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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ


Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS
Programa de Pós-Graduação em Ciência Política – PPGCP

Disciplina: Laboratório de Mídia e Política


Professora: Maria Lúcia Maciel

As estruturas de comunicação da União Nacional dos Estudantes:


um estudo sobre mídia e participação política

Autor: Carlos Henrique B. Buck

Agosto de 2003

1
2

Capítulo I

O NOVO CENÁRIO MUNDIAL E O PODER POLÍTICO DO SISTEMA MIDIÁTICO

1. A revolução tecnológica e o capitalismo informacional


Para Stephen J. Gould ... A história da vida, como a vejo, é uma série de situações
estáveis, pontuadas em intervalos raros por eventos importantes que ocorrem com grande
rapidez e ajudam a estabelecer a próxima era estável”.1 Castells concorda com Gould e
acrescenta que “no final do século XX vivemos um desses raros intervalos na história”.2
Neste, estaríamos vivendo sob um novo paradigma tecnológico, baseado na tecnologia da
informação. O autor encontra no novo paradigma tecnológico os princípios organizadores de
um novo “modo de desenvolvimento”, o informacionalismo. Ressalta, entretanto, que o novo
“modo de desenvolvimento” não implica em um novo modo de produção, que continua sendo
o modo capitalista. O informacionalismo inclui-se, então, no processo de reestruturação do
sistema capitalista, na construção de sua nova fase, o capitalismo informacional.
A tecnologia estaria passando por uma revolução que seria, para Castells, um evento
histórico tão importante quanto a Rev. Industrial do séc. XVIII, “induzindo um padrão de
descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura”. Sua peculiaridade
estaria no fato de que “diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da
transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da
informação, processamento e comunicação”.3
Conhecimento e informação são elementos essenciais em qualquer modo de
desenvolvimento (modos anteriores - agrário e industrial), pois o processo produtivo tem de
se basear sobre algum grau de conhecimento e sobre o processamento de informação. No
entanto, o que é específico do modo informacional de desenvolvimento é a ação de
conhecimentos sobre os próprios conhecimentos como principal fonte de produtividade.4
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de
conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa
informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de

1
GOULD, Stephen J. The panda’s thumb: more reflections on natural history. In CASTELLS, Manuel. A
sociedade em rede: 67
2
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: 67
3
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: 68
4
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: 54

2
3

processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação


cumulativo entre a inovação e seu uso.5

2. Uma nova base material em construção


No final do século XX, esta nova revolução tecnológica começou a transformar a base
material de nossa sociedade. Surge um novo cenário social, de interdependência global entre
os diferentes países e, como conseqüência, mudam as relações entre a economia, o Estado e a
sociedade.
São muitas as modificações. No quadro político, o fim da União Soviética, a queda do
Muro de Berlim, o difícil processo de unificação européia, entre outras mudanças, conduzem
a uma nova geopolítica mundial. Na economia, o capitalismo sofre um processo de
reestruturação: maior flexibilidade de gerenciamento; descentralização e organização em
redes nas empresas; o capital se fortalece diante do trabalho e os movimentos de trabalhadores
se enfraquecem; a mulher se insere maciçamente no mercado de trabalho; os Estados intervêm
desregulando o mercado; aumenta a concorrência econômica global. As mudanças sociais
também são drásticas: fortalecimento da condição feminina; mudanças nas relações
familiares; a consciência ambiental; crise de legitimidade dos sistemas políticos; a profusão
de movimentos sociais, embora freqüentemente fragmentados. Enfim, um mundo de
mudanças confusas e incontroladas, onde as pessoas buscam a difícil construção de suas
identidades individuais e coletivas.6

3. Uma nova estrutura midiática


Os meios de comunicação também sofrem alterações. Surge um novo sistema midiático,
que adquire uma posição cada vez mais importante em um mundo globalizado, conectado e
com economias interdependentes.
Grandes Estados e corporações tomam decisões que podem afetar o mundo todo,
decisões que dependem em boa parte da capacidade de obter e processar informações, mas
que também são decididas em função de reações da opinião pública, e esta última é, em boa
parte, informada pelos meios de comunicação, sofrendo, portanto, sua influência.
Partidos políticos e movimentos sociais também sofrem os efeitos desta nova estrutura
e buscam se adaptar. Modificam e adequam seus discursos segundo as regras dos novos

5
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: 69
6
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: 39-41

3
4

mecanismos, de forma a obterem os efeitos desejados, o que muitas vezes ocorre em


detrimento de seus próprios valores.
A televisão, pela abrangência e reconhecida capacidade de influir na esfera política,
afirma sua importância central nesta nova cultura midiática. Sarti analisa e critica os estudos
de comunicação e política realizados desde a década de 1970. Evidencia que, apesar da
heterogeneidade das análises, os resultados concordam em um aspecto: a centralidade da
mídia, em particular da televisão, na construção dos cenários políticos que caracterizam as
novas democracias latino-americanas da década de oitenta.7
A autora destaca a consolidação e força da mídia na década de 1990 e o surgimento, na
literatura brasileira, de análises que refletem sobre o impacto de uma “cultura da imagem”
sobre a representação moderna, que se sabe ancorada tanto na força da palavra própria de
uma “cultura argumentativa” como na importância dos partidos políticos como sujeitos
políticos da “mediação”.8 Nessas análises, as mídias surgem como atores políticos
fundamentas no processo eleitoral brasileiro. Os discurso dos políticos descaracterizam-se,
obrigados a conformar-se ao estilo midiático, onde características como experiência, liderança
e, tragicamente, o próprio programa político, perdem importância diante do poder
homogeneizante da nova cultura imposta pela mídia.
A capacidade de influência na política da mídia televisiva encontra-se bastante à frente
das redes interativas de computadores, cujas possibilidades e capacidades de influência
apresentam-se ainda indeterminadas. No entanto, estas redes e suas potencialidades são a
grande novidade.
... um novo sistema de comunicação que fala cada vez mais uma língua universal
digital tanto está promovendo a integração social da produção e distribuição de
palavras, sons e imagens de nossa cultura como personalizando-os ao gosto da
identidades e humores dos indivíduos. As redes interativas de computadores estão
crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação,
moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela9.
Para Pierre Levy, esta grande novidade se chama Cibercultura:
No final dos anos 80 e início dos anos 90, um novo movimento sociocultural,
originado pelos jovens profissionais das grandes metrópoles e dos campi
americanos tomou rapidamente uma dimensão mundial. Sem que nenhuma
instância dirigisse esse processo, as diferentes redes de computadores que se
7
SARTI, Ingrid. A construção midiática do poder: avaliação crítica da literatura: 64
8
SARTI, Ingrid. A construção midiática do poder: avaliação crítica da literatura: 65
9
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: 40

4
5

formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas às outras enquanto o


número de pessoas e de computadores conectados à inter-rede começou a crescer
de forma exponencial. Como no caso da invenção do computador pessoal, uma
corrente cultural espontânea e imprevisível impôs um novo curso ao
desenvolvimento tecno-econômico. As tecnologias digitais surgiram, então, como
a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade,
de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do
conhecimento.10
A nova estrutura midiática é, em nosso entendimento, constituída, principalmente, por
essas duas mídias citadas acima, e a partir de dois pontos principais: primeiro, a importância
central que a televisão e a cultura da imagem passaram a desempenhar no cenário político
brasileiro. E segundo, pelas possibilidades da Internet como meio de informação, divulgação,
agregação, mobilização, enfim, diversas formas de manifestação e intervenção política.

