DISQUE SEQUESTRADOR:
o programa A Tarde É Sua da Rede TV!, frente aos preceitos da ética
jornalística, no caso Eloá
Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)
2010
Keila Brenda da Cunha
DISQUE SEQUESTRADOR:
o programa A Tarde É Sua da Rede TV!, frente aos preceitos da ética
jornalística, no caso Eloá
Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)
2010
À Deus, aos meus pais, irmãos e a todas as pessoas que contribuíram
para a reflexão e realização deste trabalho, especialmente: Profa.
Adélia Fernandes, Profa. Gisa Campos, Rógel Garcia, Carol Jales, Lu
Bicalho e família Fundep.
RESUMO
O presente trabalho discute a atuação dos profissionais de jornalismo nas entrevistas feitas
pelo programa A Tarde É Sua, da Rede TV durante o sequestro da adolescente Eloá Cristina
Pimentel, na cidade de Santo André, em São Paulo. No primeiro capítulo veremos como a
ética e o jornalismo podem servir à sociedade. Será possível verificar a objetividade e a
subjetividade no jornalismo, bem como os códigos deontológicos e a missão da imprensa. O
segundo capítulo trata da televisão com seus mecanismos, estratégias e críticas. Além disso,
também será possível conhecer um pouco mais da técnica de entrevista como um diálogo
possível, a imprensa popular televisiva, o espetáculo, o sensacionalismo e a violência na TV.
A análise da conduta dos jornalistas do programa A Tarde É Sua da Rede TV!, frente aos
preceitos da ética jornalística, no caso Eloá, compreenderá o terceiro capítulo. Para situar o
leitor, faremos um breve relato do caso seguido do histórico da emissora, do programa e da
jornalista Sônia Abrão. A pesquisa propõe que as responsabilidades éticas, numa profissão
que tem tamanha influência e impacto social como o jornalismo, permitam enxergar o
exercício profissional como um campo no qual estão em jogo conflitos que impactam
diretamente a produção do sentido da informação e a própria definição do que é notícia.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 02
3 A TV E O TELEJORNALISMO ...................................................................................... 24
3.1 Televisão: símbolo do conformismo crítico ...................................................................... 24
3.2 Os diferentes mecanismos que compõem a televisão ........................................................ 27
3.3 Entrevista: mais que técnica, um diálogo .......................................................................... 30
3.4 Imprensa Popular de TV .................................................................................................... 32
3.5 Espetáculo na TV............................................................................................................... 36
3.6 Violência na Mídia ............................................................................................................ 39
5 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 65
ANEXOS ................................................................................................................................ 67
Anexo I - Códigos de ética do jornalismo ............................................................................... 67
Anexo II - Ação Civil do Ministério Público Federal ............................................................. 71
Anexo III - Documento de pesquisa ........................................................................................ 91
2
1 INTRODUÇÃO
“Vamos terminar com isso numa boa, Lindemberg. Você não é do mau, você nunca
foi. (...) Libera a Eloá, se libera também dessa história. Vamos resolver tudo isso. É
tanta gente que ama vocês, sofrendo aqui do lado de fora. Você sofrendo aí, porque
aí deve ta uma tensão total. A menina fraca. Você mesmo pediu ajuda pra ela.
Pediu comida pra ela. Você disse que não quer saber dela, então vamos botar um
ponto final direito nisso. Todo mundo sai são e salvo dessa história. Tudo, tudo dá
certo. Ninguém vai te fazer mal nenhum aqui fora. Tá todo mundo entendendo que
você não é um marginal, que você não é um bandido, que você não é um assassino,
que você sempre foi um cara bom (...)”1.
Treze de outubro de 2008. Lindemberg Fernandes Alves, mais conhecido como Liso, então
com 22 anos, invadiu o apartamento da ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, no
Jardim Santo André, em Santo André (Grande São Paulo), onde ela e seus colegas faziam
trabalhos escolares. Inicialmente dois reféns foram liberados, restando no interior do
apartamento, em poder do sequestrador, Eloá e sua amiga Nayara Silva.
Após mais de 100 horas de cárcere privado, policiais do GATE (Grupo de Ações Táticas
Especiais) e da Tropa de Choque da PM (Polícia Militar) de São Paulo invadiram o
apartamento e entraram em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em
direção às reféns. O saldo da ação foi a adolescente Nayara ferida com um tiro no rosto e Eloá
Pimentel, baleada na cabeça e na virilha. Eloá não resistiu e teve morte cerebral confirmada às
23h30min de sábado, dia 18 de outubro.
1
Trecho do dia 15 de outubro de 2008, extraído do site de vídeos Youtube, acessado em 15 de novembro de
2008, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=9_gSLc0oCic.
3
A proposta desse trabalho é discutir os limites da cobertura jornalística no que diz respeito à
atuação de apresentadores e jornalistas de televisão e evidenciar como a busca pela audiência
pode se tornar um fator decisivo no momento de selecionar o que irá ao ar. A questão deste
trabalho é: qual a conduta dos jornalistas do programa A Tarde É Sua da Rede TV!, frente aos
preceitos da ética jornalística, no caso do sequestro de Santo André/SP em outubro de 2008, a
partir das entrevistas feitas com o sequestrador e a própria vítima? Assim, será possível
analisar o papel assumido pela jornalista Sônia Abrão e seu repórter Luiz Guerra, a
informação que o programa pretende passar com as entrevistas e como a polícia se portou
diante dos abusos da mídia.
Foram transcritas as duas entrevistas para que pudéssemos fazer a análise de conteúdo. Assim,
a pesquisa permite verificar se, no programa A Tarde É Sua, as características do discurso
jornalístico são predominantemente noticiosas ou de entretenimento; discutir a missão da
imprensa, verificando se os jornalistas estão levando a informação ao público e/ou
espetacularizando o fato; investigar a atuação dos repórteres e suas funções como jornalistas
no programa; a linguagem emotiva dramática analisando o sensacionalismo para se referir ao
seqüestrador; analisar a objetividade e a subjetividade na cobertura do caso; analisar a relação
entre fonte e jornalista; e analisar o código de ética do jornalismo e sua aplicação no
programa.
Além disso, Barros Filho (1995) discute se a objetividade informativa é possível e a quem
realmente interessa a objetividade aparente da informação. Cornu (1999) completa que a
missão da imprensa é informar o público que é constituído por cidadãos. Para o autor, a
finalidade da informação é o público. O autor também aborda e defende a liberdade de
imprensa e a informação como um direito de todo ser humano.
4
Costa (2009) questiona se a verdade, a justiça e a ética ainda são pilares do jornalismo diante
da indústria da comunicação. Na mesma linha de raciocínio Bucci (2000) examina o problema
da pressa inerente ao jornalismo, da briga diária pelo furo jornalístico e da guerra pela
audiência que afastam os jornalistas e seus patrões da conduta ética oferecendo ao público
informações de má qualidade.
Assim, para Christofoletti (2008) a ética tem o objetivo de servir à sociedade, portanto, o
jornalista deve ter o compromisso com a verdade para tratar a notícia de acordo com os
princípios éticos. Barbeiro (2002) completa esse entendimento fazendo um incentivo à
conduta ética, à busca incessante do melhor comportamento possível diante dos fatos
apresentando os limites éticos do jornalismo para que se possa exigir uma postura ética dos
jornalistas e veículos de comunicação.
França (2006) argumenta que o lugar dos pobres é um lugar de ausência de referências, de
ausência de conhecimento, de ausência de hábitos adequados, é a expressão de “não-cultura”.
“Os pobres não têm acesso à cultura impressa, ao cinema, ao teatro ou às belas artes, ao
conhecimento histórico e, inclusive (e em decorrência) à reflexão e à consciência crítica”
(FRANÇA, 2006, p. 39).
É nessa perspectiva que se abre para as grandes redes de TV a possibilidade de veiculação dos
chamados programas “populares”. Neles, os dramas pessoais e familiares são explorados. Por
meio desses programas, o cidadão comum chega às telas, encenando um cotidiano de dor,
miséria e esquecimento.
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Para Barbeiro (2002) é importante esclarecer que jornalista de TV não é ator. Um lida com a
ficção e o entretenimento, o outro com a realidade. Portanto, quem deve ter o compromisso
com a notícia são os jornalistas que devem buscar a verdade e desenvolvê-la em uma
investigação isento de opiniões. Contudo, o que os jornalistas dizem, muitas vezes, pode
mexer com a emoção de seus telespectadores, mas de forma nenhuma estão ali para
representar algum personagem.
Segundo Debord (1997), a realidade surge do espetáculo e vice e versa. Assim, a notícia pode
se tornar um espetáculo, em que o importante é ter audiência sem ter um maior cuidado ao
que é retratado, podendo expor uma história trágica como a de Eloá de uma maneira
totalmente representativa, criando entretenimento para o público através da triste realidade da
situação.
Além disso, Medina (2002) revela que para ser o braço direito da comunicação humana, a
entrevista jornalística não deve ser encarada como uma simples técnica. Deve haver o diálogo
possível em que entrevistado e entrevistador se modificam, se revelam e se interagem com a
entrevista.
De acordo com Chauí (2000), a palavra “ética” vem do grego ethos e tem duas formas de
pronunciar a letra “e”: ethos com a vogal mais longa significa costumes, hábitos de uma
determinada sociedade ou grupo; ethos com a vogal breve significa caráter, comportamento
das pessoas, conduta, temperamento, índole natural. Assim, a ética torna-se universal e trata
dos conceitos que envolvem o raciocínio prático como o bem, a ação correta, o dever, a
obrigação, a virtude, a liberdade, a racionalidade, a escolha. Ética, então, significa um
conjunto de valores, normas e regras comportamentais, um ordenamento em que todos estão
submetidos.
A ética surge como uma forma de organizar a sociedade, tirando-a de um estado primitivo de
violência. Além disso, a ética impõe regras para combater a violência, nivelando o direito de
todos. Ao contrário da violência que beneficia a quem tem força bruta. Para a autora, nossa
sociedade entende a violência como a imposição da força física a alguém com o intuito de
obrigá-la a fazer algo submetendo-a a constrangimentos morais e psíquicos, contra a sua
vontade.
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Para Costa (2009), a ética estuda a moral. Segundo o autor, o termo “moral” vem do latim
moris, leva o mesmo significado grego para ética: costume. A moral cuida do agir humano, é
composta por valores que podem mudar ao longo do tempo. Trata-se do comportamento, da
conduta das pessoas individualmente, da prática. A moral permite enxergar dentro da ética
como o indivíduo se comporta. Se a ética persegue o amor, o bem estar, na moral se persegue
a justiça.
Christofoletti (2008) diferencia moral de ética e conceitua valores morais como sendo regras
de conduta e normas que orientam o comportamento e contribuem para um equilíbrio
coletivo. Moral é “um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos
humanos. Valores como bondade, justiça, liberdade, igualdade, respeito à vida, entre tantos
outros” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 16).
Ética é “aquilo que os homens fazem com a moral, isto é, como fazem os valores funcionarem
[...]. Se a moral coloca normas, padroniza, é dura e sinalizadora, a ética é reflexiva, maleável,
praticante e questionadora” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 16). Se toda escolha provoca
consequências, quem decide responderá pela opção feita. Portanto, de acordo com
Chrsistofoletti (2008), é um mito pensar que cada um tem a sua ética.
Além disso, Chauí (2000) explica a diferença entre senso moral e consciência moral. O
primeiro trata-se da razão que nos faz avaliar o mundo em relação ao que é certo e errado,
justo e injusto, bom e mau. Consciência moral é a forma que comprova quais valores o
indivíduo traz em si próprio, pois somente diante de uma decisão que trará consequências para
a própria vida e a de outras pessoas é que será possível conhecê-lo, ou seja, saber qual é a sua
consciência moral, o que o faz reagir. Mas nem sempre a consciência moral de um indivíduo
condiz com seu senso moral.
Outros dois termos que são claramente diferenciados por Chauí (2000) é o juízo de valor e o
juízo de fato. Quando alguém presencia uma criança roubando um alimento em um
supermercado, o relato do fato é um juízo de fato, pois a pessoa está proferindo o que
aconteceu. Mas quando, a partir deste fato, as pessoas comentam que a criança roubou por
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fome, por falta de educação e de oportunidades ou pelo ambiente em que vive, trata-se de
características de um juízo de valor, pois a situação é avaliada sob uma perspectiva moral.
Chauí (2000) também explica que a filosofia moral distigue três tipos fundamentais de
conduta: a conduta moral ou ética, que segue as normas e as regras impostas pelo dever; a
conduta imoral ou antiética, que contraria as normas e as regras fixadas pelo dever; a conduta
indiferente à moral, quando as pessoas agem em situações que não são definidas pelo bem e
pelo mal, cujas normas e regras não são impostas ao dever.
Costa (2009) cita o cientista social Max Weber enfatizando que qualquer conduta ética está
sempre fundamentada em dois preceitos básicos: a ética da convicção e a ética da
responsabilidade. A primeira não se importa com as consequências e os resultados de sua
ação. A segunda conta com os defeitos dos humanos, condena qualquer ação que utilize meios
moralmente perigosos como a violência. Contudo, Costa (2009) não considera que falte
responsabilidade na ética da convicção nem convicção na ética da responsabilidade.
Para Christofoletti (2008) o jornalismo exige mais responsabilidade e cuidados com a ética do
que os programas de TV feitos para entreter os telespectadores. E alerta que na cobertura dos
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fatos que interessam a sociedade, a ética é confundida com a qualidade técnica de produção
do trabalho. Contudo, os jornalistas precisam aprender que o público não dará credibilidade
aos meios de comunicação apenas pelos cuidados técnicos, mas também éticos.
O autor também comenta sobre a conduta ética nas coberturas de violência. Christoforletti
(2008) relembra que, antigamente, havia uma prática jornalística em que saía nos jornais a
versão oficial de relatos das delegacias redigidos por policiais. A cobertura chamada de
jornalismo policial confundia a profissão do jornalista com a do policial. Para diferenciar, o
autor afirma que “polícia é fonte, não é colega de trabalho. [...] O repórter que cobre a área
não é policial, nem precisa saber usar arma de fogo [...]. Ele é só um jornalista que
acompanha o trabalho de policiais [...]” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 58).
Para Barbeiro (2002), a televisão é um poderoso veículo de comunicação que teria como
funções primordiais a prestação de serviços à comunidade e a garantia do livre acesso à
informação. O serviço ocupa, segundo o autor, uma parte importante da programação. Desta
forma, a reportagem de assunto referente à prestação de serviços deve ter a mesma qualidade,
seriedade, exatidão e credibilidade do que qualquer outra matéria.
Traquina (2001), define os mídias noticiosos como um Quarto Poder, exercendo o papel
vigilante perante a democracia guardando os cidadãos dos eventuais abusos de poder por parte
dos governantes. Bistane e Bacellar (2005) complementam essa idéia afirmando que uma das
funções do jornalismo é fiscalizar administrações públicas, monitorar as políticas e os
recursos públicos e que é comum encontrar resistência em todos os níveis da administração e
nos três poderes da República.
10
Segundo Traquina (2001), atualmente parece que o objetivo da mídia é maximizar os lucros e
minimizar os custos. Além disso, o jornalismo cívico, aquele que se preocupa com o serviço
público, tem sido diminuído e substituído por objetivos comerciais em que o público é visto
como consumidor de produtos de lazer.
Entretanto, para o autor, isso não significa que os mídia noticiosos, proprietários e
profissionais, não devam continuar a ignorar suas responsabilidades sociais enquanto
participantes ativos na construção da realidade. E os próprios cidadãos precisam envolver-se
nos seus assuntos cívicos.
Traquina (2001) não acredita que o caminho preferido seja os controles reguladores. Desta
forma, o ideal seria equilibrar o lucro e a responsabilidade social não esquecendo que se
perderem a credibilidade, perdem tudo. Os profissionais da mídia precisam de uma
preparação especial, pois jornalismo é uma profissão, não um emprego. Para isso, faz-se
necessário uma educação mais completa que dê conhecimentos sobre a ética, a
responsabilidade social e os inúmeros constrangimentos existentes na produção de notícias,
porque “a qualidade do jornalismo está directamente relacionada com a qualidade dos
jornalistas” (TRAQUINA, 2001, p. 197).
