensei nisso por um longo
tempo.
Gelo enche o meu estômago. — Oh? E... você fez isso? Você foi atrás
dele? — é melhor que ele não diga sim. Eu vou perder a porra da cabeça se
ele disser. Eu pedi a ele especificamente para não fazer isso. Não podia ter
sido mais clara – eu não queria o garoto morto e boiando nas docas,
independentemente do que ele possa ou não ter feito.
— Que bom. Porque eu teria feito isso. Eu teria te dado uma surra tão
grande que você não seria capaz de sentar por um ano.
— Mas não deveria. Isso deveria te inspirar medo e pânico, coisas que
você nunca sentiu antes.
— Fico feliz que você não quebrou sua palavra, — eu digo a ele.
— Eu também.
— Me prometa que você não vai fazer isso? Me prometa que não vai
fazer nada imprudente?
~ 67 ~
Ele parece contrariado com isso, mas acena a cabeça uma vez em um
movimento para baixo – tão bom quanto um juramento de sangue quando se
trata do meu homem.
— E prometa que você não vai matar Mason nas próximas semanas.
Aquela garotinha precisa do irmão.
— Nos primeiros dez minutos nós vamos tirar as suas roupas, garota
zangada. Eu vou te torturar enquanto tiro esse seu ridículo pijama com
estampa de abacaxis, — ele aproxima seu rosto do meu, suas sobrancelhas
levemente unidas. Tenho que lutar comigo mesma para não apertar meus
dentes no seu lábio inferior cheio. Droga, ele é tão sexy. — Abacaxis, Sloane?
Você está tentando me dizer alguma coisa?
~ 69 ~
A risada de Zeth vem mais alta. De alguma forma, parece mais
perversa também. — Ah querida, garota zangada. Eu pensei que já tinha
acabado com esse seu lado pudico. Parece que me enganei.
— Cada vez que você protesta, eu coloco mais três minutos para essa
área do seu corpo, — ele me informa. Sua expressão é séria, seu tom de voz
é firme e profundo. Ele não está mais rindo, o que me diz que é melhor eu
ficar quieta ou aceitar que ele vai me fazer contorcer contra a sua boca por
meia hora. Mas ele não vai realmente fazer isso. Ele não faria, não é?
Nunca na vida eu fui o tipo de pessoa que morde o lábio. Toda vez que
vejo uma mulher fazer isso nos filmes, quero socar a maldita tela e gritar
para a garota manter a compostura. Mas agora? Se eu fosse uma mordedora
de lábio, nesse momento eu estaria bem perto de arrancar a coisa fora com
os dentes. Balanço a cabeça, um pouco intimidada demais para falar.
Zeth tem uma expressão sombria que faz os cabelos na minha nuca se
levantarem. — Bem, — ele diz. — Eu vou querer você na cama, Sloane.
Deitada de costas. A sua cabeça vai ficar pendurada para fora da borda da
cama e eu vou vir sobre você. E você vai abrir a boca para mim, — ele libera
uma das suas mãos, agarrando meus dois punhos com facilidade, então
passa a ponta dos dedos levemente sobre os meus lábios. Ele empurra o
dedo indicador entre eles, me obrigando a abrir a boca. Seu dedo entra pela
abertura, roçando nos meus dentes e na minha língua. Ele abre ainda mais
minha boca, cantarolando para si mesmo, os olhos fixos no que está
fazendo. Ele parece fascinado, como se já estivesse colocando seus planos
em prática e pudesse se sentir muito bem desde agora.
— Eu vou entrar aqui, garota zangada. Vou foder a sua boca até você
não aguentar mais. Você vai me sentir entrar todo até a garganta, e vai amar
isso.
~ 70 ~
Eu pressiono minhas pernas juntas, os músculos das minhas coxas se
apertando. Parece errado admitir que eu acredito nele, que eu vou amar isso,
mas sei que é verdade. Suas mãos no meu cabelo, puxando cada vez mais
forte enquanto ele cresce duro na minha boca; a maneira como suas pernas
se travam quando ele estremece, perto de gozar; a forma como sua
respiração sai ofegante e intensa – todas essas coisas me deixam louca
quando eu chupo ele. E quando ele é um pouco mais áspero... Deus, eu não
sei o que há de errado comigo. Eu já estou pronta para pular e fazer isso. Eu
quero ele. Não, eu preciso dele.
Meu desejo de escalar ele como uma árvore é feroz. Eu quero agarrar a
borda da sua camiseta, fazer um punhado de tecido em minhas mãos e
arrancá-la pela sua cabeça, mas Zeth ainda está me segurando firme pelos
punhos. Eles estão presos acima da minha cabeça, muito longe da sua pele
macia, sólida e deliciosa, e isso é quase demais para suportar.
Jesus Cristo. Eu sou uma causa perdida. Não há o que fazer comigo.
Nunca mais vou ser a mesma. — Sim, — eu digo a ele. — Eu quero que você
goze na minha boca. Por favor, Zeth. Por favor.
E eu sou a boa garota dele. Desde quando tive idade o suficiente para
pensar nisso, fiz um esforço consciente para nunca me avaliar pelo que os
outros pensam de mim, particularmente se a sua aprovação for o assunto
em questão. Eu nunca quis isso. Eu nunca precisei. Nem mesmo com meus
pais. Eu sempre quis me deixar orgulhosa, trabalhei duro para mim, para
conquistar o melhor para mim. Mas esse homem... merda, eu nem por onde
começar quando tento analisar como ele me fez sentir. Me traz um prazer tão
grande e imensurável fazer ele feliz. Quando ele me diz que está satisfeito
comigo, isso me deixa tão orgulhosa que quase me sinto envergonhada. Eu
vivo para isso, no entanto. Desejo isso como uma droga. Não sacrificaria isso
por nada no mundo.
~ 71 ~
vou gozar na sua boca, mas ainda vou estar duro por você. Quando eu
acabar aqui, ainda vamos ter trinta e cinco minutos. Você sabe o que eu vou
fazer então, Sloane?
~ 72 ~
Capítulo Dez
MASON
CINCO DIAS DEPOIS
— Eu quero levar ela para casa. Ela está super entediada aqui. E ela já
está bem faz dias. Está na hora, — eu me inclino contra a parede do
elevador, expondo a situação para Sloane. Não, o tratamento extra que Millie
está recebendo não está custando nada, e sim, eu com certeza sou muito
grato, mas porra! Eu quero ficar o mais longe possível de Zeth & Sua
Namorada (essa teria sido uma informação valiosa de ter). Eu devo minha
vida a Sloane; já devo a ela mais do que antes, quando ela me ajudou com
Millie. Ninguém mais teria feito o que ela fez pela minha irmã. Não posso
aguentar dever a ela mais nada.
— Qual o problema de deixar ela aqui mais uns dias? — ela pergunta.
Ver ela aqui é muito diferente de vê-la fora do hospital. Aqui ela é o epítome
da calma e eficiência, quase ao ponto de parecer mecânica. Como se nada a
abalasse. Quando eu a vi com Zeth no armazém, ela estava frustrada e feroz.
É difícil de imaginar ela daquele jeito agora, enquanto ela olha os gráficos de
Millie. — O seu padrão de sono está irregular. Ela está reclamando de dor de
estômago algumas vezes ao dia. Essas coisas podem ser sintomas silenciosos
de algo mais sério.
— Sério?
Romera para de andar. — Ok. Leve ela para casa. Mas você me liga no
momento em que notar algo de diferente nela, entendeu? Dia ou noite. Não
~ 73 ~
importa, — ela me entrega um cartão com seu nome, daquele tipo que os
médicos costumam ter, uma sequência de letras ininteligíveis amontoadas
juntas no final dos seus nomes. Eu o coloco no bolso, sorrindo. — Obrigado,
doutora. Eu vou fazer isso, prometo.
Eu balanço a cabeça.
— Então acho que vamos nos ver por aí. Mas espero que não muito em
breve.
***
Wanda está tão feliz de ver Millie parada na sua porta que se recusa a
aceitar a nota amassada de dez dólares que tento dar a ela. — Eu já te disse
mil vezes, garoto. Essa menina é bem-vinda aqui a qualquer hora. Se eu
estiver em casa, ela pode vir brincar com Brandy sempre que quiser.
Eu me sinto um lixo; depois de lutar tanto para trazer Millie para casa,
eu deveria passar a noite com ela, mas preciso ir trabalhar. Preciso
conseguir dinheiro.
~ 74 ~
Wanda balança a cabeça, fechando minha mão ao redor da nota de
dinheiro que ainda estou tentando entregar a ela. — Isso não é um
problema, Mason. Eu fico com ela, não se preocupe. Eu vou preparar algo
para ela comer e lhe dar banho. Agora saia daqui antes que você se atrase.
Já passa das oito.
Ela é sempre ótima, mas ainda assim Millie acena com a cabeça de
maneira obediente. Ela não entra no apartamento de Wanda até que eu ande
pelo corredor e desapareça de vista.
Merda.
~ 75 ~
embalagens de comida ou latas de refrigerante. Tudo está perfeitamente
limpo.
— Você acha que eu estou brincando, porra? — Mac cospe. Pela veia
saltando no meio da sua testa e pelo suor escorrendo pela lateral do seu
rosto, posso ver que hoje é um péssimo dia para chegar atrasado.
— Então por que caralho você acha que não tem problema em chegar
atrasado? DE NOVO?
Ele levanta uma mão. — Nem sequer pense em terminar essa frase. Eu
sei que a sua irmã está doente. Eu sei que você tem muita coisa para lidar,
Mason, eu sei, mas assim é com todos os filhos da puta do planeta. Estou
tentando gerenciar um negócio aqui. Dê um jeito nessa merda, ou você vai
ter que ir procurar outro emprego. Estamos entendidos?
~ 76 ~
Mais tarde, depois do almoço (que eu simplesmente pulei para
continuar trabalhando), uma Hyundai batida e familiar para do lado de fora
da oficina, e eu imediatamente sei que isso significa problema. Eu consertei
esse carro algumas semanas atrás. Não apenas isso, tive o prazer de levá-lo
até a sua dona na Universidade de Seattle.
Kaya.
— Nem eu. Se o meu chefe ver você aqui, falando comigo, eu vou ser
jogado no olho da rua.
— Eu adoraria te ouvir. Ficar por aí, jogar conversa fora enquanto você
me conta do seu dia parece maravilhoso, mas se Mac me pegar socializando
no horário de trabalho, eu vou ter que juntar as minhas coisas e ir embora.
Nós podemos conversar mais tarde?
~ 77 ~
— Essa noite?
E ela vai.
~ 78 ~
Capítulo Onze
SLOANE
Você nunca se acostuma com cheiro de vômito, mesmo quando é o seu
próprio. Eu deveria estar em uma consulta de revisão em trinta minutos,
então posso ser liberada para voltar a operar, mas não há nenhuma chance
de isso acontecer hoje. Eu estou colocando as tripas para fora desde a hora
do almoço, e não parece que vou parar logo. Agarro uma garrafa de Gatorade
azul na minha frente e coloco um pouco de liquido na boca antes de
bochechar e cuspir na pia.
Eu sei que ele está certo, mas droga. Eu realmente não quero ficar em
quarentena domiciliar. Eu não sou boa em ficar doente. Não sei o significado
de ficar de repouso. Eu vou acabar esvaziando a geladeira, limpando a casa
como uma mulher louca ou queimando todos os arbustos mortos do pátio de
trás. Eu provavelmente começaria um incêndio florestal. — Não ouse me
denunciar, Oliver Masssy, — eu digo. — Eu nunca vou te perdoar. Eu juro
que vou me cuidar. Vou cuidar da papelada lá em cima ou algo assim. Eu
prometo que não vou infectar ninguém.
~ 79 ~
Ele me olha com descrença. — Está bem. Mas eu vou te colocar uma
intravenosa antes de você ir a qualquer lugar, ok? Você parece como merda
de cachorro.
— Nossa. Obrigada.
— Eca. Não.
— Oh não.
— Não.
— Não.
~ 80 ~
— Fez alguma cirurgia recente?
— Não.
— Não.
— Não.