Capítulo II

ANÁLISE DO NOVO SISTEMA MIDIÁTICO

1. Mídias – o que são e quais suas características


A mídia é o suporte ou veículo da mensagem. O impresso, o rádio, a televisão, o
cinema ou a Internet, por exemplo, são mídias.
As características de uma determinada mídia depende de alguns elementos essenciais.
Levy destaca cinco elementos11:
 A modalidade perceptiva – indica os sentidos humanos que são solicitados e
sensibilizados pela mídia em questão. O impresso, por exemplo, trabalha principalmente
com a visão e, secundariamente, com o tato.
 Tipos de representações – uma mesma modalidade perceptiva pode utilizar diversos tipos
de representação. O impresso, utilizando o mesmo exemplo, solicita prioritariamente a
visão (modalidade perceptiva), e o faz através de textos ou imagens, dois tipos de
representação diferentes.

10
LEVY, Pierre. Cibercultura: 32
11
LÉVY, Pierre. Cibercultura: 62-64

5
6

 A codificação – pode ser analógica ou numérica. Destaca o sistema fundamental de


gravação e transmissão das informações. Exemplificando, a diferença entre o disco de
vinil e o CD é exatamente esta; o primeiro é analógico e o segundo digital. O rádio, a
televisão, o cinema e a fotografia podem utilizar a informação em ambas as formas.
 Dispositivo informacional – ... qualifica a estrutura da mensagem ou o modo de relação
dos elementos de informação. A mensagem pode ser linear (como ocorre com a música
normal, o romance ou o cinema) ou em rede12. É importante notar que dicionários,
enciclopédias e bibliotecas têm estrutura em rede, de forma que os hiperdocumentos
digitais não foram os criadores deste tipo de estrutura. Mas dois dispositivos
informacionais foram criados pelo ciberespaço: o mundo virtual e a informação em fluxo.
 Dispositivo comunicacional – designa a relação entre os participantes da comunicação.
Podemos dividi-lo em três categorias: um-todos, um-um e todos-um, indicando a relação
emissor-receptor da mensagem. O rádio e a televisão, por exemplo, estariam na categoria
um-todos, pois a emissão da mensagem se encontra em um único centro, de forma que
esta mensagem alcança todos os receptores sem variações em seu conteúdo. Na categoria
um-um, o correio e o telefone possibilitam a dupla interferência entre emissor e receptor,
de forma que há interação entre as mensagens. No entanto, possibilita contatos apenas
indivíduo a indivíduo ou ponto a ponto.

2. A televisão
2.1. Onipotência da televisão (emissor) X Onipotência do telespectador (receptor)
A tese da onipotência da televisão, fundada na idéia de uma relação unilateral e
mecanicista entre mídia e política já não é mais aceita.
Não há dúvidas que as representações da realidade apresentadas pelos meios de
comunicação têm forte influência sobre as opiniões elaboradas pelo público receptor da
mensagem, mas esta parece ser, apesar disso, reelaborada pelo público, em virtude de um
processo onde a mensagem sofre a mediação de diversos fatores, como conversas com família
e amigos, nível de instrução e informação, ambiente de trabalho e de lazer, entre outros.13
Segundo Schmidt, a análise de dados empíricos comprovam que a confiança dos
jovens na cobertura política feita pelos meios de comunicação é limitada, o que indica a
inconsistência de imaginá-los como receptores acríticos e totalmente moldáveis por uma
mídia poderosa e alienadora.14
12
LÉVY, Pierre. Cibercultura: 62
13
SILVEIRA, Flávio E. A decisão do voto no Brasil. In SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 85
14
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 85

6
7

Maia, falando sobre os ensinamentos de Jesus Martin Barbero, acrescenta que a tese
de que o telespectador tem total autonomia em suas decisões também parece ser um engano:
... são dois extremos que não devem ser esquecidos, a crença do mal do emissor e a crença no
telespectador de que faz o que quer, sendo ele, responsável por tudo o que lê, vê ou ouve. E
conclui:
Ao reconhecermos os extremos, o que estamos afirmando é que existe uma vida
no meio, pessoas que vivem e que dialogam com o mundo, inclusive com a
televisão. Dialogam porque têm conhecimento, valores e não são vazios ou
camadas de cera em que imprimem o que desejam imprimir os homens detentores
e produtores das mensagens.15

2.2. A personalização do poder


A televisão personalizou o poder e transformou a política em um espetáculo. No livro
O Estado Espetáculo, Roger-Gérard Schwartzenberg critica o processo de espetacularização
do mundo da política, que ocorre quando esta se apropria dos recursos criados pelo star
system.
O star system surge no mundo do teatro. Adquire relevância, neste meio, entre as
décadas de 1920 a 1950, mas se estende e tem sua força ampliada através do cinema e da
televisão. Tem como objetivo a criação do espetáculo, e como eixo principal desta criação, a
fabricação da estrela.
Na política, o star system possibilita a personalização do poder. A personalização
distrai o público da essência da política, dos programas políticos, ao ressaltar e espetacularizar
a personalidade do político, como se esta fosse uma garantia de determinada conduta e já
afirmasse, por si só, o conteúdo do programa político.
O político é transformado em uma marca comercial, de forma que o programa político
perde sua consistência, superado por esta imagem de marca que se supõe dizer tudo sobre o
político. Mas na verdade pouco se diz, já que a estratégia é exatamente deixar os discursos
incompletos, apresentando diversas possibilidades a serem complementadas pelo público.
A força deste processo está no fato de que as escolhas políticas dos indivíduos
parecem ser determinadas mais por um processo inconsciente, relacionado a sentimentos de
aprovação e repulsa, do que à análise racional dos programas políticos dos políticos.
O público-eleitor, a partir deste processo inconsciente, complementará os discursos
incompletos e generalizados dos políticos. Esta complementação se dá, normalmente, a partir
15
MAIA, Nailton de Agostinho. O vídeo popular como instrumento de educação comunitária.

7
8

de sensações relacionadas à postura, olhar, jeito de vestir, e diversos outros atributos,


devidamente estudados pelos profissionais de publicidade e propaganda, que acentuam, no
candidato-personagem, as diversas habilidades comportamentais que possam impressionar
seus eleitores, contrariamente ao que deveria ser o objetivo das disputas políticas, oferecer
conteúdos programáticos para a escolha racional da linha política mais adequada ao eleitor.16
Devemos notar, entretanto, que as análises de Schwartzenberg destacadas acima, estão
de acordo com a idéia, já criticada anteriormente, da onipotência televisiva. Mesmo assim,
suas idéias têm grande consistência na atualidade. Não é difícil reconhecer que,
principalmente desde a campanha de Fernando Collor de Melo à presidência, nas eleições de
1989, e em todas as eleições seguintes e para todo tipo de cargo político, os recursos
abordados por este autor vêm sendo largamente utilizados.

2.3. Dispositivo comunicacional um-todos: a falta de interatividade


Uma das principais críticas que se faz acerca das possibilidades de comunicação da
televisão é que seu DC é do tipo um-todos, como ocorre com outras mídias clássicas, como o
rádio e o impresso.
Este tipo de estrutura seria impossibilitador de uma comunicação democrática, já que
apenas a visão de um único centro difusor é responsável pelo conteúdo da informação que não
sofre intervenção direta dos receptores. Não há interação entre emissor e receptores.

3. A Internet
3.1. A cibercultura e a inteligência coletiva
Pierre Levy, no livro Cibercultura, faz uma abordagem otimista, ressaltando a Internet
como provável potencializadora da inteligência individual, pelo fato de que os recursos da
rede, como memória, simulação, entre outros, possibitariam uma ampliação da sensorialidade
individual humana. Mas destaca, principalmente, as possibilidades de criação de uma
inteligência coletiva, em virtude de constituir-se em uma forma de comunicação não
midiática, interativa, comunitária, transversal e rizomática. 17

3.2. O rizoma – todos se tornam emissores e receptores


A estrutura em rizoma do ciberespaço permite que o mesmo se torne um sistema de
democratização de informações e conhecimentos onde todos têm a possibilidade de serem

16
SCHWARTZENBERG, Roger G. O estado espetáculo
17
LÉVY, Pierre. Cibercultura: 132

8
9

também emissores, e não só receptores, como acontece nas mídias clássicas, como a televisão,
o rádio e a mídia impressa.