Em conclusão, Traquina (2001), explica que os jornalistas precisam dar mais ouvido aos
cidadãos e procurar fazer coberturas de temas mais importantes à população e não apenas às
11
fontes habituais. Sendo assim, quem deverá vigiar o Quarto Poder serão os próprios cidadãos
assumindo plenamente sua cidadania.
Chauí (2000) afirma haver três concepções para a verdade baseadas na língua grega, latina e
hebraica. Para os gregos, aletheia significa não-oculto, não-escondido, não dissimulado.
Veritas, no latim, se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato dito com detalhes,
pormenores e fidelidade ao que aconteceu. Emunah em hebraico significa confiança.
Segundo a autora, quando nos espantamos e nos admiramos com alguma coisa, nos vem a
dúvida e a perplexidade. Isso nos faz querer saber o que não sabemos criando o desejo de
superar a incerteza e buscar a verdade. “O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres
humanos como desejo de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas
são exatamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de confiança e
crédito” (CHAUÍ, 2000, p.112).
Para Costa (2009) a verdade tem a ver com as coisas presentes, com os fatos que aconteceram
contados por palavras, pela linguagem e pelas coisas futuras. Por isso, segundo o autor,
palavras como averiguar, verificar, veredicto, verossímil e verossimilhança, que remetem à
verdade, são tão caras ao jornalismo. Desta forma, a pressão do dia a dia é decisiva para o
jornalista, pois o tratamento da verdade é constante e implica em decisões muitas vezes
irreversíveis.
Para explicar a verdade como dever fundamental aos jornalistas, Cornu (1999) agrupa em
quatro eixos as orientações sobre a ética da informação: a missão da imprensa, a liberdade de
informação, a verdade e o respeito.
Para Cornu (1999), a missão da imprensa é informar o público que é constituído por cidadãos.
Essa informação deve ser tanto sobre os fatos como sobre as correntes de idéias para criar
uma opinião pública. Segundo ele, a finalidade da informação é o público. Portanto, o
jornalista não pode recolher informações, transformá-las em notícias, textos, sons ou imagens,
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para seu próprio prazer ou visando lucro. O jornalista deve fazer isso para informar ao público
porque, afinal, ele tem o direito à informação.
No inciso XXXIII do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988 prevê que “todos têm direito
a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.
Vale ressaltar a diferença entre interesse público e interesse do público. Entende-se por
interesse público toda informação de relevância social na democracia que possa alterar,
transformar, acrescentar algo à vida das pessoas e à sociedade de um modo geral. A
intimidade das celebridades, a rotina, os relacionamentos, as separações, as brigas, dentre
outros assuntos de importância questionável, muitas vezes tornam-se pauta de renomados
veículos jornalísticos, mas não passam de curiosidade pela vida alheia, portanto, trata-se de
interesse do público.
Quando se fala em missão da imprensa, de acordo com Cornu (1999), é inevitável abordar a
sua liberdade. Para ele, o dever do jornalista é defender a liberdade da informação, do
comentário e da crítica, pois se trata de um direito de todo ser humano.
Cornu (1999) também afirma que sem liberdade não se pode esperar que a verdade possa ser
respeitada, pois a liberdade de informação é o espaço necessário para a verdade e
consequentemente o respeito. Para que o cidadão seja capaz de formar sua própria opinião, o
autor nos esclarece que a missão da imprensa é informar o cidadão. Assim, segundo Cornu
(1999), a verdade intervém como dimensão ética. Por isso, deve ser permanente, deve ser o
primeiro critério normativo do conjunto de trabalho jornalístico.
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Desta forma, Cornu (1999) reconhece a exigência da verdade como conceito normativo e
crítico da informação. Para o autor, os media estão obrigados à verdade já que a informação
verdadeira é a forma legítima da comunicação. Isto é, os meios de comunicação, as
instituições, devem exigir a verdade sem pôr em causa a sua própria razão de ser para fornecer
aos atores sociais os elementos necessários à formação da sua opinião, bem como os
instrumentos de compreensão que lhes permitam situar-se na sociedade. Se isso não ocorrer,
segundo o autor, a informação seria desviada, seria deformação. “Uma notícia que não seja
orientada para a verdade – nem que essa verdade seja parcial e provisória, e consciente de o
ser – não será uma informação” (CORNU, 1999, p. 394).
No entanto, segundo o autor, a verdade jornalística, tal como a ciência, não pode pretender
por si mesma atingir uma verdade absoluta. Toda pretensão à verdade está sujeita a crítica e,
por isso, as fontes utilizadas em uma matéria podem ser aceitáveis, mas nenhuma delas tem
uma autoridade indiscutível.
Para o autor, os jornalistas podem ser pouco estimados e até temidos, mas são sempre
cortejados. E esse benefício solicitado pode ser tanto material como moral. Por isso, o
jornalista deverá se recusar a ser comprado para falar ou para se calar, pois de acordo com a
Declaração da UNESCO citada pelo autor, “a integridade da profissão proíbe o jornalista de
aceitar qualquer forma de remuneração ilícita e de promover interesses privados contrários ao
bem-estar geral” (CORNU, 1999, p. 61).
Cornu (1999) alerta que vigiar os outros e a si mesmo dentro de uma redação nunca será
suficiente, pois a sedução muitas vezes se exerce com objetivos contrários, ou seja, não só
para difundir a informação, mas para garantir o silêncio. E essa decisão de segurar a
informação vai depender única e exclusivamente do jornalista. Isso porque a independência
dos jornalistas e dos meios de comunicação está ligada aos anunciantes de forma igual.
Como solução, Cornu (1999) apresenta uma precaução que deverá ser tomada em relação ao
público. O jornalista deve dizer ao seu público (leitor, ouvinte ou telespectador) que, por
exemplo, aquela reportagem foi um convite. Essa transparência, segundo o autor, é uma forma
de defesa. “É melhor nada dizer do que dizer conscientemente uma verdade truncada ou dar a
realidade uma visão deliberadamente orientada. A informação não é propaganda e pode
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acontecer que das condições de uma viagem nada mais resulte senão propaganda” (CORNU,
1999, p. 64).
Cornu (1999) resume a regra da deontologia na palavra transparência, seja das fontes ou do
jornalista para com o público. Se a fonte não pode ser identificada, de acordo com a
deontologia, o jornalista deve abster-se dela obrigatoriamente. Mas frequentemente,
percebemos alguns jornais sensacionalistas explorando notícias incertas, adulterando
informações importantes e prudentes com títulos abusivos.
No território da “caça ao furo jornalístico”, Cornu (1999) elucida que se trata de uma
informação dada por um jornalista com vontade de chegar, a todo o custo, em primeiro lugar
no mercado das informações, com receio de que algum concorrente passe à sua frente. Por
isso, muitas vezes não há confirmação para não chamar a atenção dos concorrentes. Não
importa se a notícia é falsa, pois se retificará no dia seguinte. O importante para esse tipo de
jornalista é a notícia em primeira mão que certamente aumentará suas vendas, os índices de
audiência e provavelmente seu status e seu salário.
Para Cornu (1999), os relatos de catástrofes naturais, de acidentes espetaculares visando fins
comerciais diminuem o respeito pelo outro. É uma verdadeira caça ao sofrimento alheio com
o pretexto de dar ao fato um toque humano. Quanto mais a imprensa se desenvolve, mais ela
abre espaço para o espetacular a qualquer preço, promovendo o peso das palavras e o choque
das imagens. Os jornais que atacam os sentimentos morais ou religiosos de um grupo de
pessoas não são compatíveis com a responsabilidade da imprensa, pois ninguém deve ser
discriminado.
15
Cornu (1999) esclarece também que jornalistas não podem brincar de policiais ou justiceiros,
pois não é sua missão e não possuem meios para isso. A procura da verdade no interesse do
público, de acordo com o autor, não deve ser encarada com intenções de satisfação de uma
ambição pessoal, mas com responsabilidade a serviço da informação.
Cornu (1999) afirma que a doutrina jurídica aponta três domínios da existência humana que
devem ser respeitados: a vida íntima, a vida privada e a vida pública. Na esfera íntima
podemos verificar fatos secretos que não devem ser contados à ninguém, a esfera privada
engloba acontecimentos que não são secretos, mas não podem ser partilhados e comunicados
a um público amplo. Já na esfera pública, os fatos podem ser conhecidos por todos e
divulgados sem autorização.
O direito protege a esfera privada e a esfera íntima e os jornalistas devem utilizá-la em sua
deontologia. Além disso, Cornu (1999) nos lembra que o Código protege da mesma forma as
crianças com menos de 16 anos contra perguntas ou imagens que possam atentar contra seu
bem-estar pessoal.
Barbeiro (2002) explica que deve haver mais sensibilidade no trato com fontes crianças, pois
compaixão não atrapalha a divulgação da verdade. O ECA diz que é criança toda pessoa com
idade entre 12 anos completos a 17 incompletos. Em termos jornalísticos, o autor frisa que é
melhor chamar de jovem apenas aqueles maiores de idade entre 18 e 24 anos. “A lei proíbe a
divulgação de nome, apelido, filiação, fotografia, parentesco e residência de menor de 18 anos
envolvido em atos infracionais. Também não é recomendável a divulgação de nomes de
crianças e adolescentes em situação de constrangimento” (BARBEIRO, 2002, p. 28).
Cornu (1999) afirma que deve haver igualdade na exploração das informações para se
aproximar da objetividade e da verdade. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Hernandes
(2006) explica que o senso comum vê a realidade como definitiva como se existisse um
mundo único de uma verdade inquestionável.
Entretanto, os aspectos da realidade são muito mais complexos do que podemos imaginar.
Entender e aceitar essa complexidade, segundo o autor, é um exercício de imparcialidade e
objetividade. “O problema maior é que cada pessoa acha que seu direcionamento, que sua
16
Bourdieu (1997) entrevistou certa vez um diretor de programação que vivia numa espécie de
evidência total. Se lhe perguntassem por que um assunto estava em primeiro lugar e outro em
segundo o programador respondia que era evidente. “E é sem dúvida por essa razão que ele
ocupava o lugar em que estava; isto é, porque suas categorias de percepção estavam ajustadas
às exigências objetivas” (BOURDIEU, 1997, p. 36).
De acordo com Costa (2009), a palavra “objetivo” vem do latim objectivus e deriva de
objectus que significa a ação de colocar adiante. O substantivo “objetividade” designa
qualidade do que é imparcial; caráter daquele que é direto, age rápido, que não perde tempo. E
a palavra “imparcial” é definida, segundo o autor, como forma de adotar um critério que, no
horizonte da verdade, lhe parece ser o mais adequado. Para o autor, desde que o jornal se
transformou em um produto industrial e de massa estabeleceu-se um clichê segundo o qual o
bom jornalismo seria sinônimo de objetividade e imparcialidade.
Costa (2009) explica esse fenômeno a partir da leitura que os donos de jornais tiveram: eles
perceberam que se uma notícia mostrasse apenas uma única versão venderia menos
exemplares e que se exibissem simultaneamente os dois lados do mesmo fato poderiam
atingir mais público. E ao se mostrar neutro abrangeria ainda mais pessoas, pois quanto mais
lados o jornal pudesse mostrar, mais poderia vender já que tomando menos partido e se
mostrando mais independente, a notícia interessaria a vários lados, ou seja, interessaria a
todos.
Bucci (2000) acredita ainda que exista um conflito entre a subjetividade e o dever profissional
do jornalista. O autor explica que no jornalismo a distinção entre o sujeito e o objeto não é
clara como nas ciências naturais e exatas, por exemplo. Para Bucci (2000), a meta do
jornalismo é a objetividade. Assim, os aspectos da personalidade de cada jornalista e as
convicções pessoais de cada profissional atrapalham o distanciamento que a pretensão à
objetividade pede. “Cada um é moldado por suas próprias crenças religiosas, suas ideologias
17
políticas, suas identificações étnicas e culturais, sua preferência sexual. (...) É humano que
seja assim!” (BUCCI, 2000, p.90).
Barbeiro (2002) acredita que a objetividade é um mito, visto que os jornalistas apreendem os
fatos a partir da própria subjetividade. Para o autor, a maior prova disso é que alguns fatos são
reproduzidos e outros abandonados. No mesmo sentido, o Manual de Redação da Folha de S.
Paulo afirma que a objetividade no jornalismo não existe. “Ao escolher um assunto, redigir
um texto e editá-lo, o jornalista toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas por
suas posições pessoais, hábitos e emoções. Isso não o exime, porém, da obrigação de ser o
mais objetivo possível” (FOLHA DE S. PAULO, 2006, p. 46). Além disso, o Manual ainda
afirma que o jornalista precisa encarar o fato com distanciamento e frieza para relatar um
acontecimento com fidelidade. Contudo, isso não significa ser apático e desinteressado.
Hernandes (2006) afirma que o jornalista não consegue produzir um texto sem que sejam
inseridos em uma visão de mundo, uma ideologia. Para o autor ser objetivo é não se envolver
com a notícia:
A objetividade é um dos recursos jornalísticos para se tentar “apagar” o modo pelo qual a
realidade foi filtrada a partir do sistema de valores do jornal que, como empresa ou parte de
um conglomerado de informação, não quer se revelar como um ator social atuante
interessado nos aspectos sociopolíticos e nas consequências do que noticia.
(HERNANDES, 2006, p.30).
Para Bucci (2000), contém objetividade aquele discurso que expressa características próprias
do objeto e não as do sujeito, ou seja, não as do autor do relato. O texto objetivo é aquele
inteiramente fiel às características do objeto, sem que o sujeito as deforme. Essas informações
inteiramente objetivas existem, mas quem produz as notícias são os homens, ou seja, são os
sujeitos.
Desta forma, no jornalismo, de acordo com o autor, não tem objetos só existem sujeitos que
lhe servem de objetos. “O jornalista é portanto um sujeito falando de outro sujeito para um
terceiro sujeito. Ou é um sujeito falando com outro sujeito para um terceiro. E um quarto”
(BUCCI, 2000, p.93). Nesse caso, se os profissionais da imprensa são todos idênticos aos seus
objetos de notícia e aos leitores, telespectadores e ouvintes, como farão para descrevê-los
objetivamente? O autor responde a essa questão informando que a objetividade dependerá de
quem for o jornalista e de qual for a história a ser investigada e contada.
18
Barros Filho (1995) denuncia uma falsa objetividade usada no produto informativo a ser
veiculado pelos meios de comunicação. De acordo com o autor, isso acontece devido aos
espaços destinados à opinião. Assim, a chamada “objetividade aparente” se divide em dois
aspectos: forma e conteúdo.
Para Barros Filho (1995), toda a mensagem e seus efeitos produzidos se encaixam na forma
do produto midiático, ou seja, os produtos e os meios de comunicação que os produzem
podem assumir variadas formas. Desta maneira, o autor nos mostra que a objetividade
aparente se revela na forma do jornalismo através de textos e de imagens.
O texto informativo, segundo ele, produz um “efeito real”, pois sua principal característica é a
busca do fato embora a objetividade pura seja algo impossível. Além desta, o jornalismo
informativo também tem outras características que, segundo Barros Filho (1995), justificam a
objetividade aparente e produzem o efeito real: a exposição clara dos fatos, as estruturas
simples e a velocidade da leitura no caso do rádio e da televisão.
No aspecto que diz respeito ao conteúdo da produção mediática informativa, o autor apresenta
dois lados: a coerência do texto e a coincidência na escolha dos fatos. As perguntas básicas
que compõem a notícia (o quê?, quem?, quando?, onde?, por quê?, como?) são elementos
que fazem crer, segundo Barros Filho (1995) que a matéria é uma descrição tal e qual o
19
Quando os temas são assuntos nacionais, a cobertura é intensamente focada por diversos
meios, em que uns seguem os outros. O tema é onipresente, ou seja, presente em todos os
meios. Por isso, o autor acrescenta que “há maior probabilidade de um receptor consumir um
jornal diário impresso e outro televisivo no mesmo dia do que dois jornais impressos”
(BARROS FILHO, 1995, p.91).