— Estou feliz porque Alex vai sair da UTI hoje. Ele finalmente foi
liberado, — ele diz. — Contanto que nenhuma infecção secundária esteve se
espalhando por trás dos panos, é só uma questão de recuperação e
fisioterapia agora.
— Droga, Oliver, eu fico tão aliviada de ouvir isso. Estou muito feliz
por você.
~ 81 ~
— Sim, eu também. Obrigado, Romera. E obrigado por ter me ajudado
com ele na operação, em primeiro lugar. Agora fique boa logo para a gente
curar mais pessoas, sim?
— Os colegas de trabalho de Alex vai passar aqui mais tarde. Eles não
conseguiram vê-lo direito ainda. Acho que mencionaram algo sobre trazer
cervejas e sanduiches de carne e queixo, mas acho que você não vai poder
comer.
Eu penso em Alex Massey então. Penso em como ele tem sorte de sair
andando do St. Peter dentro de algumas semanas. Isso podia facilmente ter
tomado outra direção. Ele podia ter morrido na cirurgia. Uma infecção podia
ter se espalhado, uma bactéria o comendo de dentro para fora. Ele estava
usando um número muito grande de antivirais e analgésicos fortes e
bastante perigosos. Eles podiam ter se misturado e, dependendo da pessoa,
cada um para um lado e os antivirais perdem o efeito. Tantas coisas podiam
ter dado errado. Tantas coisas podiam ter...
Oh, Deus.
~ 82 ~
podiam fazer outros perderem o seu efeito. Eu... merda, como eu pude ser
tão estúpida? Como eu não pensei nisso nem por um segundo?
***
O quarto número sete não foi feito para acomodar doze bombeiros
bêbados, mas ainda assim Oliver conseguiu, de alguma forma, apertar todos
lá dentro. Alex Massey é um caso especial, mas ele não é tão especial para
garantir um quarto todo só para si. Ele tem como companhia uma senhora
de noventa e quatro anos, que está se recuperando da terceira cirurgia no
coração. Muito longe de estar incomodada pela agitação, Cynthia May
Allerdyce, com péssima audição e crises de peito detestáveis, está totalmente
apreciando o show que os bombeiros estão lhe dando. Esses caras poderiam
facilmente fazer uma ponta em Magic Mike, e eles sabem disso. Eles estão se
divertindo muito, e deixam Cynthia passar sua mão cheia de artrite nos seus
peitos e abdomens definidos. Alguns dos caras não são assim tão sarados,
alguns deles até têm uma protuberância na barriga, mas eles ainda são os
piores. Pobre Cynthia, fica toda vermelha enquanto conversa com os
bombeiros, batendo nos seus ombros e lhes dizendo como são bons garotos.
~ 83 ~
— Que pena. Ele é bonito, um colírio para os olhos, não? — ela tem o
sotaque sulista mais encantador. Aposto que ela foi uma beleza do Sul nos
seus tempos áureos. Eu aperto sua mão.
— Ele é tão bonito quanto esse? — ela diz as palavras como se já não
acreditasse que fosse verdade.
— Ele é sim. Ele é homem mais lindo que já andou na face da Terra.
Eu rio, dando tapinhas na sua mão. Sua pele é tão final, como a asa
de uma mariposa. — Meu namorado é maravilhoso, acredite. Ainda assim,
acho que você tem razão. Algumas pessoas podem achar difícil amar ele.
— Uhum. Bem, se você diz, eu reconheço uma boa alma quando vejo
uma, e ele tem a melhor de todas ao seu lado. Espero que ele cuide bem de
você, criança.
~ 84 ~
Oliver e Alex sorriem para mim quando eu me aproximo deles. Os dois
têm os mesmos olhos afiados, os traços angulosos, o cabelo loiro mel que se
enrola um pouco ao redor das orelhas. Quando eles estão separados, eu
nunca diria que eles se parecem muito com o outro, seus maneirismos
marcando a sua diferença, e ainda assim quando eles estão lado a lado não
há como duvidar dos seus laços de sangue.
Alex acena como se eu tivesse falado uma bobagem, como se sua vida
não estivesse mais em risco. — Não posso esperar para voltar ao trabalho, —
ele diz. — Essas quatro paredes já estão começando a me deixar louco. E
esses idiotas não vão parar de me chamar de preguiçoso, também. Eu
preciso voltar ao jogo, mostrar a eles como se fez.
— Que seja, cara. Você só está com inveja que eu passo o dia todo
aqui com as médicas gostosas.
— Opa. Você não tem permissão para fazer isso, Srta. Cynthia. Você
acabou de passar por uma cirurgia de coração.
~ 85 ~
— Receio que você precise se abster de qualquer atividade física
extenuante por um tempo. O seu médico vai lhe dar uma liberação quando
achar que você está bem o bastante para lidar com a... excitação.
Cynthia se volta outra vez para o bombeiro. — Você acha que pode
voltar para me visitar em algumas semanas, gostosão?
~ 86 ~
Capítulo Doze
ZETH
A coisa sobre promessas é que elas geralmente são muito
inconvenientes e difíceis de manter. Eu jurei que não ia acabar com Mason
pelo que ele fez, mas eu me pergunto quão puta Sloane ficaria se eu desse ao
garoto uma leve surra? Um gentil chute na bunda? Apenas um pequeno olho
roxo? Me parece injusto que seja obrigado a vê-lo sair andando por aí
completamente inteiro. Sério, se há alguma justiça nesse mundo, eu vou
ganhar o direito de lhe dar uma boa lição em algum momento.
~ 87 ~
Eu me movo casualmente para a pista da direita, diminuindo a
velocidade. Lá na frente a placa de Hunt’s Point 5 se aproximando
rapidamente. Eu ligo a seta e me dirijo para a rampa de saída, observando
pelo espelho retrovisor quando o Denali, dois carros atrás, me segue. Só há
um carro entre nós agora. Meu cérebro gira no piloto automático, seguindo
por um caminho de ruas tranquilas, árvores frondosas, grandes mansões,
jardineiros mexicanos com chapéus puxados para baixo sobre as orelhas,
crianças em carrinhos, cachorros passeando, e o Denali segue.
Porra, ela tem que saber que eu já a descobri agora. Não há como ela
pensar que eu não a notei, praticamente estourando meu cano do
escapamento. Ela deveria ser muito melhor do que isso. Olho pelo espelho
retrovisor e fico chocado quando percebo para onde estou dirigindo. A velha
casa onde eu cresci se agiganta no fim da estrada, acomodada entre
pinheiros de oito metros de altura e outras árvores. O canto da quadra de
basquete nos fundos é visível quando rolo o Camaro ao lado da calçada. Os
cabelos na minha nuca se levantam.
Eu não fiz um plano em que decidi que nunca mais voltaria a essa
casa. Um plano como esse não parecia necessário. Por que diabos eu voltaria
à casa de Charlie? Ao lugar onde eu lutei com demônios todas as noites. Ao
lugar onde os pesadelos eram reais, tangíveis, coisas cruéis que te
assombrariam no momento em que você fechasse os olhos.
5É uma cidade na região metropolitana de Seattle, mas tão pequena que parece um bairro
da cidade, cheio de casas de luxo.
~ 88 ~
surpreso? Posso vê-la no banco de trás do carro, latindo ordens para que o
seu pequeno servo do DEA obedeça todos seus comandos. Só estou
esperando que a vadia saia do carro, tão fria quanto alguém pode ser, pronta
para ameaçar me prender por causar danos à propriedade do governo,
quando o inconfundível cano de uma arma polida aparece pela janela
quebrada.
Os agentes do DEA não saem por aí atirando sem motivo, mas então,
eu dei um motivo. Eu sou hostil; acabei de atacar o seu carro. Seria tão fácil
para eles escaparem depois de terem me cravado de balas e terem me
deixado sangrando aqui no concreto.
Eu odeio fazer o que esse cara quer, mas também não quero levar uma
bala na cara hoje. Dou um passo para longe da janela. Onde diabos está
minha arma? Como, em nome de Deus, eu saí do Camaro sem essa
porcaria? Acho que se eu for baleado e morrer agora, vai ser uma grande
lição de merca para mim. Mais vidro tilinta na calçada quando o motorista
tenta abrir a sua janela, que parece emperrada. Um longo momento se
passa, no qual o idiota do veículo joga seu peso contra a porta até finalmente
conseguir abri-la. Ele desce do carro, ainda segurando a arma em uma mão
enquanto a outra varre fragmentos de vidro do seu colo.
Eu não digo nada. Não quero perder a cabeça cedo demais. Se ele
mencionar Sloane outra vez, não vou ser capaz de me parar, mas nesse meio
tempo preciso descobrir que porra está acontecendo aqui. — Por que diabos
você está me seguindo? — eu rosno.
~ 90 ~
me ameaçaria se só quisesse conversar. O cara escova o cabelo para trás,
achatando a parte na qual escapou o produto oleoso que ele colocou ali, e
está pendurada sobre o seu rosto.
— Meu nome é Milo Barbieri. Duvido que você já tenha ouvido falar de
mim, — ele diz isso como uma piada, no entanto, como se eu devesse saber
exatamente quem ele é. Eu já ouvi o seu último nome, é claro, mas Milo?
Ele não é um dos filhos de Roberto. Nem um sobrinho. Ele deve ser um
parente distante ou algo assim. Alguém sem nenhuma importância na
hierarquia que eles mandaram atravessar o país para me ver. Estou
lisonjeado, porra.
~ 91 ~
— Correto. Ele ligou para você não faz muito tempo, oferecendo uma
espécie de aliança. Você foi muito grosseiro com ele, Sr. Mayfair. Muito
grosseiro muito.
— O Sr. Barbieri não o ameaçou, Zeth. Ele apenas pediu que você
juntasse forças com ele. Ele lhe ofereceu um ótimo acordo, se eu me lembro
bem. Toda Seattle em troca da sua obediência. É mais do que ele jamais
ofereceu a alguém.
~ 92 ~
me mandou embora? Isso não vai acontecer, grandão. Uma coisa é ser
grosseiro com o meu chefe ao telefone. Mas ser grosseiro com um enviado?
Isso vai irritá-lo além da conta.
— Droga. Agora eu me sinto mal. Quão irritado ele vai ficar quando vir
o que eu fiz com o seu rosto?
Eu quero descobrir por mim mesmo. Para ser justo com esse cara, seja
lá quem ele for, tem culhões. Nós estamos no meio do dia, em um bairro que
não é conhecido por ser violento. Ele está ali parado como se não tivesse
uma preocupação no mundo, balançando a arma como se fosse o jornal do
dia enrolado em sua mão. Eu não duvido por um segundo que ele vai atirar.
Não duvido por um segundo que ele tem uma boa mira; a familiaridade e
facilidade com que ele segura a sua arma me diz que ele passou um bom
tempo criando vínculos com ela. Mas eu também acho que ele me
subestimou. Veja, eu sou um cara grande pra caralho. Eu sou alto e largo,
grande como a porra de um tanque. Caras como esses italianos de altura
mediana e peito estreito olham para mim uma vez e veem uma enorme força
pesada que, uma vez que seja capaz de alcançá-los, vai arrancar suas
malditas cabeças fora. Eles imaginam que enquanto não me deixarem chegar
~ 93 ~
perto, estão a salvo. Mas eles não colocam na equação o fato de que eu sou
também muito rápido. Passo uma hora por dia correndo em uma maldita
esteira. É meu trabalho ser rápido, com uma tremenda agilidade nos pés,
enquanto eu jogo um cara atrás do outro através da gaiola como se fossem
bonecas de pano.
E assim, esse visitante da Big Apple está prestes a ter uma lição de
humildade. Ele nunca mais vai subestimar seus oponentes outra vez, isso é
certo.
— Por que você não toma um segundo, Sr. Mayfair? — ele diz,
mostrando os dentes em um sorriso para mim. — Pense um pouco mais
isso. Você não pode tomar de volta decisões precipitadas, você sabe.
