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4°) Fascismo e cultura nacional: lendo Gramsci nos tempos da Hindutva (Aijaz
Ahmad);
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robusta cadeia de fortalezas e casamatas; a proporção variava de Estado para Estado,
decerto, mas precisamente isso exigia um rigoroso reconhecimento de caráter nacional".
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- se somos uma sociedade "ocidental" não podemos imaginar formas de
transição ao socialismo centrada na "guerra de movimento", no choque frontal com os
aparelhos coercitivos do Estado, em rupturas revolucionárias rápidas e violentas.
- ascensão de uma "esquerda moderna":
- objetivo das forças populares é a conquista da hegemonia via "guerra
de posições";
- consolidar a democracia pluralista para aprofundar a democracia de
massas para chegar ao socialismo democrático.
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ANDERSON, Perry. As antinomias de Gramsci. In Crítica Marxista. São Paulo:
Joruês, 1986.
12)
TIPO DE SOCIEDADE ORIENTAL OCIDENTAL
Sociedade Civil Primitiva/gelatinosa Desenvolvida/sólida
Estado Preponderante Equilibrado
Estratégia Movimento Posição
Ritmo Rápido Prolongado
13)
Revolução permanente Hegemonia Civil
Guerra de movimento Guerra de posição
Razão pela qual o termo caiu em desuso após a Revolução de outubro: "Forjado para
teorizar o papel da classe operária em uma revolução burguesa , ele tornou-se
inoperante com o advento de uma revolução socialista". .
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- determina unicidade dos fins económicos e políticos, intelectual e moral;
- plano universal, e não coorporativo.
23) Oposição entre sociedade política e sociedade civil, como duas modalidades de poder
de classe:
HEGEMONIA DOMINAÇÃO
CONSENTIMENTO COERÇÃO
26)
ORIENTE OCIDENTE
Estado > Sociedade Civil Sociedade Civil > Estado
Coerção Consentimento
Dominação Hegemonia
Movimento Posição
*** A preponderância da sociedade civil sobre o Estado no Ocidente pode ser colocada
como equivalente à predominância da "hegemonia" sobre a coerção, como a modalidade
fundamental de poder burguês nos países capitalistas avançados.
Nesse caso, hegemonia significa para Gramsci subordinação ideológica da classe
trabalhadora à burguesia, o que permite a esta exercer a sua dominação pelo
consentimento.
Mérito de Gramsci: foi o primeiro a ponderar com precisão sobre a diferença entre a
democracia parlamentar no Ocidente e sua ausência no Oriente.
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"É à rede estratégica da sociedade civil que se atribui a manutenção da
hegemonia capitalista em uma democracia política onde as instituições estatais não
excluem ou reprimem diretamente as massas. O sistema é mantido pelo consenso e não
pela coerção. Assim, as tarefas principais dos militantes socialistas não é a de combater
um Estado armado, mas converter ideologicamente a classe operária para liberta-la das
mistificações capitalistas".
OBS: esse foi o argumento do PCB.
40) Princípio do reformismo: ideia de que o poder do capital toma forma de uma
hegemonia cultural no Ocidente: estratégia do "caminho parlamentar para o socialismo"
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58) Significado da proposta de frente única: significava a necessidade de um trabalho
político-ideológico profundo e sério entre as massas, um trabalho não corrompido pelo
sectarismo, antes que a tomada do poder estivesse na ordem do dia.
65) *** A guerra de posição foi concebida como uma resposta à guerra de movimento de
Thalheimer e Lukács.
71) Conclusões:
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guerra de posição tendia a implicar que o trabalho revolucionário de um partido
marxista era essencialmente o da conversão ideológica da classe operária - daí a sua
identificação com a frente única, cujo objetivo era ganhar a maioria do proletariado
ocidental para a terceira Internacional. Nos dois casos, o papel da coerção - repressão da
parte do Estado burguês e da insurreição da parte da classe operária - tendem a
desaparecer. A fraqueza da estratégia de Gramsci é simétrica a de sua sociologia.