Para Barros Filho (1995), a subjetividade nada mais é que uma individualização do sujeito, ou
seja, é o reconhecimento que se faz do sujeito. O valor que o público dá, bem como sua
interpretação sobre seus problemas, medos e simpatias em relação às pessoas e aos países é
influenciada pela visão que vem de fora.
Desta forma, Barros Filho (1995) nos elucida sobre os comentários excessivamente
sensacionalistas. Segundo ele, essa parcialidade pode ser considerada como defeitos técnicos
que desqualificam profissionalmente a informação além de contribuir para a difusão de
posturas distorcidas e até agressivas.
Por outro lado, Bucci (2000) afirma que as emoções não atrapalham a precisão. Para o autor,
o bom jornalismo não tem nada a ver com a indiferença e neutralização do sujeito, pois o
público se alimenta também de indignação. Por vezes, na tentativa de se isentar inteiramente
da emoção, pode-se produzir um alheamento no repórter tornando seu texto imprestável visto
que, sem indignação espanto e surpresa não há reportagem. Se o jornalista simular um
distanciamento entre o sujeito e os fatos não conseguirá dialogar com o público. A
objetividade não pede isenção total, mas equilíbrio.
Contudo, isso não significa que o texto deva ser meloso ou conduzido pela ira e pelo protesto.
Pois se isso acontecer, o texto será ineficiente para transmitir os fatos. “As emoções devem
integrar a reportagem assim como integram a alma humana – e, de fato, estão presentes nas
mais marcantes passagens do jornalismo, nos melhores textos, nas grandes manchetes, nas
fotos que fizeram história” (BUCCI, 2000, p.94).
20
No mesmo contexto, Hernandes (2006) afirma que é possível observar alguns textos contendo
um viés ideológico muito evidente. Acontece que o jornal sabe que seu público faria o mesmo
recorte da realidade diante de certos acontecimentos. Assim, o recorte do real não seria
sentido como parcial ou tendencioso pelo público, mas como a realidade do fato, o próprio
real, produto do olhar objetivo.
Hernandes (2006) também acredita haver uma falsa objetividade e esclarece algumas
estratégias usadas pelos jornalistas. Uma das técnicas é fazer com que a notícia seja
manifestada sem a explicação de um “eu”, ou seja, usam a terceira pessoa numa reportagem
como se o próprio assunto estivesse se apresentando para o público. Há também uma tentativa
de persuasão por parte dos jornais para que seu público-alvo acredite que o recorte da
realidade feito ao noticiar o fato é a própria realidade sem a necessidade de provar com
diálogos, fotografias, filmagens e outras possibilidades.
Além disso, a divisão entre textos opinativos, interpretativos e objetivos é, de acordo com
Hernandes (2006), mais uma estratégia com a pretensão de controlar o leitor, telespectador,
ouvinte ou internauta sobre a forma como se abordar um fato. Há uma tentativa de se fazer
acreditar que a parte de opinião está nos editoriais ou nos comentários dos colunistas.
Para Rosen (In Traquina 2000) a objetividade pode ser entendida como uma teoria da
separação. Para se conseguir chegar à verdade é preciso separar os fatos dos valores, a
informação da opinião e as notícias dos pontos de vista. Além disso, o autor entende a
objetividade como uma técnica de persuasão. É um conjunto de coisas que os jornalistas
fazem quando saem para relatar as notícias: confiam nas fontes oficiais, citam ambos os lados
e conseguem persuadir seu público.
O jornalista, para Rosen (In Traquina 2000) usa a objetividade para convencer e impressionar
seu público. Para isso abusam de todo o seu entusiasmo e convicções; baseiam seu texto numa
tradição comum ou num conjunto de valores que seu público-alvo partilha; envolvem as
emoções de seu público de forma demagoga. Com isso, o público acaba acreditando que o
21
jornalista apenas entregou os fatos tal quais como o são, não tendo qualquer envolvimento
com os fatos, como se os fatos não os preocupassem particularmente.
Cornu (1999) também esclarece sobre a objetividade jornalística que afirmando que ela deve
ser utilizada como método de orientação para a verdade. Segundo o autor, se o jornalista é
responsável pela verdade, a objetividade deve exigir que se vá ao fundo das investigações,
que se recolha todos os fatos confirmados disponíveis e que se oponha à falsificação,
deformação e mentira.
Alguns dos mais importantes documentos como a Declaração da UNESCO sobre os meios de
comunicação de 1983, a Declaração de Bordéus revista em 1986 e a Declaração de Munique
de 1971, apresentam os princípios essenciais da liberdade de imprensa e o direito à
informação.
Barbeiro (2002) explica que o jornalismo, assim como várias outras profissões, precisa de um
código de ética, um acordo que se comprometa a realizar sua função social de forma
compatível com os princípios universais da ética. Esse código, de acordo com o autor, é
articulado por meio de uma deontologia. O código de ética do jornalista brasileiro é segundo
Barbeiro (2002), um instrumento frágil de regulação do comportamento de seus membros que
não consegue obrigá-los a cumprir seus preceitos.
Bucci (2000) afirma que para a educação dos profissionais, um código de ética pronto e
fechado não adianta muito. Para o autor os coordenadores das equipes jornalísticas e donos de
empresas de comunicação deveriam incluir em suas tarefas a formação ética permanente dos
jornalistas. Os repórteres devem ter o retorno transparente sobre cada decisão ética,
participarem de debates periódicos sobre o tema e ser recomendados a leituras e cursos de
aperfeiçoamento. Além disso, a autoridade ética deve vir da conduta exemplar dos que
comandam as redações seja para observar as regras ou para punir as desobediências.
Para Bucci (2000) é inútil esperar que a lei garanta a qualidade dos conteúdos informativos,
que determine que todo jornalismo seja bom. Ou seja, a legislação cuida das premissas para
22
que a democracia funcione, para garantir a integridade das pessoas, protegendo-as contra a
calúnia, a injúria e a difamação que consta no Código Penal.
Para Barbeiro (2002), a pressão da deontologia é somente de ordem moral. Nesse sentido é
preciso que o código seja uma convicção dos jornalistas, pois o instrumento teórico e prático
que o jornalismo dispõe é de tal ordem que precisa seguir condutas éticas específicas. Por
isso, o autor enfatiza que o jornalista deve saber quais os limites de seu trabalho, visto que a
missão de informar também comporta limites.
Desta forma, Barbeiro (2002) explica que o respeito ao ser humano também faz parte dos
limites do jornalismo. Assim, o autor faz algumas sugestões para uma conduta ética dos
jornalistas. Para Barbeiro (2002) não se deve gravar entrevistas sem o conhecimento da
pessoa, seja lá quem for, pois a busca da audiência incentiva o jornalista a falsear sua
atividade com a desculpa da investigação utilizando recursos como câmera e gravadores
escondidos. “Além de invasão de privacidade, essa atitude põe em risco a integridade dos
personagens que são julgados pela opinião pública por frases isoladas ou declarações
truncadas, fora do contexto dos acontecimentos” (BARBEIRO, 2002, p. 26).
Além disso, o autor alerta para algumas tentações que os jornalistas devem resistir. A busca
pelo chocante, por reportagens de impacto, pode invadir a privacidade dos outros sem contar
com os apelos emocionais. É preciso, segundo Barbeiro (2002), tomar cuidado com
coberturas policiais para o jornalista não cair na tentação de exercer um papel de inquisidor. O
jornalista deve apenas denunciar crimes à sociedade, pois quem apura e pune, se for o caso, é
o Estado.
Contudo, quando a vida de alguém corre perigo, a imprensa deve, segundo o autor, relatar o
acontecido ao delegado, promotor ou outra autoridade. O jornalista pode acompanhar o
trabalho das autoridades policiais, mas não é de sua alçada cooperar, visto que os direitos dos
acusados podem ser violados e a notícia pode cair no sensacionalismo.
Barbeiro (2002) atenta para o fato de que atualmente vivemos um tempo em que a facilidade
das transmissões ao vivo leva emissoras de TV a cobrirem chacinas, rebeliões, dentre outros
crimes cujas cenas são mostradas no meio da tarde. Nesses casos, de acordo com o autor, não
deve haver divulgação e isso não significa descompromisso com a informação, mas respeito
com vítimas da violência e com os próprios telespectadores. Também não devem ser
divulgadas notícias ou entrevistas que ajudam a criar uma imagem simpática ou romântica de
criminosos.
Para Barbeiro (2002) o jornalista não pode colocar a vida das pessoas em risco mesmo que
isso impeça a divulgação de uma reportagem, pois o direito à vida está em primeiro lugar.
Nesse caso, segundo o autor, prevalece o artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos do
Homem que diz que todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Em
caso de sequestro, o autor afirma que deve haver apuração por parte dos jornalistas, mas que o
crime não deve ser divulgado quando houver pedido da família, de autoridades ou a convicção
de que a divulgação vai colocar em risco a vida da pessoa sequestrada.
Barbeiro (2002) afirma que a justiça cuida e observa as leis penais e civis do país, mas o
código de ética não é de sua competência. Entretanto, se houver dano moral ou material
provocado pela falta de ética e não observação da legislação vigente, a justiça deverá interferir
para que a verdade se estabeleça e os ofendidos sejam reparados. Isto é, além das questões
éticas que são tratadas por uma Comissão de Ética eleita em Assembléia Geral da categoria,
há os limites estabelecidos pela lei e o jornalista pode responder tanto civil como
criminalmente.
24
3 A TV E O TELEJORNALISMO
Neste capítulo veremos como a televisão é um objeto difícil de analisar diante da inexistência
de um retorno em relação àquilo que se emite. Contudo, será possível verificar a existência de
um conformismo crítico derivado da resistência intelectual à análise da televisão e críticas
fundamentadas nas análises da televisão em relação à sua busca incessante pela mais ampla
audiência. Discutirá ainda os diferentes mecanismos que compõe a televisão, as técnicas de
entrevista, os programas populares, o espetáculo e a violência na TV.
“Digam-me quais os programas assistidos e eu lhes direi qual a concepção de público que
existe na cabeça dos que os produziram” (WOLTON, 1996, p. 15). Para Wolton (1996), se o
público assiste mais programas de qualidade inferior que de superior não significa que gostem
mais destes, mas que lhes são oferecidos mais programas ruins que bons. De acordo com o
autor, cada um consome a televisão individualmente com o objetivo principal de se distrair.
Por outro lado, Machado (2005) tem uma visão diferente nomeando a qualidade como a
questão central de sua análise: para se pensar em televisão de qualidade é preciso pensar em
recepção de qualidade. Para o autor é um engano dizer que na televisão só exista banalidade,
pois fora da televisão as coisas não são tão diferentes assim. “O fenômeno da banalização é
resultado de uma apropriação industrial da cultura e pode ser hoje estendido a toda e qualquer
forma de produção intelectual do homem” (MACHADO, 2005, p. 9).
Wolton (1996) relata que a televisão é a soma das imagens e do laço social. A imagem é
composta pelo divertimento e pelo espetáculo que dão origem à dimensão técnica. O laço
social é a comunicação que origina a dimensão social. A associação dessas duas dimensões,
técnica e social dão origem a duas ideologias que superestimam o papel do instrumento e do
25
que podemos fazê-la desempenhar. O autor faz uma abordagem sociológica e cultural da
televisão mostrando que o seu papel central deve ser compreendido mais pelo lado da
comunicação do que do laço social.
Wolton (1996) afirma que é característica da televisão a tensão entre duas escalas
contraditórias: a individual e a coletiva. Segundo o autor, o caráter da televisão é unir
indivíduos e públicos propondo-lhes a possibilidade de participar individualmente de uma
atividade coletiva. Desta forma, o espectador é o mesmo indivíduo que o cidadão, portanto,
devem-lhe ser atribuídas as mesmas qualidades. Por exemplo, se o público é influenciável e
manipulável, o cidadão também o é.
Wolton (1996) acrescenta que a televisão é um objeto de conversação e sua força está na
unção da experiência individual e coletiva, pois é a única que consegue ligar igualmente os
pobres e os ricos, os velhos e os jovens, os rurais e os urbanos. Todos nós assistimos à
televisão e depois fazemos comentários a seu respeito. Sua importância é política e social.
Desta maneira, o controle de suas imagens não garante o controle das consciências. O autor
revela que o verdadeiro desafio de uma atividade de comunicação é a conquista do grande
público.
Porém, o discurso crítico do público é diferente, pois ele faz um juízo sobre a televisão
justamente porque a assiste. Segundo Wolton (1996), o discurso do público é, na maioria das
vezes, crítico, pois aquilo o que a televisão realmente fornece não corresponde às
expectativas.
Para Wolton (1996), todo o mundo tem uma opinião sobre a televisão e assegura saber
exatamente aquilo o que ela é. Esse é o preço da popularidade que a televisão tem em uma
sociedade democrática, pois, assim como o poder político, a televisão está submetida ao
julgamento crítico do público.
Por um lado, as reclamações dos espectadores mostram que o público não é bobo, segundo o
autor. Eles reconhecem e criticam a falta de inovação, a obsessão com a audiência, a
excessiva espetacularização da informação, a escassez de programas científicos, culturais, etc.
Por outro lado, Wolton (1996) também lembra que o espectador é indiferente diante da
imagem, perde o seu senso crítico e se torna influenciável. Isso acaba favorecendo os modelos
culturais dominantes e uma verdadeira alienação que a televisão pode provocar.
26
Wolton (1996) acredita que a televisão é uma mídia difícil de aprender e muito complexa para
ser analisada já que ela ocupa um lugar determinante na vida de cada um, tanto pela
informação quanto pelo divertimento que proporciona. Desta maneira, acabamos perdendo a
vontade de refletir sobre o que a televisão é realmente, pelo fato de ela se tornar um mundo
diferente do da vida cotidiana. Ou seja, é difícil adaptar-se a um contexto e ao mesmo tempo
se distanciar dele para analisá-lo ininterruptamente.
Hoje em dia, segundo Wolton (1996), temos uma sensação de exercer a nossa liberdade
escolhendo aquilo o que desejamos assistir devido à multiplicação de canais. Surge desta
forma, a chamada “preguiça” intelectual, o conformismo crítico de se pensar a televisão com
seu caráter popular e banal fazendo com que a excluímos da pauta dos assuntos que precisam
ser pensados. Esse conformismo crítico tornou-se um estereotipo composto por um conjunto
de clichês, cuja base de sua legitimidade era a repetição.
O autor explica que a sociedade se vê através da televisão e que esta lhe oferece uma
representação de si mesma. “E ao fazer a sociedade refletir-se, a televisão cria não apenas
uma imagem e uma representação, mas oferece um laço a todos aqueles que a assistem
simultaneamente” (WOLTON, 1996, p. 124).
Machado (2005) também não concorda com essa idéia afirmando que nos últimos anos a
discussão sobre a televisão tornou-se ingênua e equivocada chegando ao extremo de “sugerir
que as formas mais degradantes de televisão „refletem‟ (a velha tese da „reflexão‟) a
degeneração social ou as mazelas da desigualdade econômica, funcionando, portanto, como
um sintoma ruidoso do estado de convulsão dos excluídos” (MACHADO, 2005, p.12).
27
Além disso, o autor considera muitos analistas intelectuais ingênuos quando procuram provar
que os telejornais não são neutros, objetivos e imparciais. Para Machado (2005), em um
debate sobre o governo, se a televisão coloca três opiniões a favor e uma contra não se pode
concluir que o espectador vai necessariamente acatar as opiniões majoritárias. “Pode até ser
que, a partir das opiniões apresentadas, ele forme uma terceira, nem sequer cogitada na tela”
(MACHADO, 2005, p. 112).
