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*Fonte: Jornal do Conselho Federal de Medicina. Brasília, ano XVI, n. 126, p. 18-19, fev. 2001.
Muitos artigos relatam inferência para a popu- outros tipos de evidência. Contudo, a maioria dos
lação, com base em dados de amostras. A teoria erros de interpretação de análises estatísticas pa-
exige que a amostra seja casual. Como na prática rece estar ligada aos testes de hipóteses. É comum
isso raramente acontece, é crucial que a amostra a interpretação errada de “significante” e “não-sig-
seja representativa da população. Para saber se a nificante”. Como em geral se acredita que a finali-
amostra pode ser considerada representativa da dade da pesquisa é chegar a um resultado signifi-
população, é preciso comparar as características cante, o resultado não-significante implicaria a
dos indivíduos amostrados com as características idéia de pesquisa malsucedida. Aliás, muitas vezes
da população. Então, todo artigo deve descrever as se descrevem os estudos como “positivos” e “nega-
características dos indivíduos da amostra. Não tivos”, nomenclatura inadequada que felizmente
tem sentido, por exemplo, fazer inferência para está sendo banida da literatura.
toda a população com base em uma amostra de
O p-valor não é, como comumente se escreve, a
alto risco.
probabilidade de que o efeito observado tenha
Tem surgido, mais recentemente, muita discus- ocorrido por acaso, mas sim a probabilidade de ob-
são em torno do tamanho das amostras. Isto por- ter o efeito observado (ou um valor menos provável)
que muitas pesquisas que não detectaram dife- quando a hipótese é verdadeira. Outra interpreta-
rença estatística entre tratamentos tinham, na ção falsa é a de que um p-valor de, digamos, 0,001
verdade, pouca chance de fazê-lo devido ao peque- significa efeito maior do que um p-valor de, diga-
no tamanho das amostras. É preciso muita aten- mos, 0,01. Embora isto possa ser verdade, os p-va-
ção neste ponto. Ainda, são poucos os trabalhos lores não demonstram isto.
que relatam como foi estabelecido o tamanho da
Finalmente, ajuda muito, ao ler um trabalho,
amostra. Aliás, a idéia de calcular o tamanho da
ter uma lista de pontos específicos que precisam
amostra é pouco conhecida na pesquisa médica e,
ser observados. É impossível produzir uma lista de
por causa disso, muitos trabalhos são feitos com
questões que possa ser usada sempre, e para qual-
amostras muito pequenas.
quer tipo de pesquisa. No entanto, usar uma lista
Por outro lado, não se pode esquecer que embo- para a verificação torna o trabalho mais fácil, prin-
ra vários artigos admitam que os estudos são re- cipalmente quando se tem em conta que é mais
trospectivos, muitos informam incorretamente difícil detectar uma omissão do que um erro. Já
que os estudos foram planejados, porque parece existem várias dessas listas, disponíveis na litera-
melhor dizer que a idéia surgiu antes dos dados. tura3. Mas não basta seguir a lista: é preciso julgar
São sintomas de estudos mal delineados a varia- com profundidade e senso crítico.
ção dos tratamentos e dos métodos de avaliação
De qualquer forma, o leitor de artigos científicos
utilizados, o número diferente de observações por
deve se preocupar, primeiro, com os erros de deli-
voluntário, a falta de observações e certa indeter-
neamento. Se o delineamento do estudo é inaceitá-
minação geral sobre o que foi feito, e porquê.
vel, o trabalho é inaceitável. Se o delineamento es-
Os erros de análise são, infelizmente, muito co- tá correto, o leitor deve verificar se os dados foram
muns, embora os métodos estatísticos de delinea- coletados com metodologia adequada e se a análi-
mento e análise sejam parte essencial da pesquisa se está certa. Se isso acontecer, o leitor deve verifi-
médica. Como a aplicação de técnicas estatísticas car se a interpretação dos dados e da análise é jus-
exige habilidades que não são menores do que as ta. Feito isto, só resta saber se as conclusões são
exigidas em outras partes da pesquisa, é necessá- aceitáveis. A prescrição parece simples, mas só
rio ler a estatística de trabalhos publicados com quem já tentou segui-la sabe o trabalho que dá.
certa prudência, principalmente quando não refe-
renciam um consultor especializado. Também não
Sonia Vieira e William Saad Hossne
se pode esquecer que a análise estatística comple-
xa pode dar ao artigo um ar espúrio de respeitabili-
dade, mas por si só não demonstra nada. Boas res-
postas são dadas para boas questões – e não por 1. FISHER, R. A. Has Mendel’s work been rediscovered?
análises esotéricas2. Annals of Science, (1) 1936. p. 115-137.
2. SCHOOLMAN, H. M. et al. Statistics in medical research:
Na interpretação dos resultados, é freqüente o principles versus practice. J Lab Clin Med, v. 71,
erro de igualar associação e causa. Uma associa- p. 357-367, 1968.
ção não implica, necessariamente, numa relação 3. VIEIRA, S.; HOSSNE, W. S. Metodologia científica para a
de causa e efeito. Não se pode inferir causa sem área de saúde. Rio de Janeiro : Campus, 2001.