3.3. Um novo espaço para novas dominações ou Um espaço de possibilidades indeterminadas


Levy critica as análises que afirmam o ciberespaço como um novo espaço a ser
utilizado para novas dominações, o que ele considera uma verdade apenas parcial. Estas
análises colocam a Internet na mesma linha das mídias tradicionais, ao entenderem que esta
será facilmente dominada pelas grandes corporações e Estados fortes, de forma a centralizar a
emissão e censurar os atores que pudessem emitir informações em desacordo com suas
orientações ideológicas.
O autor destaca que as possibilidades da Internet ainda estão indeterminadas.
Reconhece que existe a possibilidade de apropriação das potencialidades da rede por Estados
e corporações, mas considera que o ciberespaço também pode ser colocado a serviço do
desenvolvimento da inteligência individual e coletiva. Justifica sua colocação: ... a World
Wide Web não foi nem inventada, nem difundida, nem alimentada por macro-atores
midiáticos como a Microsoft, a IBM, a AT&T ou o exército americano, mas pelos próprios
cibernautas.18

3.4. A substituição do mundo real pelo virtual


Outra crítica do autor refere-se às análises que acreditam na substituição do mundo
real pelo virtual, de forma que o excessivo aumento da comunicação no ciberespaço inibiria
os contatos humanos diretos. Para rebater esta visão, o autor dá vários exemplos práticos que
mostram que raramente um novo modo de comunicação faz os anteriores desaparecerem
completamente. Não se fala menos após a descoberta da escrita, a fotografia não substituiu a
pintura, o cinema não substituiu o teatro e, mesmo a televisão, apesar de ter afetado
sensivelmente o cinema, não o fez desaparecer. Acrescenta ainda, que o desenvolvimento da
telefonia não ocasionou a diminuição dos contatos diretos ou a diminuição do uso dos
transportes, tendo ocorrido exatamente o contrário.
Especificamente em relação ao ciberespaço, relata que seus usuários
... são em sua maioria pessoas jovens, com diploma universitário, vivendo em
cidades, estudantes, professores, pesquisadores, trabalhando geralmente em
áreas científicas, de alta tecnologia, negócios ou arte contemporânea. Ora, este
tipo de população é justamente uma das mais móveis e sociáveis. O usuário típico
18
LÉVY, Pierre. Cibercultura: 223

9
10

da Internet (que cada vez mais é uma usuária) corre de uma conferência
internacional para outra e freqüenta assiduamente uma ou mais comunidades
profissionais.

Capítulo III

O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO NOVO SISTEMA MIDIÁTICO

1. Pequena história do movimento estudantil - ME


A história do Movimento Estudantil é fascinante, e talvez por isso tenham surgido mitos
que supervalorizam sua força política. No entanto, subestimá-la também é um erro. Não
faltam relatos que ilustram a participação política atuante, e às vezes de vanguarda, na
resistência e na luta em diversos movimentos, seja no âmbito da universidade, seja em defesa
de causas nacionais. Velasco e Cruz enfatiza a importância política do ME no passado, mais
especificamente nos anos 60:
Embora representasse uma parcela ínfima da população – cerca de 150 mil
universitários, em um universo de mais de 70 milhões de habitantes – no
Brasil de meados dos anos 60 o movimento estudantil constituía um fator
importante da vida política nacional. Em parte pela origem social de seus
integrantes — em sua maioria filhos da alta classe média e das elites
dominantes ... — em grande medida por sua história prévia, pelo nível de
institucionalização alcançado e por sua forma de organização.19
A história do ME mostra que desde 1938, ano de fundação da União Nacional dos
Estudantes (UNE), até 1968, este conquistou progressivamente mais espaço e força política.
No entanto, com o endurecimento da ditadura, e após o AI-5 decretado em 13 de dezembro de
1968, a década de 1970 mostra um ME politicamente derrotado e anulado em suas ações. Este
somente ressurge na segunda metade da década, mas traz consigo outra linguagem, outras
regras táticas de comportamento, outro repertório. Para esse movimento, 1968 era uma
referência distante, envolta numa aura mística.20

19
VELASCO E CRUZ. 1968. Movimento estudantil e crise na política brasileira: 39
20
VELASCO E CRUZ. 1968. Movimento estudantil e crise na política brasileira: 51

10
11

Na década de 1980, o ME teve participação importante no movimento Diretas Já, em


1984, mas não se constitui no seu núcleo central, ocupado por outros atores, como o novo
movimento sindical e lideranças políticas da oposição e dissidentes do regime militar.21
Os primeiros anos da década de 1990 sinalizam um reerguimento vigoroso de sua
atuação política. Os estudantes são destaque nos protestos que exigem o impeachment do ex-
presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Segundo Mische,
Os estudantes são maioria em todas as manifestações. Estupefatos, analistas e
estudiosos acostumados às discussões sobre o ceticismo e a apatia da “geração
shopping center”, procuravam explicar a volta dos jovens às manifestações de
rua. Alguns viram nesses movimentos apenas o dedo da mídia. Outros, estudiosos
da década de 1960, interpretaram tais eventos como sinalizadores da retomada
da consciência política juvenil. Todavia, há indícios de que a explicação mais
sustentável está em outra direção, e ela tem a ver com a complexidade das
contradições dos jovens brasileiros dos anos 90.22

De forma surpreendente, os estudantes demonstram interesse e senso de eficácia


política. No entanto, as manifestações políticas não tiveram continuidade, tendo caráter
apenas episódico durante toda a década.

2. O movimento estudantil na atualidade: em estado de crise ?


Atualmente, o ME parece estar em crise. O acesso a sites de diferentes entidades do ME
e relatos informais de um grande número de militantes políticos estudantis indicam um estado
de crise. Mas que tipo de crise?
Crise de participação política das bases23 estudantis, que aparenta ter alcançado níveis
muito baixos. O ME parece não despertar o interesse da massa de estudantes.
Na verdade, não podemos afirmar a existência desta crise. Para tanto, teríamos de apurar
dados quantitativos, por exemplo, acerca do número de órgãos representativos e de votantes
em suas eleições, proporcionalmente ao número de estudantes em cada período determinado.

21
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 207
22
MISCHE, A. Redes de jovens
23
A base é composta por todos os estudantes, neste caso universitários, que não são membros das diretorias das
entidades de representação estudantil, como por exemplo, os CAs (Centros Acadêmicos), DCEs (Diretórios
Centrais de Estudantes) e mesmo a UNE (União Nacional dos Estudantes).

11
12

Podemos afirmar, entretanto, a existência de uma percepção de crise, ao menos entre um


determinado grupo de militantes estudantis pois, numa busca aleatória na Internet, algumas
das páginas investigadas mostram com destaque tal estado.24
Em relação à base estudantil, não podemos determinar a existência de crise ou mesmo
de uma percepção de crise, pois as páginas de Internet são organizadas, em sua grande
maioria, por militantes estudantis, e não poderiam, de antemão, representar a opinião da base.
Portanto, não analisaremos nesta pesquisa a percepção da massa estudantil, pois estes não
serão questionados acerca de suas opiniões e percepções.
Ainda assim, mesmo sem podermos afirmar que a percepção de crise é comum a todos
os estudantes universitários, a pesquisa destaca a importância de tentar entender a percepção
de uma parcela dos militantes políticos estudantis, já que são estes que mais atuam
politicamente e que possibilitam as mobilizações e manifestações políticas estudantis.
São eles, em última instância, que organizam a participação da “massa”, mesmo que por
vezes esta seja estimulada ou desestimulada por uma série de outras variáveis. De forma que a
verificação de como estes percebem o atual estado do ME é fundamental para entendermos
seus objetivos, iniciativas, indagações e estratégias de atuação política.