Para o autor, existe vida inteligente na televisão e de tudo o que ela produziu efetivamente em
seus mais de 50 anos de existência conhecemos muito pouco ou apenas o pior, como se tudo o
que vemos na televisão fosse sinônimo de lixo. Contudo, segundo Machado (2005), não
vemos nada além porque não queremos ver. Diante disso, o autor propõe um resgate da
inteligência, da criatividade e do espírito crítico.
O autor não aceita que a televisão pague sozinha pela culpa de uma mercantilização
generalizada da cultura e apresenta dois fenômenos para exemplificar. O primeiro é a
transformação das livrarias em “supermercados” da cultura vendendo sua subliteratura de
consolo como os manuais de auto-ajuda. O segundo é a produção de filmes descartáveis para
o cinema lotando as salas de shoppings centers.
Considerando que o objeto de pesquisa deste trabalho é um programa de TV que contém viés
jornalístico, é necessário apresentar os mecanismos que compõem esse meio de comunicação.
“Sobre a televisão, o índice de audiência exerce um efeito inteiramente particular: ele se
retraduz na pressão da urgência” (BOURDIEU, 1997, p. 38). O autor afirma que a
concorrência entre os veículos de comunicação de massa toma forma de uma concorrência
pelo furo jornalístico para serem os primeiros a noticiar.
28
Bourdieu (1997) esclarece que, na televisão, há uma censura invisível já que o assunto é
estabelecido, assim como as condições da comunicação: a limitação do tempo impõe
restrições ao discurso. Na explicação do autor, as notícias de variedades são o alimento
predileto da imprensa sensacionalista, pois tratam de sangue, sexo, dramas e crimes. São
assuntos que trazem audiência e que preocupam o respeito imposto pelo modelo de imprensa
séria que até então se afastava desse tipo de notícia.
As palavras comuns não servem para a televisão, o que de fato faz sucesso são as palavras
extraordinárias, pois segundo Bourdieu (1997), o mundo das imagens é dominado pelas
palavras. Uma foto, por exemplo, precisa de uma legenda que diz o que é preciso ler sobre
aquela imagem. E as palavras podem causar estragos, de acordo com o autor. Vemos muitos
apresentadores que falam levianamente sem ter a menor idéia da gravidade e da
responsabilidade do que dizem, pois as palavras criam fantasias, medos, fobias ou
representações falsas, de acordo com Bourdieu (1997).
Assim, Bourdieu (1997) nos faz perceber que os jornalistas que seguem essa linha estão
mesmo é interessados pelo que é excepcional para eles, já que o que é banal para os outros
pode ser extraordinário para eles e vice e versa. Isso, segundo o autor, é uma forma de fazer
diferente dos outros e a consequência disso é que todos os veículos acabam fazendo a mesma
coisa em busca da exclusividade para produzir a originalidade o que resulta na banalização e
uniformização da informação.
Apesar disso, segundo Machado (2005), a televisão acumulou nesses últimos 50 anos de
história um repertório de obras criativas, maior do que se supõe normalmente. Assim, o autor
a inclui em um dos mais importantes fenômenos culturais de nosso tempo.
Há um elo entre o pensamento e o tempo, de acordo com Bourdieu (1997). O autor elucida
que a televisão não é muito propícia à expressão do pensamento, pois na urgência não se pode
pensar. O autor denomina de fast-thinkers aquelas pessoas que pensam mais rápido que suas
próprias sombras. Segundo ele, é preciso nos perguntar por que essas pessoas são capazes de
29
pensar em velocidade acelerada, pois a resposta é muito simples: os fast-thinkers pensam por
idéias prontas. Idéias banais, comuns e convencionais que quando se resolve aceitá-las, já
estão aceitas.
Conforme palavras de Bourdieu (1997), a televisão tem condições de ter acesso à visibilidade
pública e com isso, à expressão em grande escala. A televisão impõe seus princípios de visão
de mundo, seu ponto de vista à nossa sociedade. Para o autor, os jornalistas exercem uma
censura ao reter apenas o que lhes interessam e lhes prendem a atenção. É uma seleção que os
jornalistas fazem na realidade social esquecendo a insignificância ou a indiferença que os
cidadãos mereceriam apreender.
O autor relata que certas categorias de jornalistas são recrutadas por suas aptidões de se
curvarem diante das expectativas de um público menos exigente, ou seja, públicos
indiferentes à deontologia jornalística. Esses jornalistas são levados pela concorrência e
recorrem aos velhos truques sensacionalistas dando o lugar a notícias de variedades na
televisão que acabam por produzir um vazio político reduzindo os assuntos em mexericos
nacionais ou planetários como vida das estrelas e das famílias reais (BOURDIEU, 1997).
Contudo, para Bourdieu (1997), o jornalismo está sob a pressão do campo econômico por
causa do índice de audiência. Não se deve contentar-se somente em denunciar os
responsáveis. Fala-se muito em moral, mas é preciso que o público tenha interesse na moral.
Porém, a idéia defendida por Machado (2005) é a de que não são produzidos trabalhos
contendo uma visão positiva sobre televisão, ou seja, muito do que esse veículo tem de
30
Machado (2005) afirma que, dentre outros mecanismos, a televisão também deve funcionar
como um dispositivo audiovisual pelo qual a civilização pode exprimir seus anseios e
dúvidas, crenças e descrenças aos seus contemporâneos. Desta forma, a televisão é
apresentada, geralmente, como um meio de comunicação degradado e degradante. O
argumento do autor é de que a televisão não pode ser definida como um veículo bom ou mau
sem que se considere o uso que se faz dela.
Cremilda Medina (2000) conceitua a entrevista como um gênero jornalístico. “(...) uma
técnica de obtenção de informações que recorre ao particular; por isso se vale, na maioria das
circunstâncias, da fonte individualizada e lhe dá crédito, sem preocupações científicas”.
(MEDINA, 2000, p. 18).
Segundo o autor, a entrevista não pode durar mais que o tempo necessário. O entrevistado fala
para o público por intermédio do entrevistador. É importante fugir de perguntas óbvias e não
interromper o entrevistado sem que ele tenha concluído o pensamento.
Quanto ao conteúdo ético da entrevista, Barbeiro (2002) ressalta que o entrevistado não deve,
sob nenhuma hipótese, ser enganado sobre o tema da entrevista. O jornalista também não
deve induzir o entrevistado a dar a resposta que se quer ouvir, nem fazer afirmações no lugar
de perguntas esperando conseguir apoio do entrevistado à sua opinião. Outro erro é invadir a
privacidade do entrevistado. É dever de todo jornalista preservar a vida pessoal do
entrevistado agindo sempre pautado em ações éticas.
Além disso, Cremilda Medina (2000) elucida em sua obra que, para ser o braço direito da
comunicação humana, a entrevista jornalística não deve ser encarada como uma simples
técnica. Desta forma, a autora explica como realizar o que denomina de Diálogo Possível: é
quando entrevistado e entrevistador se modificam, se revelam e se interagem com a entrevista.
Segundo Medina (2000), quando se elucida uma determinada compreensão do mundo, quando
a técnica da entrevista é ultrapassada pela intimidade, tem-se o momento raro chamado de
Diálogo Possível. Rotulada de ideal, Medina (2000) afirma que essa situação acontece no
cotidiano mesmo nas entrevistas levadas às últimas consequências.
Sendo assim, é preciso mais do que recolher fatos, informar e motivar, pois para Medina
(2000), tanto na fala do entrevistado quanto no tom das perguntas feitas pelo entrevistador, o
leitor, ouvinte ou telespectador “sente” a emoção e a autenticidade daquela entrevista. De
acordo com a autora, a espetacularização “é construída de forma artificial através de
„liberdades‟ opinativas do jornalista, que atribui qualificações, cacoetes, idiossincrasias ao
entrevistado, segundo os modismos vigentes” (MEDINA, 2000, p. 57).
De acordo com França (2006), a partir da segunda metade da década de 90, a programação da
televisão brasileira passou por significativas transformações. O espaço destacando os
programas populares é a principal delas. Esses programas apresentam características
peculiares, segundo a autora, que mostram desde pessoas comuns resolvendo seus problemas
pessoais ao vivo na base da baixaria até programas com viés jornalístico que espetacularizam
as notícias valorizando a cobertura de fatos violentos, a dramatização e a exploração dos
depoimentos das vítimas.
Araújo (2006) descreve três das características mais comuns à maioria destes programas. A
primeira se refere aos protagonistas, pessoas comuns até então desconhecidas do grande
público. Uma segunda característica apontada pelo autor é a preocupação exagerada em exibir
fatos reais. Para isso, procuram inserir acontecimentos ao vivo ou gravações na rua. A terceira
trata-se da “exploração dos fatos da vida privada a partir de depoimentos, invasões na casa
das pessoas, registros com câmeras escondidas ou vigilância 24 horas por dia de um
ambiente” (ARAÚJO, 2006, p. 49).
33
Os fatos privados, de acordo com o autor, estão relacionados à esfera íntima dos indivíduos
que se transformam em fatos públicos ao ser exibidos. Quem também trata dessa linha de
pensamento é Thompson (2005) para quem “público” significava atividade ou autoridade
relativa ao estado e “privado” se referia às atividades ou esferas da vida que eram excluídas
ou separadas. Agora, a partir do séc. XIX, para o autor, as atividades econômicas e a vida
social, as relações pessoais e familiares, a invisibilidade, o segredo, aquilo que se esconde da
vista dos outros, fazem parte do domínio privado. E o domínio público são as organizações
econômicas pertencentes ao estado: significa abertura, acessível ao público, visibilidade.
Assim, de acordo com o autor, a mídia cria novas intimidades. Conhecemos pessoas através
da televisão, artistas e líderes públicos e os consideramos íntimos. Depois do
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, foi possível ver e ouvir nossos líderes.
A visibilidade mediática transformou a natureza do público e do privado.
“O desenvolvimento da mídia criou novas formas de publicidade que são bem diferentes da
publicidade tradicional da co-presença” (THOMPSON, 2005, p. 114). Para o autor, a
visibilidade está associada à publicidade no sentido de tornar as pessoas como produto:
aparecer, anunciar, exaltar a massa, tornar público. Na modernidade a fronteira entre público e
privado está cada vez mais tênue. O poder não é mais legitimado no sagrado, mas na opinião
pública, aberta, crítica. Assim, de acordo com Thompson, o advento da imprensa no início da
Europa moderna criou uma nova forma de publicidade ligada às características da palavra
impressa e a seu modo de produção, difusão e apropriação.
Além disso, Araújo (2006) ressalta a preocupação desses programas com os índices de
audiência a todo o custo. Em nome da adesão do público e da popularidade, alteram o que for
necessário, interrompem subitamente determinado quadro, trocam personagens, temas,
formatos e até horários. Para Araújo (2006), ao longo dos anos, a TV brasileira sempre teve
no conteúdo de sua programação a presença de pessoas famosas na condição de protagonistas.
A figura do homem comum, anônimo, sempre esteve na condição de meros espectadores,
consumidores do conteúdo dos meios.
34
Segundo o autor, essa programação que surge nos anos 1990 trazendo em sua essência a
inovação dos fatos reais, que antes eram vistos apenas no espaço do telejornalismo, torna o
homem comum o protagonista da programação televisiva. O autor explica a distinção feita na
televisão entre informação e entretenimento da cultura. A informação está preocupada,
segundo o autor, com o tratamento objetivo e fiel à realidade. O entretenimento visa ao
divertimento e à promoção da divulgação do patrimônio artístico e histórico-cultural.
O homem comum não assume papel de estrela, mas ocupa o espaço da fama por alguns
minutos. A partir disso, é possível, de acordo com o autor, traçar cinco situações em que esse
homem simples aparece nos programas populares: 1) a pessoa se apresenta como se fosse uma
atração de circo, 2) o indivíduo leva seus problemas pessoais e os expõe no programa, 3) a
pessoa vai ao programa com o objetivo de realizar algum desejo, 4) o anônimo vai ao
programa para participar de algum jogo a fim de consegui algum prêmio oferecido ao
vencedor e 5) a pessoa é tratada como vítima e vai ao programa para expressar seu sofrimento
ou revolta diante de algum crime.
As vítimas ou as famílias de vítimas, segundo Araújo (2006), são pessoas que sofreram
alguma forma de agressão física ou psicológica que vão ao programa para narrar o
acontecimento cujos depoimentos são, muitas vezes, emocionados, pedindo por justiça.
Geralmente esses fatos são reproduzidos em simulações representadas por artistas. Mostra-se
uma foto das vítimas ou dos culpados, além de filmagens e voz.
Desta forma, Araújo (2006) apresenta algumas estratégias construídas pelos programas
populares para conferir status de real às atrações que veiculam: reforçam a aparição de
imagens que atestam que os locais são reais descrevendo-os; utilizam a expressão “ao vivo”,
35
exibem o horário, falam a hora certa ou apresentam flashes ao longo do dia para conferir
realidade aos programas utilizando o tempo da vida cotidiana; exibem falhas mostrando que
não há edições ou montagens e que o programa é autêntico; recolhem depoimentos das
pessoas que atestam a veracidade dos fatos relatados nos programas provando que são reais e
não personagens contratados.
Além disso, França (2006) afirma que esses participantes não representam exatamente a
figura do homem comum, mas grande parte da população brasileira que sofre diversas formas
de exclusão e problemas de sobrevivência. Eles estão no programa numa posição frágil para
serem ajudados, mostrados e até julgados. Também lhes falta a autonomia. “Foram
convocados pelos programas e atuam nos lugares e papéis que lhes foram definidos pela
produção (alguns chegam lá desconhecendo o que vai se passar, outros orientados para reagir
desta e daquela maneira)” (FRANÇA, 2006, p. 146).
A autora ressalta que não é possível saber as razões que levam essas pessoas a participarem
desses programas populares numa posição, muitas vezes, de chacota. Independente disso, o
processo que os levaram a fazê-lo foi uma escolha e em alguns casos até uma conquista.
Portanto, por mais que lhes faltem condições práticas, que vivam em situações de carência é
um engano pensar que são desprovidas de vontades, intenções e arbítrio. Segundo a autora,
em cena, esses tipos populares representam por conta própria e, ao fazê-lo, parecem
representar certo gozo.
autora enfatiza a rapidez e superficialidade com que os casos são julgados e classificados. “Os
personagens e histórias ali encenados não são senão um pretexto para o discurso moralista-
autoritário do apresentador” (FRANÇA, 2006, p.145).
Para Bistane e Bicellar (2005) os apresentadores falam alto, apontam o dedo, se dizem
indignados com a impunidade e, com cinismo, pedem o fim da violência, matéria-prima de
seus programas. Estes conteúdos misturam entretenimento, informação, fofoca sobre
celebridades, sorteios e shows musicais. Além disso, dizem que fazem reportagens e usam a
expressão jornalismo. Isso confunde o público e abala a credibilidade de jornalistas
empenhados no funcionamento correto da democracia.
Contudo, de acordo com a autora, a aparição desses tipos populares é em si uma denúncia,
pois, mesmo maltratado o povo está na TV mostrando sua realidade que vai muito mais além
da televisão. Assim, a autora reflete sobre a função social que estes programas são capazes de
cumprir. Além de proporcionar o entretenimento, os apresentadores são porta-vozes de
funções exemplares para a sociedade reforçando as normas.
3.5 Espetáculo na TV
No exercício do jornalismo, por vezes, vemos distorções desencadeadas pela busca diária e
frenética por novidades. Desta forma, de acordo com Bistane e Bacellar (2005), a apuração
criteriosa pode ser sacrificada na ânsia de divulgar uma informação antes da concorrência.
Afinal, a credibilidade vem da precisão da notícia, da apuração correta, não de quem informa
primeiro.