124) Nas últimas décadas Gramsci foi o pensador marxista mais influente no país.
Influência maior do que a do marxismo leninismo.
Influência na cultura política do PT.
125) I Ciclo de influência : início da década de 1960 até metade da década de 1970.
– ambígua e insustentável coexistência entre marxismo ocidental na cultura e
marxismo-leninismo na política (126);
– Escassa repercussão do 1º ciclo (128);
136) Categorias:
Revolução passiva: modernização conservadora.
Ao contrário do que prega a tradição marxista leninista não tivemos uma
revolução democrática burguesa, tudo foi solucionado pelo alto.
Estado ampliado: formação social de tipo ocidental.
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Via prussiana (Lênin): infra-estrutura.
Revolução passiva (Gramsci): superestrutura.
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“No Oriente, o Estado era tudo, a sociedade civil era primitiva e gelatinosa; no
Ocidente, entre Estado e sociedade civil havia uma justa relação e, quando sedava um
abalo do Estado,percebia-se imediatamente uma robusta estrutura da sociedade civil. O
Estado era apenas uma trincheira avançada, por trás da qual havia uma robusta cadeiade
fortalezas e casamatas; a proporção variava de Estado para Estado, decerto, mas
precisamente isso exigia um rigoroso reconhecimento de caráter nacional”.
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– sobre a adequação da categoria de “Revolução passiva” para interpretação da
realidade brasileira:
– todas as transformações que o Brasil passou até o capitalismo foram feitas por
acordos da elite, sem a participação das classes populares. Exemplo: ditadura de Vargas
de 1937 após a fracassada Intentona Comunista de 1935;
– característica de fortalecimento do Estado em detrimento da sociedade civil,
ou, mais concretamente, o predomínio das formas ditatoriais de supremacia em
detrimento das formas hegemônicas;
– prática do transformismo como modalidade de desenvolvimento histórico que
implica a exclusão das massas populares;
– diferença do Estado autoritário brasileiro para o alemão e italiano:
p. 195) “Como se pode explicar o aparente paradoxo de que uma sociedade civil cresça
e amplia sua autonomia sob regime ditatorial? Antes de tudo, devemos recordar que o
regime militar brasileiro, apesar da intensa utilização da coerção e inclusive do
terrorismo de Estado, sobretudo entre os anos 1969-76, jamais foi uma ditadura fascista
clássica, ou seja, não foi um regime reacionário com base de massas organizadas.
Apoiando-se na capa militar tecnocrática, esse regime não foi capaz de criar organismos
capazes de conquistar uma hegemonia real na sociedade civil, nem de fazer funcionar os
aparatos desta como “correias de transmissão” de um Estado totalitário, como ocorreu
na Itália e na Alemanha.”
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Esquema do texto “Fascismo e cultura nacional: lendo Gramsci nos
tempos da Hindutva”, de Aijaz Ahmad.
p. 255) “Nem um único de seus escritos de 1918 e 1936 faz qualquer sentido se não
lembramos que todo seu projeto tinha o único propósito de reconstituir um leninismo
que seria apropriado às condições de uma sociedade atrasada, em grande parte
camponesa, indiferentemente industrializada – em face do fascismo. Até mesmo quando
negociamos nosso caminho pelos conceitos gramscianos familiares de “hegemonia”,
“guerra de posição”, “nacional-popular”, “revolução passiva”, etc., é melhor recordar
que Gramsci escreveu sobre essas questões com uma consciência aguda do isolamento e
da derrota daclasse operária de Turim e da subseqüente vitória fascista”.
Os termos “hegemonia” e “guerra de posição” vem da experiência russa.
“Gramsci credita a si mesmo apenas a tentativa de elaborar essa teoria em condições
italianas específicas”.
*** “Os três termos – hegemonia, nacional-popular, guerra de posição –
designam no pensamento de Gramsci três aspectos de uma única problemática, a saber,
a relação entre consentimento e dominação”.