~ 95 ~
Uma satisfação sombria me enche da ponta dos pés até a raiz dos
cabelos. Isso nunca vai curar direito. Eu não ouvi a arma do italiano bater
contra o chão em meio a todos os seus gritos, mas ela está caída na calçada,
meio jogada debaixo do Denali, apenas a ponta do cabo visível de onde eu
estou parado. Eu me abaixo e a pego, enquanto o homem na minha frente
agarra o seu braço com a mão boa. Seu rosto está branco pelo choque,
menos o nariz e a boca, que estão cobertos por um rio de sangue.
— Ele vai te matar por isso. Ele vai destruir você, porra! — o homem
grita.
— Preciso que você venha até a frente da antiga casa de Charlie e leve
o Camaro embora.
~ 97 ~
Eu conheço, de fato. Quando chego às docas, vou direto para o
escritório do capitão do porto, em vez de parar no armazém primeiro.
Encontro Jeremy Daskill, quarenta e três anos, sentado atrás de uma mesa
coberta por uma montanha de papeis e uma garrafa de uísque firmemente
segura em sua mão rechonchuda. Ele parece ter visto um fantasma quando
levanta o olhar e me encontra. É sempre assim quando eu apareço na sua
frente, pronto para pedir um favor. Alguns anos atrás, eu fiz um favor a
Jeremy. O seu cunhado tinha levado todo o dinheiro da irmã de Jeremy
embora. Ele bebeu, bateu nela e a estuprou, então a deixou para morrer aos
pés da escada. Jeremy, sendo um bom irmão, sabia que alguma precisava
ser feita com o cara, então me procurou. Eu cuidei da situação e agora,
sempre que preciso que algo desapareça em um contêiner por um tempo, ou
preciso de um saco ou dois para jogar dentro do rio, eu procuro meu amigo
Jeremy.
~ 98 ~
Capítulo Treze
MASON
Eu vejo Kaya sentada em uma cabine no canto mais afastado da
cafeteria, bebendo de um longo canudo cheio de voltas e cor de rosa. Ela
está tomando um milk-shake de chocolate, entre todas a coisas, e um copo
de metal está próximo ao seu copo de vidro alto, suando com a condensação.
Quando ela me vê entrar, o sino acima da porta soando alto para anunciar a
chegada de outro cliente, ela pega outro canudo de um repositório preso à
parede – verde, dessa vez – e o coloca no copo prateado, o empurrando pela
mesa para que ele esteja diretamente à minha frente quando me sento.
— São quase nove, — ela diz, correndo o dedo por uma poça de água
na mesa. Ela desenha uma flor. — Pensei que você não vinha mais.
— Preciso ser rápido. Minha irmã está com uma babá e a sua primeira
noite em casa depois do hospital, — eu digo a ela.
Kaya pisca para mim como uma coruja muito sábia. — Você não vai
gostar disso.
~ 99 ~
acontecendo? Por que diabos ela está me olhando do outro lado da mesa
com tanta preocupação nos olhos?
Kaya acena. — Sim. Jameson. Mas não é apenas ele. É o seu amigo
Ben, também.
Ah. Agora isso faz sentido. Ben vem se metendo em problemas desde
que somos crianças. Mas ele estava melhor nos últimos tempos. Não deveria
ser uma surpresa que o seu bom comportamento uma hora iria acabar.
— Me diga que Ben não foi tão idiota... — mas eu já sei que ele foi, ou,
do contrário, Kaya não estaria aqui me dizendo isso.
~ 100 ~
— Ele levou cinco mil para perder no primeiro round. Jameson queria
fazer parecer que ele o tinha destruído, e o seu amigo disse que precisava da
grana. Extra, se Jameson queria humilhá-lo no ringue. Então foi o que
aconteceu. E essa manhã três homens do French’s apareceram no nosso
apartamento e o arrastaram para fora da cama. Eles disseram que sabiam o
que ele e Ben tinham feito. Disseram que seria melhor se ele apenas
admitisse isso. Jameson disse que não sabia de porra nenhuma, mas eles
obviamente sabiam que ele estava mentindo. Eles tentaram lhe dar uma
surra, mas você conhece o meu irmão.
Ele lutou. Claro que sim; brigar faz parte da sua natureza. E se ele
tinha três caras se aproximando depois de ter sido rudemente acordado do
seu sono, estou imaginando que fazia parte da natureza de Jameson Rayne
arrancar a merda dos seus dentes fora. Kaya continua.
— Por que diabos você não me disse que ele estava metido nessa
merda lá na oficina? — eu estalo. Minha voz sobe, chamando a atenção da
mulher de cabelos cacheados que está olhando uma reprise de Jerry
Springer em uma velha televisão atrás do balcão. Eu sei que fui um imbecil
na mesma hora. Eu não lhe dei a chance de me dizer mais cedo. Fui
grosseiro e a mandei embora antes que ela tivesse a chance de me dizer
~ 101 ~
qualquer coisa. Kaya puxa as orelhas um pouco para trás, seus olhos se
estreitando.
— Você deveria ir atrás dele, — Kaya diz. — Esses caras não vão ficar
esperando.
Eu assinto, olhando para o meu café. Ela está certa. Ben nunca cai de
pé. Ben tem a pior sorte da porra do mundo todo.
~ 102 ~
Capítulo Catorze
SLOANE
Eu perdi o número de vezes em que estive com medo no último ano.
Não consigo lembrar de uma semana em que não tinha uma razão para ter
medo. Ok, desde que Charlie Holsan morreu e Zeth assumiu a academia, as
coisas estiveram mais tranquilas, mas mesmo essa tranquilidade foi
pontuada por períodos de pânico. Você se pergunta, quanto tempo isso vai
durar? Quanto tempo vai passar antes que algo terrível aconteça? Antes que
a morte bata na sua porta. Eu sei como as coisas funcionam; a morte não
bate. Ela invade a sua casa, invisível, sem o seu conhecimento ou
consentimento. Ela leva sem pedir, e não há absolutamente nada que você
possa fazer. Mas ainda assim, isso não lhe impede de tentar parar o
desastre. Você ainda acaba com as costas pressionadas contra a porta, os
calcanhares cravados no chão, tentando prevenir o inevitável.
Grávida?
~ 103 ~
todos porque a recompensa de amá-lo era muito maior que o medo de perdê-
lo. Mas esse pequeno bebê dentro de mim? Esse bebê não faz a menor ideia
de quem é o seu pai. Ele também não sabe quem é a sua mãe. Ele não pôde
nos escolher, assim como eu escolhi Zeth. Parece ultrajante que uma coisa
tão trágica tenha acontecido.
Meus olhos devem ter se confundido. Eu não sei quanto tempo fiquei
encostada contra a parede do banheiro, olhando para o teste de gravidez em
minhas mãos, mas quando finalmente consigo me recompor, meu ombro
está doente loucamente e meus olhos parecem muito secos, como se não
tivesse piscado em muito tempo. Eu quero chorar. Quero sair correndo até o
hospital, pegar mais três testes e então fazer todos eles, rezando enquanto
espero pelo resultado para que o primeiro, de alguma maneira, esteja errado.
Mas isso seria uma perda de tempo. Eu sei que o teste não está errado. O
corpo não mente. Como se para provar um ponto, meu estômago se revira e
eu saio correndo do banheiro e desço as escadas até a cozinha. A casa está
cheia de um silêncio opressivo, como se as paredes estivessem inspirando e
expirando há algum tempo, mas agora pararam, segurando a respiração,
esperando o que vem a seguir.
— Eu vou te dizer o que está errado, amigão. Tudo está errado, porra.
A merda está prestes a bater no ventilador, meu amiguinho peludo, e não
tenho a porra de ideia nenhum de que merda eu vou fazer, — Ernie não
entende porque eu preciso continuar dizendo palavrões sem parar; ele abre a
boca e começa a ofegar. Parece que ele está rindo. — Isso não é engraçado,
— eu digo a ele.
~ 104 ~
tente me comprar com bacon. A menor menção a um bacon gorduroso,
salgado e geralmente delicioso faz com que eu sinta a bile subindo como
uma onda pelo meu estômago. Está cada vez mais difícil o fato de que eu
não estou gripada, mas sim muito grávida.
Oh, meu Deus. O que eu vou dizer aos meus pais? Eu deveria estar
casada e acomodada com um neurocirurgião legal quando começasse uma
família. Não deveria estar vivendo em pecado com um ex assassino
profissional. Mas, nesse ponto, não importa o que os meus pais pensam. Só
importa o que uma pessoa pensa, e eu tenho quase cem por cento de certeza
que sei como ele vai reagir quando descobrir.
Ele vai perder a maldita cabeça. Não consigo imaginá-lo como pai. Não
consigo visualizar isso mesmo. Tentei não pensar em como seria quando eu
contasse a ele, porque estou com medo demais para sequer pensar nisso,
mas quando o cenário se empurrou na minha cabeça apesar de todo meu
esforço para manter isso longe, as coisas não acabaram bem. A mobília foi
destruída. Palavras de raiva foram ditas. Lágrimas foram derramadas. Eu o
imaginei me dizendo as piores coisas, sua raiva no limite, seus olhos cheios
de tristeza. Eu não consegui, por outro lado, imaginar o que ia fazer quando
Zeth perdesse a cabeça. Estou feliz que ele está horrorizado pela ideia de ter
um filho? Estou feliz que ele não quer isso? Estou aliviada por não ter que
me tornar mãe? Ou...
Se eu não estou feliz nem aliviada, isso significa que estou de coração
partido, e não suporto pensar nessa possibilidade. Eu não posso ter um
bebê. Não posso estar grávida e carregar uma criança dentro de mim. Não
estou pronta. Jamais pensei em ter uma família com Zeth, nem de uma
forma abstrata, porque tal coisa é impossível. Essa vida que vivemos já não é
segura para nós, muito menos para outro ser humano vulnerável e inocente.
Não seria justo. Isso seria cruel.
Um se...
~ 105 ~
A ideia cai pesada nos meus ombros; seja uma benção ou uma
responsabilidade, o peso é enorme. Eu só... eu apenas não sei, porra!
— Eu não vou contar a ele, — eu digo. — Não vou contar a ele de jeito
nenhum.
Ernie pisca.
~ 106 ~
tivesse visão laser e conseguisse ver através das roupas. Zeth aparece, e todo
o oxigênio deixa os meus pulmões.
~ 107 ~
Ele cobre o meu rosto com as mãos, seus dedos cobertos de sangue.
Eu posso sentir o cheiro nele, denso, metálico, esmagador. Meu estômago
revira. — Ok, garota zangada? Você parece... meio pálida, — ele diz. Eu amo
o seu olhar de preocupação. Aqueles olhos castanhos estão brilhando
enquanto ele esfrega os polegares sobre as minhas bochechas. — Você não
deveria estar no trabalho hoje?
Os lábios de Zeth se abrem. Ele vai dizer alguma coisa. Ele vai dizer
alguma coisa...
Ele me beija.
Estou tão surpresa pela pressão suave e gentil dos seus lábios nos
meus, mal fazendo contato, que sinto toda a força sendo drenada dos meus
braços e pernas. Eu me derreto nele, meu peito encontrando o seu, e ele
envolve seus braços ao meu redor, me esmagando contra ele. O ar deixa
meus pulmões em um suspiro longo. Posso sentir os lábios de Zeth se
contraírem quando ele sorri selvagemente contra mim. A ponta da sua
língua passa entre os seus dentes, traçando gentilmente sobre os meus
lábios, e então mais profundo, além dos meus dentes. É ridículo o quão
rápido meu corpo me trai. Minha cabeça gira quando ele me prende, e a
ansiedade dos últimos momentos, inferno, de toda a manhã, está
desaparecendo como se fosse fumaça.
~ 108 ~
garota zangada. Você sabe disso, não é? Os italianos estão apenas alongando
as pernas, empurrando para ver até onde eu aguento antes de reagir. Se eles
querem Seattle, podem ficar e ficar com ela. Eles não vão ter problemas
comigo. Eu já disse que estou fora. Nunca mais vou ser o capanga de
alguém. E não quero me envolver com nenhuma merda que pode me levar
para longe de você. Nada no mundo vale isso.