37
Sodré (2002) ressalta que a adaptação de festas e espetáculos públicos espontâneos no Brasil
acompanhou o percurso da praça e do teatro para o rádio e deste para o cinema e a TV. Desta
forma, a partir da década de 40, passava pelo rádio uma comunicação fortalecida na indústria
do entretenimento com programas de auditório e no cinema com as chanchadas predominando
a estética do grotesco das paródias.
Para Sodré (2002) na programação da televisão brasileira em meados dos anos 1960 ainda
havia traços culturalistas. No entanto, com o objetivo de cooptar faixas mais amplas de
audiência, na tentativa de se consolidar como veículo massivo, a TV busca se popularizar da
mesma forma como o rádio outrora o fez. Com isso, a televisão acaba caindo nas malhas do
comércio e da publicidade. “A estratégica básica consistia em traduzir para o espaço
televisivo o ethos festivo de praça pública já presente nos programas de auditório radiofônico”
(SODRÉ, 2002, p. 111, grifo do autor).
Desta forma, a televisão brasileira, segundo o autor, expropriou o rádio de seu público
fazendo o auditório da televisão exercer a mesma função que lhe garantia sucesso no rádio.
Esse fenômeno, de acordo com o autor, ficou conhecido como programa popularesco que
significa “espontaneidade popular industrialmente transposta e manipulada por meios de
comunicação, com vistas à captação e ampliação de audiência urbana” (SODRÉ, 2002, p.
111-112). Assim, a TV recria a espontaneidade das festas e dos espetáculos públicos.
Para Chauí (2006) ser espectador de programas televisivos, cujo objeto central do espetáculo
é a intimidade das pessoas, é um quadro que já faz parte da vida da grande maioria da
população brasileira. A autora ressalta que esses tipos de programas obedecem aos padrões do
mercado utilizando o mesmo procedimento usado na propaganda. “Para muitos, o maior
malefício trazido à cultura pelos meios de comunicação de massa tem sido a banalização
cultural e a redução da realidade à mera condição de espetáculo” (CHAUÍ, 2006, p. 14).
Segundo nota da autora, a palavra espetáculo vem do latim e pertence ao campo da visão. O
verbo specio significa ver, observar, olhar, perceber. Specto é o mesmo que ver, olhar,
examinar, ver com reflexão, provar, ajuizar, acautelar, esperar. Spectator é o que vê, observa,
e spetaculum é a festa pública. Destra forma, a palavra espetáculo e a palavra especulação
possuem a mesma origem que estão relacionadas ao conhecimento.
38
Gomes (2007) desloca o substantivo “espetáculo” para o adjetivo “espetacular” e explica suas
características derivadas do espetáculo: “se o que é digno de apreciação é apreciável, o que
merece ser mirado é admirado, o que é objeto constante de nota é notável. Esse mesmo ritmo
e lógica nos trazem o sentido contemporâneo de „espetacular‟ como o está aí para ser visto ou,
mais que isso, como aquilo que merece ser visto e, hiperbolicamente, aquilo cuja visão enche
os olhos” (GOMES, 2007, p.393).
O espetáculo é definido de várias maneiras para Debord (1997). Segundo o autor, a imagem é
uma abstração do real e o espetáculo é tudo aquilo no mundo que se torna abstrato. É uma
relação social entre as pessoas mediada por imagens, uma visão cristalizada do mundo. Desta
forma, espetáculo também é exploração do trabalho social que se tornou um modelo atual da
vida dominante na sociedade. “Sob todas as suas formas particulares – informação ou
propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos –, o espetáculo constitui o
modelo atual da vida dominante na sociedade” (DEBORD, 1997, p.14, grifo do autor).
Debord (1997) chama de espetaculista a sociedade que repousa sobre a indústria moderna. A
mensagem que o espetáculo passa é a de que tudo o que aparece é bom e tudo o que é bom
aparece. Sendo assim, para o autor, o espetáculo é a principal produção da sociedade atual e é,
ao mesmo tempo, parte da sociedade. O espetáculo é foco do olhar iludido e da falsa
consciência, é um mundo à parte, objeto de contemplação onde o mentiroso mente para si
mesmo.
Por isso, Debord (1997) esclarece que se há uma abstração generalizada é por causa de uma
sociedade capitalista, ou seja, para o autor, o espetáculo é o capital no qual a mercadoria
ocupa a vida social. “O homem separado de seu produto produz, cada vez mais e com mais
força, todos os detalhes de seu mundo. Assim, vê-se cada vez mais separado de seu mundo.
Quanto mais sua vida se torna seu produto, tanto mais ele se separa da vida” (DEBORD,
1997, p.25).
Em Gomes (2007) também se pode ter uma boa contribuição a cerca do espetáculo. Para o
autor o espetáculo coloca o seu apreciador na condição de espectador. A notícia como
espetáculo, para o autor, é composta para se exibir e para ser apreciada, colocando o cidadão
39
Para outro autor, por exemplo, a sociedade é viciada no espetáculo “fruto de uma indústria da
cultura que se sofistica cada vez mais na banalidade com a competente ajuda do
aparelhamento tecnológico” (COSTA, 2009, p. 194). Assim, para sintetizar e atualizar as
preocupações dos autores citados, Chauí (2006) teoriza sobre a produção do espetáculo.
A chamada cultura de massa se apropria das obras culturais para consumi-las, devorá-las,
destruí-las, nulificá-las em simulacros. Justamente porque o espetáculo se torna simulacro e
o simulacro se põe como entretenimento, os meios de comunicação de massa transformam
tudo em entretenimento (guerras, genocídios, greves, festas, cerimônias religiosas,
tragédias, políticas, catástrofes naturais e das cidades, obras de arte, obras de pensamento).
Visto que a destruição dos fatos, acontecimentos e obras segue a lógica do consumo, da
futilidade, da banalização e do simulacro, não espanta que tudo se reduza, ao fim e ao cabo,
a uma questão pessoal de preferência, gosto, predileção, aversão, sentimentos. É isto o
mercado cultural. (CHAUÍ, 2006, p. 22).
Ramos e Paiva (2007) revelam que nas décadas de 1980 e 90 a frequência de jornalistas
fazendo dos criminosos suas fontes era grande. Era comum que a imprensa brasileira e seus
repórteres de polícia entrevistassem traficantes de drogas e armas, muitas vezes em coletivas.
Atualmente, a maioria nega que procurem criminosos como fonte e afirmam não dar voz ao
bandido.
40
As autoras alertam que essas declarações não podem ser consideradas como verdade absoluta,
pois os jornais não deixaram de publicar entrevistas com criminosos. “O autor de um crime de
grande repercussão (...) continua a ser procurado por jornalistas, interessados em „ouvir o
outro lado‟, obter informações que possam esclarecer o crime ou compreender as motivações
do ato criminoso” (RAMOS E PAIVA, 2007, p. 57).
Para Ramos e Paiva (2007) é válido tentar compreender os valores e objetivos do criminoso,
desde que sem ingenuidade e impulsividade. Todo cuidado é pouco para não transformar um
criminoso em celebridade, herói ou vítima da sociedade. Os jornalistas que realizam
reportagens entrando em contato com criminosos procurados pela polícia devem estar cientes
de que essa atitude pode resultar em questionamentos legais e éticos. A sugestão é ouvir a
opinião de advogados ou outros consultores.
Além disso, para as autoras, não publicar apelidos dos criminosos é uma postura necessária,
visto que indicam intimidade, atribuem características positivas e humanizam aos bandidos.
Ramos e Paiva (2007) acrescentam ainda que os bandidos não podem ser considerados
interlocutores válidos no debate brasileiro.
As autoras recomendam que a imprensa evite que se comentem sobre os gostos, manias,
luxos, vida amorosa, bem como a publicação de fotos de bandidos na primeira página e a
41
aparição desses em close. “Uma recomendação difícil de ser aceita, já que em muitos
momentos segui-la seria brigar com a notícia” (RAMOS E PAIVA, 2007, p. 62).
De acordo com o Manual de Redação da Folha de S. Paulo, salvo se o criminoso foi preso em
flagrante, se a pessoa ainda não foi condenada pela Justiça, deve ser tratada como suspeita,
acusada, ré ou investigado. “Esse procedimento visa evitar prejulgamentos e preservar a
imagem de personagens do noticiário” (FOLHA DE S. PAULO, 2006, p.155). Contudo, para
Ramos e Paiva (2007) ainda se pode ler nos jornais pessoas mortas por policiais serem
classificadas por traficantes baseadas em informações da polícia.
Também é pautada pelas autoras a questão das crianças e adolescentes sob suspeita. O
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é adotado para proteger menores de idade
escravizados no trabalho e submetidos à exploração sexual. Porém, apesar de o conjunto de
recomendações éticas do ECA ser observado e seguido pelos jornalistas, também é bastante
criticado pela classe e pela própria sociedade por assegurar em lei a impunidade de bandidos e
assassinos menores de idade. “A discussão sobre a legislação para adolescentes infratores é
necessária e precisa ser levada a fundo, assim como o debate a viabilidade das instituições
corretivas no Brasil” (RAMOS E PAIVA, 2007, p. 68).
Outro ponto que merece destaque pelas autoras é a forma como os sequestros são tratados na
mídia. Quando se trata de um sequestro em andamento, noticiar o fato pode ser uma decisão
complicada para a imprensa, visto que envolve a vida de pessoas em situação de risco. Na
maioria das vezes há uma exigência por parte dos criminosos que a família da vítima
mantenha a polícia e a mídia distantes do caso e se forem contrariados são capazes de agir
com violência para intimar e pressionar.
Ramos e Paiva (2007) explicam a raridade dessa modalidade de crime cometidos no passado e
que nos últimos anos são percebidos com bastante frequência o que obrigou os jornais a
avaliar sua atuação nesses casos. Desta forma, segundo as autoras, a imprensa criou padrões
alinhados em duas posições contrárias.
Manual de Redação da Folha de S. Paulo com a defesa de que o caso deve ser noticiado
apenas depois de concluído. “Em regra, a Folha publica tudo o que sabe. Mas pode decidir
omitir informação cuja divulgação coloque em risco a segurança pública, de pessoa ou de
empresa” (FOLHA DE S. PAULO, 2006, p.48).
Ramos e Paiva (2007) discutem se o silêncio, nesses casos, é realmente uma boa idéia. A
partir de comentários sobre coberturas desastrosas e favoráveis em que a imprensa se torna
aliada da família da vítima, as autoras concluem que não há uma sugestão única a fazer em
relação à cobertura de sequestros, pois divulgar ou esperar a conclusão do caso apresentam
vantagens e desvantagens.
Se por um lado, esconder a notícia pode expor o veículo a críticas de seus leitores, por outro,
divulgá-la pode atrapalhar o trabalho da polícia e colocar a vítima em uma situação de risco.
Se a imprensa auxilia a polícia na guerra de informações, divulgando versões que desorientam
os criminosos, poderá assim fraudar o contrato de informar a verdade ao leitor. Se a imprensa
divulga o fato e impõe a sensação de risco pressionando os sequestradores, poderá, ao mesmo
tempo, transformar aquele crime em entretenimento.
Como uma terceira posição, as autoras refletem que o correto seria noticiar o essencial, sem
alarde e aguardar a conclusão do fato. “O certo é que nessas situações, em que a vida de uma
pessoa está em jogo, a imprensa deve colocar o bem-estar da vítima acima dos interesses
jornalísticos, procurando avaliar, através do contrato com a polícia e a família, que atitude
tomar” (RAMOS E PAIVA, 2007, p. 125).
43
Os capítulos anteriores nos serviram de base para conhecer o que é ético, antiético e as
estratégias que a televisão utiliza para convencer, entreter e capturar seu público. Neste
capítulo o objeto de trabalho será recortado em três partes. Primeiro faremos uma cronologia
do sequestro, depois conheceremos um pouco mais sobre a Rede TV!, o programa A Tarde É
Sua e a jornalista Sônia Abrão. Por último, as entrevistas, uma gravada e outra ao vivo, serão
transcritas e comentadas para que se possa verificar se houve interferência do programa na
investigação policial em curso, afronta às normas constitucionais, legais e éticas, abuso no
exercício da liberdade de comunicação e nos direitos da Criança e do Adolescente.
O pai de Eloá precisava se manter longe de delegacias. Fora ele quem apresentou Lindemberg
para a filha. Lindemberg já tinha passagem pela polícia e negócios ilícitos em comum com o
pai de Eloá. Aldo José da Silva é um nome falso, pois o pai de Eloá se chama Everaldo
Pereira dos Santos, é um ex-policial militar suspeito de integrar um grupo de extermínio em
Alagoas. Foragido desde 1993 foi reconhecido pela polícia alagoana ao ser flagrado pelas
câmeras de televisão durante o sequestro da filha.
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Para relatar cronologicamente o caso do sequestro em Santo André, utilizamos o autor Márcio
Campos (2008) que nos situa o cenário: policiais civis estavam em greve há quase trinta dias.
No dia 13/10/2008, por volta das 13h30min, Lindemberg invade o apartamento de sua ex-
namorada Eloá Pimentel, Conjunto Habitacional do Jardim Santo André, onde Eloá, Nayara,
Vitor e Iago realizam um trabalho escolar de geografia. Lindemberg faz quatro reféns. Por
volta das 20h uma equipe do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar
chega ao local para negociar a entrega dos reféns e a rendição do rapaz. Pouco depois das 21h
os dois garotos, Vitor e Iago, também rendidos por Lindemberg, são liberados.
Dia 14/10/2008, às 07h30min da manhã o rapaz aparece encapuzado por duas vezes na janela
segurando Eloá pelo pescoço. Lá dentro do apartamento, Eloá apanha sem parar. Por volta das
09h20min, o número de jornalistas é bem maior, agora com carros de transmissão ao vivo.
Lindemberg atira em direção à multidão que cercava o prédio. Ele teria encontrado uma
mensagem de outro garoto no celular de Eloá. Ninguém ficou ferido.
No dia 15/10/2008, às 08h a polícia mantém contato com Lindemberg pelo telefone. Às 10h o
sequestrador deixa de atender aos telefonemas. Na hora do almoço a imprensa consegue os
números dos telefones que são usados por Lindemberg para realizar as negociações. A equipe
do programa A Tarde É Sua é a primeira a ligar. A entrevista é gravada e exibida pouco
45
depois das 14h. Às 15h10min Sônia Abrão inicia sua entrevista ao vivo com o sequestrador.
Depois disso, várias emissoras resolvem quebrar o protocolo e seguir o mesmo exemplo
entrevistando o sequestrador.
Dia 16/10/2008, às 10h, Douglas Pimentel e Nayara Rodrigues entram no prédio com o
objetivo de negociar com Lindemberg. O sequestrador pediu a presença de Nayara como
condição para libertar a ex-namorada. O jovem engana a todos e driblando o comando das
negociações consegue fazer com que a menina chegue cada vez mais próxima da porta do
apartamento até que, sob a mira do revólver, o rapaz ameaça a garota para entrar novamente
ao apartamento. “Liso já estava nervoso, comentava que tinha assistido aos noticiários e se
preocupava quando os repórteres informavam sobre os crimes que ele estava cometendo por
conta da invasão da residência” (CAMPOS, 2008, p. 59). Por volta das 16h Lindemberg
pendura no vitrô do banheiro uma camiseta do São Paulo Futebol Clube.
Dia 17/10/2008 um conflito na capital de São Paulo que mais parecia uma guerra estourou
com a greve dos policiais civis desviando temporariamente a atenção da imprensa que
acompanhava o caso Eloá. Nas negociações, Lindemberg pede a presença de um juiz de
Direito para garantir a integridade dos envolvidos. Concomitante às negociações, Lindemberg
liga para algumas emissoras de TV pedindo que filmem o documento assinado pelo promotor
de justiça e o advogado da família. Após a divulgação do documento na TV Record, por volta
das 15h, o documento subiu pela janela da área de serviço através de uma corda feita de
lençóis já usada anteriormente para içar comida para dentro do apartamento.