“Nenhuma política pode efetivamente liderar, a menos que tenha já se tornado o
senso comum do povo sob a forma de uma consciência nacional-popular, a fim de que
uma tomada final do poder possa ser preparada, no sentido leninista, por meio de uma
guerra de posição”.
p. 281) “Todas as forças que lutam pela hegemonia, em quaisquer condições, têm de
passar pelas fases de guerras de posição e de movimento; uma vez que os aparelhos de
Estado tenham sido assegurados, uma burguesia confiante também trava uma guerra de
posição a fim de impor as mudanças estruturais necessárias, com ou sem democracia
representativa”.
p. 262) “Uma reconfiguração radical da “nação”por uma força urbana dinâmica que
estabelece sua liderança sobre o campo, incorporando o interesse camponês em seu
próprio projeto por meio de um programa de transformação agrária radical”.
p. 267) Citação de Gramsci: “na Itália, o termo “nacional” tem um sentido
ideologicamente muito restrito e não coincide, de modo algum, com “popular” porque
na Itália os intelectuais estão distantes do povo, isto é, da nação. Estão vinculados, ao
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contrário, a uma tradição de casta que nunca foi rompida por um movimento político
nacional ou popular forte vindo de baixo. Essa tradição é abstrata e “livresca” (SCW, p.
208).
p. 271) Vontade coletiva nacional-popular:
“A formação do que ele chama de “vontade coletiva nacional-popular”, Gramsci
a associa com a revolução social que incorporou o interesse camponês como o ponto
focal de interesse nacional, em oposição às “altas” tradições da religião e do império”.
p. 287) “No 18 de Brumário, Marx observa que as revoluções do século XIX vão
adiante criticando-se constantemente. Foi na análise e na crítica rigorosas das
revoluções precedentes que finalmente se chegou à dinâmica das revoluções marxistas-
leninistas do século XX. Uma crítica das revoluções do século XX também terá de ser
uma parte integral das lutas contra os muitos fascismos que se desenvolvem em torno de
nós, para que as revoluções do século XXI possam ser superiores às revoluções do
século que acabou, assim como as revoluções do século XX foram muito superiores às
revoluções dos séculos XVIII e XIX”.
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Esquema da palestra de Paulo Arantes “Hegemonia global e senso
histórico de oposição”, transcrita por Pedro Benevides:
Ponto de partida: sentimento ou impressão de que vivemos numa era sem oposição.
Oposição num sentido anti-sistêmico.
Impressão de servidão voluntária / regressão social / irracionalidade coletiva.
1ª vez em que a expressão “viver numa sociedade sem oposição” foi usada: 1964,
Herbert Marcuse, no prefácio ao livro “O homem unidimensional”, em referência a
sociedade industrial americana.
Diferença para hoje: percepção clara de que o capitalismo entregue a si mesmo
está tornando impossível a vida civilizada sobre o planeta.
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necessário que a sua alegação de que domina em nome de algo que poderíamos chamar
vagamente de interesses gerais não seja inteiramente fraudulenta - porque em parte ela
é, senão não haveria dominação, haveria democracia. Dominação social implica,
portanto, em consentimento baseado num trabalho de educação, esclarecimento e
liderança baseada na autoridade moral e intelectual do projeto de uma classe social que
passa a ditar os parâmetros daquilo que nós poderíamos chamar de senso comum de
uma determinada época histórica - como foi com a República francesa, com hegemonia
jacobina cuja alegação de ser uma classe “universal”, entre aspas, era correta.
Portanto, numa situação de hegemonia, de unificação de interesses
contrapostos numa sociedade necessariamente antagônica, existe uma liderança natural
que está baseada não numa fraude ideológica. Está baseada também numa espécie de
auto-engano quanto à universalidade dos interesses e das razões que os exprimem. É
necessário que essa dominação se apresente como algo universal e que efetivamente ela
o seja num determinado momento, como foi o jacobinismo enquanto representante da
República francesa recém-nascida, portanto capaz de mobilizar todas as classes da
sociedade, inclusive na guerra externa contra as potência das monarquias do Antigo
Regime. É necessário que entre dominados e dominantes exista uma linguagem
comum, que exista pelo menos como horizonte a idéia de um contrato social do qual
todos sejam partes atuantes, que exista uma comunidade de significados nas palavras
que são empregadas por um grupo e outro. Direito é direito, num certo sentido.”