Então ele viu meu pânico. Mas ele o confundiu com outra coisa, no
entanto. Faz sentido que eu esteja chateada pela forma como seu dia correu
até agora; eu não o corrijo. Dou um sorriso fraco, me sentindo como se
estivesse o traindo quando me viro, alcançando embaixo da pia para pegar o
pequeno kit de primeiros socorros que guardo ali.
Zeth grunhe quando eu passo as toalhas de álcool nos cortes dos seus
dedos. Essa parte do nosso dia é praticamente rotina agora, dado a
frequência que ele machuca as mãos na academia. Mas não deixo de pensar
que em algum lugar na saída de Seattle, um contêiner está indo em direção
a Nova York com um italiano muito furioso preso dentro. Essa parte do
nosso dia é definitivamente diferente.
~ 109 ~
Capítulo Quinze
MASON
A falta de sono realmente fode com a minha agenda. Passo a noite toda
tentando localizar Ben, ligando para todos que consigo pensar, tentando
rastreá-lo, mas o bastardo desapareceu da face da Terra e ninguém parece
saber onde diabos ele está. Mas se alguém souber, não vai me dizer, de
qualquer forma. Millie teve um ataque de tosse durante que quase me matou
de susto, então passei o resto das horas escuras sentado em uma cadeira ao
lado da sua cama, observando-a dormir, observando seu pequeno peito subir
e descer, os sons suaves da sua respiração enchendo o quarto, o que explica
porque eu me sinto um maldito zumbi quando estaciono do lado de fora do
trabalho pela manhã. Eu estou no horário – o que já é um milagre por si só –
mas posso dizer que Mac ainda está irritado comigo quando desço da minha
caminhonete.
Quando chega perto, Mac bate as palmas das mãos contra o meu
peito, agarrando a minha camiseta. — Leve o seu rabo lá para os fundos, seu
vagabundo. Nós dois vamos ter uma conversinha.
~ 110 ~
pedaços de tijolo do chão e o joga no ar, pegando-o novamente com a mão
aberta. — Você teve uma visita hoje de manhã cedo, Mason. Alguém que
parecia muito interessada em te achar antes que você começasse a
trabalhar.
— Sim. Oh. Essa visitante disse que era uma amiga sua. Eu vi você
falando com ela algumas semanas atrás, aqui do lado de fora da oficina, e
você me disse que ela estava apenas querendo informações porque estava
perdida. Lembra?
— Bem, ela parece conhecer você, Mason. Ela disse que está tentando
te achar há alguns dias. Mas não teve nenhum sucesso. E ela mulher, ela
disse algo muito interessante antes de ir embora, Mason. Você quer saber o
que ela disse?
Mantenho a boca fechada. Nada que eu faça ou diga vai melhorar essa
situação. O modo de agir mais sabiamente é calar a boca e esperar para ver
o que acontecer. Mac atira o tijolo. Ele voa pelo ar e colida com a parede logo
atrás da minha cabeça, explodindo em minúsculos pedaços de cerâmica e
uma nuvem de poeira vermelha.
— Ela disse que você não estava cumprindo com a sua parte do trato.
Que você não deu a ela nada de interessante nesses últimos dias, — Mac dá
de ombros, as palmas das mãos viradas para o céu da manhã. Parece que
vai chover. Porque diabos eu estou reparando em algo tão arbitrário como o
tempo quando Mac parece prestes a arrancar minha cabeça fora não faz
sentido algum, mas não consigo evitar. — Por que caralho essa mulher
apareceria aqui, falando sobre você dar algo de interesse a ela? Me diga,
Mason, porque eu estou cheio de ideias aqui.
~ 111 ~
explode como fogos de artifício na minha cabeça quando o pedaço de
cerâmica é esmagado contra o meu ombro esquerdo.
— Seu merdinha mentiroso. Você foi informante dela esse tempo todo!
— Mac grita. — Eu continuava me perguntando, uma e outra vez, por que
diabos o garoto não aceita um trabalho extra? Por que ele não cede e aceita o
caminho mais fácil? E agora isso... isso deixou tudo muito claro. Não há
porque cruzar a linha entre o certo e o errado, pegar um trabalho extra, se
você já está trabalhando para a polícia, não é mesmo? — outro tijolo voa no
ar. Dave está parado ao lado, observando com uma satisfação sombria
enquanto Mac atira um míssil atrás do outro na minha cabeça. — Ela até
deixou o seu maldito cartão para o caso de você ter perdido o seu número,
seu vagabundo ingrato! — Mac puxa um retângulo branco do bolso de cima
da sua camisa e o joga para mim; ele cai aos meus pés, em meio a poeira e
terra, mas posso ver muito bem as letras pretas em negrito na superfície.
Denise Lowell
Por que diabos ela faria algo assim? Vir até aqui? Na oficina? Ela deve
estar furiosa comigo se pensa que me entregar para Mac, deixando-o ciente
de que estou dando informações para ela, vai me fazer cooperar com as suas
vontades. Suas ações mais provavelmente vão acabar fazendo com que eu
seja morto, porra. Lowell sabe que Mac lida com todos os tipos de merdas
ilegais quando as cortinas de ferro são abaixadas todas as noites. Os carros
roubados que foram repaginados na oficina de Mac são incontáveis. Ela tem
que saber que ele iria assumir que eu estava dando informações sobre ele se
fizesse o que fez; deveria ser seu plano o tempo todo.
~ 112 ~
— Eu não disse nada a ela sobre você, Mac. Que diabos eu poderia ter
dito? Eu não sei nada. Por favor, Mac. Apenas pense nisso, — eu
provavelmente estou gastando saliva, mas tenho que tentar. Eu sou um cara
orgulhoso. Odeio parecer fraco, odeio implorar, mas uma responsabilidade
como a que eu tenho leva um cara a fazer todo o tipo de coisas. Millie é a
única coisa que importa. Se eu não estiver aqui para cuidar dela, quem vai
fazer isso, porra? Ela vai entrar no sistema de adoção, mas que família vai
querer cuidar de uma garotinha de seis anos que vive tendo convulsões?
Nenhuma, essa é a verdade.
Mac é muitas coisas, mas inteligente não é uma delas. — Por que ela
apareceria aqui, cuspindo merda como essa, se fosse verdade? Deus, Mac!
Se eu fosse um informante, trabalhando com ela para tentar te derrubar, ela
teria acabado com o meu disfarce e arruinado toda a operação falando com
você. Ela nunca teria feito isso!
— Então você nega conhecer ela? — ele cospe. — Você nunca a viu na
sua vida toda?
— Mentira.
~ 113 ~
Eu bato a parte de trás da minha cabeça contra o muro atrás de mim,
rangendo os dentes. Como diabos vou fazer ele ver a razão? Mac pode ser
bem razoável quando está de bom humor, mas quando ele está de cabeça
quente como agora, não há bom senso que sobreviva, e só vai voltar a
aparecer bem mais tarde, quando ele se acalmar.
— Eles têm uma história, — eu digo. — Ela está atrás dele há algum
tempo. Vá lá e pergunte a ele. Pergunte a Zeth sobre ela, pelo amor de Deus.
Ele vai te dizer que é verdade.
— Ha! De jeito nenhum. Então você está dizendo que ele sabe sobre
essa vadia que quer incriminá-lo por assassinato?
Eu assinto.
~ 114 ~
Mas eu não estou ouvindo. Estou cego e surdo para tudo que não seja
o homem deitado no chão à minha frente. Ele não vai poder machucá-la. Ele
não vai poder fazer isso, porra. Não importa como, tenho que garantir que
Mac jamais chegue a malditos três metros de distância de Millie. Algo em
minha mão, algo irregular e áspero contra a minha pele áspera: um de tijolo
quebrado. Como são as coisas. Quando Mac estava jogando tijolos em mim
agora a pouco, não estava mirando direito. Ele estava tentando me assustar,
tentando me fazer admitir algo que o condenasse. Quando eu jogo o tijolo, no
entanto, estou mirando diretamente entre os olhos do bastardo. Ele vê isso
chegando quando já é tarde demais. Mac grita quando o tijolo faz contato,
segurando as mãos na frente do rosto. Mas eu não paro aí. Pego outro tijolo
e outro e outro, jogando todos eles com tanta força que tenho na sua cabeça,
até que suas mãos caem e sua carne é uma bagunça sangrenta.
E então:
— Mason? Mason! Puta que pariu, cara, pare! Você vai matar ele! — as
mãos de Dave estão em mim, rasgando as minhas roupas, tentando me fazer
volta à razão, mas estou dominado por um poder maior do que eu. Dave não
é um homem pequeno, e ainda assim ele demora para conseguir prender
meus braços ao lado do meu corpo. — Porra, Mase, ele não ia te matar. Você
sabe que não.
— Mentira! Ele ia me matar sem nem pensar suas vezes, caralho. Você
ia ficar ali parado, olhando ele fazer isso, seu doente da porra! — eu me puxo
para fora do seu alcance e o empurro para longe de mim. — Não toque em
mim, caralho. Não se atreva!
— Eu não ligo se ele vai pegar leve, cara. Deixe que ele venha. Eu vou
terminar o trabalho da próxima vez, — se eu ficar aqui mais um minuto,
Dave vai se recompor e me prender aqui antes que consiga fugir. Eu passo
por ele batendo no seu ombro, pronto para me virar e lutar de novo se for
preciso, mas Mac começa a tossir e cuspir de repente, fazendo ruídos
patéticos, e Dave corre para o seu lado, chamando o seu nome.
Meus olhos não veem direito até que já andei meio caminho pela rua,
meus pés já marchando na direção da academia. O local está fechado, no
~ 115 ~
entanto. As cortinas de ferro estão abaixadas. Eu posso entrar facilmente,
claro, mas se Zee ou Michael não estão aqui, qual seria o ponto?
***
É tarde. Passei toda a tarde tentando achar Ben outra vez – dessa vez
tanto pelo meu bem quanto pelo dele. Nenhum sucesso, no entanto. Ele
parece ter desaparecido da face da Terra, e eu não posso deixar de me
preocupar que talvez os caras do French’s já tenham o encontrado primeiro.
2134 W Renshaw
— Então você está menstruada? É por isso que você resolveu destruir
a porra da minha vida? — eu a agarro pelos ombros e a empurro com força.
Ela cambaleia para o lado em uma prateleira alta cheia de pacotes brilhantes
roxos e cor de rosa de... só Deus sabe. No final do corredor, uma jovem
mulher de rabo de cavalo, usando um uniforme verde, me olha cheia de
desaprovação.
~ 116 ~
— Você é uma puta doente, sabia? — eu quero arrancar a sua cabeça
fora, mas esmagar o crânio de Lowell vai me trazer várias consequências
negativas, assim como dar uma surra em Mac. Atacar Lowell só vai acabar
de um jeito: comigo cumprindo uma sentença muito longa em uma prisão
muito perigosa. Tenho que apertar as mãos em punhos, enterrando as
unhas em minhas palmas para me impedir de soltar minha raiva nela. —
Não tenho certeza do que você queria que acontecesse quando decidiu ir à
oficina de Mac, mas vai ficar feliz em saber que eu praticamente consegui
uma recompensa pela minha cabeça, perdi o emprego e vou ter que tirar
Millie da escola para aqueles bastardos não tentarem matá-la também. Está
feliz? Você está feliz, porra?
Merda. Ela vez virtualmente impossível para mim fazer qualquer coisa
que não seja seguir a sua cartilha. Eu pego o envelope e olho dentro. Tem
sete notas de cem dólares dentro – eu não sei o que ela pensou que Mac
estava me pagando por semana, mas ela acabou de me dar um aumento de
~ 117 ~
cinquenta por cento. Considero as notas dentro do envelope, tentando
imaginar como fazer isso direito, mas não consigo. Essa vadia me deve. Ela
tomou o meu sustento, então ela me deve muito. E ainda, esse dinheiro é
sujo, parece sujo, me faz sentir sujo. Eu quero jogá-lo na sua cara.
— Vou conseguir o que você quer, — eu digo a ela. — Não parece que
você me deu muita escolha.