3. Teorias sobre a participação política da juventude


Destacamos duas abordagens, às quais denominaremos de visão pessimista e visão
realista. Na visão pessimista, os jovens encontram-se em difícil posição. Segundo Zanetti:
Na disputa por um mercado de trabalho cada vez mais restrito e seletivo, os
interesses por outros universos que não o do trabalho parecem se estreitar. Não
existem grandes ideologias para seduzir os impulsos revolucionários desta fase
da vida, como existiu no passado, e a globalização, com uma grande carga de
informações, acompanhada de uma mídia poderosa, parece ter a capacidade de
produzir a individualização extrema e a apatia política em todo lugar e corpo que
encontra.25

24
Endereços de algumas das páginas investigadas:
http://www.movimentoreviva.hpg.ig.com.br/movimento.htm;
http://www.cce.ufpr.br/~pardinho/Textos/movi.htm;
http://www.linsnet.br/verona/movimento_estudantil.htm;
http://home.ism.com.br/~thiagorf/enu.htm;
http://www.torturanuncamais.org.br/MTNM_pub/pub_ensaios/pub_ens_jovens.htm;
http://www.mundojovem.com.br/gremio3.htm; http://www.sopravariar.hpg.ig.com.br/movimento
25
Destaca-se nesta corrente, ZANETTI, H. Juventude e revolução

12
13

A apatia política, segundo Schmidt, não é um dado novo entre os jovens, apesar de ter
se tornado muito pronunciada nas últimas duas décadas26. Apresenta-se como um fator
negativo relevante, mas o autor entende que a participação política da juventude brasileira dos
anos 1990 envolve relações mais complexas.
Consideramos a abordagem de Schmidt mais realista, e por isso lhe daremos esta
denominação. Segundo o autor, os jovens dos anos 1990 expressam a mesma cultura política
híbrida própria ao conjunto da sociedade. Este hibridismo seria fruto das características
ambíguas do período de redemocratização, resultado da mistura entre elementos da cultura
política tradicional e da cultura política dos anos 1980, tendo presente tanto elementos
democráticos, como elementos autoritários, de descrença e de apatia política.
Indo além da visão pessimista, que destaca a apatia política da juventude atual, Schmidt
relata que dados de pesquisas realizadas em outros países evidenciam a inconsistência da idéia
de que particularmente os jovens brasileiros dos anos 1990 não teriam interesse ou
predisposição à participação política. Esta, em suas diversas formas, varia significativamente
entre diferentes países, não havendo um país “modelo”, no qual se concretize o cidadão
participante, símbolo dos ideais democráticos. A baixa participação política é uma
característica comum mesmo nos países com forte tradição de democracia representativa, de
forma que os estudantes brasileiros não fogem à regra descrita nas pesquisas internacionais.27
Estudos citados por Schmidt ressaltam o fato de serem comuns os baixos índices de
participação política. O autor cita as conclusões de David Burg 28, para o qual a participação
estudantil sempre foi pequena, de 10 a 20% do total, às vezes inferior a 2% 29. Cita também a
Teoria dos Três Públicos. Em suas palavras, esta teoria
... parece generalizável nos principais traços às democracias ocidentais de um
modo geral. A maior parte da população compõe o público de massa, cerca de
75% do total, caracterizado por uma atenção marginal à política, medianamente
cínico acerca do comportamento dos agentes políticos, mas que aceitam seu
dever de votar. Um extrato de aproximadamente 20% compreende os
apolíticos ..., indivíduos caracterizados pelo desinteresse e desatenção à política,
pela pouca informação e sequer não assumem opiniões políticas definidas nem o
dever de voto. O menor grupo, cerca de 5%, é composto pelos ativistas políticos,

26
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 323
27
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 326
28
BURG, David. Encyclopedia of Students and Youth Movements in SCHMIDT, J.P. Juventude e política no
Brasil: 188-189
29
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 189

13
14

que exibem altos níveis de envolvimento, como é o caso dos políticos


profissionais, dirigentes, jornalistas e analistas políticos.30
Em seu estudo sobre a juventude, o autor encontrou resultados com proporções um
pouco diferentes, mas que podem ser encaixados na teoria dos três públicos. Ativistas em
torno de 5%, público de massa 59,7%, apolíticos 35,1%. Interessante notar que os ativistas
apresentaram resultados iguais aos indicados pela teoria, enquanto que o público de massa se
reduziu e o de apolíticos se elevou.31
Um outro dado interessante relaciona-se ao fato de que a participação política da
juventude dos anos 1990 parece estar mudando de forma. Os resultados da pesquisa de
Schmidt, tanto de dados sobre a participação política como sobre a predisposição à participação
política dos jovens da década de 1990 indicam este redirecionamento.
Schmidt cita a existência de vários indicadores de fragilidade da cultura democrática
participativa dos jovens: ...a pouca participação dos estudantes nas entidades estudantis, o
pouco envolvimento dos jovens nas atividades e organizações políticas e o declínio do
alistamento eleitoral dos jovens de 16 e 17 anos.32
Tomando Abramo33 como referência, entretanto, relata que este observa a presença de
inúmeras figuras juvenis nas ruas, envolvidas em diversos tipos de ações individuais e
coletivas, o que pode estar a indicar o desenvolvimento de um senso democrático através de
formas ainda não devidamente pesquisadas.34
Nos resultados de sua pesquisa acerca dos índices de participação política e de disposição
para a participação em atividades e organizações sociais e políticas, detecta uma predisposição
favorável ao engajamento político, pois a disposição para participar chega a 85%. No entanto, a
disposição não se efetiva em ações, de forma que a participação real apresenta baixos índices. 35
A predisposição para participar mostra o predomínio, entre as formas de inserção, de
valores pós-materialistas, como movimentos ecológicos, feministas, de direitos humanos,
contra o racismo, entre outros, que parecem atrair maior interesse que as formas convencionais,
como eleições, partidos políticos e manifestações de rua.36
O distanciamento das instituições políticas, a desconfiança frente aos agentes políticos, a
reduzida eficácia política (confiança na capacidade subjetiva de influenciar as decisões

30
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 56
31
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 279
32
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 207
33
ABRAMO, H. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil
34
SCHMIDT, J. P. Juventude e política no Brasil: 207-208
35
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 326 e 334
36
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 334

14
15

políticas), a carência de referenciais partidários e ideológicos podem ser alguns dos fatores a
induzir este redirecionamento das formas de participação política da juventude.37
Apesar de, segundo a pesquisa de Schmidt, o movimento estudantil apresentar um bom
índice de confiança, muito acima das instituições políticas ligadas ao Estado, ele pode ser
incluído entre os movimentos sociais convencionais, normalmente de abrangência nacional, e
tradicionalmente envolvidos em grandes causas ideológicas.
Os novos movimentos sociais, organizações ecológicas, feministas, de direitos humanos,
de combate ao racismo, as ONG’s, o Terceiro Setor e o trabalho voluntário, na maioria das
vezes têm causas bem direcionadas e localizadas. Talvez por isso proporcionem um sentido de
eficácia política mais palpável e estejam, ao que parece, redirecionando a participação política
da juventude brasileira a seu favor.

Capítulo IV

A COMUNICAÇÃO PODE SER A SOLUÇÃO

1. A percepção pode influenciar as atitudes


Um dos objetivos desta pesquisa é verificar como a entidade máxima representativa dos
estudantes universitários, a União Nacional dos Estudante (UNE) percebe a hipótese, também
uma percepção, destacada por algumas páginas da Internet que foram investigadas por esta, da
existência de uma crise de participação política das bases do ME.
Objetivamos também verificar qual a percepção que esta mesma entidade tem do que
entendemos como uma nova estrutura midiática.
Queremos enfatizar a importância do entendimento destas percepções, pois as atitudes,
os objetivos e as estratégias de trabalho da UNE serão, se não determinadas, com certeza
influenciadas, em grande parte, com base nestas percepções, sejam elas reflexo do que
acontece no mundo real ou mera ilusão.