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Hegemonia imperfeita, segundo Chico de Oliveira: estamos para além da hegemonia e
aquém da democracia.
– pela primeira vez na história do Brasil e do mundo a idéia de hegemonia de
uma classe dominante está começando a fazer água, porque pela primeira vez a
burguesia renunciou à universalidade dos seus valores;
– “Lá em cima, crise da hegemonia global, e aqui, a burguesia renuncia a
universalidade de seus valores”;
– “Pela 1ª vez a idéia de missão civilizatória do ocidente em relação à periferia
mundial acabou”. Não compartilhamos mais da mesma cultura e dos mesmos valores;
– que hegemonia é essa que exclui ao invés de incluir? Hegemonia que ele
chamou de crise da hegemonia americana – uma retomada fraudulenta da hegemonia
americana”.
– totalitarismo, enquanto lógica totalitária do nexo mercantil:
“Você é apanhado pelo nexo mercantil em todos os momentos e é
desqualificado em função deste parâmetro. Portanto, a sua irrelevância social é uma
irrelevância mercantil. Você não serve para nada, isto é, não tem valor de mercado.
Portanto, não tem nem valor de uso, você é descartável em termos sociais. A faca que
vai nos cortar o pescoço está sendo amolada e não é privilégio nacional, não é
idiossincrasia, não é que nós estejamos na vanguarda dessa corrida em direção ao
fascismo.”
– Que hegemonia é essa? Ela parece ser total, mas não é. “ Ela é uma falsa
hegemonia e ao mesmo tempo não é uma ditadura no sentido claro do termo - porque essa sim é
a dimensão mais propícia para se explicitar e gerar um senso histórico novo de oposição, como
foi o caso de 20 anos do Brasil”;
– na fase atual há uma renúncia ao cimento ideológico da hegemonia, que é a
sustentação da alegação de que a classe dominante representa não só os seus interesses, mas
atende aos interesses de todas as classes subalternas que se tornam no momento aliadas e
formam um bloco histórico.
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que o termo grego hegemon é o Estado hegemônico num sistema de cooperação e ao mesmo
tempo de rivalidade e de competição até a guerra entre Estados relativamente soberanos entre
si. A primeira guerra de hegemonia foi a guerra do Peloponeso.
– tese da crise da hegemonia estadunidense.
Hegemonia britânica:
“Nosso quase Estado é fruto da hegemonia britânica. Isso é coisa de manual
de escola primária? Sim e não. Porque o Estado hegemônico deve legitimar o poder dos
governantes em relação aos seus próprios governados, sem o quê, ele não é
hegemônico. E é por isso que, sob a hegemonia britânica, nós tivemos um sistema de
economias nacionais que concorriam no mercado, um sistema de quase Estados
nacionais que competiam entre si articulados, por assim dizer, pelo coração londrino,
que atendia aos interesses de todas as classes proprietárias, portanto dos antigos
colonos do velho sistema colonial. Não é à toa. Portanto, atendia aos interesses do
escravismo brasileiro e legitimava o seu mando, tanto do ponto de vista nacional quanto
do internacional. Facultava o reconhecimento internacional e assim por diante. Ora,
esta hegemonia britânica (Eles a chamam de livre comércio, porque a Inglaterra sempre
manteve o livre comércio. Podia entrar tudo, porque ela comandava toda a rede. Ela
sugava tudo. E não tinha protecionismo.), entre outras coisas, pôde, no coração do
sistema, acomodar os interesses das novas classes sociais - no caso a força de trabalho -
alargando seus direitos, inclusive o direito político de voto, o sufrágio universal. Isto é,
há hegemonia não só legitimando o poder dos governantes, mas na medida em que
também atende os interesses daqueles que empurram lá embaixo. Portanto, inventa-se o
sufrágio universal. Foi imposto de baixo, mas foi reconhecido lá em cima. Você alarga
isso. Em plena hegemonia britânica, a nova maneira de organização do capital alemã,
concorrendo com a americana e com os ingleses e que depois vai desembocar na
Primeira Guerra Mundial, permite que o Bismarck forme o primeiro Estado social.