Após 100 horas de cárcere privado, a polícia resolveu invadir o apartamento alegando ter
ouvido um disparo de arma de fogo no interior do apartamento e com o objetivo de resguardar
46
a integridade dos reféns. Lindemberg ainda teve tempo de atirar em direção às reféns. Nayara
deixou o apartamento andando, ferida com um tiro no rosto, enquanto Eloá, carregada em
uma maca, foi levada inconsciente para o Centro Hospitalar de Santo André. O sequestrador,
sem ferimentos, foi levado para a delegacia e, depois, para a cadeia pública da cidade. Eloá
Pimentel, baleada na cabeça e na virilha, não resistiu e faleceu por morte cerebral confirmada
às 23h30 do dia 18 de outubro, sábado. Em 8 de janeiro de 2009 o juiz José Carlos de França
Carvalho Neto, da Vara do Júri e Execuções Criminais de Santo André, determinou que
Lindemberg irá a júri popular pela morte da ex-namorada.
Com sede no município de Osasco, na Grande São Paulo, a Rede TV! entrou no ar no dia 15
de novembro de 1999. De acordo com dados obtidos pela internet, depois de várias reuniões,
sua história inicia num acordo acompanhado pelo Ministério das Comunicações, em que a
Rede Manchete foi adquirida pela TV Ômega que hoje é a controladora da Rede TV!. Por
uma decisão do Superior Tribunal de Justiça a Rede TV! não pode ser considerada sucessora
da extinta TV Manchete e, por isso, está isenta de qualquer ônus ou dívida trabalhista deixada
pela antiga emissora.
Em 14 de novembro de 2005, por uma decisão judicial, o sinal do canal da Rede TV! foi
desligado às 21 horas permanecendo mais de 25 horas fora do ar. A medida foi tomada,
porque a emissora descumpriu uma ordem judicial em que era obrigada a exibir um programa
educativo produzido pelo Ministério Público no lugar do programa Tarde Quente, uma
atração vespertina apresentada por João Kléber. Segundo o Ministério Público, o programa
estaria estimulando a homofobia e o preconceito contra homosexuais em "pegadinhas". A
RedeTV! acatou a decisão e exibiu do dia 12 de dezembro de 2005 até o dia 20 de janeiro de
2006 o programa obrigatório Direitos de Resposta, em parceria com o Ministério Público e
ONGs de direitos humanos. A emissora demitiu João Kléber e tirou do ar seus programas
Tarde Quente e Eu Vi na TV.
em São Paulo entre 1963 e 2001, conhecido por suas manchetes violentas e com apelos
sexuais. Abrão também passou por revistas como Contigo e Amiga. Atuou não só como
colunista, mas também como redatora, repórter e chefe de reportagem.
No seu início pela TV, primeiro foi convidada para fazer programas campeões de audiência,
como os de Sílvio Santos, Chacrinha, Augusto Liberato (Gugu), Hebe Camargo, Raul Gil, etc.
Depois, tornou-se comentarista de TV no programa Aqui Agora no SBT (Sistema Brasileiro
de Televisão), e ainda como repórter do helicóptero do Gugu. Desde o início de 2006 está na
RedeTV! apresentando o programa A Tarde É Sua, dirigido por Elias Abrão, seu irmão.
A Tarde É Sua foi exibido pela primeira vez no dia 02 de maio de 2006 substituindo o
programa A Casa É Sua. Dividido em cinco blocos, o programa tem duração decrescente de
aproximadamente 45 minutos o primeiro bloco, 35 minutos o segundo, 25 minutos o terceiro,
10 minutos o quarto e 05 minutos o quinto. O programa vai ao ar de segunda à sexta-feira, das
15h às 17h. Traz notícias que estão em evidência, abordando assuntos ora com seriedade e
polêmica ora com humor.
A pauta do programa varia entre comportamento, cotidiano, dicas de saúde, moda, beleza,
culinária, bastidores da televisão e a vida das celebridades. Alguns quadros que compõem o
programa são significantes para que se compreenda essa pauta: Como Funciona, Blitz da
Beleza, Piloto de Fogão e Roda da Fofoca. Nem todos os dias esses quadros aparecem. Às
vezes um único quadro aparece durante o programa inteiro. É o caso do Roda da Fofoca que
dá mais audiência e acontece todos os dias em que o programa vai ao ar.
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No início, a apresentadora Sônia Abrão faz um resumo do programa, composto por manchetes
sobre as celebridades e a novela das 21horas que a concorrente Rede Globo apresenta. A
audiência do programa gira em torno dos resumos das novelas da Rede Globo. Depois disso,
geralmente roda-se um VT de reportagens do mundo das celebridades, de comportamento ou
até mesmo matérias policiais confirmando o viés jornalístico do programa.
A todo o momento, Sônia Abrão faz pausas para dialogar com os anunciantes – em algumas
vezes, a própria apresentadora anuncia – produtos como suplementos alimentares, aparelhos
eletrônicos e de ginástica, emagrecedores, farmácias, dentistas, dentre outros. Ela caminha
para outro cenário, a cor da parede é diferente, a mesa é retangular e de vidro, mas também há
uma televisão de tela plana na parede mostrando vídeos dos produtos. Percebe-se que são
todos produtos para a saúde e a beleza da mulher indicando o público-alvo do programa.
O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF/SP) moveu uma ação civil pública (anexo
II) contra a emissora Rede TV! pela exibição das entrevistas, afirmando que os jornalistas
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De acordo com e-mails trocados com o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão,
Jefferson Aparecido Dias (anexo III), o Juiz Federal decretou segredo de justiça da ação por
envolver uma adolescente e com o objetivo de preservar a sua memória. Para Dias, a
exposição de crianças e adolescentes na TV depende de autorização judicial, de acordo com o
ECA e pode ser considerado suficiente para o processo, já que não foi cumprida pela Rede
TV! no caso Eloá.
As duas entrevistas foram retiradas do site Youtube gravadas em sequência num único DVD.
Além disso, consta na gravação, a sequência do programa com a cobertura do caso e
comentários de especialistas convidados.
São nove minutos e meio de conversa com o sequestrador. Nesse primeiro contato, o repórter
Luiz Guerra é quem conversa com Lindemberg. A entrevista é gravada e inicialmente ele não
se identifica como jornalista dizendo “Somos (sic) um amigo da família, a gente queria saber
se está tudo bem”. O repórter demonstra muito nervosismo e confunde o plural na frase.
“Somos um amigo”. Somente diante da insistência de Lindemberg, Luiz Guerra resolve se
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apresentar como repórter e diz que o procurou em nome da família, o que não é verdade: “A
gente só tá em nome da sua família porque a sua mãe está desesperada. É só isso!”
“A gente quer saber se está tudo bem. A sua mãe está preocupada. A nossa preocupação é
com você. Está tudo bem com você?”, diz o repórter mostrando-se mais preocupado com o
bem estar do bandido do que com o da vítima. A impressão passada ao telespectador é que a
entrevista dá a possibilidade de insuflar o ego do sequestrador, lançando-o no terreno da
“fama”, transformando-o em uma “celebridade”. “Está tudo bem, „bicho‟”, responde
Lindemberg. Só então Luiz Guerra menciona o nome da Eloá. “está tudo bem com você, com
a Eloá, vocês dois? Tudo tranquilo aí?”.
A entrevista continua e o sequestrador só quer saber se está ao vivo: “Oh, vocês estão ao vivo
aí?”. Enquanto o repórter responde que não está ao vivo, o áudio é coberto por imagens que
refletem o desespero da garota na janela. Tais imagens, de conotação sensacionalista,
aparecem durante a entrevista nos momentos de maior emoção e revelam conteúdos
inconscientes que acabam por despertar sensações e/ou sentimentos no telespectador, como
raiva, dor, tristeza e preocupação.
No decorrer da entrevista Lindemberg logo revela porque queria tanto que estivesse ao vivo:
“Tô perguntando por que é o seguinte: se vocês estivessem ao vivo, você ia ver que ela
acabou de aparecer aí (na janela) dando um sinal de jóia”. Observa-se uma interatividade
direta entre sequestrador e mídia. Lindemberg Alves parece comandar um show.
A resposta do jornalista é: “Então vamos colocar então na TV aqui. A gente vai ver pela TV.
Estamos gravando, se você quiser a gente grava e eu coloco no ar o que você quiser”, com
esses dizeres Lindemberg percebe que consegue mandar até mesmo na imprensa, ela faz tudo
o que ele pede. “Vamos conversar, eu quero te ajudar. Eu quero dizer pra você o seguinte: o
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capitão garante a tua integridade, você fica tranquilo, filho”. Ao chamar Lindemberg de
filho, o repórter cria uma proximidade com o sequestrador inadequada para a cobertura. Além
disso, afirma que ligou para auxiliar o sequestrador: “eu quero te ajudar”.
Lindemberg parece querer mesmo o espetáculo: “Vocês estão ao vivo já aí?”. A voz do rapaz
demonstra desapontamento quando o repórter diz que está gravando e que vai ser exibido a
partir das 14 horas. O repórter continua: “Lindemberg, me conta um negócio, você está
tratando bem ela, vocês estão conversando, como é que está?”. O sequestrador corta Luiz
Guerra por ter feito uma pergunta mal colocada: “Vocês da Rede TV! não viram a saída da
Nayara aí? (...) Então, ela deve ter falado o que está acontecendo aqui, não falou?”.
Percebe-se que Lindemberg espera que todos estejam acompanhando o caso.
O repórter ouve o “ponto” em que, pelo conteúdo da pergunta elaborada por Luiz Guerra, o
diretor do programa deve ter solicitado que fosse feita a pergunta sobre o porquê de
Lindemberg ter decidido sequestrar a ex-namorada: “Foi desespero, ciúme?”. E o rapaz é
intenso: “Que desespero, tio? Desespero? Se eu tivesse desesperado dava um tiro na minha
cara e já era”. Luiz pede para Eloá falar ao telefone. Ela, com voz trêmula, chorosa, tenta
responder que está tudo bem, mas que está fraca, com fome. O repórter dá um conselho:
“confia nele!”. Denota-se, desta forma, o caráter apelativo, sensacionalista da entrevista,
colocando-se em segundo plano os sentimentos dos familiares da adolescente. E depois o
repórter ainda espera que a menina mande recado pra mãe. O sensacionalismo e o caráter
apelativo ficam ainda mais explícitos quando a garota afirma amar seus pais e, como o áudio
não tinha ficado bom, o repórter diz: “pode falar de novo, mande um beijo de novo”.
Depois que Eloá termina de falar permanece um silêncio. A impressão que temos é de que o
sequestrador impediu a conversa. Como se o tempo tivesse acabado, pois é ele quem manda lá
dentro do apartamento naquele momento. A entrevista continua e Lindemberg diz em tom
desafiador: “Como você conseguiu o telefone daqui?” O repórter fica apertado e desconversa
dizendo que depois fala sobre isso: “o importante é que a gente quer passar tranquilidade
pra você”. O sequestrador fica nervoso e alerta o repórter: “Tô perguntando, e você vai me
responder por que eu to perguntando primeiro. Por favor, tio, não me deixa nervoso não”. O
repórter fala que conseguiu o telefone através da produção, mas o sequestrador não se satisfaz
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e exige em tom mais nervoso: “Então fala com quem você conseguiu”. Finalmente Guerra diz
que conseguiu com alguns parentes e o rapaz quer ter segurança se ele realmente é repórter.
Depois que o jornalista consegue convencê-lo, Lindemberg começa a usar a entrevista agora
para ameaçar a polícia: “Tô esperando tudo acontecer normalmente. O policial não fazer o
que ele fez. Eu falei pra ninguém subir, ele subiu. Ele tocou a campainha. Nós estávamos
dormindo. Eu tomei um susto quase atirei nela”. Demonstrando medo, o repórter começa a
elogiar o sequestrador: “Fica tranquilo. A gente está confiando em você, sabe que você é um
rapaz de bem, que você não quer fazer nada de errado”.
Já no final da entrevista Lindemberg, então, demonstra que não está intimidado e exemplifica
com o episódio famoso do ônibus 174: “Você é repórter, você viu o que aconteceu lá no Rio
de Janeiro naquele caso do sequestro do ônibus, né? Então, o cara foi pagar de bonitinho lá,
o policial lá, foi querer fazer as coisas precipitadas. Foi atirar no cara, o cara atirou na
mulher e matou a mulher. E aí? É isso que o policial quer, meu irmão? (...) E na hora do
programa você vai colocar no ar tudo o que eu tô falando aí, entendeu?”. Nota-se que
Lindemberg tem consciência de um paralelo preocupante e de que conseguirá tudo o que
pede. “Na íntegra, na íntegra. Pode ficar tranquilo”, responde Luiz Guerra.
Nos estúdios do programa A Tarde É Sua segue o diálogo: "Boa tarde, Dr. Ademar. E com a
sua experiência nos orientar aí sobre o que vai acontecer daqui pra frente, pra que a gente
possa ter uma idéia, claro", pede Sônia Abrão. "Bom, eu sou muito otimista, né? Eu espero
que isso termine assim em pizza, né, e num casamento futuro entre ele e a namorada, a
apaixonada dele, né? Ele tá passando uma fase momentânea, né, e ele tem a motivação de
viver, porque um rapaz jovem, quando se apaixona, muitas vezes se desequilibra, no caso
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radicaliza, mesmo. Mas isso vai terminar realmente em final feliz, graças a Deus, eu tenho
plena certeza e convicção disto", responde Ademar Gomes.
Neste momento são introduzidos no contexto de Lindemberg novos elementos, que ficaram
fora do controle da autoridade policial, mudando todo o processo de diálogo negociador que
vinha sendo mantido com a polícia. É fato, de acordo com depoimentos de Nayara, que o
rapaz acompanhava tudo pela televisão e ao se ver e ouvir na TV, percebera a possibilidade de
sair do anonimato, passar de sequestrador a celebridade.
Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas brasileiros, o Código de Ética “fixa as normas
a que deverá subordinar-se a atuação do profissional, nas suas relações com a comunidade,
com as fontes de informação, e entre jornalistas”. Sendo assim, as punições previstas incluem
desde advertência até expulsão do sindicato.
De acordo com o artigo 7º, inciso IV, do Código de Ética dos jornalistas, “o jornalista não
pode: IV – expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua
identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais do trabalho ou
residência, ou quaisquer outros sinais”. Assim, podemos perceber que o programa caminhou
na direção contrária da ética jornalística no caso do sequestro de Santo André. Eloá Cristina
Pimentel e Nayara Silva, feitas de reféns por Lindemberg, foram expostas livremente.
Essa entrevista é mais longa e contém pouco mais de 24 minutos de conversa ao vivo com o
sequestrador. A pauta, a informação que o programa pretendia passar, segundo a própria
apresentadora, foi a de que o sequestrador queria algo que a polícia não podia dar, mandar um
recado para a família e também estava preocupado com a opinião pública. Lindemberg queria
deixar claro que estava se comportando. Uma música funesta ao fundo em volume muito
baixo pode ser percebida depois dos primeiros minutos de entrevista. A ligação caiu quatro
vezes durante a entrevista ao vivo e até hoje não se sabe se era ele quem desligava de
propósito, se havia realmente algum mau contato ou se alguém interferia na linha.
“Ele está querendo falar ao vivo com a gente!”, diz a apresentadora antes de colocar o
sequestrador no ar. Depois de perguntar se Lindemberg continuava disposto a libertar Eloá, o
sequestrador responde à apresentadora explicando que não foi a polícia quem o fez libertar
Nayara com o corte de energia, mas porque se emocionou com a história de vida da garota.
“Liguei 10 horas da manhã pro pai da Nayara porque ela me emocionou falando que a vida
dela inteira até os 15 anos faltou o pai dela na vida dela. (...) Porque eu também passei pela
mesma situação. (...) E tava em tempo ainda de o pai da Nayara fazer tudo diferente”.