2. Com ou sem crise ou percepção de crise, a participação é baixa e pode ser estimulada
Mesmo que não caracterizemos uma crise ou uma percepção de crise podemos, com
base nos autores, já citados, estabelecer que a participação política dos estudantes no ME
encontra-se em níveis baixos e insatisfatórios.
37
SCHMIDT, J.P. Juventude e política no Brasil: 176 e 323, 324 e 328

15
16

Enfatizamos que, ao afirmarmos a noção de que participação política estudantil no ME é


baixa e insatisfatória, não estamos buscando comparações com qualquer outro período de
atuação política estudantil, como comumente se faz, normalmente com relação a década de
1960, de forma a colocar qualquer período posterior como decadente, e dando ênfase a uma
provável ou aparente redução da participação política.
O que não queremos é nos acomodar diante da idéia de que a apatia política e a baixa
participação são traços comuns à maioria dos países, como observam as pesquisas
internacionais, e chegar, por esse raciocínio, ao ponto de considerá-los como fatores sociais
imutáveis, e estabelecidos segundo os moldes da teoria dos três públicos.
Também não queremos nos acomodar diante do fato do aparente afastamento da
juventude das instituições políticas e dos movimentos sociais convencionais, como o ME, não
se configurar em um abandono, mas em um redirecionamento da participação, na direção dos
novos movimentos sociais.38
Acreditamos que as instituições políticas e os movimentos sociais convencionais
continuam sendo importantes, e que podem lutar pelo aumento da participação política dos
jovens em suas entidades, crescendo junto com os novos movimentos sociais, num real
movimento de fortalecimento da cidadania.
Acreditamos que a questão da participação política pode ser trabalhada de forma mais
competente, pois... não se pode dizer que a apatia ou o distanciamento das instituições seja
um fenômeno universal. Há países em que a política é avaliada positivamente pelos estratos
juvenis. Tal é o caso da Noruega39... Mesmo considerando que são enormes as diferenças da
cultura política de países como Brasil e Noruega, consideramos que o incentivo à participação
política pode ser melhor trabalhado. Schmidt cita Wanderley Guilherme dos Santos (1987,
p.49), para o qual o interesse das maiorias é mobilizável eventualmente em torno de questões
que afetam e sensibilizam profundamente o conjunto da população, ocasião em que podem
ocorrer mobilizações de massa se houver a convergência de uma série de fatores.40
Acreditamos que, assim como o interesse das maiorias parece ser mobilizável para
grandes questões, a participação política regular e cotidiana dos estudantes também pode ser
incentivada. Para tal fim, entretanto, devem ser estudadas estratégias. E entre estas estratégias,
entendemos que a comunicação ocupa uma posição central

38
redirecionamento indicado pela visão realista, e já citado anteriormente.
39
SCHMIDT, P.324
40
SCHMIDT, P.155

16
17

A resposta da diretora de comunicação da UNE, Lúcia Stumpf, ao nosso questionário,


na pergunta acerca dos objetivos da atual diretoria de comunicação, evidencia alguns
importantes objetivos que podem ser alcançados com o trabalho de comunicação.
O nosso objetivo é garantir uma dinâmica de comunicação a altura dos desafios
políticos da entidade. Manter o diálogo constante com os mais de 3 milhões de
estudantes universitários brasileiros, fazendo com que estes estejam sempre
informados sobre nossas idéias e ações. Fazer uma comunicação cada vez mais
interativa, garantindo assim instrumentos de participação ativa dos estudantes na
formulação e divulgação da política da UNE. Garantir que a UNE ocupe cada
vez mais espaços na atual quadra política, se mostrando uma entidade do
movimento social capaz de ajudar no projeto de desenvolvimento nacional.41
Entendemos, portanto, a necessidade de se buscar um trabalho de comunicação o mais
competente possível, que possibilite ao máximo o interesse, a participação e envolvimento
dos estudantes, de forma a fortalecer o ME, e possibilitar sua intervenção nas questões da
universidade e da nação.

3. A Competência Comunicativa (CC)


Considerando o surgimento de uma nova estrutura midiática 42, em um mundo que passa
por uma revolução nas tecnologias de informação, processamento e comunicação,
entendemos que os movimentos sociais devem atentar para a importância das relações entre
mídia e política, e para a necessidade de um bom trabalho de comunicação, principalmente no
que concerne ao fortalecimento das relações com as bases e ao incentivo à participação
política destas.
Com tal intuito, criamos o termo Competência Comunicativa (CC) que, no caso do ME,
e especificamente focando a diretoria de comunicação da UNE, se definiria por dois pontos
chave:
a) relações com a base – um bom trabalho de apreensão das características, necessidades e
objetivos dos estudantes.

41
Parte da resposta ao item 3.1 do questionário respondido pela diretora de comunicação da UNE, Lúcia Stumpf,
constante no capítulo VI desta pesquisa.
42
Caracterizamos a nova estrutura midiática a partir de dois pontos principais: primeiro, a importância central
que a televisão e a cultura da imagem passaram a desempenhar no cenário político brasileiro, onde o discurso
político, assim como os programas políticos, parecem ter perdido importância diante da ação dos “marketeiros”
que foca imagens, posturas, enfim, constrói personalidades em detrimento dos discursos, que se tornam vazios e
excessivamente genéricos. E segundo, pelas possibilidades da Internet como meio de informação, divulgação,
atuação, agregação, mobilização, enfim, diversas formas de manifestação e intervenção política.

17
18

b) relações com a mídia – saber utilizar a informação, e ter conhecimento e organização para
se relacionar de forma competente com a nova estrutura midiática.
Este segundo ponto, a CC da UNE em suas relações com a mídia será nosso objeto de
estudo. Nosso objetivo será verificar, na atual diretoria da UNE, que mídias são vistas com
destaque, e de que forma são vistas (positiva ou negativamente) ? Que mídias a entidade
utiliza em suas estratégias de comunicação, de que forma, e com que objetivos, assim como,
que argumentos são dados para estas escolhas ?

Capítulo V

AS ESTRUTURAS DE COMUNICAÇÃO DA UNE

1. O questionário
Com o objetivo de responder às indagações descritas no capítulo anterior foi elaborado
o questionário a seguir. Este foi enviado à diretora de comunicação da UNE Lúcia Stumpf. É
importante destacar que o mesmo foi enviado e respondido via Internet, já que a diretora
citada se encontrava no estado do Rio Grande do Sul, onde presenciava as eleições para o
DCE da UFRGS, e o elaborador deste trabalho, no estado Rio de Janeiro.
O questionário foi dividido em oito itens:
a) Diretorias responsáveis pela política de comunicação na UNE e atribuições
b) Política da diretoria de comunicação da UNE
c) Objetivos da diretoria de comunicação da UNE
d) As mídias – influência no atual cenário político
e) Mídia e comunicação com a base
f) Mídia e comunicação interna dos dirigentes
g) Percepções sobre a participação política dos estudantes: existência ou não de crise e seus
motivos. Importância da comunicação base/dirigentes neste processo.
h) Percepção sobre os itens da Competência Comunicativa: “conhecimento” da base e
“conhecimento” da mídia

2. Perguntas e Respostas
Neste item transcrevemos as perguntas e respostas em forma integral, sem nenhuma
modificação.

18
19

1.1. Quais as atribuições da diretoria de comunicação da UNE ?


R. O diretor de comunicação da UNE tem a responsabilidade de desenvolver e executar o
projeto político para a comunicação da entidade. É o responsável pela comunicação com a
base , ou seja, o conjunto dos estudantes universitários brasileiros – a mais importante – que
trespassa a relação de comunicação com as demais entidades estudantis. A diretoria de
comunicação deve não somente divulgar e fazer propagar as idéias e ações da UNE, mas
também garantir meios de interatividade entre estudantes e diretoria da UNE para a
formulação da nossa política. Deve estabelecer também contatos e canais de diálogo com a
sociedade em geral e com demais entidades do movimento social.