A chave está na ignição, pronta para ser virada, e minha mão está na
alavanca de mudança de marcha, pronta para me colocar em movimento,
quando vejo Lowell sair da farmácia e atravessar a rua, correndo em direção
a uma SUV azul bastante despretensiosa, o tipo de carro genérico que você
nem notaria dado o mar de SUV's genéricas que andam por aí. Ela pula no
banco do motorista e coloca o cinto de segurança; durante todo o tempo,
minha cabeça não para de pensar. Tique, tique, taque. Eu não sei quando
decido segui-la. Na verdade, não é uma decisão consciente. Só quando paro
do lado de fora de uma casa modesta de dois andares em Greenwood, e
Lowell entra nela, é que percebo o que fiz. Porra. Se ela me visse a seguindo,
eu estaria morto. Mas eu fui cuidadoso. Tive certeza de ficar alguns carros
para trás, nunca na mesma pista, a menos que fosse absolutamente
necessário.
~ 118 ~
Capítulo Dezesseis
SLOANE
— Como diabos você pode ser tão irresponsável? — Oliver tira suas
luvas de borracha e as atira dentro do lixo de material biológico ao lado da
porta. — Eu... eu nem sei o que dizer, Sloane. Eu só não consigo... acreditar,
porra...
Eu sabia que ele não ia reagir bem, mas não fazia ideia de que ele ia
ficar sem palavras. O exame de sangue que ele acabou de fazer confirmou de
uma vez por todas que eu estou grávida, e ele não está nada feliz com essa
revelação. — Você já pensou nas suas opções? — ele pergunta. Ele está de
costas para mim, então não consigo ver seu rosto. Mas posso imaginar, no
entanto: muita decepção e preocupação ali.
— Ha ha!
— Por que você realmente pensa que seria capaz de deixar seu bebê
recém-nascido em casa com o pai enquanto passa o dia todo no trabalho, e
isso é... isso é...
~ 119 ~
— É o que, Oliver? — minha pele está formigando. Posso sentir minha
raiva crescendo. Eu não gosto do seu tom de voz, ou do olhar de desprezo
estampado em seu rosto.
Oliver solta um suspiro exasperado. — Você não vai me dizer que acha
que Zeth é o exemplo perfeito de pai dono-do-lar, Sloane. Ele não faz a
mínima ideia de como cuidar de uma criança. Eu sei que não sou o maior fã
do cara desde que você começou a sair com ele, mas isso não tem nada a ver
com o que estou dizendo. É preciso ser um certo tipo de cara para ficar em
casa e cuidar das crianças enquanto sua namorada ou esposa sai para
trabalhar. Eu sei com certeza que não poderia fazer isso. O que faz você
pensar que um homem com Zeth poderia? Ele dificilmente é um tipo de
pessoa carinhosa, cuidadosa e compassiva.
— Porra, eu não posso ser imparcial, Sloane. Claro que não posso. Eu
sou seu amigo, e como seu amigo estou dizendo uma verdade dura, porque
acho que você precisa ouvi-la. Acho que você já sabe disso tudo, que ter um
bebê vai acabar com a sua carreira, que Zeth não vai ganhar nenhum
prêmio de pai do ano, e você veio até mim exatamente porque sabia que eu
não ia poupar nada.
— Isso não é verdade, — eu não consigo dizer mais nada, porque estou
tão perto de chorar que minha garganta está fechada. E também porque
parte de mim sabe que ele está certo. Parte de mim queria vir aqui ouvir ele
me dizer tudo isso, então eu poderia obrigar minha cabeça a concordar e me
resignar com o fato de que ter um bebê agora é a pior coisa que eu poderia
fazer.
~ 120 ~
quer, e acho que você se sente terrível por isso. Mas você tem que saber que
fazer o certo para você nem sempre é errado, ok? Às vezes é a melhor opção.
De qualquer forma, como eu disse, eu estou aqui. O que você tem que fazer
agora é tomar a sua decisão.
***
— Está tudo bem? Você parece um pouco... — pobre Michael. Ele não
quer ser grosseiro; mas é muito óbvio que eu estou em péssimo estado, no
entanto.
~ 121 ~
— Sabe, quando você passa muito tempo com alguém como eu já
passei com Zeth, começa a conhecê-los muito bem, — ele diz, abrindo uma
garrafa de água. — E eu sei que você ama ele, Sloane. Eu sei que você faria
tudo por ele. Mas você precisa aprender a confiar nele.
— Você já confiou nele para salvar sua vida mais de uma vez, garota.
E acredite ou não, ele confiou em você para salvar a dele algumas vezes,
também. Eu nunca pensei que veria esse dia. Mas agora você tem que
confiar nele para te apoiar, Doc. Parece que isso deveria ser mais fácil do que
todo o resto que você já vez, eu sei, mas entendo. Às vezes é difícil depositar
nossa fé em alguém. Contar com outras pessoas. É muito mais fácil assumir
como o outro vai reagir a algo, mas às vezes a realidade pode te surpreender.
Deixe que ele te surpreenda, Sloane.
Michael bebe toda a água da garrafa que está segurando. Ele a esmaga
com uma mão e a atira no lixo do outro lado da sala. Ficando de pé, ele
então faz algo estranho. Ele dá alguns passos, fechando o espaço entre nós,
e envolve os braços ao meu redor, me dando um abraço apertado. É tão
inesperado que eu não sei o que fazer primeiro. Eu só fico ali, minhas mãos
pressionadas contra os lados do meu corpo, meus olhos ainda estão ardendo
enquanto ele me segura. Depois de um momento, eu me solto e o abraço de
volta. Parece um alívio. Parece que estou deixando a situação correr por
mim, em vez de tentar, com tanta dificuldade, segurá-la. Fecho os olhos e
choro. Michael não diz uma palavra sobre o fato de que estou fungando
como um bebê na sua camiseta molhada de suor. Ele só esfrega uma mão
para cima e para baixo nas minhas costas, permanecendo em silêncio, e é
exatamente disso que eu preciso.
— Lacey era como uma irmã para mim, Sloane. Ela era minha família.
Você cuidou dela, e cuidou como se ela fosse da sua família, também. Então
não importa o que aconteça na sua vida, saiba que vou estar lá para você,
Doc. Nunca se esqueça disso.
~ 122 ~
Capítulo Dezessete
MASON
— Você está brincando comigo? Cara, três segundos atrás você estava
me dizendo que não ia para LA de jeito nenhum. Agora você está aqui me
dizendo que vai? — Ben não está usando nada além da sua cueca boxer e
uma mancha de batom rosa vibrante no estômago. Eu estremeço ao pensar
onde mais ele pode estar pintado de rosa. Seu apartamento tem cheiro de
sexo, o que quer dizer que cheia como se Ben estivesse aqui trancado pelos
últimos três dias, sem atender o telefone, sem abrir uma maldita janela para
renovar o ar, enquanto ele se divertia com mulheres de moral duvidosa.
Passo por cima de uma caixa cheia de comida chinesa, tentando não
respirar pelo nariz. O cara é um maldito animal. — Eu não estou dizendo
que vou. Estou dizendo que você tem que ir. Você é um maldito grande
imbecil, Ben. Você sabe que os caras do French’s estão atrás de você, certo?
Você não leu suas mensagens?
— Ah, eu li todas. Cara, você está em pânico por nada. Johnny não
está puto. Lutadores fazem essa merda o tempo todo. De jeito nenhum eles
vão vir atrás de mim por causa de uma pequena trapaça.
Ben faz um som incrédulo, acenando uma mão então empurra a pilha
de copos e pratos sujos sobre o balcão da cozinha com a outra. — É só as
pessoas falando merda, Mase. Eles nunca iriam atrás do Rayne. Você quer
café?
~ 123 ~
Bem interrompe a sua missão de conseguir uma xícara limpa. Ele olha
para mim com os olhos apertados. Finalmente, uma leve faísca de apreensão
está se formando em seus traços. — A irmã dele te disse isso?
— Ela disse. E ela disse que eles também estavam atrás de você. Não
apareceu ninguém aqui te procurando?
Porra. Estou surpreso por eles não terem colocado a maldita porta
abaixo. Coloco uma mão no ombro nu de Ben, tentando não pensar sobre a
última vez que ele tomou banho e há quanto tempo isso tinha sido. — Eu
tenho um milhão de coisas para resolver agora, B. Não tenho tempo para
ficar aqui debatendo se você está para ser assassinado e cortado em
pedacinhos por alguns caras furiosos, porque eu tenho um monte de caras
que querem me cortar em pedacinhos, também. Então, por favor, você pode
apenas arrumar uma mala, enfiar suas merdas dentro e dirigir agora mesmo
para o maldito aeroporto?
Mac está no hospital. Eu liguei mais cedo, fingindo ser o seu filho, e a
enfermeira de plantão me disse que ele estava inconsciente no momento,
mas os médicos achavam que ele tinha uma boa chance de se recuperar.
Enquanto o filho da puta estiver apagado, eu estou bem. Ele não pode
mandar os caras, os caras com quem eu costumava trabalhar, me acharem e
acabarem comigo. Essa é a única razão pela qual eu estou aqui,
conversando com Ben, em vez de estar lidando com os meus próprios
problemas. Eu vou ter que encará-los mais cedo ou mais tarde, mas no
momento tirar melhor amigo do perigo é minha prioridade.
— Confie em mim, o senhorio não vai dar a mínima para a sua quebra
de contrato. Vou cuidar para que suas coisas vão para algum contêiner de
armazenamento. Você tem que ir. Agora.
Então ele faz a sua mala. Ele joga algumas roupas e suas luvas de
boxe na maior mochila que consegue encontrar, e depois abre um pote de
café sobre a sua TV quebrada e pega um grande maço de dinheiro. Deve ser
o que ele ganhou da luta com Rayne. Isso vai para a mochila, também.
~ 124 ~
sobre Mac. Sobre Lowell. Sobre Zeth. Eu gostaria de poder contar tudo, cada
detalhe maldito, mas se eu fizer isso o desgraçado não vai querer ir a lugar
nenhum, ele vai insistir em ficar para me ajudar a arrumar toda essa
bagunça. Mas isso não vai ajudar ninguém. Só vai deixar as coisas mais
complicadas.
Está tarde. Wanda está com Millie – eu liguei de hora em hora para ver
se ela está bem e, aparentemente, ela está dormindo muito. É um bom sinal.
Significa que ela está recarregando as energias. Faço uma rápida ligação
para ver como ela está outra vez – ela está ok – e então faço outra ligação
para o hospital. Mac ainda está inconsciente. Eles estão um pouco mais
preocupados com ele dessa vez; ele já deveria ter acordado. Eles estão
planejando fazer outra tomografia computadorizada para ver se seu cérebro
está inchando. Essas notícias não me atingem com a força que a deveriam.
Eu que coloquei Mac no hospital, afinal de contas. Sou responsável pelo fato
de que ele pode não acordar tão cedo ou talvez nunca mais. Mas não consigo
me sentir mal por isso. O cara é um completo psicopata, e não há dúvidas
das suas intenções comigo essa manhã. Ele não ia me dar apenas uma
advertência verbal e me deixar sair andando. Ele estava planejando algo um
pouco mais permanente, e eu reagi à altura.
~ 125 ~
Matar ou morrer. É assim que a vida vai ser daqui para frente.
Eu não vou a lugar nenhum até que meu pau comece a se comportar.
Se algum cara que eu vi lutando nos mercados La Maison aparecesse na
minha porta, mostrando um pau duro do tamanho do mastro de uma
bandeira, querendo sair com a minha irmã? Eu não consigo nem pensar
nisso. Eu ia lhe dar uma surra tão grande que ele ia sair chorando e pedindo
pela mamãe, e nunca mais ia chegar perto da minha irmã outra vez.
6 É uma revista de saúde e boa forma que apresenta na capa, em geral, pessoas muito em
forma, com o corpo muito bonito.
~ 126 ~
Kaya, inclinada contra a pálida pintura bege do corredor do segundo andar,
esperando por mim. Ela está usando um vestido preto justo que mal cobre a
parte de cima das coxas, e um batom vermelho vibrante cobre os seus lábios
perfeitos. Seu cabelo está todo revirado, mas não de um jeito descuidado. É
de um jeito paguei trezentos dólares por esse corte.