Ao ouvir isso, a apresentadora começa a se portar como uma psicóloga: “Exatamente. Você
foi criado sem seu pai, é isso? Mas você entende a dor da Nayara, você entende o que
significa a ausência de um pai pelo menos do jeito que as pessoas precisam, é isso? Isso o
que mexeu com seu coração?”. E Lindemberg continua comentando o que Nayara teria dito
enquanto esteve refém pela primeira vez.
entendendo que você sempre foi um cara legal, é que nesse momento ninguém entende o que
passou pela sua cabeça, mas por enquanto você não fez mal pra ninguém. Quer dizer, dá
tempo de resolver essa situação. Vamos terminar com isso na boa Lindemberg, você não é do
mau, você nunca foi. Então porque que essa situação tá chegando nesse ponto agora?”.
Além de não ter tido treinamento, preparo e autorização para negociar com o sequestrador,
Sônia Abrão também fala coisas de que ainda não tivera conhecimento, ou seja, nem o próprio
trabalho de jornalista conseguiu exercer com responsabilidade, apurando a informação
correta. Lindemberg tinha passagem pela polícia e bateu muito em Eloá lá dentro do
apartamento, segundo relatos de Nayara. Também ameaçou e colocou uma arma na cabeça da
menina. A apresentadora insiste muito que o sequestrador é uma boa pessoa, o coloca como
vítima, supervalorizando Lindemberg e pressupõe que o rapaz não é um bandido. Sônia Abrão
o ilude, criando nele o personagem para uma novela criada por ela que conta a história de um
casal apaixonado e a apresentadora desempenha o papel de conselheira sentimental.
“Tava com quatro pessoas. Liberei uma, depois de um tempo liberei outra e no outro dia
liberei mais uma”, diz Lindemberg. Essa é a deixa para mais uma tentativa de negociação
apelativa da apresentadora.
“Libera a Eloá, se libera também dessa historia. Vamos resolver tudo isso. É tanta gente
que ama vocês sofrendo aqui do lado de fora, você sofrendo aí, porque isso aí deve está
uma tensão total. A menina fraca você mesmo pediu ajuda pra ela, pediu comida pra ela.
Você disse que não quer mais saber dela, então vamos botar um ponto final direito nisso.
Todo o mundo sai são e salvo dessa historia. Tudo, tudo dá certo. Ninguém quer te fazer
mal nenhum aqui fora. Está todo mundo entendendo que você não é um marginal, que você
não é um bandido, que você não é um assassino, que você sempre foi um cara bom. É o que
sua irmã está dizendo, teus amigos estão dizendo, o pessoal que te conhece também está
falando que você sempre foi calmo, sempre foi trabalhador, sempre foi um cara legal, que
o que você está fazendo hoje deve ser um surto que você está passando, uma crise
emocional muito séria. Mas você, de qualquer maneira, mesmo em crise está se segurando,
você está fazendo as coisas com um certo critério, você está liberando as pessoas, você não
está fazendo mal pra ninguém. Então já dá um final pra essa historia que seja, todo o
mundo são e salvo inclusive você, inclusive você. Faz isso vai?”.
psicologia que não conhecia para transformar os pensamentos do sequestrador que acabou
ampliando sua ação criminosa e deixando-o sem opções.
“Tem duas vidas que depende de duas pessoas. De mim e do comandante que está na voz aí
embaixo. Que ele fez besteira hoje”. Diz o rapaz se referindo à tentativa da polícia de entrar
no apartamento mais cedo, ao que Sônia responde: “É eu sei”. A jornalista, nesse momento,
atua como uma entrevistadora de bandido, não como negociadora e demonstra-se de acordo
com a fonte, concorda com o sequestrador que a atitude da polícia foi realmente uma besteira
ao invés de reforçar o objetivo das autoridades competentes para o bom desfecho do caso.
E Lindemberg continua: “Eu falei com ele pra ele não se aproximar do apartamento, ele
pegou e...”, há uma pequena pausa e o som da música de fundo aumenta como se a produção
do programa quisesse mesmo dar trilha sonora para a novela de Sônia. “Nós tava cochilando,
ele pegou e apertou a campainha aqui, meu. (...) Eu pensei que ele tava invadindo, eu já ia
atirar nela”, continua o rapaz.
A apresentadora então quer saber como o comandante faz para falar com Lindemberg.
“Ontem, como vocês viram, ele apagou a luz aqui do condomínio, o telefone é sem fio, se ele
apagar...”. Nesse momento a apresentadora o interrompe ansiosamente para completar o
pensamento do bandido: “Não tem comunicação.” E Lindemberg repete: “Não tem como se
comunicar com ninguém.”. Abrão continua: “Mas você agora está com energia elétrica, não
tá?”. O rapaz responde: “Agora eu tô. Toda vez que eles tão ligando eu tô atendendo, eu tô
conversando com eles”. Não eram todas as vezes que ele atendia aos telefonemas da polícia.
Mais uma vez, a apresentadora dá voz ao bandido para que ele vendesse sua boa imagem.
“Então, dá uma chance pra essa negociação toda aí? Aí vocês já acabam com isso e você vai
descansar”, diz a apresentadora como se a atitude de Lindemberg fosse um ofício e ele
precisasse descansar após o árduo trabalho. “É, eu to com todas as intenções boas”, diz o
rapaz, mais uma vez vendendo a imagem de bom rapaz. “Olha, deixa eu te perguntar uma
coisa. Você está com medo de alguém dar tiro em você? Sabe, isso não vai acontecer!”,
afirma Sônia Abrão tocando em um assunto que, se tivesse treinamento especifico, saberia
que ao falar essa frase com o bandido poderia provocar sensações negativas em Lindemberg
prejudicando sua provável rendição espontânea.
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“Porque você invadiu o apartamento?”, pergunta Abrão. “Queria acertar as contas com ela,
meu!”, responde Lindemberg. “Você já falou pra ela? Porque vocês estão aí há mais de 30
horas, quer dizer, acho que tudo o que você tinha pra dizer pra ela acertar as contas colocar
a situação de vocês em pratos limpos já deu tempo de fazer não deu?”, retruca Abrão. “A
Nayara tá de testemunha que não deu tempo, porque a Eloá não coopera, meu! (...) Ela quase
fez a besteira de tomar o revólver da minha mão. (...) Ela tá começando a cooperar agora”,
diz Lindemberg. E para satisfazer o interesse do público e dela própria, Sônia Abrão pergunta:
“Olha, me fala uma coisa, o que você queria dizer pra Eloá você pode falar pra gente?”.
Lindemberg começa a responder e a apresentadora o interrompe e trata como se eles fossem
um casal. “Isso é uma coisa muito íntima de vocês, né? Você já falou pra ela o que você
queria falar, agora que você disse que ela tá cooperando, você já conseguiu desabafar com
ela, esclarecer tudo o final do relacionamento?”. A apresentadora fala que Eloá está
cooperando, afinal, o papel do refém é cooperar com o bandido? Lindemberg então demonstra
que a apresentadora interrompeu uma das conversas dele com Eloá: “Essa conversa eu já tive
com ela e antes da senhora me ligar aqui eu tava conversando com ela, eu tava desenrolando
tudo o que aconteceu com ela”.
Após a apresentadora perguntar sobre o que Lindemberg queria da ex-namorada ele afirma:
“Eu quero tranquilidade dela, pra que eu pego ela e da melhor maneira possível negocie com
quem for aí fora pra ela sair viva daqui, meu”. Sônia Abrão percebe na frase de Lindemberg
que seu público poderá “confundi-lo” com bandido e tenta reverter a situação persuadindo o
sequestrador induzindo a resposta que ela quer ouvir, de que ele é um bom rapaz e não está
disposto a matar Eloá. “Mas você fala assim „pra ela sair viva daqui‟ parece que você tá
disposto a matar a menina e isso não é verdade você não é esse tipo de pessoa, Lindemberg”.
“Muita parte da imprensa aí, mano, é um cinema, inventa muita coisa, falaram aí que eu bati
na Nayara, pode ligar na casa dela aí e falar com a mãe dela, com o pai dela lá que eu não
bati nela não”. Lindemberg dá uma ordem à produção do programa. “Não, mas a Nayara já
desmentiu isso aqui fora, viu? Ela disse que você realmente não bateu nela, não bateu em
ninguém, que ela foi bem tratada ai dentro, tá? Agora ela tá sedada, ela tá descansando por
causa do nervosismo todo. Quando você sair daí também você vai precisar, sabe? Ser
sedado, dormir muito até se recuperar dessa tensão toda, não é? Você tem comido? Tem
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dormido?”. A apresentadora exerce agora o papel de mãe do sequestrador. Isso é tão claro
que logo em seguida, após falar como tem comido e dormido o sequestrador faz um pedido:
“Ninguém dá notícia da minha mãe. Eu quero notícia da minha mãe”. E depois de dar seu
recado para a mãe, usa a entrevista para deixar claro que ele manda na situação: “Eu não vou
dar hora, não vou dar horário, não vou falar quando, na melhor hora, no melhor momento,
não vai ser por força, não vai ser por cobrança que eu vou liberar a Eloá”.
Lindemberg resolve colocar Eloá na linha para, segundo ele, “deixar claro que ela está bem”.
A garota é monossilábica. Fala pouco não por timidez, mas por está sob a mira de um
revólver. Como se não bastasse a menina é obrigada a ouvir a apresentadora falar como se a
culpa das atitudes do sequestrador fossem de Eloá: “O Lindemberg tá falando que você agora
tá cooperando, você tá mais tranquila”. Percebendo que a adolescente não tem tanto
potencial midiático quanto Lindemberg, porque é o rapaz quem tem o controle e o poder da
situação, Sônia Abrão prefere entrevistar Lindemberg à Eloá. Usa o sensacionalismo para dar
uma notícia de última hora que acaba de chegar pelo ponto para voltar a falar com o
sequestrador. “O Lindemberg tá ouvindo a gente?”, pergunta Abrão. “Tá, tá ouvindo”,
responde Eloá. “Então ele tá sabendo do recado da irmã dele então, tá?”, confirma a
apresentadora que ainda nem tocou no assunto. Eloá fica confusa com a informação diante da
falha da comunicadora e pergunta: “O que?”. A jornalista ignora a refém e devolve a palavra
e o espaço para o bandido:
“Olha, uma notícia que chega agora dizendo que a sua irmã, a Suzi, disse o seguinte,
Lindemberg: „se eu pudesse falar com ele, pediria pra que se entregasse logo porque
minha mãe está sofrendo muito e a gente‟, que é a Suzi e as suas outras irmãs, tão bem.
Segundo a Suzi, você e a ex-namorada Eloá se davam muito bem e ela diz: „não tenho o
que falar mal dele, ele não bebe, não fuma, a gente achava que eles iam voltar, eles se
gostam muito. E ela diz que você sonhava em se casar, mas queria antes montar a sua
própria casa. (...) Então você que ama tanto a sua mãe que já diz que ela foi a sua mãe e
seu pai ao mesmo tempo. Criou você, suas irmãs, faça isso por ela também ou
principalmente por ela, né?”
Lindemberg, novamente ao telefone, responde que só irá se render na hora que quiser e
explica sua estratégia para sair do prédio. A apresentadora repete a estratégia mais algumas
vezes para confirmar aos telespectadores que Lindemberg iria mesmo se render. Fala em um
tom mais eufórico como se tivesse conseguido atingir seu objetivo: fazer o bandido se render
com sua negociação inexperiente. A entrevista poderia terminar ali. Mas Abrão aproveita que
o sequestrador ainda não pensou em desligar o telefone e pergunta como os policiais estão
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fazendo para se comunicar com ele. “Até então eles não me ligaram, desde que você tá
falando comigo ninguém ligou pra mim”, responde Lindemberg. E Sônia Abrão fica sem
saber o que dizer naquele momento, pois percebe que está atrapalhando as negociações e lhe
resta apenas um comentário: “claro, claro, claro...”.
Depois disso a apresentadora desconversa e se oferece para sua equipe ser a pioneira a
intermediar um sequestro. “Você quer que o Guerra vá lá? (...) Você precisa de alguém aí
pra intermediar? A gente tem também a nossa repórter, a Cintia Lima. (...) Que se você
precisar você pode contar com eles, entendeu?”. Lindemberg não quer e diz que tem que
desligar o telefone. Mas atende ao pedido carinhoso da apresentadora: “Você não quer me
deixar falar só mais um pouquinho com a Eloá?”. Com a menina na linha, Abrão pede que
ela mande novamente uma mensagem para os pais e “até pra mãe e pras irmãs do
Lindemberg”. A menina fala exatamente o que Lindemberg manda, é possível ouvir a voz do
sequestrador ditar as frases. Eloá embarga a voz ao dizer “minha vida tá nas mãos dos
policiais” e no final faz como a jornalista pediu: fala da família de Lindemberg “eu quero
deixar meus pais tranquilos, a família dele (Lindemberg) tranquila, ele não é uma má pessoa,
vai dar tudo certo”.
A partir destes trechos da entrevista percebe-se que Sônia Abrão demonstra estar em conluio
com o sequestrador no exato momento do crime, ao manter contato com o sequestrador sem
autorização, atrapalhando o trabalho da polícia. Segundo o artigo 221 do capítulo V que trata
da Comunicação Social da Constituição Federal de 1988 “a produção e a programação das
emissoras de rádio e televisão” deverão atender a alguns princípios como o “respeito aos
valores éticos e sociais da pessoa e da família”.
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Além disso, por um aspecto jurídico, podemos destacar que o programa expôs a imagem das
vítimas ao público, bem como divulgou seus nomes, endereços ferindo o Estatuto da Criança
e do Adolescente (Lei 8.069/90), que diz: Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Sendo assim, de acordo com a ação movida pelo Ministério Público Federal, a Rede TV!
abusou da liberdade de comunicação e utilizou indevidamente sua concessão federal do
serviço de radiodifusão de sons e imagens gerando danos aos interesses da coletividade e
desrespeitou os valores éticos e sociais que deveriam permear sua programação. Está certo
que a Constituição garante a liberdade de imprensa, mas a liberdade de informação e de
comunicação social não pode ser considerada absoluta e não deve abranger a intervenção na
atividade policial sob pena de incidir em abuso. A liberdade da comunicação social deve estar
em compasso com outros direitos da Constituição, como o direito à privacidade, à imagem e
intimidade dos indivíduos.
Se a liberdade de comunicação foi feita pela e para a sociedade, deve ser protegida sempre
que cumprir sua função social. Mas em um caso como este em que uma emissora de TV usou
o bem público para negar valores fundamentais da Constituição, deverá ser submetida a um
controle maior para que não mais seja utilizada contra a sociedade. O programa A Tarde É
Sua tratou o drama pessoal dos entrevistados como entretenimento e atração principal,
transmitindo sem nenhum respeito pela dor humana. Ao assumir o papel de intermediadora
das negociações, Sônia Abrão interferiu na atividade policial em curso que já estava sendo
feita por pessoas capacitadas e especializadas que sabiam com quem estavam lidando
(Lindemberg tinha passagem pela polícia). Isso pode ter colocado em risco a vida de Eloá e o
trabalho do GATE. As entrevistas podem ser consideradas invasivas que desrespeitaram a
condição de vítima da adolescente Eloá e a conduta da emissora pode ser considerada
irregular enquanto prestadora de serviço público por agir de forma contrária às normas
constitucionais, legais e éticas.
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5 CONCLUSÃO
No capítulo I deste trabalho aprendemos que a ética nasce do desejo de os seres humanos
organizarem a sociedade e que a moral cuida do agir humano no intuito de colocar a ética em
prática. Assim, a conduta imoral ou antiética contraria normas e regras fixadas pelo dever. E
como verificamos que os jornalistas do programa A Tarde É Sua infringiram o código de
ética, podemos afirmar que se tornaram antiéticos.
Ainda no primeiro capítulo pudemos discutir a missão da imprensa e verificar que, de acordo
com o Cornu (1999), em assuntos dessa gravidade estão em jogo vidas humanas que
justificam uma cautela maior em publicar e/ou televisionar fatos do tipo, pois a função do
jornalista não pode ser confundida com o papel da polícia. Christofoletti (2008) completa que
o jornalista deve apenas acompanhar o trabalho dos policiais. Para Barbeiro (2002) não é da
alçada do jornalista cooperar, visto que os direitos dos acusados podem ser violados e o
jornalismo cair no sensacionalismo.