1.2. Existe alguma outra diretoria na entidade:


a) responsável pela comunicação com a base. Qual (is)? Quais as suas atribuições
b) responsável pela comunicação interna entre as diretorias. Qual (is)? Quais as suas
atribuições ?
c) responsável pela comunicação entre a UNE e outras entidades estudantis? Quais as suas
atribuições?
R. Não para todas. Estas tarefas são de responsabilidade do diretor de comunicação. Apenas
a comunicação interna é feita com o auxílio de um assessor da UNE, que pertence ao quadro
de funcionários e não de diretores. Esse assessor ajuda no contato cotidiano com os 71
diretores da entidade.

2.1. Já existia uma política de comunicação quando esta diretoria assumiu ?


R. Sim. A política de comunicação da UNE vem ganhando peso e espaço político ao longo
das duas últimas gestões. Desde então, temos projetos elaborados e se segue uma certa
continuidade na linha adotada.

2.2. Vocês concordavam com ela ?


R. Sim.

2.3. O que modificaram na atual política de comunicação em relação à anterior?


R. Nesse período em que estamos a recém assumindo a diretoria de comunicação, na fase de
transição entre as duas diretorias, pouca coisa está sendo modificada. A idéia é avançar em
cima dos projetos que já existem e diversificar ainda mais as formas de relação da UNE com
os estudantes e com a sociedade em geral. A UNE pode e precisa ser cada vez mais

19
20

propositiva e capaz de intervir frente as grandes questões nacionais, e para isso a


comunicação joga um papel fundamental.

3.1. Quais os objetivos da atual diretoria de comunicação da UNE ?


R. O nosso objetivo é garantir uma dinâmica de comunicação a altura dos desafios políticos
da entidade. Manter o diálogo constante com os mais de 3 milhões de estudantes
universitários brasileiros, fazendo com que estes estejam sempre informados sobre nossas
idéias e ações. Fazer uma comunicação cada vez mais interativa, garantindo assim
instrumentos de participação ativa dos estudantes na formulação e divulgação da política da
UNE. Garantir que a UNE ocupe cada vez mais espaços na atual quadra política, se
mostrando uma entidade do movimento social capaz de ajudar no projeto de desenvolvimento
nacional.

3.2. Você considera estes objetivos, no atual cenário político:


a) fáceis de realizar
b) com dificuldades medianas para sua realização
c) difíceis de realizar, mas possíveis
d) muito difíceis de realizar, mas parte deles são possíveis
e) Impossíveis de realizar

4.1. Que mídia você considera mais influente no atual cenário político ?
a) Jornal
b) Rádio
c) Televisão
d) Internet
e) Outras – Citar qual (is) __________________________________________

4.2. Por que você considera a mídia citada acima a mais influente no atual cenário ?
R. Além de ser a de mais fácil acesso a população, e mesmo perdendo o poder da noticia
imediata que o rádio e a internet possuem, os jornais ainda são um espaço de discussão e
debate na sociedade. Analises políticas e conjunturais ganham fôlego nos jornais.

4.3. Que outra(s) mídias você considera de importância fundamental no atual cenário
político? Por quê ?

20
21

R. A internet pela sua capacidade de instantaneidade e ao mesmo tempo espaço de


elaboração. Há ainda a dificuldade de acesso de grande contingente da população a essa
mídia, o que na minha opinião impede que ela já seja considerada a principal mídia hoje no
país.

5.1. Que mídias a UNE prioriza na comunicação com a base ? Por quê ?
R. Veículos impressos (jornal, revista e cartazes) e o portal da UNE na internet. Os materiais
gráficos porque ainda são muito necessários a política da UNE de realizar grandes
mobilizações e jornadas de luta dos estudantes. Cartazes fixados nas paredes das entidades e
das salas de aula são peças chaves para divulgação de atividades. A Revista da UNE, Revista
Movimento, é um novo investimento (estamos no ano 2) que se volta mais para o lado de
formulação política da entidade, como forma de diálogo da UNE não só com os estudantes
mas também com os professores, reitores e intelectuais da academia brasileira. E nosso
portal na internet é o instrumento capaz de levar notícias diárias da UNE aos estudantes.

5.2. Esta priorização foi feita com base em um planejamento ou ocorreu naturalmente ?
R. A criação da Revista Movimento como espaço formulador e de reflexão, assim como o
lançamento do nosso portal na internet foram fruto de um planejamento político detalhado
que levou em conta as necessidades da UNE e a dos estudantes – cada um de um lado da
ação.

5.3. Que outras mídias são utilizadas na comunicação com a base ?


R. Outra forma de comunicação e relação com a base muito utilizada pela UNE é o
acompanhamento pessoal de nosso diretores junto a base. O contato pessoal ainda é muito
utilizado na construção da política da UNE. Nos principais momentos políticos e grandes
ações realizadas na base, sempre priorizamos o acompanhamento dos diretores da entidade.

5.4. A UNE utiliza a Internet na comunicação com a base ? De que forma ?


R. Sim, através de nosso portal, que além de atualização diária com noticias de relevância
para a universidade brasileira e o movimento estudantil, tem espaços que garantam a
interatividade dos estudantes com a diretoria da UNE. A partir do portal, enviamos boletim
eletrônico quinzenal a todos os estudantes cadastrados na mala-direta da UNE.

6.1. Que mídias a UNE prioriza na comunicação interna entre seus dirigentes ? Por quê ?

21
22

R. A comunicação entre os dirigentes da UNE é feita basicamente via e-mail e telefone. Não
há um veículo de comunicação interno – como um jornal, por exemplo – voltado a
comunicação entre os membros da direção da entidade. Isso porque o dia a dia da UNE é
muito dinâmico - e a integração entre o conjunto da diretoria muito grande, o que facilita a
propagação de idéias e ações. Nosso espaço de discussões são restritos as reuniões da
diretoria que ocorrem regularmente.

6.2. Esta priorização foi feita com base em um planejamento ou ocorreu naturalmente ?
R. Naturalmente.

6.3. Que outras mídias são utilizadas na comunicação interna entre os dirigentes ?
R. Mala direta onde enviamos os materiais gráficos para os diretores.

6.4. A UNE utiliza a Internet na comunicação interna entre os dirigentes ? De que forma ?
R. Sim. Temos um grupo de discussão interna via e-mail, além de um boletim eletrônico
quinzenal feito especialmente para a diretoria da UNE.

7.1. Você acha que há uma crise de participação política dos estudantes ?
R. Não.
O que você considera ser o motivo ou motivos da crise ?

7.2. A comunicação entre os dirigentes e a base é um ponto importante desta crise ? Por
quê ?
R. A comunicação não deve ser vista como motivo de qualquer dificuldade de interação entre
a base e os dirigentes do movimento estudantil. A comunicação é ainda insuficiente tendo em
vista o tamanho do desafio que temos pela frente – o de influenciar e dirigir politicamente
pela causa da defesa da educação mais de três milhões de estudantes universitários a partir
de uma diretoria de 71 pessoas. A UNE depende da rede do movimento estudantil, composta
por entidades de base, com Cas e Das, e entidades gerais como DCEs e UEEs. A UNE
sozinha não conseguiria dialogar com o conjunto dos estudantes brasileiros, nem deve se
esse seu papel. O papel da UNE não é outro senão o de unificar as lutas dos estudantes e
orientar politicamente, de forma propositiva e combativa, as entidades de base. Mas a
comunicação é e vem sendo cada vez mais um dos pilares da UNE na relação com a base. É
a comunicação, através de projetos pensados de maneira cada vez mais profissional, que vem

22
23

fazendo com que a UNE volte a aparecer e a influenciar não só a base mas os demais setores
da Universidade e da sociedade brasileira.