— Você vai sair? — eu pergunto. Parece que ela está prestes a ir comer
em um restaurante caro ou algo assim. Eu ainda estou com as roupas que
saí para trabalhar hoje de manhã, o que significa que estou usando um
jeans manchado de graxa, uma camiseta desbotada e minha jaqueta preta
de couro. Não parece que eu deveria estar em qualquer lugar perto dela.
— Na verdade, ele não é tão protetor quando você pode pensar. Ele
geralmente se importa com os seus próprios negócios, e me deixa cuidar dos
meus.
— Então ele não vetou o cara com quem você saiu hoje?
Ela ri. — Você parece muito preocupado com o fato de que eu acabei
de voltar de um encontro, Mason. Isso te incomoda?
~ 127 ~
— Talvez um pouco. Não deveria?
— Porque não seria ético. Ele está em uma posição de poder. Eu sou
sua aluna. É contra as regras da Universidade ele se envolver fisicamente
com alguém que ele ensina.
7 Dick é tanto diminutivo de Richard quanto uma gíria para os genitais masculinos.
Também pode ser usado para chamar alguém de idiota. Enfim, ele faz um trocadilho para
zoar o cara com quem ela está saindo.
~ 128 ~
homens 8 . Porém, quando eu penso em Kaya chupando Richard, seu
professor da faculdade, eu me sinto mais do que um pouco incomodado.
Quem diabos é esse caro? E que tipo de dispositivo de choques elétricos ele
tem amarrado no pau para conseguir se controlar e não tentar foder Kaya
cada vez que coloca os olhos nela? Quero dizer, esse vestido... merda. Eu
quero arrancar ele agora mesmo do seu corpo com os meus dentes.
É uma raridade ela não estar usando sua enorme parka. Agora que eu
posso ver as deliciosas curvas do seu corpo, arredondo em todos os lugares
certos sob o tecido fino do seu vestido, não consigo parar de imaginar
minhas mãos na sua pele, correndo e apertando com força.
Acho que isso é mentira. Duvido que alguma vez eu seja capaz de
deixar essa garota desconfortável; ela é tão confiante e parece tão confortável
em sua própria pele. Não importaria se eu estivesse parado aqui pisando em
brasas. Kaya ficaria feliz em me ver fazer isso, e seus próprios pés não iriam
nem coçar. Me sento ao lado dela de qualquer forma, deixando um bom
espaço de vinte centímetros entre nossos corpos, então eu não estou em
cima dela. Mas estamos perto o bastante para que eu sinta seu cheiro – as
notas quentes, suave e florais do seu perfume, e uma nota sutil de fumaça e
algo rico, também.
~ 129 ~
— Então o seu amigo saiu da cidade, — ela diz. — Estou feliz que você
conseguiu encontrá-lo.
— Sim. Espero que ele esteja seguro agora que saiu do Estado.
— Eu acredito nisso.
Kaya olha para mim com o canto do olho – como um raio laser azul
frio, de repente queimando em mim. — Eu não quero falar sobre o meu
irmão, Mason. E estou assumindo que você também não quer falar sobre a
sua irmã. O que eu realmente gostaria de discutir é sobre você me foder, e se
você finalmente vai fazer isso hoje, — ela sorri docemente.
Eu realmente não consigo pensar direito quando ela diz isso assim.
Ela deve poder dizer que eu estou chocado, mesmo que eu tente esconder,
porque ela ri suavemente pelo nariz. — Se você não está afim, tudo bem,
Mase. É que esse parece ser o próximo passo dessa relação particular.
— Talvez.
~ 130 ~
— Você não respondeu a minha pergunta. Se você prefere sair para
jantar e falar sobre Proust, vou ficar mais do que feliz em dividir a conta com
você, — ela torce o nariz, fazendo um biquinho com os lábios brilhantes. —
Mas pessoalmente eu acho que você é mais um tipo de cara mais para ficar
pelado e transar, sabe. Me corrija se eu estiver errada.
Meu pau está duro como pedra outra vez. Tudo que ela teve que fazer
foi dizer as palavras ficar pelado e transar e eu já estava pronto. Ouvir ela
dizer essas coisas, o jeito que ela diz, é provavelmente a coisa mais quente
que eu já experimentei em muito tempo. Eu me mexo no sofá, tentando
ignorar o fato do meu jeans está apertado na virilha. — Você não está
errada, — eu digo a ela.
Droga. Não há mais porque fingir que isso não vai acontecer. Eu vim
aqui por uma razão, e Kaya sabe disso. Eu estudo seu rosto uma última vez,
observando como a sua boca em forma de arco se levanta um pouco nos
cantos, o jeito como seu olhar azul afiado brilha com uma inteligência que,
por alguma razão, me deixa ainda mais excitado.
Minha mão esquerda acha o caminho até os seus seios sozinha. Kaya
geme na minha boca quando eu cubro e aperto seu peito por cima do sutiã,
rolando o mamilo inchado que eu posso sentir contra o tecido de renda.
Suas mãos também têm mente própria, ao que parece. Ela agarra a minha
camiseta e puxa, parando nosso beijo por um segundo para tirá-la pela
minha cabeça. — Meu Deus, Mason, — ela raspa a ponta dos dedos no meu
peito, olhando maravilhada para o meu peito liso. — Toda essa luta e
malhação valeram a pena.
~ 131 ~
primeira vez, pela maneira que ela está encarando o meu abdômen, correndo
as mãos esguias para cima e para baixo pelo meu corpo como se estivesse
realmente admirada.
Ela é louca se acha que eu poderia pensar que qualquer coisa que ela
faça é não sexy, mas lhe dou o que ela quer. Fecho os olhos, resistindo à
vontade de levantar as pálpebras e espiar. Ela se levanta e começa a tirar a
roupa, posso sentir o ar se movendo sobre a minha pele quando ela joga a
peça única no chão, seguida por mais duas.
Eu sinto a sua pele, então, tocando a minha. Ela monta sobre mim,
escarranchada, e coloca as mãos sobre o meu rosto. — Abra os olhos, — ela
sussurra.
Ela não precisa dizer duas vezes. Eu fico literalmente sem palavras
quando olho para ela nua. Ela é perfeita. Perfeita pra caralho. Ela não
precisaria de nenhum retoque se fosse a capa de uma revista. Seus peitos
são incríveis. Eles não são grandes, não enchem uma mão, mas são
durinhos e têm um formato perfeito, seus mamilos são de um tom suave de
rosa que me lembra a parte de dentro de uma concha. Coloco as mãos nos
seus quadris, discutindo comigo mesmo dentro da minha cabeça. Eu quero
ela. Eu quero me levantar e jogar ela nesse sodá, então posso devorá-la
pedaço por pedaço.
Ela cora. Kaya Rayne nunca corou na minha presença. Ela sempre
pareceu tão feroz e confiante para algo tão pudico quanto corar, mas a
evidência está na minha frente. Seus lábios estão inchados, deliciosos,
prontos para serem mordidos. — Você me leva para a cama, Mason? — ela
sussurra? — Eu quero você sem roupas, também.
~ 132 ~
possa soltá-la, mas ela não caia; mas eu não a solto. Coloco minhas mãos
debaixo da sua bunda e coxas perfeitas, gemendo um pouco quando meus
dedos passam pela sua buceta e eu sinto a umidade ali.
Eu me sento para trás, então ela pode separar os joelhos, expondo sua
buceta para mim, me dando uma visão clara do que eu estive sonhando
acordado todas essas semanas, desde que nos conhecemos. Sua buceta é do
mesmo rosa suave que seus mamilos, brilhante e molhada. Porra, eu quero
enfiar minha cara ali agora mesmo. Quero me perder nela e fazer ela gozar
na minha língua. Quase posso sentir o gosto da sua carne doce. Quase
posso sentir suas pernas apertando a minha cabeça enquanto eu a faço
chegar cada vez mais perto da borda, até que ela esteja caindo no precipício
do orgasmo, gritando o meu maldito nome.
Kaya é uma garota de vontades fortes. Ela quer o que quer, e sabe
como conseguir. A coisa é, ela nunca foi fodida por uma cara como eu antes.
Ela deve ter dormido com caras fortes e masculinos, sim, mas estou
apostando que ela os tinha nas suas mãos, dispostos a dobrarem suas
espinhas para agradar ela em todos os sentidos. Eu quero fazer ela gozar.
Quero que essa noite seja o sexo mais inesquecível e avassalador da sua
vida, mas sei que essa experiência vai desaparecer no seu histórico de
conquistas sexuais, e nunca mais vai se destacar do resto, se eu lhe der
exatamente o que ela quer.
Ela precisa de alguém com a mão firme. Ela precisa de alguém que lhe
diga não. E sendo justo, ela pode me dizer não, também. Eu não vou obrigá-
la a fazer nada que ela não queira. Mas não é ela quem está no controle
~ 133 ~
aqui. Se ela vai aceitar isso? Não sei. Mas acho que estou prestes a
descobrir.
— Ótimo. Então isso vai fazer sentido para você. Eu fodo como eu luto,
Kaya. Eu não faço prisioneiros. Eu domino e tomo o controle. Eu odeio
perder. Você tem certeza que ainda quer brincar comigo?
Lenta e cuidadosamente ela leva a mão direita até a buceta, até que as
pontas dos seus dedos então provocando o clitóris. Ela arqueia as costas,
seus olhos ainda presos nos meus. — Eu quero brincar. Mas não quer dizer
que não vai ser do meu jeito, Mason. Você quer arriscar se perder? Apenas
uma vez?
~ 134 ~
Capítulo Dezoito
SLOANE
Deito de lado, observando-o. É tarde, já passou de uma da manhã,
mas eu não consigo dormir. Zeth me levou para a cama e me fez ficar muito
parada enquanto fazia sexo oral em mim, tomando seu tempo com a língua.
Eu tremi e tentei respirar lentamente quando ele me trouxe ao orgasmo, e
quando acabou, ele me lambeu até eu ficar limpa, parecendo ter grande
prazer na tarefa. Ele não me fodeu. Em vez disso, ele me pegou em seus
braços e acariciou suas mãos para cima e para baixo pelo meu corpo no
escuro durante uma hora, fazendo círculos e formas estranhas em minha
pele antes de finalmente adormecer.
~ 135 ~
dedos se encontram com as palmas das mãos; uma cigana demoraria pra
cacete para ler seu futuro, já que o caminho de linhas gravadas
profundamente em sua pele parece muito mais caótico do que a maioria.
~ 136 ~
A luz azul fria pisca, cortando a escuridão. O momento de paz está
quebrado. Meu celular na minha mesa de cabeceira começa a gritar, e Zeth,
dormindo profundamente há um segundo, está de pé, os olhos arregalados,
os ombros tensos, os músculos enrolados, prontos para explodir em ação.
Seu peito está levantando, assim como o meu. O susto do toque ruidoso
soando no silêncio faz meu coração bater como um martelo no meu peito. O
olhar de Zeth trava em mim, e então ele está inclinando seu corpo nu sobre
o meu, como se ele estivesse me protegendo.
— Você está bem? — ele pergunta. — Não sabia que estava de plantão.
— Eu não estou.
~ 137 ~
Eu desligo, e Zeth já está saindo da cama. Ele abre a cômoda, tirando
roupas. — Eu vou te levar, — ele me diz enquanto coloca cueca, camiseta e
jeans.
— Dra. Romera? O que diabos você está fazendo aqui? Você não estava
doente? — a jovem enfermeira na recepção parece confusa.
— Reeves, Reeves, Reeves. Ah, sim, uma segunda ambulância teve que
ser enviada para o local. Eles devem chegar a qualquer momento.
~ 138 ~
— Merda, — eu deixo a recepção e corro para o armário de
abastecimento mais próximo, agarrando um conjunto de jaleco e calça.
Ninguém diz mais nada sobre eu não estar no turno. Eu não deveria estar
tratando ninguém agora. Não tenho permissão para entrar no hospital, me
trocar e começar a cuidar dos pacientes; não é assim que o sistema
funciona. Mas a chefe Allison não está no prédio, e eu devo parecer frenética
e atormentada porque a equipe de enfermagem e outros médicos mantêm
todas as objeções que possam ter para si.