Hegemonia é isso.”
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auto-regulado, do padrão-ouro, do comércio internacional desregulado - como era antes
e que os ingleses não souberam amarrar - os levou à destruição e praticamente à vitória
da Revolução. Em 1944, mesmo nos Estados Unidos, ninguém, nem economistas como
o Schumpeter, tinha dúvidas de que o comunismo havia vencido, de que o capitalismo
estava com os seus dias contados. Só não sabiam como e quando exatamente - mês e
ano - seria, mas eram favas contadas. Sobretudo porque o capitalismo havia
desencadeado essas forças reacionárias - no sentido exato, é uma reação da natureza -
como o nazismo. Ele levou à barbárie. E, por isso, ou nós mudamos radicalmente ou o
socialismo tem razão e é questão de tempo eles ganharem. Diante dessa hecatombe,
desse apocalipse, provocado não pelos carrascos nazistas, mas pela sandice, pela
demência do padrão-ouro, do mercado auto-regulado, do Estado que não interfere na
economia e assim por diante. Tudo a que a hegemonia britânica levou.
Os americanos reordenaram - no sentido dos regulacionistas, digamos,
fordistas - a economia nesse sentido que está aí - de fato, nós podemos chamar
imperialismo do consumo de massa, isto é, por cima das fronteiras econômicas é
crucial, inclusive para se conter a União Soviética, que as massas cheguem ao consumo
tal como nós o encontramos na regulação dos regulacionistas fordistas dos Estados
Unidos. Isto é, automóvel, geladeira, televisão, salários dignos, linhas de montagem
para todos.
A Europa está destruída pela guerra. O que eles fazem? Vejam só o que é
uma potência hegemônica. E aí começamos a notar o que é a crise contemporânea. Ao
invés de fazerem o que fizeram com a Rússia agora (Destruíram-na como numa guerra.
A Guerra Fria finalmente aconteceu. Ela foi, em sete anos, destruída. Por isso nós não
somos a Rússia? É claro que não somos a Rússia. Ela foi simplesmente demolida.
Acabou. É um arsenal de dinamite.), que era o que uma contra-elite americana queria
fazer, eles disseram: “Não, não. Nós vamos reconstruir a Europa, o mercado europeu,
inclusive negociar com a força de trabalho um welfare state, um pacto entre capital e
trabalho. Nesses termos nós os financiaremos. É o Plano Marshall. A Europa será
reconstruída nesses termos.” Inclusive porque, claro, havia a ameaça soviética. Sem ela,
possivelmente essa clarividência da elite do poder americano não aconteceria. Eles
iriam barbarizar do mesmo jeito - é da natureza do capital.
Isso é hegemonia. Ao mesmo tempo em que eles cresciam adoidadamente, toda a
economia mundial crescia junto com eles - Europa, reconstruída; Japão, reconstruído e num
certo momento começando a rivalizar com eles; e a periferia, industrializada de uma maneira
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diferente, subalterna, é claro. Tanto é que o Getúlio queria um Plano Marshall para a América
Latina e para o Brasil. Tanto é que a virada que ele deu para os americanos foi em função disso.
E eles disseram: “Não, não. Plano Marshall é para os europeus. Lá dá para recomeçar de zero.
Eles vão longe, serão nossos partners. Nós precisamos do mercado deles, como eles precisam
da gente. Vocês, ao invés do Plano Marshall, vão ter Volkswagen, Ford, Chrysler, General
Motors e assim por diante. As multinacionais serão o Plano Marshall de vocês.” Não deu outra.