8.1. Você acha que a atual diretoria da UNE reconhece as características, necessidades e
objetivos predominantes entre os estudantes universitários ? Caso responda que sim, quais
seriam estas características, necessidades e objetivos ?
R. Acredito que sim porque a diretoria da UNE é composta por 71 estudantes universitários
com os mais diversos perfis – estudantes de pagas, de públicas, de capitais, do interior, etc.
Então dentro da própria diretoria da UNE já se poderia identificar as características,
necessidades e objetivos dos estudantes. Mas ainda assim, nessa gestão da UNE pretendemos
tornar a comunicação cada vez mais interativa. Através do envio de questionários onde os
estudantes e os diretores de comunicação das entidades de base podem opinar sobre nosso
planejamento; de reuniões em que pretendemos reunir diretores de comunicação e estudantes
em geral que tenham interesse por essa área para pensarmos juntos os avanços necessários
para a comunicação da Une, entre outras iniciativa. E dessa forma, através da busca de
melhorias na pasta da comunicação, estaremos mais próximos dos estudantes para saber
deles quais suas necessidades. Sobre as características dos estudantes, acredito que seja
muito variada – entre os três milhões de universitários encontram-se jovens e adultos das
mais diversas classes sociais, condições de vida e ensino anterior. E isso implica em objetivos
e necessidades variadas também. Mas no que diz respeito à questão da universidade, acredito
que as necessidades e os objetivos vem sendo os tratados pela UNE nos últimos anos – nas
Universidades pagas a necessidade de uma nova política de mensalidades, nas públicas
melhores condições de ensino, no que diz respeito à vida pós universidade – melhores
chances no mercado de trabalho, no cotidiano, mais acesso ao lazer, cultura e esporte.

8.2. Vocês consideram que têm informação, conhecimento e organização necessárias para
utilizar a nova estrutura midiática (ver definição abaixo) a vosso favor ?
R. Acredito que sim. A UNE não é nem se propõe a ser uma empresa – com um grau elevado
de profissionalização em cada área. É uma entidade de estudantes, voltada para os
estudantes e composta por estudantes. Estes mesmos estudantes constróem sua politica em
cada área, se apoiando em equipes profissionais em alguns departamentos, como o de
comunicação. O objetivo da UNE com a mídia é um só – o de fortalecer a causa dos
estudantes. Para esse fim é que trabalhamos para uma maior abrangência da UNE frente aos
veículos de comunicação. Assim, a utilização da internet, para começar, ainda é sub

23
24

aproveitada, mas já possui uma estruturação capaz de fazê-la crescer e se desenvolver


rapidamente. Sobre o ponto da imagem política, a UNE não tem como objetivo e nem se
utiliza de sua estrutura para a construção de “personalidades” do meio político, e assim,
mesmo nossa política de marketing é estritamente voltada para o desenvolvimento de nosso
plano político estratégico.

Obs. : Caracterizamos a nova estrutura midiática a partir de dois pontos principais: primeiro, a
importância central que a televisão e a cultura da imagem passaram a desempenhar no cenário
político brasileiro, onde o discurso político, assim como os programas políticos, parecem ter
perdido importância diante da ação dos “marketeiros” que foca imagens, posturas, enfim,
constrói personalidades em detrimento dos discursos, que se tornam vazios e excessivamente
genéricos. E segundo, pelas possibilidades da Internet como meio de informação, divulgação,
atuação, agregação, mobilização, enfim, diversas formas de manifestação e intervenção
política.

3. Análise das Respostas


a) Questões 1.1 e 1.2, referentes às diretorias responsáveis pela política de comunicação na
UNE e suas atribuições.
A diretoria de comunicação é a única diretoria da UNE responsável pela diversas
necessidades de comunicação da entidade, seja com a base, internamente entre os diretores,
com as demais entidades do ME, e também com outras entidades do movimento social e com
a sociedade em geral. A comunicação interna tem o auxílio de um assessor, que não pertence
ao quadro de diretores, e sim de funcionários.
Além disso, a diretoria deve divulgar e propagar as idéias e ações da UNE e garantir a
interatividade entre estudantes e diretoria para a formulação da política da entidade.
Destacamos que a comunicação com a base foi considerada a atribuição mais
importante da diretoria.

b) Questões 2.1, 2.2 e 2.3, referentes à política de comunicação


A atual diretoria continua uma política de comunicação adotada pelas duas gestões
anteriores, que ao longo deste tempo teria se fortalecido e conquistado espaço político. A fase
atual é de transição, e a nova diretoria modificou pouca coisa até o momento. A idéia é

24
25

avançar em cima dos projetos que já existem e diversificar ainda mais as formas de relação
da UNE com os estudantes e com a sociedade em geral.

c) Questões 3.1 e 3.2, referentes aos objetivos da diretoria de comunicação da UNE


Entre os objetivos: manter um diálogo constante e uma comunicação cada vez mais
interativa com os estudantes universitários brasileiros, mantendo-os informados sobre as
idéias e ações da UNE e proporcionando espaços para sua participação ativa na formulação e
divulgação da política da entidade.
Objetiva também garantir que a UNE ocupe cada vez mais espaço no atual cenário
político, de forma a ser capaz de ajudar no projeto de desenvolvimento nacional.
Os objetivos citados acima são considerados pela diretoria de comunicação como sendo
difíceis de realizar, mas possíveis.

d) Questões 4.1, 4.2 e 4.3, referentes a influência das diferentes mídias no atual cenário
político.
Lúcia Stumpf considera o jornal a mídia mais influente no atual quadro político, devido
a, segundo ela, ser a mídia de mais fácil acesso à população, e também por ser um espaço de
debate e discussão na sociedade, onde as análises políticas e conjunturais ganham fôlego.
A diretora destaca também a Internet como uma mídia de grande influência atualmente,
enfatizando a capacidade de instantaneidade da mesma. Comenta que se não fosse a
dificuldade de acesso de grande parte da população a Internet seria a principal mídia.
Observamos nestas respostas que a televisão, que em nossos estudos é evidenciada
como a mídia de maior influência política, não foi nem lembrada no questionário. As
possibilidades superiores do jornal de permitir discussões em maior profundidade do que a
televisão parece ter sido um dos fatores que influenciaram sua escolha, indicando que,
possivelmente, a medida de importância para o debate político tornou-se medida de
capacidade de influência política.
A avaliação da Internet indica o reconhecimento de que suas possibilidades são grandes,
tendo uma grande capacidade potencial, que dependeria, entretanto, de sua universalização.

e) Questões 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4, referentes à relação entre a escolha de utilização das mídias e
sua importância para a comunicação com a base estudantil

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26

A prioridade são os veículos impressos, como jornais, revistas e cartazes, com destaque
para a Revista Movimento que está em seu segundo ano, e o portal da UNE na Internet,
também recente.
Os veículos impressos são as principais mídias utilizadas para a divulgação de
mobilizações e outras atividades políticas, mas não parecem ser um espaço de debate político.
A Revista Movimento e o portal na Internet são empreendimentos recentes, fruto de
planejamento. A primeira parece ter o objetivo de possibilitar um maior espaço para a
formulação política da entidade, e espaço de diálogo com estudantes, professores, reitores e
intelectuais. O portal aparece também para melhorar o diálogo com os estudantes, na tentativa
de informar mais e melhor mas, além disso, deve possibilitar um espaço de interatividade
entre estes e a diretoria. Ambos parecem surgir para executar tarefas que os outros veículos de
comunicação cumpriam apenas parcialmente.