— Ok. Porra, espero que ele chegue aqui logo. Ela vai precisar dele.
~ 139 ~
registrados. Eu tenho uma enfermeira administrando clobazam, mas isso
não parece ter qualquer efeito, tampouco. Millie permanece de costas na
maca, os calcanhares de seus pés martelando contra o estofamento e o
lençol, a cabeça inclinada para trás, a mandíbula trancada, os olhos virados.
Ela está com problemas. Grandes, grandes problemas. Deus, ela parece tão
pequena e impotente enquanto a convulsão continua contorcendo seu corpo
frágil. Este episódio já durou muito tempo. Wanda me ligou há pelo menos
quarenta minutos, e para uma garota de seis anos estar convulsionando
assim por tanto tempo? Eu não quero pensar sobre o que isso significa. Não
consigo nem pensar nisso, porque se eu tiver de admitir a verdade, sei que
toda a esperança está perdida.
— Ela já recebeu tudo o que podemos lhe dar. Seu sistema está
sobrecarregado. Se nós a sedarmos, vai ser muito para o corpo dela aceitar.
Seu sistema respiratório falhará.
Levo um segundo para ver o que ele está apontando: uma pequena
marca vermelha no interior de sua perna, logo acima do tornozelo. Parece
uma erupção cutânea, embora a marca pareça estar sozinha. Mãos estão em
Millie. Quatro pessoas rapidamente cortam o pijama de seu corpo, deixando
pedaços de tecido das Meninas Superpoderosas espalhados pelo chão. Todos
examinam a minúscula moldura de Millie, procurando por mais marcas
vermelhas.
Margate sai. Millie ainda está tremendo na maca. Nós não seremos
capazes de sedá-la rápido o bastante. Seu corpo precisa de uma pausa.
Quando eu olho para cima, prestes a começar a ordenar as pessoas para
agirem, percebo Zeth parado na entrada da sala de procedimentos. Ele está
encostado no batente da porta, os braços cruzados sobre o peito, e sua
expressão é sombria para dizer o mínimo.
Ele segue Millie com os olhos enquanto ela é levada embora. — Vou
esperar aqui, — sua voz é plana, monótona e fria. — Você não deveria estar
aqui. Você vai precisar de uma carona quando tiver terminado.
~ 141 ~
Zeth sacode a cabeça. Posso dizer pela maneira estoica e sem emoção
que ele não será influenciado pelo assunto. Ele não pisca até que as portas
do elevador tenham se fechado e Millie esteja fora de vista. — O que vai
acontecer com ela? — ele pergunta. — Um palpite.
— Ela é tão pequena. Eu não sabia que a irmã dele era tão jovem. Ele
cuidou dela sozinha.
— Então está certo. Bem, até que alguém diga algo, eu estou com você.
No momento em que me pedirem para ir, irei. Até lá, eu sou sua fodida
sombra.
Não há nada que eu possa dizer que vá fazê-lo mudar de ideia agora.
Eu aprendi a escolher minhas batalhas com esse homem. Se deixá-lo
observar o que acontece com Millie significa que eu poderei reivindicar uma
vitória para mim mesma em alguma outra hora, então que assim seja. —
Urgh. Certo. Mas você vai precisar de um jaleco ou algo assim.
~ 142 ~
visíveis do interior da máquina de ressonância magnética. Deixo Zeth na
cabine de controle com um residente muito assustado olhando para o
computador, observando a varredura à medida que avança, e eu saio para
encontrar Margate. Eu preciso saber o que ele está pensando – e se há algo
mais que pode ser feito enquanto estamos esperando os resultados da
ressonância magnética serem lidos. Estou no meio do corredor quando um
alarme começa a disparar e a porta para a sala de ressonância abre. O
residente que estava estudando os resultados piscando na tela à sua frente,
fazendo o seu melhor para ignorar Zeth um momento atrás, agora está
correndo em minha direção, o rosto branco como um lençol recém passado.
Nós corremos.
Nada ainda.
~ 143 ~
Nada ainda.
— Dra. Romera-
Porra.
~ 144 ~
no monitor de frequência cardíaca, que ainda está relatando uma linha reta,
e ele suspira.
— Sloane.
O som dessa voz corta a loucura que toma conta da minha mente.
Olho para cima do corpo rapidamente esfriando de Millie para encontrar
Zeth de pé na entrada da sala de ressonância. Seus olhos estão fixos em
mim, sólidos e aterradores. — Você precisa parar agora, — ele diz
calmamente. Sua voz é baixa, mas contém um timbre que me impede. — Não
há nada mais que você possa fazer, — ele me diz. — Está feito. Acabou
agora. É hora de parar.
— Diga a ele que fez tudo que podia — diz Zeth. — Porque você fez. Eu
vi tudo. Era uma situação impossível, Sloane, — ele entra na sala, olhando
para o residente e para o interno. — Saiam, — grunhiu ele. — Vão cuidar de
alguém ou algo assim.
~ 145 ~
Ambos correm para fora da sala. Zeth me pega em seus braços e me
segura contra seu corpo; eu desmorono, o calor e a segurança de seus
braços fortes ao meu redor me mantendo segura. Eu me permito outro
momento de fraqueza, e então soluço. Ela se foi. Eu não posso acreditar que
aconteceu tão rapidamente. Nem sequer tivemos chance de avaliá-la
corretamente. A tensão em seu corpo era, obviamente, demais.
— Não, — Zeth beija minha testa, sua respiração quente contra o lado
do meu rosto. — Você não é Deus. Você só pode ajudar até certo ponto.
Ele tem razão. Ainda dói, no entanto. Ainda dói mais do que qualquer
dor que eu já senti. — Você precisa ir, — eu sussurro. — Estarão aqui para
buscar o corpo dela num momento. Você não pode estar aqui quando eles
vierem.
~ 146 ~
Capítulo Dezenove
MASON
Eu acordo com batidas na porta. A luz do sol está entrando pelo tecido
fino e esvoaçante que cai sobre as janelas próximas à cama em que eu me
encontro. A cama de Kaya. Em algum lugar posso ouvir alguém gritando.
Movimento atrás de mim. Kaya joga um braço sobre mim, sua mão caindo
levemente sobre o meu estômago nu.
— Mason! Mason, abra essa maldita porta! — três batidas fortes ecoam
pelo apartamento. Eu de repente estou muito, muito acordado. Quem lá fora
sabe o meu maldito nome? Será que são os rapazes da oficina? Aquele filho
da puta finalmente acordou e ordenou a minha morte imediata. Onde diabos
está o meu telefone? Eu preciso dar o fora daqui. Ele lugar deve ter uma
saída de incêndio.
— Para quem você disse que estava vindo para cá? — Kaya pergunta
com sono.
~ 147 ~
— Mason não mora aqui. Se você não parar de esmurrar a porta, vou
fazer você engolir seus malditos dentes, seu imbecil.
Jameson se vira para mim. — Mas que porra é essa? De onde você
veio?
— Kaya! — Jameson não parece feliz. Eu não fico por perto para
descobrir o que ele acha de eu ter passado a noite com ela; isso só vai me
trazer problemas. Tenho certeza que a presença de Michael vai me trazer a
mesma coisa, mas duvido que ele vai tentar arrancar os meus membros um
por um. Pelo menos espero que não.
***
SLOANE
~ 148 ~
O necrotério parece especialmente calmo. Bochowitz fez seu trabalho,
limpando e preparando o corpo de Millie. Não há necessidade de autópsia. A
maior parte da ressonância magnética de Millia foi concluída antes dela
falecer, mostrando um inchaço devastadoramente grande em seu cérebro.
Isso a teria matado, não importa o que fizéssemos. Mas a combinação de
drogas no seu sistema, junto com a deformação do seu coração, conseguiu
matá-la primeiro, no entanto. Margate e eu assinamos a causa da morte, o
que significa que o corpo de Millie não vai precisar ser aberto e investigado –
uma pequena benção.
Eu tento com toda a força, mas não consigo segurar as lágrimas. Zeth
sempre parece uma parede de tijolo impenetrável. Raios e trovões acima de
nós não o afetam. O inferno pode se partir, e ele se mantém firme,
inalterado. Mas agora ele segura essa garotinha em seus braços – uma
garotinha que ele só conheceu essa noite – e parece completamente
devastado.
~ 149 ~
sussurra para ela. É algo terno e doloroso de ver. Não posso ouvir o que ele
diz para ela, e não quero, também. Isso é entre ele e Millie.
O telefone de Zeth começa a tocar no seu bolso, mas ele não atende.
Nenhum de nós se mexe para sair, porque isso não parece certo de alguma
forma. Millie não deveria ficar sozinha. Finalmente, a porta do necrotério se
abre e Michael entra. Seus ombros ficam duros, linhas profundas marcam a
sua testa quando ele vê Zeth balançando Millie nos braços.
— Deus, — é tudo que ele consegue dizer. Ele esfrega uma mão sobre o
rosto, colocando a outra no quadril. — Eu o encontrei. Ele está ali fora. Eu
não sabia se deveria deixar ele entrar ou não.
Então ele sabe. Ele imagina, pelo menos, e agora está em choque. Eu
gostaria de pensar que isso significa que não preciso ir lá fora e dizer a ele
que a sua irmãzinha está morta, mas informar a família faz parte do
processo. Ele precisa me ouvir dizer isso. Mas eu realmente não quero. Vai
me destruir dizer essas palavras, mas não importa o quanto isso me
machuque, vai machucar ele um milhão de vezes mais. Ele cuidou de Millie
por tanto tempo. Ela era sua única responsabilidade, a única coisa com a
qual ele tinha que se preocupar no mundo todo, e agora ela se foi.
— Mason...
~ 150 ~
pendurada no seu quadril o tempo todo? — ele solta uma respiração
exasperada, uma espécie de risada amarga. — Eu passei no último ano do
colégio. Consegui um trabalho. Trabalhei por anos, mantendo a cabeça
baixa, e então uma noite... na única noite em que eu não estava aqui... é
nessa noite que ela precisa de mim. É nessa noite que ninguém consegue me
achar em lugar nenhum.
— Mason, ela não sabia que você não estava aqui. Ela estava
inconsciente o tempo todo, — isso é algo inútil de dizer a ele. Não vai fazer
ele se sentir melhor, eu sei disso. Me odeio por apenas dizer as palavras,
mas ele precisa saber.
— São quase sete agora. Isso significa que ela se foi há malditas seis
horas, e eu estava... eu estava dormindo na cama de alguma garota, e ela
estava aqui, sozinha, — sua voz se quebra, ele engasga com a emoção. Ele
tenta dizer algo mais, mas em vez disso ele explode em lágrimas, se
inclinando para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto enterrado
nas mãos.
— Ela não estava, Mason. Nós estávamos aqui com ela. Nós não a
deixamos sozinha por um segundo, eu juro. Nós ficamos aqui. Nós ficamos
aqui, — eu repito uma e outra vez, esfregando minha mão para cima e para
baixo das suas costas. Eu também estou chorando, incapaz de segurar o
mar de lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas. — Zeth está lá dentro
com ela agora. E Michael, — eu digo a ele.
Eu não acho que ele realmente compreende o que está dizendo, não
está realmente pensando sobre isso. Ele parece anestesiado, o choque
chegando em ondas. Essas ondas não vão parar. Elas vão continuar
~ 151 ~
chegando, o acertando por dias. Semanas, até. Meses. Elas vão continuar
correndo por ele por anos, quando ele menos esperá-las, fazendo seu
coração doer do jeito mais excruciante.
Ele olha para mim mais uma vez, os olhos cheios de pânico. — Eu não
posso fazer isso. Ainda não. É cedo demais.
Não há porque tentar apressá-lo. Eu não faço isso. Deixo ele tentar se
recompor um pouco, mas a verdade é que sua compostura e calma vão voar
pela janela assim que ele passar pela porta e ver aquela garotinha. Eu vou
estar lá para ele se ele quiser, mas Mason realmente precisa passar por isso
sozinho.