Eles vieram para cá, enquanto nós esbravejávamos “Yankees, go home!”. Eles vieram
justamente transformar isso aqui numa economia industrial, só que capenga, subalterna,
periférica, baseada no endividamento do Estado, no impulso das multinacionais e na esmola
que era distribuída, subsidiando o atraso que era a empresa nacional. De modo que o modelo
nacional-desenvolvimentista nunca teve absolutamente nada a ver com a esquerda. Sem
nenhum ganho, a esquerda enfiou o ônus, a carapuça de uma coisa que ela não fez. O Estado
desenvolvimentista brasileiro é uma criação da classe dominante brasileira para subsidiar os
setores atrasados da sua própria economia que se encostavam no Estado, que por sua vez se
valia do apoio das multinacionais. Foi esse o tripé, que não tem absolutamente nada a ver com a
esquerda. É um erro histórico a esquerda dizer que está defendendo este patrimônio. Que
patrimônio? Ela simplesmente capitalizou essa corja”.
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agora o milagre da moeda estável, que durou quatro anos. Forte como o dólar, mercado
emergente. Acabou. Não tem mais. Ano que vem vai começar outra coisa e aí vamos ver para
que lado nós iremos. Nos anos 70, portanto, todo mundo dizia “perderam a guerra do Vietnam,
perderam, em 78, o Irã, uma peça fundamental na Guerra Fria”. Os Estados Unidos
desmoralizados em todos os campos. Inflação. Luta de classes adoidado na Europa. O dólar não
substitui mais o padrão-ouro e inclusive é desvalorizado. Essa é a crise dos anos 70. Não vou
entrar no que houve de ideologia nesse momento”.
Ler Gramsci nesta perspectiva é ler "A questão meridional" e depois as anotações sobre a Igreja e
os intelectuais. Penso que ali está a proposta da construção de um "bloco histórico" do proletariado
industrial com o campesinato sob a direção do PCI. Daí a hegemonia, o que implicava em
conquistar a base intelectual da Igreja no meio do campesinatom no sul da Itália. Mas não se pode
esquecer que Gramsci era, neste momento, leninista. Quer dizer, tinha a idéia de um trabalho de
partido que, baseado na projeção politico-eleitoral de lideranças camponesas, contemplasse a
formação de quadros (propaganda) e a ação (agitação) entre os camponeses. A fase "conselhista"
e, pois, influenciada pela tradição das alas revolucionárias da social-democracia, havia sido
superada. O leninismo de Gramsci tem por trás as derrotas de 1918-1919 na Alemanha, Hungria e
Itália e, em contraponto, a vitória russa com o seu primado da organização de quadros. Rosa
Luxemburg não pode defender-se das acusações de espontaneísmo que Gramsci lhe fez quase
uma década depois.
Não acrescento nada em termos de leituras sobre Gramsci. Você já dispõe de textos suficientes
para contextualizar a sua própria leitura que, suponho, finca-se no tempo presente e na nossa
formação economico-social. A questão agrária no Brasil no momento atual é uma forma de
interpelar Gramsci, o que significa incluir uma avaliação sobre o papel da CPT e da CNBB como
núcleos dos "intelectuais orgânicos" dos movimentos da Via Campesina, não é mesmo?
Por último, vale a pena ler - e isso é um programa de leitura de longo prazo - os sete tomos da
Historia do Socialismo de G DH Cole, publicado pela Editora Fondo de Cultura Económica, do
México, para descortinar a riqueza das vertentes do movimento socialista no mundo que nos foi
subtraída pelo longo predomínio do estalinismo no século XX.
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Bibliografia:
AHMAD, Aijaz. Fascismo e cultura nacional: lendo Gramsci nos tempos da Hindutva.
In Linhagens do presente: ensaios. São Paulo, Boitempo, ?.
FIORI, José Luís. O poder global e a nova geopolítica das nações. São Paulo:
Boitempo, 2007.
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o Bloco Histórico. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2002,
6ª ed.
SECCO, Lincoln. Gramsci e a Revolução. São Paulo: Editora Alameda, 2006.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
_____. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo,
2007.
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