e) Questões 6.1, 6.2, 6.3 e 6.4, referentes à relação entre a escolha de utilização das mídias e
sua importância para a comunicação interna entre os dirigentes da UNE
Não houve planejamento para a escolha das mídias utilizadas na comunicação interna. A
comunicação entre os diretores é muito dinâmica e freqüente, destacando-se o telefone e o e-
mail, utilizando-se também um sistema de mala-direta. A Internet é utilizada para discussões
internas, através de um e-mail para grupos, e também para manter o grupo informado das
atividades da entidades, o que é feito através de um boletim eletrônico quinzenal de
divulgação interna. Também são realizadas reuniões regulares da diretoria.

f) Questões 7.1 e 7.2, referentes às percepções sobre a participação política dos estudantes:
existência ou não de crise e seus motivos. Importância da comunicação base/dirigentes
neste processo.
Na percepção de Lúcia Stumpf não há crise de participação política dos estudantes.
Sobre a comunicação entre a UNE e a base estudantil, a diretora observa a necessidade de
melhoras, mas afirma que a primeira depende das demais entidades do ME, pois sozinha não
conseguiria dialogar com o conjunto dos estudantes. Entende a comunicação como um fator
central da UNE na relação com a base e destaca que a maneira profissional de pensar a
comunicação que vem sendo adotada pela entidade tem feito com que esta volte a aparecer e
a influenciar não só a base mas os demais setores da Universidade e da sociedade brasileira.
A percepção de que não existe crise não deixa de ser uma surpresa, pois a pesquisa na
Internet e a conversa informal com militantes e ex-militantes havia mostrado a percepção de

26
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crise de uma parcela da militância política estudantil. A resposta indica que a percepção que
havíamos verificado não é representativa de todos os militantes, parecendo existir, portanto,
uma outra parcela que tem uma percepção contrária.
Mesmo não considerando a existência da crise de participação, a importância da
comunicação com a base é enfatizada na resposta, inclusive valorizando que a comunicação
seja realizada de forma profissional. As recentes novidades, como a revista Movimento e o
portal da UNE na Internet são indicativos da importância dada a comunicação, mas são
necessárias mais pesquisas para verificar a efetividade prática dos objetivos propostos com
estes novos empreendimentos.

g) Questões 8.1 e 8.2, referentes às percepção sobre os itens da Competência Comunicativa:


“conhecimento” da base e “conhecimento” da mídia.
A resposta ressalta o fato de que são também estudantes quem compõe as diretorias da
UNE, o que lhes daria condições de apreender as características, necessidades e objetivos da
“massa” dos estudantes, e que estas seriam muito variadas, pois os estudantes não teriam
características iguais, e portanto, também as necessidades e os objetivos seriam variados. Em
relação à Universidade, acredita que a UNE vem atuando sobre as necessidades e objetivos
dos estudantes nos últimos anos, que seriam os seguintes: para as universidades pagas uma
nova política de mensalidades; para as públicas melhores condições de ensino; na vida pós-
universidade, melhores chances no mercado de trabalho; e no cotidiano, mais acesso a lazer,
cultura e esporte.
Ainda assim, foi enfatizada a importância de tornar a comunicação cada vez mais
interativa, o que possibilitaria uma maior proximidade e melhor identificação das
necessidades dos estudantes.
Entendemos que acreditar na identificação (estudantes da diretoria da UNE são iguais
aos demais estudantes da base estudantil e por isso os conhecem) como um processo capaz de
uma boa apreensão das características, necessidades e objetivos dos estudantes pode ocasionar
alguns enganos, apesar de crermos em sua utilidade parcial. Além disso, as múltiplas
variações destes elementos, como foi destacado na resposta, só reafirma a necessidade de
meios mais eficazes e seguros para a identificação o mais precisa possível dos mesmos.
A falha na identificação destes elementos pode ocasionar uma atuação vazia, na medida
em que possibilita a busca de objetivos que não seriam os da maioria dos estudantes, ou que
não comportariam sua diversidade.

27
28

É importante destacar também que a determinação das características, necessidades e


objetivos dos estudantes por identificação pode levar a um processo invertido, na
possibilidade de considerar sua própria visão (no caso a da diretoria da UNE) destes
elementos como sendo as da maioria, o que não necessariamente seria coincidente.
Poderíamos discutir ainda as críticas à excessiva partidarização, que levaria a uma
definição prévia das necessidades e objetivos dos estudantes, que seriam as ditados por
diretrizes ideológicas partidárias. Este fato foi citado por algumas das páginas da Internet
pesquisadas, mas não obtivemos dados suficientes para uma discussão mais conseqüente.
Destacamos, entretanto, como um ponto importante a ser pesquisado.
Ressaltamos, entretanto, que a resposta, ao enfatizar a busca de mecanismos que
possibilitem uma maior interação das diretorias da UNE com a base, indica a possibilidade de
que estes, se bem implementados, podem vir a ser a solução para as possíveis dissonâncias de
percepção entre os dirigentes estudantis e a base.
Em relação à nova estrutura midiática, foi respondido que se acredita estar trabalhando
com informação, conhecimento e organização que possibilitam utilizar favoravelmente tal
estrutura. No entanto, notamos que em nenhum momento a televisão, mídia central na nova
estrutura, foi reconhecida como um elemento importante.
Ao ressaltarmos a necessidade de reconhecimento de uma nova estrutura midiática pela
diretoria de comunicação da UNE, o que poderíamos estender a todo e qualquer movimento
social organizado, não estamos querendo dizer que a UNE deva, a partir de então,
necessariamente buscar espaço na TV, por exemplo, mas que deve reconhecer a sua
importância, de forma a tentar estabelecer estratégias que reconheçam a influência deste meio
em suas ações .
Ressaltamos ainda que reconhecer a importância de uma nova estrutura midiática não
quer dizer que os veículos de comunicação costumeiramente utilizados, como a panfletagem,
o boca-a-boca, as reuniões, assembléias e encontros estudantis devam perder importância,
mas sim que as estratégias podem ser redimensionadas e os meios adequados aos objetivos
redesenhados.
A resposta não citou a televisão, mas o conjunto de respostas do questionário indica um
grande destaque dado às possibilidades da Internet, segundo elemento da nova estrutura
midiática. Afirma-se no questionário que sua utilização pela UNE ainda está sub aproveitada,
possuindo, entretanto, uma estrutura capaz de crescer e se desenvolver rapidamente.

28
29

Capítulo VI

CONCLUSÃO

A principal preocupação desta pesquisa foi tentar entender as relações entre mídia e
participação política na entidade máxima representativa dos estudantes universitários, a UNE.
Alguns dos resultados foram surpreendentes, como a identificação de percepções
contrárias quanto a uma possível crise de participação política das bases estudantis.
Nossa proposta destaca a necessidade de um trabalho de comunicação competente
dentro dos movimentos sociais, especificamente no ME, enfatizando que as relações entre
mídia e política, dentro da nova estrutura midiática, são altamente complexas, e que seu
reconhecimento é o primeiro passo na direção da CC.
O estudo de meios de interação entre a UNE e as bases estudantis que possibilitem a
aquisição de informações sólidas sobre as características, necessidades e objetivos destas, a
pesquisa sobre as possibilidades e influência de cada uma das mídias no quadro político que
se apresenta, para finalmente adequar todas as informações coletadas às possibilidades
financeiras e organizacionais da entidade, parecem ser algumas diretrizes que podem vir a
colaborar no fortalecimento do ME.
Acreditamos que o cruzamento de informações entre a realidade dos movimentos
sociais e a teoria da academia pode auxiliar no fortalecimento dos primeiros e no
reconhecimento da importância da última, e por isso estamos abertos às críticas e gratos pela
indicação das deficiências desta pesquisa.
Gostaríamos de agradecer a colaboração da diretora de comunicação da UNE, Lúcia
Stumpf, e parabenizar a todos os dirigentes estudantis que acreditam e continuam lutando pelo
fortalecimento do ME e pela participação ativa das bases no cotidiano da luta política.

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