Ninguém pode sentir a mesma dor que ele está sentindo agora. E, não
importa quanto eu queira fazer isso, ninguém pode carregar esse fardo por
ele, também.
~ 152 ~
Capítulo Vinte
ZETH
Eu nunca conheci Lacey quando ela era pequena. Eu teria gostado
disso. Eu provavelmente teria sido um grande babaca com ela quando
éramos crianças, puxando o seu cabelo e a provocando o tempo todo, mas
eu a teria amado. Eu a teria protegido. Se nós tivéssemos sido crianças
juntos, se tivéssemos tido uma infância juntos, crescido e nos tornado
adultos, ninguém jamais colocaria um dedo nela. Eu jamais teria deixado.
Ela teria crescido intocada, e não viveria tão ausente do mundo. Ela não
estaria morta agora, disso eu tenho certeza.
— Ei, cara. Talvez você devesse largar ela, — Michael diz. Ele esteve
inclinado silenciosamente, pelos últimos quinze minutos, contra a parede de
gavetas prateadas onde os corpos são guardados, me observando segurar
Millie. Eu posso dizer que ele não acha que eu estou fazendo uma coisa
muito inteligente, mas se segura para não dizer nada até agora. Eu não digo
nada. Deslizo da borda da mesa e cuidadosamente coloco Millie outra vez no
metal frio. Ela ainda está coberta por um lençol, mas parece desconfortável.
Acho um casaco azul escuro pendurado em uma cadeira do outro lado da
sala e o pego, amontoando o tecido para colocar debaixo da cabeça da
garota.
~ 153 ~
melhorar com o tempo. Isso é inútil. Dizer que eu sinto muito é a única coisa
que realmente quer dizer algo.
— Não, está tudo bem. Vá para casa. Durma. Você esteve acordado a
noite toda.
~ 154 ~
cheiro penetrante, espesso e químico enche o ar quando me aproximo do
armazém. Acre e amargo, o cheiro fica cada vez mais forte, até que minha
mente volta para a realidade, e eu vejo: a grande, enorme nuvem de fumaça
preta se afunilando na direção do céu como um tornado, bem no meio das
docas.
Um alarme está tocando em algum lugar perto. Ele fica mais alto,
estalando nos meus tímpanos, quando chego a vinte metros do prédio
pegando fogo e desço do carro.
~ 155 ~
Mas eu sei. Eu sei que alguém fez isso para declarar guerra, e tenho a
sensação de que sei exatamente quem foi.
Então é isso. Uma guerra, no fim das contas. Seattle é minha casa. Foi
onde eu cresci. Onde eu conheci Sloane. Caminhei por essas ruas minha
vida toda, e não vou desistir delas agora. Sangue vai manchar minhas mãos
outra vez. A morte virá em círculos acima da minha cabeça.
~ 156 ~
Capítulo Vinte e Um
SLOANE
Mason desmonta sobre a sua irmã. É a coisa horrível e triste que eu já
vi nada vida. Fico com ele até que ele está tão exausto que mal consegue
sustentar a cabeça, então o levo para a minha casa. Ele tenta lutar, diz que
deveria ficar com Millie, que deveria voltar para a sua própria casa, mas nós
dois sabemos que ele realmente não quer ficar sozinho agora. A casa está
vazia quando nós chegamos. Eu mostro a ele onde fica o chuveiro do quarto
de hóspedes e digo para ele se sentir em casa. Ele se lava e depois se atira
na cama, caindo em um sono profundo e muito necessário. O sono vai ser
seu melhor amigo pelas próximas semanas. Ele se está dormindo, significa
que ele não tem que encarar a realidade. Ele pode desligar. Ele pode sonhar
que Millie está viva e que tudo está bem.
Ele ficou comigo enquanto cuidei de Millie. Ele se recusou a deixar ela
e eu sozinhas. Quando ela morreu, ele me ajudou a encarar a verdade, e
então a segurou com tanta ternura por horas. Ele acariciou seus cabelos e a
balançou, sussurrando para ela… E eu pude ver. Pude ver o pai dentro dele.
De fato, era uma situação trágica e suas ações foram motivadas pela
tristeza pela garotinha que estava deitada em seus braços, mas estava ali
para ver, claro como o dia – um lado suave, frágil e carinhoso que faria um
grande pai. Eu estava com medo antes. Com medo que as partes violentas e
perigosas da sua vida não o permitissem se conectar com nada que fosse o
aspecto selvagem da sua natureza. Eu sei agora, com uma certeza
inabalável, que esse não é o caso.
~ 157 ~
Agora, graças a Deus, o pânico e o medo, que estiveram pairando
sobre mim como uma nuvem negra nos últimos dias, se foram. Eu não sei
como teria suportado isso junto com a imensa dor que tenho em meu
coração por Millie e Mason agora. Seria demais para aguentar.
— Não. Os italianos.
Meu alívio de antes desaparece. Isso são más notícias. Más notícias
pra caralho. O que vai acontecer agora? De todos os momentos para as
coisas explodirem na nossa cara, esse é o pior de todos. Apenas algumas
horas se passaram desde que eu falei para mim mesma que ter uma criança
seria algo possível para nós. Mais do que possível; seria algo bom. E agora eu
vejo a família faísca de escuridão em Zeth, e tudo que eu disse a mim mesma
está se tornando mentira.
— Sloane... — Zeth pega minha mão e leva até sua boca, pressionando
as costas da mão contra os seus lábios e congelando nessa posição. Ele
parece estar pensando. Então ele diz, — Eu tenho que ir para Nova York.
— Você sabe porquê. Eu não posso deixar isso sem resposta, — ele
rosna, sua voz cheia de raiva. — Se eu não fizer nada sobre o fato deles
terem colocado fogo no armazém, eles vão queimar esse lugar da próxima
~ 158 ~
vez. Provavelmente enquanto estivermos na nossa maldita cama. Eu não vou
deixar isso acontecer. Não vou deixar ninguém te machucar. Jamais. Eu vou
matar cada um desses filhos da puta antes de deixar eles colocarem um
dedo em você. Isso quer dizer que tenho que ir para Nova York.
— Eu não fujo das minhas lutas, Sloane. E com toda certeza de merda
eu não vou correr para Rebel. Você mal fala com a sua irmã. Você vai odiar
viver no Novo México, porra.
— Você pode fazer isso. Talvez você faça, mas e se não fizer? Se você
morrer, Zeth, eu morro.
— Eu morreria porque eu iria mais querer viver, seu idiota! Minha vida
estaria acabada sem você. Eu não poderia... eu não posso nem... — lágrimas
enchem meus olhos, borrando a minha visão. Eu mal consigo vê-lo agora.
Isso é bom, porque não quero olhar para ele. Eu quero arrancar meus olhos
fora e fingir que isso não está acontecendo. Não hoje. Não com Mason lá em
cima, quebrado, e o resto do mundo desabando ao nosso redor.
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está pensando em como responder essa questão. — Jesus, Zeth. Se não por
mim, você faria isso pelo seu filho que ainda não nasceu?
Essas palavras o atingem com força, como um tapa na cara. Ele pisca,
salta, as costas duras e retas. Ele segura a respiração, os lábios apertados.
Merda. Merda, merda, merda. O que eu fiz? Eu não deveria ter cuspido essa
notícia assim. Eu deveria ter dito a ele assim que eu descobri, eu sei disso,
mas eu precisava de tempo para pensar. E agora eu acabei de deixar essa
novidade explodir para fora de mim dessa maneira? Parece que o tempo
parou.
Eu não consigo decifrar sua expressão. Ele está feliz? Está com raiva?
Deus, ele parece apenas confuso. Ele lentamente fica de pé, de forma que
está pairando sobre mim. — Você está grávida? — sua voz é baixa e suave,
como se ele estivesse com medo de formar as palavras, e ainda mais de
deixá-las passar pelos seus lábios.
Eu assinto.
Ele não esta feliz. Eu cubro o rosto com as mãos. Eu não consigo
respirar. Não consigo respirar, porra. Eu amo tanto esse homem. Ele é o
sangue que faz meu coração continuar a bater. O oxigênio que enche meus
pulmões. O bálsamo que acalma a minha alma. Se ele me odiar por isso, se
ele se ressentir comigo, isso vai partir o meu coração.
— Zeth...
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Ele se vira rapidamente, pega sua jaqueta de couro do cabideiro e
marcha para fora da casa, batendo a porta ao passar. A casa estremece com
o som, ecoando como um tiro.
Ele... ele não... ele não disse nada. Como? Como ele pôde ir embora
sem dizer uma palavra para me acalmar, para fazer eu me sentir melhor?
Como ele pôde ficar ali parado todos aqueles segundos e ser capaz de
esconder sua reação tão bem? Ele está furioso. Ele está furioso e ele me
odeia por isso, eu apenas sei. Deus, eu não consigo respirar. Porra, eu não
consigo...
A porta se abre com tanta violência que é um milagre que ela continue
presa às dobradiças. Zeth volta para dentro de casa como uma força da
natureza, uma tempestade imparável, girando e vibrando com energia. Ele
joga a jaqueta no chão, andando até parar a um metro de mim.
— Você está grávida, — ele diz, correndo as mãos pelo cabelo. É uma
afirmação dessa vez, não uma pergunta. — Você está grávida. De um bebê.
Meu bebê.
— Sim, — ele não está implicando que eu estive dormindo com outra
pessoa e que há uma chance de não ser dele. Posso dizer pelo seu olhar
chocado que ele está apenas tentando trabalhar o conceito na sua cabeça.
Eu tive alguns dias para me acostumar com a novidade, e ainda estou
trabalhando nisso. É compreensível que ele esteja tão atordoado.
~ 161 ~
Eu o coloco para fora da sua miséria e vocalizo a questão. — Se eu
quero manter a gravidez?
Ele congela, seus olhos presos nos meus. As pontas das suas orelhas
estão vermelho-brilhante. — Eu sei que você não vai acabar com isso,
Sloane. Eu só quero saber se... — ele faz uma careta, fechando as mãos em
punhos. Frustrado não é a palavra para o seu estado de espírito agora. É
algo maior, algo além disso, mas eu não consigo definir em uma palavra. Ele
afunda na poltrona oposta à minha, sua cabeça pendurada, o queixo quase
encostando no peito. Ele parece derrotado.
— Eu quero saber como você se sente sobre isso, — ele diz as palavras
com pressa. — Quero saber se ter um bebê, ter o meu bebê, é algo que vai te
fazer... feliz. Você pode... você pode ver isso? Na sua cabeça?
Ele nunca pareceu tão vulnerável. Deus, eu quero correr para o outro
lado e me atirar nele, mas Zeth lida com seus sentimentos de um jeito
estranho. Ele não vai suportar que eu abrace dessa forma. Ele vai rejeitar
esse ato de carinho. Ele precisa que eu lhe dê tempo para dizer as palavras,
e ele precisa que eu lhe responda da maneira mais simples possível. Então é
assim que eu respondo.
— Sim. Sim, eu posso ver isso. Posso ver tudo. Eu quero esse bebê. Ele
é metade de mim e metade de você. Como eu posso não o querer? Eu estava
com medo de sequer pensar nisso por um tempo, vou admitir, mas agora eu
sei. Isso não foi planejado, e o tempo com certeza não é o ideal, mas eu sei
que podemos fazer isso funcionar. Se você estiver aqui comigo, nós podemos
fazer qualquer coisa.
Uma onda corre por mim, tão forte e poderosa que posso sentir o alívio
me tomando, tão intenso que minha cabeça gira. Deixo sair um soluço
quebrado e então coloco as mãos sobre a boca, tentando segurar os
próximos soluços altos que estão se construindo no meu peito. Zeth pula da
sua cadeira e corre para mim, me abraçando e me puxando da cadeira para
os seus braços.
~ 162 ~
— Não acredito nisso, — ele diz, sussurrando no meu cabelo. — Não
chore, garota zangada. Tudo vai ficar bem. Tudo vai ficar bem, eu prometo.
Eu juro a você. Porra, eu te amo tanto.
— Você não vai estragar tudo, — eu digo a ele. — Você vai tirar tudo
isso de letra, Zeth Mayfair.
Fim
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