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“Pela primeira vez descobri uma realidade nova naõ em mim, mas no mundo. Encontrei um
Caminhando, um itinerário interior fora de mim.” Lygia Clark, 1965. PRECARIEDADE-
PARTICIPAÇÃ O-ESPACIALIDADE. No percurso de Lygia Clark as propostas “[...] se
tornam acontecimento. A obra deixa de se interromper na espacialidade finita do objeto,”
(ROLNIK, s.p.). PROTOCOLOS DE VIVÊNCIA:“Faça você mesmo um Caminhando com a
faixa de papel que envolve o livro, corte-a na largura, torça-a e cole-a de maneira a obter uma
faixa de Moebius, tome entaõ uma tesoura, enfie uma ponta na superfić ie e corte
continuadamente no sentido do comprimento.” (CLARK, 1964). Para leitura deste artigo,
imprima as páginas e cole-as conforme indicado. Escrever como uma tesoura cortando uma
fita de Moebius, gesto continuo de repetiçaõ com diferença, sem voltar ao mesmo ponto, mas
dividindo-se em bifurcações. Fazer a fita, entrecruzar conceitos e enquadramentos dos
pesquisadores. Encontramos emCaminhando as inquietações que perpassam distintos
interesses de pesquisa. Reencontramos por que procuramos, rastreamo-lo: no ato de realizar
Caminhando; na proposiçaõ aos colegas da turma; em textos escritos por Lygia; em outros
escritos de autores como Suely Rolnik, Eleonora Fabiaõ , Ferreira Gullar, ou ainda nas cartas
que foram trocadas por Hélio Oiticica e Lygia. Caminhando, nos deparamos com o desafio de
entrecruzar nossas falas, ‘rastrear’ aonde cada um dos nossos ‘interesses’ se encontravam, se
chocavam, forqueavam, e assim como em Caminhando, propor uma totalidade: este artigo
relacional. O abrir e fechar da tesoura que vai cortando a fita, é um gesto repetitivo e
continuo que provoca a nossa atençaõ perceptiva. De inić io, parece difić il coordenar os
movimentos das maõ s com os cortes, na sequência de algumas repetições, o entorno parece ir
invadindo- nos, diluem-se sujeito e objeto no tempo da açaõ , nada para ver, só experienciar.
Inicialmente, o Caminhando é apenas potência. Vocês e ele formaraõ uma realidade única,
total, existencial. Nenhuma separaçaõ entre sujeito-objeto. É um corpo-a-corpo, uma fusaõ .
As diversas respostas surgiraõ de sua escolha. (CLARK, s.p.,1964) Apesar do continuo e da
eminencia dessa totalidade subjuntiva, há decisões, e estas podem inclusive cortar a fita.
Como o fez Marta, nossa colega desde o início. Ou ainda acontecer de cortar a fita
acidentalmente como aconteceu com Gilmário. As respostas surgem das escolhas, e a escolha
naõ é somente de quem realiza a açaõ , pois há em Caminhando: “escolha, imprevisibilidade e
a transformaçaõ de uma virtualidade em um empreendimento concreto.” (íbid.)
PROTOCOLO DE LEITURA