O capítulo II nos convida a repensar a televisão para que não caiamos mais nas garras do que
Wolton (1996) chama de conformismo crítico. Não podemos excluir da pauta assuntos de
interesse público. Não se pode transformar a realidade em produto rentável, já que a
informação deva ser compreendida como um bem social e não como uma mercadoria. O
jornalismo deve ter a missão do esclarecimento, o compromisso com a pluralidade de fontes e
com a defesa de determinados valores relacionados aos direitos humanos, ao debate público, à
liberdade e à democracia. Nesse sentido, a responsabilidade do jornalista ultrapassa a busca
pela exatidão e pela objetividade.
Tentar compreender uma motivação criminosa deve ser papel da imprensa? Autores de crimes
são protagonistas de fatos que interessam à sociedade e, portanto, podem ser ouvidos durante
a ação criminosa? Quais limites sustentam a cobertura de um fato? No caso de Santo André,
a imprensa foi uma agente ativa dos acontecimentos. Jornalistas como Luiz Guerra e Sônia
Abrão mentiram, usurparam funções especializadas pretendendo-se negociadores, violaram o
Estatuto da Criança e do Adolescente e interferiram indevidamente numa ação do Estado,
representado naquele momento pelas forças policiais. No entanto, não podemos afirmar que o
desfecho do caso se deu pela ação direta da cobertura televisiva durante o sequestro, mas é
fato que a grande exposição dada ao caso pode ter sido um fator que o prolongou ainda mais.
De acordo com Ramos e Paiva (2007) a presença dos repórteres em um caso como o de Santo
André pode ajudar quando, por exemplo, ladrões fazem reféns durante um assalto em um
banco e querem garantia de preservação da vida para se entregar. As câmeras testemunhariam
a rendição e inibiriam a prática de eventuais excessos contra os bandidos. Mas Lindemberg,
ao que parece, não queria se entregar, seu pensamento era matar Eloá e se matar em seguida.
Em um caso como o de Santo André, de cárcere privado, repórteres poderiam contribuir se o
sequestrador estivesse decidido a se entregar desde que a ação fosse acompanhada pelos
jornalistas, o que não foi o caso.
Lindemberg foi apresentado como coitado, trabalhador, bom rapaz e abandonado por um dos
pais. Os sentimentos dele eram instáveis. Eram muitas informações mexendo com a cabeça
dele. Afinal, Lindemberg podia acompanhar tudo pela TV, tudo o que estava acontecendo nas
imediações do condomínio, inclusive a posição dos policiais. Além disso, a cobertura
exagerada e constante foi um elemento perturbador para aqueles que deveriam tomar
decisões. Para a polícia, por exemplo, o medo da repercussão de um possível erro poderia
atrapalhar mais do que o medo de errar.
Desta forma, devemos refletir sobre o tipo de cobertura jornalística a TV tem nos oferecido. A
entrevista e o tratamento dado ao sequestro pelos jornalistas do programa A Tarde É Sua nos
remete a um modelo de jornalismo que nos leva a refletir sobre aspectos importantes ligados
ao exercício profissional e à conduta ética. Ao colocar no ar a entrevista feita com um
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sequestrador que ainda mantinha sob a mira de uma arma a sua vítima, esses jornalistas
contribuíram para tornar ainda mais complexa a cena do crime.
No capítulo III foi possível investigar com mais aprumo a atuação dos repórteres e suas
funções como jornalistas no programa. Podemos considerar a entrevista persuasiva que
abusou da falsa objetividade desrespeitando seres humanos e divulgando informações cada
vez mais mórbidas e espetaculares. Sônia Abrão tem falas maiores que as do próprio
entrevistado e, por vezes, acaba respondendo às próprias perguntas deixando-o sem ter o que
dizer. Também interrompe o entrevistado sem que ele tenha concluído o pensamento, induz o
sequestrador a dar a resposta que ela queria ouvir e faz afirmações no lugar de perguntas
esperando conseguir apoio do bandido à sua opinião.
Os programas televisivos e, aí, incluímos os noticiários, vão muito mal no quesito ética. A
pauta é ruim, pois exclui assuntos de interesse para a cidadania e para a democracia. A
cobertura é superficial e o que dizer da interpretação? Quando existe, geralmente alardeia a
revolta e a indignação do telespectador. Além disso, na análise do programa A Tarde É Sua
foi possível verificar que apesar de existirem características do discurso jornalístico noticioso,
o programa é predominantemente de entretenimento e utiliza-se de linguagem emotiva e
dramática, tornando-se sensacionalista, subjetivo e parcial.
Foi possível verificar ainda que a relação entre fonte e jornalista nas entrevistas analisadas no
programa A Tarde É Sua ultrapassou o limite dos códigos deontológicos do jornalismo.
Podemos perceber em vários momentos da segunda entrevista, que a jornalista Sônia Abrão
exerce o papel de psicóloga, negociadora, advogada, conselheira sentimental e até de mãe do
sequestrador. Além disso, na primeira entrevista, Luiz Guerra demonstra-se disposto a fazer
tudo o que o sequestrador pede no que se refere ao processo midiático.
O fato de o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF/SP) ter movido uma ação civil
pública contra a emissora Rede TV! pela exibição da entrevista justifica uma contribuição que
essa pesquisa pode trazer no sentido de proporcionar respostas aos problemas propostos. O
MPF/SP afirma que as entrevistas interferiram na atividade policial em curso, colocaram a
vida da adolescente e dos envolvidos na operação em risco e pede indenização por danos
morais coletivos de 1,5 milhão de reais.
Lembrando que a Rede TV! é reincidente. No final de 2005 foi obrigada, judicialmente, a
retirar do ar um programa que violava os Direitos Humanos e, durante um mês, colocar no
mesmo horário produções elaboradas por organizações sociais. Um fato inédito na história da
TV brasileira. Isso foi possível graças à articulação da sociedade e do Ministério Público
confirmando Traquina (2001) para quem o dever de vigiar o quarto poder é dos cidadãos.
Contudo, qualquer tentativa de controle dos abusos cometidos pela mídia acaba sendo tratado
como censura. A imprensa tem dificuldade de fazer auto-crítica. E o único limite aceitável é
dado apenas pelos índices de audiência, como se não fossem mera aprovação do mercado, de
acordo com Bourdieu (1997).
Portanto, torna-se necessária a reflexão acerca da postura dos veículos de comunicação e dos
jornalistas sobre os limites que a ética atribui sobre o que o fazer jornalístico necessita para
tornar-se válido. O modo de fazer jornalismo sensacionalista e espetacular deve ser revisto de
acordo com os critérios de jornalismo de qualidade e éticos vistos nesse trabalho. A cobertura
jornalística precisa abrir espaço para as oposições. O trabalho do jornalista deve ampliar a
cobertura de modo a favorecer análises, visto que o compromisso do jornalista deve ser o de
levar a informação ao público, aos cidadãos, que irão criar a sua própria opinião. Somente
pensando no outro é que iremos assumir esse importante papel social.
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REFERÊNCIAS
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BUCCI, Eugenio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e Poder, uma análise da mídia. São Paulo: Editora Fundação
Perseu Abramo, 2006.
COSTA, Caio Tulio. Jornalismo, ética e nova mídia – uma moral provisória. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2009.
FOLHA DE S. PAULO. Manual da redação. 11ª ed. São Paulo: Publifolha, 2006.
FONSECA JUNIOR, Wilson Corrêa. Análise de Conteúdo. In: DUARTE, Jorge; BARROS,
Antônio (orgs). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2ª ed. São Paulo: Atlas,
2006.
FRANÇA, Vera Regina Veiga. A TV, a janela e a rua. In: FRANÇA, Vera Veiga (org.).
Narrativas televisivas: programas populares na TV. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. (vol. 2)
FRANÇA, Vera Regina Veiga. O povo na TV, o povo para além da TV. In: FRANÇA, Vera
Veiga (org.). Narrativas televisivas: programas populares na TV. Belo Horizonte: Autêntica,
2006. (vol. 2)
ROSEN, Jay. Para além da objetividade. In: TRAQUINA, Nelson (org). Jornalismo 2000, o
estudo das notícias no fim do século XX. Revista de comunicação e linguagem. Lisboa:
Relógio D´água editores, 2000.
SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. p. 11-
32, p. 103-152.
TRAQUINA, Nelson. Quem vigia o Quarto Poder? IN: TRAQUINA, Nelson. (org.) O Estudo
do Jornalismo no Século XX. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2001.
TRAQUINA, Nelson. As notícias. IN: Nelson Traquina (org). Jornalismo: questões, teorias e
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WOLTON, Dominique. Elogio do grande público - uma teoria crítica da televisão. São Paulo:
Ática, 1996. p. 11-24, p. 43-80, p. 122-152.
Anexo I
Na tentativa de manter o emprego ou até mesmo ganhar status, o jornalista acaba contrariando
algumas regras morais e éticas de sua profissão. O capítulo V da Constituição Federal de 1988
trata da Comunicação Social. O artigo 221 relata que “a produção e a programação das
emissoras de rádio e televisão” deverão atender a alguns princípios como:
Para discutir a conduta dos jornalistas do programa A Tarde É Sua na cobertura do Caso Eloá
faz-se necessário o conhecimento do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que está em
vigor desde 1987. Desta forma, separamos apenas os itens desse Código aplicáveis ao Caso
Eloá a serem comentados.
Artigo 1º - O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental
do cidadão à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser informado e de ter
acesso à informação.
Artigo 8º - O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu
trabalho não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a responsabilidade pela alteração
será de seu autor.
Existe ainda um Código Deontológico dos Jornalistas aprovado em 04 de Maio de 1993 pelos
portugueses:
1
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
I - DOS FATOS
2
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
Inicialmente foi exibida entrevista gravada pelo telefone, feita pelo repórter
Luis Guerra, do programa “A Tarde é Sua”, com Lindemberg e Eloá. Confira-se trechos
da entrevista:
“Luís Guerra: Não, mas fica tranqüilo... Eu sei que é difícil, mas
procura se acalmar. A Eloá tá com você? Tá tranqüila? ?como
é que você tá?
Lindemberg: Tá bem. Peraí, que ela vai falar.
Luís Guerra: Põe ela pra falar com a gente, por favor.
Eloá: Alô?
Luís Guerra. Oi Eloá. É o Luís Guerra da Sônia Abrão, tudo
bem?
3
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
(....)
Luis Guerra: Oi, querido
Lindemberg: Vou falar para você uns bagulho. Deixa eu falar
uns negócio procê.
Luis Guerra: Pode falar.
Lindemberg: Oh, Luis guerra, como você conseguiu o telefone
daqui?
Luis Guerra: Filho, depois a gente conversa isso. O importante
é que a gente quer passar tranqüilidade pra você.
Lindemberg: Tô perguntanto. Você vai me reponder, porque
eu tô perguntando primeiro. Por favor, “tiu”,não me deixe
nervoso não.
Luis Guerra: Não, não. Não fique nervoso. A gente conseguiu o
telefone através da nossa produção.
Lindemberg: Então fala com quem você conseguiu. Só quero
saber, endente?
Luis Guerra: A gente conseguiu com alguns parentes seus
mesmo, tá? Tranqüilo, “velho”? Lindemberg?
Lindemberg: Se você é repórter mesmo, eu queria saber se
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Sonia Abrão: Oi, é a Sonia Abrão. Hoje você conversou com o Luiz
Guerra, com o nosso repórter, nós estamos ao vivo. Esse tempo
todo você está vendo, o Lindemberg está conversando com a gente
e a gente queria que você falasse novamente para o Brasil inteiro,
para as pessoas entenderem que você está bem, não é? Na medida
do possível. O Lindemberg está falando que agora você está
cooperando, tá mais tranqüila, que você comeu. Você já almoçou,
não é?
Eloá: eu já almocei, já.
Sonia Abrão: Você está se sentido melhor? Sua voz está mais forte.
Eloá: aham.
Sonia Abrão: E como é que ele tá? Ele falou que vocês já
conversaram a respeito do namoro de vocês, que acabou.
Eloá: (murmura algo ininteligível)
Sonia Abrão: Oi? Não entendi. Caiu de novo a ligação ...
(....)
Sonia Abrão: Sei, me fala uma coisa. Ele deixou muito claro que não
tem intenção de fazer mal nenhum, nem a ele mesmo, né? Agora
você esta preparada pra descer com calma, ele vai entregar,
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IV - DO DIREITO
1 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ação Civil Pública e Programação da TV. In: MILARÉ, Edis. Ação Civil Pública: lei
7.347/85: reminiscências e reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: RT, 1995. p. 280-282.
2 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Controle Jurisdicional do Conteúdo da Programação Televisiva”. in Boletim dos
Procuradores da República, nº 40, Agosto/2001.
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3MANCUSO, Rodolfo de Camargo. “Controle Jurisdicional do Conteúdo da Programação Televisiva” in Boletim dos
Procuradores da República, nº 40, Agosto/2001.
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A indenização pelo dano moral sofrido tem previsão, ainda, nos incisos V
e X da Constituição Federal. Vejamos:
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4 BITTAR FILHO, Carlos Alberto. “Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico brasileiro” in Direito do
Consumidor, vol. 12- Ed. RT.
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VI - DO PEDIDO
5 BITTAR, Carlos Alberto. “Reparação Civil por Danos Morais” in RT, 1993, p. 220-222.
6 “Monopólio em números: Donos da opinião no Brasil”, In: <http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=414>
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Anexo III
Documento de pesquisa
________________________________________
De: Jefferson Aparecido Dias [jadias@prsp.mpf.gov.br]
Enviado: sexta-feira, 9 de abril de 2010 18:42
Para: Keila Brenda da Cunha
Assunto: Re: MONOGRAFIA SOBRE CASO ELOÁ
Keila
Boa noite.
Um grande abraço
Jefferson
Estou de volta para ver se você pode me ajudar dessa vez. Minha monografia está quase
pronta e preciso muito de sua ajuda. Preciso saber se há possibilidade de vc me dizer como
está a ação. O senhor já pode me dizer algo ou ainda está em segredo de justiça? Gostaria
muito de saber se a Rde Tv irá pagar ao MP a quantia exigida, se a emissora será punida
de alguma outra forma, se a partir deste caso poderá haverá alguma lei que proiba esse tipo de
conduta dos jornalistas da imprensa marrom. Pode me dizer pelo menos a sua opinião para
enriquecer o meu trabalho? Por favor, preciso muito de sua ajuda.
-----Mensagem original-----
De: Jefferson Aparecido Dias
[mailto:jadias@prsp.mpf.gov.br<mailto:jadias@prsp.mpf.gov.br>]
Enviada em: quinta-feira, 10 de setembro de 2009 17:41
Para: Keila Brenda da Cunha
Assunto: Re: MONOGRAFIA SOBRE CASO ELOÁ
Sitno muito.
Um abraço
Jefferson
Boa tarde!
Sou estudante de Jornalismo e estou analisando para o projeto de monografia qual a conduta
dos jornalistas do programa "A Tarde é Sua", da Rede TV! frente aos preceitos da ética
jornalística, no caso do seqüestro de Santo André/SP em 2008. Para isso, preciso muito dos
programas completos em que a Sônia Abrão e seu repórter Luis Guerra entrevistaram o
seqüestrador e a vítima. Tenho apenas trechos que encontrei no site Youtube. Li a ação
movida contra a Rede TV feita pela Sra. Adriana Fernandes e percebi que os senhores devem
ter esse material. Será que seria muito se eu pedir que me fornecessem uma cópia? A Rede
TV se recusa a me fornecer. Também gostaria de saber à quantas anda essa ação. O caso já
está sendo resolvido? A Rede TV irá pagar o valor da ação?
Гораздо больше, чем просто документы.
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